Posse Iros
Posse Iros
Posse Iros
Recife 2003
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Histria do Norte e Nordeste do Brasil da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obteno do ttulo de Doutor em Histria.
Recife 2003
N423p
Neves, Erivaldo Fagundes Posseiros, rendeiros e proprietrios: estrutura fundiria e dinmica agro-mercantil no Alto Serto da Bahia (1750-1850) / Erivaldo Fagundes Neves. Recife: [s.n.], 2003. 435 f. + apndice: il. Orientadora: Maria do Socorro Ferraz Barbosa Tese ( Doutorado em Histria ) Universidade Federal de Pernambuco, 2003. 1. Histria regional Alto Serto da Bahia. 2. Histria Caetit, Bahia. 3. Histria comparada Brasil Portugal Espanha Amrica Latina. 4. Histria econmica Brasil. 5. Histria agrria Bahia. 6. Direito agrrio Propriedade. 7. Direito agrrio Sesmarias Lei das Terras. I. Barbosa, Maria do Socorro Ferraz. II. Universidade Federal de Pernambuco. III. Ttulo. CDU: 332.3:323.45(814.2)
Para Joaquim Fagundes Chaves (1907-1988), que me estimulou a continuar suas lutas contra as secas no campo, mas, acatou a minha opo urbana; e Adelina Rodrigues Neves, que me incentivou a estudar e apoiou a minha escolha profissional. Para os descendentes, como eu, de: Estevo Pinheiro de Azevedo (e Mariana Vieira de Matos), emboaba que, aps a guerra contra os paulistas no rio das Velhas (1707-1709), trocou o vale do Gorutuba pelos planaltos da serra Geral, onde estabeleceu a fazenda Caetit, ncleo original de Caetit Velho; Francisco de Brito Gondim (e Custdia Maria do Sacramento), que no incio do sculo XVIII transferiu-se do vale do rio Pardo para as nascentes do rio So Joo, radicando-se na fazenda Alegre, embrio da cidade de Caetit; Antnio Xavier de Carvalho Cotrim (e Anglica Maria de Jesus, depois Joana Fagundes da Silva), que em 1735 deixou a boemia lisbonense que lhe custou o degredo, para regenerar-se nos sertes da Bahia, fincando razes em Brejo dos Padres, cabeceiras do rio das Rs; Plcido de Souza Fagundes (e Anna Maria do Carmo), sertanejo que, na primeira metade do sculo XIX, de Lagoa Clara, em Macabas, fez-se presente no Mdio So Francisco, como administrador de fazendas e fazendeiro; Manoel Incio Fernandes Chaves (e Clemncia Maria de Jesus), que no incio do XIX deslocou-se de Minas Gerais para tornar-se pecuarista e agricultor e Boa Vista (Cachoeira), Lagoa de Felix Pereira, Espinheiro e Caldeiro, nas nascentes do rio das Rs; Joaquim Jos das Neves (e Maria Joana da Silva), de famlia rio-contense desde o incio do sculo XVIII, que em meados do XIX mudou-se, com 10 filhos, de Canabravinha (Morro do Fogo) para Gameleira (Bonito).
AGRADECIMENTOS
A elaborao de um trabalho dessa natureza deixa dvidas de gratido e dvidas sobre como exprimi-las. Impossvel agradecer a todos, por mais prodigiosa que seja a memria. Esta conscincia determinou que se expressasse o reconhecimento coletivo, amplo, geral e irrestrito. Entretanto, mesmo tendo que se juntar ao agradecimento, pedido de desculpas, h situaes excepcionais: o Sr. lvaro Ferro de Castelo-Branco, 10 conde da Ponte, disponibilizou o multissecular Arquivo do Cartrio da Casa dos Condes da Ponte, nas cercanias de Lisboa, documentao fundamental para esta pesquisa; Eugnio Lins fotografou e gravou em CD-rom as imagens dos documentos selecionados no Arquivo da Casa dos Condes da Ponte, racionalizando a pesquisa; Mrcia de Souza Barbosa participou da coleta e sistematizao de dados, como bolsista do Programa de Iniciao Cientfica da Universidade Estadual de Feira de Santana PROBIC/UEFS e depois do Programa Institucional de Iniciao Cientfica PIBIC/-CNPq/UEFS; e ngelo Dantas de Oliveira, como bolsista do Programa de Iniciao Cientfica da Universidade Estadual de Feira de Santana PROBIC/UEFS, tambm participou da pesquisa, coletando dados em documentao diversa; Rejane Maria Rosa Ribeiro, Clodoaldo Morais da Silva e Isabel Cristina Nascimento Santana colaboraram com a ficha catalogrfica, o abstract e a normalizao da referncia; Os amigos e colegas Fernando Antnio Guerreiro de Freitas, George Flix Cabral de Souza, Antnio Silva Magalhes Ribeiro, Antonieta Miguel, Francisco Antnio Zorzo e Florisvaldo Pereira Lessa leram e apresentaram sugestes que melhoraram o texto e seu contedo; os professores doutores Maria do Socorro Ferraz Barbosa, orientadora, Marc Jay Hoffnagel e Suzana Cavani Rosas, participam do exame de qualificao, e depois da banca examinadora final com os professores doutores Maria Yedda Leite Linhares e Jos Jobson de Andrade Arruda contribuindo com crticas e sugestes, que melhoraram o contedo e a forma final; na intimidade familiar Ivone Freire Costa, Dila Mara Freire Neves e Lucas Rego Silva Rodrigues contriburam nas revises e Andreh Hyor Freire Neves no apoio da informtica. Tambm se deve agradecimento a instituies: Universidade Estadual de Feira de Santana, que concedeu afastamento das atividades docentes para cursar o doutorado em Histria do Norte e Nordeste do Brasil na UEPE; Universidade Federal de Pernambuco, na pessoa da Profa. Dra. Maria do Socorro Ferraz Barbosa, coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Histria, incentivadora e orientadora deste estudo, que
oportunizou um ano de pesquisa vinculada ao projeto Histria da Cultura e Identidade Regional no Brasil e na Amrica Hispnica, que coordena com o Prof. Dr. Julio Snchez Gmez, que tambm se disponibilizou a este estudo, na Faculdad de Geografia e Historia da Universidad de Salamanca; agradecimento extensivo secretria do PPGH/UFPE, Luciane Costa Borba, que sempre atendeu s demandas, at extrapolando os limites do seu mister; biblioteca da Universidad de Salamanca, com um acervo de mais de 645 mil monografias e quase 20 mil peridicos disposio do consulente, onde se desenvolveu parte significativa da pesquisa bibliogrfica, entre agosto de 2002 e julho de 2003; ao Centro de Estudios Brasileo da Universidad de Salamanca, nas pessoas do seu diretor, Prof. Dr. Jos Manoel Santos Prez e do seu secretrio-general, o baiano-galego Vicente Justo Hermida, sempre disponveis a todas as solicitaes, mas acima de tudo, amigos; Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES, que financiou um ano de pesquisa no exterior. Finalmente expressa-se gratido aos funcionrios dos arquivos e bibliotecas consultados, no Brasil, em Portugal e na Espanha, dos quais sempre se recebeu profissional e atencioso atendimento, em particular no Arquivo Histrico Ultramarino, no Arquivo Pblico do Estado da Bahia e no Arquivo Municipal de Rio de Contas.
RESUMO
Discutindo aspectos do direito agrrio portugus e do espanhol, debatendo as formas de apropriao fundiria no Novo Mundo, este estudo procura averiguar as configuraes da propriedade, posse e explorao da terra no Brasil, durante a colonizao e a consolidao do Estado Nacional, avaliando o caso particular do Alto Serto da Bahia. Distingue identidades e dessemelhanas desse processo na Pennsula Ibrica, na transio para o Antigo Regime e na dissoluo deste pela Revoluo Liberal do sculo XIX; no Novo Mundo durante a colonizao e aps as reformas liberais das novas naes latino-americanas e entre estas e suas antigas metrpoles; para delinear o apossamento de terras que deu origem propriedade agrria estruturada com pequenas e mdias unidades, entremeadas por latifndios, nos sculos XVIII e XIX na regio estudada.
Palavras Chaves: Histria Regional: Alto Serto da Bahia; Histria: Caetit, Bahia; Histria
Comparada: Brasil, Portugal, Espanha; Amrica Latina; Histria Econmica: Brasil; Histria Agrria: Bahia; Direito Agrrio: sesmarias, propriedade, Lei das Terras.
ABSTRACT
By discussing theorical and methodological foundations of the agrarian regional and local history in the socio-economical perspective; by focusing aspects of the Portuguese and Spanish law; by discussing the forms of land appropriation in the New World; this study seeks to evaluate the configurations of the ownership, possession and exploration of land in Brazil during the colonization of the National State, evaluating the particular case of the High Backwoods of Bahia. It distinguishes identities and dissimilarities of this process in the Iberian Peninsula during the transition to the Old Regime and its dissolution by the liberal revolution of the nineteenth century; in the New World during the colonization and after the liberal reforms of the Latin American new nations and between these and their former metropoles; to delineate the appropriation of lands that originated the agrarian property structured with small and medium size unities, interpersed by latifundia, during the eighteenth and nineteenth centuries in the studied region.
Key Words: Regional History: Alto Serto da Bahia; History: Caetit, Bahia; Compared History: Brazil, Portugal, Spain, Latin America; Economical History: Brazil; Agrarian History: Bahia; Agrarian Law: sesmarias, property, Lei das Terras.
LISTA DE TABELAS I. Reinos ibricos por rea, populao e habitantes por km finais do sculo XV 93 II. Sesmarias distribudas na Amrica portuguesa, em nmeros relativos, com reas em lguas de sesmarias e lguas quadradas e a correspondncia em hectares III. Terras da Casa da Ponte, por localizao, ano de arrendamento, avaliao anual, em mil ris e reas convertidas em hectares serto e distrito da vila de Santo Antnio do Urubu 1819 IV. Terras da Casa da Ponte, por localizao, ano de arrendamento, avaliao Anual em mil ris, e reas convertidas em hectares Minas Novas (e extremidades dos termos de Caetit e Urubu) 1819 V. Terras da Casa da Ponte, sem indicao de dimenses, por ano e valor do arrendamento, avaliao em mil ris e rea presumvel em hectare Santo Antnio do Urubu 1819 VI. Terras da Casa da Ponte, sem indicao de dimenses, por ano e valor do arrendamento, avaliao em mil ris e rea presumvel em hectare Minas Novas (e extremidades dos termos de Caetit e Urubu) 1819 196 VII. Terras da Casa da Ponte com indicao de dimenses, por rea, em hectares e por tombamento Santo Antnio do Urubu e Minas Novas 1819 VIII. Terras da Casa da Ponte, sem indicao de dimenses, por rea presumvel em hectares e por tombamento Santo Antnio do Urubu e Minas Novas 1819 IX. Terras da Casa da Ponte, por rea aproximada, em hectare, dimenses indicadas e presumidas Santo Antnio do Urubu e Minas Novas 1819 X. Valores dos bens familiares inventariados, em contos de ris, por perodos, em nmeros absolutos e relativos Alto Serto da Bahia 1754-1887 XI. Rebanhos bovinos inventariados, por nmero de reses, e por perodos, em nmeros absolutos e percentuais Alto Serto da Bahia 1754-1887 XII. Escravos por inventrios e por perodos, em nmeros absolutos e relativos Alto Serto da Bahia 1754-1887 XIII. Condio jurdica de ocupao da terra, por perodos, com indicao de proprietrios rendeiros e posseiros Alto Serto da Bahia 1754-1887 XIV. Nmero de flhos por casais inventariados e por perodos Alto Serto da Bahia 1750-1800 XV. Populao por freguesias, condio jurdica e classificao tnica Municpio de Caetit 1872 XVI. Preos mnimos, mdios e mximos, em mil reis, de uma rs aleatria, uma junta de bois e uma besta de carga Alto Serto da Bahia 1754-1887 XVII. Valores do couro exportado do Brasil para Portugal, no final do sculo XVIII e incio do XIX, em mil ris 1796-1818 XVIII. Tropeiros por ano, localizao, tamanho da tropa e peso transportvel, 197
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em quilogramas Caetit, 1845-1880 XIX. Preos mnimos, mdios e mximos, em mil ris, de uma arroba de Algodo com caroo e descaroada Alto Serto da Bahia 1754-1887 XX. Valores do algodo exportado do Brasil para Portugal no final do sculo XVIII e incio do XIX, em mil ris 1796-1819 XXI. Despesas para se limpar um terreno de mata virgem, com 100 braas em quadra Caetit 1856 XXII. Produo de um terreno com 100 braas em quadra, por espcie, quantidade em alqueire e valores em mil ris Caetit 1856 XXIII. Preos de alguns fatores de produo Caetit 1856 LISTA DE QUADROS I. Atuais municpios com jurisdio nos limites de Caetit, antigos topnimos e datas de emancipao 1840- 1860 II. Freguesias do municpio de Caetit, 1854-1860 e atuais jurisdies Municipais LISTA DE MAPAS I. Estado da Bahia, destacando o municpio de Caetit 1810-1840 II. Alto Serto da Bahia e seu entorno III. Municpio de Caetit nos limites de 1840-1860, com atuais divises administrativas IV. Reinos ibricos nas vsperas dos descobrimentos IV. As Amricas em finais do sculo XVIII V. Terras recebidas em sesmarias, herdadas, compradas e conquistadas de indgenas por Antnio Guedes de Brito do sculo XVI ABREVIATURAS E SIGLAS AA Arquivo do Autor ABPHE Associao Brasileira dos Professores de Histria Econmica ACCCP Arquivo do Cartrio da Casa dos Condes da Ponte Portugal AHU Arquivo Histrico Ultramarino Lisboa AMRC Arquivo Municipal de Rio de Contas AN Arquivo Nacional Rio de Janeiro APEB Arquivo Pblico do Estado da Bahia APM Arquivo Pblico Mineiro APMC Arquivo Pblico Municipal de Caetit ARC Academia Real das Cincias Portugal
20 211
17 18 19 92 115 149
BN Biblioteca Nacional Rio de Janeiro BNL Biblioteca Nacional Lisboa CEPAL Comisso Econmica para a Amrica Latina e Caribe Con-Ultra Conselho Ultramarino (Documentos avulsos sobre MG no AHU) CU Conselho Ultramarino (Documentos avulsos sobre a BA, no AHU) GEA Grupo de Estudios Agrrios (Universidad de Granada) IANTT Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo Lisboa IBGE (Fundao) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBRA Instituto Brasileiro de Reforma Agrria IGHB Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia IHGB Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro Rio de Janeiro MOEDAS Conto de ris Moeda divisionria portuguesa que permaneceu em uso no Brasil, correspondente a um milho de reais ou um milhar de mil-ris. Cruzado Moeda divisionria do Reino de Portugal, equivalente a 400 ris at 1688, quando passou a valer 480 ris. Mil ris Milhar do real, unidade monetria que vigorou em Portugal at 1911, quando o escudo lhe substituiu e no Brasil at 1942, quando surgiu o cruzeiro como mesmo valor. Pataca Moeda espanhola no valor de 420 ris, que circulou em Portugal e na Amrica portuguesa durante a Unio Ibrica (1580-1640). Aps a restaurao o Reino de Portugal lanou uma pataca, em prata, correspondendo a 320 ris. Pataco (ou pataco) Antiga moeda portuguesa equivalente a 40 ris. Tosto Antiga moeda divisionrio Reino de Portugal, equivalente a 100 ris. Vintm Antiga moeda divisionria correspondente a 20 ris ou 1/20 do cruzado portugus. PESOS E MEDIDAS Aguilhada Antiga medida agrria, correspondente a quatro metros quadrados aproximadamente. Alqueire Medida de capacidade que Alto Serto da Bahia o alqueiro corresponde a 160 litros, no sul do Brasil, a 80 litros. Medida de capacidade para gro e artigos secos, equivalente, em So Paulo, a 36,27 litros. Alqueire de Terra Medida agrria de superfcie, equivalente rea de terra que comporta um alqueire de semeadura de milho. Corresponde a 44 tarefas ou a 191.664 m; em Minas Gerais, Gois e Rio de Janeiro, a 10 mil braas quadradas (100 X 100 braas), 4,84 hectares ou 48.400 m2); e em So Paulo a cinco mil braas quadradas (100 X 50 braas), 2,42 hectares ou 24.200 m).
Arrtel Antiga unidade de peso, equivalente a 16 onas, 0,46080 quilogramas, ou uma libra portuguesa, por aproximao. Arroba (@) Antiga unidade de medida de peso, equivalente, a 32 libras ou arrteis e a 14,74560 kg. Unidade ainda usada no Brasil, como medida de peso de produtos agropecurios, equivalente a 15 kg. No Alto Serto da Bahia, a 16 quilos. Braa Unidade de medida agrria correspondente a duas varas ou a 2,20 metros. Na Inglaterra equivalia a 1,80 metro. A braa quadrada confere 4,84 m. Caballera constitua-se em medida de terra que, na Amrica espanhola, se dava em merced a um soldado de cavalaria participante da conquista, cujas dimenses se modificaram durante a colonizao. Carga Medida de volume correspondente poro de mercadorias transportvel por um animal cargueiro, dividida em dois fardos ou costais de trs arrobas cada. No Alto Serto da Bahia equivalia, em peso, a seis arrobas ou a 96 quilos. A carga de rapadura corresponde, no Alto Serto da Bahia, a 64 unidades. Carreira de cavalo Distncia cuja equivalncia se desconhece. Costal Fardo de trs arrobas que as bestas de tropa transportavam um de cada lado da carga nas longas distncias, podendo levar mais um por cima, em pequenos percursos. Cvado Medida de extenso correspondente em trs palmos ou 0,66 metro. Na Inglaterra, a 0,91 metro. Hectare Medida agrria correspondente a 100 ares ou um hectmetro quadrado ou ainda a 10.000 metros quadrados (10.000 m). Lgua Medida de distncia de origem celta, varivel conforme a poca, o pas e a regio Na Amrica portuguesa a lgua de sesmaria correspondia a 3.000 braas ou 6.600 metros quadrados; a lgua portuguesa correspondia a 28.168 palmos craveiros ou 2.818 braas de 10 palmos cada uma ou 8.000 milhas, regulando mil passos, embora desde o sculo XV houvesse lguas iguaes s dagora e conseguintemente inferiores a 28.168 palmos, correspondendo a cinco quilmetros ou 5.000 metros1. Como medida de distncia a lgua portuguesa media 5.572 m; e no Nordeste do Brasil a lgua equivale a 6.000 m. Como medida de superfcie agrria considera-se no Brasil a lgua de 6.000 m ou 3.960 hectares; e a lgua de sesmaria, um quadrado de 3.000 braas de lado ou 6.600 m, correspondentes a 4.356 hectares. Libra Medida de massa inglesa, equivalente a 0,4535923 quilograma. Por aproximao associaram-na ao arrtel, que regula 16 onas ou 0,46080 quilograma. No Alto Serto da Bahia a libra, tambm por aproximao, equivale a quilo ou 500 gramas. Palmo Medida de comprimento equivalente a oito polegadas, aproximadamente igual distncia entre a ponta do polegar e a do mnimo ou a 0,22 metro (22 centmetros). Passo Medida de comprimento equivalente a cinco ps ou 1,65 metro. P Medida de comprimento equivalente a 12 polegadas ou 0,33 metro. Peona Medida de terra que na Amrica espanhola se dava em merced a um soldado de infantaria que participara da conquista, cujas medidas variaram conforme o tempo.
BARROS, Henrique da Gama. Histria da Administrao Pblica em Portugal, nos sculos XII a XV. 2. ed. dirigida por Torquato de Souza Soares Lisboa: S da Costa, 1945, v. 4, p. 339. (1. ed. 1885-1922.).
Prato (ou prato-de-milho) Unidade de medida para cereais, correspondente a trs litros e um dcimo (3,01 litros). Como medida agrria, equivale rea em que se planta esta mesma quantidade de milho. Quarta Medida de volume, equivalente a 1/4 do alqueire ou nove litros aproximadamente. No Alto Serto Bahia a quarta do alqueiro corresponde a 30 litros; no sul do Brasil, a 20 litros. Quarta de Terra Medida agrria de superfcie, equivalente a do alqueire ou rea que comporta uma quarta de semeadura. Corresponde a 11 tarefas ou a 47.916 m; em MG, GO e RJ, 2.500 braas quadradas (1,21 hectare); em SP a 1.250 braas quadradas (0,605 hectare). Sesmo Antiga medida correspondente a 1/6 do cvado ou 11 centmetros ou ainda meio palmo; 1/6 de qualquer unidade de medida. Tarefa Medida agrria, equivalente, no Cear a 3,630 m ; em Alagoas e Sergipe, 2 2 3,052 m ; e na Bahia, a 4,356 m (30 X 30 braas). Tiro de Espingarda Distncia alcanada pela descarga de uma espingarda, usada no Alto Serto da Bahia, at o sculo XIX, cuja equivalncia se desconhece. Vara Medida de comprimento de cinco palmos ou 1,10 metros.
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SUMRIO
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INTRODUO: PROPRIEDADE, COLONIZAO E ESTADO NACIONAL 15 INTERPRETAES DO BRASIL E DO MUNDO AGRRIO 34 35 51 66 73 79 94 130 136 146 147 162 171 181 182 202 216 218 232 254 260 260 264 265 265 267 268 268
2. 1 Sobre a colonizao portuguesa e a formao do Estado Nacional no Brasil 2. 2 Sobre o agrrio e o regional na perspectiva scio-econmica 2. 3 Sobre a propriedade, a posse e a renda fundiria 3 ANTECEDENTES HISTRICOS DO DOMNIO FUNDIRIO
3. 1 Direito agrrio na Pennsula Ibrica durante o Antigo Regime 3. 2 Terra, poder e arcabouo jurdico-poltico da colonizao 3. 3 Estruturas agrrias ibricas aps as revolues liberais 3. 4 Propriedade fundiria na Amrica Latina aps as independncias nacionais 4 GNESE DA PROPRIEDADE FUNDIRIA NOS SERTES DA BAHIA
4. 1 Guerra de conquista na ocupao do Mdio So Francisco 4. 2 Conflitos pela posse da terra no rio das Velhas 4. 3 Direitos hereditrios questionados em Jacobina 5 ESTRUTURA FUNDIRIA DO ALTO SERTO DA BAHIA, SC. XIX
5. 1 Parcelamento do latifndio pecuarista em minifndios policultores 5. 2 Consolidao da estrutura fundiria com a reforma liberal saquarema 6 POSSEIROS, RENDEIROS E PROPRIETRIOS E O USO DA TERRA
6. 1 A formao da sociedade alto-sertaneja 6. 2 O Alto Serto da Bahia e a economia baiana no sculo XIX 7 CONCLUSO: POSSE, RENDA E PROPRIEDADE REFERNCIAS a) Manuscritos b) Textos inditos c) Legislao d) Dicionrios, catlogos, cronologias e tombos e) Roteiros de viajantes e relatrios de gestores f) Peridicos, anais e atas g) Biografias e genealogias
h) Corografias, crnicas e memrias histricas i) Outras fontes histricas, jurdicas e estatsticas j) Teses, dissertaes e monografias de ps-graduao k) Referncia de apoio l) Referncia bsica APNDICE: TITULARIDADE E EXPLORAO DA TERRA
INTRODUO: PROPRIEDADE, COLONIZAO E ESTADO NACIONAL Todo o possuidor de terras que tiver titulo legitimo da acquisio do seu dominio, quer as terras que fizerem parte delle tenho sido originariamente adquiridas por posses dos seus antecessores, quer por concesses de sesmarias no medidas, ou no confirmadas, nem cultivadas, se acha garantida em seu dominio, qualquer que for a sua extenso...
Artigo 22 do Decreto Imperial n. 1.318/1854, que regulamentou a Lei das Terras de 1850. Este estudo pretende avaliar as formas jurdicas e prticas sociais de propriedade, posse e extrao da renda da terra no Alto Serto da Bahia, durante a colonizao portuguesa e a consolidao do Estado Nacional no Brasil, considerando seus antecedentes na Pennsula Ibrica durante as transies do feudalismo e do Antigo Regime e sua extenso para o Novo Mundo aps as conquistas espano-lusitanas, firmando-se com as reformas liberais das jovens naes. Para isto procura investigar o domnio fundirio de grandes reas, averiguando tambm a pequena propriedade, mais freqente na rea estudada, evidenciando que o povoamento e a ocupao econmica dessa regio no se restringiram pecuria extensiva para o abastecimento dos engenhos do Recncavo e das minas, nem a formao histrica da Bahia se resumiu na dinmica canavieira litornea. Nessa perspectiva considera-se que as policulturas cerealferas e o algodo representaram para as caatingas, gerais e veredas do Alto Serto da Bahia o que a canade-acar, a mandioca e o tabaco significaram para os massaps do entorno da baa de Todos os Santos, complementando-se no abastecimento interno e nas exportaes. Para tanto procura redimensionar pesquisas anteriores2, revendo alguns documentos e consul2
NEVES, Erivaldo Fagundes. Uma comunidade sertaneja: das sesmarias ao minifndio (um estudo de histria regional e local). Feira de Santana: UEFS; Salvador: EDUFBA, 1998: ______. Sertanejos que se venderam: contratos de trabalho sem remunerao ou escravido dissimulada? Afro-sia. Salvador, n. 19-20, p. 239-250, 1997; ______. Sucesso dominial e escravido na pecuria do rio das Rs. Sitientibus. Feira de Santana, n. 21, p. 117-142, jul./dez., 1999; ______. Sampauleiros traficantes: comrcio de escravos do Alto Serto Bahia para o Oeste Cafeeiro Paulista. Afro-sia. Salvador, n. 24, p. 97-128, 2000; ______. Histria de famlia: origens portuguesas de grupos de consanginidade do Alto Serto da Bahia. CLIO. Revista de Pesquisa Histrica. Recife, n. 19, 111-148, 2000. ______. Sesmarias em Por-
tando novas fontes sobre a organizao dessa sociedade e o funcionamento de sua economia. No plano geral, focalizando aspectos do direito agrrio de Portugal e da Espanha, na transio para a dinmica mercantil e aps as revolues liberais do sculo XIX, este estudo prope distinguir os regimes jurdicos de distribuio de terras, sua extenso para o Novo Mundo e a ordem agrria estabelecida depois das reformas liberais de meados do sculo XIX, para caracterizar as relaes entre a propriedade fundiria e o poder poltico durante a colonizao portuguesa e a consolidao do Estado Nacional no Brasil. No mbito especfico dispe-se a investiga as origens das terras de Antnio Guedes de Brito, no final do sculo XVII e o processo de conservao desses latifndios pela sua descendncia, depois das descobertas de metais e pedras preciosas; delinear o loteamento dessas terras, iniciado no sculo XVIII e concludo no XIX, pelos herdeiros do sexto conde da Ponte; e averiguar eventuais conseqncias da Lei das Terras de 1850, no Alto Serto da Bahia e, por extenso, sobre a estrutura fundiria brasileira; verificando as formas de explorao da terra, os fluxos do comrcio regional, suas conexes inter-regionais, alm-provncia e com o mercado exterior. Denomina-se Alto Serto da Bahia o espao construdo pela sua populao, consciente da identidade scio-ambiental, desenvolvida com vnculos de parentesco e de vizinhana, prticas comuns de folguedos, religio, tradies, representao poltica, atividades econmicas, enfim, usos e costumes, na convico de conterraneidade e no sentimento de integrao naquele serto. Todos esses sentimentos, sensaes e afinidades, alm de se desenvolverem num espao geogrfico especfico, constituem prticas sociais, polticas, econmicas e culturais de uma comunidade, aglutinada num determinado contexto, a partir de certo tempo a transio para o sculo XVIII, quando se iniciou a ocupao econmica regional , transmitidas por sucessivas geraes, como sua memria, forjando suas representaes e preservando seu patrimnio histrico-cultural. Sem contornos precisos o Alto Serto da Bahia abrange o territrio angulado pelos rios Verde Grande e So Francisco, onde se estende a Serra Geral, extenso da cordilheira do Espinhao, incluindo os sub-vales das Rs, Santana, Santa Rita, Santo Onofre, Paramirim, da bacia sanfranciscana; e So Joo, do Antnio, Gavio, Brumado,
tugal e no Brasil. Politeia. Histria e Sociedade. Revista do Departamento de Histria da UESB. Vitria da Conquista, v. 1, n. 1, p. 111-139, 2001; ______. Propriedade da terra: Pennsula Ibrica e Amrica Latina, sculo XIX. Bahia Anlise & Dados. Salvador, v. 13, n. 1, p. 87-97, jun., 2003.
tributrios do rio de Contas. Esse espaamento alcana a regio da Serra Geral, partes do Mdio So Francisco e da Chapada Diamantina, na regionalizao da Secretaria do Planejamento, Cincia e Tecnologia do Estado da Bahia SEPLANTEC, que divide o territrio baiano em 15 regies3. No coincide, apesar de se aproximar, com as divises geogrficas de micro-regies e meso-regies4, definidas pelo IBGE, nem se iguala a qualquer outra.
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Fonte: CEPLAB / SEPLANTEC, Atlas do Estado da Bahia, 1996 Produo Grfica: Francisco Magalhes
BAHIA. SEPLANTEC. Centro de Estatstica e Informaes. Informaes bsicas dos municpios baianos. Salvador: CEI, 1993-1994, 15 v. 4 BRASIL. Secretaria de Planejamento, Oramento e Coordenao. Censo Demogrfico. Rio de Janeiro: IBGE, 1991.
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CORDEIROS
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Fonte: CEPLAB / SEPLANTEC, Atlas do Estado da Bahia, 1996 Produo Grfica: Francisco Magalhes
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CONDEBA
Essa denominao tem antecedentes remotos, talvez desde o sculo XVI, quando Antnio Guedes de Brito conquistou esse territrio de povos indgenas. H quem estenda seus limites imaginrios, ao sul, a grande parte do territrio de Minas Gerais e, ao norte, para alm da Chapada Diamantina. Supe-se que sua origem deve-se hidrografia, referenciando-se no curso superior do rio So Francisco na Bahia, encontrando reforo na topografia, que projeta as culminncias do Nordeste do Brasil, nos picos do Barbado, com 2.033 metros; Itobira, 1.970; e das Almas, 1.958; todos na serra das Almas e suas ramificaes. Definiu-se como recorte espacial deste estudo o municpio da Vila Nova do Prncipe e Santa Ana de Caetit5, nos limites de 1840, depois que dele se e5
Caetit originou-se da freguesia de Santa Ana do Caetet, criada em 1754 e emancipou-se de Minas do Rio de Contas, atravs de Proviso do Conselho Ultramarino, 12 jul., 1803, executada por determinao de Decreto Rgio, 26 fev., 1810. Seu topnimo originou-se de uma das expresses tupi: ca-et-et, mata virgem extensa; ou mais provavelmente, de ca-ita-t, penedo desconforme na mata, pedra destacada na mata, numa aluso ao colossal bloco arredondado de granito que se ergue em Pedra Redonda, prximo de Caetit Velho, seu stio original, conforme SAMPAIO, Teodoro. A propsito da palavra Caetet. In: GUMES, Joo [Antnio dos Santos]. Municpio de Caetit: notas e notcias. [S.l. : s.n.]. [Caetit: Typ. dA Penna, de Gumes & Filhos, 1918], p. 27-30; SAMPAIO, Teodoro. O tupi na geogra-
av
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Rio
40 Km
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URANDI JACARACI
Grande
mancipou a Imperial Vila da Vitria, atual Vitria da Conquista, mantidos at 1860, quando Santo Antnio da Barra, hoje Condeba, desmembrou-se tambm de Caetit, que se restringiu ao territrio compartilhado pelos municpios indicados no mapa III e no quadro I.
MAPA III MUNICPIO DE CAETIT, INDICANDO OS CONTORNOS ORIGINAIS DE 1810, DESTACANDO A DIVISO DE 1840, COM OS LIMITES DOS ATUAIS MUNICPIOS
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B A H I A
Igapor Lagoa Real Brumado Ibiassuc Rio do Antnio Pinda Cacul Licnio de Almeida Urandi Jacaraci Condeba Mortugaba 15 Pirip Cordeiros Tremedal 15 Guajeru Maetinga Pres Jnio Quadros Malhada de Pedras Aracatu
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Caetit
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Carabas
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Dito de outro modo, o espao deste estudo corresponde quase totalidade da regio econmica da Serra Geral da Bahia, abrangendo, atualmente, 22 municpios, dos quais, Carabas e Tremedal integram a regio Sudoeste e o distrito de Cerama, exGentio, a jurisdio de Guanambi, na regio do Mdio So Francisco. Essa rea equivale a pouco mais de 22 mil quilmetros quadrados, aproximadamente 4% do territrio do
Estado da Bahia.
fia nacional. 5. ed. So Paulo: Nacional; Braslia: INL, 1987, p. 212, 1. ed. 1901; BUENO, Francisco da Silveira. Vocabulrio tupu-guarani portugus. 5. ed. rev. e aum. So Paulo: Brasilivros, 1987.
QUADRO I ATUAIS MUNICIPIOS COM JURISDIO NOS LIMITES DE CAETIT, ANTIGOS TOPNIMOS E DATAS DE EMANCPAO 1840-1860 MUNICPIO Caetit Condeba Brumado Jacaraci Urandi (Umburanas) Guanambi (distrito de Cerama) Cacul Igapor Tremedal Cordeiros Mortugaba Presidente Jnio Quadros Aracatu Ibiassuc Licnio de Almeida Malhada de Pedras Pindai Pirip Rio do Antnio Guajeru Maetinga Carabas Lagoa Real ANTIGO TOPNIMO Vila Nova do Prncipe e Santa Ana de Caetat Santo Antnio da Barra Bom Jesus dos Meiras Boa Viagem e Almas Duas Barras (Urandi); Barrocas (Umburanas) Gentio Bonito Candeal Lagoa da Malvoa, Boa Vista Joanina, So Joo do Alpio So Pedro Cisco, S. Sebastio do Cisco Gameleira, Ouro Branco Santa Rosa EMANCIPAO 1810 1860 1877 1880 1889, transf. em 1918 Transferido em 1918 1919 1953, 1958 e 1960 1953 1961 1961 1961 1962 1962 1962 1962 1962 1962 1962 1985 1985 1989 1989
Considerando-se a maior abrangncia de algumas fontes, a integrao dessa rea com as circunvizinhas, promovida, entre outros fatores, pelos fluxos migratrios e por circuitos econmicos inter-regionais, acrescentou-se dados sobre o entorno do municpio de Caetit, nos limites de 1840 a 1860. A dinmica do povoamento regional no sculo XVIII indicou a necessidade de se agregar informaes sobre partes dos municpios de Urubu, principalmente da rea emancipada com Macabas, em 1840; e de Rio de Contas, adjacncias dos garimpos aurferos da serra da Tromba e morro do Fogo, que integram a regio da Chapada Diamantina. Os conflitos pela apropriao, apossamento e utilizao da terra no rio das Velhas, em Minas Gerais, e Jacobina, no centro-norte da Bahia, do mesmo modo que as relaes sociais e econmicas dessas zonas com a rea demarcada para o estudo induziram para mais essas extrapolaes dos recortes espaciais especficos. Para melhor situar o universo do estudo no contexto do seu povoamento e explorao econmica, procurou-se conhecer o processo de conquista e ocupao do territ-
rio, no final do sculo XVII, pelo mestre-de-campo Antnio Guedes de Brito. Este sertanista se apropriou da margem direita do So Francisco, desde o centro-norte da Bahia ao centro-sul de Minas Gerais, movendo guerra contra a populao indgena e estabelecendo fazendas pecuaristas, ao longo do grande rio e seus afluentes, avanando para o leste, numa rea superior ao territrio da maioria dos pases da Europa ou da soma de alguns deles. Quanto aos marcos temporais tomou-se como primeiro limite o ano de 1750, considerando-se que na segunda metade do sculo XVIII se intensificou o povoamento do Alto Serto da Bahia, com a multiplicao de arrendamento das terras dos Guedes de Brito, transferidas para os Saldanha da Gama, em pequenos e mdios stios para os desclassificados do ouro de Rio de Contas; e como extrema final o ano de 1850, quando se promulgaram a Lei das Terras e a Lei Euzbio de Queirs, disciplinando-se o acesso a esse meio de produo fundamental de uma economia primria e iniciando-se a extino lenta e gradual do trabalho escravo, num conjunto de interferncias dos poderes pblicos na ordem institucional, que caracterizou a consolidao do Estado Nacional no Brasil. Desde o incio do sculo XVIII se incrementou o povoamento e ocupao econmica dessa regio sertaneja com a pecuria e a policultura, que autonomizaram o abastecimento regional quando as estiagens prolongadas no impediam; e alimentaram fluxos comerciais inter-regionais, inicialmente para as minas aurferas do rio das Velhas, contornando proibies, para os garimpos de diamantes nas ramificaes da serra do Espinhao, tambm em Minas Gerais e de ouro nas nascentes dos rios Paramirim e de Contas, na Bahia; depois para outras reas de Minas Gerais, para So Paulo, Rio de Janeiro e Recncavo baiano, alcanando at o mercado exterior. Mantendo-se a prtica generalizada entre os titulares de grandes reas adquiridas pelo sistema de sesmaria e ampliadas pela ocupao e apossamento de se arrendarem stios e fazendas de herdeiros e sucessores de Antnio Guedes de Brito, promoveuse um vasto loteamento, povoando toda a regio e seu entorno. O sexto conde da Ponte, sucessor na titularidade do morgado Guedes de Brito, depois de resgatar os bens imveis hipotecados pelo seu pai Manoel de Saldanha da Gama que fora casado com Isabel Guedes de Brito, de quem tudo herdou e comprar os quinhes dos irmos, passou a vender glebas aos arrendatrios e outros interessados. Aps a morte do conde, quando governava a Bahia 1805-1809 seus herdeiros liquidaram tudo que restava dos anti-
gos latifndios, vendendo as fazendas pecuaristas, parcelando e comercializando as glebas arrendadas. Na perspectiva poltico-econmica o mundo passava por grandes transformaes. A Inglaterra promoveu a primeira revoluo industrial, com um conjunto de inovaes tecnolgicas, a partir da introduo da mquina a vapor modificada em 1769 pelo escocs James Watt (1736-1819) e da utilizao, em larga escala, de matriasprimas, promovendo grande impulso ao setor txtil, que passou a utilizar mais o algodo, um produto tropical. Registra-se que nessa poca se expandiu a cultura dessa malvcea no Alto Serto da Bahia, logo passando a exportar seu produto para os ingleses. Em Portugal o sculo XVIII foi marco de esplendor com a produo de metais e pedras preciosas na colnia da Amrica e, em paralelo, a mxima centralizao monrquica executada pelo primeiro-ministro marqus de Pombal, que se notabilizara na reconstruo de Lisboa, devastada pelo terremoto de 1755. A colonizao portuguesa na Amrica atingiu seu auge, para entrar em declnio, chegando ao colapso no contexto da Revoluo Liberal de 1820, irrompida na cidade de Porto. Depois de curto perodo 1808-1822 na condio de Reino Unido a Portugal e Algarves, cuja capital foi o Rio de Janeiro, o Brasil emancipou-se, desfazendo o conceito de imprio luso-brasileiro, elaborado, segundo Maxwell,6 sob efeito das indecises e tentativas de equilibrar e conciliar polticas contraditrias do prncipe regente D. Joo. Seu jogo poltico, cedendo a presses externas, facilitou, por exemplo, um tratado de comrcio, concedendo aos ingleses o privilgio de pagarem menos tributos no Brasil que os portugueses (e brasileiros). Simultaneamente a esse tratado de comrcio anglo-lusitano de 1810, presses britnicas levaram o prncipe D. Joo a prometer a extino gradual da importao de escravos africanos e, cinco anos depois, o mesmo prncipe aceitou abandonar o trfico ao norte da linha do Equador. Iniciava-se uma srie de acordos que, descumpridos ou revogados, postergaram o fim do trabalho compulsrio, como interessava ao senhoriato brasileiro, segmento social que sustentaria o regime monrquico no Brasil por mais de meio sculo. No que diz respeito propriedade agrria deve-se ressaltar a iniciativa de Jos Bonifcio, acatada pelo prncipe regente Pedro de Alcntara, de suspender, em 17 de
MAXWELL, Kenneth. Condicionalismos da Independncia do Brasil. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da. (Coord.). O imprio luso-brasileiro (1750-1822). SERRO, Joel; MARQUES, A. H. Oliveira. (Dir.). Nova histria da expanso portuguesa. Lisboa: Estampa, 1986, v. VIII, p. 335-395.
julho de 1822, a concesso de terras pelo sistema de sesmarias no Brasil, at deliberao da Assemblia Constituinte, que seria pelo mesmo Pedro, j na condio de imperador, dissolvida no ano seguinte. Nesse encadeamento instituiu-se o Estado Nacional no Brasil numa conjuntura internacional de descolonizao em que, por um lado, se difundiam as idias liberais e republicanas, emanadas da Revoluo Francesa e da independncia dos Estados Unidos; por outro, as de reao e restaurao monrquica, do Congresso de Viena, sob influncia da Santa Aliana. O movimento de autonomia nacional no Brasil rompeu com a dominao colonial, contrapondo-se aos objetivos dos liberais metropolitanos de manuteno da hegemonia sobre o Atlntico Sul, mas manteve a escravido e o monoplio de poder do senhoriato. Nesse processo, como expressaram Novais e Mota7, quem desejou ir alm, morreu, como Frei Caneca e quem no aceitou as regras do novo patronato poltico foi alijado do processo, como D. Pedro I. Ilmar de Mattos8 dividiu a sociedade civil da jovem nao em trs mundos, com o poder centralizado e exercido conforme as convenincias dos senhores de terras e de escravos: o do trabalho, com escravos sem direito de cidadania, nem o de dispor de sua prpria pessoa; o da desordem, com homens livres, pobres, cidados de segunda classe; e o da ordem, com cidados de primeira classe que, exercendo o poder, definiam o ordenamento da sociedade. Nessa poca a Revoluo Liberal acabava nas metrpoles ibrica, com as ltimas instituies do Antigo Regime, processo que repercutiu na formao do Estado Nacional no Brasil. Portugal extinguiu, por exemplo, o direito do ban o senhorio banal consistia no poder de obrigar e castigar o Tribunal do Santo Ofcio, o morgadio; Espanha aboliu o seorio, as amortizaciones, o mayorazgo, entre outras instituies do Antigo Regime. Sob influncia desse processo, as jovens naes da Amrica Ibrica promoveram reformas liberais, adaptando velhas instituies jurdico-polticas da colonizao nova conjuntura. No Brasil o Estado Nacional monrquico consolidou-se num encadeamento de instabilidades polticas e represses sociais9, Pedro II, ao alcanar a maioridade crono7
MOTA, Carlos Guilherme; NOVAIS, Fernando A. A Independncia poltica do Brasil. So Paulo: Moderna, 1986, p. 6. 8 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo Saquarema. So Paulo: HUCITEC; Braslia: INL, 1987, p. 109129. 9 Entre a abdicao do trono brasileiro pelo imperador Pedro I em favor do filho ainda criana, em 1831, e a coroao do adolescente Pedro II, em 1840, a jovem nao foi conduzida por governos regenciais. Durante esses nove anos eclodiram vrios movimentos sociais e revoltas militares, reprimidos sem
lgica e assumir o Poder Moderador em 1843, restabeleceu a centralizao monrquica, anulando atos descentralizadores das regncias que lhe antecederam, para definir o perfil do regime que desejava ou fosse possvel no seu tempo e adequar o Estado e as instituies socais s circunstncias conjunturais. No pice desse processo, em setembro de 1850, tomou as medidas de maior alcance, reformando a Guarda Nacional, promulgando a Lei das Terras e proibindo o trfico de escravos da frica. Com a reforma, a Guarda Nacional, instrumento de articulao poltica e social do senhoriato, mudou sua vinculao hierrquica e eliminou o pouco que havia de exerccio democrtico na instituio paramilitar, como o sistema eletivo para a composio do oficialato, delineando para a milcia senhorial um perfil eleitoral e opressor. A centralizao administrativa deixou a corporao e os poderes locais a ela associados, sob maior controle imperial10. A Lei das Terras Lei Imperial n. 611, de 18 de setembro de 1850 disps sobre terras devolutas, donatarias pelo sistema de sesmarias que no atenderam as exigncias legais e posses sem conflitos, determinando medies e demarcaes, definindo que somente se transferissem ttulos fundirios atravs da venda. Pretendiam os legisladores com os registros paroquiais de terras determinados pelo Decreto Imperial n. 1.318, de 30 de janeiro de 1854, que regulamentou a Lei das Terras, distinguir o patrimnio pblico do privado e facilitar aos imigrantes e ex-escravos o acesso terra, o meio de produo fundamental. Seria objetivo dos legisladores viabilizar a transio do trabalho escravo para o livre e restringir os efeitos da prtica social fundamentada na formao de patrimnio, sobretudo territorial, ampliando as condies de mercadoria da terra, com a fluidez da dinmica capitalista. Mas os representantes do senhoriato agrrio, amplamente majoritrios no parlamento, fizeram valer os seus interesses. O processo que poderia promover uma reforma da propriedade fundiria reafirmou a tradio colonial de monoplio da terra e da fora de trabalho. Uma das mais significativas medidas da Lei das Terras de 1850 foi a extino da figura jurdica da sesmaria de aplicao suspensa desde 1822 , 475 anos dequalquer concesso: levante do 21 Batalho de Infantaria, no Rio de Janeiro (1831); Abrilada em Pernambuco, rebelio dos Caramurus, no Rio de Janeiro (1832); Cabanagem no Par, Farroupilha, no Rio Grande do Sul e Mals, na Bahia (1835); Sabinada, na Bahia (1837); Balaiada, no Maranho (1838); Repblica Juliana, em Santa Catarina (1839); e outros de menor repercusso. De carter federalista, republicano, escravista ou separatista, essas rebelies, dirigidas por intelectuais, aristocratas e respaldadas no senhoriato, no incluam o fim do trabalho compulsrio nas suas reivindicaes ou programas, exceto nos casos dos Mals e da Sabinada, mas mobilizaram as populaes locais. 10 CASTRO, Jeanne Berrance de. A milcia cidad: a Guarda Nacional de 1831 a 1850. So Paulo: Nacional; Braslia: INL, 1977, p. 215.
pois de instituda em Portugal, pelo rei Fernando I. Para gestionar as terras devolutas e todo o patrimnio fundirio do Estado, o Decreto n. 1.318/1854 instituiu a Repartio Geral das Terras Pblicas, transformada, depois de mais de um sculo de metamorfoses, no atual Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA, sem concretizar essa modernizao, nem mesmo nos limites conservadores, apesar das presses de movimentos sociais. O fim do trfico atlntico de escravos, preconizado no tratado de comrcio de 1810 e previsto no acordo de reconhecimento da Independncia do Brasil pela Inglaterra, para 1831, foi postergado enquanto se resistia s presses inglesas, sobretudo a partir da vigncia do decreto de 30 de maio de 1845, conhecido pelo nome do seu inspirador, Bill Aberdeen, atravs do qual a Inglaterra outorgou-se o direito de reprimir o trfico de negros escravizados. Prevaleceram as convenincias dos senhores de terra, que pleiteavam a extino gradual do trabalho escravo, substitudo, tambm paulatinamente, pela mo-de-obra de imigrantes da Europa e mais tarde tambm do Oriente. Nessas circunstncias, a Lei das Terras teve tambm o objetivo de disciplinar a propriedade, a posse e o uso da terra e equacionar a transio das relaes de trabalho ordem jurdica e social determinada pela dinmica do mercado, contornando uma reforma liberal de maior alcance. A extino do trfico e a Lei das Terras resultaram, na opinio de Roberto Smith11 de um contexto mais abrangente e internacional da diviso do trabalho que a evoluo capitalista impunha, alm de expressarem a ttica de acomodao de interesses e conciliao poltica do Imprio, traduzindo a reao das elites polticas postadas no Conselho de Estado s presses externas, admitindo o fim da escravido no horizonte visvel. O jovem imperador forava a estabilizao poltica, alternando ministrios liberais e conservadores mas, sempre exercidos por representantes de segmentos agrrios com a freqncia que supunha necessria para nenhuma faco se sentir detentora do poder. A economia impulsionou-se com a expanso cafeeira e os investimentos externos na infra-estrutura. Empreendimentos nacionais concentrados em atividades urbanas como os de Joo Monlevade e Irineu Evangelista de Souza no encontraram apoio governamental. Para um imprio embasado nas oligarquias agrrias seria contraditrio estimular formao de burguesia urbana, uma vez que os segmentos sociais que articula11
SMITH, Roberto. Propriedade da terra e transio: Estado e formao da propriedade privada da terra e transio para o capitalismo no Brasil. So Paulo: Brasiliense; Braslia: CNPq, 1990, p. 238; 328.
vam a estrutura de poder no manifestavam interesse de ceder espao da sua hegemonia poltica. Os pases que promoviam a Revoluo Industrial, principalmente a Inglaterra, dispondo de enorme volume de recursos financeiros, passaram a investir na infraestrutura para o desenvolvimento do capital, instalando ferrovias, equipamentos porturios, servios de bondes, telgrafos, telefones, iluminao pblica, abastecimentos de gua e de gs, em todo o mundo, com elevada lucratividade. A massa de salrios gerada pela instalao e manuteno desses servios ampliava o mercado para a produo fabril. O trabalho assalariado nas atividades urbanas e o regime de colonato com imigrantes europeus e nacionais na agricultura minaram as bases da escravido, levando de roldo a monarquia. Mas o senhoriato se manteve no controle do Estado e das instituies sociais, preservando a ordem econmica agro-mercantil de origem colonial. Nesse contexto do sculo XIX, a Bahia perdeu espao no cenrio poltico e econmico nacional, apesar da influncia de representantes de seus segmentos oligrquicos no governo imperial, como o conselheiro Zacarias e o baro de Cotegipe. O porto de Salvador recebia o maior fluxo de escravos da frica para o Brasil e destacava-se tambm nas exportaes brasileiras. No entorno de 1860, o Nordeste do Brasil deparou-se com uma das maiores tragdias das secas, que ocasionou muitas mortes por inanio e fuga massiva da populao para outras regies. Alguns municpios do Alto Serto da Bahia tiveram a populao reduzida metade.12 Essa regio integra o semi-rido, identificado como polgono das secas13, Seu clima seco a submido atinge temperatura anual mxima de 28,8 C., registrada em Brumado e mnima de 15,6 C., em Licnio de Almeida. A maior pluviosidade, 1.532 mm. anuais, ocorreu em Igapor; a menor, 135 mm., em Cacul14. A irregularidade pluviomtrica divide o ano numa estao seca, de maio a setembro, com cota zero nos meses de junho, julho e agosto e outra chuvosa, de outubro a abril, com nveis variando de 40 a 201 mm. mensais15. O relevo oscila de mil metros,
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Ver: NEVES, E. F. Policultura e auto-suficincia; abundncia e escassez. In: ______. Uma comunidade sertaneja..., p. 171-212. 13 Define-se polgono das secas a rea territorial em que h deficincia e/ou irregularidade de chuvas, correspondente a mais de 900.000 km2 do Nordeste brasileiro, na qual a evaporao supera a precipitao, promovendo, com freqncia, secas peridicas, conforme: FURTADO, Celso. Seca e poder: entrevista com Celso Furtado. (Concedida a Maria da Conceio Tavares, Manoel Correia de Andrade e Raimundo Rodrigues Pereira). So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 1998, p. 16. 14 BAHIA. Secretaria do Planejamento, Cincia e Tecnologia. Centro de Estatsticas e Informaes. Op. cit., v. 10, p. 59; 81; 281; 361. 15 BAHIA. Secretaria do Planejamento, Cincia e Tecnologia. Centro de Estatsticas e Informaes. Solo e capacidade do uso da terra bacia superior do rio de Contas. Salvador, 1992.
em alguns pontos da serra Geral e outras ramificaes da cordilheira do Espinhao, a 500 metros, nos cursos inferiores dos rios Trs Passagens, Brumado, Gavio e de Contas. O primeiro vetor de povoamento e ocupao econmica acompanhou a pecuria pelos baixios do So Francisco, subindo seus afluentes. Seguiu-se outro, a partir das nascentes do Paramirim, aps a decadncia do ouro. O fluxo imigratrio, inclusive de portugueses, paulistas e mineiros, recebeu estmulo tambm dos arrendamentos e comercializaes de terras pelos Guedes de Brito e depois pela sucessora Casa da Ponte. No incio do sculo XIX, os herdeiros do sexto conde da Ponte concluram o loteamento de tudo que controlavam, transferindo as terras para arrendatrios, definindo uma estrutura fundiria caracterizada pelas pequenas e mdias propriedades, sem, contudo, eliminar o latifndio, nem modificar o poder poltico e o controle das instituies sociais, estabelecidos pela colonizao portuguesa. A economia firmou-se como pecuarista e policultora consrcios de algodo, milho e feijo, com pequenas monoculturas de cana, arroz e mandioca, destacando-se a cotonicultura desde o incio do povoamento, em princpios do sculo XVIII, quando se expandiram as fazendas de gado das margens do So Francisco para seus afluentes e tributrios e se intensificou a partir da segunda dcada desse sculo, com a minerao aurfera na serra da Tromba, nascentes dos rios Paramirim e de Contas16. Estudos de regies iguais a esta, com a economia mais dirigida para o abastecimento interno, tendem a expor o isolamento de suas populaes, revelando a tradicional prioridade da historiografia para sociedades cuja produo destinavam-se ao mercado externo. Este estudo fundamentou-se em pesquisas bibliogrficas realizadas na Biblioteca Nacional, em Lisboa, na Biblioteca da Universidad de Salamanca e no Brasil, com base na qual se desenvolveu a contextualizao histrica, a fundamentao historiogrfica e incurso terica sobre as estruturas agrrias da Pennsula Ibrica, da transio feudal e posteriores s revolues liberais do sculo XIX; da Amrica Latina, durante a colonizao e depois das reformas liberais que marcaram as consolidaes dos novos Estados nacionais. A investigao documental desenvolveu-se no Arquivo Pblico do Estado da Bahia, Arquivo Municipal de Rio de Contas; Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro; Ar16
Sobre o povoamento dos sertes da Bahia, ver: FREIRE, Felisbello. Histria territorial do Brasil. v. 1. (Bahia, Sergipe e Esprito Santo). Rio de Janeiro: Tip. Rodrigues & Cia., 1906; MAGALHES, Baslio de. Expanso geogrfica do Brasil colonial. 4. ed. So Paulo: Nacional; Braslia: INL, 1978, 1. ed.
quivo Histrico Ultramarino, Torre do Tombo, Biblioteca Nacional, em Lisboa; e no arquivo particular da Casa da Ponte, nas cercanias da capital portuguesa. Nos arquivos da Bahia, a prioridade recaiu sobre registros paroquiais de domnios agrrios, determinados pela Lei das Terras de 1850; documentos cartoriais como testamentos, inventrios post mortem, escrituras de compra e venda de imveis; e tombamentos fundirios da Casa da Ponte. No Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro dedicou-se maior apreo aos documentos de sesmarias, alguns dos quais j conhecidos da historiografia, por iniciativa de Filisbello Freire, no incio do sculo XX. Em Portugal se concentrou mais ateno nos autos de conflitos pela posse da terra nas minas do rio das Velhas e em Jacobina, e no acervo da Casa da Ponte a documentos de partilha e comercializao de terras. Os inventrios relacionam bens de esplios partilhando-os entre herdeiros legais e, eventualmente, legatrios por verbas testamentais em doaes gratuitas ou sob condies, em geral de natureza religiosa17. Inventrios e testamentos oferecem informaes fundamentais para o estudo de organizao social, estrutura fundiria e ordem econmica. Listou-se por ordem alfabtica os mil e 680 autos de inventrios dos termos da Vila Nova do Prncipe e Santa Ana de Caetit, Santo Antnio da Barra, Bom Jesus dos Meiras e Boa Viagem e Almas, entre 1801-1887, englobando atualmente 22 municpios, disponveis no Arquivo Pblico do Estado da Bahia. Numerados, fichou-se a partir do primeiro da lista, com intervalos de cinco nomes, at o final. Nos raros casos de no se localizar o processo indicado por esse critrio, encontra-lo excessivamente estragado ou incompleto, de modo que prejudicasse a pesquisa, passou-se para o imediatamente precedente na ordem alfanumrica. Persistindo o problema, substituiu-se pelo subseqente imediato. Desse modo obteve-se 336 registros de esplios ou 20% do total. Os registros paroquiais de terras, primeiro cadastramento fundirio do domnio privado no Brasil, determinado pela Lei das Terras de 1850, receberam essa denominao porque a estrutura poltico-administrativa do Imprio do Brasil, no dispondo de meios para realizar esse censo territorial, confiou essa tarefa aos procos que, em cada freguesia, o executaram, como todas as outras atividades censitrias, at ento, em conseqncia do regime de padroado, que unia Igreja e Estado, uma herana da colonizao
1914; NEVES, E. F. Uma comunidade sertaneja..., p. 85-164. Sobre testamentos e inventrios consultar: MATTOSO, Ktia M. de Queirs. Para uma histria social seriada da Cidade do Salvador no sculo XIX: os testamentos e inventrios como fontes de estudo da estrutura social e de mentalidades. Anais do APEB. Salvador, n. 42, p. 147-197, 1976; ________. Tes-
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portuguesa. Esses registros indicam propriedades, proprietrios e limites, possibilitando identificar cadeias sucessrias e localizar unidades agrrias. Neste estudo fichou-se a totalidade dos registros de terras das freguesias de: Santa Ana de Caetit (1854-1859), do vigrio Policarpo de Brito Gondim; Nossa Senhora do Rosrio do Gentio (1855-1858), do vigrio Serfico Francisco de Campos; Nossa Senhora do Rosrio do Gentio (1858-1859), do vigrio Pedro Orlando Jatob; Santssimo Sacramento de Santo Antnio da Barra (1857-1858), do vigrio Antnio Maria de Jesus e Souza; Santssimo Sacramento de Santo Antnio da Barra (1858-1860), do vigrio Belarmino Silvestre Torres; que compunham o municpio de Caetit. Tambm se compulsou partes dos registros das parquias vizinhas de Nossa Senhora Me de Deus e dos Homens de Monte Alto (1855-1860), do vigrio Jos Alexandre da Silva Leo; Nossa Senhora da Conceio de Macabas (1857-1859), do vigrio Fernando Augusto Leo; Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo (1857-1859), do vigrio Sebastio Dias Laranjeira; e de Santo Antnio do Urubu (1863), da qual se encontrou apenas um registro, sem assinatura nem identificao do vigrio. Os tombamentos agrrios da Casa da Ponte, realizado em 1819, dos quais somente se conhecem o de Santo Antnio do Urubu e de Rio Pardo18, relacionam o patrimnio dessa casa nobilirquica, descrevendo fazendas e stios19, indicando limites, rendeiros, avaliaes e, em alguns casos, compradores. Os livros de notas dos tabelies contm escrituras de compra e venda de terras tambm encontradas avulsas em inventrios arrendamentos e hipotecas que auxiliam no delineamento da propriedade fundiria e sua dinmica mercantil. Os dados desses documentos encontram-se sumariados no ltimo captulo. As correspondncias de autoridades polticas, judicirias, legislativas, militares, policiais, eclesisticas podem oferecer informaes sobre as relaes estado/sociedade, movimentaes polticas, flutuaes econmicas, oscilaes pluviomtri-
tamentos de escravos libertos na Bahia no sculo XIX: uma fonte para o estudo de mentalidades. (Cadernos do) Centro de Estudos Baianos. Salvador, n. 85, p. 1-53, 1979. 18 CASA da Ponte. Tombo da Casa da Ponte. Tombamento dos prdios arrendados situados no Serto do Rio de So Francisco, Termo da Villa de Santo Antnio do Urubu, que pertencem Casa do Ilmo. e Exmo. Senhor Conde da Ponte, de 1819. Anais do APEB. Salvador, n. 34, p. 9-83, 1957. (Originais no APEB. Colonial e Provincial, 4.638. Tombo da Casa da Ponte 1819); ________. Tombo da Casa da Ponte. Tombamento dos prdios arrendados ou devolutos, situados no Certo do Rio Pardo, Districto do Rio pardo, Districto de Minas novas, Comarca da Villa do Prncipe do Serro Frio, Capitania de Minas Geraes. Revista do IGHB. Salvador, n. 55, p. 431-485, 1929. 19 No serto, desde o incio da colonizao, no sculo XVIII, denomina-se fazenda, grande propriedade fundiria e stio, lugar, como ainda hoje se emprega em Portugal, identificando parcela de fazenda, ainda que de grandes dimenses, podendo estender-se por lguas.
cas, religiosidade, abastecimento, morbidade, obras pblicas, mo-de-obra, demografia, enfim, sobre o cotidiano das comunidades e suas articulaes provinciais e nacionais, possibilitando avali-las na totalidade histrica. Outras fontes primrias oferecem dados complementares de diferentes pocas. Os roteiros de Joaquim Quaresma Delgado20, de 1731-1734, por exemplo, descrevendo fazendas e indicando fazendeiros dos caminhos percorridos, informam sobre o povoamento e o que se produzia. Neste estudo das comunidades sertanejas considerou-se a terra como principal meio de produo; o acesso a ela, atravs da apropriao, do arrendamento ou da compra, como condio da extrao da sua renda; e esta a sua explorao o principal fator das relaes sociais, historicamente construdas. Procurou-se fundamentar em postulados da histria agrria e da histria regional e local, na perspectiva scio-econmica, que prope investigar a produo e distribuio de bens em uma sociedade historicamente circunstanciada, dispondo-se a estudar a formao e o desenvolvimento de um grupo social a comunidade do Alto Serto da Bahia a partir das formas jurdicas de apropriao e explorao da terra, levando-se em considerao a prtica cotidiana nas suas articulaes internas e nas conexes exteriores, destacando a organizao social, as atividades produtivas e os fluxos comerciais, podendo, de modo complementar, abordar aspectos das articulaes polticas e eventualmente, das manifestaes culturais. Com este propsito se iniciou sumariando aspectos tericos e metodolgicos da colonizao portuguesa e da formao do Estado Nacional no Brasil, tentando distinguir as principais vertentes interpretativas e discutindo a histria agrria, associada regional e local, ambas elaboradas como recursos metodolgicos da histria econmica e social e fundamentos da propriedade, posse e renda da terra. Em seguida procura-se esquematizar os antecedentes histricos da instituio da propriedade, posse e explorao da terra na Pennsula Ibrica, durante a transio do feudalismo para o Antigo Regime e deste para a nova ordem esboada pela Revoluo Liberal; e na Amrica ibrica, desde a conquista territorial consolidao das independncias nacionais, verificandose identidades e dessemelhanas entre propriedade, posse e explorao da terra, tentando exercitar recursos metodolgicos da histria comparada. Na primeira parte focaliza-se o direito agrrio em Portugal e na Espanha, desde o feudalismo acumulao mercantil. Na segunda, a propriedade territorial como base do arcabouo jurdico-poltico da colonizao da Amrica ibrica, partindo-se do pres20
FREIRE, Felisbello. Histria territorial..., p. 501-532; VIANNA, Urbino. Bandeiras e sertanistas bahianos. So Paulo: Nacional, 1935, p. 169-203.
suposto de que se transferiram as instituies do estado e da sociedade com a definio do direito de propriedade da terra, atravs da doao que, na Amrica portuguesa se materializou no sistema de capitanias hereditrias, fracionadas com o regime de sesmarias, originrio do movimento das presrias, do declnio feudal na Pennsula Ibrica e da sua reconquista do domnio rabe. Na terceira, procura-se traar o perfil das estruturas agrrias dos reinos ibricos, definidas pelas revolues liberais na primeira metade do sculo XIX. Por fim, empenha-se na caracterizao fundamental das formas de propriedade fundiria, que se consolidaram na Amrica ibrica, depois das reformas institucionais realizadas em meados do sculo XIX pelos novos estados nacionais, adaptando, de modo parcial as transformaes ocorridas nas antigas metrpoles. O captulo seguinte teve a inteno de abordar a gnese da propriedade fundiria do Alto Serto da Bahia, desde a conquista e ocupao do territrio indgena por Antnio Guedes de Brito, no final do sculo XVII, at a transferncia pela Casa da Ponte, no incio do sculo XIX, das fazendas de gado para fazendeiros de maiores recursos financeiros e das terras menos valorizadas para os rendeiros, muitos dos quais deslocados das cabeceiras dos rios Paramirim e de Contas, onde a minerao aurfera se exauria. Tambm se procurou avaliar as conseqncias dessa ocupao, como os conflitos pela posse da terra entre os herdeiros de Guedes e os mineradores do rio das Velhas ao sul; e das nascentes do Itapicuru, ao norte. Tentou-se caracterizar a consolidao dessa estrutura de propriedade territorial com base nos registros paroquiais da dcada de 1850, que se constituiu o mais amplo cadastramento agrrio, desde o sistema de capitanias hereditrias, no incio do sculo XVI, aos registros de terras promovidos pelo IBRA, na dcada de 1960. O ltimo captulo procura discorrer sobre a formao da sociedade altosertaneja, indicando fluxos migratrios e caracterizando as estruturas sociais e econmicas, tentando averiguar a dinmica da propriedade e da produo de uma comunidade que convive com secas peridicas, procurando identificar a natureza do que se produzia, numa economia com pouca circulao monetria, que se fundamentava mais na formao de patrimnio e os mercados aos quais se destinavam os excedentes. Para discorrer sobre o convvio social e prticas econmicas do Alto Serto da Bahia se apresenta, como apndice, um glossrio toponmico da titularidade e da explorao agrria, expondo a base de dados da pesquisa, relacionando stios e fazendas com os respectivos proprietrios, rendeiros ou posseiros; indicando referncias fundamentais como rea, estrutura fundiria e dinmica mercantil da propriedade da terra; informan-
do, quando possvel, quantidade e qualidade do que se produzia em cada unidade agropecuarista, os instrumentos e as relaes de trabalho, moradias e utenslios domsticos. Desse modo se pretende situar os agentes da histria no seu cotidiano e no contexto das suas relaes internas e intercmbios exteriores. Destacou-se na lista dessas fazendas e stios de toponmia repetitiva as unidades fundirias bsicas para o povoamento e formao scio-econmica, acrescentando as fraes que apresentam dados de rea, ainda que em diversas unidades de medida e de modo impreciso. Dessa forma, procurou-se identificar, alm da titularidade e sucesso dominial, o encadeamento familiar atravs da transmisso hereditria e comercial da propriedade da terra, e o uso que fizeram dela, indicando o desempenho da pecuria e da policultura. Com essa exposio, apresentando-se os dados que se conseguiu levantar, se pretende demonstrar os fundamentos da estrutura agrria regional, as formas de apropriao da terra e os modos da sua explorao, por uma comunidade em permanente convvio com estiagens, dificuldades de transporte para escoamento da produo e pouca disponibilidade de recursos financeiros. Enfim, uma realidade econmica de escassez, dinamizada por um imaginrio social de abundncia, crescendo na lenta superao dos obstculos, com seus prprios meios. Contribui com sua produo para o abastecimento de gneros alimentcios e fornecimento de matrias-primas, desenvolvendo seu prprio mercado, com pouco ou nenhum apoio governamental.
...cada tempo novo deu lugar a um discurso que considera morto aquilo que o precedeu, recebendo um passado j marcado pelas rupturas anteriores. Logo, o corte o postulado da interpretao (que se constri a partir de um presente)...
A contextualizao do domnio fundirio do Alto Serto da Bahia e da instituio da titularidade agrria no Brasil, numa perspectiva histrica mais abrangente remete s suas origens na Pennsula Ibrica. Essas circunstncias requerem uma reviso dos principais modelos explicativos historiogrficos da colonizao do Novo Mundo, em particular da Amrica Portuguesa e da formao e consolidao do Estado Nacional no Brasil. Constitui objeto deste captulo, que debate os principais paradigmas de anlise da colonizao portuguesa e do Brasil imperial, o processo de insero da propriedade, posse e explorao da terra na historiografia, trazendo na segunda parte uma incurso terica sobre a histria agrria, associada regional e local, na perspectiva scioeconmica. Esta discusso ampara-se em avaliao do cotidiano das relaes sociais de um espao definido e de um tempo determinado, ou seja, de um grupo social historicamente constitudo, articulado numa base territorial, com vnculos de afinidades, manifestaes culturais, organizao comunitria e prticas econmicas comuns. Devido pretenso de se verificar semelhanas e diferenas entre as estruturas fundirias de Portugal e da Espanha, do Brasil e da Amrica hispnica na segunda parte recorre-se a expedientes da histria comparada, confrontando-se as prticas jurdicas e sociais na Pennsula Ibrica e na Amrica luso-espanhola, nas relaes internas das metrpoles, das colnias e, de modo mais amplos, dos dois conjuntos nacionais depois das transformaes liberais de meados do sculo XIX. A terceira parte discute alguns fundamentos filosficos, conceitos jurdicos e idias econmicas formulados desde o Antigo Regime sobre apropriao, apossamento e extrao da renda da terra.
Considerando-se a diversidade de modelos interpretativos da formao histrica do Brasil, no decorrer do comentrio historiogrfico tenta-se ressaltar algumas categorias analticas, indicando o sentido que neste estudo se lhe pretende atribuir ou o que se pretende expressar com o emprego delas. Designa-se, por exemplo, antigo sistema colonial, sistema colonial mercantilista ou pacto colonial o conjunto de relaes polticas e econmicas entabuladas entre as metrpoles e suas respectivas colnias do Novo Mundo durante a vigncia na Europa das monarquias absolutas e acumulao mercantil. Nem sempre sinonimizando, mas confundindo uma parte com o todo, tambm se denomina de exclusivo comercial metropolitano a essncia ou materializao do sistema, que este estudo prefere identificar como monoplio comercial metropolitano. Outras categorias analticas receberam nesta investigao designaes diversas, como grande lavoura na expresso de Caio Prado Jnior ou plantation na definio de Jacob Gorender, que neste estudo se optou pela alternativa de monocultura, tambm consagrada na historiografia.
Toda a estrutura da nossa sociedade colonial teve sua base fora dos meios urbanos.
A histria econmica desenvolveu-se na segunda metade do sculo XIX, impulsionando-se no XX, mas, somente aplicada como mtodo para se avaliar a formao histrica do Brasil a partir da dcada de 1930. Antes, porm, de sumariar e discutir os principais paradigmas interpretativos elaborados desde ento, faz-se necessrio incursionar pelo mundo das idias que lhes antecederam. Calazans Falcon21 chamou a ateno para os diferentes espaos e tempos dos cronistas coloniais, destacando contornos geopolticos, bases demogrficas, atividades econmicas, composio social, referenciais poltico-administrativos, educao, cultura, tudo modificado em cada momento que esses estudos tentaram apreender. As vari21
FALCON, Francisco Calazans. Pombal e o Brasil. In: TENGARRINHA, Jos (Org.). Histria de Portugal. Bauru: EDUC; So Paulo: UNESP; Lisboa: Instituto Cames, 2001, p. 227-239.
aes terminolgicas denotariam oscilaes nas prprias maneiras de apreender o espao colonial como um todo. O espao de Rocha Pita22 seria de uma Amrica lusa constituda pelos Estados do Brasil e do Maranho e Gro-Par; o de Antonil,23 apesar de mais amplo, concentrar-se-ia nas plantaes de acar e nas catas aurferas e diamantferas; o de Azeredo Coutinho24 seria um Vice-Reino que tenta dar conta da prpria dialtica da totalidade entrevista da metrpole, e da diversidade, imposta pelas mltiplas realidades regionais; o de Aires de Casal,25 do Reino Unido, que no conseguiria evitar a presena do peso das diversidades de toda ordem que relativizaria a cada passo uma unidade desejada mas problemtica. Numa perspectiva mais ampla do desenvolvimento histrico distinguem-se, conforme Maria Yedda Linhares e Francisco Carlos Teixeira da Silva26, trs momentos em que se pronunciou uma crise de transio do sistema scio-econmico com reflexos no nvel das idias, exigindo tomada de posio pelos indivduos e setores importantes da comunidade e da intelectualidade. O primeiro, na virada do sculo XVIII para o XIX, prenncio da crise do sistema colonial, expresso pela queda de produo dos metais preciosos, retorno agricultura e mudanas na conjuntura internacional, com a primeira Revoluo Industrial, a independncia dos Estados Unidos, a Revoluo Francesa, o enfraquecimento do poder metropolitano e a ascenso do liberalismo. O segundo, em meados do sculo XIX, quando se acelerou a industrializao na Europa e EUA e o Brasil se debatia com prolongada crise de abastecimento e conseqente carestia dos gneros alimentcios. Paralelamente, consolidava-se a unidade nacional e iniciava-se um movimento de amplas reformas, com extino gradual do trabalho escravo e reestruturao dos sistemas, financeiro, fiscal, administrativo e poltico. O terceiro, extrapolando a delimitao temporal deste estudo, em meados do sculo XX, na conjuntura da guerra fria, quando se retomou, no Brasil, de forma mais acalorada, e politizada, o debate
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PITA, Sebastio da Rocha. Histria da Amrica Portuguesa. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Edit. da USP, 1976, 1. ed. 1730. 23 ANTONIL, Andr Joo (Giovanni Antonio Andreoni). Cultura e opulncia do Brasil. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1982, 1. ed. 1711. 24 COUTINHO, Jos Joaquim da Cunha de Azeredo. Discurso sobre o estado actual das minas do Brasil. Lisboa: Imprensa Rgia, 1804; ________. Analyse sobre a justia do comrcio do resgate dos escravos da Costa da frica. Edio revista e acrescentada. Lisboa: Off. De Joo Rodrigues Neves, 1808; ________. Ensaios economicos sobre o commercio de Portugal e suas colnias. Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencia, 1816. 25 CASAL, Manuel Aires de. Corografia braslica ou relao histrico-geogrfica do Reino do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Edit. da USP, 1976, 1. ed. 1917. 26 LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Histria da agricultura:..., p. 15-17.
sobre as estruturas sociais e econmicas, partindo-se da conscincia do subdesenvolvimento. Na crise do sistema colonial, indicada no primeiro momento, se intensificou o povoamento do Alto Serto da Bahia com o declnio minerador. A reduo da perspectivas de xitos nos garimpos deslocou os interesses de quem dispunha de recurso financeiro para arrendamentos ou compras de terras e dedicar-se s atividades agrrias; e dos desprovidos de meios com que se produzir, para disponibilizarem a fora de trabalho como meeiros ou diaristas, disputando o mercado ou espao, por se tratar de sociedade escravista com a mo-de-obra cativa. Algumas famlias migraram, nessa poca, de Minas Gerais para essa regio, como a do capito Domingos Gomes de Azevedo, com sua mulher Ana Joaquina Sofia de Jesus, 10 filhos, escravos, parentes e outros aderentes familiares27, fixando-se em fazendas nas cercanias de Gentio, atual Cerama, distrito de Guanambi. Mesclados com outros grupos de consanginidade, muitos dos seus descendentes destacaram-se como lderes polticos e ocupantes de cargos e funes relevantes da sociedade civil e do Estado. Das minas de Rio de Contas, pela proximidade, migrouse para l com maior freqncia. Embora no se disponha de estatsticas da produo desse enclave sertanejo, que o permita avaliar com alguma margem de segurana, supe-se que os fluxos comerciais e o estabelecimento majoritrio de pequenas unidades agrrias indicam mais expanso da agricultura, empreendida como policulturas familiares, que da pecuria, exigente de grandes reas. Essa agricultura diversificada produzia alimentos e matrias-primas como o algodo. Em escala menor a mamona, o tabaco e outros produtos. Ressalta-se que, entre os dois primeiros momentos assinalados por Linhares e Silva, para evitar a capitulao da monarquia portuguesa ao exrcito napolenico, a famlia real transferiu-se para o Rio de Janeiro, que se tornou a capital do Reino de Portugal. Ainda nesse perodo o Brasil rompeu os vnculos de dependncia poltica e econmica metrpole ibrica na conjuntura subseqente queda de Bonaparte e a restaurao monrquica na Europa, fatores que levaram o nascente Estado a se estruturar como monarquia constitucional, tendo o liberalismo como iderio do movimento de emancipao, redefinindo o pacto poltico estruturado nos anos em que se estratificara o siste-
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Ver informaes da tradio oral em: SANTOS, Helena Lima. Caetit, pequenina e ilustre. 2. ed. Brumado: Grfica e Editora Tribuna do Serto, 1995, p. 116-118, 1. ed. 1976.. Ver o inventrio de Gomes de Azevedo, autuado em 1833: APEB. Judicirio, 02.0557.1006.02. Inventrio de Domingos Gomes de Azevedo.
ma social da colnia, como avaliou Carlos Guilherme Motta e Fernando Novais28. O pensamento liberal difundiu-se entre intelectuais e outros segmentos urbanos brasileiros no sculo XVIII, irradiando-se da Frana e dos EUA, assumindo carter anticolonial, antilusitano e, ao menos uma vez na Bahia popular e republicano29. No corolrio inicial reuniam-se teses como descentralizao poltico-administrativa; independncia, autonomia e integridade do cidado; livre iniciativa; vocao agrcola do Brasil; participao estrangeira na economia. Entre os precursores brasileiros dessa ideologia, no sculo XIX, se destacaram no cenrio poltico e intelectual, o frei Caneca (1774-1825), Jos Bonifcio de Andrada e Silva (1763-1838) e Tavares Bastos (1839-1875). Andrada e Silva30 definiu em 1824, como maior interesse do Imprio na Assemblia Geral Constituinte, alm de elaborar a Constituio, um novo regulamento para promover a civilizao geral do ndios, que faria, com o andar do tempo, inteis os escravos e nova lei sobre o comrcio da escravatura e tratamento dos miserveis cativos. Pretendeu dedicar o seu mandato para mostrar a necessidade de se abolir o trfico da escravatura, melhorar a sorte dos cativos e promover a sua progressiva emancipao. Recomendou a mistura dos negros com as ndias para a formao de gente ativa e robusta, que herdaria do pai a energia e da me a doura e o bom temperamento. Seu pensamento estava, neste aspecto, sintonizado com os interesses fundirios. Os senhores de terra admitiam o fim da escravido, desde que fosse lento e gradual, sem prejuzo do capital investido nos escravos e que no provocasse escassez de mo-de-obra. Pioneiro em proposta de interveno no sistema fundirio brasileiro, Bonifcio aprestou Assemblia Geral Constituinte, em 1824, proposta segundo a qual possuidores de terra sem ttulo legal perdessem suas posses, mantendo apenas 650 jeiras, caso houvesse benfeitorias. E os sesmeiros legtimos que no tivessem comeado o cultivo, cedessem Coroa as terras, conservando mil e 300 jeiras para si, com a obrigao de comearem a formar roas e stios no prazo de seis anos31. Defendeu vendas de terras condicionadas manuteno de 1/6 delas para bosques e matos; formando um termo, com uma vila a cada conjunto de 36 sesmarias, ficando as quatro sesmarias centrais
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MOTA, Carlos Guilherme; NOVAIS, Fernando A. Op. cit., p. 39. LINHARES, M. Yedda; SILVA, Francisco Carlos T. da. Histria da agricultura:..., p. 20. 30 SILVA, Jos Bonifcio de Andrada e. Projetos para o Brasil. Organizao de DOLHNIKOFF, Miriam. So Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 45-46; 152-156. 31 Uma jeira equivale a 0,2 hectare. Restariam, pois, ao posseiro 130 hectares e ao proprietrio 260.
destinadas para estabelecimentos pblicos; indicou que se condicionassem as doaes de sesmarias introduo de novos mtodos de cultura j experimentados na Europa. Mas Pedro I dissolveu a Assemblia Constituinte e outorgou uma Constituio como lhe convinha, postergando essas questes fundirias que somente voltaram a ser objeto de legislao em 1850, num conjunto de reformas liberais que no passou de uma modernizao conservadora superficial da organizao do Estado, sem interferir na estrutura social dominante. Apenas se extinguiu a escravido e promoveu-se a imigrao de europeus para mo-de-obra agrria, fatores que no repercutiram na dinmica scioeconmica do Alto Serto da Bahia, porque o senhoriato regional vendeu, aps o fim do trfico atlntico, os escravos das faixas economicamente ativas para os cafezais do Sudeste e a regio no recebeu imigrantes da Europa. O diagnstico de Linhares e Teixeira da Silva situou o debate de concepes interpretativas do Brasil nessas conjunturas de incio do sculo XIX, na dialtica dos alinhamentos ideolgicos conservador e liberal, identificando no pensamento conservador brasileiro, alm de pragmatismo, debilidade doutrinria e pobreza de expoentes intelectuais. As excees ficariam com Jos Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho (17421821)32, Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878)33 e poucos outros, com exguo nmero de teses, destacando a de defesa e exaltao do Estado e, em conseqncia, dos diversos grupos dominantes. Subvertiam sempre o princpio liberal e democrtico de construo do Estado representativo e da possibilidade de a Nao revogar, mudar ou transformar uma forma de governo. Conceberam o Estado como antecedente e sobreposto Nao. Historiadores mais conservadores colocaram-se como participantes da histria com a qual se identificavam e se sentiam comprometidos. Para Varnhagen, Otvio Tarqunio de Souza (1889-1959), Pedro Calmon (1902-1985), Amrico Jacobina Lacombe (1909-198-) na anlise de Linhares e Teixeira da Silva, parecia no haver dvida quanto justeza das opes e ao curso dos acontecimentos. E nessa linha de raciocnio, defendiam teses como continuidade da histria e passagens pacficas, que explicariam a suposta ausncia de rupturas na histria do Brasil. Nessa concepo a ordem
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Ver suas idias em: COUTINHO, Jos Joaquim da Cunha de Azeredo. Discurso sobre o estado actual das minas do Brazil. Lisboa: Imprensa Rgia, 1804; ________. Analyse sobre a justia do commercio do resgate dos escravos da Costa da frica. Lisboa: Off. de Joo Rodrigues Neves, 1808; ________. Ensaio economico sobre o commercio de Portugal e sua colonias. Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencias, 1816. 33 Ver sua concepo de histria do Brasil em: VARNHAGEN, Francisco Adolfo de, (Visconde de Porto Seguro). Histria Geral do Brasil. 10. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Edit. da USP, 1981, 3 v.
como condio indispensvel do desenvolvimento, considerando os momentos de crise social como fases obscuras e nefastas colocavam a Nao, substituindo classes e grupos sociais, acima dos indivduos, com interesses e objetivos, sempre bem identificados e perseguidos pelo Estado. O Brasil no sofreria mudanas profundas, permanecendo o modo de produzir, as relaes sociais, a insero no mercado internacional, enfim, o Brasil agrrio. J se classificou a obra de Varnhagen como elogio da colonizao portuguesa
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passado porque o Brasil continuara portugus, monrquico e catlico, mantendo a unidade territorial. Jos Honrio Rodrigues35 destacou nas concepes de Oliveira Viana (1883-1951) a idia de que a agricultura se impusera como economia vivel do Brasil, que no existiria sem a monocultura. Sua obra seria uma concepo nova de histria do Brasil, singular e fora dos padres, uma dissidncia conservadora, diferente de outros como Cairu e Eduardo Prado. Revelara-se um pensador consciente de seus princpios, aliado incondicional das foras dominadoras da sociedade e adversrio das tendncias rebeldes. Faria apologia das elites, escarnecendo a plebe. Viana representaria uma historiografia antidemocrtica e antiliberal. Na obra pstuma, Introduo Histria Social da Economia pr-Capitalista no Brasil, Viana36 ignorou a formao socioeconmica brasileira, apresentando o que denominou antropognese da nobreza; narrando o advento do luxo e da nobreza urbana; descrevendo as bases econmicas da nobreza feudal, o breve ciclo mercantilista do sculo XV e a quebra dos tabus anti-lucrativistas das classes nobilirias da Pennsula Ibrica. Em nenhum captulo revelou interesses sobre o conjunto da sociedade. Apenas lhe interessava a ao dos grupos sociais dominantes. Passando para a evoluo das teorias e mtodos do ps-1930 sobre as interpretaes do Brasil colonial e imperial, Fragoso e Florentino37 ressaltaram que Prado Jnior (1907-1990)38, Simonsen (1889-1948)39, Furtado40, Novais41, Arruda42, Flamarion Car34
REIS, Jos Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999. Ver tambm: ODLIA, Nilo (Org.). Histria: Varnhagen. So Paulo: tica, 1979. 35 RODRIGUES, Jos Honrio. Histria da histria do Brasil. A metafsica do latifndio: o ultra-reacionrio Oliveira Viana. So Paulo: Nacional; Braslia: INL, 1988, v. 2, p. 2-3. 36 VIANA, Oliveira (Francisco Jos de O. V.). Introduo histria social da economia pr-capitalista no Brasil. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1958. 37 FRAGOSO, Joo; FLORENTINO, Manolo. Histria econmica. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. (Orgs.). Domnios da histria: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 27-43. 38 PRADO JNIOR, Caio. do Brasil contemporneo (colnia). 13. ed. So Paulo: Brasiliense, 1973, 1. ed. 1942; ________. Histria econmica do Brasil. 19. ed. So Paulo: Brasiliense, 1976, 1. ed. 1945.
doso43 e Gorender44, buscaram montar quadros explicativos que dessem conta da sociedade e da economia coloniais. Esses esforos, com divergncias tericas e diferenas metodolgicas, legaram abordagens caracterizadas pelas tentativas de entender, sobretudo a histria brasileira, como uma totalidade. Pioneira no instrumental tericometodolgico da histria econmica, com enfoques na estratificao social e nas relaes de trabalho, a elaborao intelectual de Caio Prado Jnior inseriu a ocupao e o povoamento do territrio conquistado por Portugal na Amrica num amplo quadro, com antecedentes de trs sculos de atividade colonizadora, desenvolvida por europeus, integrando todos os continentes. Reafirmando essa linha de anlise, Fernando Novais45 dividiu a economia colonial em dois setores: um primordial, de exportao, organizado em grandes unidades, empregando o trabalho escravo e produzindo mercadorias para o consumo europeu, que seria responsvel pela razo mesma da colonizao capitalista; o outro subordinado e dependente do primeiro, de subsistncia, para atender ao consumo local, completando o que no podia importar da metrpole, no qual comportava a pequena propriedade e o trabalho independente, que seria organizado para permitir o funcionamento do primeiro. Para essa linha interpretativa importa mais o qu se produzia e a comercializao do produto que as relaes de trabalho e formas jurdicas da propriedade da terra. A economia de subsistncia, destinada sempre ao comrcio local, em geral praticada em pequenas propriedades, mas, na fase inicial da colonizao do Alto Serto da Bahia, na primeira metade do sculo XVIII, desenvolveu-se em unidades agrrias de diferentes dimenses devido necessidade do auto-abastecimento imposta pelas distncias do litoral e as dificuldades de transporte. Do mbito local os intercmbios se ampliaram para outras provncias, alcanando at mercados externos, como foi o caso do algodo. H que se considerar que o couro, subproduto da pecuria, desde o incio da co-
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SIMONSEN, Roberto Cocharne. Histria econmica do Brasil: 1500/1820. 8. ed. So Paulo: Nacional, 1978, 1. ed. 1937. 40 FURTADO, Celso. Formao econmica do Brasil. 14. ed. Nacional, 1976, 1. ed. 1959. 41 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). So Paulo: HUCITEC, 1979. 42 ARRUDA, Jos Jobson de A. O Brasil no comrcio colonial. So Paulo: tica, 1980. 43 CARDOSO, Ciro Flamarion S. As concepes acerca do sistema econmico mundial e do antigo sistema colonial; a preocupao obsessiva com a extrao de excedente. In: LAPA, Jos Roberto do Amaral. (Org.). Modos de a produo e realidade brasileira. Petrpolis: Vozes, 1980, p. 109-132 44 GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. So Paulo: tica, 1978. 45 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil... p. 106-107.
lonizao dos sertes integrou a pauta das exportaes coloniais, como mercadoria ou dissimulado como embalagem de acar, tabaco e outros produtos. Ciro Cardoso46 criticou, desde a dcada de 1970, esse e outros aspectos do modelo analtico de Caio Prado Jnior, consolidado na historiografia brasileira, entre outras razes, pelo que qualificou de tendncia para ressaltar primeiro e, sobretudo, a circulao e no o processo de produo. Entretanto, Cardoso, como observou Fragoso, do mesmo modo que Prado Jnior, sups escravista o sistema socioeconmico estabelecido na Amrica portuguesa, diferenciando-o do que ocorreu no mundo antigo, nalguns aspectos particulares. A escravido colonial, nessas circunstncias, no seria de natureza feudal nem capitalista, mas, para alguns analistas, uma peculiaridade da transio do feudalismo; para outros, uma particularidade dos movimentos de acumulao do capital mercantil; e a colonizao do Novo Mundo, um encadeamento das relaes de trabalho escravo, transpostas da frica e submetidas a um senhoriato agrrio, articuladas no processo de produo de mercadorias para o comrcio europeu, contexto em que a colonizao da Amrica significou a parte principal do primeiro momento da dinmica capitalista mundial que lhe sucederia. H vrios estudos sobre a constituio do mercado colonial, empregando o modelo explicativo da formao econmica primrio-exportadora durante a colonizao e desenvolvimento de uma economia nacional no Brasil, alguns se contrapondo parcialmente ao paradigma de Prado Jnior reforado por Celso Furtado, Fernando Novais, Jobson Arruda e outros que Joo Fragoso47 caracterizou de excessiva nfase na transferncia do excedente colonial e impossibilidade de acumulao endgena48. Em estu-
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CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. Observaes sobre o dossier preparatrio da discusso sobre o modo de produo feudal. In: C. E. R. M. Sobre o feudalismo. Lisboa: Estampa, 1973, p. 72; FRAGOSO, Joo Lus Rezende. Modelos explicativos da economia escravista no Brasil. In: CARDOSO, Ciro F. (Org.). Escravido e abolio no Brasil: novas perspectivas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988, p. 16-32; FRAGOSO, Joo Lus Rezende. Homens de grossa aventura: acumulao e hierarquia na praa mercantil do Rio de Janeiro (1790-1930). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992, p. 49-98. 47 FRAGOSO, Joo Lus Ribeiro. Homens da grossa aventura..., p. 61. 48 GORENDER, Jacob. O escravismo...; CARDOSO, Ciro Flamarion S. Agricultura, escravido e capitalismo. Petrpolis: Vozes, 1979; CARDOSO, Ciro Flamarion S. As concepes...; CARDOSO, Ciro Flamarion S; BRIGNOLI, Hctor Prez. Historia econmica de Amrica Latina, t. 1, Sistemas agrrios y historia colonial. 3. ed. Barcelona: Crtica, 1984, 1.ed. 1979; CASTRO, Antnio Barros de. A economia poltica, o capitalismo e a escravido. In: LAPA, Jos Roberto do Amaral. (Org.). Op. cit., p. 67-107; LINHARES, M. Yedda: SILVA, Francisco Carlos T. da. Histria da agricultura:... ; MELO, Joo Manoel Cardoso de. Capitalismo tardio. So Paulo: Brasiliense, 1982; LAPA, Jos Roberto do Amaral. O antigo sistema colonial. So Paulo: Brasiliense, 1982.
do posterior Novais49 reiterou as suas reflexes expostas em Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1877-1808), pela fecundidade do esquema terico, declarando no se tratar de obsesso com as relaes externas, nem desprezo pelas articulaes internas, mas de enfatizar um ou outro lado de acordo com os objetivos da anlise e que o crescimento do mercado interno seria uma decorrncia do funcionamento do sistema ou a sua dialtica negadora estrutural. Posicionando-se pela lgica interpretativa de formao econmica do Brasil com desenvolvimento de um mercado interno, interagindo com o comrcio metropolitano, Amaral Lapa50 definiu esse crescimento para dentro de sistema(s) permanente(s) de trocas desenvolvido(s) com variveis, oscilaes internas e relacionadas direta ou indiretamente aos mercados externos, com peculiaridades regionais e da organizao da produo, do sculo XVI ao XVIII. Do mesmo modo Valentim Alexandre51 destacou a articulao do mercado interno no Brasil, ressaltando a contribuio de obras como as de Novais e Arruda52 para o conhecimento dos trficos coloniais, que seriam dos mais importantes vetores do comrcio externo portugus, ressalvando que nenhum deles dera perspectiva suficientemente clara da funo, na economia portuguesa, dos vrios fluxos de bens que analisam, nem distinguira os casos em que a metrpole fora entreposto de mercadorias produzidas na colnia, que exportava; nem os que intermediavam o comrcio de bens importados; no propiciando, por isso, uma avaliao da importncia do mercado brasileiro para a produo metropolitana, tanto no todo como por setor. Para Jorge Pedreira53, outro historiador de Portugal, o sistema colonial preenchera quatro funes principais para a economia portuguesa: abastecer a metrpole de produtos alimentares, mais ou menos exticos (acar, caf, cacau e arroz) e de matrias-primas (algodo, tabaco, drogas e madeiras); abrir mercados privilegiados para alguns dos produtos portugueses (bens manufaturados, vinhos, etc.); estimular trocas entre as prprias colnias, principalmente por intermdio do trfico de escravos; esta-
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NOVAIS, Fernando A. Condies da privacidade na colnia. In: SOUZA, Laura de Mello e. (Org.). Histria da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na Amrica portuguesa. So Paulo: Companhia das Letras, 1997, p 13-81, nota 15, p. 448. 50 LAPA, Jos Roberto do Amaral. O sistema colonial. 2. ed. So Paulo: tica, 1991, p. 42, 1. ed. 1982. 51 ALEXANDRE, Valentim. Os sentidos do imprio: questo nacional e questo colonial na crise do antigo regime portugus. Porto: Afrontamento, 1993, p. 23. 52 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil...; ARRUDA, Jos Jobson de A. O Brasil no comrcio... 53 PEDREIRA, Jorge Miguel Viana. Estrutura industrial e mercado colonial: Portugal e Brasil (17801830). Oeiras: Difel, 1994, p. 270.
belecer bases para amplo comrcio de exportao e reexportao de produtos coloniais para as naes estrangeiras e de produtos estrangeiros para o ultramar. V-se que Alexandre e Pedreira, enfatizaram a importncia do mercado colonial para a metrpole, reconhecendo, portanto, o potencial de acumulao interna na colnia.54 Tambm se deve lembrar que Novais55 avaliou de mediana clareza a formulao de Postlethwayt, em 1747, segundo a qual as colnias deveriam dar metrpole um maior mercado para seus produtos; gerar emprego para a mo-de-obra metropolitana; e fornecer maior quantidade das mercadorias que a metrpole necessitasse. Em rplica a Valentim Alexandre, num texto de circulao restrita56, Jobson Arruda declarou ficar claro que se quinquilharia e manufaturas de ferro do norte de Portugal, adquiridas por comerciantes estrangeiros, apareciam na balana como exportao, sendo na realidade produtos de fbricas portuguesas, reforaria o argumento da pujana dessa atividade e da conseqente importncia do mercado colonial na sua recepo. Em outro texto de ampla circulao, inserindo-se no elenco daqueles que estudaram prioritariamente o setor exportador, Arruda57 considerou, sobre os argumentos de Valentim Alexandre e de Jorge Pedreira, que as suas concluses fundamentais em O Brasil no Comrcio Colonial permanecem de p, em especial no que tange importncia decisiva da perda do mercado brasileiro na explicao da crise da indstria portuguesa e avaliou que sua obra revelara uma significativa diversificao do mercado interno colonial, destacando a segunda metade do sculo XVIII, poca na qual se constata a ampliao da produo agropecuria, que passara de 33 para 126 produtos, levando o ouro e o acar a perderem a hegemonia. Arruda ressaltou tambm que as reavaliaes quantitativas de Alexandre seriam muito importantes para adensarem os dados, mas se mantinham as suas concluses decisivas, como a idia da diversificao, o dficit de Portugal perante a colnia,
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Sobre o comrcio de Portugal com suas colnias, ver: COSTA, Leonor Freire. O transporte no Atlntico e a Companhia Geral do Comrcio do Brasil (1580-1663). Lisboa: Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, 2002, 2 v. 55 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil..., p. 59. 56 ARRUDA, Jos Jobson de Andrade. Decadncia ou crise do Imprio Luso-Brasileiro: o novo padro de colonizao do sculo XVIII. In: Actas dos IV Cursos Internacionais de Vero de Cascais (7 a 12 de julho de 1997). Cascais: Cmara Municipal de Cascais, 1998, v. 3, p. 213-228. 57 ARRUDA, Jos Jobson de Andrade. O sentido da colnia. Revisitando a crise do antigo sistema colonial no Brasil (1780-1830). In: TENGARRINHA, Jos (Org.). Histria de Portugal. 2. ed. ver. e ampl. Bauru: EDUSC; So Paulo: UNESP; Lisboa: Instituto Cames, 2001, p. 245-263.
a intensidade do contrabando e ponderou que, certamente, o avano da pesquisa permitiu a relativizao dessas concluses, mas no a sua invalidao. A explorao colonial em regime de monoplio de comrcio exercido pela metrpole limitou ou reverteu parcialmente a perspectiva do mercado para produtos comercializados pela metrpole e esboou outro perfil de demanda interna, restringindo o consumo de produtos externos e instigando a produo do auto-suprimento que lentamente passou de pequenos excedentes para o mercado local, ao abastecimento do comrcio inter-regional, com sucedneos dos produtos metropolitanos. Nesse processo, a aguardente de cana substitua, o vinho da metrpole; a banha de porco, o seu azeite de oliva; as farinhas de mandioca e de milho, a do trigo; os tecidos de teares manuais, os txteis manufaturados; e assim por diante. No que diz respeito ao Alto Serto da Bahia, a necessidade de se produzir o prprio abastecimento foi reforada pela dificuldade de transporte, que no impediu a formao do mercado regional a partir do incio do sculo XVIII, articulando-se progressivamente com os de outras regies, atraindo comerciantes de outras capitanias, como o futuro baro de Iguape, Antnio da Silva Prado (1788-1875), av de Caio Prado Jnior, que residiu em Caetit e quando regressou para So Paulo em 1816, deixou um irmo nessa vila com a representao de seus negcios58. As famlias Silva Prado, Prado Fernandes e outras e outras combinaes de sobrenomes, descendentes desse irmo continuam povoando Caetit e municpios vizinhos. Antnio da Silva Prado fora bem sucedido nos negcios do Alto Serto da Bahia, porque ao regressar se tornara grande comerciante e arrematante da maior parte das rendas pblicas de So Paulo59. Dentre vrios outros exemplos desse comrcio interprovincial, no auge da colonizao e aps a emancipao poltica do Brasil, pode-se citar o negociante de Cuiab, Joo Caetano Xavier da Silva Pereira60, que estendeu seus negcios de Mato-Grosso para o Alto Serto da Bahia, casando-se em Caetit, onde se fixou, tornando-se fazendeiro, poltico e comandante miliciano, deixando descendentes de projeo na magistratura e na medicina baianas. Tambm de Caetit se transferiram comerciantes para os mercados aos quais destinavam suas mercadorias.
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LEVI, Darrell E. A famlia Prado. So Paulo: Cultura 70, 1977, p. 58. PETRONE, Maria Thereza Schorer. Um comerciante do ciclo do acar paulista: Antnio da Silva Prado (1717-1829). Revista de histria. So Paulo, v. 36, n.73, p. 115-138, jan./mar., 1968 (primeira parte).
A tese de Jos Murilo de Carvalho61, publicada originalmente em dois volumes (1980 e 1988), reunidos num s a partir da segunda edio (1996) analisa a formao e consolidao do Estado nacional no Brasil. Para ele a construo da ordem nacional com a monarquia representativa, mantendo-se a unidade poltica da ex-colnia, evitando-se o predomnio militar e descentralizando-se as rendas pblicas, fez-se por uma opo entre outras alternativas possveis. Mas, em alguns aspectos, como o trabalho escravo e o livre comrcio no houvera liberdade de escolha, entretanto, esses constrangimentos no teriam determinado a formatao poltica nem os resultados da organizao dos poderes. Na segunda parte Carvalho dedicou-se ao teatro de sombras da ao poltica imperial, ressaltando as polticas escravista e agrria, ponderando tratarem-se de decises polticas, escolhas entre alternativas, empenhando-se na busca de possvel explicao desse processo nas atividades polticas, condutas sociais e prticas econmicas da elite responsvel pela construo dessa ordem, discutindo as aes imperiais sob a tica da elite dirigente e da burocracia, seus agentes diretos; verificando a sua educao, ocupaes e modos como se dedicavam carreira poltica; analisando a burocracia como categoria social, parcialmente confundida com a prpria elite; observando como esse grupo social se dividia entre os partidos; relacionando seus traos fundamentais como homogeneidade ideolgica produzida pela educao e treinamento poltico comuns, com as caractersticas do Estado, herdeiro da tradio absolutista e patrimonial portuguesa. A pouca representatividade, a unidade nacional, a centralizao do poder e o regime monrquico resultariam do processo de gerao mtua entre Estado e elite. Esta, produzida deliberadamente pelo Estado fora eficiente na tarefa de fortalec-lo, sobretudo em sua capacidade de controle da sociedade. Carvalho identificou a consolidao do Estado Nacional no regresso conservador de 1837, quando se superaram as incertezas e turbulncias da Regncia e se esboou o sistema bi-polarizado de poder, embasado, por um lado, na aliana entre o imperador e a alta magistratura e por outro, na articulao do grande comrcio com a grande propriedade fundiria. consolidao do Estado Nacional no correspondera um enraizamento social da monarquia, cuja legitimao fora difcil e complexa, at 1850, permanecendo tensa at o fim do Imprio.
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Ver informaes da tradio oral em: SANTOS, Helena Lima. Caetit, pequenina e ilustre. p. 119121. Ver inventrio de Silva Pereira em: APEB: Judicirio, 02.0871.1340.22.
Outro estudo relevante sobre esse perodo, a tese de Ilmar R. de Mattos62, defendida na Universidade de So Paulo em 1985 e publicada dois anos depois, apresentou o Imprio do Brasil, emergindo de um jogo de semelhanas e diferenas, complementaridades e contradies, continuidades e descontinuidades, e tambm de inverses. Destacou, na primeira parte, entre outros aspectos, a formao das regies, a preponderncia da regio de agricultura mercantil-escravista, a metamorfose do agricultor escravista em classe senhorial; na segunda, os trs mundos do Imprio, j ressaltados no captulo anterior, a constituio de ncleos polticos saquaremas ou conservadores e luzias, ou liberais que polarizaram a poltica nacional; e na terceira traou o perfil e destacou a ao poltica dos conservadores, suas relaes com o Estado, com a sociedade e com o regime poltico, ressaltando sua poltica de instruo pblica e sua afirmao como classe social dominante. Apresentado como o melhor estudo social e econmico existente sobre o Brasil rural no perodo colonial, Segredos Internos, de Stuart Schwartz63, editado originalmente nos USA em 1985, analisa, na histria da sociedade da grande lavoura do Recncavo baiano, o trabalho forado, o capitalismo comercial e as tradies e atitudes senhoriais ibricas que se articularam na formao de uma complexa estrutura social na Amrica portuguesa e no Brasil imperial, durante quase quatro sculos. Schwartz atribuiu perspectiva de varanda da casa grande ao seu estudo devido natureza das fontes testamentos, sensos, registros notariais e paroquiais, correspondncias administrativas e particulares documentao produzida com freqncia por proprietrios de terras ou sob interferncia deles. A sua anlise de senhores de engenho procura focalizar a formao e interao dos grupos e categorias sociais do sistema colonial, que produziram, em regime de monocultura, a grande lavoura para o mercado mundial. Empregando categorias analticas do universo marxista Schwartz estudou aspectos sociais da produo, as relaes entre os detentores dos meios de produo e os trabalhadores e entre estes e o processo produtivo. Procura colocar o trabalho como determinante principal da sociedade escravista e compreender os grupos, instituies e interaes sempre no contexto das relaes sociais de produo da agroindstria cana-
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CARVALHO, Jos Murilo de. A construo da ordem: a elite poltica imperial. Teatro de Sombras: a poltica imperial. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003, 1. ed. 1980-1988. 62 MATTOS, Ilmar Rohloff de. Op. cit. 63 SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550 1835. So Paulo: Companhia das Letras, 1988.
vieira, tomando como ponto de partida da sua anlse as peculiaridades desse sistema produtivo, a organizao e os requisitos da mo-de-obra. Na penltima dcada do sculo XX, de conjuntura do ps-Guerra Fria, com o fim da diviso do mundo em blocos ideolgicos, quando se ampliou o conflito de identidades ou crise de paradigmas, que j se manifestava desde o decnio anterior, verificou-se no Brasil refluxo da produo de dissertaes e teses universitrias de histria econmica. Uma pesquisa nos trs maiores cursos de ps-graduao em histria64 constatou, na USP, entre 1973 e 1985, declnio de 40 para 20% nas dissertaes de mestrado e teses de doutorado desse gnero de histria; na UFRJ e na UFF, entre 1980 e 1992, de 60 para menos de 15%. Nessa mesma conjuntura, numa manifestao mais de vitalidade que resistncia desse campo do conhecimento histrico, criou-se a Associao Brasileira de Pesquisadores em Histria Econmica, que anualmente promove um congresso, no qual se apresentam numerosos trabalhos de pesquisa dessa rea especfica e edita a revista Histria Econmica & Histria de Empresas, com periodicidade semestral. Textos apresentados no I Congresso Brasileiro de Histria Econmica, realizado em 1993, compuseram uma coletnea de cinco volumes65, publicados nesse ano, dos quais, trs dedicam-se economia primrio-exportadora no Brasil. O que rene trabalhos sobre a economia colonial enfatiza as culturas de subsistncia e o comrcio interno; o que focaliza a histria econmica do Imprio destaca a escravido fora da monocultura e apresenta novas perspectivas de anlise da economia mercantil escravista; e na abordagem da Primeira Repblica destacam-se estudos sobre a transio do trabalho escravo e suas conseqncias. Publicado nos USA em 1998, e no Brasil, em 2003, Um Contraponto Baiano, de Bert Jude Barickman66 ops-se s teses por ele qualificadas de bastante desacreditadas, segundo as quais a estrutura colonial monocultora de exportao inibira o desenvolvimento do mercado interno, e as cidades coloniais, por serem pequenas e poucas, seriam incapazes de estimular uma demanda substancial de mercadorias. Para ele a expanso da economia exportadora promoveu e at exigiu o crescimento do mercado interno e grandes proprietrios e pequenos lavradores adaptavam o uso da terra e as
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FRAGOSO, Joo; FLORENTINO, Manolo. Histria econmica..., p. 27-43. SZMRECSNYI, Tams (Org.). Histria econmica do perodo colonial. So Paulo: ABPHE, FAPESP, HUCITEC, 1996; SZMRECSNYI, Tams; LAPA, Jos Roberto do Amaral. (Orgs.). Histria econmica da independncia e do imprio. So Paulo: ABPHE, FAPESP, HUCITEC, 1996; SILVA, Srgio; SZMRECSNYI, Tams. (Orgs.). Histria econmica da primeira repblica. So Paulo: ABPHE, FAPESP e HUCITEC, 1996.
prticas agrcolas, tanto s exigncias de lavouras especficas e s presses de uma economia mundial emergente, como s condies locais e expanso do mercado interno. Essas adaptaes no criaram um padro nico e uniforme de monocultura extensiva e exportao baseada em grandes propriedades, mas permitiram na primeira metade do sculo XIX aumentos na produo tanto para a exportao como para o abastecimento de mercados locais. O crescimento da pesquisa universitria, com os programas de ps-graduao, proporcionou a divulgao de novos recursos tericos e metodolgicos da histria do Brasil. Na transio para o sculo XXI, celebraes oficiais descompartilhadas da sociedade brasileira centenrios da abolio do trabalho escravo e da proclamao do regime republicano e o meio milnio da chegada dos portugueses estimularam a produo historiogrfica. O quinto centenrio das grandes navegaes e dos descobrimentos oportunizaram pesquisas e publicaes abordando a colonizao do Novo Mundo sob a perspectiva transcontinental e multicultural. Destas destacam-se as de Antnio Vasconcelos de Saldanha, Luiz Felipe de Alencastro e uma coletnea de ensaios organizada por Fragoso, Bicalho e Gouveia, que focalizam o imprio portugus no Atlntico Sul, no encadeamento da dinmica mercantil e na estrutura jurdico-poltica da monarquia absoluta do Antigo Regime67. Vasconcelos interpretou as capitanias do Brasil como um fenmeno atlntico, sob a tica da histria do direito portugus, num quadro jurdico e poltico que possibilitara administrao lusitana adaptar o recurso legal das doaes de bens da Coroa s circunstncias da expanso territorial ibrica para as ilhas do Atlntico, frica e Amrica, entre os sculos XV e XVIII. Alencastro focalizou a histria colonial brasileira como resultado de articulaes do Reino de Portugal, com um espao econmico e social bipolar, tendo uma zona de produo escravista, no litoral da Amrica do Sul e outra de reproduo de escravos na frica ou, precisamente, em Angola. Situa a Amrica portuguesa em interao e complementao com as costas do continente africano, num s sistema de explorao colonial do Atlntico Sul.
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BARICKMAN, B. J. Um contraponto baiano: acar, fumo, mandioca e escravido no Recncavo, (1780-1860), Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003. 67 SALDANHA, Antnio Vasconcelos de. As capitanias do Brasil: antecedentes, desenvolvimento e extino de um fenmeno atlntico. 2. ed. Lisboa: Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, 2001, 1. ed. 1992; ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O tratado dos viventes: formao do Brasil no Atlntico Sul. So Paulo: Companhia das Letras, 2000; FRAGOSO, Joo; BICALHO, Maria Fernanda; GOUVA, Maria de Ftima (Org.). O Antigo Regime nos trpicos: a dinmica imperial portuguesa (sculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2001.
Os ensaios organizados por Fragoso, Bicalho e Gouveia apresentam, como destacou Russel-Wood no prefcio, o estado atual da pesquisa historiogrfica sobre o Brasil colonial, bem como no imprio portugus e no mundo, de forma mais ampla. Os organizadores ressaltaram a anlise do Brasil-Colnia como parte do imprio ultramarino portugus, procurando compreender a sociedade colonial e escravista a partir de princpios e regras econmicas, polticas e simblicas do Antigo Regime. Os ensastas, ancorados em novas perspectivas tericas sobre as relaes econmicas, atividades polticas, exerccios religiosos e prticas administrativas, indicam redes de articulaes do Reino de Portugal em todos os continentes que, em graus distintos, davam vida s diversas sociedades que o constituam. Esses e outros estudos revelam a complexidade da economia colonial e a subseqente dinmica escravista nacional, que no se reduzem apenas trilogia escravido, monocultura e latifndio. H que se considerar o papel dos produtores autnomos em pequenas propriedades, sobretudo no interior, onde se desenvolveu a policultura e a escravido coexistiu com outras formas de explorao do trabalho, na produo do abastecimento interno e de excedentes para exportao. Nesse processo organizaram-se diversas estruturas produtivas com variados volumes de recursos financeiros, predominando os pequenos investimentos, sempre na perspectivas de mercado. A circulao se expandiu mais ou menos conforme um conjunto de fatores, no qual destacavam-se as precrias condies de transporte. Num processo de intercomplementaridade, o litoral das grandes lavouras produzia mais para o mercado exterior, destinando parcelas da produo para o abastecimento interno, enquanto o interior escoava a maior parte dos excedentes agrcolas e da pecuria para o comrcio regional e interprovincial, enviando para fora, partes significativas de suas mercadorias, para receber em troca, produtos litorneos e mercadorias importadas atravs da metrpole. Num ciclo vicioso e interativo os mercados regionais dinamizavam-se na proporo da capacidade produtiva de cada regio, enquanto a produo de cada uma delas se limitava s respectivas condies de circulao de mercadorias. Sumariando, pode-se esquematizar os modelos de anlise da formao econmica da Amrica portuguesa e da consolidao dessa economia aps a afirmao do Estado Nacional no Brasil em trs vertentes, com alguns entrelaamentos por um lado e enfrentamentos por outro. A primeira, que se dedica ao setor exportador, avalia a estrutura produtiva do latifndio, da monocultura e da escravido para servir dinmica de acumulao exgena, da qual estudos de Prado Jnior, Furtado, Novais e Arruda projetam-
se como maiores expresses; a segunda, que focaliza o modo de produo, enfatizando as relaes entre senhores e escravos, destacando-se obras de Jacob Gorender e Ciro Cardoso; e a terceira, sem ignorar o papel primordial da produo exportadora, focaliza a formao e desenvolvimento do mercado interno a partir de estruturas produtivas regionais, com articulaes de comrcio interprovinciais, que tambm se conectaram ao mercado exterior, da qual se sobressaem estudos de Maria Yedda Linhares, Amaral Lapa, Joo Fragoso e outros.
Lhistoirien est toujours lesclave de ses document; plus que tout autres, ceux qui se vouent aux tudes agraires; sous peine de ne pourvoir peler le grimoire du pass, il leur faut, le plus souvente, lire lhisoire rebours.
At o advento da Revoluo Industrial 75% da humanidade vivia de atividades agrrias, em ritmo, conforme Linhares e Silva68, quase sempre pausado e lento de inovar nas formas de organizao social e de vivncia em comum, talvez devido ao contato direto com a dinmica da natureza. Pierre Vilar69 estimou o campesinato de finais do sculo XVIII entre 60 e 80% da sociedade, acrescentando que, antes de 1760-1780, em nenhum pas as estruturas sociais fundamentais tinham deixado de ser as do campo, cuja permeabilidade penetrao da economia monetria seria muito desigual. Antes dessa etapa final da transio do centro dinmico da acumulao de capital para o setor produtivo, a vida rural no ocidente passou sem grandes alteraes e sobressaltos, alm de fatores externos como secas, inundaes, fomes, guerras, pilhagens e expulso de trabalhadores de suas terras. As novas tcnicas introduzidas no mudaram o essencial. Os povos continuaram com as criaes das mesmas espcies de animais e cultivando
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LINHARES, Maria Yedda. Histria Agrria. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. (Orgs.). Op. cit., p. 166. 69 VILAR, Pierre. Iniciacin al vocabulrio del anlisis historico. 6. ed. Barcelona: Crtica, 1999, p. 269270.
os mesmos tipos lavouras, com poucas inovaes, variando de uma regio para outra, conforme os costumes e as circunstncias ambientais70. O campo de estudo da histria econmica e social ampliou-se a partir de meados do sculo XX, com os saltos tecnolgicos, o novo papel do setor de servios e o fenmeno da comunicao social com a tele-imagem no tempo real. Entretanto, como se enfatizou antes, a crise de paradigmas tericos, aps o fim da diviso do mundo em dois blocos econmicos e ideolgicos, no final desse sculo, reduziu-se o interesse por esse tema nas pesquisas de ps-graduao no Brasil71. Mas as questes fundirias e agrcolas mundo rural permaneceram no centro dos interesses dessa rea interdisciplinarizada do conhecimento. O segmento da histria econmica que se dedica ao estudo da propriedade, posse e explorao da terra, na anlise de Jean Meuvret72, apresenta-se com trs tipos de abordagem, mas sem distanciamentos conceituais significativos entre si. A histria da agricultura, que traz implcita na denominao o interesse na tecnologia e na economia da produo, dedica-se um aspecto da histria das cincias e das tcnicas, ocupando-se com mtodos, instrumental e organizao da agricultura, reunindo conhecimentos da geografia fsica, geologia, meteorologia, demografia, ecologia, agronomia, aos estudos histricos. A histria agrria, de maior abrangncia terica, envolve a estrutura social rural, dedicando-se s formas de apropriao e uso da terra e s condies jurdicas e sociais dos trabalhadores rurais, agregando informaes da geografia humana anlise das diferentes modalidades histricas de organizao e explorao da fora de trabalho, enfatizando as relaes de trabalho e tipologias agrrias como meeiro e diarista, proprietrio e rendeiro, fazenda e stio. A histria rural sintetiza os tipos anteriores, abarcando relaes sociais, econmicas e polticas das sociedades pr-industriais, referenciando-se na teoria econmica do sistema em questo, destacando estudos macro e microeconmicos da produo, distribuio e circulao no setor agrcola da economia.
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BARBOSA, Pedro Gomes. A histria rural de base regional. In: ________. Lisboa, o Tejo, a terra e o mar (e outros estudos). Lisboa, Colibri, [199-], p. 41. 71 FRAGOSO, Joo; FLORENTINO, Manolo. Histria econmica. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. (Orgs.). Op. cit., p. 27-43. 72 Ver a anlise de Meuvret esquematizada em: CARDOSO, Ciro Flamarion S. Histria da agricultura... In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. (Orgs.). Op. cit.; YOUNG, Eric van. La historia rural de Mxico desde Chevalier: historiografa de la hacienda colonial. In: CRDENAS, Enrique. (Comp.). Historia econmica de Mxico. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1989, p. 377.
A histria agrria, na definio de Bloch73, dedica-se ao estudo, tanto das tcnicas como dos costumes rurais que, mais ou menos estreitamente, regulamentam a atividade dos exploradores da terra. Esse campo especfico da histria econmica teria seu ponto de partida obrigatrio em documentos de poca relativamente prxima, porque despertariam mais curiosidades. Os textos antigos, convenientemente interrogados, ofereceriam muito mais do que, em princpio, esperam-se deles, entretanto, estariam longe de responder a todas as indagaes, resultando disso, a tentao de se tirar das manifestaes de testemunha, concluses mais precisas do que em direito seria legtimo. Mais que qualquer outra formao de historiador, o que se dedica aos estudos agrrios, seria escravo de seus documentos e necessitaria, quase sempre, ler a histria ao reverso, embora essa compreenso inversa ordem natural fosse perigosa. Esquematizando a histria da agricultura brasileira, Ciro Cardoso74 destacou trs linhas interpretativas. A tradicional, que considerou pr-capitalista, feudal ou com resqucios feudais, obstaculizando o desenvolvimento capitalista, derivada das teses do dualismo estrutural e das posies assumidas em 1928, pela Internacional Comunista representada pelo Partido Comunista do Brasil - PCB, sobre pases coloniais, semicoloniais e dependentes, assumida, entre outros, por Alberto Passos Guimares75; a que tentou demonstrar a necessidade das formas consideradas arcaicas, para o prprio funcionamento do capitalismo, defendida por Prado Jnior e Barros de Castro que, embora mais realista, mas pecando pela simplificao de caracterizar a parceria ou o colonato como formas totalmente capitalistas, eliminando a possibilidade de estudar tenses e contradies da realidade agrria; e a que explorou a noo de subsuno ou subordinao formal do trabalho ao capital e os aparentes arcasmos, de criao ou recriao do prprio capitalismo, formalizada por Jos de Souza Martins, que permitiria um estudo bem mais nuanado. Distinguem-se dois tipos de histria agrria: a regional e a local, ambas proporcionando vantagens e inconvenientes para o pesquisador. Os documentos para o estudo da histria agrria regional encontram-se, quase sempre dispersos em vrios acervos
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BLOCH, Marc. Les caractres originaux de lhistoire rurale franais. 3. tirage. Paris: Librarie Armand Colin, 1960, t. I, p. XI-XIII, 1. ed. Oslo, 1931. 74 CARDOSO, Ciro Flamarion S. Histria da agricultura e histria regional: perspectivas metodolgicas e linhas de pesquisa. In: ________. Agricultura..., p. 41-42; tambm publicado em CARDOSO, Ciro Flamarion S.; BRIGNOLI, Hctor Prez. Op. cit., t. 1, p. 10-89, com o ttulo de Historia econmica y historia de la agricultura: perspectivas metodolgicas y lneas de investigacin.
arquivsticos, dificultando a consulta, sendo, entretanto, mais abundantes, podendo levar a pesquisa mais longe que o inicialmente previsto. No caso da histria agrria local, a documentao mantm-se, em grande parte, reunida, porm, no oferece da vida rural mais que uma imagem fragmentada e, s vezes, enganosa, pouco permitindo captar os fenmenos massivos, alm de faltar a unidade geogrfica, to necessria em todos os estudos histricos76. Diferente da questo agrcola, que diz respeito ao crescimento da produo, inovao das tcnicas, dinmica dos sistemas de cultivo, ao incremento da produtividade que constituem diretrizes recorrentes da reforma da agricultura a questo agrria trata da perspectiva social, abordando a situao jurdica da terra e as relaes de trabalho, pontos de partida de um programa de reforma agrria ou da interferncia na organizao da propriedade da terra e nos modos da sua utilizao77. Sistematizou-se a histria agrria como campo de conhecimento especfico, desde incios do sculo XX, associado-se, conforme Linhares78, o estudo de mudanas operadas pela ao dos grupos sociais atravs dos tempos, com o da relao do homem com o seu meio fsico. A histria, voltando-se sobre o passado em busca de informaes e registros precisos, os mais abundantes possveis, capazes de explicar a sociedade humana nas suas mltiplas determinaes e complexidades; e a geografia humana, observando e descrevendo o presente para detectar a ao do homem na ordenao do espao que o envolve. Na dcada de 1950, Emmanuel Le Roy Ladurie79 iniciou um estudo da histria da propriedade fundiria caracterizada como tal pela policultura e auto-consumo familiar no sul da Frana, a partir do sculo XIV. Pouco tempo depois abandonou a referncia metodolgica de histria da propriedade, passando a adotar a de estruturas fundirias, focalizando outras constantes como a geogrfica, a antropolgica e a sociolgica, com a mobilidade das migraes, os deslocamentos de rebanhos e a trajetria das plantas cultivadas; alm de outras variveis como a cronologia mvel, o incessante
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GUIMARES, Alberto Passos. Quatro sculos de latifndio. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968, 1. ed. 1963; ______. A crise agrria. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, 1. ed. 1978. 76 DAUVERGNE, Robert. Suplemento a la introduccin. In: BLOCH, Marc. La historia rural francesa: caracteres originales. Barcelona: Crtica, 1978, p. 35-57. 77 Sobre esta matria, ver: LOURENO, Fernando Antnio. Agricultura ilustrada: liberalismo e escravismo nas origens da questo agrria brasileira. Campinas: Editora da UNICAMP, 2001. 78 LINHARES, Maria Yedda. Histria Agrria..., p. 165-166. 79 LADURIE, Emmanuel Le Roy. Os camponeses de Languedoc. Lisboa: Estampa, 1997, p. 11-16. 1. ed. Francesa, 1969.
jogo das mtuas relaes, a meteorologia, esta, um fator interveniente na irregularidade das colheitas. Usando categorias analticas semelhantes s de Fernand Braudel (1902-1985), Le Roy Ladurie destacou o que chamou de tendncias longas, como variveis principais, sujeitas a reflexes duradouras e a movimentos seculares: populao, produes, preos e receitas ou despesas particulares, envolvendo renda, dzima, fisco, usura, lucro, salrios. E, alm de todas essas categorias, os homens, os grupos sociais. Assim, embasando-se em documentos locais, Le Roy Ladurie fez uma histria agrria de enfoque regional, como se caracteriza esse segmento da histria econmica, arriscando-se na aventura de uma histria total, como ressaltou. A histria agrria desenvolveu-se, na expresso de Linhares80, articulada com a regional e local, tambm dedicada ao estudo das estruturas e das organizaes do espao rural, como resultado da atividade do homem. Na sua especificidade a histria regional e local prope estudar atividades de grupos sociais historicamente constitudos assentados numa base territorial e com identidades culturais, de organizao comunitria, de prticas econmicas identificando suas interaes internas e articulaes exteriores, na perspectiva da totalidade histrica81. Do ponto de vista metodolgico Martn Gelabert82 situou a histria regional e local logo abaixo do nvel estatal e acima do individual e do familiar, ocupando-se das comunidades de um mesmo territrio, servindo-se de redes institucionais, sistemas polticos, administrativos, legais e associativos comuns. Pela tica dos resultados produzem-se histrias de grupos sociais de comunidades de vizinhanas, municipais, provinciais ou regionais, embora a definio do objeto se baseasse implicitamente na acepo de um continuum institucional, legal, social unindo o local com o supralocal. Por este enfoque aborda-se a comunidade humana em si mesma como objeto de estudo. Portanto, a histria regional e local no se delimitaria por um territrio, um conjunto de populao e um momento na evoluo do sujeito histrico e seu desenvolvimento endgeno. Tornara-se a histria da construo local e autnoma do objeto, de sua vida e sua dinmica histrico-social internas. E teria como objetivo essencial ace80 81
LINHARES, Maria Yedda. Histria Agrria..., p. 165-166. NEVES, Erivaldo Fagundes. Histria regional e local: fragmentao e recomposio da Histria na crise da modernidade. Feira de Santana: UEFS; Salvador: Arcdia, 2002, p. 45. 82 MARN GELABERT, Miquel. Historiadores locales y historiadores universitarios: la historiografia espaola en su contexto internacional, 1948-1965. In: FORCADELL, Carlos; PEIR, Igncio (Coord.). Lecturas de la historia: nueve reflexones sobre histria da historiografa. Zaragoza: Instituicin Fernando el Catlico, 2001, p. 97-148.
der s relaes com outras realidades comunitrias, mais como confrontao comparativa de realidades que em forma de anlise de um nexo histrico derivado de um legado institucional. O estudo da histria regional e local que se vincula ao mundo rural na perspectiva econmica e social pressupe uma teoria sobre regio e uma delimitao do espao que se pretende investigar aes de um grupo humano. A idia de regio, no se restringe aos limites administrativos capitanias, provncias, estados nem se apia no fato de um grupo de indivduos coabitar o mesmo territrio. Esses fatores no formam, necessariamente, redes de relaes sociais, nem conscincia de pertencimento a universo comum. Uma regio se localiza sobre uma base territorial, que se distingue, principalmente, por ser um espao socialmente construdo. Secundarizam-se, pois, as caractersticas naturais. Regio tambm se situa numa poca, que se caracteriza como um determinado tempo histrico, ficando em segundo plano a localizao meramente cronolgica. A delimitao espao-temporal existe enquanto materializao de limites, a partir das relaes sociais83. Uma regio assim compreendida pode abranger, sem limites prprios, parcela de um municpio, de um estado ou provncia, de um pas ou de um continente. Sua imprecisa delimitao geogrfica pode embasar-se no relevo, hidrografia, solo, vegetao, clima, alm das prticas econmicas e polticas, composio tnica, manifestaes culturais, sempre articulada com espacialidades mais amplas e com determinado tempo histrico84. A histria agrria, como a regional e local, assenta-se em determinado espao, constituindo na sua relao entre os homens, no que diz respeito terra, desde a sua apropriao ao seu uso: relaes jurdicas, na definio da propriedade e da posse; econmicas, na explorao, fazendo-a produzir; e sociais, tanto na definio das condies jurdicas, quanto nas de produo e distribuio de bens. Se cada setor da histria tem sua regra prpria e suas exigncias, a elaborao da histria agrria pressupe mtodos especficos. Em LHistoire Rurale Franaise Bloch ressaltou que o pesquisador da histria agrria de uma regio deve analisar seus horizontes, para alm das fronteiras polticas, recorrendo ao mtodo comparativo, para melhor interpretar as paisagens agrrias, confrontando-as, sempre que possvel, com outras regies do mesmo e de outros pases. Mas recomendou algumas precaues, como no confundir o mtodo comparativo com o raciocnio por analogia. A histria
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MATTOS, Ilmar Rohloff de. Op. cit., p. 24. NEVES, Erivaldo Fagundes. Histria regional e local..., p. 87.
comparada exigiria grande sensibilidade para as diferenas. Seria conveniente no perder de vistas a percepo das diferenas entre os meios sociais, que se constituiria a sua prpria razo de ser, a salvaguarda de todo estudo comparativo. Dever-se-ia definir, nos pontos de partida, as noes que correspondem s concluses. A comparao confronta coisas ou fenmenos para determinar diferenas e semelhanas. O mtodo comparativo desenvolveu-se na lingstica e evoluiu para o estudo das civilizaes. A comparao incitaria a descobrir, por exemplo, porque certos fenmenos so aparentes numa sociedade e menos visveis em outras. Ele permite supor origens e evoluo de um grupo social ou de determinados fenmenos por analogia com seus congneres. Um acurado exame das semelhanas revela contrastes. Mas, talvez a percepo das diferenas fosse o primeiro objeto do mtodo comparativo, pois atravs delas pode-se avaliar a originalidade dos sistemas sociais e ter a perspectiva de os classificar e conhecer sua natureza. Em paralelo comparao, atravs do mtodo regressivo, se elucidam as origens de um fato social a partir do momento em que o investiga para finalizar na sua gnese. Seria perigoso iniciar a abordagem pelo tempo em que ocorrera. O melhor ponto de partida seria um estudo geogrfico, cujo horizonte, naturalmente, se limitasse ao presente ou a um ponto passado muito prximo85. O mtodo comparativo na verso territorial serviria para: conhecer fatos sobre os quais no se dispe de dados diretos; apoiar hipteses sobre explicaes causais; e tirar concluses gerais sobre fatos e lgicas da histria. No haveria semelhanas nas questes fundamentais da comparao, o que poria esse mtodo sob suspeita ou exigiria precaues na sua aplicao. A regresso seria uma verso cronolgica da comparao, usado, geralmente, em casos nos quais alguns fenmenos tendem a desaparecer, mas que se tem a expectativa de encontrar nas fontes alguns registros, que indicariam em determinado tempo, em relao a outro. Obter-se-ia, portanto, elementos espaciais com o primeiro e temporais com o segundo86. A historiografia poltica do mundo rural francs dos sculos XVIII e XIX teria como traos bsicos: tomar como unidade de anlise o mbito regional, no estadual; centrar-se, no marco do regional, na explicao de contrastes e mudanas significativas, previamente detectadas na opinio poltica expressa nas eleies entre as grandes opes nacionais; avaliar-se, exaustivamente, nestes contrastes e mudanas regionais de atitudes polticas, o peso dos fatores econmicos, sociais, ideolgicos, culturais e polti85 86
BLOCH, Marc. Histria e historiadores. Org. tienne Bolch. Lisboa: Teorema, 1998, p. 115-118. TOPOLSKY, Jerzi. Metodologa de la historia. Madrid: Catedra, 1992, p. 366-368.
cos; e destacar apenas o estudo do poder local, o poder no povo, dentro das variveis polticas. Entretanto, a partir da segunda metade da dcada de 1970 e, sobretudo, dos anos oitenta, a situao se invertera progressivamente: as atitudes polticas do mundo rural ficaram em segundo plano quando no abandonadas emergindo, com fora crescente, a questo poltica local. O ncleo temtico da histria francesa deslocara-se da colorao ideolgica para o poder, em parte pelo peculiar processo de despolitizao experimentado pela Frana, nos anos oitenta, numa espcie de reao ao plo oposto da situao de hiperpolitizao e conseqente crena em mudanas importantes, prpria dos anos setenta e parte da dcada seguinte. O resultado parcial desse processo seria a problemtica tendncia para se contemplar o poder como ideologicamente incolor e essencialmente esttico87. Para se estudar a histria da agricultura deve-se definir as relaes do setor agrrio com a economia geral. Entretanto, isto no significaria que o historiador agrcola tenha de fazer, pessoalmente, a histria econmica total, devendo, apenas utilizar dados e anlises fornecidos por especialistas de outros ramos da pesquisa. A agricultura articula o trabalho, a terra e a tecnologia conforme condies sociais especficas. A anlise do processo histrico na agricultura deve considerar essa associao, destacando o sistema socioeconmico, as condies de acesso e uso da terra, as normas jurdicas da propriedade, as circunstncias geogrficas, o universo profissional, as hierarquias sociais. Articulando-se esses fatores elabora-se a histria agrria como uma histria econmica e social do mundo rural, focalizando paisagens, ocupao do solo, economia, relaes sociais. No estudo da economia agrcola, deve-se levar em conta alguns fatores. Na esfera da produo: circunstncias ambientais (flora, fauna, relevo, hidrografia, regimes das chuvas e do vento, flutuaes climticas, natureza do solo); e natureza jurdica dos fatores de produo terra, se livre ou vinculada, propriedade de instituio pblica, eclesistica, particular (individual ou coletiva), adquirida por compra, herana ou doao, por arrendamento, aforamento ou posse por herana ou doao sem partilha e/ou demarcao, ou por simples ocupao; o trabalho, se escravo, brecha camponesa pequenos cultivos em quilombos ou em minsculos lotes cedidos a escravos em usufrutos tempo-
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TOSCAS I. SANTAMANS, Eliseu. Los estudios sobre el poder local en Francia rural (ss. XVIII-XIX). Un comentario bibliogrfico. Noticirio sobre Historia Agrria. Murcia, n. 2, p. 113-122, jul./dic., 1991.
rrios e, nos casos de escravos vaqueiros, diminutos criatrios colonato ou meao, trabalho familiar autnomos ou campesinato, assalariamento; do capital, se os recursos financeiros e tecnolgicos, custos da terra, instrumentos de trabalho, sementes, mo-deobra, advieram de investimentos estatais ou privados, coletivos ou individuais. Acrescenta-se, na experincia do Alto Serto da Bahia, durante a colonizao portuguesa, a formao e a consolidao do Estado Nacional no Brasil, a pecuria e a minerao. No mbito da circulao deve-se considerar transportes e comunicaes (caminhos, meios de transporte, possibilidades de contatos internos e exteriores) e dinmica de comercializao (organizao das redes de intercmbio, natureza, volume e valor comercializado, fluxos de compra e venda)88. Neste primeiro item da circulao, devese destacar as circunstncias dos caminhos e sua importncia, onde a navegao fluvial somente se fazia internamente, no Mdio So Francisco; no segundo, as distncias do litoral e dos distritos minerais, onde a circulao de mercadorias e, por conseguinte, a monetria, fazia-se mais amplamente. O volume transportvel por tropas de muares, restringindo a circulao de mercadorias, limitava o aumento da produo. Alm do gado, que se locomovendo, facilitava seu transporte, destacava-se o cultivo de algodo, que alcanava mercados externos. O auto-abastecimento das unidades agrrias minimizava o comrcio de bens importados do exterior e de outras regies. O sal se constitua no produto externo mais comercializado. Examinando separadamente os fatores da economia agrcola pelas suas relaes, que constituem o objeto da histria econmica, Cardoso e Brignoli89 ressaltaram que se deve concentrar esforo na avaliao das trs instncias principais: produo, investigando-se o produto bruto, subtraindo-se os custos das instalaes, sementes, ferramentas, cultivo, colheita ou, pela tica da capacidade produtiva, produtividade, rendimento; distribuio, dependente das relaes de produo e da estrutura de classes sociais no campo, pesquisando-se as receitas dos distintos grupos e segmentos sociais que intervieram no processo produtivo, identificando-se lucro e/ou renda, salrio, retribuio in natura e todas as formas praticadas de remunerao da fora de trabalho; circulao, verificando os intercmbios, de incidncia varivel, conforme as estruturas econmico-sociais, os circuitos comerciais internos e suas conexes inter-regionais, interprovinciais, e internacionais.
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CARDOSO, Ciro Flamarion S. Agricultura,..., p. 14-15; LINHARES, Maria Yedda. Histria Agrria, p. 165-176. 89 CARDOSO, Ciro Flamarion S; BRIGNOLI, Hctor Prez. Op. cit., v. I, p. 48-53.
