Psicologia Jurídica e o Sistema Penal
Psicologia Jurídica e o Sistema Penal
Psicologia Jurídica e o Sistema Penal
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 4
2
5.1 A atuação do psicólogo jurídico no contexto das instituições prisionais
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7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 57
3
INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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1 CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA CRIMINAL
Fonte: www.emaze.com
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Podemos dizer que a ciência da criminologia surgiu pela necessidade de
entender o crime como um fenômeno social e encontrar uma justiça mais humana e
tornou-se fundamental para área criminal, já que não existe possibilidade de conhecer
o criminoso sem estudar sua vida psíquica, esta por sua vez, é mais importante que a
sua vida orgânica, uma vez que os atos correspondem ao comendo psíquico.
Sendo assim, é importante que um crime não seja julgado somente pelo delito
em si, mas é essencial compreender o motivo que levou o indivíduo a praticá-lo, uma
vez que o homem é reflexo do meio em que vive e elementos socioeconômicos,
discriminação, abandono, entre outros, podem influenciar em sua conduta.
A psicologia criminal, por sua vez, tem por objetivo o estudo da personalidade,
buscando entender os fatores que a influenciam, ou seja, biológicos, mesológicos
(meio ambiente) ou social.
Nestor Sampaio Penteado Filho (2014, p.167) descreve os transtornos de
personalidade como: “Não são tecnicamente doenças, mas anomalias do
desenvolvimento psíquico sendo consideradas perturbações da saúde mental”.
As classificações de transtornos e comportamentos descrevem o transtorno
específico de personalidade como uma perturbação grave, com tendências
comportamentais. Tais transtornos revelam uma falta de harmonia de atitudes e
condutas no relacionamento interpessoal do indivíduo. Esse tipo de transtorno
específico é caracterizado por insensibilidade pelos sentimentos alheios. Quando o
indivíduo não apresenta sensibilidade alguma – com ausência total de remorso ou
arrependimento – ficando indiferente, isso pode levá-lo a um comportamento delituoso
recorrente e seu diagnóstico é de psicopatia (transtorno de personalidade, antissocial,
sociopatia, transtorno de caráter, transtorno sociopático ou transtorno dissocial).
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criminológico, reincide em seus crimes no mínimo 3 vezes e com certo intervalo de
tempo entre cada crime, este é conhecido como assassino em série (serial killer).
Nestor Sampaio Penteado (2014, p.172) afirma ainda que:
Pode-se usar como exemplo, muitos crimes cometidos por pacientes detidos
no Manicômio Judiciário Franco da Rocha, todos com justificativas alucinantes dos
mesmos, mas sem sentirem qualquer culpabilidade:
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mãos em conversas imaginárias, intercaladas de risinhos nervosos. Outros
permanecem agachados, estáticos, em absoluto silêncio. O psicótico
conhecido como ““Furador de olhos, é assim: pacato, pouco conversa ou
reclama, mas, quando começa a divagar sobre assuntos de japonês e ouro,
o perigo torna-se iminente. Utiliza como forma de defesa para sua alucinação,
a mania de furar os olhos das pessoas. Não importa quem esteja por perto,
paciente, funcionário, ou visitante. Certa vez de traz da grade, roubou a
caneta do bolso da camisa de um enfermeiro que se distraiu e por pouco não
perfurou-lhe o olho. O dissimulado J.P. C é alto e raquítico. Diz ouvir vozes
de três japoneses que o mandam matar para “recuperar o ouro”. E diz: Matei
um, Não, matei dois... Matei cinco. Eu mato por causa do ouro. Os japoneses
me mandam matar pelo ouro que tem no largo do Arouche[...]. (TAVOLORO,
2004, p.93-94).
2 PSICOLOGIA JURÍDICA
Fonte: www.pt.slideshare.net
Como ponto inicial para que seja entendido o que é a psicologia jurídica, é
necessária a análise da psicologia em sua essência. A palavra psicologia deriva da
palavra grega psyque, que quer dizer psique, alma, mente. Assim sendo, a psicologia
que outrora era o estudo da alma ou da consciência, hoje é definida como sendo a
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ciência que estuda o comportamento e a mente humanos, o que deriva no estudo do
que motiva o comportamento humano.
Por isso, a psicologia tem contribuído em diversas áreas do conhecimento,
justamente por possibilitar, através desta interdisciplinaridade, uma gama de
possibilidades de análises do comportamento humano e da natureza humana nas
mais diversas áreas, inclusive no direito.
A autora Sônia Altoé em seu artigo atualidade da psicologia jurídica traz que a
primeira aproximação entre a psicologia e o direito ocorreu através da psicologia do
testemunho.
A história nos mostra que a primeira aproximação da psicologia com o direito
ocorreu no final do século XIX e fez surgir o que se denominou psicologia do
testemunho. Esta tinha como objetivo verificar, através do estudo experimental dos
processos psicológicos, a fidedignidade do relato do sujeito envolvido em um processo
jurídico. [...] Esta fase inicial foi muito influenciada pelo ideário positivista, importante
nesta época, que privilegiava o método científico empregado pela ciências naturais.
Contudo, não é fácil delimitar o início da psicologia jurídica justamente por não
haver um marco histórico. Por outro lado, a publicação do livro Psychologie Naturelle
do médico francês Prosper Despine, em que foi tratado do estudo de casos de
criminosos daquela época, teria sido um acontecimento que determinou o surgimento
da psicologia jurídica.
Fato é que a interdisciplinaridade entre direito e psicologia se desenvolveu e
deixou de se limitar a laudos frios que diagnosticavam o teor de verdade nos
testemunhos e passou a ser uma importante ferramenta para estudar o
comportamento não só do indivíduo envolvido na demanda, bem como, o
comportamento daqueles que convivem e as circunstâncias que fazem parte do
contexto histórico daquela pessoa.
Sendo de suma importância essa interação, uma vez que, retiraria o direito da
análise fria da lei, do simples deve ser e, nesse encontro com o a ciência do ser, que
é a psicologia, passaria a ser levado em conta todo o contexto em que aquele
indivíduo está inserido e os reflexos de uma decisão jurídica para a sua vida no futuro.
