Filosofia 3 Verdadeira
Filosofia 3 Verdadeira
Filosofia 3 Verdadeira
A origem da filosofia
Objetivos de aprendizagem
Identificar
os principais fatores históricos que permitiram
o surgimento da filosofia.
Seções de estudo
Seção 1 O mito como forma de conhecimento
Atenção!
Como você pode ver, o mito tem um papel
fundamental no florescimento de uma cultura. Mas o
conhecimento mítico tem muitas limitações também.
Homero
O mais famoso poeta grego foi Homero (séc. IX a.C.). Costuma-
se atribuir a ele a autoria de dois poemas épicos: a Ilíada e a
Odisséia. Homero era cego e, talvez por isso, tenha desenvolvido
a habilidade de memorização de forma tão extraordinária: a
Ilíada é formada por 15.693 versos e a Odisséia, por 12.110. As
Laicização: processo
Essas duas inovações de Hesíodo, o nivelamento de tornar laico ou de
da espécie humana e o distanciamento dos deuses, desvincular de conotações
formaram as bases ideológicas para o aparecimento religiosas.
da democracia e para a laicização da cultura grega.
1 - A physis
Esta palavra grega pode ser traduzida por natureza, entendendo
esta em, pelo menos, três sentidos, conforme Chaui (2000b, p.
257):
5 - O lógos
Lógos, a principal noção filosófica, pode ser traduzida por
palavra, discurso, “razão”. É a narrativa explicativa, a qual supõe
encadeamento de juízos de forma coerente e o estabelecimento
das relações de causa e efeito racionalmente. Neste sentido,
difere-se de mythos – o discurso mítico, dos poetas, pois, neste,
certos princípios lógicos não são necessários. Para reforçar tudo
isto, tomemos Marcondes (2001, p. 26-27) novamente:
6 - O caráter crítico
Essa é a verdadeira essência da atitude filosófica. Diferente das
noções anteriores, que são teóricas, esta é uma noção prática,
relacionada à atitude necessária para que se possa pensar
filosoficamente. Baseado em Popper, Marcondes (2001, p. 27)
descreve assim esta noção:
Síntese
A filosofia pré-socrática
2
Objetivos de aprendizagem
Identificar as principais etapas de desenvolvimento da
filosofia pré-socrática.
Diferenciar as principais escolas pré-socráticas.
Seções de estudo
Seção 1 Contexto histórico e localização geográfica
A Grécia antiga, o berço da Filosofia, não era um país. Era, de fato, um conjunto de
dezenas de pequenos países, ou cidades- Estado (pólis). O que ligava esses países era a
sua cultura. O idioma grego, com pequenas variações, era falado em todas as poleis.
Poetas e rapsodos iam de cidade em cidade, apresentando-se em festivais e datas
comemorativas, e disseminavam os mitos de Homero, Hesíodo e de outros autores.
Essa unidade cultural teve origem em questões históricas (comoa formação do próprio
povo heleno através de uma sucessão de invasões do território grego por povos indo-
europeus – Jônios, Eólios, Aqueus e Dórios), características geográficas (relevo
acidentado, solo pouco fértil, proximidade do mar, grande número de ilhas, etc.) e
militares (as cidades-Estado eram incapazes de enfrentar sozinhas as nações mais
poderosas, mas, quando unidas, eram consideradas invencíveis).
escrit
A principal atividade econômica dos gregos era o comércio as por
marítimo. Para garantir seus interesses, os gregos fundaram esses
diversas colônias encravadas em territórios de outros países, pensa
algumas delas implantadas através de guerras e invasões, outras dores
estabelecidas através de acordos pacíficos com grandes reinos. acaba
É nessas colônias que a Filosofia surge e se desenvolve ao longo ram
de quase dois séculos, antes de chegar à pólis de Atenas, onde perde
encontra o seu apogeu na cultura helênica. Veja na figura 2.1 ndo-
uma representação dos domínios helênicos. se ao
longo
dos
milên
ios
que
histor
icame
nte
nos
separ
Figura 2.1 - O mundo grego nos séculos V e IV a.C. am
Fonte: <http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/cienciagrega.htm>.
deles.
Hoje, os filósofos dessa fase inicial da história da Filosofia O
costumam ser chamados de pré-socráticos. Os pré-socráticos pouc
são os “criadores” da Filosofia. Infelizmente, todas as obras o que
Os gregos se
autodenominavam
helenos, e a Grécia, que
não era um país, e sim
um conjunto de cidades-
Estado, era chamada de
Hélade.
