Carta Aos Hebreus e Catolicas 5

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EAD

Cartas de João e
Carta de Judas

5
1. OBJETIVOS
• Apresentar as últimas cartas do conjunto das Cartas Ca-
tólicas.
• Introduzir as três Cartas de João e a Carta de Judas em sua
história, literatura e teologia.
• Conduzir à leitura das três Cartas de João e da Carta de
Judas.

2. CONTEÚDOS
• A Primeira Carta de João.
• Data, lugar da composição e autoria da carta.
• Teologia da Primeira Carta de João.
• A Segunda e a Terceira Carta de João.
• Data, lugar da composição e autoria das cartas.
154 © Cartas aos Hebreus e Católicas

• Teologia da Segunda e Terceira Carta de João.


• A Carta de Judas.
• Data, lugar da composição e autoria da carta.
• Teologia da Carta de Judas.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


1) É importante ressaltar que, embora sejam aqui abor-
dadas quatro obras do Novo Testamento, a quantia de
texto é pequena, pois tais cartas não são extensas. Por-
tanto, recomendamos que você as leia antes de iniciar o
estudo desta unidade, pois, assim, poderá acompanhar
mais profundamente os temas aqui desenvolvidos.
2) Alertamos que é de fundamental importância que as
questões autoavaliativas sejam respondidas, pois elas
podem se tornar o ponto de partida de debates, de ou-
tros trabalhos e de pesquisas. Você deve estar sempre
motivado a descobrir e aprofundar seus conhecimentos,
partilhando-os oportunamente.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Os textos em questão são os últimos do grupo chamado de
Cartas Católicas. Embora colocados juntos nesta apresentação e
em outros lugares onde são analisados, eles não apresentam mui-
tas semelhanças entre si. São também os últimos escritos do Novo
Testamento em ordem canônica, se excetuarmos o Livro do Apo-
calipse.
A Primeira Carta de João é um escrito muito interessante. Re-
toma, aparentemente, alguns pontos do Evangelho segundo João,
apesar de os especialistas não aceitarem que ela seja do mesmo
autor. Essa Primeira Carta de João é quase sempre analisada em
separado das outras.

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© Cartas de João e Cartas de Judas 155

A Segunda e a Terceira Carta de João são escritos muito bre-


ves, com poucos elementos teológicos dignos de nota. São quase
que uma a cópia da outra e, segundo os biblistas, não são do mes-
mo autor da primeira carta.
A última carta do grupo das Cartas Católicas e o último Livro
do Novo Testamento é a Carta de Judas. Esse texto é quase que
desconhecido dos fiéis, pois, além de ser pequeno em extensão,
também é pobre de ideias teológicas marcantes.
Esses escritos, mesmo que não muito consultados no dia a
dia teológico e pastoral, são os últimos testemunhos canônicos do
tempo neotestamentário. Merecem uma olhada e algum estudo.

5. PRIMEIRA CARTA DE JOÃO


Identidade e canonicidade
O que se chama a "Primeira Carta de João" não pode ser, a ri-
gor, considerada uma carta. Faltam elementos fundamentais para
esta identificação: o destinatário e a saudação final. Identificá-la
com o estilo "epístola" no sentido já apresentado em unidades
anteriores também não é o mais correto, pois ela não apresenta
um corpo de doutrina orgânica, com desenvolvimento lógico ou
coerente. O que ela parece ser, à primeira vista, para quem toma
contato inicial com ela, é uma exortação intensa, uma declaração
de fé e adesão ao mistério de quem é anunciado por ela mesma:
Jesus Cristo.
Quanto à canonicidade, é notável que há uma longa série de
testemunhos a respeito da autoria da Primeira Carta ou Epístola
de João. Desde o século 2º, encontra-se a afirmação que esta carta
é do apóstolo João, filho de Zebedeu, o mesmo que teria escrito o
quarto Evangelho.
Policarpo, bispo de Esmirna (†155), utiliza, em sua Carta aos
Filipenses, argumentos e imagens que se encontram na 1 João.
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São elas: "anticristo", "confessor", "testemunhar", "ser do demô-


nio" etc. Encontram-se, também, em Justino (†165), passagens
praticamente idênticas à 1 João. Santo Ireneu († 220) cita a 1 João
como fonte de doutrina segura, atribuindo-a ao apóstolo João. Eu-
sébio de Cesaréia († 339) citando Pápias, possivelmente entre os
anos 130 d.C. e 135 d.C., afirma também ser esta carta ou epístola
do apóstolo João. No final do século 2º, o Cânon de Muratori indi-
ca duas cartas atribuídas a João, transcrevendo 1 João (1,1) como
introdução. Estes também confirmam a autenticidade joanina da
Primeira Carta de João: Clemente de Alexandria († 215) e o grande
Orígenes († 253/4).

Semelhanças e diferenças
Uma questão importante da 1 João é sua semelhança ou não
com o Evangelho de João. Muitos já afirmaram que existe um pa-
rentesco imediato entre os dois escritos. Alguns até afirmam que a
1 João é uma espécie de apresentação ou conclusão do Evangelho
segundo João.
Essas semelhanças não são claras quando se analisa uma tra-
dução do texto. O que aqui se anota pode ser observado com o
texto grego. Pode-se encontrar:
1) Semelhanças gramaticais: disposição das partes da ora-
ção; uso raro de pronome relativo; alguns detalhes gra-
maticais como uso de determinadas partículas (preposi-
ções, conjunções etc.).
2) Estilo da escrita: algumas construções fraseológicas são
semelhantes às do quarto Evangelho, como paralelis-
mos, inclusões, palavras chaves, ritmo da escrita etc.
3) Índole semítica do texto: embora os termos semitas e o
pensamento dessa ordem não esteja tão claro, à primei-
ra vista, sob uma análise mais detalhada, encontram-se
elementos que levam a supor uma origem ou ao menos
um modo de pensar semita.
4) Analogia de conteúdo: os temas presentes no Evangelho
de João e na 1 João são semelhantes.

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5) Índole do texto: trata-se de algo mais relacionado ao es-


tilo do pensamento do autor. Em 1 João, como no Evan-
gelhos segundo João, encontram-se textos produzidos
por alguém marcado pela mística, que encontra no seu
Deus o sentido dos fatos e das pessoas.
Isso tudo posto, ficam ainda dúvidas quanto à correspondên-
cia entre o quarto Evangelho e essa carta. As semelhanças podem
ser fruto de um ambiente comum ou com influências partilhadas.
Na análise atenta do texto grego, pode-se observar que as frases
do Evangelho segundo João são mais expressivas, mais "vivas", ao
passo que as da 1 João são estereotipadas, parece que "pré-pensa-
das", correspondendo ao que muito já se disse. Os estudos que, no
passado, identificavam com facilidade os textos como muito próxi-
mos, hoje em dia apontam mais para as diferenças.
Também no que diz respeito à época da composição do tex-
to, encontram-se dificuldades de datação. Uma pequena parte dos
estudiosos afirma ser a carta anterior ao Evangelho, e outra parte
identifica a carta como tendo sido escrita depois.
Não se sustenta a proposta, feita algumas vezes, de identi-
ficar a 1 João como uma espécie de introdução ao Evangelho de
João. Tudo isso posto, o que se conclui é que não há uma posi-
ção clara e inquestionável a respeito da origem, comum ou não, e
da articulação entre os dois escritos. Não obstante, a 1 João, bem
como as outras duas cartas, são geralmente introduzidas junto ao
Evangelho, formando o que se convencionou chamar "Corpo Joa-
neo". A esses textos, junta-se, muitas vezes, o Apocalipse, também
atribuído a um certo João.