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Importante ressaltar que no bojo do artigo reflexões sobre psicologia jurídica e
seu panorama no brasil da psicóloga jurídica Fátima França, é enfatizado que a
denominação psicologia jurídica apesar de ser a mais usada no brasil, não é a única
denominação que se têm para denominar a área da psicologia que se relaciona com
o direito, por exemplo, na argentina é utilizado o termo psicologia forense.
Ao final, fica evidenciado que o direito e a psicologia convergem-se na
preocupação de entender e analisar a conduta humana, ou seja, como explicar
determinada atitude de um indivíduo para, a partir disso, chegar a uma conclusão que
seja a melhor decisão, ou a menos danosa, para aquela pessoa.
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Nas palavras de Sônia Altoé essa mudança foi refletida da seguinte maneira:
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Fonte:jus.com.br
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A autora finaliza esta parte do seu artigo enfatizando algumas outras áreas de
atuação do psicólogo jurídico, quais sejam, a vitimologia e a psicologia do testemunho.
Superada esta primeira fase em que foi conceituada a psicologia jurídica e a
sua interdisciplinaridade com o direito, o presente estudo passa a discorrer a respeito
do sistema prisional.
Fonte: www.taopsi.com.br
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Fonte:ebradi.jusbrasil.com.br
Antes que o sistema prisional seja estudado em sua essência é importante que
seja analisada a evolução das penas até os dias atuais.
A penalização aos transgressores dos costumes e leis tem o seu início já antes
da sociedade organizada. Uma vez que, desde os agrupamentos mais antigos, já
havia as penas relacionadas aos descumprimentos dos preceitos divinos, podendo
chegar inclusive à morte.
No princípio, as penas eram tidas como uma forma de vingança coletiva contra
aquele indivíduo da sociedade que cometesse algum crime. Momentos em que
predominava a prática dos mais arbitrários tipos de pena e que eram aceitas como
normalidade pela sociedade em que eram praticadas, como por exemplo, tortura,
penas de morte, prisões desumanas, banimentos, acusações secretas.
Contrário a essa vertente foi o livro dos delitos e das penas de Cesare Beccaria,
que trouxe para a época um novo pensamento a respeito das penas, que pode ser
sintetizado nas seguintes palavras externadas pelo autor em seu livro:
É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve
procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é senão
a arte de proporcionar aos homens o maior bem estar possível e preservá-los de todos
os sofrimentos que se lhes possam causar, segundo o cálculo dos bens e dos males
da vida.
A publicação do livro influenciou demasiadamente a execução penal, uma vez
que o estado sentiu a necessidade de centralizar em si a aplicação das penas, para
que fossem evitadas penas que tinham um caráter meramente vingativo.
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Contudo, ainda durante muito tempo o estado punia de forma exagerada e
arbitrária àquele que cometesse algum delito. As sanções desvinculavam-se de um
ordenamento jurídico que, em tese, tinha como objetivo a busca pela justiça. Com o
passar dos anos, a pena começou a ter um caráter maior de sanção legal, apesar de
ainda guardar em sua essência um cunho retributivo ao ato praticado pelo ofensor.
A partir século XVIII, já com uma percepção mais aguçada do estado
democrático de direito pelos povos e com os ideais iluministas aflorando por toda a
sociedade, passou a trocar o desejo por penas severas, como a tortura, pela defesa
dos direitos fundamentais dos acusados. Momento em que também começa a surgir
os princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa e devido processo legal.
Surgindo, então, a pena privativa de liberdade criada por Bentham que vem se
aprimorando ao longo dos anos e é hoje uma das adotadas pelo código penal
brasileiro. Contudo, desde a sua criação há de se reconhecer que dificilmente ela
atende ao fim em que se funda, que é o de recuperar o indivíduo.
O estudo da teoria geral da pena consiste em analisar uma série de regras que
vão nortear a aplicação da sansão penal. O art. 32 do código penal traz em seu bojo,
as três grandes modalidades de penas que existem no ordenamento jurídico
brasileiro. Sendo elas, a privativa de liberdade, a restritiva de direito e a de multa,
assim, no brasil são três as espécies das penas.
Especificamente, as penas privativas de liberdade se subdividem em outras
duas espécies, quais sejam, reclusão e detenção. Consistindo a diferença entre elas,
nas palavras de Nestor Távora:
A principal diferença de uma para outra é quanto aos limites deferidos ao juiz
para a fixação do regime de cumprimento de pena. Daí que a pena de
reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto,
enquanto que a detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime fechado. (apud SANTOS, 2015)
Como foi visto, são três os tipos de regimes, sendo o fechado, que deverá ser
cumprido em estabelecimentos de segurança máxima ou média, o regime semiaberto
será cumprido em estabelecimento, industrial ou similar, regime aberto, a pena será
cumprida em casa de albergado ou estabelecimento similar. Cabendo ao magistrado
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definir qual deve ser o regime que deverá ser adotado no início do cumprimento da
pena.
O instituto jurídico brasileiro contempla a figura da progressão de regime, que
em respeito ao princípio da individualização da pena, a pena privativa de liberdade
será cumprida em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso,
a ser determinado pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da
pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo
diretor do estabelecimento, atendidas as normas que vedam a progressão, nos termos
do art. 112 da lei 7.210 de 1984.
A partir deste estudo a respeito da teoria geral da pena conclui-se necessária
se faz a participação dos psicólogos jurídicos, não só na aplicação da pena, bem como
na evolução do instituto punitivo.
O ato delituoso tem se tornado cada vez mais complexo, haja vista que, com o
passar dos anos surgem diferentes e variadas práticas delituosas, o que leva os
legisladores a uma constante reformulação das leis e os operadores do direito a uma
interpretação ainda mais pormenorizada da legislação no momento de aplicar a
sanção penal.
Fonte:tribunalarbitralbrasileiro.org
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Sendo necessário um estudo das entrelinhas do que leva ao indivíduo cometer
o crime. Lombroso em sua teoria defendia que o criminoso já nascia assim, entretanto,
os novos estudos convergem para o fato de haver uma série de fatores que podem
levar um criminoso a cometer um delito.