Para se aproximar o conhecimento histrico de uma estrutura agrria h que se identificar a natureza jurdica do uso da terra, sua evoluo, formas de transmisso da titularidade, outras formas de acesso terra, tamanho das propriedades, rea ocupada, recursos ambientais, infraestrutura produtiva, fora de trabalho, tecnologia, natureza e volume da produo, padro de consumo, circuitos comerciais, sistemas de transportes, fluxos migratrios, hierarquias sociais, relaes de poder. O estudo da ocupao de uma determinada regio ou de uma sociedade em formao deve iniciar pela caracterizao dos primeiros ocupantes, procurando-se conhecer suas origens e possveis motivaes da opo por aquele lugar. Uma histria agrria assim elaborada proporciona ampliao do conhecimento das estruturas scio-econmicas, inclusive redimensionando noes como a de latifndio e minifndio, que se flexibilizam com a intervenincia de vrios fatores, como intensidade da ocupao econmica e dinmica comercial da terra. A historiografia ibrica do sculo XIX, influenciada pela Antiguidade clssica e pelo Renascimento e, desde ento, at meados do XX, pela lgica do fato histrico substituir as experincias, falando por si prprios, como preconizou Leopold von Ranke (1795-1886), com exaltao da unidade nacional, apresentando, por exemplo, os Reis Catlicos como smbolo desta unificao ou fundadores do Estado moderno. Na segunda metade do sculo XX a historiografia dos pases ibricos, principalmente a espanhola, optara por sublinhar as diferenas, chegando, por vezes, a negar a validade ou o interesse de qualquer estudo geral. Deixando de lado a macro abordagem, passara a privilegiar o estudo do regional e, mais ainda, do local, transferindo o enfoque dos mecanismos que conduzem a uma unidade nacional, para realar a permanncia90. Em conseqncia desse processo, na Espanha, a histria agrria uma das reas de conhecimento sobre grupos sociais do passado mais estudadas. Alm de uma revista trimestral Derecho Agrrio y Alimentario , publicada em Madrid, pela Associacin Espaola de Derecho Agrrio, desde 1985 e outra quadrimestral, dedicada aos estudos histricos do mundo rural, a Histria Agrria que j se intitulou Noticirio de Histria Agrria , produzida pelo Seminario de Historia Agrria (SEHA), em colaborao alternada com as universidades de Murcia e de Zaragoza, circulando regularmente, desde 1991, h vrias outras publicaes que veiculam estudos sobre esse tema. Anualmente, a revista Histria Agrria apresenta relaes de ttulos publicados no ano anterior, organizadas por territrios autnomos que, recopiladas numa coletnea, formam a Bi90
RUCQUOI, Adeline. Histria medieval da Pennsula Ibrica. Lisboa: Estampa, 1995, p. 11-13. 1. ed. francesa, 1993.
bliografia de Histria Agrria de Espaa, de cada ano. Em 2000, por exemplo, listaram 651 ttulos de livros, artigos e resumos de tese, apresentados ao pblico em toda a Espanha91. De modo geral, a historiografia espanhola sobre o mundo rural estuda comunidades, desde o feudalismo contemporaneidade da engenharia gentica, em grande parte abordando curtos perodos e apresentando poucas reflexes tericas e metodolgicas. Alm da narrativa minuciosa dos fatos e apresentao de dados quantitativos, alguns trabalhos discutem a natureza das fontes. H obras de macro-abordagens da histria econmica da Espanha e da histria agrria dos povos hispnicos. As que se estendem para o perodo da colonizao da Amrica, abordam, tambm, as questes fundirias e agrcolas no Novo Mundo. Nas ltimas dcadas do sculo XIX produziram-se, na Espanha, muitas teses de doutorado sobre histria agrria, focalizando, quase sempre, os sculos XVIII, XIX e XX, tendo como caracterstica fundamental, a concepo de histria articulada com a idia de progresso, com trs etapas encadeadas: crise do antigo regime, reforma agrria liberal, e revoluo agrcola orientada para a industrializao, como sintetizou Rosa Gongost92. No se discutia a unilateralidade desse modelo que, nas pesquisas de histria regional o estudo das trs etapas substitua o das sociedades histricas. Devido amplitude de cada um desses processos e a necessidade de se apresentar a pesquisa de forma simples e compreensvel, ainda conforme Gongost, com freqncia se deteve apenas em alguns aspectos particulares de cada etapa, acentuando a concepo unilateral do processo histrico. E, desse modo, condicionando a exposio histrica a esse modelo, com a retrica de aparncia complexa do discurso historiogrfico, cheia de frases simples, nas quais os sujeitos no constituem grupos humanos, como: a crise do antigo regime provocou a revoluo liberal; esta o capitalismo agrrio; e este a industrializao. Na Argentina93, durante a primeira metade do sculo XX, produziu-se uma histria econmica com anlise crtica das formas particulares do modelo de crescimento econmico exportador de matrias-primas, de alimentos e importador de manufaturas.
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ZAMBRANA PENEDA, Juan Francisco. (Coord.). Bibliografia de historia agrria de Espaa publicada en 2000. Historia Agrria. Murcia, n. 26, p. 193-223, abr./jun., 2001. 92 CONGOST, Rosa. Algunos problemas de la historiografa agraria espaola contemporanea: reflexiones particulares. In: BJERG, Mara Mnica; REGUERA, Andra (Comp.). Problemas de la historia agrria: nuevos debates y pespectivas de investigacin. Tandil (Argentina): Instituto de Estudios HistoricoSociales, 1995, p. 33-46.
Esta historiografia destacou as conseqncias de longo prazo da concentrao da propriedade e constituio de latifndios improdutivos, inicialmente atribudas massiva e liberal entrega de terras pblicas pelo Estado, em fins do sculo XIX. Nessa etapa se destacariam as obras de M. A. Carcano, de 1917, sobre um sculo de regime de terras pblicas; e J. Oddone, de 1930, focalizando a burguesa terrateniente. Em seguida, a historiografia platina agregara as explicaes institucionalistas, os efeitos negativos da estrutura de propriedade da terra e sua concentrao com os criadores de gado ganaderos processo denominado de estanciamiento. Dessa fase sobressaram-se os estudos de H. Giberti, de 1954 e 1964, a respeito da pecuria e do desenvolvimento agrrio; e de R. Ortiz, de 1955, focalizando a histria econmica da Argentina. De fundamentao marxista, como J. Oddoni, esses autores continuaram atribuindo ao latifndio e s dificuldades de acesso propriedade da terra, assim como o carter feudal do campo argentino, os entraves do desenvolvimento de uma economia autnoma e plenamente capitalista. Esse processo coincidiu com a tese da CEPAL sobre as crises de 1930, que marcou, para a Amrica Latina, o divisor de guas entre a economia primrioexportadora e a industrializao por substituio de importaes, atribuindo-se as demoras na decolagem industrial aos estorvos do passado agrrio. Paralelamente, as teorias desenvolvimentistas sobre o processo de modernizao se ocuparam em determinar a natureza das etapas de crescimento econmico e os fatores impeditivos do desenvolvimento auto-sustentado. Figurariam como principais pensadores desse processo, H. Ferrer, com um estudo da economia platina, de 1963; G. Di Tella e M. Zimelman, que investigaram as etapas do desenvolvimento econmico na Argentina, em 1965. Seguiram-se estudos historiogrficos, exercitando anlises menos generalizadoras e mais complexas, tentando explicar a origem da expanso agrria platina, entre 1880 e 1930, dos quais destacariam os de T. S. Di Tella e T. Halpern Donghi, de 1969, sobre aspectos das relaes de poder; de M. Bejarano, de 1969, abordando os impactos da imigrao sobre as estruturas tradicionais; de E. Gallo, de 1969, versando sobre as transformaes regionais em Santa F; de E. Miguez, de 1986, discorrendo sobre a expanso agrria nos pampas e de 1995, discutindo as mudanas histricas nas estruturas agrrias.
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BANDIERI, Susana; BLANCO, Graciela. La historia agrria argentina en los siglos XIX y XX: una sntese pendiente. Noticirio de Historia Agrria. Murcia, n. 11, p. 133-150, 1996.
Embora a historiografia brasileira, desde as corografias descritivas dos cronistas coloniais, focalize a temtica fundiria, os estudos da propriedade, posse e extrao da renda da terra desenvolveram-se, no Brasil, no curso do sculo XX, em trs etapas distintas: na primeira ainda sem preocupaes tericas e metodolgicas, alm dos recursos da descrio corogrfica, como Felisbello Freire, Baslio de Magalhes, e Lus Amaral94 ou ultrapassando os limites da narrativa e incorporando postulados sociolgicos, como avanou Capistrano de Abreu95 produziram-se estudos da ocupao territorial e apropriao da terra; na segunda, as atenes se voltaram para os fatores jurdicopolticos, com abordagens ideolgicas da propriedade fundiria, das instituies do Estado, da sociedade e do exerccio do poder, como fizeram, por exemplo, Nestor Duarte, Passos Guimares, Nunes Leal, Raymundo Faoro96 e outros; e na terceira caracterizada pela consolidao da pesquisa universitria a elaborao intelectual identificada como histria agrria ganhou, com os estudos de Ciro Cardoso, Yedda Linhares, Teixeira da Silva97 e outros, consistncia terica e metodolgica, com fundamentao epistemolgica da histria econmica e social. Na escrita da histria agrria o principal captulo deve ser o que aborda a estrutura e a dinmica da propriedade territorial98. Desenvolve-se a pesquisa histrica recorrendo-se a documentos, com a utilizao de tcnicas e mtodos mais adequados para o exame deles. Antes da discusso epistemolgica deve-se conhecer a base de dados, evitando-se substituir a formulao de problemas e caracterizao das fontes pela simples descrio delas. Nessa anlise convm distinguir a documentao voluntria e direta das fontes indiretas. Os documentos cartoriais, administrativos, contbeis, eclesisticos, constituem fontes diretas, representaes voluntrias.
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FREIRE, Filisbello. Histria territorial...; MAGALHES, Baslio de. Op. cit; AMARAL, Lus. Histria geral da agricultura brasileira nos trplices aspectos poltico-econmico-social. So Paulo: Nacional, 1939, 1940. (Trs vols.). 95 ABREU, J. Capistrano. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1988, 1. ed. 1899; ________. Captulos de histria colonial: 1500-1800. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira; Braslia: INL, 1976, 1. ed. 1906. 96 DUARTE, Nestor. A ordem privada e a organizao poltica nacional (contribuio sociologia poltica brasileira). So Paulo: Nacional, 1939; GUIMARES, Alberto Passos. Quatro sculos...; LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. 2. ed. So Paulo: Alfa-mega, 1975, 1.ed. 19--; FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formao do patronato poltico brasileiro. 9. ed. Porto Alegre: Globo, 1993, 2 v.,1. ed. 1957. 97 CARDOSO, Ciro Flamarion S. Histria da agricultura e histria regional: perspectivas metodolgicas e linhas de pesquisa. In: ________. Agricultura...; LINHARES, Maria Yedda. Histria Agrria. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. (Orgs.). Op. cit.; LINHARES, Maria Yedda; Francisco Carlos Teixeira da Silva. Histria da agricultura brasileira:... 98 FONSECA, Hlder Adegar. A propriedade da terra em Portugal, 1750-1850: alguns aspectos para uma sntese. In COSTA, Fernando Marques da; DOMINGUES, Francisco Contente; MONTEIRO, Nuno Gonalves. (Orgs.). Do Antigo Regime ao Liberalismo, 1750-1850. Lisboa: Vega, 1989, p. 213-240.
Desde que devidamente localizadas e datadas, as fontes indiretas e involuntrias tambm podem fornecer dados e informaes indispensveis para a investigao histrica. A paisagem agrria, que revela como o homem, nas suas atividades produtivas modifica, consciente e de modo sistemtico, a paisagem natural, pode completar dados escassos da documentao voluntria e formal. Pode-se observar esse tipo de fonte histrica de modo direto, percorrendo a zona objeto de estudo e conhecendo, de forma ampla e profunda os problemas de seus habitantes; ou indiretamente, atravs de documentos, livros e estatsticas que possibilitem distinguir as caractersticas histricas e as transformaes recentes da economia e do grupo social agrrio. O recurso da cartografia imprescindvel. Os mapas oferecem vises do conjunto de um universo agrrio e sua insero regional. Os produzidos pela SUDENE, atravs do projeto RADAN-BRASIL, produzidos a partir de fotografias areas, de vrias dimenses, proporcionam completa visualizao do local e do regional, indicando as intervenes humanas no espao natural. Os monumentos artsticos, fundamentais para estudos de reas urbanas, so raros ou inexistentes no meio rural, falta que se pode suprir com as edificaes de moradia e de servios. As habitaes, o mobilirio e os instrumentos de trabalho e de lazer, bem explorados, constituem eloqentes testemunhos do passado de uma comunidade agrria. Num artigo de 1934, publicado na revista Annales dHistoire conimic et Social, Marc Bloch99 destacou a importncia do conhecimento de pesos e medidas que se usavam na poca estudada, devendo-se apresentar, sempre que possvel, as suas converses para o sistema mtrico decimal. Tambm se considera relevante no estudo da histria agrria o conhecimento dos aspectos geomorfolgicos, climticos, hidrogrficos, demogrficos, culturais. A literatura contos, poesias, cordis, memrias, crnicas, romances, biografias jornais, anotaes domsticas e familiares, notas contbeis, oferecem dados considerveis100. O livro da razo da fazenda Campo Seco, em Brumado, ofereceu a base de um clssico da historiografia sobre o Alto Serto da Bahia101. At da toponmia se extrai informaes sobre o mundo agrrio. Compete ao historiador reunir os dados oferecidos por essas fontes, selecion-los e analis-los com a metodologia que julgar mais adequada para alcanar os objetivos propostos.
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BLOCH, Marc. A terra e seus homens: agricultura e vida rural nos sculos XVII e XVIII. (Org. tienne Bloch). Bauru: EDUSC, 2001, p. 119-122. 100 BARRIOS GARCIA, Angel. Estructuras agrarias y poder en Castilla: el ejemplo de vila (10851320). Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 1983, v. 1, p. 23-47.
Para o produtor imediato, a posse da terra se patenteia uma das condies de produo, a propriedade da terra, a condio mais vantajosa, condio para que seu modo de produo floresa.
A propriedade constitui direito prprio, perptuo e hereditrio de pessoa fsica ou jurdica sobre determinado bem. Caracteriza-se pela legitimidade conferida pela sociedade e legalidade, pelo Estado. O proprietrio pode dispor, alienando, emprestando, transformando, destruindo, consumindo algo da sua propriedade, de modo pleno, sem limites, independente da posse de fato ou qualquer proteo legal desses usos; e reaver de quem ilegalmente o possuir. Esse significado se estendeu, tambm, para poro de terra pertencente a algum, herdade, quinta, fazenda, imvel possudo com exclusividade. Fundamentando a estratificao social, a propriedade pode ser produtiva, geradora de valores de troca ou mercadorias, como a terra, o capital; ou pessoal, constituda apenas de valores de uso, como vesturio, jias, que no se destinam ao mercado. A sua natureza jurdica e a distino dos direitos reais, crditos e da posse, apresentam-se como problemas essenciais da propriedade. Do mesmo modo, questionam-se a quem atribu-la e que bens se apropriar. No curso da histria elegeram-se como principais bens apropriveis, a terra e os outros meios de produo, nas formas: coletiva, pblica, privada e familiar. Thomas Morus (1477/78-1535), na Utopia (1516), preconizou a igualdade de partilha dos bens; e Tommaso Campanella (1568-1639), na Cidade do sol (1620), inspirando-se em Plato (429-347 a.C.), props a comunidade dos bens, mulheres e crianas. At meados do sculo XIX, discutiu-se, fundamentalmente, se a propriedade constitua um direito natural. Nesse processo, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), na Origem da desigualdade (1754), proclamou que os frutos seriam de todos e a terra, de ningum;
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SANTOS FILHO, Lycurgo. Uma comunidade rural do Brasil antigo (aspectos da vida patriarcal no Serto da Bahia nos sculos XVIII e XIX). So Paulo: Nacional, 1956,
Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), em O que a propriedade? (1840), lhe definiu como um roubo. Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) esboaram, no Manifesto comunista (1848), nova contestao do direito de propriedade, desenvolvendo depois, em vrias obras conjuntas e individuais, a idia de socializao dos meios de produo. Na anlise global do sistema capitalista elaborada em O capital, (1867, 1885, 1893), Marx dedicou-se, no volume VI, anotado por Engels, ao estudo da renda fundiria. Engels, em A origem da famlia, da propriedade privada e do Estado (1884), apresentou sua concepo dessas trs categorias, desde a barbrie civilizao. Esses estudos promoveram o debate sobre a origem, o fundamento e a legitimidade da propriedade privada da terra e outros meios de produo, da mesma forma que os modos da sua aquisio e transmisso102. Diferente do conceito de propriedade, o de posse constitui-se na faculdade de manter o poder material, o controle fsico, sobre algum bem, independentemente da legitimidade desse ato. A posse tem carter transitrio porque significa propriedade de fato, no de direito e representa a condio subjetiva da possibilidade de uso. Pode, tambm, resumir-se no direito de usar ou fruir, por algum tempo, um bem de outrem usufruto com reconhecimento jurdico, atravs de contrato formal, como o comodato emprstimo gratuito devendo o bem cedido voltar ao domnio do proprietrio num prazo determinado. Formaliza-se, ainda, com a simples compra de um imvel para uso prprio ou aluguel, registrando-o em nome de um filho, para se evitar custos de futuro inventrio, mas usufruir dele enquanto viver ou desejar. Como exteriorizao do domnio, a posse gera efeitos e conseqncias jurdicas, como a proteo sucessria, que se fundamenta na premissa de que, em se protegendo a posse, favorece-se, alm do seu usufruto, o proprietrio103. Configura, portanto, articulao entre o sujeito que apossa e o objeto apossado ou entre pessoa e coisa, geralmente justificada pelo uso e pode converter-se em propriedade, depois de legitimada socialmente, obtendo at o reconhecimento jurdico, atravs de instrumentos como o usucapio, que se fundamenta na posse continuada, conhecida, sem m f, violncia,
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Abordagens concisas da propriedade encontram-se em: LVY, Jean-Philippe. Histria da propriedade. Lisboa: Estampa, 1973, p. 9-10, 105-110; HEGEDS, Andrs. Propriedade. In: BOTTOMORE, Tom. (Edit.). Dicionrio do pensamento marxista. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988; SANDRONI, Paulo. (Consult.). Dicionrio de Economia. So Paulo: Abril Cultural, 1985. 103 SILVA, Bruno Freire e. Antecipao da tutela nas demandas possessrias de fora velha. Texto indito, com 10 p.
nem contestao que, na maioria dos casos, no Brasil, exigem-se 20 anos, para bens imveis e trs, para mveis104. A propriedade evolura, na concepo de Marx105, a partir das sociedades gentlicas, de hordas nmades, sedentarizando-se com a agricultura e domesticao de animais, utilizando a terra como domnio do grupo social. A propriedade privada limitarse-ia, originalmente, aos utenslios que cada indivduo produzia. As sociedades clnicas pastoracas desenvolveram a propriedade familiar dos rebanhos. A titularidade fundiria surgira como perptua, hereditria e inviolvel, com a organizao jurdico-poltica do Estado, emergindo, tambm, a propriedade do escravo, inicialmente pblica, privatizando-se na seqncia evolutiva. A propriedade da terra sempre se associou ao exerccio do poder. Na descentralizao feudal fundiram-se propriedade e posse, diluindo-se a soberania, embora permanecessem os aldios106 ou propriedade privada, sem restrio, terras sem vnculos feudais. A idia jurdica de propriedade privada livre s aparecera, no mundo antigo, na poca da dissoluo do organismo social e, no moderno, com o desenvolvimento da produo capitalista107. Os estados europeus modernos expandiram a dinmica mercantil conforme as condies scio-econmicas de cada continente. Na frica, onde os grupos sociais encontravam-se em estgio mais complexos de organizao, cujas estruturas econmicas comportavam amplas relaes de troca, estabeleceram feitorias ou entrepostos comerciais. Nas Amricas Central e Andina, onde as possibilidades de negcios no eram to promissoras, atacaram e saquearam as populaes nativas, submetendo-as, apropriandose das suas terras e explorando sua mo-de-obra. Na Amrica portuguesa, habitada por comunidades tribais, sem qualquer perspectiva de se mercadejar, nas propores que a dinmica mercantil intercontinental impunha, estabeleceram-se estruturas produtivas
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Encontram-se conceitos bsicos de usucapio em: BLACHBURN, Simon. Dicionrio Oxford de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997; BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionrio de poltica. 5. ed. Braslia: Edit. da UNB; So Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000. 105 MARX, Karl. Formaes econmicas pr-capitalistas. Introduo Eric Hobsbawm. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981; p. 65-112; BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Op. cit., v. 2, p. 1021-1035; LVY, Jean-Philippe. Op. cit., p. 9-139. 106 O aldio seria a propriedade completa, terra possuda de juro e herdade, em pleno domnio. VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de. Elucidrio. Edio crtica de Mrio Fiza, baseada nos manuscritos e originais do autor. Porto e Lisboa: Civilizao, 1966, v. 1, p. 427. O aldio all od, plena posse incorporou-se ao direito portugus, significando propriedade fundiria livre de aforamento, vnculo e quaisquer direitos senhoriais. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Op. cit., v. 2, p. 1033. O aldio sempre significara o bem familiar, legado pelos antepassados e transmitido por herana. BONNASSIE, Pierre. Vocabulario bsico de la historia medieval. 5. ed. Barcelona: Crtica, 1999, p. 18, 1. ed. francesa Les cinquante mots clefs de lhistria mdivale 1981.
que fornecessem mercadorias tropicais para o intercmbio metropolitano, inserindo-a, desse modo, na economia mundial ou economia-mundo108 que se desenvolvia. Mantido e aperfeioado pelo Estado, o sistema contratual (jurdico), enquanto poder (poltico), repousaria na propriedade privada, a da terra (imobiliria) e a do dinheiro (mobiliria)109. Dito de outro modo, a evoluo mercantil trouxe as sociedades por aes, instituindo a propriedade mobiliria e a transio da manufatura para a maquinofatura, a propriedade industrial, incorporando terrenos, edifcios, instalaes, matrias-primas e mo-de-obra ao capital, forma completa da propriedade privada. A revoluo socialista sovitica, estabelecendo a socializao dos meios de produo, transformou o Estado em gestor de toda a economia. Paralelamente, alguns pases, na prtica da economia de mercado empreenderam, por diferentes razes, a propriedade pblica ou estatal de produo, com o Estado protagonizando a atividade produtiva de alguns bens e servios considerados essenciais. Entretanto, com a nova ordem mundial, decorrente do processo de globalizao econmica, reduziu-se a participao do poder pblico na economia, privatizando-se esses empreendimentos. Quanto renda fundiria, constitui objeto de interesse de estudos econmicos desde os primrdios da atividade intelectual. Focaliza-se a relao entre agricultura e desenvolvimento desde os mercantilistas e fisiocratas. No sculo XVIII, fisiocratas, como Turgot (1729-1781) e Quesnay (1694-1774), contrapondo-se aos mercantilistas e liberais, supunham que se geravam riquezas nacionais, essencialmente, no cultivo da terra. Os impostos rgios ou de outros poderes menores e dzimos da Igreja adviriam, em ltima instncia, da renda da terra. As manufaturas no gerariam riquezas porque apenas transformam os produtos e seria intil a regulamentao das atividades mercantis pelo Estado. Entre os clssicos, David Ricardo (1772-1823) talvez fora quem estabeleceu essa relao de forma mais precisa, embora ele se preocupasse com as articulaes entre o crescimento populacional, uma agricultura tecnologicamente estacionria e uma indstria em crescimento110. Para ele, o volume da produo dependeria da quantidade
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MARX, Karl. O capital (crtica da economia poltica). Converso do lucro suplementar em renda da terra. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, [197-], v. 6, l. 3, p. 707, 1. ed. alem, 1894. 108 BRAUDEL, Fernand. Civilizao material, economia e capitalismo: sculos XV-XVIII. So Paulo: Martins Fontes, 1996, v. 3. 109 LEFEBVRE, Henri. A cidade do capital. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 138. 110 ALBUQUERQUE, Marcos Cintra Cavalcante de; NICOL, Robert. Economia agrcola: o setor primrio e a evoluo da economia brasileira. So Paulo: McGraw-Hill, 1987, p. 4.
de recursos naturais explorados e de mo-de-obra empregada. Quanto maior o volume do capital aplicado, tanto superior a produo. A moderna propriedade privada da terra se apresentava, para Marx111, como a forma histrica especfica de propriedade fundiria em que se transformara, por influncia do capital e do modo capitalista de produo, a propriedade fundiria feudal ou a pequena economia camponesa de subsistncia, de modo que, para o produtor imediato, a posse da terra configuraria uma das condies de produo; a propriedade, a condio mais vantajosa para o desenvolvimento do capital. Ricardo relacionara a renda com o aumento da populao, o que exigiria o cultivo das terras menos frteis por custo de produo mais elevado que nas mais frteis, devendo, custos e lucros serem mantidos no mesmo nvel nos dois casos, para se evitar o abandono das terras de pior qualidade. Entretanto, Sandroni112 considerou que os arrendatrios das melhores terras teriam, no final, maior receita, independente do trabalho e do capital aplicados na produo. Esse excedente constituiria a renda da terra apropriada pelo proprietrio. Desse modo, a renda de determinada terra seria a diferena entre os valores das colheitas dessa rea frtil e das outras menos produtivas. E o inevitvel crescimento da renda diferencial da terra possibilitaria aos proprietrios rurais se apossarem de maior percentual do excedente econmico, em detrimento dos capitalistas. Marx apoiara-se nas teses de Ricardo para formular sua teoria da renda da terra como a forma econmica das relaes de classe com a terra113. Para Marx a renda da terra no se confunde com a propriedade do solo, embora possa se afetar pelas variaes da qualidade e da disponibilidade das terras. Seria como uma propriedade das relaes sociais. A renda fundiria s poderia, de acordo com Marx114, desenvolver-se como renda monetria no sistema de produo de mercadorias, expandindo-se na proporo em que a produo agrcola se torna produo de mercadorias, que classificou a renda da terra como diferencial e absoluta. A primeira resultaria de fatores como localizao, fertilidade do solo natural ou obtida com adubao, irrigao tecnologia que proporcione aumento de produtividade, gerando retornos diferentes para idnticos investimentos de capital na agricultura.
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MARX, Karl. O capital..., v. 6, l. 3, p. 705-706. SANDRONI, Paulo. (Consult.). Op. cit., p. 380. 113 FINE, Ben. Propriedade fundiria e renda da terra. In: BOTTOMORE, Tom. (Edit.). Op. cit., p. 305306. 114 MARX, Karl. O capital..., v. 6, l. 3, p. 731. Sobre renda diferencial e absoluta, ver p. 734-919.
Na proporo em que a propriedade fundiria bloqueia o acesso do capital terra limita o desenvolvimento agrcola, inibindo a capacidade de produo de excedentes. A renda absoluta deriva de concorrncia entre setores da economia, na formao do valor e dos preos de produo, enquanto a renda diferencial resulta de competio interna do setor agrrio. A propriedade feudal dava direitos por certo limitados sobre a terra e sobre a pessoa do campons e, ao mesmo tempo, sobre seu produto. Na transio para o capitalismo a dominao sobre a pessoa e a exao ou extorso consuetudinria sobre o produto desapareceram, sobressaindo a propriedade absoluta sobre a terra, quer dizer, o monoplio de sua disposio. Na economia agrria de transio para o capitalismo, ainda conforme Vilar, o trabalhador proprietrio delibera sobre o qu e como fazer, sem jornada de trabalho definida, mas, geralmente, excessiva. Sua remunerao corresponde, no essencial, ao auto-consumo familiar. Seria a auto-suficincia ou quase isto, variando conforme o nvel financeiro de cada um. Quando um indivduo do grupo familiar procura trabalho assalariado fora dele, como diarista, demonstra a insuficincia da renda familiar, indicando o fim da autonomia do grupo. E, na proporo em que o trabalhador rural funde em si fora de trabalho e propriedade dos meios de produo terra, instrumentos de trabalho, sementes, recursos financeiros deixa de corresponder ao modelo capitalista. Contudo, mantm-se vinculado ao circuito do capital, comprando insumos e instrumentos de trabalho ou comercializando o pequeno excedente produzido. Andr Gunder Frank considerou capitalista a sociedade colonial espanhola e, por extenso, a da Amrica portuguesa, porque as colnias se exploravam desde o princpio, com vistas para os interesses do grande comrcio internacional, enquanto outros defenderam a existncia de feudalismo na Amrica ibrica115. No capitalismo, a extrao da renda da terra pressupe que o proprietrio arrende sua terra por determinado preo anual; que o arrendatrio, dispondo de algum recurso financeiro, promova sua explorao, pagando arrendamento ao proprietrio; e que o trabalhador agrcola venda sua fora de trabalho ao arrendatrio no uso da terra como meio de produo, que gera a renda, completando o circuito do capital agrrio.
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No Alto Serto da Bahia, conquistado de povos indgenas, no final do sculo XVII, e transferido em sucesso hereditria encadeamento no qual se legitimou a posse, legalizando a propriedade, sem as formalidades das cartas de doao e confirmao de sesmarias previstas na legislao Portuguesa com a propriedade monopolizada at que se transferisse em parcelas a quem pretendesse, no incio do sculo XIX, o trabalhador, para cultivar uma gleba teria que arrend-la ou vender sua fora de trabalho para os rendeiros. A posse, resultante da apropriao, sem a titularidade formal, de um trecho de cho, assegurava a possibilidade de faz-lo produzir. Desse modo, contingentes de despossdos dos meios necessrios para a produo da subsistncia, passaram a se apossar de glebas ermas. Fazendo valer seu direito de propriedade, a Casa da Ponte, no final do sculo XVIII e incio do XIX, legalizou todas as terras, exploradas ou no, com arrendamentos e vendas facilitadas com pagamentos parcelados. Quando se promoveu o primeiro senso fundirio brasileiro, determinado pelo decreto que regulamentou a Lei das Terras de 1850, nada mais havia das vastides fundirias dos Guedes de Brito, transferidas para a casa nobilirquica portuguesa, que tudo comercializara, restando delas apenas narrativas fantsticas, produzidas pelo imaginrio popular. Nessa regio se empreendeu a explorao da terra com a pecuria extensiva e policulturas agrcolas, empregando mo-de-obra escrava, paralelamente ao trabalho assalariado diarista, meao e, em maior escala, atividade familiar autnoma. As circunstncias da concentrao populacional nas minas do rio das Velhas e Minas Novas ao sul e do rio de Contas, ao norte, com o declnio da produo aurfera, ainda na primeira metade do sculo XVIII, proporcionaram disponibilidade de mo-de-obra livre, permitindo essa coexistncia de diferentes foras de trabalho. Essa sociedade desenvolveu uma economia agrria, por um lado, com as policulturas de auto-abastecimento, das quais se comercializavam excedentes que, no caso do algodo, exportaram-se para a Inglaterra, desde a segunda metade do sculo XVIII; por outro, com a pecuria em larga escala nas grandes propriedades e criatrios diminutos nas pequenas, destinados prioritariamente para o mercado litorneo e das minas, indo o couro, em larga proporo, para o mercado externo.
- Mandas-me, Rei, que conte declarando De minha gente a gro genealogia; No me mandas contar estranha histria, Mas mandas-me louvar dos meus a glria.
As historiografias sobre Portugal e Espanha produzidas pelos seus historiadores exploram mais a narrativa que a interpretao, dedicando especial ateno a temas como: reconquista do territrio peninsular do domnio rabe, formao do Estado Nacional portugus, unificao espanhola com a conquista de vrios reinos por Castela e o casamento dos Reis Catlicos de Arago e Castela, descobrimentos da transio do sculo XV e respectivos imprios ultramarinos. J os historiadores da Amrica Latina116 procuram exercitar um pouco mais a crtica dos fatos, sobretudo em se tratando de matrias como: colonizao, tratamento dispensado pelos colonizadores s populaes nativas, escravido e, em particular no Brasil, tese de que seria um alongamento da civilizao branca e das culturas ibricas. Isto por entender-se que tambm se assimilou elementos tnicos e valores culturais africanos, indgena e, em menor escala, italianos, alemes e de outras nacionalidades, das quais recebeu fluxos e de imigrantes. Em todos os pases latino-americanos se engendraram, a partir de fatores multitnicos e valores plurais, novas culturas hbridas, com caractersticas peculiares, construindo suas prprias histrias, sem reproduzir, continuar ou seguir outras tradies, nem ignorar o passado comum, de conquista, ocupao e explorao colonial pelas metrpoles mercantilistas ibricas.
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A denominao de Amrica Latina para os pases americanos de idiomas derivados do latim foi proposta em 1856, pelo colombiano Jos Maria Torres Caicedo, conforme BULMER-THOMAS, Victor. La historia econmica de Amrica Latina desde la independencia. Mxico: Fundo de Cultura Econmica, 1998, p. 11.
A Espanha liberal, na segunda metade do sculo XIX, observou Prez Garzn117, organizou a histria como um saber nacional, com uma vinculao genrica ao projeto de nao, promovido a partir do prprio Estado, desenvolvendo o discurso coerente de uma histria da Espanha concebida como histria nacional unitria, ainda prevalecente na atualidade. O arcabouo desse paradigma fora o relato dos autores e acontecimentos que protagonizaram a Revoluo Liberal, que se apresentava como o lgico desenlace de uma soberania nacional oprimida ou o relatrio final de longos sculos de gestao da unidade da Espanha. Construda deste modo, a histria no poderia comear a partir do momento em que a Espanha se organizava como Estado-nao porque ento se negaria a si mesma como nao atemporal; nem poderia omitir o relato do momento em que culminava tal processo histrico. A construo do correspondente discurso histrico sobre os tempos imemorveis em que arraigava ontologicamente a nao seria to importante para a gesto da memria, como a revoluo que expressava, no final, a definitiva soberania dessa mesma nao. A historiografia espanhola, com tradio em crnicas oficiais como a portuguesa, referenciou-se, por mais de dois sculos, na Historia General de Espaa (1601), do jesuta Juan de Mariana (1536-1623), uma obra de carter enciclopdico que, refletindo sobre o passado da idia de Espanha, recuperando crnicas e relatos anteriores, pretendeu sustentar uma idia real da entidade de Espanha em relao com o conjunto de outros reinos da cristandade118. Em meados do sculo XIX essa elaborao histrica passou a influenciar-se mais pelas idias do tambm sacerdote, Modesto Lafuente y Zamalloa (1806-1866), pioneiro da histria liberal, concebendo a Espanha como nao unitria. Repelindo conceitos liberais, mas mantendo a concepo de histria como saber nacional do estado unitrio, Jos Mara Pman (1898-1981), no primeiro volume de La historia de Espaa contada con sencillez, de 1939, apresentou a vida espanhola como um drama em trs atos, iniciado com a Espanha, formando-se como uma ptria, vencendo, para isto, divises internas e invases de fora, at os Reis Catlicos, no sculo XV; no segundo ato esta unidade, j forte e segura de si mesma se exibe e estende-se pelo mundo; no terceiro, tem que defender essa unidade e grandeza sculos XVIII,
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PREZ GARZN, Juan Sizinio. Nacin espaola y Revolucin Liberal: la perspectiva historiogrfica de los coetneos. In: FORCADELI, Carlos; PEIR, Igncio (Coord.). Op. cit., p. 23-54.
XIX e XX lutando contra a revoluo religiosa e tambm combatendo a revoluo vermelha, primeiro poltica e no fim social. O nacional-catolicismo que fundamentou as ditaduras de Antnio de Oliveira Salazar, em Portugal (1926/33-1974) e de Francisco Bahamonde Franco, na Espanha (1936/39-1975), como avaliou o historiador espanhol Fernando Wulff119, no prescindia da histria. Nesse corolrio, alm da soberania popular, identifica-se a essncia ptria atemporal nas construes que amparavam seus interesses concretos e que haviam de lla no passado. Buscou-se, pois, nas epopias desse passado, ilustrar uma histria apotetica e exemplar. Esse nacional-catolicismo repetia, de modo prprio, remotos antecedentes histricos, como a radicalidade crist dos visigodos, que dominaram a Pennsula Ibrica, do sculo V ao VII; a afirmao catlica durante a resistncia ao domnio islmico na Espanha e em Portugal, de 711 a 1492; a severidade da Inquisio na caa s bruxas e na represso aos cultos muulmanos, judeus, protestantes e tantos quantos no acatassem o catecismo do Conclio de Trento (1545-1563). Ao comandar a Guerra Civil (19361939), em nombre de Dios e de Espaa e fazer-se caudillo de Espaa por la gracia de Dios, Franco associou estado e religio catlica, procurando banir do territrio espanhol os postulados liberais, como j fazia Salazar, em Portugal. Nesse processo, nos sculos XIX e XX, a historiografia espanhola salvo raras excees , teria perspectiva tradicionalista, caracterizando-se como ultranacionalista, antiliberal, catlica e monrquica120, atributos que se poderiam estender portuguesa, com poucas ressalvas. Somente nos ltimos anos do sculo XX, com a democratizao oportunizou-se o desenvolvimento, em Portugal e Espanha, da livre crtica interpretativa. Na elaborao intelectual sobre a Amrica Latina sobressaem-se dois tipos de anlise. Um de inspirao marxista, busca adotar um carter metodolgico de tipo universal, oposto aos pontos de vista nacionais. A partir de 1986-1987, a Perestroika, que desarticulou o socialismo real no Leste Europeu, desenvolvendo o estado de nimos que se denominou de crise de paradigmas. O outro tipo de produo historiogrfica, predominante nos pases de lngua inglesa e, em menor grau, no resto do mundo ocidental focaliza o progresso cujas origens se encontram em Quadro Histrico dos Progressos
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ALVAR, Jaime (Dir.). Diccionario Espasa: Historia de Espaa y Amrica. Madrid: Calpe, 2002, p. 729. 119 WULFF, Fernando. Las esencias patrias: historiografia y historia antigua en la construccin de la identidad espaola (siglos XVI-XX). Barcelona: Crtica, 2003, p. 228.
do Esprito Humano (1794), de Condorcet (1743-1794) e baseia-se no sucesso econmico dos Estados Unidos, manifestando-se na convico de que o desenvolvimento resolveria todos os problemas econmicos, sociais e polticos da Amrica Latina. A evoluo da pesquisa histrica estadunidense no campo das cincias sociais diversificou e enriqueceu a viso que se tinha da histria latino-americana dos sculos XIX e XX. Essa anlise seria menos presa a conceitos e mais centrada nos fatos; em suma, mais pragmtica e emprica que o enfoque latino. Na atualidade se caracteriza pelo otimismo, confiana nas aes humanas e nos esforos para superar os obstculos ao progresso. Estas duas linhas interpretativas convergiram, depois da Segunda Guerra Mundial, para a histria socioeconmica; uma pela vertente do materialismo histrico e a outra pelo tradicional interesse dos norte-americanos por temas econmicos. Um estudioso da histria agrria em Portugal121 destacou como caracterstica estrutural das sociedades europias em geral e da Pennsula Ibrica no particular, a associao entre a posse da terra, a riqueza e o poder, porque uma das prticas econmicas mais lucrativas entre elas sempre foi o investimento fundirio. Apesar disto, a historiografia portuguesa no se dedicou tanto histria agrria como a espanhola. Para Harold Johnson122, talvez porque o projeto de navegao do infante D. Henrique constitura uma faceta mais interessante para a cultura portuguesa do que a prtica de camponeses rudes e analfabetos. O estudo da propriedade fundiria, da definio do poder poltico e das transies institucionais, tanto em Portugal como na Espanha, pelas origens comuns e evoluo paralela, possibilita a utilizao do mtodo comparativo para se confrontar as prticas jurdicas e polticas dos dois pases, conhecer as identidades e dessemelhanas, e averiguar facetas do desenvolvimento anlogo e da gnese idntica deles. O mesmo procedimento metodolgico pode-se repetir para a Amrica Latina depois das independncias nacionais, tanto na relao dos novos pases entre si, como na comparao destes com as antigas metrpoles ibricas. Nessas circunstncias, Franois Chevalier123 recomendou, antes de tudo, ruptura de barreiras entre as histrias nacionais e abertura dos historiadores para disciplinas
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PASAMAR, Gonzalo; PEIR, Igncio. Historiografia y prtica social en Espaa. Zaragoza: Universidad de Zaragoza, 1987, p. 78-79. 121 FONSECA, Hlder Adegar. Op. cit., p. 213. 122 JOHNSON, Harold. Camponeses e colonizadores: estudos de histria luso-brasileira. Lisboa: Estampa, 1997, p. 75. 123 CHEVALIER, Franois. Amrica Latina: de la independencia a nuestros das. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1999, p. 97-117; 118-146, 1. ed. francesa, 1977.
como demografia, economia, antropologia. Seriam condies essenciais para a investigao da histria da Amrica Latina a comparao de estatsticas nacionais e de fatos histricos significativos para se reunir informaes que permitam a formulao de hipteses de trabalho, ponto de partida para a produo do conhecimento histrico. A confrontao dos eventos nacionais com os acontecimentos mundiais revela correlaes evidentes e possveis da histria econmica. O recurso da comparao na pesquisa histrica da Amrica Latina se faz necessrio pela existncia de 25 repblicas com a maior parte originria da mesma metrpole e falando a mesma lngua, constituindo-se um laboratrio nico no mundo para esse gnero de investigao. No Brasil se distinguem trs tipos de historiografia sobre apropriao de terras atravs do sistema de sesmarias, correspondentes s pocas da elaborao e, por conseguinte, evoluo dos recursos tericos e metodolgicos ou aos propsitos de publicao: no primeiro renem-se trabalhos que se limitaram a transcries de textos legais e descries de cartas de concesso de terras, sem contextualizao social ou econmica124; no segundo aglutinam-se estudos que focalizam, aspectos jurdicos, destacando o predomnio do latifndio, alguns ignorando sua relatividade s pocas e regies, conforme a densidade populacional e o interesse social no uso do solo125; no terceiro selecionam-se da historiografia recente algumas teses universitrias e textos resultantes de pesquisas temticas, embasados em metodologias e postulados novos, com diferentes abordagens da apropriao de terras durante a colonizao portuguesa126. Palmilhando-se por essas trilhas metodolgicas e considerando-se essa evoluo historiogrfica, este captulo pretende abordar as formas jurdicas de apropriao da
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Nesse tipo enquadram-se: CASTRO, Fernando Jos de Portugal e, (marqus de Aguiar). (Autor presumvel). Fragmentos de uma memria sobre sesmarias na Bahia (h vrias edies, ver, p. ex., VASCONCELOS, J. M. P. de. Excertos do livro das terras. 3. ed. Seleo de WEIGAND, Vera Maria. Salvador: EGBA, 1989, 1. ed. 1856; FREIRE, Felisbello. Op. cit.; BRASIL. Instituto do Acar e do lcool. Documentos para a histria do acar. Rio de Janeiro: IAA. Servio Especial de Documentao Histrica, 1954, v. I; MELLO, Jos Antnio Gonalves de; ALBUQUERQUE, Cleonir Xavier de. Cartas de Duarte Coelho a El Rei. 2 ed. Recife: FUNDAJ e Massangana, 1997. 125 Desse modelo ressaltam-se: MAGALHES, Baslio de. Op. cit.; LIMA, Ruy Cirne. Pequena histria territorial do Brasil: sesmarias e terras devolutas. 5. ed. So Paulo: Secretaria do Estado da Cultura, 1990, 5. ed.;FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formao do patronato poltico brasileiro. Porto Alegre: Globo, 1957 2 v.; COSTA FILHO, Miguel. Dois sculos de um latifndio. Rio de Janeiro: Livraria So Jos e Departamento de Imprensa Nacional, 1958. (Separata da Revista do IHGB, v. 241); GUIMARES, Alberto Passos. Op. cit.; PORTO, [Jos] Costa. Estudo sobre o sistema sesmarial. Recife: Imprensa Universitria, 1965; ou: ________. O sistema sesmarial no Brasil. Braslia: Editora da UNB, [197-]. 126 Desse gnero destacam-se: SMITH, Roberto. Op. cit.; SILVA, Lgia Osrio. Terras devolutas e latifndio: os efeitos da lei de 1850. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996; MOTTA, Mrcia Maria Menendes. Nas fronteiras do poder: conflitos de terras e direito agrrio no Brasil de meados do sculo XIX. Rio de Janeiro: Vcio de Leitura e Arquivo Pblico do Estado do Rio de Janeiro, 1998.
terra e as condies da sua explorao, tanto na Pennsula Ibrica, durante a transio do sistema feudal para a Modernidade do Antigo Regime e, na primeira metade do sculo XIX, para os sistemas constitucionais subseqentes das revolues liberais; como na Amrica ibrica, durante a colonizao e aps as independncias nacionais, consolidadas com as reforma liberais da segunda metade desse mesmo sculo. Na primeira parte procura-se focalizar o direito agrrio de Portugal e Espanha desde o feudalismo acumulao mercantil; na segunda, o arcabouo da colonizao do Novo Mundo, com o poder poltico e o controle social emanados da propriedade fundiria; em seguida, tenta-se traar o perfil das estruturas agrrias ibricas, esboadas pelas revolues liberais da primeira metade do sculo XIX; finalmente, procura-se identificar e caracterizar os traos essenciais das formas de propriedade da terra consolidadas na Amrica Latina aps a formao dos estados nacionais e as reformas liberais de meados do sculo XIX. Sem pretender ser exaustivo, estas incurses comparativas no direito agrrio de Portugal e no de Espanha, com origens comuns e evolues paralelas muito prximas, devem-se necessidade do conhecimento das razes histricas do direito de propriedade estabelecido pela colonizao portuguesa. No tocante Amrica Latina, trata-se da formao de Estados nacionais paralela do Brasil, compartilhando da mesma conjuntura scio-econmica e de influncias jurdico-polticas semelhantes. Seria difcil compreender as conquistas e ocupaes territoriais de Antnio Guedes de Brito no Alto Serto da Bahia e seu entorno sem situalas no universo das suas tradies jurdicas e de seus referenciais sobre as relaes entre o Estado e a sociedade, numa poca em que apenas se esboavam, manifestando-se atravs da propriedade da terra e do poder monrquico absoluto.
Um Rei, por nome Afonso, foi na Espanha, Que fez aos Sarracenos tanta guerra, Que, por armas sanguinas, fora e manha, A muitos fez perder a vida e a terra.
Toda a colonizao medieval se orientou, na Pennsula Ibrica, conforme Virgnia Rau127, para facilitar o uso e a posse da terra, concedendo-se privilgios a colonos e promovendo-se emancipao social de parcelas dos segmentos inferiores, desenvolvendo, assim, um regime feudal atpico. Para Armando Castro128, esse sistema econmico vigorara no territrio portugus desde antes da prpria formao da nacionalidade at o ltimo quartel do sculo XV. Historiadores como Alexandre Herculano e Gama Barros em Portugal; Toms Mu-s y Romero e Francisco de Crdenas, na Espanha negaram a existncia de regime feudal na Pennsula Ibrica. Contudo, predominam, atualmente, opinies como as de Cardoso e Brignoli129, segundo as quais, salvo na Catalunha, s se deu um feudalismo incompleto. Isto seria em conseqncia da concepo de feudalismo como um regime poltico caracterizado pela disperso da autoridade, justaposio de pequenos principados, atomizao de poderes que, em geral, so atribudos a um Estado centralizado; e uma sociedade, na qual, em conseqncia desses traos jurdico-polticos, os vnculos privados vassalagem, contrato de feudo, etc. jogaram um papel essencial, separando, desse modo, as noes de feudalismo e de regime senhorial. O primeiro seria, exclusivamente, europeu e medieval; o segundo existira em outras partes do mundo e em diferentes perodos. Desta ltima perspectiva compartilha Slicher van Bath130, para quem o sistema de domnio senhorial desenvolveu-se apenas em determinadas partes da Europa ocidental, proporcionando rendas aos senhores, numa sociedade de escassa circulao monetria, obrigando os servos a prestarem servios como trabalhar a terra senhorial ou fornecer produtos e at efetuar pagamentos em dinheiro. Posicionando-se contrria tese de feudalismo na Pennsula Ibrica e favorvel de senhorio dominical, que tenderia a se transformar em senhorio jurisdicional, Eullia Lobo131 ressaltou que os monarcas de Leo e Castela passaram a conceder amplas imunidades aos senhores nobres e eclesisticos, aos mosteiros, abadias, ordens de cavalaria, etc., a partir de meados do sculo XI. Essas cartas de imunidades teriam transfe-
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RAU, Virgnia. Sesmarias medievais portuguesas. 3. ed. Lisboa: Presena, 1982, p. 28, 1. ed. 1946. CASTRO, Armando. Histria econmica de Portugal. Lisboa: Caminho, 1981, v. 2, p. 345. 129 CARDOSO, Ciro Flamarion S.; BRIGNOLI, Hctor Prez. Op. cit., 108-109. 130 BATH, Bernard H. Slicher van. Histria agrria da Europa ocidental (500-1850). Lisboa: Presena, 1984, p. 58-78. 131 LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. Processo administrativo ibero-americano (aspectos scioeconmicos perodo colonial). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito, 1962, p. 27-28.
rido, em grande parte, os poderes estatais para o senhor e isentava a terra da autoridade rgia. Caracterizando as relaes feudais como organizao poltica dominada pelo lao vassaltico e outorga aos grandes senhores, de extensos poderes majestticos, Vasconcelos de Saldanha132 considerou que Portugal no vivera essa condio, mas o regime senhorial caracterizado por um conjunto de direitos do senhorio territorial, como as imunidades porque l no ocorrera, em alto grau, a pulverizao, no topo, do poder poltico, embora fosse extensa a vigncia dos laos de subordinao jurdico-poltica dos indivduos. Por esta concepo, entre os povos ibricos o regime senhorial no alcanara o mesmo grau que na Frana, onde a realeza fora apenas nome e tradio e os dois processos coexistiram amalgamados e numa estreita interdependncia. Pela tica do materialismo histrico o feudalismo, como modo de produo, ainda que tardio, se instituiu na Pennsula Ibrica, comportando peculiaridades em conseqncia, dentre outros fatores, da reconquista. Em outras regies da Europa o feudalismo estruturou-se em finais do sculo IX, com a fragmentao dos poderes centrais, em decorrncia das disputas regionais, no final do imprio de Carlos Magno e do caos estabelecido pelas invases normandas, sarracenas e hngaras. E desarticulou-se conforme os fluxos e refluxos da guerra contra os mouros na Pennsula. Desde os reinos visigodos de Tolosa (Toulouse) e Toledo, nos sculos VI e VII, nas expresses de Barbero e Vigil133, generalizaram-se as relaes de dependncia pessoal, baseadas na propriedade da terra, com o campesinato dependente, vinculado a ela, estendendo-se essas relaes para todos os nveis da organizao social. Desse modo, os pressupostos econmicos para a formao de uma sociedade enfeudalizada estariam j estabelecidos. Entre os visigodos o aparelho militar articulava-se com a organizao poltica. Cristianizando-se, mantiveram a tradio guerreira, numa sociedade em que a prestao dos servios, militar e religioso, implicava na entrega de bens, especialmente terra, e nas obrigaes de fidelidade resultantes das relaes de dependncia pessoal. Esboaram-se, desde ento, na Pennsula Ibrica, os elementos fundamentais da origem
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SALDANHA, Antnio Vasconcelos de. Op. cit., p. 52-52. BARBERO, Ablio; VIGIL, Marcelo. La formacin del feudalismo en la Pennsula Ibrica. 4. ed. Barcelona: Crtica, 1986, p. 40-41; 157-158, l. ed. 1978.
do feudalismo, como a prestao do servio militar relacionada ao desenvolvimento da cavalaria e ideologia religiosa. O direito de propriedade feudal se formou na Espanha, sobressaindo duas instituies jurdico-polticas essenciais: amortizacin e mayorazgo; e vrias complementares: senhorio, contratos agrrios, censos, mesta, fiscalidad e outras. As amortizaciones constituam-se propriedades imobilirias da nobreza (bens vinculados) ou do clero (mos mortas), freqentes at meado do sculo XIX. O mayorazgo, correspondente ao morgado portugus, vinculava a propriedade da terra ao primognito de famlias nobres, tornando-a inalienvel, transfervel apenas pelo princpio da primogenitura. As grandes propriedades concentravam-se, em poder de instituies religiosas, da nobreza, da coroa e de pueblos ou comunas. O senhorio e as jurisdies senhoriais articulavam-se, mesclando elementos do direito privado e do pblico, distribuindo o poder poltico por inmeros senhores, destacando-se o rei que, no princpio usava plena autoridade nos realengos e na evoluo a estendeu aos senhorios. Os senhores possuam jurisdies sobre os camponeses assentados em suas terras, que pagavam por isto, e at sobre os que viviam em terras prprias, dedicados a atividades no agrrias. Os diferentes contratos agrrios especificavam as relaes entre os participantes da explorao da terra e repartio das rendas, como um parcelamento do direito de propriedade, que condicionava, com outras variveis como mercado, produo e distribuio da renda, arrendamentos e parcerias. Usuais em toda a pennsula, inclusive em fazendas pblicas, os arrendamentos livravam os titulares da organizao dos servios, assegurando-lhes renda certa. Os contratos agrrios estabeleciam suas duraes e riscos. Atravs da parceria de escassos vestgios, porque geralmente resultavam de contratos verbais variveis proprietrios e camponeses combinavam as respectivas ofertas de terra e trabalho, definindo a participao de cada um no custo de sementes, ferramentas, animais e na cotizao das colheitas. Os censos constituam-se instrumentos jurdicos, cujas formas diversificavam-se conforme os costumes de cada grupo social. Os sensos enfituticos (arrendamento perptuo), reservativos (transmisso dos domnios til e direto da propriedade plena, reservando-se o pagamento de penso em dinheiro ou frutos) e foros (arrendamento temporrio, de longa durao, que se estendia por uma, duas ou trs geraes), tinham o objetivo de assentar pessoas em terras ou casas.
Os sensos consignativos (redimveis) constituam-se emprstimos de recursos financeiros, liberados pela Igreja, que condenava o juro como usura. Alm de significar penso anual paga ao senhorio por um imvel, denominava-se tambm de censo o tributo ou rendimento coletvel, geralmente com hipoteca de algum bem de raiz, anotado no libro de pecheria ou registro de recenseamento tributrio. A Mesta ou associao de pecuaristas desenvolveu-se a partir de Afonso X, de Castela (1252-1284), com a formao do Honrado Consejo de la Mesta, em 1273, aglutinando ganadeiros ou criadores de gado, no princpio, grandes, mdios e pequenos criadores de ovinos, com domnio e influncia total dos primeiros; passando, nas mesmas circunstncias, para reunir os criadores de bovinos, com vrios privilgios. A ganadera ou pecuria, de longa tradio na Pennsula Ibrica, tornou-se atividade econmica fundamental durante a reconquista, com maior intensidade em reas de fronteiras, por se locomover conforme os avanos e recuos dos exrcitos134. Outra instituio de exerccio do domnio senhorial baixo-medieval ibrico, a behetra, surgiu em Castela, no sculo XIII, para designar o campons livre, que podia eleger o senhor, obrigando-se a lhe prestar fidelidade, obedincia e determinados servios ou pagamentos em troca da sua proteo. Em 1454 D. Juan II concedeu, como privilgio, o direito de pueblos elegerem seus administradores, proibindo os cavaleiros, escudeiros e fidalgos de habitarem nessas povoaes e de possurem nelas qualquer tipo de herdade, propriedade rstica ou herana. A behetria ou beetria castelhana estendeu-se, como a maioria das instituies feudais ibricas, ao territrio portugus, constituindo-se, do mesmo modo, no direito resultante de ato voluntrio dos moradores livres de uma comunidade se submeterem proteo de um senhor que escolhesse135. Pedro de Azevedo136 definiu a sociedade medieval lusitana como feudal, porque se caracterizaria como predominante rural, encadeada por dependncias entre pessoas e estratos sociais e se constituiria de senhores e camponeses. Nessas circunstncias, os
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Ver: PESET, Mariano. Propiedad y lagislacin: los derechos de propriedad desde el Antiguo Rgimen a la Revolucin Liberal. In ________. Dos ensayos sobre la historia de la propriedad de la tierra. Madrid: Editorial Revista de Derecho Privado; Editoriales de Derecho Reunidas, 1982, p. 17-154; CHORD, Frederic; MARTN, Teodoro; RIVERO, Isabel. Diccionario de trninos histricos y afines. Madrid: Istimo, 2000, p. 157; 135 VITERBO, Joaquim de Santa Rosa. Op. cit., v. 2, p. 26; CHORD, Frederic; MARTN, Teodoro; RIVERO, Isabel. Op. cit., p. 37; OLIVA HERRER, Hiplito Rafael. La tierra de Campos a fines de la Edad Media: economa, sociedad y accin poltica campesina. Valladolid: Universidad de Valladolid, Secretariado de Publicaciones e Intercambio Editorial, 2002, p. 143. 136 Ver: REIS, Antnio Carmo. Nova histria de Portugal. Lisboa: Notcias, 1990, p. 39.
territrios conquistados ou abandonados e os baldios caberiam ao soberano, por direito de conquista137. Esse privilgio real, denominado reguengo, uma instituio que vigorou em Portugal, desde o incio da reconquista crist do domnio islmico, s reformas liberais do incio do sculo XIX, materializava-se em bens patrimoniais dos reis terras, prdios, oficinas, instalaes de produo, estabelecimentos comerciais, mercados que os arrendavam. No se confundia com os rendimentos pblicos. Caracterizava-se como fonte de renda pessoal dos monarcas, que transferiam partes para recompensar servios prestados ou para contornar dificuldades de defesa ou cultivo. Os reguengos coexistiram, em Portugal, com vrias outras instituies ou circunscries de privilgios feudais: concelho ou concelho de foral, junta da cmera e homens-bons138 que deliberavam conforme determinao dos respectivos forais; couto, parcela de uma herdade ou poro de terra doada pelo rei a um senhorio, nas quais, alm de se vetar o acesso a funcionrios rgios, os titulares gozavam de regalias, como o usufruto dos direitos da coroa sobre os habitantes e outros poderes senhoriais; honras, imunidades de rendas ou concesses reais de determinados rendimentos, de uma cidade, vila ou castelo, por serem senhorios de nobres de antiga linhagem; julgado, concelho, terra ou termo com juiz ou alvazil de jurisdio mais ou menos ampla, conforme o respectivo foral, que se constitua de cdices particulares, cadernos de leis municipais, de um concelho ou julgado e at de uma quinta ou herdade, como doao do senhorio direto do respectivo territrio; herdade ou grande propriedade, que significava bens de raiz, recebidos por herana, mas, nos sculos IX ao XV, exprimiu casal, quinta, herdamento, prdio rstico, vila, granja, celeiro, propriedade, aldeia, alcaria e toda aquela fazenda, que rendia ou podia render algum fruto139. Das instituies medievais portuguesas extintas em 1832 dzimo, sisa, foro, censo e rao merecem destaque os vnculos140, praticados nas modalidades do mor137
AZEVEDO, Pedro. Os reguengos da Estremadura na primeira dinastia. In: Miscelnea. Coimbra: Imprensa Universitria, 1930, p. 1, 2; CASTRO, Armando de. Reguengos. In: SERRO, Joel. (Dir.). Dicionrio de Histria de Portugal. Porto: Livraria Figueirinhas, 1984, v. 5, p. 261. 138 Designao dada, em Portugal, a partir do final do sculo XIV, aos membros das assemblias municipais, que examinavam os assuntos para cuja resoluo se no considerava necessrio chamar todos os vizinhos. LEMOS, Mrio Matos e. Dicionrio de histria universal. Mem Martins: Inqurito, 2001, p. 493. 139 Ver: VITERBO, Joaquim de Santa Rosa. Op. cit., v. 2, p. 121; 142; 278; 309; 316; 340. 140 Sobre vnculos em Portugal, ver: LOBO, Manuel de Almeida e Souza de. Tratado prtico de morgados. 2. ed. Lisboa: Impresso Rgia, 1814, 1. ed. 1807; ALMEIDA, Antnio. Os vnculos em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional, 1852; ________. Reflexes sobre os vnculos. Lisboa: Imprensa Nacional, 1854; ________. Breves consideraes sobre os vnculos. Lisboa: Imprensa Nacional, 1856; ________. A reforma dos vnculos. Lisboa: Imprensa Nacional, 1857; SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Herana no Brasil colonial: os bens vinculados. Revista de Cincias Histricas. Porto, v. 5, p. 291-319, 1990; RO-
gado e da capela. O primeiro, de carter civil, constitua-se um privilgio da nobreza, para se conservar fortunas fundirias, vinculando-as, perpetuamente, em verba testamental ou contrato cartorial, com autorizao rgia. Indivisvel e inalienvel, transferiase, hereditariamente, ao primognito, que deveria gastar com obras pias, um centsimo de suas rendas e a cada sucesso de titularidade incorporava-se um quinho dos bens do titular extinto, ampliando o patrimnio vinculado. De natureza eclesistica, mas de formulao semelhante ao morgado, a capela era permitida a qualquer pessoa economicamente bem sucedida. Tinha fins religiosos e se institua com a doao de uma gleba a um santo ou divindade, para construo e conservao de um templo, com o produto de arrendamentos temporrios ou aforamentos perptuos, para cultivos ou edificaes. Mantinha as mesmas condies de hereditariedade, inalienabilidade, indivisibilidade e primogenitura do morgado. A reconquista do territrio portugus do domnio mouro, como definiu Virgnia Rau141 se caracterizou pelo intenso movimento de colonizao destacando a presria142, ato de se ocupar terras sem dono ou conquistadas demandando regulamentao do direito de propriedade e do processo colonizador. Nos sculos IX e X, homens livres ou libertos de antigas peias sociais, durante emigraes agitadas, que no possuam servos, gado ou instrumentos de trabalho na lavoura, para ocuparem grandes extenses de terras, desenvolviam essas atividades, formando estrutura fundiria de pequenas ou, quando muito, mdias propriedades. Contudo, essa massa de minsculos proprietrios, antigos presores, esfacelara-se sob a fora e ambio dos poderosos. A partir do sculo X, as ocupaes em Portugal mantiveram o princpio hereditrio, permanecendo o domnio das terras com os descendentes do ocupante. Por isso, no se invadiam propriedades antes adquiridas. Alm desse recurso originava domnio sobre a gleba, tambm do cultivo, distinguindo-se, portanto, na Idade Mdia peninsular, pelo menos dois fundamentos de direito agrrio. E os terrenos vagos ou ermos, apropriados ou doados para lavouras, se permanecessem incultos, seriam confiscados e transferidos para quem os cultivassem. O pas no dispunha de reas para expanso agrcola.
SA, Maria de Lurdes. O morgadio em Portugal, sculos XIV-XV: modelos e prticas de comportamento linhagstico. Lisboa: Estampa, 1995. 141 RAU, Virgnia. Sesmarias medievais..., p. 29-39. 142 Essa denominao, como as das variantes presura e apresria, originara-se da expresso latina pressura, ao de apertar, presso, espremedura; esguicho, jorro; peso, carga; tribulao, aflio, desgraa; ou apresura, acelerao; e apresurar, acelerar. VITERBO, Joaquim de Santa Rosa. Op. cit., v. 1, p. 537; v. II, p. 485.
A prtica da presria tornara-se possvel pelas circunstncias de regies fronteirias e pocas de violncia, nas quais, as necessidades guerreiras e sociais tudo permitiam ao conquistador. Na primeira fase da reconquista, at o rio Douro, a ao dos presores fora intensa. A etapa posterior da ofensiva lusitana para o sul levara a fronteira at linha Mondego-Serra da Estrela, recomeando nessa faixa, a apropriao de terras por cristos e morabes143, enquanto no Entre-Douro e Minho a densidade da populao e o retalhamento de propriedades territoriais tornavam obsoleto o sistema de presria. O mesmo ocorrera, seguidamente, na Estremadura e no Alentejo, depois de constituda a monarquia portuguesa, declinando o processo de apropriao, quando reis passaram a distribuir latifndios para ordens monsticas e militares e aos grandes senhores. Contudo, as presrias subsistiram, no Alentejo, at o sculo XIII, com as caractersticas originais. Antes do sculo XI, os senhores lusitanos pretenderam fixar os camponeses, perptua e hereditariamente, s herdades, com poucas rendas para lev-los conquista de novas reas cultivveis. Do sculo XI ao XIII Portugal experimentou intensa expanso demogrfica e crescimento econmico, quando procurou enraizar os homens terra, determinando-lhes as suas condies de trabalho144. A partir de finais do sculo XIII, alastrou-se a crescente crise, quando, de acordo com Garcia de Cortazar145, a sociedade hispano-crist medieval passou a recorrer a trs alternativas de ocupao de terras: para um setor reduzido, perpetuar-se num espao sempre ocupado por cristos Ibria mida , o que lhe permitiu estabelecer e conservar um determinado padro de convivncia; para um setor mais extenso, substituir uma comunidade muulmana por outra crist Ibria seca , modificando o modelo de convivncia; para um setor mais reduzido que o primeiro, embora disperso por toda a pennsula, onde houvesse uma comunidade judaica, mudejar146 ou franca, fundir-se, em conseqncia do contato, os dois modelos de convivncia.
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Por morabes (de mustacrih, o que se arabiza) identificavam-se, durante a reconquista, os cristos que viviam em territrio sob domnio muulmano, onde se praticavam polticas de tolerncia e atrao com eles, permitindo-lhes conservar igrejas e monastrios, administrao prpria, governos com dirigentes eleitos, mas confirmados pelo emir. Ver: CHORD, Frederic; MARTN, Teodoro; RIVERO, Isabel. Op. cit., p. 218. 144 Ver: COELHO, Maria Helena Cruz. O campo na crise do sculo XIV. In: MEDINA, Joo (Dir.). Histria de Portugal: dos tempos pr-histricos aos nossos dias. Barcelona: Centro Internacional do Livro, 1975, v. 3, p. 233-248. 145 GARCIA DE CORTAZAR, (Jos Angel G. de C. y Ruiz de Aguirre). Histria rural medieval. Lisboa: Estampa, 1996, p. 66; 67; 68. 146 Por mudejares (de mudeyyan, o que permanece submetido) identificavam-se os muulmanos que, durante a reconquista, permaneceram em territrio cristo, com sua prpria organizao poltica e re-
Essas alternativas, fundamentadas em bases jurdicas diversas, resultaram em diferentes processos de ocupao econmica e povoamento pelos hispano-cristos, com maior incidncia de presrias, concesses e reparties. Do mesmo modo que entre os lusitanos, os hispnicos praticaram a presria entre os sculos VIII e X, sendo de uso mais restrito at o XIII, constituindo-se em ocupao de terras ermas ou abandonadas, durante a guerra contra os muulmanos, para povoamento e colonizao por cristos, com ttulos que os permitissem instalar reis, funcionrios rgios, nobres e particulares; a concesso consistia em benefcio de autoridades rei, nobre laico ou eclesistico com poderes reconhecidos, entre fins do sculo XI e meados do XVIII; e a repartio, distribuio ordenada das casas e herdades conquistadas dos muulmanos, durante o sculo XIII. Desse contexto de diferentes formas de apropriao e concesso fundiria emergiu o sistema de sesmarias, institudo em Portugal, por Fernando I (1367-1383), para repartir terras inexploradas e, ocupando-as, produzir cereais para conter a crise de abastecimento, decorrente de vrios fatores, destacando-se o xodo rural. A lei que o criou fora sancionada em Santarm, onde as cortes se reuniram. Se h consenso sobre o local, divergem-se quanto data: 26 de maio de 1375, conforme Jos Manuel Garcia147, 16 de junho de 1376, na opinio de frei Manuel dos Santos148; e 26 de junho de 1375, como advogou Vicente Antnio Esteves de Carvalho149. Atualmente aceita-se mais a primeira. Essa lei, louvada por uns, criticada por outros, permanece mais analisada pelo prisma jurdico e com influncias ideolgicas. Poucos abordaram seus aspectos sociais e dimenses sistmicas, extrapolando os limites conjunturais que os dispositivos legais traduzem. Tambm so insuficientes as anlises das circunstncias de sua elaborao, conseqncias da necessidade de povoamento e ocupao econmica de territrios reconquistados dos rabes. Em toda a Pennsula Ibrica, surgiram formas de apropriao ou concesso de terras e posses fora dos padres feudais. As presrias marcaram a primeira fase; as sesmarias, a segunda; embora os dois sistemas coexistissem no norte do pas, na transio da decadncia de um para a consogime jurdico na aljamas, isolados da populao crist, conservando sua religio, lngua, instituies e costumes, mas pagando dzimo Igreja Catlica e impostos ao estado (CHORD, Frederic; MARTN, Teodoro; RIVERO, Isabel. Op. cit., p. 219). 147 GARCIA, Jos Manoel. Prlogo e Adenda documental. In: Virgnia Rau. Sesmarias medievais..., p. 15, 285. 148 SANTOS, Manoel dos. Monarchia Lusitana. Lisboa, 1727. liv. 22, cap. 19, tom. 8. BNL. RES. 1.277 v. 149 CARVALHO, Vicente Antnio Esteves de. Observaes histricas e crticas sobre a nossa legislao agrria, chamada commumente das Sesmarias. Lisboa: Impresso Rgia, 1815, p. 10.
lidao do outro. As presrias caracterizaram-se na Pennsula Ibrica, a partir do sculo IX, pela conquista dos poderosos que tomavam pela fora as terras que os sarracenos (ou muulmanos) haviam despojado a seus avs150; e as sesmarias, um sistema de repartio das terras conquistadas ou improdutivas para o cultivo, desde a lei de 1375 que na origem no teve esta denominao. Essa lei resultou de uma conjuntura que exigia ao emergencial. O Reino de Portugal se debatia, desde o incio do sculo XIV, com epidemias de peste, que dizimavam populaes; guerras contra Castela (1334-1339, 1369-1370, 13721374, 1381-1382); conflitos sociais internos; depresses econmicas e desabastecimentos, circunstncias nas quais, segmentos sociais de parcos recursos, sucumbiam com a fome generalizada. A esses fatores acrescenta-se a desastrada poltica externa do rei inconstante, que pretendia o trono castelhano e as extorses dos lavradores pelos funcionrios rgios151. Nessas circunstncias os exrcitos recrutavam homens para a guerra, ficando a lavoura desprovida de fora de trabalho; o rei exigia mais tributos; as tticas de guerrilha arrasavam os campos. De um lado, insegurana, em conseqncia da guerra; incerteza, provocada pela falta de alimentos; e o pnico das epidemias induzia ao xodo rural; de outro, aglomerados urbanos, com muralhas e castelos, ofereciam abrigo e proteo. Essa conjuntura reforara o poderio territorial da Igreja, que recebia muitas doaes e quinhes em testamentos, formando latifndios152. Como maiores proprietrios rurais dentro do clero, destacavam-se as ordens de Cister, do Templo e a Ordem de Cristo, sucessora desta de Santiago de Espada, de Avis, Convento do Carmo, Convento de So Francisco de vora, Ss de Beja, vora, Braga e Lisboa153. Entretanto a crise no era apenas conjuntural. O sistema socioeconmico feudal defrontava-se com o desenvolvimento comercial e a populao emigrava para as cidades, onde se desenvolvia o trabalho assalariado. Vrias disposies de carter local, com objetivo de fixar trabalhadores rurais s respectivas terras, precederam a lei agrria de 1375. O despovoamento alastrou-se por toda a Pennsula Ibrica, resultando em crescente falta de mo-de-obra para a lavou150 151
MARQUES, A. H. de Oliveira. Sesmarias. In: SERRO, Joel. (Dir.). Op. cit., v. 5, p. 542-543. SOARES, Torquato Brochado de Souza. A lei das sesmarias. In: BAIO, Antnio; CIDADE, Hernani; MRIAS, Manuel. (Dir.). Histria da expanso portuguesa no mundo. Lisboa: tica, 1937, v. 1, p. 91. 152 COELHO, Maria Helena Cruz. Op. cit., p. 134. 153 MARQUES, A. H. de Oliveira. Introduo histria da agricultura em Portugal: a questo cerealfera durante Idade Mdia. 3. ed. Lisboa: Cosmus, 1978, p. 101, 1. ed. 1962.
ra154. Essa seria talvez a mais antiga lei agrria de Portugal155. Os proprietrios rurais, prejudicados pela queda dos rendimentos, cobraram providncias rgias. Fernando I, para implementar e legitimar as drsticas deliberaes, convocou os condes, prelados, mestres, alm de outros fidallgos e idadaaons de todo o reino, para o debate da grave situao, considerando que antre todallas obras da polliia e regimento do mundo, no haveria nenhuuma arte melhor, nem mais proveitosa pera mantijmentos e vida dos homeens, que era a agricultura. Justificou-se a lei pelo gram falleimento de trigo e evada, e outros mantijmentos, alm da carestia, considerando que antre as razoes, e per que este fallamento vem, a mais espiial he per mingoa das lavras, que os homeens leixam e desemparom, lanamdosse a outros mesteres, nem tam proveitosos ao bem comuum, per cujo aazo156 as terras que som comvenhavees pera dar fruitos son lanadas em ressios bravos e montes maninhos157. E determinou que todos os possuidores de herdades, prprias ou aprazadas, fossem constramgidos pera as lavrar, e semear. No caso de seerem muijtas ou em desvairadas partes, que lavrasse per si as que lhe mais prouguesse, e as outras fizesse lavrar per outrem158. A lei resultante deste debate disps sobre a propriedade, a posse e a explorao de reas baldias, fundamentando-se na expropriao das terras no aproveitadas devidamente, regulamentando uma prtica secular das presrias159. H um resumo esquemtico dessa lei, publicado no incio do sculo XIX pela Academia Real das Cincias de Lisboa160 e em Sesmarias Medievais Portuguesas161 encontra-se uma relao de causas e proposies dela, alm do seu texto integral, com anotaes e Adenda Documental. De essncia coercitiva, essa lei imps a todos o trabalho agrcola, determinando a cultura direta ou atravs de outrem, de todas as herdades abandonadas ou improdutivas, como melhor conviesse aos titulares; a disponibilidade de bois para o trabalho dos
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MARQUES, A. H. de Oliveira. Lei das sesmarias (1375). In: SERRO, Joel. (Dir.). Op. cit., p. 543544. 155 MORATO, Francisco Manoel Trigoso dArago. Memria sobre a Lei das Sesmarias. Lisboa, Histria e Memrias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, t. VIII, parte I, p. 222-234, 1823. 156 Aazo seria ocasio, motivo, causa, jeito, ensejo, pretexto, oportunidade, conforme VITERBO, Joaquim de Santa Rosa. Op. cit., v. 1, p. 120. 157 Por maninhos se entendem terrenos estreis, desertos, incultos, baldios, sem dono ou esplio sem herdeiro (filhos ou parentes at o dcimo grau), nem testamento; e. Conforme PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Filipinas. liv. 4, tit. 43. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1985, p. 825, notas; e VITERBO, Joaquim de Santa Rosa. Op. cit., v. 2, p. 562. 158 LOPES, Ferno. Op. cit., p. 237; 238. 159 SERRO, Joaquim Verssimo. Histria de Portugal. Lisboa: Verbo, 1977, v. 1, p. 351. 160 MORATO, Francisco Manoel Trigoso dArago. Op. cit., 224. 161 RAU, Virgnia. Sesmarias medievais..., p. 90; 91; 267-275.
agricultores e apenas quem lavrasse suas terras poderia criar gado; a dedicao lavoura, por todos os familiares de agricultores com patrimnios inferiores a 500 libras, que no tivessem ocupao mais produtiva, nem senhores certos; o emprego obrigatrio de ociosos, vadios e mendigos, em condies de trabalhar na agricultura; a fixao de soldada (remunerao) para o trabalho agrcola e multas para quem extrapolasse os valores estabelecidos; o confisco das terras de quem negligenciasse ou desacatasse as determinaes; e a execuo da lei, em cada municpio, por dois homens bons, que legislao posterior denominou sesmeiros. Pelo texto da lei pode-se deduzir as circunstncias da sua promulgao: o tabelamento de preos do bovino para o trabalho agrcola, a ser determinado pelos poderes pblicos locais, exprimiu preocupao com eventual falta dele e subseqente especulao; a criao de gado condicionada ao lavrar a terra indica o desinteresse pelo cultivo de lavouras; compelindo os filhos de camponeses ao cultivo do solo, evitava-se que procurassem outras profisses, abandonando o campo; reprimindo vadiagem e mendicidade, disponibilizava mo-de-obra para a produo agrcola. Nesse processo desenvolveuse, ainda que de modo limitado, o trabalho assalariado no campo, para se conter a emigrao. O assalariamento no rompia vnculos servis, da plebe nobreza, embora adaptasse essas relaes s novas circunstncias e, ao mesmo tempo, evidenciava reao s atividades mercantis e suas conseqncias sobre a ordem feudal em decomposio. Essa norma legal de 1375 sobreviveu a todas as legislaes portuguesas, desde as Instrues Joaninas (1385-1433), passando pelas Ordenaes de D. Duarte (1436)162, as Afonsinas (1446)163, as Manuelinas (1511-1512)164 e as Filipinas (1603)165. A lei original no definiu formalidades para a repartio das terras. Coube a D. Joo I (13951433) determinar que se fizessem lanar preges e editos, por quatro ou cinco dias, proporcionando aos titulares de terras reivindicadas por outrem, prazo de at um ano, para seu aproveitamento, venda, arrendamento ou aforamento e, somente findo este tempo, sem qualquer providncia, fazia-se a concesso pretendida166. As Ordenaes de
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ALBUQUERQUE, Martim de. Introduo. In: PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes delRei Dom Duarte. Reproduo Cd. 9.164, Reservados da BNL. Fundao Calouste Gulbenkian, 1988, p. VII. 163 PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Afonsinas. liv. 4, tit. LXXXI, Das Sefmarias. Reproduo fac-similar da edio da Real Imprensa da Universidade de Coimbra, de 1792. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1984, p. 281-304. 164 PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Manuelinas. liv. 4, tit. LXVII, Das Sefmarias. Reproduo fac-similar da edio da Real Imprensa da Universidade de Coimbra, de 1797. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1984, p. 164-174. 165 PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Filipinas. liv. 4, tit. 43, Das Sesmarias., p. 822-827. 166 CARVALHO, Vicente Antnio Esteves de. Op. cit., p. 29-30.
D. Duarte no se ocuparam com sesmarias, ficando implcito sua vigncia, nos termos formulados por D. Fernando I; as Afonsinas incorporaram o texto integral da lei original; as Manuelinas sintetizaram-no, definindo sesmarias como aquellas que fe dam de terras, cafas, ou pardieiros, que foram ou fam dalgus fenhorios, e que j em outro tempo foram lauradas e aproueitadas, e agora o nom fam; as Filipinas empregaram o mesmo conceito, precisando-o como dadas de terras, casaes, ou pardieiros. V-se que o to citado conceito de Santa Rosa Viterbo167 reproduziu os termos da lei de D. Fernando I, na verso Filipina, apresentando sesmarias como datas das terras, casais ou pardieiros, em runa e desaproveitados, cujo timo, parece que se deve procurar em sesma (hoje sesmo), que era a sexta parte de qualquer cousa. Doavam-se terras com foro e penso de sexto, ou de seis hum. Da derivariam as expresses sesmaria e sesmeiro, alm de sesmo, stio, termo ou limite dessas terras, assim dadas de sesmaria. Tambm se atribui palavra sesmaria origem na expresso latina csin, significando os cortes ou rasges feitos na superfcie da terra pela relha do arado ou pela enxada, acrescentando que outros dizem advir de sesmar, partir, dividir, demarcar terras168. A lei agrria de 1375 nem qualquer outra anterior empregou as expresses sesmaria e sesmeiro, que apareceram nas instrues de D. Joo I, com sesmeiro identificando autoridade local, credenciada pelo monarca para conceder sesmarias e estas conservaram a conotao de terras doadas com base na lei de D. Fernando I, ratificada por seus sucessores ou o sistema de repartio fundiria, institudo pelo mesmo cdigo169. H outros supostos timos de sesmarias: corresponderia sexta parte de uma propriedade ou qualquer outra coisa, implicando os conceitos de sesmo ou terra e de sesmeiro ou um dos seis beneficirios dessa partilha; consideraram que, para dividir o trabalho e evitar parcialidade, elegiam-se seis indivduos em cada municpio ou concelho, para atuar um em cada dia til da semana; da o nome sesmeiro, do latim vulgar, seximus ou um sexto, derivando tambm sesmo, para denominar o territrio a distribuir, sesmar ou asesmar, dividir em seis e sesmaria, a courela assinada pelo sesmeiro170.
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VITERBO, Joaquim de Santa Rosa. Op. cit., v. 2, p. 562. MENDES, Cndido. Anotaes. In: PORTUGAL. Ordenaes Filipinas, l. 4, tit. 43, p. 822, nota 3. 169 CARVALHO, Vicente Antnio Esteves de. Op. cit., p. 28-29, rodap. 170 MARQUES, A. H. de Oliveira. Sesmarias. In: SERRO, Joel. (Dir.). Op. cit., p. 542-543; SERRO, Joaquim Verssimo. Op. cit., p. 351; 352. Courela, coirela, quairella, quairelaria e quadrela significavam casal, prazo ou peas de terra, juntas ou separadas, bastantes para sustentao e mantena de um lavrador e sua famlia, conforme VITERBO, Joaquim de Santa Rosa. Op. cit., v. 2, p. 112.
Respaldando-se nos fillogos J. L. Vasconcelos, F. A. Coelho e A. Nascentes; e em historiadores como Paulo Mera, Alexandre Herculano e outros, Virgnia Rau171, considerando que Santa Rosa Viterbo, apenas aproximara da resoluo do enigma, assegurou que sesmo, a sexta parte, viria de seximus, da poca romana, por analogia com septimus, de onde viera sesmaria, sesmar e sesmeiro. Os sesmos seriam, portanto, locais destinados a prover cada povoador com uma quota-parte da propriedade territorial, uma das subdivises da rea total; sesmeiros, os seis homens que, no alvor do concelho, repartiam as terras dos sesmos, nos seis dias da semana; sesmar, o ato de repartir os sesmos; e sesmarias, as terras distribudas nos sesmos172.
FONTE: MORALES PADRON, Francisco. Atlas histrico cultural de Amrica. Op. cit., t. I, p. 83.
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RAU, Virgnia. Sesmarias medievais..., p. 42-57. Esta discusso sobre presrias e sesmarias incorpora informaes e argumentos de NEVES, E. F. Sesmarias em Portugal e no Brasil...
Desde incio do sculo XIX se criticou essa lei por instituir um sistema de repartio fundiria, sem mritos para os louvores da filosofia, por atacar a propriedade individual, indispondo e irritando os nimos, alm de afrouxar a atividade e indstria dos proprietrios, oportunizando convulses sociais e retrao da produo rural. Para ele seria mais acertado e justo promover-se o desenvolvimento agrcola sem constrangimento dos titulares de terras, estimulando-os a produzir, oferecendo-lhes garantias de gozarem, sem inquietao e obstculos, dos frutos do seu trabalho173. Entretanto, faltou ao crtico oitocentista a viso global do sistema econmico, para perceber que a origem do problema antecedia lei agrria de D. Fernando I, cujo carter repressor advinha da reao dos senhores de terras aos efeitos da revoluo mercantil, que interferia na ordem scio-econmica feudal. Considerando-se as especificidades da organizao social e do funcionamento da economia agrria ibrica, essa lei exprimia o nimo da realeza e do senhoriato, ante o abandono da gleba pelos servos e pequenos proprietrios rurais, que demandavam vida nova nas atividades urbanas, assalariadas ou autnomas. O despovoamento dos campos resultava no desabastecimento, redimensionando a crise estrutural que interferia no funcionamento do regime agrrio-senhorial da sociedade estratificada em estamentos.
TABELA I REINOS IBRICOS POR REA, POPULAO E HABITANTES POR Km FINAIS DO SCULO XV REINOS IBRICOS REAS (Km) Castela Portugal Arago Navarra Granada PENNSULA 385.000 90.000 110.000 10.300 28.000 623.300 POPULAO 4.300.000 1.000.000 1.865.000 100.000 500.000 7.765.000 HAB/Km 11,17 11,11 16,95 9,71 17,86 12,46
A Pennsula Ibrica sempre teve populao escassa. Como se v na tabela I, poca dos descobrimentos encontrava-se com baixa densidade demogrfica, algo prximo de 12 habitantes por quilmetro quadrado. Essas circunstncias no eram novas e originavam de diversos fatores imediatos e remotos: sucessivos surtos de peste no sculo XIV; incessantes guerras dos reinos ibricos entre si e com outros povos; oito sculos 711 a 1492 de resistncia armada ao domnio rabe; insuficincia e deficincia ali173
mentares crnicas; crescente urbanizao sem evoluo dos hbitos higinicos; poucas possibilidades teraputicas. Destacam na demografia ibrica dessa poca os movimentos de populao, com dois tipos de habitantes: os homens rvore, enraizados firmemente em seus lugares de origem; e os que empreendiam longas viagens, numa poca em que isto custava muito dinheiro. Entre estes ltimos incluam-se os que passaram s ndias e os que cruzaram os Pirineus, dirigindo-se para outras zonas europias como funcionrios ou integrando os exrcitos que atuaram em vrios campos do continente. Calculou-se a emigrao espanhola para a Amrica, mais conhecida que a dirigida a outros lugares, em cifras que oscilam entre trs e cinco mil pessoas por ano, ao longo do sculo XVI e primeira metade do XVII. No incio do sculo XVI a estrutura peninsular da propriedade da terra caracterizava-se, pelo predomnio do latifndio em mos de proprietrios absentistas, calculando-se que aproximadamente trs quartos da superfcie cultivada pertenciam a senhores laicos e eclesisticos, que os arrendavam, com freqncia em longos prazos e parcas rendas. Em princpios do sculo XIX 70% da populao espanhola vivia da terra, de onde procedia cerca de 50% de toda a riqueza espanhola. E do total das terras produtivas, o clero e a nobreza possuam ao menos 60%, vinculadas pelos regulamentos de origem feudal174.
3. 2 Terra, poder e arcabouo jurdico-poltico da colonizao ... foram por Vossos Mensageiros, e Capites, achadas algumas das ditas Ilhas, pela autoridade do Onipotente Deus, a Ns em So Pedro concedida, e do Vigrio de Jesus Cristo, que exercemos na terra, com todos os Senhorios delas, Cidades, Foras, Lugares, Vilas, Direitos, jurisdies e todos os seus pertences, pelo teor das presentes as damos, concedemos, e assinamos perpetuamente a Vs, e aos Reis de Castela e de Leo vossos herdeiros e sucessores e fazemos... ...senhores delas com livre, pleno, e absoluto poder, autoridade, e jurisdio... Bula Inter Caetera, 3 mai., 1493
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GUERRERO LATORRE, Ana Clara; JULI DAS, Santos; TORRES BALLESTEROS, Sagrario. Historia econmica y social, moderna y contemporanea de Espaa. V. 1. Siglo XV-XIX. Madrid: Universidad Nacional de Educacin a Distancia, 2002, p. 20-24; 200-201.
Considera-se como ttulo original da Espanha sobre as terras do Novo Mundo o descobrimento e a ocupao realizados por Cristvo Colombo (1451-1506). Para se legalizar esse ato, engendraram argumentos e ttulos de diversas naturezas. Do mesmo modo comportou-se Portugal depois de obter o reconhecimento da descoberta de Pedro lvares Cabral (1467-1520). As bases jurdicas da propriedade dos reinos ibricos na Amrica encontram-se numa srie de tratados que entre si celebraram, com intermediao da Santa S ou fundamentados em bulas papais, como o Tratado de Tordesilhas, que resultou da interveno arbitral de Alexandre VI (1431-1503). Este papa, cedendo a presses de Fernando V de Castela (1452-1516) contra Joo II de Portugal (1455-1495), que reclamava para si as terras descobertas por Colombo, lhe outorgou trs bulas, que imitavam, para Castela, os dispositivos antes atribudos a Portugal. Na Inter Ctera, de 03 de maio de 1493, similar Romanus Pontifex de Portugal, concedeu aos reis de Castela o domnio pleno sobre as terras descobertas e por descobrir, no Atlntico, ao ocidente at s ndias; na Eximie Devotionis, da mesma data, com teor idntico ao da Inter Ctera portuguesa, conferiu aos monarcas castelhanos, nessas mesmas terras atlnticas, iguais privilgios que tinham os portugueses na frica; e a terceira segunda Inter Ctera espanhola de um dia aps as duas anteriores, que parecia terni Regis portuguesa, fixou uma linha imaginria de demarcao entre os domnios de Portugal e de Castela, a 100 lguas a oeste das ilhas de Aores e Cabo Verde, ficando Portugal com o oeste e Castela com o leste. O Tratado de Tordesilhas ampliou esse limite para 370 lguas, beneficiando Portugal. Alexandre VI editou ainda a bula Dudum Siquidem, em 26 de setembro de 1493, concedendo a Castela o domnio das terras da ndia, inclusive ao seu oeste, sul e leste, ainda no ocupadas por um monarca cristo175. Fernando V (1452-1516) formalizou esse direito castelhano com a Lei para a distribuio e ordem da propriedade, de 19 de junho e 9 de agosto de 1513, delineando o projeto de estrutura fundiria colonial. E Carlos I, de Espanha (1500-1558) o reafirmou com outra lei em 1519, evocando doao da Santa S Apostlica e outros justos e legtimos ttulos. Alm do que dispunham as bulas papais, esse monarca espanhol recorreu, como se depreende da expresso e outros justos e legtimos ttulos, s teses de
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Ver em: FLORESCANO, Enrique. Los fundamientos de la propriedad: los ttulos originrios de la propriedad de la tierra en la Nueva Espaa. In: CRDENAS, Enrique (Comp.). Op. cit., p. 329-375;
Francisco de Vitria (1483-1546), telogo-jurista da Universidade de Salamanca, expostas na obra Direito natural e de gentes, que seriam: direito de conquista, talvez o mais forte argumento na poca ps-reconquista da Pennsula Ibrica do domnio muulmano; direito de primeiro ocupante, vlido apenas para as terras despovoadas, no se aplicando onde vivessem ndios; direito de possesso e de prescrio positiva, segundo o qual, quem exercesse poder de fato sobre uma coisa, de maneira pacfica, contnua e pblica seria seu possuidor e, depois de algum tempo, a coisa prescreveria positivamente em seu favor176. O encadeamento dos descobrimentos, das doaes da Santa S e da prtica das conquistas e colonizaes legitimou e legalizou as propriedades de Espanha e Portugal sobre o Novo Mundo, como patrimnio de el Rey. A propriedade privada na Amrica espanhola originou-se da merced real, instituio semelhante sesmaria portuguesa, e da compra em hasta pblica, pelo melhor preo, com trmite complicado e custo maior que o cobrado pela terra, obstaculizando o acesso legal a ela pelas pessoas de poucos recursos e escassa instruo, beneficiando os possuidores de fortunas e de vinculaes com funcionrios da administrao colonial177. Impossibilitados de administrar diretamente as terras descobertas, os reinos ibricos recorreram ao capital privado. Portugal tentou o sistema de feitorias (1500-1530) e de domnio comercial (1530-1549), optando depois para a concesso de donatarias; a Espanha iniciou com uma concesso senhorial a Cristvo Colombo (1492-1499), substituindo-a pelo sistema de capitulaes (1499-1539)178, ou acordos entre o governo e os conquistadores. A conquista fora, portanto, de carter privado. Nela envolveram-se empresrios, comerciantes e caudilhos. A necessria acumulao de capital para os empreendimentos mais amplos tomada do Mxico, do Peru, da Nova Granada , como observou Colmenares179, se obteve atravs da prpria conquista, concebida globalmente como empresa. A explorao dos primeiros setores desta iniciativa assalto aos povos centro-americanos e andinos
ALVAR, Jaime. Op. cit., p. 179; UTRERA, Carmen; CRUZ, Dolores. Crolologa de la historia de Espaa: Prehistoria Siglo XI, Madrid: Acento, 1999, v. 1, p. 69-87. 176 Ver em: CHAVES PADRN DE VELASQUEZ, Marta. El derecho agrrio en Mxico. Mxico: Porrua, 1965, p. 97-118; UTRERA, Carmen; CRUZ, Dolores. Crolologa de la historia de Espaa: Prehistoria Siglo XI, Madrid: Acento, 1999, v. 1. 177 MILLOT, Jlio; BERTINO, Magdalena. Historia econmica del Uruguai. [s. l.]: Fundacin de Cultura Universitria, 1991, t. 1, p. 29. 178 LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. Op. cit., p. 149; CRUZ, Dolores; UTRERA, Carmen; Crolologa de la historia de Espaa: Siglo XVI, XVII, XVIII. Madrid: Acento, 1999, v. 2, p. 6-36. 179 COLMENARES, German. Historia econmica y social de Colombia I, 1537-1719. 5. ed. Santa F de Bogot: Tercer Mundo, 1997, p. 1-5, 1. ed. 1973.
e a margem de lucro dos comerciantes que abasteciam as expedies, bastaram para financiar as expedies posteriores. Um mecanismo de reinvestimentos operava, no somente nas especulaes dos comerciantes de Sevilha e das ilhas, como se reproduzia, em escala mais modesta, entre os soldados. Ocorriam freqentes conflitos entre os empresrios ou seus advogados e os agentes da conquista que saqueavam as populaes nativas na partilha do botim, queixas contra o arbtrio dos caudilhos e denncias de leso Fazenda Real. A populao de Portugal, na dcada de 1530, pouco ultrapassava a um milho de habitantes, mas o governo oferecia o mximo de vantagens, sobretudo, terra, escassa no Reino, aos colonos que se deslocassem para explor-las, por estar certo, como avaliou Paulo Mera180, de que, desagregando-os do torro natal ou desviando-os do chamariz do Oriente, os arrastaria para um empreendimento venturoso e eriado de obstculos. Nessas circunstncias, as capitanias hereditrias representaram uma etapa preparatria, sem a qual no seriam possveis os xitos alcanados pela colonizao, no perodo do governo-geral181. Para superar a escassez de recursos financeiros e demogrficos, a monarquia portuguesa fez amplas concesses de direitos jurisdicionais e hereditrios, o que emprestara s capitanias um carter senhorial. Os reis espanhis, com mais capitais privados disponveis e maior densidade populacional, puderam selecionar os pretendentes de terras na Amrica e estipular-lhes condies182. O imprio portugus fundamentava-se, na concepo de sociedade como um corpo articulado, naturalmente ordenado e hierarquizado por vontade divina, competindo ao rei distribuir mercs conforme as funes, direitos e privilgios de cada um e aplicar a justia em nome do bem comum183. Praticou-se esse conceito de monarquia, at pelo menos incio da gesto pombalina, em meados do sculo XVIII. Manuel Hespanha184 qualificou essa concepo poltica portuguesa de monarquia corporativa, na
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MERA, Paulo. A soluo tradicional na colonizao portuguesa do Brasil. In: DIAS, Carlos Malheiros. (Coord.). Histria da colonizao portuguesa no Brasil. Porto: Litografia Nacional, 1921, v. 3, p. 172. 181 CARVALHO, Filipe Nunes de. Do descobrimento Unio Ibrica. In: JOHNSON, Harold; SILVA, Maria Beatriz Nizza da. (Coord.). O Imprio luso-brasileiro: 1500-1620, v. 4, p. 135. (SERRO, Joel; MARQUES, A. H. de Oliveira (Dir.). Nova histria da expanso portuguesa. Lisboa: Estampa, 1992, 11 v., parte I, p. 21-204). 182 LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. Op. cit., p. 148; 151; 152. 183 MATTOS, Hebe Maria de. A escravido moderna nos quadros do Imprio portugus: o Antigo Regime em perspectiva atlntica. In: FRAGOSO, Joo; BICALHO, Maria Fernanda; GOUVA, Maria de Ftima (Org.). Op. cit., p. 144. 184 HESPANHA, Antnio Manuel. A constituio do Imprio portugus: reviso de alguns enviesamentos correntes. In: FRAGOSO, Joo; BICALHO, Maria Fernanda; GOUVA, Maria de Ftima (Org.). Op. cit., p. 166, 167. Ver tambm: ________. As estruturas polticas em Portugal a poca moderna. In:
qual: o poder real partilhava o espao poltico com outros poderes da escala hierrquica; o direito legislativo do rei se limitava ao ius commune ou prticas jurdicas locais; os deveres polticos cediam perante os de natureza moral graa, misericrdia, gratido ou afetivos, decorrentes de laos de amizade institucionalizados em redes de amigos e clientes; e as atribuies de direitos e proteo aos oficiais rgios, at mesmo confrontando o poder real, tendiam a debilit-lo. Com essa concepo de monarquia, D. Joo III (1521-1557) principiou a colonizao da Amrica portuguesa, no incio de 1531, enviando uma expedio sob comando de Martim Afonso de Souza (1500-1564), mais ampla e com maiores poderes que as anteriores, definidos em trs cartas rgias, de 20 de novembro de 1530, que: lhe atribuiu a capitania-mor185 da armada e das terras que descobrisse, devendo organizar a administrao civil e militar, delegando poderes; autorizou-lhe a criar tabelionatos e nomear tabelies e outros oficiais de justia; e concedeu-lhe poderes para doar terras pelo regime de sesmarias, sob condio de sua explorao, pelos respectivos sesmeiros, no prazo de dois anos186. Considerando a necessidade de povoar e explorar essas terras do Ultramar e que algumas pessoas requeriam capitanias nelas, como descreve numa das cartas, o monarca, baseando-se em pareceres de pilotos e informaes do conde de Castanheda, determinou que se demarcasse, de Pernambuco ao rio da Prata, 50 lguas de costa a cada capitania. Em carta de 28 de setembro de 1532 informou a Martim Afonso de Souza187, capito-mor e governador do Brasil, que dessas demarcaes lhe doava 100 lguas territrios de duas fraes e mais 50 lguas ao seu irmo Pero Lopes de Souza. Os limites dessas unidades territoriais e poltico-administrativas avanariam para o interior at onde os respectivos donatrios conquistassem, ficando todos com a obri-
TENGARRINHA, Jos ________. (Org.). Histria de Portugal. 2. ed. ver. e ampl. Bauru: EDUSC; So Paulo: UNESP; Lisboa: Instituto Cames, 2001, p. 117-181; ________. Para uma teoria da histria institucional do Antigo Regime. In: ________. Poder e instituies na Europa do Antigo Regime. Lisboa: Fundao Calustre Gulbenkian, 1984, p. 7-91. 185 O cargo de capito-mor, criado por essa carta, foi substitudo pelo de capito e governador das capitanias hereditrias e institudo novamente em 10 de maro de 1570, para o mbito municipal, com atribuies de comandante das companhias de ordenanas, recebendo regimento em 10 de dezembro do mesmo ano. SALGADO, Graa. (Coord.). Fiscais e meirinhos: a administraes no Brasil colonial. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 64, 65. 186 CARVALHO, Filipe Nunes de. Do descobrimento Unio Ibrica. In: JOHNSON, Harold; SILVA, Maria Beatriz Nizza da. (Coord.). Op. cit., 102. 187 Ver ntegra em: VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Histria Geral do Brasil. 10. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1981, v. I, p. 138-140.
gao de povo-las, por conta prpria, em tempo certo, como definiam as Ordenaes do Reino188, para se explorarem as terras doadas pelo regime de sesmarias. Embora a iniciativa da colonizao, como toda a expanso portuguesa, no seguisse a um modelo ou estratgia geral,189 esse processo obedeceu a alguns tpicos usados incidentalmente no discurso colonial expressos nas cartas de doao e nos forais determinando a diviso do Brasil em capitanias, para do-las a quem prestara servios relevantes ao rei, sob as condies de difundir a f catlica entre os nativos infiis e idlatras, povoar e aproveitar as terras, como declarou uma carta rgia de 10 de maro de 1534, a Duarte Coelho.190 Atravs dela o monarca fez-lhe merc e irrevogvel doao, para todo o sempre, de juro e herdade, de 60 lguas de terras, entre o rio So Francisco e o cabo Santo Agostinho, ultrapassando, portanto, as dimenses anunciadas, que o donatrio denominou Nova Lusitnia. Com essa iniciativa, pretendia efetivar a posse da terra e produzir bens que satisfizessem os interesses mercantis portugueses. Atravs do sistema de capitanias o monarca lusitano distribuiu terras a possuidores de recursos financeiros e materiais, capazes de empreender a produo do acar processo j experimentado nas ilhas atlnticas numa articulao tricontinental, envolvendo: o senhoriato com privilgios e poderes oriundos da propriedade e posse da terra; a mo-de-obra escrava, transferida da frica; o transporte e o comrcio de escravos e da produo sob controle de companhia mercantil da metrpole. Reunia, portanto, categorias socioeconmicas trabalho compulsrio, poder articulado ao controle da terra e produo para mercado tpicas, respectivamente, da Antiguidade, da Idade Mdia e da prpria poca, a Idade Moderna, num complexo sistema de produo e comercializao, envolvendo todos os continentes e centralizando, na Europa, os resultados financeiros das transaes. A carta de doao original, dirigida a Duarte Coelho e o primeiro foral191, o da capitania da Bahia, tornaram-se modelos para os instrumentos jurdicos congneres sub188
E em qualquer cafo, que os Sefmeiros dem algas Sefmarias, affinem fempre tempo aos que as derem, ao mais de cinco annos, e di per baixo, fegundo a qualidade das Sefmarias. PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Manuelinas, liv. IV; tit. LXVII; 3, p. 166. 189 HESPANHA, Antnio Manuel. A construo do Imprio..., p. 169. 190 Ver ntegra em: DIAS, Carlos Malheiro. Histria da colonizao portuguesa do Brasil. Porto: Litografia Nacional, 1923, v. 3, p. 309-312; GAMA, Jos Bernardo Fernandes. Memria histrica da Provncia de Pernambuco. Ed. fac-similar da 1. ed. de 1844. Recife: Arquivo Pblico Estadual, 1977, v. 1 t. 1; 2, p. 42-52. 191 Denominava-se foral ou carta de foral, o documento concedido a uma vila ou cidade pelo rei, por um senhor ou entidade eclesistica, no qual se indicavam as normas que regulavam a sua administrao e as relaes dos habitantes entre si e com o outorgante. Surgiu na Espanha, no incio das guerras de re-
seqentes, sendo reproduzidos para as outras fraes administrativas iniciais da colonizao, modificando apenas os donatrios e as delimitaes192. Aplicou-se, pois, no Brasil, as doaes de bens da Coroa os reguengos e direitos reais, atravs das cartas de foral, instrumentos jurdicos tradicionais dos sistemas poltico e administrativo de Portugal, como estatuto fundamental da respectiva capitania193. Com essa dupla forma de registro carta de doao e carta de foral D. Joo III instituiu as capitanias hereditrias, vinculadas propriedade perptua da terra e determinou as condies de funcionamento desse sistema, transpondo, com adaptaes, o regime de sesmarias e estabelecendo, na Amrica portuguesa, o poder poltico tambm articulado com a titularidade fundiria. Nesse particular transferiu para a colnia, uma tradio feudal as donatarias para produzir mercadorias destinadas ao comrcio da metrpole. O direito portugus definia as doaes rgias, como bens de grandes regalias ou ttulos de senhor de terras, capito e governador, uma faculdade de administrao de justia, nomeao de magistrados e oficiais, criao e concesso de privilgios de vila; bens de pequenas regalias ou ttulo doao de terras vagas; e bens da Fazenda Real ou forais, incluindo penso de cargo de nomeao donatarial e rendimento de bens da coroa, como dzima e redzima194. As cartas de doao descreveram os objetivos do sistema de capitanias, identificaram os respectivos donatrios, definiram limites das donatarias e concederam a todos o ttulo de capito e governador, atribuindo-lhes poderes de fundar vilas e povoaes, dotando-as de juizes, oficiais e ouvidores; arrecadar tributos; e administrar a justia,
conquista contra os rabes. Do Condado Portucalense transferiu-se para o Reino de Portugal. Perdendo o carter de estatuto jurdico, permaneceu como registro de isenes e encargos. Sobreviveu at a Revoluo Liberal, sendo extinto em 1832. LEMOS, Mrio Matos e. Op. cit., p. 396-397. 192 CATLOGO de documentos sobre a Bahia, existentes na Biblioteca Nacional. ANAIS da Biblioteca Nacional, v. 68. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional; Diviso de Obras Raras e Publicaes, 1949, doc n. 2, p. 7. BN. I - 5, 2, 4 n.15. Foral da Capitania da Bahia e Cidade de S. Salvador. vora, 26 ago., 1534; ________. Doc. n. 1, p. 7. BN. I 5, 2, 4 n. 9. Traslado da doao da Capitania dos Ilhus. vora, 26 jul. 1534; ________. Doc. n. 4, p. 7. BN. I 5, 2, 4 n. 10. Traslado do foral da Capitania dos Ilhus. vora, 11 mar. 1535; ________. Doc. n. 3, p. 7. BN. I 5, 2, 4 n. 4. Traslado do foral e privilgios da Capitania de Porto Seguro. vora, 23 set., 1534; ________. Doc. n. 5, p. 7. BN. I 5, 2, 4 n. 3. Traslado da Carta de doao da Capitania de Porto Seguro. Lisboa, 11 jun., 1538. Documentos transcritos em: SILVA, Igncio Accioli de Cerqueira e. Memrias histricas e polticas da Bahia. Anot. Braz do Amaral. Bahia: Imp. Oficial do Estado, 1919, v. 1, p. 190-198; 203-211; 212-219. 193 MERA, Paulo. Op. cit., p. 174. 194 SALDANHA, Antnio Vasconcelos de. Do descobrimento..., v. 4. p. 19-136; 224-232; 338-344; VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Op. cit., v. 1, p. 136-211; MERA, Paulo. Op. cit., p. 167-188; HOLANDA, Srgio Buarque de. O advento do homem branco. In: HOLANDA, Srgio Buarque de; CAMPOS, Pedro Moacyr de. (Dir.). Histria geral da civilizao brasileira. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, v. 1, p. 96-107.
podendo at condenar, sem apelao nem agravo, nos casos de heresia, traio, sodomia e moeda falsa. Das 635 lguas de costa coube a cada capito donatrio 10 lguas de litoral, pelo sistema de sesmaria, podendo avanar, pelo serto, o quanto conquistasse embora a linha definida pelo Tratado de Tordesilhas definisse um limite livre e isento de foro e qualquer tributo, pagando, apenas, o dzimo da Ordem de Cristo. E ainda poderia cobrar para si: foros para licena de instalao de moendas dgua, marinhas de sal e engenho; taxas sobre barcos em travessias de rios; metade (vintena) da dzima real do pescado da capitania; e metade dos dzimos, tanto reais, quanto da Ordem de Cristo, sobre todas as rendas geradas na capitania; As cartas de foral detalharam os direitos, foros e tributos da capitania e do capito donatrio no governo da unidade territorial da colnia: pedras e metais preciosos pagariam o quinto real, cabendo ao capito e governador, a dzima; pau-brasil, especiarias e drogas, pertenceriam ao rei; o pescado, no sendo de cana, pagaria a dzima da Ordem de Cristo e meia dzima ao capito e governador; mercadorias do reino e senhorios seriam isentas de tributos, exceto a sisa do que se vendessem, pagas nas alfndegas de origem; produtos exportados da colnia para fora do reino pagariam a dzima real, da qual o capito e governador ficaria com a redzima; estrangeiros pagariam dzima real de entrada e sada de mercadorias, cabendo tambm a redzima ao capito e governador; mantimentos, armas e munies no pagariam nenhum tributo; o comrcio com os gentios da terra constitua atividade exclusiva do capito e governador; somente inspecionados e licenciados pelo capito e governador, os navios sairiam da capitania; liberado o comrcio entre as capitanias; alcaides-mores195 arrecadariam para si todos os direitos, foros e tributos definidos nas Ordenaes do Reino, enquanto cada tabelio pagaria 500 ris anuais de penso ao capito e governador; em caso de guerra, moradores e povoadores da capitania seriam obrigados a servir ao capito e governador, onde se fizesse necessrio. O capito governador no poderia apropriar terras para si, sua mulher ou o filho primognito, herdeiro do cargo, nem ttulo e bens vinculados da capitania, que eram indivisveis e inalienveis, transferveis pelo princpio da primogenitura; somente as 10
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O alcaide-mor encarregava-se, em Portugal, da administrao e segurana de castelos. PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Manuelinas. Liv. 1, tit. 60. Op. cit., p. 370. As cartas de doao e forais das capitanias hereditrias instituram o cargo no Brasil, com a responsabilidade de governar e defender as vila e oferecer segurana aos moradores. SALGADO, Graa. (Coord.). Op. cit., p. 143; 164; 229; 311; 403.
lguas de sesmarias recebidas, equivalentes a 20% da capitania. Deveria doar os outros 80% do territrio, pelo mesmo sistema, conforme as Ordenaes do Reino196, a quem solicitasse terra, no podendo conceder aos filhos e parentes, rea maior que as doadas a quaisquer outros donatrios. No seria lcito ao titular da capitania distribuir terras de sesmarias a outrem, para depois transferi-la para si. Permitia-se compra e venda de terras, somente aps oito anos da sua doao e depois de aproveitadas em prazo mximo de cinco anos, sob pena de se anular a doao, tornando-se essas terras devolutas197, como prescreviam as Ordenaes do Reino198. Nessas circunstncias D. Joo III estendeu Amrica portuguesa, essa instituio jurdica, estabelecendo com ela o arcabouo socioeconmico da colonizao, de modo que os capites donatrios gozassem de todos os direitos e privilgios e, somente os perdendo se abandonassem os cultivos das terras, negligenciassem na sua defesa, no tivessem filho homem ou fossem condenados por crime capital. Nesse ltimo caso o herdeiro poderia substitu-lo199. Portugal distribuiu as capitanias hereditrias, observou Eullia Lobo200, a nobres de importncia secundria, no primognitos sem herana ou funcionrios da alta administrao, alguns sem prtica de cruzar os mares, nem experincia de viver distante das comodidades do convvio familiar, outros sem a ambio do homem desprovido de bens. A Espanha preferiu indivduos de origens modestas como Balboa, Pizarro e Almagro e fazia as concesses mais restritas e temporrias eram feitas aos navegadores mais valorosos que, em caso de necessidade, buscariam apoio financeiro de um capitalista, propondo-lhe a diviso dos lucros. Em conseqncia, a jurisdio unida posse da terra foi mais acentuada na Amrica portuguesa que na espanhola. As concesses seriam amplos privilgios e extensas prerrogativas, com o objetivo de atrair candidatos poderosos para a colonizao das novas terras, mas no foram suficientes para desviar as atenes de ricos comerciantes, fascinados com as pos-
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PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Manuelinas. Liv. 4, tit. 67. Op. cit., p. 164-174. Por devolutas denominavam-se as terras doadas e devolvidas ao senhorio original, sesmaria no explorada conforme a legislao e, em conseqncia, retornada ao poder pblico. Posteriormente, passou a significar tambm terras vagas, desocupadas, sem utilizao. 198 PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Filipinas. liv. 4, tit. 68, 3. Op. cit., p. 823. 199 RAYNAL, Guillaume-Thomas Franois (Abade Raynal). O estabelecimento dos portugueses no Brasil (Livro nono da histria filosfica e poltica das possesses e do comrcio dos estados europeus nas duas ndias). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional; Braslia: Editora da UNB, 1998, p. 43, 1. ed. 1770. 200 LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. Op. cit., p. 150-152.
sibilidades oferecidas pelas ndias Orientais201. Seis dos 12 donatrios iniciais, nunca vieram ao Brasil ou voltaram logo para Portugal; dois foram mortos pelos tupinambs; outros dois abandonaram seus diretos. Apenas Duarte Coelho, em sua Nova Lusitnia e Pero de Campos Tourinho, no seu Porto Seguro obtiveram xito nos empreendimentos. So Vicente tambm se desenvolveu, embora nunca fosse visitada pelo donatrio202. O fracasso da iniciativa levou o monarca luso a relegar ao segundo plano esse modelo de colonizao descentralizada e instituir, em 1549, o governo-geral, reduzindo os privilgios donatariais. A falta de recursos financeiros dos donatrios, que pretendiam grandes lucros com poucos investimentos e a inesperada ou subestimada resistncia da populao nativa, seriam, os principais fatores do malogro das capitanias hereditrias. Com o sistema de capitanias hereditrias, institudo, em meados do sculo XV sendo Machico (1440), Porto Santo (1460) e Funchal (1450) as primeiras o regime de sesmarias estendeu-se Amrica portuguesa. O conceito de sesmaria continuou o mesmo de Portugal, com algumas adaptaes, significando terras conquistadas, no ocupadas economicamente, doadas pelos capites governadores, com posterior confirmao metropolitana, para explorao de particulares, ou seja, territrio disponvel para colonizao de terceiros, com anuncia governamental. Quanto ao adjetivo sesmeiro, passou a significar donatrio de sesmaria, diferente, de Portugal, onde denominava o agente do poder pblico, encarregado da repartio de terras. Essa extenso ao Ultramar deveu-se a dispositivo das Ordenaes do Reino203, que transferiu, em 1603, as normas legais do sistema de sesmarias, com pequenas modificaes, para o novo cdigo204, proibindo aos prelados, mestres205, priores, comendadores e fidalgos, apropriarem-se de casaes, quintas e terras ermas. Sendo os monarcas lusitanos, alm de fidalgos, gro-mestres da Ordem de Cristo, desde o infante Henrique, no se poderiam apropriar terrenos para si, sua ordem ou qualquer outra corporao religiosa, templo ou mosteiro. Deveriam distribu-las pelo regime de sesmarias, com a obrigatoriedade do dzimo milcia crist, herdeira, em Portugal, da Ordem do Templo, combatente e propagadora do cristianismo desde as Cruzadas.
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FURTADO, Celso. Economia colonial no Brasil nos sculos XVI e XVII: elementos de histria econmica, aplicados anlise de problemas econmicos e sociais. So Paulo: HUCITEC/ABPHE, 2001, p. 81. 202 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Op. cit., p. 20. 203 PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Manuelinas. liv. 4, tit. 47, 14, p. 173. 204 PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Filipinas. liv. 4, tit. 48, 15, p. 826. 205 Superiores hierrquicos das ordens militares de Cristo, de Santiago, de Avis.
Os templrios acumularam considerveis fortunas na Europa, principalmente na Pennsula Ibrica, promovendo peregrinaes para Jerusalm, com hospedagem nos seus mosteiros e segurana por suas tropas de milicianos aos cristos viajantes na busca de indulgncias. Fiis cristos hipotecavam imveis para custeio de viagens, financiadas por essa milcia medieval, nem sempre conseguindo resgat-los no regresso. Desse modo, a ordem dos cavaleiros do Templo concentrou um dos maiores patrimnios imobilirios da Europa. O dzimo, obrigao da cristandade, raramente se dispensava na Amrica portuguesa. Uma exceo decorreu do Alvar Rgio de 21 de agosto de 1587, que desobrigou do seu pagamento, por 15 anos, os ndios que se cristianizassem. Eventualmente, se isentavam, por algum tempo limitado, em 1716, a cinco anos os assentamentos de terras novas. Os papas ps-renascentistas se ocuparam mais com a poltica europia, a reforma protestante e a presena muulmana no Mediterrneo, que a evangelizao dos novos mundos abertos pelos descobrimentos portugueses e espanhis. Nessa conjuntura, progrediram corporaes religiosas como a Ordem de Cristo, que substitura a Ordem do Templo. De uma srie de bulas pontifcias, iniciada com a Inter Ctera, de Calixto II, em 1456 e culminada com a Prcels Devotionis, de 1514, surgiu o padroado em Portugal, resultado de uma combinao de direitos, privilgios e deveres, concedidos aos monarcas como patronos das misses e instituies eclesisticas na sia e Amrica206. Nessa mtua colaborao do Reino de Portugal e a Igreja Catlica demonstrada em Alvar de 12 de setembro de 1564, que determinou observncia das diretrizes do Conclio de Trento (1545-1563), em todos os domnios da monarquia portuguesa o padroado constitua-se privilgio dos monarcas lusos, pela propagao da f crist, de indicar e nomear bispos e procos, ficando encarregados de sustent-los alm de manter os templos. Deve-se ressaltar o fato da Igreja interferir na vida civil lusitana, desde o sculo VI, quando se redigiu o cdigo visigodo sob influncia do clero207. Aps a reconquista e formao do Estado Nacional, no sculo XII, prevaleceram as tradies disciplinares do catolicismo visigtico. Entretanto, o padroado constituiu-se instituio econmico-social, durante a conquista neogoda, a partir de contribuies
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BOXER, C. R. O imprio martimo portugus: 1415-1825, 1. ed. 1969. Lisboa: Edies 70 e Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, [199-], p. 227-228. 207 BARROS, Henrique da Gama. Op. cit., v. 2, p. 17; 47.
individuais para edificao de templos e mosteiros ou recuperao dos que se deterioraram durante a guerra contra os sarracenos. Recompensando-se por esses donativos, os padroeiros utilizavam-se dos direitos de: pousadia ou hospedagens gratuitas no mosteiro do seu padroado; comedoria ou receber alimentao quando se hospedassem; cavalaria ou armao de filho cavaleiro; resgate de cativeiro ou em caso de captura e escravizao por inimigos; casamento ou contribuies em gnero e dinheiro quando casava uma filha; apresentao ou indicar candidatos para cargos vagos nos respectivos mosteiros aos superiores eclesisticos. Houve padroado com centenas de padroeiros, muitos dos quais, abusavam desses direitos, enquanto as corporaes eclesisticas mal suportavam as obrigaes, gerando conflitos entre padroados e padroeiros. Sendo hereditrios esses direitos, com o passar do tempo multiplicaram-se os privilegiados, dissipando-se a maioria dos privilgios. Prevaleceu o direito de representao, que se estendeu, nalgumas freguesias, aos paroquianos, tornando-se exclusividade do monarca, como rgio padroado 208. No incio da expanso martima, quase meio sculo antes de se estabelecerem na Amrica do Sul, os portugueses negociaram com a Santa S o papel da Ordem de Cristo no empreendimento, definindo direitos e vantagens pelos financiamentos das expedies. Em carta de 7 de junho de 1454, Afonso V doou milcia crist, para sempre, o espiritual das terras do Ultramar, adquiridas e por adquirir. E o papa Xisto IV, em 21 de dezembro de 1481, confirmando outras anteriores de Nicolau V e Calixto III, tambm cedera, para sempre, Ordem de Cristo, todo o espiritual das terras do Ultramar, descobertas ou por descobrir pelos portugueses209. Em conseqncia disto e das transformaes, mais dos costumes da nobreza, que do imprio das leis, como exprimiu Gama Barros210. as terras conquistadas no Ultramar se incorporaram ao patrimnio da coroa portuguesa, como reguengos e no ao da Ordem de Cristo, cujo direito j se limitava jurisdio espiritual. Completando a troca de privilgios e a remunerao dos financiamentos das expedies e conquistas, essa milcia crist obteve a prerrogativa de cobrar o dzimo sobre a produo das terras descobertas. Posteriormente, o monarca portugus, na condio de gro-mestre da Ordem de Cristo e, aproveitando-se do regime de padroado, avocou para si, o direito sobre
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CASTRO, Armando de. Padroados. In: SERRO, Joel (dir.). Op. cit., v. 4, p. 511; BARROS, Henrique da Gama. Op. cit., v. 2, p. 256. 209 ALMEIDA, Cndido Mendes de. Direito civil ecclesistico brazileiro, antigo e moderno em suas relaes com o direito cannico. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1866, t. 1, parte 2, p. 363; 366. 210 BARROS, Henrique da Gama. Op. cit., v. 2, p. 261.
o tributo. A Igreja cedeu, considerando-se compensada com o sustento, materializado nas cngruas, do crescente nmero de procos pelo poder pblico. O atual territrio da Bahia resultou das capitanias da Bahia, de Ilhus, de Porto Seguro, de Itaparica e Tamarandiva
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incorporadas na grande Bahia213. As cartas de doao das primeiras, facultando aos donatrios expandirem-se pelo continente, definiram os limites das extenses litorneas: Bahia da ponta do Rio de S. Francisco foz para o sul, at a ponta da baya de todos os Santos, inclusive as guas dessa grande enseada e, se preciso fosse, avanaria para o sul, at completar as 50 lguas; Ilhus, da ponta da baya de todos os Santos, da banda sul, indo onde se completassem as 50 lguas, inclusive ilhas que houvessem, at 10 lguas de mar; Porto Seguro, da banda do Sul, quanto couber nas ditas cincoenta legoas, incluindo as ilhas existentes at 10 lguas afastadas da costa. O donatrio da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, instalou-se em 1536 na entrada da baa de Todos os Santos, onde construiu a Povoao do Pereira e dedicou-se plantao de algodo e cana. Nove anos depois, uma rebelio de colonos o fez refugiarse em Porto Seguro. De sua Nova Lusitnia, Duarte Coelho214 informou ao rei que Coutinho, alm da idade avanada para o empreendimento, seria culpado pelo levante, por no saber husar com a jemte e ser mole para resestir as doudices e desmandos dos doudos e mall ensinados que fazem e causo levantamentos e onies. Recomendou muito castigo porque aqellas revolltas e levantamentos seriam a causa de se a Bahia perder. Sugeriu ao monarca que o clrigo prencipio daqelle dano e mall, fosse preso para Portugal e proibido de voltar ao Brasil. Ao saber, em 1546, que franceses destruram sua povoao, Coutinho voltou para reconstru-la e retomar as atividades colonizadoras. Sua embarcao naufragou nos arrecifes de Pinanas, costa de Itaparica. Ao chegar praia fora vitimado por um me211
A capitania de Itaparica e Tamarandiva surgiu de sesmaria doada por Tom de Souza, em 1558, a Violante da Cmara, que a transferiu ao filho conde de Castanheda e este ao marqus de Nizza. Ver: CATLOGO de documentos sobre a Bahia, existentes na Biblioteca Nacional..., docs. n. 6 e 7, p. 8; BN. I 5, 2, 4; BN. I 5, 2, 4 n. 12; DOCUMENTOS sobre a Casa de Nizza. Anais APEB. Salvador, n. 3, p. 256-270, 1918; CASAS da Ponte e dos Marqueses de Nizza. Anais APEB. Salvador, n. 4/5, p. 195199, 1919; TERRAS da Casa de Nizza. Anais APEB. Salvador, n. 6/7, p. 264, 1920. 212 A capitania de Paraguau (Peroau) originou-se de uma sesmaria doada a lvaro da Costa em 1566, entre as barras dos rios Paraguau e Jacupe. Ver: SILVA, Igncio Accioli de Cerqueira e. Op. cit., v. I, p. 347, nota 18. 213 Sobre essas capitanias, ver: TAVARES, Lus Henrique Dias. Histria da Bahia. 10. ed. So Paulo: Editora UNESP; Salvador: EDUFBA, 2001, p. 90-98, 1. ed. 1959; CARVALHO, Filipe Nunes de. Op. cit., p. 126-127; SILVA, Igncio Accioli Cerqueira e. Op. cit., v. 1, p. 188-219. 214 Carta de Duarte Coelho ao rei, 20 dez., 1546. In: MELLO, Jos Antnio Gonalves de; ALBUQUERQUE, Cleonir Xavier de. Op. cit., p. 45-63.
nino de cinco anos, que seria irmo de um cabecilha indgena que o donatrio mandara executar, ficando a Capitania da Bahia para o filho Manoel, de quem D. Joo III a reverteu ao patrimnio da Coroa, para instalar a sede do governo-geral, criado em 1548. O escrivo da Fazenda Real, em Lisboa, Jorge de Figueiredo Correia, nem conheceu sua capitania. Designou o castelhano Francisco Romero, seu capito-mor, que fundou e governou a Vila de So Jorge dos Ilhus, como sede administrativa. De Portugal, Correia concedeu vrias sesmarias, uma das quais ao futuro governador-geral, Mem de S e outra ao florentino Lucas Giraldes. Aps sua morte, em 1552, o filho Jernimo de Alarco de Figueiredo vendeu a capitania ao sesmeiro Giraldes, em cuja descendncia permaneceu at 1754, quando D. Jos I a incorporou Bahia, indenizando o titular. Pero de Campos Tourinho, donatrio de Porto Seguro explorou pau-brasil e doou sesmarias. Empobrecido e em conflito com habitantes da sua capitania, em 1546 foi acusado de heresias e blasfmias, preso, transportado para Lisboa e, no ano seguinte, submetido ao Tribunal do Santo Ofcio. Fora absolvido, mas no retornou sua donataria do Ultramar, que seus familiares a venderam para o duque de Aveiro, sendo tambm incorporada grande Bahia, at 1759. As capitanias de Ilhus e Porto Seguro mantiveram-se litorneas. Das tentativas de se conhecer seus interiores, sabe-se apenas de uma expedio, em 1555, quando Francisco Bruza Espinosa, um dos conspiradores contra Campos Tourinho, nove anos antes que, comandando um grupo de 12 homens, incursionou entre tribos indgenas resistentes ao contato com os brancos. Subira o rio que denominara Urinas, depois identificado como Pardo, atingira um grande rio, que seria o So Francisco215. Partindo de Ilhus no houve tentativa bem sucedida de avano ao serto. Uma expedio de 35 homens, sob o comando de Pantaleo Rodrigues que, subindo o rio de Contas, desde sua foz, debatera-se com deseres da sua gente, ataques indgenas, doenas e escassez de alimentos, at aniquilao quase total. Sobreviveram apenas o prprio Pantaleo e um companheiro, ambos encontrados oito meses depois, esquelticos e sem lucidez, por vaqueiros da fazenda Brejo do Campo Seco, perambulando pelas caatingas, nas proximidades da atual cidade de Brumado216.
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NAVARRO, Joo Azpilcueta. et al. Cartas avulsas, 1500-1568. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Edit. da USP, 1988, p. 95-100. 216 COSTA, Miguel Pereira da. Relatrio apresentado ao vice-rei Vasco Fernandes Cezar. Revista Trimestral de Histria e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brazileiro. Rio de Janeiro, n. 17, p. 37-59, abr., 1843.
Ressalta-se que nenhum donatrio dessas capitanias ocupou o serto. Essas circunstncias possibilitaram que Duarte Coelho, de Pernambuco subisse o So Francisco e se apropriasse dos sertes interiores que seriam das capitanias da Bahia, Ilhus e Porto Seguro217, desprezando as reas hoje correspondentes ao sul do Piau e do Maranho e norte do Tocantins, interiores da Nova Lusitnia. A Amrica portuguesa se expandiu, anulando na prtica o Tratado de Tordesilhas (1494), a partir da Unio Ibrica (1580-1649), quando os monarcas espanhis, com a perspectiva de perpetuidade da fuso dos dois reinos, flexibilizaram nas relaes de limites no Novo Mundo. Colonizadores lusitanos avanaram para o oeste, sobre territrios que, pelo tratado luso-castelhano, seriam de Espanha. Sem impor condies os Felipes concederam forais de vilas, legalizando o que a prtica da ocupao legitimara. A instituio do Governo Geral resultou dos efeitos do Regimento de Tom de Souza, de 17 de dezembro de 1548 e sua nomeao para o cargo de governador-geral, em 7 de janeiro de 1549. Essa centralizao administrativa reduziu os poderes dos capites donatrios. E um Alvar Rgio de 5 de maro de 1557 limitou a jurisdio dos capites de terras do Brafil, determinando q em cafo de comdnao de morte natural houueffe fempre appellao para a moor alada, tambm, houueffe appellao nos quatro cafos de herefia, traio, fodomia & moeda falfa. Alm disso, embora as capitanias no estivessem sujeitas, em tpo alg, a corregedor n alada, o rei deliberara recorrer a esses instrumentos jurdicos de fiscalizao e controle, quando lhe pareceffe neceffario218. As 18 capitanias hereditrias, por circunstncias diversas reduziram-se para 11, tornando-se capitanias reais: a Bahia de Todos os Santos, sede do governo geral; So Sebastio do Rio de Janeiro, em parte do territrio que fora de So Vicente, conquistada dos franceses e tamoios; Paraba e Rio Grande do Norte, conquistadas dos indgenas e abandonadas pelos donatrios. Os direitos polticos dos colonos se equiparavam aos que os portugueses usufruam na metrpole, embora a interveno da autoridade do donatrio restringisse as regalias municipais.219 Entretanto, deve-se considerar que essas condies dos primeiros tempos foram logo superadas. Tambm o sistema tributrio inicial evoluiu com a colo217
Essas reas da margem esquerda do So Francisco, povoadas por baianos, se incorporaram Bahia, por reivindicao de seus habitantes, pouco depois da Independncia do Brasil. 218 PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Leis Extravagantes e Repertrio das Ordenaes de Duarte Nunes do Lio. liv. 2 par. 2, tit. 6. Lei 2. Lisboa: Fundao Caloustre Gulbenkian , 1987, p., 90. 219 HOLANDA, Srgio Buarque de. Op. cit., p. 99.
nizao, tornando-se mais espoliativo. O dzimo cobrado sobre os produtos agropecurios converteu-se numa das principais receitas pblicas portuguesas, com a denominao de dzimo de miunas. No Alto Serto da Bahia, por exemplo, o fazendeiro Miguel Loureno de Almeida, da fazenda Brejo do Campo Seco, anotou no seu livro da razo que ferrara na perna direita, com o nmero seis, dois poldros e duas poldras, para o dzimo de 1756, ano em que nasceram 17 poldros e 18 poldras, como praticava todos os anos, inclusive com outras criaes e a diversificada produo agrcola.220 O governo metropolitano cobrava, ainda, vrios outros tributos na colnia: gabela (sobre o sal), sisa (transmisso de bens), quinto (ouro e diamante), finta (contribuio extraordinria, derrama paroquial) e muitos outros, alm dos direitos, subsdios e contribuies eventuais, como nas ocasies de casamento de princesas, alguns dos quais permaneciam indefinidamente. Um imposto para a reconstruo de Lisboa aps o terremoto de 1755 continuou arrecadado no Brasil, at a Independncia. Na Amrica hispnica desenvolveram-se a partir do Mxico, primeiro territrio conquistado diversas formas de propriedade que se agrupam em trs tipologias: Como propriedades de tipo individual a merced, uma instituio correspondente s sesmarias portuguesas, consistindo na concesso de terras pelos conquistadores aos colonizadores, podendo-se estender por uma ou vrias caballaras ou peonas; portanto, alcanando grande extenso; a suerte, que se constitua num solar ou terreno para agricultura que se dava a cada colono das terras de uma capitulacin; a compraventa, uma simples comercializao das terras pertencentes ao Tesouro Real; a confirmacin, ou recurso pelo qual o rei confirmava a propriedade da terra em favor de algum que carecia de ttulos; a prescripcin, ou processo de extino de um direito ou obrigao que se no exigiu, que tambm podia ser prescripcin positiva, isto , terra realenga que se transferia para algum definitivamente. Existiam as instituies intermedirias como a composicin, uma instituio mediante a qual alguns latifundirios se apropriaram de terras realengas, de particulares ou de ndios; e a capitulacin, uma doao de terras a uma pessoa que se comprometia a colonizar um pueblo ou povoao onde se fixavam colonos espanhis ou indgenas, que recebiam terras de uso coletivo e de uso individual. E, por fim, as propriedades de tipo coletivo, como o fundo legal, que se caracterizava como um terreno no qual se assentava uma populao, com casas, igreja, edif-
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cios pblicos; o ejido, uma instituio jurdica de origem castelhana, de carter comunal e inalienvel, que consistia em vincular as terras sada de um pueblo, comunidade, ficando destinadas ao lazer coletivo; na Amrica mesclou-se com prticas similares locais, como o calpulli asteca e o ayllu incaico221; dehesa, uma instituio espanhola da mesma natureza do ejido, constitua-se em rea coletiva, destinada ao pasto do gado; o prprio instituio de antiga origem espanhola, de natureza inalienvel, que coincide com o altepletalli, mexicano os produtos de ambos destinavam-se a pagamentos de gastos pblicos; as tierras de comn repartimiento, parcialidades ou terras da comunidade, mas de usufruto individual, que se sorteavam entre os habitantes de um pueblo; os montes, pastos y guas, ou reas destinadas por Carlos V, em 1533, para usufruto comum, tanto de espanhis quanto indgenas222. Na ocupao da Amrica hispnica, como da portuguesa, costumes da reconquista da Pennsula Ibrica do domnio rabe continuaram em prtica. Os territrios tomados pertenciam coroa, como reguengos ou realengos. Qualquer ocupao individual de terra seria ilegal. Somente se poderia adquirir uma gleba atravs de concesso rgia. Fazia-se a distribuio atravs do repartimiento, um privilgio concedido pelo rei a quem participara de conquista; e da gracia ou merced, conferida pelo Consejo de ndias, a quem solicitasse, fazendo valer seus mritos e ttulos. Durante dois sculos se promulgaram disposies para favorecer a difuso das pequenas e mdias unidades agrrias, dificultando a concentrao do domnio fundirio. Entretanto, a realidade no refletiu, segundo Jlio Luelmo223, os projetos da metrpole, porque os fluxos migratrios para a Amrica, no sculo XVI dificultaram o controle do vasto territrio e proporcionaram rpida formao das castas coloniais; o desvirtuamento de princpios orientadores da repartio fundiria privilegiou os conquistadores e seus descendentes, com muitos deles concedendo ttulos a seus servidores a fim de revertelos depois para si ou solicitando merced apenas com objetivo de comercializar a terra que recebesse; os apuros financeiros da coroa oportunizaram arbtrios para se conseguir
A coroa espanhola preservou algumas dessas terras comunitrias indgenas, associando-as ao ejido; o calpulli incidia numa organizao familiar, na qual cada casal recebia uma gleba para cultivar e o chefe local, em retribuio s tarefas especficas, tinha sua terra lavrada ou recebia outros servios pessoais; a cada calpulli correspondia um calpulalli ou terra da comunidade, fracionada em tlamilli ou gleba de cada famlia; nos ayllus cada famlia recebia uma gleba em usufruto, de extenso varivel conforme o nmero de componentes, cabendo a cada indivduo um tupu, que correspondia aproximadamente a uma fanga e meia, a seis alqueires ou a 145.200 m. ALVAR, J. Op. cit., p. 204; 426; CHEVALIER, F. Op. cit., p. 250. 222 Ver, entre outros: CHAVES P. DE VELAZQUEZ, Marta. Op. cit., p. 97-118. 223 Ver: LUELMO, Jlio. Historia de la agricultura en Europa y Amrica. Madrid: Istimo, 1975, p. 393400.
