Módulo 01

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

Sumário
Apresentação.......................................................................................................................................3
Objetivo...............................................................................................................................................3
Educação e Sociedade: O Pensamento dos Clássicos da Sociologia...............................................4
Antecedentes históricos...................................................................................................................4
A Revolução Industrial................................................................................................................5
A Revolução Francesa.................................................................................................................7
Os Pensadores Clássicos da Sociologia...........................................................................................8
Émile Durkheim (1858 – 1917)..................................................................................................8
Max Weber (1864 – 1920)........................................................................................................12
Karl Marx (1818 – 1883)..........................................................................................................15
Os Programas de Educação Fiscal no Brasil..................................................................................18
A Educação Fiscal e o PNEF.........................................................................................................18
Fundamentos e abrangência do PNEF...........................................................................................20
A Educação Fiscal nos Estados.....................................................................................................22
O Programa de Educação Fiscal no Estado do Ceará (PEF).....................................................23
A Educação Fiscal nos Municípios...............................................................................................25
A Inserção do PNEF na Educação Formal no Brasil....................................................................27
A Educação Fiscal e o Serviço Público: O Servidor Cidadão.......................................................30
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................35

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

Apresentação

Nesta aula, abordaremos os temas:

• Educação e Sociedade: o pensamento dos clássicos da sociologia;

• Os Programas de Educação Fiscal no Brasil.

• A Educação Fiscal e o serviço público: o servidor cidadão.

Objetivo
Proporcionar aos participantes conhecimentos sobre os fundamentos da
sociologia clássica para a formação do Estado e do Programa de Educação
Fiscal, a fim de entender a influência da cidadania fiscal no contexto social
brasileiro.

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

Educação e Sociedade: O Pensamento dos Clássicos da


Sociologia
Objetivo: Apresentar os autores clássicos do pensamento social, o
contexto histórico em que elaboraram suas teorias e como analisaram o papel
da educação na sociedade capitalista.

"Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco


sem ela a sociedade muda."

Paulo Freire, educador brasileiro

Antecedentes históricos
O período histórico que vai de 1789 a 1848 ficou conhecido como a Era
das Revoluções, expressão cunhada pelo historiador britânico Eric Hobsbawm.

As transformações que o mundo vivenciou nesse período decorreram do


que ele, Hobsbawm (2009), denominou de “dupla revolução”: a Revolução
Francesa de 1789 e a Revolução Industrial (inglesa). Em suas palavras:

"A grande revolução de 1789-1848 foi o triunfo não da “indústria”


como tal, mas da indústria capitalista; não da liberdade e da igualdade em
geral, mas da classe média ou da sociedade “burguesa” liberal; não da
“economia moderna” ou do “Estado moderno”, mas das economias e
Estados em uma determinada região geográfica do mundo (parte da
Europa e alguns trechos da América do Norte), cujo centro eram os Estados
rivais e vizinhos da Grã-Bretanha e França."

(HOBSBAWM, 2009, p.17)

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A Revolução Industrial
Até as últimas décadas do século XVII, a produção de bens para
consumo da sociedade se dava de forma preponderantemente artesanal. Isso
trazia uma enorme limitação ao poder produtivo da humanidade.

No entanto, “a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na


história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das
sociedades humanas, que daí em diante se tornaram capazes da
multiplicação rápida, constante, e até o presente, ilimitada de homens,
mercadorias e serviços” (HOBSBAWM, 2009, p.20). O trabalho artesanal dava
lugar à produção industrial.

A substituição do trabalho artesanal pelo trabalho manufaturado fez


surgir uma nova figura na sociedade: o capitalista (o dono do capital),
proprietário da oficina de trabalho e da matéria-prima que seria
transformada. Esse capitalista inicialmente explorava o trabalho de vários
artesãos que executavam, cooperativamente e com suas próprias ferramentas
de trabalho, uma série de operações que resultavam na produção final da
mercadoria (PACHECO; MENDONÇA, 2006).

O processo de industrialização se intensificou nas últimas décadas do


século XVIII, principalmente na Inglaterra (A primeira indústria a se
revolucionar na Inglaterra foi a do algodão, a princípio (1780-1815),
principalmente na fiação, na cardação e em algumas operações auxiliares;
depois (de 1815) cada vez mais na tecelagem), e os artesãos e seus
instrumentos de trabalho foram sendo substituídos por operários (a classe
trabalhadora ou proletariado), que manejavam as máquinas industriais de
propriedade do capitalista. Esse processo de produção de bens em massa foi
denominado de Revolução Industrial, produzindo mudanças fundamentais no
modo de vida da humanidade.

A primeira grande mudança foi demográfica.

"O extraordinário aumento da população naturalmente estimulou


muito a economia, embora devêssemos considerá-la antes como uma

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consequência do que uma causa exterior da revolução econômica, pois sem


ela um crescimento populacional tão rápido não poderia ter sido mantido
durante mais do que um limitado período."

(HOBSBAWM, 2009, p.221)

Na esteira das mudanças demográficas, o êxodo rural se intensificou e as


principais cidades industriais tiveram um crescimento vertiginoso. A
população foi atraída para os centros urbanos para trabalhar nas fábricas, a
maioria em condições subumanas.

A segunda grande mudança foi nas comunicações, com a abertura de


novas estradas e novos canais de navegação, e a construção de ferrovias,
aumentando consideravelmente a velocidade e a capacidade do transporte
de bens de consumo. A terceira grande mudança, consequência natural das
duas anteriores, foi no volume do comércio e da emigração, que cresceu
aceleradamente (Dados relativos ao fluxo de comércio e de pessoas são
apresentados por Hobsbawm (2009, Nono Capítulo, Seção I ).

Todo esse processo revolucionário deu origem a um novo tipo de relação


social, fundando a sociedade capitalista. Na sociedade capitalista, o
trabalhador perde seus instrumentos de trabalho e torna-se possuidor apenas
da força de trabalho, que deve ser vendida ao dono da fábrica (proprietário
do capital). Nessas condições, intensifica-se a exploração do trabalho pelo
capital.