Destinatários
Diversamente das outras duas cartas ditas de João, essa
primeira carta não foi escrita a uma pessoa em particular. O que
parece é que foi escrita para um conjunto grande de Igrejas que,
provavelmente, viviam em uma mesma região geográfica ou sob
problemas e desafios comuns.
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Talvez o autor conheça, intimamente, seus ouvintes, pois


sabe dos problemas com uma certa precisão. É possível que o au-
tor se comunique com seus discípulos após um certo tempo de
distância. Uma hipótese já apresentada quando se atribui a 1 João
ao apóstolo João é a de uma comunicação entre ele e as Igrejas da
Ásia Menor. De Éfeso, cidade onde teria se radicado, João teria se
comunicado com os cristãos que, mesmo não tendo sido desper-
tados em sua fé por ele, teriam por ele veneração.
O que parece certo é que os destinatários da Primeira Carta
de João são fiéis que vivem intensamente sua fé em meio a gran-
des provações e dificuldades. A verdade não era clara, os falsos
discípulos confundem os fiéis. Há o perigo de anticristos, repre-
sentantes dos contra valores evangélicos, mentirosos, distantes da
salvação. O autor da 1 João propõe uma postura clara de adesão
ao mistério de Jesus Cristo que ele apresenta na clareza deste mis-
tério.

O texto da 1 João
O texto da 1 João e o das outras duas cartas ditas dele estão
presentes nos melhores códices: o Codex Vaticanus, representado
por B; o Codex Sinaiticus, representado por S; o Codex Ephremi,
representado por C; o Codex Alexandrinus, representado por A. Há
representantes do texto antigo em forma de textos unciais ou com
letras maiúsculas e existem, também, representantes de texto mi-
núsculo, com letras minúsculas.
Os testemunhos antigos do texto são muitos e, em geral, em
harmonia. As variantes de um texto antigo para outro são poucas.
Uma exceção digna de nota é o chamado "comma iohanneum”.
Trata-se de uma inserção no texto que, vista sob o ponto de
vista de estilo e de doutrina, aparece, claramente, como um acrés-
cimo posterior. Esse acréscimo acontece entre os versículos séti-
mo e oitavo do quinto capítulo. Aqui está o texto com o acréscimo,
no destaque, entre aspas:

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7
 São, assim, três os que dão testemunho: "no céu: o Pai, o Verbo e
o Espírito Santo, e esses três são um só; e há três que testemunham
na terra:” 8 o Espírito, a água e o sangue; estes três dão o mesmo
testemunho. 9 Aceitamos o testemunho dos homens. Ora, maior é
o testemunho de Deus, porque se trata do próprio testemunho de
Deus, aquele que ele deu do seu próprio Filho.

As edições bíblicas modernas não apresentam esse acrésci-


mo − o comma (parte ou membro de um período, em latim) iohan-
neum (de João).
Esse acréscimo não combina com o tempo da carta e com a
sua argumentação. É atestado com clareza por manuscritos (códi-
ces) minúsculos a partir do século 11. É um acréscimo de história
textual complicada: não existia na antiga Vulgata de São Jerônimo;
está presente, contudo, em um escrito atribuído a São Cipriano, do
século 14, na região da Espanha; tem sua presença em uma edição
da Vulgata do ano 800 d.C. e vai aos poucos se estabelecendo nas
traduções e suas cópias até a invenção da impressa. Foi uma fonte
de debates e confrontos entre estudiosos e até entre a Igreja Ca-
tólica e as Igrejas da Reforma. Atualmente, são poucas as edições
bíblicas que o apresentam, inclusive as de editoras católicas.
A divisão do texto da Primeira Carta de João, como também
de outros livros bíblicos, depende muito da sensibilidade do tradu-
tor ou editor. Aqui apresentamos uma divisão básica partindo da
leitura fluente do texto. É perfeitamente possível outras divisões,
inclusive com grupos de perícopes mais extensos.

Estrutura básica da carta –––––––––––––––––––––––––––––––


1,1-4 Prólogo
1,5-7 Caminhar na luz (segundo prólogo)
1,8-2,2 Rompimento com o pecado
2,3-11 Observar os Mandamentos
2,12-17 Cuidado com a atração do mundo
2,18-23 Preservar-se dos anticristos
2,24-29 Estar em Cristo
3,1-2 Filiação divina
3,3-10 Romper com o pecado
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3,11-24 Amar sinceramente


4,1-6 Não ouvir os anticristos
4,7-21 A virtude do Amor
5,1-4 Fé em Jesus Cristo
5,5-13 A fonte da Fé
5,14-17 Oração pelos pecadores
5,18-21 Epílogo
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Prólogo: 1,1-4
Os primeiros versículos da 1 João lembram muito o Prólogo
do Evangelho segundo João. Em uma estrutura que concentra os
elementos, esses versículos, também aqui chamados de "prólogo",
destacam a afirmação do ver e do testemunho.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1
 O que era desde o princípio, o que temos ouvido,
o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado
Experiência direta A
e as nossas mãos têm apalpado
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
no tocante ao Verbo da vida —
Deus que se revela B
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
2
 porque a vida se manifestou, e nós a temos visto;
Testemunho C
damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna,
Fundamental
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
que estava no Pai e que se nos manifestou —,
Deus que se revela B’
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
3
 o que vimos e ouvimos nós vos anunciamos,
Experiência direta A'
para que também vós tenhais comunhão conosco.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo.
Primeira conclusão D
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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4
 Escrevemo-vos estas coisas para que a vossa alegria seja completa. Segun-
da conclusão E
Esta estrutura, como foi dito atrás, demonstra-se concêntrica:

A
B
C

B’
A’

D

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Inicialmente, anuncia-se uma experiência direta (A). Essa ex-
periência direta se equipara com a sua reafirmação (A’). O Verbo
da vida (B) é recordado, não com essa expressão, mas com a ideia
de sua manifestação (B’). Isso tudo se concentra no principal: “por-
que a vida se manifestou, e nós a temos visto, damos testemunho
e vos anunciamos a vida eterna” Tem-se, então: (a) vida que se
manifesta; (b) visão que dela se tem; (c) testemunho de quem viu;
(d) anúncio da vida eterna.
O prólogo da 1 João evidencia a experiência direta de quem
fala, talvez atribuída também a quem ouve, experiência direta com
Jesus, apresentado como o Verbo da vida. O resultado é a alegria
do fiel que deve ser, por isso mesmo, completa.

