Prod Pedagogico Pedro Cantalice
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Pedro Cantalice
Compêndio de
Técnicas e Sonoridades
para
Cavaquinho Brasileiro
Guia para compositores/arranjadores
Programa de Pós-Graduação
Profissional em Música da UFRJ – PROMUS
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Título
Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro: guia para compositores/
arranjadores
Autor
Pedro Cantalice
Edição
Independente
Capa
Pedro Cantalice
Ilustração (capa)
Rafael Bandeira
Revisão de texto
Cícera Vieira
Fevereiro de 2022
ISBN: 978-65-00-40019-9
Orientador
Henrique Cazes
Banca
Almir Côrtes (UNIRIO)
Marcus Ferrer (UFRJ)
Realização
PROMUS – UFRJ
https://promus.musica.ufrj.br/
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Sumário
Introdução .................................................................................................................................. 5
Estrutura do Cavaquinho ............................................................................................................. 7
Cordas ....................................................................................................................................... 7
Digitação e técnica básica ........................................................................................................... 8
Afinação ..................................................................................................................................... 9
Scordatura ................................................................................................................................ 10
Timbres..................................................................................................................................... 11
Considerações sobre acordes .................................................................................................... 11
Antecipação Consonante........................................................................................................... 13
Campanella ............................................................................................................................... 14
Cordas soltas............................................................................................................................. 15
Díades (duetos) ......................................................................................................................... 16
Glissando .................................................................................................................................. 17
Harmônicos .............................................................................................................................. 17
Ligados ..................................................................................................................................... 19
Melodia acompanhada.............................................................................................................. 19
Mordente ................................................................................................................................. 22
Notas percussivas ..................................................................................................................... 22
Notas repetidas......................................................................................................................... 22
Pizzicato (abafado) .................................................................................................................... 23
Portamento .............................................................................................................................. 23
Ritmo - Levadas rítmicas ........................................................................................................... 23
Segundas menores .................................................................................................................... 25
Tremolo .................................................................................................................................... 25
Staccato .................................................................................................................................... 26
Sweep picking ........................................................................................................................... 26
Trinado ..................................................................................................................................... 27
Vibrato...................................................................................................................................... 27
Técnicas estendidas .................................................................................................................. 28
Considerações finais.................................................................................................................. 29
Braço do cavaquinho................................................................................................................. 30
Bibliografia consultada .............................................................................................................. 31
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Introdução
Cordofone da família das cordas dedilhadas tangidas por palheta, o
cavaquinho brasileiro é um instrumento musical de grande popularidade. Tem em
sua trajetória e desenvolvimento um caminho paralelo a música popular.
Independente da sua origem, aqui no Brasil o cavaquinho desenvolveu um
repertório e uma linguagem própria a partir das mãos de seus
intérpretes/compositores, influenciando músicos de várias partes do mundo.
Instrumento musical versátil usado tanto para a realização do acompanhamento
rítmico-harmônico, como para execução de melodias, o cavaquinho brasileiro tem
se mostrado atuante em diferentes vertentes musicais, seja no ambiente do choro,
do samba ou da música popular em geral. Mais recentemente tem atuado como
solista à frente de orquestras, e em formações experimentais da música de câmara.
Uma outra modalidade que se tem difundido é o cavaquinho solo à capella, onde
realiza a melodia, ritmo e harmonia sem precisar de outros instrumentos para o
acompanhar.
Este trabalho pretende servir como um breve guia de possibilidades técnicas
e sonoras para criação musical no cavaquinho brasileiro. Ter uma “paleta” de modos
de execução para utilizar em composições/arranjos e interpretações musicais
sempre me foi caro, porém só as encontrava esparsas em livros e gravações. Neste
livro focalizo o compositor/arranjador, que não necessariamente tem prática no
cavaquinho, que aqui poderá conhecer um pouco o que este incrível instrumento é
capaz de realizar sonoramente e aplicar em suas obras musicais. O intérprete
também poderá ser beneficiado quando tem em mãos a reunião de alguns dos mais
usados modos de execução para o cavaquinho brasileiro e aplicá-los em suas
interpretações.
Entendo que essa pesquisa é apenas o início de um trabalho que poderá ser
aprimorado por intérpretes e compositores que com suas ações criativas cada vez
mais enriquecem as possibilidades técnicas e sonoras do cavaquinho.
Obs.: Alguns dos exemplos virão acompanhado de uma explicação em
áudiovisual para complementar o que foi apresentado no texto. Para acessar esse
conteúdo basta clicar no ícone “saiba mais”, e será direcionado para o vídeo
referente ao modo de execução em questão.