Fragmento é uma parte de um texto que foi
preservada, apesar de a obra completa ter-se perdido.
Muitas vezes são frases transcritas em obras de outros
autores antigos.
Doxografia são comentários, avaliações e explicações
que outros autores antigos fizeram sobre as idéias
defendidas por esses filósofos cujos textos se
perderam. Às vezes são resumos que filósofos ou
historiadores antigos fizeram das idéias defendidas
por algum outro pensador.
A Física Milésia
Da contribuição original dos filósofos de Mileto, não restou
nenhum documento escrito. Tudo o que conhecemos de Tales,
Anaximandro e Anaxímenes nos chegou através de comentários
(doxografia) feitos por filósofos e historiadores antigos, ou através
de pequenos trechos (fragmentos) citados por autores antigos
que, presumivelmente, tiveram acesso às obras originais. Uma
das principais fontes de acesso às elaborações intelectuais dos
pensadores milésios são as obras de Aristóteles. Em sua obra
Metafísica, Aristóteles refere-se a esses primeiros filósofos como
fisiólogos (estudiosos da physis).
tudo é água;
todas as substâncias materiais são obtidas ou por
condensação ou por evaporação da água;
a Terra é um disco (achatado e circular) feito de água
transformada em outros tipos de matéria;
esse disco flutua no universo, que é todo feito de água.
Atenção!
Certamente, o pai da Filosofia não estava usando
a palavra “deuses” num sentido religioso. Tales se
referia a certos fenômenos naturais observáveis, como
a atração entre o ferro e o imã, ou como a gota de
orvalho, que parece segurar-se a uma folha de árvore
instantes antes de cair. A matéria, mesmo os minerais,
parece ser dotada de uma força intrínseca, capaz de
interferir naquilo que está à sua volta.
90. Por fogo se trocam todas as (coisas) e fogo por todas, tal
como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro.
Melisso de Samos
Melisso nasceu em Samos (mesma cidade em que nasceu
Pitágoras). Além de filósofo, ficou famoso por comandar
a esquadra que impediu um ataque ateniense em 441 a.C.
Os sofistas e Sócrates
Objetivos de aprendizagem
3
Identificar os principais eventos históricos que
provocaram o deslocamento da Filosofia das colônias
gregas para a pólis de Atenas.
Identificar as características do ambiente cultural de
Atenas no séc. V a.C.
Seções de estudo
Seção 1 Contexto histórico
Seção 2 Os sofistas
Seção 3 Sócrates
Para início de estudo
A discussão sobre a possibilidade de se conhecer a realidade de
forma racional levou a duas atitudes intelectuais antagônicas na
Grécia clássica: a dos sofistas e a da filosofia socrática.
Humanismo e relativismo
Na sofística, encontramos dois grandes princípios:
o humanismo e o relativismo. O primeiro coloca o
homem no centro de tudo. O segundo se refere à
impossibilidade de se alcançar qualquer verdade
absoluta ou que não dependa de uma interpretação
pessoal. Um fragmento do sofista Protágoras de
Abdera sintetiza esses dois princípios de forma
exemplar: “O homem é a medida de todas as coisas; das que
são, enquanto são, e das que não são, enquanto não são”
(apud REALE; ANTISERI, 1990, p. 76).
Figura 3.1 - Protágoras.
Veja o que diz Marcondes (2001, p. 43) sobre a tese de Fonte: <www.pensament.com/.../
Protágoras. imatges/protagoras.jpg>.
Protágoras parece assim valorizar um tipo de explicação
do real a partir de seus aspectos fenomenais apenas, sem
Fenomenal se refere àquilo que é apelo a nenhum elemento externo ou transcendente. Isto
percebido pelo ser humano através é, as coisas são como nos parecem ser, como se mostram
da experiência. à nossa percepção sensorial, e não temos nenhum outro
critério para decidir essa questão. Portanto, nosso
conhecimento depende sempre das circunstâncias em
Transcendente se refere àquilo
que nos encontramos e pode, por isso mesmo, variar de
que ultrapassa a percepção sensível, acordo com a situação.
que vai além daquilo que pode ser
conhecido através da experiência.
