Relação Entre Produção e Sociedade e Suas Bases Jurídicas

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FACULDADE AUTÔNOMA DE DIREITO – FADISP

UNIDADE ACADÊMICA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM 2020
NÍVEL MESTRADO

JOSÉ WANDERLEY DALLAS REI DIAS


MIRZA TELMA DE OLIVEIRA CUNHA

FUNÇÃO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE SOCIAL:


RELAÇAO ENTRE PRODUÇÃO E SOCIEDADE E SUAS
BASES JURÍDICA

Manaus
2021

JOSÉ WANDERLEY DALLAS REI DIAS


MIRZA TELMA DE OLIVEIRA CUNHA

FUNÇÃO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE SOCIAL:


RELAÇAO ENTRE PRODUÇÃO E SOCIEDADE E SUAS
BASES JURÍDICA
ARTIGO APRESENTADO PARA A
DISCIPLINA FUNÇÃO SOCIAL DOS
MEIOS DE PRODUÇAO DO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM DIREITO DA FACULDADE
AUTÔNOMA DE DIREITO - FADISP

Manaus
2021

Sumário
UM CONTO SOBRE A CRIAÇÃO..............................................................................................4

RESUMO...........................................................................................................................................5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................6

1. FUNÇÃO SOCIAL...............................................................................................................7

1.1. O HOMEM E A SOCIEDADE...........................................................................................7

1.2. O CONTRATO SOCIAL.....................................................................................................9

1.3. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FUNÇÃO SOCIAL..............................................10

1.4. A FUNÇÃO SOCIAL NO BRASIL.................................................................................11

1.5. FUNÇÃO SOCIAL: CONCEITO....................................................................................13

1.6. PERFIL JURÍDICO E BASES CONSTITUCIONAIS................................................16

2. SUSTENTABILIDADE......................................................................................................18

2.1. SUSTENTABILIDADE SOCIAL.....................................................................................19

3. EMPRESA...........................................................................................................................20

3.1. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA................................................................................22

CONCLUSÃO................................................................................................................................24

REFERÊNCIAS.............................................................................................................................25
2
3
UM CONTO SOBRE A CRIAÇÃO 1

"Há muito tempo, o Criador olhou para o mundo perfeito que tinha feito, nos oceanos, montanhas,
planícies, desertos, lagos e rios e ficou satisfeito. Ele olhou para as plantas e árvores e ficou feliz com o que viu.
Ainda assim, ele sentiu que havia algo faltando.
Não havia movimento, nada para desfrutar da beleza que ele tinha criado. Então ele criou os
animais, pássaros, trepadeiras e peixes. Ele os fez em todos os tamanhos, formas, cores e formas. Enquanto os
observava vagando pela Mãe Terra, desfrutando da beleza de suas criações, ele ficou satisfeito com tudo o que
tinha feito. A vida continuou na Mãe Terra em perfeito equilíbrio e harmonia.
Muitas luas passaram, e um dia os animais, pássaros, trepadeiras e peixes chamaram seu Criador:
"Agradecemos por tudo o que você nos deu, por toda a beleza que nos cerca; no entanto, tudo é tão abundante
que não temos nada a fazer a não ser vagar aqui e ali, sem nenhum propósito para nossas vidas.
O Criador pensou muito em seu pedido. Depois de um tempo, ele mostrou-se novamente às suas
criações. Ele disse-lhes que dar-lhes-ia uma criatura mais fraca para cuidar, para cuidar e ensinar. Esta criatura
não seria tão perfeita como suas outras criações. Ela viria sobre a Mãe Terra fraca, pequena, e sem saber nada.
Então o Criador fez homem e mulher, e todas as suas outras criações foram felizes. Agora eles
realmente tinham um propósito na vida: cuidar desses humanos indefesos, ensiná-los a encontrar comida e
abrigo, e mostrar-lhes as ervas curativas.
Os humanos, sob os cuidados de todos, multiplicaram-se e tornaram-se muitos. Ainda assim, os
animais, pássaros, trepadeiras e peixes cuidaram deles. À medida que os humanos se tornaram mais fortes,
eles exigiram mais e mais de seus irmãos. Finalmente, chegou um dia em que um humano exigia mais comida
do que precisava, e o animal não lhe concederia seu pedido. O homem, com grande raiva, pegou uma pedra e
matou o animal. Do animal morto, o homem descobriu que poderia usar a carne para se alimentar e a pele para
cobrir seu corpo. Os ossos, garras e dentes seriam seus troféus para mostrar aos outros humanos que agora ele
era tão inteligente quanto os animais.
Quando ele mostrou essas coisas para os outros humanos, em sua ganância ter tudo o que ele
tinha, eles começaram a matar todos os seus irmãos animais ao seu redor.
O Criador observava todos eles: humanos, animais, pássaros, trepadeiras e peixes. Finalmente,
ele chamou os animais restantes, pássaros, trepadeiras e peixes para ele. O Criador lhes disse que tinha
decidido levá-los todos para sua casa espiritual e deixar os humanos governarem a Mãe Terra por um período,
até que eles reconhecessem o erro de seus caminhos.
Os animais, sabendo que os humanos não poderiam sobreviver sem eles, imploraram ao Criador
para ter pena de seus irmãos e irmãs humanos.
Como os animais mostraram compaixão e piedade por aqueles mais fracos e menos sábios do que
eles mesmos, o Criador ouviu seus apelos.
Porque você é bom e seguiu meus caminhos, eu lhe concederei sua oração.
Para protegê-lo, não permitirei mais que fale com humanos ou guie e os proteja. Farei você ter
medo deles para que não se aproxime mais deles. Criarei um espírito animal para representar cada um de
vocês, e a este espírito animal darei um presente que ele possa usar.
Se um humano vive de forma boa e gentil e segue meu caminho, eles podem me pedir um dos
meus animais espirituais para guiá-los e mantê-los no meu caminho. Este espírito animal só virá para humanos
que têm um bom coração.
E hoje buscamos nossos guardiões espirituais para aprender a ser tão gentis e sábios quanto
nossos irmãos animais. Ao procurá-los, queremos aprender a agradar ao Criador, como os animais fizeram
diante de nós.”