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Estrutura do Cavaquinho
Cordas
Como em geral nos instrumentos de cordas no Brasil, no cavaquinho as cordas
também são ordenadas do agudo para o grave. São compostas por duas partes, o
núcleo/alma e o revestimento que também é chamado de capa. O núcleo é
tradicionalmente fabricado em aço, e o revestimento pode ser concebido de outros
materiais como níquel, bronze, cobre etc. Há diferenças entre suas espessuras e
texturas onde:
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Primeira corda ①
Corda solta 0
Dedo Indicador 1
Dedo Médio 2
Dedo Anelar 3
Dedo Mínimo 4
Quinta casa V
Nona casa IX
Décima casa X
Exemplo:
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Afinação
O termo afinação aqui será utilizado para indicar a padronização das alturas
estabelecidas para cada corda a ser usada no instrumento. Para cada padrão de
afinação se estabeleceu denominações e no Brasil encontramos frequentemente
três afinações: Tradicional (ré – sol – si – ré), Natural (ré – sol – si – mi), e Em Quintas
(sol – ré – lá – mi), contando da corda mais grave para a mais aguda.
Nota: nesta publicação abordaremos a afinação tradicional, no entanto todas as
técnicas e sonoridades mencionadas podem ser utilizadas nas demais afinações.
• Afinação Tradicional
As cordas são afinadas sobre o acorde de sol maior na segunda inversão:
Nota: Pode-se encontrar na prática popular outras denominações para esta afinação
como “Paraguassu” ou “Corneta”, por exemplo.
• Afinação Natural
As cordas são dispostas como as quatro primeiras cordas do violão. Esta afinação
amplia em 1 tom a extensão da primeira corda em relação à afinação tradicional.
• Afinação em quintas
Disposta como as cordas do violino ou do bandolim, essa afinação é muito
utilizada para acompanhamento no samba, porém também pode ser utilizada para
execução de melodia com maior extensão na região grave.
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Scordatura
É a possibilidade de modificar a afinação de uma ou mais cordas em alturas
diferentes das convencionadas nas afinações padrão. Com essa prática pode-se
conseguir diferentes sonoridades, já que a tensão da(s) corda(s) e a relação
intervalar será diferente. Também pode ser utilizada para aumentar a extensão do
instrumento. Sugere-se indicar a disposição das notas referentes às cordas no início
da partitura.
Exemplo:
• Quarta corda em dó
Variação de timbres
A posição convencional de se tanger as cordas do cavaquinho é com a palheta
posicionada na região da boca do instrumento. Porém, pode-se tocar em outras
regiões buscando diferentes timbres.
• Sul tasto (doce) – É o tanger as cordas sobre a região da escala do
instrumento. Essa execução resulta em uma sonoridade mais “doce”, termo
este que também é utilizado para indicar passagens a serem executadas em
sul tasto.
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Sobre as tríades, vale destacar que quando se tem um acorde de três sons
para tocar simultaneamente no âmbito das quatro cordas do cavaquinho, dobra-se
qualquer uma das notas.
Há também a possibilidade de executar os acordes em apenas três cordas,
deixando de tocar a corda mais grave ou a mais aguda. A partir dessa prática
desenvolveu-se uma linguagem onde toca-se a tríade com três dedos (ou pestana),
e o quarto dedo (ou qualquer dedo livre) pode ser utilizado para variar com notas
melódicas sobre o acorde. Para exemplificar selecionei o tema inicial da música Meu
Bem, de autoria do músico e compositor paulistano Xixa (Bernardo Cascarelli Jr.
1926 - 2000):
• Acorde arpejado
Como a definição literal: tocar à maneira de harpa, executamos de forma rápida
e sucessivas as notas de um acorde. Uma forma comum de grafar acordes arpejados
no pentagrama é a indicação a partir de linhas onduladas com cabeça de seta
quando se deseja indicar o sentido da palhetada:
grafia: soa:
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
mais “abertas”. Para grafar esse efeito é necessário indicar as cordas soltas na
digitação.
• Acordes reentrantes
Efeito obtido quando tocamos o acorde e suas notas não soam de forma
gradativa (do grave para o agudo ou vice-versa), contendo uma ou mais notas que
quebram a sequência provocando uma sonoridade peculiar. Tal efeito é fácil de
obter com a utilização de cordas soltas, porém pode ser executado com cordas
presas. Funciona bem para tocar em acordes arpejados. Indica-se a partir da
digitação:
Antecipação consonante
São diversas as possibilidades de utilização da antecipação na interpretação
da música brasileira, seja como nota melódica ou como ornamento. Aqui será
abordado um modo de antecipação melódica específico que funciona muito bem no
fraseado do cavaquinho.