Fiorelli defende que devem ser observados dois tipos de fenômenos, sendo
eles o condicionamento, que se relaciona com o reforço positivo, ou seja, um indivíduo
que está sempre exposto a determinado tipo de situação tende a repeti-la, e a
observação de modelos, em que consiste em observar as formas do comportamento
agressivo, para mais tarde repeti-las. Para Fiorelli esses fatores são adquiridos na
infância.
Ainda por essa vertente, surge a figura da imputabilidade, que é quando um
indivíduo comete um fato delituoso e tem a capacidade entender a sua conduta, por
outro lado, aquele que pratica uma conduta tida como crime e não é capaz de fazer o
julgamento daquele ato que cometeu, é considerado inimputável. Devendo também
ser mencionada a figura da semi-imputabilidade, em que a culpabilidade é diminuída
em casos de o indivíduo apresentar transtornos de intensidade leve.
Enfim, fato é que indivíduos que praticam delitos fazem parte da sociedade
desde os tempos mais remotos, contudo, a percepção, o estudo do que motiva o crime
vem evoluindo, em busca das verdades presentes nas entrelinhas de uma atitude
delituosa.
Por fim, cabe salientar as palavras de Fiorelli à luz de Foucault, em que é
apontado o fato discriminatório na aplicação das penas, sendo elas mais severas ante
os menos favorecidos, muitas vezes devido a uma visão viciada da sociedade como
um todo.
Essa percepção viciosa faz com que as pessoas naturalmente percebam
comportamentos indicadores de delitos que se ajustam às suas crenças arraigadas a
respeito dos prováveis praticantes. Uma mentira que veste armani não passa de um
lapso de memória ou uma inocente confabulação que Freud explica, enquanto o
esquecimento do desdentado Sebastião, receptador de autopeças no popular
desmanche da periferia, é visto como uma estratégia ingênua para burlar a polícia e
falsear o testemunho.
A psiquiatria forense é uma subespecialidade da psiquiatria atuante na interface
psiquiatria e Direito. Sua função é proporcionar o diálogo técnico entre a Medicina e o
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Direito com a tradução dos significados dos termos de uma das ciências para a outra.
Nesta interface faz-se mister que o perito médico tenha conhecimento técnico em
psiquiatria, além de ser imprescindível o conhecimento jurídico. Somados estes dois
quesitos, o psiquiatra forense deverá fazer as conversões de linguagem médica para
que os operadores do Direito possam exercer suas funções legais.
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“mais humanizadas”, desde o século XIX até a Lei de Execução Penal, de 1984.
Segundo o autor:
As mudanças ao longo dos anos não se deram apenas no campo jurídico, mas
também nas características socioculturais da população carcerária e dos tipos de
delito. O perfil dos presos, segundo as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE (1901 a 2000), apresenta diferenças discrepantes nos respectivos
períodos, revelando também o contexto histórico das diferentes épocas. Os registros
de 1907 fazem as seguintes referências quanto aos dados levantados sobre os
presos:
“[...] 69% dos condenados eram filhos legítimos; 12%, ilegítimos; 1% eram os
chamados ‘expostos’ (crianças encontradas) e 18% tinha filiação ignorada;
54% foram educados em casa materna, e o restante dividia-se entre: casa
estranha, colégios, internatos e estabelecimentos análogos, asilos e
estabelecimentos congêneres e lugares ignorados. Quanto à profissão,
38,5% trabalhavam na agricultura, 70% eram analfabetos e 28% mal sabiam
ler e escrever. Referente aos antecedentes jurídicos dos condenados, 96%
eram primários. Dos 2.833 condenados na época, 2.422 tinham cometido
homicídio; 53, tentativa de homicídio; 223, lesão corporal; e 135, ‘violência
carnal’[...]”
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Salla (2003, p.8), pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da
Universidade de São Paulo, constata uma impressionante escalada nas taxas de
encarceramento no Brasil: em, a taxa por 100 mil habitantes era de 65,2; em 1993, de
83,2; em 2000, sobe para 134,9; em 2002, aumenta para 146,5; em 2003, foi para
181,5; e, em 2005, a elevação foi para 196,2 por 100 mil habitantes.
Os professores Soares e Guindani (2006), também comentando a respeito do
elevado número de presos no Brasil, dizem que:
“[...] São Paulo tem 144 mil presos. Isso equivale a 360 por 100 mil habitantes.
Em 1995, havia 150 mil presos no Brasil, o que representava 95 por 100 mil
habitantes. Os números nos dizem que o Brasil tem encarcerado muito e de
forma acelerada, e que São Paulo tem sido mais voraz no encarceramento
do que os demais estados [...]” (apud FRANÇA,2007, p.22)
20
3.5 O profissional de Psicologia no sistema prisional
Fonte:exame.abril.com.br
23
desaparecimento. Será que uns poderiam atuar somente como peritos, realizando o
exame criminológico, e outros, buscando novas alternativas de atuação?
As experiências foram se somando aos questionamentos, às reflexões, às
inquietações da própria prática profissional, acrescidas dos embates contra um
cotidiano repressor e punitivo que passa por cima dos direitos fundamentais do ser
humano.
Fonte: www2.ma.gov.br
As lutas não são apenas contra esse sistema, mas ocorrem também entre os
próprios psicólogos, uns assumindo papel similar ao do policial fascista, do inquisidor,
do carrasco, tornando naturais as práticas normativas e reguladoras do
comportamento humano; outros, mais acomodados, aceitando e repetindo tarefas,
sem o espírito crítico necessário ao contexto prisional.
Outra parcela, inquieta diante de seu papel na prisão, busca saídas, escapes,
“linhas de fuga”, campos de criação e de invenção, pois acredita que, “por
mais submetido que ele (o psicólogo) seja às regras de controle e disciplina,
poderá também ser um foco de luta e resistência”. (BADARÓ, 2005, apud
FRANÇA,2007, p.40).
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coletando trabalhos de merecida importância, para que compreendamos,
criticamente, esse campo de intervenção.