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fundos que financiassem as contnuas campanhas militares na Europa; a converso de estancias ganaderas ou fazendas pecuaristas nas quais se permitia apenas o uso dos pastos em grandes fincas rsticas de propriedade privada; desempenho de funes burocrticas por quem detinha o poder e a riqueza agrria fortalecera as castas coloniais; e as doaes de fiis para instituies eclesisticas oportunizaram transferncia da propriedade de mos mortas para a Amrica. Cardoso e Brignoli224 constataram que as duas metrpoles Ibricas desenvolveram na Amrica polticas agrrias semelhantes, caracterizadas pela propriedade da terra como senhorio da coroa, por direito de conquista, transferida apenas atravs do repartimiento ou da merced, na Amrica espanhola e da sesmaria na Portuguesa; por uso das doaes de terras como incentivo para impulsionar a conquista e colonizao, explorando-se a possibilidade de um colono tornar-se latifundirio; e por ocupao prolongada gerando direito que, associado necessidade constante de fundos para o tesouro real, proporcionou legalizaes de posses em terras realengas ou indgenas usurpadas. Com idntica voracidade Espanha e Portugal conquistaram o Novo Mundo. Os espanhis saquearam os tesouros de povos andinos e centro-americanos. Aps a euforia dos metais preciosos por exausto na Amrica hispnica ou decepo nas buscas, na lusitana compeliram as populaes indgenas a diferentes formas de trabalho compulsrio, desde a dependncia por dvida escravido225. Quando escassearam os contingentes nativos intensificaram o trfico de escravos africanos, transformando-o num dos negcios mais lucrativos da colonizao mercantilista. Os colonizadores tiveram a mesma conduta com as foras de trabalho indgena e negra, convertendo o solo em meio de produo na interao com o fator trabalho. A explorao associada da terra e do trabalho constituiu a essncia da colonizao do Novo Mundo, sob impulso mercantil, para produzir as mercadorias que o comrcio europeu, articulando todos os continentes, necessitava. Desde o incio da colonizao do Novo Mundo a ocupao de terras sem ttulos legais tornou-se prtica comum para expanso de propriedades e as autoridades coloniais priorizavam os interesses metropolitanos em detrimento dos direitos indgenas. Na Amrica espanhola os colonos reivindicavam mais terras para a agricultura em larga escala e a pecuria extensiva, que a requerida pelos indgenas para suas lavouras inten-
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CARDOSO, Ciro Flamarion C.; BRIGNOLI, Hctor Prez. Op. cit., t. 1, p. 178-179. LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra Prometida: uma histria da questo agrria no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999, p. 46-47.
sivas. Na perspectiva dos colonizadores, as terras que os ndios usavam para caar e praticar outras atividades comunitrias seriam vagas e, portanto, disponveis para eles. Os portugueses, encontrando os nativos em estgio social e tecnolgico ainda tribal ignoraram seus direitos. Em Nueva Granada, no final do sculo XVI, as terras cultivadas pelos nativos antes da chegada dos conquistadores e muitas que se incorporaram depois ao espao aproveitvel, j se encontravam em domnios da casta dirigente espanhola. Em condies semelhantes se encontravam as outras partes do continente226. Nessa poca, o governo espanhol, desconsiderando os ttulos de propriedade, iniciou uma operao fiscal, com as visitas e revistas227 das composies de terras228. nas zonas de maior densidade populacional indgena, tentando estabelecer uma ordem agrria. Mas teve de manter as terras comunitrias dos ndios, reconhecendo ser a nica maneira de assegurar a sobrevivncia do mundo indgena, sem o qual se desarticularia a vida econmica colonial e, por conseguinte, do imprio. Mas, lentamente, essas terras se transferiram para particulares, concentrando-se em poder de grandes proprietrios. Alm das funes oficiais, autoridades espanholas aproveitavam-se de seus poderes na colnia para intervir na economia indgena, proibindo, por exemplo, o livre comrcio de produtos mais rentveis como o algodo, nos Andes ou a cochonilha, no Mxico, adquirindo-os por baixos preos para obter elevados lucros, especulando no mercado. Tambm obrigavam ndios a lhes comprarem, por preos aviltantes, suas mercadorias, como mulas, aguardente, tecidos, ferramentas e at objetos que lhes eram totalmente desnecessrios ou que no sabiam utilizar229. A predominncia latifundiria na Amrica hispnica, na avaliao de Luelmo230, no fora conseqncia imediata da conquista, porque as grandes concesses de terras aos conquistadores foram fenmenos isolados. Num processo semelhante ao ocorrido na Amrica portuguesa, o poder agrrio colonial se impusera diante da legislao me226
FLORESCANO, Enrique. Formacin y estructura econmica de la hacienda en Nueva Espaa. In: BETHELL, Leslie (ed.). Historia de la Amrica Latina. 3. Amrica Latina Colonial: Economia. Barcelona: Crtica, 2000, p. 92-121; GIBSON, Charles. Las sociedades ndias bajo el domnio espaol. In: SNCHEZ-ALBORNOZ, Nicolas [et alii]. Amrica Latina en la poca colonial. 2. Economia y sociedad. Barcelona: Crtica, 2003, p. 99-130; COLMENARES, Grman. Histria econmica y social... op. cit., v. I, p.199. 227 A visita consistia na inspeo e fiscalizar o cumprimento das funes dos organismos pblicos. Neste caso, a aplicao das leis de ocupao e explorao da terra. 228 Composicin de tierras: processo que permitia, na Amrica Espanhola, a legalizao da propriedade fundiria, possuda durante algum tempo, sem titulao. A essa regulamentao precedia o pagamento ao fisco, de um valor sempre inferior ao preo de mercado da terra. Com este instrumento o governo metropolitano realizou uma vasta distribuio de terras, definindo a estrutura da propriedade colonial. 229 LAVALL, Bernard. La Amrica Continental (1763-1820). In: LAVALL, B.; NARANJO, C.; SANTAMARIA, A. La Amrica Espaola (1763-1898): Economia. Madrid: Sntesis, 2002, p. 13-137.
tropolitana, contornando-a ou simplesmente ignorando-a, estabelecendo o latifndio como trao marcante das estruturas agrrias. O governo espanhol no fora capaz de evitar o aparecimento da grande propriedade rural eclesistica na Amrica. As reales ordenes editadas para impedir a acumulao de terras em manos muertas231 e as numerosas revises dos ttulos de propriedade foram ineficazes para deter o processo de concentrao da propriedade, a tal ponto que, em princpios do sculo XVIII, as ordens religiosas monopolizavam um tero das terras, terrenos urbanos e edificaes da Amrica Central. Para arrecadar rendas extraordinrias, os monarcas espanhis distriburam ttulos agrrios aos criadores de gado e donos de terras adquiridas por meios legais, transformando em propriedade os velhos direitos de uso atribudos s estncias que se consolidaram como latifndios pecuaristas ou de grande lavoura, produtores do prprio abastecimento. Entre os beneficirios dessas composies de terras de ocupao ilcita encontravam-se membros do clero secular e ordens religiosas, principalmente a Companhia de Jesus, que possua colgios e latifndios em toda a Amrica hispnica: uma dezena e meia de fazendas, com reas entre mil e 500 e 24 mil hectares no vice-reino de Nueva Espaa232; trs dezenas de latifndios, com produo, principalmente, de acar, vinho e gado vacum no vice-reino do Peru233; mais de uma centena e meia de fazendas produtoras de cacau, bovinos, ovinos, eqinos no vice-reino de Nueva Granada234; vastos latifndios, com mais de 150 mil bovinos, 95 mil eqinos, 240 mil ovinos, 15 mil muares nas Misses Guaranis, no vice-reino de Rio de la Plata235; 80 mil bovinos, 14 mil e 500 eqinos, 3.600 ovinos, dois mil, 250 muares no Grande Charco236.
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LUELMO, Julio. Op. cit., p. 400. Denominavam-se bens de manos muertas os imveis inalienveis da Igreja, vinculados como o mayorazgo, instituio correspondente ao morgado e capela de Portugal. 232 Criado em 1535, com capital na Cidade do Mxico e jurisdio sobre as audincias de Nueva Espaa (Centro do Mxico), Nueva Galcia (norte do Mxico e atual Califrnia), Nueva Viscaia (atual Zapoteca), Nuevo Mxico e Nueva Len (nordeste do Mxico), estendendo-se ao norte para Kansas, Arizona, Texas, Oklahoma, Nevada, Iowa, Luisinia e todo o norte e oeste do atual territrio dos Estados Unidos e ao sul por toda a Amrica Central e Caribe. 233 Institudo em 1543, em todo o territrio espanhol da Amrica do Sul, exceto a Venezuela, ficando depois apenas com o Peru e a Bolvia. 234 Estabelecido no territrio de Nueva Granada (Colmbia), em 1717, suprimido em 1723 e restabelecido em 1739, com jurisdio nas provncias de Quito, Panam, Mariquita, Cumat, Venezuela e Trinidad. 235 Formado em 1736, com capital em Buenos Aires e territrios das gobiernaciones de Buenos Aires Crdoba, Tucumn, Assuncin, Alto Peru (Bolvia). 236 CHEVALIER, Franois. La formacin de los latifundios en Mxico: tierra y sociedad en los siglos XVI y XVII. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1975, p. 375; FLORESCANO, Enrique. Los fundamentos... op. cit., 369-375.
(Inglaterra)
Canad
O C E A N O A T L N T I C O
Guianas Inglaterra (desde 1796 e 1814) Holanda Frana
O C E A N O P A C F I C O
Luisinia antes de 1783
Francesa at 1762 Espanhola: 1763 - 1800 Francesa: 1800 - 1803 Dos EUA (vendida): 1803
Nova Frana
Rio de Janeiro
Capital de Vice Reino Sede de Audincia Capitania Geral Portugus Espanhol Francs Disputado
Ilhas Malvinas (Espanha) Fonte: Morales Padron, Francisco. Op. Cit., P. 434. Produo Grfica: Francisco Magalhes
Como Portugal, que expulsou os jesutas em 1759 e confiscou seus bens, a Espanha baniu a Companhia de Jesus em 1767237, levando hasta pblica todo o seu patrimnio, exceto os bens destinados ao culto. Quando se inventariou, por exemplo, a fazenda Caribabare, nas plancies de Casanere, no vice-reino de Nueva Granada, o funcionrio informou apenas que as terras estendiam-se por um e outro lado do rio Casanare. Quanto ao gado vacum, contaram 10.606 rezes, no se sabendo a quantidade que
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Alm de Portugal e Espanha, tambm a Rssia, em 1719 e a Frana, em 1762, expulsaram a Companhia de Jesus, sempre acusada de conspirao. O papa Clemente XIV extinguiu a ordem em 1773, sendo sua bula revogada em 1814, por Pio VII.
no fora levada aos currais, calculada depois por prticos do lugar, em trs mil cabeas238. Sempre houve famlias ou indivduos que possuam mltiplas extenses de terra, mas, nas ltimas dcadas da colonizao, tanto no Mxico como no Peru, passou a ser um padro entre os maiores proprietrios, enriquecidos na agropecuria, no comrcio ou na minerao, a posse de sries de haciendas, geralmente descontnuas, gerenciadas por um administrador que intermediava as relaes entre o proprietrio e o feitor de cada unidade agrria e este se sobrepunha, na hierarquia produtiva, aos trabalhadores escravos e livres239. Tornou-se comum os proprietrios de grandes haciendas explorarem, diretamente, apenas as melhores terras, com as lavouras mais lucrativas, arrendando ou alugando outras partes. A colonizao do Novo Mundo desdobrou-se da expanso comercial europia, articulando-o dinmica mercantil como alternativa econmica da impossibilidade de negcios em larga escala com as populaes nativas que se encontravam em estgios aldeo e gentlico, como faziam na frica e sia, onde estabeleceram feitorias e entrepostos comerciais. Em conseqncia, as metrpoles europias organizaram estruturas produtivas na Amrica embora o centro dinmico da acumulao mercantil fosse a circulao para se abastecerem de mercadorias tropicais, processo que atribuiu terra, condio de principal meio de produo. A disponibilidade de terras explorveis poderia resultar na disseminao de produtores autnomos, em dimenso capaz de viabilizar acumulao na colnia, que concorresse com a metrpole, contrariando o projeto colonizador que se limitava expanso das atividades comerciais europias. Em tais circunstncias, a propriedade, posse e explorao da terra, do mesmo modo que do fator trabalho, constituam-se prrequisitos fundamentais do controle de todo o aparato colonizador240.
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COLMENARES, Germn. Haciendas de los jesuitas en el Nuevo Reino de Granada, siglo XVIII. 2. ed. Santa F de Bogot: Tercer Mundo, 1998. 239 SCHWART; LOCKHART. Op. cit., p. 381-383. 240 Sobre economia colonial, pelo enfoque da acumulao exgena, ver: PRADO JNIOR, Caio. Formao do Brasil Contemporneo (colnia); FURTADO, Celso. Formao econmica do Brasil; NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil...; ARRUDA, Jos Jobson de Andrade. O Brasil.... Na perspectiva de formao do mercado interno, ver: ZAMELA, Mafalda P. O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no sculo XVIII. 2. ed. So Paulo: HUCITEC e EDUSP, 1990, 1. ed. 1951; LAPA, J. R. Economia colonial. So Paulo: Perspectiva, 1973; ________. Economia colonial. So Paulo: Perspectiva, 1973; ________. (Org.). Modos de a produo e realidade brasileira. Petrpolis: Vozes, 1980; LENHARO, Alcir. As tropas da moderao: o abastecimento da Corte na formao poltica do Brasil 1808-1842. So Paulo: Smbolo, 1979. MARTINHO, Lenira Menezes; GORENSTEIN, Riva. Negociantes e caixeiros na sociedade da Independncia. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Turismo e Esportes, 1993; LINHARES, Maria Yedda (Coord.). Histria geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus,
Portugal reproduziu, no Brasil o regime jurdico de repartio fundiria, de 1375. Mas, a vastido do territrio e a distncia da Europa fizeram necessrias algumas adaptaes, como a ampliao das reas concedidas, a iseno de foros e de aluguis aos colonos, no se cobrando o sesmo original. Isto deu origem a um sistema alodial, de propriedade fundiria, caracterizado pela propriedade absoluta da terra241, sem vnculo nem dependncias pessoais, admitindo-se, apenas excepcionalmente, o morgado e a capela. Aplicou-se, na colnia, o regime de explorao agrria, institudo para as circunstncias da metrpole. A partir da ltima dcada do sculo XVII, quando aumentava a demanda por terras, em conseqncia da descoberta das jazidas aurferas do rio das Velhas, sucessivas normas legais decretos, preceitos, forais, estatutos, resolues, portarias modificaram os critrios jurdicos, sendo mais acentuado esse processo no governo colonial de Joo de Alencastro (1694-1702), reduzindo reas que se concediam e condicionando novas doaes. Como a Espanha, Portugal no foi capaz de impedir a expanso do latifndio improdutivo na colnia, onde se burlaram restries legais, expandiram sesmarias por mais de uma dezena de lguas, como Brs Cubas em So Paulo; ou ocuparam reas indgenas, como Antnio Guedes de Brito, em territrios que abrangem grandes partes da Bahia e de Minas Gerais; e os dvila, por sertes, atualmente, sob jurisdio de vrios estados do Nordeste. Alm de concesses fundirias ilimitadas, faziam-se benesses aos mesmos senhores de terras, em pocas e lugares distintos, facilitando-lhes incorporaes dos espaos intermedirios e adjacentes. Somente na segunda metade do sculo XVIII, quando pouca rea havia para se distribuir, vetou-se a concesso de mais de uma sesmaria ao mesmo donatrio. A colonizao da Amrica portuguesa, antes litornea, expandiu-se, com o impacto da minerao, na transio para o sculo XVIII, dinamizando a economia, formando ncleos urbanos, articulando circuitos comerciais de boiadeiros e tropeiros em todas as direes242, Em conseqncia destes e outros fatores, a demanda por terras
1990; FRAGOSO, Joo Lus Ribeiro. Homens de grossa aventura...; FLORENTINO, Manolo; FRAGOSO, Joo. O arcasmo como projeto: mercado atlntico, sociedade agrria e elite mercantil em uma economia colonial tardia. Rio de Janeiro, c.1790-c.1840. 4. ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2001, 1. ed. 1993. 241 CARDOSO, Ciro Flamarion C.; BRIGNOLI, Hctor Prez. Op. cit., t. 1, p. 111. 242 Sobre a ocupao econmica do Alto Serto da Bahia e seu entorno, ver: FREIRE, Felisbello. Histria territorial...; MAGALHES, Baslio de. Expanso geogrfica; SANTOS FILHO, Lycurgo. Uma comunidade rural...; NEVES, E. F. Uma comunidade sertaneja:...; SOUSA, Maria Aparecida Silva de. A conquista do Serto da Ressaca: povoamento e posse da terra no interior da Bahia. Vitria da Conquista: Edies UESB, 2001; VASCONCELOS, Albertina Lima. Ouro: conquistas, tenses, poder. Minerao e escravido Bahia do sculo XVIII. 1997. Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade
levou o governo metropolitano a limitar as concesses de sesmarias ao mximo de quatro lguas de comprimento e uma de largura, equivalendo a 17.424 hectares, considerando-se a lgua de sesmaria, de seis mil e 600 metros, ou de 14.400 hectares, levandose em conta a medida brasileira de seis mil metros. Uma carta rgia de 27 de dezembro de 1695, fixou em cinco lguas, reduzidas para trs, por outra de 7 de dezembro de 1697, para duas, em 1698 e, depois, para uma e meia, em alguns casos243. Uma proviso rgia de 20 de janeiro de 1699 excepcionou a manuteno de sesmarias, ainda que de muitas lgua, quando cultivadas pelo donatrio diretamente ou atravs de arrendatrios, transferindo ao denunciante, breve e sumariamente, as reas incultas, contanto que o tal stio no excedesse a trs lguas de comprimento e uma de largo ou lgua e meia em quadro244, rea equivalente a 13 mil 068 hectares com a lgua de seis mil e 600 metros ou 10 mil 800 hectares, com a de seis mil. Essa proviso preservou, inclume, os latifndios que Antnio Guedes de Brito se apoderara, na margem direita do Mdio So Francisco. Tambm possibilitou aos mineiros ocuparem as terras que Brito transferira sua filha Isabel Maria Guedes de Brito no rio das Velhas; e facilitou aos mineradores de Jacobina fazerem o mesmo nas cabeceiras do Itapicuru, j no domnio da neta Joana da Silva Guedes de Brito. Uma carta rgia, de 27 de dezembro de 1695 determinou que os sesmeiros pagariam, alm do dzimo Ordem de Cristo e as mais costumadas taxas, um foro segundo a grandeza ou bondade da terra. Mas, at 1777 quando o governador Manoel da Cunha e Menezes, que tambm governara a capitania de Pernambuco, onde assim se praticava, fez cumprir a determinao rgia concederam-se terras na Bahia sem qualquer penso ou tributo. Em Pernambuco, as sesmarias que se aproximassem at 30 lguas de Recife pagavam o foro de seis mil-ris e as mais distantes, quatro mil-ris. Na Bahia, apenas um a dois mil-ris, conforme a qualidade da terra. Quanto aos arrendamentos e aforamentos, admitiam-se, para os proprietrios que dispusessem de reas suEstadual de Campinas, Campinas; SODR, Maria Dorath Bento. At onde justo for: arranjos e conflitos pela propriedade e posse da terra (Macabas, 1850). 1999. Monografia (Especializao em Teoria e Metodologia da Histria) Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana; MIGUEL, Antonieta. Vida material e cotidiano: A Imperial Vila da Vitria na segunda metade do sculo XIX. 2000. Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade Federal da Bahia, Salvador; SOUZA FILHO, Argemiro Ribeiro de. A guerra de Independncia da Bahia: Manifestaes polticas e violncia na formao do Estado Nacional (Rio de Contas e Caetit). 2003. Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade Federal da Bahia, Salvador; CAMPOS, Ccero. Descripo do municpio de Macahubas. Anais do 5. Congresso Brasileiro de Geografia, v. II, Salvador, 7 a 16 set., 1916. 243 PORTO, [Jos] Costa. Op. cit., p. 74.
periores capacidade de cultivo, desde a lei original de 1375. Na Amrica portuguesa conservou-se essa prtica. O j citado ttulo das Ordenaes Filipinas, Das sesmarias, determinou que, onde se edificassem vilas sedes municipais se reservassem reas suficientes para os moradores criarem, plantarem e para logradouros. Nos casos de sesmarias, retornar ao patrimnio pblico, a Proviso Rgia de 19 de maio de 1729, determinou que se compensassem os donatrios e seus herdeiros ou sucessores desapropriados com outras reas. Com base nesse dispositivo e em Alvar Rgio de 5 de outubro de 1795, quando se instalou a Vila Nova do Prncipe e Santa Ana de Caetit, em 1810, o procurador da cmara, to logo se empossou, peticionou demarcao de meia lgua de terras em quadro, tomando o pelourinho como ponto central, para os moradores erigirem casas e servirem-se de lenhas para suas cozinhas, sem que os chamados possuidores desses terrenos pudessem impedi-los, solicitando, ainda, que essa rea fosse incorporada na Real Coroa245. Desde a Proviso Rgia de 11 de maro de 1754, os caminhos pblicos e particulares para fontes, pontes, portos e pedreiras, em terras de sesmarias seriam de livre acesso. Nas margens de rios caudalosos, onde necessitassem barcos, meia lgua de terra em quadro se destinaria tambm para uso da populao e de quem arrendasse a passagem246. No sculo XVII e incio do seguinte alguns sesmeiros transferiram suas donatarias para ordens religiosas. O governo portugus se apressou em anular as transferncias. Mas, uma Resoluo de 26 de julho de 1711 liberou essa condio, determinando que tambm essas instituies eclesisticas pagassem dzimos e outros encargos, igualado-as aos possuidores seculares, acabando-se com o antigo privilgio da iseno. Desde ento, as corporaes religiosas ficaram impedidas de receber terra ou qualquer bem de raiz, sem licena rgia. Alm da necessidade de controle, talvez o governo portugus pretendesse, com essa deliberao, punir eventual reao intentada contra o fim da regalia. Portugal foi mais cauteloso com as ordens religiosas que a Espanha, evitando que
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APEB. Colonial e Provincial. Ordens Rgias, vol. 5, 1698-1699, doc. 113, p. 170, Carta Rgia, 20 jan. 1699, comentada por: CASTRO, Fernando Jos de Portugal e. (marqus de Aguiar). (Autor presumvel). Op. cit., p. 96-99; PORTO, [Jos] Costa. Op. cit., p. 74. 245 APMC. Auto de Creao da Villa e Termo de quando se Levantou o Pelourinho. Atas da Cmara Municipal de Caetit. Livro n. 1, p. 1 e seguintes. Ver transcries em: SILVA, Pedro Celestino da. Notcias histricas e geogrficas do municpio de Caetit. Revista do IGHG. Bahia, n. 58, p. 93-294, 1932; PEDREIRA, Pedro Toms. Municpio de Caetit. Estado da Bahia. Salvador, 22 dez., 1959; 29 dez., 1959; 5 jan., 1960; 12 jan., 1960; 19 jan. 1960. 246 CASTRO, Fernando Jos e Portugal e. (marqus de Aguiar). (Autor presumvel). Op. cit., p. 103-106.
concentrassem propriedades de muitas terras. Beneditinos na Bahia e jesutas no Rio Grande do Sul conseguiram, por algum tempo, contornar essa vigilncia, mas foram contidos. Da srie de normas legais que a monarquia portuguesa emitiu, entre fins do sculo XVII e ltimos anos do XVIII, perodo que coincide com o auge minerador e a crescente demanda por terras, a de maior alcance seria o alvar de 5 de outubro de 1795, que detalhou as condies para concesso fundiria, cuja execuo se suspendeu pelo decreto de 10 de dezembro do ano seguinte. Esse decreto definiu que os governadores no poderiam conceder, principalmente em zonas prximas s capitais ou junto a estradas e rios navegveis, mais de meia lgua de terra em quadra; e impediu a concesso de mais de uma sesmaria a cada pessoa, mas excepcionava-se aqueles que, pelo seu poder, provassem serem insignificantes tais terras247. As restries e o controle das concesses e conservao de sesmarias no eliminaram a inacessibilidade a elas pelo lavrador sem recursos financeiros. Enquanto vigorou no Brasil, esse regime de repartio de terras estimulou a grande propriedade fundiria, concentradora da renda e facilitadora da sua transferncia para outros sistemas econmicos. As dimenses e localizaes das unidades agrrias dificultam o estudo das sesmarias, pela impreciso de limites. Declarando suas terras ao desembargador Sebastio Pereira Cardoso, designado pelo governo metropolitano, em 1676, para coibir infraes da legislao das sesmarias, Antnio Guedes de Brito, informou que as recebera com seu pai, Antnio de Brito Correia, do governador Joo Rodrigues de Vasconcelos, conde de Castel-Melhor (1650-1654), em 26 de outubro de 1652, principiando no Caguague ou Caguaguena, at a serra Tuiuiuba, uma sesmaria com oito lguas de largo248. Brito no descreveu confrontaes nem indicou localizaes precisas, impossibilitando qualquer mensurao de rea. A incidncia de limites imprecisos, com maior freqncia em zonas distantes e de difcil acesso, decorre da sonegao de informaes, pelos donatrios, seus herdeiros e sucessores, aos agentes dos poderes pblicos, encarregados de inspecionar titularidades, aferir dimenses e da cumplicidade desses representantes governamentais, alguns dos quais tambm proprietrios de terras.
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RODRIGUES, Jos Honrio. A concesso de terras no Brasil. Das sesmarias Lei 601, de 1850. In: ________. Histria e historiografia. Petrpolis: Vozes, 1970, p. 58-59. 248 COSTA, Afonso. Guedes de Brito, o povoador (histria de Jacobina). Anais do APEB. Bahia, n. 32, p., 318-381, 1952.
O mesmo Guedes de Brito, associado a Bernardo Vieira Ravasco, recebera, em 1663, do conde de bidos, vice-rei e capito-general da Bahia249, terras desde as nascenas do Itapicuru at o rio de S. Francisco, por ele acima, tantas lguas quantas h, da prpria nascente do Itapicuru do Paraguassu, contornando a nascena do Paraguassu e della a do Itapicuru, reservando-se uma lgua de terras para cada aldeia indgenas. Posteriormente, Guedes de Brito, conforme declarou sua filha Isabel Guedes de Brito250, comprou a parte do scio. Sobre o que caberia s tribos indgenas da rea, nada se sabe. E assim, comprando terras de parceiros e outros proprietrios, descobrindo e conquistando da populao nativa, o mestre-de-campo apoderou-se, nos sertes do Mdio So Francisco, de rea mais extensa que os territrios de vrios pases da Europa juntos. Com freqncia, ocupavam-se terras sem titulao para, em seguida, formularem-se pedidos de sesmarias ou legalizao de posse, que antecipava definio da propriedade, com o uso parcial do terreno. As mesmas circunstncias que possibilitavam ocupaes ilcitas e descontrole das dimenses de sesmarias, proporcionavam a posseiros, oportunidades para definirem seus prprios limites. Por isso, as cartas de sesmaria no indicavam confrontaes nem reas com preciso. Reproduziam referncias temporrias e acidentes geogrficos indicados pelos requerentes, conhecedores ou ocupantes dos terrenos pretendidos. Se as extenses de terras ermas facilitavam ocupaes, tambm propiciavam espoliao de posseiros pobres por proprietrios com trnsito nas rbitas dos poderes pblicos e que dispunham, na retaguarda, das milcias coloniais. A legislao portuguesa ignorava a existncia de posseiros. Nos casos de conflito reconhecia-se o direito dos donatrios de sesmarias que, em ltima instncia, representava o poder monrquico, expresso na colnia, pela propriedade da terra. Usando essa faculdade, desde o sculo XVII, legalizaram-se extensas reas j ocupadas, das quais se passaram a cobrar foros e arrendamentos de moradores. Antnio Guedes de Brito soube aproveitar-se dessas circunstncias para incorporar ao seu j extenso domnio fundirio, o territrio da margem direita do So Francisco, entre as nascentes do Paraguau, rea central da Bahia e do Paraopeba, sul de Minas Gerais, estendendo-o, leste, aos vales do Jequitinhonha, Pardo e de Contas. Reivindi249
AN. Fundo Diversos. (SDH), BX, SDE. F. 34. Livro 6, f. 474; FREIRE, Felisbello. Histria territorial..., Traslado da Carta de Doao, 22 ago., 1663, p. 34.
cou esse territrio no requerimento da sua carta patente de capito de infantaria, cujo ttulo reproduz seu pleito251, como ressarcimento das despesas que efetuara nas guerras contra holandeses, na Bahia e em Pernambuco. Em fins do sculo XVII, a excessiva concentrao da titularidade de terras preocupou o rei Pedro II (1683-1706) que, em 13 de dezembro de 1697, mandou intimar os titulares de grandes reas no Rio Grande do Norte, que residiam na Bahia para, no prazo de um ano medirem e demarcarem suas terras, sob pena de tornarem-se devolutas. Cinco anos depois o mesmo rei determinou a todos os titulares de sesmarias que apresentassem, no prazo de seis meses, cartas de concesso e respectivas confirmaes. Atravs carta de 8 de maro de 1704, mandou demarc-las, sob pena de perd-las. Para execuo dessa tarefa nomeou o desembargador Jos da Costa Correia, substitudo pelo colega Cristvo Tavares de Morais, em 1711, de cujas deliberaes, apenas comportariam recurso ao Conselho Ultramarino. Esse magistrado entrou em conflito com os senhores de terras, que lhe acusaram de vrias condutas irregulares: medir reas do Recncavo e do litoral, quando sua misso se restringiria ao serto; exorbitar-se na cobrana de taxas; no ouvir as partes; nem assistir s medies. Os acusadores pediram ao rei que lhes concedesse o direito de apelao e agravo da conduta do seu preposto, plenipotencirio na colnia, ao Tribunal da Relao. Em 1715, o governador recebeu a incumbncia de intermediar no conflito, mas sua interveno apenas o atenuou, protelando solues. Uma dcada depois, D. Joo V (1707-1750) determinou ao vice-rei do Brasil, Vasco Fernandes Csar de Menezes (1720-1736), que notificasse a Garcia dvila Pereira, aos herdeiros de Antnio Guedes de Brito, alm de Domingos Afonso Serto, Antnio da Rocha Pita, Pedro Barbosa Leal e o Mosteiro de So Bento da Bahia, senhores das maiores dimenses fundirias para, no prazo de um ano, apresentassem ao Conselho Ultramarino os ttulos de suas terras e as formas de utilizao delas, sob pena de seqestro252. No reinado de D. Jos I (1750-1777), assumiu a Secretaria de Estado dos Negcios Estrangeiros e da Guerra, sendo depois Ministro do Reino (1756), cargo equivalen250
AHU-Con. Ultra.-Brasil-MG, Cx. 2, Doc. 62. Requerimento de Isabel Maria Guedes de Brito a D. Joo V, anterior a 1720, Conselho Ultramarino, 10 mai., 1720. 251 A carta patente de capito de infantaria de Antnio Guedes de Brito, de 1677, descreve sua participao como militar e financiador das guerras contra os holandeses. SILVA, Igncio Accioli de Cerqueira e. Op. cit., v. 2, p. 127-130. 252 BANDEIRA, Lus Alberto Moniz. O feudo: a Casa da Torre de Garcia dvila: da conquista dos sertes Independncia do Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000, p. 260-261.
te ao de primeiro ministro, Sebastio Jos de Carvalho e Melo (1699-1782), que recebeu os ttulos de conde Oeiras (1759) e marqus de Pombal (1770). Este senhor dominou toda a vida poltico-administrativa e intelectual luso-brasileira, promovendo reformas econmicas, sociais e polticas favorveis aos interesses mercantis e, sempre que possvel, contrrias s convenincias aristocrticas e eclesisticas253. O ministro Sebastio Jos de Carvalho e Melo, concentrando muitos poderes, tomou medidas de grande repercusso, como a expulso da Companhia de Jesus dos domnios de Portugal. Antes dessa deciso o Conselho Ultramarino mandou ao Brasil, como enviado especial do ministro do reino, o conselheiro Jos Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho de Melo, com vrias atribuies para prevenir contra eventuais populares e amenizar traumas sociais, em conseqncia do fechamento de 25 residncias, 36 misses e 17 colgios, alm de seminrios menores e escolas de ler e escrever e confisco de todos os bens dos jesutas254. Carvalho e Melo decidiu assumir o controle temporal das aldeias indgenas e definiu a poltica de secularizao do conhecimento na Amrica portuguesa. Entre as providncias preparatrias para esse processo o conselheiro Coelho de Melo fundou, com a elite baiana, a Academia Braslica dos Renascidos, para preservar os conhecimentos geogrficos, histricos e etnogrficos, reunindo livros, obras manuscritas, mapas e diplomas legais, acumulados pelos jesutas. Ainda conforme ris Kan-
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Sobre as reformas pombalinas, ver, por exemplo: PEDROSO, Antnio de Souza (visconde de Carnaxide). O Brasil na administrao pombalina: economia e poltica externa. 2. ed. So Paulo: Nacional; Braslia: INL, 1979, 1. ed. 1940; FALCON, Francisco Calazans. A poca pombalina. Poltica econmica e monarquia ilustrada. So Paulo tica, 1982. AVELAR, Hlio de Alcntara. Histria Administrativa do Brasil; a administrao pombalina. 2. ed. Brasilia: FUNCEP; UNB, 1983; MAXWELL, Kenneth. Marqus de Pombal: paradoxo do iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 254 KANTOR, Iris. A Academia Braslica dos Renascidos e o governo poltico da Amrica portuguesa (1759): contradies do cosmopolitismo acadmico luso-americano. In: JANCS, Istvn (Org.) Brasil: formao do Estado e da nao. So Paulo: FAPESP, HUCITEC; Iju: UNIJU, 2003, p. 321-322.
tor, alguns sertanistas, como Pedro Leolino Mariz255, Romo Gramacho Falco256 e Joo Calmon257 integraram essa academia. No incio dessa conjuntura reformista, uma proviso rgia de 19 de fevereiro de 1755258, para o ouvidor geral da Comarca da Bahia da Parte do Sul com sede em Jacobina baseada em representaes de moradores do Piau, sertes da Bahia e Pernambuco, que reagiam s contendas e litgios que lhes moveram os chamados sesmeiros de um excessivo nmero de lguas de terras de sesmaria, doadas a Francisco Dias de vila, Francisco Barbosa Leal, Bernardo Pereira Gago, Domingos Afonso Serto, Francisco de Souza Fagundes, Antnio Guedes de Brito e Bernardo Vieira Ravasco, que seriam devolutas por se no cumprir o fim para que se concederam. Os autores das representaes recorreram contra sentenas de expulso, cobranas de rendas e foros das terras que ocupavam. O ouvidor geral fora informado de que, depois de ouvir o Conselho Ultramarino, D. Jos I deliberara, por resolues de 11 de abril e 2 de agosto de 1753, anular, abolir e cassar todas as ordens e sentenas sobre questes fundirias, para que se dessem os fundamentos das demandas. E para execuo do que determinara, nomeou uma comisso, encarregando o ouvidor do Maranho, desembargador Manoel Sarmento de passar cartas das terras cultivadas e das que pedissem, declarando que no fossem de mais de trs lguas de comprido e uma de largo, medindo entre uma e outra ao menos uma lgua259. Os colonos teriam preferncia, caso solicitassem, sobre as reas que cultivavam. Entretanto, cedendo aos protestos dos jesutas, cuja ordem fora legatria das terras de Domingos Afonso Serto e outros sesmeiros, o mesmo rei, em 20 de outubro de 1753, manteve a titularidade dos sesmeiros sobre as terras cultivadas por si, seus colonos ou rendeiros, excluindo-se as roteadas e cultivadas por outras pessoas, ainda que
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Leolino Mariz atuou no Alto Serto da Bahia e seu entorno desde incio do sculo XVIII; estabeleceu a fazenda Brejo das Carnabas, no rio das Rs; descobriu, em 1747, a mina de salitre de Monte Alto; comandou um dos dois regimentos de milcias de Rio de Contas; e em 1729 tornou-se superintendente das Minas Novas, ainda integrando o territrio baiano; representou os interesses de Isabel Maria Guedes de Brito nos vales dos rios Pardo e Jequitinhonha. Ver: MAGALHES, Baslio de. Op. cit., p. 208; FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Op. cit., p. 241; NEVES, E. F. Uma comunidade..., p. 96; 220. 256 Gramacho Falco recebeu de Manoel de Saldanha da Gama e sua mulher Joana da Silva Guedes de Brito, um stio de terras no Serto da Travessia, com dimenso de uma sesmaria, entre o rio Paramirim e nascentes do Jacar. APEB. Judicirio. SJ/15/91. f. 27. Livros de Notas da Capital. Escritura pblica, 1751. Falco descobriu no morro do Palmar, em 1755, as jazidas de ouro de Jacobina, conforme FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Op. cit., p. 151. 257 O Dr. Joo Calmon pagava rendas das fazendas de Malhada, Riacho e Canabrava, no ngulo formado pelos rios So Francisco e Verde Grande, onde criava gado, conforme Roteiro de Quaresma. In: FREIRE, Felisbello. Histria territorial..., p. 505. 258 COSTA, Afonso. Guedes de Brito, o povoador..., p. 318-331. 259 CASTRO, Fernando Jos e Portugal e. (Autor presumvel). Op. cit., p. 108; 109.
fosse a ttulo de aforamento ou arrendamento, mantendo a tradio de ignorar posseiros. Representaes como as da Companhia de Jesus e de Manoel de Saldanha da Gama teriam levado o rei novamente a retroceder, determinando, em 9 agosto de 1754, que se suspendessem as medies e demarcaes das terras. A emaranhada legislao agrria portuguesa se complicava, a cada ato dispositivo. Nem mesmo a competncia de conceder sesmarias permaneceu inclume. To logo estabelecera a sede da monarquia lusitana na borda da baa de Guanabara, o prncipe regente D. Joo, atravs do decreto de 22 de junho de 1808, determinou que, na Corte e Provncia do Rio de Janeiro, somente a Mesa do Desembargo do Pao daria terras de sesmaria260. As doaes eram atribuio exclusiva dos governadores e capites generais do Estado do Brasil, cabendo Mesa do Desembargo do Pao confirmar as doaes. A modificao seria do interesses da famlia real no exlio tropical que, sem recursos para se sustentar, recorria aos empreendedores do trfico de escravos, compensando-lhes com cargos, prestgios e favorecimentos. A partir de 1814, em troca de adiantamentos para o Tesouro, pediram terras, recebendo dezenas de sesmaria. Os Carneiro Leo concentraram-se entre Valena e Minas Gerais e os Pereira de Almeida, na direo de Valena261, todos na Provncia do Rio de Janeiro. A minerao promovera a ocupao econmica do interior da Amrica portuguesa, iniciada pela expanso da pecuria. O declnio da produo aurfera estimulou, a partir de meados do sculo XVIII, o desenvolvimento policultor no Alto Serto da Bahia. Externamente, a revoluo txtil na Inglaterra, que no dispunha de matriasprimas, alm da l ovina, instigou o cultivo do algodo nos trpicos. Com a expanso dos mercados de tecidos nas reas temperadas e tropicais, o algodo substituiu a l de ovelhas, tornando-se a matria-prima mais consumida. Esse processo repercutiu nos sertes brasileiros, ampliando a demanda por terras e promovendo seu preo. Por outro lado, o litoral voltou a atrair mais imigrantes. A monocultura canavieira, novamente em expanso, voltou a necessitar de grandes reas para o cultivo, fornecimento de lenha para os fornos dos engenhos e pastagens para os bois que transportavam a cana e giravam as moendas.
260
CARVALHO, Porfrio Hemetrio Homem de. Primeiras linhas do direito agrrio deste reino. Lisboa Impresso Rgia, 1815, p. 7. 261 CALDEIRA, Jorge. Mau: empresrio do imprio. So Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 83.
TABELA II SESMARIAS DISTRIBUDAS NO BRASIL, EM NMEROS RELATIVOS, COM REAS EM LGUAS DE SESMARIAS, LGUAS QUADRADAS E A CORRESPONDNCIA EM HECTARES
QUANTIDADE (EM %)
REA LGUAS DE SESMARIAS NMERO HECTARES Menos de 6.534 6.534 a 13.068 17.424 a 21.780 34.848 a 217.800 LGUAS QUADRADAS HECTARES Menos de 5.940 5.940 a 11.880 15.840 a 19.800 31.680 a 198.000 -
FONTE: FONSECA, Clia Freire de A. Sesmarias no Brasil. In: SERRO, Joel. (Dir.). Dicionrio de Histria de Portugal. Porto: Figueirinhas, 1984, v. 5, p. 545-546.
Vistas em conjunto, as grandes dimenses atribudas s sesmarias se confirmam em parte. Um estudo de cerca de duas mil concesses na Amrica Portuguesa talvez todos os registros disponveis no Arquivo Histrico Ultramariano em Lisboa demonstra que 12,85% delas mediam menos de uma e meia lgua quadrada; 45,88%, de uma lgua meia a trs; 19,49%, entre quatro e cinco lguas; e 12,52%, de oito a 50 lguas quadradas262. Como demonstra a tabela II, quase 59% delas alcanavam reas mximas de trs lguas quadradas, equivalentes a 13.068 hectares, pela lgua de sesmaria ou 11.880 hectares, no caso da lgua quadrada, o que no se constitua exorbitncia, tratando-se da totalidade do territrio colonial em todo o perodo de colonizao e limite maior do grupo de sesmarias. A estrutura fundiria da Amrica portuguesa definida pelo sistema de sesmarias revelou-se catica em final do sculo XVIII. Donatrios, arrendatrios e posseiros praticavam todo tipo de irregularidade, abusando das leis circunstanciais, inadequadas s condies coloniais das ineficazes deliberaes rgias, que revogaram e reeditavam, continuamente, seus prprios atos dispositivos. Tentando retomar o controle da ordem agrria, o governo metropolitano reafirmou, em alvar de 5 de outubro de 1795, a deci-
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FONSECA, Clia Freire de A. Sesmarias no Brasil. In: SERRO, Joel. (Dir.). Op. cit., v. 5, p. 545546.
so de no mais se doar terras j ocupadas, aplicando-se retroativamente essa diretriz em casos de novos e velhos conflitos263. Por essa disposio o donatrio s assumiria o pleno domnio da terra depois de demarcada. Nessa condio se habilitaria para requerer confirmao da sesmaria, quando atendesse as condies estabelecidas, o que no constituiu novidade, por se tratar de princpio da lei de 1375, redefinido nas Ordenaes do Reino. Apenas revelou o descumprimento da legislao e mais uma tentativa de faz-la acatada. A fiscalizao ficaria, em cada municpio, a cargo de um ouvidor, nomeado pelo governador da capitania, escolhido de listas trplices de alfabetizados, apresentadas pelas cmaras de vereadores. Na impossibilidade da lista, o juiz ordinrio assumiria o cargo. Em reas prximas de centros urbanos limitariam novas concesses ao mximo de uma lgua, flexibilizando-se nas regies distantes. Entretanto, antes da sua vigncia, alegando embaraos e inconvenientes, dificultariam a imediata execuo, o governo metropolitano, cedendo s presses do poder agrrio colonial, suspendeu os seus efeitos, em 10 de dezembro de 1796, permanecendo o arbtrio consuetudinrio dos senhores de terras, que tambm controlavam as instituies polticas e sociais. s vsperas da Independncia do Brasil uma resoluo de consulta da Mesa do Desembargo do Pao, de 17 de julho de 1822, proposta por Jos Bonifcio e sancionada pelo prncipe regente Pedro de Alcntara, determinou a suspenso de todas as sesmarias futuras, at a convocao da Assemblia Geral, Constituinte e Legislativa, para atender a pedido do posseiro Manoel Jos dos Reis, que alegava estar de posse do terreno onde vivia com a famlia h 20 anos e se encontrava ameaado de perd-lo. Aps a Independncia o Desembargo do Passo determinou a todas as juntas dos governos provisrios que se abstivessem de conceder sesmarias at que a Assemblia Constituinte regulasse a matria264. Nessa mesma poca se fracionava o remanescente do domnio fundirio estabelecido por Antnio Guedes de Brito, no sculo XVII, transferido na quinta sucesso hereditria para o sexto conde da Ponte, no maior loteamento privado que se tem registro. Repassava-se a propriedade das glebas para arrendatrios. To logo se extinguiu no Brasil a expresso jurdica do vnculo morgado e capela em 1835, o stimo conde da
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Ver CASTRO, Fernando Jos e Portugal e. (marqus de Aguiar). (Autor presumvel). Op. cit., p. 110112. 264 CARVALHO, Jos Murilo de. A construo da ordem:..., p. 331-332; MOTTA, Mrcia Maria Menendes. Terra, nao e tradies invertidas: outra abordagem sobre a Lei de Terras de 1850. In: MEN-
Ponte e demais herdeiros negociaram o que restava de terras alugadas ainda mantidas por serem vinculadas ao Morgado Guedes de Brito, institudo do sculo XVII265. Entretanto, a legislao agrria portuguesa vigorou no Brasil at o advento do Decreto n. 1.318, de 30 de janeiro de 1854, que regulamentou a Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850, a Lei das Terras. Nessas circunstncias, do sculo XVI ao XIX, o sistema de sesmarias esboou, na Amrica portuguesa, a ordem jurdico-poltica da colonizao, estabelecendo critrios de repartio das terras, condies de posse e prazo para explorao, possibilitando, inclusive, ocupao, sob pretexto de descobrir e conquistar do gentio. Para alm de identidades e dessemelhanas com a gnese ibrica, o regime de sesmarias vigorou, na colnia, sem o controle da tradio legal portuguesa, num caos fundirio, como interessava aos sesmeiros, que alongavam donatarias, indicando limites com vagas referncias, sem precisar demarcaes, com a conivncia de prepostos governamentais, que no fiscalizavam e, quando cobrados, alguns se deixavam subornar, criando tradio que se arraigaria na cultura burocrtica brasileira. A vastido territorial e a baixa densidade demogrfica com agravantes como a resistncia de povos nativos e a distncia do litoral, onde se estabeleciam os poderes pblicos inibiram o povoamento e colonizao do interior, proporcionando conquistas de territrios, massacres das populaes indgenas e demarcao de reas com dezenas, centenas e at milhares de vezes superiores ao legalmente permitido. Vulgarizou-se, entre os homens de poder, a prtica de se ocupar terra, antes de pleite-la pelo regime de sesmarias. E para herdeiros de ocupantes de amplos territrios, como Antnio Guedes de Brito, esse recurso continuaria tolerado, para agilizar a negociao de terras, arrendando-as para posseiros e vendendo-as para rendeiros. Interessados na ocupao e povoamento, os governos, colonial e metropolitano, no tiravam glebas de posseiros, arrendatrios ou sesmeiros, ainda que parcialmente cultivadas. As reas devolutas originaram do abandono de donatrios ou seus herdeiros e das baldias, nunca doadas nem apropriadas ilicitamente. Nessas circunstncias, o regime de sesmarias estimulou ocupao de terras, tornando-se, depois, instrumento de
DONA Snia; MOTTA, Mrcia. (Org.). Nao e poder: as dimenses da histria. Niteri: EDUFF, 1998, p. 82. 265 Instituio de Antnio de Brito Correia e sua mulher Maria Guedes. ACCCP. SG.88-06-0. Traslado sem data (sc. XVII). Cpias de verbas testamentais de Antnio Guedes de Brito e de sua neta Joana da Silva Guedes de Brito.
validao das apropriaes indbitas, jamais impedidas por ao governamental, que se limitava a legalizar a ao ilcita, depois de legitimar a ocupao ilegal. Na metrpole manteve-se o controle do sistema jurdico das sesmarias, aplicando-o em pequenas glebas. Na colnia a extenso territorial o diluiu numa fachada legal sobre a qual se assentou o regime de propriedade, posse e utilizao da terra, que se esboou durante os trs sculos de colonizao. A Independncia do Brasil no causou nenhum impacto ou ruptura da estrutura econmica. Sua transio no ultrapassou nos mbitos poltico e administrativo, conservando a ordem jurdica, com a manuteno das Ordenaes Filipinas em vigncia at a segunda dcada do sculo XX. As prticas toleradas ou aceitas se incorporaram ao estatuto legal, reconhecendo a legitimidade da ocupao como primeiro estgio da apropriao e a posse como ante-sala do domnio pleno, constituindo-se um complexo direito agrrio. Pode-se concluir que a estrutura e a dinmica da explorao colonial do Novo Mundo evoluram de modo semelhante, diferenciando-se na organizao administrativa. A Espanha descentralizou o poder, do estreito de Magalhes ao de Bering, estabelecendo vrios vice-reinos; Portugal manteve o sistema de governo geral, transformado em vice-reino nico, na segunda metade do sculo XVII. A experincia do vice-reino do Maranho e Gro-Par foi efmera, reincorporando-se ao do Brasil. Essas circunstncias refletiram na ruptura da ordem colonial e formao dos estados nacionais. Os vice-reinos da Amrica espanhola fracionaram-se em repblicas de pequenas e mdias extenses territoriais. O vice-reino do Brasil manteve-se unido, articulando, no incio do sculo XVIII, quatro grandes administraes regionais: Capitania de Pernambuco, qual se subordinavam Cear, Rio Grande do Norte, Paraba e Alagoas; Capitania da Bahia, que anexara Sergipe, Ilhus e Porto Seguro; Capitania do Rio de Janeiro, da qual dependiam os capites-mores e governadores do Esprito Santo que se desvinculara da Bahia , Rio Grande do Sul e Santa Catarina; Capitania de So Paulo, com jurisdio sobre Minas Gerais, desanexada em 1720; e as de Mato Grosso e Gois, emancipadas em 1748.266 E nesta unicidade governamental o regime monrquico subseqente emancipao poltica nacional, em 1822/1823 e o sistema republicano institudo em 1889 tiveram influncias secundrias na unidade nacional.267
266 267
LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. Op. cit., p. 502. Sobre a construo da unidade nacional no Brasil ver: CARVALHO, Jos Murilo de. A construo da ordem:..., p. 13-22.
3. 3 Estruturas agrrias ibricas, aps as revolues liberais Los terratenientes feudales hubieron de admitir que el viejo orden no poda ser restaurado y, antes que dejar que los campesinos acabasen de liquidarlo por su cuenta, prefirieron pactar con la burguesa para la mutua defensa de sus propiedades, renunciando a unos derechos incobrables, que supieron transformar en ttulos de propiedad burguesa de la tierra.
Analisando as estruturas fundirias ibricas emergidas das revolues liberais da primeira metade do sculo XIX um historiador espanhol268 recomendou considerar a formao do mercado interno peninsular e do proletariado industrial, o grau de urbanizao da populao, o ritmo do processo de industrializao, enfim, o desenvolvimento do capital, considerando-se que tudo nos dois reinos estaria influenciado pelo sentido e alcance da profunda transformao do mundo rural, decorrida na primeira metade dos oitocentos. Contudo, este estudo se limita ao essencial para se compreender a colonizao do Novo Mundo, as independncias nacionais e as transies proporcionadas pelas reformas liberais na Amrica Latina, como ecos do que ocorrera nas antigas metrpoles. Os reinos de Portugal e de Espanha no final do sculo XV dependiam financeiramente de banqueiros florentinos, genoveses, venezianos e flamengos. O surgimento dos seus imprios ultramarinos no sculo XVI no modificou, como se v na obra de Stanley Stein e Brbara Stein269, o papel subordinado das monarquias ibricas, cujos vnculos de dependncias transferiram-se para a Inglaterra e a Frana. Se a Espanha mergulhou em profunda crise, para no se falar em colapso, a partir do sculo XVIII,
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SANZ GRACIA, ngel. Crises de la agricultura tradicional y Revolucin Liberal (1800-1850). In: SANZ GARCIA, ; GARRABOU, R. (ed.). Cambio social y nuevas formas de propiedad (18001850). Barcelona: Crtica, 1985, p. 7-8. (Historia agrria de la Espaa contempornea, 1). 269 STEIN, Stanley J.; STEIN, Barbara H. Europa y las estructuras de dependencias, 1500-1700. In: CARDENAS, Enrique. (Comp.). Historia econmica de Mxico. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1989, p. 77, 82, 88.
Portugal tornou-se uma dependncia inglesa, julgando-se pelos termos do Tratado de Methwen de 1703, que vinculou Inglaterra suas economias metropolitana e colonial. No incio do sculo XVII Francis Bacon (1561-1626) j advertia para o frgil estado da grandeza espanhola. O pas estava escassamente povoado e com vastos territrios coloniais para ocupar e explorar. No curso do sculo XVII, como anotou Joel Serro270, sua populao peninsular sofreu uma reduo de algo em torno de um milho de habitantes. Contava, em 1715, com os mesmos 7,5 milhes de indivduos de 1541. No primeiro numeramento da populao de Portugal, em 1527, registrou-se cerca de 1,2 milho de habitantes e pouco mais de 2,1 milhes em 1732, quando os portugueses emigravam continuamente, atrados pelo auge minerador no interior do Brasil. O sculo XIX foi, para Portugal e Espanha, marcado pela transformao do regime de propriedade fundiria, um fenmeno encadeado com um processo mais amplo liderado pela Inglaterra no plano econmico e pela Frana, no poltico e social , que se estendeu, desde meados do sculo anterior, por toda a Europa, estruturando as economias e as sociedades modernas. Esse sculo encontrou as economias ibricas em crise, com maior repercusso no setor agrrio, onde ainda persistiam instituies jurdicas do Antigo Regime, como mayorazgo e amortizacin, na Espanha; morgado e enfiteuse, em Portugal; e muitas outras, incidentes em apenas um ou nos dois reinos. Em toda a pennsula os senhores recebiam diversos tipos de renda agrria por diferentes ttulos, sem que haja consenso sobre a denominao que lhes possa atribuir. Nas peculiaridades ibricas, essas transformaes estruturais resultaram das invases napolenicas e das independncias nacionais na Amrica que desarticularam as economias, atingindo as respectivas ordens scio-econmicas. Os reinos ibricos, a partir de 1807, tiveram que resistir, na Europa, ao invasor francs, com os exrcitos e os estados nacionais desestruturados. Simultaneamente, ambos perderam suas colnias da Amrica. Esses fatores condimentaram o processo das revolues liberais, desencadeadas pela Revoluo Industrial inglesa e pela Revoluo Francesa. As economias ibricas, do sculo XVI ao XIX, dinamizaram-se atravs das relaes comerciais entabuladas com as possesses da frica, da sia e, de modo particular, do mecanismo de explorao colonial, que submeteu as Amricas hispnica e lusitana exclusividade de comrcio e ao rgido controle das estruturas produtivas, com o monoplio da propriedade da terra e da explorao da fora de trabalho. A Revoluo
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SERRO, Joel. Cronologia geral da histria de Portugal. 5. ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1986, p. 98, 1. ed. 1971.
Liberal, rompendo com as instituies do Antigo Regime, disponibilizou esses dois fatores terra e fora de trabalho para o circuito do capital, estabelecendo nova ordem social, tanto na dimenso scio-econmica como na jurdico-poltica. Com o impulso dos lucros do regime de monoplio do comrcio colonial, Portugal e Espanha, experimentaram, no final do sculo XVIII e incio do XIX, um surto de crescimento. Em Portugal surgiu a tendncia para as reformas superficiais do absolutismo em decorrncia da pouca adeso ao liberalismo e da sua tardia manifestao entre os lusitanos, iniciada com uma articulao de comerciantes, em 1807, para resistir invaso francesa. Na Espanha se empreendeu, durante a transio para os anos oitocentos, um conjunto de medidas econmicas e administrativas as reformas borbnicas , visando a modernizao da estrutura do imprio. Antecipando com reformas, os reinos ibricos tentavam evitar a Revoluo Liberal, que eclodira em quase toda a Europa. Durante a ocupao os franceses pouco ou nada contriburam para o fortalecimento do liberalismo em Portugal. A eles interessavam mais possveis alianas com os setores tradicionais, que articulaes com um segmento minoritrio. As subseqentes transformaes das estruturas jurdico-polticas resultaram das presses populares. Em nome do prncipe regente, que partira com a famlia real para o Brasil embora ele recomendara a colaborao das elites com o invasor eclodiram insurreies em todo o reino, com apoio de alguns representantes dos poderes locais. As revoltas populares por um lado, disseminaram o pnico entre as classes dirigentes; por outro levaram a nobreza provincial e o clero a aderirem ao movimento antifrancs e assumirem sua direo. Em 1808 organizou-se um exrcito anglo-portugus, que passou a dirigir a resistncia, catalisando as revoltas populares, at ento contidas pelo clero. Essa reao nacionalista contribura para preservar a hierarquia social e consolidar, no imaginrio popular, a associao de nao, monarquia absoluta e religio catlica. Mas a crise do Antigo Regime em Portugal, cujas estruturas jurdicas tradicionais dificultavam o desenvolvimento do mercado interno, agravou-se com os efeitos da abertura dos portos do Brasil para o comrcio internacional em 1808 e do tratado de comrcio luso-britnico de 1810. A concorrncia inglesa causou impacto no comrcio brasileiro e na incipiente produo fabril portuguesa. A nascente indstria txtil, alimentada pelo algodo colonial, se inviabilizou. A desintegrao do sistema colonial provocou outro choque na economia portuguesa que, sem as vantagens da exclusividade do comrcio brasileiro, sua
economia entrou em colapso, ampliando, em conseqncia, as convulses sociais que o levaram Revoluo Liberal.271 Sob as mesmas condies de guerra, crise econmica e conflito social as duas naes ibricas consumaram suas revolues liberais, rompendo, em sucessivas etapas, com as ltimas instituies do Antigo Regime. Na Espanha precedeu longo perodo de transio, adicionando outros fatores, como a maior difuso dos postulados liberais, a abdicao e exlio do rei, facilitando a coroao de Jos Bonaparte. Desde meados do sculo XVIII os setores que investiam no comrcio e na indstria manifestavam descontentamentos com a estrutura jurdica do Antigo Regime. Na conjuntura de domnio francs e de guerra pela independncia iniciou-se a srie de mudanas, que suprimiria aquele modelo de sociedade e de propriedade fundiria. Com momentos de avanos e recuos, instituiu-se a nova ordem com lentas transformaes jurdico-polticas e scio-econmicas, fazendo-se concesses nobreza, limitando-se a liberdade de expresso e reafirmando-se o catolicismo como nica e perptua religio. Jos Fontana272 esquematizou esse processo em quatro fases. A primeira, de 1808 a1814, seria o perodo da guerra e revoluo, marcado pela destituio do chefe de governo, abdicao e exlio de Carlos VI (1748-1819), coroao de Jos Bonaparte (1808-1813), sublevaes populares, formao das juntas locais e provinciais, com a direo suprema da Junta Central que, no conseguindo derrotar os invasores franceses, transferiu o poder, em 1810, para uma regncia, depois de convocar as Cortes Gerais, que se estabeleceram em Cdiz. A segunda, entre 1814 e1820 caracterizara-se como a poca da inviabilidade do absolutismo, permanecendo no poder integrantes de governos anteriores, inclusive o de Jos Bonaparte; aproximao da Rssia e da Santa Aliana, baluartes da monarquia absoluta; agravamento da crise, instabilidade, independncia das colnias da Amrica, tentativa de equilbrio com reforma, anunciando a desamortizao de bens eclesisticos, depois de acordo com o papa; restabelecimento do regime constitucional em 1820, sublevao urbana. A terceira, de 1820 a1823, resumira-se no trinio constitucional, de frustrao revolucionria, quando, pela primeira vez se empreenderam as reformas definidas
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FERREIRA, Maria de Ftima S e Melo. Rebeldes e insubmissos: resistncias populares ao liberalismo (1834-1844). Porto: Afrontamento, 2002, p. 37-64.
pelas Cortes de Cdiz, entre 1810 e 1814, expondo as limitaes da Revoluo Liberal espanhola, embasada no modelo de desenvolvimento capitalista ingls, tentando converter os latifundirios do Antigo Regime em grandes empresrios agrrios. E a quarta, entre 1823 e 1833, seria identificada como a dcada da reforma do absolutismo e da revoluo burguesa, caracterizada pelo imobilismo e opresso, conspiraes que restauraram a monarquia absoluta e insurreies, que devolveram o poder aos liberais; grandes senhores de terras, convencidos de que no seria possvel restaurar a velha ordem, preferiram pactuar com a burguesia para a mtua defesa de seus bens e transformao de antigos direitos incobrveis em ttulos de propriedade da terra. A resistncia do poder agrrio espanhol proporcionou sobrevida para instituies jurdicas do Antigo Regime, como a amortizao. Embora as Cortes de Cdiz decretassem a extino do regime senhorial, em agosto de 1811, somente em abril de 1836 um novo decreto determinou a desapropriao de bens eclesisticos e comunais, atingindo, de modo parcial, imveis da igreja. Em maro de 1855 promoveu-se outra desamortizao, que alcanou os bens de mos mortas e os municipais, tanto os prprios, reservados para obras comunitrias, quanto os comuns, de propriedade coletiva e aproveitamento individual. As desamortizaes significaram mais que mudana de proprietrios, uma transformao na configurao da propriedade e explorao da terra, disponibilizada para a livre explorao e comercializao. A consolidao dos antigos senhorios em propriedades privadas concentrou o domnio fundirio em poder da nobreza, de antigos arrendatrios e de lavradores ricos, que adquiriram terras desapropriadas da Igreja e dos municpios, formando a base sobre a qual se solidificou a nova oligarquia rural espanhola do sculo XIX.273 Em paralelo, os camponeses perderam sua relao com a terra, sendo convertidos em mo-de-obra disponvel para o mercado, em particular para os empreendedores agrcolas. Esse processo, alm de longo, foi violento. Em algumas ocasies a resistncia
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FONTANA, Josep. Las crisis del Antiguo Rgimen: 1808-1833. 4. ed. Barcelona: Crtica, 1992, p. 1349. 273 H ampla bibliografia sobre as desamortizaes espanholas. Ver, por exemplo: GUERRERO LATORRE, Ana Clara; JULI DAS, Santos; TORRES BALLESTEROS, Sagrario. Op. cit., p. 213-244; FONTANA, Josep. La desamortizacin de Mendizbal y sus antecedentes. In: SANZ, A. G.; GARRABOU, R. (ed.). Cambio social y nuevas formas de propiedad (1800-1850). Barcelona: Crtica, 1985, p. 219-244 (Histria agrria de la Espaa contempornea, 1).
dos que se sentiam prejudicados pelas mudanas, com apoio de conservadores, resultou em confrontos, ampliados com as sucessivas e conflituosas alternncias no poder. A legislao codificada pelos governos liberais na Espanha, no curso da primeira metade do sculo XIX, instituiu um direito agrrio que transformou as relaes de propriedade. As tentativas de extino dos senhorios, aps os confrontos, conduziram, por um lado, a um pacto entre burguesia e nobreza, no final do processo legislativo, depois de estabelecido o novo carter da propriedade fundiria; por outro, os direitos dos cidados. A Revoluo Liberal teve outro curso em Portugal. Para Tengarrinha274, quando das invases francesas as convulses teriam abalado os campos, num triplo contedo de revolta social, guerra religiosa e luta nacional. Aps as invases os movimentos sociais nos campos teriam assumido trs caractersticas principais novas, projetandose para um plano qualitativamente superior, quanto contestao anti-senhorial: o sentido e amplitude da interveno, a sua insero num quadro legal reformista e as alianas entre grupos sociais inferiores e mdios, no mbito das administraes locais. As propostas reformistas emanadas da Corte instalada no Rio de Janeiro, no teriam qualquer contedo liberal e seriam apoiadas, ou pelo menos no impedidas, por convictos antiliberais. Pretendiam apenas introduzir algumas alteraes necessrias para a sobrevivncia da monarquia tradicional. Em outras palavras, procurava-se evitar qualquer mudana na velha ordem agrria do Antigo Regime. Entretanto, para Melo Ferreira275 os campos no se agitaram com protestos antisenhoriais. Durante a Revoluo de 1820 contestaram-se os encargos senhoriais num movimento-peticionrio dirigido s Cortes. E, julgando-se pelo teor das peties, a contestao fora moderada e de objetivos limitados. Requereu-se a reduo dos encargos com mais freqncia que a sua supresso; e se reagiu menos contra os direitos cobrados que s formas da sua cobrana. Os dzimos e a enfiteuse mereceram contestao secundria. Desse modo, as presses conservadoras contiveram a Revoluo nos limites de uma reforma superficial das instituies jurdico-polticas. Na Assemblia Constituinte predominou a preocupao com o estabelecimento de fronteiras jurdicas entre o domnio pblico e o privado, capaz de legitimar uma in274
TENGARRINHA, Jos. Contestao rural e Revoluo Liberal em Portugal. In: ________. (Org.). Histria de Portugal. 2. ed. ver. e ampl. Bauru: EDUSC; So Paulo: UNESP; Lisboa: Instituto Cames, 2001, p. 265-293.
terveno legal sobre a questo senhorial. Mais tarde se estabeleceram outros limites de legitimidade, mas, no perodo vintista a legitimao das Cortes incidira apenas sobre os forais, abolindo as banalidades e os direitos pessoais. A lei dos forais, de 1822, apenas reduziu os encargos pela metade e previu a possibilidade do resgate dos foros, excluindo a enfiteuse e os dzimos das reformas. A moderao da lei fora proporcional das reivindicaes peticionarias.
Os grandes portos da Amrica Latina, escalas de trnsito das riquezas do solo e do subsolo com destino aos distantes centros de domnio, se consolidavam como instrumentos de conquista e dominao contra os pases a que pertenciam e eram os vertedores por onde se dilapidava a renda nacional.
A histria agrria da Amrica Latina caracteriza-se pelas descontinuidades institucionais e diferenas regionais, que Jacques Chonchol276 esquematizou em quatro etapas. A primeira, de agriculturas indgenas antes das conquistas hispano-lusitanas, cuja caracterstica principal fora o regadio como modo de produzir entre os povos de maior desenvolvimento scio-econmico, destacando-se algumas instituies como a mita, a encomienda,277 exploradas pelos colonizadores espanhis.
275 276
FERREIRA, Maria de Ftima S e Melo. Op. cit., p. 58-64. CHONCHOL, Jacques. Sistemas agrrios en Amrica Latina: de la prehispnica a la modernizacin conservadora. Santiago: Fundo de Cultura Econmica Chile, 1996, 1. ed. 1994. 277 Mita: servio pessoal dos sditos do inca para pagamento de tributos, assimilado pela colonizao espanhola como contribuio forada dos ndios nas obras pblicas e extrao mineral; encomienda: concesso da coroa espanhola a colonos da Amrica, repartindo entre eles os ndios dos territrios conquistados, aos quais deveria garantir proteo e cristianiza-los. Em troca o encomiendero lhes cobrava servios (Antilhas) ou tributo (Mxico e Peru), numa escravizao dissimulada ou, s vezes, velada, chegando-se a reivindicar sua transmisso hereditria. No Paraguai desenvolveu-se a encomienda mitaya, em 1556, quando se dividiram cerca de 100 mil ndios em grupos de 30 a 90 para cada encomiendero. No Paraguai, Chile, Venezuela, esse sistema entrou em declnio a partir de meados do sculo XVIII. SCHWARTZ, Stuart B.; LOCKHART, James. A Amrica Latina na poca colonial. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2002, p. 308.
A segunda, de atividades agrrias legadas pela colonizao ibrica nos sculos XVI e XVIII, caracterizadas pelas grandes fazendas de pecuria extensiva, monoculturas de exportao e trabalho escravo. A terceira, de agriculturas do perodo da expanso do capitalismo industrial, entre as dcadas de 1850 e 1930, poca em que predominaram governos oligrquicos; surgiram novos complexos agroexportadores com a expanso das fronteiras agropecurias nos pampas argentinos, no sul e no centro-oeste brasileiro, na costa peruana, no Centro-sul chileno, alm de partes da Amrica Central e do Caribe; absorveram-se novas tecnologias agrcolas; introduziram-se novas raas de animais; adotaram novos cultivos agrcolas; desenvolveram-se as ferrovias. E a ltima, de modernizao conservadora das estruturas agrrias, aps a Segunda Guerra Mundial, com a transio dos sistemas tradicionais para as empresas agrcolas, nas dcadas de 1950 e 1980; algumas experincias de reforma agrria entre os decnios de 1960 e 1990; e reaes camponesas concentrao da propriedade da terra. Contudo, este estudo se limita ao perodo da expanso do capital industrial, quando as estruturas agrrias latino-americanas, como avaliou Celso Furtado278, no se constituam apenas elementos do sistema de produo, mas tambm um dado fundamental da organizao social, tanto nas economias fundamentadas numa agricultura de exportao como nas organizadas em torno da produo mineral, a grande propriedade tendeu a se instituir como elemento bsico da organizao social. Mas para ndios, negros, mestios e brancos pobres as independncias nacionais no proporcionaram melhorias significativas, alm dos efeitos da maior circulao monetria sobre o pequeno comrcio. Esses grupos sociais evoluram lentamente, num processo de fuso tnica e cultural, incorporando-se ao mercado de mo-de-obra ou desenvolvendo produes autnomas na agricultura, no comrcio e alguns servios. Grande parte permaneceu excluda dos resultados do processo produtivo. A economia exportadora da fase final do perodo colonial diversificara-se, embora predominassem o acar o tabaco, o caf e o couro. A minerao aurfera no Brasil reflura, enquanto a prata no Peru mantivera o ritmo de produo, apesar das tcnicas de extrao pouco evolurem. O principal legado da colonizao na Amrica hispnica fora a hacienda;279 na Portuguesa, o trabalho escravo, o latifndio e a monocultura de exportao, embora os dois sistemas produtivos se mesclassem, tanto nos territrios colonizados por espanhis,
278
FURTADO, Celso. La economia latinoamericana desde la conquista ibrica hasta la revolucin cubana. 3. ed. Mxico: Siglo XXI, 1973, p. 70.
quanto na rea explorada pelos portugueses. Nas duas colonizaes a grande propriedade fundiria, apesar dos dispositivos legais em sentido contrrio, resultou de concesses das respectivas metrpoles, para dinamizar seus comrcios exteriores e promover acumulao de riquezas, materializada nos metais preciosos. Na colonizao do Novo Mundo, observou Chunchol280, onde se encontrou ouro, prata e densidade da populao indgena, como na meseta central do Mxico e montanhas andinas, imps-se um sistema de extrao mineral, no qual se organizou o investimento de capital e o uso da fora de trabalho, explorando a encomienda ou a mita. Nas reas de baixa densidade demogrfica, com falta de minerais, mas as condies naturais e o conhecimento tecnolgico permitiram, cultivaram-se produtos tropicais, desenvolvendo outros sistemas produtivos com plantaes de cana-de-acar, cacau, tabaco, algodo, caf e diferentes relaes de trabalho, como a escravido e a meao, evitandose o pagamento de salrios. No norte do Mxico, nas plancies e vales temperados da Amrica do Sul, no semi-rido brasileiro, no se encontrando metais preciosos nem se cultivando produtos tropicais em larga escala a dificuldade de transporte limitou a cultura do algodo desenvolveu-se a pecuria. Em outras regies como a Amrica Central, buscaram produtos exportveis, intensificando-se a explorao de espcies naturais como a grana ou cochonilha, de utilizao na tintura de tecidos na Europa. Aps as independncias nacionais, em paralelo s revolues liberais que ocorriam nas antigas metrpoles as jovens naes latino-americanas reformaram e revitalizaram as velhas estruturas jurdicas e polticas, adaptando-as s novas circunstncias da dinmica de acumulao de capital. De modo geral, visou-se, liberar mo-de-obra, convertendo-se ndios, ex-escravos, posseiros e pequenos proprietrios em trabalhadores rurais, despossudos dos meios de se produzir a subsistncia, consolidando-se o poder oligrquico com o monoplio da terra e do trabalho, fatores bsicos da produo agrria. Esse processo desencadeou-se, quase simultaneamente, em todos os pases da Amrica Latina, devido, no plano externo, ao impacto do desenvolvimento do capital; no interno, ao processo de reflexo crtica sobre a herana colonial. No Brasil, entre 1850 e 1860, promoveu-se uma srie de reformas institucionais, destacando-se, pelo alcance social e econmico, a Lei Eusbio de Queiroz, que suprimiu o trfico de escravos da frica, iniciando a extino gradual da escravido; e a Lei das
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Hacienda: propriedade rural, na qual o titular explorava, com algum capital, as formas de trabalho subordinado como a encomienda, a escravido e outras alternativas. 280 CHONCHOL, Jacques. Op. cit., p. 59-60.
Terras, que extinguiram a velha estrutura de sesmarias e estabeleceu o acesso terra somente atravs da compra, embora mantivesse ttulos anteriores de posse e doao. No Mxico a reforma liberal teve seu auge entre 1857 e 1859, quando se extinguiu a propriedade coletiva e corporativa do solo. No se coordenando a desamortizao determinada pela lei de 1856 que previa o fracionamento da grande propriedade eclesistica, fixando-se limites de reas para os novos proprietrios, que seriam os arrendatrios transferiram-se os bens imobilirios da igreja e dos ndios para empresas, que expulsaram os arrendatrios, convertendo-os em mo-de-obra disponvel.281 Reagindo contra a Lei da Desamortizao o clero partiu para o enfrentamento poltico com o governo, facilitando a interveno francesa, que imps ao Mxico um governo monrquico, dirigido pelo prncipe austraco Maximiliano (1832-1867), executado em praa pblica depois de derrotado militarmente e submetido justia mexicana. Sob argumento de custear a campanha de defesa nacional, o presidente provisrio, Benito Juarez (1806-1872), desapropriou os bens do clero, em 1859, suprimiu as ordens religiosas, derrogou o direito do clero a ser proprietrio e declarou a separao entre Igreja e Estado.282 Na Bolvia, em 1867, transferiram os territrios indgenas para grandes proprietrios. No Peru, em 1876, expropriaram-se os ayllus, transferindo suas terras para as grandes haciendas, que se expandiam, ocupando florestas. Na Argentina, revogaram-se as Leys de Enfiteusis, que visavam impedir a expanso latifundiria, passando a predominar a estancia ganadera ou grandes fazendas pecuaristas.283 No Chile, durante o primeiro sculo no havia definio de regime de propriedade. Em princpio, as terras seriam dos ndios e o rei teria direito de estabelecer encomiendas, como em toda a Amrica espanhola. Os governadores poderiam repartir pequenas chcaras ou solares. Na proporo em que os ndios eram encomiendados, disponibilizavam-se as suas terras para as estncias ou haciendas ganadeiras. A partir da formao do Estado Nacional os proprietrios de grandes fazendas dedicaram-se mais ao controle da populao rural que proposio de poltica de fomento agropecurio. A concentrao da propriedade da terra proporcionou aos fazendeiros exercitarem vrias formas de controle social e do Estado, dificultando o enriquecimento pessoal fora do ciclo do poder.
281 282
LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra prometida:... p. 57-65. CHAVEZ P. DE VELAZQUEZ, Martha. Op. cit., p. 142-158. 283 LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra prometida:... p. 57-65.
A primeira crise da propriedade ocorrera no encadeamento das guerras subseqentes s independncias, com as revoltas nos campos e as ocupaes de terras. Depois da rigorosa interveno do Estado, o latifndio se consolidou novamente, em menor dimenso e mais agrcola que pecuarista, mas, por no introduzir novas tcnicas perdeu competitividade no mercado internacional, com reflexo nas condies sociais, depauperando tanto os camponeses, que no foram mais capazes de se rebelarem. No final do sculo XIX moveu-se a guerra contra os ndios, tomando-lhes as terras.284 Significativas mudanas agrrias ocorreram no Chile, em conseqncia do desenvolvimento do capital industrial europeu, que implementou as exportaes de trigo, entre 1850 e 1875. Desde ento, a concorrncia da Argentina retraiu o comrcio externo do pas, que se tornou exportador de cobre e salitre.285 A historiografia sobre a Amrica hispnica tendeu a centrar-se nas reas nucleares da colonizao Mxico e Peru em detrimento de estudos sobre outras experincias coloniais perifricas ou marginais do continente. Honduras, por exemplo, experimentou um processo de conquista complexo e violento, entre 1524 e 1544, com enfrentamentos de diferentes grupos de conquistadores espanhis, procedentes do Panam, Mxico, Guatemala e So Domingos. Cada novo governante anulava as doaes anteriores de terras para beneficiar seus adeptos, criando redes de clientela. Aps a independncia mantiveram-se os conflitos sociais e a instabilidade econmica, como em toda a Amrica Central. Nessas condies, seria arriscado estudar essa regio e o Caribe, distinguindo categorias sociais com base apenas em parmetros sociolgicos, por se tratar de uma sociedade em contnua instabilidade urbana, cujas cidades serviram de entrepostos comerciais desde o incio da colonizao, quando os espanhis dedicaram-se a mltiplas atividades em toda a Amrica Central e Caribe, como uma unidade geogrfica, social, econmica e cultural. Por conseguinte, o estudo histrico de qualquer pas centroamericano e caribenho deve focalizar as atividades produtivas e comerciais especficas, desenvolvidas desde os centros urbanos, numa perspectiva local, com projeo regional. Em Cuba e Haiti, em extensas propriedades fundirias desenvolveram-se as grandes plantaes de cana, empreendidas com o trabalho compulsrio. Como na Amrica por-
284
BENGOA, Jos. Historia social de la agricultura chilena. Tomo I. El poder y la subordinacin en Chile. Santiago de Chile: Ediciones SUR, 1988, p. 11-36. 285 CHONCHOL, Jacques. Op. cit., p. 165.
tuguesa, a produo do acar e o comrcio de escravos traficados da frica constituram as principais atividades econmicas.286 No incio do sculo XIX, as economias de Cuba, Porto Rico e So Domingos, ltimas colnias da Espanha no continente, se assemelhavam tanto na disponibilidade de recursos como na potencialidade de crescimento. Dispunham de solos prprios para o cultivo da cana-de-acar ou tabaco. A colonizao dessas ilhas caracterizou-se pela abundncia de terras e escassez de capital e mo-de-obra. O acar produzido destinava-se, alm do mercado metropolitano, para a Europa ocidental e Estados Unidos. Como o desenvolvimento manufatureiro e financeiro da Espanha no possibilitava a criao de indstria refinadora nem satisfazia a demanda por equipamentos e capital, as ilhas caribenhas os importavam, principalmente dos Estados Unidos, onde se estabeleceram as refinarias do acar.287 Pode-se esquematizar as estruturas econmicas da Amrica Latina, aps o rompimento dos vnculos coloniais, em cinco grupos de pases, conforme as caractersticas do sistema produtivo. O primeiro composto de pases que durante a colonizao concentraram as atividades econmicas na extrao mineral, como Mxico e Peru, produzindo tambm agricultura de alimentos e pecuria; o segundo formado por pases que continuaram fundamentados na agricultura para o mercado interno, com pequenas exportaes como Bolvia, Equador, Colmbia e Amrica Central; o terceiro aglutinando pases que mantiveram agriculturas para o mercado interno, em pequenas e mdias unidades de produtivas e a monocultura de exportao, como Cuba, Haiti, So Domingos; o quarto reunindo pases com estruturas econmicas baseadas na pecuria extensiva, como Argentina e Uruguai; e o ltimo unicamente o Brasil, com as especificidades da colonizao portuguesa, fundamentadas na grande propriedade fundiria e nas monoculturas de exportao, que no sofreu soluo de continuidade com independncia. Nenhum pas latino-americano, aps a independncia, sofreu escassez de terra, mas, para a expanso das exportaes de produtos agrcolas, desde meados do sculo XIX necessitaram de novas reas. A precariedade dos transportes, em todo o continente, deixou vastos territrios incomunicveis, at o advento ferrovirio e a extenso territori286
FERNANDEZ MORENTE, Guadalupe. Formacin de la sociedad colonial en Honduras: 1524-1544. In: MARTN ACOSTA, Emelina; PARCERO TORRE, Clia; SAGARRA GAMAZO, Adelaida. Metodologa y nuevas lneas de investigacin de la historia de Amrica. Burgus: Universidad de Burgos; Associacin Espaola de Americanistas, 2001, p. 65-80. 287 NARANJO, Consuelo; SANTAMARA, Antonio. Las ltimas colonias: Puerto Rico e Cuba. In LAVALL, B.; NARANJO, C.; SANTAMARA, A. La Amrica espaola (1763-1898): economia. Madrid: sntesis, 2002, p. 141-386 (Historia de Espaa: tercer milenio, 20).
al de alguns pases com baixa densidade demogrfica dificultou a ocupao econmica das terras disponveis. A proporo terra-homem variava, em 1913, desde menos de trs habitantes por quilmetro quadrado no Brasil e na Argentina at prximo 70, em El Salvador e Haiti. O legado da colonizao de extrema concentrao da propriedade agrria agravou esse problema. At incio do sculo XX mudou pouco nesse monoplio. Para Blumer-Thomas288 seria errneo imputar isto apenas ao sistema de posse da terra herdado da Pennsula Ibrica, porque a rea privatizada na dcada de 1820 correspondia a uma frao da alcanada em 1914. Ampliou-se muito nesse perodo, apesar das vrias oportunidades de se modificar a taxa de concentrao, se as novas privatizaes fossem mais eqitativas. Isto se deveria mais s circunstncias polticas e exigncias econmicas que aos padres herdados da colonizao. Entretanto, h que se considerar as injunes polticas de cada novo pas e suas necessidades econmicas conseqncias ou tambm heranas das metrpoles colonizadoras. Cada estado latino-americano herdou uma vasta rea de terras das coroas metropolitanas e alguns como Argentina, Chile, Mxico, ampliaram esses patrimnios, no final do sculo XIX, conquistando territrios nas guerras contra indgenas. Atravs de vendas, concesses, recompensas a partidrios e aliados ou por simples usurpaes, essas terras transferiram-se para domnios particulares. O ditador mexicano Porfrio Dias, por exemplo, nas primeiras dcadas do sculo XX, concedeu a uma empresa norte-americana, 547 mil hectares de terra em seu pas. Na Amrica espanhola privatizaram-se os ejidos ou propriedades comunais, transferindo-os, principalmente para terratenientes ou latifundirios, que dispunham de crdito e influncia poltica. Poucos membros das comunidades, indgenas ou no, adquiriram as terras que antes cultivavam. Enquanto ocorriam as reformas liberais, na segunda metade do sculo XIX, expropriaram-se as terras da Igreja, transferindo-as, tambm para grandes proprietrios. At no Mxico, onde se promoveu a repartio entre os camponeses, ocorreu nova concentrao logo depois. Quanto a valores culturais, sobretudo alimentares, o europeu, obrigado pela necessidade, no vacilou em aceitar a dieta alimentcia dos ndios durante a colonizao. Entretanto, o indgena resistiu modificao dos seus hbitos, principalmente, alimentares. Tanto que, nas regies de maior densidade populacional indgena se seguiu culti-
288
vando as espcies agrcolas autctones: mandioca, cacau, tomate, batata, milho, algodo, tabaco.289 Algumas espcies nativas, durante e aps a colonizao, tornaram-se cultivadas em larga escala, para o mercado exterior, como milho, cacau, tabaco. Outras monoculturas de exportao resultaram de espcies originrias da sia tropical, como cana-deacar, caf, algodo. No caso deste ltimo, as espcies nativas no se revelaram de boa produtividade. O caf chegou ao continente no final da colonizao, tornando-se o principal produto de exportao entre os meados dos sculos XIX e XX. O cultivo de espcies como tomate e batata difundiu-se largamente na Europa, como fizeram inversamente, o trigo e o arroz na Amrica Latina. A pecuria comportou-se de modo diferente. Talvez devido pouca domesticao de animais pelos povos nativos, prosperaram na Amrica espcies transportadas pelos colonizadores: bovinos, eqinos, asininos, sunos, ovinos, caprinos e aves com galinha, peru, pato. A participao nativa limitou-se alpaca, lhana, vicunha, em pequena escala, nos Andes. A propriedade fundiria conservou, na Amrica Latina, alguns traos da colonizao ibrica, como o latifndio, que sempre se recompe depois das poucas reformas agrrias experimentadas. No Brasil mantiveram-se, tambm, algumas instituies jurdicas como a enfiteuse ou aforamento perptuo, ainda praticado em algumas cidades antigas, como Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Petrpolis, So Paulo, por ordens religiosas e famlias de longa tradio nesse tipo de extrao de renda da terra. Entretanto, o perfil fundirio do continente foi definido pelas reformas institucionais que marcaram a consolidao dos estados nacionais latino-americanos, em meados do sculo XIX, adaptando os fundamentos das revolues liberais ibricas. Da propriedade plena, de livre comercializao, pode-se separar a posse, temporariamente, com o arrendamento, ampliando as possibilidades de explorao dos bens imveis. No Brasil, o perodo de maior intensidade dos embates liberais durou de 1827 a 1837. Essa dcada se caracterizou pela dialtica cclica de construo, destruio e reconstruo de propostas institucionais, uma conjuntura diferente do contexto histrico nacional no sculo XIX, a partir da dcada de 1840, quando se considerava o pas um modelo de estabilidade num continente pontilhado de crises econmicas, conflitos polticos e convulses sociais. Os fundamentos intelectuais do primeiro liberalismo brasileiro, por um lado, trazia um compromisso filosfico formal, mais ou menos completo,
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apreendido na Europa; por outro, os liberais nativos criaram suas prprias modificaes, baseadas em opinies nacionais sobre a realidade do Brasil. Essas duas vertentes manteriam em comum a crena desprovida de crtica de que um liberalismo europeu vagamente concebido proporcionaria uma forma ideal de governo, beneficiando a sociedade, que se aperfeioaria com a introduo de boas leis e instituies.290 Fiel tradio latifundiria, excetuando Mxico, Bolvia e Cuba que executaram reformas agrrias mais amplas, a Amrica Latina chegou contemporaneidade com perfil relativamente uniforme. Dados do Comit Interamericano de Desenvolvimento (CIDA), de meados da dcada de 1960, apresentados por Celso Furtado291 revelam que o minifndio representava, na Argentina, 43,2% das unidades agrrias, ocupando apenas 3,4% das terras; no Brasil, significava 22,5% das propriedades e 0,5% das terras; na Colmbia, 64% das unidades fundirias e 4,9% das terras. Por sua vez, o latifndio significava, na Argentina, 0,8% das unidades, absorvendo 36,9% das terras; no Brasil, 4,7% das propriedades e 59,5 das terras; na Colmbia, 1,3% dos estabelecimentos e 49,5 das terras.
290
FLORY, Thomas. El juez de paz y el jurado en el Brasil imperial, 1808-1871: Control social y estabilidad poltica en el nuevo Estado. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1986, p. 17; 36. Sobre os reflexos da Revoluo Liberal e a participao do Alto Serto da Bahia na Guerra da Independncia, ver: SOUZA FILHO, Argemiro Ribeiro de. Op. cit. 291 FURTADO, Celso. La economia latinoamericana..., p. 73.
4 GNESE DA PROPRIEDADE FUNDIRIA NO ALTO SERTO DA BAHIA ... que o Mestre de Campo Antonio Guedes de Brito tinha sido descobridor dos sertes da Bahia para o Rio de Sam Francisco e Rio das Velhas, persy e por pessoas que mandou a esta diligencia a sua custa para extinguir o gentio barbaro...
Depoimento do padre Paulino Pestana de Souza ao corregedor de Rio das Velhas, Lus de Souza Valdez, em 11 ago., 1724 AHU_ACL_CU_005, cx. 5, doc. 47 Este captulo procura identificar as origens da propriedade da terra no Alto Serto da Bahia. Focaliza aspectos da guerra contra os povos indgenas, a conquista do seu territrio e o debate ideolgico sobre a colonizao e seus desdobramentos, desenvolvido pela Universidade de Salamanca, com ressonncia na de Coimbra, estendendo-se a vora e repercutindo na Amrica portuguesa. Tambm rene informaes sobre a ocupao econmica dos sub-vales da margem direita do Mdio So Francisco, com fazendas de gado desde finais do sculo XVII, por Antnio Guedes de Brito, cujos herdeiros e sucessores se debateram por mais de um sculo, ao sul, no Rio das Velhas e ao norte, em Jacobina, contra sucessivas aes judicirias de posseiros e mineradores que se negavam a reconhecer seus ttulos hereditrios, por se firmarem sobre terras ocupadas por mos armadas ou sesmarias no explorada como previa a legislao pertinente. Recorreu-se historiografia como reforo, mas embasou-se, no fundamental, em fontes primrias. Utilizou-se documentao particular como a da Casa da Ponte, em Portugal, onde tambm se compulsou documentos de acervos pblicos, como os da Biblioteca Nacional, do Arquivo Histrico Ultramarino, do Arquivo Histrico Militar, do Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo. No Brasil explorou-se diversas fontes documentais na Biblioteca Nacional e no Arquivo Nacional, no Arquivo Pblico do Estado da Bahia, nos arquivo municipais de Rio de Contas, Macabas, Caetit, Mucug, Lenis e Jacobina, na regio estudada e no seu entorno.
Devora-se a infeliz, msera gente, E sempre reduzida a menos terra, Vir toda a se extinguir infelizmente, Sendo, em campo menor, maior a guerra.
Jos de Santa Rita Duro, 1, V (1720-1784) Caramuru: poema pico do descobrimento da Bahia
O Alto Serto da Bahia, conquistado de povos indgenas e ocupado por Antnio Guedes de Brito na segunda metade do sculo XVII, manteve-se na mesma cadeia sucessria, transferindo-se para sua filha Isabel Maria Guedes de Brito e desta para a neta Joana que, depois de enviuvar-se de Joo de Mascarenhas contraiu novas npcias com Manoel de Saldanha da Gama. No tendo filho em nenhum dos enlaces, legou tudo por testamento e contrato de casamento para o segundo consorte. Depois de vivo, Saldanha da Gama casou-se novamente, em Portugal, tornando-se pai de Joo de Saldanha da Gama Melo Torres Guedes de Brito292 que, alm das heranas paternas e maternas coube-lhe, de um tio sem descendncia, a titularidade de conde da Ponte293. Por coincidncia esse Saldanha foi o sexto administrador do Morgado Guedes de Brito e tambm sexto titular da Casa da Ponte294, tornando-se um dos homens mais ricos do Reino de Portugal, ao herdar e comprar os quinhes dos irmos. Desde a segunda metade do sculo XIX, Saldanha da Gama arrendava e vendia fazendas nos baixios ribeirinhos e stios, nos planaltos de poucas aguadas, aos respectivos rendeiros e outros interessados, que para l se transferiram depois de abandonar a minerao aurfera que se exauria, nas cabeceiras dos rios Paramirim e de Contas. Aps a morte do sexto conde da Ponte, em 1809, quando governava a Bahia, a condessa e os filhos venderam tudo que restava do domnio imobilirio, inclusive as terras vinculadas ao Morgado Guedes
292
Todos os titulares do Morgado Guedes de Brito deveriam adotar esses sobrenomes por determinao da verba testamental que o instituiu, no sculo XVII. 293 Sobre os titulares da Casa da Ponte ver: ZNQUETE, Afonso Eduardo Martins. (Org.). Nobreza de Portugal e do Brasil. Lisboa: Enciclopdia, 1989, v. 3, p. 155-158. 294 Sobre os Guedes de Brito, Casa da Ponte, origens e a evoluo da propriedade fundiria nos sertes baianos durante o perodo colonial ver: COSTA, Afonso. Op. cit.; COSTA FILHO, Miguel. Op. cit.; PIRES, Simeo Ribeiro. Razes de Minas. Montes Claros: [s. n.], 1979; NEVES, E. F. Uma comunidade sertaneja:... p. 51-169. Recomenda-se cuidado com as obras embasadas nos escritos de Francisco Borges de Barros que podem reproduzir equvocos e suposies.
de Brito e s capelas que a Casa da Ponte administrava, depois da extino do vnculo morgado e capela no Brasil, em 1835. As terras conquistadas dos ndios pelo mestre-de-campo Antnio Guedes de Brito, incorporadas ao que herdara e obtivera do governo colonial pelo regime de sesmarias estendiam-se desde as nascentes dos rios Salitre, Jacupe e Itapicuru,295 no centro-norte da Bahia at as cabeceiras do rio das Velhas ou do Paraopeba, no centro-sul do atual territrio de Minas Gerais. O Arquivo Nacional transcreveu, no final dos oitocentos, de livros dos provedores reais do sculo XVI ao XVIII, uma sinopse dos registros de sesmarias da Bahia296 reproduzida, no essencial, por Felisbello Freire297, no incio do sculo XX reveladora da tradio sesmeira dos Guedes de Brito. Essa fonte indica que o tabelio Antnio Guedes, av de Antnio Guedes de Brito, depois que atravessou o Atlntico recebera seis lguas de cho, entre as nascentes do Real e do Paraguay (rio Piau, em Sergipe), em 28 de abril de 1609; 10 lguas, entre os rios Inhambupe e Itapicuru, atravs de carta de 21 de julho de 1609; cinco lguas e os sobejos, isto , as glebas intermedirias e adjacentes de suas sesmarias, em 12 de abril de 1612; 10 lguas em quadra, ao longo do rio Paraguay, lado do leste e serto, em 7 de maio de 1612; oito lguas entre os rios de Sergipe e de So Francisco, sem data. (uma anotao informa que o registro original estaria danificado); 10 lguas, obtidas para os filhos Manoel Guedes, Maria de Figueiredo, Ana Guedes e Sebastiana de Brito, das nascentes do Inhambupe para o oeste (serra de Itiuba), em 14 de dezembro de 1612298. Esse documento no registra as sesmarias que Antnio Guedes teria recebido, em 12 de janeiro de 1598, em espao hoje do Estado de Sergipe, requerida no mesmo ano, em terras do Convento do Carmo da Bahia299, conforme Pedro Calmon, que no indicou a fonte. J o neto Antnio Guedes de Brito conseguiria mais terras que ele.
295
Sobre a ocupao e a explorao econmica das terras do Itapicuru, ver: DANTAS, Mnica Duarte. Fronteiras movedias: relaes sociais na Bahia do sculo XIX (comarca de Itapicuru e a formao do arraial de Canudos). 2002. Tese. (Doutorado em Histria Social) Universidade de So Paulo, So Paulo. 296 AN. Fundo Diversos (SDH). Cdigo BX. Seo SDE. Cdice 155. Sinopse das sesmarias registradas no Arquivo da Tesouraria da Fazenda da Bahia, 1534-1822. (Transcritos do livro 6 de Provedores Reais). 297 FREIRE, Felisbello. Op. cit., p. 24-40. 298 AN. Fundo Diversos (SDH). Cdigo BX. Seo SDE. Cdice 155. Doc. cit., f. 66-106. (Transcrito de livro danificado, sem identificao). 299 Conforme CALMON, Pedro. Introduo e notas ao catlogo genealgico das principais famlias de frei Jaboato. Salvador: Empresa Grfica da Bahia, 1985, v. 1, p. 235, que no revelou a fonte.
MAPA VI LOCALIZAO APROXIMADA DAS TERRAS RECEBIDAS EM SESMARIAS, HERDADAS, COMPRADAS E CONQUISTADAS DE INDGENAS POR ANTNIO GUEDES DE BRITO FINAL DO SECULO XVII
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Alm de receber terras de herana dos pais e dos tios sem descendentes diretos, comprar de outros sesmeiros, conquistar e apropriar territrios indgenas, ainda recebeu vrias sesmarias: oito lguas entre as serras de Tayashu e Caguaoh, com o pai Antnio de Brito Correia, em 26 de outubro de 1652; seis lguas entre as nascentes dos rios Jacupe e Itapicuru e do Cagageu, entrando a varge do Toyuyuba (Itiuba), tambm com o pai, em 2 de maro de 1655; e uma sem indicao das dimenses, entre nascentes do Itapicuru e do Paraguau margem do So Francisco, sob condio de reservar uma
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lgua para cada aldeia indgena da rea, com Bernardo Vieira Ravasco, de quem comprara a metade, em 22 de agosto de 1663300. A maior extenso dos domnios fundirios de Guedes de Brito, na qual se insere a rea objeto deste estudo, Isabel Maria Guedes de Brito descreveu, em requerimento ao rei, antes de 1720301, como doao de Brs da Rocha Cardoso, em 1686, limitando das cabeceiras da sua data do Rio de So Francisco, por este rio acima, th o Vainhu e sua nascena e desta the o Peragasu. Talvez com a iniciativa de indicar origem sesmeira para esse territrio, pretendesse dissimular sua apropriao pelo pai que, depois ela mesma enfatizou em outros documentos enviados ao governador de Minas Gerais e ao rei, dando conta de que ele o conquistara da populao indgena, com cfilas que conduzia pelos sertes. Isabel Maria, no poderia atribuir a Brs da Rocha Cardoso o poder de doar sesmarias, exclusivo de governadores302. Rocha Cardoso, portugus de Porto, militar desde 1645, da Ordem de So Bento de Avis, combateu os holandeses na Bahia e Pernambuco, foi capito-mor de Sergipe desde 1681, mestre-de-campo a partir de 1691 e auxiliara Domingos de Jorge Velho no ataque a Palmares, em 1694303. Nunca ocupou cargo de governador, na Bahia ou So Paulo, jurisdies, s quais, os territrios se vinculavam. Seu nome sequer aparece entre os pioneiros de Minas Gerais304, capitania criada, aps o fim da Guerra dos Emboabas (1707-1709), com denominao de So Paulo e Minas de Ouro, desmembrando-se de So Paulo, no apogeu minerador, em 1720. Induzindo a outro raciocnio, Capistrano de Abreu305 registrou um protesto de Antnio Guedes de Brito, contra o capito-mor Marcelino Coelho Bittencourt e os coronis Damaso Coelho de Pina e Andr da Rocha Pinto que, movendo guerra aos tupinambs do alto rio de Contas, transpuseram, em 1690, os limites de uma sesmaria que seria sua desde 2 de maio de 1684 no de 1686, como informa a fonte anterior por
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AN. Fundo Diversos (SDH). Cdigo BX. Seo SDE. Cdice 155. fls. 18, 34. Transcritos do livro n. 6 de Provedores Reais, f. 42, 45, 474); AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 62. Requerimento de Isabel Maria Guedes de Brito a D. Joo V, anterior a 1720, que tramitou no Conselho Ultramarino, 10 mai., 1720. 301 AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 62. 302 COSTA FILHO, Miguel. Op. cit., p. 17. 303 FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionrio de bandeirantes e sertanistas do Brasil: sculos XVI, XVII, XVIII. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1989, p. 107. 304 Ver por exemplo: BOSCHI, Caio C. (Coord.). Fontes primrias para a histria de Minas Gerais em Portugal. 2. ed. Belo Horizonte: Fundao Joo Pinheiro, 1998. (1. ed. 1979); BOSCHI, Caio C. (Coord.). Inventrio dos Manuscritos avulsos relativos a Minas Gerais existentes no Arquivo Histrico Ultramarino (Lisboa). Belo Horizonte: Fundao Joo Pinheiro e Centro de Estudos Histricos e Culturais, 1998. 3 v. 305 ABREU, Joo Capistrano de. Caminhos... p. 62.
doao de Brs da Rocha Cardoso, capito-mor de Sergipe, que se estendia do rio So Francisco at as nascenas do rio Vainhum ou Vainho, provavelmente o rio das Velhas306. E, num acordo, em 1 de agosto de 1684, Guedes de Brito cedera aos seus contendores Marcelino Coelho Bittencourt, Damaso Coelho de Pina e Andr da Rocha Pinto, metade das terras entre os rios Paraguau, So Francisco, das Velhas, Doce, Pardo e de Contas. Se esse acerto se realizou, o mestre-de-campo readquiriu essas terras por que permaneceram em seu domnio e se transferiram hereditariamente com seus bens. Concordando com a alternativa de doao por Rocha Cardoso, o chanceler da Relao do Estado do Brasil, em parecer de 1738307, sobre processo movido por posseiros de Jacobina contra a cobrana de rendas por Joana da Silva Guedes de Brito, informou que os ancestrais dessa senhora receberam as sesmarias dos governadores deste Estado e do capito-mor de Sergipe de El Rey. O magistrado relator teria o dever de conhecer a legislao o suficiente para no emitir improprios jurdicos em parecer solicitado pelo Conselho Ultramarino e pelo rei. Estes dois argumentos convergentes sugerem a possibilidade de Brs da Rocha Cardoso, na condio de sesmeiro dessa rea, que extrapola as dimenses permitidas pela legislao para uma sesmaria, teria transferido sua donataria para Antnio Guedes de Brito. Porm, no se conhecem as cartas de doao, de confirmao ou transferncia dessas terras por qualquer meio para Guedes de Brito nem para Rocha Cardoso. Outra interpretao, contrapondo-se a Capistrano de Abreu, identificou o rio Vainhu como o Paraopeba308. Nessa alternativa, o territrio, cuja origem da posse que se atribura a doao de Rocha Cardoso, se estenderia da rea sob jurisdio do atual municpio de Barra da Estiva, na Bahia, que pertence ao de Conselheiro Lafaiete ou de Barbacena, em Minas Gerais, abrangendo o que hoje corresponde ao sudoeste baiano e centro-norte de Minas Gerais, alargando-se ao oeste, at os barrancos do So Francisco. Noutra abordagem, Miguel Costa Filho309, considerando que as posses de Guedes de Brito no ultrapassaram a foz do rio das Velhas e a filha as estendera at suas nascentes, supe Vainhu, corruptela grfica de Velhas. Nessa hiptese, os latifndios chegariam, ao sul, s imediaes dos municpios de Itabira e Caet.
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FREIRE, Felisbello. Histria territorial..., p. 52, apresentou a denominao de Guaiben como alternativa de nome para o rio da Velhas. 307 AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Parecer do Chanceler do Estado do Brasil, Lus Machado de Barros, 29 mai., 1739. 308 PIRES, Simeo Ribeiro. Op. cit., p. 52. 309 COSTA FILHO, Miguel. Op. cit., p. 6-19.
O morro do Chapu, nas cabeceiras do Itapicuru, na Bahia, se distancia, em linha reta, pouco mais de mil quilmetros da serra do Capanema, onde nasce o rio das Velhas, extenso que corresponde a 205 lguas portuguesas, a 171 lguas brasileiras e a 155 lguas de sesmarias. Considerando-se a dimenso atribuda por Antonil,310 no incio do sculo XVIII, equivalente a 160 lguas, que sendo de sesmarias, a distncia entre os dois pontos corresponderia a 1.056 quilmetros, a 176 lguas brasileiras e a 211 lguas portuguesas, aproximando da rea que teria, na hiptese do rio Vainhu corresponder ao Paraopeba. Pouco se conhece do processo de conquista desse territrio pelo mestre-decampo Antnio Guedes de Brito. Depoimentos de testemunhas nos autos de processos contra posseiros, correspondncias de governadores das capitanias da Bahia e Minas Gerais ao rei de Portugal e da prpria filha Isabel Maria ou da neta Joana, para os executivos coloniais e metropolitanos reportam a guerra contra o gentio brbaro. Num sumrio de informao311 de 1724, sobre a disputa do rio das Velhas pelo governo de Minas Gerais e a herdeira do mestre-de-campo, por exemplo, testemunhas narraram uma guerra de extermnio contra povos indgenas. Em depoimento ao ouvidor de Rio das Velhas, o coronel Martim Afonso, ex-procurador de Antnio Guedes de Brito e administrador de fazendas suas na rea disputada declarou que Brito descobrira o rio de Sam Francisco, extinguindo destas partes o gentio brbaro. O padre Paulino Pestana de Souza, ex-procurador do coronel Antnio da Silva Pimentel, genro do mestre-de-campo, disse que Guedes de Brito descobrira os sertoens da Bahia para o rio de Sam Francisco e Rio das Velhas, per sy e por pessoas que mandava sua custa para extinguir o gentio barbaro. Uma dessas pessoas, Marcelino Coelho, na expresso de Pestana, desinfestou os ditos certoens, ao qual se chamava Asay312. Cristvo de Magalhes Porto, causdico de Manoel de Saldanha e sua mulher Joana de Brito nos embates jurdicos contra posseiros de Jacobina, apresentou os ttulos das terras ocupadas por agricultores e mineradores, em 1737, declarando que Antnio de Brito Correia e seu filho Antnio Guedes de Brito, as conquistaram do gentio brbaro, fazendo-lhe guerra, dominando-os. Por onde Guedes de Brito estendeu seus domnios, o fez movendo guerra, submetendo, expulsando ou exterminando populaes nati310 311
ANTONIL, Andr Joo (Giovanni Antonio Andreoni). Op. cit., p. 200. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 5, doc. 47. Sumrio de Informao Auto de inquirio de testemunhas do corregedor e ouvidor geral da comarca do Rio das Velhas, 11 ago., 1724. 312 Seria a Misso de Nossa Senhora das Neves do Sa, onde Pedro Barbosa Leal instalou, em 1722, a vila de Jacobina, transferida, em 1724, para a Misso do Senhor Bom Jesus, onde se encontra.
vas. Alm de depoimentos como estes se encontra informaes sobre a guerra de conquista da maior parte das terras de Guedes de Brito, em cartas rgias e autos de litgio. Um exemplo pode-se ver numa carta de D. Joo V, de 22 de abril de 1728313, ao governador Vasco Fernandes Csar de Menezes (1720-1736), ordenando conquistar desde as Minas do Rio de Contas at o rio Pardo, rio Verde e cabeceiras do So Mateus, cujo descobrimento no se fizera, por dominar aquelle certo o gentio brbaro, que por asilo o buscou, precisando da guerra. A conquista territorial se fez, em toda a Amrica portuguesa, com guerra de extermnio s populaes nativas, como se v, no relatrio de um missionrio padre Antnio de Souza Leal, que estivera em Pernambuco, Piau, Maranho, Rio Grande do Norte e Cear, no incio do sculo XVIII, durante 17 para 18 anos junto de vrias naes314, apresentado por solicitao rgia. Segundo seu relato, antes das fazendas de gado fixara-se por algum tempo no Piau um paulista chamado Surdo, que levara para escravos muitos gentios, uns enganados e outros capturados na guerra, deixando as duas tribos Biute e Ubate quase exterminadas e as outras desconfiadas de que no poderiam viver em paz com os portugueses. Um capito-mor obrigara os ndios a ir buscar pao uiolete, no litoral, a 15 lguas e, enquanto tinham ido, os soldados aos grupos de 10 a 12 em cada aldeia, praticaram as maiores violncias, sem ter qualquer castigo. Joo Esteves e Domingos Pereira Ramos partiram, em 1704, com 17 companheiros, levando obrigados 50 tapuias Quixolos forros, para as cabeceiras do rio Iagoaribe, a guerrear o tapuia Ic, que estava em paz. Encontrando as famlias ss, fizeram grandes presas, mas, cercados por 400 homens, que voltavam da caa fugiram, abandonando na passagem dum rio as presas, onde perderam a vida sete Quixolos e todos os brancos, a exceo de Domingos Pereira Ramos e outros dois. Caciques tapuias das tribos Vital e Axemi, procurando a paz com os moradores da Picacuruca, em 1705, levaram suas comunidades porta do capito-mor do campo, Jos Nunes, que ordenou o capito-mor de ordenana do Piau, Antnio da Cunha Souto-Maior lev-los com uma grande tropa guerrear o tapuia Arambi, no Maranho, conseguindo apenas matar 30 deles; pretendeu, ento, o capito Souto-Maior assinar um papel de culpa falsa e matar os Vidais e Axemis, mas Joo da Costa, que depois se fez clrigo na Bahia, dizendo que no era necessrio para matar tapuias assinar papis,
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pegara na espingarda e atirara ao principal; e os outros com a pressa s puderam matar doze. Os mesmos tapuias voltaram a propor a paz a Jos Nunes, ainda em 1705, e este, detendo-os sua porta, pedira auxlio aos ndios da serra de Ibiapaba, com o argumento de que o queriam matar debaixo da paz e assassinaram muitos deles e tambm as mulheres presas para que no fugissem nem viessem a multiplicar. Um senhor de nome Antnio Jos prendera, em 1707, muitos Ics, que estavam em paz e fora vende-los no rio de So Francisco, ficando rico. O coronel Antnio da Rocha Bezerra, em 1711, depois de matar mais de 200 homens de guerra dos Cabors e escravizar as suas famlias, fizera paz com os 50 que restavam, aldeando-os sua porta no Ass e logo depois os obrigou a acompanha-lo a Recife para ajudarem os seus parentes Cavalcantis e Bezerras, sendo morto por eles, que se retiraram para o Ass, onde encontraram suas famlias repartidas pelos vaqueiros, que os esperavam para os matar. O que restava das naoenes de tapuias Paiacus, Genipapussus, Caninds, Cauris encontravam-se em paz, defendidos e amparados pelo coronel Joo de Barros Braga e outros moradores bem sucedidos de Iagoaribe, em 1719. Os vaqueiros resolveram semear a discrdia entre eles, para conseguir escravos. O coronel interviu, no conseguindo impedir que ficassem com um rapaz Paiacu. As quatro aldeias que ficavam prximas fortaleza do Cear Grande, nunca tiveram guerra com os portugueses e eram obrigadas pelos capites-mores a perseguirem os outros tapuias para no terem a mesma sorte deles. Tambm na Amrica Espanhola as populaes nativas receberam tratamento semelhante. Na alteridade espanhola, Hernan Cortz (1485-1547) acumulava mais conhecimentos sobre os astecas que Montezuma teria a respeito dos espanhis315. Considerando-se que os indgenas das costas Atlnticas agrupavam-se ainda em genes primitivas, enquanto os das bordas do Caribe e dos Andes j haviam alcanado forma mais complexas de organizao social, pode-se afirmar que os conhecimentos de Antnio Guedes de Brito e os outros conquistadores dos sertes, que continuavam a tradio portuguesa da guerra de conquista, relativamente aos povos nativos, atingissem propor314
RAU, Virgnia; SILVA, Maria Fernanda Gomes da Silva. Os manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval respeitantes ao Brasil. Actas Universitatis Conimbrigensis: Coimbra, 1958, v.II, doc. 473, p. 384-393. 315 TODOROV, Tzvetan. A conquista da Amrica: a questo do outro. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 151.
es maiores, levando-lhes com mais facilidade ao encadeamento da anlise, segundo a qual o conhecimento induz a tomar, ao que leva a destruir, resultando numa guerra de extermnio incomensurvel. Na segunda metade do sculo XVII os conquistadores moveram guerra contra os tapuias no serto da Bahia, que resistiam ao seu avano no Recncavo, com as expedies de Diogo de Oliveira Serpa (1651), Gaspar Rodrigues Adorno (1651-1654) e Tom Dias Lasso (1656). Massacrados em combates desiguais, os tapuias continuaram na ofensiva.Tribos da serra do Orob atacaram as fazendas das bordas do Paraguau e do Jacupe, campos de Cachoeira e de Inhambupe, sendo combatidas nas margens do rio Utinga, por Pedro Gomes, Gaspar Rodrigues Adorno, Lus lvares, Bartolomeu Aires e outros, que engrossavam suas expedies com guerreiros paiais, inimigos dos tapuias. Fracassadas essas campanhas, o governador Francisco Barreto de Menezes (1657-1663) recorreu ao capito-mor de So Vicente e cmara de So Paulo, para que contratassem sertanistas experientes a fim de combaterem o gentio brbaro do serto da Bahia. Em outubro do ano seguinte uma tropa comandada pelo capito-mor Domingos Barbosa Calheiros, secundado pelo capito Bernardo Sanches Aguiar chegou de So Paulo Bahia e partiu para o combate, depois de receber reforos. Dos paiais obtiveram guias que, conspirando, desviaram a expedio das aldeias tapuias. Depois de vagarem por muito tempo, esgotando o suprimento e exaurindo a tropa com fome e doenas, fugiram e organizaram um ataque ao que restava da expedio na aldeia de Tapurice e na serra do Camiso. Reagindo, o governador Francisco Barreto de Menezes decidira considerar todos os ndios inimigos e passveis do mais cruel castigo e extermnio e ordenara Tom Dias Lassa a queimar todas as aldeias, degolar os homens cativar as mulheres e filhos. E o vice-rei Vasco de Mascarenhas, conde de bidos (1663-1667), prevenindo-se contra outros ataques do gentio brbaro que costumava descer fazendo roubos, mortes e violncias, determinara a Gaspar Rodrigues Adorno que transferisse todas as aldeias tapuias das cabeceiras dos rios Iguape, Cachoeira, Maragogipe e Jaguaribe para mais perto das povoaes, facilitando o seu controle. Mas os tapuias continuaram fustigando. Em 1668 saquearam Jequiri e So Jos das Itaporocas; em 1670, Cairu. O novo governador, Alexandre de Souza Freire (1667-1671) props e foi aceita uma mesa grande plenria do Tribunal da Relao da Bahia para opinar sobre os tapuias316.
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PUNTONI, Pedro. A guerra dos brbaros: povos indgenas e a colonizao do serto do Nordeste do Brasil, 1650-1720. So Paulo: HUCITEC, EDUSP, FAPESP, 2002, p. 21-122.
Antnio Guedes de Brito participou, desde o princpio, com homens, recursos financeiros e materiais, da conquista dos sertes da Bahia. Esse movimento armado, intensificando-se quando Estevo Ribeiro Baio Parente, contratado tambm em So Paulo pelo governador Alexandre de Souza Freire, em 1671, atacou os maracs, j no governo do seu sucessor, Afonso Furtado de Castro Mendona, visconde de Barbacena (1671-1675). Uma crnica 1676317 narrou, entre outros aspectos, as condies contratuais de Baio Parente: dar-se-lhe-ia a campanha franca; as presas seriam suas; os cabos de gente receberiam os soldos correspondentes aos dos militares; ele se entenderia com os capites e soldados; da mesma maneira seriam aparelhados e socorridos; dar-selhe-iam embarcaes e carroas para conduzir os mantimentos e os aprisionados a sua terra; por este servio dariam atos para haver de Sua Alteza todas as mercs que, conforme sua qualidade a eles coubessem. No comando superior da bandeira ficaram os cabos de guerra Estevo Ribeiro Baio Parente, governador da conquista; Braz Rodrigues de Arzo, capito-mor; Antnio Soares Ferreira, sargento-mor; Gaspar Luba, capelo-mor. Imediatamente abaixo, os capites Gaspar Velho, Francisco Mendes, Feliciano Cardoso, Manoel Gonalves Freitas, Joo Viegas Xorte, Joo Amaro [Maciel Parente], Vasco da Mota e Manoel de Inojosa, do gentio manso. A tropa formou-se com 413 praas, incluindo soldados brancos e ndios. Antnio Guedes de Brito mandou de Jacobina, sua custa, para o combate, uma companhia de brancos de suas fazendas e 70 ndios. Depois de cercar o territrio dos maracs, Baio Parente atacou as aldeias de Jaca Asui, Joiaic Capitua Topins, Ortiga e S Cambuasu, regressando a Salvador, em 1673, com mais de 600 prisioneiros, levados para o cativeiro paulista ou comercializados em outras praas. O rei D. Sebastio (1557-1578) proibira, em 1570, a escravizao de ndios, admitida, apenas, para os aprisionados em guerra justa. A partir dessa poca, intensificouse o cativeiro indgena, principalmente, em So Paulo, como conseqncia da ao de bandeirantes, invadindo e conquistando territrios gentios, capturando-os para comercializ-los como escravos318. Desde a ocupao do litoral at a conquista do mais recndito serto, a colonizao precedeu de guerra aos ndios, na qual os colonizadores recorri317
SCHWARTZ, Stuart B.; PCORA, Alcir. As excelncias do governador: o panegrico fnebre de d. Afonso Furtado, de Juan Lopes Sierra. (Bahia, 1676). So Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 102104; 142; 147-148. 318 Ver: MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: ndios e bandeirantes na origem de So Paulo. So Paulo: Companhia das Letras, 1994.
am ao apoio de uma tribo contra outra rival ou de grupos indgenas incorporados ao trabalho de fazendas pecuaristas e lavouras de mantimentos. Portugal no dispunha de estatuto unificado da populao colonial. As Ordenaes319 definiram como naturais do Reino e Senhorios, os nascidos neles, de pais portugueses, que neles residissem, casados com mulheres naturais deles e neles tivessem domiclio e bens. Em 1771, estabeleceu-se que seriam os nascidos em Portugal, Aores, Madeira e Porto Santo; em 1773, incluram os nativos de Algarves; os naturais do Brasil, territrio classificado como senhorio, somente em 1815, com sua elevao categoria de Reino Unido. Os ndios bravos ou brbaros da Amrica lusitana eram considerados estrangeiros, livres de obedincia ao governo e ao direito portugus. Entretanto, exigia-se deles o dever de aceitar a pregao da f catlica e o comrcio metropolitano. Essa condio de naes livres, atribuda aos povos indgenas era instvel, porque os colonizadores, sob qualquer pretexto, poderiam submet-los, movendo-lhes a guerra justa, declarada por uma junta formada pelo governador, bispo, chanceler, juizes da relao e priores das ordens religiosas, mas apenas no caso de rebelio ou ataque indgena320. A doutrina da guerra justa elaborada pelos telogos de orientao escolstica, Francisco de Vitria (1483-1546)321 e Juan Gins de Seplveda (1490-1573)322, em polmicas com Bartolom de las Casas (1484-1566)323, na Universidade de Salamanca pretendeu justificar a conquista da Amrica atravs do enfrentamento blico com a po319 320
PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. liv. 2, tit. 50, p. 489. HESPANHA, Antnio Manuel. A constituio do imprio..., p. 170. 321 Francisco de Vitria, um clrigo dominicano, fora catedrtico de teologia na Universidade de Salamanca, assessor de Carlos V e deputado na Junta de Governo. Escreveu o tratado Derecho Natural e de Gentes, defendendo o princpio de que os homens devem ser preservados da violncia e da arbitrariedade dos poderes. ALVAR, Jaime (Dir.). Op. cit. p. 1.141. 322 Seplveda, um telogo, que tambm trabalhou com Carlos V, protagonizou a clebre polmica com las Casas sobre os diretos dos espanhis na Amrica e o estatuto dos ndios. Censuradas, suas teses contra las Casas s foram publicadas integralmente, no sculo XIX. Seus argumentos partiram das idias aristotlicas sobre a desigualdade entre povos e homens e sobre o direito dos superiores submeterem pela fora os inferiores, inclusive na evangelizao dos ndios, obrigando-os a acatar o direito natural. De suas obras destacam-se: De rebus Hispanorum gestis ad Novum Orben e Democrates alter, sive de iustus belli causis. ALVAR, Jaime (Dir.). Op. cit. p. 1.023. 323 Las Casas integrou a terceira expedio de Colombo (1502) ficando na Amrica, onde se fez sacerdote e depois aderiu a ordem dominicana. Recebeu de Diogo de Velsquez, em Cuba, uma encomienda de ndios, que abandonou. Em 1815 regressou a Castela, para expor aos reis Fernando e Isabel o tratamento dispensado aos ndios pelos colonizadores, passando a lutar pela reforma das leis da colonizao. Escreveu a Histria Geral das ndias e passou a denunciar os abusos da colonizao. Entre 1525 e 1540 evangelizou do Peru ao Mxico, sendo nomeado bispo de Chiapas, em 1844. Passou a integrar o Conselho das ndias em 1850, refutando as teses de Seplveda, segundo as quais a conquista seria lcita por si mesma e conveniente para a evangelizao. Las Casas contrargumentou com a inconvinincia e ilicitude da conquista, somente se justificando a presena espanhola na Amrica no princpio do descobrimento e, sobretudo, na sua finalidade: a evangelizao indgena. ALVAR, Jaime (Dir.). Op. cit. 676.
pulao nativa. Da polmica dos dominicanos de Salamanca surgiram outras teses, como a dos justos ttulos, sobre a legitimidade do domnio espanhol na Amrica apoiando-se nas bulas do papa Alexandre VI, expedidas em 1493, que deram origem ao Tratado de Tordesilhas a das encomiendas, admitindo a licitude da escravido indgena e, desse modo, os princpios bsicos do direito colonial. A guerra justa contra os brbaros do Brasil, uma extenso do debate dos dominicanos de Salamanca, fora doutrinada e regrada, reciclando-se tpicos medievais do direito cannico e movida para se obter a paz da justia e prtica da virtude. Entre as suas justificativas estariam: defesa contra agresses, repelindo a fora com a fora; recobrar as coisas prprias, mas tambm as de aliados e amigos; impor o castigo a malfeitores que no foram punidos ou que foram castigados com negligncia. E seria empreendida em nome da justia dos princpios cristos e contra os que impedissem os missionrios de divulgar a f324. Essas teses de Salamanca difundiram-se em Portugal atravs do Tratado sobre a guerra que deve ser justa, de autor incgnito, com estilo de tomista dominicano, entre 1547 e 1548, conforme Jos Sebastio da Silva Dias325. Seria parte dos estudos preliminares das instrues a Tom de Souza. O regime de capitanias hereditrias caracterizou-se pelas atividades de guerra contra a populao nativa e conquista dos seus territrios. O estabelecimento do governo geral, com o regimento de Tom de Souza no eliminou esse processo de assalto s aldeias e escravizao dos ndios, mas distinguiu a guerra justa da violncia injusta, embasando-se nas teses dos dominicanos Francisco de Vitria e Bartolom de Las Casas, de Salamanca; e Martinho de Ledesma326, de Coimbra, que procuravam humanizar o processo colonizador. A comunicao e o comrcio entre as naes seriam, para eles, como destacou Silva Dias, um direito natural derivado da sociabilidade humana; e sua infrao seria causa justa para o recurso s armas. Como Francisco de Vitria, seu discpulo desconhecido, autor do Tratado da guerra que deve ser justa rechaou os ttulos da guerra de conquista (domnio colonial) por se basear na infidelidade, na barbrie, na antropofagia e tambm os fundamentados na autoridade pontifcia, cujo poder deveria se restringir ao espiritual. O Tratado
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HANSEN, Joo Adolfo. A servido do selvagem e a guerra justa contra o brbaro. In: NOVAES, Adauto. (Org.). A descoberta do homem e do mundo. So Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 347373. 325 DIAS, J. S. da Silva. Os descobrimentos e a problemtica cultural do sculo XVI. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1973, p. 236-276. 326 O dominicano Martinho de Ledesma nasceu e recebeu a primeira formao na Espanha, dedicando-se ao ensino de teologia em Coimbra, entre 1541 e 1573.
travou o debate jurdico-teolgico e ideolgico sobre a colonizao, no incio do sculo XVI em termos polticos, no se restringindo aos fundamentos religiosos. Martinho de Ledesma, ainda conforme leitura de Silva Dias, admitiria a servido do homem pelo homem em certas condies, mas repelira o comrcio de escravos negros. No reconheceria na rudeza ou menoridade mental dos homens, mesmo de populaes inteiras, justificao tico-jurdica para os reduzir escravido. Para ele a servido no seria um ditame da natureza, mas produto do direito das gentes, por isto propunha limitar a sua amplitude. Considerava legtima a presena e o domnio do portugus na Amrica, embora desqualificasse a teoria da cruzada e da praxe dos conquistadores. De modo semelhante a Ledesma, o jesuta Lus de Molina327, em vora, desdobrou as teses de Vitria e de Las Casas. Pregara a separao dos poderes civil e espiritual ou eclesistico. Como ressaltou Silva Dias, considerava justa a guerra e com ela a conquista poltica e civil das populaes e de seus domnios, quando se negavam aos descobridores peninsulares faculdades concedidas a toda a humanidade pelo direito das gentes; e quando se recusavam aos cristos o direito de evangelizao. Aceitava a doutrina da cruzada contra os muulmanos apenas dentro das fronteiras crists. Tambm condenava a justificativa da guerra e da conquista com base na incivilidade ou menoridade mental do amerndio. Mas admitia a reduo do nativo escravido nos casos de guerra justa. O debate ideolgico da Universidade de Salamanca, com ressonncia na de Coimbra e extenso a vora produziu pouco resultado prtico na Amrica portuguesa, embora os jesutas e outros evangelizadores se pautassem pelos princpios do humanismo. Em geral agiam sempre de acordo com os governadores gerais, sem se exporem ao debates de temas polmicos. Os jesutas admitiam a legitimidade da escravido atravs da guerra justa. A originalidade de sua tica colonial consistiria na delimitao da fronteira do lcito e do ilcito em escravatura e na luta pela civilizao dos ndios livres. Silva Dias identificou em Manoel da Nbrega manifestaes favorveis a uma teoria anloga de Francisco de Vitria, na enunciao restritiva de Molina. Com facilidade, se desencadeava a guerra justa na Amrica portuguesa, em defesa de interesses coletivos ou individuais, alegando qualquer motivo. A conquista de territrios iniciava-se com aes de colonos como Antnio Guedes de Brito, alguns em327
Molina tambm era espanhol de nascimento e de primeira formao. Ensinou filosofia em Coimbra (1563-1567) e teologia em vora (1568-2584).
pregando muitos homens armados, deixando poucos registros para conhecimento da posteridade. Uma escritura de venda de uma parcela da fazenda Boa Vista328, na rea conquistada por Antnio Guedes de Brito, que no incio do sculo XIX integrou o municpio de Rio de Contas e a partir de 1810, o de Caetit, informa que Manoel Nunes Tvora partilhou o stio Canabrava, que descobrira, em 1716, vendendo-o depois, para Sebastiana Pereira da Cruz, declarando que essa compradora concorrera, com ajuda de custos para o dito descobrimento, com plvora, chumbo e duas vacas. A partir de fins do sculo XVIII, h mais dados sobre a guerra contra os ndios no serto. As conquistas do vale do Rio Pardo, comandadas por Joo da Silva Guimares e do Serto da Ressaca, por Joo Gonalves da Costa, ilustram esse processo329. Deve-se, entretanto, ressaltar que o conceito de descobrimento, usando na documentao, alm da acepo de achamento, traz a de desmatamento, retirada da cobertura vegetal. Aparece, com freqncia, associado idia de arroteamento, exprimindo ao de desbravar, cultivar. Mas descobrir implicava em conquistar a mo armada, eliminando, expulsando ou submetendo os nativos. Desde o incio da colonizao a ocupao territorial caracterizou-se pela violncia. Praticou-se, a alteridade da excluso, domesticao da diferena, na qual, a cincia com o conhecimento tornara o ndio observvel; o indigenismo com a poltica de pacificao o fez administrvel; e a religio com a catequese o transformou em assimilvel330. Na conjuntura das reformas pombalinas, D. Jos I aprovou, em 1755, o Diretrio dos ndios, ou Diretrio que se Deve Observar nas Povoaes dos ndios do Par e Maranho, cujas determinaes se estenderam a toda a Amrica Portuguesa trs anos mais tarde. Por este estatuto os ndios tornaram-se vassalos livres do monarca portugus, ficando proibida a sua escravizao, j impedida legalmente desde o incio do sculo XVII, mas ainda praticada. Afastada a tutela de ordens religiosas os jesutas seriam expulsos dos domnios portugueses em 1759 e considerados incapazes para se
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AMRC. Tabelionato. Livro de Notas n. 9 (1747-1752), f. 125. Cpia da escritura particular, 10 ago., 1716. 329 Ver: TORRES, Tranqilino L. Memria histrica e descriptiva do municpio de Condeba. Revista do IGHB. Bahia, v. 2, n. 4, p. 105-125, 1895; v. 2, n. 5, p. 43-266, 1895; v. 3 n. 7, p. 3-24, 1896; v. 3, n. 8, p. 69-180, 1896; ______. Municpio dos Poes (comarca da Conquista). Revista do IGHB. Bahia, v. 4, n. 20, p. 253-267, jul., 1899; PARASO, Maria Hilda Baqueiro. Caminhos de ir e vir e caminhos sem volta: ndios, estradas e rios no sul da Bahia. 1982. Dissertao. (Mestrado em Cincias Sociais) Universidade Federal da Bahia, Salvador; SOUSA, Maria Aparecida Silva de. Op. cit. 330 ORLANDI, Eni Pulcinelli. Terra vista. Discurso do confronto: velho e novo mundo. So Paulo: Cortez; Campinas: Editora da UNICAMP, 1990, p. 57.
governarem, cada comunidade indgena teria um diretor, responsvel pela civilizao e um proco, no mais um missionrio, encarregado da doutrinao catlica. A nova legislao previa tambm a demarcao de sesmarias dos ndios, props que se estimulasse a agricultura e o artesanato nas aldeias. Completando um conjunto de medidas, proibiu que se falasse a lngua geral331, tornando-se obrigatrio o uso do portugus, condenou-se ritos e credos indgenas, recomendou-se o casamento intertnico, possibilitou-se ao ndio a ocupao de postos de vereador e juiz ordinrio. Estas e outras deliberaes subseqentes mudaram a doutrina missionria de justificao da prtica colonial portuguesa concretizada pela transferncia do controle direto das populaes indgenas das ordens religiosas para os poderes civis e episcopais e fez parte da estratgia para expulso da Companhia de Jesus. Transformando-se os ndios sditos do rei portugus, deixavam-lhes disponveis para o trabalho, pagar o dzimo, integrar as tropas militares e ocupar as fronteiras litigiosas332. O conjunto de medidas legais abriu novas perspectivas nas relaes com os povos nativos, mas, na prtica social, pouco mudou nos recnditos sertes. O rude colonizador continuou ocupando territrios indgenas e promovendo massacres como os praticados contra botocudos, imbors, mongois e gongogis, no incio do sculo XIX.
...todas as terras das vertentes do rio da Velhas foram descubertas, posseadas e conquistadas do gentio custa da fazenda do dito seo pay, o Mestre de Campo Antonio Guedes de Brito...
Requerimento de Isabel Maria Guedes de Brito ao rei, anterior a 19 jan. 1723, solicitando proviso que declarasse suas terras. AHU_ACL_CU_005, Cx. 16, D. 1497
Logo que se descobriu ouro no rio das Velhas, na primeira metade de dcada de 1690, intensificou-se o povoamento das suas adjacncias, iniciado com as fazendas pecuaristas de Antnio Guedes de Brito. Desenvolveu-se, a partir de ento, a demanda por
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Codificao do tupi pelos jesutas, que se difundiu tornando-se a segunda lngua mais falada na Amrica Portuguesa. O padre Jos de Anchieta elaborou uma gramtica da lngua mais usada no costa do Brasil, seguindo o modelo da latina, que embasou vrias publicaes, sobretudo religiosas.
terras, surgindo, em conseqncia, arrendatrios e posseiros que em pouco tempo passaram a disputar, com Isabel Maria Guedes de Brito, a posse das glebas que ocupavam. Uma ordem rgia para o governador e capito general de So Paulo e Minas de Ouro (1717-1720)333, transcreve os argumentos de uma petio de Isabel Maria ao rei, relatando alguns antecedentes da disputa pela terra no entorno das minas: Antnio de Albuquerque Coelho de Carvalho, primeiro governador da nova capitania (1710-1713), comunicara a D. Joo V que ela possuiria, ainda sem explorao, no rio das Velhas humas terras que se haviam dado de sesmaria a seus antecessores; em conseqncia, o rei resolvera que ela permanecesse de posse das reas cultivadas per sy e seos colonos, sem permisso para continuar em a cultura de outras; o governador Coelho de Carvalho doara parte das terras a hum criado seu por nome Joseph de Seixas e a este transferia ao clrigo francs Phelipe de Lacontria, que l fora armado com escravos para expulsar, com violncia, o rendeiro dela; Lacontria, servindo-se das casas e currais que os seus antecessores haviam feito, conseguira que o governador Braz Baltazar da Silveira (1713-1717) determinasse que ningum reconhecesse Isabel Maria como titular das terras, resultando na expulso dos caseiros dela; Isabel Maria pedira ao rei que, atravs de proviso, determinasse ao ouvidor geral de Rio das Velhas a restituio da posse dos terrenos ocupados por Lacontria. Considerando verdadeiras as alegaes, D. Joo V determinou a reintegrao de posse das terras a ela e a expulso de Lacontria das Minas. Mas Bernardo Pereira Guimares, ouvidor geral do rio das Velhas no se conformou com essa deliberao rgia. Em carta ao rei334, alegou que vistoriara as terras reclamadas nos stios Papagaio e Barra de Rio das Velhas, tomando depoimentos de vrias testemunhas. Assegurou constatar que Isabel Maria no cultivara espao algum naquelas minas e as que se achavo fabricadas, o foro por vrios homens, que vinho da Bahia, pellos certoens, com seus combois e gados, instalando-se onde lhes parecesse mais conveniente para formarem casas, rossas e currais, cujos citios vendio a outros, quando se retiravo e desta forma foram povoando e cultivando todas as terras da Barra do Rio das Velhas, at suas nascentes.
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KANTOR, Iris. Op. cit., p. 324. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 24. Cpia de ordem rgia, 21 jan. 1718, anexa a carta do ouvidor-geral de Rio das Velhas, 20 jun., 1719. Criou-se a capitania de So Paulo e Minas do Ouro em 1709 e, em 1720, a de Minas Gerais, separada de So Paulo. 334 Idem, Ibidem. Carta de Bernardo Pereira Guimares, Vila Real, 20 jun., 1719, a D. Joo V.
O procurador de Isabel Maria cobrava rendimentos dos ocupantes que, se dizendo espoliados, suspenderam os pagamentos. Ainda conforme seu relato, a herdeira passou a lhes considerar seus colonos e, por isso, negou-lhe a restituio da posse. Quanto ao clrigo francs, informou que no usara armas nem praticara violncias. Quando os paulistas descobriram ouro no rio das Velhas, Manoel Nunes Viana j administrava fazendas de Isabel Maria, como Jetuita e Tabua, na foz do rio das Velhas e Escuro, em Januria335. Esse administrador de fazendas enriquecera, minerando e abastecendo os garimpos com seu gado, embora Carta Rgia de 1701 proibira circuitos comerciais entre as minas de ouro e a Bahia, pelo caminho do serto, preferindo o gado transportado dos campos do sul, que proporcionava melhor controle e mais arrecadao de tributos. O abastecimento legal e clandestino das minas do rio das Velhas fora to relevante, como fator do conflito entre paulistas e emboabas336, quanto a explorao de aluvies aurferos. Vencendo a pretenso de hegemonia dos paulistas, Viana fora aclamado governador das minas, sendo depois derrotado e preso337. Libertado, mas acusado de sedio, dirigiu-se a Lisboa, onde solicitou e obteve o perdo de D. Joo V condicionado a no retornar rea do conflito. Nomeado alcaide-mor de Maragogipe, no Recncavo, estabeleceu as fazendas Palma e Pau-a-Pique, no alto Paraguau338, regio central da Bahia. Para representar os interesses de Isabel Maria Guedes de Brito, como procurador e administrador de fazendas nas reas de Carinhanha e rio das Velhas, Joo Velho de Barros lhe substituiu. Essas disputas provocaram ressentimentos, evidenciados no parecer do ouvidor geral de Rio das Velhas contra o lder emboaba, seus sucessores e Isabel Guedes de Brito. Transparecem, tambm, mpetos afirmativos de autoridade, em dirigentes da capitania recm-criada, como na conduta do governador Pedro de Almeida Portugal, conde de Assumar, que ordenara moradores de Papagaio e Barra do Rio das Velhas a no paga335
A fazenda Escuro indicada com freqncia em Carinhanha se localiza em Januria. Como se v no inventrio dos bens de Antnio Pinheiro de Azevedo, de 1876, autuado em Caetit, do qual constou uma gleba de meia lgua, avaliada por 550 mil ris. APEB. Judicirio. 02.0883.1352.14, inventrio de Antnio Pinheiro de Azevedo, de 1736. 336 Emboabas ou forasteiros invasores, bando de provocadores, pejorativo atribudo pelos paulistas, que descobriram as minas, aos baianos, pernambucanos e portugueses, que nelas garimpavam. 337 Ver BOXER, C. R. A idade de ouro do Brasil (dores de crescimento de uma sociedade colonial). So Paulo: Nacional, 1963. Ver tambm: VASCONCELOS, Diogo de. Histria antiga das Minas Gerais. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; Braslia: INL, 1974, 2 vols.; MATOS, Raimundo Jos da Cunha. Corografia histrica da Provncia de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1981, 2 vols.; FAGUNDES, Gesille; MARTINS, Nahlson. Captulos sertanejos. Montes Claros: [s. n.], 2002.
rem rendas a Isabel de Brito. Esses pagamentos corresponderiam ao reconhecimento da posse de baianos em territrios reivindicados pelo governo de Minas Gerais que, pouco tempo depois o anexou. Num recurso ao rei, na transio para 1720339, que teria anexo um memorial, com mais de 80 folhas, extraviado dos autos no Arquivo Histrico Ultramarino, em Lisboa, Isabel de Brito pleiteou e obteve a restituio do senhorio, alegando estar na posse mansa e pacifica das terras do rio das Velhas, por sy e seus colonos, desde que seu pai, as conquistou do gentio brbaro que as ocupava e as descobriu e povoou, despendendo mais de cem mil cruzados340, no combate aos ndios, abrindo caminhos e estabelecendo fazendas. O monarca lusitano manteve o propsito de no transgredir a poltica de reduo das reas de novas sesmarias, embora vacilasse na prtica legal, revogando suas prprias deliberaes. Do mesmo modo que agiram seus antecessores, nada fez contra Antnio Guedes de Brito, que ocupava territrios muitas vezes maiores que o permitido pela legislao. Ignorou suas ilicitudes, talvez para no indeniz-lo pelos gastos nas guerras contra os holandeses, dos quais reivindicava ressarcimento em terras, como se v no requerimento reproduzido na sua carta patente de capito de infantaria, de 1667, transcrita por Braz do Amaral, nas notas obra de Accioli341. Num acordo tcito, Guedes de Brito no reclamou mais a compensao pelas despesas no conflito contra os flamengos na Bahia e em Pernambuco e os reis portugueses no agiriam contra suas ocupaes ilegais, que se transferiram na sucesso hereditria. Os governos metropolitanos, assessorados pelo Conselho Ultramarino, administravam conflitos por terras na Amrica portuguesa, postergando solues. Antes que Minas Gerais incorporasse a margem direita do So Francisco, at a foz do Verde Grande, os vales do Pardo e do Jequitinhonha, D. Joo V determinou ao governador que revisse uma resoluo do conde de Vimeiro, seu antecessor, que fomentava o conflito. E numa declarao em forma de proviso342, o conde de Assumar, considerando a matria de competncia rgia e, enquanto o rei no deliberasse, ordenou aos moradores que voltassem a pagar as rendas da terra a Isabel Maria Guedes de Brito, mantida na posse daquelas terras reivindicadas pela nova capitania. Por algum tempo a viva logrou xito e continuou mobilizando seus agentes na cobrana de arrendamentos.