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Campanella
Efeito obtido ao deixar as notas de um determinado trecho musical soarem
umas sobre as outras, ao invés de executá-las na mesma corda ou interrompendo-
as. Há diversas formas de representar este efeito no pentagrama: afim de evitar
equívocos na interpretação, indica-se o termo campanella por extenso ou outro
termo que represente o efeito a ser executado. A utilização da ligadura e outros
sinais podem auxiliar indicando quais e onde as notas serão tocadas sob o efeito.
campanella como soa
Nota: a utilização dos termos: legato, deixar soar, lascia vibrare, podem ser grafados
no pentagrama para indicar o mesmo efeito.
Cordas soltas
As cordas soltas podem ser utilizadas em diferentes situações. Além de
proporcionar um som com maior amplitude, pode também servir de artifício para a
mudança de posição nas regiões do braço do cavaquinho, entre outras
possibilidades. Vejamos algumas:
• Corda solta como mudança de posição
Quando se tem uma passagem em que se muda de posição no braço
do instrumento e se faz necessário dar um salto com a mão de digitação, a
utilização de uma corda solta é um facilitador para execução.
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Arpejo de Dm
Díades (duetos)
Sonoridade idiomática, é a execução de trechos com duas notas em cordas
vizinhas tocadas simultaneamente, produzindo intervalos harmônicos entre elas.
Por vezes são utilizados para remeter uma sonoridade de música rural como:
calango, folia de reis, moda de viola, samba de roda, quando utilizado em intervalos
consonantes como terças e sextas, por exemplo etc. Quando essas díades são
tocadas em sequência os seus intervalos se conjugam em movimentos entre as
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vozes que podem ser classificados como: movimento paralelo, similar, oblíquo ou
contrário. As díades podem ser utilizadas em contextos harmônicos ou melódicos.
A seguir veremos alguns exemplos:
• Movimento paralelo – Exemplo de movimento em terças menores paralelas
nas cordas agudas do cavaquinho:
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Glissando
Efeito obtido com o deslizar de um ou mais dedos, no sentido horizontal sobre
as cordas, realizando a ligação entre sons. Com esse efeito conseguimos ouvir as
notas que interligam o ponto de saída e chegada exigindo maior pressão na mão de
digitação após o tanger das cordas. Os glissandi podem ser utilizados em notas
simples, díades ou acordes. Para indicar o glissando utiliza-se o termo gliss., ou
apenas uma linha ondulada entre as notas pretendidas.
Harmônicos
No cavaquinho são utilizados harmônicos naturais e artificiais. Com esse
modo de execução consegue-se um timbre particular que também pode ser usado
como ampliação da extensão do instrumento com notas mais agudas. É importante
observar a dinâmica indicada para esse tipo de sonoridade, pois não possuem
grande volume sonoro. São frequentemente utilizados para representar sons
celestiais, de caixinha de música, com um teor infantil, dentre outras propostas. Para
o cavaquinho normalmente é praticado até o terceiro harmônico a partir de uma
nota fundamental, onde o som é emitido com melhor definição.
• Harmônicos Naturais - São obtidos a partir das cordas soltas do instrumento, com
diversas possibilidades para grafia de para este tipo de harmônico. Aqui será
representada pelo símbolo º acima da nota equivalente ao som que será emitido,
auxiliado pela indicação dos trastes representados por H12 (traste 12), H7, H5 etc.
Modos de execução:
Para os harmônicos naturais há duas formas de execução:
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Representação e sonoridade:
H12 - 1º harmônico é encontrado no 12º traste, produzindo o som uma 8ª acima da
nota fundamental.
H7 e H19 - 2º harmônico é encontrado no 7º ou 19º traste, produzindo um som uma
12ª acima da fundamental.
H5 e (H24*) - 3º harmônico é encontrado no 5º ou 24º traste (virtual), produzindo
o som de duas oitavas, ou 15ª acima da fundamental.
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Ligados
Forma de articular também utilizada como ornamento, reduz os sons de
ataque para o fraseado e possibilita maior velocidade em um trecho a partir do
movimento da mão de digitação. Representado por uma ligadura, os ligados podem
ser ascendentes ou descendentes. Há ligados idiomáticos realizados antes ou depois
de cordas soltas.