1
Grandmother's Creation Story (indigenouspeople.net), Muskeke Iskjew (Sharron John, Creek)
4
RESUMO

Consequência da mudança de uma sociedade agrária para uma sociedade


industrial, o processo de urbanização das grandes cidades contribuiu não somente
para o seu crescimento e desenvolvimento mas também para o surgimento de
diversos males sociais que se perpetuam tais como a criminalidade, falta de
saneamento básico, problemas de mobilidade, poluição, fome e pobreza são alguns
exemplos de como o crescimento populacional e o movimento migratório influenciam
significativamente no ambiente e no território urbano. Em 1972, A ONU realizou a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo Na
Suécia, e a publicação do Relatório “Nosso Futuro Comum” (Our Common Future)
onde apresentaram dados sobre os impactos das ações humanas sobre o planeta.
Como resultado dessa conferência, surgiu A Declaração sobre o Meio Ambiente
Humano que entre seus princípios reconhece a necessidade de uma gestão
adequada dos recursos naturais a fim de que não se esgotem e assim possam ser
usufruídos pelas próximas gerações.

Palavras-Chave: URBANIZAÇÃO. SOCIEDADE METRÓPOLE.


SUSTENTABILIDADE. DESENVOLVIMENTO. MEIO-AMBIENTE. EMPRESA.
FUNÇÃO-SOCIAL

5
INTRODUÇÃO

Proposta pelo James E. Lovelock em 1972, a Hipótese de Gaia ou Hipótese


Biogeoquímica propõe que a biosfera e os componentes básicos da Terra estão
intimamente ligados formando um complexo sistema interagente responsável pela
manutenção das condições climáticas e biogeoquímicas em uma condição de
equilíbrio homeostático, realizando suas funções de modo adequado por meio de
múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico que por sua vez são controlados por
mecanismos de regulação inter-relacionados. Essa teoria recebeu esse nome em
referência a titã Gaia, personificação da Terra na Mitologia Grega. Para os
defensores dessa hipótese, a Terra é como um organismo vivo e apesar de que
algumas de suas proposições não terem sido provadas, enquanto outras foram
corroboradas com sólidas evidências, o ponto mais debatido é até em que nível a
vida é capaz de modificar seu ambiente em seu favor e mantê-lo em homeostase
mesmo a despeito de ameaças de catástrofe e das diferentes necessidades que
outros seres têm para viver e que muitas vezes são excludentes.

Em 1972 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano


em Estocolmo Na Suécia, e a publicação do Relatório “Nosso Futuro Comum” ( Our
Common Future), apresentaram dados sobre os impactos das ações humanas sobre
o planeta. A postura do Brasil á época, que estava em pleno “milagre econômico” foi
de utilizar os recursos naturais disponíveis, sem se importar com a preservação
ambiental. Costa e Cavalcanti, Ministro do Interior e chefe da delegação brasileira
declarou “Desenvolver primeiro e pagar os custos da poluição mais tarde”. Como
resultado foi elaborada a “Declaração sobre o Meio Ambiente Humano” que entre
seus princípios, reconhece a necessidade da gestão adequada dos recursos
naturais para que não se esgotem estando então disponíveis paras as gerações
futuras e aponta que a capacidade dos recursos naturais do planeta deva ser
mantida e, se possível melhorada.

Decorrente da Conferência de Estocolmo, muitos países incluindo o Brasil,


resolveram adotar novas práticas no que concerne ao papel do indivíduo, da
sociedade e do Estado na promoção do bem-estar social, ambiental, econômico e
humano atribuindo a função social a ser desempenhada no exercício de um direito.

6
Assim, a função social no Brasil tem peso de lei sendo ela condição sine qua
non o gozo de direitos expressos no texto constitucional encontra limites. A função
social pode ser entendida como um conjunto de diretrizes que normatizam o uso e
usufruto de uma propriedade bem como orientam as decisões tomadas pelo Estado
a fim de promover condições mais dignas ao homem construindo assim uma
sociedade mais livre, justa, solidária, desenvolvendo o país, erradicando a po pelo
Estado a fim de promover condições mais dignas ao homem, construindo assim uma
sociedade mais livre, justa e solidária, desenvolver o país, erradicado a pobreza e as
desigualdades sociais e regionais e assegurando a todos o direito a vida, liberdade,
igualdade, segurança, propriedade, educação, saúde, lazer entre outros.

1. FUNÇÃO SOCIAL

1.1. O HOMEM E A SOCIEDADE

Em 1920-22 Freud em sua obra “Psicologia de grupo e análise do ego”


discute sobre os estudos de Le Bon a respeito de grupos. Nele, concorda que há
influência de fenômenos sociais na constituição do sujeito, uma relação que envolva
um mínimo de duas pessoas já pode ser considerada uma relação social. O foco da
abordagem sociológica então é estudar o indivíduo como parte integrante de um
grupo, de uma profissão, instituição ou mesmo de um grupo temporário de
indivíduos unidos para atingir um objetivo.

Freud afirma que: “A psicologia de grupo interessa-se assim pelo indivíduo


como membro de uma raça (..)ou como parte componente de uma multidão que se
organizam em grupo, numa ocasião determinada, e para um intuito definido.”

Le Bon apud Freud cita algumas características de um grupo social, uma dela
é a “mente coletiva” que implica que a maneira de pensar e agir de um indivíduo é
diferente quando ele está inserido em um grupo.