Pesquisas sobre a prática da Psicologia no Brasil, segundo Gomes (2003),
foram iniciadas por Plínio Olinto (1944), Anita Cabral (1950), Lourenço Filho
(1955/1971, 1969/1971) e Pessotti (1975), que retomou os trabalhos pioneiros de
Anita Cabral e Lourenço Filho. Pessotti (1988, p. 22) cita ainda que, no período entre
1840 e 1900, foram defendidas 43 teses por médicos psicólogos com temas
relacionados à Psicologia. Entretanto, diz Gomes, foi na Bahia que a pesquisa se
voltou “à aplicação social da Psicologia, através da Criminologia, da psiquiatria
forense e da higiene mental”.
Na primeira década do século XXI, autoras como as psicólogas Cristina Rauter
e Fernanda Otoni, bem como a psiquiatra Tania Kolker e outros, apresentam
contribuições importantes sobre a temática do sistema prisional, que polemizam e
problematizam as controvertidas práticas da Psicologia na prisão, uma vez que o
cativeiro não pode ensinar a ser livre e incita reações contrárias ao poder que oprime,
segrega e deixa marcas indeléveis da perversidade da instituição em si, provando que
a prisão não é o laboratório da construção da cidadania, da transformação e da
inclusão social. Muito pelo contrário, é o espaço da humilhação, da segregação e da
exclusão social, da produção de novos criminosos. Como diz Foucault, em Microfísica
do Poder (1979, p. 131-132): “Desde 1820, constata-se que a prisão, longe de
transformar os criminosos em gente honesta, serve apenas para fabricar novos
criminosos ou para afundá-los ainda mais na criminalidade”.
As medidas recentes de revogação dos crimes hediondos, da aplicação das
penas alternativas para usuários e dependentes de drogas, as campanhas e as
cobranças para que o Poder Judiciário não adote penas privativas de liberdade, e sim,
medidas e penas alternativas, sem a necessidade de segregação social, são
respostas que podem começar a diminuir a superpopulação carcerária e o caos em
que se transformaram os presídios, resultado patente, principalmente após a criação
da lei dos crimes hediondos.
25
3.6 A História do trabalho da psicologia jurídica na instituição penal e a lei
Fonte: sites.usp.br
26
necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da
execução.
Parágrafo único. Ao exame de que se trata este artigo poderá ser submetido o
condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto.
Art. 9º. A comissão, no exame para obtenção de dados reveladores da
personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou
informações do processo, poderá:
I - entrevistar pessoas;
II – requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e
informações a respeito do condenado;
III – realizar outras diligências e exames necessários.
A Lei, portanto, determina o estudo da personalidade que, por sua vez, requer
o exame das diversas áreas que deverão produzir um diagnóstico com vista ao plano
individualizado de tratamento penal. Em 1º de dezembro de 2003, a Lei nº10.792
alterou alguns artigos da Lei de Execução Penal, dentre os quais o que se refere à
prática do exame criminológico (art. 112), o que causou diferentes entendimentos
quanto à obrigatoriedade da realização de tal exame para os benefícios legais de
livramento condicional e progressão de regime. Para muitos operadores do Direito e
especialistas em Direito Penal, o exame criminológico não foi abolido, permanecendo,
porém, segundo Mirabete (2004, p. 254), “a possibilidade de realização do exame
quando o juiz da execução o considerar indispensável, amparado no art. 96, § 2º, LEP,
que dispõe sobre a viabilidade de produção de prova, inclusive pericial, nos
procedimentos relativos à execução da pena”. Argumenta, inclusive, que um atestado
de conduta carcerária assinado pelo diretor do estabelecimento penal, conforme
dispõe o novo texto do artigo 112 da Lei nº10.79210, não pode oferecer importantes
subsídios, como uma análise mais profunda da personalidade e de outros aspectos
subjetivos existentes, para embasar o pronunciamento do juiz ao deferir ou indeferir
um pedido de benefício do preso. Tal entendimento tem sido acatado na maioria dos
estados, e, por isso, permanece a prática do exame criminológico.
Acredita-se que os motivos que resultaram na alteração do art. 112 estejam
voltados para os entraves do sistema penal: o aumento das taxas de encarceramento,
que produzem as superlotações e a morosidade das Varas de Execuções Penais.
27
Com a extinção do exame criminológico, seria possível dar mais agilidade e
objetividade à condução dos benefícios.
Outros motivos agravam a problemática penitenciária e dizem respeito à não-
valorização da área das assistências previstas na Lei de Execução Penal (Capítulo II):
assistência material, à saúde, à educação, assistência jurídica, social e religiosa bem
como a assistência aos egressos. Os investimentos financeiros dos governos
priorizam a construção de presídios e equipamentos de segurança sem uma política
séria voltada para o cumprimento da Lei e dos direitos humanos, principalmente no
que tange a trabalho e estudo.
A ociosidade produz efeitos nocivos à subjetividade, desqualificando e
despotencializando qualquer possibilidade de redirecionamento de suas vidas fora do
mundo do crime.
O governo brasileiro, atendendo à recomendação do Comitê Permanente de
Prevenção do Crime e Justiça Penal da ONU, fundamentado na Declaração Universal
dos Direitos do Homem, estabeleceu, através do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, as Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil,
dispostas na Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, que visa a um tratamento
mais digno e mais humano para os presos. Em seus artigos 1º e 3º, respectivamente,
diz:
“[...] As normas que se seguem obedecem aos princípios da Declaração
Universal dos Direitos Humanos e daqueles inseridos nos tratados, convenções e
regras Internacionais de que o Brasil é signatário [...] art. 3º. [...] é assegurado ao
preso o respeito a sua individualidade, integridade física e dignidade pessoal [...]”.
A Lei de Execução Penal, portanto, acatando tais recomendações, elencou as
assistências a que os presos fazem jus, de modo a garantir, principalmente, a
dignidade pessoal. Entretanto, o que se observa no cenário das prisões é a total falta
de cumprimento de tais assistências a uma população já excluída dos direitos
constitucionais de preservação da vida. Os espaços prisionais, na verdade, foram
construídos para abrigar os filhos da pobreza, da indigência, da exclusão social.
