Aulas 3 e 4 - PRINCÍPIOS
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Aulas 3 e 4 (sinopse): I – Direito dos Contratos e Direito do Consumidor: diálogo das fontes no ordenamento brasileiro à
luz da Constituição Federal. 1. Enfoque inicial. II. Princípios a destacar por relevância e frequência de utilização. 1.
Princípio da autonomia da vontade (ou da autonomia privada). 2. Princípio da força vinculante (ou força obrigatória). 3.
Princípio da relatividade subjetiva (ou da relatividade dos efeitos). 4. Princípio da função social do contrato (Princípio da
Sociabilidade). 5. Princípio da boa-fé objetiva (Princípio da Eticidade). 5.1. Boa-fé objetiva. Aspectos de sua função
integrativa – reflexos na Jurisprudência (supressio, surrectio, tu quoque, exceptio doli, venire contra factum proprium e
duty to mitigate the loss).
I. Direito dos Contratos e Direito do Consumidor: diálogo das fontes no direito brasileiro à luz da
Constituição Federal.
Adequado para seu tempo, ou seja, para a sociedade brasileira que tinha
no campo suas principais referências econômicas e onde estava a maior parte de sua população, o
Código Civil de 1916 dava tratamento jurídico bastante sólido aos institutos jurídicos da propriedade,
da família constituída pelo casamento e do contrato.
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Bürgerliches Gesetzbuch (BGB).
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cresceu, que passou por correntes migratórias, êxodo rural, crescimento das cidades e otimização da
vida urbana, com novos costumes e práticas comerciais, sobretudo, com a industrialização e o
consumo em massa.
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importância em nossa época atual o estudo do tema relativo aos princípios – e aqui destacaremos
aqueles ditos clássicos e outros que temos como contemporâneos – posto que na condição de fontes
de interpretação e criação do Direito, colocam-se ao estudioso e ao profissional como linhas de
interpretação correta e como parâmetros de supressão de lacunas2, não nos olvidando que ainda
operam como critérios limitadores da liberdade contratual, quando esta desborda para a abusividade,
e novamente temos aqui fontes jurídicas essenciais, as principiológicas, em total alinhamento nos
dois sistemas do ordenamento e atualmente com mesma aplicação aos contratos de consumo ou
privados, sempre em conformidade com os valores constitucionais superiores: igualdade,
solidariedade e dignidade da pessoa humana.
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Art. 4o, Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro – LIDB (Decreto-lei 4657/42). Quando a lei for omissa, o juiz decidirá
o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
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da pessoa física (mais recentemente, também da pessoa jurídica) de suscitar, mediante declaração de
vontade válida, efeitos reconhecidos e tutelados pela ordem jurídica, ou seja, tratou-se de princípio
absoluto no passado que orientava a interpretação dos negócios em torno da plena liberdade de
contratar, e por esta, expressão de uma das liberdades plena do indivíduo, traduzida pelo Iluminismo
como a própria existência de um autêntico poder de qualquer agente capaz de criar, modificar ou
extinguir direitos, bem como, obrigações.
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uma ótica alinhada à Constituição Federal, o que era antes considerado absoluto precisou ser revisto
pela Ciência do Direito, pois as modernas relações de massa e o contrato de adesão nos trouxeram
novas necessidades e uma premente reflexão em torno do quão poderia ser equivocado pensarmos
numa vontade humana jurígena, mas que não era mais “tão autônoma” em razão das formas
contemporâneas de contratação, e assim distinguir, no âmbito da liberdade individual expressada
pela vontade autônoma, a diferença entre a liberdade de contratar (de celebrar contratos,
plenamente mantida como absoluta), da liberdade contratual (de definir o conteúdo da
contratação, revista à luz de valores sociais superiores).
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3 Art. 170, Constituição Federal. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
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[...] Um contrato válido e eficaz deve ser cumprido pelas partes: pacta sunt servanda.
O acordo de vontades faz lei entre as partes, dicção que não pode ser tomada de forma peremptória, aliás, como tudo
em Direito. Sempre haverá temperamentos que por vezes conflitam, ainda que aparentemente, com a segurança jurídica.