Como resposta ao ambiente de trabalho degradante, surge a consciência


de classe dos trabalhadores. Nas palavras de Hobsbawm (2001), “a
consciência de classe dos trabalhadores ainda não existia em 1789, ou mesmo
durante a Revolução Francesa. Fora da Grã-Bretanha e da França, ela era
quase que totalmente inexistente mesmo em 1848. Mas nos dois países que
personificam a revolução dupla, ela certamente passou a existir entre 1815 e
1848, mais especificamente por volta de 1830”.

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EXEMPLO

A Revolução Industrial remodelou as relações sociais em torno de um


novo paradigma, o mundo do capital, exigindo dos estudiosos um novo
olhar sobre a sociedade que ora surgia.

A Revolução Francesa
Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob
a influência da revolução industrial britânica, sua política e ideologia foram
formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa (HOBSBAWM, 2001).
Há várias explicações aceitáveis sobre por que a revolução eclodiu na França
do final do século XVIII (HOBSBAWM, 2009, Terceiro Capítulo) analisa
detalhadamente cada uma delas), e a principal delas foi o imenso
descompasso entre quem detinha o poder econômico – os burgueses – e
quem exercia o poder político – o monarca, em conjunto com as castas
privilegiadas dos nobres e do clero.

Além disso, como ressalta Pacheco e Mendonça (2006), o estado


monárquico era um obstáculo ao pleno desenvolvimento do capitalismo, pois
praticava intensa intervenção na economia, impedia a superação das relações
feudais de produção e retirava recursos da produção, por meio da cobrança
de impostos extorsivos destinados a manter os privilégios do clero e da
nobreza, além de custear as inúmeras guerras que a França enfrentava.

Esse cenário forneceu o combustível ideal para uma revolução social,


liderada pela burguesia e fundada nos princípios gerais da ideologia liberal: a
liberdade individual, a propriedade privada, a democracia e a igualdade.
Assim, embalados pelo lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, o povo
francês derrubou a prisão da Bastilha, o símbolo do poder real, em 14 de
julho de 1789, marco temporal da Revolução Francesa.

O rei Luís XVI foi obrigado a reconhecer a legitimidade da Assembleia


Nacional Constituinte, que em agosto de 1789 liberta os camponeses do

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controle senhorial, acaba com os privilégios da nobreza e do clero, dando fim


ao longo período de regime feudal, e proclama a Declaração dos Direitos
Humanos e do Cidadão, que consagra uma série de princípios liberais
(PACHECO; MENDONÇA, 2006).

É nesse cenário de transformações promovidas pelas revoluções


Industrial e Francesa que a Sociologia surge como ciência, com a
preocupação de explicar a nova sociedade capitalista.

Os Pensadores Clássicos da Sociologia


A Sociologia (O termo Sociologia foi criado por Augusto Comte (1798-
1857), sendo considerado o pai da Sociologia, provavelmente o primeiro
pensador moderno. Comte defendia a ideia de que para uma sociedade
funcionar corretamente, precisa estar organizada, e só assim alcançará o
progresso. Seu esquema sociológico era tipicamente positivista, corrente com
grande expressão no século XIX. ), como um campo delimitado do saber
científico com método e objetos róprios, surgiu em meados do século XIX na
Europa, a partir das ideias dos pensadores sociais Émile Durkheim, Max
Weber e Karl Marx.

SAIBA MAIS

Recomendamos a leitura do excelente livro “Um Toque de Clássicos:


Marx – Durkheim – Weber”,das Professoras Tânia Quintaneiro, Maria Ligia de
Oliveira Barbosa e Márcia Gardênia Monteiro de Oliveira. Foi esta a nossa
principal referência na elaboração desta seção, cuja citação apresentaremos,
na forma resumida, por Quintaneiro (2010).

Émile Durkheim (1858 – 1917)

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Durkheim foi o fundador da escola francesa de


Sociologia e é considerado um dos pais da Sociologia
moderna. Influenciado pelo positivismo, ele conseguiu
firmar bases sólidas e métodos consistentes para a
análise sociológica, combinando pesquisa empírica com
teoria social.

Na sua concepção, a sociedade é “o mais poderoso


feixe de forças físicas e morais cujo resultado a natureza
nos oferece”, não se constituindo meramente de uma
soma de consciências individuais, mas se
Figura 01: Émile materializando a partir de uma nova consciência
Durkheim coletiva.

Durkheim postula que para entender a sociedade, não se pode estudar


isoladamente os indivíduos que a compõem. É necessário analisar o todo,
representado por essa consciência coletiva. Assim, uma das expressões do
fato social são as representações coletivas, que segundo ele são a maneira
“como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia”.

Para Durkheim, o objeto da sociologia são os fatos sociais. Tais


fenômenos compreendem

“toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o


indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de
uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente
das manifestações individuais que possa ter”

DURKHEIM apud QUINTANEIRO, 2010, p. 68

Os fatos sociais possuiriam três características:

• coerção social;

• Exterioridade;

• poder de generalização.

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Como observa Pacheco e Mendonça (2006, p.29), “a coerção social era a


capacidade de o fato social se fazer respeitar, se impor. O indivíduo era frágil
para contrariar alguns fatos sociais, como o idioma, as leis, a educação que
recebe da família e da escola”.

A exterioridade dos fatos sociais significa que eles existem e atuam sobre
o indivíduo independentemente de sua vontade ou de sua aceitação
consciente. Os fatos sociais existem antes do nascimento das pessoas e são
por elas assimilados por meio da educação e de outras formas de coerção.
Segui-los significa garantir o bom funcionamento da sociedade. O seu
descumprimento poderia ocasionar as crises sociais, ou seja, a doença da
sociedade (PACHECO; MENDONÇA, 2006).

A generalidade implicava que, para ser um fato social, determinado


acontecimento deve ocorrer para todas as pessoas ou para a maioria delas.
Deve ser algo comum na vida das pessoas.

CURIOSIDADE

Como Durkheim define educação?

A educação, para Durkheim, é um fato social e, portanto, ela não pode


ser tomada como responsabilidade privada, mas sim de âmbito coletivo.
Assim sendo, ela é coercitiva, ou seja, é imposta às pessoas,
independentemente de sua vontade, por serem incapazes de reagir diante
da ação educativa. Para ele, característica coercitiva da educação é
fundamental para socializar os indivíduos.