Melodia acompanhada
Com as 4 cordas do cavaquinho é possível tocar uma melodia e realizar um
acompanhamento simples ao mesmo tempo. Esse tipo de recurso é muito usado
quando se pretende escrever para cavaquinho solo, sem o auxílio de outro
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Mordente
Este ornamento é muito utilizado por intérpretes na linguagem do choro. No
cavaquinho geralmente são executados em notas localizadas na mesma corda,
entretanto existe a possibilidade de ser tocado em cordas diferentes. Pode ser
executado de forma ascendente ou descendente com diferenças em relação ao
ataque:
• Um golpe de palheta na primeira nota e as posteriores em ligados.
• Dois golpes de palheta e a última ligado.
• Três golpes de palheta, um para cada nota.
A forma de ataque é normalmente de escolha do intérprete, caso o compositor
queira uma execução específica, cabe grafar no pentagrama com a indicação do
sentido da palheta.
Notas repetidas
Forma de articular com duas palhetadas por nota. Muito usada em
instrumentos de cordas dedilhadas, e sugere um efeito de “eco”. Pode ser realizado
em notas avulsas, porém dão um maior efeito em passagens em campanella, onde
os sons se sobrepõem uns aos outros. Dentre vários exemplos, destaco a utilização
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Pizzicato (Abafado)
Efeito que simula o som de Pizzicato dos instrumentos de cordas friccionadas,
porém realizado de maneira diferente.
A forma mais utilizada para obter esse efeito é: o intérprete apoia a parte de
baixo da palma da mão da palheta sobre o rastilho, e tange a corda, fazendo que o
som soe abafado, porém com a altura da nota real.
Há também o pizzicato executado com a polpa do polegar da mão da palheta,
um som diferente do pizz. abafado, com redução no volume sonoro e no timbre
deixando um som com menos brilho característico do pizzicato original. A indicação
pode ser feita com o termo pizz. no trecho desejado e os termos normal, ordinário
ou arco para indicar que deve se tocar da forma convencional com a palheta.
Portamento
Breve deslizamento de um ou mais dedos da mão de digitação entre notas.
Utilizado tanto para mudança de posição, como um efeito para enriquecer a
expressividade. Diferente do glissando, apenas dá a intenção de chegada ou saída
de uma nota ou acorde, podendo ter uma nota de chegada ou não, seja ascendente
ou descendente. Grafa-se indicando uma linha na direção a se executar o
portamento.
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Segundas menores
Efeito muito utilizado na música popular tanto em passagens melódicas como
harmônicas. Tradicionalmente os cavaquinistas utilizam-na de forma livre para
adornar passagens musicais em suas interpretações. É muito executada em cordas
soltas, porém utiliza-se também nas cordas presas.
Modo de execução: Este efeito é obtido ao tocar duas notas em cordas
vizinhas com intervalo harmônico de segunda menor, sendo o som mais
agudo a nota real. A particularidade na execução desse efeito idiomático está
em logo após a díade tocada, retirar o dedo da nota mais grave deixando soar
apenas a nota real. Sugere-se grafar como uma apojatura onde a nota seja
prolongada:
Tremolo
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Sweep picking
Em tradução livre, varrer as cordas com a palheta em um único sentido. Esse
tipo de articulação auxilia no ganho de velocidade para execução de arpejos verticais
e reduz o som de ataque ao fraseado. Apesar de ser muito utilizada por guitarristas,
essa técnica está presente no ambiente “cavaquinístico” pelo menos desde 1929,
como podemos verificar em gravações do músico Nelson Alves e posteriormente em
interpretações de Waldir Azevedo e Garoto na década de 1950.
Seu funcionamento dependerá das duas mãos em sincronia, onde a mão da
palheta aproveita o sentido da palhetada e “varre” as cordas, podendo ter
movimentos entre duas, três ou nas quatro cordas, e a mão de digitação auxilia nas
articulações em passagens que podem ser em staccato ou campanella.
Staccato
Devido à grande tensão das cordas do cavaquinho, articular as notas em
staccato é relativamente fácil, e se o intérprete descuidar pode realizá-la
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
involuntariamente. Para tal basta retirar levemente o dedo que pressiona a(s)
corda(s) logo após emitir o som, a depender da sua duração original. Importante
saber que caso a nota seja tocada em corda solta abafa-se o som com a mão de
digitação.
Trinado
Ornamento possível no cavaquinho onde normalmente se executa em notas
vizinhas na mesma corda. Caso as notas do trinado não sejam graus conjuntos
indica-se sua altura apenas com a cabeça de nota posteriormente a nota principal,
este último é muito prático para utilização em cordas soltas.
