Cultura Das Imagens - Desafios para A Arte A para A Educação
Cultura Das Imagens - Desafios para A Arte A para A Educação
Cultura Das Imagens - Desafios para A Arte A para A Educação
Raimundo Martins
Irene Tourinho
Organizadores
CULTURAS
DAS IMAGENS:
desafios para a arte e para a educação
Santa Maria, 2012
C968
Cultura das imagens: desafios para a arte e para a
educação / Raimundo Martins e Irene Tourinho
(organizadores). – Santa Maria : Ed. da UFSM,
2012.
272 p.; 23 cm
CDU 7:37
ISBN: 978.85.7391-167-1
Ficha catalográfica elaborada por Maristela Eckhardt - CRB-10/737
Biblioteca Central da UFSM
PRÉLUDIO
O futuro da imagem: a estrada não trilhada de Rancière..........................................................17
W. J. T. Mitchell
CENA 1
Imagens globais, cultura visual e educação artística: impacto, poder e
mudança ...................................................................................................................................37
Leonardo Charréu
CENA 2
Questionamentos de uma professora de arte sobre o ensino de arte
na contemporaneidade..............................................................................................................97
Susana Rangel Vieira da Cunha
ENTRECENAS
Arena aberta de combates, também alcunhada de Cultura Visual... —
anotações para uma Aula de Metodologia de Pesquisa..........................................................205
Alice Fátima Martins
CENA 3
Distendendo relações entre imagens, mídia, espetáculo e educação para
pensar a cultura visual.............................................................................................................253
Raimundo Martins e Pablo Sérvio Passos
PÓSLUDIO
O monge, o passarinho e a ilustradora: Angela-Lago e a arte de compor
livros.......................................................................................................................................327
Ciça Fitipaldi
Sobre os autores......................................................................................................................353
Nota: Paginação idêntica à da publicação original. Também se manteve o Portugês "do
Brasil" bem como as normas brasileiras ABNT de referenciação bibliográfica
Introdução
A crença (errada) de que só pode existir um mundo assim (e que nada o pode
mudar)
Apesar de muitas forças contemporâneas (em particular, um boa parte das que se
expressam e se dissimulam nos mass media) tenderem a formatar-nos para a aceitação de
que não existe alternativa ao modelo civilizacional dominante, existem hoje conceitos
socialmente pertinentes como os de “resistência” e “transformação” que parecem
pertencer a uma área ativa de questões que envolvem a defesa dos direitos e da
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dignidade humana. Encontram-se, por conseguinte, longe dos temas que normalmente
circunscrevem o mundo da educação artística, estando esta perspectiva educativa mais
próxima de práticas pedagógicas ligadas à pedagogia crítica do que ao ensino artístico, a
maioria dele cronicamente enfocado nas questões formais e estéticas. Todavia, muitos
arte-educadores preocupados com o papel e a influência pesada que os fenômenos sociais,
econômicos e políticos exercem sobre o mundo da educação, têm trazido para o debate —
e para as práticas artísticas — temas que tradicionalmente pertenciam ao âmbito da
sociologia, da economia e da política. A rápida reconfiguração do sistema capitalista
vencedor da guerra fria, após o abalo telúrico motivado pela crise do subprime norte-
americano e as respectivas ondas de choque que se espalharam por todo o mundo,
obrigam-nos a sair do microcosmo que constitui o mundo da educação, que tende a se
encerrar circularmente nas suas vicissitudes e circunstâncias, para percebermos, em
termos macro, as linhas de força que procuram moldar o planeta, reconfigurando as
relações entre pessoas e entre as pessoas e as organizações coletivas, como as Empresas e
os Estados. A recente transformação por “artes mágicas” de uma dívida privada (dos
bancos e instituições financeiras privadas) numa dívida pública, pela transferência de
verbas absolutamente colossais dos cofres públicos para os bancos privados incapazes de
controlar a bolha especulativa que ajudaram a encher, para garantir a “sustentabilidade”
do sistema bancário, veio a pressionar ainda mais a maioria dos países com déficits
crônicos nas suas contas públicas. O resultado em termos daquilo que nos interessa, a
educação pública e, dentro desta, a educação artística, é que a maioria dos países
envolvidos nesta teia pode ser obrigado a fazer cortes no investimento público, como na
educação e, dentro desta, cortar áreas consideradas “menores” como o ensino artístico,
diminuindo o número de horas curriculares dedicados a esta área nos currículos nacionais,
o que leva a uma diminuição do número de professores no ativo e a um empobrecimento
geral da formação e da educação pública. O que queremos provar com as ideias e os fatos
acima expostos, de forma breve, é que não existe transformação macro que não afete o
micro, considerando que o contrário também é possível como bem defendeu Anthony
Giddens (1984) na sua Teoria da Estruturação, segundo
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a qual vivemos numa espécie de tensão entre as formas que nós assumimos, à medida que
o mundo age sobre nós e as ideias de ordem que a nossa imaginação procura impor ao
mundo. O sociólogo britânico escreve que a ligação entre estrutura e ação é um elemento
fundamental da teoria social. Efetivamente, se vermos como “ação” não só o que se
manifesta do lado das grandes movimentações político-sociais, mas também tudo o que
mexe do lado de uma parte resiliente do mundo da arte, e que tiveram um grande impacto
nas sociedades em todo o mundo, facilmente concluiremos que os artistas, no período
contemporâneo — em particular desde os anos 60 — têm interferido indelevelmente na
forma de comportamento, nos valores, na liberalização dos costumes e na forma de ver e
viver o mundo. Basta ver o impacto que a já longínqua arte pop, visual e musical teve na
geração das pessoas que hoje são sexa ou septuagenários. O fenômeno Beatles e a
influência que vieram a ter não só em toda a música pop ocidental, mas também ao nível
dos costumes (vestuário, corte de cabelo, comportamento etc.) são bem a prova de que
tudo o que se julgava sólido e cristalizado à partida, pode, num ápice, transformar-se em
algo novo. Levando à letra as palavras de Giddens, o grupo de Liverpool e também a ação
de artistas visuais como Andy Wahrol, Robert Rauschenberg, Jasper Johns e outros,
acabaram por “impor” imaginativamente uma espécie de uma nova ordem estética que
muito rapidamente veio a fazer escola, acabando, por sua vez, por se academizar, como
previu e antecipou, em relação às artes visuais, o crítico de arte norte-americano Harold
Rosenberg logo em 1959, na sua obra The Tradition of the New (A Tradição do Novo,
tradução livre do inglês). No entanto, um outro fenômeno de natureza científica e
tecnológica veio a desenvolver-se também a partir dos finais dos anos 60, sofrendo
fortíssimos incrementos exponenciais nos anos 70 e 80. Falamos do aparecimento das
redes de comunicação, em particular as que veiculam imagens, apoiadas pelo
desenvolvimento da tecnologia areoespacial que veio a banalizar a colocação em órbita
dos satélites de comunicações. Giddens (2000) sublinhara o espantoso desenvolvimento
tecnológico que fez passar a capacidade, por satélite, das 240 conversas simultâneas em
1965, para as 12.000 mais de uma década atrás (ano de publicação do
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Conclusões
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