Zimerman (2000) pegou esta idéia e a ampliou desenvolvendo o que chamou


de “campo grupal” onde os fenômenos encontrados em um grupo, são reflexos das
interações entre os participantes e não a somatória individual.
7
Em grupo, segundo Le Bon apud Freud, o indivíduo tem a sensação de
invencibilidade e seus instintos afloram por vees até de forma irresponsável. Além
disso há também o fenômeno de contágio que faz com que sentimentos e atos
dentro do grupo sejam contagiosos. Muitas vezes o interesse coletivo se sobrepõe
ao interesse individual.

Outra característica evidenciada por Le Bon refere-se aos elementos


heterogêneos grupais, que implicam que pessoas com histórias de vida
completamente diferentes reúnem-se entre si, provisoriamente, porque possuem
algum objetivo em comum e por isso devem ter um uma conexão.

Zimerman (2000) e Pichon-Riviére (1991) compartilham dessa idéia ao


classificarem grupos como heterogêneos e homogêneos, a primeira se referencia
ás características diferentes enquanto a última ás semelhantes.

Assim podemos inferir que os fenômenos inconscientes exercem ainda mais


influência que os aspectos conscientes de nossa vida sendo a maior parte dos
nossos comportamentos regido pelo nosso inconsciente.

Um grupo então não é uma mera união de pessoas, para McDougall apud
Freud: “Um grupo é formado de pessoas que têm algo em comum, objetivos em
comum e, priincipalmente , precisa haver organização. Dessa forma, os grupos
podem ser muito produtivos.

Um grupo social então diz respeito a reunião de pessoas com um objetivo


específico cada qual contribuíndo com o que tem a oferecer de acordo com o que
tem mantendo-se assim um bom espírito de coletividade grupal.

Cada grupo possui necessidades próprias e por isso desenvolve uma espécie
de “mentalidade de grupo” ou “mentalidade coletiva” que é a expressão da vontade
unânime do grupo, à qual o indivíduo contribui de maneiras pelas quais ele não seria
capaz, influenciando desagradavelmente sempre que pensa e se comporta de

8
maneira que varie em desacordo com os pressupostos básicos”, então quando o
indivíduo pensa e se comporta favoravelmente à vontade do grupo, ele contribui.

Bion identificou três pressupostos básicos para a mentalidade de grupo a


saber:

 A dependência, que diz respeito à necessidade que o grupo tem por


um líder, podendo ser uma ideia, pessoa ou história do grupo.
 O acasalamento, que corresponde a expectativa de que o grupo futuro
atenderá às necessidades pessoais de seus membros.
 E luta-fuga, princípio básico da sobrevivência onde o grupo como uma
entidade coletiva, pode escolher lutar contra alguma coisa ou fugir.

A cultura de grupo é a elaboração de uma cultura própria partindo dos


conflitos existentes entre a mentalidade do grupo e as vontades individuais.

1.2. O CONTRATO SOCIAL

Muitos pensadores e estudiosos sociais acreditam que antes da formação do


estado social, o homem vivia em estado de natureza ou estado natural, onde
indivíduos viviam de modo isolado e vigorava a lei do mais forte e que para cessar o
estado de constante ameaça, os humanos decidem passar a sociedade civil por
meio de um contrato social, renunciando à sua liberdade e a posse natural de
bens, riquezas e armas, transferindo o poder a um terceiro- líder, soberano- o poder
de legislar e aplicar as leis.

Outros acreditam que a organização social em grupos seja apenas uma


estratégia de sobrevivência, já que um grupo teria melhores condições de enfrentar
as adversidades em um ambiente natural que individualmente aumentando suas
chances de sucesso ao procurar e caçar alimentos ou enfrentando um predador ou
inimigos se apoiando mutuamente valendo-se dos laços que os une, sendo o
primeiro e mais importante dele, a consanguinidade. O primeiro e mais básico grupo
social na natureza é a família, e a sobrevivência dos seus é sua principal força

9
motriz, percebemos isso em animais sociais como lobos, leões, orcas, formigas,
abelhas onde os esforços buscam a sobrevivência e o bem estar coletivo.

Todo indivíduo tem direito ao que é necessário para a sua sobrevivência.


Assim, o direito à propriedade privada origina a idéia de sociedade como uma
coletividade voluntária, histórica e humana em contraposição à comunidade que
seria uma coletividade natural e divina. Assim, a sociedade civil e o Estado
propriamente dito e que vive sob as leis promulgadas e aplicadas pelo soberano que
foi imbuído do poder para que protegesse os demais e garantisse a paz interna.

No decorrer do tempo esses grupos sociais foram crescendo, com membros


nascendo, outros sendo incorporados de outros grupos ou mesmo associações
através de casamentos, o que levou consequentemente à necessidade de se
produzir mais e assim a demanda por recursos aumentou significativamente.

Foi durante o sistema feudal que as sociedades se desenvolveram como


organizações sociais e se mostrou ineficiente ao tentar atender aos anseios
comerciais em decorrência da diversidade de unidades métricas e de moedas.
Querendo expandir seus negócios e acumular mais riquezas.

1.3. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FUNÇÃO SOCIAL

Até o início do século XX, o sentido de solidariedade social ainda não


permeava a estrutura normativa do Estado Liberal instaurado pela Revolução
Francesa, registre que já no final do século XIX surgiram na França as primeiras
restrições ao direito de propriedade por intermédio da teoria do abuso de direito. Foi
após a I Grande Guerra Mundial (1916-1918) que a ideia de uma função social da
propriedade começou a tomar forma.