Ou seja, para Protágoras, cada opinião nada mais é que a
avaliação que cada um faz de sua própria experiência. Por isso
nenhuma opinião pessoal pode ser colocada como mais correta
que a opinião de qualquer outra pessoa.
A impossibilidade do conhecimento
Outro sofista de peso é Górgias de Leontini. Seu fragmento
mais conhecido diz: “Nada existe que possa ser conhecido;
se pudesse ser conhecido, não poderia ser comunicado; se
pudesse ser comunicado, não poderia ser compreendido” (apud
MARCONDES, 2001, p. 44).
A importância da linguagem!
Se nem a percepção da realidade através dos nossos
sentidos nem a razão são capazes de nos propiciar
conhecimentos seguros, e se a verdade é uma questão
de opinião e de persuasão, é preciso valer-se de um
outro instrumento para que o homem se relacione
com a realidade e com os outros seres humanos. Esse
instrumento, segundo os sofistas, é a linguagem. O
sábio é aquele que, compreendendo os mecanismos
e os recursos da linguagem, domina as multidões
através do discurso.
kósmos X nómos
Em sua nova forma de compreender a realidade, os sofistas
produzem uma grande cisão entre kósmos e nómos. Originalmente
as duas palavras estavam diretamente ligadas na língua grega.
O termo kósmos significa o bom ordenamento de pessoas e
coisas, boa ordem, organização do Estado, ordem estabelecida,
ação dos seres em conformidade com um comportamento
estabelecido. Já a palavra Nómos, que literalmente significa
regra, lei ou norma, também pode ser usada no sentido de
costume.
SEÇÃO 3 - Sócrates
Sócrates é a principal referência na história da Filosofia, a
qual se divide basicamente em “antes dele” e “depois dele”. Beleza interior! Sócrates
não era um homem que
Contemporâneo dos sofistas, ele desloca da realidade natural para
pudesse ser considerado
a realidade humana o foco da reflexão filosófica, funda a ética e exemplo do ideal grego de
propõe um novo objetivo para a prática da Filosofia. beleza. Segundo relatos,
era calvo, de olhos fundos
e arregalados, tinha o
nariz largo e achatado,
Vamos conhecê-lo um pouquinho melhor?
era baixinho e barrigudo.
Além disso, Sócrates
costumava andar sempre
com a mesma túnica, já
gasta pelo uso. Apesar
Quem foi Sócrates? disso, era um grande
sedutor.
A imagem que hoje temos de Sócrates é a de um homem que
nunca saiu de sua cidade, Atenas, e que mal transpôs os muros de
sua pólis; um homem que andava a questionar os transeuntes na
praça pública (agorá), e que era justo e corajoso; enfim, a imagem
do filósofo mordaz e que morreu por defender seus próprios
princípios. “Um herói revolucionário” − diriam alguns. Mas
tudo isto é uma construção feita, particularmente, por seu maior
discípulo: Platão. Sendo assim, o primeiro problema a ser tratado
por quem quiser de fato conhecer Sócrates é a dificuldade em
distinguir o homem real da imagem construída por Platão.
A Atenas de Sócrates
Sócrates foi contemporâneo dos sofistas e, como indicam algumas
fontes, teria sido discípulo de um deles, Pródico de Ceos. O
ambiente em que Sócrates viveu é assim descrito por Pessanha
(1996, p. 13-14):
Conhecer é definir
Para Sócrates, conhecer é uma operação intelectual que consiste
na elaboração de definições universalmente válidas. Definir é
marcar limites, é identificar a essência, é dizer o que uma coisa é.
O método socrático
Sócrates dizia que só é possível filosofar a partir do momento
em que reconhecemos nossa própria ignorância. Por isso, ele
desenvolveu um método de busca do conhecimento composto por
duas etapas: a ironia e a maiêutica.
A essência do homem
Enquanto a filosofia pré-socrática tinha como objeto de
investigação a physis e o kósmos, Sócrates, aqui concordando com
os sofistas, volta seu interesse para o homem e a pólis. Essa atitude
acaba levando Sócrates a se perguntar: o que é o homem?
Atenção!
Sócrates usa a palavra alma (psyché) num sentido
diferente daquele que é dado pela religião. Para
Sócrates, a alma é a consciência que cada um tem de
si mesmo, é a personalidade intelectual e moral, é a
razão. É o poder intelectual que cada um tem para
descobrir em si mesmo e por si mesmo a verdade. É
a capacidade de descobrir por si mesmo as regras da
vida virtuosa.