1,5-7: Caminhar na luz (segundo prólogo)


Após uma primeira palavra com o intuito de incentivar tes-
temunhando, o texto apresenta, segundo nosso modo de ver, um
segundo prólogo relacionado à luz.
A 1 João declara que "Deus é luz". Certamente, este é um
tema presente no Evangelho de João, como no prólogo e no texto
do cego de nascença (1Jo 9). Em 1 João (6-7), é feita uma con-
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traposição de conduta no estilo de paralelismo poético hebraico:


uma proposta ou uma ideia com uma contraproposta ou uma ideia
complementar ou contraditória. Aqui o que se tem é a afirmação
de que se anda na luz (vers. 6), mas o que se vive são trevas: isto
demonstra uma mentira de vida ou uma falsidade. O contrário, no
sétimo versículo, afirma que o que vive ou caminha na luz está em
comunhão com outros, que certamente são os que seguem a Jesus
Cristo, o Verbo.
Essa perícope é aqui identificada como segundo prólogo
pois, ao que parece, soa como introdução a diversos temas pre-
sentes nos textos a seguir. Além disso, parece compor, com o pri-
meiro prólogo, um conjunto coerente.
Após essas duas introduções ou prólogos, o que vem a seguir
é um primeiro passo, necessário para quem deseja estar no cami-
nho da Luz.

1,8-2,2: Rompimento com o pecado


Essa perícope usa um discurso de retórica, usando outra vez
um paralelismo de contradição: o autor, que apresenta o assunto e
propõe o tema, evidencia que a declaração de isenção de pecado
leva à mentira e ao engano. Já o contrário faz e vive quem o con-
fessa, entendendo-se que o ato de confessar os pecados significa
admiti-los de alguma forma. Quem os confessa tem o perdão e será
purificado. A postura de não confessar os pecados e afirmar que
não tem pecado, segundo o versículo 10, determina a ausência da
Palavra na vida de quem a assumiu. Essa Palavra é, certamente, a
revelação que traz o Verbo de Deus ao ser humano.
Aqui aparece uma expressão interessante: "meus filhinhos"
(2,1), denotando intimidade ou prova de confiança recíproca. Pode
ainda indicar a filiação espiritual: o autor foi o fundador ou um dos
primeiros mestres da Igreja ou dos que recebem seu escrito. Essa
expressão, "filhinhos", irá aparecer várias vezes no texto a partir
de agora.

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Jesus Cristo é chamado de "justo", citado como advogado


(2,1) e apresentado como "vítima de expiação" (vers. 2), fazendo
uma alusão aos sacrifícios religiosos, especialmente judaicos.

2,3-11: Observar os Mandamentos


Essa perícope começa com o tema do conhecimento de Je-
sus Cristo. E "conhecimento" pode dar a entender gnosticismo,
doutrina que incomodou muito o cristianismo nascente.
O conhecimento que a 1 João lembra e apresenta como ne-
cessário é o conhecimento de Jesus Cristo, que, por sua vez, se
demonstra pela adesão aos mandamentos. Trata-se, sem dúvida,
não apenas dos mandamentos como é entendido o conjunto das
leis do Antigo Testamento, mas sim da mensagem evangélica, es-
pecialmente do amor mútuo. Isto o gnosticismo não apresentava!
Ter a verdade em si (vers. 4) é estar na intimidade com o
Cristo. E o fruto desta intimidade é, no pensamento da 1 João,
como já foi visto atrás, o amor mútuo, alicerçado em Jesus Cristo.
Essa realidade é tão forte e marcante que, no nono versículo, se
lê: “aquele que diz estar na luz, e odeia seu irmão, jaz ainda nas
trevas”. Em contraste, no formato de paralelismo poético, o versí-
culo dez: “quem ama seu irmão permanece na luz e não se expõe
a tropeçar”.

2,12-17: Cuidado com a atração do mundo


Os versículos de 12 a 14 apresentam uma sequência de afir-
mações que compõem o quadro dos destinatários da carta.
V. 12: “filhinhos”: tiveram seus pecados perdoados;
V. 13a: "pais": pelo conhecimento daquele que é "desde o princí-
pio";
13b: “jovens”: porque eles venceram o maligno;
V. 14a: “filhinhos”, mais uma vez: pelo conhecimento do Pai;
14b: "pais": pelo conhecimento daquele que é "desde o princí-
pio";
14c: "jovens": porque eles são fortes, tendo a Palavra de Deus neles
permanece.
164 © Cartas aos Hebreus e Católicas

Parece clara uma repetição entre os segmentos 13a e 14b.


A repetição de "filhinhos" nos segmentos 12 e 14a criam uma at-
mosfera de intimidade entre o autor da carta e seus ouvintes, mes-
mo os ouvintes atuais que fazem, naturalmente, a transposição da
expressão para a sua leitura.
Em seguida, nos versículos 15-17, aparece a figura do "mun-
do". Parece que ela está aqui em contraposição com a Palavra de
Deus. Enquanto esta gerou as situações anotadas acima, na pri-
meira parte da perícope, essa segunda parte centraliza a ideia do
mundo como contraposição aos valores referentes a Deus.
O mundo tem os males, luta contra a Palavra, contra o Pai.
Aparece a expressão muito forte: "concupiscência" (vers. 16). Essa
é a adesão aos valores do mundo, às suas figuras e sentimentos.
Este mundo tem uma existência vaga, pois ele passa, ficando, so-
mente, os que fazem a vontade de Deus (vers. 17).

2,18-23: Preservar-se dos anticristos


Essa situação, a dos "anticristos", parece ser muito presente
no tempo da redação da 1 João. Anticristo é tudo ou todo que vai
contra o Cristo; é o contrário: ao invés de salvação, a perdição; ao
invés de luz, as trevas; ao invés da verdade, a mentira. No versículo
22, o anticristo, seja ele quem for, é mentiroso naturalmente.

A ideia de anticristo ou de um Anticristo é muito presente em di-


versas fases da história. Trata-se de uma realidade contrária aos
valores, à mensagem e à doutrina sobre Cristo. Em muitos mo-
mentos da história, essa ideia foi muito marcante e ocupou mais
espaço que a própria ideia de Cristo. É inevitável comparar figuras
históricas famosas com o anticristo. Mas ele pode ser a própria
comunidade em seus limites e erros! A afirmação mais clara da
natureza do anticristo é a que se encontra no versículo 22: “quem
é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é
o Anticristo, que nega o Pai e o Filho”.

A 1 João alerta seus ouvintes que esse anticristo vem do meio


da comunidade dos fiéis. Isto é significativo, pois fazendo uma re-

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© Cartas de João e Cartas de Judas 165

ferência à própria comunidade dos fiéis como berço da contradi-


ção a carta alerta para a necessidade da "unção" (vers. 20), sinal da
escolha, da decisão pelo Cristo.

2,24-29: Estar em Cristo


A situação do anticristo é contraposta com a exortação a es-
tar no Pai. Ele precisa permanecer na comunidade dos fiéis, e, por
isso, o fiel deve estar aberto a Ele. O versículo 24 indica que é ou-
vindo a Palavra que o fiel terá a convivência com o Pai e o Filho.
Surge o termo "Promessa". Ela é o mistério que envolve o
ouvinte da Palavra. Parece ser a intimidade com as realidades que
vêm da Palavra, que são apresentadas e propostas pela Palavra.
No versículo 25, a Promessa é definida como "vida eterna".
No versículo 27, o autor da 1 João indica que alguns desejam
desencaminhar a respeito desse conteúdo de fé. Ele estaria prova-
velmente falando dos gnósticos ou representantes de correntes de
pensamento diversas do cristianismo original, que, seguramente,
a carta reflete.
Nesse mesmo versículo, é citada a "unção" mais uma vez.
Ela dá condições ao fiel de permanecer na amizade ou intimida-
de com Deus. Tal permanência é fundamental, pois, em breve, no
pensamento da 1 João, embora ainda indefinidamente, acontece-
rá a vinda de Cristo. A perícope termina com a afirmação da justiça
como sinal de permanência em Deus.