Leon Dugit, em 1914 defendia a ideia de que os direitos de justificariam


quando têm como escopo a contribuição para uma missão social e que todo
exercício do direito à propriedade que não almejasse um fim de utilidade coletiva
seria contrário à lei e poderia dar lugar a uma prestação ou reparação.

10
Para ele: “A propriedade deixou de ser o direito subjetivo do indivíduo e tende
a se tornar a função social do detentor da riqueza mobiliária e imobiliária; a
propriedade implica para todo detentor de uma riqueza a obrigação de empregá-la
para o crescimento da riqueza social e para a interdependência social. Só o
proprietário pode executar uma certa tarefa social. Só ele pode aumentar a riqueza
social utilizando a sua própria; a propriedade não é, de modo algum, um direito
intangível e sagrado, mas um direito em contínua mudança que deve se modelar
sobre as necessidades sociais às quais deve responder”. 2

A Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição alemã em Weimar em


1919 foram os marcos legais da construção ideológica da função social e da função
social do direito nos moldes contemporâneos com a Carta Magna mexicana
assegurando uma série de direitos fundamentais aos trabalhadores. O contexto
fático foi o elemento nuclear das transformações sociais, exigindo do Estado uma
estrutura normativa que amparasse os trabalhadores no plano dos direitos
individuais como o trabalho, a saúde e a propriedade.

A Constituição Alemã, trouxe ao cenário europeu o Estado Social de Direito


criando no direito constitucional valores antes negados pelo liberalismo econômico,
acrescentando às clássicas liberdades individuais os novos direitos de conteúdo
social ao afirmar que “a propriedade obriga”. Até então, o direito de propriedade, tido
como um direito subjetivo na órbita patrimonial, passa a ser encarado como uma
complexa situação jurídica subjetiva, em que, ao lado dos poderes do titular,
colocam-se obrigações positivas deste perante a comunidade: a propriedade
acarreta obrigações e seu uso deve ser igualmente no interesse geral.

1.4. A FUNÇÃO SOCIAL NO BRASIL

No Brasil, a Carta Magna de 1934 introduzira a garantia do poder de


propriedade não ser exercido contra o interesse social ou coletivo, mas foi o texto
constitucional de 1946, o primeiro texto pátrio a efetivamente introduzir a definição

2
MOESCH, Frederico Fernandes. O princípio da função social da propriedade e sua eficácia. Revista
Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 880, 30 nov. 2005. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/7645. Acesso em: 18 mar. 2021.

11
de função social, condicionando o direito de propriedade ao bem-estar social (art.
141, § 16 e art. 147), ao tratar da justa distribuição da propriedade, com igual
oportunidade para todos. Referido aspecto foi reproduzido na Constituição de 1967,
sendo a função social erigida ao status de princípio da ordem econômica e social. A
redação da Emenda Constitucional de 1969 manteve, em parte, o conteúdo do
dispositivo anterior, sem afastar a propriedade de sua característica básica, qual
seja, o cumprimento da função social.

No final dos anos 70, início dos anos 80, inicia-se a experiência no direito
agrário brasileiro, com inspiração nas experiências da Espanha, Itália e França,
ocasião em que começa a se construir-se a ideia de função social da propriedade,
centrada na figura da propriedade fundiária. Gizou-se à época, como conteúdo de
função social, o eixo da utilização do bem vinculado à finalidade a qual se destina,
tendo em mira principalmente as terras não exploradas, ou sub exploradas, com o
escopo intrínseco de se fazer a utilização produtiva da terra. A tese predominante
que daí resultou, e está fundada no Estatuto da Terra (Lei 4.504/64), é de que a
função social da propriedade rural se exercia quando, explorada racionalmente,
gerava produção, empregos, renda, tributos e mantinha preservação razoável dos
recursos naturais renováveis. O ponto de partida para a construção teórica da
função social vem desses tempos, e naturalmente se foi consolidando,
aperfeiçoando e cada vez mais ganhando substância. 3

No arcabouço legislativo, verifica-se, também, que na Lei nº 6.404/76, que


trata das sociedades por ações, já havia menção de que o administrador deveria
exercer suas funções no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem
público e da função social da empresa (artigo 154) e que o acionista controlador
deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir
sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais
acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que
atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender (artigo 116,
parágrafo único).

3
JUCÁ, Francisco Pedro. MONSTESCHIO, Horácio. Empresa: Função social. In Revista Pensamento
Jurídico – SP – Vol. 14, Nº 3, ago./dez. 2020.
12
Com a redemocratização do regime brasileiro e o advento da Constituição de
1988, resta cristalizado o Estado Democrático de Direito, cuja assentada se dá nos
pilares da democracia e dos direitos fundamentais, com a garantia da participação
de todos os cidadãos no sistema político nacional e com a busca da preservação da
integridade dos direitos essenciais da pessoa humana, direitos esses exigíveis e
oponíveis ao Estado.

No Estado contemporâneo tem-se claro que a estabilidade institucional e a


legitimação política que lhe dá sustentação, orienta a sua atuação no sentido de
manter baixos os níveis de conflito social e de busca pela redução das
desigualdades em todos os sentidos, perseguindo um patamar considerado como
minimamente aceitável de “status” social e econômico, materializado principalmente
na capacidade real de consumo e de acesso mínimo a bens e serviços, inclusive
identificando este acesso como mecanismo de inclusão social mínima dos
indivíduos, a fim de que também se insiram nas relações sociais como
consumidores e como fornecedores de bens e serviços, em cadeia articulada e
indissociável, absolutamente interdependente e, portanto, imperativa.

É fato, todavia, que a evolução do processo econômico/produtivo, com a


produção em escala de bens e serviços, a massificação do consumo e o progresso
tecnológico, são circunstâncias que vêm alterando a realidade e,
consequentemente, demandam o acompanhamento do ordenamento jurídico, pois,
ao mesmo tempo em que predomina excessivo individualismo, contraditoriamente
tudo está relacionado e interdependente.