Essa obrigatoriedade forma a base do direito contratual. O ordenamento deve conferir à parte instrumentos judiciários
para obrigar o contratante a cumprir o contrato ou a indenizar pelas perdas e danos. Não tivesse o contrato força
obrigatória estaria estabelecido o caos. Ainda que se busque o interesse social, tal não deve contrariar tanto quanto
possível a vontade contratual, a intenção das partes. Decorre desse princípio a intangibilidade do contrato. Ninguém pode
alterar unilateralmente o conteúdo do contrato, nem pode o juiz, como princípio, intervir nesse conteúdo. Essa é a regra
geral. As atenuações legais que a seguir estudaremos alteram em parte a substância desse princípio. A noção decorre
do fato de terem as partes contratado de livre e espontânea vontade e submetido sua vontade à restrição do cumprimento
contratual porque tal situação foi desejada. Ao iniciarmos o estudo das obrigações, vimos que existe um estímulo que nos
impulsiona a conseguir algo. Do sopesamento desse estímulo com as limitações psíquicas teremos a noção do homem
equilibrado, ou do bonus pater famílias” (VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil - Vol. 3 - Contratos, 18ª edição. Atlas,
12/2017. VitalBook file, p. 17/18).
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O contrato “faz lei entre as partes”, como outrora fazia e até os dias
atuais faz. Contudo, para permear esse vínculo obrigatório que gera segurança jurídica, há atualmente
em nosso sistema jurídico a necessidade de o contrato respeitar valores constitucionais de dignidade
da pessoa humana, igualdade e justiça social, repetimos.
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Res inter alios acta, allis nec prodest nec nocet (Os atos dos contratantes não aproveitam nem prejudicam a terceiros).
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Enunciado 21, do Conselho da Justiça Federal (I Jornada de Direito Civil): “A função social do contrato, prevista no art. 421 do
novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros,
implicando a tutela externa do crédito”.
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Nesse sentido: “INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E À IMAGEM – Empresa-autora que foi prejudicada pelo
aliciamento do principal artista de sua campanha publicitária por parte da empresa-ré – Improcedência da demanda – Inconformismo –
Acolhimento parcial – Requerida que cooptou o cantor, na vigência do contrato existente entre este e a autora – Veiculação de posterior
campanha publicitária pela ré com clara referência ao produto fabricado pela autora – Não observância do princípio da função social do
contrato previsto no art. 421 do Código Civil – Concorrência desleal caracterizada – Inteligência do art. 209 da Lei n° 9.279/96 – Danos
materiais devidos – Abrangência de todos os gastos com materiais publicitários inutilizados (encartes e folders) e com espaços
publicitários comprovadamente adquiridos e não utilizados pela recorrente, tudo a ser apurado em liquidação – Dano moral –
Possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral – Súmula 227 do Colendo Superior Tribunal de Justiça – Ato ilícito da requerida que
gerou patente dano moral e à imagem da requerente – Sentença reformada – Ação procedente em parte – Recurso parcialmente provido.
(sem grifos no original)”. Tribunal de Justiça de São Paulo, 5ª Câmara de Direito Privado. Apelação nº 9112793-79.2007.8.26.0000, da
Primo Schincariol Indústria de Cervejas e Refrigerantes S/A, São Paulo – SP, 12 de junho de 2013.
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Art. 608, Código Civil. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância
que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos.
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Art. 421, Código Civil. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
Art. 2.035. [...] § único, Código Civil. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os
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estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.
