Parecer Sobre A Orientacao No 01119 Da Cogerpmpr
Parecer Sobre A Orientacao No 01119 Da Cogerpmpr
Parecer Sobre A Orientacao No 01119 Da Cogerpmpr
QUANTO AO IPM/SINDICÂNCIA:
Muito se diz, que por tratar-se de meros procedimentos, não há possibilidade
do exercício da ampla defesa e do contraditório, pois, prestam-se apenas a subsidiar
uma possível ação penal militar ou um processo administrativo disciplinar.
Porém, temos que discordar, em face a realidade prática.
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https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-925-2-dezembro-1938-350271-
publicacaooriginal-1-pe.html
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Art. 209.Terminada a inquirição das testemunhas e não se fazendo necessária nenhuma outra diligência para a
elucidação do fato ou para a boa marcha do processo, o auditor designará dia e hora para o interrogatório do
réu.
Através do que se colhe em IPM´s e/ou Sindicâncias, se decreta prisões
cautelares, busca e apreensão, quebra do sigilo telefônico, telemático, fiscal e
bancário, ou seja, é possível, conforme o caso, fazer-se uma verdadeira devassa na
vida do cidadão-militar estadual.
Além disto, a primeira pergunta feito pelo Juiz ou pelos Encarregados de
processos administrativos é se a pessoa ratifica seu depoimento prestado na fase
inquisitorial. Ora, se o procedimento não vale ou não serve para uso na fase do
processo (judicial ou administrativo), porque então, a confirmação de algo que não
serve?
Por outro lado, a CRFB/88, expressa no art. 5º, LIV e LV, alguns direitos, que
merecem ser melhor compreendidos, vejamos:
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Ora, muitas vezes se prende um militar estadual, sem lhe dar a chance de
explicar a sua versão dos fatos, e, quem sabe com isto, evitar-se-ia a prisão cautelar.
Quando se fala em devido processo legal, devemos pensa-lo no modo
substancial, ou seja, de forma ampla.
Porém, o texto constitucional, deixa expresso que os “acusados em geral”,
também, possuem o direito ao contraditório e a ampla defesa. Ou seja, não só os
litigantes em processo judicial ou administrativo, mas, também, os acusados em geral.
O uso da letra “e”, indica a qualidade de adição3, diferente da palavra “ou”, que
significa alternância ou exclusão4.
Portanto, o texto constitucional é muito claro: os litigantes em processo judicial
ou administrativo tem garantias processuais constitucionais, e “aos acusados em
geral”, também tem, as mesmas garantias.
3
https://dicionario.priberam.org/%C3%A9
4
https://www.google.com/search?rlz=1C1GCEA_enBR761BR761&sxsrf=ACYBGNSsfhT6T-
Cc8AbMij5a3B6Zg9E5uw%3A1572198794782&ei=itm1XeOsL4LF5OUP1u-
_sA0&q=ou+significado&oq=ou+sig&gs_l=psy-
ab.3.0.0i70i249j0l3j0i22i30l2j0i22i10i30j0i22i30l3.4464.6501..9542...1.0..0.120.571.0j5......0....1..gws-
wiz.......0i10j0i67j0i67i70i249.U3rGt8gQnN8
Aí se questiona: se o substantivo masculino “acusado” é possível de ser
aplicado aos indiciados ou sindicados?5 A resposta, nos parece clara, pois, se indaga
a referidas pessoas (indiciados ou sindicados) se teriam praticado tal conduta – em
tese – ilícita.
Ora, alguém que se encontra na condição de indiciado ou sindicado, é antes
de tudo, orientado que não é obrigado a responder perguntas que lhe possam
incriminar, e, uma vez cientes disto, podem se calar, confessar a prática do ilícito ou
contarem alguma versão que melhor lhe convém. Mas fato é, que diferente de uma
testemunha que fala sobre fatos e pessoas, mas não de si necessariamente, o
indiciado ou sindicado é acusado de uma (ou mais) determinada(s) conduta(s) e por
isto, é tratado diferentemente, com as garantias que lhe são concedidas, pela
condição em que se encontra.
Logo, não nos resta dúvida, que tais cidadãos-militares estaduais, possam sim,
a seu critério, exercerem a ampla defesa e do contraditório, perante os procedimentos
militares estaduais.