Conforme apontam Guindani e Soares:
“Se o país está encarcerando mais e não cumpre a Lei de Execução Penal,
está jogando lenha na fogueira [...] Não se pode prender aos milhares e
despejar essa multidão no inferno [...] um Estado que desrespeita a lei comete
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crime. Em o fazendo, estimula a violência dos presos[...]” (apud
FRANÇA,2007, p.30)
“[...] O que é fascinante nas prisões é que nelas o poder não se esconde, não
se mascara cinicamente, mostra-se como tirania levada aos mais ínfimos
detalhes, e, ao mesmo tempo, é puro, é inteiramente ‘justificado’, visto que
pode inteiramente se formular no interior de uma moral que serve de adorno
a seu exercício: sua tirania brutal aparece então como dominação serena do
Bem sobre o Mal, da ordem sobre a desordem [...]” (apud WEIZENMANN,
2013)
29
Fonte: www2.ma.gov.br
O autor, em sua clássica obra Vigiar e Punir, escrita em 1975, faz um profundo
estudo sobre o sistema de prisão, que surge em substituição aos espetáculos públicos
das práticas de suplícios.
Com a prisão, o controle e o adestramento do corpo passam a ser feitos pelo
uso de métodos sutis e dissimulados; os suplícios se dão de forma velada, com a
instalação de táticas disciplinares individualizadas. Sobre a prisão, diz Foucault (2001,
p. 197-198):
“[...] sua ação sobre o indivíduo deve ser ininterrupta: disciplina incessante.
Enfim, ela dá um poder quase total sobre os detentos; tem seus mecanismos
internos de repressão e castigo: disciplina despótica. Leva à mais forte
intensidade todos os processos que encontramos nos outros dispositivos de
disciplina. Ela tem que ser a maquinaria mais potente para impor uma nova
forma de indivíduo pervertido; seu modo de ação é a coação de uma
educação total [...]”
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Sem essa capacidade de discernimento e autocontrole emocional, fatalmente
estará incorrendo em faltas disciplinares por infração às normas institucionais, sendo
por isso julgado e penalizado pela CTC ou pelo Conselho Disciplinar, instrumentos de
controle previstos legalmente. Diante de tamanha sujeição, a prisão produz uma
grande diversidade de sentimentos despotencializadores: ódio, humilhação,
hostilidade, mágoa, rancor, temor e desesperança. Perguntamo-nos como trabalhar
com um sujeito que precisa forjar uma identidade e viver em regime de extrema
obediência e disciplina, que precisa ser dócil, submisso e educado?
Em muitos estados brasileiros, outras medidas disciplinares, como andar de
mãos para trás, ficar de frente para as paredes quando parado, ainda são preservadas
como demonstração de respeito e obediência, quando não são utilizadas práticas de
tortura conforme denúncias publicadas no livro de Execuções Sumárias no Brasil
1997-2003, da ONG Justiça Global.
A pretensão de trazer novos elementos, de questionar e refletir sobre o que
consiste a atuação do psicólogo nesse campo de intervenção, já é um passo
importante para pensarmos em uma prática para além dos laudos e pareceres. É
necessário que a Psicologia desvincule-se do modo essencialista de ver o homem, a
histórico e descontextualizado, produzido pela sociedade capitalista, tão bem
chamada por Foucault de sociedade disciplinar (2001, p.173).
Segundo Badaró (2005), buscar “uma prática psicológica comprometida com
os princípios dos direitos humanos e com a ética profissional, de modo a poder criar
dispositivos que acionem novos processos de subjetivação que potencializem a vida
das pessoas presas”, é o nosso grande desafio, pois nós, psicólogos, também
estamos sujeitos às armadilhas e capturas produzidas pelas contradições da própria
prisão.
31
recluso, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis em população carcerária,
trabalho com agentes de segurança, ações com o stress em agentes de segurança
penitenciária, labor com egressos, penas alternativas (penas de prestação de serviço
à comunidade), entre outros.
Fonte:www.g1.globo.com
Fonte: enviarsolucoes.jusbrasil.com.br
33
às propostas terapêutico-penais que lhe têm sido disponibilizadas. Para tanto, há que
se oferecer um programa que dê oportunidade ao preso, minimamente planejada e
adequada à sua pessoa, para que nela ele possa se encontrar, conhecer-se melhor,
conhecer seus interesses, aptidões e pensar melhor em seu futuro, e que ele seja
acompanhado, humanamente observado, e estimulado. Esse trabalho de
planejamento de oportunidades adequadas ao perfil dos presos é especificamente a
função da CTC.
A partir do exposto, pode-se observar o importante papel desempenhado pelos
médicos e pelos psicólogos na execução penal.
34
Fonte: www.estrategiaoab.com.br
35
§ 1º Na perícia psicológica realizada no contexto da execução penal ficam
vedadas a elaboração de prognóstico criminológico de reincidência, a aferição de
periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito
delinquente.
Fonte:bemblogado.com.br
36
atenção integral; o acompanhamento psicológico do paciente judiciário; perícias
criminais nos casos em que houver exame de sanidade mental e cessação de
periculosidade; emitir relatórios e pareceres ao juiz competente sobre o
acompanhamento do paciente judiciário nas diversas fases processuais; sugerir à
autoridade judicial medidas processuais pertinentes, com base em subsídios advindos
do acompanhamento clínico social; prestar ao Juiz competente as informações clínico
sociais necessárias à garantia dos direitos do paciente judiciário.
Fonte:www.uepb.edu.br
37
4.4 Os direitos humanos ante ao sistema prisional
Fonte:www.radionoticiamaranhao.com.br
Neste último ponto deste capítulo, necessário se faz discorrer a respeito dos
direitos humanos, haja vista, os objetivos de valorização dos seres humanos e
proporcionar uma sociedade mais igualitária, diminuindo assim com disparidades
sociais.