Na sua obra Educação e Sociologia, o autor define educação como:

"A ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se
encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e
desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e
morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio

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especial a que a criança, particularmente, se destine."

(DURKHEIM, 1975, p.41)

A partir dessa definição, pode-se perceber que

"Durkheim aponta duas condições para que haja educação. A primeira


é que exista uma geração de pessoas adultas e uma geração de jovens. A
segunda condição é que a ação educativa seja exercida pela geração mais
velha sobre a mais jovem. A geração mais velha já está socializada e cabe a
ela repassar os códigos de convivência social à geração mais jovem. A ação
educativa é de cima para baixo, da geração adulta para a geração de
crianças e adolescentes. Os mais novos só recebem o conhecimento.
Parecem vazios, nada têm a repassar. Já os mais velhos só transmitem.
Parecem estar cheios, completos.

(PACHECO; MENDONÇA, 2006)

FIQUE ATENTO

Para Durkheim, a educação deveria ser organizada de forma a conciliar


dois tipos de formação: uma base comum e outra diversificada. A base
comum da educação conteria os conhecimentos que devem ser
compartilhados por todos. Assim, apesar das diferenças de classes sociais,
todas as crianças deveriam receber ideias e práticas gerais, que seriam os
valores cultivados pelo seu povo.

Mas a partir de um dado momento da vida, a educação passaria a ser


diferenciada. Isso porque, segundo Durkheim, os jovens devem ser
preparados, a partir desse momento, para assumir os seus papéis na
sociedade (conforme a divisão social do trabalho e a especialização), dentro

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da classe social a qual pertencem. Ou seja, haveria homens que devem ser
preparados para refletir, para pensar, para serem os dirigentes do país, seja
nas empresas, seja no governo; e outros deveriam ser educados para a ação,
para a execução do trabalho manual e a obediência. Essa é uma função
importante da educação na visão de Durkheim: preparar os homens para
desempenhar os diferentes e harmônicos papéis sociais (PACHECO;
MENDONÇA, 2006).

SÍNTESE

Durkheim vê a educação como fenômeno social e ela deve exercer


um papel fundamental na própria constituição e manutenção da
sociedade. A educação teria a função de formar o ser social, diferente
do ser individual.

Max Weber (1864 – 1920)


O intelectual alemão Max Weber era jurista e economista e é
considerado um dos fundadores da Sociologia. Suas teorias foram fortemente
influenciadas pelas ideias de Marx e Nietzsche, embora não tenha se
submetido a elas de forma acrítica. Ao analisar a sociedade capitalista
ocidental sob a perspectiva histórica, econômica e ideológica, subiu sobre os
ombros do gigante Marx para enxergar mais longe e tentar construir uma
explicação sociológica adequada à história social.

De Nietzsche, Weber herdou a percepção

"segundo a qual a vontade de poder, expressa na luta entre valores


antagônicos, é que torna a realidade social, política e econômica
compreensível."

(QUINTANEIRO, 2010, p.108)

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Max Weber é um dos grandes defensores da objetividade do


conhecimento. Segundo ele, embora o tema a ser investigado deva ser
escolhido em função dos valores e ideais do cientista, este deve saber
distinguir entre reconhecer e julgar, e cumprir tanto o dever científico de ver a
verdade dos fatos, como o dever prático de defender os próprios valores.

Para Weber, os fenômenos sociais não podem ser submetidos a leis


gerais sobre a sociedade, como pretendia Durkheim.

Para entender as características das sociedades por meio de uma ciência


como a Sociologia, naturalmente generalizadora, é necessário que o cientista
defina instrumentos que orientem a investigação das diversas conexões
causais. Para isso, seria conveniente trabalhar com um “tipo ideal”, o qual
cumpre duas funções principais: primeiro, a de selecionar explicitamente a
dimensão do objeto a ser analisado; e, posteriormente, apresentar essa
dimensão de uma maneira pura, sem suas sutilezas concretas.

Partindo desse paradigma, poderia analisar os fatos reais como desvios


desse “tipo ideal”. Como observou Weber:

"Tais construções (...) permitem-nos ver se, em traços particulares ou


em seu caráter total, os fenômenos se aproximam de uma de nossas
construções, determinar o grau de aproximação do fenômeno histórico e o
tipo construído teoricamente. Sob esse aspecto, a construção é
simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e
terminologia mais lúcidas."

(WEBER apud QUINTANEIRO, 2010, p. 111)

Ou seja, para Max Weber, o foco de análise se encontra na ação social e


não no fato social, como defende Durkheim. A ação social é definida por
Weber como toda conduta humana que se oriente pela expectativa da ação
de outrem, ou que dela derive. Para ele, a ação é um comportamento no qual
os indivíduos se relacionam de maneira subjetiva uns com os outros, e cujo

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sentido geral é determinado pelo comportamento alheio. Ou seja, esse


comportamento só é ação social quando o agente atribui à sua própria
conduta um significado ou sentido específico, e esse sentido se relaciona com
o comportamento de outras pessoas.

Assim, as relações sociais seriam

"os conteúdos significativos atribuídos por aqueles que agem tomando


outro ou outros como referência – conflito, piedade, concorrência,
fidelidade, desejo sexual etc."

(QUINTANEIRO, 2010, p. 119)

Constata-se, pois, que, diferentemente de Durkheim, a visão weberiana


não entende a sociedade como um ente acima do indivíduo. Os padrões,
normas, regras etc. são constituídos e se transformam nas relações sociais
estabelecidas entre indivíduos. Para ele, a sociedade é construída nas teias
das relações sociais.

Weber fundamentava suas ideias na tradição liberal da sua época, isto é,


a ênfase da análise social é dada ao indivíduo, o grande responsável por tudo
que existe, obtido em função dos seus méritos e fragilidades, o que servia
para justificar, inclusive, a posição ocupada no quadro de classes sociais.
Embora Weber não tenha escrito uma obra específica sobre educação,
podemos encontrar referências ao tema em alguns de seus textos, todas
relacionadas à sua preocupação, quanto ao excesso de burocratização das
instituições de ensino.