Observe que a Primeira Carta de João usa com muita frequência


os pronomes pessoais. Uma prática interessante e necessária na
leitura de um texto como este é estar sempre recordando de quem
se fala e que é expresso com o pronome. Aqui, o sujeito do prono-
me é Deus ou o Pai.

3,1-2: Filiação divina


Subitamente, a carta apresenta uma mensagem exaltada,
166 © Cartas aos Hebreus e Católicas

convidando seus ouvintes a compreender a prova de amor que o


Pai deu aos seus filhos: o próprio fato de poder ser chamados de
"filhos de Deus" (vers. 1). Em seguida, o texto apresenta mais uma
sequência de ideias: o fato de o mundo não conhecer os filhos de
Deus é porque não conhece a Deus. A 1 João relaciona os ouvintes
da carta, junto ao seu autor, com os filhos de Deus, contrapostos
pelo mundo.
Enquanto os fiéis são, neste mundo, filhos de Deus, devem
esperar ser mais alguma coisa. Isto eles saberão quando houver
a "manifestação" – momento que parece ser o final da história.
O segundo versículo afirma, no final, que os que estiverem nele
durante o tempo poderão vê-lo como é. Esta é uma afirmação in-
teressante, embora não surpreendente. De fato, a 1 João insiste na
experiência direta com o revelador do Pai, como pode ser lido no
trecho 1,1-3. Para estar nesta realidade nova de comunhão ou vi-
são direta são necessárias, algumas condições que a carta começa
agora a propor.

3,3-10: Romper com o pecado


O rompimento com o pecado é fundamental. Para poder
romper com o pecado, é necessário estar na presença ou na inti-
midade dele, que, certamente, pelo contexto de 3,1, é o Pai.
Pecado e iniquidade são tornados equivalentes. Se equidade
é a virtude de quem está na verdade e pode ser também sinônimo
de atitude religiosa, quando esta é orientada para o bem, então a
iniquidade é a contravirtude, a falta de caráter, a irreligiosidade.
O fiel, para estar na comunhão com o Pai, precisa romper com o
pecado, não praticando a iniquidade.
O versículo oito afirma que o pecador é posse do diabo. Este
é identificado como pecadora desde o início. Para combatê-lo é
que o Filho de Deus se manifesta.
Os versículos nono e décimo apresentam a relação inversa de
estar em Deus e cometer pecado. Quem está em Deus não pode
cometer pecado, pois tem uma "semente" (vers. 9).

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© Cartas de João e Cartas de Judas 167

Depois de apresentar essa argumentação, o texto afirma, de


modo apodítico: “é nisto que se conhece quais são os filhos de
Deus e quais os do demônio: todo o que não pratica a justiça não
é de Deus, como também aquele que não ama o seu irmão”. Esse
tema da justiça e do amor abre o argumento para a perícope se-
guinte.

3,11-24: Amar sinceramente


Nesta longa perícope o tema central é o amor. Trata-se do
amor entre irmãos, motivado e mantido pela ação de Jesus Cristo
no fiel. A perícope tem oito partes, podendo ser assim apresenta-
da em uma estrutura concêntrica, tendo a atitude de Jesus Cristo
como centro da anunciação da do amor:
vv. 11-12 Introdução: história
vv. 13 1ª parte: o ódio do mundo
vv. 14-15 2ª parte: o motivo do amor
v. 16 Centro: "Ele deu sua vida por nós."
vv. 17-18 3ª parte: o amor concreto
vv. 19-22 4ª parte: ser da verdade
vv. 23-24 Conclusão: exortação ao mandamento do amor

Os versículos 11 e 12 introduzem o tema anunciando a histó-


ria partindo de uma passagem e um personagem do Antigo Testa-
mento. Eles deviam ser conhecidos dos leitores originais da carta,
o que sugere que pudessem ser de ascendência judaica. São ci-
tados o personagem Caim e o episódio do fratricídio, em Gênesis
(4,8ss). A história aponta para a situação de quem está sob o poder
do Maligno.
O versículo 13 é como uma inferência: o autor interroga aos
leitores sobre a situação do ódio do mundo. Certamente, o motivo
é a ação do maligno na história.
Os versículos 14 e 15 apresentam a situação dos que estão
na presença de Deus. Eles dão testemunho disto com a vivência
168 © Cartas aos Hebreus e Católicas

do amor. E o versículo 15 liga-se à introdução, nos versículos 11 e


12, quando coloca em paralelo a ideia do homicídio de Caim e o
ódio aos irmãos que é comparável ao homicídio ou de onde este
deriva.
O versículo 16 é, ao que parece, o centro literário e teológico
dessa perícope. Aqui é anunciado o motivo do amor que deve ser
vivido entre irmãos. Esse motivo não é uma ação filantrópica ou
um compromisso social; antes, isto é a consequência. O motivo
fundamental é: “nisto temos conhecido o amor: [Jesus] deu sua
vida por nós. Também nós outros devemos dar a nossa vida pelos
nossos irmãos”. O amor entre fiéis no Pai depende da motivação
de Jesus Cristo que dá a sua vida por eles. O centro da perícope,
portanto, tem expressão cristológica.
Os versículos 17 e 18 falam do amor concreto, partindo de
uma situação de miséria. Um necessitado que precisa ser socor-
rido, mas é deixado de lado pelo fiel. Deus não estará nesse fiel,
pois ele estará amando apenas em palavras, com a língua, e não na
verdade dos seus atos.
Os versículos 19 e 22 apresentam-se como uma reflexão so-
bre as consequências dessa situação de amor: o ser da verdade.
Isto oferece ao fiel a possibilidade de estar na presença de Deus.
Finalmente, os versículos 23 e 24 concluem o tema da perí-
cope exortando aos ouvintes e aos leitores a guardarem os man-
damentos, diversamente do modelo citado na introdução (Caim),
que não foi fiel.
O tema do amor voltará ainda na 1 João e parece ser de
grande importância no texto. Realmente, ele parece contradizer a
mentalidade de que essa carta pudesse ser de orientação gnóstica:
o amor não é apenas palavra, mas é ato e coerência.

Essa estrutura apresentada na perícope anterior é de uso muito


comum nos estudos bíblicos. Ela evidencia as partes do texto, de-
monstrando que os argumentos vão se concentrando até formar
uma verdade ou um anúncio decisivo ao redor do qual tudo gira.

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© Cartas de João e Cartas de Judas 169

4,1–6: Não ouvir os anticristos


O tema dos anticristos retorna sob nova roupagem. No ver-
sículo primeiro, o autor exorta os ouvintes a não darem ouvidos a
qualquer espírito. Certamente, ele se refere às ideias e tendências
de seu tempo, muito marcadas pelas religiões e seus mitos. Isso
tudo, no dizer desse versículo, não é certo.
Os versículos dois e três propõem o critério decisivo para o
discernimento: a confissão de Jesus Cristo.
Todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou é de Deus;
todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o
espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está agora
no mundo.