Passando por esse norte a lei de execução penal, em seu bojo, contempla não
só a individualização das penas dos condenados como também assegura os direitos
humanos, como assistência médica, social, religiosa, dentre outros, à aqueles que
cumprem as penas restritivas de liberdade. O que proporcionaria uma real
reintegração, após o cumprimento da pena, do condenado na sociedade.
Contudo, essa ainda é uma realidade distante das prisões brasileiras, pois ainda
há problemas como superlotação, violência entre os próprios apenados, além de
abuso de autoridade, podendo chegar até a tortura.
Nesta mesma vertente, não se pode virar as costa também para o entendimento
do conselho federal de psicologia, é facilmente percebido nos estabelecimentos
prisionais, onde o perfil dos apenados são geralmente de pessoas de baixa
escolaridade e de pouco poder aquisitivo, que o aquele que corrobora com o ditado
quem tem dinheiro não fica preso.
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Após tudo o que foi visto até aqui, imprescindível se faz a presença do psicólogo
jurídico nesta área do direito penal, uma vez que é um campo que não pode ficar ao
crivo puro e seco da lei, devendo todas as subjetividades que passam desde os
condenados até os direito humanos serem objetos que necessitam da atenção da
psicologia jurídica, o que será detalhado no próximo capítulo.
Fonte: www.psicologiamsn.com
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as pessoas presas e a instituição prisional como um todo. (Chaves, 2010, p.5
apud MARQUES; OLIVEIRA,2014, p.05)
Cumpre agora tratar do trabalho dos psicólogos frente às pessoas que cumprem
pena privativa de liberdade.
Ao chegar no estabelecimento prisional, os detentos são submetidos às
comissões técnicas de classificação (CTC’S), criada pela LEP no afã de intervir da
forma mais adequada, aprimorando a execução penal. Para tanto, incumbe às CTC’S
estudar e propor medidas que conduzam a uma redução nos prejuízos de convivência
e contribuindo para capacitação dos reclusos para o convívio em sociedade. (Kolker,
2004).
A propósito, chaves (2010) assim estabelece:
Os casos dos presos que dão entrada na unidade para cumprir sua pena
passam pela reunião da CTC, em que são analisados os históricos pessoais,
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criminais, familiares e comportamentais e são feitas sugestões de
encaminhamento para intervenções necessárias e disponíveis. Por exemplo:
se o preso é analfabeto, encaminha-se para alfabetização; se não tem
profissão, para curso profissionalizante; se tem hipótese de transtorno
mental, encaminha-se para avaliação psiquiátrica pelo sus; se tem alguma
doença, passará por avaliação médica detalhada; se tem histórico de abuso
de drogas, poderá participar de grupo específico com a psicologia, e assim
por diante.
Muitas vezes faltam até salas específicas para os atendimentos, bem como
para outras atividades que podem acontecer dentro do sistema, pois não raro
a construção física das unidades penais desconsidera os espaços para
intervenções numa perspectiva de humanização, estando focadas na
questão da segurança.
(...)Desconsideram qualquer necessidade de “setting terapêutico”. Muitas
vezes a “necessidade” de acompanhamento por agentes, em prol da
segurança, limita o estabelecimento de um vínculo genuíno, visto que não
conseguimos lhes fornecer condições éticas de confidencialidade e sigilo.
(Chaves, 2010, p.11/12)
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Outra mazela é a superlotação que acomete os estabelecimentos prisionais.
Dados do sistema de informações penitenciárias (INFOPEN) do ministério da justiça
revelam que a população carcerária no brasil no final de 2012 era de 548 mil pessoas.
Contraditoriamente, os presídios dispõem apenas de 310,6 mil vagas, ou seja, um
défit de 237,4 mil vagas.
Lago (2009) afirma que:
Fonte:www.grupoopcao.com.br
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Chaves (2010) evidencia sobremaneira a importância desse trabalho grupal
entre os detentos, pontuando que pode ser uma forma de resgatá-los, trazendo-os de
volta para a sociedade de uma forma mais saudável, na medida em que, por exemplo,
evita a contaminação do indivíduo encarcerado por eventuais companheiros de cela
entrelaçados com a cultura do crime.
Como exemplos de grupos, podem ser citados aqueles voltados para
dependentes químicos, os de prevenção a DST/aids e os grupos terapêuticos. Cada
projeto em grupo possui objetivos específicos, como a busca pelo diálogo, orientação
e informação, o resgate de histórias de vida, proporcionar reflexões, apoio e
autoestima, bem como intervir para que os enclausurados reincidentes repensem
sobre os seus projetos de vida.
Assim, embora seja de suma importância o que é previsto na LEP, no sentido de
que deve ser feito acompanhamento dos apenados desde a sua chegada até a
completa reinserção na sociedade, tem-se que sua realização prática resta em parte
comprometida, mormente aquelas individualizadas.
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Como regra, nenhuma dessas indicações legais é observada no Brasil. Os
egressos retornam, assim, ao convívio social sem que, muitas vezes, tenham
recursos para adquirir uma passagem de ônibus à saída do presídio. Essa
realidade contrasta fortemente com a experiência dos países mais
desenvolvidos – notadamente as nações da europa ocidental – que mantêm
há décadas projetos consistentes de apoio ao egresso. (Apud MARQUES;
OLIVEIRA,2014, p.12)
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à criminalidade. Assim, possibilita o acesso aos direitos sociais e trabalha para a
compreensão e implicação do aumento do capital social por meio de diversas
atividades individuais e em grupo com os integrantes do PRESP.
No tocante aos efeitos dos diversos programas de reabilitação, o conselho
federal de psicologia (2009), com base em pesquisas, assevera que os mesmos
podem ser maximizados quando:
1. Há uma efetiva focalização nos fatores que contribuem para o
comportamento indesejado do infrator;
2. São empregados métodos participativos orientados pela solução de
problemas;
3. A intensidade e a duração do tratamento são estabelecidas de acordo com
os riscos de reincidência;
4. Há persistência em uma direção, a partir de uma base teórica definida,
evitando-se a mudança aleatória de objetivos e métodos de trabalho;
5. Os infratores são alocados em programas de acordo com suas
necessidades e estilos de aprendizagem.