No livro “A Ciência como Vocação”, ele apresenta a tendência de


racionalização, burocratização e especialização cada vez maior na Alemanha.
Adverte que os docentes das universidades alemãs estão passando pelo
mesmo processo de desapropriação de suas ferramentas e da especialização
do trabalho que os artesãos haviam enfrentado no processo de
industrialização (CASSIN, 2008). Se conversarmos com os docentes das

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universidades brasileiras, veremos que isso não é muito diferente do que


estamos vivenciando hoje no ensino superior.

EXEMPLO

Quanto à educação, Weber se mostra pessimista em relação às formas


capitalistas de sociedade, demonstrando certa nostalgia às formas pré-
capitalistas.

Karl Marx (1818 – 1883)


O alemão Karl Marx atuou como filósofo, economista, historiador e
cientista político, para ficarmos apenas nas suas principais atividades, e é
considerado, mesmo por aqueles que combatem suas ideias, o maior
pensador social da história, tendo influenciado, determinantemente, os rumos
dos estudos sociológicos.

Marx acredita que o mundo é resultado da ação humana e propõe aos


homens que sejam eles os agentes da transformação desse mundo, em
oposição à simples tarefa dos filósofos, que “limitaram-se a interpretar o
mundo”. Defende que a estrutura de uma sociedade é dependente do estado
de desenvolvimento de suas forças produtivas e das relações sociais de
produção. Seu conceito de forças produtivas diz respeito à ação dos
indivíduos sobre a natureza. Marx assinala que os homens “não são livres
árbitros de suas forças produtivas, base de toda sua história – pois toda força
produtiva é uma força adquirida, produto de uma atividade anterior” (MARX
apud QUINTANEIRO, 2010, p. 34).

Para Marx, o que molda uma sociedade é a forma como a humanidade


produz seus bens de consumo (as formas de apropriação das ferramentas e
outros meios usados na produção, os mecanismos de tomada de decisão e
de distribuição da riqueza gerada), a maneira como transforma, por meio do

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trabalho, o mundo ao seu redor e, sobretudo, como se dá a relação do


homem com os meios de produção.

Ele estava particularmente preocupado em estudar a sociedade


capitalista e não em elaborar uma teoria geral sobre as sociedades, como
pretendia Durkheim. Em sua análise, Marx dividiu a sociedade capitalista em
duas classes:

• a dos capitalistas (burgueses), que detêm a posse dos meios de


produção (máquinas, ferramentas, capital para aquisição de matérias-
primas etc.);

• dos trabalhadores (proletariado ou operariado), cuja única posse é sua


força de trabalho, que deveria ser vendida aos donos do capital em
troca de um salário.

Para Marx, não há como conciliar os interesses do capital e do trabalho,


que seriam antagônicos em função da natureza do capitalismo. Portanto, a
sociedade não seria um todo harmônico, em que as classes devem cooperar
para o perfeito funcionamento do todo, como defendia Durkheim. O que
existe é um conflito entre capital e trabalho, entre capitalistas ou burgueses e
o proletariado, e é isso que move a história.

Karl Marx também não escreveu nenhuma obra específica sobre


educação, mas deixou uma inegável contribuição a respeito do papel da
educação na sociedade capitalista. Na sua concepção, os modelos
educacionais existentes serviam para manter e reforçar a sociedade burguesa.
Era o que propunha Durkheim, quando defendia que o papel da educação era
socializar as novas gerações. Para Marx, essa forma de interpretar a relação
entre a educação e a sociedade buscava um aperfeiçoamento das relações
sociais no capitalismo, mas sem profundas transformações. Assim, tais teorias
interessariam, sobretudo, à burguesia capitalista, classe dominante no
sistema.

Marx defendia que a educação deve servir para uma reflexão crítica
sobre a sociedade capitalista, visando à sua superação. Apoiando-se no

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

materialismo histórico (O materialismo histórico é uma abordagem


metodológica ao estudo da sociedade, da história e da economia, elaborada
por Marx e Engels. Tal abordagem procura identificar as causas da evolução
da sociedade humana nos meios pelos quais os seres humanos produzem
coletivamente e distribuem os bens de consumo.), a educação
transformadora considera o capitalismo apenas uma etapa da caminhada da
humanidade e empenha-se na criação de condições para a realização de
novas revoluções sociais que conduzam ao fim da sociedade capitalista e sua
substituição por uma organização social regida por relações cooperativas e
igualitárias. Tal visão de educação interessa à classe trabalhadora e aos
defensores do socialismo (PACHECO ; MENDONÇA, 2006).

EXEMPLO

Como vimos neste tópico, o estudo dos clássicos da sociologia nos


fornece instrumentos para compreender melhor as transformações recentes
no sistema educacional mundial, principalmente quanto ao papel que a
escola deve cumprir na consolidação ou transformação da sociedade.

REFLITA

Os marxistas criticam o atual sistema educacional, segundo eles voltado


exclusivamente para a formação de mão de obra para a reprodução e
consolidação do sistema capitalista, e defendem que a educação deveria ser
instrumento de reflexão sobre a natureza do sistema, mesmo que isso
levasse à destruição do sistema e à criação de outro, mais adequado a todos.
Você concorda com os marxistas? Você acha que seria possível construir uma
escola por dentro de um sistema que pudesse vir a destruí-lo ou modifcá-lo?

Analisando as concepções quanto à educação dos três pensadores


clássicos da Sociologia – Durkheim, Marx e Weber –, qual delas estaria mais
próxima da nossa realidade hoje?

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Os Programas de Educação Fiscal no Brasil


Objetivo: Abordar o Programa Nacional de Educação Fiscal e os
programas de educação fiscal do Estado do Ceará (PEF) e do município de
Fortaleza, além de algumas considerações quanto à inserção da educação
fiscal no sistema de ensino formal no Brasil.

"Educar verdadeiramente não é ensinar fatos novos ou enumerar


fórmulas prontas, mas sim preparar a mente para pensar."

Albert Einstein

A Educação Fiscal e o PNEF


Antes de falarmos do Programa Nacional de Educação Fiscal (PNEF), é
importante entendermos o que vem a ser educação fiscal.

DÚVIDA

O Que é Educação Fiscal?

A educação fiscal é um programa educacional que visa compartilhar


conhecimentos e interagir com a sociedade sobre a origem, aplicação e
controle dos recursos públicos, a partir da adoção de uma abordagem
didático-pedagógica interdisciplinar e contextualizada, capaz de favorecer a
participação social (ESAF, 2013a).