Alteram-se as premissas da atividade empresarial, por exemplo, na medida


em que apesar de constituir atividade privada, caracterizada pela autonomia da
vontade, da liberdade contratual e de iniciativa, da assunção de riscos e referencial
de lucro, também se desenrola no âmbito da sociedade e, assim, reflete universo
relacional que tangencia diversas e variadas regulações e tutelas nem sempre
compatíveis entre si, o que reclama harmonização normativa. O direito, nessa
esfera, tem por objeto os meios socialmente estruturados de superação dos conflitos
de interesse entre exercentes de atividades econômicas de produção ou circulação

13
de bens e serviços de que necessitamos todos para viver. Há que se pensar e
discutir, portanto, regramento sistêmico e harmonizado à luz do entendimento de
que a atividade empresarial deve se preocupar com a organização racional de
recursos, meios, materiais, técnicas, processos e trabalho direcionados à produção,
circulação e distribuição de bens e serviços determinados, com a finalidade de obter
vantagens econômico-financeiras na forma de lucro, sem descuidar de seu impacto
na sociedade.

1.5. FUNÇÃO SOCIAL: CONCEITO

Todas as atividades humanas existem e acontecem dentro e em relação com


a sociedade a que se vinculam. O Direito as regula, sempre a partir da observância
da necessidade social. Sendo assim, a noção de função social descreve o cenário
em que se desenvolve a tarefa mais essencial do Direito, qual seja, a organização
social, e se revela cláusula geral de interpretação de todos os direitos fundamentais
da maneira mais favorável à garantia a todos da medida de liberdade mais igualitária
possível. Note-se que a acepção que a técnica do Direito Administrativo atribui à
palavra função indica o direito ou dever de agir, atribuído ou conferido por lei, a fim
de assegurar a vida da administração pública ou o preenchimento de sua missão,
segundo os princípios instituídos pela própria lei (CARVALHO, 2008). A partir desta
ideia, podemos coletar algumas definições sobre o tema.

Para José Francisco Carvalho:


“Entendemos que a função social é o dever jurídico imposto ao titular do bem
móvel e imóvel, de atender às exigências legais e morais, de modo a compatibilizar o
uso, gozo e fruição da coisa, respeitando os direitos da coletividade e operando a
vontade de socializar os frutos, que podem ser produzidos com a correta utilização do
bem da vida. A função é o exercício ou a atividade de um ser dotado ou não de vida.
Corresponde ao papel a que deve desempenhar em dado momento ou circunstância
quando empreendido para uma finalidade, para alcançar um objetivo, para cumprir o
seu conteúdo.”4

4
CARVALHO, Francisco José. Teoria da Função social do Direito. 2008, Acesso em
http://www.funcaosocialdodireito.com.br/pdf/TEORIA%20DA%20FUN%C3%87%C3%83O%20SOCIAL
%20DO%20DIREITO.pdf
14
“a função social é um princípio inerente a todo o direito subjetivo. Tradicionalmente, definia-
se o direito subjetivo como o poder concedido pelo ordenamento jurídico ao indivíduo para a
satisfação de um interesse próprio. Todavia, a evolução social demonstrou que a justificação de um
interesse privado muitas vezes é fator de sacrifício de interesses coletivos. Portanto, ao cogitarmos
da função social, introduzimos no conceito de direito subjetivo a noção de que o ordenamento jurídico
apenas concederá legitimidade à persecução de um interesse individual, se este for compatível com
os anseios sociais. Caso contrário, o ato de autonomia privada será considerado inválido”.

Segundo José Mário Delaiti de Melo:


“a função social é um princípio inerente a todo o direito subjetivo.
Tradicionalmente, definia-se o direito subjetivo como o poder concedido pelo
ordenamento jurídico ao indivíduo para a satisfação de um interesse próprio.
Todavia, a evolução social demonstrou que a justificação de um interesse privado
muitas vezes é fator de sacrifício de interesses coletivos. Portanto, ao cogitarmos
da função social, introduzimos no conceito de direito subjetivo a noção de que o
ordenamento jurídico apenas concederá legitimidade à persecução de um
interesse individual, se este for compatível com os anseios sociais. Caso contrário,
o ato de autonomia privada será considerado inválido”.

Por fim, outra definição importante nos é fornecida por Augusto


Geraldo Teizen Júnior:
“A função social, lato sensu, consiste na proteção conferida pelo
ordenamento jurídico aos mais fracos na relação contratual, tendo como critério o
favorecimento da repartição mais equilibrada da riqueza. É a aplicação, no fundo, do
princípio da igualdade substancial. É um preceito constitucional, qual seja, zelar pela
liberdade e pela igualdade dos indivíduos. Porém, deve haver uma real e substancial
liberdade e uma verdadeira igualdade, compelindo a sociedade a eliminar a miséria,
a ignorância, a excessiva desigualdade entre os indivíduos, classes e regiões.”5

Podemos afirmar, assim, que a função social atinge a essência de um


direito e modifica seu conteúdo, de forma a legitimar a tutela do ordenamento
jurídico e a estabelecer não limitações, mas verdadeiras exigências para o seu
exercício, uma vez que estipula destinação vinculada ao benefício coletivo. Há
verdadeiro dever de, juntamente com o Estado, assegurar os direitos estabelecidos

5
TEIZEN JÚNIOR, Augusto Geraldo. A função social no código civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004,
p. 165.
15
como primordiais em tarefa coletiva e de nova hermenêutica em torno das
atribuições que devem permear o comportamento jurídico.

