Violência Contra A Mulher Fabiana de Lima Ribeiro

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16º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

Tema: “40 anos da “Virada” do Serviço Social”


Brasília (DF, Brasil), 30 de outubro a 3 de novembro de 2019

Eixo: Serviço Social, Fundamentos, Formação e Trabalho Profissional


Sub-Eixo: Ênfase em Trabalho Profissional

SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE ANIMAL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA


ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM UM HOSPITAL VETERINÁRIO
UNIVERSITÁRIO

Sara Izabeliza Moreira Lima1


Luzia Amélia Ferreira2
Resumo: Relato de experiência do Serviço Social no Hospital Veterinário da Universidade Federal de
Minas Gerais, seus limites e possibilidades.
Palavras-chave: Serviço Social, Hospital Veterinário, Prática Profissional, Interdisciplinaridade.

Abstract: Relation of experience of the Social Service at the Veterinary Hospital of the Federal
University of Minas Gerais, its limits and possibilities.
Keywords: Social Work, Veterinary Hospital, Professional Practice, Interdisciplinarity.

I) INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado de reflexão e sistematização profissional do trabalho do
Assistente Social no Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal de Minas
Gerais (HV/UFMG) e tem como objetivo relatar a prática profissional do Assistente Social
neste espaço socio-ocupacional, apresentando seus desafios e possibilidades.
A discussão sobre as transformações societárias, mundo do trabalho, reestruturação
produtiva e novas demandas para o Serviço Social foi um ponto central no período posterior
a 1990 e se estende até os dias atuais.
Neste sentido, observa-se um período de profundas e significativas mudanças que
afetam a vida social, política e econômica e repercutem nas profissões de modo geral. As
transformações societárias (NETTO, 1996), de modo rápido e intenso, acabam por
redimensionar o campo profissional, reordenando as profissões consolidadas, ou criando
novas atividades e ramos profissionais, atingindo diretamente a divisão socio-técnica do
trabalho.
No mundo do trabalho, observam-se fortemente as exigências de novas
competências para a afirmação do espaço profissional do assistente social, que deve conter
respostas que atendam “satisfatoriamente” às necessidades, contemplando prioridades e

1
Profissional de Serviço Social, Universidade Federal de Minas Gerais, E-mail:
[email protected].
2
Profissional de Serviço Social, Universidade Federal de Minas Gerais, E-mail:
[email protected].
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alternativas, elaborando respostas mais qualificadas e legitimadas, incorporando as novas


expressões da questão social, definindo papéis e atribuições com outras categorias
profissionais.
No que compete a relação entre ser humano e natureza, essa se expressa uma
condição socio-histórica. A natureza transformada pelo trabalho propicia as condições de
manutenção da vida em sociedade, e é através dessa transformação que podemos
compreender o fenômeno humano-social, que leva o homem a se distanciar da sua
condição natural e tornar-se um ser social, desenvolvendo habilidades e adquirindo
conhecimentos (NETTO; BRAZ, 2011).
O ser social passou a desenvolver uma atividade projetada em sua consciência,
teleologicamente orientada, diferenciando-se dos animas, por não possuir características
genéticas ou naturais para sua realização, portanto, a espécie humana desenvolveu-se
como um novo tipo de ser, dotado de uma complexidade maior que a verificável na natureza
(IDEM, 2011).
É importante destacar que a relação entre ser humano e natureza foi
processualmente construída e transformada ao longo dos anos. No caso específico da
relação dos seres humanos com os animais esta apresentou características distintas, no
modo de produção produtivista os animais não pertenciam a ninguém e também não havia
propriedade privada da terra. Com o passar dos anos, com o desenvolvimento da
sociedade, da agriculta, estes receberam novas atribuições, se tornaram meio de transporte,
vestimenta e passaram a ser domesticados (BESTAS, 2015).
No modo de produção capitalista os animais passaram a assumir um caráter de
propriedade, e não eram utilizados apenas como alimento, vestuário ou meio de locomoção,
mas também uma mercadoria, um símbolo de riqueza acumulada e status social. Além
disso, em algumas espécies como cães e gatos é construído um novo tipo de relação a
partir da domesticação, se tornando meio de suprimento de necessidades materiais e
subjetivas dos homens, que se expressa por um lado, pelo caráter de mercadoria dos
animais e, por outro, pela sua equiparação ao humano (SALES, 2017).
Essa mudança vem ocorrendo e transformando a intervenção do Estado em relação
a política de saúde, como também a organização das famílias. No Brasil, a Pesquisa
Nacional de Saúde–PNS realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
no ano de 2013 identificou que os domicílios do país contavam com a presença de um total
de 63,7 milhões de cães e gatos, contra 44,9 milhões de crianças. O Brasil já é considerado
a 2ª maior nação do mundo em população de cães e gatos e a 4ª em animais de estimação.
Porém, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 30 milhões
de animais, principalmente cães e gatos, vivem nas ruas das cidades do Brasil.