A ação correta para o ser humano é aquela que condiz com sua
essência.
Ninguém é perfeito
A morte de Sócrates
Embora tenha exercido com dedicação as funções públicas para
as quais foi convocado pela pólis (como soldado e, mais tarde,
como magistrado), sempre que pôde Sócrates se manteve afastado
das questões administrativas e da luta pelo poder. Acreditava que
sua missão era servir à pólis através das suas atitudes, vivendo de
forma justa e colaborando para formar cidadãos sábios, honestos,
moderados.
Platão
Objetivos de aprendizagem
4
Identificar os principais eventos históricos que marcaram
o fim do século de ouro de Atenas.
Seções de estudo
Seção 1 Contexto histórico
Pesquise!
Que tal usar a Internet para fazer uma pesquisa sobre
a Guerra do Peloponeso? Há vários detalhes muito
interessantes além daqueles que foram abordados
aqui.
Destaque um detalhe que mais lhe tenha interessado
e o publique no EVA, por meio da ferramenta
Exposição. Não se esqueça de consultar as respostas
dos colegas.
Acredita-se que a obra escrita por Platão tenha chegado até nós
em sua totalidade. Abaixo, temos uma relação dos seus escritos,
seguindo a classificação apresentada por Marcondes (2001, p. 54-
55):
Apologia a Sócrates
Íon, ou sobre a Ilíada
Hípias menor, ou sobre a falsidade
Laques, ou sobre a coragem
Carmides, ou sobre a moderação
Críton, ou sobre o dever
República (Politéia), livro I, ou sobre a justiça
Hípias maior, ou sobre a beleza
Eutífron, ou sobre a piedade
Lísis, ou sobre a amizade
Alcibíades, I e II
Hiparco
Anterestai
Teages
Mino
O filósofo
Treze cartas, das quais são consideradas autênticas a III,
a VII (a mais famosa e importante) e a VIII
A educação grega
Nos primeiros séculos da história grega, as obras de Homero e
de outros poetas formavam a base da educação. A poesia tinha
um valor pedagógico muito grande. As formas rítmicas da poesia
ajudavam na memorização de ensinamentos, numa época em
que a escrita ainda era pouco difundida. O aprendizado dos
valores culturais se dava através da memorização, da repetição e
da lembrança dos versos poéticos, nos quais os personagens das
epopéias (como Ulisses, Telêmaco e Aquiles) serviam de modelo
de excelência física e moral.
Atenção!
Enquanto a erística é a arte da disputa argumentativa,
empregada com o objetivo de vencer uma discussão,
a dialética é uma cooperação que tem como meta
final a descoberta da verdade.
Atenção!
Esses dois mundos, o sensível e o inteligível, são
diferentes.
O mundo sensível é o mundo da multiplicidade e da
transformação. Como está em constante mudança, não pode ser
conhecido de forma definitiva. Como só o conhecemos através
dos sentidos, que apenas fornecem imagens imprecisas, não pode
ser conhecido de forma segura. É, portanto, o mundo da doxa.
Assim como o sol ilumina o mundo e sua luz permite que o olho
enxergue os objetos, a idéia de bem possibilita ao olho da alma
perceber os objetos do mundo inteligível. Assim como o sol,
na Terra, é a fonte da vida, a idéia de bem é a fonte da vida no
mundo inteligível.
Atenção!
A figura também indica que a nossa capacidade
de pensar é muito maior que nossa capacidade de
perceber a realidade através dos sentidos.
A Alegoria da Caverna
A Alegoria da Caverna, também chamada de Mito da Caverna,
narra uma situação fictícia (até mesmo impossível). Porém o mais Confira no final desta
importante não é a fábula que é contada mas sim o sentido que se Unidade, na seção Saiba
pode abstrair dela. Essa é a mais famosa das metáforas de Platão. Mais, a íntegra do texto da
Alegoria da Caverna.
O mito de Er
Outra analogia importante em A República é o mito de Er, ou
mito da reminiscência, contado no livro X. Essa narrativa, que
aparece já nas páginas finais da obra, traz alguns elementos
do pitagorismo assumido por Platão. Entre esses elementos,
temos a defesa da imortalidade da alma e da transmigração (ou
reencarnação).