Além disto, temos no mínimo, mais dois argumentos, que devem ser levados
em consideração, quais sejam:
1º) A possibilidade de se provar a inocência no procedimento, evitando que
determinado cidadão-militar estadual, torne-se réu, numa injusta acusação.
Todos sabemos quanto é constrangedor, sentar-se no “banco dos réus”.
Havendo a possibilidade, de no procedimento, provar a inocência do militar estadual,
porque não, permitir que perguntas sejam feitas as “vítimas/ofendidos” e as
testemunhas, além de oferecer quesitos em perícias e requer a produção de
diligências na coleta de provas, que visem apurar a verdade e principalmente, não se
acusar um inocente.
O estar “sub judice” na caserna, já cria para o cidadão-militar estadual,
constrangimentos como não realizar alguns cursos de formação, participar de
algumas atividades da unidade, bem como, constar no almanaque para promoção ou
mesmo, ser promovido.
Logo, se existe a possibilidade do indiciado ou sindicado, por si próprio ou
através de profissional habilitado, promover a defesa durante o procedimento e com
isto, trazer a verdade à tona, provando-se a inocência ainda no procedimento, por
5
https://www.dicio.com.br/acusado/
certo, tal IPM ou Sindicância, não subsidiariam uma ação penal militar ou um processo
administrativo disciplinar, evitando-se uma submissão injusta e ilegal de um inocente
no banco dos réus. Se o objetivo da PMPR é buscar a verdade, e, somente a verdade,
porque proibir que o maior interessado disto (indiciado ou sindicado), não possa fazê-
lo pessoalmente ou por alguém que o represente? Ora, quanto mais transparente o
trabalho do Encarregado do Procedimento, mais garantias tem a PMPR e o indiciado
ou sindicado, que o final da investigação será coroada com a verdade dos fatos.
2ª) O problema do uso indevido e ilegal de indícios e provas produzidos nos
procedimentos para a condenação. Apesar do CPPM, nesta questão, ser muito mais
democrático do que o CPP, ao estabelecer na primeira parte do art. 297 que: “O juiz
formará convicção pela livre apreciação do conjunto de provas colhidas em
juízo”, infelizmente, pela matriz inquisitorial que ainda assola e assombra este país
que se diz ser um Estado Democrático – e Constitucional – de Direito, o entendimento
dos tribunais, in casu, os que nos interessam (TJPR, STJ, STM e STF), admitem a
possibilidade da utilização moderada daquilo que foi produzido no procedimento como
indício ou prova para a condenação, nos moldes do texto literal do art. 155 do CPP 6.
A digressão acima se mostra relevante, para eliminar o mito de que o
procedimento serve apenas para subsidiar uma possível ação (penal ou
administrativa). Como se viu, trata-se de uma falácia argumentativa de má índole.
Além disto, todos sabemos que o Ministério Público pode acompanhar atos de
instrução em procedimentos, quando lhe convém, e, porque a defesa não pode fazer
o mesmo? Uma desigualdade que não se explica.
Não estamos aqui defendendo o uso indevido e ilegal do direito de defesa, com
posturas meramente procrastinatórias e inoportunas e inconvenientes, mas sim, de
atuações legitimas e leais, e, que visem elucidar a verdade.
Por estes motivos, entre outros (transparência, etc), é que concluímos que
havendo interesse do indiciado ou sindicado, é direito do mesmo, valer-se da ampla
defesa e do contraditório e de todas as demais garantias constitucionais, nos
procedimentos (IPM ou Sindicância).
6
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008).
Cumpre informar que o Conselho Federal da OAB, editou o Provimento nº 188,
de 11 de dezembro de 2018, regulamentando a atividade de investigação criminal
defensiva a ser desenvolvida pela advocacia, e, que o Poder Judiciário – inclusive
militar – já vem chancelando tal questão7.
Por fim, foi criada a Lei nº 13.964/2019, a qual em seu artigo 18, inclui o art. 16-
A no CPPM, possibilitando que militares estaduais possam constituir defensor, quando
a investigação tiver como objetivo o “uso da força letal praticados no exercício
profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas nos
arts. 42 a 47 do CPM”. Referida lei entra em vigor a partir do dia 24 de janeiro, nos
termos do que dispõe o art. 20 da mesma. Tal regra, só demonstra a importância do
direito a defesa.