Neste ponto, deve-se questionar o senso comum sobre as opiniões acerca das
prisões, penas e perfil dos condenados. Assim, o apropriado seria empreender
esforços para que a ideia de recuperação daqueles que cumprem pena privativa de
liberdade ganhe consistência, ao invés de simplesmente adotarmos uma visão
preconceituosa, não acreditando nessa reabilitação.
Note-se, a título de reflexão, que, enquanto o estado tenta, por um lado,
promover a reinserção do egresso no campo de trabalho da iniciativa privada, por
outro, não aceita estes mesmos indivíduos para seus cargos.
Em suma, extrai-se que os trabalhos com egressos do sistema prisional e sua
consequente reintegração a vida social apresentam resultados positivos,
notadamente na diminuição da reincidência criminal, o que é viabilizado pela atuação
conjunta com os profissionais psicólogos.
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6 O PAPEL DA PSICOLOGIA NA RESSOCIALIZAÇÃO
Fonte: www.portalabcrede.com.br
Conviver durante anos num espaço mínimo para necessidades mais básicas do
ser humano não conduz alguém a um estado de satisfação com a sociedade, muito
pelo contrário. O que devia ser o objetivo da sanção criminal acaba se tornando um
fator que impulsiona o presidiário de forma negativa, trazendo mais ao lado da
reincidência que da reinserção social. Sendo este um dos principais fatores de falha
do sistema em si.
6.1 A PSICOLOGIA
46
normas e costumes, atitude essa que pode ter suas formas de manifestação já nos
primeiros anos de vida. (SÁ. 2007 p. 68)
O confronto na mente do indivíduo é evidente e podem-se colocar dois pontos
de partida: conduta proveniente de questões ambientais, de meio ou um somatório de
experiências recentes. Não muito diferente da realidade de crianças e adolescentes
que residem em periferias de grandes cidades. Seja porque convivem desde o
nascimento com um ambiente hostil ou que vislumbram aquilo que para elas seria o
auge e o modo como ele foi atingido: de modo criminoso. O determinismo (influência
forte do meio) é sim um fator, porém, psicologicamente, não é exclusivo e pode ser
observado pelo perfil daqueles que, de fato, decidem por entrar ou não na
delinquência.
A capacidade de envolvimento emerge no começo do desenvolvimento
emocional, no contexto das relações mãe-bebê como duas unidades já distintas, e
continua a desenvolver-se até a fase adulta.
47
Fonte:www.dicasdemulher.com.br
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6.2 O INSTITUTO DA RESSOCIALIZAÇÃO
Fonte: agenciaalagoas.al.gov.br
49
O crime nada mais é que uma conduta praticada contra os bens tutelados pela
vida em sociedade, ele fere padrões típicos de conduta harmônica com os demais
membros civis, padrões harmônicos estes desenvolvidos pelo convívio e costume ao
longo de séculos, sofrendo adaptações até chegar à norma vigente. O sujeito que
pratica um ato atentatório à estes bens tutelados e desarmoniza a vida social, não foi
socializado ou não está apto a exercer uma vida comum, em grupo, por isso sofre
coercitiva punição por parte do Estado, sendo privada sua liberdade e seu convívio
com os demais cidadãos. A aplicação da pena privativa de liberdade ao transgressor
da norma tem característica punitiva e pedagógica. Punitiva pois o afasta da
sociedade, de seus entes queridos e priva sua circulação no meio comum; pedagógica
pelo caráter de aprendizado e sopesamento de seu ato frente ao bem social tutelado.
A reprimenda imposta ao criminoso visa perseguir um fim condizente com os
ditames constitucionais e com a democracia, motivo pelo a Lei de Execução Penal
(Lei nº 7210, de 1984 – LEP) atribui à pena restritiva de liberdade um caráter punitivo
e retributivo, de forma a ressocializar o apenado para uma “harmônica integração
social do condenado e do internado”, conforme aduz seu Artigo Primeiro.
No mesmo toar, a LEP preceitua diretrizes a serem seguidas ao condenado
assim que se tornar egresso do sistema prisional. O artigo 25, inciso I aduz que “a
assistência ao egresso consiste na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em
liberdade”. Está mais que demonstrado através do supracitado artigo o caráter
ressocializador do Estado para com o egresso do sistema prisional após o
cumprimento da sua pena. Para a prática de tal ato, cabo ao Estado também oferecer
as condições necessárias ao egresso para sua reinserção na comunidade, através de
programas públicos de assistência jurídica, social e psicológica.
O sistema prisional, que deveria ser um instrumento de ressocialização, muitas
vezes, funciona como escola do crime, devido à forma como é tratado pelo estado e
pela sociedade (ASSIS, 2007) e tal quadro, amplamente discutido em diversos
estudos, contribui para a deterioração acelerada do ser humano durante o
cumprimento de sua pena.
A instituição carcerária deveria ser um local de reclusão e aprimoramento
humano, mas, na gritante maioria das vezes, é simplesmente o local de esvaziamento
de personalidade do sujeito, onde ele entra para ser reabilitado socialmente e sai pior
do que entrou, ainda mais envolvido na criminalidade ou desestabilizado
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psicologicamente. Desta forma, fica extremamente evidenciada a importância do
trabalho psicológico com os egressos do sistema carcerário, um acompanhamento e
tratamento efetivo, para potencialização do escopo de reinserção.
O trabalho de uma equipe interdisciplinar para amparar o condenado é de suma
importância para sua ressocialização, tanto que a Lei de Execução determina, em
alguns artigos, a participação de diversos profissionais para otimizar resultados nessa
empreitada junto ao apenado. Tendo como exemplo, o artigo 7º aduz que:
A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será
presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um)
psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado
à pena privativa de liberdade
No mesmo sentido:
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando
prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A
assistência estende-se ao egresso. Art. 11. A assistência será: I - material; II - à saúde;
III -jurídica; IV - educacional; V - social; VI - religiosa.
Fonte: www.seap.mg.gov.br
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O sistema prisional, como já apontado, tem caráter punitivo e retributivo,
seguindo os ditames da Lei de Execução Penal. Porém a cada dia mais se evidenciam
as mazelas do sistema carcerário no nosso país, seja pela falta de estrutura
organizacional, pela pouca demanda de interesse profissional ou falta de investimento
estatal.
