Formosa Dip2
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FACULDADE DE DIREITO
ZONA CONTÍGUA
PERÍODO: PÓS-LABORAL
RESUMO............................................................................................................
INTRODUÇÃO..................................................................................................
ZONA CONTÍGUA............................................................................................
Regime legal....................................................................................................
CONCLUSÃO..................................................................................................14
REFERÊNCIAS................................................................................................15
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RESUMO
O presente artigo discute a importância da zona contígua no Direito do Mar e sua relevância
para os Estados costeiro. A zona contígua é uma área estabelecida pelo Direito Internacional do Mar, que
se estende além do das águas territoriais de um país. Ela confere ao Estado costeiro uma extensão
adicional de soberania sobre as águas adjacentes, fornecendo uma série de benefícios e oportunidades. O
artigo explora os principais aspectos da importância da zona contígua, como a segurança e proteção, a
proteção do meio ambiente marinho, a gestão de recursos naturais, a pesquisa científica e a cooperação
internacional. Por meio de análise crítica de casos relevantes são apresentados exemplos concretos que
ilustram a aplicação prática e os desafios enfrentados na implementação da zona contígua.
Palavras chaves: zona contígua, Direito do Mar, soberania, segurança, meio ambiente
marinho, recursos naturais, pesquisa científica e cooperação internacional.
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INTRODUÇÃO
Todo o direito das relações internacionais tem como ponto de partida o espaço privilegiado de
desenvolvimento no meio marítimo. As comunicações, o desenvolvimento comercial, a actividade
económica internacional são alguns dos factores que atribuem ao meio marítimo toda a sua perenidade e
presença no quotidiano dos interesses estatais e mesmo supra-estatais. É no meio marítimo que a tensão
decorrente do choque entre as necessidades subjacentes às comunicações internacionais e as pretensões de
soberania por parte dos Estados se revela mais marcante e não raras vezes mais violenta. É no meio
marítimo que a imperiosa necessidade de um Direito Internacional como travão face à propensão dos
Estados para adoptar uma postura conflitual se revela mais nítida.
Com efeito, a territorialização dos espaços marítimos em zonas distintas estabelecida pelo
Direito do Mar no puro intuito de conciliar os interesses em questão , atribuía esta zona contígua uma
extraordinária relevância como zona de transição entre um regime jurídico caracterizado pela soberania,
mar territorial, e um outro norteado pela liberdade, o alto mar, tornando-a, antes de mais um factor de
consolidação da unidade do meio marítimo, não obstante a não homogeneidade do regime jurídico
estabelecido para as diversas zonas que a preservação desta unidade contribui.
A zona contígua é uma área marítima adjacente à costa de um país que se estende além do seu
mar territorial1. De acordo com a Convenção das Nações Unidas Sobre Direito do Mar (CNUDM), a zona
contígua é uma faixa de água que se estende até 24 milhas náuticas, aproxidamente 44,4 quilómetros, a
partir da linha de base, a partir de onde o mar territorial é medido.
A zona contígua desempenha um papel crucial na governação dos oceanos, fornecendo aos
estados costeiros uma extensão adicional à sua soberania, cuja relevância pode ser entendida
considerando-se os seguintes aspectos:
Segurança e protecção: a zona contígua permite aos Estados costeiros exercerem controle
sobre uma ampla gama de actividades que podem afectar a sua segurança e interesses nacionais. Isso
inclui o controle sobre aplicação de leis alfandegárias , imigratórias, sanitárias e de proteção ao meio
a,biente. Além disso, a zona contígua permite que os Estados monitorem e respondam a actividades
ilegais, como contrabando, tráfico de drogas, pesca ilegal, pirataria e outras formas de crime
transnacional.
Gestão de recursos naturais: a zona contígua também é importante para a gestão de recursos
naturais encontrados nas águas adjacentes. Muitos Estados costeiros têm direitos exclusivos de explorar e
utilizar recursos como petróleo, gás natural, minerais e recursos pesqueiros. Ao estender sua soberania
sobre a zona contígua, os Estados costeiros podem tomar medidas para garantir uma exploração saudável
e equitativa desses recursos, levando em consideração as necessidades ambientais e sócio económicas.
Pesquisa científica: a zona contígua oferece uma área de pesquisa significativa para cientistas
e pesquisadores marinhos. Estudos realizados nessa região podem oferecer informações valiosas sobre a
biodiversidade, os ecossistemas marinhos, a oceanografia, a mudança climática e outros aspectos
científicos relacionados. Esses conhecimentos contribuem para uma melhor compreensão dos oceanos e
auxiliam na formulação de políticas tomadas de decisão baseadas em evidências.