Execução:
Vibrato
Utilizado como ornamento ou como artifício para maior prolongamento do
som. Há em instrumentos de cordas dedilhadas dois tipos de vibratos básicos:
vibrato transversal e longitudinal.
Vibrato Transversal - É mais comum entre os cavaquinistas devido a tensão das
cordas e por ter maior efeito. O dedo da mão de digitação pressiona a nota tocada
pela palheta, em movimentos alternados paralelos ao traste, causando uma leve
oscilação na altura da nota original.
Vibrato longitudinal – O dedo pressiona a nota e realiza movimentos para direta e
esquerda (vice-versa) no sentido paralelo às cordas. Menos utilizado na cultura do
cavaquinho, porém é possível executá-lo. Tem melhor resultado na região
compreendida no meio do braço do cavaquinho.
Vibrato em cordas soltas – Tocar a corda solta e realizar movimento de balanço com
o cavaquinho.
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
Técnicas estendidas
As técnicas estendidas são um campo vasto de possibilidades para qualquer
instrumento musical. Historicamente é reconhecido que muitas destas técnicas já
foram consideradas não convencionais em determinado período, e com o tempo
passaram a ser incorporadas como técnicas comuns a prática.
Abaixo apresentarei algumas possibilidades de técnicas estendidas realizadas
ao cavaquinho e certamente podem ser ampliadas com novas experimentações:
Imitar som de cuíca - Friccionando rapidamente um dos dedos da mão de digitação
na direção do grave para agudos em uma corda, enquanto a mão da palheta executa
som de forma ritmada.
Como berimbau – Com auxílio de uma baqueta (vareta) toca-se as cordas do
cavaquinho posicionado verticalmente como se fosse um berimbau, servindo para
a execução de melodia e harmonia.
Slide – Utilizando-se de um objeto deslizante para passar sobre as cordas com a mão
de digitação enquanto a mão da palheta tange as cordas normalmente. Há também
a possibilidade da utilização de um slide (objeto cilíndrico que encaixa em um dos
dedos da mão de digitação). Esse efeito remete ao som de uma guitarra havaiana.
Com abafador (surdina) – Utilização de um pedaço de espuma embaixo das cordas
próximo ao cavalete. O som se aproxima da técnica de pizzcato, porém aqui a mão
da palheta fica livre para realizar movimentos variados. É aconselhável planejar um
tempo entre a hora de colocar e retirar a surdina.
Chiado com a palheta – Arrastar um dos lados da palheta sobre a 3ª ou 4ª corda do
cavaquinho obtendo um ruído que pode mudar de altura dependendo da velocidade
ou da região da corda tocada.
Glissando com a tarraxa (scordatura) – Afrouxar ou apertar a tarraxa de uma corda
solta tangida, modificando sua altura gradativamente como um glissando.
Utilização de pedal de efeito
Apesar de não ser considerada técnica estendida, a utilização de pedais, podem
ampliar a gama de sonoridades do cavaquinho. São muitas as possibilidades: efeitos
como distorção, reverb, delay, chorus, oitavador, dentre outros, podem ser
utilizados para o cavaquinho quando se está amplificado. Uma possibilidade usada
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Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho Brasileiro – Pedro Cantalice
por Leonardo Benon em sua peça Impressões em sol menor é o pedal de looping,
onde se consegue gravar uma passagem musical e em seguida tocar
simultaneamente ao que foi gravado, podendo criar diferentes camadas a partir de
apenas uma fonte sonora.
Considerações finais
O Cavaquinho Brasileiro tem sido utilizado em diversas manifestações
musicais e em diferentes formações instrumentais. Cada vez mais, intérpretes e
compositores vêm experimentando e ampliando as possibilidades sonoras desse
pequeno instrumento. Este Compêndio de Técnicas e Sonoridades para Cavaquinho
Brasileiro surge com o intuito de fornecer células iniciais para compositores e
arranjadores que desejam experimentar os sons do cavaquinho, em suas obras
musicais, e instrumentistas em geral também poderão se beneficiar confrontando
suas experiências com o texto aqui apresentado.
É interessante que surjam novos estudos com a temática abordada neste
compêndio, pois como uma linguagem viva, as técnicas e sonoridades vão se
expandindo e gerando novas possibilidades. Certamente será de grande valia para a
evolução do cavaquinho brasileiro. Por isso peço aos compositores/arranjadores
que utilizem o cavaquinho em suas obras e extrapolem seus limites, pois é um
instrumento com muitos caminhos a trilhar.
Pedro Cantalice.
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Bibliografia consultada
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