As condições precárias das instituições prisionais, que se fazem por estes
motivos anteriormente citados, culminam no não cumprimento das duas funções
básicas deste sistema, até preceituadas em lei. Em virtude disso, muitas vezes o
Poder Judiciário juntamente com algumas esferas governamentais dão soluções
alternativas para minimizar a influência negativa dos presídios e buscar formas
efetivas para ressocialização do egresso do sistema prisional. Como exemplos destas
soluções paliativas, podemos citar, no âmbito do Estado de Minas Gerais, de onde é
produzido o presente estudo, os Centros de Prevenção à Criminalidade – CPCs, os
Centros de Referência de Assistência Social – Cras e os Centros de Referência
Especializado de Assistência Social, onde os egressos do sistema prisional podem
buscar auxílio e acompanhamento para propiciar uma melhor reintegração social.
Os presídios são lugares inóspitos, inadequados e corruptivos, por isso há uma
grande necessidade de acompanhamento durante e após o cumprimento da pena,
tanto é que são criados centros de atendimento para este público. Estes espaços de
atendimento, para melhor acompanhamento dos usuários, são compostos de equipes
multidisciplinares, com profissionais de diversas áreas, para resolver todas as
demandas possíveis que possam aparecer.
Dentro destas equipes multidisciplinares, é de enorme valia o trabalho dos
profissionais da área da Psicologia. Seu trabalho tanto dentro, quanto fora das
unidades prisionais é de extrema importância, pois quem cumpre ou cumpriu pena
privativa de liberdade sofre ou sofreu várias influências quem podem afetar seu estado
normal psicológico.
52
Fonte:estudiodamente.com.br
53
6.4 Trabalho dos psicólogos junto às demais pessoas envolvidas com o
sistema carcerário
A intervenção dos psicólogos não se restringe aos indivíduos que cumprem pena
privativa de liberdade, estendendo também aos familiares destes, bem como aos
agentes penitenciários.
Essa interação com os familiares consiste, inicialmente, em acolhê-los para
ficarem cientes do caso do ente familiar, informando-os sobre suas condições.
Ademais, o atendimento familiar propicia a manutenção do vínculo familiar,
fundamental para interferir de forma positiva na vida do preso, contribuindo para a
futura reinserção do mesmo ao seu núcleo familiar e, consequentemente, a
readaptação na sociedade. (Conselho Federal de Psicologia, 2009).
Referida contribuição é evidenciada através de pesquisas a respeito da
influência das visitas familiares aos detentos. No estado da Flórida (EUA), constatou-
se que os reclusos visitados frequentemente possuem índices de reincidência bem
inferiores em relação aos outros. (Bales, 2008).
Lado outro, também se faz necessário o acompanhamento psicológico dos
agentes penitenciários, a fim de que possam desenvolver suas atividades de forma
saudável. Neste particular, Molina e Calvo:
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Tal contexto, permanecendo por longo prazo, pode fazer com que os agentes
penitenciários manifestem seu stress e suas angústias com comportamentos
agressivos destinados ao preso, o que não pode ser admitido em hipótese alguma.
Por outro lado, esta violência pode se voltar contra o próprio agente, que muitas das
vezes acaba adoecendo.
Isso evidencia sobremaneira a necessidade de um acompanhamento
psicológico destes profissionais. Para tanto, o conselho federal de psicologia (2009)
dispõe que os sistemas prisionais devem oferecer atenção psicológica, orientações,
avaliações, entre outros serviços especializados. No caso, também há a possibilidade
de se fazer trabalhos em grupos.
Com propriedade, o conselho federal de psicologia resume que foi apontado
como tarefa do (a) profissional psicólogo (a), o compromisso de melhorar as condições
de vida do presídio, bem como transformar a cultura institucional e garantir os direitos
das pessoas presas (2009, p. 24).
Ao estudar os aspectos do cumprimento da pena privativa de liberdade no
Brasil, comprovou-se a necessidade de se buscar alternativas para um melhor
funcionamento do sistema prisional como um todo, que puna e trate ao mesmo tempo.
Explicitou-se o que é psicologia jurídica e sua tamanha abrangência,
notadamente sua imprescindível relação com o direito e as várias maneiras de atuar
em conjunto com a justiça.
Constatou-se que o trabalho dos psicólogos é capaz de mudar a cultura
difundida pelo senso comum, no sentido de que a ideia de readaptação dos egressos
seria apenas uma ilusão. Analisou-se então, a partir da procura por meios que
aprimorassem o sistema prisional, como a atuação dos psicólogos contribui no âmbito
dos estabelecimentos prisionais brasileiros.
Observou-se que seus trabalhos não se restringem às pessoas dos detentos,
sendo de suma importância a atuação frente também aos familiares, à comunidade,
aos egressos e, inclusive, junto aos funcionários do sistema.
No tocante aos reclusos e egressos, verificou-se que a atuação dos psicólogos
proporciona que eles se sintam como cidadãos, de fato integrantes da comunidade
social, vencendo estigmas preexistentes. Tal trabalho é fundamental para recuperar
aqueles indivíduos que se encontram em flagrante situação de vulnerabilidade,
contribuindo sobremaneira para a redução da reincidência criminal.
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A participação da família, por sua vez, facilita a readaptação dos apenados na
vida social, sendo certo que também cumpre à sociedade não rotulá-los, pois o fato
de serem excluídos influi para uma maior probabilidade de retornarem ao mundo do
crime.
Destacou-se que, embora o sistema carcerário seja frágil, os psicólogos logram
êxito em contribuir para que seus objetivos sejam realizados de maneira mais
satisfatória, principalmente aqueles contidos na lei de execução penal.
Portanto, restou demonstrado que a atuação dos psicólogos no âmbito das
prisões é eficaz, trazendo inúmeros benefícios para os envolvidos direta e
indiretamente com o sistema prisional. É este profissional que melhor saberá lidar com
as particularidades dos sujeitos.
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