O que se pretende com a inserção da educação fiscal no sistema formal


de ensino no Brasil é construir uma consciência voltada ao exercício da
cidadania, propiciando ao cidadão uma participação ativa no funcionamento
e aperfeiçoamento dos instrumentos de controles social e fiscal do Estado.

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

O Programa Nacional de Educação Fiscal (PNEF) foi oficialmente criado


em 1996. Suas origens remontam ao início dos anos 1990, quando o estado
do Espírito Santo desenvolveu o projeto “Consciência Tributária – A Força
do Cidadão”, composto por cartilhas e o vídeo “A História dos Tributos:
Uma Conquista do Homem”. Tal projeto foi apresentado numa das reuniões
do Confaz (O Conselho Nacional de Política Fazendária, constituído pelos
Secretários de Fazenda, Finanças ou Tributação de cada Estado e Distrito
Federal e pelo Ministro de Estado da Fazenda. É um órgão deliberativo
instituído em decorrência de preceitos previstos na Constituição Federal,
com a missão maior de promover o aperfeiçoamento do federalismo fiscal e
a harmonização tributária entre os estados da Federação), ocorrida em maio
de 1996 na cidade de Fortaleza – CE, quando se decidiu criar um Programa
Nacional de Educação Tributária (ESAF, 2013a).

Tendo em vista que o objetivo do programa é tratar não apenas dos


tributos, mas de todas as questões referentes à alocação e à gestão dos
recursos públicos arrecadados, o Confaz, reunido no estado da Paraíba em
julho de 1999, aprovou a alteração de sua denominação para Programa
Nacional de Educação Fiscal (PNEF).

DÚVIDA

O Que é o PNEF?

O PNEF é um programa educacional nacional, articulado, desde 2019,


pelas Secretarias de Fazenda, por meio do Grupo de Trabalho ligado a
Comissão Permanente de ICMS - COTEPE, sob responsabilidade novamente
CONFAZ. A criação do GT 66 é que une representante os fiscos estaduais.
Atualmente o PNEF passa por um processo de reestruturação para fortalecer
o compartilhar conhecimentos e interagir com a sociedade sobre a origem,
aplicação e controle dos recursos públicos, favorecendo a participação social.

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

Para isso, sua atuação está calcada nos seguintes valores:

Cidadania Comprometimento Efetividade

Ética Justiça Solidariedade

Fundamentos e abrangência do PNEF


O PNEF tem por base os seguintes fundamentos:

O exercício de uma prática pedagógica que


objetiva formar um cidadão autônomo, reflexivo e
Educação
consciente de seu papel, capaz de contribuir para
a transformação da sociedade.

O estímulo ao fortalecimento do poder do


cidadão para o exercício do controle democrático
Cidadania do Estado, incentivando-o à participação coletiva
na definição de políticas públicas e na elaboração
de leis para sua execução.

A opção pelos caminhos que nos levem à adoção


Ética de condutas responsáveis e solidárias, que
privilegiem sempre o bem comum.

A decisão de compartilhar os conhecimentos


adquiridos sobre gestão pública eficiente, eficaz e
Política transparente quanto à captação, à alocação e à
aplicação dos recursos públicos, com
responsabilidade fiscal e ênfase no conceito de
bem público como patrimônio da sociedade.

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

O foco na disseminação dos conhecimentos e


Controle Social instrumentos que possibilitem o cidadão atuar no
combate ao desperdício e à corrupção.

O desenvolvimento de um ambiente de confiança


entre a administração pública e o cidadão,
Relação Estado-
oferecendo-lhe um atendimento respeitoso e
Sociedade
conclusivo, com ênfase na transparência das
atividades estatais.

O estímulo ao cumprimento voluntário das


obrigações tributárias e ao combate à sonegação
fiscal, ao contrabando (É a entrada ou saída do
país de produto proibido por lei, ou que atente
contra a saúde ou a moralidade. Um exemplo
Relação
claro de contrabando é o tráfico de armas e
Administração
drogas. ), ao descaminho (É a entrada ou saída
Tributária –
do país de produtos permitidos, mas sem passar
Contribuinte
pelos trâmites burocráticos devidos, incluindo o
pagamento dos tributos. Por exemplo, quando
um viajante traz em sua bagagem um produto
eletrônico de valor acima do permitido por lei, ele
pratica o crime de descaminho. ) e à pirataria.

O compromisso com uma gestão democrática em


permanente integração com todos os segmentos
sociais, de modo a contribuir para que o Estado
Condução do PNEF
cumpra seu papel constitucional de reduzir as
desigualdades sociais e ser instrumento de
fortalecimento permanente da democracia.

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

O Programa é amplo e possui cinco áreas de abrangência, de modo que


sejam atendidos todos os brasileiros, em qualquer estágio de sua vida (ESAF,
2013a):

➔ Estudantes do ensino fundamental;

➔ Estudantes do ensino médio;

➔ Servidores públicos;

➔ Comunidade universitária;

➔ Sociedade em geral.

O Programa pode, então, ser desenvolvido em todos os níveis de ensino


e faixas etárias. Por seu intermédio, a sociedade passa a ter melhor
entendimento:

➔ Da estrutura e do funcionamento da administração pública em seus


três níveis de governo: federal, estadual e municipal;

➔ Da função socioeconômica dos tributos;

➔ Da aplicação dos recursos públicos;

➔ Das estratégias e dos meios para o exercício do controle democrático.

A Educação Fiscal nos Estados


Todos os 27 estados possuem atividades relacionadas à educação fiscal,
principalmente no âmbito dos seus Grupos de Educação Fiscal Estaduais
(GEFE), e vários já instituíram formalmente seus programas específicos, como
no caso do estado do Ceará, que já tem um programa bastante consolidado.

Cada estado institucionalizou seu Programa com autonomia na definição


de suas ações, mas alinhados às diretrizes definidas nacionalmente.

22
Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

O Programa de Educação Fiscal no Estado do Ceará (PEF)


O Programa de Educação Fiscal no Estado do Ceará (PEF) foi criado em
1998, com a denominação inicial de Programa de Educação Tributária no
Ceará (PET) (Decreto Nº 25.326/1998), atuando principalmente no sistema de
telensino.