O versículo quatro parece ser o centro da perícope quando


evidencia, com uma linguagem coloquial, a dependência dos fiéis,
os "filhinhos" do autor da Primeira Carta de João. Eles são de Deus
e têm, dentro de si, o que é maior do que o mundo: “Vós, filhinhos,
sois de Deus, e os vencestes, porque o que está em vós é maior do
que aquele que está no mundo”.
Os versículos cinco e seis contrapõem os que são do mundo,
que vivem na dependência dos anticristos (vers. 5) e os que são de
Deus, pois ouvem a Deus e o conhecem.

4,7-21: A virtude do Amor


Ainda sobre o tema do amor, essa longa perícope se apre-
senta como uma expressão do coração do autor da carta. Pode-se
também ver, nessa perícope, uma estrutura concêntrica, com um
anúncio cristológico central:
vv. 7–8 Introdução: Exortação ao amor
vv. 9–11 1ª parte: O amor de Deus: a perfeição
vv. 12–14 2ª parte: Contemplar a Deus no amor
v. 15 Centro: Confessar Jesus
Cristo
v. 16 3ª parte: Deus é amor!
vv. 17–18 4ª parte: A perfeição do amor: confiança
vv. 19–21 Conclusão: Exortação ao amor
170 © Cartas aos Hebreus e Católicas

A introdução, nos versículos sete e oito, propõe a ideia de


amor como a identidade de quem nasceu de Deus, visto que o
amor vem de Deus. A essa introdução, corresponde a conclusão,
nos versículos de 19 a 21, que são uma exortação ao amor motiva-
do pela proximidade do fiel com Deus. Nessa conclusão, encontra-
se o versículo que se tornou axioma cristão: “Se alguém disser:
amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que
não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem
não vê” (vers. 20).
A 1ª parte, nos versículos de 9 a 11, apresenta o amor de
Deus na vida e existência dos fiéis. Deus é quem ama primeiro,
dando o primeiro passo, o que leva seus amados a amar também.
A essa parte corresponde a 4ª parte, nos versículos 17 e 18: trata
da perfeição do amor que é fruto da sua própria vivência e da pre-
sença de Deus na vida do fiel.
A 2ª parte, dos versículos de 12 a 14, convida os ouvintes
a contemplar a Deus no amor. O amor, que leva o Pai enviar o Fi-
lho, leva, também, o Espírito aos fiéis. A essa parte, corresponde
a 3ª parte, versículo 16, na qual o autor declara o conhecimento
do amor de Deus. Aqui tem-se, também, outro pensamento que
marca o ser cristão: “Deus é amor, e quem permanece no amor
permanece em Deus e Deus nele”.
O centro dessa perícope, como foi indicado atrás, está no
versículo 15: “todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de
Deus, Deus permanece nele e ele em Deus”. A confissão de Jesus
Cristo é a aceitação de sua presença na vida, na história, na consci-
ência. Aqui está a raiz de tudo: o Cristo, o enviado do Pai pelo amor
que este tem pelos fiéis, é o motivo de tudo existir. A perícope, que
pode ser bem um hino, tem sentido cristológico.

Filiação divina:––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
É interessante que o texto fale, frequentemente, da filiação divina. Parece que o
autor da 1João insiste em declarar que os fiéis, os que aceitam amar, motivados
pela adesão a Jesus Cristo, assumem a condição de filhos. Talvez isto não tenha
muita repercussão na atualidade, quando tal anúncio não causa tanto impacto.

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© Cartas de João e Cartas de Judas 171

Mas em uma sociedade violenta, marcada pelo ateísmo e pelo domínio político
militar, como era a sociedade no mundo romano na bacia do Mediterrâneo, essas
afirmações têm grande efeito. Mais ainda pelo fato de valorizar, intensamente,
o amor fraterno, coisa não muito destacada naqueles tempos; aliás, até negada
pela sociedade do poder e da opressão. Nesse sentido, o conteúdo da 1 João é
forte e provocativo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

5,1–4: Fé em Jesus Cristo


Esta é a perícope que conclui o tema do amor sem, contudo,
fechá-lo. Parece ser uma perícope de transição. No versículo pri-
meiro, o autor declara ser nascido de Deus quem declara sua fé em
Jesus Cristo. Isto tem como consequência, no próprio fiel, a certe-
za da filiação divina e uma exigência concreta: a observância dos
mandamentos (vers. 2). O terceiro versículo declara que o amor
de Deus ou devido a Deus é expresso na observância dos manda-
mentos, que, por sua vez, não são pesados. No versículo quarto,
declara-se a vitória de quem nasceu de Deus, pois tem fé.

5,5-13: A fonte da Fé
A perícope anterior fechava o assunto do amor e, ao mesmo
tempo, abre agora o tema da fé e de suas consequências. Na par-
te da questão do chamado "comma iohanneum”, que já foi vista
anteriormente, é fundamental destacar a insistência na realidade
do Espírito, citado, muitas vezes, nessa perícope. É uma perícope
cristológica, mas que tem o Espírito como motivação.
Partindo de uma pergunta retórica (vers. 5), o autor decla-
ra que o vencedor do mundo é Jesus Cristo. Ele veio pela água e
pelo sangue (vers. 6), o que parece citar o episódio da Paixão no
Evangelho segundo João, quando do lado aberto de Cristo jorrou
sangue e água (1Jo 19,34).
Então, nos versículos 7 e 8, o autor raciocina com a imagem
do Espírito, da água e do sangue, como fontes do testemunho. Cla-
ramente, o que se vê é a menção da tradição literária da paixão de
Jesus e do símbolo usado para apresentá-la.
172 © Cartas aos Hebreus e Católicas

No nono versículo, o autor intervém em seu próprio pen-


samento com uma consideração em estrutura de contradição: o
testemunho de Deus é maior que o testemunho dos homens e o
testemunho de Deus é o testemunho de seu Filho. Nota-se que a
carta assumiu um tom fortemente cristológico, retornando, clara-
mente, aos primeiros versículos que apresentavam o Verbo e sua
ação testemunhada pelos que o acompanharam. Supostamente, o
autor da carta está entre eles.
O décimo versículo fala dos que creem no Filho e na vida que
possuem. Isto é o testemunho de que eles possuem mutuamente:
a vida dos que vivem na adesão ao Filho, isto é, a própria vida que
possuem é o testemunho que dão.
Os versículos de 11 a 13 concluem a perícope com uma se-
quência de ideias, fruto do que antes foi exposto: No versículo 11,
é anunciado o testemunho do Filho que tem a vida eterna. No ver-
sículo 12, o autor declara que ter o Filho, certamente estar na sua
presença ou viver na sua graça, é ter a vida. E no versículo 13,
encontra-se uma espécie de epílogo disto tudo com a declaração
do autor e de sua intenção original: levar à fé no Filho de Deus e à
posse da vida eterna.

5,14-17: Oração pelos pecadores


Algumas traduções bíblicas apresentam como título dessa
perícope a identidade "oração". Quem tem confiança em Deus
pode pedir-lhe e obter o que pediu (vers. 14). Ser ouvido por Deus
é estar na sua presença (vers. 15).
A consequência disto é que todo fiel tem uma responsabili-
dade grande sobre os pecadores (vers. 15). Os versículos 16 e 17
falam de um pecado que conduz à morte e de outro que não con-
duz. E, como em um diálogo coloquial, o autor afirma que não é
este o seu assunto.