Assim, por exemplo, a empresa e a atividade empresarial existem em


interação com a sociedade em geral, e os seus interesses legítimos não excluem o
dever jurídico de coordenação e harmonização com os interesses gerais da
sociedade onde se situam. Busca-se o equilíbrio das relações, para o que o Direito é
o instrumento por excelência. Releva notar, portanto, que, como a função social é
imperativa, obrigatória e legitimante institucional, também ela há de merecer
proteção jurídica, até porque é de interesse de toda a sociedade que exista e
funcione, contribuindo para o bem-estar geral constitucionalmente preconizado.

O principal desafio que se coloca é lidar com a revolução tecnológica em


curso e com permanente incorporação de tecnologia no processo produtivo, e suas
consequências. Nesse contexto, se constata que surge para as empresas uma
responsabilidade para com a sociedade, que vai além da produção, incluídas a
necessidade de que suas ações e atividades sejam sustentáveis, inclusive no que
respeita a recursos naturais e meio ambiente e, também, que tenham em conta as
dimensões humanas do meio em que está inserida. O próprio mercado consumidor
também muda, e vai ficando mais exigente em relação ao que consome e
questionando cada vez mais a forma de produção, os recursos usados, sua origem,
as implicações e as condições em que foi produzido. Mais do que nunca a
preocupação com a forte inclusão da função social ampla no processo produtivo
ganha caráter de imperativo de sobrevivência. A função social busca, então, articular
um razoável equilíbrio (ponderação e razoabilidade) entre a valorização do trabalho
e a liberdade de iniciativa.

No caso da atividade empresarial, pode-se dizer, portanto, que a função


social é integralmente cumprida quando são observados os quatro requisitos
indicados no estatuto da terra, aqui aproximados à ideia de empresa: fornecer bem-
estar ao proprietário (lucro em justa remuneração ao capital investido, bem assim
como ao trabalho gerencial e de direção do empreendimento, à expertise utilizada,
aos meios tecnológicos e processos de produção utilizados); manter níveis

16
satisfatórios de produtividade e competitividade; assegurar a conservação dos
recursos naturais e a observação da legislação nas relações de trabalho em curso,
ao encontro do mandamento constitucional de valorização do trabalho e da
dignidade da pessoa (JUCÁ, 2020).

1.6. PERFIL JURÍDICO E BASES CONSTITUCIONAIS

Partindo-se da premissa de que a Constituição é o instrumento jurídico do


pacto político e social que estabelece finalidades e objetivos perseguidos pela
sociedade a partir de princípios que servem de fundamento orientador da
organização adotada à luz da concepção de direito e de justiça vigente na etapa
histórica respetiva, pode-se dizer que, atualmente, a função social tem estatuto
constitucional e dimensão política no sentido de pertencer aos interesses gerais da
sociedade como categoria jurídica com importância fundamental para a
organização da sociedade, tomando consciência de que vivemos o tempo da
interdependência de tudo e de todos.

No primeiro artigo da Constituição brasileira, onde estão estabelecidos os


fundamentos do Estado e da organização deliberada em sociedade, estão
insculpidas as bases: a dignidade humana, os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa, entre outros. Logo, a liberdade de iniciativa e a busca pelo lucro são não
apenas legítimos como desejáveis, mas, necessariamente, hão de valorizar o
trabalho e o ser humano, mesmo porque, no artigo 3º do texto constitucional, onde
se encontram os objetivos do Estado, estão determinados a justiça social pela
solidariedade (essencial à convivência humana) e o desenvolvimento, com a
promoção do bem-estar geral (JUCÁ, 2020).

No artigo 5º, que trata dos direitos e garantias fundamentais, vê-se que o
inciso XXII é imediatamente seguido pelo inciso XXIII, disciplinando que a
propriedade atenderá a sua função social. Vê-se, pois, que a Lei Maior somente
tutelará a propriedade, garantindo a sua perpetuidade e exclusividade, quando esta
for social, ou seja, não subsistirá a propriedade antissocial. Da mesma forma, ao ser
abordado o Capítulo da Ordem Econômica, fundada na valorização do trabalho e na
livre iniciativa, o legislador inseriu a previsão expressa da conciliação da atividade
17
empresarial com a sua função social. Esta atividade tem um ponto referencial de
essência: a propriedade, esta também constitucionalmente protegida, porém com
um imperativo do exercício da função social.

Vê-se, pois, que os elementos caracterizadores e que formam o conteúdo da


ideia de utilização adequada ao fim a que se destina, que historicamente vêm
orientando a construção conceitual de função social, estão claramente explicitados
nos dispositivos constitucionais invocados. O direito de propriedade é direito
fundamental, mas, não obstante tenha alcançado status de direito inviolável, como
riqueza patrimonial, simultaneamente é vinculado à exigência de atendimento à
função social. É norma de caráter programático, vale dizer, determina que os
princípios sejam cumpridos pelos correspondentes órgãos, legislativos, executivos,
jurisdicionais e administrativos, como programas das respectivas atividades, visando
à realização dos fins sociais do Estado. Ora, considerando-se que, de maneira clara
no sistema jurídico, temos que a propriedade privada está marcada pela fundação
social, isto alcança, logicamente, também, a propriedade dos meios de produção e,
em consequência, da empresa.

É preciso, entretanto, compreender que o fortalecimento da sociedade e a


melhora das suas condições gerais é que garantirá a sobrevivência da atividade
econômica e sua expansão, porquanto tal fortalecimento se reflete na economia e
nas atividades negociais e se asseguram a manutenção das condições razoáveis de
manutenção de todo o sistema. É necessário que as empresas, progressivamente,
compreendem seu papel social, como função reguladora de equilíbrio.