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[...] “Em resumo, a eficácia interna da função social dos contratos pode ser percebida:
a) pela mitigação da força obrigatória do contrato; b) pela proteção da parte vulnerável da relação contratual, caso dos
consumidores e aderentes; c) pela vedação da onerosidade excessiva; d) pela tendência de conservação contratual,
mantendo a autonomia privada; e) pela proteção de direitos individuais relativos à dignidade humana; f) pela nulidade de
cláusulas contratuais abusivas por violadoras da função social. Ainda quanto à eficácia interna, a função social dos
contratos, pelo que consta dos arts. 104, 166, II, 187 e 421 do Código Civil, pode se enquadrar nos planos da validade ou
da eficácia do contrato, o que depende de análise caso a caso. Isso porque, havendo no exercício da autonomia privada
um abuso do direito, estará configurado o ilícito, que pode eivar de nulidade a cláusula contratual ou mesmo todo o
contrato. Por outro lado, a eficácia externa da função social dos contratos pode ser extraída das hipóteses em que um
contrato gera efeitos perante terceiros (tutela externa do crédito, nos termos do Enunciado n. 21 do CJF/STJ); bem como
das situações em que uma conduta de terceiro repercute no contrato. Também, denota-se essa eficácia externa pela
proteção de direitos metaindividuais e difusos. Como exemplo de eficácia externa, ainda pode ser citada a função
socioambiental do contrato” (TARTUCE, Flávio. Direito Civil - Vol. 3 - Teoria Geral dos Contratos em Espécie, 11ª
edição. Forense, 12/2015. VitalBook file, p. 75/76).
9 Art. 170, Constituição Federal. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:[...] III – função social da
propriedade.
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10 Art. 422, Código Civil. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.
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contratante individualmente considerado, e em especial, ao seu querer honesto, para, além deste,
contaminar uma conduta exigível frente ao contrato, frente ao outro contratante e frente ao meio
social. Essa conduta contratual correta deixa de ser a do simples adimplemento de cláusulas firmadas,
para ser uma conduta contratual correta para contemplar, além do adimplemento, outros deveres
secundários, que, se descumpridos, também podem gerar responsabilização.
b) dever de confidencialidade;
c) dever de respeito;
f) dever de lealdade;
g) dever de colaboração.
Por qualquer forma que se analise o citado artigo 422, do Código Civil,
a boa-fé objetiva contratual, a par dos elementos tradicionalmente integrantes do contrato (partes
capazes, objeto lícito, forma prescrita ou não defesa em lei) encerrará elementos outros para a
contratação. Na sempre lembrada lição de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho11, a boa-
fé objetiva gera um conjunto de funções importantíssimas para a moderna disciplina de estudo e
interpretação dos contratos, possibilitando melhor entendimento acerca da real vontade dos
contratantes (função interpretativa), maior cuidado em prol do contratante hipossuficiente
econômico-social, via de regra atingido pela necessidade de contratar de forma simplesmente adesiva
(função protetiva), além de possibilitar maior e melhor limitação à liberdade contratual evitando-se
11
Novo Curso de Direito Civil – V 4, T. I, 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2006.
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TARTUCE, Flávio. Direito Civil - Vol. 3 - Teoria Geral dos Contratos em Espécie, 11ª edição. Forense, 12/2015. VitalBook file, p.110.
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Enunciado 26 do Conselho da Justiça Federal/STJ: “A cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz
interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento
leal dos contratantes”.
14 Art. 330, Código Civil. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no
contrato.
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E ainda:
Ementa: PARCERIA AGRÍCOLA – Pretensões resolutória por inadimplemento
contratual julgada improcedente e parcialmente procedente a pretensão indenizatória – Infrações a diversas cláusulas
contratuais inculcadas aos parceiros outorgados devidamente comprovadas nos autos – Comportamento da parceira
outorgante que não caracteriza aceitação (supressio), autorizando a resolução do contrato, com a consequente
restituição do imóvel objeto da parceria, no estado em que se encontrava – Condenação dos parceiros outorgados ao
pagamento da parte devida à parceira outorgante que deixou de ser paga nas datas aprazadas, com juros e correção
monetária, em especial aquela pelos contratos firmados com CUTRALE e CITROSUCO – Condenação fixada na
sentença, no tocante ao ressarcimento do que foi desembolsado pela parceira outorgante com a manutenção das
benfeitorias, mantida – Encargos da sucumbência carreados integralmente aos parceiros outorgados – Apelação da
parceira outorgante provida, não provida a dos parceiros outorgados. (TJSP – Apelação 1001813-75.2016.8.26.0619 –
Rel. Des. Sá Duarte - Comarca: Taquaritinga – 33ª Câmara de Direito Privado – data do julgamento: 11/02/2019).