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© Cartas de João e Cartas de Judas 173

Há divergências nesses últimos versículos. Alguns testemunhos


textuais falam de um pecado que conduz à morte, e outras ver-
sões falam o contrário: um pecado que não conduz à morte. Se-
guramente, a atual dificuldade da compreensão do texto já estava
presente nos antigos copistas, que não entendiam direito essas
ideias.

5,18-21: Epílogo
Finalmente, a Primeira Carta de João chega ao seu fim. Mas
não tem roupagem de fim, parecendo mais uma interrupção do
discurso. Algumas traduções bíblicas identificam essa perícope
como um resumo da carta.
Quem nasce de Deus não pode pecar, pois o Gerado por
Deus, que é Jesus Cristo, guarda o fiel, ao qual o maligno não pode
atingir (vers. 18). O autor da carta e seus ouvintes e leitores sabem
que são nascidos de Deus e que estão em um mundo corrompido
(vers. 19). Isto impõe sobre eles a adesão ao Filho de Deus como
caminho da Verdade (v. 20).
O último versículo da carta parece ser uma interrupção do
discurso. Volta a expressão "filhinhos”, seguida da exortação a se
guardar dos ídolos, que não foram citados no corpo da carta. Talvez
esse versículo iniciasse outro argumento e a carta fosse mais longa
em sua origem, ou esses ídolos estão no posto do maligno, fazen-
do uma ponte com o paganismo. Difícil saber o que pode ser.
A Primeira Carta de João é um longo discurso de confiança e
apresentação dos motivos de adesão à mensagem cristã. Mais do
que uma carta, ela é um estímulo no estilo dos primeiros discípu-
los frente aos valores do mundo de sua época.

Note bem que os textos epistolares do Novo Testamento são es-


porádicos, quase que acidentais. Não foram pensados para formar
um corpo de doutrina, mas são usados pelo cristianismo como tal,
pois expressam a experiência original da adesão a Jesus Cristo e
à sua comunidade de fé.
174 © Cartas aos Hebreus e Católicas

6. SEGUNDA E TERCEIRA CARTAS DE JOÃO


A chamada Primeira Carta de João é, como foi visto, mais
do que uma carta, um discurso ou uma pregação, é uma exorta-
ção à fidelidade, ao amor e à adesão ao mistério de Jesus Cristo,
revelado pelo amor do Pai. À semelhança do amor de Deus ma-
nifestado em Jesus Cristo, os fiéis devem amar-se uns aos outros,
sendo testemunhas em um mundo corrompido pelo pecado e pelo
maligno.
Curiosamente, as outras duas cartas atribuídas a João, ape-
sar de sua brevidade (a segunda tem 13 versículos e, a terceira,
15 versículos), são, propriamente, cartas, pois têm estrutura e ele-
mentos próprios de uma carta. Mas não são do mesmo autor da
1 João nem expressam conteúdos doutrinários como ela. Seu uso
no dia a dia da liturgia da Igreja é bem reduzido, pois o texto é
também reduzido.

Canonicidade
Não há unanimidade nos testemunhos da tradição a respei-
to dessas duas cartas. Santo Ireneu de Lião cita a 1 João e a 2 João,
não a 3 João. Clemente de Alexandria (†211) cita a 1 João como
"carta de João mais longa", o que sugere uma carta curta. O Cânon
de Muratori fala de "epístolas" de João, portanto, mais de uma,
sem esclarecer que sejam duas ou três. Orígenes (†245) e Eusébio
de Cesaréia (†339/340) expressam incertezas quanto à inspiração
da segunda e da terceira cartas. São Jerônimo († 420) indica, tam-
bém, que havia incertezas a respeito dessas cartas.
Contudo, partindo de Eusébio de Cesaréia, no Oriente, e de
Jerônimo, no Ocidente, as duas cartas atribuídas a João passam
a ser reconhecidas como parte do cânon do Novo Testamento. O
que é certo é que a segunda carta foi unanimemente aceita desde
fins do século 3º, e a terceira carta, desde fins do século 4º.

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© Cartas de João e Cartas de Judas 175

Autoria e destinatários
Nas duas cartas, o autor identifica-se como "presbítero", pa-
lavra que significa "ancião". Não se trata, necessariamente, de um
ancião em termos de idade, de anos vividos. Pode ser ancião no
sentido de experiência acumulada, portanto, de vivência. Assim,
o ancião pode não ser, forçosamente, um idoso, mas, sim, uma
pessoa experiente, provada pelas circunstâncias.
Eusébio de Cesaréia, citando Pápias, bispo de Hierápolis,
apresenta uma informação que fez muita influência na interpreta-
ção da autoria dessas cartas. Segundo ele, citando o antigo Bispo,
o autor dessas cartas seria um tal "João presbítero", distinto do
João, apóstolo do Senhor.
A tradição católica, seguida pela tradição bíblica das Igrejas
da Reforma, identifica o autor dessas duas cartas com o discípulo
João, apóstolo, filho de Zebedeu. A afirmação de sua ancianidade
expressa bem uma provável situação do apóstolo João, que, se-
gundo a tradição da Igreja antiga, morreu centenário.
O autor dessas duas cartas é uma personalidade segura
de seu testemunho (3Jo 12), consciente de sua autoridade (2Jo
8.9.10.12), autoconsiderado pai dos membros das comunidades,
aos quais chama “filhos” (3Jo 4), e preocupa-se com a ortodoxia e
a fé (3Jo 2s.12; 2Jo 1-4).
Isso tudo posto, é ainda necessário considerar que não há
segurança a respeito da autoria dessas duas cartas. Elas compõem
com a 1 João e o Apocalipse, o que se convencionou chamar “escri-
tos joaninos” mesmo que possam ser de autoria diversa.
O destinatário da 2 João é uma certa "senhora eleita", ex-
pressão que deve identificar uma comunidade cristã conhecida do
autor. Tal destinação dá a essa carta uma conotação eclesiológica
notável.
Já o destinatário da 3 João é um certo Gaio, membro de uma
comunidade. A ele, o autor da 3 João pede a assistência aos prega-
176 © Cartas aos Hebreus e Católicas

dores da Palavra. Ele louva Caio e a sua conduta, lamentando um


episódio com um tal Diótrefes. Depois, elogia um certo Demétrio,
seguramente um missionário que teria sofrido pela atuação desse
tal Diótrefes.
Ambos os textos têm um início e um fim bem próprio de car-
ta. Dentre o grupo das chamadas "Cartas Católicas", são os textos
que mais se aproximam do gênero carta. Em geral, elas são intro-
duzidas juntas, como aqui foi feito.

O texto da 2 João
A 2 João pode ser dividida em quatro partes bem distintas e
bem articuladas. A seguir, apresenta-se uma proposta de divisão.

Note que, tendo apenas um capítulo, a 2 João e a 3 João são


citadas apresentando, apenas, os versículos. Assim, 2 João (10)
significa Segunda Carta de João − versículo dez, sem considerar
o capítulo, que é apenas um. Se houver sequência, é, também,
entre versículos, como 3 João (4-6) ou Terceira Carta de João −
versículos de quatro a seis, sem menção de capítulo.