Com o presente artigo pretende-se, de modo global, analisar o quadro jurídico e normativo da
zona contígua, pelo que nos propomos a examinar instrumentos legais como a Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar, que estabelece os direitos e deveres dos Estados costeiros na zona
contígua, a Lei nº 14/10 de 14 de Julho, Lei dos espaços marítimos e outros diplomas históricos; e
também a discutir a evolução histórica desses instrumentos e avaliar sua eficácia na governança dos
oceanos.
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Conceito de Direito do mar definido como sendo todas as partes do mar não incluídas no mar territorial
e na zona económica exclusiva de um Estado costeiro, nem nas águas arquipelágicas de um Estado arquipélago.
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ZONA CONTÍGUA
Representa a zona contígua um espaço geográfico determinado que se prolonga desde o limite
do mar territorial até uma prefixada distância do alto mar, podendo os Estados exercer, nesta área,
algumas competências especializadas e limitadas junto de navios estrangeiros. A zona contígua é
considerada uma extensão da soberania do país costeiro, embora não seja parte do seu território nacional.
Os Estados costeiros têm certos direitos e poderes limitados na zona contígua para proteger seus
interesses de segurança, fiscalização aduaneira, controle migratório e outros assuntos relacionados.
Dentro da zona contígua, um Estado tem o direito de exercer controle sobre actividades como a
fiscalização de pesca, a prevenção de infracções aduaneiras, a imposição de regulamentações sanitárias
bem como a fiscalização de imigração e controle de fronteiras.
A zona contígua é um espaço adjacente ao mar territorial que avança sobre a zona económica
exclusiva . Para delimitar sua extensão, contam-se a partir das linhas de base que servem para medir a
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largura do mar territorial 24 milhas marítimas. A zona contígua interage e compreende parte do espaço da
zona económica exclusiva, mas serve apenas para o exercício de parcela de jurisdição do Estado costeiro,
sobre cestas matérias e circunscritas a certas finalidades.
Nos limites da zona contígua, o Estado pode exercer parcela de sua jurisdição, mas somente
para adoptar medidas de vigilância e fiscalização sobre o cumprimento de certas medidas administrativas,
aduaneiras e fiscais, migratórias e sanitárias. Tem por finalidade a proteção do seu território, evitando e
reprimindo a infracção a essas leis e regulamentos. É um espaço no qual o Estado costeiro está legitimado
actuar, mas só para fazer cumprir regras administrativas e de segurança. É imperioso esclarecer,
liminarmente, que a instituição desta zona não é, de forma alguma, sinónimo de alargamento do mar
territorial.
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Zona marítima, adjacente ao mar territorial, que não pode ultrapassar as 2 milhas náuticas, contadas a
partir das linhas de base. Ela inclui a zona contígua. (André Victor, 2021)
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Regime legal
A Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar foi aprovada em Montego Bay, na
Jamaica, a 10 de Dezembro de 1982 e a República de Angola subscreveu-a nessa mesma data. A zona
contígua não pode estender-se além de 24 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que
servem para medir a largura do mar territorial4.
O direito internacional geral ou comum, recebido nos termos da presente constituição, faz parte
integrante da ordem jurídica angolana; os tratados e acordos internacionais regularmente aprovados ou
ratificados vigoram na ordem jurídica angolana após a sua publicação oficial e entrada em vigor na ordem
jurídica e enquanto vincularem internacionalmente o Estado angolano. 5 O legislador constitucional de
2010 consagra nos termos do nº 3 do artigo 3º que Estado angolano exerce jurisdição e direitos de
soberania em matéria de conservação, exploração e aproveitamento dos recursos naturais, biológicos e
não biológicos na zona contígua, deixando sua regulação à mercê do legislador ordinário.
O legislador ordinário na lei 14/10 apresenta a zona contígua como espaço marítimo sob
soberania e jurisdição nacionais, cfr. Alínea c) do 3º. A Lei nº 14/10, também conhecida como "Lei dos
Espaços Marítimos", lei promulgada em 31 de maio de 2010, é uma lei angolana que estabelece o regime
jurídico da utilização, exploração e gestão dos espaços marítimos de Angola.
A Lei dos Espaços Marítimos de Angola tem como objetivo principal regulamentar as
actividades relacionadas à exploração e uso dos recursos marinhos e costeiros, bem como a preservação e
gestão sustentável desses recursos. Ela abrange áreas como pesca, aquicultura, turismo marinho,
transporte marítimo, exploração de hidrocarbonetos, proteção ambiental, entre outras questões
relacionadas aos espaços marítimos angolanos.