Agregam-se, assim, segundo Jucá e Monsteschio, conceitos de


sustentabilidade, entendida não apenas nos aspectos ambientais e de recursos
naturais, mas também, no sentido econômico de produtividade, competitividade,
lucratividade, longevidade, inovação e renovação permanentes, exatamente porque
a atividade precisa ser preservada, sua proteção e sobrevivência hígida é de
interesse geral e diz respeito ao bem comum, e de responsabilidade social no
sentido do cumprimento integral da função social da empresa e da sua atividade tal,

18
sob pena de se caracterizar ilicitude, na medida em que o cumprimento da função
social é, como se viu, imperativo constitucional indeclinável.

2. SUSTENTABILIDADE

Proposta pelo James E. Lovelock em 1972, a Hipótese de Gaia ou Hipótese


Biogeoquímica propõe que a biosfera e os componentes básicos da Terra estão
intimamente ligados formando um complexo sistema interagente responsável pela
manutenção das condições climáticas e biogeoquímicas em uma condição de
equilíbrio homeostático, realizando suas funções de modo adequado por meio de
múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico que por sua vez são controlados por
mecanismos de regulação inter-relacionados. Essa teoria recebeu esse nome em
referência a titã Gaia, personificação da Terra na Mitologia Grega. Para os
defensores dessa hipótese, a Terra é como um organismo vivo e apesar de que
algumas de suas proposições não terem sido provadas, enquanto outras foram
corroboradas com sólidas evidências, o ponto mais debatido é até em que nível a
vida é capaz de modificar seu ambiente em seu favor e mantê-lo em homeostase
mesmo a despeito de ameaças de catástrofe e das diferentes necessidades que
outros seres têm para viver e que muitas vezes são excludentes.

A teoria influenciou a percepção humana a respeito do ambiente e do nosso


papel dentro do ecossistema o que, aliada a Conferência de Estocolmo sobre o Meio
Ambiente Humano e o Relatório Nosso Futuro Comum, lançou a semente do
conceito de sustentabilidade e a importância dela nas questões econômicas e
sociais além das ambientais.

2.1. SUSTENTABILIDADE SOCIAL

Os impactos da Empresa quanto da atividade empresarial se fazem sentir não


somente no meio-ambiente natural com a exploração dos recursos naturais, ela
impacta com seus produtos como os rejeitos da produção, poluição das águas, do
ar, em certos casos provocam a impermeabilização de grandes áreas e sendo o
centro econômico das sociedades contemporâneas, elas agem como imãs, atraindo
19
pessoas de outras áreas e regiões em busca de melhores condições de trabalho e
vida.

Podemos citar dois momentos históricos com o ciclo da borracha no


amazonas e posteriormente com a instalação da Zona Franca de Manaus. A
primeira de cunho extrativista, gerou uma riqueza na região amazônica que fez com
que os barões da borracha vivessem um padrão de vida de altíssimo luxo e glamour
sendo Manaus, capital do Estado do Amazonas, a Paris dos Trópicos. Foi durante
esse período que o Amazonas teve a primeira Universidade do Brasil (UFAM), a
construção da Casa de Ópera do Amazonas (Teatro Amazonas) entre outras. Como
consequência direta desse período áureo, vieram diversos imigrantes de outras
regiões do Brasil e mesmo do exterior o que levou ao surgimento das áreas de
invasão nos entornos dos igarapés da cidade.

Nos anos 70, foi implantada a Zona Franca que trouxe um novo boom
econômico não só no Estado do Amazonas, mas para o Brasil como um todo. Foi
verdadeiramente o início da indústria nacional o que acarretou novamente em um
intenso movimento migratório para a cidade e, consequência direta, as áreas de
invasão onde esses migrantes estabeleciam moradia, não atendia aos critérios
mínimos da dignidade humana, não possuíam saneamento, a energia era
frequentemente obtida de maneira clandestina, degradação do ambiente no entorno,
surgimento de doenças e de seus vetores, pobreza e a consequente criminalidade
aumentando à medida em que o numero de pessoas superava em muito a demanda
de ofertas de emprego.

A sustentabilidade social que é um dos tripés da sustentabilidade, tem por


objetivo melhorar a qualidade de vida das pessoas de forma que os recursos
disponíveis para as gerações futuras não sejam comprometidos pelas gerações que
as antecederam visando assim a economia dos recursos e diminuir as
desigualdades sociais ampliando direitos humanos.

No Brasil, a sustentabilidade social tem caráter constitucional ao assegurar


como fundamentos da República, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais

20
do trabalho e da livre-iniciativa com o fim de criar uma sociedade livre, justa e
solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

Assim, toda e qualquer atividade a ser desenvolvida dentro do território


nacional deve primeiramente atender às necessidades sociais antes das
particulares. Havendo conflitos de interesses, o Estado intervém no sentido de
atender àquilo que entende como sendo de interesse público.

3. EMPRESA

A concepção jurídica, a atividade empresarial ou empresa é dentro do direito


comercial, uma atividade econômica profissionalmente exercida por um empresário
por meio da articulação dos fatores produtivos para a produção ou circulação de
bens ou serviços.

A empresa é a atividade do empresário e não se mistura com seu


estabelecimento, pessoa jurídica, sociedade, ponto comercial ou sócios. A empresa
não possui personalidade jurídica e nem é considerada sujeito de direitos. Assim
quem exerce direitos e contrai obrigações é o empresário e não a empresa.

Carlos Roberto Gonçalves afirma:


“Empresa e estabelecimento são conceitos diversos, embora essencialmente
vinculados, distinguindo-se ambos do empresário e da sociedade empresária, que são titulares da
empresa”.