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isso a quebra do dever de lealdade e de confiança e prejuízo à outra parte celebrante 15. A aplicação
do instituto é amplamente acolhida pelos Tribunais pátrios, com franca incidência e grande resguardo
para a proteção da parte contratante e integração do contrato à boa-fé objetiva. Citamos:
Ementa: PLANO DE SAÚDE. AÇÃO INDENIZATÓRIA. I. Cancelamento do contrato
fundado na inadimplência do segurado. Descabimento. Mora incontroversa quanto a prêmios securitários, vencidos entre
julho e outubro de 2016. Seguradora, todavia, que admitiu a renegociação do débito em aberto quando necessária a
cobertura securitária pelo autor, recebendo a totalidade das contraprestações em atraso. II. Expectativa de manutenção
da avença. Conduta contraditória da ré (nemo venire contra factum proprium). Violação à boa-fé objetiva em sua função
limitadora dos contratos (artigo 422, CC). Preservação da avença que, ademais, atende ao postulado da função social do
contrato (artigo 421, CC). Extinção indevida da avença. III. Conduta ilícita reconhecida. Dever de reparação integral das
despesas hospitalares assumidas pelo autor. Inteligência do artigo 402 do Código Civil. IV. Danos morais. Caracterização.
Indevida suspensão da cobertura que impôs ao paciente desassossego anormal, com o agravamento de seu quadro
psicológico, sobretudo dado o grave quadro médico ostentado. Precedentes do E. Superior Tribunal de Justiça.
Adequação do arbitramento da indenização em R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Respeito aos parâmetros do artigo 944 do
Código Civil. Juros moratórios, por fim, devidamente fixados a partir da citação, de acordo do artigo 405 do Código Civil.
SENTENÇA PRESERVADA. APELO DESPROVIDO. [...] O E. Superior Tribunal de Justiça, a respeito da aplicação da
teoria dos atos próprios já decidiu: “A aplicação da “teoria dos atos próprios”, como concepção do princípio da boa-fé
objetiva, sintetizada nos brocardos latinos “tu quoque” e “venire contra factum proprium”, segundo a qual ninguém é
lícito fazer valer um direito em contradição com a sua conduta anterior ou posterior objetivamente, segundo a lei, os bons
costumes e a boa-fé” (Recurso Especial n. 1.192.678-PR, Relator Min. Paulo de Tarso Sanseverino). Ainda, mutatis
mutandis, “A teoria dos atos próprios impede que a administração pública retorne sobre os próprios passos, prejudicando
os terceiros que confiaram na regularidade do seu procedimento” (Recurso Especial n. 141879-SP, Rel. Ruy Rosado de
Aguiar). Com efeito, a atuação contratual da apelante ofende a boa-fé que deve nortear os contratos consumeristas, assim
como a atuação dos agentes econômicos amplamente considerados, à luz da cláusula geral do artigo 187 do Código Civil.
Injustificada a resolução negocial, deve-se prestigiar a manutenção do contrato, prevalecendo o princípio da função social
do contrato, previsto no artigo 421 do Código Civil. Nesse sentido: “A função social do contrato prevista no artigo 421 do
Código Civil constitui cláusula geral, que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas”
(Enunciado 22, do CEJ) [...] (TJSP - Apelação 1017704-53.2017.8.26.0506 – Rel. Des. Donegá Morandini - Comarca:
Ribeirão Preto – 3ª Câmara de Direito Privado – data do julgamento: 27/11/2018).
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No mesmo sentido, o Enunciado 362, do Conselho da Justiça Federal/STJ: “A vedação do comportamento contraditório (venire
contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil”.
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inobservância, pelo cliente bancário, do protocolo oficial de encerramento de conta bancária por
desconhecimento ou simplicidade.
Art. 4o, Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro – LIDB (Decreto-lei 4657/42). Quando a lei for omissa, o
juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
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Art. 170, Constituição Federal. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:[...] III – função social da propriedade.
Art. 113, Código Civil. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração.
Art. 421, Código Civil. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
Art. 422, Código Civil. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé.
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