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FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Op. cit., p. 333-334; FREIRE, F. Histria territorial..., p. 156. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 62. Doc. cit.; COSTA FILHO, Miguel. Op. cit., p. 15. 340 Mais ou menos 40 contos de ris. A herdeira superestimou os gastos paternos. 341 SILVA, Igncio Accioli de Cerqueira e. Op. cit., v. 2, p. 127-160.
Mas o governador no desistiu do rio das Velhas e continuou a fustigar a herdeira, estimulando intrigas entre posseiros e seus procuradores. Sua vitria viria com a Ordem Rgia de 16 de maro de 1720, que criou a capitania de Minas Gerais, separada de So Paulo, estendendo seus limites com a Bahia, ao curso do rio Verde Grande, incorporando o rio das Velhas. Pouco tempo depois anexaria o rio Pardo e expandiria at o trajeto do Verde Pequeno. No avanou mais porque os habitantes do Serto da Ressaca reagiram, reivindicando a permanncia da sua vinculao poltico-administrativa Bahia. Os conflitos entre Nunes Viana e o conde de Assumar (1717 e 1720) demonstram o poder do primeiro e ausncia de controle metropolitano sobre o serto do So Francisco343, Em carta ao ouvidor da Comarca de So Paulo, em 1718, Assumar ameaou fechar os currais da Bahia, se importassem do sul da colnia 18 a 20 mil reses, franqueando e facilitando tudo para sitiar Manoel Nunes Viana. A deliberao da carta rgia de 1701, que proibira o comrcio das minas do rio das Velhas com a Bahia no era acatada. Com a dificuldade das autoridades de nova capitania de fiscalizar esses caminhos, o gado do Mdio So Francisco continuou abastecendo aquelas minas. To logo Loureno de Almeida se empossara no governo de Minas Gerais, no qual se manteve de 1721 a 1733344, Isabel Maria lhe requereu, em 18 de agosto de 1721, a posse das terras, anexando o que denominou de instrumentos autnticos345, que atestariam doaes de terras por Vasco de Mascarenhas,346 em 1663 e Brs da Rocha Cardoso, em 1684. Incluiria nessas alegadas concesses, cujas provas de autenticidade extraviaramse da petio, o territrio do Alto Serto da Bahia. Persistindo na luta pela posse do rio das Velhas, Isabel Maria requereu proviso de D. Joo V, em 1723347, lembrando que j lhe apelara, atravs do Tribunal do Ultramar, contra inquietaes na posse de terras na parte do governo das Minas Geraes. Solicitou restituio dos stios que se lhe tinho tirado por falsa informao de estarem desocupados, alegando proviso rgia para o governador das Minas, que determinara
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AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 51. Declarao em forma de Proviso, de Pedro de Almeida e Portugal, Vila do Carmo, 3 mar., 1720. 343 MATA-MACHADO, Bernardo Novais da. Histria do serto noroeste de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1919, p. 40-41. 344 Loureno de Almeida fora governador-geral do Brasil (1710-1711) e da capitania de Pernambuco (1715-1718). 345 COSTA FILHO, Miguel. Op. cit., p. 31, indicando como fonte: APM. GA, cd. 23, fl. 20. 346 D. Vasco de Mascarenhas governou a Bahia de 24 jun., 1663 a 13 jun., 1667. 347 AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 16, doc. 1.407. Requerimento sem data, de Isabel Guedes de Brito a D. Joo V, com despacho de 19 jan., 1723, recomendando esperar pella informao que se tem ped. ao Gov.dor das Minas.
averiguaes de aspectos comprobatrios dos ttulos aprestados, pelos quais, seu pai adquirira domnio e posse das terras e cumprira as obrigaes com que lhe foram dadas aquelas sesmarias. Frisou ainda que apresentara justificaes e mais documentos apensos, demonstrando que todas as terras das vertentes348 do rio das Velhas foram descobertas, apossadas, e conquistadas do gentio custa do seu pai na boa f de lhes pertencerem e continuarem na sua sucesso e descendncia. Concluiu, solicitando que anulasse todas as sesmarias tituladas nas terras conquistadas por ele. Transmitindo o teor do requerimento de Isabel Maria, para o governador de Minas Gerais, em maio de 1724, o rei ordenou-lhe349 que ouvisse as pessoas mais prticas e inteligentes da sua capitania, sobre a matria e emitisse seu parecer. Loureno de Almeida explicitou, em resposta350, sua oposio ao domnio da herdeira no rio das Velhas. Comunicou ao rei que ouvira muitas pessoas e a unanimidade delas reconhecera Antnio Guedes de Brito como descobridor, conquistador e povoador de muitas terras do serto, onde haveria considervel quantidade de fazendas de gado, sendo algumas apropriadas indevidamente por homens mais pobres, que fizeram os seus descobrimentos e a sua conquista do gentio. Acusou o mestre-de-campo de lhes tomar as posses, alegando estarem em sua sesmaria. Quanto ao rio das Velhas e suas vertentes, o governador foi mais enftico. Informou que os descobridores de Antnio Guedes jamais teriam chegado at l. Apenas alcanaram sua foz, no So Francisco, onde fizeram uma pequena povoao de gado, que morrera todo, ficando despovoado, sem que a sua gente passasse nunca rio acima e menos s suas vertentes, que so nesta vila351, distantes da sua barra mais de duzentas lguas, em serras descobertas por paulistas. Nota-se que Loureno de Almeida recorria a falsos argumentos contra os emboabas, que considerava intrusos nas minas. Ignorou as atividades de Manoel Nunes Viana, como procurador e administrador de fazendas de Isabel Maria Guedes de Brito, na foz rio das Velhas e lder da rebelio que derrotou e expulsou os paulistas das minas. Atribuiu curso de 200 lguas ao rio das Velhas, que no alcana um tero dessa extenso. Talvez agira desse modo por conhecer a desinformao do rei e sua assessoria, so348 349
Neste e noutros documentos do mesmo processo, vertente exprime nascentes, cabeceiras do rio. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 5, doc. 41. Cpia de carta rgia, 5 mai., 1723, anexa a um requerimento sem data, de Isabel Maria Guedes de Brito. 350 AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 5, doc. 41. Parecer de D. Loureno de Almeida, de 8 ago., 1724, sobre Carta Rgia de 5 mai., 1723. 351 Referia-se Vila Rica, atual Ouro Preto, de onde datou o parecer, denominando as nascentes do rio de vertentes, que designa todos os desaguamentos para o leito fluvial.
bre espaos na Amrica portuguesa. Exagerou e destorceu fatos, possivelmente acreditando que suas informaes nunca fossem confrontadas com outras fontes pelas autoridades lusitanas. Almeida recomendou ao monarca, no confirmar sesmarias requerente, ao longo do curso do rio das Velhas, porque no atendera as condies legais para concesso de terras; e no lhe fizesse to extraordinria merc, porque entre nascente e foz daquele rio dos aluvies aurferos haveria fazendas ocupadas por pessoas que no reconheceriam o senhorio da viva, o que provocaria grande a confuso se as obrigasse a pagar foro quela senhora. Argumentara, ainda, que se lhe concedesse o direito de cobr-los, ela obteria rendas incompatveis com sua condio de vassala e isso perturbaria o sossego pblico. Aquelas minas no deveriam ter outro senhorio, alm da majestade lusitana. Advertia, desse modo, ao monarca sobre possveis ameaas estabilidade social na colnia. Argumentao capaz de influenciar sobre o seu veredicto final. Antes dele, Isabel Maria recorrera, no incio de 1724, a D. Joo V352, apresentando-se como sucessora nas sesmarias das cabeceiras do Rio de So Francisco e do Rio das Velhas, cujas terras, seu pai descobrira por si e seus colonos. E ela, de posse desses territrios, mandara fazer descobrimentos de novos stios. Confiara essa tarefa aos irmos paulistas, Joo Peres de Moraes e Jos Peres Bueno, que desbravaram Piedade, Passagem, Rio das Velhas, Corimata, Morrinhos, Santo Hiplito, Piaro, Galheiro, Bananal e outros stios, pelo rio das Velhas acima. Esses colonos teriam povoado aqueles trechos, pagando-lhe foros, conforme atestariam documentos que anexara353. Dispensara os servios deles, porque introduziram algas pessoas nellas com violncia e poder sem titulo justo, apoiados pelo governo de Minas Gerais. Acusando, outra vez, as autoridades da nova capitania de desrespeitarem seus ttulos e distriburem cartas de sesmarias dos seus domnios citou correspondncia do coronel Pedro Leolino Mariz, seu procurador na regio dos rios, Pardo e Jequitinhonha, que estaria anexa petio354, comunicando-lhe que o ouvidor de Sabar se empenhava contra os seus interesses, assegurando aos ocupantes a posse de stios em litgio com Suzana Maria, e outras pessoas poderosas das Minas. Tambm comunicou ao rei que seria falsa a informao de que os moradores de Papagaio no se reconheciam colonos dela. Eles estariam lhe pagando rendas e foros,
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AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 5, doc. 41. Doc. cit. Esses anexos no se encontram apensos aos documentos que lhes fazem referncias, no AHU. 354 Outro anexo que no acompanha a documentao no AHU.
conforme comprovariam cartas do sargento-mor Luiz Tenrio de Molina e Domingos lvares Guimares, colonos dessa localidade355. Finalmente, alertou ao rei que novas sesmarias doadas pelo governo mineiro, objeto de requerimento que lhe fizera antes e aguardava informao, resultariam em violncia. Solicitou ao monarca no se informar com aquele governador, que tudo fazia para que ele declarasse devolutas as terras do rio das Velhas. Um Sumrio de Informao356, com autos de inquisio de testemunhas pelo ouvidor geral e corregedor da comarca de Rio das Velhas, talvez extraviado desse recurso de Isabel Maria ao rei, acrescenta dados sobre a ocupao e posse da margem direita do Alto e Mdio So Francisco, favorveis aos interesses da viva de Antnio da Silva Pimentel. Registra depoimento ao Dr. Jos de Souza Valdez, na Vila Real de Nossa Senhora da Conceio, em 11 de agosto de 1724, do coronel Martim Afonso, morador de Mato Dentro, ex-procurador do mestre-de-campo Antnio Guedes de Brito, que arrendara suas terras desde 1686, a vrios pretendentes; do padre Paulino Pestana de Souza, residente na Vila Real, ex-procurador do coronel Antnio da Silva Pimentel e exproco na Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no Arraial de Matias Cardoso; e do tambm padre Manoel das Neves Fontes, domiciliado em Pompeu, termo da Vila Real, que exercera seu mister, por muitos anos, na margem direita do So Francisco. O primeiro depoente declarou que Antnio Guedes de Brito fora descobridor do Rio de So Francisco, gastando quantidade do seu cabedal, comprando metade das terras do serto, de Bernardo Vieira Ravasco, secretrio de estado do governo da Bahia. Seu genro, coronel Antnio da Silva Pimentel, continuara os descobrimentos, mandando abrir estradas at o curral de El Rey. Nomeara seus procuradores o tenente-general Manoel da Borba Gato, o coronel Domingos Rodrigues da Fonseca e o padre Paulino Pestana de Souza, para arrendarem terras que estavam descobertas, capazes de produzir generos de labouras e nam as que fossem capazes de darem ouro, porque pertenciam ao rei. Cobrara rendas em Papagaio e seu entorno para Isabel Maria Guedes de Brito, por ordem de Manoel Nunes Viana e haveria 17 anos que pagava rendas da mesma localidade para a senhora Guedes de Brito. O padre Paulino Pestana de Souza confirmou que Guedes de Brito conquistara os sertoens da Bahia para o Rio de Sam Francisco e Rio das Velhas, acrescentando
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Mais um caso de extravio de anexos comprobatrios, permanecendo apenas as correspondncias das quais, tambm falam algumas citadas nas existentes. 356 AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 5, doc. 47. Doc. cit.
que o paulista Matias Cardoso de Almeida lhe dissera, haveria cerca de 24 anos, que viera por ordem do dito mestre-de-campo e continuara no descobrimento do Rio das Velhas, um paulista chamado Joam de Gis, ao qual deu todo o necessrio, para desenvolver as atividades at estas minas, as quais, haveria breves anos, estavam descobertas pelos paulistas. O sacerdote reafirmou, portanto, que o rio das Velhas, at s nascentes, onde se minerava, fora ocupado por agentes de Guedes de Brito e sua herdeira, informando ainda que ele, como procurador do coronel Antnio da Silva Pimentel arrendara, haveria 24 anos, stios da barra do rio das Velhas s minas e no rio Pacohy, mais prximo da rea mineradora, para Antnio da Silva Vasconcelos; haveria 19 ou 20 anos, ele prprio pedira ao coronel, aforamento de dois stios na barra do rio Parana, distante das minas quatro ou cinco dias de jornada; 17 anos antes, o coronel Pimentel o nomeara, com Borba Gato e Domingos da Fonseca, seus procuradores para arrendarem as terras daquela regio, mas encontraram o estorvo do governador destas minas, Antnio de Albuquerque Coelho, passar cartas de sesmarias; Isabel Maria continuara na mesma diligncia pelas rendas, depois que enviuvara de Antnio da Silva Pimentel. A terceira testemunha, na mesma linha de argumentos, reafirmou que o pai de Isabel Maria estivera de posse dos sertes da Bahia, desde limites com o coronel Francisco Dias dvilla, no rio So Francisco e ouvira Salvador Fernandes, procurador do mestre-de-campo dizer que este lhe ordenara descobrir stios pella Barra do Rio das Velhas a sima, de huma banda e da outra. Pode-se, com base nestes dados, deduzir que Antnio Guedes de Brito se apossara do territrio do centro-norte da Bahia at a foz do rio das Velhas. Seu genro e sua filha estenderam as ocupaes at cabeceiras desse afluente do So Francisco. Entretanto, prevalecera a determinao do governo mineiro de no reconhecer as posses e distribuir sesmarias em toda a jusante desse curso dgua, onde se minerava ouro. Isabel Maria manteve e transferiu para a filha Joana, parte do vale dos rios, Pardo e bordas do Verde Grande, no norte da capitania de Minas Gerais e na Bahia, todo o Mdio So Francisco e a Serra Geral, inclusive, os sub-vales do Antnio, So Joo, Brumado e Gavio, da bacia do rio de Contas. Os governadores de Minas Gerais distriburam cartas de sesmarias para paulistas, das terras reivindicadas por Isabel Maria Guedes de Brito. Mais de um sculo depois, um relatrio da Repartio Geral de Terras, instituio criada pelo Decreto n. 1.318, de 30 de janeiro de 1854, que regulamentou a da Lei das Terras de 1850, pretendendo separar o patrimnio fundirio pblico, isto ,
sesmarias no ocupadas pelos donatrios reas no doadas, da propriedade imobiliria privada, relacionou, por freguesia, as terras devolutas em cada provncia, indicando em Minas Gerais, entre outras, Ouro Preto (ex-Vila Rica), Rio das Velhas, Rio So Francisco, Gro-Mogol e So Romo357, todas em reas ocupadas por Antnio Guedes de Brito ou sua herdeira Isabel Maria. As duas ltimas, no vale do rio Pardo, permaneceram na descendncia dele, transferindo-se para o conde da Ponte.358 Os sucessivos titulares arrendaram e venderam terras nos rios Verde Pequeno e Verde Grande, na margem do So Francisco, durante muito tempo. E o Governo de Minas tambm distribuiu terras nessas reas. Entre outros, Matias Cardoso de Almeida e 19 companheiros receberam 80 lguas quadradas, sendo quatro para cada um, nas nascentes dos rios Pardo e Doce359. 4. 3 Direitos hereditrios questionados em Jacobina Dizem Joo Dias, persy e como Proc.or dos mo.res e roceiros do continente das minas da V.a de S.to Antonio da Jacobina q.e representando a V. Mag.e, provado com docum.tos q.e Dona Joana da Sylva Guedes de Britto, da Ci.de da B.a os trazia persy, e seus procuradores, injustam.te vexados, e executados p.a satisfao, e pagam.to de rendas de terras, e citios minerais, q.e os Supp.es descubriro custa de suas vidas, e fazendas de q.e a Supp.da no he Sen.ra por tt.o algum, e som.te intruza dollozam.te por sismeira delas...
Representao de Joo Dias ao rei, contra a cobrana de rendas de terras em Jacobina, por Joana da Silva Guedes de Brito, anexo a processo de 17 mar. 1736. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 54, D. 4.721
357 358
MOTTA, Mrcia Maria Menendes. Nas fronteiras..., p. 163-180. CASA DA PONTE. Tombamento dos prdio arrendados ou devolutos situados no Serto do Rio Pardo... 359 Cpia em: FREIRE, F. Histria territorial..., p. 51. Sobre essa regio, cenrio de Grande Serto: Veredas e de Manoelzo e Miguilim, de Joo Guimares Rosa, ver tambm: MATA-MACHADO, Bernardo Novais da; COSTA FILHO, Miguel. Op. cit.; PIRES, Simeo Ribeiro. Op. cit.; BOTELHO, Tarcsio Rodrigues. Famlia e escravaria: demografia e famlia escrava no norte de Minas Gerais no sculo XIX. 1994. Dissertao (Mestrado em Histria). USP, So Paulo; COTRIM, Drio Teixeira. Histria primitiva de Montes Claros e outros aspectos histricos do Mdio So Francisco. Montes Claros: UNIMONTES, 2002.
Joana da Silva Guedes de Brito tambm sustentou, como sua me, uma srie de processos contra posseiros, desde 1729, em Jacobina, da qual se encontra uma sntese, numa certido de 1735, do tabelio Jos da Cunha da Vide, anexada aos autos de uma representao de Joo Dias do Rego e moradores daquelas minas das nascentes do Itapicuru ao rei D. Joo V360. O conflito originou-se da cobrana de rendas fundirias rechaadas pelos posseiros. O padre Manoel da Costa Soares, procurador de Joo de Mascarenhas e sua mulher Joana da Silva Guedes de Brito, moveram ao executiva contra eles. Joo Dias, por si e como procurador do povo das minas e lavradores de mantimentos, recorreu a todas as instncias do judicirio colonial e metropolitano contra a exigncia. Argumentando que os executantes no possuam ttulos de propriedade das terras, em requerimento Cmara da Vila de Santo Antnio de Jacobina, Joo Dias apresentou uma srie de quesitos, respondidos pelo tabelio, Jos da Cunha da Vide, autorizado pelo presidente Coutinho, atestando que a vila de Jacobina fora fundada e heregida em nome de El-Rey nosso Senhor, pello Doutor Corregedor Pedro Gonalves Cordeiro, sem qualquer contestao e encontrava-se em seu poder o livro de registros da criao da vila. Estabelecera-se na vila a Casa Real da Fundio, para que todos o quinto do ouro em cuja construo apenas dois moradores contriburam com seus escravos, sem se beneficiarem disso. E noutro livro de registros da Cmara, sob sua guarda, encontravase uma petio de 5 de setembro de 1729, pela qual os moradores de Jacobina solicitaram que o Senado da Cmara recorresse ao rei, contra a cobrana de rendas das terras, onde plantavam e mineravam. A execuo da cobrana resultara de requerimento do padre Manoel da Costa Soares, procurador de Joo de Mascarenhas e Joana da Silva Guedes de Brito, que se diziam senhores e possuidores das terras. O requerente Dias informou que os suplicantes pagaram rendas das terras durante alguns anos, executante, por desconhecerem a lei, que lhes favoreceia, por serem homens pouco prticos com semelhantes matrias e desconhecer o decreto rgio sobre as terras aurferas de Minas Gerais. Alegou que o coronel Pedro Barbosa Leal franqueara as minas de Jacobina de 1721 a 1728, quando os mineiros passaram a pagar os quintos de trs oitavas e meia por bateia.
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AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 54, doc. 4.721. Certido do tabelio e escrivo de Jacobina, Jos da Cunha da Vide, 5 de mar., 1729. margem do despacho da Cmara de Jacobina, com outra letra, se l: no o fizero com medo, e os pobres padecendo.
Mas, depois da Casa Real da Fundio todos passaram a pagar o direito e quinto de cinco oitava huma, conforme a lei361. E desde a franquia das minas, os suplicantes estariam pagando de cada cabea de boy, huma oitava, e de vaqua meia, nas entradas do rezistto, por cargas entradas nas minas e de fazenda seca trs oitavas e meia oitava por molhadas, duas oitavas por escravo novo, alm do donativo da finta. Os mineradores pagavam todos os tributos exigidos pelos tratantes, que ainda exorbitavam nos preos das mercadorias. Os sesmeiros362 e seu procurador padre Manoel Soares da Costa praticavam tanto excesso nas cobranas de rendas das terras que teriam executado o capito Francisco Correia de Abreu pelo no pagamento delas, levando dois escravos seus hasta pblica, vendendo-os pelo tenuo preo de sessenta mil ris. E pretendendo usar a mesma violncia contra Joo Dias e outros moradores, provocaram o litgio que dispersara os mineiros, reduzindo, em conseqncia, os quintos de Real Fazenda. Joo Dias declarou que os mineiros, no reconheciam senhorio algum das minas, que pertenceriam ao patrimnio Real, como dispunha a lei363, e ressaltou que em Minas Gerais, Rio de Contas, Minas Novas, Itacambira e outras reas mineradoras no se pagavam rendas das terras e eles, mineiros e moradores, reivindicavam o mesmo direito. Em nome deles acusou os sesmeiros e seus procuradores de lhes vexarem sem nenhum direito, porque se a suplicada sismeira possui as terras por duao dos seos anteceores, no supre a seo favor, por se aver descuberto ouro, como dispunha a Leis364. Dias alegou que os mineradores e moradores no reconheciam Joana da Silva Guedes de Brito como senhora das minas, porque no consta que as tenha por duao, mas por compra que ouveram seus antecessores a hum paolista, que as descobriu,
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Cita: Ordenaes, l. 2, t. 24, 4, onde se l: havemos por bem, que toda a pessoa possa buscar vas de ouro, prata e outros metais... e ...de todos os metais que se tirarem, depois de fundidos e apurados, nos pagaro o quinto em salvo de todos os custos. E sendo as vas to fracas, que no soffram pagar o dito direito, nos requerero para provermos, como fr nosso servio. PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. Op. cit., p. 453-454. 362 Algumas vezes Joo Dias e o tabelio Antnio da Cunha da Vide se reportaram aos executantes como sesmeiros, contrariando o principal argumento da causa, de no lhes reconhecer proprietrios, mas posseiros. Sesmeiro passou a significar no Brasil, donatrio de sesmaria, proprietrio por doao da terra. 363 Cita: Ordenaes l. 2, t. 24, 16, onde dispe que o direito Real he poder o Prncipe tomar..., ...os veeiros e minas de ouro, ou prata, ou qualquer outro metal. PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. Op. cit., p. 441. 364 Indica: Ordenaes, l. 2, t. 28, cujo caput diz: Por quanto em muitas doaes feitas per Ns, e per os Reys nossos antecessores, so postas clausulas muito gerais e exuberantes, declaramos, que por taes doaes e clausulas nellas contedas, nunca se entenda de serem dadas as dizimas novas dos pescados, nem os veeiros e minas de qualquer sorte que sejam, salvo se expressamente forem nomeados... PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. Op. cit., p. 445.
chamado Marcelino Coelho365 e por isso pertenceriam ao povo. As terras de Jacobina teriam sido, antes de serem habitadas, muito agras [sic], cobertas de matas meirinhas e eles suplicantes, com seus escravos e custeios prprios, as descobriram com bastante risco de suas vida, combatendo ndios brbaros. A vila fora edificada com administrao da Justissa para o regimem da terra, e tanto a sim, que nem esta tem terra, e tal seria o excesso dos sismeiros e seus procuradores, que at das construes urbanas cobravam foro contra a Ley366. Argumentou Dias que as terras deveriam pertencer vila, para construo de logradouros pblicos, criatrios e lavouras na forma da lei367. Denunciaram que a suplicada, sesmeira Dona Joanna, por meio de seo poder e grandes valimentos, transferira os julgamentos de Jacobina para empatar o curso delles na cidade da Bahia e sem embargo da causa estar litigiosa, o seu procurador persistiria na cobrana das rendas; e reivindicavam que se lhes cedessem 30 lguas ao redor das minas para caminhos, criaes e plantaes e se suspendessem as execues, at julgamento da causa em trmite na cidade da Bahia, requerendo que, imediatamente, se dessem conta junto com esta e com os mais documentos, ou seja, de todo o processo, a D. Joo V. Em despacho assinado por Carvalho, Lobo, Coitinho, Coelho, Prudente e Amaral, a Cmara de Jacobina determinou que se atendesse ao justo requerimento dos suplicantes suspendendo-se a cobrana de rendas th a detriminao de Sua Majestade, que Deos guarde. Nos anos seguintes sucederam-se requerimentos e representaes de Joo Dias, pareceres do Conselho Ultramarino, resolues e ordens rgias sobre o litgio. Em 1732, D. Joo V ordenou que o ouvidor geral da comarca da Bahia emitisse parecer sobre representao de Joo Dias368. Quatro anos depois, acatando sugesto do Conselho Ultramarino, o mesmo rei determinou que o chanceler da Relao do Brasil, na Bahia, tam365
Deve tratar-se Marcelino Coelho Bittencourt, que combateu ndios no alto rio de Contas, em 1690, mas seria baiano, conforme FRANCO, Francisco de Carvalho. Op. cit., p. 75. Quanto compra, trata-se da transao que fez Antnio Guedes de Brito, adquirindo a metade da sesmaria que receber em 1663, com scio Bernardo Vieira Ravasco, entre as nascentes do Itapicuru e do Paraguau, estendendo-se at aos barrancos do So Francisco, na qual incluam as terras de Jacobina. 366 Cita: Ordenaes, l. 4, t. 43, 13: E por mais favor da lavoura geralmente mandamos, que onde quer que se derem sesmarias de quaesquer cousas, se as terras onde estiverem, forem isentas, se dm sesmarias isentas e se forem tributrias, com o tributo dellas se dm, e no lhes ponham outro tributo... PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. Op. cit., p. 826. 367 Remete a: Ordenaes, l. 4, t. 43, 12: ...Nem matos, nem matas, nem reservados pelos Reys, que ante Ns foram, que so dos termos das Villas e Lugares, para os haverem por seus e as coutarem, e defenderem em proveito dos pastos, criaes e logramentos, que aos moradores dos ditos lugares pertencem.... PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. Op. cit., p. 826.
bm relatasse o processo. Mandou ouvir as partes, devendo Joana da Silva Guedes de Brito apresentar seus ttulos de domnio, suspendendo a execuo da cobrana de rendas, enquanto se aguardava deciso final369. O chanceler da Relao do Estado do Brasil relatou-lhe que a legislao no facultava aos governadores, concederem sesmarias, mais que nos termos e limites das cidades e aquelas ficariam fora dessas extremas, extrapolando as seis lguas previstas em lei. E que Joana da Silva Guedes de Brito no indicara como se ampliou essa faculdade do governador, nem apresentara confirmaes rgias das sesmarias, ato final do processo de concesso de terras, somente emitida depois de comprovada a efetiva explorao econmica delas. Cristvo de Magalhes Porto, descrevendo o domnio de seus constituintes, Manoel de Saldanha da Gama e Joana da Silva Guedes de Brito370, advogou falsidade dos argumentos de Joo Dias, lembrando que as terras em litgio estavam entre os rios Jacupe e Itapicuru, portanto, nas sesmarias de 1655 e 1663. A primeira, doada ao capito Antnio de Brito Correia e seu filho Antnio Guedes de Brito, bisav e av da herdeira Joana, em carta de 2 de maro de 1663; a outra, concedida a Guedes de Brito e Bernardo Vieira Ravasco, em 22 de agosto de 1655, abrangendo as terras ath o Ryo de S. Francisco, doada pelo conde de bidos, quando vice-rei do Brasil e Brito comprara a parte do scio. Acrescenta-se que Ravasco recebera, em 7 de junho de 1655, sesmaria de 10 lguas, entre Jacobina e o So Francisco, cujo destino se desconhece. Talvez, incorporada anterior, vendera tambm a Guedes de Brito. O procurador diz ter apresentado certides comprobatrias de outras sesmarias, mas, como os outros documentos de comprovao, desapareceram dos autos. Uma delas, concedida a Antnio Guedes de Brito, em 1684, nas cabeceiras da mesma data, pelo Ryo de S. Francisco acima, da qual no ofereceu mais informaes. As outras seriam as descritas por Isabel Maria, que se estenderiam pelos territrios atualmente entre os municpios de Bom Jesus da Lapa, no Mdio So Francisco e Barra da Estiva, na Chapada Diamantina. Concluiu o procurador, advertindo que Antnio de Brito Correia teria vinculado em clusula testamental, com sua mulher Maria Guedes, parte das terras de Jacobina ao Morgado Guedes de Brito e, nessa condio, seria inalienvel.
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AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 54, doc. 4.721. Cpia de ordem rgia, 16 jun., 1732, anexa ao parecer do Conselho Ultramarino, sobre requerimento de Joana da Silva Guedes de Brito, 17 mar., 1736. 369 AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Cpia de ordem rgia, 12 dez., 1736, anexa consulta do Conselho Ultramarino, 17 mar., 1736.
Entretanto, a parte conhecida desse testamento antes citado, que instituiu esse morgado, nada revela sobre essa vinculao. Na mesma seqncia, em 1737, Andr de Melo e Castro, conde de Galvas e vice-rei do Brasil, definiu os limites ou circunferncia do districto mineral de Jacobina, contornando pela fazenda Tabuleiro, do capito-mor Francisco Gonalves; ao sul, nas fazendas Asco, Campo Grande da Torre e Maciel, at a Mata das guas; Cordo do Tombadouro ou Serra Talhada; rio Jacupe e, das suas nascentes at Papagainho; norte, fazenda Tapera, de Joo Dias; Porteiras, at a barra do rio Aipim no Itapicuru Grande; rio do Aipim acima, at a barra do Ribeiro da Mangabeira e da fazenda Tabuleiro, onde comeou. Estendia-se por 20 lguas de comprimento, com seis ou sete de largura371. Os julgadores focalizavam a essncia da questo, no descobridor, e povoador das terras, o que favoreceria a Joana da Silva Guedes de Brito, cujos ascendentes as possuram por muitos anos372. Para os posseiros importava a explorao delas, como determinavam as Ordenaes do Reino sobre sesmarias, sem a qual, no prazo de cinco anos, tornavam-se devolutas, como as consideravam, porque os sesmeiros, com ttulos de quase um sculo, no teriam acatado esse requisito. Por conseguinte, no reconheciam o direito da herdeira cobrar rendas e embargaram todas as sentenas favorveis a ela, esbarrando os processos na deciso poltica de sucessivos ocupantes do trono portugus, de D. Joo V (1707-1750) a D. Jos (1750-1777) e Dona Maria I (17771816), sendo esta ltima afastada por insanidade mental e substituda pelo prncipe Joo, coroado no Rio de Janeiro, depois da morte dela, em 1816, como D. Joo VI, que reinou at 1826, em Portugal. E assim, vrias aes jurdicas mantiveram a disputa por muitas dcadas. Uma proviso rgia de 19 de fevereiro de 1755, ao ouvidor geral da Comarca da Bahia da Parte do Sul373, anulou todas as sesmarias concedidas e no cultivadas abrindo novas perspectivas para os posseiros, mas Manoel de Saldanha da Gama conseguiu restabele-
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AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Descrio do domnio fundirio de Jacobina, anexa consulta do Conselho Ultramarino, 17 mar., 1736. 371 AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Edital do vice-rei do Brasil, de 5 fev., 1737, anexo consulta do Conselho Ultramarino, 17 mar., 1736. 372 AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Parecer do Chanceler do Estado do Brasil, Lus Machado de Barros, 29 mai., 1739, anexo a consulta do Conselho Ultramarino, 17 mar., 1736. 373 A Ouvidoria da Parte Sul da Bahia, qual o rei dirigiu a proviso, fora criada, por resoluo do Conselho Ultramarino, 10 dez. 1734 e homologada em carta rgia, 3 de jul., 1742, com sede em Jacobina e jurisdio estendendo-se por mais de 100 lguas, englobando os termos de Rio de Contas, Minas Novas e Serro Frio, conforme FREIRE, F. Histria territorial, p. 146-147.
cer a cobrana de rendas. D. Jos I, apoiado pelo ministro, marqus de Pombal, determinava medidas contra abusos de sesmeiros, mas retrocedia ao deparar-se diante das primeiras reaes dos senhores de terra, como se demonstrou no captulo precedente. Talvez a motivao de D. Jos I para emitir essa proviso fosse a querela fundiria de Joana da Silva Guedes de Brito, que ainda teve outros desdobramentos. Encerrada a etapa conduzida por Joo Dias do Rego, alguns anos depois, iniciou-se outra sob os auspcios da Cmara de Jacobina, acatando requerimento do povo que, em 1755, dirigiu representao regente Dona Maria374, substituta interina do pai, D. Jos I, que se encontrava enfermo. Inicialmente o recurso denunciou violncias e despotismos praticados por agentes da senhora Francisca Joana Josefa da Cmara Coutinho, viva de Manoel de Saldanha que, aps a morte de Joana da Silva Guedes de Brito, retornara a Portugal, e se casara com essa prima tambm viva, obtendo, para tal, autorizao do papa375, porque a Igreja condenava unies conjugais consangneas. Os autos desse recurso descrevem o processo anterior, relatando que Antnio Guedes de Brito, haveria mais de 150 anos, obtivera humas sesmarias, expandindo por quase 300 lguas, que no as aproveitara, no prazo de cinco anos, como determinava a lei376. O sesmeiro e seus herdeiros teriam aproveitado apenas 12 ou 15 fazendas na margem do So Francisco, que no eram objeto de disputa por ter enchido as obrigaes, ficando todo o restante do terreno inculto, com espaos de 15, 16, 20 e mais lguas sem ocupao. Quando se descobriu ouro em Jacobina, 60 ou 70 anos aps as concesses das sesmarias, os ndios atacavam mineradores e colonos, sendo necessrio a Cmara mandar esquadras armadas a combatellos e afugentallos. E como prescrevia a mesma legislao, as terras ficariam como dantes eram, quando no exploradas em cinco anos377. Os autores da representao minimizaram o nmero de fazendas e, talvez, exageraram nos intervalos delas ou nas distncias entre as sedes. O conde da Ponte, quando assumiu a titularidade, em fins do sculo XVIII, dividiu esses territrios em cinco reas
CATLOGO de documentos sobre a Bahia, existentes na Biblioteca Nacional. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 68, 1949, doc. n. 368, p. 67. BN. II 33, 27, 8. Representao da Cmara de Jacobina ao rei, 3 fev., 1775; Ver tambm em: FREIRE, F. Histria territorial, p. 209-214. 375 ACCCP. Caixa 19 - SG-88-3. Dispensa apostlica de abril de 1771, concedida a Manoel de Saldanha e Francisca da Cmara, para contrarem matrimnio, apesar de serem parentes em 2 e 3 graus. 376 Cita Ordenaes: PORTUGAL. Ordenaes Filipinas, l. 4, t. 43. Das Sesmarias, 3, onde se l: Em qualquer caso que os Sesmeiros dem sesmarias, assinem sempre tempo aos que as derem ao mais de cinco anos e dah para baixo, segundo a qualidade das terras.... E no lhe assinando certo termo a que os aproveitem, Ns, por esta Ordenao lhe havemos por assinados cinco anos, p. 823. Atente-se para o fato de sesmeiro em Portugal designar o funcionrio que distribua sesmarias e no Brasil, o donatrio. 377 Remete s Ordenaes: PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. l. 4, t. 27, 16, p. 827.
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administrativas Rio de Contas, Rio Pardo, Caetit, Urubu, Xiquexique e Jacobina denominando-as distritos. Determinou o tombamento do patrimnio fundirio de cada uma dessas unidades, em 1819, dos quais, se conhecem apenas os tombos de Rio Pardo, com 105 fazendas e stios arrendados e o de Urubu, com 111378, excluindo as grandes unidades pecuaristas dos baixios do So Francisco, administradas pelo prprio senhorio, includas no inventrio parcial de 1831. Os requerentes alegaram que as terras foram cultivadas pela populao, que ali se instalara, no incio da extratividade mineral, para produo da subsistncia. Herdeiros de Guedes de Brito, apoiando-se em pessoas influentes, teriam conseguido que muitos posseiros lhes arrendassem ou comprassem glebas. Alguns anos depois, tomando conscincia dos seus direitos e supondo-se lesados, rebelaram-se, deixando de pagar rendas da terra. Mas Manoel de Saldanha e sua mulher Joana da Silva Guedes de Brito obtiveram o privilgio de um juzo privativo379 para julgar suas pendncias jurdicas e executar rendeiros em dbito. Esse privilgio se repetiu vrias vezes. Um desses magistrados, o desembargador Jos Pedro de Azevedo Sousa da Cmara fez na Bahia, em 29 de agosto de 1801, exposio sobre as rendas da sesmaria pertencente a Antnio Guedes de Brito e seus descendentes, que foram pagas pela Cmara de Jacobina380. Em outra ocasio, atendendo representao do conde da Ponte, uma Carta Rgia de 28 de agosto de 1804, dirigida ao governador da Bahia, Francisco da Cunha Menezes, determinou que o Juzo Privativo da Administrao dos Bens do Suplicante, o reintegrasse nas posses de que fora esbulhado381. Joo Dias do Rego, representando a populao, embargou as execues e apelou para o Tribunal da Suplicao382, onde a causa permanecia, j havia mais de 40 anos, aguardando sentena. Os rendeiros pagavam entradas e quintos ao rei, pelas terras de minas, alm de todos os outros impostos e no se dispunham a pagar aluguis de ter-
Esse primeiro censo fundirio encontra-se em: CASA DA PONTE. Tombamento dos prdios situados no Certo do Rio Pardo, Districto...; e o do Mdio So Francisco, em: ________. Tombamento dos prdios situados no Serto do Rio de So Francisco.... 379 Privilgio reservado nobreza, esse juizado exclusivo defendia interesses de algum, por nomeao rgia. Os Saldanha da Gama da Casa da Ponte se beneficiaram dessa distino sempre que solicitaram. 380 CATLOGO de documentos sobre a Bahia..., doc. n. 769, p. 134, BN II 34, 5, 37. 381 Idem, ibidem. Doc. n. 827, p. 144, BN II 33, 21, 66. Carta rgia, 28 ago., 1804. 382 O regimento da Casa de Suplicao de Lisboa de 7 jul., 1605. Por Alvar de 10 mai., 1808, o prncipe regente D. Joo criou no Rio de Janeiro uma Casa de Suplicao, com predicados iguais aos da casa de Lisboa. PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Auxiliar Jurdico. Apndice s Ordenaes Filipinas. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1985. Reproduo fac-similar da 14. ed. de Cndido Mendes de Almeida. Rio de Janeiro: Typ. do Instituto Philomathico, 1869, v. 1, p. 1.
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ras que seriam isentas de todo o foro e rendas de terceiros, conforme a legislao383. Depois da morte de Joana da Silva Guedes de Brito, seu vivo Manoel de Saldanha da Gama no diligenciou mais pela sentena pendente, mas obtivera ordem rgia, para cobrar rendas territoriais de Jacobina, ignorando a pendncia na Suplicao, que seria impedimento para essa autorizao do rei. Talvez por isso os sucessivos juizes privativos, a eles concedidos, nunca executaram essa ordem. A viva de Manoel de Saldanha, Francisca da Cmara, conseguiu, em 1763, outra ordem rgia para o mesmo fim, que seria nula, como a precedente, conforme a legislao384, por ser obtida com falsa informao, ignorando a pendncia jurdica, do mesmo modo que um decreto de D. Joo V, concedido a Joo Dias do Rego, quando estivera em Lisboa, tratando desse processo. Os representantes dos litigiantes solicitaram regente Dona Maria a sentena final da causa iniciada por Joo Dias do Rego, ainda pendente no Tribunal da Suplicao. Assinaram a representao: Jos Moreira Maria S. Payo, juiz ordinrio; Manoel Pimenta de Vasconcelos, Joo Mariano Xavier, Pedro Jos Gonalves Vitria, vereadores; Jos do Rego, procurador; e Francisco da Silva Corte Real, conselheiro. No se conhece veredicto rgio, nem sentena final desses processos jurdicos, to protelados. Entretanto, atendendo a requerimento, em 1797, Dona Maria I ordenou ao governador da Bahia, Fernando Jos de Portugal (1788-1801), que auxiliasse a Manoel Rodrigues de Oliveira nas suas funes de procurador para administrao das fazendas de propriedade do herdeiro de Manoel de Saldanha da Gama. Dois anos depois, a mesma rainha determinou providncias contra abusos que, segundo constava, praticavam em Jacobina os procuradores de Dona Francisca da Cmara, viva de Manoel de Saldanha385. Aps o inventrio e partilha dos bens de Manoel de Saldanha da Gama, o filho Joo, j investido no ttulo de conde da Ponte, comprou dos demais herdeiros, em 1806, tudo que restava do domnio fundirio recebido em sesmarias, herdado, comprado e conquistado de ndios, por Antnio Guedes de Brito, no sculo XVI. Reunificando o remanescente do secular patrimnio territorial, o conde iniciou processos de libelo de
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Embasaram-se nas Ordenaes: PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. l. 2, t. 27, p. 443-445, que dispe sobre forais. 384 Cita as Ordenaes: PORTUGAL. Ordenaes Filipinas. l. 2, t. 43, p. 466, que dispe sobre cartas impetradas dEl-Rey, per falsa informao, ou calada a verdade. 385 CATLOGO de documentos sobre a Bahia..., doc. n. 509, p. 104. BN. II 33, 29, 57. Carta Rgia. Lisboa, 12 mai., 1797; ________. Doc. 665, p. 117. BN. II 34, 5, 110. Carta Rgia. Lisboa, 27 mar., 1799.
reivindicao contra cada um dos usurpadores das terras, negociando com eles, arrendamento ou venda das glebas que ocupavam, mobilizando uma rede de procuradores, atravs do procurador geral, Pedro Francisco de Castro386, em todos os sertes, por onde se expandiam os latifndios387. Ressalta-se que nessa poca (1805-1809), o conde da Ponte ocupava o governo da Bahia, recebendo a famlia real portuguesa, em 1808, indo ao seu encontro ainda distante do porto, levando-lhes roupas para melhor se apresentarem no desembarque, depois da improvisada travessia do Atlntico. O novo titular manteve a tradio, ditada pelas circunstncias, de arrendar as terras para os posseiros e vend-las para os rendeiros. No sendo possvel transacionar com os ocupantes, negociava-se com qualquer interessado, atraindo, desse modo, muita gente para a Serra Geral, principalmente de Minas Gerais e das vizinhas jazidas aurferas das nascentes do rio Paramirim e povoando a regio, com minifndios policultores, entremeados por latifndios pecuaristas.
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Esse procurador exercera antes as funes de cobrador de direitos reais, sendo suspenso e processado, em 1798, por praticar vexames contra criadores de gado. CATLOGO de documentos sobre a Bahia..., doc. n. 613, p. 108. BN. II - 33, 29, 66. Ofcio de Rodrigo de Souza Coutinho ao governador Fernando Jos de Portugal. Lisboa, 2 jan., 1798. 387 ACCCP. Mao C. Terras do conde da Ponte. Documento assinado pelo conde e condessa da Ponte, Cidade do Salvador Bahia de Todos os Santos, 4 ago., 1806.
Fazenda pastoril no estado de serto sem eira nem beira no serto do Brasil, contendo capoeiras, um olho dgua e ua lagoa, um curral de aroeiras, quatro remos e uma canoa, um chiqueiro de forma oval, uma casa-de-farinha de fabricao manual.
No captulo precedente se discorreu sobre a construo dos domnios fundirios de Antnio Guedes de Brito na segunda metade do sculo XVII e sua transferncia e diviso na transio para o XIX. Neste se pretende focalizar o fracionamento dos remanescentes desses latifndios at sua extino na segunda gerao dos Saldanha da Gama, que venderam tudo que restava. Na segunda parte tenta-se averiguar os traos caractersticos da estrutura fundiria que se consolidou no Alto serto da Bahia, aps o loteamento e parcelamento das terras pelos Saldanha da Gama e os efeitos das reformas liberais, efetivada pelo Imprio do Brasil, em meados do sculo XIX, que disponibilizaram a propriedade imobiliria para a plena comercializao, flexibilizando as condies da sua explorao. Este captulo, como o anterior, pouco se apoiou na historiografia, fundamentando-se, com prioridade, em fontes primrias, de acervos portugueses e brasileiros, tanto documentao pblica como particular. Com dados relativos s terras da Casa da Ponte, foi possvel determinar reas de significativo nmero de unidades agrrias, tombadas em 1819, o que auxilia, em linhas gerais, traar o perfil fundirio regional. O trabalho de reconstituio do espao fundirio regional exigiu esforo na identificao e locali-
zao da toponmia, na leitura de papis codificados, na compreenso de suas parte e sua articulao com o todo.
Que o Procurador substabelecido em qualquer dos Districtos procede na venda dos Predios sua incumbencia intimando primeiro ao Arrendatario para comprar a terra de que paga renda, com preferencia a qualquer outro pretendente, assinando prazo de tempo certo, conformando-se as circunstancias que reprezentar das quaes se far assento em Memorial separado, e em dia, mes e anno.
Instrues do 7 conde da Ponte, transmitidas aos procuradores substabelecidos pelo administrador geral, em 1819 APEB. Colonial e Provincial, Viao, 4.638
Manoel de Saldanha da Gama, aps a morte da sua mulher Joana da Silva Guedes de Brito, decidiu retornar para Portugal. Como os endividamentos o impediam de sair do Brasil, o rei concedeu-lhe a licena e para que seus bens no fossem arrematados em hasta pblica por lesivos preos, nem credores deixassem de ser providos da segurana do embargo de seus cabedaes, D. Jos I ordenou ao governador da Bahia, que designasse o desembargador da Relao, para examinar rendas, arbitrar breve e sumariamente os competentes alimentos, ou patrimnio e renda que lhe possibilitassem manter a sua condio de fidalgo da Corte388. Com o restante dos bens o desembargador deveria pagar os credores, segundo a qualidade das dvidas de cada hum delles, avocando, ao mesmo tempo, todas as cartas e execues contra ele, sentenciando-as nos termos mais breves e sumrios. Em outros termos, o rei determinou o rateio do que sobrasse do patrimnio arbitrado como necessrio para a manuteno da fidalguia, na proporo do montante de cada dvida. Esse juzo privativo priorizou a manuteno de bens que rendessem o necessrio para a manuteno do status de nobreza de Saldanha, que se casou novamente, em Por388
tugal. Depois da sua morte, a viva Francisca Joana Josefa da Cmara Coutinho, assumindo a meao que lhe cabia, partilhou a outra metade conforme as tradies consuetudinrias e legais, com os filhos do de cujus. Pouco tempo depois morreram a viva e dois filhos do casal. Em conseqncia, os herdeiros dos dois casamentos da matriarca dividiram entre si os bens que lhes couberam da meao materna. Entretanto, os inventrios de Saldanha, da sua viva e dos dois filhos, somente se concluram em 1806, aps 24 anos de tramitao, o que acarretou endividamento e dilapidao do patrimnio. Os problemas se avolumavam desde a morte de Joana da Silva Guedes de Brito, por no se quitar o quinho do Morgado Guedes de Brito e as cotas das capelas que, por herana, tambm se transferiram para Saldanha da Gama. Multiplicaram-se as invases de terras e as inadimplncias de rendeiros, enquanto se reduziam os rebanhos bovinos e os plantis de escravos, distribudos nas fazendas dos sertes e engenhos do litoral. Em alguns casos os valores das dvidas ultrapassaram os dos bens hipotecados. Coube ao primognito a Joo de Saldanha da Gama Melo Torres, alm do seu quinho, a gesto e o usufruto dos bens vinculados ao morgado e s capelas, que tambm herdou a nobiliarquia de conde da Ponte, cuja casa ficara sem sucessor direto. To logo se concluram os inventrios dos pais e dos dois irmos, partilharam-se os bens existentes no Brasil, que se transferiram, pelos mesmos valores, ao primognito conde da Ponte, atravs de herana e de compra, em 1806, dos quinhes dos demais herdeiros389, reunificando o que restava dos antigos domnios fundirios em poder dos Saldanha da Gama, transferidos por clausula testamental de Joana da Silva Guedes de Brito. O conde da Ponte assumiu as fazendas de gado vacum e cavalar, com escravos e acessrios, no serto de Rio Pardo, o valor de 11 contos, 395 mil e 400 ris; bens idnticos nos sertes do So Francisco e Rio de Contas, 44 contos, 79 mil, 880 ris que, junto com os antecedentes, estiveram em hasta pblica para pagamento de dvidas, por 55 contos, 475 mil, 280 ris, sem que houvesse arrematante. Recebeu o engenho So Pedro do Acupe, no Recncavo, com todos os acessrios por 31 contos 285 mil, 190 ris, que estava hipotecado por 10 contos, 800 mil ris capela nele instituda por Antnio da Silva Pimentel o velho, no o seu filho, genro de Antnio Guedes de Brito e administrado, em 1806, por Antnio Garcia Pacheco, que demandava com a Casa da Ponte,
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ACCCP. Mao C. Terras do conde da Ponte. Documento assinado pelo conde..., 4 ago., 1806.
pelos juros da hipoteca, acumulados por muitos anos e por duas glebas do patrimnio da mesma capela. O valor reclamado extrapolava o atribudo ao engenho e seus pertences. O conde ficou com as fazendas, escravos, benfeitorias e equipamentos, nos sertes de Tucano e Itapicuru, avaliadas por seis contos, 909 mil, 540 ris; duas fazendas no serto de Tocs, termo de gua Fria, no valor de um conto, 605 mil, 920 ris; direitos incertos em muitos stios, ocupados nos sertes de Rio Pardo, Rio de Contas, So Francisco, Jacobina, Tucano e Tocs, resgatados pelos descendentes do conde Joo de Saldanha, como se v no seu inventrio de 1832390. Os valores das terras, criaes, escravos, acessrios, benfeitorias e oficinas somaram 125 contos, 728 mil e 30 ris. Descontadas as dvidas, juros, pendncias jurdicas e encargos testamentais no cumpridos, o monte partvel dos esplios reduziu-se para 42 contos, 672 mil, 516 ris391. As dvidas e seus encargos absorveram dois teros do patrimnio. A meao importou em pouco mais de 21 contos e cada quinho, menos de quatro contos e 500 mil ris. O conde da Ponte comprou as partes dos irmos, devendo efetuar os pagamento em Lisboa, onde receberia cada um dos herdeiros germanos de pai e me um conto de ris ao firmar da escritura; e os uterinos apenas maternos 480 mil ris, ficando o restante parcelado em cinco pagamentos anuais de igual valor, acrescidos de 20%. Excluram do negcio o engenho da Mata no qual se desenvolveu a atual cidade de Mata de So Joo alm das fazendas e stios de Jacobina, que integraram o Morgado Guedes de Brito, em pagamento das terras vinculadas de Alagoinhas e Jacobina, avaliadas por 83 contos, 59 mil e 514 ris e vendidas por equvoco, pelo administrador dos bens do conde da Ponte. Por outro lado, integraram o patrimnio comercializado as poroins de terras usurpadas por cultivadores rebeldes, desde 1729, que se consideravam proprietrios, com o fundamento de sesmarias ob-reptcias de provises, decretos, e cartas rgias, que lhes abonavam nos sertes de Rio Pardo, Rio de Contas, So Francisco, Jacobina, Tucano e Tocs, apesar da incerteza da sentena final, ainda pendente. Trs anos aps reunificar o antigo domnio fundirio, o conde da Ponte morreu, em 24 de maio de 1809, no exerccio do governo da Bahia. Nessa ocasio o prncipe regente D. Joo determinou junta interina presidida pelo Arcebispo da Bahia, no go390
verno da Capitania, que nomeasse hum ministro dentre os desembargadores da Relao, para execuo do inventrio e julgamento, breve e sumrio, dos processos pendentes. Apesar dessa ordem rgia, somente em 1832, se concluiu a partilha do esplio. Para inventariar os bens, a condessa da Ponte solicitou e obteve do prncipe regente, um juzo privativo392, como seu sogro tambm obtivera quando enviuvara, para julgamento das causas do seu interesse. Atendendo a requerimento da viva, o titular desse juizado expediu carta de diligncia, para avaliao dos bens do seu casal na vila de Chamusca, Ribatejo, em Portugal. Em certido de 1810393, o escrivo de rfos desse termo lusitano informou haver na sua jurisdio: benfeitorias e plantas do bacelo nas terras do Marco do Paul da Franca, aforadas Casa da Ponte, pelo regime de prazo em vidas com foro de sexta parte dos frutos ao morgado da rainha Maria I, avaliadas por um conto, 182 mil ris; e terras em Requeixada, no mesmo Paul, foreiras rainha, em idnticas condies, mas sem benfeitoria, razo pela qual os dois avaliadores no lhe atriburam nenhum valor. O documento no informa sobre outros bens, o que no significa que no os possusse em outros municpios portugueses. No Brasil, o administrador geral, Pedro Francisco de Castro, elaborou, em 1819, o tombamento fundirio para fins de inventrio e partilha registrando fazendas e stios em 24 livros, distribudos aos procuradores nos seis distritos Rio de Contas, Rio Pardo, Caetit, Urubu, Xique-Xique e Jacobina. A Casa da Ponte designou de distritos as divises administrativas das suas terras, atribuindo-lhes as denominaes dos municpios que centralizavam essas unidades ou onde suas terras se encontravam. Ressalta-se que a Casa da Ponte, como os Guedes de Brito, denominava de fazenda a grande unidade fundiria e de stio, gleba de fazenda, independente das dimenses, s vezes estendendo-se por lguas, como Bom Sucesso em Paratinga e Boqueiro em Ibotirama, ambas com extenso equivalente a 10.800 hectares. Nesses cadastramentos tombaram-se terras de um distrito em outro, considerando-se as distncias ou vias de acesso. Dos 24 livros de tombo, apenas se conhecem os j referidos, de Santo Antnio do Urubu, encontrado em um cartrio da cidade baiana de Macabas e de Rio Pardo, na
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ACCCP. Mao C. Terras do conde da Ponte. Condies estipuladas para a escritura de venda, cesso e obrigao, renncia e hipoteca, paga e quitao, firmadas pelos herdeiros do conde atravs de seus procuradores em Salvador. Bahia, 4 ago., 1806. 392 ACCCP. Mao C. Cpia de carta rgia, 26 jul., 1909. 393 ACCCP. Mao C. Certido de Avaliao do escrivo Joaquim Jos de Andrade Cabral, da Vila de Chamusca e de Ulme, 18 jun., 1810.
mineira de Espinosa, ambos trazendo o mesmo texto introdutrio, intitulado notta, de 5 de fevereiro de 1819 e, advertncia, que se supe reproduzidas nos demais. A notta informa a reintegrao do stimo conde da Ponte na livre administrao dos bens vinculados e alodiais, autorizado por Carta Rgia de 18 de junho de 1818. O jovem herdeiro atingira a maioridade e obtivera licena rgia para se deslocar at Salvador, de onde conduziria seu plano administrativo de venda dos terrenos livres, operao j deferida por acrdo do juzo privativo de 23 de setembro de 1817. Supondo que a distncia entre suas terras e Salvador prejudicasse as vendas em hasta pblica, como sugerira o juiz privativo, decidiu transferir, os terrenos preferencialmente aos respectivos arrendatrios. Desejando rapidez nas transaes o jovem conde definiu normas para sua execuo para serem retransmitidos pelo administrador geral Pedro Francisco de Castro aos subprocuradores regionais. Por esses critrios o administrador e procurador geral deveria listar os prdios arrendados ou devolutos de cada distrito e substabelecer os poderes da sua procurao para pessoas de conhecida probidade a fim de vend-los, surgindo em conseqncia disto, os tombamentos de 1819. Os procuradores substabelecidos deveriam intimar os arrendatrios para comprarem as terras das quais pagavam rendas, com preferncia a qualquer outro pretendente, consignando-lhes prazos conforme as circunstncias e no decurso desse os arrendatrios assinassem novos contratos de arrendamento, cujos preos anuais correspondessem a quatro ou cinco por cento dos valores declarados no segundo livro de cada distrito, vigente a partir de 2 de janeiro de 1819. No deveriam mudar os topnimos do primeiro arrendamento sem permisso do senhorio e somente concedessem licenas para isso sem prejuzo dos hereos confinantes e com os novos arrendamentos levados ao conhecimento deles. No se permitissem a nenhum arrendatrio admitir agregados com arrendamentos, nem partilhar a terra entre herdeiros do cultivador ou scios, sem licena do senhorio e quando permitido, arrendasse cada parcela com denominao diferente, estabelecendo conveno, na qual todos os hereos confinantes assinariam como testemunhas do novo conchavo. Tambm no se permitisse aos rendeiros venderem suas benfeitorias, sem permisso do senhorio e no caso de consentimento as transaes fossem com os mesmos encargos das rendas e o compromisso de reavali-las depois de um ano. Nada deveria ser anotado no segundo livro da Diviso do Tombamento, sem conferncia no Arquivo
da Administrao e qualquer ttulo de compra ou doao apresentado por cultivador fosse reduzido a pblica forma, encaminhada ao Arquivo da Administrao, ficando suspensa a especulao sobre tal stio, at deliberao da casa administrada. Nos casos omissos o procurador companheiro deveria agir como lhe parecesse justo. Na advertncia consta apenas que todos os stios transcritos no livro supunhamse da classe dos alodiais e, por isso se determinava a venda, excetuando-se desta regra geral os que integrassem fazendas ou fossem vizinhos de suas estremas. Os latifndios pecuaristas da margem direita do So Francisco Boa Vista, Batalha, Volta, Campo de So Joo, Itaberaba, Campo Grande e Santo Antnio inventariados com os bens de Manoel de Saldanha, sua mulher e os dois filhos, no integraram esse tombamento, mas foram avaliados em 1832, no inventrio final dos bens do sexto conde da Ponte. Em 1819 arrolaram somente os stios das serras e baixios afastados do grande rio, ainda no avaliados. A tabela III, convertendo em hectare as mltiplas unidades de medida usadas no tombamento de Santo Antnio do Urubu expe anos e preos dos arrendamentos, avaliaes atribudas a cada terreno em 1819, dimenses das unidades e preos do hectare, com referncia monetria expressa em mil ris. A repetio toponmica dificultou a localizao de vrios stios. Alguns homnimos Santa Rita (Riacho de Santana e Boquira), Bom Sucesso (Igapor e Paratinga) e outros se limitam com duas ou trs localidades de nomes idnticos, nos dois casos, induzindo a equvocos. Essa dificuldade agravou-se com a prtica de novos proprietrios renomearem suas glebas. O administrador da Casa da Ponte advertiu sobre esse costume, proibindo mudanas de denominaes ou estabelecendo condies para isto, nas terras que arrendava. A variao de preo dos arrendamentos e a oscilao do valor do hectare decorreram da topografia, natureza do solo e disponibilidade de gua. No semi-rido a aguada sempre valeu mais que a terra. E h que se levar em considerao o fato da maioria dos terrenos mais apropriados para a agricultura diversificada e pecuria extensiva praticadas na regio j no mais integrarem o domnio da Casa da Ponte, restando-lhe as serras ngremes, gerais ou tabuleiros pedregosos, caatingas secas, veredas de escassas aguadas e estreitos vales de rios intermitentes, alm de oito fazendas, no cadastradas em 1819, margeando o So Francisco.
TABELA III TERRAS DA CASA DA PONTE, POR LOCALIZAO, ANO DE ARRENDAMENTO, AVALIAO ANUAL, EM MIL RIS E REAS CONVERTIDAS EM HECTARES SANTO ANTONIO DO URUBU 1819 REG 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 TOPNIMO Boqueiro Morrinhos Cabea d'Anta Brejo Santana Paje Boqueiro Cruz Ric Mamonas Lajes Palmeiras Cercado Barro Vermelh Mosquito Chiqueiro Brejo Grande Macacos Lagoa Patos Calado So Bento Chap de Cima Cercadinho So Filipe So Tiago Brejo Grande Brejo Grande Cafund Grande Joana Carvalho Saco Cafund P do Morro P do Morro Palm Velha Palm Velha P do Morro Cafund Cuit Engen Velho Canas So Bruno Fazendinha Saco Chuveiro Campos Tapera Campos Caldeiro Troncho Iuiu MUNICPIO ATUAL Ibotirama Ibotirama Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Boquira Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Boquira Oliv Brejinhos Boquira Oliv Brejinhos Boquira Boquira Boquira Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos ARR ANUAL AVALIA EM 1819 ANO $ 1806 10.000 360.000 1806 10.000 360.000 1806 2.000 100.000 1806 1.000 48.000 1806 1.750 60.000 1805 2.500 96.000 1807 1.000 36.000 1802 2.000 120.000 1802 3.000 80.000 1803 2.000 60.000 1803 1.500 50.000 1803 2.000 80.000 1803 5.000 240.000 1803 2.000 90.000 1805 5.000 180.000 1805 4.000 180.000 1805 2.000 80.000 1805 1.000 36.000 1805 2.000 72.000 1807 1.000 50.000 1806 4.000 144.000 1807 4.000 200.000 1807 500 30.000 1807 1.500 60.000 1807 3.500 200.000 1807 3.500 200.000 1807 1.000 48.000 1807 800 30.000 1807 1.500 60.000 1807 500 30.000 1807 500 30.000 1807 300 16.000 1807 400 24.000 1807 500 30.000 1807 1.000 36.000 1807 500 24.000 1807 2.000 220.000 1807 2.000 120.000 1807 2.000 100.000 1807 300 16.000 1807 2.000 80.000 1816 500 30.000 1807 500 36.000 1807 800 50.000 1807 4.000 200.000 1807 1.000 50.000 1807 1.000 60.000 1802 1.000 72.000 360.000 % ARR 2,78 2,78 2,02 2,08 2,92 2,60 2,78 1,67 3,75 3,33 3,00 2,50 2,08 2,22 2,78 2,22 2,50 2,78 2,78 2,00 2,78 2,00 1,67 3,33 1,75 1,75 2,08 2,67 2,50 1,67 1,67 1,88 1,67 1,67 2,78 2,08 0,91 1,67 2,00 1,88 2,50 1,67 1,39 1,60 2,00 2,00 1,67 1,39 REA PREO (ha) (ha/$) 10.800,00 33.333 7.200,00 50.000 450,00 450,00 900,00 6,19 900,00 225,00 450,00 225,00 900,00 5.400,00 5.400,00 3.600,00 450,00 225,00 900,00 1.800,00 5.400,00 225,00 450,00 5.625,00 3.600,00 225,00 112,50 450,00 225,00 106.667 33.333 106.667 5.816 133.333 355.556 133.333 222.222 88.889 44.444 33.333 50.000 177.778 160.000 80.000 80.000 37.037 133.333 133.333 25.556 55.556 213.333 266.667 133.333 133.333
Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Boquira Boquira Oliv Brejinhos Boquira Boquira Boquira Boquira Boquira Boquira Igapor Igapor Iuiu
56,25 112,50 56,25 10.800,00 5.400,00 1.800,00 1.350,00 56,25 225,00 450,00 3.600,00 900,00 225,00 900,00 5.400,00
533.333 320.000 426.667 20.370 22.000 55.556 59.259 533.333 160.000 111.111 76.923 55.556 166.667 80.000 66.667
TOPNIMO Gado Bravo Cambait Estiva Bonito Manga Conceio Pombas S Anton Buraco Aguada Catuls Curralinho Boa Vista Campos Contendas Olho d'gua Monte Alegre Canabrava Caninana Santa Rita Rio Seco Juazeiro Riacho Seco Vargens O d'gua Caval Mata Virgem Riacho Seco P da Serra Boqueiro Umbuzeiro Malhada Juazeiro Carrapato Buritis Cafund Cafund Campos Brej N S Cons Canabrava Raposa Brejo Santana Lagoa Clara Curral Velho Boa Vista Carabas Araras Brejo do Meio Curralinho Aras Riach do Peixe So Joo Riacho dAnta Bamb Redondo Continente Boa Vista Garapa
MUNICPIO ATUAL Macabas Macabas Oliv Brejinhos Boquira Boquira Boquira Boquira Macabas Macabas Macabas Boquira Boquira Boquira Oliv Brejinhos R de Santana R de Santana R de Santana
B J da Lapa R de Santana Tanque Novo R de Santana R de Santana Tanque Novo Macabas Macabas Macabas Botupor Boquira Macabas Oliv Brejinhos Oliv Brejinhos Boquira Macabas Caetit Boquira Macabas Macabas Macabas R de Santana Macabas Macabas Macabas Tanque Novo Macabas Bom J da Lapa Igapor R de Santana R de Santana Paratinga Paratinga
ARR ANUAL AVALIA EM 1819 ANO $ 1804 1.000 60.000 1804 2.000 96.000 1805 500 30.000 1805 1.000 30.000 1805 5.000 150.000 1805 1.000 26.000 1805 1.500 60.000 1805 2.500 100.000 1805 1.750 70.000 1805 10.000 360.000 1805 4.000 120.000 1805 3.000 100.000 1805 1.000 30.000 1805 5.000 160.000 1805 2.000 60.000 1806 7.500 300.000 1806 5.000 120.000 1806 2.000 50.000 1806 10.000 300.000 1807 800 20.000 1807 400 12.000 1807 7.500 180.000 1806 40.000 1.200.00 1809 1.000 50.000 1810 1.000 50.000 1816 5.000 250.000 1816 800 80.000 1816 1.500 60.000 1816 2.000 60.000 1816 3.500 200.000 1816 1.000 80.000 1816 1.500 50.000 1816 3.500 110.000 1816 800 30.000 1806 500 26.000 1807 600 30.000 1806 1.250 40.000 1806 1.300 80.000 1806 20.000 1806 2.000 40.000 1806 1.500 50.000 1806 2.000 120.000 1806 2.000 100.000 1806 2.150 120.000 1806 1.000 60.000 1806 1.000 100.000 1806 1.000 40.000 1806 1.000 50.000 1806 1.250 60.000 1806 1.500 36.000 1806 3.000 150.000 1807 80.000 1807 600 40.000 1807 3.000 80.000 1807 4.000 160.000 1807 5.000 240.000
% ARR 1,67 2,08 1,67 3,33 3,33 3,85 2,50 2,50 2,50 2,78 3,33 3,00 3,33 3,13 3,33 2,50 4,17 4,00 3,33 4,00 3,33 4,17 3,33 2,00 2,00 2,00 1,00 2,50 3,33 1,75 1,25 3,00 3,18 2,67 1,92 2,00 3,13 1,63 1,43 3,00 1,67 2,00 1,79 1,67 1,00 2,50 2,00 2,08 4,17 2,00 2,50 1,50 3,75 2,50 2,08
REA PREO (ha) (ha/$) 900,00 66.667 1.800,00 53.333 225,00 133.333 225,00 133.333 1.800,00 83.333 56,25 462.222 900,00 66.667 2.025,00 49.383 900,00 77.778 21.600,00 16.667 3.600,00 33.333 1.800,00 55.556 225,00 133.333 5.500,00 29.091 14.400,00 1.800,00 900,00 10.800,00 20.833 66.667 55.556 22.957
900,00 545,00 21.600,00 900,00 450,00 900,00 3.600,00 450,00 112,50 2.700,00 112,50 225,00 225,00 900,00 1.800,00 2.700,00 3.600,00 900,00 4.050,00 1.800,00 1.800,00 2.250,00 337,50 450,00 900,00
55.556 91.743 11.574 88.889 133.333 66.667 55.556 177.778 444.444 40.741 226.667 115.556 133.333 44.444 44.444 44.444 38.889 55.556 29.630 55.556 66.667 44.445 118.519 111.111 66.667
TOPNIMO Bom Sucesso Carabas Santa Isabel Santa Quitria Boqueiro Santo Onofre
ARR ANUAL AVALIA EM 1819 ANO $ 1807 5.000 200.000 1807 1.500 80.000 1807 1.500 50.000 1807 1.000 100.000 1808 12.500 250.000 10.000 600.000
REA PREO (ha) (h/$) 10.800,00 18.519 2.025,00 39.506 900,00 55.556 5.400,00 46.296
No Alto Serto da Bahia, zona semi-rida, no chove entre abril e outubro. No perodo chuvoso sempre ocorrem estiagens sazonais que, em algumas ocasies, provocam calamidades. Nessas circunstncias, fontes perenes agregam mais valor a um terreno que outras benfeitorias. Alguns stios em trechos de serras apresentados na tabela III, com solos rochosos, retendo o lenol fretico, abastecendo olhos dgua serra abaixo e possibilitando a pecuria, alcanaram preos alm da mdia. As anuidades das locaes oscilavam de 1% a 4% dos valores estipulados para cada gleba. Considerando baixa essa taxa de aluguel, o 7 conde da Ponte decidiu major-las para 4% a 5% a partir janeiro de 1819. No h informao das reas de todos os lotes e a maioria indicada em lgua quadrada394. Em alguns casos as dimenses so indicadas em medidas regionais sem referncia contempornea, impossibilitando a converso para o sistema mtrico. So Bento (registro n. 20) e Riacho Seco (registro n. 71) aparecem com largura(s) incerta(s); Carabas (registro n. 94), por ser inaccessvel, no se indicou ponto certo; So Bruno (registro n. 40), media de comprido vinte braas, (44 metros) com muito menos de largura; Boqueiro, (registro n. 7), regulava, de comprido meio quarto de lgua e de largo cincoenta passos. Estes ltimos stios mediam 750 metros de comprimento e 82,50 metros de largura, com rea de 6,19 hectares, qual atriburam, em 1819, o valor venal de 36 mil ris, correspondendo o hectare a cinco mil, 816 ris, uma insignificncia, considerandose os valores da tabela III, o que sugere equvoco no registro. H expresses pitorescas de rea: Rio Seco (registro n. 69), media de comprido, na margem do rio, hua carreira de cavalo e de largo, de serra a serra; Juazeiro (registro n. 70) expandia-se, de comprido, a metade de hua carreira de cavalo e de largo meio quarto de lgua; e Riacho do Peixe (registro n. 99), alcanava, de largura, trs tiros de espingarda e de fundo meia lgua.
TABELA IV TERRAS DA CASA DA PONTE, POR LOCALIZAO, ANO DE ARRENDAMENTO, AVALIAO ANUAL EM MIL RIS E REAS CONVERTIDAS EM HECTARES MINAS NOVAS (E EXTREMIADES DOS TERMOS DE CAETIT E URUBU) 1819 REG 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 TOPNIMO Pedras/S Joo Saco Gameleira Ilha Pedras V Trassadal Jatob/Coruja Paus Pretos N S Livram So Gonalo Rio So Joo Boa Sorte Ver dos Bois Vereda Angicos Juazeiro LOCALIZAAO Rc da Vadiao R Pardo R Pardo R Pardo Rc da Vadiao Rc do Trassadal R Pardo S Joo/Mumbuca Rc Mumbuca Rc Curral Velho Rc S Joo/Pardo Rc Maravilha Rc Taboquinha R Gorotuba R Gorotuba ARR ANUAL AVALIA EM 1819 ANO $ 1806 2.500 100.000 1806 3.000 100.000 1806 2.500 200.000 1806 10.000 500.000 1806 2.000 120.000 1.500 80.000 1806 5.000 300.000 1806 2.000 100.000 1806 1.250 40.000 1806 1.000 50.000 1806 1.500 60.000 1806 2.000 80.000 1806 2.500 100.000 1807 800 50.000 1806 10.000 500.000 1806 15.000 % ARR 2,50 3,00 1,25 2,00 1,67 1,88 1,67 2,00 3,13 2,00 2,50 2,50 2,50 1,60 2,00 REA PREO (ha) (ha/$) 1.800,00 55.556 900,00 111.111 14.400,00 13.889 28.800,00 17.361 2.700,00 37.778 5.400,00 14.815 5.400,00 55.556
Morrinhos Salto Conceio Curral/Ingaz S Antnio Canabrava So Pedro Capoeira Pass do Meio Ilha Grande Buraco Tabocal Desm Jacuipe Fora Jacupe S A Carrap Casa Velha Varg da Ona Barreiros Santa Ana Var da Cach Boa Vista Casa Nova Gameleira Santa Ana Boa Vista Varg Acima Bairro Alto Port Velha
R Gorotuba R Verde Grande R Verde Grande R Verde Grande R Verde Grande Riacho Seco Rio So Joo Urandi BA Urandi BA Rc Laranjeiras Rc da Canabrava Rc da Canabrava Riacho Bonito Riacho Bonito Condeba BA Urandi BA Urandi BA Urandi BA Urandi BA Urandi BA Urandi BA Urandi BA Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA
1806 1806 1806 1806 1806 1806 1806 1806 1806 1806 1806 1806 1806 1806 1800 1807 1807 1807 1807 1807 1807 1807 1807 1807 1807 1807 1807 1807
40.000 2.000 5.000 5.000 5.000 5.000 1.500 7.000 1.000 6.000 500 5.000 1.000 1.000 10.000 750 750 1.000 1.500 500 500 500 1.000 2.000 500 750 500 1.000
1:000.000 60.000 200.000 200.000 200.000 300.000 60.000 300.000 50.000 200.000 20.000 150.000 100.000 80.000 300.000 30.000 30.000 48.000 60.000 24.000 24.000 24.000 36.000 96.000 24.000 30.000 20.000 36.000
4,00 3,33 2,50 2,50 2,50 1,67 2,50 2,33 2,00 3,00 2,50 3,33 1,00 1,25 3,33 2,25 2,25 2,08 2,50 2,08 2,08 2,08 2,78 2,08 2,08 2,50 2,50 2,78
43.200,00 900,00 7.200,00 21.600,00 1.800,00 2.700,00 450,00 5.400,00 900,00 1.800,00 450,00
23.148 66.667 27.778 13.889 33.333 111.111 111.111 37.037 22.222 83.333 177.778
900,00
53.333
394
Utilizou-se a lgua quadrada, de 6.000 m por ser a principal unidade agrria praticada na regio.
TOPNIMO Rio Verde Cedro Varg Cima Cedro Varg da Faca Cachoeira Vaquejadoro Trombeteiro Tapera Santa Ana Santa Ana Varg Redond Tabuleiro Lenis Santa Ana Santa Ana Santa Ana V Mandacaru Santa Ana Santa Ana S Domingos Riacho Seco Ilha Grande Jacupe Sant Ana SCruz/Esant So Pedro Barrinha Rio Abaixo S Ant P Serr Jacar Pajeu Pass Cavalos So Jos Montes Altos So Pedro Coruja Boqueiro Boqueiro Tapera/Guar Vaquej Novo Cedro Santa Ana Santa Ana Cachoeirinha Ilha So Pedro Pass da Raiz Barr Grande Bom Sucesso Barreiro Camp Alegre Varg Formos Jaba Esprit Santo Dourados
LOCALIZAO Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA Urandi - BA Rc Bom Sucesso R Verde Pequeno R Verde Pequeno R Verde Pequeno Rc Bom Sucesso Riacho da Lagoa Rc Bom Sucesso Rc dos Lenis Rc dos Lenis Rc dos Lenis Rc Varg Dentro Rc dos Lenis Rc dos Lenis Rc S Pedro/Len Riacho Seco Rc Laranjeiras Rc da Canabrava Rc Bom Sucesso Rc Seco/B Suces Rc S Pedro/B Suc Seb Laranjeir-BA Rc Seco Rc dos Lenis R da Canabrava Riacho Quente Riacho Boqueiro Cordeiros BA P Mon Alto BA S Joo/S Pedro R Maravilha Condeba BA Condeba BA Pirip BA Urandi BA Urandi BA Rc Bom Sucesso Rc Bom Sucesso Rc Bom Sucesso Rio dos Lenis Riacho So Pedro Urandi BA Riacho da Volta Riacho Seco R Verde Grande Condeba BA Condeba BA R Verde Grande Rc Seco/B Suces Rc Seco/Ver Peq
ARR ANUAL AVALIA EM 1819 ANO $ 1807 500 20.000 1807 250 10.000 1807 250 10.000 1807 2.500 20.000 1807 1.000 36.000 1807 400 10.000 1807 400 10.000 1807 500 20.000 1807 350 15.000 1807 2.000 96.000 1807 1.250 60.000 1807 400 20.000 1807 500 48.000 1807 1.500 72.000 1807 1.500 24.000 1807 1.250 60.000 1807 1.000 30.000 1807 1.500 24.000 1807 250 10.000 1807 250 15.000 1807 3.000 240.000 1807 500 24.000 1807 10.000 300.000 1807 10.000 240.000 1807 400 20.000 1807 1.000 36.000 1807 1.000 36.000 1807 20.000 600.000 1807 5.000 120.000 1807 1.000 48.000 1807 500 15.000 1807 5.000 120.000 1808 10.000 60.000 1806 1.000 36.000 1808 20.000 600.000 1808 3.500 120.000 1808 2.500 50.000 1808 150 20.000 1808 600 30.000 1808 1.000 60.000 1817 300 32.000 1817 500 20.000 1817 500 24.000 1817 500 24.000 1817 500 20.000 1817 400 16.000 1817 500 32.000 1817 2.000 150.000 1817 1.500 100.000 1817 3.000 160.000 1817 3.000 120.000 1818 2.000 80.000 1819 5.000 160.000 1819 3.000 120.000 1817 500 36.000 Posse 300.000
% ARR 2,50 2,50 2,50 12,25 2,78 4,00 4,00 2,50 2,33 2,08 2,08 2,00 1,04 2,08 6,25 2,08 3,33 6,25 2,50 2,50 1,25 2,08 3,33 4,17 2,00 2,78 2,78 3,33 4,17 2,08 3,33 4,17 1,67 2,78 3,33 2,92 5,00 0,75 2,00 1,67 0,94 2,50 2,08 2,08 2,50 2,50 1,56 1,33 1,50 1,88 2,50 2,50 3,13 2,50 1,39
225,00 3.600,00 900,00 225,00 900,00 1.800,00 225,00 450,00 225,00 10.800,00 16.200,00 3.600,00 225,00 900,00 21.600,00 3.600,00 3.600,00 900,00 900,00 900,00 3.600,00 3.600,00 900,00
66.667 26.667 66.667 88.889 54.444 40.000 106.667 66.667 44.444 22.222 18.519 66.667 88.889 40.000 27.778 33.333 13.333 16.667 66.667 40.000 166.667 33.333 55.556
900,00 56,25
66.667 35.556
ARR ANUAL AVALIA % EM 1819 ARR ANO $ 1808 2.500 100.000 2,50 1820 4.000 80.000 5,00 1820 4.200 82.000 5,12
FONTE: Revista do IBHB. Salvador, n. 55, p. 431-485, 1929. NOTA: Identificou-se municpios apenas do Alto Serto da Bahia, nos quais se localizou terras alugadas. Para as fazendas e stios de Minas Gerais e os no localizados indicou-se o rio citado na descrio de limites
H unidades fundirias, como a fazenda Santo Onofre (registro n. 111), sem referncia de dimenses. A impreciso tem antecedentes em antiga prtica de sesmeiros, que requeriam cartas de sesmarias sem precisar suas extenses, para burlar a legislao que definia a medida mxima permitida de uma concesso. Essa tradio incorporou-se aos mtodos de transao fundiria, perpetuando-se na cultura agrria brasileira. Os preos do hectare oscilavam na proporo inversa da rea do terreno. Catuls (registro n. 59) e Riacho Seco (registro n. 75), estendiam-se por 21 mil e 600 hectares cada um. Avaliou-se o primeiro por 16 mil, 667 ris o hectare; o segundo por 11 mil, 574 ris para a mesma unidade de medida agrria. Inversamente, Conceio (registro n. 55), Palmeira Velha (registro n. 34) e Saco (registro n. 42), todos com 56,25 hectares, ao primeiro atriburam o valor de 462 mil, 222 ris e aos outros dois, 533 mil, 333 ris. A tabela III expe os registros do tombamento fundirio de Minas Novas, cobrindo o vale do Pardo e os sub-vales do Verde Grande, em Minas Gerais; Gavio e Verde Pequeno, na Bahia. Embora no fosse possvel localizar todas as 105 unidades agrrias, pelo menos 35 delas encontram-se na Bahia. Do mesmo modo que na tabela III, os dados da tabela IV no oferecem as dimenses de todos os terrenos. Os arrendamentos e as avaliaes oscilaram pelos mesmos fatores, elevando-se de modo considervel, quando se dispunha de mananciais permanentes, tanto nas encostas de morros e serras, como nas bordas dos vales de vertentes constantes. Combatendo ocupaes ilcitas, os procuradores arrendavam terrenos ocupados, concedendo prazos de carncia aos ocupantes. Quando a pobreza no permitia o pagamento cediam glebas, gratuitamente ou de presente por determinado tempo, nunca permitindo o uso da terra sem contrato formalizado. Tambm os descobridores que se dispusessem a medir e demarcar as unidades para arrendamento ou comercializao recebiam, de presente, por certo tempo, a gleba que escolhiam para si. No raro a iniciativa dos loteamentos ou divises de terras ermas para arrendamentos partia de descobridores, que demarcavam reas ainda no ocupadas, apresenta-
vam ao procurador a diviso efetuada, destacando a parte que lhe interessava, podendo tambm indicar candidatos para as demais fraes. Esse processo proporcionava comodidade para o senhorio, que evitava custos com demarcaes e convenincia para os descobridores, que selecionavam seus vizinhos. Em conseqncia desse processo os parentes estabeleciam-se prximos uns dos outros. Em Olho dgua (registro n. 64), v-se um exemplo dessa prtica, onde no se indicou todas as confrontaes, em 1805, porque estava ainda por lotear, o que se faria logo que o seu descobridor, Antnio da Mata Duarte Macedo, cujo arrendamento cedia-se de presente, por algum tempo, at que se demarcassem os stios. Descobriamse terrenos, como se viu no captulo anterior, expulsando ou submetendo as populaes indgenas que os ocupavam. O tombamento de Santo Antnio do Urubu no registra posse de terras e o de Minas Novas indica apenas Dourados, um stio com 21 mil e 600 hectares, ocupados pelos herdeiros de Francisco de Souza Meira, senhor da vizinha fazenda Aguilhadas, no rio Verde Pequeno, de Bom Jesus (dos Meiras) e outras terras, na Bahia, o que sugere eficincia dos agentes da Casa da Ponte ou omisso desses dados nos registros.
TABELA V TERRAS DA CASA DA PONTE, SEM INDICAO DE DIMENSES, POR ANO E VALOR DO ARRENDAMENTO, AVALIAO EM MIL RIS E REA PRESUMVEL EM HECTARE SANTO ANTONIO DO URUBU 1819 REG TOPNIMO AVALIAO ARREND (1819) ANUAL ANO VALOR 1806 2.000 100.000 1803 2.000 90.000 1807 1.000 50.000 1807 500 30.000 1807 300 16.000 1807 400 24.000 1807 300 16.000 1805 2.000 60.000 1807 800 20.000 1807 400 12.000 1807 7.500 180.000 1806 40.000 1.200.000 1806 1.000 60.000 1806 1.500 36.000 1806 3.000 150.000 1807 1.000 100.000 10.000 600.000 REA PRESUMVEL (ha) 1.001 5.000 1.001 5.000 501 1.000 At 100 At 100 At 100 At 100 501 1.000 At 100 At 100 1.001 5.000 Mais de 20.000 501 1.000 101 500 1.001 5.000 Mais de 20.000 Mais de 20.000
Cabea dAnta Mosquito So Bento P do Morro P do Morro Palmeira Velha So Bruno Olho dgua Rio Seco Juazeiro Riacho Seco Vargens Carabas Riacho Peixe So Joo Santa Quitria Santo Onofre
TABELA VI TERRAS DA CASA DA PONTE, SEM INDICAO DE DIMENSES, POR ANO E VALOR DO ARRENDAMENTO, AVALIAO EM MIL RIS E REA PRESUMVEL EM HECTARE MINAS NOVAS (E EXTREMIADES DOS TERMOS DE CAETIT E URUBU) 1819 REG 8 9 15 16 21 23 31 33 34 35 37 38 41 43 45 47 49 52 53 54 62 64 66 68 72 77 78 79 84 85 87 89 90 91 92 93 94 95 97 103 TOPNIMO Paus Pretos N S Livramento Angicos Juazeiro Conceio Santo Antnio Desmb Jacupe S A Carrapato Casa Velha Varg da Ona Santa Ana V da Cachoeira Gameleira Boa Vista Bairro Alto Rio Verde Vargin de Cima Cachoeira Vaqueijadoro Trombeteiro Santa Ana V Mandacaru Lenis Riacho Seco S Cruz/E Santo Jacar Pajeu Ps dos Cavalos Boqueiro Boqueiro Vaquejad Novo Santa Ana Santa Ana Cachoeirinha Ilha So Pedro Passag da Raiz Barreir Grande Barreiro Pau Alto ARREND ANUAL AVALIAO (1819) ANO VALOR 1806 2.000 100.000 1806 1.250 40.000 1806 10.000 500.000 1806 15.000 1806 5.000 200.000 1806 5.000 200.00 1806 1.000 100.000 1800 10.000 300.000 1807 750 30.000 1807 750 30.000 1807 1.500 60.000 1807 500 24.000 1807 1.000 36.000 1807 500 24.000 1807 500 20.000 1807 500 20.000 1807 250 10.000 1807 400 10.000 1807 400 10.000 1807 500 20.000 1807 1.500 60.000 1807 1.500 24.000 1807 250 15.000 1807 500 24.000 1807 1.000 36.000 1807 500 15.000 1807 5.000 120.000 1808 10.000 600.000 1808 150 20.000 1808 600 30.000 1817 300 32.000 1817 500 24.000 1817 500 24.000 1817 500 20.000 1817 400 16.000 1817 500 32.000 1817 2.000 150.000 1817 1.500 100.000 1817 3.000 120.000 1808 2.500 100.000 REA PRESUMVEL (ha) 501 1.000 101 - 500 Mais de 20.000 Mais de 20.000 5.001 10.000 5.001 10.000 501 1.000 10.001 20.000 101 500 101 500 1.001 5.000 At 100 101 500 At 100 At 100 At 100 At 100 At 100 At 100 At 100 501 1.000 101 500 At 100 At 100 101 500 At 100 1.001 5.000 Mais de 20.000 At 100 101 500 101 501 At 100 At 100 At 100 At 100 101 500 1.001 5.000 501 1.000 1.001 5.000 1.001 5.000
Tambm se encontram valores e medidas fora da lgica do conjunto apresentado, sugerindo equvocos na transcrio. Cedro (registro n. 88) aparece com arrendamento anual de 2.500 ris e avaliao de 20.000 ris; e Passagem dos Cavados (registro n. 79) com aluguel de 10 mil ris e avaliao de 60 mil ris, sendo mais coerente o valor
de 200 mil ris, para o primeiro, custando um hectare 37 mil, 037 ris; e de 600 mil ris no segundo, ficando um hectare por 60 mil ris. Esta distoro se evidencia no percentual de arrendamento de Cedro, quintuplicando o valor de outras glebas da mesma fazenda. Tomando-se por base a proporcionalidade dos arrendamentos e das avaliaes atribudas a cada unidade agrria, em 1819, calculou-se as reas correspondentes para 17 terrenos de Santo Antnio do Urubu, no indicados no tombamento, apresentando-as na tabela V. Procedeu-se do mesmo modo com o cadastramento de Minas Novas e adjacncias, comparando-se as dimenses de 40 glebas, que se encontram na tabela VI, ficando sem reas presumveis, por absoluta falta de dados, apenas dois stios. Desse modo, a tabela VII mostra, por tombamento, em grupos de rea, as terras cujos registros informam as dimenses; e a tabela VIII apresenta os registros sem referncias de dimenses, que se procurou aproximar, comparando-se os preos de arrendamentos e avaliaes atribudas em 1819. Sumariando-se os dados das reas indicadas e das presumidas, exps-se o resultado na tabela IX. Tratando-se de regies semi-ridas, serranas e pedregosas ou de baixios arenosos, pouco apropriados ou imprprios, para a agricultura, reas com at mil hectares, no incio do sculo XIX, no se constituram unidades agrrias de significado econmico, porque produziam pouco mais que a subsistncia do proprietrio ou arrendatrio e sua famlia. Parece razovel considerar, para essa poca 1819 reas com at 500 hectares, pequenas propriedades; com 501 a mil, mdias; e a grande, com mais de mil hectares.
TABELA VII TERRAS DA CASA DA PONTE COM INDICAO DE DIMENSES, POR REA, EM HECTARES E POR TOMBAMENTO SANTO ANTNIO DO URUBU E MINAS NOVAS 1819 UNIDADES AGRRIAS REAS URUBU RIO PARDO TOTAL (HA) Sem Indicao At 100 101 500 501 1.000 1.001 5.000 5.001 10.000 10.001 20.000 Mais de 20.000 TOTAL 17 5 28 19 24 10 6 2 111 42 1 16 13 17 7 4 5 105 59 6 44 32 41 17 10 7 216
FONTES: Revista do IGHB. Salvador, n. 55, p. 431-485, 1929; APEB. Seo Colonial e Provincial. Mao 4.638.
TABELA VIII TERRAS DA CASA DA PONTE, SEM INDICAAO DE DIMENSES, POR REA PRESUMVEL EM HECTARES E POR TOMBAMENTO SANTO ANTNIO DO URUBU E MINAS NOVAS 1819 UNIDADES AGRRIAS REA PRESUMVEL (HECTARES) URUBU MINAS NOVAS TOTAL Sem informao At 100 101 500 501 1.000 1.001 5.000 5.001 10.000 10.001 20.000 Mais de 20.000 TOTAL 6 1 3 5 2 17 2 16 9 5 4 2 1 3 42 2 22 10 8 9 2 1 5 59
FONTES: Revista do IGHB. Salvador, n. 55, p. 431-485, 1929; APEB. Seo Colonial e Provincial. Mao 4.638.
Nestas circunstncias, os dados apresentados na tabela IX, demonstram que as terras da Casa da Ponte, no final da segunda dcada do sculo XIX, no distrito de Santo Antnio do Urubu, nos limites que esta casa nobiliria definira, distribuam-se em 36% de pequenas unidades agrrias; 20% de mdias; e 44% de grandes propriedades. No distrito de Minas Novas suas propriedades compunham-se de 41% de pequenas glebas; 17 % de mdias fraes; e 42% de grandes domnios fundirios.
TABELA IX TERRAS DA CASA DA PONTE, POR REA APROXIMADA, EM HECTARES, DIMENSES INDICADAS E PRESUMIDAS SANTO ANTNIO DO URUBU E MINAS NOVAS 1819 DIMENSES REA (H) INDICADA PRESUMVEL TOTAL Sem Indicao 2 2 At 100 6 16 22 101 500 44 10 54 501 1.000 32 8 40 1.001 5.000 41 9 50 5.001 10.000 17 2 19 10.001 20.000 10 1 11 Mais de 20.000 7 5 12 TOTAL 157 59 216
FONTES: Revista do IGHB. Salvador, n. 55, p. 431-485, 1929; APEB. Seo Colonial e Provincial. Mao 4.638.
A partir dessa poca, a Casa da Ponte vendeu, at liquidao final, na dcada de 1830, todos os bens imveis dos sertes da Bahia e Minas Gerais, transferindo-os para os arrendatrios, para os quais parcelava pagamentos, ou a outros interessados. Desse
modo, como j fazia desde final do sculo XVIII, definiu o perfil da estrutura fundiria do Alto Serto da Bahia e suas vizinhanas, no sculo XIX. Julgando-se pelo que expe a tabela, IX que sintetiza as anteriores, fica acentuada a proporo de latifndios, tanto em Urubu, onde quatro deles ultrapassavam a 20 mil hectares; como em Rio Pardo e adjacncias baianas, onde oito unidades fundirias tambm mediam mais de 20 mil hectares, destacando Morrinhos, no rio Gorotuba, em Minas Gerais, que se estendia por mais de 43 mil hectares. Apesar de permanecer ainda elevada a concentrao da propriedade fundiria, depois do loteamento da Casa da Ponte tornaram-se mais numerosas as pequenas e mdias titularidades agrrias, representando 56% das unidades tombadas em Urubu e 58% das cadastradas em Rio Pardo. Em 1832, quando se concluiu o inventrio do conde Joo de Saldanha da Gama Melo Torres Guedes de Brito395, avaliaram 28 fazendas em terras alodiais, isto , desvinculadas do morgado e das capelas, com casas de telha, senzalas de palha, escravos, gado vacum e cavalar, currais, benfeitorias, utenslios e instrumentos de trabalho, sendo 13 no serto de Tucano, oito no So Francisco396, cinco no Rio Pardo e duas em Tocs. Inventariaram-se ainda as terras do engenho Acupe, incluindo as ilhas Pioca e Pinheira, fazenda Descanso, 174 cabeas gado vacum, 11 cavalares, 125 escravos, uma propriedade nobre e vrias outras de telhas, senzalas de palha, casa de engenho e de purgar, ferramentas e acessrios, tudo avaliado por 80 contos de ris. Toms da Silva Paranhos, procurador e inventariante declarou que havia ainda rendimentos das fazendas de gado e do engenho Acupe, desde 1809, quando se fez o inventrio parcial, at dezembro de 1831, que somavam, livres de todas as despesas, 155 contos, 983 mil, 667 ris. E mais, em poder da condessa viva, todos os mveis, escravos, prata, ouro, alm de quatro contos e 80 mil ris em moedas de ouro, tudo avaliado no inventrio judicial de 1810, por 14 contos, 720 mil ris. Declararam-se vrios stios nos sertes de Urubu, Xique-Xique, Caetit, Rio de Contas, Minas Novas, Rio Pardo, Jacobina e Tiuba (Itiuba), inventariados, extrajudicialmente, em 1806, por determinao do juzo privativo, ficando as terras reservadas para pagamento das dvidas de ento. Quanto aos stios vendidos para quitao dos dbitos, entre 1809 e o final de 1831, apresentaria, posteriormente, a relao, indicando os credores remanescentes e respectivos dbitos, para que se continuasse a venda de
395
APEB. Judicirio. 01.0089.0127.01. Inventrio, 30 abr. 1832, com testamento, 22 mai., 1809; Anais APEB. Salvador, n. 28, p. 41-75, 1945. 396 Sobre as quantidades de escravos, bovinos e eqinos nas fazendas do Mdio So Francisco, ver: NEVES, E. F. Uma comunidade sertaneja:.., p. 250.
credores remanescentes e respectivos dbitos, para que se continuasse a venda de terras, at pagamento total das dvidas e diviso do restante pelos herdeiros. O esplio devia tambm as primeiras heranas de Manoel de Saldanha, o neto, 7 conde da Ponte, no valor de 24 contos, 944 mil, 890 ris aos herdeiros Antnio de Saldanha, condessa Joaquina de Castelo Branco, Joana Maria do Resgate (casada com Antnio Jos de Miranda) e ao visconde de Asseca, Salvador Correia de S. Ao Morgado Guedes de Brito, devia: 12 contos, 346 mil, 280 ris, correspondentes meia tera do 6 conde da Ponte, que se incorporaria instituio de morgadio; seis contos e 500 mil ris, equivalentes s terras vinculadas de Alagoinhas, vendidas em 1768 aos padres Domingos da Costa Teixeira e Pedro Vieira de Melo, porque se anularam os pagamentos em terras dos sertes (Jacobina), efetuados em 1811; e 161 contos 867 mil, 750 ris, de suprimentos feitos condessa da Ponte, entre 1809 e 31 de dezembro de 1831. Desse modo, de um monte-mor de 558 contos, 388 mil, 480 ris restaram lquidos 352 contos, 729 mil, 567 ris. Depois de subtrada a tera e meia tera coube viva 235 contos, 153 mil, 45 ris e a cada um dos 10 herdeiros, um dos quais j falecido, 23 contos, 515 mil, 304 ris. O conceito de arrendamento de terras relaciona, diretamente, um inquilino como possuidor precrio de uma gleba dentro de uma propriedade, com o proprietrio, ao qual se torna semidependente. Nos seus domnios, os Guedes de Brito arrendavam grandes faixas de terra para assentamento de fazendas pecuaristas, desde finais do sculo XVII. Quando esses domnios transferiram-se para a Casa da Ponte, no final do sculo XVIII, a decadncia aurfera dispersava pelos sertes, grandes contingentes de despossudos de meios para produzir a subsistncia, que no foram absorvidos como mo-de-obra pelos fazendeiros, que empregavam o trabalho escravo. A enorme disponibilidade de terras desocupadas oportunizou ocupaes de reas onde essas famlias produzissem o sustento, multiplicando-se os apossamentos ilcitos, fora das grandes fazendas. Os agentes da Casa da Ponte apresentaram-lhes os contratos de arrendamento, generalizando-se esse sistema de uso da terra em pequenas glebas. Os primeiros arrendatrios chegaram ao Alto Serto como administradores de fazendas dos Guedes de Brito ou levando os recursos para se estabelecerem como fazendeiros em terras alugadas. O segundo fluxo caracterizou-se pela pobreza, quando no indigncia, no dispondo de meios nem para se instalarem como posseiros. Estes, com um pouco de sorte, tornavam-se meeiros, negociando a sobrevivncia pela extrema
dependncia ao patro, caso contrrio restava-lhe a possibilidade de conseguir trabalho avulso, como diarista, nem sempre encontrado numa sociedade escravista. Quando os reflexos das revolues liberais da Europa irradiaram-se no Brasil, a Casa da Ponte apressou-se em converter seus inquilinos em proprietrios. O inventrio do conde da Ponte indica as razes da pressa pela venda das terras. Como ressaltou um cronista sertanejo do incio do sculo XX397, os herdeiros, temendo a legal encampao dos seus domnios, venderam a baixos preos, aos sargentos-mores e ricaos, extensssimos latifndios extremados e transferiam as pequenas glebas para ocupantes ilcitos e arrendatrios. O stimo conde da Ponde, Manoel de Saldanha da Gama Mello Torres Guedes de Brito e sua mulher Joaquina de Castelo Branco, de Londres, atravs de procurao de 3 de dezembro de 1831, autorizaram ao capito Toms Garcia Paranhos a vender todos os seus bens existentes no Brasil, para empregar o produto na Europa398. A condessa, viva do sexto conde, residente no Rio de Janeiro, fez o mesmo, designando, em 28 de julho de 1832, o procurador Francisco Antnio Malheiros, para comercializar as suas propriedades. A Casa da Ponte no permitia aos seus procuradores adquirirem terras dos seus domnios. Entretanto, fazendas comercializadas por seus agentes aparecem depois como propriedades deles. Manoel Moreira da Trindade transferiu terras encontradas depois em seu poder ou da sua viva Joana de So Joo, que contrara segundas npcias com o tenente-coronel Jos Antnio da Silva Castro399, proprietrio de terras em todas as regies da Bahia, com maior incidncia na Serra Geral e Mdio So Francisco, onde se somaram os dois patrimnios fundirios. O mesmo parece que ocorrera com representantes, como Joaquim Pereira de Castro400, Heitor Soares de Castro, Plcido de Souza Fagundes401 e outros, que se tornaram os maiores latifundirios, ao lado de Bento Garcia Leal e Jos Antnio da Silva Castro, que no representaram a Casa da Ponte em transa-
397 398
GUMES, Joo [Antnio dos Santos]. O sampauleiro. Caetit: Typ. dA Pena [1922], v. 1, p. 62. NEVES, E. F. Uma comunidade Sertaneja:..., p. 75. 399 Ver biografia do tenente-coronel Silva Castro, em: ALMEIDA, Norma Silveira Castro de Almeida e TANAJURA, Amanda Rodrigues Lima. Jos Antnio da Silva Castro, o Periquito. Salvador: EGBA, 2003. 400 Ver genealogia de Joaquim Pereira de Castro, em: CASTRO, Samuel Cndido de Oliveira. Castro, tesouro de famlia: Histrias, estrias e genealogia da famlia Castro. Olmpia: S. C. de O. Castro, 2002. 401 Sobre descendentes do coronel Plcido de Souza Fagundes, ver: OLIVEIRA, Jos Carlos de. Os Fagundes de Oliveira (indito, 130 p.).
es fundirias. Talvez usassem intermedirios, para reverter a terra para si ou a Casa da Ponte tinha liberado as aquisies, por eles, na fase de liquidao das suas terras. Esse vasto loteamento, iniciado pelas herdeiras de Guedes de Brito e concluda pela Casa da Ponte, delineou a estrutura fundiria do Alto Serto da Bahia, no sculo XIX, caracterizado pelo grande nmero de pequenas e mdias unidades agrrias, entremeadas por menor nmero de grandes domnios, estrutura que permaneceu, iniciando-se o sculo XXI com a mesma feio, embora reduzissem as reas dos latifndios, que ficaram descontnuos, sendo os grandes proprietrios senhores de vrias glebas distantes umas das outras. Se por um lado a sucesso hereditria parcelou a terra, multiplicando os titulares, por outro, atravs da comercializao, concentrou-se a propriedade, embora predominando as unidades menores, trabalhadas pelos prprios donos e suas famlias. Nas maiores reas, ao lado da mesma agricultura, com a persistncia da meao, manteve-se a pecuria, j no mais extensiva, com os proprietrios vivendo nas cidades.
5. 2 Consolidao da estrutura fundiria com a reforma liberal saquarema A terra que nois pissui num robemo, Deus quem deu. Diquirida cum isforo, aus puquim culumizan
A poltica agrria do Imprio do Brasil diferente da escravista, que preconizando e executando a abolio lenta e gradual foi discutida por amplos setores sociais desenvolveu-se entre os gabinetes ministeriais e o parlamento, compostos, essencialmente, por grandes proprietrios de terras ou seus representantes, sem qualquer debate na sociedade civil. A Assemblia Geral Constituinte no chegou a tratar dessa matria. Em 1835 tentou-se, no parlamento, interferir na questo fundiria, mas logo se arquivou o processo. A primeira incurso nesse campo deu-se em 1842, por iniciativa do primeiro gabinete conservador, aps a maioridade antecipada do adolescente imperador, quando Cndido Jos de Arajo Viana, ministro do Imprio, solicitou Seo dos Negcios do Imprio do Conselho de Estado que elaborasse um projeto de lei para regularizar a pro-
priedade, posse e uso da terra e a colonizao por imigrantes estrangeiros, como alternativa para o trabalho escravo. Bernardo Pereira de Vasconcelos, relator do projeto, explicitou o objetivo de promover a imigrao de trabalhadores pobres, moos e robustos, com os pressupostos de que a extino do trfico de escravos, prevista em tratados com a Inglaterra, resultaria em escassez de mo-de-obra agrria e a facilidade de acesso terra dificultaria a obteno de trabalho livre. Props, ento, que as terras tornassem objeto de transao comercial, no mais de doao, coibindo-se a sua ocupao. Supunha que se promovendo o seu valor dificultaria sua aquisio, forando o imigrante pobre a vender a sua fora de trabalho. O projeto de lei de 1843 e o parecer do relator Pereira de Vasconcelos se inspiraram nas idias de Edward Gibbon Wakefield (1796-1862), expostas no folheto A Liter from Sidney, publicado em 1829, com sugestes de mtodos para a colonizao da Austrlia, onde a terra era barata e abundante e a mo-de-obra, escassa e cara, facilitando ao imigrante tornar-se logo um proprietrio. Walkefield propusera o encarecimento artificial da terra para que o imigrante tivesse que trabalhar por algum tempo antes de amealhar recursos para adquirir um lote; e a aplicao dos recursos obtidos com a venda de glebas na importao de novos colonos, barateando o trabalho nesse movimento cclico, enquanto encarecia a terra402. Essa conjuntura de primeiros impactos da Revoluo Industrial sobre a economia mercantil-escravista brasileira demandava reformas da estrutura scio-econmica colonial, que reorganizassem as relaes de trabalho e reordenassem as normas de propriedade com novo cdigo jurdico, embora submetido s Ordenaes Filipinas da antiga metrpole, que ainda vigorariam por trs quartos de sculo, adentrando o sculo XX. O projeto do ministrio conservador tramitou durante sete anos no parlamento onde predominavam os interesses dos cafeicultores cujas lavouras se expandiam e a produo tornava-se o principal item da pauta das exportaes brasileiras encontrando pouca oposio e menos entusiasmo, sendo aprovado quase na forma original, aps um interregno de governo liberal de prtica poltica muito semelhante, tornando-se a Lei Imperial n. 601, de 18 de setembro de 1850, a Lei das Terras. A essa altura j fracassara a experincia colonizadora australiana, baseada no sistema de Walkefield e repercutiam
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CARVALHO, Jos Murilo de. Op. cit., p. 332-333; MATTOS, Ilmar W. de. Op. cit., p. 239; SMITH, Roberto. Op. cit., p. 136. Sobre os fundamentos colonizadores de Wakefield, ver: MARX, Karl. O capi-
os discursos sobre os xitos dos Estados Unidos da Amrica do Norte com a venda de pequenos lotes. A historiografia contempornea analisa a Lei das Terras de 1850 no contexto das reformas liberais empreendidas pelos conservadores, que consolidaram o Estado Nacional no Brasil, pela tica da estratificao social e da estrutura econmica da jovem nao. Numa abordagem dualista da formao histrica do Brasil, Emlia Viotti da Costa403 destacou na leitura dos debates parlamentares de 1842-1850, um conflito entre duas diferentes concepes de propriedade da terra e de poltica de terras e trabalho, refletindo a transio iniciada no sculo XVI e concluda no sculo XX. Na primeira formulao, tradicional, se vislumbrava a terra como domnio da Coroa, para ser doada principalmente como recompensa por servios prestados; a sua propriedade significava essencialmente prestgio social. Na segunda elaborao, moderna, a terra tornou-se domnio pblico, convertendo-se em mercadoria, acessvel apenas aos possuidores dos meios necessrios para explor-la lucrativamente, com a sua propriedade significando essencialmente poder econmico. Nesse debate parlamentar de meados do sculo XIX, esteve sempre presente, como salientou Cavani Rosas404, o empenho na preservao das velhas estruturas, inclusive a manuteno do trabalho escravo, usando o argumento de defesa da propriedade e outros princpios liberais, que deveriam preconizar a reforma da ordem social. Para a conjuntura liberal-reformista da dcada de 1840-1850, a Lei das Terras teve ntido contedo conservador, apresentando como inovao a proposta de mudana, embora paulatina, das relaes de trabalho escravo pela mo-de-obra livre de imigrantes europeus. Para Jos Murilo de Carvalho405 o problema da terra chegara esfera decisria governamental pela sua vinculao com o problema da mo-de-obra, cujo suprimento monocultura exportadora seria de maior gravidade e a conexo mais profunda estaria na exigncia de delimitao e demarcao das terras pblicas para venda em grande escala, na revalidao de sesmarias, na legitimao de posses, no cadastro, no imposto e na taxa de revalidao e legitimao.
tal (crtica economia poltica), Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, [197-]. (1. ed. alem, 1894). Livro I, O processo de produo do capital, vols. 1 e 2, p. 305, 394, 619, 678, 785, 884, 894. 403 COSTA, Emlia Viotti da. Da monarquia repblica: momentos decisivos. 3. ed. So Paulo: brasiliense, 1987, p. 141-143. 404 ROSAS, Suzana Cavani. A questo agrria na sociedade escravista. 1987. Dissertao (Mestrado em Histria). UFPE, Recife, p. 95. 405 CARVALHO, Jos Murilo de. Op. cit., p. 341-351.
Concorrendo os proprietrios de terras com os custos da importao de mo-deobra atravs das taxas, impostos e reduo do tamanho das posses, estabeleceriam um processo de socializao dos prejuzos pelo conjunto deles em todo o pas e de concentrao dos benefcios com os cafeicultores do Rio de Janeiro que, sendo o setor mais dinmico da agroexportao, necessitaria de mais fora de trabalho. Quando o Estado passou a subsidiar a imigrao de europeus para o trabalho agrcola, privatizaram-se os benefcios com os cafeicultores paulistas e fluminenses e socializaram-se os custos com toda a populao, atravs do sistema tributrio. Ainda conforme Murilo de Carvalho, durante o debate do projeto de reforma que daria origem Lei das Terras, o governo imperial e sua burocracia ficaram favorveis ao incentivo da imigrao como queriam os cafeicultores; e no debate do projeto Rio Branco, que originaria a Lei do Ventre Livre, tomaram posio contrria aos interesses desse setor agrrio, mas nas duas ocasies apontaram na direo da implantao de uma economia de mercado, liberando a fora de trabalho e a terra, embora no encontrassem apoio slido em nenhum segmento de classe. Em muitas regies a terra permaneceria fator de status, alm de fator de produo e a fora de trabalho, presa ao latifndio, emperrando a economia de mercado e fragilizando o Estado liberal, no se viabilizando nem a preconizada modernizao conservadora. A Lei das Terras mostrou a incapacidade do governo central em aprovar ou implementar medidas contrrias aos interesses dos proprietrios na ausncia de presses extraordinrias, como a ameaa externa ou a coao do poder moderador. Enquanto Jos Murilo de Carvalho enfatizou os vnculos da pretendida reforma fundiria com a imigrao de europeus, Ilmar de Mattos406 realou as articulaes pela manuteno do trabalho escravo e da ordem agrria. Mattos destacou como fundamental no debate sobre o projeto de 1843 a articulao, de um lado, da poltica de mo-obra, colocando no centro das discusses o trfico interno de escravos407 como alternativa ao bloqueio do comrcio negreiro da frica; e de outro, da poltica de terras, tendo como objetivo imediato poupar mo-de-obra escrava e sujeitar as opes futuras de exescravos e imigrantes europeus, diante da transio inevitvel, resultante do progresso e da civilizao. Na idealizao saquarema ou conservadora, poupar mo-de-obra significaria utilizar o trabalhador escravo o mximo na agricultura, ou mais especificamente, na mono406 407
MATTOS, Ilmar Rohloff de. Op. cit., p. 240-251. Sobre trfico interno, NEVES, E. F. Sampauleiros traficantes:... Op. cit.
cultura exportadora, definida como atividade fundamental para o Imprio. Dever-se-ia, pois, concentrar os escravos disponveis no trabalho agrcola, deslocando-os de outros setores e das regies de economias mais dbeis para o Vale do Paraba, fronteira aberta da expanso cafeeira. Esse deslocamento progressivo implicaria na produo de outro tipo de trabalhador, conduzindo articulao entre as duas polticas, de terra e de trabalho, uma vez que se pretendia preservar os monoplios do segmento social que controlava o Estado e as instituies sociais. Mattos observou que essa articulao decorria tambm de outros fatores. Desde a Resoluo de 17 de julho de 1822, que suspendeu a concesso de sesmarias at a Lei das Terras de 1850 ou at a sua regulamentao, em 1854 a posse foi a nica forma possvel de acesso s terras pblicas. Por estas e outras razes, os conflitos agrrios generalizaram-se em todo o territrio do Imprio, com poderosos se apropriando de glebas de pequenos lavradores, at pela fora, principalmente nas zonas de expanso cafeeira. E naquela oportunidade em que se discutia a regularizao do domnio fundirio, esses poderosos reclamavam o reconhecimento legal das suas posses, muitas delas conseguidas por meios escusos. A Lei das Terras atendera aos interesses particulares dos saquaremas, dinamizando o trfico interno de escravos, opondo-se ao regime de parceria. As dificuldades para se efetivar as determinaes dessa Lei de 1850 evidenciariam os limites de uma direo e as contradies no esforo de uma expanso, caracterizando a trajetria de uma classe social que trazia nos fatores da sua constituio as razes da sua destruio. Ressaltando o papel do trfico internacional de escravos no contexto das reformas brasileiras de meados do sculo XIX, Lgia Osrio408 identificou como aspecto mais relevante do fim desse comrcio escravista, a liberao dos capitais nele investidos, que se deslocaram para outras atividades comerciais e algumas produtivas, dinamizando a economia de mercado. Tambm vislumbrou a relao ntima entre as polticas de terras e de mo-de-obra, mas sem encarar a questo da regulamentao de propriedade da terra apenas como efeito da extino do trfico externo de escravos. Entretanto, para ela a vinculao do problema de regulamentao da propriedade fundiria imigrao expressou a forma de conduzir o processo de transio do trabalho escravo para o livre, prpria da frao dominante dentro do Estado imperial.
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Recorrendo a categorias analticas mais estritas do estudo das classes sociais e da estrutura econmica, Roberto Smith409 identificou na Lei das Terras um marco histrico no processo de transio para o capitalismo que representa, com a abolio do trfico de escravos, as medidas polticas mais importantes para a acomodao de interesses e conciliao poltica imposta pelo segundo Imprio. A transformao mais expressiva desse processo seria o desengajamento do capital mercantil traficante e conseqente subordinao do capital produtivo as formas mais evoludas de capital mercantil e bancrio, tendo como relevante significativo o fim da acumulao escravista, permanecendo o trfico interprovincial apenas como um movimento de transferncia. O objeto de apropriao do excedente seria a renda da terra, no mais a do escravo, principalmente dos cafeicultores da fronteira agrcola paulista. No projeto de nao dos conservadores caberia ao Estado a responsabilidade e o nus da transio capitalista no Brasil, devendo os poderes pblicos golpear o capital traficante, consolidar a legislao comercial, regularizar a propriedade fundiria privada e estatal para submeter o trabalho, centralizar, atravs do Estado, a implantao de imigrantes livres. Suprimindo a distribuio gratuita das terras pblicas atravs do sistema de sesmarias, a lei 601/1850 no modificou as condies de propriedade, mantendo os direitos adquiridos, inclusive os de origem duvidosa e sobre as sesmarias em comisso ou sem validade legal por falta de cumprimento das condies exigidas pela legislao para adequar a estrutura fundiria brasileira ao contexto da economia de mercado, que ento se plenificava. Essa pretenso transparece na prpria ementa que enuncia dispositivo sobre terras devolutas que, depois de medidas e demarcadas, se disponibilizariam, com nus, para empreendimentos particulares ou estabelecimentos de colnias de nacionais e de estrangeiros, para substituir o trabalho escravo, que se exauria com o bloqueio ingls ao trfico externo de africanos. Dispondo tambm em favor dos ocupantes de terras de sesmarias onde no se acataram as condies legais e de posse sem conflito, no destituiu ningum de suas posses. Todos se tornaram titulares legais e a propriedade, associada posse, atribuiu terra, condies essenciais de mercadoria e versatilidade mercantil, ao mesmo tempo em que distinguia o patrimnio fundirio pblico, as terras no doadas e devolutas no declaradas no censo agrrio de 1854-1860 do privado, as terras efetivamente ocupadas ou como tal declaradas.
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A Lei das Terras excetuou concesses de at 10 lguas nos limites do Imprio com outros pases. E abrindo perspectivas de extino do trabalho escravo, ainda que na linha do horizonte, sob controle dos senhores, outra lei, em 1848, concedeu s provncias, seis lguas em quadra, de terras devolutas, para colonizao, nas quais vetou o emprego de mo-de-obra cativa410. No ano seguinte ao da Lei das Terras, um aviso imperial confirmou a vigncia do dispositivo legal de 1848, mantendo as doaes nela embasadas, vetando novas concesses411. Entretanto, normas legais posteriores autorizaram transferncias de terras devolutas sem nus para as provncias. Facilitando a prpria interpretao, a Lei 601/1850 definiu terras devolutas como no aplicadas a algum uso nacional, provincial ou municipal, no submetidas a domnio particular ou por qualquer ttulo legtimo, havidas por sesmarias e outras concesses do governo e no inclusas em comisso, por falta de cumprimento das condies de medio, confirmao e cultura. Nessas circunstncias, revalidou sesmarias e outras concesses governamentais cultivadas ou com princpios de cultura e morada habitual do respectivo sesmeiro ou concessionrio ou de quem os representasse, mesmo sem cumprimento de qualquer das outras condies legais. Depois de sancionada a lei convocou-se novamente, em 1851, o Conselho de Estado para elaborar a sua regulamentao que se publicou em 1854, instituindo a Repartio Geral das Terras Pblicas com atribuio de executar a poltica fundiria brasileira, reafirmou o domnio do possuidor de qualquer extenso de terra, com ttulo legtimo de aquisio, quer por posse dos seus antecessores ou concesses de sesmarias no medidas ou no confirmadas, nem cultivadas412, revelando o objetivo de arrefecer tenses sociais, regularizando qualquer condio de propriedade, posse e uso do solo, principalmente de apropriaes de terras pblicas. Desse modo, herdeiros de antigos posseiros e novos ocupantes legalizaram as posses legitimadas com a ocupao e o uso. Juzes e delegados de polcia ficaram com a responsabilidade de informar ao governo a existncia de terras devolutas nas respectivas jurisdies, gerando um enorme fluxo de correspondncias em todas as estncias e hierarquias dos poderes pblicos. O governo imperial ficou autorizado a custear, anualmente a imigrao de certo nmero de colonos livres da Europa para estabelecimentos agrcolas e a vender as terras devolutas
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BRASIL, Colleco das Leis do Imprio (1848). Lei n. 514, 28 out., 1848. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1852, t. 10, par. 1, sec. 15, art. 16, p. 25-40. 411 BRASIL. Colleco das Decises do Governo do Imprio do Brasil (1851). Aviso Imperial n. 119, 24 mar., 1851. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1952.
em lotes ou quadras de 500 braas de cada lado, com pagamentos vista e preos mnimos de meio real a dois ris por braa quadrada, conforme a qualidade e a localizao. Desse modo, os lotes de 500 braas quadradas, equivalentes a 121 hectares, teriam preos mnimos de 250 mil ris e mximos de um conto de ris. Entre outras deliberaes, o governo imperial incorporou ao patrimnio nacional as terras dos ndios que, deixando suas aldeias, integraram sociedade civilizada. E em sucessivos expedientes leis, decretos, regulamentos, ordens, avisos durante a dcada de 1850, tomou vrias providncias sobre a questo fundiria413. Tambm se legislou de modo vago ou pontual sobre determinadas comunidades. A questo indgena foi focalizada pela Lei de 1850 apenas no artigo 12, que permitiu ao governo reservar as terras devolutas que julgassem necessrias para a colonizao dos indgenas, fundao de povoaes e construo naval. O mesmo tratamento evasivo mereceu da regulamentao desse artigo pelos de nmero 72 a 75 do Decreto Imperial n. 1.318, de 30 de janeiro de 1854. Para distinguir terrenos devolutos ou pblicos, dos efetivamente apropriados, a Lei das Terras, determinou que se registrassem, por freguesias, as terras possudas, sobre as declaraes feitas pelos respectivos possuidores, impondo multas e penas queles que deixassem de fazer nos prazos definidos ou apresentassem informaes inexatas. Devido a ao regime de padroado, resultante da aliana Igreja-Estado, que perdurou no Brasil, at o advento republicano, o acompanhamento estatstico da populao constitua atributo de procos, que recebiam cngruas do poder pblico, tambm o primeiro censo fundirio do Brasil lhes foi confiado. Em conseqncia, essas escrituraes ficaram impropriamente denominadas de registros paroquiais de terras, que foram mais teis aos historiadores que aos juristas, porque a lei que os determinou no atendeu plenamente aos objetivos propostos. Esses registros, embora constituam uma das principais fontes de estudo da estrutura fundiria brasileira do sculo XIX, contm lacunas em conseqncia do despreparo de escrives e da ignorncia ou sagacidade de declarantes, que omitiram informaes sobre reas, indicaram limites de forma vaga, ambgua ou temporria, por desconfiana na poltica fundiria do governo. Esse problema se ampliou porque os procos foram autorizados a cobrarem emolumentos pela execuo dos registros, calculados conforme
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BRASIL, Colleco das Leis do Imprio (1854).Decreto n. 1.318, 30 jan., 1854. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1854, t. 17, par. 2, p. 10-28.
o nmero de palavras, critrio que induziu condensao mxima dos textos de cada cadastro, prejudicando a qualidade das informaes, sobretudo nas freguesias em que os vigrios delegaram a tarefa a auxiliares de pouca escolaridade. Apesar da explcita obrigatoriedade e determinao de penalidades aos omissos ou faltosos com a verdade, alguns fazendeiros no cumpriram esse preceito legal. Vicente Pinheiro de Azevedo, senhor de Gameleira, partes de Tamandu e de Caldeiro, no distrito de Bonito, atual Igapor e Poo Dantas (Arroz), em Monte Alto, hoje em Riacho de Santana, no declarou suas terras ao padre Policarpo de Brito Gondim, sobrinho da sua mulher Francisca Anglica de Brito Gondim, titular da parquia de Santa Ana de Caetit, entre 1854 e 1859, nem ao vigrio Jos Alexandre da Silva Leo, da freguesia de Nossa Senhora Me de Deus e dos Homens de Monte Alto, em 1855-1860, ou a qualquer outro proco vizinho. Talvez Pinheiro de Azevedo no se movera apenas por desconfiana na poltica agrria imperial. possvel que fora induzido por intrigas familiares. Ele se debatera contra o cunhado Bernardo de Brito Gondim, sobre limites de uma gleba em Caldeiro, entre 1844 e 1852, recorrendo desde o juizado de paz do distrito de Canabrava e Bonito ao Tribunal da Relao, em Salvador. Derrotado nesta ltima instncia por Brito que recorria sempre jurisdio seguinte ao perder em todas as outras Azevedo desistiu de possvel apelao ao tribunal superior414. E o vigrio Policarpo que dirigia o partido conservador, atravs do qual se elegera deputado provincial em 1866, tambm sobrinho de Bernardo, pode ter-se posicionado favoravelmente a esse tio, que integrava o mesmo partido. No se comprovou a vinculao partidria do tenente Vicente Pinheiro de Azevedo, que disputou eleio de vereador e ocupou o cargo de sub-delegado de polcia do distrito de Bonito. J o tenente-coronel Bernardo de Brito Gondim foi comandante superior da Guarda Nacional, elegeu-se vereador vrias vezes e tambm ocupou, por dcadas, a sub-delegacia de polcia de Bonito. Os registros das freguesias do municpio de Caetit415 apresentam elevado nmero de fazendas e stios comercializados nem sempre indicando vendedores que
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BRASIL, Colleco das Leis do Imprio (1850). Aviso, 21 out., 1850; ______. (1851). Aviso, 16 jan., 1851; ______. (1856). Ordem, 21 out., 1856; ______. (1858). Aviso, 21 jul., 1858. 414 ABEB. Judicirio, 058.2069.2361.01, Ao Finium Regundorum e Ao de Libelo Cvel. Juzo de Paz de Canabrava e Bonito, 1844; Aes de Embargo e de limites da fazenda Santo Antnio e Caldeiro. Juzo Municipal de Caetit (faltando as 122 pginas iniciais); APEB. Judicirio, 072.2576.14, Ao de Apelao, Tribunal da Relao dos embargos dos limites de Santo Antnio e Caldeiro, 1851. 415 Alm das trs freguesias correspondentes a distritos de Caetit, pesquisou-se parcialmente as vizinhas de Nossa Senhora Me de Deus e dos Homens de Monte Alto, de Nossa Senhora da Conceio de Macabas e de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo.
no correspondem s escrituras lanadas nos livros de notas dos tabelies, demonstrando freqentes transferncias de domnios, apenas com documentos particulares, sem registros cartoriais, para se evitar o pagamento da sisa, antigo imposto de transmisso de imveis, equivalente a 10% do valor venal. Pelos mesmos motivos as propriedades fundirias permaneciam indivisas aps os inventrios e os proprietrios, compradores ou herdeiros, titulares de posses em comum, confundindo-se, primeira vista, com ocupantes ilcitos. Com freqncia, herdeiros no se empossavam de suas terras porque emigravam ou no necessitavam das glebas dispersas. Esse costume generalizado ocasionava tambm conflitos intrafamiliares e de vizinhana, por direitos negligenciados pelos ancestrais.
QUADRO II FREGUESIAS DO MUNICPIO DE CAETIT, 1854-1860 E ATUAIS JURISDIES DOS SEUS TERRITRIOS FREGUESIAS DE CAETIT, EM 1854-1860 AIS Caetit Aracatu Santa Ana de Caetit Brumado Ibiassuc Igapor Lagoa Real Malhada de Pedras Rio do Antnio Cerama (distrito de Guanambi) Cacul Jacaraci Licnio de Almeida Mortugaba Pindai Urandi Condeba Carabas Cordeiros Guajeru Maetinga Pirip Presidente Jnio Quadros Tremedal MUNICPIOS ATU-
Os registros paroquiais de terras da segunda metade da dcada de 1850, com as declaraes de cada proprietrio e posseiro aos procos das respectivas freguesias, seriam referenciais bsicos do domnio fundirio brasileiro, em casos de conflitos ou contestaes de direitos hereditrios. Entretanto, consultando-se cerca de uma dezena de
autos de questes de limites de terras da segunda metade do sculo XIX, no Alto Serto da Bahia, no se encontrou qualquer aluso a esses registros paroquiais, indicando sua irrelevncia ou inutilidade jurdica. A conjuntura brasileira de 1850, marcada pela consolidao do Estado Nacional, com reformas polticas, sociais, jurdicas e reafirmao da economia primrioexportadora, com a expanso cafeeira, distinguiu-se tambm, como j se registrou, pela extino do trfico de cativos da frica, iniciando a lenta extino do sistema de trabalho compulsrio. Os senhores de escravos conseguiram, na primeira metade do sculo, postergar a escravido, descumprindo acordos e tratados desafiando interesses internacionalmente dominantes. Entretanto, a proibio do trfico atlntico416 de africanos no significou o fim do trabalho escravo no Brasil, que se revigorou no Sudeste cafeeiro com o comrcio interprovincial de negros escravizados, proporcionando ao sistema escravista uma sobrevida de 38 anos. Se o principal efeito do fim do trfico fora a liberao dos recursos financeiros que empregava e sua transferncia para a agricultura e o comrcio, gerando um embrio de capital mercantil na economia que se consolidava, a aplicao da Lei das Terras, associada supresso lenta e gradual da escravido, paralelamente ao programa de introduo de imigrantes europeus pelo governo, significou a execuo da poltica propugnada pelo senhoriato agrrio. Deve-se ressaltar que esse projeto fora iniciativa de latifundirios escravistas, que tudo fizeram para impedir uma reforma agrria liberal e o colapso do trfico de escravos da frica. No suportando as presses inglesas, sobretudo a partir da vigncia do decreto de 30 de maio de 1845, conhecido pelo nome do seu autor, Bill Aberdeen, elaboraram esse programa para contornar o problema em mdio prazo. Atravs do Bill Aberden, a Inglaterra se outorgou o direito de aprisionar navios negreiros e submeter traficantes aos seus tribunais. Somente depois que a esquadra inglesa invadiu os portos de Cabo Frio, Maca, Paranagu, apreendendo, bombardeando e incendiando barcos nacionais ancorados, sob suspeita de servirem ao trfico de cativos africanos, o parlamento brasileiro aprovou a Lei Euzbio de Queirs, extinguindo essa atividade. Jorge Caldeira417 observou que em 40 anos de guerra no declarada ao Brasil,
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Sobre trfico de escravos da frica, ver: CONRAD, Robert. Os ltimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978. 417 CALDEIRA, Jorge. Mau:.., p. 178, 213, 221.
mas anunciada, pelo Bill Aberdeen contra os traficantes, os ingleses apreenderam, danificaram ou destruram cerca de 850 navios de longo curso, da frota mercante brasileira. Logo aps a regulamentao da Lei das Terras iniciaram-se as denncias da sua ineficincia. Documentos ministeriais registram constantes queixas nesse sentido. Um relatrio do Ministrio da Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas418 reclamou, em 1870, falta de juizes e comissrios idneos. Praticavam-se abusos sem que o governo os coibisse, desenvolvendo, assim, a crena dominante entre posseiros e sesmeiros, de que os agentes da administrao pblica os espoliavam de suas propriedades. Vse que a corrupo se incorporou, desde cedo, cultura da gesto pblica brasileira. Esse mesmo relatrio advertiu tambm que, municipalidades, invadindo a propriedade do Estado, venderam e aforaram terras do domnio pblico, confirmando essa convico. Onde no se invadiam, arrendavam ou vendiam reas pblicas e extraam madeira de lei das matas de terras devolutas. Essas dificuldades para se distinguir terras pblicas das particulares se somariam unio de interesses dos grandes fazendeiros para impedir que parte das terras pblicas servisse para aldeamentos indgenas419. O relato do ministro e a exposio setorial da Repartio Geral das Terras Pblicas se limitaram a registrar o total das terras efetivamente declaradas e informar a existncia de terrenos devolutos no municpio. Nenhum procurou descobrir as razes de fazendeiros e lavradores, preocupados com as conseqncias do cadastramento fundirio, se negarem a obedecer a determinao legal. As provncias, quando informavam sobre terras devolutas o faziam parcialmente. Tambm ficaram incompletos os dados sobre sesmarias e posses. Em 1871, j se pedia a reformulao da lei por no ter nem mesmo impedido a invaso de terras pblicas420. A Lei das Terras, para Linhares e Silva421, determinara uma reforma da estrutura fundiria para expropriar camponeses e ndios porque fez exigncias de apresentao de ttulos, estabelecendo a compra como nica forma de acesso legal terra. Em regies de ocupao antiga, com formas tradicionais de explorao, causara perplexidade, determinando definio das reas no ocupadas, porque a idia de ocupao teria contornos mais amplos que a titulao de propriedade. Argumentos de um proco de
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BRASIL. Ministrio da Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas. Relatrio apresentado pelo ministro Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque Assemblia Geral Constituinte. Rio de Janeiro: Typ. Universal, 1870. 419 MOTTA, Mrcia Maria Menendes. Nas fronteiras..., p. 164-165. 420 CARVALHO, Jos Murilo de. A construo da ordem:..., p. 342. 421 LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. (Orgs.). Terra Prometida:..., p. 6162.
Porto da Folha, em Sergipe, ao Ministro do Imprio, desconhecendo qualquer senhor de terra De Voluta, porque o sollo de toda a freguesia estaria ocupado em comum, apreendido pelas posses, sem preocupao com ttulos legais, ilustram essas circunstncias. Desde a colonizao, nas ocasies em que o governo portugus tentava restringir as reas de sesmarias, os senhores de terra burlaram leis que determinavam medies e demarcaes de terras, indicando acidentes geogrficos e marcos transitrios como limites, sem precisar as dimenses e descumpriram normas que contrariassem suas convenincias. Lgia Osrio422 lembrou que a Lei das Terras propunha facilitar o acesso explorao fundiria, estancando apossamentos; e estimular a emigrao, vendendo terras devolutas em pequenas glebas. Desse modo contrariava interesses do senhoriato e submetia seu sucesso s condies de comercializao dos lotes. Por outro lado permitia que posseiros registrassem suas terras, independentemente das extenses, legalizando as ocupaes. Os registros compulsrios no exigiam provas documentais ou testemunhais das reas efetivamente ocupadas. Apenas informavam limites, caso fossem conhecidos e as amplitudes423. O regime republicano assegurou o domnio latifundirio. O Regulamento da Terra de 1913, por exemplo, caracterizou-se como expresso tpica da hegemonia agrria, legitimando e consolidando uma estrutura fundiria que continuamente aumentava seu grau de concentrao424. A rgida estratificao social, a condensao econmica e a centralizao poltica impediram a organizao de movimentos sociais reivindicatrios, aglutinando despossudos e posseiros. As leis agrrias no Brasil sempre expressaram a incapacidade governamental, no Imprio e na Repblica, de agir contra os interesses do grande domnio fundirio e traduziram o interesse de se postergarem todas as tentativas de se reformar o regime de propriedade, posse e uso da terra. Num julgamento de recurso extraordinrio no Supremo Tribunal Federal Aliomar Baleeiro425 sintetizou a formao histrica da propriedade, posse e explorao da terra no Brasil como objeto de conquista e posse, por Pedro Alves Cabral, para o rei de Portugal, que se tornaram domnio real at a Independncia, quando se transferiram para o patrimnio nacional, sendo distribudas aos estados em cujos limites se encon422 423
SILVA, Lgia Osrio. Op. cit., p. 126. MOTTA, Mrcia Maria Menendes. Nas fronteiras do poder..., p. 166-167 424 LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. (Orgs.). Terra Prometida:..., p. 92.
travam, pelo artigo 64 da Constituio republicana de 1891. Originalmente eram pblicas. O rei as desmembrou em pedaes e os doou pelo sistema de sesmarias. Depois da Independncia estabeleceu-se que no poderiam ser mais objeto de doaes ou concesses. Deveriam ser vendidas. Mas as terras no eram doadas pelo rei de Portugal. Ele fazia uma espcie de concesso aos sesmeiros, para sua efetiva utilizao econmica, reservando certos direito regaleanos, ou realengos.
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BALEEIRO, Aliomar. R. E. n. 51.290-GO. In GOMES, Franklin do Nascimento. A Questo Fundiria ontem e hoje. Salvador: BAHIA. Procuradoria Geral do Estado da Bahia, Servio de Documentao e Divulgao, 1992, p. 12.
H por estes districtos alguns moradores a largas distancias uns dos outros, j de annos alli estabelecidos com suas familias, e fazendas de pouco gado e menos mantimentos, por no ser o paz abundante delle, mas nenhum tem numero de escravos com que emprehender grande operao, pois por este se regula o poder por estes sertes...
Miguel Pereira da Costa Relatrio apresentado ao vice-rei do Brasil em 1721, depois de inspecionar as minas do alto rio de Contas
Este captulo procura averiguar a formao da sociedade, da estrutura produtiva, do movimento comercial e da dinmica do domnio fundirio no Alto Serto da Bahia, na segunda metade do sculo XVIII e primeira do XIX, flexibilizando-se neste ltimo recorte temporal para a fase final da escravido no Brasil. Retoma-se esse processo de forma apenas descritiva, em detalhes no glossrio toponmico apresentado em apndice. Num estudo anterior426 j se discorreu sobre os dois principais vetores desse povoamento: a expanso das fazendas de Antnio Guedes de Brito e a disperso de parte da populao atrada pelas mineraes aurferas dos rios das Velhas ao sul e de Contas ao norte, aps o declnio da produo mineral, que buscou alternativa de produo da subsistncia nas atividades agrrias. A esses fatores se acrescenta a facilidade de se arrendar ou comprar terras da Casa da Ponte, sucessora dos Guedes de Brito, que vendia centenas de stios e fazendas em toda a regio e seu entorno. Esses fluxos imigratrios, nessas circunstncias, estabeleceram uma populao de arrendatrios e de proprietrios de mdias e pequenas glebas, com o emprego do trabalho familiar, formando na sociedade escravista um ncleo de produtores autnomos, correspondente ao que Tadeusz Lepkowski denominou de brecha camponesa e S. W. Mintz, de proto-campesinato427. Tambm se deslocaram nessas migraes, contingentes desprovidos de recursos para aquisio do principal meio de produo, a terra, que disponibilizaram a mo-de-obra como meeiros e diaristas. Esses imigrantes, integrando-se
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NEVES, E. F. Uma comunidade sertaneja. Ver CARDOSO, Ciro Flamarion S. Agricultura, escravido e capitalismo, p. 133-154.
no desenvolvimento da pecuria e das policulturas agrcolas, formaram um incipiente mercado local, conectado por tropeiros e boiadeiros aos circuitos de comrcio interregionais. Em conseqncia das estiagens sazonais, grupos familiares e de vizinhana passaram a fazer o percurso inverso, emigrando para Minas Gerais e So Paulo. Analisando-se inventrios ps-morte se obteve um perfil quantitativo de aspectos da sociedade e da economia que refora a avaliao qualitativa dessa organizao social sertaneja. Nessa investigao se utilizou documentao de esplios autuados em Caetit, desde 1754, quando se criou a freguesia de Santana e com ela o distrito de Caetit, no municpio de Rio de Contas, at 1887, ltimo ano de plena vigncia da escravido, extinta em maio do seguinte. Para melhor leitura, sobretudo de dados mais mutantes como os de preos, dividiu-se o perodo analisado em trs etapas, incorporando-se primeira, de 1754 a 1800, seis inventrios de moradores de Caetit, encontrados em Rio de Contas, obtendo-se, desse modo, o total de 24 autos. Para as etapas de 1801-1850 e de 1851-1887 o nmero de inventrios possibilitou uma seleo mais criteriosa, listando-se em ordem alfabtica, como se descreveu na introduo, os mil 680 processos do perodo, disponveis no Arquivo Pblico do Estado da Bahia e fichou-se, a partir do primeiro, o quinto e todos os numerados com mltiplos de cinco, totalizando 336 autos, equivalentes a 20% do universo documental, sendo 108 da primeira metade do sculo XIX e 228 de 1851 a 1887. Na segunda parte deste captulo tenta-se situar a economia regional do sculo XIX nos contextos provincial e nacional, identificando gneros cultivados, natureza dos rebanhos e, quando possvel, apresentando indicadores de volume e de valores produzidos, apontando os mercados para os quais se destinavam. So escassas e parciais as informaes da historiografia desse perodo sobre as atividades econmicas dessa regio, em particular dos fluxos mercantis, por isso se deu prioridade s fontes primrias nesta tentativa de se mensurar os criatrios bovinos e as lavouras algodoeiras, principais fatores da exportao regional. Pouco se obteve sobre o volume produzido pelas policulturas agrcolas, cuja produo destinava-se, majoritariamente, para o mercado regional, extrapolando esses limites na proporo em que as lavouras se expandiam com a intensificao do povoamento e do intercmbio com outras provncias e at com o mercado exterior, como foi o caso do algodo e, em menor escala, do fumo e da aguardente de cana.