Reconhecendo a importância da educação fiscal para o bom exercício


das atividades da administração fiscal, a Secretaria da Fazenda no Estado do
Ceará (Sefaz/CE) criou, em 2007 (Decreto Nº 28.900/2007), a Célula de
Educação Fiscal (CEDUF), que passou a compor a estrutura organizacional
formal daquela Secretaria até 2019. Atualmente, O PEF Ceará faz parte da
Assessoria de Relações Institucionais – Arins (Decreto Nº 33.091/2019),
reforçando a visão da educação fiscal como estratégica no exercício das
atividades da Sefaz. Em 2018 foi aprovada a Lei 16.697/18 que institui o PEF
Ceará como política pública.

Para orientar estrategicamente a sua atuação, o PEF estabeleceu como


objetivo estratégico

"sensibilizar o cidadão para a função socioeconômica do tributo e de


sua responsabilidade pelo acompanhamento da aplicação dos recursos
públicos por meio do exercício do controle social e do conhecimento sobre
a administração"

PEF

Objetivos específicos do PEF:

➔ Conscientizar sobre a função social do tributo e dos orçamentos


públicos;

➔ Demonstrar os efeitos lesivos da corrupção e sonegação fiscal para a


sociedade;

➔ Estimular o cumprimento voluntário das obrigações tributárias;

23
Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

➔ Contribuir para o aperfeiçoamento do Sistema Tributário Nacional, com


fundamento nos princípios constitucionais da justiça, equidade e
capacidade contributiva.

O PEF tem se caracterizado por uma intensa e profícua atividade de


atividades de educação fiscal no estado do Ceará, além de participar de
diversas iniciativas em âmbito nacional e internacional,

Só para termos uma ideia da atuação do PEF, podemos elencar as


seguintes atividades recentes:

Planejamento e Cursos presenciais e a distância para públicos


execução de cursos diversos abordando os temas relativos à educação
online, presenciais fiscal: tributação; cidadania; gestão de recursos
e semipresenciais públicos; controle social.

Elaboração de
Disponível em:
material para
https://www.sefaz.ce.gov.br/projeto/colecao-
disseminação do
educacao-fiscal-e-cidadania/
PEF

O livro contém 15 (quinze) trabalhos enviados por


servidores e pesquisadores, além de artigos
desenvolvidos por pesquisadores e técnicos com
reconhecimento nacional nos seguintes temas
Produção de um e-
ligados à Educação Fiscal:
book em
comemoração aos I. Ética e cidadania no serviço público;
15 anos do PEF
II. Tributação e cidadania fiscal;

III.Carga tributária, reforma tributária e justiça


fiscal;

24
Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

IV.Controle social e novas mídias; e

V. Educação Fiscal no ensino: desafios e


perspectivas.

Organização de
Que desenvolvem intercâmbio e oportunidades de
Seminários
apresentação de trabalhos nas diversas regiões do
Regionais,
Estado, disseminando os conteúdos abordados
Estaduais e
pelo PNEF e pelo PEF.
Nacionais

Informando o cidadão sobre a função social e


Realização de
econômica dos tributos e levando conhecimento
palestras de
sobre a administração pública, com o objetivo de
sensibilização para
fomentar sua participação no controle social dos
a sociedade
recursos públicos.

CURIOSIDADE

Todas as informações desta subseção foram obtidas no site do PEF, no


seguinte endereço: https://www.sefaz.ce.gov.br/educacao-fiscal/.

A Educação Fiscal nos Municípios


A educação fiscal vem avançando pelos estados e municípios brasileiros.
Tendo sido um dos primeiros municípios a se engajar na educação fiscal, a
Prefeitura de Fortaleza instituiu oficialmente o seu Programa de Educação e
Transparência Fiscal (PETF) em 2011, por meio da Lei Municipal nº 9.825, de

25
Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

2011, definindo como objetivo a ampliação da cidadania fiscal, propiciando à


sociedade instrumentos de análise e de participação nas discussões que
envolvessem tanto a extração de recursos para financiar o Estado (tributação)
quanto à destinação desses recursos (gasto público).

A lei que instituiu o PETF trouxe em seu bojo as seguintes


resoluções:

➔ Fomentar a discussão democrática da Educação Fiscal;

➔ Promover a inserção do Prêmio Sefin;

➔ Criar o Grupo de Educação Fiscal (GEF – Fortaleza);

➔ Estimular a formalização (EI, MPE e EPP).

CURIOSIDADE

A Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria de Finanças (Sefin), criou


o Prêmio Sefin de Finanças Municipais, cujo objetivo é discutir o
orçamento público de forma transparente e promover a educação fiscal.
Trata-se de uma iniciativa de educação fiscal que se apoia em três eixos
temáticos.

O primeiro eixo é o estímulo à pesquisa nas áreas de finanças,


tributação, auditoria, contabilidade e tecnologia da informação aplicada à
administração pública municipal.

O segundo eixo, o reconhecimento do trabalho dos jornalistas locais


na abordagem das finanças públicas em âmbito municipal.

O terceiro eixo é o incentivo ao ensino da educação fiscal nas escolas


da rede pública e privada.

26
Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

O GEF – Fortaleza foi criado em 2013, pela Portaria Sefin Nº 70/2013 e,


atualmente, trabalha o Programa nas seguintes perspectivas da sociedade:
público infantil (por meio da apresentação das peças teatrais, da aplicação de
jogos e da inserção da educação fiscal como disciplina transversal na escola
pública de ensino fundamental), professoras da rede de ensino municipal (por
meio dos cursos de capacitação em Educação Fiscal), universitários (com a
criação dos Núcleos de Apoio Contábil e Fiscal – NAF) etc.

A profícua parceria entre os grupos de educação fiscal do estado do


Ceará e do município de Fortaleza tem gerado uma imensa sinergia em prol
da educação fiscal na região.