Divisão da 2 João
1-3: Saudação e introdução
4-6: A necessidade do amor
7-11: Os anticristos
12-13: Epílogo ou conclusão

1-3: Saudação e introdução


A carta inicia-se com a menção do remetente, "o ancião", e a
destinatária, "a senhora eleita e seus filhos". Trata-se, seguramen-
te, de alguém prestigiado pelo testemunho que se dirige e uma
Igreja que chama de "senhora eleita". Esta deve ser uma menção à
conduta da comunidade.
O autor declara-se conhecedor da Verdade, o que se pode
supor que seja a experiência da vida cristã. Não apenas ele, como
se autodeclara, mas também os outros. Estaria falando ele de ou-

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© Cartas de João e Cartas de Judas 177

tros discípulos? Seguramente, sendo ele uma personagem impor-


tante na Igreja antiga.
Segue uma saudação original, ligeiramente próxima das tra-
dicionais saudações paulinas mas acrescidas de elementos especí-
ficos (vers. 3).

4-6: A necessidade do amor


O autor da 2 João expressa sua alegria por saber que seus
filhos, seguramente antigos discípulos, estão na verdade, isto é,
observam os mandamentos. Ele recorda à senhora, a Igreja, con-
forme as interpretações mais comuns e seguras, que existe um
mandamento antigo que deve ser observado: o amor e a necessi-
dade do amor mútuo. E ele explica o que é amor: viver conforme
os mandamentos. Há uma insistência na observância dos manda-
mentos e no amor.

7-11: Os anticristos
O tema do anticristo é apresentado. Ele é identificado como
os que não confessam Jesus Cristo e são chamados também de
"Sedutor". Não estar na doutrina de Jesus Cristo é não possuir a
Deus. Os fiéis devem evitar o convívio com estes que negam a Je-
sus, pois participar de suas obras é assemelhar-se com eles.

12–13: Epílogo ou conclusão


A conclusão é breve. O autor reconhece que tem mais as-
suntos para tratar, mas prefere fazê-lo pessoalmente. Anuncia um
encontro próximo, declarando ser ele motivo de alegria. E mencio-
na a saudação "dos filhos de tua irmã Eleita", que deve ser outra
Igreja, talvez a Igreja de Éfeso, se considerarmos que essa carta
seja, autenticamente, de João, o discípulo.
178 © Cartas aos Hebreus e Católicas

O texto da 3 João
A Terceira Carta de João tem, como a Segunda Carta de João,
uma estrutura simples. Pode-se chamá-la “bilhete”, mais do que
carta, embora tenha uma estrutura bem clara de carta.
Divisão da 3 João
1-2 Saudação
3-8 Gaio e o testemunho
9-11 Diótrefes e o mal exemplo
12 Demétrio é elogiado
13-15 Epílogo

1-2: Saudação
Assim como na 2 João, quem escreve é o Ancião ou Presbíte-
ro. Ele se dirige a um tal de Gaio − certamente um discípulo seu.

3-8: Gaio e o testemunho


O autor alegra-se com a conduta de seu discípulo, que, como
outros de seus discípulos, vive na verdade. Exorta-o a ser fiel aos
seus compromissos e a servir os irmãos em suas viagens. Trata-
se, provavelmente, de missionários itinerantes que precisam de
apoio nas caminhadas. Segundo o autor, eles fazem sua missão
pelo "Nome", Nome do Senhor, o que deve fazer referência a Jesus
Cristo.

9-11: Diótrefes e o mal exemplo


Nesse ponto, surge um tal de Diótrefes, que, pela argumen-
tação da carta, deve ser um líder da Igreja que se opõe aos en-
viados do ancião. Além disso, ele propaga ideias falsas a respeito
dele. O ancião exorta Gaio a não imitar o mal, mas, sim, o bem,
pois o mal não vem de Deus.

12: Demétrio é elogiado


Surge um tal Demétrio, um membro importante da Igreja.

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© Cartas de João e Cartas de Judas 179

Talvez o portador dessa terceira carta. Ele recebe um elogio signi-


ficativo do autor da carta. Demétrio recebe bom testemunho de
todos. O autor identifica seu testemunho com a verdade.

13-15: Epílogo
Após isso tudo, o autor declara que tem, ainda, muitos as-
suntos a tratar, mas o fará pessoalmente. Deseja a Gaio a paz e
transmite a mensagem dos amigos. No final, pede que Gaio saúde
a cada irmão pelo próprio nome, o que pode indicar uma intimida-
de notável entre o autor e os membros desta Igreja.

A respeito da 2 João e da 3 João, sugerimos, como ótimo comen-


tário, esta obra: ZUMSTEIN, J. As epístolas de João. In: MARGUE-
RAT, D. (Org.). Novo Testamento: história, escritura e teologia. Tra-
dução de Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2009, p.471-492.

7. CARTA DE JUDAS
A Carta de Judas é deuterocanônica, isto é, aceita pelas Igre-
jas como parte do cânon apenas em um segundo momento.
Clemente de Roma provavelmente cita Judas (25) em sua
Primeira Carta aos Coríntios e no escrito chamado “Martírio de
Policarpo”. O Cânon de Muratori insere a carta entre os escritos
canônicos. Já Tertuliano cita Judas, contudo, para defender uma
suposta inspiração do Livro de Henoc. São Jerônimo apresenta a
questão de modo claro: algumas Igrejas e alguns personagens im-
portantes rejeitam a carta justamente pelo apoio que ela dá ao
texto apócrifo Livro de Henoc; outros a aceitam por uma suposta
antiguidade. Orígenes e Clemente de Alexandria citam a Carta de
Judas várias vezes.
Trata-se de um escrito pouco visitado pelos leitores do Novo
Testamento. Não apresenta o prestígio de um escrito paulino ou
de algum outro escrito com elementos doutrinais significativos.
180 © Cartas aos Hebreus e Católicas

Mas é um testemunho escrito de valor, pois indica um período em


que havia vários erros doutrinários surgindo nas Igrejas que, aos
poucos, vai tendo de se posicionar. São muitos os mestres falsos
que vão surgindo e desviando os fiéis do caminho apostólico.
A data da composição da Carta de Judas deve ser o final do
século 1º, talvez antes do ano 70 d.C. ou imediatamente após, em-
bora se fosse assim o texto poderia fazer alusão à destruição do
Templo.
O autor se identifica como "Judas, irmão de Tiago" (vers. 1).
Encontra-se em Marcos e Mateus a menção de Judas entre "os
irmãos do Senhor" (Mr 6,3: “não é este o carpinteiro, o filho de
Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão?”; Mt 13,55: “Não é
ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os
seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?”). Sendo um parente pró-
ximo de Jesus, poderia muito bem conhecer particularidades de
sua personalidade, o que não apresenta.
O que parece é ser o autor da Carta de Judas um judeu de
tradição ou de origem que aceita a fé em Jesus Cristo como deter-
minante, mas não esquece sua origem própria.

O texto da Carta de Judas––––––––––––––––––––––––––––––


Divisão de Judas
1-2 Prólogo, saudação
3-4 O combate da fé
5-7 O castigo para os falsos
8-16 Perversidades dos falsos
17-19 Fidelidade necessária
20-23 O amor de Deus
24-25 Despedida e louvor
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1-2: Prólogo, saudação


A carta começa com uma saudação inicial, em que o autor
se apresenta como "Judas, irmão de Tiago" (vers. 1). Como já visto
na análise da Carta de Tiago, esse personagem tinha, na Igreja das
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© Cartas de João e Cartas de Judas 181

origens, grande reputação, representando a corrente "conserva-


dora" do cristianismo.
O texto é dirigido aos "amados por Deus Pai e guardados em
Jesus Cristo". A ideia parece ser os se reconhecem marcados pela
ação de Deus que se revela em Cristo, portanto, aos cristãos, sem
uma identificação particular. A eles, são desejadas "misericórdia,
paz e caridade" (vers. 2).