O Mito de Er
Er morrera numa batalha; quando, ao fim de doze dias,
o seu corpo estava na pira para ser cremado, tornou à
vida e pôde contar as cenas maravilhosas a que tinha
assistido no além, durante esse tempo. Ele havia sido
escolhido para levar aos homens uma mensagem do
além.
Er conta ter chegado a um lugar onde juízes julgavam
as almas recém-chegadas e as sentenciavam a seguir
em direção ao céu ou às profundezas da Terra. No
céu, as almas daqueles que haviam sido justos em
sua vida terrena gozavam de recompensas dez vezes
maiores do que o benefício produzido por suas ações;
no subterrâneo, os castigos também eram dez vezes
maiores do que os crimes cometidos.
Por outra rota retornavam, do céu e das profundezas
da Terra, as almas que já haviam cumprido a sentença
atribuída pelos juízes. Tais almas eram encaminhadas
a outro local, onde lhes era informado qual seria o seu
destino na nova vida que teriam na Terra.
Mas nem tudo estava determinado, e cada alma podia
escolher o tipo de vida que quisesse para cumprir
seu novo destino: riqueza ou pobreza, doença ou
saúde, aspecto físico, etc. Feita a escolha, ela é tornada
irrevogável, e as almas se dirigem para o local de onde
retornarão à vida corpórea.
Após atravessarem a escaldante planície de Leto
(esquecimento) e beberem das águas do rio Ameles
(despreocupação), as almas reencarnam nos lugares
que lhes estavam determinados. Apenas Er foi
proibido de beber dessas águas e foi reconduzido
ao seu corpo para contar aos homens o que se passa
após a morte.
Figura 4.3 – O mito do cavalo alado de Platão. As carruagens dos deuses voam com facilidade e
permitem que o cocheiro vá, com freqüência, até a
Fonte: <http://laescueladeateanas.files.wordpress.
com/2007/10/mito_carro_al.jpg>. parte mais alta do céu, de onde é possível contemplar
as formas perfeitas do mundo das idéias. Já as
carruagens humanas circulam com dificuldade porque, enquanto
um dos cavalos quer subir, o outro quer descer. É preciso tornar-
se um excelente cocheiro e aprender a controlar bem os cavalos
para conseguir levar a carruagem às partes mais elevadas do céu.
O Universo
Diferente de Sócrates, que desprezava o interesse pela physis,
Platão sente a necessidade de retomar a discussão acerca do devir
e da ordem do universo. Sem poder se basear no mestre ao tratar
desse tema, Platão busca inspiração nos pré-socráticos:
Atenção!
Para Platão, o Demiurgo apenas organiza o universo.
Ele não cria a matéria.
O Homem
Platão concebe homem como um ser composto de corpo e alma.
Assim, temos:
Parte da alma Virtude
Política
Na história do pensamento político, Platão inaugura a perspectiva
utópica. Ao invés de fazer uma profunda análise da prática
política da sua época, identificar problemas ou fazer críticas
pontuais, Platão se dedica a imaginar a pólis ideal. Segundo
ele, só depois de determinar como seria um Estado justo é que
se torna possível orientar as nossas ações para que possamos
construí-lo. O bom Estado é aquele que é justo e é governado
com sabedoria.
Esta classe seria a responsável pela produção dos bens materiais para
Classe produtiva toda a sociedade, promovendo a satisfação das necessidades básicas
e o conforto. Como é voltada para os bens materiais, essa classe
(que corresponde ao deveria ser recompensada com dinheiro ou outros bens materiais,
elemento apetitivo). proporcionalmente à contribuição e ao empenho de cada um dos seus
membros. Essa deveria ser a classe mais numerosa.
Atenção!
Entre os vários discursos proferidos, é interessante
destacar o de Aristófanes (o mais famoso escritor
de comédias de Atenas) e o de Sócrates. A fala
do primeiro apresenta uma visão mítico-poética,
enquanto a do segundo representa a tentativa de
definir racionalmente o amor.
Síntese
A Alegoria da Caverna
Sócrates – Agora leva em conta nossa natureza, segundo
tenha ou não recebido educação, e compara-a com o seguinte
quadro: imagina uma caverna subterrânea, com uma entrada
ampla, aberta à luz em toda a sua extensão. Lá dentro, alguns
homens se encontram, desde a infância, amarrados pelas
pernas e pelo pescoço de tal modo que permanecem imóveis
e podem olhar tão-somente para frente, pois as amarras não
lhes permitem voltar a cabeça. Num plano superior, atrás
deles, arde um fogo a certa distância. E entre o fogo e os
prisioneiros eleva-se um caminho ao longo do qual imagina
que tenha sido construído um pequeno muro semelhante aos
tabiques que os titeriteiros interpõem entre si e o público a
fim de, por cima deles, fazer movimentar as marionetes.