Conforme esclarece o doutrinador Fábio Ulhoa Coelho:


“ Se empresário é o exercente profissional de uma atividade econômica organizada,
então empresa é uma atividade; a de produção ou circulação de bens ou serviços. É importante
destacar a questão. Na linguagem cotidiana, mesmo nos meios jurídicos, usa-se a expressão
"empresa" com diferentes e impróprios significados. Se alguém diz "a empresa faliu" ou "a
empresa importou essas mercadorias", o termo é utilizado de forma errada, não técnica. A
empresa, enquanto atividade, não se confunde com o sujeito de direito que a explora, o
empresário. É ele que fale ou importa mercadorias. Similarmente, se uma pessoa exclama "a
empresa está pegando fogo!" ou constata "a empresa foi reformada, ficou mais bonita", está
empregando o conceito equivocadamente. Não se pode confundir a empresa com o local em
21
que a atividade é desenvolvida. O conceito correto nessas frases é o de estabelecimento
empresarial; este sim pode incendiar-se ou ser embelezado, nunca a atividade. Por fim, também
é equivocado o uso da expressão como sinônimo de sociedade. Não se diz "separam-se os bens
da empresa e os dos sócios em patrimônios distintos", mas "separam-se os bens sociais e os
dos sócios"; não se deve dizer "fulano e beltrano abriram uma empresa", mas "eles contrataram
uma sociedade".
Somente se emprega de modo técnico o conceito de empresa quando for sinônimo
de empreendimento. Se alguém reputa "muito arriscada a empresa", está certa a forma de se
expressar: o empreendimento em questão enfrenta consideráveis riscos de insucesso, na
avaliação desta pessoa. Como ela se está referindo à atividade, é adequado falar em empresa.
Outro exemplo: no princípio da preservação da empresa, construído pelo moderno Direito
Comercial, o valor básico prestigiado é o da conservação da atividade (e não do empresário, do
estabelecimento ou de uma sociedade), em virtude da imensa gama de interesses que
transcendem os dos donos do negócio e gravitam em torno da continuidade deste; assim os
interesses de empregados quanto aos seus postos de trabalho, de consumidores em relação
aos bens ou serviços de que necessitam, do fisco voltado à arrecadação e outros”

3.1. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA

O Novo Código Civil instituído pela Lei N° 10.406/02, positivou, ou seja,


formalizou diversos princípios antes inexpressivos substituindo o caráter privatista,
individual e eminentemente patrimonial do antigo Código Civil pela socialidade,
coletividade, eticidade e dignidade do atual Código, renovando em outras palavras, a
antiga preferência à proteção patrimonial individual pela supremacia do indivíduo e
de seu valor perante a sociedade

Toda sociedade vive com base em normas sejam elas positivadas


(codificadas) ou transmitidas por tradição ou costume, são cláusulas gerais que se
constituem em formulações legais genéricas e abstratas com a função de
estabelecer diretrizes e cujo os valores atribuídos serão preenchidos pelo juiz na
análise de cada caso concreto. Essas cláusulas dotam o Código de maior
mobilidade mitigando regras mais rígidas e integrando diferentes princípios e direitos
adotados em uma sociedade plural permitindo a aplicação legal com uma ampla
liberdade ponderando os diferentes interesses envolvidos e ainda instrumentalizam
as normas jurídicas ao fins teleológicos considerados.

22
no sentido de atuar ex officio decidindo com maior mobilidade os processos que lhe
são submetidos denominando-se tal atribuição de poder de polícia judicial  sendo
possível que eventual magistrado, não atuando com bom senso, cause prejuízos
aos jurisdicionados com base nas cláusulas gerais, lembrando então caber ao
Tribunal lapidar os excessos.

Importante aspecto a ser abordado diz respeito à aplicação cogente das


cláusulas gerais. Impende compreender que são normas jurídicas de ordem pública,
devendo, portanto, ser aplicadas ex officio e a qualquer tempo, já que não se
sujeitam à preclusão; não se tratando também de normas dispositivas, nos termos
do art. 2035, parágrafo único, abaixo transcrito, ipsis verbis:

“Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem


pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social
da propriedade e dos contratos.”

Conclui-se, então, que as cláusulas gerais são normas de ordem


pública, por determinação expressa do Código Civil, devendo ser aplicadas de ofício,
não se sujeitando às convenções particulares.

Além disso, as cláusulas gerais decorrem do próprio conceito de boa-fé


objetiva (CC, art. 422), em que se exigem o amoldamento da conduta do particular.

Em vista do que foi exposto, compreendemos o homem dentro de um aspecto


de interdependência que nos mobilizou a nos associar-mos por questões de
necessidade e sobrevivência. A formação dos grupos sociais e seu consequente
crescimento foram o proximo passo adaptativo para assegurar o direito à vida e a
propriedade.

23
CONCLUSÃO

“Toda e qualquer ação, provocará uma reação de igual intensidade em


sentido oposto” (Newton, Isaac). Figurativamente nos textos bíblicos, quanto
literalmente ao estudarmos os impactos das ações humanas sobre o planeta,
percebemos o quanto esta afirmativa newtoniana está correta. A todo momento
somos bombardeados com informações acerca de desastres naturais, aquecimento
global, derretimento de geleiras, animais ameaçados de extinção e dos danos
causados pelos lixos domésticos e industriais.

Com uma população mundial cada vez maior, alguns cientistas especulam
que em breve a Terra, “Gaea” entrará na sua fase crítica, além de sua capacidade
de se auto-recuperar. Falta de recursos para todas as bilhares de bocas no mundo
representariam não somente extinção de espécies inteiras, mas guerras cada vez
mais acirradas pelo controle das poucas fontes que porventura ainda existirem.
Cabe então não somente às indústrias e empresas reverem seus modos de
produção, fontes de matéria prima e descarte de rejeitos, mas também ao poder
público criar leis e regulamentos que permitam um desenvolvimento sustentável de
forma responsável, democrática e ética bem como a nós, sociedade como um todo,
revermos nossos padrões de consumo e reestabelecermos prioridades para nós e
nosso mundo.

24
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