3-4: O combate da fé
O autor faz referência a um momento de sua atividade epis-
tolar: quando escrevia, esta ou outra carta, não é possível saber.
Nessa ocasião, ele foi levado a exortar seus leitores contra os des-
vios da fé. Alguns homens ímpios teriam entrando na comunidade,
confundindo seus membros. Eles negam Jesus Cristo e propõem
atos licenciosos (vers. 4). A situação deveria ser de confusão entre
os membros da Igreja.

5-7: O castigo para os falsos


O autor recorda momentos da história do Antigo Testamen-
to: a saída do Egito e a entrada na Terra Prometida. No Egito, se-
gundo Judas, foram destruídos os incrédulos. Em seguida, cita os
anjos que, rebelados contra Deus, se perderam eternamente. Nes-
se ponto, Judas cita o Livro de Henoc, apócrifo do Antigo Testa-
mento muito prestigiado no judaísmo tardio.
O texto continua recordando agora as cidades ímpias de So-
doma e Gomorra, que foram destruídas por sua própria impieda-
de. Com isso, Judas deseja chamar a atenção sobre os que desviam
da fé e sua sorte por vir. Os fiéis não devem segui-los.

8-16: Perversidades dos falsos


Nesse ponto, Judá afirma que os males que os ímpios reali-
zam são como a revolta dos anjos. Lembra Miguel, o anjo que com-
182 © Cartas aos Hebreus e Católicas

bate e que vence o diabo, até na disputa pelo corpo de Moisés.


Nesse ponto, Judas parece estar citando outro apócrifo do Antigo
Testamento: a Assunção de Moisés, que relata justamente esta
disputa entre o diabo e Miguel pela posse do corpo de Moisés.
Judas lamenta por eles, os ímpios, pois trilham o "caminho
de Caim", que é o caminho da ruína. Cita Balaão e Core, persona-
gens revoltosos ou ambíguos do Antigo Testamento. E identifica
Henoc, como o sétimo dos patriarcas desde Adão. Judas cita, ainda
que modo indireto ou de memória, o já lembrado Livro de Henoc:
Eis que o Senhor veio com as suas santas milícias, exercer o julga-
mento sobre todos os homens e arguir todos os ímpios de todas as
obras de impiedade que praticaram e de todas as palavras duras
que proferiram contra ele os pecadores ímpios.

A ideia é que esses ímpios, que desviam a comunidade da


verdade de Jesus Cristo, terão a mesma sorte dos que se revoltam
contra Deus.

17-19: Fidelidade necessária


Em contrapartida, os destinatários da Carta de Judas devem
lembrar-se das palavras partilhadas pelos apóstolos e lembradas
como vindas de Jesus Cristo. O texto apresenta uma afirmação
cujo contexto amplo pode ser tomado de muitos passos do Novo
Testamento e que alertam para a situação insegura dos fiéis diante
do mundo hostil.

20-23: O amor de Deus


Judas exorta seus ouvintes a estarem firmes e unidos no
amor a Deus. Conforme a situação de cada um, o texto convida
a uma ação, seja o convencimento dos hesitantes, a salvação dos
perdidos (os que estão no fogo), a misericórdia etc.

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© Cartas de João e Cartas de Judas 183

24-25: Despedida e louvor


Finalmente, o texto conclui-se com uma doxologia. Ele louva
o Deus único, identificado como salvador. Reserva para Jesus Cris-
to os atributos de majestade, poder e domínio por toda a eterni-
dade.

A respeito da Carta de Judas, sugerimos, como complemento da


compreensão de seu conjunto, o texto: SCHLOSSER, J. A epístola
de Judas. In: MARGUERAT, D. (Org.). Novo Testamento: histó-
ria, escritura e teologia. Tradução de Margarida Oliva. São Paulo:
Loyola, 2009, p. 559-567.

A Carta de Judas é um escrito que, não sendo muito usado


no dia a dia do cristianismo, também não é bem conhecido. Não é
apresentando, também, elementos doutrinais evidentes e oportu-
nos como em outras cartas; ela corre o risco de passar despercebi-
da. Mas é parte do cânon do Novo Testamento e é o testemunho
de um momento da Igreja das origens, quando o encontro com
Jesus Cristo havia deixado suas marcas e o resultado disto evoluía
e se difundia.

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
As questões autoavaliativas são propostas para que você
tenha a possibilidade de pensar sobre os conceitos expostos nas
unidades. Elas o conduzem, mais uma vez, ao texto da unidade ou
do livro bíblico em questão. Com o ato de respondê-las, seu apren-
dizado fica mais fixado.
O necessário é compreender os princípios e relacioná-los
entre si. Dessa forma, formam-se quadros de compreensão que
podem se desenvolver com leituras posteriores.
Assim, convidamos você a responder a essas questões auto-
avaliativas. Se for possível, partilhe com os colegas do EAD as res-
postas e as possibilidades que as questões levantadas propõem.
Bom estudo e reflexão.
184 © Cartas aos Hebreus e Católicas

1) A Primeira Carta de João tem um plano lógico ou ela vai


desenvolvendo argumentos conforme os temas vão se
fazendo notar?
2) Quais são os critérios para definir as Cartas de João
como "cartas" ou como escritos de outra índole? Assim,
a 1, a 2e a 3 João podem ser chamadas, todas as três, de
cartas?
3) O tema do amor é muito forte na 1 João. De quais for-
mas ele pode ser definido nesse texto?
4) Qual é a importância do prólogo da 1 João e como ele
está articulado?
5) O pecado, as trevas, a luz, o rompimento com o pecado
− todos são temas da 1 de João. Esses temas tem a ver
com algum outro escrito do Novo Testamento? Se sim,
quais são os pontos de convergência?
6) A 1 João pode ser considerada uma carta com forte
orientação cristológica? Por quê?
7) Quem podem ser os anticristos, citados na 1 João e na
2 João?
8) A 2 João e a 3 João são cartas menores do grupo das Car-
tas Católicas. Elas podem ser relacionadas com a 1 João?
Em quais pontos elas estão próximas da 1 João?
9) Exponha os elementos que concorrem para a canonici-
dade das Cartas de João e da Carta de Judas.
10) Qual(is) é(são) o(s) tema(s) central(is) da Carta de Ju-
das?

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. Tradução de Isabel Fontes Leal Ferreira
e João Paixão Neto. São Paulo: Paulinas, 1982. (Nova Coleção Bíblica)
SCHLOSSER, J. A epístola de Judas. In: MARGUERAT, D. (Org.). Novo Testamento: história,
escritura e teologia. Tradução de Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2009, p. 559-567.
TUÑI, J. O. As cartas de João. In: TUÑI, J. O.; ALEGRE, X. Escritos Joaninos e cartas
católicas. Tradução de Alceu Luis Orso. São Paulo: Ave Maria, 1999, p. 153-189. (Coleção:
Introdução ao Estudo da Bíblia, 8)
ZUMSTEIN, J. As epístolas de João. In: MARGUERAT, D. (Org.). Novo Testamento: história,
escritura e teologia. Tradução de Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2009, p.471-492.

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