Art2 Ictericia Neonatal
Art2 Ictericia Neonatal
Art2 Ictericia Neonatal
ICTERÍCIA NEONATAL
Profa Marisa Mussi-Pinhata e Prof Francisco Martinez
A icterícia neonatal foi reconhecida há, pelo menos, 100 anos. O termo kernicterus foi
introduzido em 1900 para descrever a coloração amarela dos gânglios basais observada em
RN que morreram com icterícia acentuada.
• Estudos nas décadas de 80 e 90 sugeriam que o kernicterus era raro e que muitos
RN, principalmente os nascidos a termo, estavam sendo tratados
desnecessariamente, o que indicaria a necessidade de uma abordagem menos
intervencionista na avaliação e tratamento da icterícia.
• Esses fatos reforçaram a prática de identificar e tratar cada vez menos o RN com
icterícia.
Níveis > 17 mg/dl em RN a termo não devem ser considerados fisiológicos e uma causa
patológica geralmente é identificada, principalmente se a icterícia iniciou-se dentro de 24
horas do nascimento, se o acréscimo de BB é >5 mg/dl/dia.
Além das bases genéticas da icterícia neonatal, optei por comentar mais
detalhadamente o conhecimento atual sobilirrubinae o aleitamento materno e a
hiperbilirrubinemia, principalmente por ser de elevada freqüência e de relevância para o
atendimento do RN.
Pelo menos 12 estudos que analisaram > 8000 RN e controlaram outros fatores tais como
hemólise, documentaram que o aleitamento materno associa-se à hiperbilirrubinemia.
Os estudos que demonstram que baixo ganho de peso ou demora para recuperação
ponderal estão associados à maior freqüência de icterícia reforçam a hipótese que a baixa
ingestão hídrica e desidratação dificulte a excreção da BILIRRUBINA. Entretanto, outros
estudos não demonstram diferenças quando suplementa-se água aos RN, sugerindo que outros
mecanismos estejam envolvidos.
hiperbilirrubinemia. Também, o maior volume fecal nas crianças alimentadas com fórmula nas
primeiras 3 semanas associa-se com menor freqüência de icterícia.
A bilirrubina parece ser um “veneno celular” sendo mais tóxica para células mais
imaturas. Vários são os mecanismos possivelmente envolvidos, desde alteração dos
mecanismos de troca iônica da membrana celular com edema celular e axonal, diminuição dos
potenciais de transmissão nervosos, diminuição de síntese de neurotransmissores (dopamina)
pela interferência com o transporte de substratos e interferência com a função mitocondrial.
Esses efeitos são potencialmente reversíveis. Entretanto a morte neuronal sobrevêm quando se
instala a picnose e gliose neuronais, sendo essas irreversíveis.
Parte dos efeitos tóxicos são reversíveis com o tratamento. Na maioria de RN com
hiperbilirrubinemia moderada a severa, o potencial auditivo evocado normalizou-se com 6
meses de idade. Entretanto permaneceu alterado em 7% dos RN.
Apesar de ser raro o kernicterus é uma condição devastadora. Aproximamente 80% (61
entre 90) dos casos documentados na última década nos EUA ocorreram em RN que não
apresentavam doença hemolítica ABO ou Rh, mas em RN aparentemente sadios, a termo ou
próximo do termo gestacional com níveis extremamente elevados de bilirrubina nas primeiras
semanas de vida, geralmente > 30 mg/dl
Se houver predição dos níveis de bilirrubinemia, poderá haver predição de quase todos os
casos de kernícterus. Entretanto, apesar de níveis de bilirrubina >20mg/dl poder ocorrer em
até 1% dos RN amamentados no peito, níveis > 30 mg/dl ocorrem em aproximadamente
1/10000 RN. Portanto para identificar poucos RN, haveria necessidade de acompanhar e tratar
muitos.
A opção do uso dos indicadores de risco para hiperbilirrubinemia pode alertar para as
condições mais comuns de hiperbilirrubinemia acentuda, quais sejam, a prematuridade,
sangramentos, policitemia, cefalo-hematomas, doença hemolítica por incompatibilidade ABO
e Rh, mas não alertam para condições não menos comuns como a deficiência de G6PD, a S. de
Gilbert, as formas associadas recentemente descritas, a S. de Crigler-Najjar e a sepse viral ou
bacteriana que responderam por 40% dos casos de kernícterus nos EUA. Deve-se acrescentar
que em 30% dos casos não se identificou outra causa associada, a não ser que a criança era
amamentada pela mãe e que havia perdido > 10% do peso corporal nos primeiros 7 d de vida,
tendo sido classificada como idiopática.
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A pesar de ser reconhecido como um instrumento útil para esse objetivo, a metodologia da
construção do nomograma de BUTHANI possui limitações que restringem a sua generalização
externa.
1- Somente 2976 dos 13000 Rn elegíveis completaram o estudo, não há menção sobre as
razoes da exclusão. Se esses foram excluídos devido a baixo níveis de bilirrubina pré-
alta por ex, o estudo seria deficiente em RN com resultados negativos o que poderia
estar causando estimativas falsas de alta sensibilidade e baixa especificidade.
Os mesmos autores utilizaram esse nomograma para avaliar a utilidade predição da medida
de bilirrubina e do monóxido de Carbono exalado para detecção de hiperbilirrubinemia até 7
dias de idade em 1370 RN >=35 sem de 9 centros multinacionais, incluindo Japão, Israel e
China. O total de 8,8% dos RN atingiram a zona 4 do nomograma, havendo grande
variabilidade entre os centros, tendo os autores sugerido que os guias para manejo e predição
de hiperbilirrubinemia devem ser disponíveis para diferentes populações, de acordo com as
causas mais freqüentes de bilirrubinemia da mesma.
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A maior utilidade do sistema de nomograma é o seu elevado valor preditivo negativo, ou seja
a possibilidade de um RN com bilirrubina pré-alta <P40 vir a desenvolver hiperbilirrubinemia
é mínima e necessita somente ser monitorada por meio de avaliação visual.
>15 mg (25-48hs)
* não há queda de 1 a 2 mg em 4 a 6 hs
Entretanto, esses valores não são baseados em grandes estudos prospectivos e podem não
se aplicar a todos os RN. Deve-se considerar também a possibilidade da doença hemolítica
não ter sido diagnosticada.
Saudável Doente
Prematuro
Outras formas de terapêutica, menos invasivas e, talvez, igualmente eficazes, têm sido
propostas.
A icterícia colestática também acomete RN, mas não será objeto dessa dissertação.