Quantos pobres baianos destes altos sertes, que viviam tranqilos, trabalhando, em seguida aos seus antepassados, no campo que lhes pertence de fato e de direito, vtimas de clamorosas injustias, perseguidos por poderosos, espoliados de sua fazenda em favor de visinhos invejosos da sua modesta prosperidade, ou de inimigos gratuitos que lhes movem demandas e processos crimes, caluniados por testemunhas adrede arranjadas, no se vm por fim, obrigados a fugir sob a ameaa dos mandes, lutando com inmeras dificuldades, tendo como ltima esperana, como seguro amparo, escravizar-se aos ricos fazendeiros paulistas e seus subordinados!
Joo Gumes (1858-1930) O Sampauleiro A historiografia colonial identifica grupos tnicos indgenas e negros, apresentando os brancos como um bloco uniforme, monoltico. Reporta-se ao passado ibrico evidenciando a miscigenao de celtas, iberos, romanos, suevos, visigodos, rabes, com nfase nas razes latinas, mas pouco destacando os hebreus e menos ainda os ciganos. como se houvesse ou h? um pacto tcito de cumplicidade geral, para ignorar qualquer outra fuso racial alm da americana, da caucasiana e da etope, apresentadas como bsicas para a escrita da histria nacional, por von Martius (1794-1868)428 ao Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro em 1840. Parece obvio que as tenses provocadas pelo Santo Ofcio429 em Portugal induziram cristos novos, ciganos cristianizados e rabes convertidos a migrarem para a Amrica portuguesa. A antropologia aponta seus vestgios, principalmente nas razes culturais nordestinas e a gentica evidencia essas presenas nos traos fisionmicos da populao, que no se pode explicar apenas pela transferncia compulsria de
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MARTIUS, Karl Friedrich Phillipp von. Como se deve escrever a histria do Brasil. Revista Trimestral de Histria ou Jornal do IHGB. Rio de Janeiro, v. 6, n. 24, p. 390-411, jan., 1845. 429 O Tribunal do Santo Ofcio se fazia presente na Amrica portuguesa atravs de uma rede de informantes os familiares do Santo Ofcio com agentes at no Alto Serto da Bahia, como o fazendeiro Miguel Loureno de Almeida de Brejo do Campo Seco. Ver: SANTOS FILHO, Lycurgo. Op. cit., p. 1632.
lao, que no se pode explicar apenas pela transferncia compulsria de condenados da justia portuguesa pena de degredo colonial. Embora sejam das principais fontes primrias para o estudo de grupos humanos, os inventrios e testamentos podem induzir a equvocos. Nem sempre eles revelam, por exemplo, as realidades financeiras das famlias. Com freqncia casais morriam idosos, depois de dissipar a fortuna, partilhada antecipadamente pelos filhos ou dilapidada no processo de envelhecimento dos proprietrios, com a queda natural da produtividade, declnio da produo, superao das tcnicas e falta da assistncia necessria para manuteno de uma estrutura produtiva. Apenas nos casos de uma das partes do casal ter falecido na faixa economicamente ativa o inventrio dos seus bens permite que se esboce o perfil patrimonial da famlia em pleno vigor. Um grande mito, o da riqueza das famlias, se difundiu produzindo efeitos no imaginrio popular durante a formao social brasileira, incorporando-se literatura e historiografia. Estudando inventrios e testamentos ps-morte de paulistas dos primrdios da colonizao Alcntara Machado430 convenceu-se da falsidade das propaladas fortunas daquela sociedade colonial, amplamente divulgadas. Afinal, concluiu ele, a opulncia advinda da agricultura e da pecuria lenta e difcil. Tambm no serto o mesmo mito de prosperidade idealizada, de abundncia e de fausto supostamente vivido pelos antepassados dissimula a pobreza das rudes famlias coloniais, com pouca modificao no perodo imperial. Poucos inventrios autuados do sculo XIX e menos ainda do XVIII registram bens que se podem qualificar como fortunas. Quanto natureza deles, os de maior valor terra, escravos e criatrios de gado vacum constituam meios de produo. A tabela X revela que na segunda metade do sculo XVIII, aproximadamente 50% das famlias cujos bens se inventariaram, possuam patrimnios que no ultrapassavam a cinco contos de ris. Na primeira metade do sculo XIX esse percentual declinou para 43%, reduzindo para 30% na etapa final do perodo estudado. Nota-se, portanto, elevao da renda das famlias no decorrer do perodo, que tambm se pode observar no valor das maiores fortunas. Na primeira fase destacou-se como grande riqueza os bens de Matias Joo da Costa, natural do arcebispado de Braga, norte de Portugal, inventariado em 1758, incluindo fazendas nos planaltos da Serra Ge-
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ral, no serto da Ressaca e no do rio Pardo; 34 escravos; e rebanho bovino de 900 reses, somando o valor do patrimnio pouco mais de 14 contos de ris.
TABELA X VALORES DOS BENS FAMILIARES INVENTARIADOS, EM CONTOS DE RIS, POR PERODOS, EM NMEROS ABSOLUTOS E RELATIVOS ALTO SERTO DA BAHIA 1754-1887
VALORES DOS BENS INVENTARIADOS (CONTOS DE RIS) 1754-1800 N Menos de 1 +1 2 +2 5 +5 10 +10 20 +21 50 Mais de 50 Sem informao TOTAL 5 7 3 1 2 6 24 % 20,8 29,2 12,5 4,2 8,3 25 100
INVENTRIOS 1801-1850 N 23 23 20 16 5 7 2 12 108 % 21,3 21,3 18,5 14,8 4,6 6,5 1,9 11,1 100 1851-1887 N 29 39 61 42 25 14 6 12 228 % 12,7 17,1 26,8 18,4 11,0 6,1 2,6 5,3 100
Na primeira metade do sculo XIX a maior fortuna pertencia ao tambm portugus Bento Garcia Leal, capito-mor de Caetit, descrita no esplio da sua mulher Nazria Borges de Carvalho, em 1823, com vrias fazendas nos planaltos do Alto Serto da Bahia e nos baixios do Mdio So Francisco; 202 escravos; e mais de cinco mil cabeas de gado vacum, formando um total de bens avaliados por mais de 106 contos de ris. Na fase final do perodo estudado destacaram-se os esplios de Manoel Pereira da Costa, inventariado em 1866, com 15 unidades agrrias, 46 escravos e 800 reses, num patrimnio avaliado por mais de 76 contos de ris e da viva Maria de Abreu Prates, em 1877, com 14 propriedades rurais, 45 escravos e mil e 500 reses, somando mais de 89 contos de ris. Entre a primeira e a segunda metade do sculo XIX v-se crescimento das fortunas superiores a 50 contos de ris de 2% para 3% dos patrimnios familiares superiores a 50 contos de ris. Entretanto, as poucas grandes fortunas atestam a
pobreza das famlias sertanejas e a debilidade da economia regional, que adiante se avalia.
TABELA XI REBANHOS BOVINOS INVENTARIADOS, POR NMERO DE RESES E POR PERODOS, EM NMEROS ABSOLUTOS E PERCENTUAIS ALTO SERTO DA BAHIA 1754-1887 INVENTRIOS NMERO DE RESES POR REBANHO No possua 1 10 11 50 51 100 101 500 501 1000 MAIS DE 1000 TOTAL 1754-1800 N 9 2 4 2 4 2 1 24 % 37,5 8,3 16,7 8,3 16,7 8.3 4,2 100 1801-1850 N 25 15 36 13 13 5 1 108 % 23,2 13,9 33,3 12,0 12,0 4,7 0,9 100 1851-1887 N 48 38 77 30 31 2 2 228 % 21,0 16,7 33,8 13,1 13,6 0,9 0,9 100
O pequeno nmero de autos, relativamente populao, evidencia amplo contingente no deixaram pertences para se inventariar e indica um elevado ndice de concentrao da renda, mesmo considerando-se apenas o segmento de proprietrios. Podese mensurar a magnitude da excluso social durante a colonizao portuguesa e no Brasil imperial, levando-se em conta tratar-se de uma sociedade escravista, na qual grande parte dos homens livres no participava ou pouco se beneficiava dos resultados da diviso do trabalho. Tratando-se da principal atividade econmica, a pecuria serve de parmetro para se cotejar os patrimnios familiares alto-sertanejos. A tabela XI, com dados da pecuria obtidos nos inventrios, indica que entre 1854 e 1887, aproximadamente 38% dos esplios no registram gado bovino, declinando para 23% de 1801 a 1850 e para 21% entre 1854-1887. Na primeira etapa 25% deles do conta de propriedades de uma a 50 reses; na segunda, esse percentual se elevou para 47%; e na terceira, retraiu para 38%. J os rebanhos de at 100 cabeas de gado evoluram nos trs tempos de 33% para 59% e 64%, enquanto os criatrios com mais de 500 reses declinaram de algo prximo a 12%
para 6% e 2% nas trs etapas, evidenciando crescimento da economia e relativa distribuio de renda no segmento dos pecuaristas, cuja atividade perdeu espao para a agricultura. Nota-se a debilidade da economia no primeiro sculo de colonizao regional com pequenas e raras fortunas familiares, e lenta tendncia dessa equao nos dois estgios do sculo XIX.
TABELA XII ESCRAVOS POR INVENTRIOS E POR PERODOS, EM NMEROS ABSOLUTOS E RELATIVOS ALTO SERTO DA BAHIA 1754-1887
INVENTRIOS ESCRAVOS POR INVENTRIOS Nenhum 15 6 10 11 20 21 50 50 100 Mais de 100 TOTAL 1754-1800 N 1 8 7 6 2 24 % 4,0 33,0 29,0 25,5 8,5 100 1801-1850 N 8 51 22 15 8 3 1 108 % 7,4 47,2 20,4 13,9 7,4 2,8 0,9 100 1851-1887 N 57 91 42 24 12 2 228 % 25,0 39,9 18,4 10,5 5,3 0,9 100
Pode-se tambm usar o nmero de escravos para aferio de riqueza, ainda que parte deles se ocupasse de servios domsticos, como criados, com pouca ou nenhuma atividade econmica. A tabela XII mostra que na segunda metade do sculo XVIII apenas 4% dos inventrios no registram propriedade de escravos, dobrando este percentual na primeira metade do XIX para alcanar 25% dos esplios autuados entre 1851 e 1887, quando se praticava a poltica de extino lenta e gradual da escravido. Isto demonstra crescimento do trabalho cativo na proporo da expanso geral da economia. Na fase inicial do perodo estudado 62% das famlias com bens para se inventariar dispunham de at 10 escravos; na intermediria esse percentual se elevou para 68%, retrocedendo para 58% dos inventrios na etapa final. Proporo semelhante
se verifica nas faixas finais da tabela, que indicam 9% de esplios com mais de 20 escravos na primeira fase; 11% na segunda; e 6% na terceira.
TABELA XIII CONDIO JURDICA DE OCUPAAO DA TERRA POR PERODOS, COM INDICAO DE PROPRIETRIOS, RENDEIROS E POSSEIROS ALTO SERTO DA BAHIA 1754-1887 CONDIAO JURDICA DA OCUPAAO DA TERRA Proprietrios Rendeiros Posseiros Proprietrios e rendeiros Proprietrios e posseiros Sem indicao TOTAL INVENTRIOS 1754-1800 N 4 11 4 1 4 24 % 16,7 45,8 16,7 4,1 16,7 100 1801-1850 N 64 3 14 3 12 12 108 % 59,3 2,8 12,9 2,8 11,1 11,1 100 1851-1887 N 155 4 22 2 21 24 228 % 68,0 1,8 9,6 0,9 9,2 10,5 100
A condio jurdica de ocupao da terra tambm indica o padro patrimonial e, por conseguinte, das rendas familiares da regio. V-se na tabela XIII a confirmao da pobreza da maioria das famlias pioneiras do povoamento regional, numa observao apenas dos segmentos que possuam bens. No primeiro momento de meio sculo os proprietrios de terras representavam, mais ou menos, 17%; no intermedirio, 59%; e no final, 68%, evoluo que reflete os efeitos da venda de todas as terras da Casa da Ponte aos rendeiros nas primeiras dcadas do sculo XIX, verificvel tambm inversamente na proporo de rendeiros, que declinou algo prximo de 46% para 3% e 2%. Quanto aos posseiros, inexistentes na fase inicial e representando 13% e 10% nas duas metades do sculo XIX, deve-se considerar que no se trata de posses ilcitas no toleradas pela Casa da Ponte mas de herdeiros cujas terras, partilhadas juridicamente nos autos de inventrio de seus ancestrais, no foram demarcadas. Refere-se, pois, a proprietrios de terras em comum, ocupadas aleatoriamente pelos legtimos donos ou alguns deles, ou ainda posses dessa natureza adquiridas por compras.
TABELA XIV NMERO DE FILHOS POR CASAL DE INVENTARIADOS E POR PERODOS ALTO SERTO DA BAHIA 1754-1885
INVENTRIOS NMERO DE FILHOS Solteiros Casais sem filho 12 34 56 78 9 10 Mais de 10 TOTAL 1754-1800 N 1 1 6 4 1 3 6 2 24 % 4,2 4,2 25,0 16,6 4,2 12,5 25,0 8,3 100 1801-1850 N 7 8 20 15 17 11 18 12 108 % 6,5 7,4 18,5 13,9 15,7 10,2 16,7 11,1 100 1851-1887 N 14 18 35 31 39 41 31 19 228 % 6,1 7,9 15,4 13,6 17,1 18,0 13,6 8,3 100
Outro aspecto social relevante, proporcionado pelos inventrios o nmero de flhos por casal, embora alcance apenas o segmento dos proprietrios. Dos 24 esplios da segunda metade do sculo XVIII, analisados na tabela XIV, 8% no deixaram filhos; 42% tiveram at quatro; e 50%, cinco ou mais, sendo que cerca de 46% delas deixaram mais de sete filhos. Entre os 108 inventrios da primeira metade do sculo XIX cotejados, 14% no tiveram descendentes; 32% deixaram at quatro filhos; e 38%, mais de sete filhos, sendo que 11% dos casais com bens tiveram mais de 10 filhos. E dos 228 indivduos inventariados entre 1851 e 1887, 14% no tiveram descendentes; 29% deixaram at quatro herdeiros; e 40% tiveram mais de sete, sendo que 8% ultrapassaram os 10 descendentes. Trata-se, pois de um grupo social com tradio de famlias numerosas. De posse desses dados e analisando-se o universo dos inventrios, pode-se delinear a estratificao social do Alto Serto da Bahia. Entre os segmentos extremos da pirmide social senhores e escravos havia homens livres de diferentes condies econmicas e nveis sociais, cujo nmero reduzia em cada estrato na proporo da magnitude de cada hierarquia social. Essa estratificao compunha-se com marginalizados e miserveis, pedintes e salteadores; seguiam-se os que se sustentavam com a meao e eventual aluguel dirio
da fora de trabalho; os que produziam a subsistncia na pequena propriedade com o prprio trabalho e o da sua famlia, contratando, ocasionalmente, diaristas ou sendo acertados na mesma condio por outros proprietrios; os senhores de pequenas e mdias glebas, que ampliavam a produo familiar com a fora de trabalho de um ou de poucos escravos, podendo dispor de meeiros e contratar diaristas nos servios da lavoura e dos diminutos criatrios de bovinos, eqinos, ovinos, caprinos e sunos; os senhores que empreendiam a pecuria em uma ou mais unidades agrrias, a policultura e algumas monoculturas com a perspectiva de excedentes comerciais; e no topo da pirmide, poucos grandes fazendeiros, alguns absentestas, vivendo nos arraiais e vilas, ou em cidades distantes, empreendedores da pecuria extensiva, produzindo o auto-suprimento em cada unidade. A estratificao social possibilitou a segmentos de algumas famlias enriquecerem-se, enquanto outros empobreciam, embora fossem igualitrias as partilhas dos bens hereditrios. Vrios fatores ou estratgias polticas contriburam para essa segmentao diferenciada, fundamental na formao dos poderes locais, que se vinculavam propriedade fundiria. Adaptando-se o modelo de anlise do Grupo de Estdios Agrrios da Universidad de Granada431 s circunstncias brasileiras, tem-se como fatores fundamentais a relao de parentesco, a escolaridade e as hierarquias paramilitares. No primeiro fator, estabelecido atravs da afinidade familiar, destacam-se: as unies conjugais entre famlias proprietrias de grandes extenses de terra, somando-se amplos domnios fundirios nas heranas bilaterais; os casamentos consangneos ainda que para isso necessitasse da dispensa eclesistica ou permisso da Igreja para o enlace proporcionando a reconstituio, mesmo que parcial, de antigos latifndios; e o compadrio uma relao fundamental para o estabelecimento da fidelidade para com a clientela, constituda a partir do apadrinhamento de filho das famlias de segmentos da base da pirmide social, pelos principais membros das oligarquias dominantes ou emergentes estabelecendo articulaes de solidariedade to fortes quanto as consangneas. O segundo fator, a escolaridade, articulada com a formao bacharelstica, teolgica, de belas letras ou equivalente, proporcionada a filhos das oligarquias agrrias a habilitaram-se, mais que os outros, para os cargos locais do judicirio, da administrao
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O Grupo de Estudios Agrrios GEA, de la Universidad de Granada, na Espanha, estudou as transformaes nas sociedades agrrias e a evoluo dos poderes locais na Pennsula Ibrica, detendo-se nas especificidades da Andaluzia, do sculo XVIII ao XX, em: GRUPO DE ESTUDIOS AGRRIOS GEA. Transformaciones agrrias y cambios en la funcionalidad de los poderes locales en la Alta Anda-
pblica e da Igreja, podendo, facilmente, escalarem as hierarquias polticas e eclesisticas. O controle dos poderes locais oportunizava o monoplio das novas fontes de rendimentos. Acrescentam-se, ainda, as possibilidades, at a dcada de 1830, do morgado e da capela, que vinculavam, perpetuamente, em cada sucesso hereditria, parcelas de grandes domnios agrrios, reforando vnculos familiares, que poderiam evitar pauperizao de parentes menos afortunados, tendo como principal referncia a pessoa do fundador, cuja representatividade se transmitia aos sucessores, na gesto do morgado ou da capela. O terceiro fator de formao dos poderes locais constitua-se com as hierarquias paramilitares do capitaneato das milcias coloniais, consolidados aps a emancipao brasileira no coronelato da Guarda Nacional, que arregimentava a populao masculina por vilas e arraiais, sob comando dos mandatrios locais; e o baronato, hierarquia de protofidalgos, com ttulos concedidos pelo imperador que, na falta de uma nobreza, embasou a monarquia por mais de meio sculo no Brasil. O morgado, somente permitido nobreza, foi relativamente pouco institudo na Amrica portuguesa. J a capela, qualquer pessoa que possusse patrimnio fundirio, cuja tera 1/3 dos bens, de livre disponibilidade atingisse um valor mnimo determinado, poderia estabelec-la. Muitas povoaes e ncleos originais de cidades do Alto Serto da Bahia Umburanas432, atual Guirap, em Pindai; Bonito433, hoje Igapor; Bom Jesus dos Meiras, atual Brumado434 e vrios outros, como em todo o Brasil se desenvolveram a partir de terrenos doados. Conforme as normas desse instrumento jurdico medieval portugus extinto pelo governo regencial, por lei de 6 outubro de 1835, determinava-se a transferncia, aos herdeiros dos administradores, dos seus bens vinculados ou reverso do patrimnio das capelas vagas, sem sucessores nas administraes, ao Tesouro Nacional. Depois de extinta a instituio da capela, permaneceu o costume de se doar terras a santos com objetivo de aferir rendimentos para construo de templos nos mesmos moldes da capelania, atravs de escrituras pblicas e particulares. Importava mais o desejo do instituidor perpetuar-se na sua instituio. O interesse da Igreja por essas doaes reforava sua prtica.
luca, 1750-1950. Noticiario de Historia Agrria. Revista Semestral del Seminrio de Histria Agrria SEHA. Zaragoza e Murcia, n. 10, jul./dic., 1995, p. 35-66. 432 APEB. Judicirio, SRJ/25/03. f. 60. Escritura de doao, 10 dez., 1827. 433 APEB. Judicirio. SRJ/25/17. Escritura de Doao, 1840.
Para instituir a capela com a denominao de Senhora do Patrocnio e fazer-lhe um durvel patrimnio, Agostinho Gomes Cardoso e sua mulher Maria de Abreu Prates doaram, em 1827, meio quarto de lgua em quadro, da fazenda Umburanas, em Caetit, para o bem do servio de Deus e de suas almas, sob condies como: ser administrado pelo seu instituidor e passando, aps sua morte, ao filho dele e assim sucessivamente sempre em linha reta e quando na gerao no houvesse descendente homem passaria filha, nunca ao seu marido, e no caso da gerao se extinguir, aos reverendos procos; dever-se-ia requerer a obrigatria licena do Senado da Cmara, ficando, porm, isentos deste foro os donos da fazenda Umburana, que j possuam casas na povoao que ali se formava; com esses rendimentos, que se assentariam em um livro especfico, se erigiria a capela, cuja construo se iniciaria no prazo de seis anos, devendo-se conclu-la em uma dcada; jamais, por princpio nenhum, se poder doar, vender, alienar ou por alguma forma dispor da doao, que faziam perpetuamente enquanto o mundo for mundo. Entretanto, desfazendo-se essa doao, por algum motivo ou legislao, retornaria a propriedade doada imediatamente aos doadores ou seus sucessores435. Por esta ltima disposio v-se que Gomes Cardoso e Abreu Prates, talvez no tivessem notcia da tardia Revoluo Liberal ibrica, mas, estavam sintonizados na conjuntura dos seus reflexos no Brasil que, em lentas etapas, extinguiam as instituies remanescentes do Antigo Regime, como sesmaria, capelania e morgadio. O conflito social pela propriedade, posse e explorao fundirias, sempre integrou a dinmica de acumulao de capital, que tudo converte em mercadoria. A relao entre poderes locais e propriedade da terra, manifesta-se na importncia das tarefas que os poderes locais desempenhavam na ordem de reproduo das condies nas quais se desenvolvia a produo agrria, tanto natural como social; e no papel que desempenharam os poderes locais executivo e judicirio na ordenao e implementao das estratgias reprodutivas, como das famlias proprietrias de grandes reas, no s como atributo de status ou um capital poltico transmissvel, mas, tambm como um instrumento de arbitragem nos litgios reprodutivos, do tipo heranas e casamento. Isto explicaria, o porqu das grandes famlias proprietrias se empenharem, at violentando
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APEB. Colonial e Provincial, 4.678. Registros de terra da freguesia de Santana de Caetit, 1854/1859, p. 77. 435 APEB. Judicirio, SRJ/25/03. Doc. cit.
leis e pessoas em controlar os poderes locais436, especialmente quando o voto se tornou universal e a terra ainda representava o principal meio de produo. As unidades agrrias, mdias e grandes, pouco vendiam no Alto serto da Bahia, alm do gado e quase nada compravam. As distncias e os precrios meios de transportes carros-de-boi em pequenos percursos e tropas em longas distncias dificultavam a circulao de mercadorias e foravam a auto-suficincia das unidades agrrias, ampliando a debilidade do mercado regional, agravada pela desmonetizao da economia colonial, com menor circulao monetria nas regies interiores. Talvez apostando no desconhecimento dos auditores e outras autoridades metropolitanas sobre a realidade agrria da Amrica portuguesa senhores de terras indicavam como marco de limites de seus domnios, por exemplo, uma umburana seca, madeira branca que, depois de atingir esse estgio, no resiste a ao de cupins por mais de dois anos, desaparecendo sem deixar vestgio. Com freqncia se encontram exemplos dessa prtica deliberada de no se precisar limites de terras, ou indic-los com marcos temporais, para possibilitar o avano da linha demarcatria em reas contguas, no doadas ou devolutas, podendo tambm favorecer em eventuais demandas com vizinhos que, em geral, tambm demarcavam suas glebas com as mesmas dissimulaes. Praticava-se no Alto Serto da Bahia a escravido negra, empregando-se o ndios como criados livres, sobretudo ndias, nos servios domsticos, numa relao de trabalho que pouco ou nada diferenciava do cativeiro alm do estatuto jurdico que, sendo livre no permitia ao senhor o registro cartorial de propriedade nem emitir escritura de compra e venda. No convvio social recebia o mesmo tratamento do escravo. At meados do sculo XX encontravam-se velhas ndias, suas filhas e netas, na condio de criadas domsticas, tanto em cidades como no campo. Eventualmente se escravizava tambm o ndio, apesar da sua proibio, sendo raras as informaes sobre essa prtica. O livro de matrcula de escravos das minas de Rio de Contas primeira matrcula de 1748, primeira e segunda de 1749 registra apenas o tapuia Joo, de 28 anos, natural de So Paulo, submetido escravido pelo senhor Antnio Saraiva da Silva, proprietrio de 54 cativos, o maior plantel daquelas minas. No sculo seguinte esta pesquisa encontrou escravizado somente o tambm tapuia Francisco, de 24 anos, no j referido esplio de Nazria Borges de Carvalho, de 1823. Seu con-
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sorte, o capito-mor de Caetit, Bento Garcia Leal inventariou 202 escravos, o maior plantel registrado na regio. As habitaes sertanejas caracterizavam-se pela rusticidade, predominando construes de enchimento ou taipa, com paus a pique e varas cruzadas, amarradas com cips, para conter o barro batido. Eram comuns as edificaes mistas, com partes externas de adobes de barro cru e as divisrias de enchimento ou um ncleo de adobes com anexos de taipa. Nas coberturas usavam-se palhas de coqueiro, a pindoba, ou cascas de rvores. As construes slidas, de adobes crus, coberturas de madeiras aparelhadas e telhas vs, inicialmente raras, difundiram-se lentamente. Em poucos inventrios se encontram declaraes de mveis e utenslios, talvez por serem toscos e rsticos, de pequena expresso como valor de troca. No se dispe de sries estatsticas sobre a populao sertaneja, como de todo o Brasil, at a realizao do primeiro recenseamento geral, em 1872, quando se registraram no municpio de Caetit, 75.645 habitantes. A tabela XV indica elevada parcela, mais de 66%, de negros e pardos, enquanto o contingente de brancos ficou no entorno de 30% e os descendentes de ndios correspondendo a menos de 3%, numa eloqente demonstrao da catstrofe demogrfica a que foram submetidos. Em dois sculos de conquista e ocupao territorial no havia mais povo indgena, apenas indivduos identificados como caboclos.
TABELA XV POPULAO POR FREGUESIAS, CONDIO JURDICA E CLASSIFICAO TNICA MUNICPIO DE CAETIT 1872 POPULAO CONDI. JURDICA FREGUESIAS Caetit B. J. dos Meiras R. do Gentio S. A. da Barra B. V. e Almas TOTAL TOTAL LIVRES ESCRAVOS 17.836 9.080 7.722 21.023 19.984 75.645 16.778 7.935 4.042 18.903 18.870 66.528 1.058 1.145 3.680 2.120 1.114 9.117 BRANCOS PARDOS 6.090 2.432 2.233 5.362 6.783 22.900 7.254 4.313 3.165 13.405 2.559 30.696 PRETOS 3.955 1.888 1.681 2.131 10.251 19.906 CABOCLOS 537 447 643 125 391 2.143 CLASSIFICAO TNICA
FONTE: FERREIRA, Manoel Jesuno. A Provncia da Bahia. Apontamentos. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1875, p. 36-37.
Em meados do sculo XIX 1844 se descobriu e passou-se a explorar diamantes em larga escala nas serranias de Assuru, Sincor e da Tromba, modificando-se o cenrio demogrfico e econmico das zonas de lavras, com reflexos em todo seu entorno. Do Alto Serto da Bahia famlias se transferiram para tentar a sorte nos garimpos diamantferos que atraam aventureiros de diferentes estratos sociais de toda a Bahia e de outras provncias, principalmente de Minas Gerais, onde os garimpos davam sinais de exausto. No final desse sculo Lenis, que centralizava o movimento garimpeiro, tornou-se o maior centro urbano do interior da Bahia. Formou-se na Chapada Diamantina, a partir de ento, uma aristocracia mineradora, constituda de antigos senhores daquelas terras e imigrantes enriquecidos. Esse novo senhoriato firmou-se nos poderes locais promovendo emancipaes municipais ou conquistando as cidadelas adversrias com o apoio do parabelum e do fuzil437. De modo semelhante comportavam os pecuaristas da ribeira sanfranciscana, disputando o domnio fundirio e o controle do trfico fluvial de passageiros e de mercadorias, na principal via interna de conexo comercial do Nordeste com o Sudeste do Brasil, depois das trilhas de tropeiros438. Nessas circunstncias a formao social do Alto Serto da Bahia e seu entorno, com maior intensidade no Mdio So Francisco e na Chapada Diamantina, desenvol437
Sobre garimpos, formao scio-cultural, poltico-econmica e propriedade fundiria na Chapada Diamantina ver: MORAIS, Walfrido de. Jagunos e Heris, a civilizao do diamante nas lavras da Bahia. 4. ed. Bahia: Empresa Grfica da Bahia/IPAC, 1991; SENNA, Ronaldo de Salles. Lenis: um estudo diagnstico. Feira de Santana: UEFS; Lenis: Prefeitura Municipal, 1996; NEVES, Erivaldo Fagundes. Formao scio-cultural e perspectivas de desenvolvimento sustentvel da Chapada Diamantina. Salvador: Companhia de Desenvolvimento e Ao Regional CAR. Programa de Desenvolvimento Regional Sustentvel; Dimenso Histrico-Cultural: Chapada Diamantina, 1997. (Cadernos CAR, 20); ARAJO, Delmar Alves de; NEVES, Erivaldo Fagundes; SENNA, Ronaldo de Salles. Bambrrios e quimeras (olhares sobre Lenis: narrativa de garimpos e interpretaes da cultura). Feira de Santana: UEFS, 2002. Com anotaes sobre: PEREIRA, de Gonalo de Athayde. Memria histrica e descriptiva do municpio de Lenoes (Lavras Diamantinas). Bahia: Off. de A Bahia, 1910; PINA, Maria Cristina Dantas. Diamantes de papel: um estudo das leituras sobre as Lavras Diamantinas no sculo XIX. 1997. Monografia (Especializao em Teoria e Metodologia da Histria) Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana; PINA, Maria Cristina Dantas. Santa Isabel do Paraguassu: cidade, garimpo e escravido nas Lavras Diamantinas, sculo XIX. 2000. Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade Estadual de Feria de Santana, Salvador; SODR, Maria Bento. At onde justo for: arranjos e conflitos pela propriedade e posse da terra (Macabas, 1850). 1999. Monografia (Especializao em Teoria e Metodologia da Histria) Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana. 438 Para conhecer o povoamento, economia e cultura no vale do So Francisco ver: LINS, Wilson. O Mdio So Francisco: uma sociedade de pastores e guerreiros. 3 ed. So Paulo: Nacional; Braslia: INL e Fundao Nacional Pr-Memria, 1983 (1 ed. Salvador, 1952); PIERSON, Donald. O homem no vale do So Francisco. Rio de Janeiro: Superintendncia do Vale do So Francisco (SUVALE), 1972, 3 v.; STEIL, Carlos Alberto. O serto das romarias: um estudo antropolgico sobre o santurio de Bom Jesus da Lapa Bahia. Petrpolis: CID e Vozes, 1996.
veu-se caricaturada em dois tipos humanos o coronel e o cabra cada um com seus desdobramentos, determinados pela principal ocupao, independente do tempo e do lugar. As particularidades de cada atividade econmica no eram excludentes e se complementavam no delineamento dos prottipos sociais. Formou-se de um lado a elite dirigente sertaneja, composta de senhores de muitas terras, que durante a colonizao portuguesa articulava-se social e politicamente nas companhias de milcia, privatizando os poderes pblicos no exerccio do mando local. Depois da Independncia, que se fez sem qualquer mudana imediata na ordem social, o mandatrio local antes traduzido no capito de milcia ficou estereotipado no coronel da Guarda Nacional, que sucedeu a corporao paramilitar colonial multifacetado em fazendeiro, minerador, comerciante, tropeiro, guerreiro, desdobrando-se conforme as atividades econmicas, articulaes polticas e injunes sociais. Do outro lado da estrutura social desenvolveram-se os estratos populares, projetados no cabra e este fragmentado nos papis de meeiro, vaqueiro, garimpeiro, jaguno, dependendo das atribuies, vinculaes ao coronel e circunstncias conjunturais439. A grande distncia entre o Alto Serto da Bahia e o litoral forou, por um lado, a lentido do povoamento, contida pela emigrao para Minas Gerais, depois para os cafezais paulistas, e a necessidade de auto-abastecimento, pela dificuldade de populaes famintas se socorrerem nas longas estiagens peridicas; por outro, induziu o desenvolvimento de policulturas agrcolas pela impossibilidade de se transportar produes de grandes lavouras em tropas de bestas que, saindo de Caetit, atingia So Flix, porto fluvial do Recncavo, com quase um ms de viagem. Essas circunstncias no impediram, contudo, que os sertes produzissem excedentes nenhuma economia se consolida apenas com a subsistncia e se conectassem com circuitos comerciais inter-regionais, que alcanaram capitanias vizinhas, extrapolando para o mercado externo.
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Sobre formao do senhoriato sertanejo e suas articulaes scio-polticas, ver: SANTOS FILHO, Lycurgo. Militarizao do Serto. In: Uma comunidade rural..., p. 131-148; NEVES, Erivaldo Fagundes. Poder local e oligarquia fardada. In: Uma comunidade sertaneja..., p. 213-239.
A concorrncia do algodo norte-americano provocara a perda dos mercados para o produto nordestino... O gado, perdido o mercado mineiro e sofrendo a concorrncia do centro criador gacho... ...tornou logo um mau negcio, declinando ento a pecuria no Nordeste.
No incio da ocupao econmica do Alto Serto da Bahia a cadeia sucessria de Antnio Guedes de Brito extraa a renda da terra, arrendando stios ordinariamente de uma lgua, conforme Antonil440, ao preo de 10 mil ris anuais. Entretanto, a cotao oscilava conforme o potencial produtivo e a disponibilidade de gua. Atravs de administradores remunerados, pelo sistema de sorte ou giz441, se exploravam fazendas pecuaristas, que se auto-abasteciam com as miunas, ou diminutos criatrios de ovinos, caprinos, sunos, galinceos e policulturas de cereais. O excedente produzido escoava para as minas do rio das Velhas, burlando o fisco, e, em maior volume para o Recncavo. Nesses deslocamentos de boiadas, na transio para o sculo XVIII, empregavam-se vaqueiros livres os passadores e escravos que, em 15 ou 16 jornadas, conduziam gado de Jacobina para a feira de Capuame, atual Dias dvila, recebendo um cruzado por rs que tocava, assumindo os gastos com tangedores e guias, livres ou escravizados. Os administradores de fazendas, confundidos com vaqueiros nas crnicas coloniais, nem sempre residiam nas unidades agrrias que zelavam. Os rendimentos proporcionados pelos 20% que recebiam dos bezerros nascidos anualmente lhes possibilitavam arrendar ou comprar terras e se estabelecerem com criatrios prprios, empregando nos latifndios que administravam, escravos do senhorio que, sem a presena de feitores, se auto-determinavam nas suas ausncias.
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ANTONIL, Andr Joo [Giovanni Antnio Andreoni]. Op. cit., p. 200-202. Sorte, porque se remuneravam os administradores de fazendas ou vaqueiros livres que os substituam, com dos bezerros que entregavam ao senhorio, quando os ferravam anualmente; e giz, devido ao costume de se assinalar com traos verticais de giz, na lousa, - ||||\||||\||||\||||\ - destacando o quinto trao, que indicava os bezerros da sorte do administrador ou vaqueiro livre, responsvel pelo estabelecimento pecuarista. SANTOS FILHO, Lycurgo. Uma comunidade rural..., p. 208-209; NEVES, E. F. Uma comunidade sertaneja:..., p. 251.
Registra-se que um desses administradores, o lisbonense Antnio Xavier de Carvalho Cotrim, quando se enviuvou em 1752, de Anglica Maria de Jesus inventariou442 na fazenda Caetit, do sogro Estevo Pinheiro de Azevedo, talvez ainda rendeiro de Joana da Silva Guedes de Brito ou em terras por ele arrendadas do mesmo domnio 450 cabeas de gado vacum, mais 100 reses, no Rio de So Francisco e trs paries vencidas, na mesma fazenda do So Francisco, que presumia lhe tocar, de seu quarto, 150 cabeas em fazendas da mesma Joana da Silva Guedes de Brito. Havia, portanto, naquele ano, nascido 600 bezerros na unidade pecuarista que administrava, distante da outra, onde criava seu prprio rebanho, cerca de 30 lguas ou 180 quilmetros. Apenas para se situar no universo dos administradores, convm informar que Carvalho Cotrim possua casa em Urubu, atual Paratinga onde, aps a viuvez, casara-se com Joana Fagundes da Silva, natural dessa freguesia, na qual residiu por algum tempo, porque nela nasceu pelo menos um dos nove filhos da sua segunda unio conjugal, Joana Xavier da Silva, conforme seu testamento443. Cotrim arrendou, do mesmo senhorio Guedes de Brito, a fazenda Brejo dos Padres, nascente do rio das Rs, em Caetit, onde fixou residncia e pagou rendas at o final da vida. Seus filhos compraram essa fazenda da Casa da Ponte, nos ltimos anos do sculo XVIII ou primeiros do seguinte. Nas grandes fazendas dos Guedes de Brito e seus rendeiros criavam-se milhares de cabeas de gado vacum e centenas de eqinos. Antonil avaliou que haveria na transio para o sculo XVIII, 106 fazendas de gado na borda aqum do rio de So Francisco ou na sua margem direita e do outro lado, ento territrio pernambucano, muito mais, o que parece exagero. Talvez esse nmero de fazendas correspondesse a todo o vale mdio do grande rio. No alm-So Francisco denominao referenciada no Recncavo da baa de Todos os Santos atual Oeste da Bahia, havia poucas fazendas, mas de grandes extenses, do domnio dos descendentes de Francisco Garcia dvila. Nessa poca criavam-se na Bahia, ainda conforme Antonil, mais de meio milho de reses e em Pernambuco, cerca de 800 mil, sendo as boiadas do alm-So Francisco, tambm comercializadas em Capuame. Sairia para o Reino, em grande parte da Bahia, at 50 mil meios de sola, alm de 25 mil rolos de oito arrobas de tabaco encourados. Em quase toda semana e havia semanas em que a cada dia boiadas de 100 a 300 reses, em maior quantidade procedente do So Francisco, chegavam a Capuame, onde
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AMRC. Inventrios. Cx. 11, E. 01, P. 02. Inventrio de Anglica Maria de Jesus, autuado em 1752, com o pr-nome ngela; Ver tambm: NEVES, E. F. Histria de famlia:... . 443 APEB. Judicirio, 02.0569.1021.03. Inventrio de Joana Xavier da Silva, autuado em 1839.
os marchantes as compravam. Uma rs custava, nessa feira, quatro a cinco mil ris; os bois mansos para engenho, carro e cangalha, sete a oito mil ris. Em Jacobina vendia-se por dois mil e 500 a trs mil ris e, nas fazendas do Mdio So Francisco, mais prximas do rio das Velhas, podia-se negociar, na porteira do curral, para as minas, pelos mesmos preos de Capuame444. O bispo Jos Joaquim da Cunha de Azevedo Coutinho445 descreveu, com evidente exagero, que a pecuria da Amrica portuguesa seria de tal magnitude, que se matava a maior parte do gado apenas para se lhe tirar a pelle, sendo as carnes consumidas nada, em comparao das que se desperdiavam, alimentando aves, feras e tigres, perdendo-se em conseqncia da carestia do sal, cujo comrcio era privilgio de um s arrematante, que pagava fazenda real, 48 contos de ris anuais. populao no se permitia extra-lo, para o comrcio, mesmo vivendo ao lado de uma salina. Para demonstrar a exorbitncia do preo determinado pelo monoplio, o prelado exemplificou com o caso de Serro Frio, em Minas Gerais, onde um prato de sal no custava menos de 225 ris.
TABELA XVI PREOS MNIMOS, MDIOS E MXIMOS, EM MIL RIS, DE UMA RS ALEATRIA, UMA JUNTA DE BOIS E UMA BESTA DE CARGA ALTO SETO DA BAHIA 1754-1887 PREOS EM MIL RIS DCADAS 1754-1760 1761-1770 1771-1780 1781-1790 1791-1800 1801-1810 1811-1820 1821-1830 1831-1840 1841-1850 1851-1860 1860-1870 1871-1880 1881-1887 F 3 2 1 2 2 6 10 8 19 24 18 26 34 29 UMA RS MN 1.900 2.000 2.600 3.000 3.000 2.500 4.000 5.000 5.000 8.000 11.000 11.000 13.000 MD 2.000 2.000 2.500 2.600 3.000 3.000 3.050 4.813 7.684 8.729 11.100 13.326 15.788 15.138 UMA JUNTA DE BOIS MX F MN MD 2.100 2.000 1 4.000 2.600 3.000 3 16.000 16.000 3.000 1 20.000 5.000 1 20.000 6.000 1 24.000 11.000 9 24.000 24.333 11.000 9 24.000 32667 15.000 9 40.000 44.444 20.000 13 40.000 59.231 20.000 11 50.000 55.455 20.000 16 50.000 56.250 MX 16.000 25.000 40.000 45.000 70.000 75.000 70.000 UMA BESTA DE CARGA F 1 1 5 1 8 9 4 MN 70.000 60.000 60.000 60.000 MD 40.000 38.000 79.000 50.000 73.125 68.111 75.000 MX 90.000 90.000 90.000 90.000
ANTONIL, Andr Joo [Giovanni Antnio Andreoni]. Op. cit., p. 199; 201; 202. A feira de Capuame transferiu-se, no sculo XIX, para Santana dos Olhos dgua, rebatizada, por isso, de Feira de Santana. 445 COUTINHO, Jos Joaquim da Cunha de Azevedo. Ensaio econmico..., p. 12-13; 15-16.
Nota-se na tabela XVI coerncia na evoluo dos preos de uma rs aleatria e de uma junta de bois de carro igualmente do boi de sela e do cargueiro no discriminados nos dois sculos, mantendo-se o valor da parelha bovina aproximadamente quatro vezes maior que o de uma rs na avaliao de um rebanho ou duas vezes no caso de um s boi manso na mesma relao, enquanto o de uma besta de carga sempre custando menos que uma de montaria reduziu-se drasticamente na mesma comparao. Isto se devia importao de muares de So Paulo e depois do Rio Grande do Sul, na segunda metade do sculo XVIII e se ampliarem os criatrios dessa espcie hbrida nos baixios sanfranciscanos e nas veredas alto-sertanejas. Dos Guedes de Brito Casa da Ponte, a extrao da renda da terra se fez com a explorao dos mesmos estabelecimentos de pecuria escravista446, intensificando-se os arrendamentos e implementando-se a comercializao de glebas que se estendiam de algumas braas a vrias lguas. Nesse cenrio rendeiros e compradores de terras desenvolveram uma economia agrria que se auto-abastecia, quando no ocorriam estiagens prolongadas447 e exportavam gado para o Recncavo aucareiro, para as minas aurferas do rio das Velhas e diamantferas de Serro Frio. Depois da Guerra dos Emboabas, o mercado mineiro, passou a receber carne de capitanias do sul, gerando negcio externo, cuja intermediao proporcionava maiores lucros aos intermedirios e mais tributos para os poderes pblicos. Os valores das exportaes de couro, apresentados por capitania, na tabela XVII, confirmam a relevncia da pecuria baiana, da qual o Alto Serto da Bahia e o Mdio So Francisco se constituam nas principais zonas criadoras nos sculos XVIII e XIX. O valor total corresponde ao das exportaes da Amrica portuguesa, devendo-se considerar que, pelo porto do Rio de Janeiro saa couro de toda a regio sul, alm de Mato Grosso, Gois, Minas Gerais, So Paulo; pelo de Salvador, partes de Pernambuco, Piau, Maranho; por Recife, parcelas da produo de vrias outras capitanias. Nessas circunstncias, os dados no traduzem a realidade da pecuria de cada capitania. Por um lado eles no incorporaram o consumo interno; e, por outro, incluem peles de caas, devendo-se ainda considerar a exportao dissimulada do couro como
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Em oito fazendas do Mdio So Francisco, o esplio do conde da Ponte possua 13 mil, 321 rezes, 780 eqinos e 311 escravos. APEB. Judicirio. 01.0089.0127.01. Inventrio autuado em 1832; publicado por: Anais APEB. Salvador, n. 28, p. 41-75, 1945. 447 Em 1801, por exemplo, Joo Gonalves da Costa informou ao coronel Jos de S Betencourt, que o serto convivia com a fome, resultante da grande seca. CATLOGO de documentos sobre a Bahia..., doc. n. 763, p. 133. BN. II 33, 21, 85. Carta, 1 mar., 1801.
embalagens de fardos de algodo, blocos de acar mascavo para refino na Europa, rolos de fumo e outros produtos coloniais.
TABELA XVII VALORES DO COURO EXPORTADO DO BRASIL PARA PORTUGAL, NO FINAL DO SCULO XVIII E INCIO DO XIX, EM MIL RIS 1796-1818
PORTOS 1796(1) 233:493$628 242:296$005 199:452$250 28:677$300 22:640$600 4:914$180 7:028$400 738:502$363 1801(2) 1.036:808$460 346:580$805 163:273$815 18:396$300 13:587$420 1.578:646$800 ANOS 1805(2) 1806(1) 1.125:402$880 1.393:288$480 441:618$120 570:023$885 282:252$400 227:655$900 27:844$290 32:477$360 7:281$800 16:362$960 6:993$700 9:464$750 1.901:393$190 2.249:273$335 1816(2) 1.041:034$400 491:147$400 375:789$800 83:488$700 12:762$000 8:881$900 2.013:104$200 1819(1) 403:737$500 122:110$880 70:489$200 25:013$600 1:750$200 2:178$000 625:279$380
FONTES: (1)SIMONSEN, Roberto Cochrane. Histria econmica do Brasil: 1500-1820. 8. ed. So Paulo: Nacional, 1978, p. 385387. Apud BALBI, Adrien. Essai Statistique sur le Royaume de Portugal. (2)BALBI, Adrien. Varits politico-statistiques sur la monarchie portugaise. Paris: Rey et Gravier, Libraries, quai des Augustins, 1822. (Tabelas anexas).
Ignoram-se porque as fontes utilizadas para composio da tabela XVII no informam sobre as exportaes dos pampas, cuja colonizao se iniciou em 1736, com a construo do presdio Jesus, Maria e Jos, por Jos da Silva Paes e, no incio do sculo XIX, j se firmava como principal fonte do abastecimento de charque e cereais ao Rio de Janeiro e Minas Gerais. A pecuria, empregando mo-de-obra livre, ampliou a oferta de alimentos nos sertes garimpeiros e policultores e no litoral monocultor, contribuindo, por um lado, para a formao de mercado interno, dificultado pela pouca circulao monetria e, por outro, com o comrcio exterior, concentrando o trabalho escravo na monocultura e participando desse comrcio, atravs das exportaes de couro. Alguns produtos da policultura do serto chegaram ao mercado externo, destacando-se, como j se aludiu, o algodo, que se difundiu no interior do Brasil, sobretudo no semirido, a partir da segunda metade do sculo XVIII, quando se tornou a fibra mais utilizada pelos teares mecnicos ingleses, na transio para a maquinofatura, cuja indstria de ponta fora a txtil. A Europa passou a consumir tecidos de algodo, originrios das ndias Orientais, em escala crescente, a partir do sculo XV448.
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ARRUDA, Jos Jobson de Andrade. A produo econmica. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da. (Coord.). O Imprio Luso-Brasileiro (1750-1822). Lisboa: Estampa, 1986, p. 102. (Nova histria da Expanso Portuguesa, VIII).
Gabriel Soares449 descreveu, no sculo XVI, o algodoeiro nativo do Brasil como anlogo ao marmeleiro, com o caule semelhante ao do sabugueiro e folhas parecidas com as da parreira. Seu sumo curaria feridas e os caroos os ndios comiam, pisados e depois cozidos. A planta duraria de sete a oito anos e mais, quebrando-lhe, cada ano, as pontas grandes, devendo-se limpar enxada, duas e trs vezes cada ano. Os colonizadores portugueses procuravam tirar o maior proveito econmico das potencialidades agrrias dos trpicos, semeando espcies asiticas e africanas na Amrica e deste continente na sia e na frica. Correspondncias entre autoridades das diversas instncias de governo revelam o interesse nesse intercmbio de vegetais. Lus Pinto de Souza, funcionrio do governo metropolitano, por exemplo, remeteu de Lisboa, em 1794, para o governador Fernando Jos de Portugal (1788-1801), na Bahia, sementes de algodo da Prsia, recomendando-o espalhar pelas comarcas da capitania. Dois anos depois, o governador apresentou-lhe os resultados da experincia: nascera o que plantara, crescendo o arbusto unicamente at palmo e meio e logo que dera o capucho, secara, ficando intil para outra produo, o que no aconteceia com a espcie nativa, que alcanava at grande altura, continuando a dar todos os anos frutos com o benefcio somente de serem decotadas as vergnteas antigas. O governador anexou sua correspondncia uma carta do ex-ouvidor de Jacobina, Joo Manoel Peixoto dArajo, dando conta de no ser possvel, com o primeiro ensaio averiguar-se as potencialidades da espcie; e que na comarca haveria planta que presumia ser da mesma qualidade da que viera da Prsia, conhecida no serto como algodo do mato. Informou ainda o governador que na vila de Abrantes, em terreno barrento ou arenoso, haveria uma espcie que seria muito superior ao comum, com a denominao vulgar de algodo da ndia450. No exerccio do governo da Bahia o conde da Ponte, em carta ao visconde de Anadia, opinou sobre a inconvenincia de se desarranchar os dois casais de Ilhus, nicos estabelecidos naquela estrada para Camamu e de se desamparar a sesmaria do coronel Jos de S Bettencourt (1752-1828)451, que estaria produzindo grandes quan449 450
SOUZA, Gabriel Soares de. Notcias do Brasil. So Paulo: Martins, 1940, v. 2, p. 47, 1. ed. 1587. AHU-ACL-CU-Baa. Cx. 85, doc. 16.612. Ofcio, 11 abr., 1796. 451 Jos de S Bitancourt e Accioli, natural de Caets MG, formou-se em cincias naturais na Universidade de Coimbra, participou das articulaes que resultaram na Inconfidncia Mineira, sendo, por isso, preso entre 1789 e 1792. Designado pelo governo colonial procedeu a vrias exploraes mineralgicas no interior da Bahia, foi examinador de Histria Natural e inspetor das minas de salitre de Montes Altos, hoje Palmas de Monte Alto. Alm da Memria sobre a plantao dos algodes indicada na nota seguinte, escreveu tambm a Memria sobre a viagem ao terreno nitroso de Montes Altos. AHU-ACLCU-005, Cx. 213, D. 15.016, que seria publicada em: O Auxiliador da Indstria Nacional, t. 5, n. 3 e 4.
tidades de algodo. Informou que atendera solicitao desse coronel para estabelecer nos ranchos abandonados pelos casais que fugiram, cinco lavradores, naturais de Camamu, que lhe requereram essa concesso e que incumbira o mesmo coronel de fiscalizar seus trabalhos. Jos de S Betencourt com se grafou na capa do texto publicado ou Bitancourt como ele assinava apresentou uma tese Real Academia das Sciencias452, em Lisboa, no final do sculo XVIII, descrevendo os procedimentos no plantio do algodo: depois de junho se iniciava a derrubada da mata ou roada da capoeira, logo que o tempo seco convinha para esse trabalho; a partir de setembro se comeariam as queimadas; somente se plantando as sementes em meados de novembro, com a regularizao das chuvas, iniciadas, quando a seca no se prolongava, no final de outubro. Carlos Augusto Taunay (1791-1867)453 recomendou, no incio do sculo XIX, escrupuloso cuidado na escolha de sementes do algodo, devendo-se evitar as colhidas no mesmo terreno ou mesmo no distrito, preferindo-se de lugares conhecidos pela boa qualidade da l. A semente do algodo, lanada em covas rasas, com intervalos de oito ps, conforme S Betencourt e quatro ou cinco ps, pondo seis gros em cada cova, de acordo com Taunay454, requer cobertura de pouca terra, diferente do milho, que deve ser plantado em covas de 10 a 15 centmetros. Para o feijo a forma de plant-lo varia conforme a espcie. Aps uma semana, tudo germina, devendo-se, no caso do algodo, na primeira capina arrancar as mudas mais dbeis, deixando-se apenas dois, conforme Betencourt ou metade, na sugesto de Taunay. S Betencourt recomendou capar as plantas quebrando-lhes os olhos ou extremidades dos brotos ao alcanar altura suficiente para se desdobrar em galhos, lemRio de Janeiro, [s. : d.]; e reeditada em Lisboa, pela Academia Real das Cincias, em 1800, conforme notas de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, em: VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Histria Geral do Brasil..., v. 3, t. 5, p. 16; SILVA, Innocncio Francisco da. Dicionrio Bibliogrfico Portugus. Lisboa: Imprensa Nacional, 1972, t. 5, p. 118; Idem, ibidem, t. 8, p. 190; e ALMEIDA, Morais Rocha de. Dicionrio de autores no Brasil Colonial. Lisboa: Colibri, 2003, p. 43. Entretanto, os arquivos dessa academia no confirmam essa informao, fazendo supor que o texto seja indito, tornado conhecido atravs da Exposio de Histria do Brasil, de 1881, na qual se apresentaram os originais deste e de outro estudo da sua autoria, conforme o citado Dicionrio Bibliogrfico Portugus. 452 BETENCOURT, Jos de S. Memoria sobre a plantao dos algodes e sua exportao; sobre a decadncia da Lavoura de mandiocas, no Termo da Vila de Camam, Comarca dos Ilhos, Governo da Bahia. [Lisboa]: Officina de Simo Thaddeo Ferreira, 1798; Reimpressa em: Auxiliador da Industria Nacional, n. 9, v. 9, 1841, conforme notas de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia em: VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Histria geral do Brasil..., v. 3, t. 5, p. 16. 453 TAUNAY, C. A. Manual do agricultor brasileiro. Rio de Janeiro: Typ. Imperial e Constitucional de J. Villeneuve e Comp., 1839, p. 41. 454 O espaamento recomendado por Betencourt corresponde a 2,64 metros, talvez o mais conveniente, enquanto o de Taunay, equivalente a 1,32 ou 1,65 metro, aproxima-se do praticado no Alto Serto da Bahia.
brando que fevereiro seria o tempo da segunda monda ou capina. Aps a colheita, entre maio e junho, do milho e do feijo e de junho a agosto, do algodo, reiniciava-se novo ciclo, com a limpeza da terra e a queima das coivaras ou deixando a roa tornar-se capoeira, fazendo outra derrubada de mata virgem. Ressalta-se que, no se incorporando novas tecnologias nessa agricultura rudimentar aumentava-se a produtividade plantando-se sempre em terras novas, sem qualquer preocupao com o manejo dos recursos naturais. Betencourt indicou as caatingas de Rio de Contas municpio do qual emancipou-se Caetit, Maracs e desanexaram-se os vales do Jequitinhonha e do Pardo e o sub-vale do Verde Grande Serto da Conquista e margens do Gavio como reas adequadas para o plantio do algodo pela qualidade do terreno e regularidade do clima, sendo essas indicaes confirmadas por dois sculos de cultivo dessa malvcea na regio. L ele encontrara remanescentes da espcie domstica, plantados h 18 anos, que se conservavam no meio da capoeira com tanto vigor como se fossem novamente plantadas. Enfatizou que, 25 anos antes, o Arraial de Caitit era pobre, deserto e s manejava o diminuto comrcio de gado. J naquela altura de final do sculo XVIII, tornara-se o mais rico daqueles sertes, depois da cultura do algodo. Deve-se registrar que, alm do amplo consumo interno, pelos teares manuais, exportava-se para os fusos mecnicos de Manchester, Liverpool e outros centros txteis ingleses e franceses. Taunay ressaltou que as nicas operaes necessrias para que o algodo fosse entregue ao comrcio, depois da colheita, seriam o descaroamento e o ensacamento. Quando se iniciou essa cultura descaroava-se mo, produzindo cada pessoa apenas uma libra diria de l. Essa produo se multiplicou, na primeira metade do sculo XIX, com diversas mquinas descaroadoras, compostas de dois cilindros estriados girando em sentido contrrio, postos em movimento por uma roda tocada mo ou com o p. Na Europa e nos Estados Unidos da Amrica j se usavam descaroadores movidos por roda dgua. No incio do sculo XIX se importou de Calcut, na ndia, para a Bahia, uma mquina de prensar fardos de algodo. O prncipe regente mandou entregla Real Junta do Comrcio, Agricultura, Fbricas e Navegao, para se instalar onde fosse mais conveniente455. No Alto Serto da Bahia utilizava-se o descaroador do tipo rudimentar, fixo no centro de um banco de madeira, com dois cilindros terminados com
455
CATLOGO de documentos sobre a Bahia..., doc. n. 1059, BN II 33, 21, 44, p. 184. Ordem Rgia. Rio de Janeiro, 31 out., 1812.
um eixo para cada lado, ambos com as manivelas giradas por duas pessoas, uma com a mo esquerda, levando o algodo e recolhendo as sementes; a outra, no lado oposto, recebendo a l. Uma pequena lavoura necessitava de vrias engenhocas para descaroar o algodo que produzia. Inventrios ps-morte registram prensas e descaroadores de madeira. No rol dos bens de Leonor Maria do Sacramento, em 1786, o vivo Francisco Martins de Abreu declarou roas de algodo e mandioca, no Gentio, descaroadores e prensas de algodo. No stio Camelo, da fazenda Santa Clara, hoje em Rio do Antnio, Joaquim Jos da Silva possua, em 1843, oito descaroadores de madeira. Na segunda metade do sculo XIX, difundiram-se mquinas giradas por bois ou cavalos, que dinamizaram o processo. Depois de prensado, acondicionavam-se os fardos de trs arrobas de l em bruacas, protegendo-os das chuvas, para o transporte por tropas456. Nas pequenas distncias era transportado em tropas de cavalos como praticava Joaquim Jos da Silva, da Fazenda Santa Clara, no atual municpio de Rio do Antnio, que possua 10 cavalos de carga. Tambm se utilizavam os jumentos e burros cargueiros e os carros de boi, coberto por um couro no tempo das chuvas.
TABELA XVIII TROPEIROS POR ANO, LOCALIZAO, TAMANHO DA TROPA E PESO TRANSPORTVEL, EM QUILOGRAMAS CAETIT 1845-1880 MUNICPIO ESPLIO Manoel Fialho de Carvalho Francisco Xavier da Costa Flix Pereira Japecanga Joaquim Martins Ribeiro Manoel Pereira da Costa Umbelina Tereza de Novais ANO FAZENDA 1845 1855 1862 1860 1866 1872 Contendas Condeba Cacul ATUAL Pindai Condeba Cacul N DE BESTAS 23 29 15 8 12 16 17 PESO TRASP EM Kg. 2.208 2.784 1.440 768 1.152 1.536 1.632
Santa Clara Rio do Antnio Contendas Noruega Furados Pindai Caetit Licnio de Almeida
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Sobre esse sistema de transporte ver: PAES, Jurema Mascarenhas. Tropas e tropeiros no Alto Serto da Bahia no sculo XIX. 2001. Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade Federal da Bahia, Salvador.
A tabela XVIII mostra sete tropas, compostas de oito a 29 muares, registradas em esplios de fazendeiros sumariados no apndice, demonstrando a pouca capacidade de transporte delas. Deve-se considerar que, em longas distncias, cada besta carregava, sem muita dificuldade nas trilhas montanhosas, dois costais de trs arrobas cada um, ou 96 quilogramas no total457, podendo, em curtos percursos de estradas planas, levar mais um costal, elevando o peso da carga para 144 quilogramas. Nota-se, pois, mdias de 17 muares por tropa e de mil, 646 quilogramas transportadas. A tabela XIX apresenta baixa freqncia de inventrios com registro algodo. Deve-se ponderar que somente os de cotonicultores autuados na poca da colheita dispem deste dado, porque sempre se comercializou a safra do algodo logo depois de colhida ou at antes. H maior quantidade de arrolamento de bens registrando roas de algodo, no tabeladas, por trazer como nico dado pondervel o preo. Sem a indicao de rea no h como se estabelecer qualquer comparao.
TABELA XIX PREOS MNIMOS, MDIOS E MXIMOS (EM MIL RIS), DE UMA ARROBA DE ALGODO COM CAROO E DESCAROADA ALTO SETO DA BAHIA 1754-1887 PREOS DA ARROBA DE ALGODO DCADAS F 1754-1760 1761-1770 1771-1780 1781-1790 1791-1800 1801-1810 1811-1820 1821-1830 1831-1840 1841-1850 1851-1860 1861-1870 1871-1880 1881-1887 2 1 1 1 4 6 4 1 2 COM CAROO MNIMO 0,640 0,200 0,240 0,320 0.800 MDIO 0,640 0,600 0,640 0,200 0,241 1.299 1.872 1.000 0.900 MXIMO 0,640 0,284 2.667 2.000 1.000 F 1 1 3 5 3 2 2 1 DESCAROADA MNIMO MDIO MXIMO 3.000 3.000 1.000 1.336 1.667 1.580 1.732 2.000 2.000 2.222 2.667 2.133 2.223 2.333 5.000 6.500 8.000 4.000 -
A evoluo dos preos dos produtos expostos nas tabelas XV, comparados com os da XVIII indica maior dinmica a partir de 1850, coincidindo com a consolidao da
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economia brasileira e a reafirmao da monocultura agrcola de exportao firmada na cafeicultura. Esse processo ampliando o meio-circulante, instigou a inflao. Produz-se com o caroo de algodo, principalmente, leo comestvel e sabo. No Alto Serto da Bahia sempre foi usado como forragem complementar para o gado. Quando se extraa seu azeite o bagao alimentava porcos e outros animais. Essa malvcea diversifica-se em variedades agrupadas nas espcies herbcea e arbrea. S Betencourt descreveu algumas delas da Prsia, da ndia, do Maranho, de Macassar destacando a silvestre, de muita l, embora spera e com fio mais fraco, cuja planta, encontrada em abundncia nas catingas margem do rio de Contas, tinha maior durao; a vulgar, cor de ganga, de caroos variando entre pardo, verde e preto, cuja planta resistia entre matos, sem nenhum benefcio, 25 anos e muito mais; e a domstica, cultivado nas catingas, da qual apenas informou que d um produto considervel. No existia, at o sculo XV, manufatura para o algodo na Europa. A Inglaterra iniciou a industrializao dessa fibra no final do sculo XVI, num processo em que a produo de tecidos conheceu primeiro a fase do linho, seguida pela da l, passando para a do algodo no sculo XVIII. Empregava-se mais, at ento, a l animal, seguida pela seda chinesa, ficando a fibra da malvcea tropical em ltimo lugar. A partir dessa poca, o desenvolvimento industrial inverteu a escala de utilizao das matrias-primas, repercutindo nas zonas tropicais produtores de algodo458, como o Alto Serto da Bahia, onde fazendeiros ampliaram a produo de suas lavouras e centralizaram o comrcio regional da l, despachando-a em tropas para o Porto de So Flix, no Recncavo de onde, exportadores de Salvador, como Pedro Rodrigues Bandeira comercializavam no mercado exterior. Negociantes e tropeiros intermediavam tambm esse comrcio e o transporte.459 Representantes comerciais de outros pases que j compravam de Portugal, aps a abertura dos portos, em 1808, que encerrou o monoplio comercial metropolitano, passaram a comprar algodo no Brasil. O francs Tollenare, por exemplo, depois de
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MELLO, Maria Regina Ciparrone. A industrializao do algodo em So Paulo. So Paulo: Perspectiva, 1983, p. 13-14. 459 Sobre exportao de algodo ver, por exemplo, os inventrios de Nazria Borges de Carvalho, mulher do capito-mor Bento Garcia Leal, autuado em 1823, no stio Regap, fazenda Barrocas, atualmente em Pindai, APEB. Judicirio. 02.0589.1041.14; e de Lus Ribeiro de Magalhes e Silva, autuado em 1824, na fazenda Gro-Mogol, hoje fracionada entre Igapor, Matina e Riacho de Santana. APEB. Judicirio. 02.0570.1022.11; e sobre a intermediao, a escritura de dbito, obrigao e hipoteca, 11 jan., 1821, de Antnio ngelo Custdio, que comprou, em 1821, de Jos Antnio de Souza Spnola, em Caetit, 57 cargas de seis arrobas de algodo em l, embruacadas, prontas para a conduo. APEB. Judicirio. SRJ/25/02.
atuar em Lisboa, transferiu-se para Recife, onde adquiriu o produto para a empresa que representava, entre novembro de 1816 e julho de 1817; e para Salvador, onde continuou essa atividade at princpios de 1818, deixando um dirio460, somente publicado em portugus, pelo Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia, quase um sculo depois. Do Alto Serto da Bahia exportavam-se para a frica mais o fumo em rolo e aguardente de cana, no intercmbio escravista e, em menor volume a limitao do transporte em tropas dificultava produo em larga escala outros produtos. Apenas seis produtos da Amrica portuguesa acar, algodo, couro, tabaco, cacau e caf tiveram peso significativo na remessa para a metrpole, representando, entre 1796 e 1807, mais de 95% do total. Somente o acar e o algodo, somados, representaram, nesse perodo, 70% das exportaes portuguesas de produtos do Brasil. O couro, terceiro produto em importncia, a partir de 1804 passou a significar 10% do valor total, com mdias anuais superiores a mais de dois mil contos de ris461. V-se que, duas algodo e couro das trs mercadorias coloniais mais comercializadas com a metrpole constituam-se os principais produtos do Alto Serto da Bahia. A falta de dados dessa produo regional impede a mensurao com alguma segurana do significado da sua participao na produo colonial.
TABELA XX VALORES DO ALGODO EXPORTADO DO BRASIL PARA PORTUGAL, NO FINAL DO SCULO XVIII E INCIO DO XIX, EM MIL RIS 1796-1819
PORTOS Rio de Janeiro Bahia Pernambuco Maranho Par Cear Santos TOTAL 1796(1) 28:501$600 345:840$000 827:016$200 845:906$800 71:056$260 82:405$290 542$800 2.201:268$950 1801(2) 48:718$460 528:202$420 1.663:587$200 113:956$640 73:456$320 2.427:921$140 ANOS 1805(2) 1806(1) 32:223$360 26:983$840 496:980$940 399:702$400 2.137:566$720 1.844:310$080 1.238:969$760 1.148:153$600 94:144$000 71:030$400 39:987$200 54:219$200 4.039:871$980 3.544:399$520 1816(2) 1:962$800 79:736$400 662:683$000 743:850$000 68:348$000 60:920$000 1.617:572$200 1819(1) 7:494$400 137:263$360 562:293$760 782:679$040 82:875$520 211:685$760 1.784:291$840
FONTES: (1)SIMONSEN, Roberto Cochrane. Op. cit., p. 385-387; (2)BALBI, Adrien. Varits... Op. cit. (Tabelas anexas).
A tabela XX expe dados da dinmica do comrcio exterior do algodo da Amrica portuguesa. Devem-se considera-los apenas como indicativos uma vez que o produto de uma provncia escoava pelo porto da outra. Parte do algodo do norte de Minas somava-se ao do Alto Serto da Bahia, por inconvenincia do transporte para o Rio de
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TOLLENARE, L. F. Notas dominicais. 2. ed. Salvador: Progresso, 1956. ALEXANDRE, Valentim. Op. cit., p. 34.
Janeiro, que recebia tropas com cargas de vrias regies. A populao vestia-se, principalmente escravos, cobriam-se camas e mesas, alm de se produzir sacaria com tecidos rsticos, urdidos nos teares manuais nos fundos de quintal das casas grandes. Depois da escravido a fiao e tecelagem se tornaram atividades das mulheres de pequenos proprietrios e meeiros, utilizando matria-prima da prpria lavoura ou fornecidas pelos clientes. Inventrios ps-morte do final do perodo escravista, quando se passou a indicar profisses ou aptides de cativos, destacam as tecelonas. Ressalta-se que o txtil, como na Revoluo Industrial inglesa, foi o primeiro segmento fabril a se desenvolver na Bahia. Em 1850 a Provncia produziu mais de 600 mil varas de pano462. Na dcada de 1870, havia quase uma dezena de empreendimentos desse ramo Todos os Santos, de Pedroso de Albuquerque, a maior do Imprio; Lacerda & Irmos; Queimado, de Paulo Pereira Monteiro; Conceio, de Domingos Gomes Ferreira; Modelo, de Manoel Luiz Pinto Coimbra; So Salvador, de Antnio Francisco Ribeiro; Bomfim, de Lus Rodrigues dUtra sendo as duas primeiras instaladas em Valena e as demais em Salvador463. A evoluo decrescente das exportaes de couro apresentada na tabela XVII e o crescente comrcio exterior do algodo na tabela XX, que poderia sofrer influncias de diversos fatores externos e internos, coincidem com a expanso da agricultura e declnio da pecuria no Alto Serto da Bahia, nas ltimas dcadas do sculo XVIII e primeiras do XIX. Essa reverso se deveu intensificao do povoamento regional com o loteamento e comercializao das terras da Casa da Ponte, multiplicando a pequena propriedade e tendo como conseqncia o crescimento da economia de subsistncia, destinada ao auto-abastecimento regional e com ela a dilatao dos fluxos comerciais, elastecendo o mercado interno e da cultura de espcies, como o algodo e o fumo que produziam excedentes exportveis. Na segunda metade do sculo XIX a economia baiana exportava, conforme estudo de Luiz Henrique Dias Tavares464, na ordem de importncia, acar, fumo, dia-
462
AZEVEDO. Thales de. A economia baiana em torno de 1850. In: AZEVEDO, Thales de; LINS, E. Q. Vieira. Histria do Banco da Bahia 1858-1958. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1969, p. 8. A produo desse ano ultrapassou a 660 mil metros de tecido. 463 Conforme CALMON, Francisco Marques de Ges. Vida econmico-financeira da Bahia; elementos para a histria de 1808-1899. Reimpresso. Salvador: Fundao de Pesquisas CPE, 1978, p. 107-108, 1. ed. 1925. Com a associao de Lus Rodrigues dUltra a Francisco Xavier Catalina a Bomfim passou a denominar-se Catalina & dUtra, funcionando com 54 teares e 2.500 fusos, sendo adquirida, em 1892, pela Companhia Progresso Industrial. 464 TAVARES, Luiz Henrique Dias. A economia da Provncia da Bahia na 2 metade do sculo XIX. Universitas. Salvador, n. 29, p. 31-39, jan./abr. 1982.
mantes, caf, couros, aguardente, cacau e algodo. Nos anos sessenta, algodo antes do cacau. A partir dessa poca incorporou-se pauta de exportaes o charuto. Na dcada de 1870 operava na Bahia mil e dez engenhos, moendo com fora hidrulica ou trao animal, sendo raros os que utilizavam o vapor dgua. Ainda nessa dcada, na segunda metade dela, o governo provincial tomou a iniciativa da instalao de engenhos centrais e no incio da dcada seguinte, uma empresa constituda em Londres obteve a concesso para tambm construir engenhos centrais no Recncavo. Entretanto, essas inovaes tecnolgicas no salvaram a economia baiana da crise crnica, nem mesmo da aucareira, porque no conseguiram produzir com qualidade nem preos competitivos no mercado exterior e todos os empreendimentos transferiam seus custos para o Tesouro da Provncia. Dias Tavares ressaltou o fato da Bahia gastar mais com a importao de tecidos de algodo, l, linho e seda, alm de e gneros alimentcios como farinha de trigo, carne, peixe em conserva e bacalhau, que na aquisio de mquinas. Estes dados que diagnosticam a debilidade da economia baiana e sua enorme dependncia da Inglaterra, de onde procedia 59% das suas importaes, considerando-se os dados de 1873. Difcil para essa economia exportadora de produtos primrios e sob tamanho controle da maior potncia industrial desenvolver manufaturas. Somava-se ainda a esse fator externo a repulsa da aristocracia agrria antiburguesa s iniciativas dessa natureza. Esta oligarquia receava possvel ruptura do seu poder monoltico com o eventual fortalecimento de uma burguesia urbana. Em conseqncia, fundou-se o primeiro banco baiano, o Comercial da Provncia da Bahia, em 1845, aps 28 anos de instalada a Caixa Filial do Banco do Brasil e 11 depois da Caixa Econmica da Cidade da Bahia. Mas em 1857 j operavam na Bahia os seguintes estabelecimentos financeiros: Caixa Filial do Banco do Brasil, Caixa Comercial da Bahia, Caixa Reserva Mercantil, Sociedade Comrcio da Bahia, Caixa Econmica, Caixa Unio Comercial, alm de casas comerciais com atuao bancria. E no ano seguinte fundou-se o Banco da Bahia465. Essa aparncia de sbita formao de capital financeiro e de surto de desenvolvimento da economia baiana corresponde consolidao da economia nacional com a expanso cafeeira no Centro-Sul, que promoveu a formao de bancos em todo o Brasil. Na Bahia esse embrio de capital financeiro provinha da esfera agrria, fundamental465
NEVES, Euclides Fagundes. Banco, bancrios e movimento sindical. So Paulo: Anita Garibaldi, 1998, p. 19-23.
mente do acar, com participao minoritria do setor mercantil, permanecendo o monoplio poltico da aristocracia canavieira. Em nenhum caso significou grande mobilizao de recursos financeiros. Nesse processo o Alto Serto da Bahia permaneceu sem transformaes significativas, na condio de principal rea cotonicultora da Provncia/Estado at meados do sculo XX. Na segunda metade do sculo XIX o domnio fundirio encontrava-se concentrado no Brasil em proporo de desigualdade semelhante ao da estratificao social, polarizada nos senhores e escravos. Como se ressaltou antes, na extino gradual da escravido intensificou-se a alternativa da meao, que no Alto Serto da Bahia associava-se ao trabalho familiar autnomo desde o sculo XVIII. A lavoura de meia, que ainda se pratica, tornou-se, por um lado, estratgia de sobrevivncia dos que no dispunham de recursos para arrendar e explorar a terra; por outro, um recurso de se contornar o assalariamento, dificultado pela restrita circulao monetria que forava a troca simples; e alternativa de mo-de-obra por baixo custo, com a possibilidade de ainda baratear no fornecimento alimentar do meeiro e na compra de eventual sobra da sua metade na safra, depois de quitada a dvida contrada durante o ano e talvez restos de anos anteriores. Nas policulturas praticavam-se tambm e talvez ainda se usa, em menor escala, o sistema de quarta, no qual o cultivador, sem receber fornecimento alimentar antecipado em mantimento ou dinheiro nem moradia, pagava o uso do cho com do que colhia, podendo o contrato exigir que o quarteiro devolvesse a terra no prazo estipulado plantada de capim. Essa agricultura diversificava-se, como hoje, com algodo, caf, mamona, milho, cana, arroz, feijo, andu, fava, amendoim, havendo espao para frutas e verduras como melo, melancia, abboras, maxixe, quiabo, hortalias e tubrculos como batata, batata-doce, inhame e mandioca, consorciando-se conforme a similaridade e tolerncia de uma s outras ou separando-se em pequenas monoculturas. Esse sistema de manejo rudimentar do solo sempre exige alternncia com pastagens ou abandono da capoeira. Permanecendo neste estado por alguns anos, a mata nativa pode recompor com aroeiras, paus-darco, angicos, perobas, baranas, juazeiros, umburanas, umbuzeiros, araticuns e outras espcies da flora sertaneja. Alguns inventrios ps-morte registram engenhos de acar e formas de acar nos sculos XVIII e XIX. Tratava-se de engenhocas de madeira, movidas por juntas de bois e de formas para secar a rapadura ou acar mascavo. O engenho rapadureiro, ain-
da existente, como o descreve Marsia de Brito466, dispensa a sofisticao tecnolgica e a organizao social exigidas pelo engenho de acar. Produzida com tcnicas rudimentares, a rapadura sempre se destinou ao mercado regional diferente do acar, dirigido principalmente ao mercado externo bastandolhe, alm da pequena plantao de cana, numa baixada mida ou fresca, apenas o engenho, com duas ou trs moendas dentadas, verticais, movidas por duas almanjarras contrapostas, numa das quais presa, a uma tiradeira, uma junta de bois o pe em movimento, enquanto a outra almanjarra proporciona o equilbrio; e a fbrica, com as fornalhas, nas quais se ferve o caldo da cana em tachos de cobre at tornar-se melao e dar o ponto de emformar. Tambm a organizao social no engenho de rapadura sempre diferenciou da exigida pelo engenho de acar. De um modo geral, o trabalho, como no perodo colonial, continuou realizado pelo proprietrio ou pelo meeiro, ambos utilizando mo-de-obra familiar, complementada pela do escravo e depois de extinta a escravido, por diaristas. Alguns inventrios registram pequenas irrigaes por declividade natural, em brejos com hortalias ou plantaes de cana, como em Bonito, de Vitorino Xavier do Rego467, inventariado em 1829, com uma casa, engenho, rego dgua e canavial. Em Roado, de Jos de Souza Meira468, inventariado em 1852, com engenho, canavial e gua de rega de trs dias semanais e outros vizinhos cultivavam-se outras espcies em terras irrigadas. Apenas em Vila Velha, atual Livramento do Brumado ou de Nossa Senhora, usavam sistema de irrigao mais amplo, mas tambm pela gravitao natural. Encontra-se uma anlise da evoluo econmica da Bahia do incio do sculo XIX em Cartas Econmico-Polticas469, conhecidas como de autoria apenas do desembargador Joo Rodrigues de Brito. As quatro correspondncias que compem essa obra publicada em Lisboa, em 1821, originaram-se do apelo de comerciantes e agricultores da Bahia contra os rigores no controle de qualidade do que se exportava ao prncipe regente D. Joo, que mandou informar ao governador da Capitania, recomendando-o ouvir a Cmara.
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JAMBEIRO, Marsia de Brito. Engenhos de rapadura: racionalidade do tradicional numa sociedade em desenvolvimento. So Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da USP, 1973, p. 30-37. 467 APEB. Judicirio. 02.0568.1020.07. Inventrio de Vitorino Xavier do Rego, autuado em 1829. 468 APEB. Judicirio. 02.0889.1358.27. Inventrio de Jos de Souza Meira, autuado em 1852. 469 BRITO, Joo Rodrigues de. Cartas econmico-polticas sobre a agricultura e comrcio da Bahia. Introduo de Anna Amlia Vieira Nascimento e Notas de Gis Calmon. Reedio. Salvador: APEB, 1985.
Nesse cargo, o conde da Ponte dirigiu ofcio ao Senado da Cmara de Salvador, em 1807, indagando se havia alguma causa opressiva contra a lavoura e que indicasse os meios de evit-la; se a lavoura tinha progressivo aumento, e indicasse os motivos favorveis e contrrios; se o comrcio sofria algum vexame e se seria conveniente desoprimi-lo sem riscos; se os vexames de qualificao dos gneros de exportao e outras cautelas eram teis ou nocivas ao comrcio; se o lavrador, desobrigado desse vexame, e o comerciante, com a liberao de preos, promoveriam melhor os seus interesses. Para responder, o Senado da Cmara solicitou pareceres de Joo Rodrigues de Brito470, Manoel Ferreira da Cmara471 Jos Diogo Ferreira Castelo Branco e Joaquim Incio de Siqueira Bulco, reconhecidos pelos notrios saberes que, atravs de cartas responderam ao questionrio do conde governador. Recorrendo a postulados liberais de Montesquieu (1689-1755), Adam Smith (1723-1790), Pierre Samuel Dupont de Nemours (1739-1817), Jean-Baptiste Say (1767-1832), Leonard Simonde de Sismondi (1773-1842) e Jos da Silva Lisboa (1756-1835), o desembargador Rodrigues de Brito considerou que vrios fatores dificultavam o desenvolvimento da lavoura, classificandoos conforme os deveres para com a agricultura, que ele atribua ao governo: liberdades, facilidades e instrues. Brito ressaltou a falta de liberdade dos agricultores no emprego do trabalho e do capital pelos modos que julgassem mais convenientes, cultivando o que desejassem, fabricando o que lhes fosse possvel, comercializando o que produzissem, com quem melhor lhes pagassem, em qualquer tempo, onde quisessem, percorrendo os caminhos da sua convenincia, destacou as conseqncias da falta de facilidades para lavoura e comrcio, como estradas, pontes e barcas nos rios, navegao costeira e em rios como o So Francisco, uniformidade dos pesos e medidas; enfatizou a falta de instruo ou da difuso do conhecimento tcnico e cientfico.
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Rodrigues de Brito era natural de vora, formado em direito pela Universidade de Coimbra. Depois de ocupar o cargo de desembargador na Casa de Suplicao em Lisboa foi juiz do Tribunal de Apelao na Bahia e se elegeu deputado s Cortes Gerais e Constituintes da Nao Portuguesa, em 1821. ALMEIDA, Palmira Morais Rocha de. Dicionrio de Autores no Brasil Colonial. Lisboa: Colibri, 2003, p. 111. 471 Manoel Ferreira da Cmara Bettencourt e S (1762 1835), natural de Serro, MG, cursou as faculdades de Leis e Filosofia em Coimbra. Nomeado com Joaquim Pedro Fragoso de Sequeira e Jos Bonifcio de Andrade e Silva por Maria I, para desenvolver por meio de viagens literrias e exploraes filosficas os conhecimentos mais perfeitos da Mineralogia e mais partes da Filosofia e Histria Natural, percorreu vrios pases europeus. Ocupou o cargo de intendente-geral das minas de ouro e diamantes do Brasil, elegeu-se deputado Assemblia Geral Constituinte, de 1823 e senador por Minas Gerais em 1825. Publicou vrios estudos de economia, botnica e mineralogia ALMEIDA, Palmira Morais Rocha de. Op. cit., p. 359.
O intendente Cmara, senhor do engenho da Ponta, na ilha de Itaparica, utilizando conceitos de Say, defendeu a liberdade dos proprietrios e menos interveno do governo na economia. Essa interferncia seria responsvel por elevar os preos de alguns produtos nativos ao nvel dos custos da produo, exemplificando com os produtores de farinha de Nazar, cujos resultados dos investimentos e trabalho no pagavam o transporte do que fabricavam. A carga tributria e os rigores do controle da Mesa da Inspeo sobre o que se exportava agravariam a situao. Ferro Castelo Branco tambm enfatizou a opresso fiscal, preo dos fretes e o arbtrio da Mesa de Inspeo. O mesmo fez Siqueira Bulco, enfatizando a opresso lavoura, a carestia dos gneros de primeira necessidade e o abatimento de preo dos produtos que fariam a soma considervel dos rendimentos do Estado, a fortuna dos lavradores e a felicidade do comrcio. O porto de Salvador manteve-se, at meados do sculo XIX, como maior importador e distribuidor de escravos472, seguido pelos do Rio de Janeiro e de Recife. Equiparava-se com o da capital do Imprio no valor global das exportaes, depois de revogada, em 1827, a proibio de se instalar engenhos, que impulsionou a agroindstria canavieira do Recncavo e de todo o litoral da Amrica Portuguesa.
TABELA XXI DESPESAS PARA SE LIMPAR UM TERRENO DE MATA VIRGEM, COM 100 BRAAS EM QUADRA CAETIT 1856 VALOR SERVIO Derrubada Limpeza do terreno Covas da primeira plantao Limpeza dos mantimentos TOTAL (Em mil ris) 96$000 24$000 20$000 144$000 284$000
Tem-se uma referncia dos custos da produo agrcola, em meados do sculo XIX, atravs dos dados expostos nas tabelas XXI, XXII e XXIII, que indicam as despesas necessrias para se limpar 100 braas de terreno coberto de mata virgem onde se pudesse plantar e colher qualquer dos vegetais da
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cultura local, a colheita possvel com o cultivo de algumas espcies e preos de alguns fatores de produo, apresentados por Pedro Caetano da Costa, juiz municipal de Caetit, a pedido do presidente da Provncia da Bahia.
TABELA XXII PRODUO ESTIMADA DE UM TERRENO COM 100 BRAAS EM QUADRA, POR ESPCIE, QUANTIDADE EM ALQUEIRE E VALORES EM MIL RIS CAETIT 1856 QUANTIDADE ESPCIE Farinha Milho Feijo Arroz Caf (Alqueire) 200 200 48 200 600 VALOR (Mil ris) 900$000 200$000 400$000 400$000 280$000
TABELA XXIII PREOS DE ALGUNS FATORES DE PRODUO CAETIT 1856 PREOS INDICADORES Uma braa de terra (valor mdio) Diria de trabalhadores comum Diria de um oficial mecnico Sustento dirio do trabalhador Aluguel mensal mdio de uma casa nas povoaes Vesturio anual ordinrio de um trabalhador
FONTE: APEB. Colonial e Provincial. 2.286. Ofcio, 22 dez., 1856.
Na dcada de 1830, a cotonicultura regional estacionara ou regredira e, devido precariedade dos meios de transportes voltara, como no sculo XVIII, a escoar sua produo para Minas Gerais. No final desse sculo o algodo, principal produto do Alto Serto da Bahia, constitua-se na nica mercadoria baiana comercializada com a Inglaterra473. A pecuria tambm estagnara ou reflura, crescendo o nmero de criadores,
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GUIMARES, Emmanuel Ribeiro. Evoluo da economia baiana: algumas consideraes. Planejamento. Salvador, v. 5, n. 1, p. 31-46, jan./mar., 1977; ALMEIDA, Rmulo Barreto de. Traos da hist-
reduzindo em maior escala, o tamanho dos rebanhos, na proporo do fracionamento dos domnios fundirios com as sucesses de heranas das famlias numerosas e o cercamento das terras para a policultura cerealfera que se expandia. No entorno de 1860, os sertes da Bahia viveram a maior e mais extensa tragdia das secas e, por conseguinte, desabastecimento e mortes por inanio, cujos efeitos, somados aos da emigrao, reduziram metade as populaes de alguns municpios. Esses contingentes transferiram-se, em maior proporo, para o Sudeste Cafeeiro, que passou a absorver tambm sucessivos comboios de escravos474, desde o fim do trfico da frica. O impacto econmico foi incomensurvel, porque a catstrofe se estendeu para todas as provncias que hoje compem o Nordeste brasileiro475. A recuperao foi lenta, com freqentes estiagens prolongadas, emigraes permanentes e ausncia de polticas pblicas para enfrentamento dos fatores desses fenmenos.
ria econmica da Bahia no ltimo sculo e meio. Planejamento. Salvador, v. 5, n. 4, p. 19-54, out./dez., 1977, p. 23. 474 Sobre trfico interno de escravos ver: NEVES, E. F. Sampauleiros traficantes... . 475 Sobre a seca de 1857-1861, no Serto da Bahia, ver: NEVES, E. F. Uma comunidade sertaneja:... p. 193-201; NEVES, E. F. Sertanejos que se venderam... .
7 CONCLUSO: POSSE, RENDA E PROPRIEDADE A terra e o livre acesso a este meio de produo passaram a ser encarados por grupos sociais cada vez mais amplos como um modo de vida possvel, alternativo s mazelas do reajustamento neoliberal. Maria Yedda Linhares e Francisco Carlos Teixeira da Silva Terra Prometida
Este estudo da propriedade, posse e explorao da terra, fundamentando-se nos mtodos da histria agrria com perspectiva econmica e social investigou o mundo rural do Alto Serto da Bahia, compreendido como um espao socialmente construdo num tempo histrico, o da colonizao portuguesa e de consolidao do Estado Nacional no Brasil, pela ao de um grupo humano consciente da sua identidade scioambiental, desenvolvida atravs de vnculos de parentescos e de vizinhana, empreendendo economia, exercitando polticas, experimentando convvios sociais e praticando culturas, tudo em comum. Para se refletir sobre a histria agrria do Brasil ou de uma de suas regies h que se considerar os conflitos sociais pelo acesso terra, agravados na proporo em que se postergou a deciso poltica de se redefinir as bases da estrutura fundiria nacional, sem ignorar as peculiaridades regionais nem negligenciar com os meios de faz-la produtiva. Para se compreender esse processo deve-se conhecer o empreendimento colonizador do Novo Mundo a partir das circunstncias ibricas onde, entre os sculos XV e XVIII, o estamento social dominante de tradio feudal, ocupando-se com a gesto do aparelho de Estado no exerccio da centralizao monrquica, procurava conservar a ordem fundiria; e a classe social que emergia das atividades mercantis convertia tudo em mercadoria, inclusive terra. Aliadas nas circunstncias denominadas de Antigo Regime, as duas articulaes de poder executavam o projeto de enriquecimento nacional no jogo de vantagens comerciais. Empreendida nesse contexto, a colonizao do Novo Mundo resultou da necessidade de se produzir mercadorias para dinamizar o comrcio e potencializar a acumulao mercantil na Europa e da impossibilidade de se entabularem trocas com as populaes nativas nas propores que o intercmbio transcontinental demandava.
Adaptando-se o sistema portugus de distribuio de terras da transio feudal com a instituio do regime de capitanias hereditrias, forjou-se o arcabouo fundirio colonial, que associou o poder poltico titularidade da terra. Aps a Independncia do Brasil manteve-se essa articulao com a Lei Imperial n. 601/1850, pretendendo adaptar as tradies coloniais de explorao da terra e do trabalho aos padres definidos pela Revoluo Liberal, flexibilizando-se a propriedade rural. As origens comuns e a evoluo paralela dos pases da Amrica ibrica proporcionam amplas possibilidades de estudos comparados entre a colonizao portuguesa e a espanhola e as estruturas agrrias dos novos pases latino-americanos entre si. Nas duas colonizaes o domnio fundirio definiu o delineamento jurdico-poltico, com transferncias de instituies metropolitanas do Estado e da sociedade, preservando especificidades jurdicas de cada Estado Nacional ibrico. A ao colonizadora espanhola, encontrando organizaes sociais complexas, com evoludas tcnicas agrcolas e formas de explorao do trabalho nos Andes e na Amrica Central, se apropriou de prticas consuetudinrias nativas, que aos portugueses no foi possvel, restando-lhes incorporar valores culturais, principalmente nos falares e nos hbitos alimentares. Estabeleceu-se, pois, a estrutura produtiva da Amrica portuguesa, transferindose da metrpole, um regime de propriedade da terra que j se superava. O sistema administrativo vinculava-se ao domnio fundirio. E este definido pelas capitanias hereditrias e pelo estatuto de repartio de terras originrio de uma lei de 1375, j no correspondia ao estgio evolutivo do direito agrrio portugus. Esse superado sistema de sesmarias, institudo para as circunstncias ibricas do sculo XIV de pequenas propriedades, transposto para a colnia esboou, a partir do sculo XVI, uma estrutura fundiria de grandes propriedades, com a qual se concentrava tambm o poder. Instituiu-se a colonizao para se produzir mercadorias, com os senhores de terra exercendo os poderes locais, organizados em milcias paramilitares que agregavam em seus domnios toda a populao masculina, empregando mo-de-obra escrava transferida da frica. Desse modo, produzia-se valor com o trabalho do escravo, sendo ele prprio mercadoria, objeto de trfico intercontinental. Essa ordem scio-econmica articulou senhores e escravos com a economia de mercado que, maximizando a concentrao da renda colonial, facilitava sua transferncia para a metrpole, atravs do regime de monoplio comercial. No encadeamento desse processo, a distribuio de terras pelo estatuto das sesmarias, estimulou a expulso ou assimilao de populaes indgenas, numa continuao, na Amrica portuguesa, das guerras de conquista empreendidas con-
tra os rabes na Pennsula Ibrica, que se estendeu frica e sia, no processo conhecido como expanso martima. A disponibilidade de reas explorveis com abundncia e diversidade de recursos naturais possibilitou iniciativas pessoais de conquista e ocupao de territrios indgenas sem o controle do governo metropolitano nem de seus prepostos coloniais ou at com a complacncia de que deveria coibir essa prtica. Alguns senhores de terras ampliaram seus domnios e mantiveram a posse de reas que ocuparam, sem carta de concesso de sesmarias. Dentre os rgulos desse processo estacaram-se Francisco Garcia dvila e Antnio Guedes de Brito, pelas extenses das reas ocupadas. Considerandose que os povos nativos no abandonavam o seu territrio sem resistir ao avano do invasor, pode-se supor a magnitude dessa guerra pelos sertes. Guedes de Brito apropriou-se do Mdio So Francisco, desde o Centro-Norte da Bahia at o Centro-Sul do atual territrio de Minas Gerais e o transmitiu, hereditariamente, sem cartas de doao da maioria dessas terras. As descobertas de jazidas aurferas nas cabeceiras do rio das Velhas em Minas Gerais e do Itapicuru, de Contas e do Paramirim, na Bahia atraram populaes demandantes de reas para minerar e produzir a subsistncia. Esses aventureiros questionaram o direito de propriedade e posse das terras pelos herdeiros e sucessores de Antnio Guedes de Brito, alegando que eles no possuam ttulos de sesmarias e as exploravam apenas parcialmente. Essas circunstncias estimularam o povoamento dos territrios intermedirio das duas zonas mineradoras, iniciado com as fazendas pecuaristas de Guedes de Brito e seus arrendatrios, que fizeram desaparecer as populaes nativas em combate, fuga ou assimilao pela sociedade colonizadora. Herdeiros e sucessores de Antnio Guedes de Brito no puderam impedir a ocupao dos entornos da minas por arrendatrios e posseiros. A incidncia de conflitos pela posse da terra e o temor das revolues liberais peninsulares e seus reflexos no Brasil fizeram a sucessora Casa da Ponte transferir, em fins do sculo XVIII e incio do XIX, stios e fazendas para seus arrendatrios e outros interessados, decompondo aqueles seculares latifndios sertanejos. Nessa poca desmoronavam-se os imprios coloniais ibricos, estruturando-se os estados nacionais latino-americanos. O surgimento do mercado mundial repercutiu em toda a produo manufatureira ainda embrionria e a Inglaterra, como potncia naval, assumira o controle das fontes de matrias-primas e a hegemonia da economia-mundo, iniciando a Revoluo Industrial, cujo desenvolvimento dependeu de alguns fatores
bsicos, como a liberao do trabalho, da terra e de outros fatores de produo, desvinculando-os de instituies de origens feudais e o estabelecimento de redes de transportes e de comunicaes, de sistema jurdico compatvel com as novas relaes scioeconmicas, oferta de mo de obra qualificada e a expanso dos mercados internos e exteriores. Desses fatores ressalta-se a converso da terra em mercadoria, liberada de persistentes amarras como as jurisdies senhoriais e os vnculos, rompidos pela Revoluo Liberal iniciada na Frana na segunda metade do sculo XVIII. Na Pennsula Ibrica, em decorrncia de fatores especficos das sociedades portuguesa e espanhola, se resistiram s mudanas, at s dcadas de 1820 e 1830, desencadeadas no apogeu e colapso do imprio napolenico e fim dos imprios coloniais. Como estrutura de explorao econmica a colonizao portuguesa se conduziu de modo semelhante espanhola, diferenciando-se na organizao administrativa e definio dos poderes coloniais. A Espanha descentralizou a ordem jurdico-poltica desde o estreito de Magalhes ao de Bering, estabelecendo vrios vice-reinos; Portugal manteve o sistema de governo geral, transformando-o em vice-reino nico, embora estabelecesse, por algum tempo, o vice-reino do Gro-Par e Maranho, reincorporado ao do Brasil no incio de sculo XVIII. Essas circunstncias refletiram na ruptura da ordem colonial e formao dos estados nacionais. Os vice-reinos da Amrica espanhola fracionaram-se em repblicas de pequenas e mdias extenses geogrficas; a Amrica portuguesa manteve sua integridade territorial. Outros fatores como a transferncia temporria da sede do governo metropolitano de Salvador para o Rio de Janeiro, o regime monrquico mantido depois da ruptura dos vnculos coloniais, e at o sistema federativo republicano, institudo aps a consolidao do Estado Nacional, reforaram a herana de centralizao poltico-administrativa embasada nos poderes locais. Nas vsperas da emancipao poltica do Brasil, o prncipe regente, Pedro de Alcntara suspendeu a concesso de terras pelo regime de sesmarias, que somente se extinguiu com a Lei das Terras de 1850, que no trouxe outros resultados prticos, alm dos registros paroquiais, primeiro censo territorial realizado no pas; da instituio de uma Repartio Geral das Terras Pblicas, que passou a administrar as reas devolutas e todo o domnio do Estado; e da extino lenta e gradativa do trabalho escravo. A estrutura fundiria permaneceu inalterada, perpetuando a dinmica anterior de transmisso da propriedade e posse da terra, no proporcionando facilidades de acesso a ela pelos escravos que se emancipavam nem pelos imigrantes europeus que os substituram como
mo-de-obra agrria. Proprietrios, arrendatrios e posseiros se mantiveram nas mesmas condies jurdicas. As conseqncias da Lei das Terras foram mais teis para a interpretao histrica da sua conjuntura poltica que sua aplicao jurdica. Os registros paroquiais apresentam elevado ndice de posseiros, porque assim se denominavam os herdeiros de esplios partilhados judicialmente, mas no demarcados, um recurso usado para se evitar custos, que muito representavam numa economia de pouca circulao monetria. A prtica de herdeiros presentes ocupando as glebas que julgassem de seu direito, explorando eventualmente as parcelas dos que emigravam ocasionou freqentes conflitos entre vizinhos e parentes. As posses ilegais, resultantes de ocupaes ilcitas no tiveram grande expresso, embora fossem freqentes na segunda metade do sculo XVIII, porque a Casa da Ponte legalizou as irregularidades com arrendamentos e transferncias, oferecendo prazos de carncia, parcelando pagamentos e at concedendo pequenas doaes em casos de absoluta pobreza. A ocupao econmica do Alto Serto da Bahia desenvolveu-se, em grande parte, com ex-mineradores depauperados pela decadncia das minas, principalmente do rio de Contas, mas tambm, em menor escala e com maior poder aquisitivo, do rio das Velhas e do Serro Frio, que arrendaram pequenas glebas para produzirem a subsistncia e excedentes de pouca expresso comercial. Conseqentemente, a pequena propriedade tornou-se mais numerosa que os latifndios, embora destes emanassem os poderes locais. Os registros paroquiais de terras da dcada de 1850 indicam rpido parcelamento da propriedade fundiria, considerando-se as informaes do tombamento territorial da Casa da Ponte, de trs decnios antes, e dados de inventrios ps-morte do incio desse sculo e principalmente do anterior. Por outro lado, a emigrao, forada pelas secas peridicas, com fluxos de retirantes, sobretudo, para o Sudeste, onde expandia a cafeicultura, dinamizou a comercializao das terras, facilitando a concentrao da propriedade em latifndios descontnuos. Na segunda metade do sculo XIX, proprietrios como a viva Florinda de Barros Silva, o padre Manoel Jos Gonalves Fraga, os tenentes-coronis Bernardo de Brito Gondim e Heitor Soares de Castro, possuam fazendas e stios distantes uns dos outros, no mais as dezenas de grandes propriedades contguas e descontnuas como o capitomor Bento Garcia Leal, os tenentes-coronis Manoel Moreira da Trindade, Joaquim Pereira de Castro e Jos Antnio da Silva Castro, no final do sculo XVIII e incio do XIX.
As pequenas propriedades estabelecidas desde o incio do povoamento, sobretudo aps o declnio minerador de finais do sculo XVIII, superaram numericamente as grandes, com predomnio da policultura agrcola, que crescia enquanto a pecuria declinava. Apenas nos baixios do So Francisco se mantiveram as grandes fazendas, perfil regional que no se modificou nos cursos dos sculos XIX e XX. Enquanto sucesses de heranas das famlias numerosas fracionavam, a dinmica comercial recompunha latifndios, mantendo o predomnio numrico da pequena e mdia propriedades. Na formao histrica do Brasil, embora o acesso da terra fosse parcela fundamental na constituio de um patrimnio individual ou familiar, somente ela no asseguraria prestgio social nem poder econmico; importava mais o seu aspecto de principal meio de produo da economia agrria, tanto na litornea que priorizava o comrcio exterior, como na sertaneja mais dirigida para o mercado interno. A propriedade da terra se constitui fator de poder na interao com o controle da fora de trabalho, circunstncia no modificada pelas transies liberais.
REFERNCIAS a) Manuscritos ACCCP. Caixa 19 - SG-88-06-0. Traslado dos testamentos de Dona Joana da Silva Guedes de Brito, Antnio de Brito Correia e sua mulher Maria Guedes e do mestre-decampo Antnio Guedes de Brito. ACCCP. Caixa 19 - SG-88-06.0. Traslado sem data [sc. XVII], de verbas testamentais de Antnio de Brito Correia e sua mulher Maria Guedes. ACCCP. Caixa 19 - SG-88-3. Dispensa apostlica, abr. 1771. Concedida a Manoel de Saldanha e Francisca da Cmara para contrarem matrimnio por serem parentes em segundo e terceiro graus. ACCCP. Mao C. Cpia de carta rgia, 26 jul. 1809. ACCCP. Mao C. Terras do conde da Ponte. Documento assinado pelo conde e condessa da Ponte. Cidade do Salvador Bahia de todos os Santos, 4 ago. 1806. ACCCP. Mao C. Certido de Avaliao do escrivo da Vila de Chamusca e Ulme, 18 jul. 1810. ACCCP. Mao C. Cpia de Carta Rgia, 25 set. 1765. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 16, doc. 1.407. Requerimento de Isabel Guedes de Brito a D. Joo V, sem data, com despacho, 19 jan. 1723. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 213, doc. 15.016. Memria sobre a viagem ao terreno nitroso de Montes Altos [de Jos de S Bitancourt e Accioli]. Anexo ao ofcio (cpia) do bacharel formado em Filosofia, Jos de S Bitancourt e Accioli ao [secretrio de estado de Marinha e Ultramar] D. Rodrigo de Souza Coutinho sobre aos meios econmicos para a extraco do salitre de Montes Altos. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 42, doc. 3.789. Escrito de concerto anexo a requerimento de Francisco S Peixoto, anterior a 5 jul. 1732. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 54, doc. 4.721. Certido do tabelio e escrivo de Jacobina, Jos da Cunha da Vide, 6 mar. 1729. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Cpia de carta rgia, 16 jun. 1732, anexa ao parecer do Conselho Ultramarino sobre requerimento de Joana da Silva Guedes de Brito, 17 mar. 1736. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Cpia de edital do vice-rei do Brasil, 5 fev. 1737, anexo ao parecer do Conselho Ultramarino sobre requerimento de Joana da Silva Guedes de Brito, 17 mar. 1736. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Cpia de ordem rgia, 12 dez. 1736, anexa ao parecer do Conselho Ultramarino sobre requerimento de Joana da Silva Guedes de Brito, 17 mar. 1736. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Descrio do domnio fundirio de Jacobina, anexa ao parecer do Conselho Ultramarino sobre requerimento de Joana da Silva Guedes de Brito, 17 mar. 1736. AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 54, doc. 4.723. Parecer, 29 mai. 1739, anexo consulta do Conselho Ultramarino ao rei, sobre pedido de Joo Dias.
AHU_ACL_CU_005_Baa. Cx. 85, doc. 16.612-1614. Ofcio, 11 abr. 1796. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 24. Carta de Bernardo Pereira Guimares, Vila Real, 20 jun. 1719, a D. Joo V. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 24. Cpia de ordem rgia, 21 jan. 1718, anexa carta do ouvidor-geral de Rio das Velha, 20 jun. 1719. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 51. Declarao em forma de Proviso, de Pedro de Almeida e Portugal, Vila do Carmo, 3 mar. 1720. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 2, doc. 62. Requerimento de Isabel Maria Guedes de Brito, a D. Joo V, anterior a 1720, que tramitou no Conselho Ultramarino, 10 mai. 1720. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 5, doc. 41. Requerimento de Isabel Maria Guedes de Brito a D. Joo V, anterior a 1724, anexa cpia de ordem rgia, 5 mai. 1723 e parecer do governador de Minas Gerais, 8 ago. 1724. AHU_Con_Ultra_Brasil/MG. Cx. 5, doc. 47. Sumrio de informao. Auto de inquirio de testemunhas pelo corregedor e ouvidor geral da Comarca do Rio das Velhas, 11 ago. 1724. AHU-ACL-CU-005-Baa. Cx. 11, doc. 553. 1894-1897. Planta n. 978. Planta chorogrfica da estrada que principiando em 16 graos e 25 minutos de latitud para o sul, e em 339 graos e 46 minutos de longitud, vem finalizar no Porto de Felis, defronte da Villa da Cachoeira do Rio Paraguau, com 146 legoas de comprimento. Anexa ao Officio do Intendente Geral do Ouro, Wenceslau da Silva, para Sebastio Jos de Carvalho acerca das exploraes do Salitre por Manoel Dias Mascarenhas. H uma cpia fac-smile no APEB. AMRC. Inventrios. X. 11, E. 01, P. 02. Inventrio de Anglica Maria de Jesus, autuado em 1752, com o pr-nome de ngela. AMRC. Tabelionato. Livro de Notas n. 6, 1738-1742, f. 113. AMRC. Tabelionato. Livro de Notas n. 9, 1747-1751. AMRC. Tabelionato. Livros de Notas do Tabelio Nicolau de Souza Costa, 1795. AN. Fundo Diversos. (SDH), cd. BX, seo SDE. Cdice 155, F. 34. Livro 6, fl 474. Sinopse das sesmarias registradas no Arquivo da Tesouraria da Fazenda da Bahia, 15341822. Transcrita do livro 6 de provedores reais. APEB. Colonial e Provincial. 966. f. 109. Atos do Governo da Provncia (1848-1852). APEB. Colonial e Provincial. 2.284. Correspondncias de Juizes (1827-1847). Caetit. APEB. Colonial e Provincial. 2.286. Correspondncias de Juizes (1845-1862). Caetit. APEB. Colonial e Provincial. 2.289. Correspondncias de Juizes (1870-1876). Caetit. APEB. Colonial e Provincial. 4.638. Tombamento dos Prdios situados no Certo do Rio de So Francisco, Termo da Villa de Santo Antnio do Urubu, que pertencem Casa do Ilmo. e Exmo. Senhor Conde da Ponte. Elaborado pelo procurador e administrador Pedro Francisco de Castro, em 1819. APEB. Colonial e Provincial. 4.678. Registro de terras da freguesia de Santa Anna de Caetit (1854-1859). Vigrio Polycarpo de Brito Gondim.
APEB. Colonial e Provincial. 4.732. Registro de terras da freguesia de Nossa Senhora da Conceio de Macabas (1857-1859). Vigrio Fernando Augusto Leo. APEB. Colonial e Provincial. 4.753. Registro de terras da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo (1857-1859). Vigrio Sebastio Dias Laranjeira. APEB, Colonial e Provincial, 4.792. Registro de terras da freguesia de So Joo do Paraguau (1854-1864). APEB. Colonial e Provincial. 4.786. Registro de terras da freguesia de Nossa Senhora Me de Deus e dos Homens de Monte Alto (1855-1860). Vigrio Jos Alexandre da Silva Leo. APEB. Colonial e Provincial. 4.824. Registro de terras da freguesia de Santo Antnio do Urubu. (1863). Registro nico, sem assinatura do vigrio. APEB. Colonial e Provincial. 4.788. Registro de terras da freguesia de Nossa Senhora do Rosrio do Gentio (1855-1858). Vigrio Serfico Francisco de Campos. APEB. Colonial e Provincial. 4.789. Registro de terras da freguesia de Nossa Senhora do Rosrio do Gentio (1858-1859). Vigrio Pedro Orlando Jatob. APEB. Colonial e Provincial. 4.798. Registro de terras da freguesia do Santssimo Sacramento de Santo Antnio da Barra (1857-1858). Vigrio Antnio Maria de Jesus e Souza. APEB. Colonial e Provincial. 4.799. Registro de terras da freguesia do Santssimo Sacramento de Santo Antnio da Barra (1858-1860). Vigrio Belarmino Silvestre Torres. APEB. Judicirio. E-92. C-15. D-3, classificao provisria. Demarcao judiciria das terras de Boa Sorte, Juzo de Direito de Caetit, 1943. APEB. Judicirio. 01.0089.1027.01. Inventrio Joo de Saldanha da Gama, sexto conde da Ponte, autuado em 1832, com testamento de 22 mai. 1809. APEB. Judicirio. 02.0557.1006.02. Inventrio de Domingos Gomes de Azevedo, autuado em 1833. APEB. Judicirio. 02.0569.1021.03. Inventrio de Joana Xavier da Silva, autuado em 1839. APEB. Judicirio. 02.0570.1022.11. Inventrio de Lus Ribeiro de Magalhes e Silva, autuado em 1824. APEB. Judicirio. 02.0589.1041.14. Inventrio de Nazria Borges de Carvalho, autuado em 1823. APEB. Judicirio. 02.0871.1340.22. Inventrio de Joo Caetano da Silva Pereira, autuado em 1867. APEB. Judicirio. 02.0883.1352.14. Inventrio de Antnio Pinheiro de Azevedo, autuado em 1876. APEB. Judicirio. 08.0336.04. f. 9. Ao de demarcao e medio da fazenda Santo Antnio. Juzo de Direito de Caetit, 1904. APEB. Judicirio. 08.0337.04. Ao de Diviso e Demarcao das fazendas Tamandu e Gameleira. Juzo de Direito de Caetit, 1918. APEB. Judicirio. 08.0337.04. Ao de diviso e demarcao. Juzo de Direito de Caetit, 1918.
APEB. Judicirio. 08.0637.05. Ao de diviso e demarcao dos limites de Tamandu e Carabas. Juzo de Direito de Caetit, 1918. APEB. Judicirio. 45.1613.8336.04. Ao de Demarcao e Medio da Fazenda Santo Antnio. Juzo de Direito de Caetit, 12 ago. 1904. APEB. Judicirio. 58.2069.2362.01. Ao Finium Regundorum e Ao de Libelo Cvel. Juzo de Paz de Canabrava e Bonito, 1844; Aes de embargo de limites das fazendas Santo Antnio e Caldeiro. Juzo Municipal de Caetit, 1845 (faltando as 122 pginas iniciais). APEB. Judicirio. 72.2576.14. Ao de Apelao ao Tribunal da Relao dos Embargos dos limites de Caldeiro e Santo Antnio, 1851. APEB. Judicirio. 74.2642.23. Carta de Inquirio do Juiz da Ouvidoria Geral e Correio da Comarca de Jacobina ao Juiz Ordinrio da Vila Nova do Prncipe de Santa Ana de Caetit, para instruir a Ao de Libelo Cvel, sobre limites de Piripiri e Vargens, 4 dez. 1822. APEB. Judicirio. SRJ/25/1. (1813-1814). Escrivo Pedro da Silva Pimentel. APEB. Judicirio. SRJ/25/2. (1819-1622). Escrivo Nicolau de Souza Costa. APEB. Judicirio. SRJ/25/10. (1843-1845). Escrivo Brs de Souza Barrem. APEB. Judicirio. SRJ/25/11. (1845-1848). Escrivo Brs de Souza Barrem. APEB. Judicirio. SRJ/25/12. (1848-1853). Escrivo Brs de Souza Barrem. APEB. Judicirio. SRJ/25/13. (1851-1856). Escrivo Brs de Souza Barrem. APEB. Judicirio. SRJ/25/14. (1853-1856). Escrivo Brs de Souza Barrem. APEB. Judicirio. SRJ/25/15. (1856-1858). Escrivo Brs de Souza Barrem. APEB. Judicirio. SRJ/25/16. (1856-1860). Escrivo Manoel Joaquim de Carvalho. APEB. Judicirio. SRJ/25/17. (1856-1874). Escrivo de Paz Joo Gualberto Professor e outros, do Distrito de Canabrava e Bonito. APEB. Judicirio. SRJ/25/18. (1859-1861). Escrivo Brs de Souza Barrem e outros. APEB. Judicirio. SRJ/25/19. (1860-1886). Escrivo de Paz Jos Bernardino da Rocha, de Santo Antnio da Barra. APEB. Judicirio. SRJ/25/2. (1819-1822). Escrivo Nicolau de Souza Costa. APEB. Judicirio. SRJ/25/20. (1861-1864). Escrivo Antnio Marciano de Magalhes. APEB. Judicirio. SRJ/25/21. (1862-1864). Escrivo Bernardino da Silva Maia. APEB. Judicirio. SRJ/25/22. (1864-1867). Escrivo Antnio Marciano de Magalhes. APEB. Judicirio. SRJ/25/23. (1867-1871). Escrivo Antnio Marciano de Magalhes. APEB. Judicirio. SRJ/25/24. (1871-1874). Escrivo Antnio Marciano de Magalhes. APEB. Judicirio. SRJ/25/25. (1874-1876). Escrivo de Francisco da Silva Pose, do Distrito de Canabrava e Bonito. APEB. Judicirio. SRJ/25/26. (1874-1877). Escrivo Sabino Vieira da Costa. APEB. Judicirio. SRJ/25/27. (1875-1877). Escrivo Domingos Francisco de Almeida.
APEB. Judicirio. SRJ/25/28. (1876-1878). Escrivo de Francisco da Silva Pose, do Distrito de Canabrava e Bonito. APEB. Judicirio. SRJ/25/29. (1876-1879). Escrivo de Francisco da Silva Pose, do Distrito de Canabrava e Bonito. APEB. Judicirio. SRJ/25/3. (1827-1835). Escrivo Domingos Constantino da Silva. APEB. Judicirio. SRJ/25/30. (1877-1881). Escrivo Domingos Francisco de Almeida. APEB. Judicirio. SRJ/25/32. (1874-1876). Escrivo de Paz Francisco da Silva Pose, do Distrito de Canabrava e Bonito. APEB. Judicirio. SRJ/25/33. (1880-1884). Escrivo de Paz Francisco da Silva Pose, do Distrito de Canabrava e Bonito. APEB. Judicirio. SRJ/25/34. (1880-1884). Escrivo de Paz Francisco da Silva Pose, do Distrito de Canabrava e Bonito. APEB. Judicirio. SRJ/25/35. (1881-1887). Escrivo Domingos Francisco de Almeida e outros. APEB. Judicirio. SRJ/25/36. (1884-1885). Escrivo de Paz Francisco da Silva Pose, do Distrito de Canabrava e Bonito. APEB. Judicirio. SRJ/25/37. (1886-1890). Escrivo Francisco da Silva Pose. APEB. Judicirio. SRJ/25/38. (1886-1890). Escrivo Francisco da Silva Pose. APEB. Judicirio. SRJ/25/39. (1888-1892). Escrivo Glicrio Jos de Borba. APEB. Judicirio. SRJ/25/4. (1830-1833). Escrivo Manoel Joaquim da Silva Pose e outros. APEB. Judicirio. SRJ/25/5. (1835-1836). Escrivo Inocncio Soares de Aguiar Montalvo. APEB. Judicirio. SRJ/25/6. (1837-1840). Escrivo Brs de Souza Barrem. APEB. Judicirio. SRJ/25/7. (1838-1842). Escrivo Atansio de Souza Barrem e outros. APEB. Judicirio. SRJ/25/8. (1838-1843). Escrivo Jos Antnio de Oliveira. APEB. Judicirio. SRJ/25/9. (1840-1843). Escrivo Brs de Souza Barrem. APMC. Auto de Creao da Villa e Termo de quando se Levantou o Pelourinho. Atas da Cmara Municipal de Caetit. Livro n. 1, p. 1 e seguintes. b) Textos inditos ACCIOLI, Jos de S Bitancourt e Accioli. Memria sobre a viagem do terreno nitrozo, 104 p. [Lisboa, 1799]. OLIVEIRA, Jos Carlos de. Os Fagundes de Oliveira, 130 p. [Salvador, 2003]. ROCHA, Aurlio Justiniano. Histria do municpio de Paramirim, 13 p. [Paramirim, 197-]. SILVA, Bruno Freire. Antecipao da tutela em demanda possessria de fora velha, 10 p. [2001].
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APNDICE: TITULARIDADE E EXPLORAO DA TERRA So nestas paragens as propriedades territoriais, no geral, indivisas, razo por que no alcanam os melhores preos. S por exceo, e quando demarcada e beneficiada, uma lgua quadrada de boas terras alcana o preo de 50:000$000. No comum, porm, no vale seno de 1:200$000 no mnimo, e 3:000$000 para 4:000$000 no mximo. Teodoro Sampaio (1855-1937) O Rio So Francisco e a Chapada Diamantina Alecrim Stio hoje em Igapor, limitado por Mocambo, Tanque, Catinga, Conceio, Rocinha e Boca da Catinga, declarado no registro de terras da freguesia de Santana de Caetit (1854-1859), por: Clemente Rodrigues da Silva (Boa Esperana); Emdio Jos da Silva Rego (Boca da Caatinga); Francisco Manoel da Silva; Maria Efignia do Rosrio; Maurcio Correia da Silva; Salustiano Cardoso Pereira (Boa Esperana); e Severiano Correia da Silva. Em 1879, Rufino Jos das Neves e sua mulher Ana Joaquina de Azevedo constituram o advogado Teodoro Embiruu Piaava Rego para defender em juzo sua posse, perturbada por Manoel Hilrio da Silva e sua mulher476. A viva Helena Constana de Jesus inventariou em 1869, no esplio de Joaquim Rodrigues da Silva Pereira477: Boa Esperana com cafezais, casa e benfeitorias, por um conto e 600 mil ris; glebas em Cedro, 200 mil ris; Caxing, 100 mil ris; Brejinho, 100 mil ris; Conceio, 46 mil ris; Romo, dois mil e 500 ris; Ba, da fazenda Carnabas de Dentro, com duas partes de Tanque, casas, senzalas, plantaes de caf e outras benfeitorias, por trs contos de ris; e mais12 escravos, 25 rezes, quatro bois mansos uma mula e um engenho. Alegre Fazenda para a qual se transferiu o povoado formado na vizinha Caetit Velho, onde se instalou, em 1754, a freguesia de Santa Ana de Caetit. Em 1773, no esp-
NOTA: Os inventrios citados nos rodaps no foram citados nas referncias por serem numerosos. Para se evitar repeties exaustivas no foram citados nos rodaps as terras da Casa da Ponte e as fazendas e stios indicados no roteiro de Quaresma Delgado. 476 APEB. Judicirio, SRJ/25/32, f. 9 v. Procurao, 20 dez., 1879. 477 APEB. Judicirio, 03.1210.1679.17.
lio de Francisco de Brito Gondim478, inventariaram: casa coberta de telhas, roda de ralar mandioca, prensas e senzalas, tambm cobertas de telhas, por 113 mil ris; dois cavalos, 24 mil ris; 32 guas e poldras, 156 mil ris; 70 rezes, 182 mil ris. A viva Custdia Maria do Sacramento no informou propriedade de terra, seria, portanto, rendeira de Joana da Silva Guedes de Brito e Manoel de Saldanha da Gama. Em 1829, inventariouse uma frao de Alegre, com os bens de Florncia Maria das Virgens, viva de Manoel Alves de Miranda e Amaral, dividido conforme seu testamento de 1825479. O alferes Francisco Jos do Nascimento Soriano inventariou, em 1839, no esplio da sua mulher Rosa Maria da Silva480, o stio Lamaro e uma gleba comprara em 1821, por 200 mil ris, de Florncia Maria das Virgens481. O comandante superior, Joo Caetano Xavier da Silva Pereira e sua mulher Maria Vitria Pereira Castro, doaram o stio Montes, da fazenda Alegre, em 1840, para Herculana Mariana da Frota Duque, Maria de Jesus e a menor Umbelina, filhas de Manoel Jos da Cunha e Isidora Rosa da Frota482. No registro de terras da freguesia de Santa Ana de Caetit, em 1854/1859, a empresa Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso informou a propriedade de um stio do outro lado do rio do Alegre, entre Montes, de Isidora da Frota e Lameiro, de Florinda de Barros Silva. Antnio da Silveira Machado e sua mulher Maria de Jesus Frota venderam, em 1866, por 440 mil ris, uma gleba de Montes para Antnio Pinheiro de Azevedo. Na mesma ocasio Hermelino da Frota Duque vendeu, por 440 mil ris, uma frao que herdara e outra doada sua mulher Hermelina da Cunha Frota, tambm para Antnio Pinheiro de Azevedo483. Em 1868, Antnio Pinheiro de Azevedo e sua mulher Umbelina de Santana da Frota venderam sua parte, por um conto de ris, para Antnio Francisco Alves484. Quatro dias depois, Antnio Francisco Alves e sua mulher Ana Francisca de Jesus Soares transferiram essas terras pelo mesmo valor da compra, para Tibrio Pinheiro de Azevedo485. Tibrcio Pinheiro de Azevedo e sua mulher Flora Herculana Pinheiro de Azevedo venderam uma gleba, em 1871, por um conto e 200 mil ris, para Marcelino Jos Barbosa486.
478 479
APEB. Judicirio, 02.0532.0878.06. APEB. Judicirio, 02.0580.1032.15. 480 APEB. Judicirio, 02.0570.1005.09. 481 APEB. Judicirio, SRJ/25/2, f. 127 v. Escritura pblica, 25 ago., 1821. 482 APEB. Judicirio, SRJ/25/20, f. 101. Escritura pblica de doao, 28 nov., 1840. 483 APEB. Judicirio, SRJ/25/22, f. 155. Escrituras pblicas, 3 nov., 1866. 484 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 156 v. Escritura pblica, 4 jul., 1868. 485 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 157. Escritura pblica, 8 jul., 1868. 486 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 261. Escritura pblica, 1 mai., 1871.
O capito Antnio Francisco de Oliveira Borges e sua mulher Balbina Francisca de Medeiros Borges que herdaram do pai e sogro e este comprara de Belchior Xavier da Silva , venderam o stio Gamb, em 1877, na margem direita do crrego do Alegre, para Alexandre Pinto Monte Negro487. Rita Zama, viva de Antnio Jos do Nascimento Soriano e do mdico italiano Csar Zama, residente em Lenis, vendeu Lamaro, em 1858, para Ana Maria dos Santos, por 500 mil ris488. O coronel Antnio de Souza Espnola e sua mulher venderam uma parcela do stio Jatob, por quatro contos de ris, em 1861, para Porfrio de Brito Gondim489. Em 1866, o vivo Pacfico Jos de Lima e os sete filhos menores inventariaram e partilharam o esplio de Maria Soriano de Lima490, com o stio Lamaro, por 600 mil ris; quatro escravos, trs contos e 400 mil ris; 10 rezes, 160 mil ris; e um cavalo velho, 30 mil ris. Em 1871 o Dr. Manoel Jos Gonalves Fraga e sua mulher Maria Amlia de Faria Fraga venderam outra parte do stio Jatob, que compraram de Jos Pinheiro de Azevedo Brito, por um conto de ris, para Rosa Inelcina Lima, com quatro chcaras muradas e uma casa em frente491. Em 1877 o capito Porfrio de Brito Gondim e sua mulher Emerenciana Maria de Brito Gondim venderam, por 300 mil ris, uma gleba de Jatob, para o alferes Cndido Pereira Guedes492. Almas Fazenda na qual se formou a povoao de mesmo nome, origem do distrito de Boa Viagem e Almas, atual Jacaraci.493 No registro de terras da freguesia do Gentio, de 1855-1858, informaram propriedades em comum: Joaquim Jos de Souza (compra de Francisca Ferreira Pardinha), Lus Ribeiro da Silva Pacheco (herana do sogro Domingos Garcia Leal), Vitorino de Matos Carvalho (trs partes compradas de Hermenegildo Manoel Ferreira e Ana Apolnia). Aras Fazenda limitada com Morrinhos, Campo Grande e Coqueiro declarada, em 1857, no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, por vrios herdeiros e compradores em comum, entre os quais, Antnio Joaquim Torres (um quarto de lgua de comprimento e outro de largura, que comprara), Gonalo Antnio de Avelar (herana do sogro Jos Pedro de Souza), Joaquim Francisco de Oliveira (compra), Jos Pereira de
487 488
APEB. Judicirio, SRJ/25/30, f. 6. Escritura pblica, 7 nov., 1877. APEB. Judicirio, SRJ/25/15, f. 149. Escritura pblica, 4 jun., 1858. 489 APEB. Judicirio, SRJ/25/20, f. 12. Escritura pblica, 10 jul., 1861. 490 APEB. Judicirio, 03.1224.1694.05. 491 APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 22 v. Escritura pblica, 2 set., 1871. 492 APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 325 v. Escritura pblica, 15 mar., 1877. 493 Sobre Jacaraci, ver: SOUZA, Josefina Cndida de. sombra da Santa Cruz. Traos biogrficos do coronel Gasparino David de Souza. Jacaraci, [s. c.], 1926.
Souza (compra), Jos Rodrigues de Oliveira (compra), Maria Rosa de Jesus (compras de Bernardo Ferreira de Carvalho e Toms Jos da Costa, procurador da Casa da Ponte), Timteo da Costa (herana do pai Joaquim da Costa). Aras Stio hoje em Ibiassuc, partilhado em 1856, no esplio de Clemente Jos Ribeiro Guimares494, por dois contos de ris, com uma casa e legado em testamento aos filhos Clemente Jos Ribeiro Guimares Jnior e Adrio Dizo Ribeiro Guimares; juntamente com uma frao da fazenda Campo Largo, com chcara e outras benfeitorias, por trs contos e 200 mil ris; glebas nas fazendas Boa Vista e Jacar, 339 mil ris; nas quais criava muito gado vacum, cavalar e muar, alguns ovinos e sunos. Declarado no registro de terras da freguesa do Gentio de 1855-1858, por Lucas Pinheiro Pinto, que comprara de Joaquim Pinheiro Cotrim. Em 1869 Adrio Dizo Ribeiro Guimares vendeu sua parcela por 400 mil ris, para Antnio Pinheiro de Azevedo495, em cujo esplio se inventariou em 1876. Araras Stio nos atuais limites de Igapor e Macabas, limitando-se com Mocambo de Vitorino Xavier do Rego; Carabas, no Poo do Mund; Cambait e Cachoeira. Media uma lgua e um quarto de comprimento e meia lgua de largura, quando foi arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Jos Pereira Marinho, Jos Soares Pinto e Desidrio Pereira Marinho, por 10 tostes anuais. No tombamento fundirio da Casa da Ponte, em 1819, se lhe atribuiu o valor de 100 mil ris. Azevedo Fazenda entre Faca, Salto, So Domingos e Cacul, na atual jurisdio de Licnio de Almeida, da qual inventariaram, em 1853, no esplio de Manoel Joo Soares Barbalho496, uma gleba com uma casa de 14 portas e cinco janelas, outra em Vereda do Morro, com duas portas, dois milheiros de telhas, um engenho, uma roda e uma prensa de fazer farinha e currais, por 226 mil ris; uma gleba de Salto, 65 mil ris; oito escravos, trs mil e 50 ris; 30 rezes, 300 mil ris, quatro guas e uma poldra, 110 mil ris; seis poldros e cavalos, 200 mil ris; uma mulinha pre, 55 mil ris; um burrinho crioulo, 45 mil ris; quatro bestas cargueiras, 200 mil ris; uma roa de mandioca, em terreno de meia quarta, 60 mil ris. No registro de terras da freguesia do Gentio, de 18551858, declararam-se proprietrios os herdeiros: Antnio Jos Muniz, Manoel Joo Soares, Matias Soares Barbalho e vrios compradores de glebas em comum.
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APEB. Judicirio, 02.0577.1029.05. APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 138. Escritura pblica, 24 jul., 1869. 496 APEB. Judicirio, 03.1222.1691.14.
Bairro Alto Stio no Rio Verde (Pequeno), arrendado pela Casa da Ponte em 1807, para Jos Vieira, por 500 ris anuais, extremando com Julio Rodrigues Moo e Antnio Freitas da Silva, avaliado no tombamento da Casa da Ponte, em 1819, por 20 mil ris, sendo vendido para Teodoro Gonalves Siqueira. Baixa Fazenda no atual distrito de Caldeiras, partilhada em 1840, pelo vivo Clemente Marques de Jesus e filhos, com o esplio de Ana Maria de Jesus497, tendo casas e gado, por sete contos 230 mil ris; e mais Santa Cruz, 500 mil ris; glebas de Santo Antnio, Noruega, e Lameiro; 39 escravos, 35 guas, 13 cavalos, um boi caracu e outro aru, alguns porcos, um roado, uma roa de mandioca de dois anos e outra de um ano. Bamburral Redondo Stio com um quarto de lgua de comprimento e meia lgua de largura, arrendado pela Casa da Ponte, por 600 ris anuais, em 1807, para Jos Cardoso de Almeida, limitando com Arroz, de Joo da Silva; Santa Rita, de Jos Gomes Leito; Santana, de Teresa de Souza; e Santo Antnio, de Joaquim de Santa Ana. No Tombamento fundirio da Casa da Ponte, em 1819, avaliaram-no por 40 mil ris. Baranas Fazenda no atual distrito de Suuarana, em Tanhau, com meia lgua de comprimento e duas lguas de largura, na beira de rio, declarada no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1858, por: Antnio Freire da Fonseca (em comum, compras de Manoel Teodoro), Benedito Bonifcio da Silva (compra de Jos Joaquim dos Santos Mendes), Faustino da Rocha (compra de Jos Mendes), Joaquim Manoel (em comum, compra de Manoel do Bomfim), Jos Pires de Oliveira (em comum, compra de Francisco Jos Rodrigues), Jos Vicente dos Santos, (em comum, compra de Jos Joaquim dos Santos Mendes), Manoel Teodoro da Silva (em comum, compra de Antnio Jos Teixeira), Maria Bernardina da Rocha (em comum, herana do pai Antnio da Rocha Pinto). Barra da Varginha Fazenda em Duas Barras, atual Urandi, vendida por Manoel Soares Barbalho para Serafim Pereira da Rocha, em cujo esplio se inventariou, em 1852, por 700 mil ris, com uma casa, mesa, trs bancos e trs catres; seis posses na fazenda Riacho do Cedro, compradas de Joo Nunes de Cerqueira, Joaquim Nunes de Cerqueira, Antnio Soares Barbalho, Isidoro Jos de Santana, Vitria Soares da Silva e Marcelino Jos de Vasconcelos, todas por 680 mil ris. A viva Geralda Nunes da Rocha partilhou
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com os 12 filhos e genros: oito escravos, avaliados por trs contos e 70 mil ris; 25 vacas, das quais 20 paridas por 290 mil ris; 22 garrotes e novilhas, 143 mil ris; quatro bois mansos, 60 mil ris; sete cavalos, 182 mil ris; trs guas, 45 mil ris; um poldro e uma poldra, 18 mil ris; uma mula, 60 mil ris; um jumento, 50 mil ris; 12 ovelhas, trs mil e 800 ris; quatro cargas de algodo, 60 mil ris; dinheiro de papel, 122 mil e 640 ris; ouro e prata 225 mil e 800 ris; mveis e utenslios, 234 mil 520 ris; dotes de duas filhas, 630 mil e 600 ris. Barra do Murici Stio na atual jurisdio de Urandi, com um quarto de lgua de comprimento e meia lgua de largura, entre a Primeira Passagem de Feliciano Jos Jorge, P do Morro e riacho Murici, arrendado pela Casa da Ponte, em 1820, para Antnio Rodrigues de Souza. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 82 mil ris. Barreiros Stio com meia lgua de comprimento e outra meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por 10 tostes anuais, para Julio Ribeiro Mono, limitando com Passagem da Barra, rio Verde (Pequeno), estremas de Jos Gonalves, Santana e Boa Vista, Antnio Alves Martins. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 48 mil ris, sendo vendido para Teodomiro Gonalves de Siqueira. Barrinha Fazenda com trs lguas de comprimento e duas de largura, no encontro dos rios Verde Grande e Verde Pequeno, estendendo-se pelas duas margens do Verde Grande, arrendada pela Casa da Ponte, em 1807, por vinte mil ris, para Jos Ferreira Peixoto e, de presente, alugada para Isabel Correia do Amaral. Extremava-se com Umburanas, na passagem do rio Verde Pequeno; Morrinhos, ocupada por Joo de Arajo Moreira; Boca da Catinga, na beira do Rio Verde Grande; Mocambo, do capito Simo Moreira; Curral Velho das Queimadas; serra da Malhada; Pau Preto, na passagem do rio Verde Pequeno. No tombamento de 1819 avaliaram-na por 600 mil ris. Barro Vermelho Fazenda das nascentes do rio das Rs, arrendada na segunda metade do sculo XVIII, para Francisco Martins Abreu, cujos bens se inventariou com Gentio, em 1786, no esplio da mulher Leonor Maria do Sacramento. O conde e a condessa da Ponte venderam, em 1807, atravs do procurador Joaquim Pereira de Castro, uma sorte de terras denominada Conceio, nas nascentes do rio das Rs, por 80 mil ris, para o capito Jos Botelho de Andrade498. Nos registros de terras da freguesia do Gentio, de 1855-1858 e 1858-1859, declararam parcelas de Barro Vermelho, em comum: Antnio
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AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 23, f. 78. Escritura pblica, 17 dez., 1807.