Glauco – Posso imaginar a cena.
Sócrates – Imagina também homens que passam ao longo
desse pequeno muro carregando uma enorme variedade de
objetos cuja altura ultrapassa a do muro: estátuas e figuras de
animais feitas de pedra, madeira e outros materiais diversos.
Entre esses carregadores há, naturalmente, os que conversam
entre si e os que caminham silenciosamente.
Glauco – Trata-se de um quadro estranho e de estranhos
prisioneiros.
Sócrates – Eles são como nós. Acreditas que tais homens
tenham visto de si mesmos e de seus companheiros outras
coisas que não as sombras projetadas pelo fogo sobre a
parede da caverna que se encontra diante deles?
Glauco – Ora, como isso seria possível se foram obrigados a
manter imóvel a cabeça durante toda a vida?
Sócrates – E quanto aos objetos transportados ao longo do
muro, não veriam apenas suas sombras?
continua
continua
fossem capazes de prever eventos futuros – uma vez que
distinguiram com mais precisão as sombras que passavam e
observariam melhor quais dentre elas vinham antes, depois
ou ao mesmo tempo -, não crês que invejaria aqueles que as
tivessem obtido? Crês que sentiria ciúmes dos companheiros
que, por esse meio, alcançaram a glória e o poder, e que não
diria, endossando a opinião de Homero, que é melhor “lavrar a
terra para um camponês pobre” do que partilhar as opiniões de
seus companheiros e viver semelhante vida?
Glauco – Sim, em minha opinião ele preferiria sustentar esta
posição a voltar a viver como antes.
Sócrates – Reflete sobre o seguinte: se esse homem
retornasse à caverna e fosse colocado no mesmo lugar de
onde saíra, não crês que seus olhos ficariam obscurecidos
pelas trevas como os de quem foge bruscamente da luz do
sol?
Glauco – Sim, completamente.
Sócrates – E se lhe fosse necessário reformular seu juízo sobre
as sombras e competir com aqueles que lá permaneceram
prisioneiros, no momento em que sua visão está apagada
pelas trevas e antes que seus olhos a elas se adaptem – e esta
adaptação demandaria certo tempo −, não acreditas que esse
homem seria motivo de piada? Não lhe diriam que, tendo
saído da caverna, a ela retornou cego e que não valeria a pena
fazer semelhante experiência? E não matariam, se pudessem,
a quem tentasse libertá-los e conduzi-los para a luz?
Glauco – Certamente.
Sócrates – É preciso aplicar inteiramente esse quadro ao que
foi dito anteriormente, isto é, assimilando-se o mundo visível
à caverna e a luz do fogo aos raios solares. E se interpretares
que a subida para o mundo que está acima da caverna e a
contemplação das coisas existentes lá fora representam a
ascensão da alma em direção ao mundo inteligível, terás
compreendido bem meus pensamentos, os quais desejas
conhecer, mas que só Deus sabe se são ou não verdadeiros.
As coisas se me afiguram do seguinte modo: na extremidade
do mundo inteligível encontra-se a idéia do Bem, que apenas
pode ser contemplado, mas que não se pode ver sem concluir
que constitui a causa de tudo quanto há de reto e de belo no
mundo: no mundo visível, esta idéia gera a luz e sua fonte
continua
Aristóteles
Objetivos de aprendizagem
Identificar os principais eventos da vida de Aristóteles.
Seções de estudo
Seção 1 Aristóteles, o estagirita
Seção 5 A lógica
Figura 5.1 – Aristóteles. Por volta dos dezoito anos, foi para Atenas e ingressou
Fonte: <www.biografiasyvidas.com/ na Academia de Platão, onde permaneceu por cerca de 20
monografia/aristotel...>. anos. Após a morte de Platão (347 a.C.), decepcionado por
não ter sido escolhido sucessor do seu mestre (o escolhido foi
Espeusipo, sobrinho de Platão), Aristóteles abandona Atenas.
Atenção!