Essa lei define os direitos e responsabilidades dos diversos actores envolvidos nas atividades
marítimas, incluindo o governo angolano, as empresas, os pescadores e a população em geral. Ela
estabelece as bases legais para a concessão de licenças e autorizações, a proteção do meio ambiente
marinho, a fiscalização e a aplicação de penalidades em caso de infracções.
De acordo com a Lei nº 14/10, que trata dos espaços marítimos em Angola, a zona contígua é
uma das áreas definidas no contexto da soberania do Estado angolano sobre as suas águas territoriais e
espaços marítimos adjacentes.
A Lei dos Espaços Marítimos de Angola estabelece que o Estado angolano tem o direito de
exercer controle na zona contígua para prevenir e combater infrações aduaneiras, fiscais, imigratórias e
sanitárias que possam afetar a segurança, a ordem pública ou os interesses econômicos do país. Isso
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Cfr. Nº 2 do artigo 33 da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar.
5
Cfr. Nº 1 e 2 do artigo 13º da Constituição da República.
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implica que as autoridades angolanas têm a jurisdição para tomar medidas de fiscalização, controle e
aplicação da lei nessa área.
Além disso, a lei também prevê a cooperação e a coordenação entre as autoridades angolanas e
os Estados vizinhos, especialmente em casos em que a violação das leis ocorra na zona contígua e se
estenda além das fronteiras marítimas.
Numa zona contígua ao seu mar territorial, denominada zona contígua, o Estado costeiro pode
tomar as medidas de fiscalização necessárias a evitar as infrações às leis e regulamentos aduaneiros,
fiscais, de imigração ou sanitários no seu território ou no seu mar territorial e reprimir as infrações às leis
e regulamentos no seu território ou no seu mar territorial 6. Na zona contígua, os Estados costeiros têm
direitos e deveres específicos concedidos pelo direito internacional do mar, os poderes a exercer pelo
Estado Angolano no mar compreendem aqueles que estejam consagrados em normas e em princípios do
direito internacional que vinculam o Estado Angolano e nas disposições da presente lei7.
Direitos:
Conforme o artigo 25º da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM)
são direitos dos Estados costeiros os seguintes:
1. Jurisdição aduaneira: Os Estados costeiros têm o direito de exercer controle aduaneiro sobre a
zona contígua, o que lhes permite regular a entrada, saída e trânsito de mercadorias.
4. Fiscalização e aplicação da lei: Os Estados costeiros têm o direito de fiscalizar e aplicar suas
leis na zona contígua, incluindo a aplicação de leis e regulamentações ambientais, de pesca e de
segurança marítima.
5. Proteção ambiental: Os Estados costeiros têm o direito de adotar medidas para prevenir, reduzir
e controlar a poluição marinha na zona contígua, bem como para proteger e preservar o meio
ambiente marinho.
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Cfr. Alíneas a) e b) do artigo 33 da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar.
7
Artigo 15.º da Lei nº 14/10.
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6. Pesquisa científica: Os Estados costeiros têm o direito de realizar pesquisas científicas na zona
contígua, coletando dados e realizando estudos sobre os recursos naturais, o meio ambiente
marinho e outros aspectos relacionados.
Deveres:
Conforme o artigo 24º da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM)
são deveres dos Estados costeiros os seguintes:
1. Não interferência: Os Estados costeiros têm o dever de não interferir nos direitos de passagem e
liberdade de navegação de navios estrangeiros na zona contígua, de acordo com as regras
estabelecidas pelo direito internacional do mar.
2. Cooperação internacional: Os Estados costeiros têm o dever de cooperar com outros Estados e
atores internacionais para promover a gestão sustentável dos recursos marinhos, a proteção do
meio ambiente marinho e a prevenção de atividades ilegais na zona contígua.
4. Respeito aos direitos dos outros Estados: Os Estados costeiros têm o dever de respeitar os
direitos e interesses legítimos de outros Estados na zona contígua, garantindo que suas atividades
não causem danos ou prejuízos indevidos. É importante ressaltar que os direitos e deveres na zona
contígua são estabelecidos pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM)
e por outros acordos internacionais relacionados. A interpretação e implementação desses direitos
e deveres podem variar de acordo com as circunstâncias específicas e as políticas de cada Estado
costeiro.
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A zona contígua oferece aos Estados costeiros a autoridade para implementar regulamentações
e medidas para prevenir e controlar a poluição marinha. Eles podem estabelecer padrões de descarte de
resíduos, monitorar e controlar atividades industriais, regulamentar o transporte de substâncias perigosas
e responder prontamente a incidentes de poluição. Isso contribui para a proteção dos ecossistemas
marinhos e a preservação da saúde dos oceanos. Os Estados costeiros podem estender suas
regulamentações de pesca para a zona contígua, visando a conservação e a gestão sustentável dos recursos
pesqueiros.