Pereira do Nascimento (compra de Leolino Xavier de Carvalho), Joaquim Gonalves (compra de Joo Xavier de Carvalho), Ladislau Antnio de Almeida (heranas). Avaliaram uma parcela de Conceio, em 1870, com os bens de Francisco Fialho de Carvalho499, por 150 mil ris; uma gleba de Stio, 100 mil ris; de Boa Vista, 20 mil ris; e de Riacho Seco, 10 mil ris. Arrolaram, tambm, 50 rezes, por 800 mil ris e oito escravos, seis mil e quinhentos ris. Joo Caetano Xavier da Silva Pereira e sua mulher Maria Vitria Pereira de Castro, venderam, em 1859, por 500 mil ris, o stio Lagoa da Pedra, da fazenda Barro Vermelho, ao capito Manoel Pereira da Costa500. Barro Vermelho Stio com uma lgua e meia de comprimento e uma de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1803, para Nicodemos Vieira Pinto, por cinco mil ris anuais, limitando com a fazenda Paramirim, na Moribeca; Campo das Vacas, no Barroco; e ponta da serra do Cercado. No Tombamento fundirio da Casa da Ponte, de 1819, avaliaram-no por 240 mil ris, sendo vendido para Ladislau Francisco de Souza Brito em 1838. No registro de terras da freguesia de Macabas, em 1857-1859, vrios proprietrios, como Antnio Miguel da Silva, declararam ttulos dimensionados em algumas dezenas de braas. Barrocas (ou Umburanas) Fazenda desmembrada de So Domingos, explorada no incio do sculo XVIII, por Incio da Cruz Prates, arrendatrio de Joana da Silva Guedes de Brito. Joaquim Quaresma Delgado encontrou em Barrocas, roas, curral de gado, e umas poucas casas. O vivo Antnio Soares Maciel inventariou, em 1822, no esplio de Joana Soares Ferreira501, em terras arrendadas na fazenda Umburanas, uma casa de telhas, com 23 portas e sete janelas, por 50 mil ris e outra, tambm de telhas, com quatro portas e duas janelas, no arraial de Gentio, 60 mil ris; 400 arrobas de algodo, 96 mil ris e uma roa de algodo em terras possudas, em Camarinhas, da fazenda Umburanas. Bento Garcia Leal, capito-mor de Caetit, inventariou, em 1823, os bens do seu casal, aps a morte da consorte Nazria Borges de Carvalho502, arrolando vrias fazendas: Barrocas com o sobrado da sua residncia; os retiros503 de Regap, com algumas casas, engenho, e roas; So Domingos, Vargem Grande e Gargatu, por quatro contos e oitocentos mil ris; 600 cabeas de gado vacum, trs contos de ris; 23 cavalos, 335
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APEB. Judicirio, 03.1198.1667.17. APEB. Judicirio, SRJ/25/18, f. 23 v. Escritura pblica, 26 dez., 1859. 501 APEB. Judicirio, 02.0567.1019.02. 502 APEB. Judicirio, 02.0589.1041.14.
mil e mil ris; Riacho e Canabrava nos atuais municpios de Iuiu e Malhada quatro contos de ris; duas mil e 100 rezes, 10 contos e 500 mil ris; 42 cavalos, 504 mil ris; 74 bestas cavalares, 320 mil ris; 17 poldros, 120 mil ris. Vargens, hoje entre Macabas e Tanque Novo, com todos os retiros e stios de Lagoa Clara, comprados da Casa da Ponte, de cuja aquisio ainda devia 640 mil ris, tudo avaliado por quatro contos de ris; e mais 2.400 cabeas de gado vacum, 12 contos de ris; 22 cavalos, 264 mil ris; Este inventrio registra o maior plantel de escravos 202 cativos encontrado no Alto Serto da Bahia. A maioria nascida no Brasil e meia centena de variadas etnias e origens africanas: angola, benguela, biriba, bruburu, calabar, carandamba, congo, grum, hau, lambi, luanda, manino, mina, nag, soc. Havia, tambm, entre os escravos, um ndio tapuia, de 24 anos. Sobre 14 deles informou profisses ou atividades que desenvolviam, sendo seis vaqueiros, o que indica a prtica da pecuria escravista, um mestre de carpinteiro, um oficial de carapina, um curioso de carapina, um oficial de ferreiro, um bruaqueiro, duas costureiras e uma rendeira. Essas profisses ou especializaes, relevantes no cativeiro, com pouca diviso de trabalho, seriam possveis somente no grande plantel. Considerando-se a proporo, entre o contingente escravista e o nmero de ferramentas agrcolas arroladas, Bento Garcia Leal, dedicava-se, fundamentalmente, pecuria, porque declarou apenas, 23 enxadas, 21 foices, cinco machados e duas alavancas. Destacava-se na intermediao comercial da produo regional. Arrolou 209 cargas de algodo descaroados, despachadas aos correspondentes no porto de So Flix, no Recncavo, e mais 80 cargas em caroo. Informou, ainda, um crdito na Casa de Pedro Rodrigues Bandeira, em Salvador, correspondente ao envio, por esse exportador, para a Inglaterra, de 2.200 arrobas de algodo, portanto, mais de 55 toneladas do produto da malvcea em pluma, como sempre se comercializou no serto, onde o caroo significava precioso recurso alimentar para o gado durante as secas. Possua ainda quase nove toneladas de algodo sem descaroar. O rol de dvidas, ativas e passivas, sugere amplas relaes comerciais. Entretanto, Bento Garcia Leal cultivava a subsistncia como faziam os fazendeiros do serto, alm de produzir cachaa de cana, num alambique grande, pesando sete arrobas de cobre e vrios tachos do mesmo metal, prprios para o manejo da rapadura e da aguardente, embora no informasse propriedade de engenho. A inventariada possua muitas jias
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de ouro voltas, cordes, rosrios, bentinhos, crucifixos, brincos, botes, pulseiras, medalhas, pentes (um cravado com pedras brancas e outro, de tartaruga, com crislitas, outros com topzio, esmeraldas) e utenslios de prata, sobretudo domsticos e de montaria. O valor dos bens inventariados ultrapassou a 106 contos de ris. Da meao partilhada, coube para cada um dos oito herdeiros, o equivalente a mais de sete contos de ris. Agostinho Gomes Cardoso e sua mulher Maria de Abreu Prates doaram, em 1827, meio quarto de lgua em quadro, de Umburanas, que herdaram de Manoel Fialho de Carvalho, para instituio de uma capela dedicada Senhora do Patrocnio504. Inventariou-se o stio Barreiro em 1833, com os bens do capito Domingos Gomes de Azevedo505, o stio Rio Grande, com uma casa de madeira e adobes, coberta com telhas, roda, moinho e chcara, por um conto e 300 mil ris; 20 escravos, dos quais, cinco de servios de roa e trs de servios casa, vrios idosos e crianas; 78 rezes, 390 mil ris. O patrimnio somou quase 13 contos de ris. Inventariou-se no esplio de Benta Rosa Leal506, em 1835, o stio Campo Largo, de Barrocas, com trinta arrobas de ametistas roxas e amarelas, por um conto e 200 mil ris. E em 1840, uma gleba de Regap fora objeto de inventrio, no esplio de Joana Alves de Carvalho507, viva do capito Gualter Fernandes Ribeiro. Deteriorado, o documento no permitiu a leitura completa, mas, foi possvel constatar a propriedade de 73 escravos, com identificao de aptides ou atividade profissional de dois vaqueiros, um ferreiro, duas costureiras, trs rendeiras e uma tecel. Tambm possua vrias jias de ouro, pedras preciosas e utenslios de prata, talheres, copo bridas, esporas, fivelas, estribos. A existncia de escravos vaqueiros e ferramentas agrcolas atesta intensas atividades pecuaristas e agrrias. Os avaliadores somaram um monte-mor de quase 39 contos de ris, somando-se as duas partilhas dos bens divididos em sete quinhes. Inventariaram, em 1843, com os bens de Torquato Fernandes Ribeiro508, que se transferiram para a viva Joana Soares de Oliveira, Jlio e Serina, filhos de Juliana, cabra, ex-escrava, dos seus pais Gualter e Joana, outra parcela de Regap e duas glebas vizinhas, todas comuns ou partilhadas sem demarcaes, por 615 mil ris; quatro cargas de algodo em caroo, por 48 mil ris; um alambique de cobre, 60 mil ris; 200 rezes,
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APEB. Judicirio, SRJ/25/03, f. 60. Escritura, 10 dez., 1827. APEB. Judicirio, 02.0557.1006.02. 506 APEB. Judicirio, 02.0582.1034.06. 507 APEB. Judicirio, 02.0560.1011.04. 508 APEB. Judicirio, 02.0574.1026.02.
um conto e 600 mil ris; cinco cavalos, 150 mil ris; e seis muares, 480 mil ris; e 20 escravos, dos quais, um vaqueiro. Em 1851, inventariaram mais uma gleba de Barrocas, no esplio do coronel Tibrcio de Souza Lima509, que recebera de herana. Avaliaramna por 200 mil ris e a outra de Boa Vista, com uma casa, dois bancos, trs catres, duas cadeiras, um armrio e outros utenslios, atriburam o valor de 700 mil ris; 27 cabeas de gado vacum, 270 mil ris; 11 guas, 220 mil ris; quatro poldros, 42 mil ris; sete poldras, 140 mil ris, dois cavalos, 140 mil ris; sete muares, 330 mil ris; e dois burros velhos, 40 mil ris; e trs escravos: Incio, africano, 32 anos, de roa, 600 mil ris; Ado, cabra, nove anos, 400 mil ris; e Francisco, africano, 47 anos, arrieiro, um conto de ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, de 1854-1859, declararam partes comuns: Joo Alves Ferreira (uma na freguesia de Caetit e outra na do Gentio, compradas de Jos de Lima Braga, que adquirira de Jos Joaquim de Magalhes); e Jos de Lima Braga (tambm nas duas freguesias, compras de Jos Joaquim de Magalhes, que herdara do sogro Antnio Garcia Leal). Nos registros da freguesia do Gentio, informaram heranas ou compras em terras comuns em Umburanas, dezenas de pessoas com nomes de famlia como: Abreu Prates, Barbosa Leal, Cruz e Souza, Cruz Prates, Damasceno Nogueira, Dias Guimares, Fernandes Abreu, Fernandes Amado, Fialho de Carvalho, Frota Magalhes, Garcia Leal, Gomes Cardoso, Gomes de Azevedo, Lopes de Menezes, Mendes da Costa, Moreira Rebordes, Monteiro de Magalhes, Pereira da Costa, Pereira de Castro, Pires da Silva, Ribeiro Guimares, Rocha Prates, Rodrigues Ladeia, Sales de Carvalho, Silva Neves, Santos Pereira, Soares de Souza, Souza Maciel, Teixeira de Carvalho, Xavier Lobo. Francisco Mendes da Luz, em 1855, inventariou Mato Grosso, frao de Umburanas, no esplio de sua mulher Maria do Carmo e Melo510, por 20 mil ris; uma escrava de roa, com um filho de oito anos e uma filha de um ano, por um conto e 250 mil ris. Em 1863, Joaquim Jos de Faria e sua mulher Amlia Maria Ladeia de Faria venderam para o capito Jos Justino Gomes de Azevedo, por dois contos de ris, metade do stio das Umburanas, com todas as fazendas, Retiro, Mato Grosso e Santa Rosa da Pedra, que herdaram do pai e sogro Filipe Rodrigues Ladeia511. Januria Constncia de Carvalho e o filho Augusto Teixeira de Carvalho partilharam, em 1868, com o esplio
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APEB. Judicirio, 03.1210.1679.07. APEB. Judicirio, 02.0873.1342.13. 511 APEB. Judicirio, SRJ/25/03, f. 76. Escritura, 5 mai. 1869.
do portugus Jos Teixeira de Carvalho512, duas parcelas de Umburanas, uma em Par, com uma casa, por 675 mil ris; 44 escravos, 10 burros de carga, dois cavalos, duas guas, duas juntas de bois, quatro rezes, engenho, jias, mveis, utenslios domsticos e instrumentos de trabalho. Inventariaram em 1872, no esplio de Jos Francisco Alves de Carvalho513 a viva Maria Joana de Santana inventariou Gamelas e Mundo, com as casas, chcara, engenho, carro, carreto e trs formas para acar, por dois contos, 110 mil ris; 19 escravos, 30 rezes, oito bois de carro, trs cavalos e uma gua, um alambique. No esplio do capito Jos Joaquim Pires da Silva514 inventariaram, em 1881, uma frao de Rio Grande e outras glebas vizinhas com uma casa, engenho, moinho, meia gua, por 751 mil 358 ris; 160 cabeas de gado, dois contos e 400 mil ris; oito bois de carro, por 200 mil ris; cinco cavalos, 196 mil ris; uma mula e cinco burros, 220 mil ris; 10 cabras, 10 mil ris; trs rolos de fumo, por 15 mil ris; e 18 cargas de algodo, na Bahia (Salvador), cujo produto da venda determinou em testamento que seria aplicado em uma promessa ao Senhor Bom Jesus da Lapa. Entre os bens arrolados encontravam-se mercadorias de possvel estabelecimento comercial: seis dzias de lenos achitados, avaliados por 12 mil ris; dois maos e meio de meias para homem, 10 mil ris; e uma carga e meia de diversos artigos chegados de So Flix, 226 mil e 450 ris. O valor dos bens somou pouco mais que 11 contos de ris, cujo partvel transferiuse para cinco sobrinhos, conforme seu testamento. Em Umburanas formou-se o povoado do mesmo nome, ncleo original do municpio emancipado em 1889, cuja sede transferiu-se para Duas Barras, atual Urandi, em 1918. O atual distrito de Quirap, exUmburanas, integra o municpio de Pindai. Batalha Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, na margem direita do rio So Francisco, entre o rio das Rs e o riacho de Santana, citada em 1731-1734, por Quaresma Delgado, inventariada em 1832, no esplio de Joo de Saldanha da Gama Mello Torres Guedes de Brito, sexto conde da Ponte515, partilhado pela viva Maria Constana de Saldanha da Gama Oliveira e Souza, Morgado Guedes de Brito e os 10 filhos: Manoel de Saldanha da Gama Melo Torres Guedes de Brito (primognito herdeiro do ttulo de conde), marqus de Taubat, Francisco de Saldanha da Gama, Antnio de Saldanha
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APEB. Judicirio, 03.1229.1698.05. APEB. Judicirio, 03.1202.1671.10. 514 APEB. Judicirio, 03.1223.1649.04. 515 APEB. Judicirio, 01.0089.0127.01; Anais do APEB. Bahia, n. 28, p. 41-75, 1945.
da Gama, Jos de Saldanha da Gama, Joo de Saldanha da Gama (falecido), Manoel de Saldanha da Gama (falecido), Maria Amlia de Saldanha (casada com o conde de Santarm), Francisca de Saldanha (viva do conde de Louz, Dom Lus), e Leonor Maria de Saldanha da Gama, (casada com Jos Correia de S). Batalha ficou no quinho do primognito Manoel de Saldanha da Gama, stimo conde da Ponte, com mil 611 cabeas de gado vacum, por nove contos, 666 mil ris; 37 escravos, de ambos os gneros e todas as idades, sete contos e 400 mil ris; 36 cavalos de servios da fazenda, 576 mil ris; uma casa de telhas, 50 mil ris; selas, ferramentas e outros utenslios, 40 mil ris; as terras, um conto e 200 mil ris; totalizando 18 contos, 932 mil ris. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio do Urubu, em 1863516, apenas Porfrio Pereira de Castro declarou-se proprietrio, limitando-se com a Volta, Curral das Vargens, fazenda Rio das Rs e rio So Francisco. Boa Vista Fazenda hoje em Malhada, que pertencera a Joana da Silva Guedes de Brito, citada por Quaresma Delgado, de 1731-1734 e inventariada em 1832, no esplio do conde da Ponte, ficando no quinho do primognito, por um conto e 200 mil ris (terras e benfeitorias); 2.084 cabeas de gado vacum, 12 contos, 504 mil ris; 30 escravos machos e fmeas de todas as idades, seis contos de ris; 45 cavalos de servio, 630 mil ris; 36 guas, 576 mil ris; uma casa velha de telha e senzalas de palha, 50 mil ris; selas, ferramentas e acessrios, 40 mil ris; totalizando 21 contos de ris. Inventariada, novamente em 1844, nos esplios de Joana de So Castro e seu vivo Jos Antnio da Silva Castro. Boa Vista Fazenda descoberta por Manoel Nunes Tvora, com participao de Sebastiana Pereira da Cruz, em 1716, entre Morro do Chapu, Cachoeira Grande, nascentes do Riacho da Canabrava, riacho dos Marruases e o stio de Bernardo Pinheiro e Gonalo do Couto, na Catinga da Lagoa do Piolho517. A Casa da Ponte arrendou uma gleba de Boa Vista, em 1806, com uma lgua de comprimento e outra de largura, por dois mil 150 ris anuais, para Antnio Gomes de Souza, limitando com Cachoeira, de Raimundo Batista; Curral Velho, de Francisco Luciano; Curralinho, de Jacinto Pereira da Silva; Canabrava, de Joo Caldeira da Silva. No tombamento imobilirio de 1819, se lhe atribuiu o valor de 120 mil ris, vendendo-a, depois, para Gregrio da Silva Monteiro, que j pagava renda desde 1812. No registro de terras da freguesia de Caetit, de
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APEB. Colonial e Provincial, 4.824. Registro de terras da freguesia de Santo Antnio do Urubu. (nica anotao em folha avulsa num livro em branco, sem assinatura do vigrio).
1854-1859, declararam parcelas de Boa Vista, em comum: Clemente de Brito Gondim, Francisco da Rocha Pinto, Joaquim Jos de Oliveira, Joaquim Rodrigues da Silva, Joaquim Rodrigues Ladeia, Jos Joaquim Vilasboas, Manoel da Silva Pereira, Manoel Fernandes Mangabeira, Manoel Jos Viana, Manoel Luiz de Souza e Teodora Maria de Carvalho. Boa Vista Fazenda extremada com Barrocas, na Tapera do Almeida, Cercado, So Joo e Barroco, declarada no registro de terras da freguesia de Caetit, em 1854/1859, por dezenas de herdeiros e compradores, com sobrenomes como: Belchior Guedes, Borges de Carvalho, Costa Lima, Cruz Prates, Fernandes Pereira da Silveira, Rodrigues de Carvalho, Silva Prado, e vrios outros, quase sempre em comum. No mesmo censo territorial de 1854-1859, demarcando por Lagoa da Pedra, Passagem do Pajeu, Mandante, Tapera do Almeida, cabeceiras do riacho da Mutuca, catingas do rio das Rs, cabeceiras do riacho do Taquaril, Brejo do Cumbuco e Lagoa das Lajes, declararam heranas ou compras tambm dezenas de pessoas, com nomes de famlia como: Brito Gondim, Cardoso Gomes, Fernandes Pereira, Ferreira de Abreu, Ferreira de Faria, Gomes da Rocha, Lima Braga, Lobo Raposo Fris, Nascimento Soriano, Oliveira, Pereira da Costa, Pereira de Castro, Ribeiro da Costa, Ribeiro da Cunha, Ribeiro de Santana, Rodrigues Gomes, Xavier Prates. Demtrio da Cruz Prates inventariou, em 1857, no esplio de sua mulher Francelina Xavier Matos518, uma gleba de Boa Vista, adquirida de Jos Ferreira Coelho, outra de herana, ambas por 200 mil ris; trs parcelas de So Joo, herana e compras de Antnio Jos do Couto e Jos Joo de Matos, por 340 mil ris. Com poucos bens e indicadores de decadncia financeira, como o seqestro da casa de morada em Juazeiro, pelo credor Jacinto Antnio de Brito e outras dvidas, o inventariante declarou algumas rezes, animais de montaria e transporte, no valor de 222 mil ris; uma roa de meio alqueire de mandioca, 150 mil ris; 10 escravos, por seis contos e 700 mil ris; e utenslios de pouco valor. Josefa Maria da Silva vendeu, em 1860, uma gleba de Boa Vista, adquirida do comendador Joo Caetano Xavier da Silva Pereira, para o alferes Cndido Pereira Guedes, por 400 mil ris519 e cinco dias depois desfez a transao520 para consum-la com
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AMRC. Tabelionato. Livro de Notas n. 9 (1747-1752), f. 125. Escrito de Venda, 10 ago., 1716. APEB. Judicirio, 03.1357.1826.07. 519 APEB. Judicirio, SRJ/25/18, f. 43 v. Escritura pblica de compra e venda, 10 mai., 1860. 520 APEB. Judicirio, SRJ/25/18, f. 46. Escritura pblica de destrato, 15 mai., 1860.
Jos Joaquim Rodrigues da Silva, que lhe pagou pela terra sem nenhum benefcio, um conto de ris521. Em 1876 Francisca da Cruz Prates vendeu a herana da av Rita Fialho, no stio Umbaba, por 400 mil ris, para Joaquim da Silva Prado Jnior.522 Nesse mesmo ano Manoel Rodrigues Gomes inventariou com o esplio da mulher Francisca da Cruz Prates523, transferido para os sobrinhos, conforme seu testamento outra frao de Umbaba. No esplio de Ana Maria Xavier524 inventariaram em 1882, uma parcela em Boa Vista, outra de Lagoa Comprida, com uma casa em Baixo, por um conto, 825 mil ris; Angu, da fazenda Ipueira, um conto e 600 mil ris; Furados da fazenda Lajes, 860 mil ris; um engenho, coberto de telhas, 120 mil ris. O vivo inventariante no informou sobre atividades agrcolas, mas, ao relacionar os 13 escravos, apresentou sete deles com de lavoura. O casal possua tambm 100 bovinos, cinco eqinos e 10 muares. Boa Vista Fazenda na repartio de Santo Antnio da Barra, freguesia de Nossa Senhora da Conceio do Rio Pardo que, em 1775, pertencia aos herdeiros do capito Gonalo Gouveia. Depois de dividida em vrias parcelas pelos irmos Rocha Pinto, em 1792 inventariou-se uma delas com o esplio de Crispim da Rocha Pinto525, com uma casa coberta com telhas em So Bento, nas terras de Antnio da Rocha Rodrigues, roa de mandioca, por 80 mil ris. Na ocasio arrolou-se tambm, duas cargas (12 arrobas) de algodo, por 36 mil ris; trs cavalos, 29 mil ris; cinco poldros, 32 mil ris; 22 bestas, 88 mil ris. Insetos, danificando o documento, impediram que se conhecessem dados da criao de bovinos. Inventariaram outra gleba em 1804, por 60 mil ris, no esplio de Joana Rodrigues da Purificao526 partilhado pelo vivo Joaquim Pereira de Santa Rosa e os oito filhos, medindo meia lgua de comprimento e uma lgua de largura; em 1825, mais uma, no esplio do tenente-coronel Joaquim Pereira de Castro527, com uma casa, por um conto e 590 mil ris; o stio Vila Velha, no arraial de mesmo nome (Livramento), trs contos de ris; vrios outros imveis e 54 escravos.Do criatrio, a viva Francisca Joaquina de Jesus e Castro declarou: 500 rezes avaliadas por dois contos e 900 mil ris; 59 guas, 534 mil ris; 17 poldras, 181 mil ris; seis poldros, 75 mil ris; 12 cavalos, 256
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APEB. Judicirio, SRJ/25/18, f. 52. Escritura pblica de compra e venda, 30 jun., 1860. APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 260 v. Escritura pblica, 17 jun. 1876. 523 APEB. Judicirio, 02.0883.1358.15. 524 APEB. Judicirio, 02.0879.1348.14. 525 APEB. Judicirio, 03.1216.1685.07. 526 APEB. Judicirio, 03.1359.1728.10.
mil ris; quatro mulas e burros, 96 mil ris; seis jumentos, 184 mil ris; 16 bois mansos de engenho, 160 mil ris; 65 ovelhas, 32 mil e 500 ris; 25 cabras, 16 mil ris. Da produo agrcola, apenas 30 cargas de algodo, de seis arrobas, embruacadas, no valor de 360 mil ris; um engenho velho e duas grades de rapadura, 16 mil 960 ris. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, limitando com Gavio, Jurema, Gameleira e Veredas; medindo quatro lguas, de comprimento e igual distncia de largura, declararam compras e heranas em comum de Boa Vista os: Coelho de Faria, Ferreira de Carvalho, Gonalves de Oliveira, Gonalves Galvo, Gonalves Quaresma, Lopes da Rocha, Pereira, Moreira, Pires, Ribeiro Franco, Ribeiro Guimares, Rocha Pinto, Silva Fernandes, Simes de Oliveira, Soares de Castro, Soares Pereira, Vieira e outros. Boa Vista Stio medindo um quarto de lgua de comprimento e outro de largura, no rio Verde Pequeno, na atualidade em Urandi, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Antnio Alves Martins, por 500 ris anuais, limitando com Passagem Velha, de Domingos Francisco Rodrigues, rio da Capa e rio Verde. Avaliado no tombamento fundirio da Casa da Ponte, em 1819, por 24 mil ris e vendido, anos depois, para Teodsio Gonalves de Cerqueira, por 30 mil ris. O mesmo senhorio arrendou outra gleba, por 500 ris anuais, no mesmo ano, para Antnio Nunes de Cerqueira, que avaliaram, no mesmo tombamento, por 24 mil ris. Boa Vista Stio no atual municpio de Boquira, com uma lgua de comprimento e meia de largura, arrendado em 1805, pela Casa da Ponte, por trs mil ris anuais, para Agostinho Lopes e de presente a Romualdo Jos Pereira e outros. Esse arrendamento anulou outro anterior, de narrativa falsa, feita a Teobaldo Rodrigues. No tombamento fundirio da Casa da Ponte, em 1819, avaliaram-no por 100 mil ris e venderam-no, em 1829, para (...) Oliveira e Jos Leon(...). No registro de terras de Macabas, em 18571859, vrios pequenos proprietrios informaram ttulos dessas terras. Boa Vista Stio no atual municpio de Paratinga, limites com Bom Jesus da Lapa, com trs quartos de lgua de comprimento e duas lguas de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por quatro mil ris anuais, para Francisca Maria da Conceio e seus filhos, limitando com So Joo, de Joo da Silva Batista; Barrigudas, de Nicolau Ribeiro; Jabuticabas, de Manoel de Brito Viana; e Riacho de Santa Rita, da Casa da Ponte.
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Avaliado no tombamento fundirio da Casa da Ponte, em 1819, por 160 mil ris e vendido, em 1821, para Venncio Teodoro de Souza e Joaquim Maria da Conceio. Bom Jesus Fazenda no atual municpio de Brumado, ex-Bom Jesus dos Meiras, inventariada em 1814, por trs mil e 400 ris, no esplio do capito Francisco de Souza Meira528, partilhado pela viva Ana Xavier da Silva e os 11 filhos; uma parcela de Serra das Bestas, 150 mil ris; Canabrava, com duas lguas de comprimento, 498 mil ris; fazenda Lagoa Vermelha, medindo duas lguas de comprimento, com uma casa de telhas, duas janelas e trs portas, 220 mil ris; fazenda Aguilhadas, no rio Verde Pequeno, com cinco lguas de comprimento e trs de largura onde criava mil cabeas de gado vacum, avaliadas por trs mil ris um conto e 200 mil ris; fazenda Dourada, com cinco lguas de comprimento e duas de largura, nas cabeceiras do rio Verde, um conto de ris; Gameleira e Pedra, em So Romo, ribeira do Urucuia, seis contos de ris. A viva inventariante arrolou trs mil e 500 cabeas de gado vacum, avaliadas por 10 contos e 900 mil ris; 10 bois de carro, 57 mil e 200 ris; 360 mil ris; 24 potros, 112 mil ris; 147 guas, 798 mil ris; 28 bestas muares, 672 mil ris. Integrava o patrimnio do casal, 110 escravos de vrias idades e diferentes origens tnicas, dos quais no declinou profisses ou principais ocupaes. Nada informou sobre lavouras, alm de uma carga de algodo, vendida por 12 mil ris, de ferramentas agrcolas e uma rodete com bolandeira, prensa e forno. O casal possua muitas jias e utenslios de prata. Podese deduzir as devoes da famlia pelo acervo de imagens de santos num oratrio de madeira, com trs gavetas e ferragens douradas: uma do Senhor Crucificado, aparelhada com cruz de prata; duas da Senhora da Conceio, uma das quais com coroa de prata; uma de Santo Antnio, com resplendor de ouro; e uma da Senhora Santa Ana. A meao da viva Ana Xavier da Silva529, inventariaram-na, em 1843, por quase 34 contos de ris. Na ocasio atriburam o valor de 10 contos fazenda Bom Jesus. Com a doao de uma gleba com meio quarto de lgua de comprimento e 100 braas de largura, pela famlia Souza Meira, ao Senhor Bom Jesus, da qual se obteria rendas com arrendamentos ou aforamentos de glebas, para construo e manuteno do seu tempo. A partir dessa instituio e em torno do orago edificado, desenvolveu-se a povoao de Bom Jesus dos Meiras, origem de Brumado. Jos de Souza Meira inventariou, em 1845, a parcela de Bom Jesus que herdara dos sogros e tios Francisco de Souza Meira e Ana Xavier da Silva, no esplio da con528
sorte Ana Maria de Souza530, por 820 mil ris. Plantava cana, milho e mandioca; criava 400 cabeas de gado e eqinos e mais 400 rezes em Aguilhadas, Minas Gerais. Trs anos depois o capito Inocncio Jos Pinheiro Canguu fez o mesmo no esplio da sua mulher Prudncia Rosa de Santa Eduvirges531, cuja meao partilhou em 11 quinhes. A parcela de Bom Jesus recebeu o valor de um conto de ris; uma poro de Santa Rosa, 100 mil ris; uma gleba de Campo Seco, 300 mil ris; Barro Vermelho, um conto de ris; Santo Amaro, 400 mil ris; So Pedro do Jacu, quatro partes, 182 mil ris; Boa Vista e Jurema, 25 mil ris; Tocados, 18 mil ris; e Queimadas, 85 mil ris. O casal possua 44 escravos, engenho de fazer rapaduras e menos de uma centena de rezes. Em 1849 o capito Inocncio Xavier de Carvalho Cotrim e sua mulher Clara Anglica de Meira Cotrim venderam uma gleba de Bom Jesus, por 100 mil ris e uma casa no arraial, por 400 mil ris, para Manoel Incio da Silva532. Em 1852, inventariaram mais uma gleba de Bom Jesus, por 251 mil ris e outra de Serra das guas, por 120, no esplio de Jos de Souza Meira533, dividido pelos nove filhos. Residia em Roado, possua engenho, canavial e gua de rega de trs dias semanais, roda de ralar mandioca, alm de 70 rezes e meia dzia de guas. Dos quatro bois de carro, um tambm transportava carga. E dos 15 escravos, dois eram vaqueiros, uma de casa e sete de roa. Em 1852, inventariaram outra frao de Bom Jesus, por 198 mil 729 ris e uma de Curralinho, por 100 mil ris, no esplio de Antnia Maria de Souza534, viva de Joaquim de Souza Meira, que possua diminutos rebanhos de bovinos e caprinos. Dos sete escravos o inventariante declinou profisses de quatro, todos de roa. No registro de terras da freguesia de Caetit, em 1854-1859, Bom Jesus com trs lguas de comprimento e igual extenso de largura, foi declarada por compradores e herdeiros com sobrenomes como: Pinheiro, Silva Mirante, Souza Leite, Souza Meira e o padre Marciano Jos da Silva Rocha, como procurador da capela do Senhor Bom Jesus, cujo terreno contornava por riacho do Sap, Passagem das Carabas, Roado e rio do Antnio. No Registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1858, apenas Jos Bulco de Souza Meira declarou titularidade.
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APEB. Judicirio, 02.0571.1023.06. APEB. Judicirio, 02.0557.1005.01. 531 APEB. Judicirio, 02.0880.1349.21. 532 APEB. Judicirio, SRJ/25/12. f. 73. Escritura pblica, 14 jun., 1849. 533 APEB. Judicirio, 02.0889.1358.27. 534 APEB. Judicirio, 08.3505.04.
Bom Sucesso Stio na atualidade em Paratinga, que se estendia por meia lgua, alargando-se por duas, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por cinco mil ris anuais, para Gregrio Ribeiro Lopes, Raimundo Ribeiro Campos e outros, limitando com Garapa, de Jos Joaquim e outros; Carabas, de Jos Rodrigues Machado; Riacho de Santo Onofre, dos herdeiros de Joo da Costa; e terras da Casa da Ponte, j arrendadas a Toms dos Santos. Avaliado por 200 mil ris, em 1819, no tombamento fundirio da Casa da Ponte, embora j fosse vendido para Gregrio da Silva Monteiro, desde 1812. Bonito (Atual Igapor) Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, antes denominada Riacho Bonito, que se dividiu em Bonito de Cima, Bonito de Baixo, Engenho do Meio, Carabas, Gameleira, Lagoa Funda, Mocambo, Santo Antnio, So Bento, Tamandu, Troncho e outras. Nela viveu Caetano de Freitas535, como arrendatrio ou administrador porque, dos seus bens partilhados em 1768, pela viva Maria Rodrigues da Conceio e os filhos Lourena, Manoel e Jos, no constou propriedade de terras. Em 1784 a posse e benfeitorias de Riacho Bonito foram objetos de execuo de penhora, pelo comendador Pedro Rodrigues Bandeira, contra Joo Nunes de Souza, Agostinho de Souza da Costa e Jos de Souza da Costa, herdeiros do arrendatrio hipotecante, Jos de Souza da Costa536. No sculo XVIII a Casa da Ponte arrendou Engenho Bonito de Cima para Incio Ferreira Leite, que o transferiu para Cosme Damio Abrantes e sua mulher a Micaela de Brito Casso.537 O procurador da Casa da Ponte, Joaquim Pereira de Castro, vendeu, em 1808, metade das terras de Bonito para Jos de Souza da Costa e seu irmo Agostinho de Souza da Costa por 140 mil ris, em quatro anuidades de 35 mil ris538. Em 1809, Jos de Souza da Costa e seu irmo Agostinho de Souza da Costa venderam, por 115 mil e 500 ris, para Maria Alves Ferreira, uma gleba comprada da Casa da Ponte, pelo terceiro irmo, Joo Nunes de Souza539. Em 1829 se Inventariou uma parcela de Riacho Bonito com uma casa, um engenho, um rego dgua e um canavial, por dois contos de ris, no esplio do Vitorino Xavier do Rego. Em 1840 Filipe Joaquim de Azevedo Cotrim e sua mulher Maria Clara de So Jos doaram uma gleba de Bonito, recebida de
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APEB. Judicirio, 02.0532.0978.05. APEB. Judicirio, 02.0362.01, f. 180. Certido do Tabelio da Villa do Prncipe e Santa Ana de Caetet. 537 AMRC. Livros de Notas n. 2, f. 79 v. Declarao de Ressalva, 15 dez., 1795, redigida por Joo Nunes de Souza, a rogo de Incio Ferreira Leite, a despeito do Engenho Bonito de Cima, contestando a posse da viva Micaela de Brito Casso e filhos. 538 APEB. Cvel, 08.0337.04, f. 44. Livro 24, f. 52 v. Escritura pbica, 2 mai., 1808. 539 APEB. Cvel, 08.0337.04, f. 7 v. Traslado da escritura particular, 1809, expedido em 1884.
Manoel Francisco Xavier do Rego e sua mulher Francisca Teresa do Rego, para se arrendar ou aforar lotes e com a renda edificar e manter uma capela devotada a Nossa Senhora do Livramento540. No entorno desta capela desenvolveu-se o povoado original de Bonito, atual Igapor. No registro de terras da freguesia de Caetit o tenente Manoel Francisco Xavier do Rego declarou-se possuidor de metade do stio Bonito, com as mesmas estremas de 1808 e Bonito de Cima; Filipe Joaquim de Azevedo Cotrim informou a gleba da capela de Nossa Senhora do Bonito; e Bernardo de Brito Gondim, uma gleba entre Santo Antnio, Mocambo, Conceio e Gro-Mogol. Do esplio de Manoel Francisco Xavier do Rego541, em 1857, constou uma parcela de Bonito, com benfeitorias, no valor de trs contos de ris; Engenho do Meio, com um casa e benfeitorias, um conto e 50 mil ris; Mocambo, com trs casas, senzalas, currais, roas de mandioca e de milho, quatro contos e 500 mil ris; uma frao de Canabrava, no Pedrs, com um casa, um curral e um sobrado no arraial, um conto e 300 mil ris; uma gleba de Vargens, em Macabas, atualmente em Tanque Novo, 100 mil ris; 93 escravos, dos quais dois eram vaqueiros e dois ferreiros; 300 rezes, alguns eqinos, muares e asininos. Inventariou-se Bonito de Cima, em 1861, no esplio de Verssimo Xavier do Rego542. por um conto e 200 mil ris, com uma casa e benfeitorias; uma parcela de Mocambo, 100 mil ris; alm de 23 escravos, 200 rezes e 34 eqinos. Antnio Rodrigues Rebouas e sua mulher Ana Rosa Constana de Jesus venderam, em 1871, uma frao de Engenho do Meio e outra de Bonito de Cima, com benfeitorias, por um conto e 400 mil ris, para Galdino Cardoso de Souza543. Em 1873, os casais Exuprio da Silva Rego e Filomena Teresa do Rego, Joaquim Jos do Rego e Maria Teresa do Rego venderam uma parcela de Bonito de Baixo ao alferes Antnio Pinheiro de Azevedo, por 550 mil ris, com uma casa, um engenho e um canavial544. Vitorino Xavier do Rego (neto) e sua mulher Filomena Maria do Rego venderam em 1874, atravs do procurador Clemente Xavier do Rego, uma parte de Bonito de Cima, com uma casinha, engenho velho e canas, por 500 mil ris, ao alferes Antnio Pinheiro de Azevedo Brito545. No ano seguinte Antnio Joaquim Pereira e sua mulher Ana Bela Vieira de Magalhes venderam uma parte de Bonito de Baixo e outra de Bonito de
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APEB. Judicirio, SRJ/25/8, f. 17; NEVES, E. F. Uma comunidade sertaneja..., p. 40, 41, 116. APEB. Judicirio, 08.3391.14. 542 APEB. Judicirio, 02.0867.1336.14; 02.0896.1365.18. 543 APEB. Judicirio, SRJ/25/17, f. 62. Escritura pblica, 19 dez., 1871. 544 APEB. Judicirio, SRJ/25/17, f. 65. Escritura pblica, 4 nov., 1873.
Cima, com uma casa e benfeitorias, por um conto e 500 mil ris, ao alferes Jos Caetano Vilasboas546. Em 1876, Joana Teresa de Jesus vendeu uma parte de Bonito de Baixo com umas casas, engenho e canas, por 600 mil ris, para Policarpo Xavier de Azevedo Cotrim547. Inventariou-se, em 1877, com os bens de Joaquim Xavier do Rego548, uma gleba de Engenho do Meio e outra de Bonito de Cima, por 282 mil ris; outra de Mocambo, com uma casa em Rio do Tanque, 840 mil ris; fraes de Soledade, Pedrs e Canabrava, 140 mil ris; alm de nove escravos, uma centena de rezes, alguns eqinos, muares e asininos. Bonito Fazenda hoje em Pirip, onde residia Jos da Rocha Brando e sua mulher Maria Jos da Conceio, pais de Custdia Maria da Rocha, falecida em 1773, cujos bens, seu vivo, Manoel Antnio da Silva dividiu, em 1785, com o menor Manoel Antnio. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, declaram parcelas: Antnio Francisco Algarves (um quarto de lgua de frente e uma lgua de fundo, que comprara); Antnio Rosas (meia lgua de comprimento e mesma extenso de largura); Francisco Alves Fagundes (doao do cunhado Antnio Pombo da Costa); e Maria Epifnia de Jesus (compra de Maria Madalena de Jesus). Bonito Stio no atual municpio de Boquira, com um quarto de lgua de comprimento e igual extenso de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, por 10 tostes anuais, para Felizardo Jos de Santo Apolinrio, limitando com Macacos, na Varginha; Brejo Grande, no Alto da Catinga; e serra Geral. Avaliaram-no, em 1819, no tombamento fundirio da Casa da Ponte, por 30 mil ris e venderam-no, em 1826, ao mesmo rendeiro e seus scios, por 40 mil ris. No registro de terras da freguesia de Macabas, em 1857-1859, os herdeiros de Rosria Maria de Souza, Maria da Assuno e alguns compradores informaram seus ttulos. Boqueiro Fazenda no atual municpio de Ibotirama, com uma lgua de comprimento e trs de largura, arrendada pelo procurador de Joana da Silva Guedes de Brito para Francisco Vieira Lima, citada por Joaquim Quaresma Delgado, em 1731-1734. A Casa da Ponte arrendou Boqueiro em 1806, para Eufrsia Sofia dos Anjos, por 10 mil ris anuais, delimitando com Vargens, de Francisco Xavier Vieira; Jucurutu, de Josefa Olmpia Pereira; e rio So Francisco. No tombamento fundirio da Casa da Ponte, em
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APEB. Judicirio, SRJ/25/17, f. 67. Escritura pblica, 21 jan., 1874. APEB. Judicirio, SRJ/25/25, f. 34 v. Escritura pblica, 16 set., 1875. 547 APEB. Judicirio, SRJ/25/28, f. 8. Escritura pblica, 4 abr., 1876. 548 APEB. Judicirio, 02.0883.2352.07.
1819, avaliaram-na por 360 mil ris e vendendo-na, em 1820, para Joaquim Jos Correia. Boqueiro Fazenda hoje em Riacho de Santana, que no registro de terras da freguesia de Monte Alto, em 1855-1860, declararam-se proprietrios: Albino do Nascimento Silva (compra de Maria Madalena Pereira da Silva); Antnio Pereira da Silva; Incio Pereira da Silva (herana da Me Maria Pereira da Silva); Leandro da Silva Gonalves; Luiz Rodrigues da Silva (compra de Joaquim Antnio Dourado e sua mulher Teolina da Rocha Ribeiro); Norberto Loureno de Almeida (compra de Joo Xavier de Carvalho Cotrim). Nessa fazenda desenvolveu-se o povoado de Boqueiro, atual distrito de Botuquara. Boqueiro Stio hoje em Condeba, arrendado pela Casa da Ponte, em 1808, para Manoel Monteiro do Vale, limitando com Papa-Terras, Barra do Riacho do Jata, Tamandu, de Feliciana Alves da Silva; Lagoa do Barro, de Constantino Dias do Vale; Tabuleiro Grande, de Feliciana Alves da Silva; rio da Canabrava e Piripiri. Avaliado em 1819 por 30 mil ris, venderam-no para Manoel Monteiro do Vale e quatro scios, por 41 mil ris. Nesse mesmo ano a Casa da Ponte arrendou outra parcela de Boqueiro, por 450 ris anuais, para Manoel Gonalves, nos limites de Constantino Dias do Vale, riacho do Boqueiro e Barra da Lagoa de Barro. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 20 mil ris. Boqueiro Stio com uma lgua de comprimento e meia de largura, extremado ao norte com Monte Alto, no morrote de Lagoinha do Riacho dAnica; ao sul, com a Baixa da Salina; e ao oeste com as terras de Nossa Senhora, na lagoa da Vaca Gorda; arrendado pela Casa da Ponte, em 1808, para Josefa da Silva, por 12 mil e 500 ris anuais. Avaliado no tombamento fundirio de 1819, por 250 mil ris e vendido, em 1823, para o capito Toms da Silva Pereira Pires. Em Boqueiro formou-se o povoado de Boqueiro do Parreira, origem da atual cidade de Sebastio Laranjeira. Boqueiro Stio no atual municpio de Macabas, com meia lgua de comprimento e um quarto de lgua de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1816, para Francisco Gomes da Silva e scios, por mil e 500 ris anuais, estremando com Riacho do Peixe, de Manoel Pereira; Desterro, de Jernimo da Costa; Timteo Alves de Oliveira, no Alto do Bor; e Umbuzeiro, do capito Jos de Oliveira Cortes. O procurador Manoel Moreira da Trindade o avaliou, em 1819, por 60 mil ris e o transferiu, em 1826, aos mesmos rendeiros. Em 1845 o procurador Plcido de Souza Fagundes vendeu o remanescente.
Boqueiro Terras hoje em Macabas, medindo meio quarto de lgua de comprimento e 50 passos de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Timteo Alves de Oliveira, por 10 tostes anuais. Avaliaram-no em 1819, por 36 mil ris e venderam-no, em 1826, para Manoel Nunes de Oliveira. Botim Stio na freguesia de Morro do Fogo, que no registro de terras de 1857-1859, pertencia a Manoel Jos das Neves (por compra de Manoel da Cunha Romualdo); e Valrio Luiz de Souza (compra de Joaquim Jos das Neves e sua mulher Maria Joana de Jesus). Brejo Stio no atual Jacaraci, inventariado em 1845, por Severiano Alves Pereira no esplio de sua mulher Maria Francisca da Purificao549, com uma casa, por 119 mil ris; duas glebas de So Jos, 36 mil e 500 ris; duas de Rio Verde, 114 mil ris; duas de Morro do Chapu, 14 mil e 800 ris; e o stio Boa Vista, com uma casa, 436 mil 640 ris. Apesar das vrias glebas, o inventariante no informou nada de pecuria. Apenas trs escravos e ferramentas agrrias. Declarado no registro de terra da freguesia do Gentio, de 1855-1858, como parte da fazenda Riacho Bonito, por: Antnio da Cunha Gobira (um quarto de lgua em quadro, comprado de Pedro Paulo Pinheiro Pinto e sua mulher Jlia Constncia de Brito); Severiano Alves Pereira (um quarto de lgua em quadro, comprado de Pedro Celestino de Carvalho e sua mulher Lizarda da Cruz Prates e de Manoel Alves Belmonte e sua mulher Gregria Maria da Conceio); Teodsio de Matos Carvalho (um quarto de lgua, comprado de Joaquim Modesto e sua mulher Antnia Maria e Geraldo da Silva Fagundes). Brejo Stio no atual municpio de Macabas, medindo uma lgua de comprimento e outra de largura, arrendado em 1806, pela Casa da Ponte, por dois mil ris anuais, para Maximiano Gonalves da Cruz, limitando com Cambait, de Valentim Antnio; Boa Vista, de Antnio Gomes de Souza; Lagoa Clara, de Caetano Ferreira e Jos Nunes; e Carabas, de Nazria de Souza [da Costa]. Avaliaram-no, em 1819, por 140 mil ris e venderam-no, em 1846, para Raimundo da Silva Mabel. Brejo Stio hoje em Oliveira dos Brejinhos, regulando meia lgua de comprimento e um quarto de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Maurcio de Faria Prates, por 10 tostes anuais, limitando com Rocinha, de Gonalo de Faria; Chapada de
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Cima, de Antnio Leite; Cafund, de Jos Ferreira Leite; e Engenho do Paulista. Avaliado em 1819 por 48 mil ris. Brejo (Brejo Grande, Brejo das Carnabas, Brejo de Matias Joo) Fazenda no rio Carnaba de Fora, um dos formadores do rio das Rs, que se estendia pelas atuais jurisdies de Guanambi, Matina, Igapor e Caetit. Antnio Gonalves Figueira, depois de combater ndios com o cunhado Matias Cardoso de Almeida, no Rio Grande do Norte, no rio Jaguaribe e no Cear, com ele voltara em 1694, para as fazendas que Cardoso estabelecera no rio So Francisco, pois Figueira tambm havia cultivado e levantado no lugar que denominou Brejo Grande, o primeiro engenho de acar que houve naquelas paragens baianas. Depois Figueira seguira para o serto dos rios Pardo e Verde, procurara de esmeralda, onde conquistara duas naes de silvcolas e devassara todo o territrio das Minas Novas e do Serro Frio, fundando as fazendas do Itaqu, Olho dgua e Montes Claros550. O caminho da cidade da Bahia para as minas do rio das Velhas, partia de Cachoeira para a aldeia de Santo Antnio de Joo Amaro e da Tranqueira, onde se bifurcava. direita ia-se aos currais do Filgueira, logo nascente do rio das Rs, de onde se passava ao curral do coronel Antnio Vieira Lima551. Joaquim Quaresma Delgado encontrou, em 1731-1734, na fazenda Brejo ou Brejo das Carnahybas, do mestre-de-campo Pedro Leolino Mariz, no rio das Rs, roaria e engenho de cana. Como Brejo de Matias Joo, a fazenda foi indicada, em 1758, na Planta Corogrfica da estrada da serra dos Montes Altos para o porto de So Flix, defronte da Vila da Cachoeira do rio Paraguau552. Inventariaram Brejo das Carnabas, em 1758, no esplio de Matias Joo da Costa553, com uma engenhoca de moer canas, em terras prprias, uma casa coberta com telhas, canaviais, roa de mandioca e algum milho, por 300 mil ris; 23 escravos, um conto e 84 mil ris; 200 rezes, 500 mil ris; e quatro cavalos, 48 mil ris. No se declarou o valor das terras por serem arrendadas de Joana da Silva Guedes de Brito. Na fazenda Ressaca, avaliada por 150 mil ris, da Costa possua sete escravos, no valor de 280 mil ris; 300 cabeas de gado alto e mallo ou de modo aleatrio , 600 mil ris;
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FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Op. cit., p. 165-166. ANTONIL, Andr Joo. Op. cit., p. 186. 552 AHU. Planta 978. Baa. n. 553. 1758. Planta Corogrfica da estrada da serra dos Montes Altos para Cachoeira. 553 AMRC. Inventrios, 1758-1763. Sobre a descendncia de Matias Joo da Costa, ver: NEVES, E. F. Histria de famlia:...
e 15 cavalos, 188 mil ris. No stio Vereda, da fazenda Conquista, avaliado por 420 mil ris, dispunha de quatro escravos, no valor de 330 mil ris; 300 rezes, 600 mil ris; 40 guas, 160 mil ris; 12 poldras, 108 mil ris; dois cavalos e cinco poldros, 200 mil ris. Acrescentou-se ainda, a fazenda Olho dgua, avaliada por 160 mil ris; stio da Barra, 60 mil ris; stio Nossa Senhora da Vitria, 500 mil ris; stio Catols, 550 mil ris; stio Esprito Santo, 100 mil ris; stio Santo Antnio, 350 mil ris; stio da outra banda do rio Pardo, ao qual no se atribuiu valor porque morriam as criaes que l se botam, entretanto avaliaram nesse stio, infestado de gentio, 100 rezes, por 200 mil ris. Matias Joo manteria um estabelecimento comercial em Brejo, porque anexo descrio dos seus bens encontra-se um rol com dezenas de nomes de credores, a maioria de pequenos valores. No dispunha de jias, talvez partilhadas no esplio da sua mulher. Possua penas colheres, fivelas e dois castiais de prata. No mobilirio e utenslios domsticos encontravam-se: um espelho de vestir, uma balana de pesar ouro, um oratrio com imagens do Senhor crucificado de marfim, duas da Conceio e uma de Santo Antnio, um ba, duas canastras, uma frasqueira com 11 frascos e dois bufetes; entre os utenslios de cobre arrolaram: um alambique pequeno, um tacho, uma caldeira, um forno, uma bacia; de tecido declararam: uma vestia e um calo de pano fino, trs camisas de bretanha fina, duas toalhas de bretanha rendadas, de aguar as mos, uma toalha de Guimares, e um leno da ndia; de estanho descreveram: sete pratos pequenos e 17 rasos, quatro pratos grandes, de meia cozinha, um vaso de sela gineta; de ferramentas apresentaram: 14 enxadas, dois machados e uma foice. O valor dos bens ultrapassou a 14 contos de ris, acrescentando-se ainda as dvidas ativas superiores a quatro contos. Na partilha, cada um dos 11 herdeiros recebeu em bens o correspondente pouco mais de um conto e 100 mil ris. Francisco Martins Abreu inventariou em 1786, o stio Boa Vista, da fazenda Brejo, como uma posse, no esplio da sua mulher Leonor Maria do Sacramento. Inventariaram Cajueiro, na antiga sede de Brejo, em 1844, com os bens do casal Jos Antnio da Silva Castro e Joana de So Castro. No registro de terras da freguesia de Caetit (1854-1859), contornando por Barra do Carrapato, Vereda, cabeceiras do riacho dos Brindes, Pedra Vermelha, Cachoeira Grande, Olho dgua da Sanfona, riacho da Vargem e Poes, dezenas de herdeiros e compradores declararam propriedades em comum, com nomes de famlia como: Batista dos Reis, Belchior Guedes, Brito Gondim, Faria do Couto, Ferreira Leal, Lopes da Silva, Pedreira de Cerqueira, Pereira Benevides, Ribeiro Gomes, Rodrigues da Trindade,
Rodrigues Ladeia, Silva Teixeira. O mesmo ocorreu no registro de terras de 1855-1860, da freguesia de Monte Alto, com a denominao de Brejo Grande, onde apareceram alguns titulares com os mesmos sobrenomes e outros como: Almeida Oliveira, Arajo Braga, Barbosa Braga, Correia de Lacerda, Dias Laranjeira, Pereira da Costa, Pereira Trancoso, Rodrigues da Trindade, Rodrigues Malheiros, Silva Leite, Silva Pimentel, Silva Porto. Brejo de Nossa Senhora da Consolao (ou Brejinho) Stio na atual jurisdio de Macabas, expandindo-se por meia lgua de comprimento e outra meia lgua de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, por mil 250 ris anuais, para Francisco Jos do Nascimento, sendo avaliado no tombamento de 1819, por 40 mil ris e vendido, em 1812, para Eusbio da Silva Monteiro, pelo procurador Joaquim Pereira de Castro. Brejo de Santo Onofre Stio hoje em Macabas, vendido, em 1740, por Joo Soares de Abreu, que comprara de Simoa Gomes Tavares, por um conto e 400 mil ris, inclusive quatro escravos, engenho e bois mansos, para a prpria Simoa Gomes Tavares.554 Este stio fora antes arrendado para Verssimo de Barros, sendo o contrato transferido para Simoa Gomes Tavares, por 10 anos, para o genro Manoel Caetano de Queirs Monteiro555. Brejo do Meio Stio com meio quarto de lgua de frente e trs quartos de fundo, arrendado em 1806, pela Casa da Ponte, por 10 tostes anuais, para Joo Batista de Arajo, limitando com Curralinho, de Jos Alves de Oliveira; Brejinho, de Francisco Jos do Nascimento; e Curral Velho, de Francisco Luciano da Costa. Avaliaram-no, por 40 mil ris, em 1819, e o capito Plcido de Souza Fagundes, procurador da casa titular, o vendeu para Gregrio da Silva Monteiro. Brejo dos Padres Fazenda dos Guedes de Brito nas cabeceiras do rio das Rs, no atual municpio de Caetit, transferida para a Casa da Ponte, que arrendou, na segunda metade do sculo XVIII, ao capito Antnio Xavier de Carvalho Cotrim,556 cujos filhos compraram a terra antes de 1818, quando se inventariou uma frao, com Cerquinha, no esplio de um deles, Francisco Xavier de Carvalho Cotrim. Pedro Caetano Vilas Boas e sua mulher Melnia Severina Rio de Contas venderam, em 1842, uma parcela de Brejo dos Padres que compraram de Maria Feliciana de
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AMRC. Livro de Notas n. 6 (1738-1742), f. 37. Escritura de compra e venda, 29 jul., 1740. AMRC. Livro de Notas n. 6 (1738-1742), f. 34. Cpia de um escrito de arrendamento, 30 jul., 1741. 556 Sobre descendentes de Xavier de Carvalho Cotrim, ver: NEVES, E. F. Histria de famlia:... Op. cit.
Brito Gondim, viva de Joaquim Xavier de Carvalho Cotrim, para Manoel Rodrigues Ladeia557 que, em 1845, doou, com sua mulher Irene Alexandrina de Abreu Lima, uma gleba, no valor de 600 mil ris, ao filho Policarpo Rodrigues Ladeia Lima para receber ordens sacerdotais.558 Em 1849, Maria Feliciana de Brito Gondim doou metade das suas terras, no valor de 300 mil ris, para os netos Ernesto, Gustavo, Amlia, Sofia, Atlio e Umbelino, filhos do capito Inocncio Xavier de Carvalho Cotrim559. Manoel Rodrigues Ladeia doou, em 1884, outra parcela, no valor de 400 mil ris, para Rosa, filha menor do seu segundo casamento. No esplio de Afra da Silva Guedes560, em 1886, Antnio Borges Guedes, filhos e netos, partilharam o stio Curral dos Padres, por um conto de ris, com duas glebas da fazenda Isabel, por 482 mil ris; uma de Tabua e outra de Hospcio, de valores menores e quatro escravos idosos, por preos que variaram de 400 a 77 mil ris. Brejo Grande Stio hoje em Boquira, medindo uma lgua de comprimento e outra de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, para Incio Gonalves de Arajo, por quatro mil ris anuais, avaliado em 1819, por 180 mil ris e vendido, em 1820, para Jos Ferreira da Silva e Manoel Jos Pereira. No registro de terras da freguesia de Macabas, em 1857-1859, dezenas de herdeiros e compradores de pequenas glebas a maioria Gonalves de Arajo declararam seus ttulos. Brejo Grande Stio na atual jurisdio de Oliveira dos Brejinhos, com uma lgua e um quarto de comprimento e igual extenso de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Ana Maria do Bom Sucesso, por trs mil e 500 ris anuais, limitando com Jucurutu, de Josefa Olmpia Pereira; stio de Agostinho de Passos Pereira; Flores, de Francisco de Oliveira; e Canabrava, de Jos Gomes de Oliveira. Avaliaram-no, em 1819, por 200 mil ris e venderam-no, em 1838, para Ladislau Francisco de Souza Brito. Tambm em 1807, o mesmo senhorio arrendou outra frao, medindo uma lgua de comprimento e igual extenso de largura, para Agostinho de Passos Ferreira, pelo mesmo valor de trs mil e 500 ris anuais, limitando com Riacho, de Dona Ana; Serra Negra, nos Atoleiros e no riacho da Canabrava; Chiqueiro, de Jos Gomes e outros. Avaliaram-na, em 1819, por 200 mil ris e venderam-na, em 1837, para Malaquias Passos Pereira.
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APEB. Judicirio, SRJ/25/9. f. 121 v. Escritura pblica, 16 ago., 1842. APEB. Judicirio, SRJ/25/11. f. 38. Escritura pblica de doao, 30 nov., 1845. 559 APEB. Judicirio, SRJ/25/12. f. 42 v. Escritura pblica de doao, 8 jan., 1849. 560 APEB. Judicirio, 03.1180.1694.10.
Buritis Stio hoje em Macabas, limites de Botupor, medindo trs quartos de lgua de comprimento e uma lgua de largura, arrendado em 1816, pela Casa da Ponte, por trs mil e 500 ris anuais para Lauriana de Brito Nunes, limitando com P da Serra, de Domingos Jos Gonalves e seu scio, no Alto da Lagoa; alto da serra de So Marco; Juazeiro, do capito Jos Antnio do Rego, no alto da serra do Boi Manso; estremas de P da Serra e Algodes, no alto da serra da Suuarana; limites de Conceio, de Incio Loiola Jardim; e Tapera, de Francisco da Silva Lima. O procurador atribuiu-lhe o valor de 10 mil ris em 1819, vendendo-o, em 1826, para a arrendatria Lauriana de Brito Nunes. Caatinga (Catinga) Stio no atual municpio de Caetit, do qual Joaquim Fernandes de Arajo e sua mulher Lourena de Brito, sem declinarem a origem da propriedade ou posse, definiram limites e assentaram marcos, em 1805, com a viva e herdeiros de Flix Pereira da Costa, possuidores da fazenda Lagoa: Maria Francisca da Conceio, os filhos menores Joaquim, Jernimo, Flix, Bento, Joo, Antnio, Francisco, todos eles Pereira da Costa e o genro Jos da Silva Neves e sua mulher Maria Clara da Conceio561. Cabea Danta Stio nos atuais limites de Paratinga e Oliveira dos Brejinhos, com uma lgua de comprimento e menos de meia lgua de largura, arrendado pela Casa da Ponte em 1806, para Eufrsia Sofia dos Anjos, por dois mil ris anuais, limitando com Saco dos Bois, de Antnio Gomes, na Passagem da Ingazeira; Jucurutu, de Josefa Olmpia, em Trs Rios; Saco, de Rita de tal; Penha, de Maria Peregrina, no alto da Boa Vista. Avaliaram-no, em 1819, por 100 mil ris e o procurador Plcido de Souza Fagundes o vendeu, em 1841, para Tibrcio Antnio. Cachoeira (ou/e Cachoeirinha) Fazenda hoje em Caetit, citada em 1731-1734, por Quaresma Delgado. Hipotecada no final do sculo XVIII com Lajes, para pagamento de dvidas do esplio do capito Jos Vicente Ferreira de Souza (vivo Ana Maria de Oliveira) a Antnio Gonalves Viana, por sete contos, 823 mil e 470 ris; Jos Fernandes de Castro, 505 mil e 97 ris; Dr. Francisco Gonalves Junqueira, 272 mil 783 ris; e ao filho, alferes Lus de Frana Ferreira de Souza, 508 mil e 230 ris. Inventariada em 1795 e novamente em 1800, com o mesmo esplio de Jos Vicente Ferreira de Souza562.
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APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 74. Registro de escritura particular, 31 jul., 1805. APEB. Judicirio, 03.1229.1698.15; 02.0578.1030.05. Partilharam o remanescente, os filhos Luiz de Frana Ferreira de Souza, Joo de Barros Silva, Maria Madalena de Souza e os genros Joo Gomes Cardoso e Alexandre da Costa.
Em 1800 os bens foram hasta pblica no Juzo de rfos de Rio de Contas, transferindo-se a fazenda Lajes para Antnio Gonalves Viana, por conta de dvida. Francisco de Brito Gondim arrematante de Cachoeira recebeu 456 cabeas de gado, 318 bestas, 76 potros, dois escravos e uma casa coberta de palha, com dois currais. A empresa Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cia. permutou, em 1842, duas parcelas de Cachoeirinha, no valor de dois contos e 400 mil ris, por duas iguais de Umbuzeiro, no mesmo valor, com Ana Anglica de Jesus, viva de Francisco de Brito Gondim563. Nesse mesmo ano, Manoel Francisco de Brito Gondim e sua mulher Rita Esmeria de Carvalho Cotrim doaram uma frao ao filho Policarpo de Brito Gondim, no valor de 600 mil ris, constituindo o patrimnio exigido para sua ordenao sacerdotal564. Manoel Francisco e Rita Esmeria venderam, em 1851, parte de Cachoeira que herdaram e outra que compraram, para Florinda de Barros Silva, por 400 mil ris565. Nesse mesmo ano o casal vendeu outra parte adquirida por compra e herana, para Joo Duncan, por 600 mil ris566 e doou, em 1855, uma gleba, no valor de 600 mil ris, comprada de ngelo Custdio Ferreira de Faria, ao filho Possidnio de Brito Gondim, para formao do patrimnio exigido para sua ordenao sacerdotal, com o rendimento anual de 30 mil ris de doctis expensis, prevalecente enquanto no obtivesse benefcio colado567. Em 1853, inventariaram sete partes de Cachoeirinha, por oito contos de ris, no esplio de Ana Anglica de Jesus568, alm de Poo dAntas (Arroz e adjacncias, em Riacho de Santana), por um conto e 500 mil ris; So Vicente, 700 mil ris; Larga dos Morros, dois contos; e duas parcelas de Espigo (Lagoa Real), 200 mil ris. Ana Anglica, viva de Francisco de Brito Gondim (filho), desde 1817, conseguiu manter o patrimnio fundirio e um pouco da dinmica agropecuria da famlia de 15 filhos. Dos antigos rebanhos restavam 70 rezes; dos escravos, alguns criados, que alforriou; das lavouras, alguns ps de caf, em Larga dos Morros; e mais, se havia no se declarou.
APEB Judicirio. SRJ/25/9, f. 144. Escritura pblica de permuta, 2 jan., 1842. APEB Judicirio. SRJ/25/14, f. 232. Escritura pblica de doao, 31 jul., 1855. Nesse mesmo ano Vitorino Xavier Rego, filho de Manoel Francisco Xavier do Rego e Francisca Teresa do Rego recebeu, para ordenar-se sacerdote, um sobrado no arraial de Canabrava (dos Caldeiras). Entretanto, Vitorino desistira da opo sacerdotal porque, em 1874, vendeu, com sua mulher Filomena Maria do Rego, atravs de procurao, uma parcela de Bonito de Cima. 565 APEB. Judicirio, SRJ/25/13, f. 8. Escritura pblica, 22 mar., 1851. 566 APEB. Judicirio, SRJ/25/13, f. 12. Escritura pblica, 2 abr., 1851. 567 APEB. Judicirio, SRJ/25/9, f. 144. Escritura pblica de doao, 22 jun., 1842. 568 APEB. Judicirio, 03.1193.1662.09. Inventrio de 1853; 03.1202.1671.09. Inventrio de 1871.
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Querelas familiares anularam o inventrio de 1853, no Superior Tribunal da Relao. O filho Manoel Francisco de Brito Gondim autuou novo processo, em 1871, reavaliando os bens e acrescentando outros: fazenda Salina, no valor de dois contos; Poo dAnta, tambm dois contos; So Vicente, um conto, Cachoeirinha, quatro contos e 500 mil ris; Larga dos Morros, um conto e 450 mil ris; parcela de Espigo, 200 mil ris; Varginha, em Bonito, doada pela inventariada, em clusula testamental, aos trs netos, filhos de Joo Francisco de Brito Gondim, 600 mil ris; e a casa de Umbuzeiro, doada ao filho Manoel Francisco, 450 mil ris. Para a metade da casa no Largo da Igreja, em Caetit, antes avaliada por 200 mil ris, atribuiu-lhe o valor de apenas 80 mil ris. No segundo inventrio relacionaram e avaliaram 14 escravos doados, ou alforriados, merecendo destaque o caso da africana Teresa, com 125 anos de idade, alforriada, mas inventariada por dois mil ris. O patrimnio avaliado em 1853, por mais de 26 contos e 500 mil ris, valia em 1871, pouco mais de 22 contos e 800 mil ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, de 1854-1859, declararam propriedades comuns em Cachoeira, indicando os mesmos limites de Cachoeirinha Ponta da Serra da Jurema, Lagoa do Canto, Cocho da Garapa, Pindabas, Alto do Cercado e Piripiri esplio de Ana Anglica de Jesus, Antnio Jos de Santana, Florinda de Barros Silva (compra), Joaquim da Silva Barros, Jos Pedro Fernandes569 e Manoel Jos Ferreira. E em Cachoeirinha: Constantino da Silva Lino, Joo Duncan, Fidelis Caetano Vilasboas, Florncio Pereira dos Santos, Joana Batista Maria de Jesus, Joo da Mata Silva, Manoel Correia da Silva, Manoel Francisco de Brito Gondim, Manoel Jos Ferreira, Manoel Ribeiro Marinho, Martiniano Vtor de Santa Ana, Modesto Jos Teixeira, Narciso de Freitas Souza (compra de Manoel Francisco de Brito Gondim e sua mulher Rita Esmeria de Carvalho Cotrim). O mdico escocs, Joo Duncan e sua mulher Ana Maria de Barros Silva venderam, em 1867, parte de Cachoeirinha e, como procurador, tambm as de Loureno Jos da Costa e sua mulher Antnia Francisca de Brito Costa, do alferes Joaquim Manoel de Brito Barros e de Cassiana de Brito Gondim, para Maria Vitria Pereira de Castro, incluindo Santa Brbara com umas casas, chcara e todas as benfeitorias, e partes das fazendas Angu e Carrapato, tudo por seis contos de ris570. Manoel Joaquim de Souza e
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Joaquim da Silva Barros e Jos Pedro Fernandes indicaram limites de Cachoeira com a denominao de fazenda Canabrava, qual integrara no passado. 570 APEB. Judicirio. SRJ/25/22, f. 193 v. Escritura pblica, 3 jul., 1867.
sua mulher Maria Claudina de Almeida venderam, em 1870, o stio Moc, da fazenda Cachoeira, para Valeriano Xavier de Carvalho Cotrim, por 300 mil ris571. Cachoeira Fazenda entre Caieiras, Volta do Rio, Tamboril e limites de gua Quente, no atual municpio de Paramirim, que no registro de terras da freguesia de Morro do Fogo, em 1857-1860, declararam-se proprietrios em comum: Manoel Jos Viana (herana do sogro Luiz Ribeiro de Magalhes); Maria da Silva de Jesus; Antnio Joaquim Louzada (compra de Manoel Leandro de Oliveira Guimares); Joaquim Jos de Azevedo (herana dos sogros); Joaquim Jos de Magalhes (herana paterna e compras diversas); Gregrio Alves Ferreira, sua cunhada Francisca Maria de Souza e o sobrinho Manoel Cardoso de Souza (heranas); Francisco Ribeiro de Magalhes (herana paterna). Cachoeira Fazenda em Urubu (Paratinga), limitada com Lagoa, na passagem do riacho do Mandacaru; serra Geral, em Malhada e rio So Francisco; e Riacho da Cruz; vendida em 1808, pelo conde e condessa da Ponte, atravs do procurador Joaquim Pereira de Castro, por 250 mil ris, para Mariana Mendes de Oliveira, representada pelo filho Agostinho Vieira de Lima572. Cachoeira Stio arrendado pela Casa da Ponte em 1807, por 400 ris, para Maria Francisca de Siqueira, limitando com Pedrinhas, de Leandro Jos de Queirs; Carlos Alonso de Siqueira; Julio Ribeiro Moo; e Passagem Velha da Barra. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 10 mil ris. Cacul Fazenda na qual se desenvolveu o povoado que deu origem cidade do mesmo nome. Em 1835 inventariaram metade das terras por 17 contos e 800 mil ris, no esplio de Teresa Maria de Jesus573, viva de Manoel da Cruz Prates, cujos bens se dividiram pelos sete filhos, cabendo a Rosa da Cruz Prates, por legado testamental, a sede da fazenda, com uma de casa de adobes, coberta com telhas, inclusive paiis e casa de farinha, trs currais de pau a pique, no valor de um conto de ris. Integrou tambm o esplio, uma frao de Rio do Antnio, no valor de um conto e 500 mil ris; 66 escravos de diferentes idades e origens, dos quais, sete eram vaqueiros, um de servios de roa, duas costureiras, uma de servios domsticos e outra rendeira. O vivo inventariante informou possuir mil cabeas de gado, 96 guas e poldros, 13 cavalos e dois muares, alm de duas cargas de algodo prensadas, cinco cargas e
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APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 183. Escrit. pblica, 20 jan., 1870; f. 245. Escrit. pblica, 21 jan., 1874. 572 AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 23, f. 102. Escritura, 23 jan., 1808.
meia em caroo, trs roas de mandioca e uma de algodo e milho, uma roda de ralar mandioca e uma prensa de parafuso. Guardava pouco mais de 300 mil ris em moedas de ouro, prata e cobre, vrias peas de ouro e utenslios de prata. Entre os instrumentos de ferro, informou um tronco viramundo, uma espingarda Graza, outra Neciana e um bacamartinho; em tecidos, 19 cvados de seda fina, quatro cvados de pano azul, capotes de gasemira, vrios lenis e fronhas de cambraia e madrasto, saias de chita e cetim, toalhas de linho e de algodo, coberta de chita francesa. O mobilirio compunhase de mesa com gaveta e fechadura, catres, bancos e tamboretes. No oratrio havia uma imagem do Senhor crucificado, de lato, uma de Senhora da Conceio e outra de Santo Antnio. Avaliaram o patrimnio do casal por mais de 53 contos de ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, de 1854-1859, contornada por morro dAntas, Passagem do Pajeu, lagoa do Tamboril, So Joo, lagoa do Jatob, barra do riacho de Maria Preta, morro de So Domingos e barra do riacho da Vereda da Ona, informaram propriedades em comum de Cacul: Antnio do Couto; Clemente Jos Vieira; Flix Pereira Japecanga; Joo Antnio de Brito (herana do pai Joo Borges de Carvalho); e Modesto Ferreira de Souza (trs partes). No registro de terras da freguesia do Gentio, de 1855-1858, apenas Francisco Garcia Leal (compra de Clemente Alves de Carvalho) e Jlio Csar Correia Barbalho (herana da me Ana Joaquina de Jesus) informaram propriedades. No esplio de Ana Teresa de Jesus574, filha de Manoel da Cruz Prates e Teresa Maria de Jesus, viva de Manoel de Brito Gondim, partilhado pelos 10 filhos ou herdeiros deste, inventariaram, em 1862, uma lgua de terras em comum de Cacul, por 500 mil ris; outra frao da mesma fazenda, com casas, curral e mangas, dois contos, 485 mil 114 ris; uma parcela de Rio do Antnio, 300 mil ris; uma casinha, com um mil ris de terras, na fazenda Santa Clara, 20 mil ris; trs roas de mandioca de uma quarta de milho cada uma, 200 mil ris. O filho inventariante nada informou sobre o emprego dos 35 escravos. Supe-se que os ocupava apenas em atividades agrcolas, porque o esplio possua apenas oito burros de carga, trs bois de carro, duas guas, um cavalo e um poldro. O oratrio guardava um Menino Deus, um So Francisco, quatro Senhoras do Rosrio, da Conceio, da Piedade e Santana.
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Inventariaram em 1862, no esplio do capito Flix Pereira Japecanga575, partilhado pela viva Tefila Coleta Viterbo e os cinco filhos, duas parcelas de Cacul, herana do capito Joaquim Garcia Leal, por 600 mil ris e compras dos herdeiros de Jos da Silva Prates, 40 mil ris; trs parcelas de Chafariz, por 550 mil ris, uma da mesma herana e duas compradas de A[gostinho] Gomes Cardoso e Francisco Garcia Leal; uma de Lagoa dAnta, comprada de Francisco Garcia Leal, 500 mil ris; uma em Piedade, herdada de Joaquim Garcia Leal, 100 mil ris; outra em Salto, tambm da mesma herana, 300 mil ris; uma tropa de 11 burros cargueiros arreados e quatro desarreados, um conto e 600 mil ris; alguns animais de montaria e apenas 20 cabeas de gado vacum; 10 escravos, dos quais Joo, africano, 50 anos, no valor de 200 mil ris, fugira, sendo encontrado inutilizado, com os dois braos quebrados, a cabea e duas costelas, evidente conseqncia de espancamento no ato da captura, que custara 90 mil ris ao senhor. No se inventariaram produtos agrcolas, talvez por se destinarem despensa. A relao de ferramentas agrrias indica atividade no setor. Manoel da Cruz Prates576, no possuindo descendente, instituiu, em 1877, a irm Rosa da Cruz Prates com nica herdeira. No seu esplio inventariaram uma parte de Cacul, por trs contos e 600 mil ris; outra de So Joo e Rio do Antnio, 400 mil ris; de Jabuticaba, 50 mil ris; posses em Lagoa da Gameleira, Alecrins e Lagoa da Vrzea, 400 mil ris. O inventariado possua 270 rezes avaliadas por quatro contos, 320 mil ris; 30 guas, 600 mil ris, seis jumentos 180 mil ris; sete burros, 340 mil ris; sete cavalos sendeiros, 175 mil ris. No possua escravos nem lavouras. Empregava, portanto, mode-obra livre, talvez de sorte, na pecuria. Uma curiosidade, considerando a raridade de registro de instrumento musical em inventrio, fica por conta de uma viola, avaliada por 10 mil ris. Em 1880 inventariaram no esplio de Emerenciana Maria da Silva577 o stio Tigre, da fazenda Cacul, com uma casa de trs portas de frente, roda de mo e forno de farinha, por um conto e 60 mil ris; trs posses em Olho dgua, Lagoa Funda e Lagoa do Canto, por 300 mil ris; e uma gleba no Cisco, 40 mil ris. O vivo Joo da Silva Prates declarou alguns bovinos, eqinos e asininos de montaria, guas e bois carreiros, por 570 mil ris; e uma roa de mandioca, 50 mil ris, alm de trs escravos, todos de lavoura, alguns utenslios domsticos e ferramentas agrcolas.
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APEB. Judicirio, 02.0867.1336.18. APEB. Judicirio, 03.1190.1659.08. 577 APEB. Judicirio, 02.0873.1342.08.
Nesse mesmo inventariaram com os bens de Maria Felizarda da Assuno578, viva de Jos Filipe de Santiago, partes de Cacul Tigre e Lagoa do Curral um quarto de uma casa no arraial de Cacul e um quintal por 120 mil ris. O casal, no possua escravo. Produzir a subsistncia e pequenos excedentes comercializveis com o trabalho familiar. Arrolou-se pequeno nmero de instrumentos agrcolas e o diminuto criatrio: um cavalo, um poldro, duas guas, uma vaca parida e duas solteiras, um boi, dois garotes, quatro novilhas e uma porca parida com sete leites. Trs anos depois inventariaram, no esplio de Maria Senhora das Neves579, partes de Cacul e Rio do Antnio, com uma casa, por 141 mil e 200 ris. Nos esplios de Joaquim Pedro Alves Martins e Tefila Coleta de Viterbo580, em 1885, transferidos para a menor Elizabeth, arrolaram uma parcela de Cacul, por 250 mil ris; uma de Chafariz, pelo mesmo valor; Salto, 180 mil ris; Comocochico, 100 mil ris; e pequenas glebas de Cabeceira do Riacho Seco, Bonito do Tremedal, e Piripiri. O casal dispunha de canavial, 100 rapaduras, roa de mandioca e pastos. Seus rebanhos limitavam-se a oito vacas, cinco guas, 10 porcas, oito cabras, um burro e um cavalo. Apesar da escravido j quase extinta, mantinha quatro cativos. Nesse mesmo ano de 1885, inventariaram, com o patrimnio de Rosa da Cruz Prates581, uma frao de Cacul duas mangas, uma na Lagoa do Espinho, com engenho e alguns ps de cana e outra com um tanque, por 250 mil ris; uma casa velha no arraial de Cacul, com benfeitorias, prensas velhas, currais, tudo em pssimo estado, por 414 mil ris; uma casa de enchimento, com portas e janelas, no alto da Lagoa, ao p da Salina, 20 mil ris; trs parcelas da fazenda Rio do Antnio, herdadas do irmo Manoel da Cruz Prates, 700 mil ris e herana materna, 200 mil ris; quatro partes da fazenda Jacar, uma herana do mesmo irmo, outra do pai Manoel da Cruz Prates e duas da me Teresa Maria de Jesus; uma gleba em comum da fazenda Penasco, comprada de Francisco de Sales Carvalho, com posse no Largo, 110 mil ris; outra parte sem demarcao, em Mandacaru, com casinha e curral, 110 mil ris. Rosa da Cruz Prates alforriou todos os escravos. Possua 48 vacas paridas, s quais atriburam o valor de 960 mil ris; quatro bois carreiros, 110 mil ris; 150 rezes, um conto e 950 mil ris; e vrios eqinos, muares e asininos. No se inventariou qualquer produto ou instrumento agrcola. Dos seus utenslios domsticos constavam 11
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APEB. Judicirio, 02.0873.1342.06. APEB. Judicirio, 03.1153.1626.03. 580 APEB. Judicirio, 03.1214.1683.22.
talheres, duas salvas e um copo, todos pesando 2,666 kg. de prata. O valor de seus bens somou pouco mais de sete contos de ris. No deixando descendentes dividiram o patrimnio conforme seu testamento, entre os sobrinhos, padre Joaquim Pedro Garcia Leal, Joo da Silva Prates e outros 11 legatrios de pequenos valores. Caetit Velho (Caytats, Cahitat, Caitat, Cahitet, Caetat, Caitet, Caitit, Caetet, Caetit) Joaquim Quaresma Delgado, passou, em 1731-1734, por Cahitet, fazenda de gado do capito Estevo Pinheiro [de Azevedo], qualificando-a como hum dos milhores sitios do serto, com huma muy grande roa, e horta com laranjeyras, limes e toda a hortalia, agoa e pastos convenientes582. Na primeira metade do sculo XVIII, o capito Estevo Pinheiro de Azevedo arrendou Serra (Serra de Estevo Pinheiro, Serra de Antnio ngelo, Santo Antnio da Serra, atual Monsenhor Bastos), fazenda ou stio Caetat, de Joana da Silva Guedes de Brito. Em 1748, Matias Joo da Costa, radicado em Brejo das Carnabas ou Brejo Grande, ditou seu testamento no stio do Caetet, residncia do capito Antnio Fernandes Amado. No inventrio do capito Estevo Pinheiro de Azevedo, em 1759, a viva Caetana Maria Amada de Jesus registrou apenas hua morada de casas, toda de adobes e coberta de telhas, neste stio, onde residia com a famlia; hm cytio de terras chamado as Queimadas do Pau a Pique, com terras prprias, arrendado por dez mil ris a hum crioullo por nome Gonalo Pinheiro583 e outro chamado da Serra do Campo Seco, que parte com o do Campo Seco e o do Senhor Bom Jesus584. Inventariaram, em 1765, no esplio do alferes Francisco de Souza Porto585, o stio Caytat Velho denominao posterior transferncia do arraial, elevado a freguesia de Santa Ana do Caetat, em 1754, para a fazenda Alegre, duas lguas a oeste do stio original limitando com Piripiri, do padre Jos Gaspar, os herdeiros de Igncio Xavier Prates, por 280 mil ris, com duas casas velhas cobertas com telhas, tendo 12 portas e oito janelas. A viva inventariante Quitria Maria de Oliveira informou que o casal possua na fazenda Caetit Velho: sete cavalos, avaliados por 84 mil ris; 11 guas, 44 mil ris; e 40 cabeas de gado vacum alto e mallo, 100 mil ris; e na fazenda
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APEB. Judicirio, 03.1181.1650.16. Ver Roteiro de Quaresma. In: FREIRE, Filisbello. Histria territorial..., p. 523. 583 Queimadas do Pau a Pique, margem direita do alto Paraguau, no atual municpio de Marcionlio Moura, extremava-se com a fazenda Pau a Pique, de Manoel Nunes Viana, lder dos emboabas, no rio das Velhas. Pinheiro de Azevedo, seu aliado, fazendeiro no rio Gorutuba, transferiu-se, em conseqncia da guerra, para o curso do rio So Joo, tornando-se um dos pioneiros do povoamento do Alto Serto da Bahia. 584 AMRC. Inventrios (1759-1767).
Rio das Rs, do falecido sergento-mor Bernardo Pereira Pinto, seu genro, 200 rezes, avaliadas por 320 mil ris. De agricultura, alm de ferramentas, declarou uma engenhoca velha, toda desbaratada, avaliada por 21 mil ris e uma roda velha de ralar mandioca, oito mil ris. Possua ainda um par de pistolas, oito mil ris; uma espingarda, trs mil e 200 ris; e uma espada de ferro, trs mil ris. Das roupas destacam-se: uma casaca de pano fino azul ferrete com banda de cetim branco, um calo de cetim preto, uma dragona586 de (...) branco, um capote de barregana587 azul celeste, trs camisas de bretanha, duas camisas de linho branco, trs ceroulas de algodo branco, dois pares de meia, de linho e algodo fino. Em 1789, o padre Jos Machado de Couto (que comprara a posse de Francisco Gonalves de Arajo, adquiriu as terras de Manoel de Saldanha da Gama) doou partes da fazenda do Caetet, para Jos Godinho de Pinho, casado com sua neta Ana do Bonfim. Essa doao limitava-se com o riacho do Caetet, fazenda Paramirim e riacho da Vereda, ficando para o Godinho, a partir da Lagoinha correndo pela cumeada da serra ao norte, ath a ponta da serra da Jurema, todas as vertentes ao nascente; e para a fazenda da Lagoa, as vertentes para o poente, desde a ponta da serra da Jurema, fazenda da Cachoeira, com todas as vertentes ao riacho da Vereda tanto do nascente, como do poente. Alm da gleba o padre doou a Jos Godinho de Pinho 50 rezes fmeas e seis escravos, sob condio de manter seu gado nessas terras e benefici-las como desejasse588. O mesmo sacerdote doou, em 1792, outra parte da fazenda Caetet (da compra que fizera de Francisco Gonalves de Arajo, adquirente, depois que se apossou judicialmente de Manoel de Saldanha), para Bonifcio Jos Machado do Couto, na qual se acha sita a Igreja Matriz da freguesia de Caetet, onde est fundando to bem o Arraial. Essa segunda doao circunscreveu-se entre os riachos do Irmo, do Stio e da Pedreira, com todas as vertentes desta linha para o riacho chamado Caetet589. O procurador da Casa da Ponte, Joaquim Pereira de Castro, vendeu por 120 mil ris, em 1808, o stio Serra ou Serra de Estevo Pinheiro, ao tenente Antnio ngelo de Carvalho Cotrim, neto do arrendatrio, delimitando com So Joo, Caetit, Angu, Pindaba, Cachoeira, Carrapato, lagoa do Patriarca, ponta da serra de Caetat590. Em 1832,
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APEB. Judicirio, 02.0532.0978.08. Galo ou pea de metal usada nos ombros por militares. 587 Tecido de l muito durvel. 588 AMRC. Livro de Notas do tabelio de Rio de Contas n. 2, f. 74. Cpia de escritura particular, 2 fev., 1789. 589 AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 2, f. 76. Cpia de escritura particular, 20 ago., 1792. 590 AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 23, f. 86. Escritura de venda e quitao, 9 jan., 1808.
Antnio ngelo de Carvalho Cotrim e sua mulher Ana Maria de Nazar Fernandes da Cunha venderam o que herdaram dos pais e compraram da Casa da Ponte, por dois contos de ris, as terras e um conto e 200 mil ris as benfeitorias, ao capito Bernardino de Brito Gondim591. Joaquim Ferreira de Souza legou em testamento duas glebas de Ipueira, que integrava Caetit Velho, para Nossa Senhora Santa Ana, padroeira da freguesia de Caetit, em 1841. No ano seguinte, inventariaram no esplio de Marcelina Ferreira de Souza592, dividido pelos nove filhos Rodrigues Gomes, o stio Angu, com uma casa, paiol, roda, forno, por um conto e 980 mil ris; Lagoa do Piripiri, com uma casa, senzalas e mobilirio, casa de engenho com acessrio, e chcara com ps de caf, bananeiras e canas, 880 mil ris; 50 rezes, 400 mil ris; uma junta de bois de engenho, 120 mil ris; dois cavalos e dois potros, 120 mil ris, quatro guas, 80 mil ris; uma roa de mandioca de dois anos, 100 mil ris; duas de um ano, 80 mil ris; 10 escravos com preos entre 100 e 500 mil ris; um alambique e capacete, 125 mil ris; e vrios tachos de cobre. Jos Antnio Pinheiro e sua mulher Constncia Maria de Jesus venderam, em 1843, parte de Caetit Velho, que herdaram da sogra e me Ana Maria Esmeria de Souza, por 40 mil ris, para Jos Manoel Soares593. Em 1849 o capito Jos Ribeiro de Magalhes e sua mulher Ana Teresa de Magalhes venderam outras glebas de Caetit Velho e de Brejo Grande, por um conto de ris, para Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso594. Logo depois, essa empresa transferiu as fraes adquiridas para Serafim de Freitas Souza, com outra de Lagoinha, por dois contos de ris595. Bernardino de Brito Gondim vendeu Serra, em 1854, com Baixo e Jacar, para Jos dos Santos Correia. No registro de terras da freguesia de Caetit (1854-1859), declararam propriedades comuns na fazenda Caetit Velho: Alexandre Rodrigues Gomes (Angu); Aprgio Rodrigues da Silva (Ipueira); Clemente Jos dos Santos Coqueiro (Angu, compra); Jos dos Santos Correia (Santo Antnio da Serra, comprada de Bernardino de Brito Gondim); Florinda de Barros Silva (herana em Boa Sorte e compra no Angu, do cunhado Joaquim Ferreira de Souza); Francisco Manoel Gomes (Angu); Francisco Rodrigues da Silva (herana e compra, Angu); Gregrio Ferreira de Souza (Ipueira, herana); Joo Duncam (Angu); Leandro Pereira de Barros Silva (Angu); Luiz Rodri591 592
APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 52. Escritura particular, 4 jan., 1832, registrada em 15 fev., 1872. APEB. Judicirio, 02.0574.1026.03. 593 APEB. Judicirio, SRJ/25/9, f. 172 v. Escritura pblica, 25 ago., 1843. 594 APEB. Judicirio, SRJ/25/12, f. 67 v. Escritura pblica, 21 mai., 1849. 595 APEB. Judicirio, SRJ/25/12, f. 71. Escritura pblica, 30 mai., 1849.
gues da Costa (Ipueira); Manoel Jos da Silva (Ipueira, compras de Jos Vicente Ferreira da Silva e de Quintiliano Rodrigues da Costa); Manoel Rodrigues Gomes (Espigo); Vicente Rodrigues Pinto (Angu); e outros. Em 1858 o comendador Joo Caetano Xavier da Silva Pereira e sua mulher Maria Vitria Pereira de Castro venderam parte (Santa Cruz) com terras da fazenda So Joo, Barroco, Cumbe, Caetit Velho e Barrinha, por dois contos e 500 mil ris, para Josefa Maria da Silva596. Em 1860 Gonalo Lopes de Oliveira vendeu uma gleba, por 800 mil ris, para o tenente Timteo de Souza Spnola597. Joo Duncan e sua mulher Ana Maria de Barros Silva venderam, em 1867, para Maria Vitria Pereira de Castro, uma poro de Ipueira, com Santa Brbara, casa, chcara e outras benfeitorias, acompanhando partes de Carrapato e Cachoeirinha, de Loureno Jos da Costa e sua mulher Antnia Francisca de Brito Costa; do alferes Joaquim Manoel de Brito Barros; e de Cassiana de Brito Gondim, dos quais fora procurador598. Nesse mesmo ano, Leandro Pereira de Barros e sua mulher Francisca Rodrigues da Silva venderam, por 900 mil ris, uma parte de Ipueira que compraram do tenente Pedro Alexandrino de Souza e do capito Bernardino de Brito Gondim, para a mesma Maria Vitria Pereira de Castro.599 E em 1869, Vicente Domingues Pinto e sua mulher Maria de Jesus Soares venderam outra frao para Jos Antnio Gomes Neto, por 700 mil ris, com uma casa roda de ralar mandioca e benfeitorias600. Lus Rodrigues da Costa e sua mulher Amlia Carolina da Costa venderam uma gleba de Ipueira por 300 mil ris, em 1870, para Aprgio Rodrigues da Silva. Nos esplios de Antnio Joaquim de Carvalho601, em 1873, a inventariante Maria Joaquina M. de Carvalho apresentou ttulos de Caetit Velho, no valor de 300 mil ris, Poo de Pedra, com duas casinhas, no mesmo valor; Vargem Grande, 47 mil ris; Esprito Santo, 33 mil ris; Cachoeira e So Joo, 21 mil ris; Brejo e Barroco, 22 mil ris; e Camelo, dois mil ris, alm de casas em Caetit, So Sebastio (Ibiassuc) e em algumas dessas terras. De semovente declarou quatro escravos e trs animais de montaria; e de instrumentos de produo apenas um engenho em Caetit Velho.
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APEB. Judicirio, SRJ/25/15, f. 192. Escritura pbica, 8 out., 1858. APEB. Judicirio, SRJ/25/18, f. 87 v. Escritura pblica, 3 nov., 1860. 598 APEB. Judicirio, SRJ/25/22, f. 193 v. Escritura pblica, 3 jul., 1867. 599 APEB. Judicirio, SRJ/25/22, f. 191. Escritura pblica, 15 jun., 1867. 600 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 135 v. Escritura pblica, 22 jul., 1869. 601 APEB. Judicirio, 03.1197.1666.11.
No esplio de Florinda de Barros Silva602, em 1875, inventariaram Pedra Redonda, com uma casa, por dois contos e 200 mil ris; Lameiro, com uma parte de terra destacada, por dois contos e 400 mil ris; Cumbuco, um conto e 200 mil ris; uma gleba de Branas, 600 mil ris; outra de Cachoeirinha, 400 mil ris; outra de Angu, 150 mil ris; outra de Cubculo, com benfeitorias, trs contos e 500 mil ris; metade de Lajedo e Baixa Grande, um conto e 200 mil ris; Parcelas de Santa Brbara, com uma casa, currais, mangas e outras benfeitorias, 837 mil e 500 ris; Macacos, 600 mil ris; Santa Maria, 500 mil ris; Boqueiro do Tamboril, 400 mil ris; parte de Caldeiro, com uma casa, trs contos e 300 mil ris; glebas em Ipueira, So Joo, Lagoa Real, Campo Seco, 125 mil ris; e trs partes de Vereda Alta, 300 mil ris. No plantel de 27 escravos havia um vaqueiro, um lavrador de madeira, um sapateiro; uma cozinheira, e uma tecelona. O esplio era responsvel por seis ingnuos ou filhos de escravas nascidos aps a Lei n. 2.040 de 28 de setembro de 1871, a Lei Rio Branco ou do Ventre Livre. A viva destacava-se como pecuarista, criando 500 rezes, no valor de 10 contos; 19 bois mansos para cangalha e carro, 475 mil ris; 18 cavalos, 610 mil ris; 18 guas, 540 mil ris; 10 jumentos, 300 mil ris; dois jumentos pastores de gua, 200 mil ris; e 10 burros, 120 mil ris. De lavoura apenas uma roa de milho e um quintal de mandioca. Possua muitas jias de ouro e utenslios de prata. A inexistncia de agncia bancria impunha a guarda de dinheiro em casa. Florinda deixou mais de nove contos de ris entesourados em moedas de ouro e prata. Seu esplio somou quase 60 contos de ris. Manoel Jos Gonalves Fraga e sua mulher Maria Amlia de Faria Fraga herdaram o stio Bonfim, com Valo, duas casas, rego dgua, plantaes, do tio padre Manoel Jos Gonalves Fraga e venderam, em 1877, para Pedro Fagundes Cotrim, Valeriano Fagundes Cotrim e Aureliano Fagundes Cotrim, por cinco contos de ris, incluindo Racha-P, Vereda e outras glebas anexas603. A professora Maria Neves Lobo adquiriu Valo, no incio do sculo XX, com jaqueiras, mangueiras, goiabeiras, cajueiros e outras plantas frutferas604, transferindo-o, alguns anos depois, para Jos Adolfo Silva, o Zuza. Cafund Stio com um quarto de lgua de comprimento e igual extenso de largura, arrendado pela Casa da Ponte em 1806, para Lzaro de Faria Prates por cinco tostes anuais, limitando com Riacho, na ponta do morro; Bacupari, no meio da ladeira; Riacho
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APEB. Judicirio, 02.0868.1337.20. APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 301 v. Escritura, 30 jan., 1877. 604 GUMES, Marieta Lobo. Caetit e o cl dos Neves. [S. n.]: Salvador, 1974.
e extremas de Manoel dos Reis, alto da serra So Nicolau. No tombamento fundirio da 1819, avaliaram-no, por 26 mil ris e venderam-no, em 1829, para o rendeiro. O mesmo senhorio arrendou outra gleba de Cafund, em 1807, medindo meio quarto de lgua de comprimento e igual extenso de largura, para Amaro Xavier Pereira, por cinco tostes anuais, estremada com P do Morro de Joana Carvalho; Jos Ferreira Leite; Bonifcio Jos do Esprito Santo e outros; e So Tiago, no alto da serra So Nicolau. No tombamento de 1819 avaliaram-no, por 24 mil ris e venderam-no, em 1826, para o rendeiro Amaro Xavier por 34 mil ris, incluindo na escritura duas glebas de P do Morro, j pertencentes ao Amaro Xavier, no valor de 90 mil ris. Em 1816 a mesma casa nobiliria arrendou mais uma frao de Cafund, medindo tambm um quarto de lgua de comprimento e meio quarto de largura, para Manoel dos Reis do Esprito Santo, por oito tostes anuais, limitadas com P do Morro, Olho dgua, e Tapera, avaliada em 1819, por 30 mil ris que o procurador Plcido de Souza Fagundes vendeu, em 1820, para Joaquim Jos Varela. Cafund Grande stio com um quarto de lgua de largura e outro de comprimento, arrendado em 1807, pela Casa da Ponte, a Toms Loureno, por de 10 tostes anuais, extremando com Cafundozinho, no alto da serra; Malhada Grande, de Dona Eufrsia, na Porteira; Saco dos Bois, do tenente Antnio Gomes, no alto da serra das Tabocas; e Paulista, de Joana Sutil. Avaliaram-no em 1819 por 48 mil ris. Cainana Stio na atual jurisdio de Riacho de Santana, limites de Macabas, expandindo-se por uma lgua de comprimento e um quarto de lgua de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Manoel da Rocha Ribeiro, por dois mil ris anuais, limitando com as Serras dos Gerais; Porteira de Pedra, extrema de Joaquim de Santana; e Santa Isabel, na serra do Riacho Danta. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-no por 50 mil ris e vendendo-o, em 1824, para Antnio Jos da Cunha. Caititu Fazenda declarada no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1857, por: Antnio Joaquim Lopes da Rocha (comprada do tenente-coronel Heitor Soares de Castro), Antnio Joaquim Lopes da Rocha e Joo Botelho da Rocha (metade das terras em comum, que pertencera a Jos Liberato, compradas de Joo Martins Abade e Josefina Maria da Silva), Manoel Incio Pereira, Joo Germano da Silva e Lus Incio Pereira (que compraram de herdeiros do tenente-coronel Joaquim Pereira de Castro) e Valeriano Jos de Souza.
Calandras Terras de plantar e criar, incluindo-se fraes de Salto, com trs lguas de extenso e uma e meia de largura, inventariadas em 1800, no esplio de Joo Jos dos Santos, por 350 mil ris605. A viva inventariante Joana Ferreira de Souza informou a propriedade de cinco escravos, trs cargas de rapadura avaliadas por 15 mil 360 ris; mais 189 rapaduras, 15 mil 120 ris; trs bois, 14 mil 560 ris; um cavalo, 16 mil ris; 30 ps de laranja, nove mil e 600 ris; um bananal e mamoeiros, dois mil ris; uma roa de algodo na fazenda Santa Rosa, com uma quarta de milho, 30 mil ris; um roado na mesma fazenda, que levaria meia quarta de milho, 15 mil ris. Dos objetos pessoais, arrolou: um calo de pano fino, um capote de baeta, um chapu de Braga, um estojo com duas navalhas inglesas e uma tanga. Nos registros da freguesia do Gentio, de 1855-1858 e 1859-1859, limitando com So Domingos, Salto, Azevedo e Contendas, declararam partes: Francisco Pereira da Silva (em comum, compra de Norberto Jos da Rocha), Jos Fialho de Carvalho (herana do pai Joaquim Fialho de Carvalho); e Jos Francisco de Brito (compra de Toms Jos Muniz). Em 1876, no esplio de Marciano Mendes da Luz606, inventariaram uma gleba de Calandras, com laranjeiras e cafezais, por 120 mil ris; Barreiro Branco, frao da fazenda Salto, 50 mil ris; uma gleba de Contentas, 33 mil ris. Nada mais o inventrio registrou, alm de um selagote, uma espingarda e uma garrucha. No deixando descendente e com uma dvida de mais de 300 mil ris, sobrou de meao para a viva Rosa Maria do Esprito Santo apenas 22 mil e 150 ris, cabendo ao pai Constantino Mendes da Luz a outra metade. Calado Stio de meia lgua de comprimento e a mesma extenso de largura, arrendado pela Casa da Ponte em 1805, para Antnio Dias dos Santos, por dois mil ris anuais, limitando com a fazenda Lagoa, no Poo do Mulungu; morro do Moc; e ponta do morro da Lagoa dAnta. No tombamento fundirio de 1819, lhe atriburam o valor de 72 mil ris. Caldeiro607 Poro de terras na fazenda Hospcio, da Casa da Ponte, atualmente em Igapor, medindo um quarto de lgua de comprimento e igual extenso de largura, arrendada em 1802, por Jos Nunes Barbosa, procurador e administrador das fazendas
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APEB. Judicirio, 02.0578.1030.04. APEB. Judicirio, 02.0883.1352.10. 607 Publicado, por equvoco, como Canabrava, em: Anais do APEB. Salvador, n. 34, p. 09-84, 1957.
Carnabas Grandes e Hospcio608, para Ana Moreira, viva do posseiro, por 10 tostes. Seus limites passavam abaixo do tanque, onde faz, o morro que vem dos gerais, ponta no riacho; Santo Antnio, no lajedo da estrada; lagoa do Tamandu e extremas de Bernardo Teixeira (Gameleira). No tombamento de 1819, se lhe atribuiu o valor de 60 mil ris. Em 1835, Francisco Xavier de Souza Castro, procurador da Casa da Ponte, vendeu Caldeiro por 60 mil ris, para Jos Maria dos Santos, que se casara com a viva arrendatria Ana Moreira609. No tendo filho, Jos Maria dos Santos instituiu sua mulher testamenteira e nica herdeira dos seus bens, e aps a morte dela as sobrinhas, irms e cunhadas. Contudo, Jos Antnio Pimenta, delegado fiscal, embargou a partilha por no lhe terem citado, como agente de arrecadao provincial. Depois de longa tramitao, os autos foram ao Superior Tribunal da Relao, em 23 de setembro de 1855, confirmando o ttulo de Ana Moreira, que vendeu parte do stio ao capito Filipe Joaquim de Azevedo Cotrim, em 1839, extremada com Gameleira, seguindo pelas extremas de Maria Alves Ferreira, da escritura de compra feita Casa da Ponte; extremas da escritura de Joo Nunes, da compra feita mesma Casa da Ponte; Lagoa dAnta, e Gameleira610. Em 1840, Ana Moreira vendeu uma gleba, por 200 mil ris, com algumas casas, currais e mais benfeitorias, para o sobrinho Zacarias Lopes da Silva611, que a transferiu, em 1840, por 300 mil ris, para o tenente Pudenciano de Brito Teixeira612 e este, no mesmo ano, vendeu por 300 mil ris, para o capito Bernardo de Brito Gondim613. Em 1844 Ana Moreira vendeu, por 20 mil ris, outra parte de Caldeiro ao tenente Vicente Pinheiro de Azevedo614. Dessas glebas adquiridas por Bernardo de Brito e seu cunhado Vicente Pinheiro de Azevedo, originaram longa questo judicial, iniciada no juizado de paz de Canabrava em 1844 e concluda no Tribunal da Relao, na capital da Provncia em 1852, depois de morosa tramitao no juzo municipal de Caetit.615 Em 1887, Antnio Ribeiro do Amaral e sua mulher Ana Flora Fagundes Cotrim venderam a parte que herdaram da av Francisca Anglica de Brito Gondim, para O608 609
APEB. Judicirio, 08.336.04, f. 48 v. Traslado de pblica forma, 2 jul., 1802. APEB. Cvel, 08.336.04, f. 42. Traslado de escritura particular, 20 ago., 1835. 610 APEB. Judicirio, 08.336.04, f. 42; Cvel, 8.337, D. 4, f. 14. Traslado da escritura, 25 nov., 1839. 611 APEB. Judicirio, SRJ/25/08, f. 13. Escritura, 2 out., 1840. 612 APEB. Judicirio, 72.2576.14, f. 49. Escritura particular, 1 nov., 1840. 613 APEB. Judicirio, 72.2576.14, f. 50. Escritura particular, 20 nov., 1840. 614 APEB. Cvel, 8.336; A. 4, f. 42. Escritura pblica, 22 jul., 1844. 615 APEB. Cvel, 58.2069.2361.01. Ao Finium Regundorum intentada por Libelo Cvel. 1844-1851; Cvel, 72.2576.14. Ao de Apelao ao Tribunal da Relao, 1851-1852.
lmpio Cunegundes das Neves, por 10 mil ris616; nesse mesmo ano, lvaro Ribeiro do Amaral vendeu, por 10 mil ris, a parte que tambm herdara, para o mesmo Olmpio Cunegundes das Neves617; em 1895, Severiano Correia da Silva e sua mulher Liliosa Eliziria da Neves venderam, por 125 mil ris, a parte que compraram do tenente Vicente Pinheiro de Azevedo, para Francisco Alves das Neves618; ainda em 1895, Galdino Cardoso da Silva e sua mulher Josefina Amlia Ribeiro de Souza venderam, por 125 mil ris, a parte comprada de Vicente Pinheiro de Azevedo, para Joo Rodrigues da Silva619. Essa dinmica comercial avanou pelo sculo XX. Em 1909, Francisco Alves das Neves e sua mulher Urccia Eliziria das Neves venderam, por 62 mil e 500 ris, a parte comprada de Vicente Pinheiro de Azevedo para Amrico Joaquim de Oliveira620. nesse mesmo ano, Amrico Joaquim de Oliveira e sua mulher Jovelina Maria das Neves venderam Lagoa de Z Gago, para Francisco Alves das Neves, por 40 mil e 500 ris621. em 1911, Antnio Joaquim das Neves doou a parte que recebera de meao da mulher Maria Emerenciana de Azevedo, no valor de 20 mil ris, para os menores Maria, Elvira, Alria, Hermnia, Deocleciana, Ulisses, Sisnio e Gerson, filhos de Francisco Alves das Neves622. Cambait Stio hoje em Macabas, com uma lgua de comprimento e meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1804, para Valentim Antnio de Oliveira, por dois mil ris anuais, limitando com Gado Bravo, rio Santo Onofre, Andr Barbosa e So Joo, avaliado em 1819, por 96 mil ris e vendido, em 1828, para Manoel Joaquim, Bento G. Alves e Francisco Antnio. Campo Alegre Stio com meia lgua de comprimento e igual extenso de largura desmembrado de Vereda Grande do Bonfim e esta de Canabrava ou Papa Terras, no distrito de Santo Antnio da Barra arrendado pela Casa da Ponte, em 1818, por dois mil ris anuais, para Bernardo Jos de Matos. Limitava-se com So Jos, de Jos da Costa Teixeira; terras de Alexandre da Costa e Souza; Mandaaia, de Leandro Gonalves; Morro de Condeba, de Manoel dos Santos. Em 1819 avaliaram-no por 80 mil ris.
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APEB. Judicirio, 08.0337.04, f. 23 v. Escritura particular, 2 ago., 1887. APEB. Judicirio, 08.0337.04, f. 22 v. Traslado de escritura, 3 out., 1887. 618 APEB. Judicirio, 08.0337.04, f. 54. Escritura particular, 10 jun., 1895. 619 APEB. Judicirio, 08.0337.04, f. 24 v. Escritura, 2 ago., 1895. 620 APEB. Judicirio, 08.0337.04, f. 21. Escritura particular, 2 mar., 1909. 621 APEB. Judicirio, 08.0337.04, f. 26. Escritura particular, 4 set., 1909. 622 APEB. Judicirio, 08.0337.04, f. 41 v. Escritura particular, 10 fev., 1911.
Campo Grande Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, citada por Quaresma Delgado. Inventariada em 1832, no esplio do conde da Ponte, ficando na meao da condessa, com mil 564 cabeas de gado vacum, por nove contos, 384 mil ris; 57 escravos, 11 contos e 400 mil ris; 41 cavalos, 656 mil ris; uma casa de telhas, 60 mil ris; selas, ferramentas e outros acessrios da fazenda, 36 mil ris; terras e benfeitorias, um conto e 200 mil ris; totalizando 22 contos e 736 mil ris. Campo Grande foi novamente inventariada, em 1844, nos esplios de Joana de So Joo Castro e seu vivo Jos Antnio da Silva Castro. Campo Grande Fazenda na atual jurisdio de Matina, que no registro de terras da freguesia de Monte Alto, em 1855-1860, declararam propriedades em comum: Jos Cndido Xavier, Henrique Ribeiro de Magalhes, Tertuliano Pereira Coutinho (Ribeiro), Jos Ribeiro de Magalhes e Ana Teresa de Magalhes. Em 1873 Pnfilo Ribeiro de Magalhes e sua mulher Maria Leonor de Magalhes venderam, por dois contos, 461 mil 250 ris, com benfeitorias, a parte que herdaram do pai e sogro, Jos Ribeiro de Magalhes, para Jos Antnio Gomes Neto623. Campo Grande Stio declarado no registro da freguesia de Santo Antnio da Barra por: Antnio Maria de Jesus (herana em comum); Henrique Manoel do Nascimento (herana em comum); Jos Carneiro Leo (quatro partes, herana e compras); Jos Pinheiro Pinto (compra); Lus Antnio Ribeiro (herana); Simplcio Jos Ribeiro (herana compra de Venceslau Manoel do Nascimento e sua mulher Vicncia Pereira de Jesus); Timteo Manoel do Nascimento (meia lgua de comprimento e 400 braas de largura, que comprara, em gua Branca). Campo Seco (ou Brejo do Campo Seco) Fazenda que teria 25 lguas quadradas, cujas terras estendem-se nos atuais municpios de Brumado e Malhada de Pedras, aforada por Joo Antunes Moreira e transferida hereditariamente ao filho, padre Andr Antunes da Maia, ainda pagando rendas aos senhorios diretos, Estevo Pinheiro de Azevedo, D. Joo de Mascarenhas e seu sucessor, o fidalgo Manoel de Saldanha. O padre Andr da Maia vendeu sua posse em 30 de junho de 1749, conforme escritura do tabelio da Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas, demarcando com Bom Jesus, na passagem das Duas Lagoas; Pedra Branca, nas Lajes das Cacimbas; Olhos dgua, na passagem das Cacimbas, incluindo o Piau. Mas o comprador, Jos de
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Souza Meira, conservou-a por pouco tempo, pois em 1755, Miguel Loureno [de Almeida] j se encontrava nela estabelecido624. Joseph de Souza Meyra, morador no rio de So Francisco (Santo Antnio do Urubu), vivo de Micaela Maria de Jesus, adquiriu a posse, com benfeitorias, da fazenda Campo Seco do Riacho do Antnio, em 1749, do padre Andr Antunes da Maya, por um conto e 462 mil ris625. Manoel Fernandes Barros, inventariante de Jos de Souza Meira, declarou, em 1755, posse no stio de terras no Brejo donde morava Manoel de tal, para se pagar o arrendamento a quem de direito, com benfeitorias, casas de palha e roas, por 30 mil ris.626 Inventariaram o stio Serra do Campo Seco, contguo ao Campo Seco e Bom Jesus, com terras prprias, em 1759, no esplio de Estevo Pinheiro de Azevedo. Em 1817 inventariou-se uma poro de Campo Seco no esplio de Antnio de Brito Gondim. Partilharam um quarto das terras de Campo Seco, em 1818, com Cerquinha, no esplio de Francisco Xavier de Carvalho Cotrim e metade, da fazenda e da casa, em 1839, no esplio de Ana Francisca da Silva627, viva de Miguel Loureno de Almeida, por dois contos e 60 mil ris e um quarto de Serra das guas, 200 mil ris, somando-se a isto, 10 escravos, 16 rezes, um cavalo, mveis e utenslios domsticos, roda, prensa e forno. Lauriana Maria de Santo Antnio vendeu, em 1846, por 500 mil ris, a parte que herdara da me Ana Francisca da Silva, para Bento Joaquim Pinto, no valor de 45 mil ris, Antnio Rodrigues da Silva, 45 mil ris, Jos Ferreira das Neves, 20 mil 614 ris, Serafim Rodrigues Coutinho, 20 mil 714 ris, Manoel Ponciano de Souza, 20 mil 714 ris e Agostinho de Brito Gondim, 20 mil 714 ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, em 1854-1859, limitando com Bom Jesus, Riacho, Gameleira, Pedra Branca, Mocambo, So Domingos, So Gonalo, Olhos dgua, Serra das guas; e medindo 25 lguas quadradas, declararam propriedades em comum, vrios herdeiros e compradores com nomes de famlia como: Alcntara Vieira Loureno de Almeida, Pinheiro Canguu, Pinheiro Pinto, Rebouas, Silva Barros, Silva Csar, Xavier Duarte, e outros. E no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1858, declararam posses indivisas: Joaquim Antnio da Silva
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LEITE, A Rizrio. Bahia Rural. Salvador, Jan., 1953. Apud SANTOS FILHO. Lycurgo. Op. cit., p. 5. AMRC. Tabelionato. Livro de notas n. 9 (1747-1752), f. 87. Escritura de venda e compra, 30 jun., 1749. 626 AMRC. Inventrios, sculo XVIII, M-21, D-19. 627 APEB. Judicirio, 02.0558.1007.03.
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(compra); Manoel Incio da Silva (compra, em Lapa); Manoel Nunes de Cerqueira (compra, na Passagem do Menino); Zeferino Jos Cordeiro (compra). Antiliano Jos Pinheiro e sua me Rita Anglica Pinheiro partilharam uma parcela de Campo Seco em 1872, avaliada por 100 mil ris, no esplio de Emdia Pinheiro Canguu628, com oito escravos, 65 rezes, trs cavalos, 20 burros bravos, 10 guas e trs poldras. Nesse mesmo ano de 1872 inventariaram por trs contos, 256 mil, 667 ris, algumas parcelas de Campo Seco, a pousada Tamboril, cercas, casas, currais e mangas, no esplio de Alexandre Jos Pinheiro Pinto629, que tambm possua terras em Bom Jesus, no valor de cinco mil ris; So Domingos, 90 mil ris; casa e engenho, na Tabua, 400 mil ris; stio So Jos, com trs dias de gua por semana, 800 mil ris; stio So Loureno, com trs dias de gua por semana, 400 mil ris; e uma posse no Salobro, 100 mil ris. Com 42 escravos adultos e crianas, Pinheiro Pinto criava 521 rezes e 50 guas, 19 cavalos e poldros e seis burros e bestas. Campos Stio hoje em Boquira, com um quarto de lgua de comprimento e igual dimenso de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, para Antnio Rodrigues da Costa, por 10 tostes anuais, limitando com Manoel Alves Pedroso, no alto do Barreiro Grande; Lzaro de Macedo, na Encruzilhada Velha; e Bernardino Martins, na Passagem. No tombamento de 1819, o procurador geral atribuiu-lhe o valor de 30 mil ris. O mesmo senhorio arrendou outra gleba de Campos, em 1807, medindo meia lgua de comprimento e um quarto de largura, para Bernardino Martins de Arajo, por 800 ris anuais, entre Constantino Lopes, em Umbuzeiros, na serra dos Tiros; Quintiliano da Silva e outros, no riacho dos Campos; Anastcio Rodrigues, na estrada e primeiro Olho dgua de Timteo Gonalves. Em 1819 o procurador geral da Casa da Ponte atribuiulhe o valor de 50 mil ris e vendeu, em 1821, para Joaquim Rodrigues Pinto. A Casa da Ponte arrendou ainda outra frao de Campos, no mesmo ano de 1807, com meia lgua de comprimento e igual medida de largura, para Quintiliano Correia da Silva, por 10 tostes anuais, limitando com Bernardino Martins, Manoel Alves Poderoso, Lzaro de Macedo e Anastcio Rodrigues. Em 1819, o procurador geral atribui-lhe o valor de 50 mil ris e vendeu, com outra gleba em 1921, para Joaquim Rodrigues Pinto. Ainda em 1807, o mesmo senhorio arrendou mais uma parcela de Campos com um quarto de lgua de comprimento e um quarto de largura, para Domingos Pereira da Cruz, por 600 ris anuais, limitando com Antnia Eugnia, no riacho de So Joo;
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terras de Bernardino Martins, na Encruzilhada Velha do Mosquito; Constantino Lopes, no riacho dos Campos; e primeiro Olho dgua de Timteo Gonalves, no alto da Ladeira do Buraco. No mesmo tombamento de 1819 se lhe atribuiu o valor de 30 mil ris, e venderam-na, em 1838, para Clemncia Maria de Jesus. Campos de So Joo Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, hoje em Bom Jesus da Lapa, citada em 1731-1734, por Quaresma Delgado. Arrendada pela Casa da Ponte, em 1806, com a denominao de So Joo, estendendo por trs quartos de lgua de fundo e sem indicao de testado, para Joo da Silva Batista, por trs mil ris anuais, limitando com Veados, de Pascoal da Costa; Boa Vista, de Francisco Maria; Malhada, de Jos Barbosa Trincho; e suas prprias terras, na serra do Massorongo. O procurador atribuiu-lhe, em 1819, o valor 150 mil ris. Partilharam Campos de So Joo em 1832, com o esplio do conde da Ponte, atribuindo-se s terras e benfeitorias o valor de um conto e 200 mil ris; a mil 494 cabeas de gado vacum, oito contos, 964 mil ris; 32 escravos, seis contos e 400 mil ris; 45 cavalos, 720 mil ris; uma casa de telhas, 79 mil ris; selas, ferramentas e demais acessrios 40 mil ris; totalizando 17 contos, 894 mil ris. Transferida para o domnio do tenente-coronel Jos Antnio da Silva Castro, foi novamente inventariada, em 1844, nos seus esplios e da sua mulher Joana de So Castro, por 10 contos de ris, as duas lguas de terra de frente e cinco de fundo, escravos, gado vacum e cavalar. Canabrava Fazenda na margem direita do So Francisco, hoje em Malhada, citada por Quaresma Delgado, que pertenceria, por arrendamento de Joana da Silva Guedes de Brito, ao Dr. Joo Calmon. Partilhada de forma amigvel junto com a fazenda Riacho em 1823, avaliaram-na por quatro contos de ris, no esplio de Nazria Borges de Carvalho. Canabrava Stio no atual municpio de Riacho de Santana, com uma lgua de comprimento e meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Manoel Gil Alves Ribeiro, por cinco mil ris anuais, ao qual atriburam, em 1819, o valor de 120 mil ris. Canabrava (Ex-Canabrava de Vicente Ferreira e ex-Canabrava dos Caldeiras) Fazenda na qual se desenvolveu o povoado de mesmo nome, origem do distrito de Caldeiras, que resultou de parcelamento de Boa Vista, descoberta por Manoel Nunes Tvo-
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ra, com participao de Sebastiana Pereira da Cruz, mulher mameluca e solteira, que concorrera para esse descobrimento com plvora, chumbo e duas vacas. Sebastiana Pereira da Cruz adquiriu Morro do Chapu, por trinta mil ris, em 1716, limitando das povoaoens em terras remotas e despovoadas; pera parte do nassente abaixo da Cachoeira Grande; e pera parte do puente, nas nascenas do Riacho da Canabrava e pera parte das povoaoens no (...)zal da Catinga do riacho dos Marroazes com o stio de Bernardo Pinheiro e Gonalo do Couto em a Catinga da Lagoa do Piolho630. Em 1749 Sebastiana da Cruz doou aos netos Lus e Ana Caldeira, filhos Francisco Caldeira e sua mulher Florncia da Silva, a posse uma gleba de Boa Vista, contornando pela lagoa do Fia Pano, Curral das guas, lagoa do Piolho e stio de Bernardo Pinheiro e transferiu a parte de Canabrava para Manoel Nunes Tvora, em 1751, por 145 mil ris, com 25 cabeas de gado vacum, roas e casas. Da fazenda Boa Vista, pagava-se renda anual de dois mil e 500 ris para Joana da Silva Guedes de Brito e seu marido Manoel de Saldanha da Gama. Dois anos depois, Sebastiana Pereira da Cruz vendeu o restante da posse ao capito Raimundo Pereira Nunes. Sobre essas e outras terras o capito Nunes Tvora mantinha contenda com dona Brbara de Brito631. A Casa da Ponte arrendou o stio Bom Sucesso, da fazenda Canabrava, para Jos de Souza da Costa, na transio para o XIX e, em 1806, Canabrava, com uma lgua de comprimento e meia de largura, para Joo Caldeira da Silva, por mil e 300 ris anuais, extremando com Mocambo, de Vitorino Xavier do Rego; So Bartolomeu, de Jos Alves de Oliveira; Carabas, de Nazria de Souza [da Costa]; e Gerais do [Pedreiro], do padre Joo Teixeira Leite. No tombamento de 1819, o procurador geral da Casa da Ponte atribuiu a essa gleba, o valor de 80 mil ris e vendeu-lhe, em 1846, para Vicente Pereira de Magalhes, Joaquim Moreira Quirino, Jos Benedito e Jos Sucenda Caldeiras. Inventariaram uma gleba de Canabrava com Barrocas, em 1808, uma casa coberta com duas mil e 500 telhas, sete portas duas com fechaduras e trs janelas, herana de Francisco Caldeira da Silva, avaliada por 46 mil ris, no esplio de Mariana Pereira de Lrio,632 dividido pelo vivo Joo Caldeira da Silva e os seis filhos menores, que partilharam tambm seis rezes, uma besta, um boi manso e um engenho. Inventariaram outra parcela, em 1823, no esplio de Nazria Borges de Carvalho; outra em 1829, com os bens de Vitorino Xavier do Rego.
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AMRC. Livro de Notas n. 9 (1747-1752), f. 125. Cpia de um Escrito de Venda, 10 ago., 1716. AMRC. Livro de Notas n. 9 (1747-1752), f. 82, escritura de doao de posse, 2 jul., 1749; f. 168, escritura de venda e compra, 3 ago., 1751.
Com os pertences de Manoel Joaquim Lopes de Oliveira e sua mulher Clara Antnia de Oliveira633 partilharam, em 1836, uma frao de Canabrava, com algumas casas e oficina de ferreiro, por 330 mil ris; uma gleba de Tabuleirinho, com um curral de pau-a-pique, por 100 mil ris; e outra de Cambait, 60 mil ris. Transferiram para os herdeiros Joaquina e Gonalo Lopes de Oliveira, alm das terras, os pequenos criatrios bovinos, ovinos, eqinos, sunos, pequenas lavouras de mandioca, alm de extensa lista de jias, utenslios domsticos e instrumentos de trabalho. No esplio de Manoel Batista Ramos634, em 1845, inventariou-se mais uma gleba, com uma casa de enchimento, coberta com telhas e um quintal com laranjeiras, por 110 mil ris; uma parcela de Tabuleirinho, 200 mil ris; e fraes de pequenos valores em Vargens e Curral Velho. Com oito escravos plantava mandioca possua uma roda nova, avaliada por 25 mil ris e outras pequenas lavouras. Criava 100 rezes, cinco cavalos e potros, 16 guas e trs bois mansos, inclusive um da raa caracu. No esplio de Joaquim Rodrigues da Costa635 se partilhou em 1849, outra gleba de Canabrava, com uma casa em Branas, por 150 mil ris e pequenas fraes de Tabuleirinho, Currais Velhos e Vargens. Com quatro escravos plantava mandioca e milho e mantinha 45 bovinos e cinco eqinos. No registro de terras da freguesia de Caetit, de 1854-1859, entre muitos herdeiros e compradores encontravam-se nomes de famlia como: Batista Ramos, Batista de Souza, Caldeira da Silva, Cardoso Pereira, Lopes de Oliveira, Rodrigues Ladeia, Xavier Cotrim, Vilasboas, Xavier do Rego. Gonalo Lopes de Oliveira e sua mulher Constncia Leopoldina de Oliveira venderam, em 1860, Bacupari com uma gleba de Sucesso, por um conto de ris, para Jos Joaquim Saraiva e sua mulher Isabel Maria de Jesus.636 Manoel da Silva Pereira partilhou com os 12 filhos, em 1863, no esplio da mulher Joana Maria de Jesus637, glebas em Canabrava, com duas casas, curral com manga, roda de ralar mandioca, presa de parafuso e mveis, por 396 mil ris; em Piedade, 572 mil ris; Tabuleirinho, 80 mil ris; Boa Vista, 50 mil ris; Morro do Chapu, 80 mil ris; Cais, 16 mil ris; Malhadinha, com uma casa e curral, 250 mil ris; Mocambo, 120 mil ris; e mais trs casas, mveis, mangas, roas e tanque, 380 mil ris. Nessas terras se criavam 656 cabeas de gado,
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APEB. Judicirio, 02.0586.1038.01. APEB. Judicirio, 02.0562.1014.04. 634 APEB. Judicirio, 02.0562.1013.09. 635 APEB. Judicirio, 03.1207.1336.04. 636 APEB. Judicirio, SRJ/25/18. f. 55 v. Escritura pblica, 19 jul., 1860.
avaliadas por 10 contos 490 mil ris; oito bois mansos de cangalha, 160 mil ris; 11 bois mansos de carro, 330 mil ris; 11 cavalos, 421 mil ris; 14 mulas, 990 mil ris; trs burros, 210 mil ris. Do inventrio constaram escravos, dos quais doara 19 em dotes de casamento de filhas. Honorata Maria de Jesus e filhos dividiram, em 1864, uma parcela de Canabrava, com uma casa, por 127 mil ris, no esplio de Gonalo Jos Correia638, que dispunha apenas de uma escrava de nove anos, quatro cavalos e poldros, duas guas, uma roda de fiar e trastes domsticos. Em 1865 avaliaram fraes de Canabrava, Pedrs e Mocambo, alm de um sobrado, no esplio de Francisca Teresa do Rego. Dos bens de Andr Caldeira da Silva639, partilhados em 1867, constou mais uma frao de Canabrava, com duas casas, um quintal e um canavial, no valor de 617 mil 600 ris, alm de 10 rezes e nove cabras. Ana Efignia do Bonfim e os nove filhos partilharam, em 1868, glebas de Canabravinha do Jatob, Morro do Chapu, Mocambo e Pindobeiras, com uma casa, mobiliria e curral, no valor de 636 mil e 500 ris, no esplio de Jos Liberato das Neves640. Com seis escravos, 72 rezes, dois cavalos, 13 cabras, uma roa de mandioca nova e outra madura. Inventariaram em 1876, no esplio de Manoel da Silva Pereira641, Pedrs, com uma casa mangas, aguadas e currais, por um conto de ris; Alegre, com algumas casas currais mangas e roas de mandioca, 600 mil ris; terras em comum em Piedade, com uma casa manga, currais e outras benfeitorias, por trs mil e 200 mil ris; pequenas glebas em Piedade, 70 mil ris; Lagoa do Mato; 50 mil ris; Cais; seis mil ris; Morro do Chapu, 27 mil ris; Tabuleirinho, 34 mil ris; Mocambo, 48 mil ris; e Canabrava, 37 mil ris; dois bois de carga, 50 mil ris; uma junta de bois de carro, 50 mil ris; 350 rezes, cinco contos, 950 mil ris; duas mulas, 110 mil ris; e quatro cavalos de campo, 100 mil ris. Inventariou-se em 1877, no esplio de Joaquim Jos de Seles642, uma gleba de Cais, por 100 mil ris; trs em Umbaba, 168 mil ris; uma em Morro do Chapu, 20 mil ris; em Canabrava, 24 braa, 48 mil ris; uma posse em Cercado, com duas casas, roda de ralar mandioca e manga, 142 mil ris. Com dois escravos Seles plantava trs
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APEB. Judicirio, 08.3433.10. APEB. Judicirio, 02.0869.1338.15. 639 APEB. Judicirio, 03.1222.1691.05. 640 APEB. Judicirio, 03.1222.1691.19. 641 APEB. Judicirio, 02.0883.1352.16.
roas de mandioca, uma de quatro anos, outra de dois e a ltima de seis meses, todas avaliadas por 80 mil ris. Possua 10 alqueires de milho, no valor de 20 mil ris; 58 rezes, 870 mil ris; uma junta de bois, 50 mil ris; um burro crioulo, de bom passo, 70 mil ris; uma mula ruana, 50 mil ris; um cavalo ruzio, um russo e outro castanho, 90 mil ris. Em 1879, partilharam com os bens de Jos Joaquim Saraiva e sua mulher Isabel Maria de Jesus643, glebas de Canabrava, Bacupari, Bom Sucesso e Pedrs, por um conto 274 mil ris; glebas de So Domingos e Vargens, 907 mil 250 ris; trs escravos, um conto e 50 mil ris; 13 vacas, 156 mil ris; duas novilhas, 12 mil ris; dois garrotes, 16 mil ris; dois bois mansos, 38 mil ris; um cavalo, 25 mil ris; uma mula e um burro, 120 mil ris, uma gua e uma poldra, 24 mil ris; Elvira de Oliveira Vilasboas partilhou, em 1886, inventariou mais uma frao de Canabrava Cava com um engenho comprado de Manoel Liberato, por 250 mil ris; e outra terras em Tanque, com uma casa e um curral, 432 mil 200 ris; em Tabuleirinho, Juazeiro e Boa Vista, 132 mil 477 ris, no esplio de Antnio Joaquim Vilasboas644, com 160 rezes, 25 guas, animais de montaria e carga, utenslios domsticos e instrumentos de trabalho. Manoel Gomes do Nascimento e sua mulher Genuna Alves da Silva venderam, em 1914, por 70 mil-ris, a herana do sogro e av Eleutrio Jos da Rocha, sucessor de Manoel Batista645. Canabrava (ou Santa Cruz da Canabrava) Fazenda no serto da Ressaca, arraial de Santo Antnio da Barra, que pertencera ao padre Manoel Vaz da Costa, transferida ao seu afilhado, testamenteiro e herdeiro, Modesto Vaz da Costa. Este e sua mulher Guardiana Pereira de Jesus venderam, em 1799, com Gavio, Santa Cruz e 100 cabea de gado, ao capito Estevo Incio da Costa, por 700 mil ris646. Desta fazenda desmembrou Vereda Grande do Bonfim, partilhada em 1820 no esplio do capito Estevo Incio da Costa. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1857, informaram propriedades: Bernardo Lopes de Souza (compra em comum); Florncio Monteiro do Vale (compra da Casa da Ponte, atravs do procurador Heitor Soares de Castro); Joo Jos de Souza (compras de Isidoro Fernandes Viana e Manoel Vitorino Monteiro); Jos dos Santos Barros (Deus Dar, da fazenda Canabrava do P do Morro,
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APEB. Judicirio, 02.0883.1352.04. APEB. Judicirio, 03.1205.1674.07. 644 APEB. Judicirio, 03.1180.1649.02. 645 APEB. Judicirio, SRJ/25/33. f. 105. Escritura, 3 jun., 1914. 646 AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 2, f. 207. Cpia de escritura particular, 8 jul., 1799.
recebida em causa dotis do sogro Francisco Xavier de Souza Castro); Jos Francisco da Rocha (em comum, um quarto de lgua de largura e outro de comprimento); Manoel Jos Barbosa (um quarto de lgua de largura e outro de comprimento). Canabrava do Faria (ex-Canabrava, ex-Canabrava do Caires, ex-Canabrava dos Pinheiros) Fazenda desmembrada de Brejo, Brejo Grande ou Brejo das Carnabas, hoje no municpio de Igapor. Pertenceu, no sculo XVIII, ao capito Francisco de Caires Ferreira, cuja viva Joana Anglica de Azevedo vendeu ao capito-mor Bento Garcia Leal e este, para os irmos Joaquim, Jos, Silvrio, Floriano Pinheiro de Azevedo e o cunhado destes, Manoel Xavier de Carvalho Cotrim, todos sobrinhos da vendedora, em 1808647. O remanescente dos bens de Cares Ferreira e sua mulher, inventariados em 1810648, por no deixarem filhos, transferiram-se para Joo Ferreira Caldas e Manoel da Silva Pereira, sobrinhos de Francisco de Caires Ferreira; Antnio Pinheiro de Azevedo e Antnio ngelo de Carvalho Cotrim, irmo e sobrinho de Joana Anglica de Azevedo, que era filha do capito Estevo Pinheiro de Azevedo. Na transio para o sculo XIX, em Canabrava do Caires, ainda integrando o municpio de Minas do Rio de Contas, desenvolve-se um aglomerado populacional, que se deslocou depois para Bonito, 18 quilmetros ao norte. Imediatamente aps a emancipao de Caetit, em 1810, instalaram-se os juizados vintenrios649 de Canabrava de Vicente Ferreira e Canabrava do Caires. Para este ltimo foi designado como juiz de vintena o portugus Manoel Jos de Faria, proprietrio de parte de Canabrava, cujo sobrenome agregou-se ao topnimo local; e Bernardo Teixeira Coelho, filho de um portugus homnimo, que comprara a vizinha fazenda Gameleira, da Casa da Ponte, como suplente, a fim de fazerem o lanamento da derrama650 para a construo da cadeia651,
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APEB. Judicirio, 74.2642.23. Carta de Inquirio do juiz da Comarca de Jacobina ao juiz ordinrio da Vila Nova do Prncipe de Santa Ana de Caetit, para instruir a Ao de Libelo Cvel, movida por Maria Gonalves da Costa, em 1822, contra os limites de Vargens com Pirpiri, de Floriano Pinheiro de Azevedo. 648 APEB. Judicirio, 02.0563.1015.06. 649 A vintena, uma instituio das Ordenaes Manuelinas de 1521, alteradas pelas Filipinas, de 1603. Os juizes das vintenas ou vintenrios, foram institudos em 1532, nas aldeias com 20 a 50 vizinhos, distantes uma lgua ou mais da cidade ou vila, sendo eleitos anualmente homens bons pelos vereadores e procuradores das respectivas Cmara, com atribuies de resolver verbalmente as contendas sem apelao, agravo ou processo e entregar os criminosos ao juiz ordinrio do termo. (PORTUGAL. Ordenaes do Reino. Ordenaes Filipinas. Liv. I, tt. 65, p. 144; SALGADO, Graa. (Coord.). Op. cit., p. 131. 650 O derrama surgiu de uma lei de, 3 dez., 1750, atravs da qual D. Jos I transformou a finta num recurso tributrio para cobrir dficits oramentrios, transferindo sua execuo das cmaras para os capitesgenerais e intendncia. MAGALHES, Beatriz R. de. Derrama. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da. (Coord.). Op. cit. p., 246-247. 651 GUMES Joo [Antnio dos Santos]. Municpio de Caetit, p. 20.
tarefa da qual, ao que se sabe, no se desincumbiram. Entretanto, instituiu-se, nessa poca, a Companhia de Ordenana do Arraial de Canabrava do Caires652, subordinada ao Tero das Ordenanas da Vila do Prncipe de Santa Ana do Caitet, que se restabelecera, depois de longa inatividade. No incio do sculo XIX Jos Manoel da Silva reivindicou sem sucesso, a ampliao dos limites da fazenda Vargens, que comprara de Pedro Jos Rodrigues, avanando sobre Piripiri, de Floriano Pinheiro de Azevedo. Aps a morte do proprietrio de Vargens, sua viva Maria Gonalves da Costa moveu, em 1822, ao de libelo cvel na Ouvidoria de Jacobina, reivindicando que Floriano Pinheiro de Azevedo desistisse da propriedade das terras dos morros do Piripiri para o alto das Vargens653. Em 1833, Joaquim Pinheiro de Azevedo e sua mulher Joana Xavier da Silva, venderam uma frao de Canabrava do Caires, aos filhos Filipe Joaquim de Azevedo Cotrim, Vicente Pinheiro de Azevedo e Estevo Pinheiro de Azevedo, por um conto, 497 mil e 38 ris, para que pagassem suas dvidas ao capito Jos Ribeiro de Magalhes e Silva654. Vicente ficou com a parte da casa onde morava Joo Pereira Coutinho, para cima, a unir ou encontrar com a fazenda Gameleira, puxando alguma cousa ao lado do norte; Estevo, dessa casa de Joo Pereira Coutinho, para baixo, fazendo extrema no lugar dos Furados; e Filipe Joaquim, da para baixo655. Quando inventariaram os bens de Joana Xavier da Silva656, em 1839, arrolaram 18 escravos, dois dos quais com 90 anos de idade; uma casa de enchimento, coberta com telhas, na fazenda Canabrava, avaliada por 140 mil ris; 50 rezes, 450 mil ris; trs bois mansos, 50 mil ris; um cavalo, 30 mil ris; 13 cargas de algodo em caroo, 182 mil ris; 413 rapaduras, 66 mil e 800 ris; uma roa de algodo, 200 mil ris; uma arma Riuna, 12 mil ris; duas pistolas, 16 mil ris; espingarda Lazarina, seis mil ris; bolinete, prensa, engenho e outros instrumentos agrcolas e utenslios domsticos. A parcela de Canabrava que pertencera ao capito Filipe Joaquim de Azevedo Cotrim, entre Lajedo Velho ou Currais e Piripiri, integrou, em 1844, o esplio de Joana de So Joo Castro e seu vivo Jos Antnio da Silva Castro (ver Carnabas de Fora).
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APEB. Colonial e Provincial. 3.209. Carta patente do alferes Francisco Pereira da Costa, 20 set., 1817. APEB. Judicirio, 74.2642.23. Carta de Inquirio do Juiz da Comarca de Jacobina ao Juiz Ordinrio da Vila Nova do Prncipe de Santa Ana de Caetit, para instruir a Ao de Libelo Cvel. 654 AA. Original de escritura particular, 17 jul., 1833, registrada em Caetit, 22 mai., 1839. 655 AA. Ao, de Vicente Pinheiro de Azevedo e outros contra Joo Pereira Bezerra e outros. f. 45. Certido solicitada por Jos Pereira da Costa Neves, ao Escrivo Antnio Marcelino das Neves. 656 APEB. Judicirio, 02.0569.1021.03.