QUANTO AO FATD:
Desde sua criação através uma Portaria do Comandante-Geral da PMPR, e,
com o advento da Lei Estadual nº 16.544/10, muito se questionou se seria ou não um
processo administrativo. Porém, não nos resta dúvida que é, pois, assegura-se o
direito a ampla defesa e ao contraditório, bem como, prevê ao seu término a
possibilidade de punição.
Pois bem, quanto a este processo administrativo disciplinar (simplificado),
fizemos e consta em anexo, uma analise artigo por artigo, ponderando possíveis
melhorias, considerando-se que trata-se de uma normatização de mais de 13 anos.
Entre os pontos principais, que inclusive foram objeto de conversas com o
Comandante-Geral no dia 02/10, estão:
i) PRAZO PRESCRICIONAL: necessidade de se estabelecer expressamente
que o prazo máximo para a prescrição, seja de 5 anos, ao invés de 6 anos, conforme
prevê a Lei Estadual nº 16.544/10;
ii) INTIMAÇÃO DAS TESTEMUNHAS DE DEFESA: o fato do militar imputado
arrolar testemunhas em sua defesa, não pode ser compreendido que cabe a ele, trazer
as testemunhas para suas respectivas oitivas. Se a Administração Pública Militar esta
imputando um fato ilícito administrativo ao militar, é direito dele, provar sua inocência
ou minimizar sua responsabilidade, valendo-se dos meios e recursos inerentes a sua
ampla defesa, entre eles, ouvir pessoas que possam esclarecer fatos relevantes.
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https://www.conjur.com.br/2019-mar-02/tribunal-militar-reconhece-direito-investigacao-defensiva
Sendo assim, e, até mesmo pela falta de paridade de armas (PMPR x Militar Estadual),
tal ônus da intimação, deve ser de responsabilidade da PMPR. Tal questão, também
deve ser aplicada aos - reconhecidos legalmente como verdadeiros - processos
administrativos disciplinares (CJ, CD e ADL);
iii) INTIMAÇÃO TAMBÉM DO DEFENSOR CONSTITUÍDO: o FATD nada é do
que o Anexo III do RDE, e é utilizado no Exército Brasileiro, de forma diversa, do que
a PMPR utiliza. Pois bem, já que existe e se aplica diariamente nos batalhões, Paraná
a fora, nada mais justo, do que reconhecer e respeitar o trabalho daquele que está
prestando um “serviço público” (vide art. 2º e seus parágrafos, do Estatuto da OAB).
A regra do art. 19, § 1º da Portaria do Comando-Geral nº 339/06, deve
contemplar também, o advogado constituído, nos termos do que dispõe o art. 7º, § 2º
da Lei Estadual nº 16.544/10;
iv) UTILIZAÇÃO DE MEIOS ELETRÔNICOS DE PRODUÇÃO DE PROVAS E
REALIZAÇÃO DE ATOS: A Lei Estadual nº 16.544/10, estabelece em seu art. 48, a
utilização dos meios eletrônicos, sendo que tal regra, deve ser aplicada também ao
FATD, no sentido de possibilitar o peticionamento por forma eletrônica (e-protocolo;
e-mail, entre outras formas), além da realização de audiências no sistema áudio e
vídeo, o que garante mais realidade as perguntas e respostas realizadas, sendo sem
dúvida, um sistema mais fiel, ao depoimento digitado. Além de tudo isto, é
indispensável que o FATD, assim como, os demais PAD (CJ, CD e ADL), sejam todos
virtuais, como é o caso do IPM, através do sistema E-Proc. Lembrando que o sistema
E-Proc foi uma reinvindicação da Comissão de Direito Militar em anos anteriores.
Ocorre que apenas os IPM´s estão sendo realizados via E-Proc, sendo necessário
que as Sindicâncias, Inquéritos todos (ISO, IT, entre outros), FATD´s, CJ´s, CD´s e
ADL´s, sejam também, realizados via E-Proc. Isto traduz-se em maior transparência
e eficiência, para todos os envolvidos.
v) As demais pontuações sobre o FATD, conforme dissemos acima, encontram-
se em anexo, e, por motivo de economia, deixaremos de transcorrer item a item.