O ponto central da filosofia peripatética é o mesmo
que o da filosofia platônica. Da mesma forma que
seu antigo mestre, Aristóteles busca estabelecer as
formas de se superarem as opiniões subjetivas e de
se alcançar o conhecimento objetivo (episteme). O
filósofo do Liceu concorda com Platão ao considerar
o conhecimento abstrato superior a qualquer outro,
mas discorda dele em vários outros pontos.
SEÇÃO 5 - A lógica
Aristóteles é considerado o pai da lógica por ter sido o primeiro
filósofo a formular um conjunto de princípios e regras formais
por meio das quais fosse possível distinguir as conclusões falsas
das verdadeiras no uso da razão.
continua
Veja um exemplo.
As primeiras causas
Assim como o verbo ser possui diversos usos, há um outro termo
fundamental para a ciência, que também costuma ser usado em
sentidos diferentes. Trata-se da palavra causa (aitia, em grego). A
partir de uma análise detalhada do uso dessa palavra, Aristóteles
formula a sua teoria das quatro causas: formal, material, eficiente
e final.
Veja um exemplo.
Os primeiros princípios
Aristóteles identificou três princípios que servem de fundamento
para todas as ciências e até mesmo para a Lógica. São os
princípios da enunciação do ser, os quais regem todas as nossas
declarações.
Atenção!
Somente tendo uma compreensão correta do ser
enquanto ser, das primeiras causas e dos primeiros
princípios, é que poderemos alcançar, de fato, um
conhecimento científico sobre a realidade.
A astronomia
Além de matéria e forma, para pensarmos a
natureza precisamos também da idéia de espaço ou
de lugares. Identificando tipos diferentes de lugar e
de matéria, Aristóteles formula uma concepção de
universo bastante elaborada.
A psicologia
Para Aristóteles, como já vimos, a matéria não possui nenhum
movimento intrínseco. No entanto encontramos na natureza
seres animados, os quais possuem em si mesmos um princípio de
movimento. Esse princípio é a alma (psykhé). Ela é a forma que
organiza os seres animados. Aristóteles a define assim: “a alma é
aquela coisa devido à qual vivemos, sentimos e pensamos” (2001,
p. 56).
Atenção!
Embora Aristóteles elabore uma teoria da alma bem
mais complexa que a de Platão, ele não chega a se
desprender totalmente das bases estabelecidas pelo
seu antigo mestre.
A ética
Na Ética a Nicômaco [1098a5], Aristóteles afirma que a
característica mais peculiar do homem é a racionalidade e que “a
função do homem [sua causa final] é uma atividade da alma que
segue ou que implica um princípio racional” (1987, p. 16).
2. a busca do prazer; e
Para Aristóteles:
a ação virtuosa é o justo meio-termo entre uma
carência e um excesso;
a virtude é uma disposição do caráter que consiste no
hábito de agir bem.
Política
Entre os elementos que podem interferir na felicidade, a vida
em sociedade merece uma atenção especial, na medida em que é
possível interferir nela de forma racional e planejada.
Para Aristóteles, não é possível pensar a ética
desvinculada da política. Uma sociedade só será bem
constituída, se for formada por homens virtuosos. Em
contrapartida, é somente na pólis que se pode realizar
o ideal da vida teórica, suprema realização do ser
humano.
SEÇÃO 9 - A poética
A Poética é a principal obra de Aristóteles sobre o conhecimento
produtivo. Platão havia criticado a poesia por não ter um
compromisso com a verdade. Aristóteles concorda com seu
mestre que a poesia não possa servir de base para o conhecimento
da verdade ou para orientar a busca da felicidade. Mesmo assim,
o estagirita acredita que a produção artística tem sua função e sua
importância e que seus aspectos formais merecem ser estudados e
compreendidos.
Mímesis e kátharsis
A poesia é uma imitação (mímesis) das ações humanas, que leva
em consideração os motivos, o contexto e os resultados obtidos.
Não serve de modelo para o comportamento ético, embora
permita ao espectador identificar formas arquetípicas de ação,
julgá-las e comparar seu julgamento com os de outras pessoas.
Mas não é esse o motivo pelo qual a poesia, a arte de uma
maneira geral, é tão importante para o ser humano. A principal
função da obra de arte é mexer com as nossas emoções.
Atenção!