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A zona contígua permite que os Estados costeiros estendam suas regulamentações e medidas de
proteção ambiental além das águas territoriais. Isso contribui para a conservação de ecossistemas
marinhos, como recifes de coral, áreas de reprodução de espécies ameaçadas e habitats naturais. Permite
aos Estados costeiros implementar regulamentações de pesca e medidas de gestão dos recursos
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pesqueiros. Isso ajuda a controlar a pesca excessiva, proteger os estoques pesqueiros e garantir a
sustentabilidade a longo prazo das atividades pesqueiras. Através da zona contígua, os Estados costeiros
podem estender suas regulamentações para prevenir e controlar a poluição marinha, como o descarte de
resíduos e a poluição por navios. Isso contribui para a preservação da qualidade da água e a saúde dos
ecossistemas marinhos. A zona contígua desempenha um papel importante na proteção da segurança
nacional dos Estados costeiros. Eles podem exercer maior controle sobre as atividades marítimas na zona
contígua, como o combate ao tráfico de drogas, o contrabando de armas e a imigração ilegal.
Todavia sua implementação eficaz requer cooperação e coordenação entre os Estados costeiros.
É necessário estabelecer acordos e tratados internacionais para lidar com questões transnacionais e
promover uma governança oceânica sustentável.
Para implementar e monitorar efetivamente a zona contígua, os Estados costeiros precisam ter
capacidade institucional e recursos adequados. Isso inclui a criação de agências de gestão marinha,
desenvolvimento de capacidades de monitoramento e fiscalização, e alocação de recursos financeiros para
essas atividades; sua implementação pode levar a disputas territoriais entre Estados costeiros vizinhos. As
delimitações das zonas contíguas devem ser baseadas em acordos e tratados internacionais para evitar
tensões e conflitos; outro problema será o de garantir a aplicação efectiva das regulamentações e medidas
na zona contígua pode ser um desafio. Isso requer a capacidade de monitorar as actividades marítimas,
realizar inspeções e aplicar sanções em caso de violações.
As mudanças climáticas estão afetando os oceanos de diversas maneiras, como o aumento das
temperaturas, a acidificação dos oceanos e a elevação do nível do mar. A zona contígua pode
desempenhar um papel na adaptação a essas mudanças, permitindo que os Estados costeiros
implementem medidas de proteção e conservação para mitigar os impactos adversos nas áreas adjacentes
às suas águas territoriais.
A gestão sustentável dos recursos marinhos continuará sendo uma preocupação importante no
futuro. A zona contígua pode ser usada para implementar regulamentações e medidas de controle que
promovam a pesca responsável, a conservação da biodiversidade marinha e a utilização sustentável dos
recursos naturais. A busca por práticas pesqueiras mais sustentáveis e a implementação de áreas marinhas
protegidas podem ser impulsionadas por meio da zona contígua.
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A cooperação internacional e a governança oceânica serão cada vez mais relevantes para a
gestão eficaz da zona contígua. A necessidade de abordar questões transnacionais, como a conservação da
biodiversidade marinha, a prevenção da poluição e a gestão dos recursos pesqueiros, exigirá um esforço
conjunto entre os Estados costeiros, organizações regionais e internacionais. A criação de acordos e
regimes de cooperação fortalecerá a governança oceânica e garantirá a sustentabilidade da zona contígua.
CONCLUSÃO
A zona contígua desempenha um papel crucial na governação dos oceanos, permitindo que os
Estados costeiros exerçam autoridade sobre áreas adjacentes às suas águas territoriais. No entanto, a
implementação efetiva da zona contígua requer cooperação internacional e uma abordagem colaborativa
na gestão dos recursos marinhos. A cooperação internacional é essencial para lidar com questões
transnacionais e garantir a sustentabilidade dos oceanos. Através de acordos e tratados internacionais, os
Estados costeiros podem trabalhar em conjunto para estabelecer regulamentações comuns, compartilhar
informações e coordenar esforços na proteção do meio ambiente marinho e na conservação dos recursos
naturais.
Além disso, a gestão sustentável dos recursos marinhos é fundamental para garantir a
saúde dos ecossistemas e a disponibilidade de recursos para as gerações futuras. Através da zona
contígua, os Estados costeiros podem implementar medidas de controle da pesca, promover práticas
pesqueiras sustentáveis e proteger áreas sensíveis, como os habitats de espécies ameaçadas.
REFERÊNCIAS
Constituição da República de Angola. (2010).
Silva, J. L. (2003). Direito Internacional do Mar. Lisboa: Associação Académica da faculdade de Direito
de Lisboa.