A Inserção do PNEF na Educação Formal no Brasil


Conforme ressaltou ESAF (2013a), a resolução do Conselho Nacional de
Educação nº 07/2010, que dispõe sobre os componentes curriculares,
consagrou em seu art. 16 a educação fiscal como um dos temas relevantes
para a formação cidadã dos educandos, devendo compor os conteúdos da
base nacional comum e da parte diversificada do currículo:

"Art. 16 – Os componentes curriculares e as áreas de conhecimento


devem articular em seus conteúdos, a partir das possibilidades abertas
pelos seus referenciais, a abordagem de temas abrangentes e
contemporâneos que afetam a vida humana em escala global, regional e
local, bem como na esfera individual. Temas como saúde, sexualidade e
gênero, vida familiar e social, assim como os direitos das crianças e
adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069/90), preservação do meio ambiente, nos termos da política nacional
de educação ambiental (Lei nº 9.795/99), educação para o consumo,
educação fiscal, trabalho, ciência e tecnologia, e diversidade cultural devem
permear o desenvolvimento dos conteúdos da base nacional comum e da
parte diversificada do currículo."

27
Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

No entanto, a mera previsão legal da temática da Educação Fiscal como


componente relevante não é suficiente, para que o tema se torne realidade
nos currículos escolares das escolas brasileiras. É necessária uma articulação
entre os diversos atores envolvidos no processo – os governos federal,
estaduais e municipais, os docentes e discentes, a sociedade organizada etc.,
para a qual é fundamental e imprescindível a experiência dos servidores
públicos, que compõem os grupos de educação fiscal estaduais e municipais.

Essa tem sido a tônica do trabalho incansável das pessoas que fazem a
educação fiscal no estado do Ceará: mostrar à sociedade cearense que a
educação fiscal é tão importante para a construção da cidadania, quanto o
saber científico e as questões relativas à saúde, à sexualidade, ao gênero, à
vida familiar e social, aos direitos das crianças e adolescentes, à preservação
do meio ambiente, à educação para o consumo, ao trabalho, à ciência, à
tecnologia e à diversidade cultural.

REFLITA

A educação para a cidadania é um projeto ainda em construção no


Brasil, com avanços e retrocessos históricos. Nesse sentido, como você vê o
papel da educação fiscal na efetiva construção de um modelo educacional
que forme cidadãos conscientes?

Está em discussão na sociedade o modo como a educação está sendo


afetada pela era da informação e qual o papel que os novos meios de
comunicação, principalmente a internet, vão ter na relação aluno-professor.
Tendo em vista essa realidade, como você vê o ensino à distância (vantagens,
desvantagens, adequações necessárias etc.) e como a Educação Fiscal pode
se inserir nessa nova realidade educacional?

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

SAIBA MAIS

Reserve 20 minutos do seu precioso tempo para assistir ao excelente


vídeo “Tributos - Educação Fiscal e Cidadania”, recomendado pelo MEC e
disponível na internet.

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

A Educação Fiscal e o Serviço Público: O Servidor


Cidadão
Objetivo: Despertar nos participantes a importância da temática da
educação fiscal para o exercício do serviço público, em especial no que
concerne às atividades funcionais.

A arrecadação de recursos feita por meio da tributação pelo Estado se


demonstra para boa parte da população como uma invasão ao patrimônio
dos cidadãos contribuintes, motivo pelo qual, diversas vezes, essa atividade
provoca resistência e indignação, além de questionamentos acerca da sua
necessidade.

A noção de cidadania fiscal ainda é incipiente em países como o Brasil,


em que a maioria dos cidadãos, por ausência de conscientização política e da
necessidade de controle social dos recursos arrecadados, não procede à
averiguação de como ocorre a aplicação das receitas provenientes de tributos
e a gerência do orçamento público de forma geral, o que dá margem para
que os recursos sejam mal aplicados ou ainda desviados de sua finalidade.

Não obstante o termo “cidadania fiscal” ser ainda pouco difundido na


literatura, seu conteúdo ultrapassa uma visão meramente fiscalista, focando-
se em uma moral tributária (TIPKE, 2012). Cidadania fiscal é um conceito mais
amplo do que cidadania tributária. Inicia na essência da cidadania,
perpassando a legitimação do tributo e a moral tributária, o que reforça sua
qualificação como dever fundamental (BUFFON, 2009). Passa, ainda, pelo
controle social dos recursos públicos, sendo a questão do gasto uma
importante vertente da cidadania fiscal. (TORRES NETO; BELCHIOR, 2014).

Não basta, pois, arrecadar. É importante reforçar a tributação como


instrumento de desenvolvimento e não apenas uma simples fonte de receita,
sendo a educação fiscal um mecanismo para discutir alguns dos principais
problemas apontados no atual sistema tributário brasileiro, tais como: evasão
fiscal, estruturas impositivas regressivas, bem como a função extrafiscal do

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

tributo que gira em torno do bem-estar social e de melhoria da qualidade


ambiental (CORBACHO; CIBILS; LORA; 2013). As questões sobre a função
extrafiscal do tributo e regressividade serão abordadas na Aula 3, que trata da
Função Social dos Tributos.

Há dificuldades de a sociedade perceber sua relação com o Estado, o


funcionamento dos tributos, o quanto e como paga, a destinação dos
recursos e a contrapartida por meio de serviços públicos. Vive-se uma
fragilidade atual desse contrato social, cujo resgaste e fortalecimento só se
faz por meio de estratégias de educação e participação do povo, incluído
aqui o corpo de servidores e colaboradores que integram o Poder Público.

Diante desse contexto, a Educação Fiscal tem ocupado espaço de


discussão nas diversas esferas institucionais e acadêmicas, o que atesta a
importância e atualidade do debate. Nenhuma nação se constrói sem uma
educação libertadora e que aponte para uma compreensão solidária entre as
pessoas, permitindo a reflexão e apropriação de elementos que trazem, em
sua essência, o exercício político de ser cidadão.

IMPORTANTE

No Estado do Ceará, o Programa de Educação Fiscal é desenvolvido na


Sefaz por intermédio da Assessoria de Relações Institucionais - ARINS. O
trabalho é realizado em parceria com a Secretaria da Receita Federal do
Brasil da 3ª Região, da Prefeitura Municipal de Fortaleza, por meio das
Secretarias das Finanças e Educação do Município, da Secretaria de Educação
do Estado e do Centro Regional da ENAP (Centrenap), que constituem o
Grupo de Educação Fiscal Estadual (Gefe).