No registro de terras da freguesia de Caetit, extremando com Faustino Moreira Castro (herdeiro dos pais Jos Antnio e Joana de So Joo), Joo Pereira Bezerra e outros, Gameleira, Lagoa Funda, Antnio de Souza Porto e outros, declaram propriedades comuns em Canabrava: Antnio de Souza Porto Brasileiro (Piripiri), Cipriano Francisco das Neves, Deodato Jos de Souza, Domingos Rodrigues de Carvalho, Francisco Pereira Bezerra, Honorato Jos da Silva, Honrio Incio Ferreira, Joo Francisco Ferreira, Joo Jos Ferreira, Joo Pereira Bezerra, Jos Francisco Teixeira, Jos Joaquim de Oliveira, Manoel Joaquim, Martiniano Vtor de Santa Ana, Sebastio Rodrigues da Rocha e Zacarias Lopes de Carvalho. Alguns titulares, como Gabriel Aniceto Cardim (Olho dgua), Honorato Incio Ferreira, Joo da Mata Silva e Manoel Correia da Silva declararam ttulos em comum, indicando limites de arrendamento no sculo XVIII, quando ainda integrava o domnio fundirio de Isabel Maria Guedes de Brito, contornando por Espinheiro, arrendado por Isabel Maria; Francisco de Caires Ferreira; Carabas, arrematante de Jos Cardoso de Almeida e Francisca Florinda, estremas de Tamboril. Antnio Jos Santana e Francisco Alves Ferreira preferiram informar demarcaes prprias e temporrias ao censo fundirio, como uma gameleira brava, na volta da manga. Em 1858, Floriano Pinheiro de Azevedo, senhor e possuidor de muitos anos, vendeu o stio Cercado, em Piripiri, para a empresa comercial e agiota, Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso, com a casa coberta de talhas, onde morava, por 714 mil 818 ris, correspondentes ao principal e prmios vencidos de um emprstimo hipotecrio, que devia ao comprador657. Em 1864 a Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso vendeu, por 700 mil ris, para Antnio Jos de Santana658. Gabriel Aniceto Cardim inventariou em 1865, no esplio da mulher Joana Rita de Jesus659, uma frao de Olho dgua da fazenda Canabrava do Faria avaliada por trs mil ris, com uma escrava no valor de um conto de ris; cinco rezes, 375 mil ris; um cavalo, dois poldros e uma mulinha crioula, 130 mil ris. Entre os bens de Tefilo Jos (ou Antnio) das Neves660, partilhados em 1883, pela sua viva Urccia Eliziria das Neves e seu pai Antnio Joaquim das Neves, registraram parcela de Canabrava do Faria, com uma casa, por 100 mil ris; gleba de Barreiro da Catinga, 25 mil ris; 66 rezes, 840 mil ris; e trs eqinos, 165 mil ris.
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APEB. Judicirio, SRJ/25/15, f. 163. Escritura, 8 jul., 1858. APEB. Judicirio, SRJ/25/20, f. 176 v. Escritura, 25 abr., 1864. 659 APEB. Judicirio, 03.1183.1652.11.
Canabravinha Fazenda na qual desenvolveu o povoado originrio do distrito de mesmo nome, em Rio de Contas, depois Paramirim. No registro de terras da freguesia de Morro do Fogo, em 1857-1859, entre outros, declaram ttulos de parcelas: Cipriano Marques das Neves, Clemente Rodrigues da Silva (compra de Manoel Jos das Neves e sua mulher Rosa Maria Alves), Demtrio Ferreira da Silva (herana e compra), Jos Joaquim Nunes (herana do pai Joaquim Nunes Dourado e do sogro Rafael de Oliveira Nunes), Manoel Jos das Neves (compra da Casa da Ponte), Pacfico Jos das Neves. Canas Stio com meia lgua de comprimento e uma lgua de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Inocncia da Cruz e outros, por dois mil ris anuais, limitando com Piedade, de Lus Teixeira; Francisco Ferreira, em Santo Andr; capito Pedro da Silva, no alto da serra de Mato Grosso; Conceio, de Jos Ferreira e Francisco Ferreira. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-lhe por 100 mil ris, e venderamno, em 1829, para Maria Feio de Souza e outros. Candeal Fazenda em Santo Antnio da Barra, freguesia de Nossa Senhora Conceio do Rio Pardo, da qual inventariaram, em 1789, uma casa de palhas, por 10 mil ris, no esplio de Francisco Jos Ribeiro661 o qual com uma dezena de escravos, plantava cana, mandioca, cereais e criava 72 rezes, 15 guas e dois cavalos. No tendo a propriedade da terra seria rendeiro da Casa da Ponte. Em 1831, quando j integrava a freguesia de Santo Antnio da Barra, inventariaram metade das terras em comum, da fazenda Candeal, com os bens j proprietrio de Manoel Francisco Ribeiro662, filho do precedente, que criava algumas dezenas de gado vacum e cavalar. No esplio de Antnio Francisco de Almeida663 partilharam, em 1854, uma gleba de Candeal, em comum, com regos dgua dos dois lados do rio, casa de telhas, engenho, paiis, chcara com cafeeiros, laranjeiras e outras plantas frutferas, no valor de 450 mil ris; parcela da fazenda Vereda Grande, 400 mil ris; uma parte de Barrinha, em comum, 100 mil ris; de Piripiri, com um quarto de lgua, 250 mil ris; e de Piabanha, 130 mil ris. A viva Maria Incia da Costa partilhou tambm, com os trs filhos, cinco escravos, nove rezes, e quatro animais de montaria e carga. Francisco Jorge Martins Milagres e sua mulher Liberata da Silva Milagres venderam, em 1857, uma gleba de Cande-
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APEB. Judicirio, 02.0866.1335.14. APEB. Judicirio, 02.0574.1026.05. 662 APEB. Judicirio, 02.0573.1025.09. 663 APEB. Judicirio, 08.3391.06.
al, em comum, por 600 mil ris, com uma pequena chcara, duas casas velhas e um engenho, para Antnio Francisco Torres664. Nos registros de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1857/1858, vrios herdeiros e alguns compradores declararam glebas em comum: Anselmo Ribeiro de Oliveira (uma lgua de comprimento e trs quartos de largura); Antnio Messias de Oliveira (uma lgua de comprimento e menos de um quarto de largura); Antnio Ribeiro de Oliveira (60 braas de comprimento e 50 de fundos); e outros. Em 1858 Francisco de Sales Costa e sua mulher Euzbia Maria de Jesus venderam metade da herana por 50 mil ris, para Manoel Antnio de Oliveira665. Nesta fazenda desenvolveu-se o povoado de Mandacaru, sede do municpio de Candeal, atual Cordeiros. Candonga Fazenda em Caetit, transferida, em 1809, por Joaquim Pereira de Castro, procurador da Casa da Ponte, para Antnio Jos Pereira Coutinho666. Inventariaram uma parcela, em 1846, no esplio de Maria Francisca de Jesus667 que, no deixando descendentes, instituiu o consorte Silvrio Pinheiro de Azevedo seu testamenteiro e nico herdeiro. Em 1857, Joaquim Pereira de Castro e sua mulher Antnia Sofia de Jesus venderam uma parte de Candonga por 525 mil ris, para Atansio de Souza Barrem668. Capa Stio nas margens do rio Verde Pequeno, em Duas Barras, atual Urandi, arrendado pela Casa da Ponte para Manoel Vicente de Carvalho, que informou sua posse quando inventariou os bens do seu casal, em 1814, no esplio de sua mulher Isabel Antunes de Cerqueira669, com meia lgua de comprimento e outra meia lgua de largura, na fazenda Salto, no valor de 50 mil ris. Com 14 escravos plantava algodo e cana. Entre outros bens, possua de um engenho. No registro de terras da freguesia do Gentio, de 1855-1858, informaram ttulos: Agda Nunes de Cerqueira, Csar Pinheiro Cotrim, Clemente Eusbio de Souza, Domingos de Souza Carvalho, Firmiano Manoel Teixeira, Joaquim Maurcio da Rocha (Barra), Jos Pedro Rodrigues (Barra), Jos Ribeiro da Cruz, Teodoro de Souza Carvalho e Teodsio Cardoso de S. No esplio de Justina Maria de Jesus670, em 1885, inventariaram uma parcela de Capa, com uma casa, plantaes de cana, arroz, algodo e caf, por 580 mil ris; glebas de nfimos valores em Paiol, Santa Cruz e Riacho de Areia; cinco escravos com valores
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APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 20. Escritura pblica, 20 jan., 1857. APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 38. Escritura pblica, 31 dez., 1858. 666 APEB. Judicirio, 08.0337.01. 667 APEB. Judicirio, 02.0576.1028.12. 668 APEB. Judicirio, SRJ/25/15. f. 61. Escritura pblica, 4 mai., 1857. 669 APEB. Judicirio, 02.0566.1018.04.
entre 150 e 300 mil ris; quatro vacas paridas, 80 mil ris; trs rezes, 30 mil ris; um cavalo velho, oito mil ris; nove porcos, nove mil ris; uma roa de meia quarta de milho, 25 mil ris; um engenho velho, 50 mil ris; um caixo de guardar farinha, oito mil ris. Capivaras Stio declarado em 1857, no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, por Gabriel Rodrigues Lima (uma lgua de comprimento e outra de largura, compra de Heitor Soares de Castro) e por Jos Ferreira Salgado (duas lguas de comprimento e meia de largura, compra de Francisco Jos de Magalhes). Inventariaram Capivaras de Clemente Jos da Cruz671, no arraial de So Filipe, em 1883, com uma casa, tanque, mangas e currais, por 100 mil ris; outras glebas de valores menores em Marrecas, Caititu e Esprito Santo, 39 rezes, cinco cavalos, dois sunos e uma roda de ralar mandioca, Capoeira Stio no atual municpio de Urandi, arrendado pela Casa da Ponte para Feliciano Jos Jorge, por sete mil ris, em 1808, extremando-se pela barra do riacho Seco, Passagem do Murici, Duas Barras, Lagoa do Coelho e P de Serra. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 300 mil ris, sendo vendido um quarto das terras para Joaquim Ferreira da Silva, por 82 mil e 500 ris e metade para Feliciano Jorge, por 165 mil ris. Carabas Fazenda da qual inventariaram o stio Caititu, na beira do rio Verde Pequeno, em 1839, com uma casa, por 220 mil ris, no esplio de Joaquina Rodrigues de Jesus. Declarada no registro de terras da freguesia do Gentio por: Ana Romana de Jesus (Mandacaru, com meia lgua de comprimento e um quarto de largura, comprada de Raimundo Gomes Pereira e sua mulher Miquelina Maria de Jesus); Francisco Ferreira da Luz (Caititu, compra de Joaquim Ferreira da Silva); Manoel Alves Pereira (meia lgua em quadro, comprada de Raimundo Gomes Pereira e sua mulher Miquelina Maria de Jesus); e Raimundo Gomes Pereira (Vargem da Cancela, herana materna, em comum). No esplio de Raimundo Gomes Pereira672, em 1857, se inventariou uma frao de Caititu, por 60 mil ris; de Riacho Seco, 70 mil ris; de Paiol, com uma casa de uma porta, 40 mil ris; de Riacho de Areia, 30 mil ris. O pequeno criatrio compunha-se de 17 rezes, 195 mil ris; um boi manso, 20 mil ris; um cavalo russo e outro castanho, 75 mil ris, e 12 leites, 12 mil ris. Possua dois escravos, duas rodas de fiar, uma roda de
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APEB. Judicirio, 03.1191.1660.06. APEB. Judicirio, 04.1461.1930.15. 672 APEB. Judicirio, 08.3433.08.
ralar mandioca, duas imagens, uma de Santo Antnio e outra de Nossa Senhora, ferramentas de trabalho e algumas jias. Carabas Stio em Urubu, atual Paratinga, com trs quartos de lgua de comprimento e igual medida de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por 500 ris anuais, para Jos Rodrigues Machado, limitando com Bom Sucesso; Santo Onofre, dos herdeiros de Joo da Costa e terras da Casa do Saldanha no alto do morro da Catinga. No tombamento de 1819, avaliaram-no por 80 mil ris. No registro de terras da freguesia de Macabas, em 1857-1859, os herdeiros de Joaquim Jos Chaves e alguns compradores informaram ttulos. Carabas Stio hoje em Igapor, que se transferiu de Bernardo de Brito Gondim ao esplio do tenente-coronel Gonalo do Amarante Costa por execuo judicial de dvidas. Deste, por herana, passou ao sobrinho Antnio Jos de Lima, que vendeu para Franco Chaves Fernandes e sua mulher Ana Rosa da Luz. Este casal, atravs de procurao passada no Arraial de Manga, distrito de So Caetano do Jacar, em Januria, Minas Gerais, ao capito Manoel Csar da Luz, negociou uma gleba, em 1900, por dois contos de ris, com Bernardino Alves Pereira673 e outra em 1905, pelo mesmo preo, com Joo Jos de Queirs674. Ainda em 1905, Carabas foi objeto de Ao de Diviso e Demarcao, movida por Eloi Ferreira de Souza, proprietrio de Tamandu. Carabas Fazenda entre Gavio, So Pedro e Veredas, declarada no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1857, por Jos Alves Portugal (uma lgua de comprimento e outra de largura, herana do sogro Francisco Xavier da Costa). Nessa fazenda desenvolveu-se a povoao original da cidade de nome idntico, cujo municpio se emancipou em 1988. Carabas Stio entre Araras, de Jos Pereira Marinho; Boa Vista; e Canabrava, de Joo Caldeira da Silva, com trs quartos de lgua de comprimento e de largura sem ponto certo por ser inaccessvel, arrendado pela Casa da Ponte para Nazria de Souza da Costa, por 10 tostes em 1806. Avaliado no tombamento de 1819, por 60 mil ris e vendido depois para Antnio Gomes da Silva e Gregrio de Souza Monteiro.
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APEB. Cvel, 08.0336.04, f. 60. Escritura pblica, 26 jul., 1900, trasladada do Livro de Notas n. 6, f. 8. APEB. Cvel, 08.0336.05, f. 91. Escritura pblica, 9 jun., 1900, trasladada do Livro de Notas n. 6, f. 36.
Carnabas Fazenda no rio So Francisco da qual, j se tendo vendido escravos e gados, inventariaram somente as terras, em 1832, por dois contos e 400 mil ris, com o esplio do conde da Ponte. Carnabas de Dentro (Desdobramento de Brejo, Brejo Grande, Brejo de Matias Joo, Brejo das Carnabas e Carnabas) Fazenda no atual municpio de Guanambi, que no registro de terras da freguesia do Gentio, em 1855-1858, declararam ttulos em comum vrios herdeiros e compradores, com sobrenomes como: Gomes de Azevedo, Pereira da Costa, Ribeiro e Silva, Silva Neves, Teixeira de Carvalho. No registro de terras da freguesia de Monte Alto, de 1855-1860 declararam ttulos em comum, pessoas das famlias: Abreu Prates (Malhada do Canto e Barreiro), Pereira de Carvalho (Ventura), Pereira da Costa (Barra do Brindes, Cai Fora, Morro Pelado, Poo do Amargoso, Poo do Mulungu, Tanque), Gonalves da Costa, Moreira Castro, Dias Laranjeira (Tanque dos Brindes), Cardoso da Silva (Tabua Grande), Silva Neves (Minadouro), Frota Duque (Poo Largo), Pereira de Carvalho (Pajeu), Fernandes (Caiara), Carvalho da Fonseca, Fernandes Amado e outros. A pequena gleba de Bernardo Ribeiro da Silva675, com algumas casas em Saco e no Gentio, foi partilhada, em 1860, pelo seu pai Vicente da Silva Ribeiro e sua viva Ana Rita de Jesus, inclusive seis escravos, 80 rezes, nove guas e dois animais de montaria. Em 1864, inventariaram o stio Malhada do Canto, no esplio de Tefilo Pereira da Costa676, partilhado pela sua me Ana de Abreu Prates e sua viva Maria Vitria Pereira de Jesus, por 125 mil ris; e glebas de Jardim, 15 mil ris; Lagoa (de Flix Pereira da Costa), 15 mil ris; Tabuleiro, 92 mil ris; cachoeira, 44 mil ris; Contendas, dois mil ris; casa da Boa Vista, 55 mil ris; e mais nove escravos, 20 rezes, trs guas e quatro cavalos. Tefilo Monteiro de Magalhes vendeu Jacar e Tanque Velho, em 1875, por um conto e 200 mil ris, com benfeitorias, que comprara de Joaquim Pereira de Castro, herdeiro dos pais Antnio Pereira da Costa e Maria Joaquina Pereira de Castro677. Em 1880 inventariaram um quinho de Carnabas de Dentro no esplio de Jernimo Pereira da Costa678, de avaliao antiga de um conto de ris, pelo mesmo valor; glebas de Volta, 300 mil ris; de Morro, com uma casa, tanque, manga, currais, e outras benfeito-
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APEB. Judicirio, 03.1314.1783.22. APEB. Judicirio, 02.0869.1338.12. 677 APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 165. Escritura pblica, 28 dez., 1875. 678 APEB. Judicirio, 03.1184.1653.13.
rias, dois contos e 500 mil ris. Sogro de Leolino Xavier Cotrim, um dos principais traficantes de escravos do Alto Serto da Bahia So Paulo, Jernimo acompanhou a dinmica da extino gradual da escravido, permanecendo com apenas trs escravas, de 50 a 60 anos, todas casadas. Seus criatrios de bovinos, eqinos e muares no reuniam uma centena de animais. Carnabas de Fora (Desdobramento de Brejo, Brejo Grande, Brejo de Matias Joo, Brejo das Carnabas e Carnabas) Fazenda de Isabel Maria Guedes de Brito, nos atuais limites de Guanambi, Caetit, Igapor e Matina, arrendada ao mestre-de-campo Pedro Leolino Mariz, na transio para o sculo XVIII. No incio do sculo XIX o capito Manoel Moreira da Trindade pagava renda de uma parcela das terras. Inventariada no j citado esplio do conde da Ponte, em 1832, por dois contos e 400 mil ris, ficando no quinho do filho Lus de Saldanha da Gama, marqus de Taubat que, com sua mulher Sofia Bueno, vendeu, em 1835, por quatro contos e 800 mil ris, para Inocncio Jos Pinheiro Canguu, para receber depois de 23 de janeiro de 1837, quando venceria o arrendamento. Limitava-se com Currais, de Jos Xavier de Carvalho Cotrim; Gameleira, de Nicolau de Souza Costa; Sucesso, de Filipe Nery de Faria; Tamboril, de Manoel Rodrigues; Canabrava, do capito Manoel Xavier de Carvalho Cotrim; Vargens de Jos Manoel da Silva; Stio Novo, do capito Antnio Pereira de Castro; Lajes do Morro, na Malhada da Caiara; P da Serra; Vargem Comprida; Carnabas de Dentro, de Dona Maria da Conceio; Barro Vermelho, de Antnio Alves Martins; e Isabel, do capito Manoel Xavier de Carvalho Cotrim679. Inventariaram as terras da fazenda das Carnabas de Fora, compreendendo o retiro do Cajueiro e outros em 1844, nos esplios de Joana de So Joo Castro e Jos Antnio da Silva Castro680, com a casa de vivenda, senzalas, paiis, engenhoca, casa de alambique, currais e outras benfeitorias, por 14 contos e 800 mil ris; terras em comum da fazenda Juazeiro, quatro contos de ris; stios das Tabocas, da Gameleira e da Canabrava, em Caetit, quatro contos e 400 mil ris; fazenda Olho dgua, na beira da serra de Monte Alto, com uma casa, paiis, senzalas de telhas, prensas e outros acessrios, dois contos e quatrocentos mil ris; uma sorte de terras em comum, na fazenda Santa Rosa (atualmente em Matina), 400 mil ris. Alm dessas terras o casal possua casas, instrumentos de trabalho, jias, grande plantel de escravos e outras fazendas em vrias regies da Bahia:
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- Macabas: Gerais do Pedreiro, onde havia gado vacum, cavalar e escravos; Cachoeira, na fazenda Santa Rita, com uma casa coberta de casca, curral e criaes de animais, 400 mil ris, apenas o imvel; Cuit, dois contos e 600 mil ris; Brejo, 400 mil ris; - Urubu: Campo Grande, com escravos, gado vacum e cavalar; Campos de So Joo, com duas lguas de frente e cinco de fundos, cinco contos de ris, sem incluir escravos, gado vacum e cavalar; Volta, com duas lguas e meia de frente e outras tantas de fundos, trs mil e 500 ris, tambm sem incluir escravos, gado vacum e cavalar; Boa Vista, uma lgua e meia de frente e pouco mais ou menos de fundos, um conto e 500 mil ris, sem computar escravos, gado vacum e cavalar; Serra do Malhado, duas lguas e meia, um conto e 500 mil ris, apenas as terras; - Rio de Contas: Favela, nas margens do rio Paramirim, medindo uma lgua de frente e outra de fundos, um conto de ris, excluindo-se escravos, gado vacum e cavalar; Carrapato, nas margens do rio de Contas, dois contos, e 400 mil ris, sem os escravos, gado vacum e cavalar; Capivara, trs contos, sem incluir escravos, gado vacum e cavalar; Olho dgua, metade das terras, 800 mil ris; Bois, nas margens do rio Paraguau, com escravos, gado vacum e cavalar; Palma, cinco contos de ris, sem incluir escravos, gado vacum e cavalar; Agreste, inclusive o gado; Furados, 800 mil ris, sem o gado vacum; - Cachoeira: Retiros, com canas e outras lavouras, aguardando avaliao; Sobrado, um conto de ris, sem incluir o gado; Mocambo, um conto, sem o gado; Cabaceira, inclusive do gado; Pindoba, com escravos, gado vacum e cavalar; Volta, dois contos, sem incluir escravos, gado vacum e cavalar; Boa Vista, com uma lgua de frente e uma e meia de fundos, casa grande e currais, escravos, gado vacum e cavalar, dois mil e 500 ris; Lapa, com escravos, gado vacum e cavalar; - Feira de Santana: Canabrava, s margens do rio Paraguau; Campo do Gado; Campo Alegre; todas com escravos, gado vacum e cavalar. No registro de terras da freguesia de Monte Alto, de 1855-1860, declararam ttulos: Joaquim da Costa e Souza (Poes); Antnio, Francisco e Gaspariano Moreira Castro (Carabas). Joaquim Severino vendeu o Gongo, em 1872, por 10 contos de ris, inclusive a quinta parte das casas e benfeitorias do Cajueiro, para o capito Nicolau Jos Ribeiro e Silva. A fazenda Saco do Gongo compunha-se com retiros: Furados,
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Olho dgua, Lajedo Velho, Capoeiras, Vereda, Malhada do Juazeiro, Lagoa do Camilo e Lagoa do Zuza.681 Gongo transferiu-se para o coronel Augusto Jos Fagundes. Elvira Moreira de Castro nomeou, em 1876, Ernesto Fagundes Cotrim, Avelino de Oliveira Guimares e Jos Pereira de Castro seus procuradores no termo de Monte Alto, para assinarem escritura de compra e venda de partes de suas terras em Poes, reservando a casa e benfeitorias682. Carrapato Stio hoje em Boquira, com um quarto de lgua de comprimento e um quarto de meia lgua de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1816, para Francisco Gomes de Oliveira, por mil e 500 ris anuais, limitando com Manoel Pereira, capito Jos Antnio do Rego e alferes Lus Francisco Brando. Avaliado em 1819, por 50 mil ris, venderam-no, em 1821, ao padre Tom Fernandes Leo. Casa Velha Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Manoel Gonalves Machado, por 750 ris, limitando com Antnio Nunes de Cerqueira, rio Verde Pequeno, Cipriano Nunes de Cerqueira. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 30 mil ris. Catols Stio da fazenda Mocambo, com trs lguas de comprimento e duas de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, para Alexandre Rodrigues da Mata e Manoel Jos de Medeiros, por 10 mil ris anuais e de presente, alugado para Manoel Jos de Medeiros e mais interessados. Limitava-se por Contendas, Olho dgua do Sap, Riacho e Riacho Fundo. Em 1819 atriburam-lhe o valor de 360 mil ris e venderam-no, depois, para Incio Alves. No registro de terras da freguesia de Macabas de 18571859, muitos herdeiros e compradores de pequenas glebas Rodrigues, da Mata, de Medeiros e outros informaram seus ttulos, destacando o Riacho Fundo, de Jernimo Borges de Barros e outros. Cedro Stio hoje em Urandi, que integrou o esplio de Pedro Soares Barbalho683, partilhado em 1800, pela viva Vicncia Nunes de Siqueira, cinco filhos do casal e dois extraconjugais do inventariado, com uma casa de enchimento, coberta de cascas de rvores, de cinco portas e mveis, por 214 mil ris; dois escravos de campo e roa e uma de casa; duas dezenas de rezes; pequena plantao de cana; uma carga de algodo; uma roda de fiar. Vicncia Nunes de Siqueira fez novo arrendamento de uma parte de Cedro, em 1807, com uma lgua e meia de comprimento e uma de largura, por dois
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APEB. Judicirio, SRJ/25/23. f, 132. Escritura pblica, 19 set., 1872. APEB. Judicirio, SRJ/25/28, f. 10 v. Procurao, 26 mai., 1876. 683 APEB. Judicirio, 01.0586.1038.04.
mil e 500 ris anuais, extremando com Varginha, de Pedro de Souza Ferreira; Caldeiro da Lagoa, de Joo Soares e seu irmo; Lajedo Grande, dos mesmos; Lagoa do Coelho, de Plcido Barbosa, Capa, Santa Cruz, Boa Vista, de Jos Zacarias e riacho do Cedro. No tombamento de 1819 avaliaram esta gleba por 20 mil ris. Alexandre Niccio de Santana arrendou, tambm em 1807, a outra parcela, com um quarto de lgua de largura e outro de comprimento, por 500 ris anuais, limitando com Jos Zacarias Quaresma, Vicncia Nunes, Pedro de Souza Ferreira e Cipriano Nunes de Siqueira. Avaliaram esta gleba, em 1819, tambm por 20 mil ris. Em 1817 Alexandre Niccio de Santana arrendou outra gleba de Cedro, contornada pela barra do Riacho do Ouro, Capa e Vargem Funda, por 500 ris anuais. No tombamento de 1819 avaliaram esta frao por 20 mil ris. Anos depois, a Casa da Ponte vendeu o que lhe restava de Cedro para Joaquim Jos de Santana e outros, por 140 mil ris. Umbelino Maria de Jesus partilhou uma frao de Cedro em 1842, no esplio de Joo Rodrigues Neves684, com os 11 filhos dos dois casamentos dele, com uma casa e engenho, por 20 mil ris. No registro de terras da freguesia do Gentio, de 1855-1858, declaram glebas comuns: Joo Crisstomo do Rego, Maria dos Santos Inocente, Sabino David de Souza. Cercadinho Stio com duas lguas de comprimento e trs quartos de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Marcolino Alves de Souza, por quatro mil ris anuais e uma gleba arrendada, de presente, ao capito Sisnando de Souza Brito e Incio Ferreira Gomes, limitando com o retiro Senado, da fazenda Morrinhos, de dona Eufrsia; Juazeiro, do reverendo deo, na ponta do Morro Grande; Santa Isabel de dona Eufrsia Maria, viva do capito Antnio do Rego; Barro Vermelho, de Nicodemos Vieira e outros; e Jenipapo, do capito Maninho Bueno. Avaliado no tombamento fundirio de 1819, por 200 mil ris e vendido, em 1838, para Ladislau Francisco de Souza Brito. Cercado Stio com meia lgua de comprimento e outra de largura, na atual jurisdio de Oliveira dos Brejinhos, arrendado pela Casa da Ponte, em 1803, para Domingos de Arajo Teixeira e outros, por dois mil ris anuais, limitando com Passagem da Escadinha, Chuveiro de Dentro, Olho dgua e Cafund. Avaliaram-no, em 1819, por 80 mil ris e venderam-no, em 1822, para Custdio de Souza Lemos.
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Cerquinha Fazenda no atual municpio de Igapor, vendida em 1813, pelo tenentecoronel Joaquim Pereira de Castro, procurador da condessa da Ponte685, com uma gleba de Troncho, para Francisco Xavier de Carvalho Cotrim, por 155 mil ris, em quatro pagamentos anuais de 38 mil 750 ris, limitando-se com Jardim, Caldeiro, Mocambo, So Simo e Umbuzeiro686. Cerquinha integrou, em 1818, o inventario dos bens de Francisco Xavier de Carvalho Cotrim687, no valor de 208 mil ris, com uma casa e trs currais. A viva Lauriana Maria de Santo Antnio declarou ainda, um quarto da fazenda Campo Seco, herana do seu pai Miguel Loureno de Almeida, por 300 mil ris; uma frao do stio Isabel, 80 mil ris; outra de Brejo dos Padres, 50 mil ris. No informou profisses ou atividades dos 25 escravos, empregados na agropecuria. O casal possua 336 cabeas de gado, 15 guas, 13 cavalos, potros e burros. Uma roa de algodo, avaliada por 100 mil ris; e 223 arrobas do mesmo produto, em caroo, 160 mil 920 ris. Entre as jias encontravam-se: um rosrio de ouro com 13 oitavas, valendo 15 mil e 600 ris; um crucifixo de ouro com 23 oitavas, 27 mil e 600 ris. De utenslios havia seis pares de talheres com 26 oitavas de prata, 12 mil e 600 ris; um par de esporas com 38,5 oitavas de prata, 17 mil 769 ris. Lauriana Maria do Esprito Santo vendeu, em 1843, metade das terras, de Cerquinha, por um conto de ris, para o tenente Francisco Xavier Fagundes Cotrim. No registro de terras da freguesia de Caetit Francisco Xavier Fagundes Cotrim e Antnio Joaquim Xavier de Carvalho Cotrim declararam-se titulares. Este ltimo vendeu, em 1858, metade das terras que comprara de Lauriana Maria do Esprito Santo por um conto e 700 mil ris, ao padre Policarpo de Brito Gondim688. Em 1866 Ladislau de Barros Silva e sua mulher Valentina de Barros Silva venderam tambm a metade, por um conto e 700 mil ris, com uma gleba de Jurema, para Joo Severino da Luz Lisboa689. Chafariz Fazenda s margens do rio do Antnio, da qual Domingos dos Santos Barbalho e sua mulher Ana Joaquina de Jesus Soares doaram, em 1846, uma parcela ao filho Teotnio Soares Barbalho para que recebesse ordens sacerdotais. Inventariada em
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APEB. Judicirio, SRJ/25/20, f. 95. Traslado de procurao, 27 nov., 1809, de Pedro Francisco de Castro, substabelecendo procurao de 13 dez., 1808, ao tenente-coronel Joaquim Pereira de Castro, Gregrio da Silva Monteiro e Pedro da Silva Pimentel, em Rio de Contas, Santo Antnio do Urubu e Rio Pardo. 686 APEB. Judicirio, SRJ/25/20, f. 93. Traslado de escritura pblica, 10 mar., 1813. 687 APEB. Judicirio, 02.0589.1041.03. 688 APEB. Judicirio, SRJ/25/15, f. 187. Escritura pblica, 1818. 689 APEB. Judicirio, SRJ/25/22, f. 131 v. Escritura pblica, 24 jul., 1866.
1852, no esplio de Maria Bernarda de Jesus690, uma parcela de Chafariz, por 213 mil ris e uma gleba do Campo da rsula, por 50 mil ris. O vivo Francisco Lopes Garcia declarou um escravo com 60 anos de idade, trabalhador de roa e trs crianas. Seu criatrio limitava-se a 10 rezes, dois cavalos e uma gua parida. Nos registros de terras da freguesia do Gentio declararam-se ttulares: Domingos Soares dos Santos Barbalho (compras de Lus Ribeiro da Silva Pacheco e de Filipe Garcia Leal); Francisco da Cruz Prates Primo (herana do pai Incio da Cruz Prates); Ladislau Antnio de Almeida (herana do sogro Joaquim Pinheiro Pinto); Romo Jos Muniz (compra de Francisco Lopes Garcia); e outros. Inventariou-se em 1883, a parcela de Chafariz pertencente a Vicente Ferreira dos Santos
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Geraldina dos Santos e sua viva Fotunata Pereira de Souza. Talvez em conseqncia da extino gradual da escravido e do trfico interno de cativos para os cafezais paulistas, Vicente no possua nenhum deles, apenas sete rezes, duas guas e um cavalo. Cultivava uma roa de mandioca de dois anos, em terreno de seis pratos de milho; e outra de um ano, em terreno de quatro pratos. Somou-se a isto uma roda de ralar mandioca, uma roda de fiar, utenslios domsticos, jias e instrumentos de trabalho. Chapada de Cima Stio de uma lgua de comprimento e meia de largura, no atual municpio de Oliveira dos Brejinhos, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Francisco Leite da Cunha, por quatro mil ris anuais, limitando com Olho dgua, no lugar da mina de prata; Saco dos Bois, na Porteira; e fazenda Paulista, no alto da Serra. Avaliaram-no, em 1819, no tombamento fundirio da Casa da Ponte, por 144 mil ris e venderam-no, em 1840, para Francisco Leite da Cunha. Chiqueiro Stio de uma lgua de comprimento e meia lgua de largura, hoje nos limites de Ibotirama e Oliveira dos Brejinhos e Paratinga, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, para Manoel Ferreira Portela e outros, por cinco mil ris anuais, limitando com o engenho Jucurutu, Barro Vermelho, Boqueiro, Barriguda, Brejo Grande, serra dos Macacos, Cocal e Cafund. No tombamento fundirio de 1819, avaliaram-no por 180 mil ris e venderam-no, em 1838, para Ladislau Francisco de Souza Brito. Chuveiro Stio hoje em Boquira, com um quarto de lgua em cada um dos quatro lados, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Teodoro Pereira da Costa, por 500
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ris anuais, limitando com Francisco Gomes de Amorim, no Boqueiro do Brejo Grande e Boqueiro do Carrapato; So Felipe, de Paulo de Souza, no riacho do Mosquito; So Bartolomeu, dos herdeiros de Jos Ferreira Gomes, no alto da Serra Grande; e Carrapato, de Francisco Ferreira e outros, por cima da Serra Grande. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-no por 36 mil ris e venderam-no para Joaquim Pereira da Costa, em 1846. No registro de terras da freguesia de Macabas de 1857-1859, Amaro Francisco Belas informou que comprara de Francisco Xavier Borges e Timteo de Santana, metade das terras de Chuveiro, indicando rea com mais de um quarto de lgua de comprimento e meia lgua de largura. Coisa Boa Stio partilhado em 1875, no esplio de Jos Maria Rodrigues Rebouas692, avaliado por 400 mil ris, com um quintal; por 150 mil ris; uma frao de Barrocas, 10 mil ris. Alm de seis escravos, o inventariado possua 33 rezes, cinco cavalos e quatro burros. No ano seguinte o capito Jos Francisco de Brito Gondim e sua mulher Anglica Maria de Jesus venderam uma gleba, por 400 mil ris, para Manoel Rodrigues Rebouas693. Conceio Stio na atual jurisdio de Mortugaba, citado em 1731-1734 por Joaquim Quaresma Delgado. Em 1811 Bernardino Fialho de Carvalho partilhou com os 10 filhos o esplio de Joaquina Plcida do Nascimento694, com uma gleba de Conceio, avaliada por 200 mil ris; outra de Umburanas, 200 mil ris; e 120 cabeas de gado vacum, 630 mil ris. O procurador da condessa da Ponte, Joaquim Pereira de Castro vendeu o stio Conceio, em 1815, por 150 mil ris, em trs pagamentos anuais, para Manoel Barbosa de Brito, localizando-o na ribeira do Gavio, termo de Caetet e freguesia do Rio Pardo.695 Natria de Abreu Prates inventariou, em 1818, no esplio de Francisco Jos Magno,696 parcelas de Conceio, Umburanas, Tabua e Rio Grande ou Par, por 500 mil ris; uma de Estreito, com umas casas de enchimento, coberta de cascas, senzalas, tambm cobertas de cascas, curral de pau a pique, roda de mo e velha de ralar mandiocas, com roda e eixo de ferro, por 24 mil ris; de So Joo e Jurema, por 150 mil ris; Boa Vista e So Joo, por 100 mil ris; e a casa de morada, de telhas, em Aplicao das Almas, por 20 mil ris partilhado; e mais 45 escravos, 327 cabeas de gado vacum, e al692 693
APEB. Judicirio, 02.879.1348.02. APEB. Judicirio, SRJ/25/27, f. 24 v. Escritura pblica, 24 fev., 1876. 694 APEB. Judicirio, 02.0575.1027.07. 695 AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 29, f. 73 v. Cpia de escritura particular, 17 mar., 1815.
gumas cargas de algodo, alm de outros bens e produtos, no identificados devido ao de insetos sobre o documento. No registro de terras da freguesia do Gentio declararam ttulos: Antnio Fialho de Carvalho (herana de Jos Fialho); Bernardo Rodrigues Ladeia (compra de Hermgenes Rodrigues Guimares); Francisco da Cruz Prates Primo (herana do pai Incio da Cruz Prates); Filipe Rodrigues Ladeia (Curralinho, recebido em causa dotis e heranas de Jos Fialho de Carvalho e Joana Maria de Jesus); Francisco da Rocha Prates (herana do pai Gregrio da Rocha Prates e do sogro Incio da Cruz Prates); Incio da Cruz Prates (herana dos pais Gregrio da Rocha Prates e Felizarda Dorotia Pinheiro); Joaquim Dias de Brito (compra de Justino Urcino da Hora); Maria de Santana (herana do av Gregrio da Rocha Prates); Venceslau Duque da Rocha (herana dos avs Gregrio da Rocha Prates e Felizarda Dorotia Pinheiro). Conceio Stio com meio quarto de lgua de comprimento e igual extenso de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, por 10 tostes anuais, para Simplcio Xavier Dourado, limitando com Varginhas, estrada do Brejo e Carro Quebrado. Avaliado por 26 mil ris, no tombamento fundirio de 1819 e vendido, em 1847, para Plcido Pinto Monteiro, pelo procurador Plcido Fagundes de Souza. Conceio Stio hoje em Igapor, vendido por Domingos Xavier do Rego, em 1828, por trs contos de ris, ao alferes Antnio Jos da Cunha697, em cujo esplio698 se inventariou em 1867, sendo dividido pela viva Ana Anglica Ladeia Lima e Ana Vicncia da Assuno, me do inventariado, com uma casa e benfeitorias, por 362 mil ris; alm de Tabua, com uma casa, curral e manga, 200 mil ris; manga e curral em Purgatrio, 100 mil ris e benefcios da casa do Hospcio, 30 mil ris; 17 escravos, oito contos, 940 mil ris; 180 rezes, dois contos, 850 mil ris; cinco bestas, 500 mil ris; oito cavalos, 410 mil ris; um relgio de ouro, 280 mil ris; um selim para senhora, arriado de prata, 80 mil ris; outro selim, 50 mil ris, duas cangalhas, 20 mil ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, de 1854-1859, contornado pela estrada do Bonito para Conceio, Estiva, Gro-Mogol, Olho dgua do Brejinho, Quixabeira, alto da serra e Riacho Fundo, declararam-se proprietrios em comuns de Conceio: Antnio Jos da Cunha, Clemente Rodrigues da Silva, Emdio Jos da Silva Rego, Incio da Silva Rego, Joo Pereira da Costa, Justiniano Jos de Farias, Ladislau Jos da
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APEB. Judicirio, 02.0589.1041.01. APEB. Judicirio, SRJ/25/03, f. 64. Escritura, 30 ago., 1828.
Cunha e outros. Em 1884 Josefina Amlia Ribeiro de Souza constituiu os procuradores Jos de Magalhes e Silva, Teodoro Embiruu Piaava Rego e Joaquim de Lima Jnior, para assistirem conciliao no juizado de paz, relativamente ao dano feito pelo capito Jlio Bernardo de Brito, alferes Jos Caetano Vilasboas, alferes Joaquim Caetano Vilasboas, tenente Joaquim Fagundes Cotrim e suas mulheres e o alferes Ernesto Adolfo de Brito nas terras em comum das fazendas Bonito e Conceio699. Condeba Fazenda onde se constituiu, em 1745, na confluncia dos rios Condeba e Gavio, uma pequena capela com a denominao de Santo Antnio da Barra do stio de Condeba700, filial da matriz de Nossa Senhora da Conceio do Rio Pardo, no entorno da qual se ergueu o povoado original da cidade desse nome, cujo municpio emancipou-se de Caetit, em 1860. A viva Francisca Csar de Menezes inventariou em 1797, uma posse em Condeba, com pouco mais de uma centena de rezes e trs escravos, no esplio do marido, capito Antnio de Matos Carvalho701, rendeiro da Casa da Ponte. Em 1808 se inventariou novamente essa posse e o remanescente dos bens do casal no esplio da mesma viva702, ainda rendeira da Casa da Ponte. Cipriana Maria da Conceio inventariou uma frao de Condeba, em 1812 com os bens de Joaquim de Matos Carvalho703. No esplio do capito Francisco Xavier da Costa704 inventariaram, em 1855, algumas glebas de Condeba compradas de Jernimo Pereira da Costa, Joaquim Pereira Gonalves, Cipriana Maria, Manoel Pereira de Carvalho, Hilrio Soares, Florinda Matos de Carvalho, Gonalo de Matos, David Lopes de Carvalho, Jos Fernandes Lisboa, Pedro de Matos Carvalho, Jos de Souza Brito e Daniel Augusto Csar, com vrias casas, currais, mangas, engenho e casa de farinha, por um conto 738 mil ris; vrias outras parcelas de terra em Morrinhos (compradas de Silvria Joaquina e Maria Antnia Avelar), Terado, Riacho Seco, Soledade, Deus me Livre (adquirida do padre Jos Ribeiro de Faria), So Jos, Santa Maria, Salgado, Boa Vista, So Domingos e Quatis; com mil e 100 cabeas de gado vacum, no valor de 14 contos e 200 mil ris; 14 bois de carro e um de carga, 300 mil ris; 25 cavalos, 888 mil ris; 17 guas e 10 poldras, 505 mil ris;
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APEB. Judicirio, 02.0871.1340.09. APEB. Judicirio, SRJ/25/34, f. 35 v. Procurao, 23 fev.,1884. 700 TORRES, Tranqilino Leovigildo. Memria descriptiva do municpio de Condeba. Revista do IGHB. Bahia, v. 2, n. 5, p. 244, 1895. 701 APEB. Judicirio, 02.0532.0978.01. 702 APEB. Judicirio, 02.0583.1035.08. 703 APEB. Judicirio, 01.0576.1028.01. 704 APEB. Judicirio, 01.0306.0583.02.
uma mula, 40 mil ris; e 29 burros arriados (uma tropa), dois contos, 465 mil ris; 100 alqueires de arroz em casca, no valor de 200 mil ris; uma roa de mandioca, de dois anos, 60 mil ris; duas roas de mandioca, de trs anos, medindo um alqueire e meio, 80 mil ris; duas roas de mandioca de um ano, 25 mil ris. Nove dos 79 escravos eram vaqueiros, cinco tropeiros, um barqueiro, um carreiro, um de horta, 14 de casa ou de cozinha e 23 de roa. Os bens somaram quase 67 contos de ris. No Registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra declaram ttulos em Condeba: Ana Maria de Jesus (duas lguas de comprimento por duas de largura); Bento Manoel de Almeida (Morrinhos, compra de Joaquim da Costa Teixeira); Francisco Jos dos Santos Barros (Deus me Livre, comprada de Francisco Xavier da Costa, com uma lgua e meia de comprimento e uma lgua de largura em Barrigudas); Heitor Soares de Castro (Morrinhos, herana do sogro Francisco Xavier da Costa); Jernimo Alves Viana (Morrinhos, herana); Jos Carneiro Leo (Morrinhos, compras do padre Antnio Espndola Vieira), Jos Ricardo de Andrade (Morrinho, co-herdeiro de Jernimo Alves Viana); padre Belarmino Silvestre Torres (uma lgua de comprimento e 700 braas de largura e uma gleba em Morrinhos, que comprara); padre Esperidio Gonalves dos Santos (administrador da matriz, meia lgua de terras em quadro, doada pelo padre Manoel Vaz da Costa, seu fundador e instituidor da capela); Severo Incio Pereira (Deus me Livre, com um quarto de lgua de comprimento e meio quarto de largura); Toms Jos da Costa (um quarto de lgua de comprimento e igual medida de largura); Vitorino da Silva Fernandes (Morrinhos, herana da sogra Joaquina Teresa de Jesus); e outros. Contendas ou Barra Fazenda em Umburanas, atual Guirap, distrito de Pindai, comprada de Maria Lizarda, por Manoel Borges de Carvalho e Domingos Alves Aranha. Inventariou-se a metade, em 1806, no esplio de Maria Antnia da Encarnao705, partilhado pelo vivo Manoel Borges de Carvalho e os sete filhos. Em 1823 Manoel Borges de Carvalho, Joo Borges de Carvalho e Matias Soares Barbalho compraram a metade das terras, ainda em comum com os herdeiros de Domingos Alves Aranha, das quais inventariaram uma parcela em 1832, no esplio de Matias Soares Barbalho706. Partilhada com o nome de Barra em 1845, no esplio de Manoel Fialho de Carvalho
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APEB. Judicirio, 02.0583.1035.04. APEB. Judicirio, 02.0577.1029.12. 707 APEB. Judicirio, 02.0576.1028.16.
gua parte num sistema de irrigao por gravidade , por 490 mil ris; vrias pequenas glebas: Tapera, com umas casas e mangas, 200 mil ris; Par, com roas e mangas velhas, 100 mil ris; fraes de Conceio, Gameleira, Guar, Curralinho, So Domingos e Stio (adquiridas de Agostinho Gomes Cardoso, Jos Martins da Costa, Carlos Fialho, um conto e 390 mil ris); 330 cabeas de gado vacum, dois contos e 300 mil ris; 23 bestas arriadas (uma tropa), dois contos e 70 mil ris; 21 bestas bravas, um conto 680 mil ris; 12 guas, 184 mil ris; duas potrinhas e uma burrinha, 26 mil ris; cinco bois mansos, 80 mil ris; 12 jumentos, 720 mil ris. Com o esplio de Clemncia Maria Soares708, dividido pelo pai Domingos Soares dos Santos Barbalho e o vivo Donato Fernandes Baleeiro partilharam, em 1850, uma parcela de Barra ou Contenda, com roas de milho e mandioca, bananeiras, um rancho com portas, um curral e uma casa em Passagem da Raiz, por 742 mil ris; 13 escravos, 40 rezes, quatro guas, dois cavalos, um burro, dois quartis de cana e uma quarta e meia de milho. Inventariou-se em 1852, com os bens de Antnio Ribeiro Guimares709, dividido pela viva Bernardina de Sena Soares e os 14 filhos, outra frao de Contendas, com uma casa, no valor de 68 mil ris; 20 rezes, a 10 mil ris, contando-se as pequenas, duas por uma, 200 mil ris; dois muares de carga, 80 mil ris; um cavalo de campo, 40 mil ris; uma roda de fiar, trs mil ris; oito escravos, jias, mveis, utenslios e instrumentos de trabalho, totalizando mais de trs contos de ris. Nos registros de terras da freguesia do Gentio, de 1855-1858 e 1858-1859, limitando com Umburanas, Retiro, Boqueiro e Santa Rosa, declararam glebas comuns em Barra ou Contendas os: Alves Aranha, Correia da Costa, David de Carvalho, Fernandes Baleeiro, Figueiredo Landim, Gomes de Azevedo, Moreira Rebordes, Pereira da Costa, Ribeiro da Cruz, Ribeiro Guimares, Soares de Oliveira, Soares dos Santos Barbalho, Teixeira de Azevedo. A viva Potenciana Rodrigues de Souza inventariou em 1857, no esplio de Francisco Carvalho de Arajo710, fraes de Contendas, por 300 mil ris; de Retiro, com uma casa, 360 mil ris; stio Carro, demarcado, com rego dgua, 400 mil ris; gleba de Covas de Mandioca, 200 mil ris; e de Feijo Preto, 50 mil ris; 21 escravos, dos quais trs vaqueiros, ocupando-se com 300 rezes, avaliadas por cinco contos e 100 mil ris; trs bois de carga, 84 mil ris; nove cavalos e potros, 490 mil ris; 12 guas, 318 mil
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APEB. Judicirio, 02.0877.1346.03. APEB. Judicirio, 08.3391.04. 710 APEB. Judicirio, 03.1357.1826.06.
ris; um roado medindo um alqueire de milho, 40 mil ris; duas roas de mandioca e de algodo, 100 mil ris; 30 alqueires de farinha, 60 mil ris; 30 alqueires de milho, 90 mil ris; oito alqueires de feijo, 60 mil ris; dois alqueires de mamona, dois mil ris; 14 arrobas de algodo em capulho, 14 mil ris, 10 alqueires de arroz, 40 mil ris; um bolinete de ralar mandioca, 10 mil ris; duas prensas para algodo, 28 mil ris; trs rodas de fiar, seis mil ris; uma engenhoca de moer cana, oito mil ris. Avaliaram o esplio em quase 24 contos de ris. Manoel Antnio Nogueira e oito filhos partilharam, em 1860, uma gleba de Contendas, casa em Mato Grosso e frao de Areias, por 310 mil ris, no esplio de Fortunata Celeste Nogueira711. Integrou tambm o inventrio, avaliado por algo mais de quatro contos de ris, quatro escravos, 33 rezes, 10 eqinos e algumas ferramentas agrcolas. Nesse mesmo ano, a viva Ana Joaquina de Jesus Soares inventariou uma frao dessa fazenda, com os bens de Domingos Soares dos Santos Barbalho712, com uma casa, alguns mveis e benfeitorias, por pouco mais de dois contos de ris; parcelas de Gameleira, um conto, 868 mil 240 ris; Sap, 400 mil ris; Azevedo, 864 ris; Salto, 460 mil ris; Chafariz, 346 mil ris; Cacul, 180 mil ris; Retiro, 100 mil ris; Boa Vista, 80 mil ris; Tabocas, 38 mil ris. Santos Barbalho criava 300 rezes, avaliadas por sete contos e 500 mil ris; seis bois mansos, 210 mil ris; 11 burros, 770 mil ris; cinco jumentos, 250 mil ris; sete jumentas, 295 mil ris; sete cavalos, 315 mil ris; 27 guas, 980 mil ris; 15 poldras, 470 mil ris. A inventariante no declarou produtos das lavouras, mas informou alambique, machados, enxadas, foices, indicadores de atividades agrrias, confirmadas com a propriedade de 52 escravos. Avaliaram o patrimnio por pouco mais de 52 contos, 591 mil ris. Inventariaram glebas de Contendas e Barra em 1866, no esplio do capito Manoel Pereira da Costa713, com umas casas, chcaras, mveis e utenslios, por seis contos de ris; stio Ciut, com uma casa e um curral, 500 mil ris; Lagoa da Pedra, com uma casa, um conto e 100 mil ris; pequenas glebas em Lagoa, 25 mil ris; duas glebas de Caldeires, 115 mil ris; Carabas, 20 mil ris; Umburanas, 58 mil ris; Rio Grande, 200 mil ris; Barrocas, por herana de Joana Alves de Carvalho, 45 mil ris; Arrancador, 60 mil ris; Retiro; comprada de Joaquim Anastcio da Frota, 300 mil ris; Ba,
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APEB. Judicirio, 02.0882.1351.22. APEB. Judicirio, 02.0882.1351.21. 713 APEB. Judicirio, 02.0880.1349.13.
comprada de Maria de Abreu Prates, 200 mil ris; Carnabas de Dentro, comprada de Sabino Pereira da Costa, 30 mil ris; e outra parcela, sem indicao de origem, 100 mil ris; 800 cabeas de gado vacum, 12 contos e 800 mil ris; 20 bois bravos, 400 mil ris; 13 bois mansos, 455 mil ris, dois touros colnia, 70 mil ris; 40 cabras, 40 mil ris; 11 cavalos, 725 mil ris; 12 burros arriados (uma tropa), 960 mil ris; 11 burros, 390 mil ris; dois jumentos, 100 mil ris; 35 guas e poldras, 875 mil ris; trs cargas de algodo em capucho, por 114 mil ris. No esplio de Maria de Abreu Prates714, viva de Agostinho Gomes Cardoso, em 1877, inventariou-se uma parte de Caldeiro com uma casa, benfeitorias e acessrios, por dois contos e 400 mil ris; Lagoa Funda, trs contos; Gameleira de Baixo, com mangas compradas de Incio Ferreira dos Santos, dois contos; Gameleira de Cima, comprada de Francisco Xavier de Oliveira, 300 mil ris; Olho dgua, comprado de Joaquim Miguel da Veiga, um conto de ris; parcelas da fazenda Umburanas, herana da me Natria de Abreu Prates e compra de Teotnio Gomes de Azevedo, dois contos e 92 mil ris; uma gleba da fazenda Stio, em Santo Antnio da Barra, tambm de herana materna, 54 mil ris; os gerais de Boqueiro, 200 mil ris; quatro parte de Tabocas em comum, comprada de Antnio Ribeiro e Crescncio Antunes, 718 mil ris; 46 escravos, dos quais 11 vaqueiros, 19 de lavoura, um carapina, duas rendeiras, duas costureiras e duas cozinheiras; mil e 500 rezes, 22 contos e 500 mil ris; 12 bois mansos, 300 mil ris; 25 cavalos e poldros, 850 mil ris; 21 guas e poldras, 420 mil ris; quatro muares, 225 mil ris; 16 cargas de algodo, no valor de 384 mil ris; somando quase 90 contos de ris. Em 1883, inventariaram a meao de Emiliana Ribeiro da Costa715, viva de Manoel Pereira da Costa, em cujos bens arrolados acrescentaram: uma roa de milho e mandioca, avaliada por 150 mil ris; outra roa, 35 mil ris; 12 ovelhas, 12 reais; 14 porcos, 28 reais. Em 1872, com os bens de Efignio Ribeiro da Costa e sua mulher Martinha Maria da Encarnao716, inventariaram uma parcela de Contendas com uma casa, por 300 mil ris e fraes menores de Retiro, Barreiros, Umburanas e Santa Rosa; cinco escravos que, talvez fossem de aluguel porque, alm de uma vaca parida e um cavalo velho, dispunha de duas foices, uma das quais quebrada, uma enxada velha e trs rodas
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APEB. Judicirio, 03.1189.1658.01. APEB. Judicirio, 02.0879.1348.12. 716 APEB. Judicirio, 02.0873.1342.03.
de fiar. No inventrio de Ana Joaquina de Jesus Soares717, viva de Domingos Soares dos Santos Barbalho partilhou-se, em 1885, uma gleba de Contendas com uma casa de 15 portas, rego dgua e rvores frutferas, valendo por pouco mais de um conto ris; outras parcelas de Contendas, Azevedo, Retiro, Gameleira, Boa Vista, Tabocas, Santa Clara e Chafariz, por um conto, 340 mil ris; quatro escravos idosos e alguns jumentos. Contendas Stio nos atuais limites de Macabas e Boquira, com uma lgua e um quarto de comprimento e uma lgua de largura, arrendado pela Casa da Ponte em 1805, para Lzaro de Macedo, por cinco mil ris anuais, limitando com Incio Gonalves e capito Lus Nunes, no Serrote; e Manoel Jos de Medeiros, no alto da Terra Vermelha. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-no por 160 mil ris e venderam-no, em 1825, para Diogo Pereira Macedo, Jos Rodrigues da Mata, Antnio Nunes de Souza e Pedro Jos Francisco Brando. No registro de terras da freguesia de Macabas, em 1857-1859, os Rodrigues da Mata, Pereira Macedo e Nunes de Souza informaram ttulos. Continente Stio em Riacho de Santana, com uma lgua de comprimento e meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Loureno Ferreira e outros, por trs mil ris anuais, limitando com Alegre, Baixa dos Macacos, Alto das Queimadas, Massarongo e Vargem. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-no por 80 mil ris. Copiar Fazenda nos atuais limites de Igapor e Matina, adquirida da Casa da Ponte, na transio para o sculo XIX, por Antnio Rodrigues da Silva. No registro de terras da freguesia de Caetit de 1854-1859, apenas Bernardo de Brito Gondim declarou-se proprietrio, extremando com Tamandu, Gro-Mogol, Esprito Santo, Vargens e Lagoa Funda. Correias Fazenda hoje em Brumado, da qual inventariaram, em 1849, no esplio de Constantino Jos dos Santos718, uma parte com uma casa, por 80 mil ris; cinco rezes, 42 mil ris; e dois cavalos, 52 mil ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, em 1854-1859, com duas lguas de comprimento e uma e meia de largura, extremando com o rio Brumado, Olhos dgua, Jacar e Curralinho, declararam-se proprietrios em comum: Clemente Jos dos Santos Coqueiro (Riacho) Joaquim Incio de Souza, Leandro Soares de Souza (Riacho), Manoel da Cunha Ramaldes e Severina de Jesus.
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Covas de Mandioca Fazenda hoje em Urandi, da qual Joo Gonalves de Carvalho inventariou uma parcela em 1862, no esplio da mulher Maria Joaquina de Jesus719, no valor de 100 mil ris; e uma gleba de Jacar, com uma casa, 120 mil ris. Alm de trs escravos, o casal s dispunha de dois cavalos, pobres mveis e utenslios. Em 1871 Teodoro Carvalho de Arajo e os oito filhos partilharam, no esplio de Joana Nunes de Cerqueira,720 outra parcela de Cova de Mandioca, com uma casa, por 450 reais; uma gleba de Mata Veado, 80 mil ris; cinco escravos, cinco rezes, um boi manso, uma gua parida e dois cavalos. Cruz Stio hoje em Oliveira dos Brejinhos, com meia lgua de comprimento e igual extenso de largura, arrendado pela Casa da Ponte, para o capito Jernimo de S Barbosa Quinteiro, em 1802, por dois mil ris anuais, limitando com Capada de Cima, serra do Saco dos Bois, Chapada de Baixo, Riacho Frio, Brejinho, Cariru, serra da Cabea dAnta, lagoa das Carnabas e fazenda Paramirim. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-no por 120 mil ris e venderam-no depois para Joaquim Francisco Quinteiro. Cuit Stio com uma lgua de comprimento e trs de largura, nos atuais limites de Boquira e Oliveira dos Brejinhos, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Francisco Gomes de Amorim, por dois mil ris anuais e, de presente, alugado para Joaquim Incio de Amorim. Estremava-se com Engenho Velho, de Incia de Souza Brito; So Bartolomeu e Juazeiro, de Jos Ferreira Gomes; e Chuveiro, de Teodoro Pereira da Costa. No tombamento fundirio de 1819, avaliaram-no por 220 mil ris. O procurador Manoel Moreira da Trindade vendeu Cuit, em 1820, por 300 mil ris, em trs pagamentos anuais, para Antnio Rodrigues da Trindade, que pagava rendas por trespasso e cesso que lhe fez da posse que tinha o rendeiro Francisco Gomes de Amorim721. Inventariouse Cuit em 1844, nos esplios de Joana de So Joo Castro e de Jos Antnio da Silva Castro, ao casal hipotecado por dois contos e 600 mil ris. No registro de terras da freguesia de Macabas, em 1857-1859, alguns proprietrios como Antnio Miguel da Silva, informaram ttulos. Curral Velho Stio no atual municpio de Macabas, com uma lgua de comprimento e meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Francisco Feliciano da Costa, por dois mil ris anuais, limitando com Boa Vista, de Antnio Gomes de Souza;
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APEB. Judicirio, 02.0896.1365.15. APEB. Judicirio, 03.1314.1783.06. 721 APEB. Judicirio, SRJ/25/2, f. 124. Escritura, 4 de out., 1820.
Joaquim de Oliveira, nas cabeceiras da Piedade; Curralinho, de Jacinto Pereira; e Santa Rosa, de Francisco Incio Gonalves. Avaliaram-no, em 1819, por 100 mil ris, embora j fosse vendido desde 1813, ao mesmo rendeiro Francisco Feliciano da Costa. Curralinho Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, hoje na jurisdio de Bom Jesus da Lapa, citada em 1731-1734 por Quaresma Delgado. Inventariada em 1832 no esplio do conde da Ponte, ficando na meao da viva, com 2.105 cabeas de gado vacum, por 12 contos, 630 mil ris; 63 escravos machos e fmeas de todas as idades, 12 contos e 600 mil ris; 44 cavalos do servio da fazenda, 704 mil ris; uma casa de telhas, 70 mil ris. Ao de insetos impediu o conhecimento dos valores das terras, benfeitorias e do total.722 No registro de terras da freguesia de Monte Alto, em 1855-1860, limitado-se com Urtigas, Lajes, Campinas, gua Verde, Pau de Espinho, Gameleira, Jurema e Campos, declararam ttulos: Custdio Pereira Pinto, Gaspariano Moreira Castro, Joo Caetano da Silva Pereira (Campos), Jos Ribeiro de Magalhes, Manoel Joaquim Pereira de Castro e Porfrio Teodoro de Souza (herana do sogro Joaquim Pereira de Castro). No esplio de Deocleciano Pires Teixeira723, inventariaram em 1931, quatro partes de Curralinho, uma comprada, em 1912, de Francisco Joaquim Bastos e sua mulher Ansia Teixeira Bastos, uma de herana da sogra, Crdula Honorina de Castro Teixeira, outra da sua primeira mulher, Mariana Spnola Teixeira que recebera, tambm de herana, do pai Antnio de Souza Spnola, em 1873; outra de herana da sua terceira mulher, Ana Spnola Teixeira, que tambm herdara do pai, o mesmo coronel; e duas partes compradas em 1900, das cunhadas Constana e Priscila de Souza Spnola, que herdaram do pai, todas avaliadas por 16 contos de ris. Tambm inventariaram duas parcelas de Urtigas, obtida por meao no inventrio da sua segunda mulher, Maria Rita Spnola Teixeira e que incorporara ao seu patrimnio no terceiro casamento, 400 mil ris. Fazenda Rio das Rs, comprada, em 1900, das cunhadas Constana, Priscila e Ana de Souza Spnola, casa, mangas e quatro currais de estacas de aroeira a pique, dois em Bom Retiro e dois em Mocambo, no valor de 55 contos e 550 mil ris. Trs partes da fazenda Parateca, recebida por meao, no inventrio da segunda mulher Maria Rita Spnola Teixeira, herana da cunhada Priscila, em 1911 e que lhe passou a pertencer a partir do seu terceiro casamento, avaliadas por 400
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mil ris. 432 hectares margem do rio Pardo, foz do ribeiro da gua Preta, avaliadas por cinco contos de ris. Inventariaram ainda dinheiro e jias, no valor de dois contos 860 mil ris; aplices federais, estaduais e municipais, 354 contos 625 mil ris; aes do Banco da Bahia, da Companhia de fora e luz de Caetit e da Empresa Industrial Sertaneja, nove contos e duzentos mil ris; mveis, quatro contos; gados, 113 contos; imveis, 137 contos e crditos, 141 contos; somando mais de 810 contos de ris. Duas Barras Fazenda entre Passagem da Raiz, Santa Cruz, Retiro e Guaribas, declarada no registro de terras da freguesia do Gentio, de 1855-1858, por Gregria Maria de Jesus e Joaquim Maurcio da Rocha. Em Duas Barras desenvolveu-se a povoao de mesmo nome, origem da cidade de Urandi. Engenho Velho Stio hoje em Boquira, com meia lgua de comprimento e trs de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Incia de Souza Brito, por dois mil ris, anuais e, de presente arrendado a dona Matilde de Brito Leal e outros, limitando com Brejo Novo do capito Pedro da Silva; Cuit, de Francisco Gomes; e Juazeiro, do capito Jos Ferreira Gomes, sendo avaliado em 1819 por 180 mil ris e vendido para Maria Feio de Souza e outros, em 1832. No registro de terras da freguesia de Macabas, em 1857-1859, vrios titulares informaram suas parcelas, como Filipa Ferreira dos Santos, que comprara da Casa da Ponte. Escadinha Fazenda declarada no registro de terras da freguesia de Caetit, em 18541959, pelos: Brito Gondim, Silva Cotrim, Xavier Cotrim e Gonalves da Cruz. Joo Antero Ladeia Lima adquiriu vrias fraes: uma de Ccero Quirino da Silva e sua mulher Maria Francisca Gomes da Silva, em 1865, em comum com o irmo e cunhado Csar Quirino da Silva, por 300 mil ris724; outra gleba, no mesmo ano, tambm em comum com Ccero Quirino da Silva, por 400 mil ris725; outra em 1868, por 250 mil ris, que Pedro Xavier Cotrim da Silva herdara do pai Joo Xavier de Carvalho Cotrim726; outras em 1874, por um conto de ris, de Ana Francisca de Brito Gondim, Joana Xavier Cotrim, Paulo Ambrsio Xavier Cotrim e Ana Xavier Cotrim727. Estiva Stio hoje em Oliveira dos Brejinhos, entre So Bartolomeu e Cuit, com um quarto de lgua de cumprimento e outro de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em
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APEB. Judicirio, SRJ/25/22, f. 61 v. Escritura pblica, 11 ago., 1865. APEB. Judicirio, SRJ/25/25, f. 78. Escritura pblica, 23 out., 1865. 726 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 76. Escritura pblica, 19 nov., 1868.
1805, para Jos Leandro, por 500 ris anuais, avaliado em 1819 por 30 mil ris e vendido, em 1825, para Francisco de Santana. Faca Fazenda hoje em Ibiassuc, da qual inventariaram metade das terras, com umas casas e benfeitorias, em 1835, no esplio de Timtea Gomes Ferreira de Azevedo728 que, no deixando filho, transferiu-se para o vivo Joo Mendes Bela Guarda e o herdeiro nomeado, Lcio Mendes da Luz, com trs escravos, 18 rezes, cinco bois de carro, ferramentas agrcolas, mveis e utenslios. No registro de terras da freguesia do Gentio, de 1858-1859, informaram heranas e compras comuns: Ana Maria Pedroso, Antnio Pinheiro de Azevedo, Felipe Nery de Santana, Manoel Teodoro Nery, Joo Pereira da Costa e Joaquim de Magalhes. Em 1860 foi objeto de ao cvel de diviso e demarcao, movida por Antnio Pinheiro de Azevedo e sua primeira mulher Francelina Maria da Graa, contra Filipe Nery da Santa Ana, Manoel Teodoro Nery e Ana Maria Mendes. Inventariaram uma frao extremada de Faca em 1876, no esplio de Antnio Pinheiro de Azevedo729, partilhado pela viva Umbelina de Santana Frota e os cinco filho dos dois casamentos do inventariado, com uma casa, engenho, currais, moinho, peroba, chcara e outros acessrios, por cinco contos, 887 mil ris; Mulungu, da fazenda Jacar, com uma casa, currais e mangas, 200 mil ris; Aras, da fazenda Rio do Antnio, em comum, com uma casa e benfeitorias, 300 mil ris; meia lgua extremada da fazenda Escuro, em Januria MG, 550 mil ris; uma frao em comum da fazenda Tabua, um conto e 800 mil ris. Fazenda Grande Propriedade agrria no serto do rio Pardo, inventariada em 1832, com os bens do conde da Ponte, quando avaliaram as terras e benfeitorias por 800 mil ris; 796 cabeas de gado vacum, quatro contos, 776 mil ris; 31 escravos, seis contos e 200 mil ris; cinco cavalos, 80 mil ris; uma casa de telhas, outra de palhas e currais, 50 mil ris; selas, ferramentas e acessrios, 40 mil ris; totalizando onze contos, 946 mil ris. Fazendinha Stio hoje em Boquira, que media trs quartos de lgua de comprimento e meia lgua de largura, quando a Casa da Ponte o arrendou em 1807, para Pedro da Silva, por dois mil ris anuais e, de presente, para Francisco Teixeira de Magalhes, limitando com a serra Geral, Piedade, de Lus Teixeira, Canas e Vaca Morta. Avaliaram-
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APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 214 v. Escritura pblica, 9 jan., 1874. APEB. Judicirio, 02.0564.1016.12. 729 APEB. Judicirio, 02.0883.1352.14.
no, em 1819, por 80 mil ris e venderam-no em 1826, para Francisco de S Teles. A mesma casa arrendou o stio Saco, desmembrado de Fazendinha, por 500 ris, em 1816, para Manoel Jos da Silva, limitando com Francisco Teixeira e serra do Engenho Velho, medindo um quarto de lgua de comprimento e metade de meio quarto, de largura, avaliado em 1819 por 30 mil ris e vendido, em 1826, para Francisco de S Teles. Fundio Fazenda declarada no registro de terras da freguesia do Gentio, de 18551858 por: Antnio David de Souza (em Abelhas, um quarto de lgua de comprimento e igual extenso de largura, herana e compras de Antnio Pinheiro Pinto, Juvncio Fernandes Baleeiro, Sabino David de Souza, Ildefonso David de Souza); Joaquim de Santana Pereira (Abelhas, que comprara de Joo Jos David); Jos Joaquim de Santana (Abelha, compra de Raimundo Gomes Pereira e sua mulher Miquelina Maria de Jesus); Jos de tal e sua mulher Anglica Maria de Jesus (Barrigudas); Maria Joaquina do Sacramento (Coqueiro, com um quarto de lgua de comprimento e meio quarto de largura). Furados Fazenda hoje em Licnio de Almeida, na qual se desenvolveu o povoado de mesmo nome, atual distrito de Tauape, da qual inventariaram uma gleba em 1880, no esplio de Manoel Rodrigues de Oliveira Ypa730, por 10 mil ris; casas, mangas e sete escravos de diferentes valores; uma roa de mandioca de meio alqueire, por 200 mil ris; 100 rezes, um conto e 600 mil ris; 17 burros arreados (uma tropa), um conto e 300 mil ris; 20 guas, das quais, trs paridas, 475 mil ris; um jumento pastor, 100 mil ris; vrios burros e poldros de asno, de diferentes valores; totalizando pouco mais de 20 contos de ris. Delfino Jos do Nascimento, que herdara da sogra Francisca Cardoso e comprara de Francisco Rodrigues uma rea entre as fazendas Azevedo, de Baixo, Gado Bravo, Chafariz e Salto, declarou Furados no registro de terras da freguesia do Gentio. Gado Bravo Stio hoje em Macabas, limites de Tanque Novo, com meia lgua de comprimento e igual distncia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1804, por 10 tostes, para Jos da Rocha, limitando com o rio Santo Onofre, Mocambo, Barra do Cambait e extremas de Jos Pereira Marinho. Avaliado no tombamento fundirio de 1819, por 60 mil ris e depois vendido para Vitorino Xavier do Rego. Gado Bravo (Gado Bravo da Aplicao ou Aplicao das Almas) Fazenda na capela de Nossa Senhora da Boa Viagem e Almas, da qual Isidoro Pinheiro Pinto inventariou,
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em 1811, o stio Covo, com duas lguas de comprimento e meia de largura, por 200 mil ris; quatro escravos, 40 rezes e um cavalo, no esplio da mulher Bernarda Josefa Fernandes731. Em 1816, inventariaram outra parte no esplio de Joo Pinheiro Pinto732, com uma lgua de comprimento e duas e meia de largura, entre o rio das Palmeiras, serra Geral, fazenda Salto e morro da Faca, com 15 escravos, um dos quais, vaqueiro, 160 rezes, um bolinete, uma prensa e forno de fazer farinha, em casa coberta de palhas. Declararam Gado Bravo no registro de terras da freguesia do Gentio, em 1855-1858: Francisco da Cruz Prates (herana do pai Incio da Cruz Prates); Francisco da Rocha Prates (herana do sogro Incio da Cruz Prates e compra de Francisco Antnio Magalhes); Lucas Pinheiro Pinto (um quarto de meia lgua de frente e meia lgua de fundo); e Manoel Monteiro da Silva (meio quarto de lgua, comprado de Fernando Barbosa de Souza). Gameleira Fazenda s margens do rio Carnaba de Fora, que no incio do sculo XVIII pertenceu a Nicolau de Souza Costa. Vendida pelo capito Jos Xavier de Carvalho Cotrim e sua mulher Clara Gonalves de Gouveia em 1808, por 200 mil ris, ao capito Jos da Mota Pinheiro733. Inventariada, em 1844, por quatro contos e 400 mil ris, nos esplios de Joana de So Castro e Jos Antnio da Silva Castro (ver Carnabas de Fora). No registro de terras da freguesia do Gentio, limitando com Santa Rosa, Retiro, So Domingos e Tabocas, Domingos Soares dos Santos Barbalho e Jos Ribeiro da Cruz declararam propriedades indivisas. Gameleira Fazenda hoje em Igapor, vendida pela condessa da Ponte, em 1813, por 150 mil ris, em quatro pagamentos anuais, para Bernardo Teixeira Coelho. Limitava-se com Santana, de Lino Maciel da Fonseca; Passagem do Espinheiro de Baixo; Zacarias Pereira, Manoel Jos de Faria; Canabrava, nas Duas Lagoas; altos da Tabuinha; Vargens, de Jos Manoel da Silva; serra do Copiar; Antnio Rodrigues da Silva; Passagem do Lajedo; e Santo Antnio, de Maria Alves Ferreira734, Bernardo Teixeira Coelho e sua mulher Hilria Maria do Paraso venderam-na para Vicente Pinheiro de Azevedo. Lino Manoel da Fonseca adquiriu uma de Jos Joaquim de Barros e sua mulher Margarida
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APEB. Judicirio, 02.0563.1015.08. APEB. Judicirio, 02.0588.1040.06. 733 APEB. Judicirio, 02.0563.1015.07. Cpia da Escritura, 15 jul., 1808. 734 APEB. Judicirio, 02.0362.01, f. 123. Aes de Embargo de Bernardo de Brito Gondim contra os limites da sua Fazenda Santo Antnio e Caldeiro de Vicente Pinheiro. Juzo Municipal de Caetit, 1845. Traslado da escritura, 29 mar., 1813.
Sofia dos Santos, inventariada com seus bens, em 1845735, transferidos para Florinda Rosa de Santana. No registro de terras da freguesia Caetit, em 1854-1859, declararam-se proprietrios em comum: Ana Maria de Souza, Antnio Rodrigues da Paixo, Domingos de Souza e Silva, Filinto Joaquim de Azevedo, Filipe Rodrigues da Paixo, Joana Anglica de Azevedo, Joaquim Antnio da Fonseca, Mergelina Anglica de Azevedo, Policarpo Antnio da Fonseca, Stiro Jos Fernandes e Tiburtino Joaquim de Azevedo. Titular da maior parcela, o tenente Vicente Pinheiro de Azevedo, no informou sua propriedade. A maioria dos declarantes herdou parcelas de Lagoa Funda, Tamandu e adjacncias, ainda integrando a fazenda Gameleira. Vicente Pinheiro de Azevedo inventariou, em 1882, metade das terras de Gameleira no esplio da mulher Francisca Anglica de Brito Gondim736, com a casa de morada, oficina de farinha, instrumentos de lavoura e mobilirio, por um conto e 300 mil ris; uma parte de Lagoa Funda, dois contos de ris; Boa Sorte, 500 mil ris; Poo dAnta, 562 mil ris; Santana, 800 mil ris; e duas partes de Caldeiro, 520 mil ris. O vivo Vicente Pinheiro de Azevedo partilhou ainda com os 10 filhos ou herdeiros destes, 10 escravos, avaliados por quatro contos, 56 mil ris; 38 cabeas de gado, 608 mil ris; 12 vacas paridas, 240 mil ris; e um crdito 60 mil ris, de duas cargas de algodo, com o filho Jos Pinheiro de Azevedo. Pacfico Jos da Neves arrolou, em 1884, no esplio de mulher Ursulina Anglica de Azevedo737 as terras de Boa Sorte, extremadas, com uma casa, por 600 mil ris e pequenas glebas de Lagoa Funda, Caldeiro, Poo dAntas e Santana, somando pouco mais de 161 mil ris; 16 rezes, um burro e uma gua, totalizando por pouco mais de um conto, 97 mil ris, que partilhou com os filhos Ana Maria, Amrico, Antnio, Baslio e Amlia. Os irmos e sobrinhos de Ernesto Pinheiro de Azevedo venderam, em 1897, o Z Lopes e a Lagoa Nova para Ludgero Azevedo Neves, em pagamento de dvidas deixadas por ele.738 No ano seguinte, Antnio Pinheiro de Azevedo Brito vendeu, por 200 mil ris, a meao que lhe coube depois da morte da mulher Jesuna Fagundes Cotrim e a herana do pai Vicente Pinheiro de Azevedo, para Gustavo Pinheiro de Azevedo739. Nesse mesmo ano, Joaquim Antnio Fagundes Cotrim, Antnio Joaquim Fagundes Co735 736
APEB. Judicirio, 02.0562.1013.11. APEB. Judicirio, 03.1196.1665.14. 737 APEB. Judicirio, 03.1191.1660.15. 738 APEB. Judicirio, 02.0597.1051.21, f. 25. Escritura particular, 8 dez., 1897. 739 Idem, ibidem. Escritura particular, 3 mar., 1898.
trim e sua mulher Amlia Fagundes de Azevedo, Antnio Joaquim Fagundes de Azevedo e sua mulher Rita Antnia Fagundes, venderam, por 35 mil, 142 ris, a parcela que herdaram da me e sogra, Jesuna Fagundes Cotrim, para Gustavo Pinheiro de Azevedo Cotrim740. Pacfico Jos das Neves e sua segunda mulher, Josefina Maria de Jesus doaram, em 1904, um quinto de uma gleba de Gameleira, que compraram por 500 mil ris, ao filho e enteado Baslio Jos das Neves, limitando com Antnio Boa Sorte, Riachinho, rio do Mato Verde, extrema de Canabrava e Martiniano Alves Boa Sorte741. Librio Rodrigues da Silva e sua mulher Filomena Bacelar da Silva venderam uma frao de Gameleira, por 180 mil ris, em 1905, uma gleba comprada de Alfredo Antnio Pinheiro de Azevedo e Ricardo Rodrigues, para o capito Timteo Jos de Souza742. Nesse mesmo ano, Jos Aristides Marques e sua mulher Antnia Silva Marques venderam, por 100 mil ris, uma parte que fora de Rita Fagundes Canguu, viva de Csar Fagundes de Azevedo, arrematada em hasta pblica, por 10 mil ris, da qual destacaram o lugar denominado Jurema, para o capito Timteo Jos de Souza743. Em 1915 arrolaram uma casa com quintal, em Boa Sorte, no esplio de Pacfico Jos das Neves e dois anos depois, Ludgria Francisca de Azevedo vendeu sua parte, juntamente com outras de Lagoa Funda e Arroz (Poo Dantas), por 100 mil ris, para o sobrinho Lugrio Azevedo Neves744. Policarpo Alves Pereira inventariou, em 1919, a meao do av de sua mulher, Vicente Pinheiro de Azevedo, que falecera em maro de 1886, cujos bens remanescentes dividiram pelos 16 filhos ou herdeiros destes, muitos dos quais dispersos por lugares ignorados. Gameleira Fazenda na extinta freguesia de Morro do Fogo, entre Canabravinha, Botim, Angical, Alecrins e Vrzea Redonda, que no registro paroquial de terras, declararam-se proprietrios: Pacfico Jos das Neves; Manoel Domingues Neves; Manoel Jos das Neves (compra de Paulo Guerreiro de Castro); Ana Maria do Sacramento (herana dos pais Gonalo Pereira Dourado e Eugnia Maria da Encarnao); padre Jos Timteo da Silva (compra de Venncio Rodrigues da Silva); Demtrio Ferreira da Silva (compra de Antnio Francisco das Neves e Lizarda Maria de Carvalho); e Bento Jos de Souza Camelo (compra de Paula Quirina de Castro).
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Idem, ibidem. Escritura particular, 5 mar., 1898. APEB. Cvel, E-92; C-15; D-3 (Cdigo provisrio). Demarcao Judiciria de Boa Sorte, de Amrico Reis Neves e Ursulina Rita das Neves, contra os limites de Canabrava, de Agnelo Antnio das Neves e sua mulher Maria Pereira Lessa. Escritura particular de doao, 3 set., 1904. 742 Idem, ibidem, f. 42. Escritura particular, 5 mai., 1905. 743 Idem, ibidem, f. 43A. Escritura particular, 26 mai., 1905.
Gameleira Fazenda onde se desenvolveu o povoado de mesmo nome, origem da cidade de Pinda, da qual Maximiliano Gomes de Azevedo inventariou, em 1846, duas parcelas no esplio de sua mulher Carolina Maria de Jesus745, por 650 mil ris com quatro escravos, 21 rezes, e dois cavalos. Outra parcela de Gameleira, comprada de Ana Clara Xavier com moinho, casa de farinha e bolinete, alambique e engenho, integrou o esplio do padre Sabino Gomes de Azevedo746, em 1846, no valor de trs contos e 100 mil ris, inclusive o stio Magro, comprado de Raimundo Jos da Silva; meia lgua da fazenda Mandacaru, na Lagoa do Jatob, 450 mil ris; meia lgua de Samambaia, na mesma fazenda Mandacaru, 250 mil ris; uma gleba em Santa Rosa, comprada de Ana Rosa, 20 mil ris; e Rio Grande, adquirida de Caetano Jos da Costa, 100 mil ris. O padre Sabino possua ainda 19 escravos, 100 rezes, sete mulas, cinco cavalos, 12 bois mansos e trs cargas de algodo em capuchos, jias e utenslios de ouro e prata, alm de 10 couros de boi. No registro paroquial de terras do Gentio, declararam-se proprietrios Amncio Gomes Cardoso (compra de Antnio Fernandes Baleeiro) e Maria de Abreu Prates (compra de Vtor Modesto de Souza). Em 1862 inventariaram uma parcela de Gameleira com os bens de Emerenciana Maria de Azevedo747, inclusive casa, engenho, moinho e chcara, por seis contos de ris e uma frao da fazenda Tabua, por 200 mil ris; 15 escravos, alguns idosos, sendo mais velho o decrepto Francisco, cabra de 90 anos; um cavalo velho, um boi de carro outro de cangalha, um alambique velho, ferramenta e utenslios, totalizando mais de 16 contos de ris. Em 1871, Bernardo de Brito Gondim vendeu, por nove contos e 50 mil ris, para Manoel Lus Teixeira, as terras que herdara da sogra Emerenciana Maria de Azevedo748. Em 1875, inventariaram outra parcela com os bens de Maria Joana de Santana749, com uma casa e chcara, por um conto e 100 mil ris; uma gleba em Mundo, 20 mil ris; 24 rezes, 336 mil ris; dois cavalos sendeiros, 50 mil ris; trs bois de carro, 75 mil ris; colheres e garfos de prata, tachos de cobre, bacia de cobre, brao de balana, alambique com capacete e outros apetrechos domsticos, agrcolas e de montaria.
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Idem, ibidem, f. 25. Escritura particular, 28 jun., 1917. APEB. Judicirio, 03.1334.1703.09. 746 APEB. Judicirio, 03.1210.1679.11. 747 APEB. Judicirio, 02.0867.1336.20. 748 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 145 v. Escritura de pblica, 24 fev., 1871. 749 APEB. Judicirio, 02.0868.1337.19.
Gameleira Stio no atual municpio de Urandi, entre Rita Nunes de Siqueira, a serra, o rio e Tereza Maria de Jesus, medindo um quarto de lgua de comprimento e menos de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Manoel Joo Correia por 10 tostes anuais e avaliado por 36 mil ris, em 1819, quando se fez novo arrendamento. Gameleira (ou Gameleira dos Frota) Terreno com um quarto de lgua e alguns algodoeiros, inventariado, em 1818, no esplio de Maria Josefa de Almeida750. A viva Maria de Jesus Frota inventariou em 1855, no esplio de Mariano da Frota Duque751, uma gleba, por 200 mil ris, com 30 rezes avaliadas por 350 mil ris; uma junta de bois, 40 mil ris; 27 guas e poldras, 478 mil ris; quatro potros, 95 mil ris; um burrinho, 30 mil ris; um cavalo sendeiro, 20 mil ris; e dois escravos. Declarou tambm algumas jias, tachos de cobre, catres, selim, caixas encouradas e uma espingarda Lazarina. No registro de terras da freguesia de Caetit, declararam ttulos: Ana Joaquina da Encarnao (herana); Filipe Dias de Magalhes (compra); Francisco Fernandes Pereira (compra); Joaquim de Souza Silva (compra); Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso (duas partes por compra); e outros da famlia Frota. Em 1866 se inventariou uma gleba, no esplio de Herculana da Cunha Frota;752 em 1879, metade das terras e mais cinco partes, uma casa velha, chcara, rego dgua e mveis, por dois contos, 450 mil-ris, no esplio de Rita Joana da Conceio753. Garapa Fazenda nos atuais limites de Paratinga e Macabas, com uma lgua e um quarto de comprimento e duas lguas e um quarto de largura, arrendada pela Casa da Ponte em 1807, para Jos Joaquim de Santana e Loureno Ribeiro Campos, por cinco mil ris anuais, limitando com Lajes do Saco dos Bois, Poo, Colono, morro do Gato, Bom Sucesso, Santo Onofre, e terras da Casa da Ponte. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-na por 240 mil ris e venderam-na, em 1812, para Gregrio da Silva Monteiro. Gavio Fazenda s margens do rio de mesmo nome, que no sculo XVIII pertenceu ao padre Manoel Vaz da Costa, sendo transferida aos testamenteiros e herdeiros Modesto Vaz da Costa e sua mulher Guardiania Pereira de Jesus, que a venderam, com Santa Cruz da Canabrava, em 1799, por 750 mil ris, com 100 cabeas de gado de toda Sor-
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APEB. Judicirio, 02.0589.1041.04. APEB. Judicirio, 02.0880.1349.16. 752 APEB. Judicirio, 02.0880.1349.04. 753 APEB. Judicirio, 03.1208.1677.19.
te, para Estevo Incio da Costa754. No registro paroquial de terras de Santo Antnio da Barra declararam propriedades: Antnio Dias Gonalves (trs partes, compradas de Joaquim da Costa), Francisco Dias da Rocha (pouco mais ou menos 260 braas, partilhadas, compradas de Justiniano Gonalves Quaresma e outros herdeiros); Joo Antnio Pereira (72 braas de comprimento e trs quartos de lgua de largura em comum, compra de Hermenegildo Gonalves Quaresma); Joo Francisco Dias (337 braas compradas de herdeiros); Jos Cndido Pereira (em comum, compra de Joo Antnio Pereira); Jos Joaquim Ferreira (herana e compra); Leandro Dias do Vale (130 braas, partilhadas, compra de Francisco Dias da Rocha); Lino Jos da Silva (uma lgua de comprimento e outra de largura, compra em comum); Manoel Cordeiro da Silva (compras de diversos possuidores); e Manoel Vitorino do Vale (meia lgua de comprimento que comprara). Gentio Stio no atual municpio de Guanambi, no qual se desenvolveu a povoao do mesmo nome, submersa pela lmina dgua da barragem de Cerama, na dcada de 1950,755 inventariado em 1786, no esplio de Leonor Maria do Sacramento756, pelo vivo Francisco Martins de Abreu, com muitas roas de algodo e mandioca bastantemente grandes, duas casas cobertas com telhas, algumas com cascas de rvores, paiis e senzalas, tambm com a mesma cobertura, descaroadores e prensas de algodo, por trs contos e 200 mil ris; seis alqueires de algodo por trs mil ris; 50 varas de algodo, seis mil ris; uma roa de mandioca, em terra de meia, 288 mil ris; 12 arrobas de fumo, 12 mil ris; 12 cabras e ovelhas, mil 920 ris, seis cavalos, 48 mil ris; uma casa coberta de telhas e uma roda de ralar mandioca, no valor de 40 mil ris, no stio Boa Vista, da fazenda Brejo Grande; a fazenda Lagoa, de plantar e criar, entre os rios So Francisco e Verde Grande, onde possua 300 rezes no valor de 900 mil ris; 70 guas, 300 mil ris; 800 arrobas de algodo, em caroo, avaliadas por 512 mil ris, na fazenda Barro Vermelho. No se avaliaram as terras, por serem arrendadas de Joana da Silva Guedes de Brito e seu consorte Manoel de Saldanha da Gama, embora o vivo inventariante no declarasse. Os imvel declarados limitaram-se casa onde residia no arrayal de Caeta-
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AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 2, f. 207. Cpia de escritura particular, 9 jul. 1799. TEIXEIRA, Domingos A. Respingos Histricos. Salvador: Arembepe, 1991, p. 119-139; COTRIM, Drio Teixeira. Breves notas sobre a origem do municpio de Guanambi. Belo Horizonte: Plurats, 2001, p. 93. 756 APEB. Judicirio, 02.0574.1026.07.
t, avaliada por 40 mil ris e as edificaes das fazendas das quais pagava rendas. Possua 66 escravos e ainda empregava a mo-de-obra livre na meao, como declarou. Gerais do Pedreiro Fazenda hoje em Macabas, arrendada pela Casa da Ponte ao padre Joo Teixeira Leite, no sculo XVIII e vendida, antes de 1819, para o capito Manoel Moreira da Trindade, sendo inventariada em 1844, nos esplios da sua viva Joana de So Joo Castro e do segundo consorte dela, o tenente-coronel Jos Antnio da Silva Castro. Gro-Mogol Sorte de terras nos atuais limites de Igapor e Matina, que se expandia por Esprito Santo, Copiar, Lagoa do Tamboril, Conceio e So Vicente, inventariada pela viva Caetana Josefa do Sacramento, em 1824, no esplio de Luiz Ribeiro de Magalhes e Silva757, por 530 mil ris com uma casa de madeira, coberta com casca de rvores, com trs portas e quatro janelas, 30 mil ris; e uma casa na vila de Caetit, 550 mil ris; 83 cargas de algodo em l, embruacadas, no valor de 870 mil ris; mil 920 arrobas de algodo em caroo, 576 mil ris; uma roa de algodo, 150 mil ris; 222 rezes, um conto, 110 mil ris; 55 escravos, muitas jias e utenslio de ouro e prata, roupas de seda, camas de vento, vrios mveis, muitas ferramentas agrcolas, quatro rodas de fiar, uma prensa de parafuso, 359 varas de algodo, arreios e equipamentos de montaria; alm de uma prestao de contas de Bernardo Jos Ramos, da cidade da Bahia (Salvador), com despesas de manuteno de tropas, de escravos, de fretes e resultados da comercializao de sucessivos carregamentos de algodo, feijo, sal, farinha, avultando a vrios contos de ris; um rol de credores de emprstimos a juros. Em 1826 os filhos Jos, Antnio, Joaquim, Nicolau e Jesuna, todos Ribeiro de Magalhes e Silva dividiram a meao de Caetana Josefa do Sacramento758. Hospcio Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, citada no roteiro de Joaquim Quaresma Delgado e, em 1758, na planta corogrfica da estrada de Monte Alto ao porto de So Flix. Pedro Caetano Vilasboas e sua mulher Melnia Severina Rio de Contas venderam uma gleba que compraram do padre Sabino Gomes de Azevedo e Maria Feliciana de Brito Gondim, com outra, da fazenda Brejo dos Padres, em 1842, por 640 mil ris, para Manoel Rodrigues Ladeia759.
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APEB. Judicirio, 02.0570.1222.11. APEB. Judicirio, 02.0581.1033.06. 759 APEB. Judicirio, SRJ/25/9, f. 121 v. Escritura pblica, 16 ago., 1842.
No registro de terras da freguesia de Caetit, declararam propriedades em comum os Alves de Castro, Alves de Matos, Belchior Guedes, Brito Gondim, da Luz Lisboa, Gomes de Arajo, Pereira da Costa, Rodrigues Ladeia, Teixeira de Azevedo. O tenente-coronel Manoel Rodrigues Ladeia e sua mulher Maria Justina Rodrigues Ladeia transferiram suas terras, inclusive parte de Hospcio e alguns escravos, pelo que deviam por hipoteca, no valor de 36 contos e 500 mil ris, para o tenente-coronel Joo Antero Ladeia Lima.760 Joaquim Belchior Guedes e sua mulher Modesta Bencia Guedes venderam Stio de Cima, em 1858, por um conto de ris, para Joo Severino da Luz Lisboa761, que transferiu para Jos Bonifcio Guedes e sua mulher Maria Luciana Guedes, de quem herdou o capito Deraldo Pereira e sua mulher Zenbia da Silva Pereira. Estes, em 1904 promoveram uma Ao Cvel de Diviso e Demarcao, reagindo ao direito pleiteado por Incia Maria de Jesus e Honorina Maria de Jesus, ali moradoras h 46 ou 50 anos, mas tidas e reconhecidas como agregadas pelos autores da ao. Em 1901, a viva Maria Luciana Guedes doou o stio Baixo Grande ao neto Teodomiro Pereira da Silva, filho de Deraldo Pereira, entre Alto da Baixa Grande, terras em comum das fazendas Hospcio e Carrapato.762 Em 1903, Jos Bonifcio Pereira e sua mulher Idalina Gonalves Pereira doara a parte que herdaram da me e sogra Maria Luciana Guedes, para os sobrinhos Teodomiro Pereira da Silva e Lauro Pereira da Silva, filhos de Deraldo Pereira, no podendo os donatrios dispor das terras durante a vida do seu pai763. Ilha Fazenda entre os vale do rio Pardo e a ribeira do Gavio, visitada pelo prncipe Maximiliano, de Wied-Neuwied, no incio do sculo XIX, que descreveu sua fauna e flora e seu aspecto selvagem e pouco agradvel, rodeada de bosques uniformes e em parte secos, de modo que da no se desfruta nenhuma vista764. Inventariaram uma fazenda Ilha, em 1811, no termo do Rio Pardo, extremada pelo rio Pardo e fazendas Serra, Gameleira e outras, inclusive uma de Antnio Dias de Miranda, no esplio de Matias Joo da Costa, o neto. As fazendas Ilha e Ilha Grande do lado baiano seriam desmembramentos desta. Inventariaram em Santo Antnio da Barra, em 1848, no esplio de Antnio Moreira do Livramento765, uma parcela em comum de Ilha, por 120 mil
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APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 272 v. Escritura pblica, 18 nov., 1874. APEB. Judicirio, 08.0626.03. Traslado de escritura pblica, 8 abr., 1858. 762 Idem, ibidem, f. 10. Traslado de Escritura Particular de Doao. 763 Idem, ibidem, f. 8. Escritura particular de doao, Montes Claros - MG, 2 nov., 1903. 764 WIED, Maximilian, Prinz von. Op. cit., p. 404-406. 765 APEB. Judicirio, 04.1459.1928.05.
ris, que herdara da av Joana Dias da Rocha; uma frao em comum com os herdeiros de Joaquim Gonalves Quaresma, da fazenda Pedra, tambm herana da mesma av, 100 mil ris; e mais uma parte da fazenda Choa, 225 mil ris. A viva Apolnia Belizria de Jesus, que partilhou o esplio com o filho Felipe, informou a propriedade de 13 escravos, 80 rezes, sete burros de carga, dois cavalos e duas guas, jias, mveis e utenslios. Em 1857 inventariaram outra parcela da fazenda Ilha, por 60 mil ris; uma casa e benfeitorias de Malhada Limpa, por 60 mil ris; e parte de uma casa no arraial de Santo Antnio da Barra, no esplio de Ana Senhorinha Belizria de Jesus766, dividido pelo vivo Joaquim Tavares de Carvalho e quatro filhos, que tambm partilharam nove escravos de diferentes valores, 92 cabeas de gado, avaliadas por um conto, 288 mil ris; alguns cavalos, 572 mil ris; peas de ouro, 150 mil ris; de prata, 15 mil ris; mveis e utenslios, 170 mil ris. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1857, medindo seis lguas de comprimento e duas e meia de largura, declararam-se proprietrios em comum na fazenda Ilha: Antnio Tavares de Carvalho, Cassiano Batista da Rocha, Reinaldo Jos das Virgens, Silvrio Gonalves Quaresma, Vitorino Alves Fagundes (compra de Clemente Gonalves da Rocha) e outros. Em 1868 inventariaram uma frao de Ilha, no esplio de Joaquim Ursulino Dias767, por pouco mais de cinco mil ris; uma de Grota, de igual valor; e mais uma de Piabanha, por 18 mil ris. No possua escravo, mas dispunha de 98 rezes, avaliadas por um conto, 146 mil ris; sete cavalos, 186 mil ris; 10 guas, 233 mil ris. Impossvel Terreno em Urandi, margeando o rio Verde Pequeno, inventariado em 1805, com os bens de Maria Isidora Ferreira768. Pedro Celestino de Carvalho inventariou uma frao em 1827, com outras de Passagem de Areia e Palmeiras, no esplio de sua mulher Felizarda da Cruz Prates.769 Em 1839 inventariaram a parcela de Pedro Celestino de Carvalho770, com uma casa, por 530 mil ris; Palmeiras, na Passagem da Raiz, 100 mil ris; Caatingas, 500 mil ris; Passagem da Areia, 400 mil ris; uma frao de Paiol, com uma casa, engenho, chcara, com laranjeira, cafeeiros, limoeiros, e bananal, 705 mil ris; oito escravos, dos quais seis economicamente ativos, com preos variveis de 200 a 350 mil ris; 40 rezes, 320 mil ris; 11 bois de carro, 132 mil ris; 30 ovelhas,
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APEB. Judicirio, 07.3272.17. APEB. Judicirio, 03.1210.1679.14. 768 APEB. Judicirio, 03.1259.1728.14. 769 APEB. Judicirio, 02.0572.1024.06. 770 APEB. Judicirio, 02.0558.1007.01.
19 mil e 200 ris; dois cavalos, 12 mil ris; um curral de pau a pique, 30 mil ris; um canavial, 150 mil ris; uma roa de algodo, 80 mil ris; 120 arrobas de algodo em capucho, 76 mil e 800 ris. Isabel Fazenda nos atuais limites de Caetit e Guanambi, entre o rio do Gado Bravo, riacho dos Brindes e Vereda do Cercado, que na transio do sculo XVIII, pertenceu a Manoel Xavier de Carvalho Cotrim. Em 1844, Maria Feliciana de Brito Gondim vendeu uma poro de Isabel, com outra da Barra do Rio, por um conto e 200 mil ris, para o capito Inocncio Xavier de Carvalho Cotrim771. Em 1847, Domingos Rodrigues de Carvalho e sua mulher Antnia Maria de Jesus venderam a parte que herdaram do pai e sogro Francisco Xavier de Carvalho Cotrim, por 300 mil ris, para Joo Xavier de Carvalho Cotrim772. Em 1851, Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso vendeu metade de Isabel, com Curral de Varas, por um conto e 700 mil ris, para Antnio Belchior Guedes773. No registro de terras de Caetit e do Gentio declaram propriedades em comum: Antnio Belchior Guedes (metade, compra do padre Manoel Jos Gonalves Fraga); Joaquim Fernandes da Rocha (compra em comum); Jos Cardoso da Silva; Jos Pedro Gomes de Carvalho; e outros. Itaberaba Fazenda na margem direita do So Francisco, na qual se desenvolveu a povoao original da cidade de Bom Jesus da Lapa774. Citada em 1731-1734, no roteiro de Quaresma Delgado, quando integrava o domnio fundirio de Joana da Silva Guedes de Brito. Inventariada em 1832, no esplio do conde da Ponte, ficando com outras 17 fazendas, na meao da condessa. Avaliaram suas terras e benfeitorias por um conto e 200 mil ris; mil 454 cabeas de gado vacum, oito contos 724 mil ris; 25 escravos machos e fmeas de todas as idades, cinco contos de ris; 45 cavalos do servio da fazenda, 720 mil ris; uma casa velha de telhas, 40 mil ris; selas, ferramentas e outros acessrios da fazenda, totalizando 15 contos, 714 mil ris. Iuiu Stio medindo uma lgua e meia de comprimento e uma de largura, arrendado pela Casa da Ponte, ao capito-mor Matias Bernardes Lima, estremando com a serra que divide as catingas do rio das Rs e as de So Francisco, Riacho e Malhada. No tomba771 772
APEB. Judicirio, SRJ/25/10, f. 72. Escritura pblica, 23 set., 1844. APEB. Judicirio, SRJ/25/11, f. 114 v. Escritura pblica, 24 abr., 1847. 773 APEB. Judicirio, SRJ/25/15, f. 90. Escritura, 7 set., 1851. 774 Ver: SEGURA, Turbio Villanova. Bom Jesus da Lapa. Resenha histrica. [S. l. : s. n.]., 1937; BARBOSA, Antnio. Bom Jesus da Lapa: Antes de Monsenhor Turbio, no tempo de Monsenhor Turbio, depois de Monsenhor Turbio. Rio de Janeiro: Jotanesi, 1995; STEIL, Carlos Alberto. O serto das ro-
mento fundirio de 1819, o procurador da Casa da ponte atribuiu-lhe o valor de 360 mil ris. Jacar Fazenda onde se desenvolveu o povoado de mesmo nome, hoje em Ibiassuc. Em 1854 o capito Bernardino de Brito Gondim vendeu em Jacar, o que comprara do tenente Antnio ngelo de Carvalho Cotrim e Joaquim Jos da Silva, incluindo a fazenda Serra, logradouro das terras do Baixo e o gado que existia com o ferro dele, para Jos dos Santos Correia, por cinco contos e 200 mil ris, valor correspondente s terras, ficando o gado para se avaliar depois de ferrado775. Francisco Jos Camana vendeu Passo da fazenda Jacar, por um conto de ris, em 1861, com uma parte da fazenda Brejo, que comprara de Antnio Xavier Prates, para Jos Vtor Xavier Prates776. No registro de terras da freguesia de Santana de Caetit, limitando com Rio do Antnio, Barrocas, Santa Clara e Salto, muitos herdeiros e compradores com sobrenomes como: Alves Bittencourt, Barros Silva, Borges de Carvalho, Cruz Prates, Ferreira de Brito, Garcia Leal, Gonalves de Aguiar, Gonalves de Carvalho, Marques de Brito, Nunes Teixeira, Pereira Castro, Pereira da Costa, Pinheiro de Azevedo, Rodrigues Borges, Rodrigues Gomes, Silva Prates, Souza Marques, Vieira de Pinho, Xavier da Silva, Xavier de Matos, Xavier Pereira, Xavier Prates declararam propriedades em comum na fazenda Jacar. No registro paroquial do Gentio apenas Domingos Soares dos Santos Barbalho, que comprara do capito Antnio Fernandes Baleeiro declarou ttulo. Joo Antnio de Brito e sua mulher Maria Francisca de Jesus Brito venderam o stio Mulungu, da fazenda Jacar, que compraram de Jos Demtrio, em 1866, com uma casa, acessrios, mangas, currais, roas e 16 mil ris de terras, para Antnio Pinheiro de Azevedo, por 700 mil ris. Em 1867 arrolaram duas lguas de terras de Jacar, por 196 mil ris, como nico bem de Incio da Cruz Prates777. Venceslau Ribeiro de Arajo e sua mulher venderam suas posses e benfeitorias, em 1875, por 700 mil ris, para Teodoro Antunes de Brito Teixeira778. Jacar (Jacar do Meio) Fazenda com 16 lguas de comprimento e 12 de largura, declaradas no registro fundirio de Santo Antnio Barra, por: Antnio Rodrigues de Carvalho (compra de Joaquim Rodrigues Coutinho); Aureliano de Souza Osmundo
marias: um estudo antropolgico sobre o Santurio de Bom Jesus da Lapa Bahia. Petrpolis: Vozes, 1996. 775 APEB. Judicirio, SRJ/25/14, f. 122. Escritura pblica, 14 ago., de 1854. 776 APEB. Judicirio, SRJ/25/18, f. 121. Escritura, 1861. 777 APEB. Judicirio, 02.0871.1340.12. 778 APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 48. Escritura pblica, 9 mar., 1875.
(compra de Joaquim Rodrigues Coutinho); Joo Antnio da Costa (doao de Jos Ferreira Salgado); Joo Rodrigues de Carvalho (compra de Aureliano de Souza Osmundo); Jos Antnio de Azevedo (herana e compra, medindo um quarto de lgua de comprimento e de largura); Jos Joaquim do Nascimento (compra de Manoel Severino Cacique do Brasil); Leandro Rodrigues Salomo (compra de Lus da Cruz Prates); e outros. Ildefonso Jos Marreco e Maria Rosa Alves venderam uma parte, em 1858, por 500 mil ris, para Sebastio Rabelo de Lima Jnior779. Jardim Fazenda hoje em Igapor, arrendada por Joana da Silva Guedes de Brito, no incio do sculo XVIII, para Manoel Ribeiro. Extremava-se ao sudoeste, em um engenho ao P da Serra, conforme o Roteiro de Joaquim Quaresma Delgado. O capito Joo Pereira da Costa legou em testamento, meia lgua de Jardim para os filhos de Maria Joaquina da Conceio Simo, Jos, Antnio, Rosa, Incio, Maria Madalena, Silvria e Rita, todos, Pereira da Costa entre Imbiruu, Cerquinha, Caldeiro, cabeceiras do rio Mato Verde, extremas de Joaquim Rodrigues Ladeia, Vereda do Brejo e serra da gua Boa, inventariada no seu esplio780, em 1857, com uma casa, casa de farinha e outras benfeitorias, por 715 mil ris; 230 rezes, sete escravos, roda de ralar mandioca, carro, junta de bois, guas e cavalos; 790 mil ris de uma avaliao de seis contos de ris de Carnaba de Dentro, com uma casa de adobe e telhas, sete portas e seis janelas, outra casa de adobe e telhas, em Tanque, com trs portas e trs janelas, uma casa de enchimento, coberta de telhas, em Urubu; 12 escravos,100 rezes, trs cavalos, 10 cargas de algodo, prensa de algodo, bolinete de fazer farinha, mveis e utenslios. No registro de terras da freguesia de Caetit, confinando com morro dos Fuzis; Umbuzeiro, Cerquinha, Passagem da Pedra, Malhada do Tamandu, Santa Ana, Pedra Branca, Tabocas, Pau dgua do Canto, Pau da Cruz e Lagoa informaram partes em comum os Costa Dantas, Fernandes Pereira, Ferreira de Brito, Frota Duque, Mendes, Pereira da Costa, Rocha Ribeiro, Rodrigues Ladeia, Silva Neves, Silva Teixeira, alm da empresa Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso (duas partes por compra). Os cinco filhos de Jos da Rocha Ribeiro e Ana Anglica Ferreira781 partilharam seus bens, em 1861, com uma frao de Jardim, no valor de 97 mil e 300 ris; partes nas casas de Brejo e de Bonito, 90 mil ris; quatro escravos, um conto, 402 mil ris; um enge-
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APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 30. Escritura pblica, 18 ago., 1858. APEB. Judicirio, 03.1357.1826.08. 781 APEB. Judicirio, 02.0896.1365.07.
nho, 30 mil ris, uma roda de ralar mandioca, 12 mil ris; dois cavalos, 65 mil ris; e 16 rezes, 480 mil ris. Juazeiro Fazenda em Caetit, citada em 1758, na Planta Corogrfica da estrada de Monte Alto ao porto de So Flix. Estendendo-se por cinco lguas de comprimento e duas de largura, partilharam-na, em 1811, os cinco filhos do capito Antnio Caetano Vilasboas782, com uma casa coberta de telhas, outra de Pindobas e um engenho, por um conto, 648 mil ris; um quinho da fazenda Pedras, em Rio de Contas, pouco mais de 41 mil ris; stio Lago, em Furnas, Rio de Contas, com uma casa coberta de telhas e mveis, 102 mil ris; uma casa no largo de Santana, vila de Rio de Contas, com mveis, 115 mil ris; outra, mobiliada, defronte da capela do arraial de Furnas, 23 mil ris; 31 escravos 487 rezes, 28 bestas muares, 18 guas e poldras, 13 cavalos e poldros, jias e utenslio de ouro e prata, equipamentos de montaria de prata, dois pares de dragonas de escamas e franjas, uma bengala da ndia, alambique de cobre, vrios tachos de cobre, um forno de cobre, ferramentas agrcolas, de carpinteiro e ferreiro, espingarda Lazarina, dois jogos de pistolas, chapus finos, farda de pano azul, jaleco e calo de cetim, uma capoteira de nobreza azul clara, dois chapus de sol ingleses, bas e caixas encouradas, uma cama de vento, cinco catres de madeira e um de couro, uma mesa, dois bancos, um carro, uma roda de ralar mandioca, 20 cargas de sal com 40 alqueires e outros bens de uso. No registro de terras da freguesia de Santa Ana de Caetit, em 1854-1859, informaram propriedades no demarcadas em Juazeiro, pessoas das famlias: Barros Silva, Brito Gondim, Fernandes Pereira, Ferreira de Souza, Frota Duque, Gonalves Fraga, Rodrigues da Silva, Souza Frana, Teixeira Lacerda, Teixeira Mangabeira e Vilasboas. Jos Teixeira Lacerda inventariou trs parcelas de Juazeiro, em 1861, no esplio de sua mulher Lizarda Maria Vilasboas783, com uma casa, por 529 mil ris; oito escravos, cinco contos, 450 mil ris; 16 vacas paridas, 200 mil ris; trs bois mansos, 90 mil ris; um cavalo uma mula e uma gua, 160 mil ris. Maria do Rosrio da Silveira vendeu, em 1864, o stio Lajedo, da fazenda Juazeiro, por 380 mil ris, para Jos Joaquim Ferreira Coelho784, que transferiu para Bernardo Antnio da Rocha por 400 mil ris em 1870785. ngelo Custdio Vilasboas e os 10 filhos ou herdeiros destes, partilharam, em
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APEB. Judicirio, 02.0575.1027.06. APEB. Judicirio, 02.0889.1358.14. 784 APEB. Judicirio, SRJ/25/25, f. 187. Escritura pblica, 20 jun., 1864. 785 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 223. Escritura pblica, 20 set., 1870.
1866, com os bens de Teodora Maria de Carvalho786, parte das terras de Juazeiro, com meia gua em Canhambola (Carambola ou Quilombola), por dois contos, 210 mil ris; parcelas de Gameleira e Boa Vista, 425 mil ris; 13 escravos, 104 rezes, sete guas, seis cavalos, trs burros e dois bois de carga, ferramentas de trabalho e utenslios domsticos. Nos esplios de Jos de Oliveira Ledo e Honorata Maria Vilasboas787, em 1877, inventariaram outra gleba de Juazeiro, em comum, com uma casa por um conto de ris; uma parcela de Caldeires, com umas casas de morar e de engenho, 360 mil ris, 20 escravos com preos variveis de 150 a um conto, 150 mil ris; 11 vacas paridas, 220 mil ris; 46 solteiras, 690 mil ris; 10 novilhas, 120 mil ris; 11 garrotes, 110 mil ris; e 19 bois, 380 mil ris. Tambm em 1877, nos esplios de Antnio da Rocha Costa e Maria Antnia de Oliveira788 arrolaram, por 13 mil ris, uma gleba Juazeiro; Olho dgua no distrito de Furnas, em Rio de Contas por 200 mil ris; 12 rezes, 183 mil ris; cinco burros com menos de um ano, 20 mil ris, um cavalo, 25 mil ris. Inventariaram no esplio de Manoel Antnio de Oliveira789, em 1883, duas fraes de Juazeiro, com uma casa, meia gua, tanque e rego com cafeeiros, laranjeiras, marmeleiros, cajueiros, no stio Vilo Ruim, por 750 mil ris. Dos cinco escravos, avaliados de 150 a 700 mil ris, os herdeiros libertaram trs; 93 rezes, no valor de um conto 294 mil ris; quatro bois carreiros, 100 mil ris; trs bois cargueiros, 60 mil ris; uma poro de canas maduras, para 10 cargas de cachaa, 40 mil ris; um alambique com 100 quilos de cobre, 200 mil ris; dois tachos de cobre, 55 mil ris; trs cochos de azedar garapa, 60 mil ris; uma peroba de 32 cargas de cachaa, 64 mil ris; outra menor, 20 mil ris; 10 cargas de cachaa, 80 mil ris; uma espingarda Laporte, 20 mil ris; um engenho, 40 mil ris; mveis, utenslios e instrumentos de trabalho. Os trs filhos de Antnio Caetano Vilasboas790 dividiram, em 1884, uma parcela de Juazeiro, com uma casa, no valor de 680 mil ris; pequenos quinhes de Gameleira, Boa Vista, Quebradas e Lages. Alm de oito escravos, integraram o esplio 50 vacas paridas, avaliadas por 300 mil ris; 150 solteiras, 800 mil ris; quarenta novilhas, 380 mil ris; 11 bois e garrotes, 220 mil ris; uma junta de bois de carro, 70 mil ris; dois cavalos e duas guas, 110 mil ris; um jumento, 30 mil ris; seis burros e mulas, 740
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APEB. Judicirio, 02.0880.1349.12. APEB. Judicirio, 02.0869.1338.20. 788 APEB. Judicirio, 03.1190.1659.13. 789 APEB. Judicirio, 02.0866.1335.05. 790 APEB. Judicirio, 03.1224.1693.03.
mil ris; jias e utenslios de ouro e prata; instrumentos de trabalho e utilitrios domsticos; e um engenho. Jos Antnio Gomes Neto (baro de Caetit), Francisco Manoel Gomes, Jos Rodrigues Lima, Otaclio lvares Caldas e Aprgio Rodrigues Silva partilharam o stio Lajedo, que media, ao poente, 354 braas; e nas extremas da fazenda Serra, 396 braas. Atribuiu-se s terras da beira do rio o valor de cinco mil 475 ris a braa; e s dos gerais, quatro mil 904 ris. Juazeiro Stio nos atuais limites de Bom Jesus da Lapa e Macabas, medindo de comprimento metade de uma carreira de cavalo e de largo meio quarto de lgua, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Alberto de Carvalho, por 400 ris anuais, limitando com o rio Santo Onofre, ngelo Pereira e Antnio Afonso. No tombamento fundirio de 1819, avaliaram-no por 12 mil ris. Juazeiro Stio hoje em Botupor, limites com Macabas, medindo meia lgua de comprimento e um quarto de largura, arrendado pela Casa da Ponte ao capito Jos Antnio do Rego, em 1816, por 10 tostes anuais, limitando com Algodes, de Joo Jos da Silva Dourado; Buriti, da viva de Joaquim Oliveira Cortes; P da Serra, de Geraldo Jos do Rego e Domingos Jos do Rego; e Santana de Joo da Silva Batista, sendo avaliado no tombamento fundirio de 1819 por 80 mil ris e vendido, em 1831, para Geraldo Jos do Rego Junco Fazenda hoje em Lagoa Real, partilhada em 1820 pelo major Francisco de Vasconcelos Castro, Ciro de Moura Rocha, e Fidelcino de Moura Rocha, limitando com Lagoa Real, Trs Irmos, Esprito Santo e Tapera do Machado. Em 1867, o alferes Joaquim Manoel de Brito Barros e Cassiana Francisca de Brito Gondim venderam uma parcela, por 600 mil ris, para Francisco Joaquim de Brito Gondim. O primeiro adquirira em permuta por outra com seu cunhado Loureno Jos da Costa e a segunda, recebera de herana paterna791. Jurema Fazenda em Santo Antnio da Barra, que pertenceu a Crispim da Rocha Pinto, no sculo XVIII. Em 1819, inventariou-se uma sorte de terras, no esplio de Joana Correia de Almeida792, viva de Jos da Rocha Pinto, por 68 mil ris; dois escravos, 350 mil ris; 20 rezes, 60 mil ris; um cavalo, 20 mil ris; e duas guas, 12 mil ris. Inventariaram outra gleba de Jurema em 1837, no esplio de Joaquim da Rocha Pinto793, com
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APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 15 v. Escritura pblica, 30 out., 1867. APEB. Judicirio, 02.0588.1040.13. 793 APEB. Judicirio, 03.1194.1663.06.
duas casas de madeira cobertas com telhas, em Piripiri e Pau Ferro, por 438 mil ris; uma frao de Jacar do Meio, 100 mil ris; seis escravos, com preos entre 50 e 400 mil ris; 100 rezes, 800 mil ris; nove guas, 202 mil ris; 10 poldros, 276 mil ris; dois cavalos 60 mil ris; quatro rodas de fiar, trs mil 840 ris, uma espingarda Lazarina, seis mil ris; mveis e utenslios domsticos, agrrios e pecurios. Inventariaram em 1852, com os bens de Loureno Jos de Oliveira794, outra gleba de Jurema, com uma casa no Esprito Santo e uma parcela de Santa Rosa, por 240 mil ris, com 18 rezes e duas guas. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, contornando pelo rio Gavio, Santa Rosa, Cerquinha, P do Morro, Serra Talhada e medindo oito lguas de comprimento, com a mesma extenso de largura, declararam fraes em comum de Jurema os: Coelho de Faria, Correia de Oliveira, Dias do Prado, Ferreira da Rocha, Ferreira de Souza, Lopes de Carvalho, Oliveira Rocha, Pereira Soares, Rocha Lima, Rocha Pinto, Rodrigues de Novais, Silva Fernandes e Soares Matias. Lagoa (Alagoa ou Lagoa de Flix Pereira) Fazenda em cima da serra da Catinga, atuais limites entre Igapor e Caetit, citada no incio do sculo XVIII no Roteiro de Joaquim Quaresma Delgado quando se achava arrendada pelo procurador de Joana da Silva Guedes de Brito, para Andr Pacheco Pimenta. Vendida por Francisca Joana Josefa da Cmara, viva de Manoel de Saldanha da Gama, moradora na cidade de Lisboa, por si e como tutora dos filhos menores, representada pelo capito Manoel Pinto da Cunha, em 1791, por 200 mil ris, ao arrendatrio Flix Pereira da Costa, extremando com Hospcio, Escadinha, Caetit, Lagoa, Cachoeira, Umbuzeiro, Jardim e Arapu795. Em 1805, Maria Francisca da Conceio, viva de Flix Pereira da Costa e os filhos Joaquim, Jernimo, Flix, Bento, Joo, Antnio, Francisco, todos Pereira da Costa e o genro Jos da Silva Neves, definiram seus limites com Catinga, de Joaquim Fernandes de Arajo e sua mulher Lourena de Brito e Lagoinha796. No registro paroquial de terras de Caetit, em 1854-1859, declararam glebas em comum: Antnio Pereira da Costa, Filipe Pereira da Costa, Joo Pereira da Costa, Joaquim Leandro da Silva Nogueira, Manoel Incio Fernandes Chaves, Manoel Jos Fernandes, Manoel Rodrigues Ladeia, Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso (trs parcelas, compradas) e Vitoriana Maria da Conceio. No registro da freguesia do Gen794 795
APEB. Judicirio, 03.1226.1695.04. APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 75. Registro de escritura particular, 1791. 796 APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 74. Registro de escritura pblica, 19 mai., 1791.
tio, de 1855-1858, Manoel Pereira da Costa declarou duas partes em comum, que herdara e comprara. O tenente Manoel Joaquim Pereira da Costa vendeu, em 1877, o stio Arapu para o tenente-coronel Joo Antero Ladeia Lima, por 300 mil ris, com parte da fazenda Jardim797. Lagoa Clara Stio da fazenda Vargens, nos atuais limites de Macabas, medindo trs quartos de lgua de comprimento e uma lgua e meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Caetano Ferreira de Carvalho e Jos Nunes da Silva, por dois mil ris anuais, limitando com Vargens, de Bento Garcia Leal; Curralinho, de Jacinto Pereira da Silva; Brejo, Boa Vista, Santa Ana, de Joo da Silva. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-no por 120 mil ris e venderam-no em 1820, ao capito Bento Garcia Leal. Em meados do sculo XIX pertenceu ao coronel Plcido de Souza Fagundes. Neste stio desenvolveu-se o povoado de mesmo nome, atual distrito do municpio de Macabas. Lagoa das Almas Fazenda da qual o capito Joaquim Garcia Leal e sua mulher Teresa de Jesus Prates doaram, em 1848, uma gleba que herdara e outra comprada de Domingos Garcia Leal, ao filho Joaquim Pedro Garcia Leal, com a penso anual de 30 mil ris, para que recebesse ordens sacerdotais798. No registro de terras da freguesia do Gentio, em 1855-1858, limitando com Malhada, Conceio, Caatingas do rio Verde e Guar, declararam partes em comum os: Cruz Prates, Ferreira de Souza, Garcia Leal, Neves Cardoso, Oliveira Alecrim, Pinheiro de Azevedo, Pinheiro Pinto, Ribeiro da Cruz, Rodrigues Dantas, Rodrigues de Souza e Rodrigues Ladeia. Lagoa do Coelho Fazenda que pertenceu a Nicolau de Souza Coelho, citada no roteiro de Joaquim Quaresma Delgado, de 1731-1734, quando percorreu o caminho de Barrocas e So Domingos para Almas. Em 1821, inventariou-se o stio Carabas, da fazenda Lagoa do Coelho, com uma lgua de comprimento e outra de largura, no esplio de Manoel Gomes Pereira. No registro de terras da freguesia do Gentio de 1855-1858, declaram propriedades em comum em Lagoa do Coelho, pessoas das famlias: Alves Moreira, Alves Pereira, Fernandes Ribas, Ferreira do Carmo, Figueiredo, Gomes Pereira, Moreira Rebordes, Nunes Dantas e Rocha. Inventariaram uma frao de Lagoa do Coelho, em 1868, com o patrimnio de Aprgio Moreira Rebordes799, no valor de 70 mil
797 798
APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 138. Escritura pblica, 25 abr., 1877. APEB. Judicirio, SRJ/25/10, f. 170. Escritura pblica, 24 jan., 1848. 799 APEB. Judicirio, 02.0871.1340.17.
ris e pequenas glebas de Contendas, So Domingos e Umburanas, com uma casa de telhas em Porteira Velha; um escravo, 80 rezes, alguns eqinos, muares e asininos, trs rodas de fiar e um bolinete de ralar mandioca. Lagoa do Peixe Fazenda hoje em Condeba, limites de Cordeiros, comprada da Casa da Ponte por Jos da Costa Teixeira e sua mulher Faustina Maria da Encarnao, que a venderam para Maria de Jesus Nazar800, viva de Henrique Manoel de Almeida, em cujo esplio se inventariou em 1791, com uma casa de telhas e engenho coberto com dois milheiros de telhas, por 83 mil ris. Inventariaram uma parcela de Lagoa do Peixe em 1883, no esplio de Clementino Gonalves das Virgens801, com uma casa e outras benfeitorias, por 190 mil ris; uma manga de capim com cercas de madeira, 25 mil ris; uma roa com milho maduro, 20 mil ris; uma roa de mandioca, 25 mil ris; um escravo, 600 mil ris; 66 bovinos, um conto 142 mil ris; nove eqinos, 346 mil ris; e um asinino, 60 mil ris. Lagoa dos Patos Fazenda no rio Paramirim, atuais limites de Boquira, citada na primeira metade do sculo XVIII, por Joaquim Quaresma Delgado, quando se encontrava arrendada pelo procurador de Joana da Silva Guedes de Brito ao padre Antnio Dourado do Monte. Em 1805 a Casa da Ponte arrendou metade das terras entre Raposa e o rio Paramirim, medindo um quarto lguas de comprimento e igual extenso de largura para Alexandre Soares por 10 tostes anuais, que foi avaliada no tombamento de 1819 por 36 mil ris e vendida, em 1838, para Jos de Souza e Almeida. Lagoa Funda Fazenda no atual municpio de Igapor, desmembra de Gameleira e esta de Riacho Bonito, da qual, em 1839, Maria de Souza trocou Olho dgua, que herdara do pai Manoel Rodrigues da Silva por outra de Tamandu, com Francisco Rodrigues da Silva, que comprara do cunhado Francisco Jos da Silva802. Filipe Joaquim de Azevedo Cotrim inventariou Lagoa Funda em 1848, no esplio de sua mulher Maria Clara de So Jos, com uma casa e meia gua (num canal de irrigao), por trs contos e 80 mil ris; duas casas no arraial de Bonito, uma das quais por acabar, 800 mil ris803; 23 escravos, oito contos 920 mil ris; trs bois mansos de engenho, 60 mil ris; um cavalo, 50 mil ris; 200 rapaduras, 28 mil ris; uma poro de canas, 50 mil ris; 12 cargas de algodo, 240 mil ris. O valor dos bens somou mais de 13 contos de ris, mas dvidas
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APEB. Judicirio, 02.0574.1026.04. APEB. Judicirio, 04.1461.1930.16. 802 APEB. Judicirio, SRJ/25/8, f. 37. Escritura pblica, 14 set., 1839. 803 APEB. Judicirio, 03.1202.1671.06.
hipotecrias com o irmo Vicente Pinheiro de Azevedo e Joo Severino da Luz Lisboa reduziram o partvel a pouco mais de trs contos e 500 mil ris. A viva Mergelina Anglica de Azevedo partilhou tambm com os filhos menores Leocdio, Jos, Ursulina, e Anglica esta ltima casar-se-ia com Hermenegildo Jos Fernandes, em 1865 com os bens do consorte Tito de Souza Fagundes804 em 1853, com uma parte de Lagoa Funda, entre a estrada do Piripiri, canto da Lagoa do Curral, atravessando a lagoa pelo meio e, pela mesma estrada, at extremar com Antnio de Souza [Porto]; e na outra banda do rio, veio dgua acima at a Passagem do Isidro, com uma casa, avaliada por dois contos e 100 mil ris; sete escravos, dos quais dois roceiros, com preos entre 200 e 600 mil ris; 50 vacas paridas, 750 mil ris; 60 rezes de toda sorte, 420 mil ris; trs cavalos de sela, 150 mil ris; trs de campo, 90 mil ris; uma espingarda Lazarina, seis mil ris; jias de ouro; chinelos com 130 oitavas de prata; arreio com 160 oitavas de prata, utenslios domsticos e agrcolas. No registro de terras da freguesia de Caetit, em 1854-1859, os proprietrios declararam suas parcelas como Gameleira, a fazenda original. Apenas Estevo Pinheiro de Azevedo informou Lagoa Funda, limitando com Santo Antnio onde se chama Lajedo, altos da Canabrava, Tabuinha, serra do Copiar, e Lagoa Danta. A viva Joana Anglica de Azevedo e os filhos menores Benedita, Leolino, Policarpo, Jos, Anglica, Geraldino e Olegrio partilharam, em 1856, no esplio Francisco Xavier de Carvalho Cotrim805, uma parcela de Lagoa Funda (Olho dgua) com uma casa, por 110 mil ris; partes de Barro Vermelho, 300 mil ris; Isabel, 30 mil ris; Vargens, 150 mil ris; 14 escravos, dos quais uma de servios de casa e cinco de roa, com preos entre 150 e 800 mil ris; 60 rezes, 660 mil ris; dois cavalos de campo, 51 mil ris; uma gua, 18 mil ris; uma roa de milho de uma quarta, 20 mil ris. Lagoa Real Fazenda com a denominao de Lagoa, cuja posse, doada pelo sogro coronel Andr da Silva Nobre, o capito de a cavalos Raimundo Pereira Nunes e sua mulher Feliciana Moreira transferiram, por cinco mil cruzados, em 1749, para Roque Jos do Couto, pagando renda e direito senhorio a Ana Barbosa, viva do coronel Manoel de Arajo de Arago806, por deciso de sentena que teve contra o fidalgo Ma-
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APEB. Judicirio, 03.1179.1648.07. APEB. Judicirio, 02.0560.1011A.05. 806 Manoel de Arajo de Arago disputou com Joo Amaro Maciel Parente uma sesmaria com seis lguas de fundo que este recebera no alto Paraguau. Encerrou-se o litgio com a compra das terras por Arago, cuja viva Ana Barbosa Brito vendeu, em 1707, com a denominao de Araras ou Andara de Baixo, para Manoel Pinto Cardoso. Em 1809 os herdeiros desse comprador venderam essas terras para
noel de Saldanha. Limitava-se com a estrada das Porteiras para Juazeiro, Curral do Meio, fazenda de Cima, de Andr da Silva Nobre, Riacho do Manoel [de Arajo de Arago], Tabua e Porteiras807. Por determinao judicial, em 1831, Liberato Gomes Cardoso, declarado prdigo, ficou com sua parcela de Lagoa Real sob tutela do sogro Jos Pinheiro de Azevedo. No registro paroquial de terras de Caetit, delimitando-se com Morrinhos, Porteira, Tabua, Junco, Tapera do Machado, Passagem da Lagoa Nova, Riacho e Porteiras, declararam glebas comuns: Ana Carlota Granais Simes (duas partes, heranas dos filhos Cato Guanaes Simes e Cincinato Guanaes Simes); Ana Maria de Abreu viva de Silvrio Pinheiro de Azevedo e filhos, Antnio Simes de Oliveira (herana do pai homnimo); Ccero Guanaes Simes (herana do pai Antnio Simes de Oliveira); Faustino Fogaa de Souza (compra de Vicente Ferreira de Azevedo); Florinda de Barros Silva (compra); Joo Nepomuceno da Costa (herana da sogra Maria Vitria de Santana); Jos Pinheiro de Azevedo (herana do sogro Antnio de Brito Gondim); e Vicente Ferreira de Azevedo (herana do pai Silvrio Pinheiro de Azevedo e compras de Antnio Pinheiro de Azevedo e Ana Maria de Abreu). Inventariaram em 1861, no esplio de Jos Pinheiro de Azevedo808, uma frao de Lagoa Real com uma casa, por 560 mil ris; oito escravos, com preos entre 400 mil ris e um conto e 200 mil ris; um cavalo, 16 mil ris; duas roda de fiar, quatro mil ris; uma roda de ralar mandioca, 10 mil ris; um tear, quatro mil ris; um engenho, 40 mil ris; e diversos mveis e utenslios domsticos e agrcolas. Em Lagoa Real se desenvolveu o povoado de mesmo nome, embrio da atual cidade. Lajes Fazenda em Caetit, da qual Arsnio Fernandes da Cunha e sua mulher Agda Maria da Assuno venderam, por 100 mil ris, em 1847, a parte que herdaram dos pais e sogros Manoel Fernandes da Cunha e Maria Bernarda de Jesus, para Francisco Joaquim de Souza Spnola809. No registro paroquial de terras de Caetit, extremando com Cachoeirinha, So Pedro, Cachoeira e Carrapato declararam propriedades comuns: Ana
Francisco Jos da Rocha Medrado e a viva deste as declarou no registro de terras da freguesia de So Joo do Paraguau, em 1858. APEB, Colonial e Provincial, 4.792. Arago ganhou, em 1683, cinco lguas em quadra juntodos Maracs, para si e seus filhos: Antnio, Gonalo de Barros Arajo, Joo dArajo, Beatriz dArajo, Bernarda, Maria e Felipa de Arajo. Em 1690 recebeu outra sesmaria com 10 lguas de comprimento. CALMON, Pedro. Introduo e notas ao catlogo genealgico das principais famlias de frei Jaboato. Salvador: Empresa Grfica da Bahia, 1985, v. I, p. 184. 807 AMRC. Tabelionato. Livro de Notas n. 9, 1747-1752, f. 65 v. Escritura de venda, 5 mar., 1749. 808 APEB. Judicirio, 03.1190.1659.07. 809 APEB. Judicirio, SRJ/25/11, f. 141. Escritura pblica, 28 ago., 1847, consentida pelo credor major Jacinto Antnio de Brito, a quem a terra estava hipotecada.
Anglica de Jesus (esplio, no Espigo); Joo Rodrigues Gomes (Lagoa do Trigueiro); Manoel Rodrigues Gomes (Angu); Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso (compras); Venceslau Pereira da Silva (compra de Antnio Pereira de Aguiar); Vitorino Manoel de Bittencourt (compras de Frutuosa Maria de Jesus); e vrios outros. Inventariaram em Espigo da fazenda Lages no esplio de Herculana da Cunha Frota
810
, em 1866, com uma casa mobiliada e chcara, por um conto e 200 mil ris; uma
parcela de Monte, 500 mil ris; outra de Gameleira, 197 mil ris; e glebas menores de Juazeiro e Quebradas, e dois escravos. Em 1869 inventariaram outra parcela, por 250 mil ris, no esplio de Joaquim Fernandes de Almeida811, com uma casa na rua da Barroquinha, em Caetit, por 80 mil ris e alguns mveis e utenslios. Jos Tito de Matos e sua mulher Carlota Celcina Xavier de Matos venderam uma frao de Lajes em 1872, por 400 mil ris, ao capito Aristides de Souza Gomes812. O capito Gregrio Ferreira de Souza Barros e sua mulher Maria Pereira Castro venderam Poo Comprido, que herdaram da me e sogra Florinda de Barros Silva, para Jos Antnio Gomes Neto, por um conto de ris, em 1877813. Lajes Fazenda no serto do rio das Rs, hoje limites de Riacho de Santana e Palmas de Monte Alto, que pertenceu a Manoel Oliveira Mendes, transferida aps sua morte, em 1772, para os filhos Luiz Manoel, Filipe, Lus Antnio e Francisca Josefa que venderam, em 1783, com pertences, escravos e rendimentos, desde 1772, por quatro contos de ris, em parcelas anuais de 500 mil ris, ao capito Jos Vicente Ferreira de Souza, morador no serto de Cahitat814. Inventariaram Lajes em 1795, com uma morada de casas, coberta com trs milheiros de telhas, duas portas, currais de pau a pique e sua manga, por cinco contos e 500 mil ris, no esplio do capito Jos Vicente Ferreira de Souza. Fez-se novo inventrio do mesmo esplio, em 1800, indo hasta pblica, com a fazenda Cachoeira, no Juzo dos rfos de Rio de Contas, para pagamento de vultosas dvidas do inventariado. Antnio Pereira de Castro, que arrematou a fazenda Lajes, recebeu: mil 434 cabeas de gado, dois bois de carro, 23 cavalos, cinco escravos, uma casa, mveis, utenslios e instrumentos de trabalho. No registro de terras da freguesia de Monte Alto, 1855-1860, limitando com Pedra da Aguada, Morrinho, Curralinho, Campinas, Vargem Grande, gua Verde, Game810 811
APEB. Judicirio, 02.0880.1349.04. APEB. Judicirio, 02.0871.1340.18. 812 APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 99 v. Escritura pblica, 29 jul., 1872. 813 APEB. Judicirio, SRJ/25/30, f. 9. Escritura pblica, 14 dez., 1877. 814 APEB. Judicirio, 02.5781030.05. Cpia da escritura pblica, 15 mar., 1783.
leira, Lagoinha, P da Serra, Canoas, Rio das Rs, Angico, So Francisco e Canabrava, declaram-se proprietrios: Custdio Pereira Pinto, Joo Caetano Xavier da Silva Pereira e Jos Pereira de Castro. Lajes Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1803, por dois mil ris, para Raimundo Pereira de Barros e, de presente, arrendado a Eleutrio Cavalcante de Souza, limitando com o capito Luciano Galo e Manoel de Barros. No tombamento fundirio de 1819, medindo meia lgua de comprimento e um quarto de lgua de largura, avaliaram-no, por 60 mil ris e venderam-no, em 1849, para o arrendatrio. Macacos Stio arrendado pela Casa da Ponte em 1805, para Venceslau Dourado do Monte por dois mil ris anuais e, de presente, para Florncia Marques das Neves. Limitava-se com Tiros, Baixa do Licori, Serra das Guaribas, Brejo Grande, Varginha, Bonito e serra do Feijo. Media trs quartos de lgua de comprimento e meia lgua de largura, sendo avaliado no tombamento fundirio de 1819 por 80 mil ris e vendido, em 1825, para Rufino G. do Nascimento. Em Macacos desenvolveu-se o povoado de Assuno, ncleo original da cidade de Boquira. Malhada Fazenda citada por Quaresma Delgado na primeira metade do sculo XVIII. Fora arrendada por Isabel Maria Guedes de Brito ao Dr. Joo Calmon. A Casa da Ponte vendeu essa unidade pecuarista, em 1808, atravs, do procurador Joaquim Pereira de Castro, por 500 mil ris, em quatro pagamentos anuais, para Joo Vieira de Lima, limitando com Cachoeira, no riacho da Cruz; Riacho, em Tom Nunes; serra da Malhada; e rio So Francisco815. Jos Porfrio de Magalhes, que a herdara dos pais, vendeu duas glebas, em 1872, por dois contos de ris, e duas fraes de Vereda, por 200 mil ris, para o tenente-coronel Joo Antero Ladeia Lima816. Em Malhada desenvolveu-se o povoado original da cidade de mesmo nome. Malhada Stio nos atuais limites de Macabas, Bom Jesus da Lapa e Riacho de Santana, arrendado pela Casa da Ponte, em 1816, para Joaquim Firmiano da Silva Dourado, por trs mil e 500 ris anuais. Limitava-se com Gerais do Pedreiro, do padre Joo Teixeira Leite; Tamboril, de Manoel Antnio; serras de So Jos e de Santo Onofre. Medindo uma lgua e meia de comprimento e com a mesma largura, atriburam-lhe, no tombamento de 1819, o valor de 200 mil ris e venderam-no, depois, com Gerais do Pedreiro, para o capito Manoel Moreira da Trindade, procurador da Casa da Ponte.
815 816
AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 25, f. 99 v. Escritura, 23 jan., 1808. APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 40. Escritura pblica, 13 jan., 1872.