Hoje, a metafísica de Aristotélica é rejeitada e
atacada por todos os lados, embora se reconheça
enfaticamente sua importância histórica. Mas, se a
metafísica do estagirita já não convence os filósofos
e cientistas contemporâneos, não se pode dizer o
mesmo de outras contribuições do fundador do Liceu.
Suas idéias ainda continuam sendo o fundamento de
algumas disciplinas teóricas como, por exemplo, a
Lógica e a Ética.
Síntese
O período helenístico
Objetivos de aprendizagem
6
Identificar as principais etapas de desenvolvimento da
filosofia helenística.
Diferenciar as principais escolas do helenismo.
Seções de estudo
Seção 1 O desaparecimento da pólis e a reinvenção
do homem grego
Seção 2 Os cínicos
Seção 3 O ceticismo
Seção 4 O epicurismo
Seção 5 O estoicismo
Atenção!
Nesse período, a filosofia sofre uma profunda
reformulação: os sistemas de Platão e Aristóteles
já não atendem às necessidades dos grandes
intelectuais da época e é preciso buscar novas formas
de pensar a realidade.
Contexto histórico
Em 490 a.C., um grande número de cidades-Estado gregas se
uniram na luta contra a invasão dos persas. Após a vitória dos
gregos, começa uma disputa interna entre Atenas e Esparta, na
busca do controle econômico e militar sobre as demais cidades-
Estado. A partir do ano 431 a.C., essa disputa se transforma
em uma guerra (a guerra do Peloponeso). Essa guerra abalou
o sentimento de unidade dos gregos e consumiu recursos
Ataraxia
Embora tenham surgido diversas correntes filosóficas no período
helenístico, há um ponto em comum entre elas: a tese de que a
felicidade é alcançada quando conquistamos a tranqüilidade
interior.
SEÇÃO 2 - Os cínicos
Desde a sua origem, com Tales de Mileto, até o seu auge,
alcançado em Atenas com Sócrates, Platão e Aristóteles,
a filosofia esteve restrita às elites gregas. Embora muitos
filósofos tenham levado uma vida simples e sem ostentação,
eles nunca se afastaram, de fato, dos círculos sociais da
aristocracia. O primeiro a fazer isso foi Antístenes de
Atenas.
Atenção!
Antístenes e seus seguidores não eram cínicos no
sentido atual da palavra.
Pelo contrário, eles faziam questão de ser o exemplo
vivo das idéias que defendiam.
Atenção!
Não confunda o filósofo cínico Diógenes de Sínope
com o historiador da filosofia Diógenes Laertius.
SEÇÃO 3 - O ceticismo
O ceticismo é uma das doutrinas que surgem no período
helenístico, voltadas para a obtenção da tranqüilidade da alma.
A principal tese dos filósofos céticos é a de que, para alcançar
a tranqüilidade, é preciso controlar nosso desejo de ter certezas
absolutas.
Atenção!
Tome cuidado para não confundir o filósofo cético
Pirro de Élis com o grande general macedônio Pirro de
Épiro.
SEÇÃO 4 - O epicurismo
Também chamada de hedonismo e de filosofia do jardim, o
epicurismo é outra doutrina filosófica que surge no período
helenístico, voltada para a obtenção da serenidade interior.
A ética epicurista
A ética é a parte central da filosofia epicurista. Para Epicuro, a
filosofia deveria servir como via de acesso à verdadeira felicidade.
A escola estóica se desenvolveu em três períodos bem Figura 6.4 – Zenão de Cítio.
distintos. Conheça-os.
Fonte: <ummundomagico.blogs.sapo.
pt/.../zenao_citio.jpg>.
1. Antiga Estoá – protagonizada por Zenão
de Cítio (332 – 262 a.C.), Cleantes de Assos
(331 – 232 a.C.) e Crísipo de Solis (280 – 206 a.C.).
Nesse período, a filosofia estóica é elaborada como um
sistema completo. Foi o período de maior esplendor do
estoicismo, e nenhuma outra escola teve tanto sucesso
durante esse período. Após a morte de Crísipo, a escola,
aos poucos, foi perdendo o seu prestígio em Atenas.
A ética estóica
Tudo na natureza é governado pela Razão (Lógos). Essa Razão pode
ser chamada de alma do mundo ou mesmo de Deus. Tudo existe e
acontece segundo uma predeterminação rigorosa. Concebida
desta forma, a natureza é, em si mesma, justa e divina.