Uma relação saudável entre Estado e sociedade requer


compartilhamento de conhecimento e ação, por meio de estratégias
dialogadas, ambos participando do processo de gestão pública. Por um lado,
é preciso um Estado atento às demandas sociais, exercendo sua função com
ética, transparência e respeito, e, por outro, um cidadão consciente de seus

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

direitos e deveres, sendo atuante quanto pagamento e ao retorno social dos


tributos, por meio do controle social. Desenvolver a Educação Fiscal é um
pacto permanente com a cidadania, prática necessária a toda gestão e ao
agente público que tenha verdadeiro compromisso com os interesses sociais.

É, portanto, o momento oportuno de reforçar os acertos e de refletir


sobre novas estratégias para permitir a sustentabilidade do Programa de
Educação Fiscal (PEF), na medida em que são vivenciados novos paradigmas e
conceitos, o que impõe um novo perfil de servidor e de gestão pública.

Apesar dos expressivos resultados que o PEF tem conseguido no Estado,


de onde se destacam escolas, ONGs, comunidades e instituições de ensino
superior, o Programa tem tido dificuldade de alcançar o público interno, ou
seja, os servidores públicos e seus respectivos colaboradores. O senso comum
é de que a prática da Educação Fiscal está limitada à exigência do documento
fiscal e que uma Administração Tributária deve exclusivamente se preocupar
com a arrecadação. É difícil perceber e internalizar o que significa a função
social do tributo, bem como a essência de ser um servidor cidadão. Antes de
servir ao público, o servidor é cidadão.

É preciso romper o dogma de que o conhecimento do tributo é algo


distante e complexo, limitado aos especialistas em Tributação e Finanças
Públicas. De nada adianta o conhecimento adquirido se ele não é
compartilhado, principalmente com a sociedade, que é a detentora legítima
do dever fundamental de pagar tributo e de fiscalizar a utilização dos
recursos públicos.

Urgem, assim, reflexões acerca da função do servidor público e do papel


que exerce no Estado, além de como ele pode (e deve) desempenhar as suas
atividades de forma ética e eficiente. A celeridade e a eficiência, a mácula ao
“jogo de influência e de favores”, a transparência e a clareza das informações,
o combate à corrupção, a fiscalização adequada, a racionalidade e o controle
social do gasto público, a excelência no atendimento e no tratamento
dispensado à sociedade são alguns valores que devem ser incorporados e

32
Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

seguidos não apenas por uma imposição legal, mas principalmente por ser
uma obrigação moral.

As atitudes do servidor público são, desse modo, reflexos de como a


sociedade sente e vê o papel do Estado e dos governantes. Se, de alguma
maneira, há dificuldades de percepção, talvez seja o momento de uma análise
crítica de posturas e de como o servidor público, no exercício de suas
atividades funcionais, tem contribuído para formular o modelo de Estado que
se estrutura.

FIQUE ATENTO

Não se faz um Estado justo e desenvolvido sem um servidor inquieto e


participativo, que compreenda o funcionamento das engrenagens públicas,
não apenas como espectador e mero aplicador de legalidade, mas como
agente de transformação. É o servidor que faz o cotidiano da Administração
Pública; cargos políticos e funções comissionadas são ocupados por pessoas
de modo transitório. O servidor é que possui a estabilidade e forma a
essência do Poder Público. O desafio do serviço público, por conseguinte,
perpassa pela necessidade de uma nova cultura pessoal e institucional, na
medida em que o servidor contribui para o resgate da importância da coisa
pública e da sua legitimação perante a sociedade.

Essas mudanças do pensamento e nas instituições, entretanto, não


acontecem sem uma transformação profunda, de natureza essencialmente
paradigmática. Urge não apenas uma reforma do pensamento humano, mas
também uma reforma ética das pessoas, a fim de que seja possível uma nova
política civilizatória. Desse modo, o servidor, no exercício de sua cidadania,
deve sair do conformismo e plantar sementes de mudança por meio do seu
exemplo, atuando no controle e fiscalização dos atos da Administração
Pública, o que contribui pelo zelo à coisa pública e à ética institucional.

33
Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

Diante desses desafios, a educação fiscal se apresenta como uma valiosa


e oportuna ferramenta para restaurar valores e possibilitar novas
oportunidades de inclusão social, promoção da ética, da solidariedade, da
diversidade e do resgaste do orgulho e da vocação de ser servidor público.
Todo servidor público pode e deve ser um educador e agente de mudança
social.

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Fazenda. Escola Superior de Administração


Fazendária. Programa Nacional de Educação Fiscal (PNEF).

BUFFON, Marciano. Tributação e dignidade humana: entre os direitos e


deveres fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.

CEARÁ. Secretaria da Fazenda. Programa de Educação Fiscal do Estado


do Ceará (PEF Ceará).

DURKHEIM. E. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.

HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: 1789-1848. 24. ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2000.

PACHECO, Ricardo Gonçalves; MENDONÇA, Erasto Fortes. Educação,


sociedade e trabalho: abordagem sociológica da educação. Brasília:
Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância, 2006.

RIVILLAS, Borja Días; VILARDEBÓ, André; MOTA, Luiza Ondina Santos.


Educação Fiscal no Brasil e no mundo. In: VIDAL, Eloísa Maia. (org.). Educação
Fiscal e Cidadania. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2010.

SIQUEIRA, Marcelo Lettieri. Educação Fiscal e Cidadania: ensino


superior. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2014. Disponível em:
https://www.sefaz.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/61/2018/11/Educa
%C3%A7%C3%A3o-Fiscal-Ensino-Superior.pdf

TIPKE, Klaus. Moral Tributária do Estado e dos Contribuintes. Porto


Alegre: Sérgio Antônio Sabris Editor - Tradução de Luiz Dória Furquim, 2012.

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Educação Fiscal e Cidadania - Módulo 01

TORRES NETO, Argemiro; MACHADO, Sandra Maria Olimpio (coord.).


MARINO, Carlos Eduardo dos Santos; BELCHIOR, Germana Parente Neiva;
SILVA, Imaculada Maria Vidal (org.). 15 anos do Programa de Educação
Fiscal do Estado do Ceará: Memórias e Perspectivas. Fortaleza: Edições
Fundação Sintaf, 2014. Disponível em: https://www.sefaz.ce.gov.br/wp-
content/uploads/sites/61/2018/12/15-anos-do-PEF.pdf

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