Manga Stio na margem esquerda do rio Paramirim, no atual municpio de Boquira, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, para Boaventura de Arajo Barreto, por cinco mil ris anuais, limitando com o rio Paramirim, Estreito da Raposa, Serrote, Unhas de Gato e Cachoeira. Medindo uma lgua de comprimento e meia de largura, avaliaram-no por 150 mil ris, no tombamento de 1819 e venderam-no, em 1820, para Clemente Rodrigues Nogueira e Joaquim Carneiro Diniz. Mata Fazenda atualmente na jurisdio de Ibiassuc, medindo duas lguas de comprimento e uma de largura, inventariada por Jos ngelo Custdio, em 1805, no esplio da sua mulher Rosa Maria da Conceio817, com duas casas cobertas de telhas e paredes de enchimentos, no valor de 210 mil ris; 11 escravos, cinco velhos e crianas, com valores entre 40 e 70 mil ris e seis em faixas etrias economicamente ativas, dos quais, um de servio de campo ou vaqueiro, avaliado por 190 mil ris e trs de servio de roa, 170 e 180 mil ris; 100 rezes, 400 mil ris; trs cavalos, 50 mil ris; uma roa de algodo e mandioca, 200 mil ris; 41 arrobas de algodo, 26 mil 240 ris; um oratrio com imagens de Santo Cristo, Senhora da Conceio e So Jos, dois mil e 600 ris; uma roda de ralar mandioca, quatro mil ris; jias, equipamentos de montaria, utenslios domsticos e agrrios. Inventariou-se outra parcela em 1828, no esplio de Antnio ngelo Custdio818, por 300 mil ris; com cinco escravos, 590 mil ris; 24 rezes, 120 mil ris; um poldro, 14 mil ris; e um boi manso, 12 mil ris. No registro de terras da freguesia de Caetit declararam ttulos comprados ou hereditrios: Agostinho Ribeiro de Novais (Lagoa do Tamboril); Alexandre Pinheiro de Azevedo (sete parcelas); Antnia Maria de Jesus (Lagoa do Tamboril); Clemente Pinheiro de Azevedo (Lagoa do Tamboril); Francisco de Barros Silva (Lagoa do Tamboril); Joo da Silva Prates (Lagoa do Tamboril); Joaquim Pinheiro de Azevedo (Lagoa do Tamboril); Jos Camilo Trigueiro (Lagoa do Tamboril); Severiano Gonalves de Carvalho (Lagoa do Tamboril, herana da me Teresa Maria de Jesus); e outros. Com os bens de Feliciano Jos da Rocha819 inventariaram, em 1869, uma parcela de Mata, com uma casa, engenho, canaviais e outras benfeitorias, por dois contos de ris; outra de Retiro, com umas casas e benfeitorias, um conto e noventa e seis mil ris; pequenas glebas de Pedras, Paiol, Lagoa do Coelho, Contentas e So Domingos; 14 escravos, 60 rezes, seis bois mansos, cinco guas, quatro cavalos, uma mula, um alam817 818
APEB. Judicirio, 03.1259.1728.15. APEB. Judicirio, 02.0572.1024.11. 819 APEB. Judicirio, 03.1220.1689.05.
bique, uma arma Fulminas e ferramentas agrcolas. O tenente-coronel Ladislau de Barros Silva e sua mulher Ana Valentina de Barros Silva venderam a frao de Mata que herdaram de Francisco de Barros Silva, por 400 mil ris, em 1874, para Jos Joaquim de Andrade; o capito Jos Francisco de Brito e sua mulher Anglica Maria de Jesus negociaram um quarto das terras da fazenda, por um conto de ris, com o mesmo Jos Francisco de Andrade820. Mata Virgem Stio hoje em Riacho de Santana, arrendado em 1810, pela Casa da Ponte, para Luciano Pinto da Silva, por 10 tostes anuais, limitando com serra do Mocambo, Santa Rita e Brejinho, medindo meia lgua de comprimento e um quarto de largura, avaliado no tombamento fundirio de 1819, por 50 mil ris e vendido, em 1823, para Manoel J. Pereira. Melancias Stio hoje em Jacaraci, vendido por Antnio Matias Lobo para Alexandre Moreira da Rocha, que o partilhou, em 1839, com os 14 filhos ou descendentes destes, no esplio de sua mulher Joaquina Rodrigues de Jesus821, com engenhoca, rego dgua, casa de telhas e chcara, por 150 mil ris; cinco posses em Vargem Redonda, 178 mil ris; uma gleba de Caititu, na beira do rio Verde, com uma casa, 220 mil ris; Cedro, 100 mil ris; Banho, 100 mil ris; Tabua, 50 mil ris; 20 rezes e 17 eqinos; ferramentas de ferreiro, carpinteiro e sapateiro; e roda de fazer farinha com seu bolinete. Apenas ele declarou Melancias no registro de terras da freguesia de Gentio. Mocambo Fazenda na atual jurisdio de Igapor, citada por Joaquim Quaresma Delgado no incio do sculo XVIII, quando se encontrava arrendada por Joana Guedes de Brito para Jos Fernandes. Em 1808, a Casa da Ponte, atravs do procurador Joaquim Pereira de Castro, vendeu o stio Chapada, por 80 mil ris, pagos em quatro prestaes anuais, para Jos da Rocha Ribeiro, limitando com cabeceiras dos riachos do Quati e das Barrocas, Mocambo, Mangabeira, Antnio Luiz da Silva e Queimadas da Mangabeira822. Pertenceu, na maior parte, ao tenente Vitorino Xavier do Rego823, sendo partilhada com seus bens partilhados em 1829, pela viva Maria de Souza da Costa e o filho, Manoel Francisco Xavier do Rego. Avaliaram a parcela de Mocambo por 800 mil ris; o stio Bonito, com uma casa, engenho, rego dgua e canaviais, dois contos de ris;
APEB. Judicirio, SRJ/25/24. f. 258. Escritura de pblica, 7 ago., 1874. APEB. Judicirio, 02.0570.1022.01. 822 AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 23, f. 105. Escritura, 30 jan., 1808. 823 APEB. Judicirio, 02.0568.1020.07.
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fazenda Soledade, 200 mil ris; So Domingos e Bom Sucesso, 400 mil ris; 63 escravos, dos quais trs eram vaqueiros, um carpinteiro e trs rendeiras; 100 rezes em Bonito, avaliadas por 500 mil ris; 400 em Mocambo, dois contos de ris; e 200 em So Domingos e Bom Sucesso, um conto de ris; 12 bois de carro, 120 mil ris; cinco bestas muares, encangalhadas, 150 mil ris; 20 cavalos, 320 mil ris; 50 guas, 300 mil ris; cinco pastores, 40 mil ris; alm de 20 enxadas, 20 foices e 20 machados; um engenho e um canavial em Bonito; 10 cargas de algodo, vendidas para Simo Soares da Silva, por quatro mil ris; vrias jias, como um rosrio e fivelas de ouro; resfriadeira, copo, talheres e peas de montaria em prata. No registro de terras da freguesia de Caetit Mocambo pertencia ao tenente Manoel Francisco Xavier do Rego; e Chapada a Joaquim Fogaa da Silva e Jos Lopes da Silva. No esplio de Miguel Xavier do Rego824 a viva Amlia Rosa de Novais Rego inventariou em 1864, uma gleba de Mocambo por 300 mil ris e outra de Engenho do Meio, por 500 mil ris; seis escravos, cinco contos e 500 mil ris; 13 rezes, 195 mil ris; uma junta de bois, 40 mil ris; dois cavalos, 120 mil ris; um burro, 70 mil ris; um engenho velho, 30 mil ris; uma clavina, oito mil ris; uma espingarda espoleta, 20 mil ris; uma pistola, oito mil ris; jias de ouro, 69 mil ris; objetos de prata, 53 mil ris; de cobre, 73 mil ris; um selim, 28 mil ris; um par de bas, 30 mil ris; e um par de caixas, 15 mil ris. Metade de Mocambo, com a casa, no valor de dois contos, 250 mil ris integrou, em 1865, o esplio da viva Francisca Teresa do Rego825, com metade de Gado Bravo, por 200 mil ris; metade de Bonito de Cima, com uma casa velha, 550 mil ris; Engenho do Meio, com uma casa velha, um conto e 20 mil ris; uma parcela de Pedrs, 100 mil ris; um sobrado e um quintal em Canabrava, 340 mil ris; e uma casa em Bonito, 500 mil ris; 38 escravos, inclusive idosos e crianas. Avaliaram os de faixas etrias econmicas ativas entre 600 mil ris e um conto de ris; 80 rezes, um conto e 200 mil ris; 10 guas e uma poldra, 155 mil ris; dois burros 90 mil ris; dois poldros e dois cavalos, 120 mil ris, quatro jumentos, 80 mil ris; dois bois de carro e um de carga, 60 mil ris; uma roda de ralar mandioca e um bolinete, 10 mil ris; uma roa de uma quarta de mandioca, 20 mil ris; um realejo com trs cilindros concentrados, quatro mil ris; sete rodas de fiar, 14 mil ris; muitas jias e utenslios de ouro e prata, mveis e utens-
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lios domsticos, de montaria e agrrios. O valor do esplio somou algo mais que 31 contos de ris. A viva Ana Maria de Jesus inventariou, em 1877, no esplio de Joaquim Xavier do Rego826, outra parcela de Mocambo por 640 mil ris; casa com engenho em Rio do Tanque, 200 mil ris; fraes de Engenho do Meio, 250 mil ris; Bonito de Cima, 32 mil ris; Soledade, 90 mil ris; Pedrs, 30 mil ris; e Canabrava, 20 mil ris. Somaramse a esses valores, quatro contos e 800 mil ris, correspondentes a nove escravos; um conto e 200 mil ris, a 100 rezes; cinco guas solteiras e uma parida com um burro, 130 mil ris; cinco cavalos, 160 mil ris; cinco burros e uma mula, 285 mil ris; um jumento, 50 mil ris. Monte Alegre Terreno hoje em Riacho de Santana, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para o capito Jos Godinho de Pinho, por sete mil e 500 ris anuais, limitando com Santa Rita, Campos de So Joo, Chapada de Mossorongo e Riacho. Alongando-se por duas lguas e com a mesma largura, no tombamento fundirio de 1819 o procurador atribuiu-lhe o valor de 300 mil ris, vendendo-o, em 1832, para Joaquim Moreira dos Santos. Montes Altos Stio entre Boqueiro, P de Serra, Espinho, Terra Vermelha, Pau Preto, Tabua, Vargens das Pedras, Vereda do Jatob, gua Verde, Caititu, Vereda de Nossa Senhora e Lajinha, com duas lguas de comprimento e uma e meia de largura, arrendado pela Casa Ponte em 1803, para Rosa Maria da Conceio, Manoel Francisco Lopes e outros, por 20 mil ris anuais. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 600 mil ris Neste stio formou-se o povoado de Monte Alto, origem da cidade de Palmas de Monte Alto. Morrinhos Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, onde se passava com o gado que vinha da outra banda do So Francisco, arrendada aos padres de So Francisco de Tvora, no incio do sculo XVIII, como indicou Quaresma Delgado. A Casa da Ponte arrendou Morrinhos em 1806, para Eufrsia Sofia dos Anjos, por 10 mil ris anuais, limitando, com Boqueiro, da mesma rendeira; Jenipapo, do capito Joo Duarte Mecenas; Barro Vermelho; e rio So Francisco. Medindo duas lguas de comprimento e uma de largura, no tombamento territorial de 1819 avaliaram-na por 360 mil ris e venderam-na, em 1825, para Flix Jos Pereira de Castelo Branco.
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Morro do Chapu Fazenda nos atuais limites de Paramirim, Caetit e Tanque Novo, da qual se inventariou com os bens de Joo Moreira de Oliveira em 1852, uma frao comprada de Clemente Marques das Neves e Constncia Joaquina da Silva por 50 mil ris, com uma parcela de Morro do Chapu, uma frao da fazenda Bois, comprada do mesmo casal, 100 mil ris; uma gleba de Noruega, tambm adquirida do mesmo casal, 20 mil ris; 17 escravos, avaliados por trs contos 530 mil ris; nove rezes, uma mula e um cavalo, 198 mil ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, medindo duas lguas de comprimento e igual largura, extremando Canabrava, Umbaba, Vargem do Sal, Canabravinha, fazenda de Baixo, Pindobeiras e Mocambo, declararam propriedades comuns em Morro do Chapu: Antnio Francisco Duarte (herana), Bento Ferreira da Silva (herana do pai Prudncio Ferreira da Silva), Jos Protsio do Bonfim (herana), Manoel Joaquim Ferreira e Silva (herana dos pais Manoel Ferreira da Silva e Joana Maria de Jesus), Manoel Pedro dos Santos (herana dos pais Pedro dos Santos Freitas e Teresa Rodrigues) e outros. No registro da freguesia de Morro do Fogo (1857-1859), estremando com Mocambo, Noruega, Baixa, Cais e Vargem do Sal, declararam ttulos: Jos Gregrio Pereira (compra de Efignia Maria da Conceio); Maria Francisca de Jesus (meao do falecido marido Prudncio Ferreira da Silva); e Maria Vitria de Jesus. Morro do Fogo Terreno com meia lgua de comprimento, arrendado pela Casa da Ponte para Joo Machado de Figueiredo e vendido, em 1829, atravs do procurador Rodrigo de Souza Meira Serto, viva do arrendatrio, Genoveva Arouca da Rocha. Nele formou-se o povoado de mesmo nome, elevado a freguesia em 1843827. No registro de terras da freguesia de Morro do Fogo de 1857-1859, declarou-se proprietrio apenas Torquato Jos Alves (16 braas, comprada de Manoel Jos Pereira) e Manoel Jos Pereira (genro da compradora que, alm da herana de sua mulher, comprou as partes dos demais herdeiros: Antnio Joaquim Machado, Joaquim Jos Machado, Jos da Rocha Medrado e Jos Joaquim Machado). Morros (ou Morros de Antnio Lus) Fazenda em Caetit, entre So Simo, Umbuzeiro, Juazeiro, Tamboril, Tabuleirinho, Canabrava, Jatob e Cerquinha, que na transio para o sculo XIX, pertenceu a Antnio Lus da Silva. Em 1843 Manoel Barbosa da Silva vendeu uma gleba por 15 mil ris, para Clemente de Brito Gondim, que recebera na quitao de uma dvida de Joo Francisco de Brito Gondim, executada judicialmen827
te828. No registro de terras da freguesia de Caetit, de 1854-1859, declararam-se proprietrios em comum: Clemente de Brito Gondim, Jos Gomes de Arajo e Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso. Honorato de Oliveira Neves e o filho Clemente partilharam, em 1869, com o esplio de Ana Maria de Brito829, parcelas de Morro, no valor de 25 mil ris; Tamboril, 19 mil ris; Juazeiro, sete mil ris; e Jardim, cinco mil ris; uma escrava com uma filha de dois anos, um conto e 300 mil ris; 16 rezes, uma gua e um cavalo, 300 mil ris. Domingos Gonalves Fraga e sua mulher Bernardina de Jesus Fraga, herdeiros do padre Fraga, venderam, por 800 mil ris, em 1872, as posses que foram de John Duncan, o Tanque do Padre e outra, na estrada do Umbuzeiro, para Sabino Xavier Fagundes Cotrim e lvaro Xavier Fagundes Cotrim830. Mosquito Stio hoje em Boquira, arrendado pela Casa da Ponte, em 1803 para Antnio Ribeiro Campos, por dois mil ris anuais e, de presente, a Joo Ferreira da Silva, limitando com o capito Venceslau Dourado, Simo Ribeiro, Manoel da Cruz e Constantino Lopes. Medindo trs quartos de lgua de comprimento e de largura menos, atriburam-no, no tombamento fundirio de 1819, o valor de 90 mil ris e venderam uma parcela, em 1825, para Joo Ferreira da Silva e outra, em 1846, para Salvador Mesquita. Nossa Senhora da Vitria Stio inventariado em 1758, por 500 mil ris, no esplio de Matias Joo da Costa, transferido filha Josefa Gonalves, casada com Joo Gonalves da Costa. Este, depois de massacrar Imbors, Mongois e outros e expulsar ou submeter os sobreviventes, fundou, nessas terras, o arraial da Vitria, hoje Vitria da Conquista. Olho dgua Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, para Joo Batista Alves, por dois mil ris anuais, e de presente para Antnio da Mata Duarte Macedo. Estando por lotear se lhe no pode dar as suas verdadeiras extremas, o que faria aps o loteamento pelo descobridor, Joo Batista Alves, dando-lhe um ano livre para lotear e povoar e, depois de averiguada a distncia e as estremas se procederia a novo arrendamento e avaliao. Em 1816, o procurador da Casa da Ponte o arrendou para o mesmo Antnio da Mata, estremando com Cercado, na Porteira Velha; Chapada de Cima, no lugar chamado Mina de Prata; Tapera, de Domingos de Arajo, no alto da serra; e Lza-
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APEB. Judicirio, SRJ/25/19, f. 39. Escritura pblica, 1 abr., 1843. APEB. Judicirio, 02.0872.1341.04. 830 APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 81v. Escritura pblica, 20 mai., 1872.
ro de Faria, no alto da serra de So Nicolau. Com meia lgua de comprimento e muito menos de largura, no tombamento de 1819, avaliaram-no por 60 mil ris e venderam-no, em 1822, para Baltazar Ferreira Portela. Olho dgua do Boi Manso Stio na freguesia de Santo Antnio do Urubu, atualmente em Macabas, limites com Botupor, vendido pelo procurador da Casa da Ponte, Joaquim Pereira de Castro, em 1810, por 200 mil ris, para Leandro Soares Queirs, limitando com Curralinho, Boi Manso, serra da Suuarana, Algodes e P da Serra831. Olho dgua dos Cavalos Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1809, para Severo de Oliveira, por 10 tostes anuais, limitando com Manoel Jos de Miranda, Serra Geral, Olho dgua e Estreito. No tombamento fundirio de 1819, medindo meia lgua de comprimento e igual distncia de largura, avaliaram-no, por 50 mil ris. Olhos dgua Fazenda no atual municpio de Brumado, demarcada, com cinco lguas de comprimento e duas de largura, contornada por Correias, Campo Seco, So Gonalo e Traras, inventariada em 1814, no esplio de Maria Teresa do Bonfim832, por dois contos 37 mil ris; 16 escravos um dos quais capturado depois de 16 meses de fuga com idades variveis de dois a 80 anos e preos de 10 a 200 mil ris; 400 rezes, cujo valor no se declarou por serem penhoradas para pagamento de dvidas; dois cavalos, 21 mil ris; um costal de trs arrobas de algodo embruacado, oito mil ris; dois quartis de mandioca, 28 mil ris; 10 alqueires de feijo, 10 mil ris; uma roda de ralar mandioca, com bolinete, oito mil ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, medindo trs lguas de comprimento e duas e meia de largura, com uma parte na freguesia de Santo Antnio da Barra e outra na de Caetit, declararam propriedades em comum os: Aguiar, Alves da Silva, Bernardes, Cunha Ramaldes, Gonalves Lima, Lima Cerqueira e Souza Coelho. Paje Stio hoje em Boquira, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, para Bernardino Muniz, por dois mil e 500 ris anuais e, de presente, para Incia da Silva. Delimitava-se com Tiros, de Lino Vieira e outros, na Baixa do Capim; Boa Vista, de Agostinho Lopes e outros, na Ladeira do Mecnico; Guaribas, com Manoel de S, no Gil; e Campos do mesmo Bernardino Muniz, no alto da serra Geral. Medindo meia lgua de comprimento e igual distncia de largura, avaliaram-no, em 1819, no tombamento fun-
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AMRC. Livro de Notas do Tabelio, n. 26, f. 30 v. Escritura, 19 nov., 1810. APEB. Judicirio, 02.0566.1018.02.
dirio da Casa da Ponte, por 96 mil ris e venderam-no, em 1821, para Clemente Rodrigues Nogueira e outros. Palmeira Velha Stio na atualidade em Oliveira dos Brejinhos, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por 400 ris, para Jos Ferreira Mendes, limitando, com So Bruno, de Jos Ribeiro; Olho dgua, de Francisco Moreira; Chapada de Baixo, do tenente Antnio Gomes; e Cercado, de Domingos de Arajo. Medindo meio quarto de lgua de comprimento com muito pouca largura, avaliaram-no, em 1819, por 24 mil ris, vendendo-o, em 1838, para Jos de Mecenas Ferreira Mendes. O mesmo senhorio arrendou, tambm, em 1807, outra gleba de Palmeira Velha para Francisco Moreira Belo, por cinco tostes anuais, limitando, com a parte anterior; Chapada de Baixo, do tenente Antnio Gomes e outros; e Cercado, de Domingos Arajo. Medindo um quarto de lgua de comprimento e igual dimenso de largura, avaliaram-no, em 1819, por 30 mil ris e venderam-no, em 1823, para o padre Custdio de Souza Lemos. Palmeiras Stio hoje em Boquira, arrendado pela Casa da Ponte, em 1803, para Maximiliano da Silva, por mil e 500 ris anuais, e de presente para Eugnio Ferreira da Costa, limitando com Buraco, do capito Manoel de Souza Costa; Alto do Pau Ferro, de Antnio Soares dos Santos; serras de So Joo e de So Marco; e Vaca Morta, no Alto do Calumbi. Medindo um quarto de lgua de comprimento e tambm de largura, atriburam-lhe, em 1819, o valor de 50 mil ris e venderam-no, em 1846, para Raimundo e Jos Antnio. Parateca Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, na margem direita do rio So Francisco, citada no roteiro de Quaresma Delgado, da qual pagava rendas o Dr. Joo Calmon. O conde da Ponte e sua mulher venderam Parateca e Rio das Rs, atravs de Joaquim Pereira de Castro, em 1808, por um conto e 200 mil ris, em quatro pagamentos anuais, para Antnio Pereira Pinto, representado pelo procurador Anacleto Teixeira de Arajo833. Parateca pertenceu, no final do sculo XIX e incio do seguinte, a Dr. Deocleciano Pires Teixeira, em cujo esplio se inventariou em 1931. Passagem da Raiz Stio hoje em Urandi, com uma lgua de comprimento e largura incerta, arrendado pela Casa da Ponte, em 1817, por dois mil ris anuais para Manoel Jos Calado e avaliado no tombamento de 1819 por 150 mil ris. No registro de terras da freguesia do Gentio, Feliciano Jos da Rocha declarou-se titular, limitando com Pal-
meiras, Duas Barras, Carro e Guaribas, que o partilhou com a enteada Natria de Almeida Rocha, no esplio da mulher Guilhermina Moreira da Rocha834 em 1862, quando lhe atriburam o valor de 600 mil ris; a uma posse em Paiol, 290 mil ris; uma frao de Lagoa do Coelho, com uma casa, 95 mil ris; e glebas menores em Contendas, So Domingos e Palmeiras. Passagem do Meio Fazenda na atualidade em Urandi, arrendada pela Casa da Ponte, em 1806, para Feliciano Jos Jorge, por 10 tostes anuais, medindo meia lgua de comprimento e um quarto de lgua de largura, limitando pela barra do riacho Capim Puba, Riacho da Capoeira, Duas Barras e Riacho Seco. Avaliada no tombamento de 1819 por 50 mil ris e vendida depois, para Matias Soares Barbalho. Em 1814 Joaquim Medeiros de Carvalho inventariou uma parcela, no esplio da mulher Lourena Maria de Jesus835. Em 1887 Joaquim Jos de Novais inventariou, no esplio da mulher Maria Justina de Vasconcelos836, uma parcela de Passagem da Raiz, com uma casa de uma porta e quatro janelas de frente, por 685 mil ris; glebas menores de Poo, Nag, Castanho e Olho dgua do Buraco; quatro escravos, todos apresentados como lavradores, avaliados os homens por 700 e 800 mil ris e as mulheres, 500 mil ris; 60 rezes, 900 mil ris; quatro bois mansos, 100 mil ris; trs cavalos, 95 mil ris; um poldro, 25 mil ris; e um burro velho, 50 mil ris. P da Serra Fazenda nos atuais limites de Tanque Novo, Macabas e Botupor, citada por Joaquim Quaresma Delgado, quando estava para Antnio de Souza da Costa. Manoel de Saldanha da Gama manteve o arrendamento de P da Serra e Vargens com o mesmo rendeiro837, inclusive o retiro Quebra Focinhos, cujas posses se transferiram, com seu esplio, em 1738, aos filhos, Amador de Souza da Costa e Jos de Souza da Costa, com 23 escravos de diferentes idades e valores; 50 guas, avaliadas por 250 mil ris; 12 poldros, 170 mil ris; 13 cavalos, 180 mil ris; 12 rezes, 30 mil ris; trs porcos, oito mil ris; plantaes de mandioca e bananeiras, 125 mil ris. Em 1805, a Casa da Ponte arrendou o stio Curralinho, da fazenda P da Serra, com uma lgua de comprimento e uma de largura, para Jacinto Pereira, por quatro mil ris anuais, limitando com Caetano Ferreira de Carvalho e Jos Nunes da Silva, serras de Santa Ana e da Boa Vis833
APEB. Judicirio, SRJ/25/1. Livros de Notas Carinhanha, 1826-1831, f. 14. Traslado de escritura de compra e venda, obrigao e hipoteca, 8 abr., 1808. 834 APEB. Judicirio, 02.0878.1347.12. 835 APEB. Judicirio, 02.0576.1028.08. 836 APEB. Judicirio, 03.1194.1663.13. 837 AMRC. Inventrios, E. 1, P. 1, C. 2, M. 4, D. 31.
ta. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram essa gleba por 120 mil ris, embora fosse vendida pelo procurador Joaquim Pereira de Castro, desde em 1809, ao mesmo rendeiro. Em 1806 o mesmo senhorio arrendou Riacho do Peixe, da fazenda P da Serra, limitando com Queimadas, de Jos Antnio do Rego; Francisco Gomes de Oliveira; e Boqueiro, de Lus Ferreira Gomes; por mil e 500 ris anuais, para Flix da Silva Gomes. No tombamento fundirio de 1819, medindo de largura trs tiros de espingarda e de fundo meia legoa, avaliaram-no por 36 mil ris e venderam-no, em 1839, por 40 mil ris, para Manoel Pereira Pinho. Nesse mesmo ano de 1806, a Casa da Ponte arrendou Aras, da fazenda P da Serra, para Jos Alves de Oliveira, por mil e 250 ris anuais, delimitando com P da Serra, de Silvrio Antnio do Rego e outros; Buriti, de Joaquim de Oliveira Cortes; Juazeiro, de Jos Antnio do Rego; e So Jos, de Maria Francisca. Media um quarto de lgua de comprimento e uma lgua de fundo, sendo avaliado no tombamento de 1819, por 60 mil ris e vendido pelo procurador Jos Brando, em 1828, para Lauriana Nunes, cuja venda foi confirmada, em 1845, pelo procurador Plcido de Souza Fagundes. Ainda em 1806 a Casa da Ponte arrendou outra parcela de Pe da Serra, com meio quarto de lgua de cumprimento e uma lgua de fundo, para Jos Alves de Oliveira, por 10 tostes anuais, limitando com Jacinto Pereira da Silva, Brejo do Meio, Curral Velho, de Francisco Luciano e Algodes, de Jos da Silva Dourado. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram essa gleba por 50 mil ris, sendo vendida, no mesmo ano, para o capito Plcido de Souza Fagundes. Em 1816 a mesma casa arrendou mais uma parcela de P de Serra, por 800 ris anuais, para Domingos Jos Gonalves e Geraldo Jos do Rego, limitando com Maria Manoela, na serra do Juazeiro; Buriti, de Joaquim de Oliveira Cortes; Juazeiro, do capito Jos Antnio do Rego; e serra Geral. Medindo um quarto de lgua de comprimento e uma lgua de largura, avaliaram-na, em 1819, por 80 mil ris e venderam-na, em 1826, para Geraldo Jos do Rego. P do Morro Fazenda s margens do rio Gavio, vendida em 1799, pelo capito Modesto Vaz da Costa, sua mulher Guardiana Pereira de Jesus e Maria dos Anjos, ao padre Jos Ribeiro de Faria, por dois contos e 800 mil ris, pagando 400 mil ris no ato da compra e o restante em parcelas anuais de 400 mil ris, com um ano livre838, No stio Paca, da fazenda P do Morro, residia o rendeiro Crispim Gonalves de Azevedo, cuja
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AMRC. Livros de Notas do Tabelio, n. 2, p. 147. Escritura de compra e venda, 29 abr., 1799.
viva, Helena Maria da Conceio, inventariou, em 1815, cinco escravos, com preos entre 40 e 150 mil ris e seis rezes por 18 mil ris839. Inventariaram o stio Santana da Roda, da fazenda P do Morro, em 1838, no esplio de Manoel Cndido de Farias840, com uma casa, por 360 mil ris; nove escravos; dois cavalos e um poldro, 90 mil ris; roas com algumas canas e legumes, com rego dgua e aude, 100 mil ris; um engenho, 40 mil ris. O padre Jos Ribeiro de Faria doou me Romana Maria dos Anjos metade das terras que possua em P do Morro e em seu testamento, de 1849, reclamou dos irmos e cunhados, alegando roubos e prejuzos. P do Morro Stio do qual a Casa da Ponte arrendou uma parcela, em 1807, para Manoel da Costa e Almeida, por cinco tostes anuais e, de presente, para Matias Pereira de Oliveira. Medindo um quarto de comprimento e muito menos de largura, avaliaram-no, em 1819, por 30 mil ris, valor pelo qual venderam-no para Amaro Xavier. O mesmo senhorio arrendou a segunda parte, na mesma poca, para Joo Ribeiro da Fonseca, por 300 ris anuais e, de presente, para Joaquim Pereira Salgado, estremando com So Tiago, de Eusbio Simes, na Jabuticaba e Serra do Felizardo. Medindo 30 braas de comprimento e muito menos de largura, no tombamento de 1819 avaliaramna por 16 mil ris. A terceira parcela o mesmo senhorio arrendou, em 1807, para Joana Carvalho, por 10 tostes anuais e, de presente, para Matias Pereira de Oliveira. Medindo um quarto de lgua de comprimento e meio quarto de largura avaliaram-na, em 1819, por 36 mil ris e venderam-na tambm para Amaro Xavier. A quarta parte P do Morro de Joana de Carvalho a Casa da Ponte arrendou, em 1807, para Bonifcio Jos do Esprito Santo, por 800 ris anuais, medindo um quarto de lgua de comprimento e de largura metade disto. Avaliaram-na, em 1819, por 30 mil ris. Pedra Branca Stio no serto de Rio das Contas, arrendado com Santa Rosa e outros, dos quais Isabel Maria Guedes de Brito requereu, em 1722, embargo judicial das partes e quinhes, inclusive do gado, por ser o arrendatrio, seu procurador Gaspar de Lima
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Dantas devedor das rendas de muitos anos, e haver feito venda e revenda do gado indevidamente841. Piripiri Fazenda nos atuais limites de Cordeiros e Pirip, da qual se desmembraram os stios Tapera e Guar, arrendados pela Casa da Ponte, em 1808, por 10 tostes, para Andr da Costa, limitando com Jos Gonalves, Agostinho Gonalves, Manoel de Souza Marques, capito Estevo (Incio da Costa) e Constantino Dias. No Tombamento de 1819 avaliaram-nos por 60 mil ris, vendendo-os para Manoel Jos dos Santos e Joaquim da Costa Vale. O capito Estevo Incio da Costa doou Barra do Piripiri com duas lguas de comprimento e meia de largura, em causa dotis, filha Maria, ao se casar com Bernardino Ferreira de Carvalho. Vrias pessoas declararam-se proprietrias, no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, a maioria adquirida por compra, predominando entre os vendedores, as famlias: Gonalves da Paixo, Dias Gonalves, Ferreira de Carvalho; e entre os compradores, os Alves Moreira, Dias do Vale, Dias Soares. Eusbio Gonalves Dias inventariou o stio Passagem do Gavio, em 1846, no esplio de Rosria Maria da Conceio842, por 90 mil ris; uma parcela da fazenda Sucesso, 60 mil ris; uma casa em Passagem de Santana e outra no arraial de Santo Antnio da Barra, 90 mil ris; quatro escravos, um conto e 90 mil ris; 12 rezes, 120 mil ris; dois cavalos e um poldro, 66 mil ris. Joaquim Jos dos Santos Campos inventariou outra gleba de Piripiri, em 1848, no esplio de Rosa Maria de Jesus843, com um sexto da fazenda Santo Antnio, incluindo uma casa de telhas, com oito portas, duas janelas e uma parcela da fazenda Neblina, por 112 mil ris; quatro escravos, 815 mil ris; 12 vacas paridas, 196 mil ris; 19 rezes, 190 mil ris; um boi manso, 19 mil ris; um cavalo e um poldro, 46 mil ris; uma gua e uma poldra, 32 mil ris; um pedacinho de cana, quatro mil ris. Poo Dantas Fazenda nos atuais limites de Igapor, Riacho de Santana e Matina estremada com Gro-Mogol, Pedras, Ponta da Serra do Ajuste e Olho dgua do Brejinho da Conceio, inventariada por um conto e 500 mil ris, em 1853, no esplio de Ana Anglica de Jesus, viva de Francisco de Brito Gondim. Declarada nos registros de terras das freguesias de Caetit e de Monte Alto pelo esplio Ana Anglica de Jesus e por
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AMRC. Tabelionato. Livro de Notas n. 6 (1738-1742), f. 113. Mandado que se passou a requerimento de D. Isabel Maria Guedes de Brito, para fazer embargo em gados e rendas dos stios Santa Rosa, Pedra Branca e outros, 29 set. 1722. 842 APEB. Judicirio, 04.1461.1930.24.
Antnio Pereira da Silva. Em 1872, Antnio Rodrigues Rebouas e sua mulher Ana Rosa Constana de Jesus venderam uma parcela de Poo Dantas, por 200 mil ris, com uma casa, currais e mangas, que compraram de Librio de Brito Gondim, para Maria Teresa de Jesus844. Vicente Pinheiro de Azevedo inventariou, em 1881, uma frao, no esplio de sua mulher Francisca Anglica de Brito Gondim. Poo do Peixe Fazenda no arraial das Almas, que no incio do sculo XIX pertencia aos irmos Pinheiro Pinto (Francisco, Antnio, Silvrio e Joaquim). Em 1811 Silvrio Pinheiro Pinto inventariou uma gleba no esplio de Catarina de Sena845, Joaquim Pinheiro Cotrim inventariou, em 1847, outra frao, no esplio de Marciana Rosa das Virgens846, com uma casa de telha, por 47 mil ris; uma escrava por 500 mil ris; trs vacas paridas, 45 mil ris; um cavalo e um poldro, 70 mil ris. No registro de terras da freguesia do Gentio, contornando por Aras, Gado Bravo, So Joo e Tau, declararam glebas indivisas: Joaquim Jos de Souza (compras de Francisco Fernandes da Cunha, Francisco Alves Botelho e Antnio Pinheiro Pinto); Ladislau Antnio de Almeida (herana dos pais Eduardo Antnio de Almeida e Maria Idalina das Virgens, do sogro Joaquim Pinheiro Pinto e do irmo Hermelino Antnio); Liberato Matias da Silva (heranas dos sogros Eduardo Antnio de Almeida e Maria Idalina das Virgens e do cunhado Hermelino Antnio de Almeida); e outros. Inventariaram em 1861, no esplio de Antnio Loureno de Almeida847, trs pequenas glebas de Poo do Peixe, por pouco mais de 60 mil ris; uma escrava, por 700 mil ris; e 10 rezes, 170 mil ris. Com os bens de Salvadora Fernandes Quadros partilharam, em 1881, mais uma gleba de Poo do Peixe, no valor de 90 mil ris; outra de Lagoa, com roda de ralar mandioca, 80 mil ris e uma casa no arraial de Almas, 200 mil ris; quatro escravos, um conto 280 mil ris; 80 rezes, um conto e 200 mil ris; seis cavalos e trs poldros, 270 mil ris; quatro guas e quatro poldras, 180 mil ris e 11 jumentos, 300 mil ris. Pombas Stio hoje em Boquira, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, por mil e 500 ris, para Simplcio Xavier Dourado e, de presente, para Antnio de Arajo Barreto, limitando com Volta do Riacho; Boa Vista; Morro das Pombas, e extremas de Pedro da
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APEB. Judicirio, 04.1463.1932.06. APEB. Judicirio, SRJ/25/17. f. 66. Escritura pblica, 22 dez., 1872. 845 APEB. Judicirio, 02.0563.1015.09. 846 APEB. Judicirio, 03.1229.1698.11. 847 APEB. Judicirio, 03.1190.1659.03.
Silva. No tombamento fundirio de 1819, medindo meia lgua de comprimento e tambm de largura, avaliaram-no por 60 mil ris. Porteira Velha Stio no atual municpio de Jacaraci, com meia lgua de comprimento e um quarto de largura, arrendado pela Casa da Ponte em 1807, por 10 tostes, para Francisco Alves Muniz, limitando pelo rio da Barra, Sucesso, Vargem Redonda, e Tapera. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 36 mil ris. Quatis Fazenda no distrito de Santo Antnio da Barra, da qual o capito Francisco Xavier da Costa comprou uma parte da Casa da Ponte por 40 mil ris, inventariada pelo mesmo valor, em 1855, no seu esplio. Em 1856 Joaquim Ferreira de Oliveira e sua mulher Clemncia Maria de Jesus venderam uma frao de Quatis, por 200 mil ris, para Antnio Francisco Torres848. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra apresentaram-se como proprietrios: Manoel da Exaltao Ferreira (meia lgua de comprimento e tambm de largura); Timteo Manoel de Almeida (compras, medindo 800 braas de comprimento e 85 de largura); e outros. Quebradas Fazenda hoje em Lagoa Real, entre Gameleira das Frotas, Lajes, Juazeiro e Lagoa, citada em 1731-1734, no roteiro de Quaresma Delgado e, em 1758, na Planta Corogrfica da estrada de Monte Alto ao porto de So Flix. A viva Maria Feliciana de Brito Gondim inventariou uma poro de Quebradas por 590 mil 545 ris, em 1839, como nico imvel do consorte Joaquim Xavier de Carvalho Cotrim849, com 15 escravos, jias e utenslios como trs tachos de cobre, duas camas de vento, um par de caixas encouradas, um jogo de pistolas, uma arma de fogo grossa e outra fina. Maria Rita Xavier inventariou, no esplio do marido Jos Alves Caldas850, em 1844, metade de Quebradas, comprada de Joo Xavier de Carvalho Cotrim, com uma casa de adobes e telhas, por um conto 750 mil ris; 11 escravos de idades e preos diversos; 100 rezes, 800 mil ris; seis cavalos, 125 mil ris; oito guas, 96 mil ris. No registro de terras de 18541859 Manoel Jos da Silva e Joaquim da Silva Lima declararam-se proprietrios. Raposa Fazenda na Repartio de Santo Antnio da Barra, freguesia de Nossa Senhora da Conceio do Rio Pardo, inventariada por Joaquim da Costa Ramos, no esplio de Maria Francisca da Conceio851. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, medindo cinco quartos de lgua de comprimento e duas lguas de largu848 849
APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 8. Escritura pblica, 14 nov., 1856. APEB. Judicirio, 02.0533.0979.06 e 08.3505.07. 850 APEB. Judicirio, 02.0578.1030.06.
ra, declararam partes comuns: Anselmo Ribeiro de Oliveira (heranas e compras de Antnio da Rocha Silva, e Belarmino da Silva Azevedo); Antnio Alves de Brito (compra do padre Francisco Rodrigues Dias); Joo Gonalves de Brito (compra de Antnio Matias Lobo); Jos Antnio Pereira (compra do padre Francisco Rodrigues Dias); Joo Jos Delgado (120 braas compradas do padre Francisco Rodrigues Dias); e outros. Em 1859 Joaquim Alves Pereira e sua mulher Pulcheria Maria de Jesus venderam uma parte para Severino Antnio de Miranda, por 40 mil ris852. Raposa Stio nos atuais limites de Boquira, Ibitiara e Ibirapitanga, arrendado pela Casa da Ponte em 1806 para Joaquim Rodrigues Pinto, Manoel dos Santos Pereira e outros, limitando pelo rio Paramirim; Pedrinhas; Tapera, de Francisco Casco; Vargem Bonita, de Sofia Dourado do Monte; So Dimas, de Romo Rodrigues Paes e Antnio Julio Rodrigues. Medindo meia lgua rio acima e de fundo uma lgua e meia, avaliaram-no, em 1819, por 120 mil ris e venderam-no, em 1838, para Manoel dos Santos Pereira, Francisco Cavalcante de Oliveira e Simplcio Teixeira da Silva. Ressaca Fazenda margem direita do riacho de mesmo nome, no atual municpio de Pirip, inventariada em 1758, no esplio de Matias Joo da Costa e transferida hereditariamente para o filho Leonardo Gonalves da Costa. Em 1799, medindo duas lguas de comprimento e sem demarcao de fundos, por serem muito extensos, a viva Ana Maria da Silva inventariou, por 300 mil ris, no esplio de Domingos Pereira Pinto853, com trs escravos, avaliados por 112 mil ris; 60 rezes, 180 mil ris; cinco cavalos e um poldro, 81 mil ris; duas guas, oito mil ris. O prncipe austraco Maximiliano de Wied-Neuwied, que passou por Ressaca no incio do sculo XIX, definiu-lhe como pequena localidade em que trs famlias de homens de cor cultivavam lavouras e criavam gado854. Em 1836, quando Joo Germano da Costa moveu Ao de Nulidade de Partilha, uma gleba pertencia a Manoel Jos da Costa. O capito Leonardo Gonalves da Costa possua uma parcela em 1875. Retiro Fazenda hoje em Pinda, declarada nos registros de terras da freguesia do Gentio por: Antnio Fernandes Baleeiro (Mangabeira, comprada de Manoel Borges de Carvalho); Domingos Soares dos Santos Barbalho (compra de Joaquim de Souza Freitas); Jos Soares Barbalho (uma lgua, comprada de Lcio Ribeiro); Ladislau Borges de
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APEB. Judicirio, 03.1259.1728.11. APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 49. Escritura pblica, 30 ago., 1859. 853 APEB. Judicirio, 03.1216.1685.09. 854 WIED, Maximilian, Prinz von. Op. cit. p. 403.
Carvalho (herana da me Jernima Alves de Oliveira); Manoel Ribeiro da Cruz (compra de Antnio Carvalho da Fonseca); Manoel Rodrigues de Santana (compra de Jos Rodrigues de Santana); Sebastio Ribeiro da Cruz (herana da me Joana Maria de Jesus); e outros. A viva Antnia Maria Aranha inventariou, em 1864, no esplio de Manoel Monteiro de Arajo Braga855, uma parcela de Retiro com uma casa em Feliciana, por 340 mil ris; uma gleba de Barrigudas, 150 mil ris; outra de Gerais das Tabocas, 100 mil ris; cinco escravos, dois contos 850 mil ris; sete rezes, 160 mil ris; trs cavalos, 140 mil ris; um rosrio e outros objetos de ouro, 218 mil ris. Joaquim Jos de Faria e sua mulher Amlia Maria Ladeia de Faria venderam, em 1863, a parte que herdaram do pai Filipe Rodrigues Ladeia, por dois contos de ris, com glebas em Umburanas, Mato Grosso e Santa Rosa da Pedra para o capito Jos Justino Gomes de Azevedo856. Lucdio Ribeiro da Cruz inventariou, em 1868, no esplio de Raquel Maria de Jesus857, uma parcela de Retiro e um rancho coberto de cascas de rvores, com sete portas e uma janela, por 50 mil ris; trs escravos, dois contos e 400 mil ris; 50 rezes, 600 mil ris; duas guas paridas e duas poldras, 66 mil ris; um burro, 80 mil ris; e uma roda de fiar, cinco mil ris. Riacho Fazenda atualmente entre Iuiu e Malhada, arrendada por Joana da Silva Guedes de Brito ao Dr. Joo Calmon, citada por Joaquim Delgado Quaresma. Inventariada em 1823, com Canabrava, por quatro contos de ris, no esplio de Nazria Borges de Carvalho, pelo vivo Bento Garcia Leal. Riacho (ou Riacho do Manoel) Fazenda hoje em Lagoa Real, com cinco lguas de comprimento, que pertenceu, no incio do sculo XVIII, a Manoel de Arajo de Arago858. Em 1733 Manoel de Souza Coimbra, talvez arrendatrio ditou seu testamento em Riacho do Manoel, deixando gado e escravos. Seria administrador de fazendas do tenente-coronel Incio da Cruz Prates, em cujos domnios declarou possuir gado. A viva Ana Maria da Assuno inventariou essas terras em 1817, no esplio do consorte Antnio de Brito Gondim859, com uma casa de oito portas e seis janelas, coberta com telhas por 880 mil ris; uma poro de terras da fazenda Campo Seco, herana do sogro Miguel Loureno de Almeida, por 350 mil ris; 23 escravos, 350 reses; dois bois de carro, seis cavalos, 13 guas, duas roas de algodo, uma das quais em sociedade com Jos
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APEB. Judicirio, 02.0869.1339.05. APEB. Judicirio, SRJ/25/03, f. 76. Escritura, 5 mai., 1869. 857 APEB. Judicirio, 03.1229.1698.07. 858 Sobre Manoel de Arajo de Arago, ver Lagoa Real.
Antnio de Brito; uma roa de mandioca, em sociedade com os herdeiros; quatro rodas e um bolinete de fazer farinha de mandioca, um tear, um forno de cobre de torrar farinha, um carro, jias, mveis, utenslios domsticos e agrcolas. No registro de terras da freguesia de Santa Ana de Caetit declararam propriedades em Riacho do Manoel: Joo Duncan (Trs Irmos, herana da sogra que vendera, em 1862, por 300 mil ris para Gregrio Ferreira de Souza Barros860); Florinda de Barros Silva (Caldeires); Francisco de Souza Spnola e Ladislau de Barros Silva. Em 1867 Joo Duncan e Ladislau de Barros Silva compraram a parte de Manoel de Jesus Brito e sua mulher Ana Maria de Oliveira e, atravs de Ao de Demarcao e Reviso de Marcos, chamaram conciliao Ana Rita de Jesus, viva de Jos da Costa Teixeira e filhos, Joo Nepomuceno da Costa e filhos, Antnio Pinheiro de Azevedo e filhos, e os filhos da primeira mulher de Silvrio Pinheiro de Azevedo. Francisco de Souza Spnola e sua mulher Maria Cassiana de Barros Silva venderam, em 1870, a herana paterna e do sogro em Caldeiro, por um conto de ris, para Florinda de Barros Silva861. O tenente-coronel Ladislau de Barros Silva e sua mulher Ana Valentina de Barros Silva venderam o que possuam em Riacho, com uma parte em comum da So Francisco, por oito contos de ris, em 1872, para Florentino de Cerqueira Maia862. O capito Gregrio Ferreira de Souza Barros, sua mulher Maria Pereira de Castro, Sebastio de Souza Frana e sua mulher Joana Spnola de Souza Frana partilharam o stio Casa de Telha, em 1883, que possuam por compra e herana da me Florinda de Barros Silva. Riacho Dantas Fazenda nos atuais limites de Igapor, Macabas e Riacho de Santana, arrendada pela Casa da Ponte, em 1807, por dois mil ris anuais, para Incio Vieira de Andrade, limitando com Pajeu, de Manoel da Rocha Ribeiro; Gerais do Pedreiro, do reverendo Joo Teixeira Leite; Mocambo, de Vitorino Xavier do Rego; e Santo Antnio, de Joaquim de Santana, medindo meia lgua de comprimento e uma lgua de largura, avaliada, em 1819, por 80 mil ris. Vitorino Xavier do Rego inventariou, em 1810, uma posse em Riacho Dantas, com o patrimnio do irmo Incio Vieira de Andrade863, um escravo de campo ou vaqueiro, avaliado por 180 mil ris e outro de roa, por 160 mil ris; 51 rezes, 153 mil ris; quatro cavalos, 42 mil ris; quatro guas e duas poldras,
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APEB. Judicirio, 02.0587.1039.07. APEB. Judicirio. SRJ/25/20, f. 88. Escritura pblica, 29 jul., 1862. 861 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 187. Escritura pblica, 10 fev., 1890. 862 APEB. Judicirio, SRJ/25.24, f. 50. Escritura pblica, 7 fev., 1872. 863 APEB. Judicirio, 02.0563.1015.07.
16 mil ris; meia carga de algodo em l, por embruacar, 18 mil ris. Tudo se transferiu para a filha Incia Vieira, que se casaria com Eleutrio Mendes de Oliveira, declarante de Riacho Dantas no registro de terras da freguesia de Nossa Senhora Me de Deus e dos Homens de Monte Alto. Riacho das Mamonas Stio arrendado pela Casa da Ponte em 1802, por trs mil ris, para Pedro Martins da Costa e, de presente, para Gonalo Moreira Lopes, limitando com Palmeira Velha, fazendas Paramirim e Lavras, medindo um quarto de lgua de comprimento e tambm de largura, avaliado em 1819 por 80 mil ris e vendido, em 1822, ao padre Custdio de Souza Lemos. Riacho Seco Stio nos atuais limites de Riacho de Santana, Palmas de Monte Alto, Bom Jesus da Lapa e Malhada, do qual a Casa da Ponte arrendou uma parcela, em 1807, para o capito Francisco Xavier da Costa, por sete mil e 500 ris anuais, limitando com Urtigas, Parateca e Rio das Rs. No tombamento fundirio de 1819, medindo uma lgua e meia de comprimento e largura incerta, avaliaram-no, por 180 mil ris. O mesmo senhorio arrendou outra parcela de Riacho Seco para Incio Pereira da Silva, em 1816, por cinco mil ris anuais, estremada com Furados do Espinheiro, Furados Grandes, terras arrendadas ao capito Francisco Xavier da Costa, Batalha, Curral da Vargem, Riacho e Canabrava, medindo trs lguas de comprimento e duas de largura, avaliada, em 1819, por 250 mil ris. Rio das Antas Fazenda hoje em Ibiassuc, declarada no registro de terras da freguesia do Gentio por: Ana e Emlia (herdeiras de Domingos Pereira de Magalhes); Ana Ferreira de Jesus (Aoita Cavalos, que comprara); Joaquim Antnio de Castro (Boa Vista), Joaquim de Souza Lima (compras do irmo Francisco de Souza Lima Frade e de Domingos Pereira de Magalhes Jnior). A viva Carlota Herculana Pereira de Azevedo inventariou, em 1867, no esplio de Joo Antnio Pinheiro de Azevedo864, uma poro de Rio das Antas, com metade do stio Bacupari e uma casa no Olho dgua, por 800 mil ris; e glebas de Taquaril, Boa Vista e Lagoa, por 100 mil ris; alm das fazendas Escuro, Saco, e Tabua, em Januria - MG, por um conto 840 mil ris. Em Caetit, Joo Antnio possua 30 rezes, cinco burros e dois cavalos; em Januria, 250 rezes, 25 guas, quatro cavalos e sete jumentos.
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Rio das Palmeiras Fazenda entre Cacul, So Joo, Chafariz e Cochos, que no registro de terras da freguesia do Gentio, apenas Joo Pinheiro de Azevedo declarou propriedade que comprara de Jos Vicente de Souza. Inventariaram duas glebas por 128 mil ris, em 1869, no esplio de Venceslau Alves Fernandes865, com duas glebas de Rio das Palmeiras e uma casa de telhas, com oito portas, no Bezerro Bravo, por 120 mil ris; duas vacas paridas e uma solteira, 54 mil ris; dois garrotes, 16 mil ris; dois cavalos, 60 mil ris; seis cabras, seis mil ris; um capado magro e um barro, 10 mil ris; quatro porcas e cinco leites, quatro mil e 500 ris; uma roa de mandioca, oito mil ris; um bolinete e forno de fazer farinha, 12 mil ris; uma garrucha e uma pistola cinco mil ris; mveis, utenslios e instrumentos de trabalho. Rio das Rs Fazenda na foz do rio de nome idntico, arrendada por Joana da Silva Guedes de Brito por Pascoal Pereira, citada por Joaquim Delgado Quaresma em 17311734. Vendida com Parateca, pela Casa da Ponte, em 1808, por um conto e 200 mil ris, em quatro pagamentos anuais, atravs do procurador Joaquim Pereira de Castro, para Antnio Pereira Pinto, por seu procurador Anacleto Teixeira de Arajo866, Antnio Pereira Pinto transferiu Rio das Rs e Parateca, em 1813, ao capito Anacleto Teixeira de Arajo e este aos herdeiros, entre os quais o major Francisco Teixeira de Arajo e Constana Teixeira de Arajo, casada com Antnio de Souza Spnola. Trs filhas desse casal Mariana, Maria Rita e Ana de Souza Spnola Teixeira casaram-se, sucessivamente, com o tenente-coronel Deocleciano Pires Teixeira. O major Francisco Teixeira de Arajo, sem descendncia, legou suas terras dos baixios do So Francisco, s sobrinhas867, sendo inventariadas, inclusive Rio das Rs, em 1931, no esplio de Deocleciano Pires Teixeira. Rio do Antnio Stio vendido com a denominao de Riacho do Antnio, vendido pelo capito-mor Antnio Fernandes Amado e sua mulher Catarina Guedes de Brito, em
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APEB. Judicirio, 03.1220.1689.02. APEB. Judicirio, SRJ/25/1. Livros de Notas, Carinhanha, 1826-1831, f. 14. Traslado de escritura de compra, venda, obrigao e hipoteca, 8 abr., 1808. Doc. gentilmente cedido por Jos Ricardo Moreno de Pinho. 867 SANTOS, Helena Lima. Caetit, pequenina e ilustre. [s. n.]. (Com. e imp. Salvador: Escola Grfica N. S. do Loreto), 1976. p. 85, 86. Ver, preferencialmente, 2. ed. ampliada [s. n.]. (Brumado: Tribuna do Serto, 1995, p. 122-123; 231-241); LIMA, Hermes. Ansio Teixeira, estadista da educao. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978. p. 24, 28; NEVES, Erivaldo Fagundes. Sucesso dominial e escravido do Rio das Rs. Sitientibus. Feira de Santana, n. 21, p. 117-142, jul./dez., 1999; PINHO, Jos Ricardo Moreno de. Escravos, quilombolas ou meeiros? Escravido e cultura poltica no mdio So Francisco (1830-1888). 2001. Dissertao. (Mestrado em Histria) Universidade Federal da Bahia, Salvador.
1739, ao tenente-coronel Incio da Cruz Prates, por 320 mil ris868, contornando por Barra da Maria Preta, Santa Rosa e Barra de So Domingos. Em 1849 Maria da Silva Pimentel inventariou, no esplio de Luiz da Cruz Prates869, uma lgua e um quarto de Rio do Antnio e duas lguas da fazenda Jacar, por trs contos e 900 mil ris, com uma casa em Peixe Gordo; Cacul, por dois contos, 201 mil ris; nove escravos, dos quais, um vaqueiro, trs roceiros e uma fiandeira, todos por trs contos e 90 mil ris; uma vaca, oito mil ris; cinco cabras e um bode, seis mil ris; seis cavalos, guas e poldros, 81 mil ris; mveis e utenslios, 24 mil e 200 ris. Antnio da Silva Prates, tutor dos prdigos Luiz da Cruz Prates e sua mulher Maria da Silva Pimentel vendeu, em 1849, uma gleba empresa Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso, por um conto de ris; e Bernardino de Brito Gondim vendeu, em 1852, uma parcela que comprara de Lus da Cruz Prates, tambm para a Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso, por um conto 499 mil ris870. No registro de terras da freguesia de Caetit declararam partes comuns: Carlos Antnio Garcia Leal (So Joo do Rio do Antnio, herana paterna); Joaquim de Souza Marques (So Joo do Rio do Antnio, herana do sogro); Joaquim Rodrigues da Silva (trs partes); Manoel Jos Gonalves Fraga (uma lgua e um quarto, que comprara); Teresa da Souza Marques (So Joo do Rio do Antnio herana da av); e outros. Inventariou-se em 1866, com os bens de Antnia Maria de Jesus871, uma parcela de Rio do Antnio, comprada de Antnio Feliciano de Souza, com uma casa de 11 portas e quatro janelas, curral e mangas no Licuri; e uma gleba de Santa Clara, comprada da viva de Joo Antnio Guimares e de Ana Maria da Anunciao, por 150 mil ris; trs escravos por dois mil e 400 mil ris; um boi e um garrote, 42 mil ris; dois cavalos, 70 mil ris; uma mula velha, 35 mil ris; 10 cabras, 10 mil ris; 12 porcos, 23 mil ris; uma prensa de algodo, 25 mil ris; uma roda de ralar mandioca, com caixo de prensa, 20 mil ris; uma roa de mandioca, 10 mil ris; mveis, jias e instrumentos de trabalho, 312 mil ris. Domingos Gonalves Fraga e sua mulher Bernardina de Jesus Fraga venderam Grama Verde, em 1868, por 600 mil ris, para Manoel Antnio dos Santos, Incio dos
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AMRC. Tabelionato. Livro de Notas, n. 6 (1738-1742), f. 22 v. Escritura, 9 out., 1739. APEB. Judicirio, 08.3492.06. Inventrio de Lus da Cruz Prates, de 1854; 03.1207.1676.11, inventrio de Maria da Silva Pimentel e Lus da Cruz Prates, de 1849. 870 APEB. Judicirio, SRJ/25/12, f. 188. Escritura pblica, 21 jan., 1852. 871 APEB. Judicirio, 03.1224.1694.04.
Santos e Manoel Jos Dias872 e Lagoa do Jatob, tambm por 600 mil ris, para Manoel Antnio dos Santos873. O mesmo casal vendeu, em 1869, Lagoa das Veredas, correspondente a um quarto de Rio do Antnio, para Teodoro Antunes de Brito Teixeira, por um conto de ris874. Em 1875 o mesmo Fraga e sua mulher venderam Bezerros e Canjica para o alferes Manoel Jos de Faria, por um conto, 349 mil ris875. Com os bens de Quirino Jos da Rocha876 inventariaram, em 1880, uma parcela de Rio do Antnio, com uma casa em So Domingos, mveis, currais, mangas, benfeitorias e utenslios de lavoura, por 258 mil ris; quatro glebas de Santa Rosa do Penasco, 248 mil ris; duas casas em Furados dos Porcos, currais, mangas e tanque, 220 mil ris; uma casa em Lagoa do Badico, com currais, manga e outras benfeitorias, 100 mil ris; 207 rezes, dois contos e 898 mil ris; uma junta de bois mansos, 60 mil ris; 10 cavalos, 286 mil ris; quatro guas, 80 mil ris. Gaudncio Jos de Souza inventariou, no esplio de sua mulher Maria Rita de Oliveira877, em 1881, trs glebas de Rio do Antnio com uma casa no Grama, por 260 mil ris; um escravo, 200 mil ris; 11 vacas paridas, 272 mil ris; 30 rezes, 525 mil ris; trs guas e duas poldras, 88 mil ris; dois cavalos e um poldro, 65 mil ris; e um jumento, 35 mil ris. Joaquim Pereira de Souza inventariou, em 1893, no esplio da mulher Adelina Moreira de Souza878 uma frao de So Joo do Rio do Antnio, por 100 mil ris; Canabrava, 714 mil 285 ris; Olho dgua, 200 mil ris; Tanque do Juazeiro, 46 mil ris; Vrzea Redonda, 66 mil ris; alm de nove escravos, 100 rezes, animais de trabalho, e algumas guas. Em Rio do Antnio desenvolveu-se o povoado originrio da cidade de mesmo nome. Rio Seco Stio arrendado pela Casa da Ponte em 1807, para Gil de Arajo, por 800 ris, medindo de comprido, na margem do rio, uma carreira de cavalo e de largo de serra a serra, avaliado em 1819, por 20 mil ris, embora j fosse vendido pelo procurador Gregrio da Silva Monteiro desde 1814, como anotou o procurador Plcido de Souza Fagundes. No registro de terras da freguesia de Caetit, extremando com Emdio Jos da Silva Rego, na Boca da Catinga; Alecrim, de Maria Efignia; Severino Correia da Silva e Joaquim Antnio da Fonseca declaram ttulos em comum: Francisco Manoel da
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APEB. Judicirio, SRJ/25/33, f. 63. Escritura pblica, 22 jul., 1868. APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 61 v. Escritura pblica, 27 jul., 1868. 874 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 101. Escritura pblica, 15 mar., 1869. 875 APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 64 v. Escritura pblica, 7 mai., 1875. 876 APEB. Judicirio, 02.0873.1342.10. 877 APEB. Judicirio, 03.1184.1653.30.
Silva, Maria Efignia e Severino Correia da Silva. Francisco Cavalcante no informou a denominao das terras, porm, seus limites sugerem Rocinha ou vizinhanas, confrontando com Severiano Correia da Silva e Mocambo. Do mesmo modo comportou-se Severino Correia da Silva, informando limites com o Emdio, na Boca da Catinga, Incio do Rego, tambm na Boca da Catinga, Alecrins, Arroz, Vamos Ver, Gro-Mogol, Junco, Laranjeira e Conceio. Rio Verde Stio nos atuais limites de Bahia e Minas Gerais, em Urandi, medindo meia lgua de comprimento e um quarto de largura, limitando com o rio Verde Pequeno, Areo da Gameleira, de Joo Soares e seu irmo e Impossvel, arrendado pela Casa da Ponte, por 500 ris, em 1807, para Julio Gomes Pereira. Avaliado em 1819 por 20 mil ris, quando passaram novo arrendamento. Saco Stio nos atuais limites de Oliveira dos Brejinhos, Ibotirama e Paratinga, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Joo Damasceno Ferreira, por mil e 500 ris anuais, limitando com Cabea dAnta, de Antnio de Almeida; Porteira Velha, no Pasto dos Cavalos; Jucurutu, na ponta da serra de Joo Queirs; serra dos Trs Riachos; Ladeira do Agreste; e Porteira do Mato da Moenda. Medindo meia lgua de comprimento e um quarto de largura atriburam-lhe, em 1819, o valor de 60 mil ris e venderam-no depois para Joo de Mecenas Ferreira e outros. Salto Fazenda hoje em Licnio de Almeida, comprada do capito Raimundo de Carvalho por Manoel Borges de Carvalho, que a inventariou, em 1806, no esplio da sua mulher Maria Antnia da Encarnao.879 Maximiano Soares Barbalho inventariou, em 1824, no esplio de Paula da Cruz Prates880 uma frao de Salto, por 340 mil ris; uma posse de terras na fazenda Santa Cruz, margens do rio Verde Pequeno, por 250 mil ris; sete escravos, os adultos de 200 a 220 mil ris e os idosos e crianas, 50 a 80 mil ris; 20 rezes, 90 mil ris; cinco cavalos, 102 mil ris; trs guas, 36 mil ris; trs poldras e poldros, 18 mil ris; 96 arrobas de algodo em caroo, 23 mil e 40 ris. Em 1830 o juiz de paz suplente de Caetit, Joaquim Venncio de Azevedo, em cumprimento do artigo 5, 13, da Lei de 15 de outubro de 1817, enviou ao presidente da Provncia da Bahia amostras das descobertas de pedras nos lugares do Salto, Brejinho, Barrocas e Vargem Grande. Nos registros de terras da freguesia do Gentio, vrios
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APEB. Judicirio, 031224.1693.15. APEB. Judicirio, 02.0583.1035.04. 880 APEB. Judicirio, 02.0571.1023.01.
herdeiros e compradores declararam glebas comuns como: Antnio David de Carvalho (herana do sogro Felipe Jos Muniz e compra de Pedro Soares de Carvalho); Antnio Joaquim Alves (compra do capito Antnio Carvalho da Fonseca); Domingos Soares dos Santos Barbalho (compras de Antnio Joaquim de Oliveira e Manoel Alves Aranha); Joo Francisco de Brito (compra de Antnio Carvalho da Fonseca); Manoel Correia da Costa (herana da me Maria Joaquina de Jesus); Manoel Correia da Costa Jnior (herana da me Ana Joaquina de Jesus); Zeferino Jos Muniz (heranas da me Ana Joaquina de Jesus e do av Antnio Jos Muniz). Santa Clara Fazenda nos atuais limites de Jacaraci, Mortugaba e Rio Pardo-MG, contornada pelo rio Gavio; So Jos, de Luiz Dionsio Frana; barra do riacho do Carvo; e Conceio; arrendada pela Casa da Ponte para Lino Antnio Flores e inventariada por Joo de Souza Coutinho, em 1817, no esplio de Rosa Joaquina de Jesus881. Santa Clara Fazenda no atual municpio de Rio do Antnio, da qual a viva Ana Rosa do Carmo inventariou o stio Camelo, em 1833, com o esplio de Jorge da Silveira Machado882, por dois contos, 41 mil ris; 150 cabeas de gado vacum, avaliadas por 750 mil ris; trs bois mansos, 43 mil ris; quatro cavalos, 103 mil ris; quatro cargas de algodo em bruacas de seis arroubas, 60 mil ris; 24 arroubas de algodo em caroo, nove mil e 600 ris; e 12 couros de boi, 12 mil ris, alm de 31 escravos. No esplio de Joaquim Jos da Silva883 inventariou-se, em 1843, outra gleba de Camelo comprada de Francisco Manoel Ferreira Coelho, por 75 mil ris e metade das terras de Esprito Santo, com uma casa de uma porta e quatro janelas, uma mesa, 12 tamboretes, quatro catres, senzalas, currais, forno de pedras, por 950 mil ris; 150 rezes, um conto 280 mil ris; 10 cavalos de carga, 200 mil ris; 10 couros de boi, 10 mil ris; 192 arrobas de algodo em caroo, 61 mil 440 ris; seis cargas de algodo prontas, 60 mil ris; oito descaroadores de algodo, de madeira, oito mil ris; uma prensa para algodo, seis mil ris; uma balana, um mil 280 ris; uma roa de algodo, 50 mil ris, alm de 27 escravos. No deixando filho tudo se transferiu para a viva Ana Xavier Prates, conforme seu testamento. No registro de terras da freguesia de Caetit, em 1854-1959, declararam ttulos em Santa Clara: Baldono Pereira da Costa (Maraus); Florinda de Barros Silva (Came-
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APEB. Judicirio, 03.1157.1626.13. APEB. Judicirio, 02.0580.1032.08. 883 APEB. Judicirio, 02.0896.1365.01.
lo); Francisco da Silveira Machado (Camelo); Gregrio Ferreira de Souza (Camelo); Jos Xavier Cotrim e Silva (Camelo); Nicolau Jos Ribeiro Silva (Camelo); e outros. No esplio de Joaquim Martins Ribeiro884, em 1863, inventariaram dois mil ris de terras de Camelo; trs escravos, por um conto e 900 mil ris; uma tropa de oito burros arriados, 720 mil ris; trs burros, 270 mil ris; quatro guas, 86 mil ris; dois cavalos, 50 mil ris; oito vacas paridas, 200 mil ris; e mais 17 rezes, 272 mil ris. Inventariaram em 1875, com os bens de Manoel Felisberto da Costa885, uma frao de Camelo, por 50 mil ris; de Santa Brbara, 56 mil ris; de Pedra Redonda, 30 mil ris; e uma casa em Lagoa Real, com roda de mandioca, fornos, prensa, moblias, engenho e mais trastes, 400 mil ris; 150 cabeas de gado vacum, trs contos de ris; bois de carro e animais de montaria. Santa Isabel Stio nos atuais limites de Igapor, Riacho de Santana e Macabas, arrendado pela Casa da Ponte em 1807, para Manoel Ribeiro Campos, por mil e 500 ris anuais. No tombamento fundirio de 1819, com meia lgua de comprimento e tambm de largura, avaliaram-no por 50 mil ris e venderam-no, depois, para Joaquim Ribeiro de Castro. Santa Quitria Fazenda da qual Ana Quitria de Jesus inventariou, em 1813, no esplio de Severo David de Souza886, uma frao comprada, em 1809, do alferes Silvrio Pinheiro Pinto e sua mulher Catarina de Sena, por 50 mil ris, com uma parcela de So Gonalo, por 160 mil ris; outra de Tau, herana do sogro Antnio Pinheiro Pinto, 60 mil ris; trs escravos adultos, 450 mil ris; duas crianas, 100 mil ris; 29 rezes, 87 mil ris; um cavalo 12 mil ris. No registro de terras da freguesia do Gentio, Antnio Fernandes Baleeiro declarou seu ttulo, adquirido de Antnio Carvalho da Fonseca e Joo Dantas Barbosa. Santa Quitria Gleba da fazenda Conceio, nas vertentes do So Francisco, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Maria Mafalda, por 10 tostes anuais, entre Tamboril, de Carlos Correia; Canas e Melancias, de Sotero Francisco. Medindo uma lgua de largura e sem indicao de comprimento por ser um serto inculto e seco, Avaliaram-no em 1819 por 100 mil ris, embora j fosse vendida, desde 1814, para Jos Ferreira de Souza.
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APEB. Judicirio, 08.3433.12. APEB. Judicirio, 03.1188.1657.18. 886 APEB. Judicirio, 02.0576.1028.02.
Santa Rita Stio hoje em Boquira, do qual se inventariou Cachoeira, com um curral e uma casa coberta de cascas, em 1844, nos esplios de Joana de So Joo Castro e Jos Antnio da Silva Castro. No registro de terras da freguesia de Macabas dezenas de herdeiros e compradores declararam propriedades de pequenas glebas e alguns de reas extensas, como Manoel Jos de Passos, que comprara duas lguas de comprimento e uma de largura, de Joo Antnio de Passos. Santa Rita Stio hoje em Riacho de Santana, arrendado pela Casa da Ponte em 1806 para Manoel Gomes Leito, por 10 mil ris anuais, limitando com o crrego dos Macacos, serra Geral, P do Morro, Alegre, Santo Antnio e Car. No tombamento fundirio de 1819, medindo trs lguas de comprimento e uma de largura, avaliaram-no por 300 mil ris e venderam-no, em 1823, para Manoel Jos Pereira, Timteo Alves de Oliveira e Luciano Moreira. Santa Rita Stio no riacho da Ressaca, atuais limites de Pirip e Tremedal, com um quarto de lgua de comprimento e igual extenso de largura887, vendido pelo stimo Conde da Ponte, sua mulher e seu irmo Luiz de Saldanha, atravs do procurador Heitor Soares de Castro, em 1840, para Francisco Xavier de Lacerda, por 55 mil ris. Santa Rosa Fazenda hoje em Matina, da qual inventariaram uma sorte de terras, em 1844, nos esplios de Joana de So Castro e seu vivo Jos Antnio da Silva Castro. No registro de terras da freguesia de Monte Alto declararam propriedades: Antnio Moreira dos Santos (Lagoa da Pedra e Jurema); Tiburtino Moreira Prates; Jos Moreira da Trindade (compra e herana paterna); e Jos Moreira Prates (Lagoa dAnta). Santa Rosa da Pedra Fazenda da qual se comercializaram vrias parcelas em 1829: Francisca Ribeiro da Silva vendeu um quarto das terras que herdara, para Antnio Botelho de Andrade, por dois contos e 400 mil ris888; Joaquim de Souza Almeida Jnior e sua mulher Ana Rita e Francisca Ribeiro da Silva venderam as parcelas que herdaram para o mesmo Antnio Botelho de Andrade, por 280 mil ris889; Jos Honrio Nogueira e sua mulher Francisca de Souza Almeida venderam, por 133 mil e 300 ris, metade de Santa Rosa da Pedra, que herdaram, para Joaquim Moreira dos Santos890; Francisco de Souza Almeida, sua mulher Deodata Antunes Lopes e Francisco Ribeiro da Silva ven887
Frum de Vitria da Conquista. Primeira Vara Cvel. Inventrios 1871-1874, caixa 12. Escritura, 2 dez., 1840 (Inventrio de Raimunda Rosa do Livramento). Documento gentilmente cedido por Maria Aparecida Silva de Sousa. 888 APEB. Judicirio, SRJ/25/03, f. 71v. Escritura, 21 mar., 1829. 889 APEB. Judicirio, SRJ/25/03, f. 79. Escritura pblica, 9 set., 1829.
deram suas heranas, por 400 mil ris, para Joo Alves de Macedo891. Em 1830 encontrou-se em Santa Rosa, um mineral do qual o juiz ordinrio Jos Antnio Gomes enviou amostra ao presidente da Provncia da Bahia, para anlise, supondo tratar-se de prata, porm, no puxar da xapa quebra[va]-se892. Nos registros de terras da freguesia do Gentio, confinando com Umburanas, Ribeiro, Tabocas, Carnabas de Dentro e Juazeiro, declararam partes de Santa Rosa da Pedra: Felipe Pereira da Silva (herana do pai Joo Pereira da Silva); Francisco da Cruz Prates Primo (herana do pai Incio da Cruz Prates); Francisco da Rocha Prates (herana do sogro Incio da Cruz Prates); Jacinto Jos Muniz (compra de Vitoriano de Souza de Carvalho); Joo Crisstomo Correia (compras de Manoel Moreira da Trindade, Jos Pereira Pardinho e de Antnio de Souza Lima); Joo Nepomuceno Soares (P da Ladeira, compra de Paulo Calado); Lcio Mendes da Luz (compra de Jos Pereira Pardinho); e outros. Joaquim Jos de Faria e sua mulher Amlia Maria Ladeia de Faria venderam, em 1863, a herana de Filipe Rodrigues Ladeia, por dois contos de ris, com parcelas de Umburanas, Retiro, Mato Grosso e Santa Rosa da Pedra, para Jos Justino Gomes de Azevedo893. Santana Fazenda atualmente em Igapor, vendida pela Casa da Ponte para Lino Manoel da Fonseca e sua mulher Margrida Pereira da Silva Prates, que transferiram em parcelas, sendo a ltima para Manoel Incio Fernandes Chaves894, por 400 mil ris, em 1839. No registro de terras da freguesia de Caetit, declararam ttulos: Estevo Pinheiro de Azevedo, Manoel Filipe dos Santos, Manoel Incio Fernandes Chaves e Zacarias Lopes da Silva. A viva Anglica Maria de Jesus e os filhos Joaquim, Joana Anglica, e Umbelina, partilharam, em 1869, com os bens de Estevo Pinheiro de Azevedo895, duas parcelas de Santana, com casa ordinria, coberta de telhas, por 180 mil ris; outra de Lagoa Funda, com uma casinha, 55 mil ris; alm de sete escravos, dos quais apenas dois hipotecados encontravam-se na faixa etria economicamente ativa; um burro cargueiro; e um cavalo velho. Santana Stio nos atuais limites de Macabas e Botupor, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Joo da Silva Batista, por mil e 500 ris anuais, limitando com
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APEB. Judicirio, SRJ/25/03, f. 77. Escritura pblica, 9 set., 1829. APEB. Judicirio, SRJ/25/03. f. 76. Escritura pblica, 10 set.,1829. 892 APEB. Colonial e Provincial, 2.284. Correspondncia, 14 set., 1830. 893 APEB. Judicirio, SRJ/25/03, f. 76. Escritura, 5 mai., 1869. 894 APEB. Judicirio, SRJ/25/08, f. 27. Escritura pbica, 1839. 895 APEB. Judicirio, 03.1202.1671.14.
Vargens, de Bento Garcia Leal; Curralinho, de Jacinto Pereira da Silva; Algodes, de Jos da Silva Dourado; Lagoa Clara, de Caetano Ferreira e Jos Nunes. No tombamento de 1819, medindo meia lgua de comprimento e igual dimenso de largura, avaliaramno por 50 mil ris, embora j fosse vendido, desde 1808, para o arrendatrio Batista, pelo procurador Joaquim Pereira de Castro. Santana Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, para Emdia Ferreira Dourado, por mil 750 ris anuais, delimitando com Boa Vista, dos herdeiros de Caetana de Souza; Santa Rita, de ngela de Souza; Brana, do Beraldo. No tombamento de 1819, medindo lgua de comprimento e um quarto de largura, avaliaram-no por 60 mil ris e venderamno para a rendeira, em 1823. Santana Stio em Urandi, com uma lgua de comprimento e meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, por dois mil ris anuais, a Jos Soares da Silva, limitando-se por Canto, Gameleira e Lagoa do Coelho, avaliado no tombamento de 1819 por 96 mil ris e vendido para o mesmo arrendatrio e seu irmo Joo Soares da Silva, por 100 mil ris. Santo Antnio Fazenda no atual municpio de Igapor, com uma lgua de comprimento e trs quartos de largura, arrendada pela Casa da Ponte, para Luiz Jos Pinto, depois vendida sua viva Maria Alves Ferreira, em 1809, atravs de Joaquim Pereira de Castro896. Essa compradora vendeu uma parcela, por 200 mil ris, em 1839, ao capito Bernardo de Brito Gondim897, que construiu a casa sede com fachada principal de pedras, abrindo seteiras no sto, sobre as trs portas e sete janelas898. No registro de terras da freguesia de Caetit, Bernardo de Brito Gondim, declarou seus limites: Jardim, Cerquinha, Mocambo, Bonito, Gro-Mogol, Tamandu, Gameleira e Santana. Hipotecada com vrios outros bens mveis e imveis, por Bernardo de Brito Gondim, em 1860, como garantia de parte das dvidas de mais de 194 contos de ris, do filho Deraldo de Brito Gondim e seu sogro, Antnio Gomes Calmon, nas Lavras Diamantinas, a Gonalo de Amarante Costa. No se liquidando o crescente endividamento, o agiota executou judicialmente a hipoteca, transferindo o patrimnio do avalista, mais de 20 anos depois, aos herdeiros do executante. Santo Antnio ficou para a cunhada
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APEB Judicirio, Tribunal da Relao, 72.2576.14, f. 38; APEB. Autos Cveis. 8.336.04, f. 9; e 2.362.01. Traslado da escritura, L. 24, Tabelio da Vila de N. S. do Livramento das Minas do Rio de Contas. 897 APEB. Judicirio, Tribunal da Relao, 72.2576.14, f. 47 v. Escritura particular, 2 nov., 1839.
Maria de Lima Ribeiro Magalhes que a vendeu, em 1894, para Augusto Jos Fagundes, por dois contos e 200 mil ris899. Este novo proprietrio moveu Ao de Demarcao e Medio no Juzo de Direito de Caetit, em 1904, e o juiz Lindolfo Francisco de Souza Xavier contratou o engenheiro Francisco Cardoso de Souza, para o levantamento topogrfico, que elaborou como resultado final para a sentena judicial um mapa, indicando rea de 24.724.900 m2, acompanhado de minucioso memorial descritivo900. O coronel Augusto Jos Fagundes inventariou Santo Antnio, em 1927, no esplio da consorte Jlia Anglica Fagundes901. por 13 contos e 200 mil ris; Varginha, um conto e 500 mil ris; Gongo, 19 contos 550 mil ris; 180 rezes, 10 contos e 200 mil ris; quatro juntas de bois mansos, 720 mil ris; 23 guas, um conto 680 mil ris; sete cavalos, 640 mil ris; trs burros 600 mil ris; dois engenhos e acessrios, 500 mil ris; e imveis urbanos; somando quase 54 contos de ris. Santo Antnio (Santo Antnio do Carrapato, Santo Antnio da Barra, Condeba) O procurador de Manoel de Saldanha arrendou Santo Antnio do Carrapato, em 1755, para Pedro Rodrigues Lopes, que comprara benfeitorias de Pedro Ribeiro Lopes, Leandro Simes de Oliveira e Joo Rodrigues Salomo. Em 1800 a Casa da Ponte arrendou o mesmo Santo Antnio do Carrapato por 10 mil ris anuais, para Manoel de Souza Marques, genro do arrendatrio anterior. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-no por 300 mil ris, declarando-o, j vendido, para Lus Gonalves Viana. Essa venda se efetuara em 1803, atravs do procurador Francisco Xavier de Souza Castro, sendo metade das terras para o alferes Pedro da Silva Pimentel e outra, da qual Manoel de Souza Marques pagava rendas para Lus Gonalves Viana e sua sobrinha Engracia Virgem Constana, por 150 mil ris, fiado por um ano, sujeito aos juros da lei, caso atrasasse pagamentos902. No registro de terras de Santo Antnio da Barra declararam ttulos: Ana da Cruz Chaves (Vereda, comprada de Custdia Maria de Jesus); Agostinho Rodrigues Salomo, Manoel da Silva Gusmo, Manoel Jos Ferreira, Teodoro Jos de Almeida (todos em Queimadas); e outros.
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BAHIA. Secretaria da Indstria e Comrcio/ IPAC-BA. Op. cit. p. 95; NEVES, E. F. Uma comunidade... p. 119. 899 APEB. Autos Cveis, 8.336.04, f. 2. Traslado da escritura. Ttabelio Tibrcio Pereira Barbosa, vila de Riacho de Santana, termo de Monte Alto. 900 APEB. Autos Cveis, 8.336.04, f. 9. Ao de Demarcao e Medio da Fazenda Santo Antnio, movida pelo capito Augusto Jos Fagundes. Juzo de Direito de Caetit, 1904. 901 APEB. Judicirio, 08.3570.15. 902 APEB. Judicirio, SRJ/25/25, f. 16. Traslado da escritura particular, 25 mai., 1859.
Maria Floriana de Jesus vendeu, em 1859, uma frao de Piripiri por 75 mil ris, para Jos Ricardo de Oliveira903. Em 1865, Valentim Albino da Cunha Bea transferiu uma gleba que comprara de Joo Ramos de Figueiredo, para Joo Francisco Torres, por 500 mil ris904. Em 1859, o professor Joo Ramos Figueiredo e sua mulher Engracia Virgem Constana venderam Vereda, com uma casa e benfeitorias, por dois contos e 100 mil ris para Antnio Francisco Torres905. Santo Antnio do Buraco Stio hoje em Boquira, arrendado pela Casa da Ponte, em 1805, para o capito Manoel de Souza da Costa, por dois mil e 500 ris anuais, limitando com Lus Teixeira da Cunha, no Saco Grande; Timteo Gonalves no Olho dgua e Palmeiras; e Serino Jos, na Porteira de So Marcos. Medindo trs quartos de lgua de comprimento e igual distncia de largura, avaliaram-no, em 1819, por 100 mil ris e venderam-no depois para Plcido de Pinto Monteiro. Santo Antnio do Urubu Fazenda de Joana da Silva Guedes de Brito, citada em 1731-1734 por Quaresma Delgado, na qual se desenvolveu o povoado de mesmo nome, origem da atual cidade de Paratinga, cujo municpio emancipou-se de Jacobina em 1747. Inventariou-se Santo Antnio do Urubu em 1832, no esplio do conde da Ponte, avaliando-se as terras por um conto e 400 mil ris; duas mil 129 cabeas de gado vacum, por 12 contos 774 mil ris; 36 escravos machos e fmeas de vrias idades, sete contos e 200 mil ris; 54 cavalos do servio da fazenda, 864 mil ris; uma casa velha de telhas, 10 mil ris; selas, ferramentas e mais acessrios da fazenda, 30 mil ris; totalizando 22 contos 78 mil ris. Santo Onofre Fazenda nos atuais limites de Ibotirama e Paratinga, arrendada por Joana da Silva Guedes de Brito para Francisco Vieira Lima, citada no Roteiro de Joaquim Quaresma Delgado. No incio do sculo XIX, Francisco Xavier Vieira pagava rendas de 10 mil ris anuais Casa da Ponte e transferiu sua posse para Anacleto de Arajo Costa, pagando o mesmo rendimento, cujas terras, avaliaram, no tombamento fundirio de 1819, por 600 mil ris, sendo vendidas depois para lvaro Arajo de Campos. So Bento Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Matias Pereira de Oliveira, por 10 tostes anuais, limitando com Chuveiro, de Teodsio Pereira da Costa; P do Morro, de Joana Carvalho; Cercado, de Domingos de Arajo, medindo meia lgua de
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APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 53. Escritura pbica, 1859. APEB. Judicirio, SRJ/25/22, f. 59 v. Escritura pbica, 11 ago., 1865. 905 APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 48. Escritura pblica, 26 jul., 1859.
comprimento e com largura incerta. No tombamento fundirio de 1819 o procurador atribuiu-lhe o valor de 50 mil ris, sendo vendido depois para Maria Ferreira. So Bruno Stio com 20 braas de comprimento e muito menos de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, para Jos Ribeiro da Fonseca, por 300 ris anuais, limitando com Mamonas; Palmeira Velha, de Jos Ferreira Mendes; Chapada; e Cercado, de Domingos de Arajo. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 16 mil ris. So Domingos Fazenda da qual inventariaram, em Condeba, no esplio do capito Francisco Xavier da Costa, em 1855, o stio Papagaio, comprado de Modesto Vaz da Costa, com duas lguas ao correr do rio, uma em cada margem, medindo de um lado uma lgua de fundo e de outro meia, por 800 mil ris. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra declararam fraes comuns, indivduos das famlias: Ferreira (Mamonas), Gonalves do Nascimento (Arrecifes), Oliveira Coelho, Pereira da Silva (Mamonas), Ribeiro dos Santos (Papagaio), Rocha Pinto, Rodrigues da Silva (Mamonas) e Soares Lima. So Domingos Fazenda do tenente-coronel Incio da Cruz Prates, talvez arrendada de Joana da Silva Guedes de Brito, no caminho de Barrocas para Lagoa do Coelho citada por Quaresma Delgado, na primeira metade do sculo XVIII. Inventariaram o stio So Gonalo da fazenda So Domingos, com Santa Quitria em 1813, por 160 mil ris, no esplio de Severo David de Souza. O capito-mor Bento Garcia Leal inventariou, em 1823, no esplio de Nazria Borges de Carvalho, uma parcela de So Domingos identificada como retiro de Barrocas, com uma casa de sobrado e os retiros de Regap, Gargatu e Vargem Grande, da mesma fazenda, com roas e benfeitorias, por cinco contos de ris. Nos registros de terras da freguesia do Gentio, informaram ttulos em So Domingos e So Gonalo: Antnio David de Souza (meia lgua em quadro); Feliciano Jos de Barros (meia lgua comprada de Vicente Ferreira de Figueiredo); Francisco da Cruz Prates (herana do pai Incio da Cruz Prates); Joo Dias Guimares (compra de Clemente Gomes das Virgens); Joo Francisco de Brito (compra de Francisco Soares de Carvalho); Manoel Francisco do Nascimento (compra de Hermgenes Ribeiro Guimares); Relquias Jos Botelho (uma lgua de comprimento e trs quartos de largura, compradas de Jos Custdio Guimares e outra parcela de Antnio Carneiro Leo); Toms Jos Muniz (compra de Hermgenes Ribeiro Guimares); Vicente Pereira dos Santos (compra de Antnio Pinheiro Pinto); e outros.
So Felipe Stio arrendado pela Casa da Ponte em 1807, para Paulo Pereira de Souza, por cinco tostes anuais e, de presente, ao capito Teodoro Pereira da Costa, limitando com Chuveiro, no riacho do Mosquito; So Tiago, de Euzbio Simes da Cruz; e Santo Andr, de Francisco Ferreira, medindo um quarto de lgua de comprimento e pouco mais ou menos, de largura, avaliaram-no, em 1819, por 30 mil ris, vendendoo, em 1846, para Joaquim Pereira da Costa. So Joo Fazenda com uma lgua e meia de comprimento e trs quartos de largura, na margem do rio das Palmeiras, em Jacaraci, inventariada em 1823, no esplio de Lino Jos da Mota906, com duas casas e uma prensa de emalar algodo, por 449 mil ris; sete escravos, com avaliaes entre 45 e 200 mil ris; 45 rezes, 180 mil ris; uma mula, 45 mil ris; cinco cavalos, 72 mil ris; cinco guas, 25 mil ris; 14 cargas de algodo de seis arrobas, em l, embruacadas, 168 mil ris; 36 arrobas de algodo em capucho, oito mil 640 ris. No registro de terras da freguesia do Gentio declararam fraes em comum os: Alves Fernandes, Alves Martins, Ferreira de Arajo, Garcia Leal, Moreira dos Santos, Pinheiro Pinto, Ribeiro da Cruz e Tavares. So Joo (ou So Joo e Barroco) Fazenda do sculo XVIII, nos atuais limites de Caetit, Lagoa Real e Ibiassuc, da qual inventariaram Brejo do Cumbuco ou Brejo Grande, em 1816, com roda de ralar mandioca, sete escravos, 40 rezes e um cavalo, no esplio do rendeiro Jos Antnio Lisboa907. Em 1823, o juiz dos rfos de Caetit seqestrou uma parte de So Joo e Barroco, que se estendia por sete lguas de comprimento e trs a meia lgua de largura, com os bens do alferes Inocncio Marques Pereira908, nomeando tutor o cunhado Bento Xavier Prates. Em 1829, inventariaram as terras Brejo do Cumbuco, com uma casa, por 840 mil ris; 40 alqueires de arroz, 38 mil e 400 ris; 13 alqueires de milho, sete mil 280 ris; e algumas rezes, 380 mil ris, no esplio de Ana Maria Lisboa909. O capito Joaquim Jos da Silva e sua mulher Ana Xavier Prates, venderam o sito Baixo, em 1836, que compraram de Ana Maria Lisboa, para Bernardino de Brito Gondim, por 800 mil ris910. Em 1841 Antnio Jos do Couto e sua mulher Eufrsia Maria de Jesus venderam uma gleba de So Joo e Barroco, da herana do sogro e pai, por 400 mil ris para Joaquim Jos de Oliveira e outra gleba, por 100 mil ris, para Ale906 907
APEB. Judicirio, 02.0589.1041.08. APEB. Judicirio, 02.0588.1040.05. 908 APEB. Judicirio, 02.0589.1041.15. 909 APEB. Judicirio, 02.0562.1014.10.
xandre Pinheiro de Azevedo911, ficando ainda com os vendedores, 150 mil ris de terras912. No registro de terras da freguesia de Caetit, em 1854-1859, com as denominaes de Brejo Grande, So Joo e Barroco, Brejo do Cumbuco, Santa Cruz, vrias dezenas de compradores e herdeiros inscreveram seus ttulos, destacando-se, pelas extenses de terras, as famlias: Barros Silva, Brito Gondim, Costa Dantas, Fernandes Pereira, Gomes da Rocha, Gonalves de Carvalho, Lopes da Cunha, Pereira Coutinho, Pinheiro de Azevedo, Ribeiro de Novais, Ribeiro dos Santos, Rodrigues de Matos, Santos Correia, Silva Caldas, Silva Prado, Vieira de Pinho, Xavier de Matos, Xavier Prates. Inventariaram uma parcela de So Joo e Barroco, em 1861, por 800 mil ris, no esplio de Maria Xavier Prates913, com 10 escravos. Em 1855 inventariaram glebas compradas de Manoel de Brito, Agostinho Ribeiro de Novais e Eulria das Dores, com os bens de Clara Xavier Prates914, por um conto de ris, alm de uma frao de Jacar, com algumas casas de engenho, currais e mangas, uma casa no Cisco, outra casa e chcara, com ps de manga no Barroco, por 590 mil ris; 24 escravos nove mil e 100 ris; 400 bovinos, cinco contos e 200 mil ris; sete bois de carro, 175 mil ris; sete cavalos, 212 mil ris; 25 guas e poldras, 411 mil ris; dois capados (sunos de engorda), 20 mil ris; 50 alqueires de arroz vermelho, 100 mil ris; oito alqueires de arroz branco, 20 mil 480 ris; oitenta alqueires de milho, 80 mil ris; 18 alqueires de feijo, 40 mil 960 ris; uma roa de mandioca, de cinco quartas e meia, 80 mil ris; outra de meia quarta, 55 mil ris; mais uma de quatro pratos, 25 mil ris; dois roados 96 mil ris. Francisco Jos Carmona vendeu uma gleba de So Joo e Barroco, com outra de Jacar, comprada de Antnio Xavier Prates, em 1861, por um conto de ris, para Jos Vitor Xavier Prates915. Em 1869, inventariaram com Pau Ferro, o stio Baixo, com outras glebas vizinhas, no esplio de Joaquim Anastcio Pinheiro. A viva Umbelina Xavier de Matos inventariou no esplio de Manoel Xavier Prates916, em 1873, outra frao de So Joo, por 320 mil ris; uma gleba de Jacar, dois mil ris; 25 bovinos, 675 mil ris, trs eqinos, 95 mil ris. Inventariou-se, em 1875, com Pedra Redonda, glebas de So Joo, no esplio de Florinda de Barros Silva. Nesse mesmo ano Ladislau de Barros Silva e sua mulher Ana Valentina de Barros Silva doaram as fraes que possuam em
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APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 53. Escritura particular, 20 nov., 1836; registro, 15 fev., 1872. APEB. Judicirio, SRJ/25/9, f. 54 v. 912 APEB. Judicirio, SRJ/25/9, f. 53. 913 APEB. Judicirio, 03.1191.1660.09. 914 APEB. Judicirio, 03.1234.1703.06. 915 APEB. Judicirio, SRJ/25/18, f. 121. 916 APEB. Judicirio, 02.872.1341.18.
Baixo, no valor de 100 mil ris, para Ana Maria da Silva Barros917. Vitorino Xavier de Matos e sua mulher Constana Xavier Prates venderam Ipuca, em 1876, por um conto 260 mil ris, com Lagoa da Tabua, para o alferes Jos Xavier Prates918, que transferiu trs anos depois para Mariano Rodrigues da Silva por um conto de ris919. Isidoro Fernandes Pereira inventariou, em 1884, uma parcela de So Joo e Barroco, por 585 mil 365 ris; uma parte de Esprito Santo, 311 mil, 666 ris; e glebas de Boa Vista, Jacar e Camelo, por 92 mil e 700 ris, no esplio de Anglica Xavier Prates920, com uma oficina de farinha, uma roda de fiar, um descaroador de algodo, roa de mandioca na Lagoa da Pedra, 150 rezes, alguns eqinos e muares. Cinco dos sete escravos dedicavam-se lavoura, um era vaqueiro. Jos Incio da Silveira informou, no esplio da sua mulher Alexandrina Xavier Prates921, em 1885, mais uma parcela de So Joo e Barroco, no valor de 214 mil ris; casa, manga e roa em Riacho, 200 mil ris; glebas em Vazante, com umas casas, manga e roas de mantimentos, 280 mil ris; casa, manga e roa de mandioca, em Barrigudas, 150 ris; glebas de Camelo e Esprito Santo, 82 mil ris; 300 rezes, trs contos e 900 mil ris; trs bois mansos, 90 mil ris; 16 guas, 234 mil ris; quatro poldras, 80 mil ris; sete cavalos, 285 mil ris; e um jumento pastor, 50 mil ris. Bernardina Xavier Prates inventariou em 1895, o stio Fundo no esplio de Andr Rodrigues de Souza922, com duas posses da fazenda Brejo, casa com duas portas e duas janelas, mangas, uma das quais comprada do alferes Manoel Jos de Faria e outra de Geraldo Teixeira da Cunha, por 360 mil ris; uma posse na fazenda Rio das Antas, com uma casa, 120 mil ris; 18 vacas, das quais, 10 paridas, 312 mil ris; duas guas paridas e trs solteiras, 110 mil ris; duas poldras, 28 mil ris; oito burros, 445 mil ris; um jumento, 20 mil ris; trs cavalos, 65 mil ris; 10 ovelhas, 10 mil ris; 60 ps de caf em Palmito, 150 mil ris. So Jos Fazenda em Jacaraci, da qual Catarina Rodrigues de Jesus inventariou, em 1823, no esplio de Antnio Jos dos Santos923, uma sorte de terras, com uma casa, por 210 mil ris; 30 rezes, 150 mil ris; um cavalo, 20 mil ris. Em 1839 inventariou-se
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APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 16. Escritura pblica, 18 jan., 1875. APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 231. Escritura pblica, 3 mar., 1876. 919 APEB. Judicirio, SRJ/25/30, f. 69 v. Escritura pblica, 19 abr., 1879. 920 APEB. Judicirio, 03.1191.1660.11. 921 APEB. Judicirio, 03.1191.1660.05. 922 APEB. Judicirio, 03.1191.1660.01. 923 APEB. Judicirio, 02.0589.1041.09.
outra frao no esplio de Antnio Rodrigues Neves924, medindo um quarto de lgua de frente e meia lgua de fundo, por 550 mil ris; seis escravos, quatro dos quais, entre 60 e 105 anos de idade; uma novilha, avaliada por sete mil ris; uma junta de bois mansos, 28 mil ris; um poldro, 35 mil ris; seis ovelhas, sete mil 840 ris; e 47 rapaduras, sete mil 520 ris. No registro de terras da freguesia do Gentio declararam-se proprietrios de glebas indivisas os Alves Pereira, Gomes Pereira, Monteiro, Rodrigues Neves, Rodrigues Pereira e Santana. So Jos Stio com uma lgua de comprimento e um quarto de largura, nos atuais limites de Cordeiro BA e Rio Pardo MG, arrendado pela Casa da Ponte, em 1806, por 10 tostes anuais, para Jos da Costa Teixeira. Limitava-se com riacho do Cobre, riacho So Joo, Barra do Brejinho do Roado, morros de Condeba, Barbatimo, Pajeu e Morrinhos. O procurador atribuiu-lhe o valor de 36 mil ris em 1819. So Pedro Fazenda entre Veredas, Riacho, Santa Cruz, Lagoa do Plcido e Santa Rita, com quatro lguas ao nascente, quatro ao poente, quatro ao sul e quatro ao norte, na qual se desenvolveu o povoado de mesmo nome, origem da cidade de Aracatu. Declarada, em 1857, no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, por: Antnio Joaquim Lopes da Rocha e os scios Manoel Incio Pereira, Joo Germano da Silva e Lus Incio Pereira (que compraram de herdeiros de Joaquim Pereira de Castro); Jos Rodrigues de Souza (Caldeires); Juvncio Jos de Souza (uma gleba de So Pedro e outra de Boa Vista, compradas de Heitor Soares de Castro e sua mulher Teresa Maria de Jesus). So Pedro Stio no serto do rio Pardo, com uma lgua de comprimento e meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1808, para Jernimo Pereira da Costa, por trs mil e quinhentos ris anuais, limitando entre o rio So Joo e as cabeceiras do riacho So Pedro, avaliado no tombamento de 1819 por 120 mil ris e vendido para o arrendatrio. So Sebastio (ou So Sebastio do Campo Seco) Fazenda no atual municpio de Brumado, que no registro de terras da freguesia de Caetit, em 1854-1859, Manoel Cordeiro da Silva declarou-se proprietrio.925 Tiburtino da Silva Costa inventariou, em 1871, no esplio de Rosa Lina da Silva926, uma gleba com uma casa, rego dgua duran924 925
APEB. Judicirio, 02.0570.1022.02. Mesmos limites e dimenses indicados para Campo Seco, de Pedro de Alcntara Vieira e Maximiano Loureno de Almeida, declaradas em seguida, s pginas 110 v. e 111; 926 APEB. Judicirio, 03.1314.1783.16.
te um dia e uma noite por semana, 400 mil ris; glebas de Campo Seco e Serra das guas, 30 mil ris; cinco escravos, dois contos e 900 mil ris; uma junta de bois, 70 mil ris; dois bezerros, 10 mil ris; jias 90 mil ris; mveis, utenslios e ferramentas, 170 mil ris; um alambique, 80 mil ris; roda e prensa de fazer farinha, 20 mil ris; um engenho, 50 mil ris. So Tiago Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por mil e 500 ris, para Eusbio Simes da Cruz e, de presente, ao capito Teodoro Pereira da Costa, limitando com So Felipe, de Paulo de Souza; P do Morro, de Joana de Carvalho, na Passagem da Jabuticaba; So Bento, de Matias Pereira; Paulista, de Joana Sutil e Brejinho, de Raimundo Pereira. Medindo um quarto de lgua de comprimento e meia lgua de largura, avaliaram-no, em 1819, por 60 mil ris e venderam-no, depois, para Joaquim Pereira da Costa. Serra das guas (ou Serra das Bestas) Fazenda hoje em Brumado, da qual se inventariou, em 1759, Serra do Campo Seco, entre Campo Seco e Senhor Bom Jesus, com terras prprias, no esplio do capito Estevo Pinheiro de Azevedo. Inventariou-se metade de Serra das guas, em 1814, com Bom Jesus, no esplio de Francisco de Souza Meira. A outra metade pertencia aos herdeiros do familiar do Santo Ofcio, Miguel Loureno de Almeida. Inventariaram com Campo Seco, um quarto das terras de Serra das guas, por 200 mil ris, em 1839, no esplio de Ana Francisca da Silva, viva de Miguel Loureno de Almeida. No registro de terras da freguesia de Caetit, medindo 10 lguas quadradas declararam partes comuns em Serra das guas os: Alcntara Vieira, Cunha Romaldes, Loureno de Almeida, Pinheiro Canguu, Pinheiro Pinto, Silva Barros, Silva Mirante, Souza Meira e o padre Marciano Jos da Silva Rocha, como procurador da capela do Bom Jesus. Serra do Malhado Fazenda com duas lguas e meia de terras, na margem direita do rio So Francisco, inventariada em 1844, nos esplios de Joana de So Joo Castro e Jos Antnio da Silva Castro. No registro de terras da freguesia de Monte Alto, pertencia a Faustino Moreira Castro e Francisco Pereira Castro, herdeiros de Joana de So Castro e Manoel Moreira da Trindade. Serra Negra Fazenda com duas lguas para o nascente, duas para o poente, duas para o norte e duas para o sul, limitando com Santa Cruz, Imb, Bom Jesus e So Pedro, declarada no registro de terras de Santo Antnio da Barra, por Gregrio Rodrigues de Arajo, Simplcio Rodrigues de Arajo e Toms Ferreira dos Santos (Lagoa Nova,
com um quarto de lgua, que comprara de Joo Manoel da Costa e sua mulher Ana Justa da Cunha); e na freguesia de Caetit, por Bernardino Ferreira Porto. Serra Talhada Fazenda na repartio de Santo Antnio da Barra, que Vitoriano da Rocha Pinto vendeu, em 1795, por 50 mil ris, para Joaquim Jos das Virgens927, Em 1807 inventariaram uma gleba, no esplio de Manoel Vaz da Costa928, com uma casa em Brejo do Cercado, coberta de telhas, com trs portas, fechaduras, duas janelas e paredes de enchimento, por 125 mil ris; um cavalo, 25 mil ris; uma gua, cinco mil ris; duas juntas de bois, 24 mil ris; seis rezes, 14 mil ris; uma clavina Lazarina, quatro mil ris; uma roda de ralar mandioca, oito mil ris; um engenho, 12 mil ris; alm de jias de ouro e prata, ferramentas, utenslios domsticos e quatro escravos. Em 1858, Estanislau Virgnio Rebouas e sua mulher Ana Rodrigues Fris venderam uma gleba, que herdaram do pai e sogro, para Ildefonso Jos Marreco, por 15 mil ris.929 No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, contornando por Jurema, Curralinho, Riacho Seco, Queimadas e Papagaio e medindo trs lguas de comprimento e duas de largura, declararam partes comuns: Clemente Francisco da Rocha (compra de Ciraco Ribeiro dos Santos) e outros. Sucesso Fazenda no riacho da Ressaca, limitada com Canabrava, do padre Pedro de Carvalho; Gavio, do padre Manoel Vaz da Costa; Boa Vista, dos herdeiros de Gonalo Gouveia; e Ressaca, do capito Leonardo Gonalves da Costa, inventariada em 1775, por 750 mil ris, pela viva Josefa Gonalves da Rocha, no esplio de Lus Gonalves Viana930. Zeferino Rodrigues da Rocha inventariou em 1846, no esplio da mulher Vitorina Maria da Rocha931, por 200 mil ris uma gleba de Sucesso, com uma casa; dois escravos, 700 mil ris, oito rezes, 82 mil ris; cinco cavalos, 141 mil ris. No registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, medindo cinco lguas de comprimento e duas de largura, vrios herdeiros e compradores, com sobrenomes como Gonalves da Rocha, Gonalves da Costa, Pereira de Santiago, Pereira Nepomuceno, Rodrigues da Silva declararam partes comuns. Em 1859, Joaquim Pereira Duarte e sua mulher Maria Isabel da Soledade venderam uma gleba, por 42 mil e 500 ris para Manoel Jos do Nascimento932. Em 1860,
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AMRC. Livros de Notas. Tabelio Nicolau de Souza Costa. Escritura pblica, 20 nov., 1795. APEB. Judicirio, 02.0583.1035.06. 929 APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 34 v. Escritura pblica, 30 out., 1858. 930 APEB. Judicirio, 02.0532.0978.07. 931 APEB. Judicirio, 04.1461.1930.25. 932 APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 43. Escritura pblica, 14 mai., 1859.
Acelino Ribeiro de Oliveira e sua mulher Guilhermina Pereira de Jesus venderam outra parcela por 200 mil ris, ao capito Manoel Cordeiro da Silva933. Ainda nesse ano, o mesmo capito comprou de Rodrigo Pereira de Barros outra gleba, por 180 mil ris934. Em 1862, Maria Floriana vendeu o stio Queimado por 115 mil ris para Srgio Justiniano de Melo935. A viva Leolina Maria de Jesus inventariou, em 1883, no esplio de Cndido Ferreira da Cunha936, o stio Bananeiras, com trs casas, por 115 mil ris; cinco animais de montaria, 250 mil ris; uma roda de ralar mandioca, oito mil ris. Sumidouro Stio com uma lgua de extenso, em So Sebastio, atual Ibiassuc, declarado no registro de terras da freguesia de Caetit por Joana Francisca de Jesus herana do pai Jos Domingues da Silva que o vendeu, em 1872, para o tenente Jos Simplcio de Faria, por dois contos e 200 mil ris937 e este o inventariou, em 1885, no esplio de sua mulher Maria Bernardina de Jesus938, com oficina de farinha, engenho coberto, alambique, peroba, canas, mangas e outras benfeitorias, por dois contos e 500 mil ris, inclusive uma frao de Capo, com uma casa, chcara de caf, dois regos de tirar gua, e outras benfeitorias, por 800 mil ris; um stio em Carrapato, 110 mil ris; outro em Fundo, 150 mil ris; e outros de valores inferiores, em Santa Brbara da Grota, So Joo e Assa Peixe; alm de seis escravos; 35 rezes, alguns eqinos e asininos. Surucucu Stio em Almas, atual Jacaraci, declarado no registro de terras da freguesia do Gentio, por Martiniana Maria da Rocha, com um quarto de lgua de comprimento e meio quarto de largura, comprado de Antnio Ferreira de Souza. Inventariado em 1874 no esplio do frade Manoel de Maria Santssima939 batizado como Manoel Pinto de Madureira, em Maia, bispado de Porto, Portugal , com uma casa, 195 braas de terra e uma casa no arraial de Almas, quase cinco contos em dinheiro, dois escravos, 50 rezes, trs cavalos e quatro burro, tudo avaliado por mais de 13 contos de ris e transferido para a ordem dos franciscanos da Bahia. Tamandu Fazenda nos limites atuais de Igapor e Matina, vendida por Joaquim Pereira de Castro, procurador da Casa da Ponte, para Jos de Souza da Costa e seu irmo Agostinho de Souza da Costa, que a transferiram para Maria Alves Ferreira e esta para
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APEB. Judicirio, SRJ/25/16. f. 68. Escritura pblica., 12 abr., 1860. APEB. Judicirio, SRJ/25/19, f. 5. Escritura pblica, 13 ago., 1860. 935 APEB. Judicirio, SRJ/25/19, f. 50. Escritura pblica, 3 de out., 1862. 936 APEB. Judicirio, 04.1461.1930.17. 937 APEB. Judicirio, SRJ/25/25, f. 82 v. Escritura pblica, 25 mai., 1872. 938 APEB. Judicirio, 03.1180.1649.13. 939 APEB. Judicirio, 02.0560.1011, A. 04.
Bernardo de Brito Gondim. Em 1839 Francisco Jos da Silva e sua mulher Anglica Maria da Silva venderam, por 92 mil ris, uma gleba de Tamandu, que herdaram do pai e sogro Manoel Rodrigues da Silva, para o cunhado Francisco Rodrigues da Silva940, que nesse mesmo ano trocou por outra de igual valor, em Olho dgua, com Maria de Souza, ficando ela com duas partes do Tamandu e ele com Olho dgua941. No registro de terras da freguesia de Caetit, Bernardo de Brito Gondim e Joaquim Antnio da Fonseca informaram partes. Bernardo de Brito teve sua parcela transferida para o esplio de Gonalo do Amarante Costa, depois da execuo judicial de dvida hipotecria, em Lenis, passando ao domnio de Antnio Jos de Lima, sobrinho e herdeiro da viva do executante. Em 1884, Quintino Antnio da Fonseca e sua mulher Maria Benedita da Conceio constituram Reinaldo Cassiano Rodrigues da Silva para representar-lhes na causa que lhes propuseram Vicente Pinheiro de Azevedo, Clemente Alves das Neves e sua mulher, sobre uma posse em Tamandu942. Em 1904 o capito Francisco Marques de Almeida Borges e sua mulher Leondia Maria de Almeida venderam uma gleba para Eloy Ferreira de Souza, por um conto de ris, limitando com Carabas, Vamos Ver, Junco, Copiar e Gameleira943. Tamandu foi objeto de ao cvel de demarcao dos limites com Carabas, em 1905 e de outra da mesma natureza em 1918, contra as estremas de Olmpio Cunegundes das Neves, em Gameleira, ambas movidas por Eloy Ferreira de Souza. Tamboril Fazenda margem esquerda do riacho da Ressaca, visitada pela expedio do prncipe Maximiliano de Wied-Neuwied, no incio do sculo XIX, quando pertencia senhora Simoa944. Declarada no registro de terras da freguesia de Santo Antnio da Barra, em 1858, com uma lgua de comprimento e meia de largura, pelo padre Antnio Maria de Jesus e Souza. Inventariaram uma gleba de Tamboril com outra de Curral de Varas em 1883, no esplio de Isidora Ferraz de Arajo. Tamboril Parcela da fazenda Brejo, Brejo Grande ou Brejo das Carnabas, no atual municpio de Igapor, que pertenceu a Manoel Rodrigues, no incio do sculo XIX. No registro de terras da freguesia de Caetit, de 1854-1859, declararam ttulos comuns:
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APEB. Judicirio, SRJ/25/8, f. 33. Escritura pblica, 13 set., 1839. APEB. Judicirio, SRJ/25/ 8, f. 37. Escritura pblica, 14 set., 1839. 942 APEB. Judicirio, SRJ/25/36, f. 1. Procurao, 5 mar., 1884. 943 APEB. Judicirio, 08.0337.04; e 08.0636.05. Ao de Diviso e Demarcao requerida por Eloy Ferreira de Souza, dos limites de Tamandu e Carabas, de Joo Jos de Queirs. Traslado de escritura pblica. L de Notas n. 6. Termo de Riacho de Santana. 944 WHID, Maximilian, Prinz von. Op. cit., p. 401-402.
Antnio de Souza Porto Brasileiro, Antnio Rodrigues Carvalho, Domingos Rodrigues Carvalho, Jos Antnio Alves (duas partes) e Quintiliano Pereira Benevides. Tapera Fazenda entre Vitipoca, Santo Antnio, Barra do Piripiri e Pedras, declarada em 1858, no registro de terras de Santo Antnio da Barra, por: Francisco Ribeiro Franco (meia lgua de comprimento e igual dimenso de largura); Justino Jos dos Santos (uma lgua de comprimento e meia de largura); Lizarda Maria de Jesus (meia lgua de comprimento e menos de um quarto de largura); Severino Jos da Rocha (meio quarto de lgua de comprimento e outro tanto de largura). Tapera Stio hoje em Boquira, arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por quatro mil ris anuais, para Domingos Gonalo e de presente arrendado a ngela Aurlia de Arajo, limitando com Saco das Pedras, Estreito das Pedras, Caldeiro e Manga, medindo meia lgua de comprimento e duas lguas de largura. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-no por 200 mil ris. Tau Fazenda da qual Silvrio Pinheiro Pinto inventariou uma parcela, em 1811, no esplio da mulher Catarina de Sena945. Em 1813, no esplio de Severo David de Souza inventariou-se outra parcela, por 60 mil ris, com Santa Quitria. Em 1846, inventariouse outra, tambm com parcela de Santa Quitria, por 50 mil ris, no esplio de Ana Quitria de Jesus. No registro de terras da freguesia do Gentio, limitando com Surucucu, Meio, Poo do Peixe e Guar, medindo quatro lguas de comprimento e duas de largura, informaram ttulos comuns em Tau vrios herdeiros e compradores com sobrenomes de: Pinheiro Pinto, David de Souza, Soares de Carvalho, Rocha Prates, Pinheiro de Azevedo, Rodrigues de Oliveira, Cunha Gobira, Guimares, Cunegundes da Racha. Tiros Fazenda hoje em Boquira, que pertenceu, na transio do sculo XVIII, a Sino Vieira e outros. Declarada no registro de terras da freguesia de Macabas por vrios herdeiros e compradores, entre os quais Jos Claudino dos Santos, que comprara de Joaquim Rodrigues Pinto e Maria Rodrigues Pais. Troncho Stio hoje em Igapor, arrendado pela Casa da Ponte, em 1802, para Manoel da Mota Soares, por 10 tostes anuais. Medindo meia lgua de comprimento e igual distncia de largura e no tombamento de 1819 avaliaram-no por 72 mil ris. Tucano Fazenda no atual municpio de Caetit, citada no roteiro de Quaresma Delgado, na primeira metade do sculo XVIII. No registro paroquial de terras de Caetit per-
tencia a Antnio Pereira da Costa. Em 1869, Tefilo Vulter Gomes de Azevedo vendeu as terras por dois contos, 750 mil ris, para Jos Antnio Gomes Neto946. Em 1881 inventariaram uma frao no esplio de Ernesto Fagundes Cotrim947. A viva Ana Maria de Jesus Azevedo inventariou, em 1895, no esplio de Vicente Pinheiro de Azevedo948, Lagoa de Dentro, da fazenda Tucano, por pouco mais de 300 mil ris; uma casa com pequena chcara de cafeeiros em Baixo, 300 mil ris e mais alguns imveis rurais e urbanos; 24 rezes, um conto e 30 mil ris; quatro bois mansos, de carro ou cangalha, 230 mil ris; dois cavalos e um poldro, 180 mil ris; um jumento pastor, 50 mil ris; seis guas, 340 mil ris; duas jumentas, 90 mil ris; 10 porcos, 11 mil e 500 ris; 13 cabras, 13 mil ris; cinco ovelhas, cinco mil ris; alm de dois carros, um engenho e uma roda de ralar mandioca. Umbaba (ou Vargem do Sal) Fazenda no atual distrito de Caldeiras, com trs lguas de comprimento e duas de largura, entre Morro do Chapu, Mocambo, Jatob e Fazenda de Cima, declarada no registro de terras de Caetit por: Estanislau Francisco de Azevedo, Jos Simeo de Matos e Teodora Maria de Carvalho. A viva Maria Joana da Silva inventariou no esplio de Joaquim Jos das Neves949, em 1877, uma parcela de Umbaba, com outra de Vrzea e uma casa arruinada, por 81 mil ris; seis escravos, dois contos e 850 mil ris; quatro rezes, 52 mil ris; dois cavalos, 80 mil ris; 20 cabras, 20 mil ris. Umbuzeiro Fazenda nos atuais limites de Igapor e Caetit, citada em 1758 na Planta Corogrfica da estrada de Monte Alto ao porto de Cachoeira, inventariada em 1817, no esplio de Francisco de Brito Gondim. A viva Ana Anglica de Jesus permutou, em 1842, duas das cinco partes que possua em Umbuzeiro, no valor de dois contos e 400 mil ris, por duas partes de igual valor de Cachoeirinha, com a empresa Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Companhia950. Antnio Joaquim Xavier de Carvalho Cotrim inventariou no esplio de Rita Antnia de Brito Gondim951, em 1849, as terras que possua na fazenda Umbuzeiro, com uma casa de adobes, e telhas, mveis e utenslios, por um conto 850 mil ris; metade das terras de Cerquinha, um conto e 700 mil ris; e uma gleba de Barreiras, 20 mil ris; 24 escravos, dos quais, seis roceiros e um vaqueiro; seis
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APEB. Judicirio, 02.0563.1015.09. APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 104 v. Escritura pblica, 20 mar., 1869. 947 APEB. Judicirio, 03.1223.1692.07. 948 APEB. Judicirio, 02.0860.1329.21. 949 APEB. Judicirio, 02.0869.1338.24. 950 APEB. Judicirio, SRJ/25/9, f. 144. Escritura pblica de permuta, 2 jan., 1842.
contos de ris; 150 cabeas de gado, um conto e 600 mil ris; quatro bois mansos, 56 mil ris; 10 guas, 160 mil ris; seis cavalos, 190 mil ris; dois burros, 90 mil ris; e dois poldros, 24 mil ris. No registro de terras da freguesia de Caetit, limitando com as cabeceiras do Taperinha, Vargem do Palmar, Contendas, Cerquinha, Jardim, Ponta da Serra da Jurema, Campo dos Veados e Piripiri, declararam partes: Antnio Xavier de Carvalho Cotrim, Clemente de Brito Gondim, Francisco Xavier de Carvalho Cotrim, Padre Manoel Jos Gonalves Fraga & Cardoso. Inventariaram, em 1866, uma parte de Umbuzeiro, no esplio de Anglica Francisca de Brito Gondim952, transferido para a filha Anglica Amlia Fagundes de Brito, casada com o major Gustavo Bernardo de Brito. Em 1867, partilharam uma gleba, com uma casa, roas de canas e engenho, por um conto e cinqenta mil ris, no esplio de Jos Xavier Fagundes Cotrim953. Lizarda de Brito Gondim, seu genro Nicolau Fernandes Chaves e a mulher deste, Maria de Jesus Brito, partilharam e demarcaram Umbuzeiro, em 1869, com o tenente Francisco Xavier Fagundes Cotrim, sua mulher Francelina de Brito Cotrim, o genro major Gustavo Bernardo de Brito e a mulher deste, Anglica Amlia Fagundes de Brito. Domingos Gonalves Fraga e sua mulher Bernardina de Jesus Fraga, que compraram fraes de diversos herdeiros, no valor de 800 mil ris ficaram com o restante da fazenda Umbuzeiro954. Com os bens de Zeferina Fagundes Cotrim955 inventariaram, em 1871, outra parcela de Umbuzeiro, por 100 mil ris; trs escravos, um conto e 500 mil ris; 39 rezes, 585 mil ris; duas guas, 36 mil ris. Domingos Gonalves Fraga e sua mulher venderam uma parcela de Umbuzeiro, em 1872, para Francisco Xavier Fagundes Cotrim, por 400 mil ris956; no ano seguinte, o mesmo casal vendeu outras partes de Umbuzeiro, na Ingazeira, para Pedro Xavier Fagundes Cotrim e Rita Anglica Pinheiro, por dois contos de ris957; e em 1877 o mesmo casal vendeu a herana de Ana Teresa de Jesus Cardoso, por trs contos de ris, para Jos Joaquim Fraga958.
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APEB. Judicirio, 03.1201.1670.15. APEB. Judicirio, 03.1225.1694.12. 953 APEB. Judicirio, 02.0870.1339.09. 954 APEB. Judicirio, SRJ/25/23, f. 150. Escritura pblica, 18 set., 1869. 955 APEB. Judicirio, 03.1413.1783.05. 956 APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 101. Escritura pblica, 6 ago., 1872. 957 APEB. Judicirio, SRJ/25/24, f. 186. Escritura pblica, 28 jul., 1873. 958 APEB. Judicirio, SRJ/25/26, f. 294 v. Escritura pblica, 15 jan., 1877.
Uma gleba de Umbuzeiro transferiu-se por herana, em 1881, de Ernesto Fagundes Cotrim para suas filhas Rita e Maria Ribeiro Cotrim959. Com os bens do capito Inocncio Fagundes de Brito960, em 1883, inventariaram uma outra parcela, com manga de cerca viva, casa, mveis, roda e prensa de mandioca, por um conto de ris; uma casinha com uma manga no Lameiro, 800 mil ris e trs imveis urbanos em Caetit, um conto e 800 mil ris; alm de cinco escravos avaliados entre 350 e 600 mil ris; 49 bois, avaliados por 980 mil ris; 18 rezes, 270 mil ris; nove cavalos, 310 mil ris; 33 guas, 660 mil ris; seis poldras, 72 mil ris; dois jumentos pastores, 100 mil ris; cinco burros e mulas, 290 mil ris; um cavalo pastor, 20 mil ris; 10 aplices, 10 contos de ris; 621 mil ris em dinheiro; muitas peas de ouro e prata como relgios, caixa para rap, jias e adereos com diamantes, muitos mveis e utenslios domsticos e agrrios; 36 caixes de portas e janelas; cinco dzias de tbuas, trs alqueires de cal. Inventariaram a Ingazeira em 1886, com os bens de Semrames Canguu Cotrim961. Em 1898, o coronel Francisco Xavier Fagundes Cotrim, sua mulher Francelina Fagundes Cotrim e a enteada Anglica Amlia Fagundes de Brito dividiram o que possuam em Ingazeira, em duas pores. Umbuzeiro Stio nos atuais limites Macabas e Paratinga, medindo meia lgua de comprimento e igual extenso de largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1816, para o capito Jos de Oliveira Cortes, por dois mil ris anuais, delimitando com Boqueiro, de Joana Maria de Jesus; Aguada, de Alexandre Rodrigues da Mata; Queimadas, do capito Jos Antnio do Rego; Desterro, de Jernimo da Costa; e Olho dgua dos Negros. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 60 mil ris e venderam-no, em 1825, para Jos de Oliveira Cortes. No registro de terras da freguesia de Macabas, em 18571859, vrios herdeiros Oliveira Cortes e compradores informaram glebas. Urtigas Fazenda hoje em Riacho de Santana, margem direita do rio das Rs, da qual inventariaram parcelas, com Curralinho no esplio de Deocleciano Pires Teixeira. No registro de terras da freguesia de Monte Alto, de 1855-1860, declararam ttulos: ngelo Custdio da Rocha (Malhada Grande), Joo Caetano Xavier da Silva Pereira, Jos Fernandes dos Santos (Tabua), Luiz Pereira de Magalhes e Manoel Fernandes dos Santos (Tabua).
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APEB. Judicirio. 03.1223.1692.07. APEB. Judicirio, 03.1224.1693.05. 961 APEB. Judicirio, 03.1259.1728.03.
Vaquejadoro Stio hoje em Urandi, limitando com Jos Ciraco Vaz da Costa; rio Verde; Varginha, de Loureno Afonso de Siqueira; e Santana, de Carlos Afonso; arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por 400 ris, para Vicncia Nunes de Siqueira, que o comprou por 10 mil ris, depois de 1819. O mesmo senhorio arrendou Vaquejadoro Novo, limitando com Vicncia Nunes de Siqueira, no Riacho Fundo; Jos de Queiroz; e Carlos Afonso de Siqueira; para Jos Ciraco Vaz da Costa, em 1817, por 300 ris anuais. Em 1819 avaliaram-no por 32 mil ris. Vargem da Cachoeira Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por 500 ris anuais, para Domingos Francisco Rodrigues, limitando na Vargem do Curral, de Tereza Nunes de Siqueira, no rio Verde Pequeno e extrema de Antnio Muniz de Melo. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 24 mil ris, sendo vendido uma parcela, por 10 mil ris, para Teodoro Gonalves de Siqueira. Vargem da Ona Stio arrendado pela Casa da Ponte, em 1807, por 750 ris, para Domingos Afonso, limitando com Barreiro, de Manoel Antnio de vila, rio Verde Pequeno, extremas de Antnio Nunes de Siqueira. No tombamento de 1819 avaliaramno por 30 mil ris, passando-se novo arrendamento. Vargem Formosa Stio nos atuais limites de Mortugaba e Condeba, medindo duas lguas de comprimento e uma e meia de largura, contornado por Campo Grande, de Jos Pinheiro Pinto; So Domingos, de Modesto Vaz da Costa; Guar, de Joaquim Jos de Santana e seus scios; Stio, dos herdeiros de Francisco Jos Magno; Condeba, dos herdeiros de Antnio Joaquim de Matos, Raposa; arrendado pela Casa da Ponte, em 1819, para Joaquim Alves Pereira, por cinco mil ris anuais. No tombamento fundirio recebeu avaliao de 160 mil ris, sendo vendido para Toms Jos da Costa. Vargens Fazenda no atual municpio de Matina, que pertenceu ao capito Francisco de Caires Ferreira, vendida pela viva Joana Anglica de Azevedo, em 1809, para Pedro Jos Rodrigues, que a transferiu para Jos Manoel da Silva, cuja viva, Maria Gonalves da Costa, moveu ao de libelo cvel, em 1822, contra os limites de Piripiri, de Floriano Pinheiro de Azevedo. Antes Manoel Jos j pretendera ampliar seus limites, sendo repelido.962 No registro de terras de Monte Alto, limitando com Carnabas, Lajes, Esprito Santo, Bonito, Gameleira e Canabrava, declararam ttulos: Jos Cndido Xavier
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APEB. Judicirio, 74.2642.23. Carta de Inquirio. Instruo de Ao de Libelo Cvel. Ouvidoria Geral e Correio da Comarca de Jacobina ao juiz ordinrio da Vila Nova do Prncipe de Santa Ana de Caetit.
(gua Preta); Joo Severino da Luz Lisboa (herana da sogra Maria Gonalves); Jesuno Eugnio Almeida; Nicolau Alves de Jesus (compra de Antnio Lcio de Lima); e Gaspariano Moreira Castro. Francisco Xavier Fagundes Cotrim e sua mulher Anglica Francisca de Brito Gondim venderam, em 1841, uma parte de Vargens, com outra de Barro Vermelho, por 400 mil ris, para Pudenciano de Brito Teixeira963 que, com sua mulher Antnia de Jesus Brito Gondim vendeu, em 1848, por 246 mil ris, metade das terras de Barro Vermelho e Vargens, para Pedro Pereira Castro964. Em Vargens desenvolveu-se o povoado de Matas, origem da cidade de Matina. Vargens (Vrzeas, ou Vargem Suja) Fazenda nos limites atuais de Macabas, Botupor e Tanque Novo, arrendada por Joana da Silva Guedes de Brito para Antnio de Souza da Costa, que tambm pagava rendas de P de Serra, Quebra Focinho e Morrinhos, nas quais criava gado vacum e cavalar, conforme Joaquim Quaresma Delgado. Amador de Souza da Costa e Jos de Souza da Costa dividiram uma posse de Vargens em 1738, com os bens do pai Antnio de Souza da Costa965. A Casa da Ponte arrendou Vargens e tudo que tomou na execuo feita a Jos de Souza da Costa, em 1806, extremada por P de Serra, Passagem do Quebra Focinho, Mocambo, riacho Santo Onofre, Canabrava, riacho do Quati, Tabuleiros e Algodes, por 40 mil ris, para Bento Garcia Leal. No tombamento fundirio de 1819 avaliaram-na por um conto e 200 mil ris e venderam-na, em 1820, para o arrendatrio Garcia Leal, que a inventariou, em 1823, por quatro contos de reis, com Lagoa Clara, Barrocas e outras, no esplio da consorte Nazria Borges de Carvalho. Joo Alves da Costa e sua mulher Ana Maria Ribeiro de Novais venderam em 1861, para Cludio Antnio de Oliveira e seus filhos Jos Antnio de Oliveira e Antnio Cardoso de Oliveira, uma gleba de Vargens entre Malhada Grande, Furados e Lagoa do Mato, medindo dois mil 169 braas, com currais, mangas, tapagem de tanque e casa de enchimento966. Nesse mesmo ano Cludio Antnio de Oliveira e sua mulher Joana Francisca de Jesus venderam metade de Vargens, com benfeitorias, por dois contos de
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APEB. Judicirio, SRJ/25/7, f. 117 v. Escritura pblica, 27 abr., 1841. APEB. Judicirio, SRJ/25/12, f. 31. Escritura pblica, 27 out., 1848. 965 AMRC. Inventrios. E. 01, C. 02, M. 04, D. 31. 966 APEB. Judicirio, SRJ/25/17, f. 16v. Escritura, 20 jul., 1861.
ris, para Jos Rodrigues Malheiros967, que negociou, em 1876, Saco dos Furados, por um conto de ris, para Umbelino Jos Gomes e Joaquim Monteiro de Magalhes968. Varginha Frao da fazenda Azevedo, na atual jurisdio de Licnio de Almeida, da qual Manoel Joaquim de Souza e sua mulher Genoveva Perptua da Frota compraram a parte de Clemente Pinheiro Pinto, por 20 mil ris e doaram, em 1846, para seis escravos Tomsia, Teresa, Honorata, Josefa, Teodoro e Joaquim que alforriaram, sob condio de gozarem a liberdade aps suas mortes969. No registro de terras da freguesia do Gentio Lucas Pinheiro Pinto declarou sua propriedade, que comprara do pai Eleutrio Pinheiro Pinto. Inventariaram Varginha, em l870, no esplio de Joo Soares Barbalho970, por 175 mil ris; com quatro escravos, por um conto 450 mil ris; e 19 rezes, 285 mil ris. No registro de terras da freguesia do Gentio, declararam Varginha: Ana Floriana de Jesus (doao de Joo Pinheiro Pinto); Carolina Filomena de Jesus (herana do pai Eleutrio Pinheiro Pinto); Clemente Pinheiro Pinto (herana do pai Eleutrio Pinheiro Pinto); Geraldo Nunes da Rocha, Gregrio Pinheiro Pinto (compra do pai Eleutrio Pinheiro Pinto); Manoel Joaquim de Souza (compra de Clemente Pinheiro Pinto); Roberto Pinheiro Pinto (herana da me Francisca Pereira de Jesus); e Sabino Jos de Santana (compra de Manoel Incio do Nascimento). Varginha (Varginha Acima, Varginha de cima, Barra da Varginha, Varginha da Faca) Stio no atual municpio de Urandi, do qual a Casa da Ponte arrendou Varginha Acima, em 1807, com um quarto de lgua de comprimento e igual extenso de largura, por 750 ris anuais, para Pedro de Souza Ferreira, limitando com Poo de Flix, Riacho do Cedro, Alto do Lajedo, barra do riacho da Canabrava, estremas de Vicente Ferreira e rio Verde. No tombamento de 1819 avaliaram-no por 30 mil ris e venderam-no, em 1827, para o capito Mateus Francisco da Silveira. No mesmo ano essa casa nobiliria arrendou Varginha de Cima, 250 mil ris anuais para Vicente Ferreira dos Santos, estremando com Pedro de Souza Ferreira e Joo Amaro. Em 1819 avaliaram essa gleba por 10 mil ris e arrendaram-na para Joaquim de Souza Barbosa. Ainda em 1807 a Casa da Ponte arrendou Varginha da Faca, com um quarto de lgua de comprimento e meia lgua de largura, para Antnio Freitas da Silva,
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APEB. Judicirio, SRJ/25/17, f. 20v. Escritura, 28 set., 1861. APEB. Judicirio, SRJ/25/28, f. 17. Escritura, 31 de out., 1875. 969 APEB. Judicirio, SRJ/25/11, f. 71. Escritura, 3 jul., 1846. 970 APEB. Judicirio, 03.1202.1671.01.
por 10 tostes anuais, limitando com Jos Gonalves Vieira, Antnio Francisco Ribas, rio Verde Pequeno, barra do Riacho e Vargem Comprida. Em 1819 avaliaram-no por 36 mil ris, sendo vendido para Raimundo Afonso de Siqueira. Vrzea Redonda Fazenda no atual municpio de Paramirim, limitada por Mocambo, Canabravinha, Lajedo e Alecrins, que no registro de terras da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo, em 1857-1859 declaram propriedades: Bento Ferreira da Silva (herana dos pais Prudncio Ferreira da Silva e sogra Carlota Maria de Jesus); Bento Joaquim da Silva (Bacamarte, herana do sogro Manoel Ferreira da Silva); Clemncia Maria de Jesus (herana dos pais Manoel Ferreira da Silva Gomes e Joana Maria de Jesus); Demtrio Ferreira da Silva (herana dos avs Manoel Ferreira da Silva Gomes e Joana Maria de Jesus); Gonalo Pereira da Silva (herana dos pais Manoel Pereira da Silva Gomes e Joana Maria de Jesus e compra de Alexandre Ferreira da Silva e sua mulher Francisca Xavier); Manoel Joaquim Ferreira Silva (herana da sogra Maria Roberta de Jesus). Vereda Frao da fazenda da Conquista, no Serto da Ressaca, inventariada em 1758, no esplio de Matias Joo da Costa, transferida ao genro Joo Gonalves da Costa e seus descendentes. A expedio do Maximiliano, prncipe de Wied-Neuwied971 passou, em 1817, por Vereda, uma fazenda de gado do capito portugus Ferreira Castro, no meio de uma vasta plancie, rodeada de pequenos morros, cobertos de caatingas, entremeadas de lagoas, onde se viam jaburus, tuiuis, curicacas e colhereiros. Napoleo Ferraz de Arajo, um dos proprietrios da fazenda fundou, a partir de 1907, no stio da Chapada ou Chapada das Cacimbas, a povoao de Belo Campo, que deu origem cidade de mesmo nome. Vereda Grande (ou Vereda Grande do Bonfim) Fazenda desmembrada de Canabrava ou Papa Terras, no distrito de Santo Antnio da Barra, medindo uma lgua de comprimento e trs quartos de largura, inventariada por 500 mil ris, em 1820, no esplio do capito Estevo Incio da Costa,972 que tambm possua as terras de Lages, cujo valor a viva Vitoriana Maria de Jesus no declinou; Campo Alegre, avaliada por 300 mil ris; e mais uma gleba de uma lgua e um quarto, na beira do rio Gavio, 300 mil ris; e outra na ribeira do rio Pardo, vendida por 160 mil ris. Dos 17 escravos, um fugira. Somente informou ocupao de um vaqueiro, outro carapina e duas costureiras. Criava
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WHID, Maximilian, Prinz von. Op. cit., p. 400. APEB. Judicirio, 02.0581.1033.07.
105 rezes, avaliadas por 115 mil ris; alguns animais de montaria e bois de carro. Plantava algodo, de cujo produto dispunha de 13 cargas de seis arrobas, em l, no valor de 130 mil ris. Partilharam novamente, a fazenda Vereda Grande, em 1855, com os bens de Vitoriana Maria de Jesus973, viva do capito Estevo Incio da Costa. Guilherme Incio da Costa e sua mulher Maria Atansia da Costa venderam, em 1857, a herana do capito Estevo Incio da Costa, por 40 mil ris, para Jos Gomes Quaresma974; na mesma ocasio o casal vendeu outra parte que herdaram da me e sogra Teodora Maria de Jesus, para o mesmo comprador, por 65 mil 948 ris975; que tambm adquiriu, por 66 mil ris, com Baslio Gonalves Quaresma976, a herana materna de Clemente Incio da Costa. No registro paroquial de Santo Antnio da Barra, em 1858, Maria Incia da Costa declarou herana em comum na fazenda. Volta Fazenda na foz do riacho de Santana, no atual municpio de Bom Jesus da Lapa, citada na primeira metade do sculo XVIII, por Quaresma Delgado, como propriedade de Joana da Silva Guedes de Brito. Inventariada em 1832, com os bens do conde da Ponte, ficando na meao da condessa, com 880 cabeas de gado vacum, por cinco contos 280 mil ris; 400 eqinos, seis contos e 400 mil ris; 31 escravos de ambos os sexos, de todas as idades, seis contos e 200 mil ris; 30 cavalos de servios, 384 mil ris; uma casa de telhas, 60 mil ris; selas, ferramentas e outros acessrios da fazenda, 30 mil ris; terras e benfeitorias, 800 mil ris; totalizando 19 contos e 154 mil ris. O procurador da Casa da Ponte, Francisco Antnio Malheiros, vendeu Vota de Baixo, em 1833, com 880 bovinos a cinco mil ris, 400 eqinos a 10 mil ris e 31 escravos a 160 mil ris, totalizando 14 contos, 634 mil ris, pagveis em dois anos. Em 1844 inventariaram Volta com os bens de Joana de So Joo Castro e Jos Antnio da Silva Castro.
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APEB. Judicirio, 02.0864.1333.15. APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 17 v. Escritura particular, 2 jan., 1857. 975 APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 18 v. Escritura particular, 2 jan., 1857 976 APEB. Judicirio, SRJ/25/16, f. 18. Escritura particular, 2 jan., 1857.