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Embora sejam percebidas mudanças no padrão de convívio, alguns pesquisadores a


exemplo de Maria Helena Lima (2016), argumentam que esses dados por si só não definem
a ideia de que os animais estão substituindo a presença humana. E afirmam que os animais
de estimação não compõem a família como substitutos dos filhos, pois estão mais presentes
em domicílios de casais e famílias com crianças que entre solteiros ou idosos.
Independente dessa questão, o que importa considerar é que está havendo uma
modificação nas relações entre humanos e animais, especialmente os considerados de
companhia, o caso de cães e gatos. Lima (2016) considera que “nas últimas décadas, é
possível perceber um conjunto de mudanças qualitativas nas relações humanas com cães e
gatos, cada vez mais percebidos como indivíduos, seres moralmente relevantes e,
frequentemente, como membros da família”. (LIMA,2016:8).
Sobre alguns aspectos dessas mudanças esta mesma autora considera que

Clínicas veterinárias e pet shops estão espalhadas em todos os


bairros, com imensa variedade de preços e serviços, que incluem
atendimento 24h, internamento, exames e profissionais com
diferentes especialidades e tratamentos estéticos constantemente
inovados. A morte dos animais da família passou a ser acompanhada
por luto e o extermínio dos animais “de rua” tornou-se uma ideia
desagradável e foi proibida por lei em várias cidades e estados
brasileiros. Em seu lugar, surgem programas de controle populacional
baseados na oferta gratuita de cirurgias de esterilização. Grupos
organizados na sociedade civil promovem eventos para incentivar a
adoção de cães e gatos resgatados das ruas, realizam passeatas
reivindicando penas mais duras para crimes de maus tratos contra
animais e expandem seu poder de difusão articulando-se nas redes
sociais e mobilizando jornalistas e políticos. Os elementos de
novidade nessas relações convivem com as formas tradicionais e se
combinam a elas em sobreposições variadas e paradoxais. Nessa
complexa configuração, os arranjos possíveis entre humanos e
animais de estimação se multiplicam, assim como os conflitos
decorrentes de perspectivas discrepantes a respeito deles. (id, p.16)

O Sistema único de Saúde (SUS) é responsável pela vigilância, prevenção e controle


de zoonoses, por meio da Medicina Veterinária Preventiva que está ligada a saúde humana
utilizando conhecimento da epidemiologia, prevenindo doenças e melhorando a produção
animal, como também as ações de Saúde Pública Veterinária, relacionadas à promoção da
higiene e controle de qualidade na produção de alimentos (CARVALHO et al, 2017).
As Universidades são responsáveis pela formação de profissionais e por meio de
suas atividades de ensino, pesquisa e extensão onde há relação direta com a sociedade,
tomam conhecimento de suas principais demandas e necessidades sociais. No caso
específico da Medicina Veterinária, atualmente no Brasil não existe uma política pública de
saúde direcionada ao tratamento de saúde animal.

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Em sintonia com a Organização Mundial de Saúde Animal – OIE, que reconhece os


serviços veterinários como um bem público mundial, o serviço veterinário brasileiro,
responsável pela condução da política de saúde animal, compartilha com o setor privado as
responsabilidades para aplicação das medidas que objetivam a melhoria da saúde animal.
Como não existe no Brasil uma política pública que possibilite o tratamento para
saúde animal, os tutores destes animais quando necessitam procuram instituições privado-
particulares ou hospitais veterinários universitários para viabilizar o tratamento dos mesmos,
o que acaba gerando custos ao responsável.
Neste contexto de modificação da sociedade, de surgimento de novas requisições do
mercado profissional de trabalho, os espaços ocupacionais para o Assistente Social se
diversificam e emergem inéditas requisições e demandas para este profissional, requerendo
deste novas habilidades, atribuições e competências (IAMAMOTO, 2009).

II) CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ATUAÇÃO

O Hospital Veterinário é um órgão complementar da Escola de Veterinária da UFMG


que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão. Entre os objetivos do Hospital
está apoiar os programas de ensino de graduação e pós-graduação e pesquisa da Escola
de Veterinária e de outras unidades da UFMG, assim como a execução de projetos de
extensão junto às comunidades urbana e rural (UFMG, 2018).
O HV/UFMG é composto pelos setores de Clínica Médica, Clínica Cirúrgica,
Patologia, Reprodução e Divisão de Enfermagem. Os atendimentos oferecidos no hospital
abrangem consultas, cirurgias, exames de imagem e laboratoriais. Todas as espécies de
animais domésticos são atendidas, e também algumas espécies de animais silvestres. Nele
se encontram ambulatórios para atendimento, salas de cirurgia, setor de diagnóstico por
imagem, setor de necropsia, canis e estábulos para internamento de animais de pequeno e
grande porte. As especialidades atendidas são: oncologia, oftalmologia, neurologia,
cardiologia, ortopedia, dermatologia, acupuntura, endoscopia, fisioterapia, nefrologia e
odontologia.
A partir dos atendimentos direcionados ao público interno e externo à UFMG, o HV
se caracteriza como uma atividade de Extensão Universitária, que articula o Ensino e a
Pesquisa, com a sociedade. É importante ressaltar que, as ações da Universidade não
visam substituir a responsabilidade do Estado, mas sim produzir conhecimento e torná-los
acessíveis à população (UFMG, s.d).

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O Hospital Veterinário da UFMG está ligado a uma estrutura pública de ensino, mas
é mantido pela Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - FEPE3. Por intermédio
das Fundações, as universidades públicas vêm realizando uma série de atividades
caracterizadas como prestação de serviços para captação de recursos externos. Sendo
assim, também no HV/UFMG o atendimento não é gratuito e devido a sua grande casuística
de atendimentos, diversas demandas dos tutores se mostraram expressivas para a
Instituição em relação à condição socioeconômicas dos mesmos e o custo do tratamento
veterinário.
É necessário destacar que a condição socioeconômica desfavorável de grande parte
da população não é uma situação isolada ou pontual, mas é resultado das desigualdades
inerentes da sociedade capitalista, que reflete diretamente no acesso ou não destas às
políticas, programas e projetos sociais.
Aliado a isso, Lima (2016) considera que nas últimas décadas, cães e gatos
entraram nos quartos, subiram nas camas, penetraram o ambiente íntimo, tornaram-se parte
da rotina e do planejamento familiar e até foram incluídos nas listas de parentes e amigos a
presentear no Natal. “Nas casas em que esses animais são inseridos como companhia, cria-
se uma situação ambígua, pois os animais são, ao mesmo tempo, objetos fetichizados e
sujeitos de relações afetivas.” (ibid,291)
Isso porque cães e gatos tornaram-se reconhecidos, nas sociedades ocidentais,
como especialmente sensíveis, conscientes e inteligentes e que há uma comoção diante de
seu sofrimento e de uma sensação de dever moral em relação a eles. O que faz com que os
tutores, ao menor sinal de adoecimento, procurem as unidades especializadas de
atendimento médico veterinário.
Os gastos com animais é um assunto que perpassa as responsabilidades,
recomendações e exigências definidas pela sociedade como características fundamentais
de um tutor responsável. “No caso do mercado pet, o consumo torna-se uma forma de
estabelecer laços com o animal de estimação, reforçar a postura de bom tutor/pai/mãe,
satisfazer o animal e, ainda, valorizá-lo esteticamente”. (ibid,327).
Especificamente em se tratando dos gastos com tratamento médico veterinário, na
maioria das vezes, os tutores não estão preparados para arcar com os valores das contas e
comumente solicitam descontos ou isenções. Sendo assim, muito tem sido demandado o
atendimento e a análise socioeconômica em ambientes em que há serviços pagos.
No HV/UFMG muitas tem sido as solicitações de atendimentos de tutores que
buscam por uma forma mais acessível de pagamento de suas despesas, principalmente

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A Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - FEPE é uma entidade sem fins lucrativos,
credenciada pelo Ministério da Educação (Mec) e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
como fundação de apoio à UFMG, em especial à Escola de Veterinária da UFMG.

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daqueles que chegam com seus animais em caráter emergencial para procedimentos
cirúrgicos, internação, consultas de emergência, dentre outros e não tem condições de
acessar outros serviços particulares.
Diante desta realidade é que o Serviço Social tem se inserido de forma diferenciada
e propositiva, o que será apresentado no item a seguir.

III) ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM UM HOSPITAL VETERINÁRIO


UNIVERSITÁRIO – DESAFIOS E POSSIBILIDADES

O Serviço Social é uma profissão socio-histórica, que atua na realidade humano-


social e que possui como objeto de sua intervenção a “questão social”, e é sobre esta
questão social e suas expressões, que os profissionais assistentes sociais atuam. Essas
expressões da “questão social”, segundo Iamamoto (1982) são entendidas como o conjunto
das desigualdades da sociedade capitalista, que se expressam por meio das determinações
econômicas, políticas e culturais que impactam as classes sociais.
Do ponto de vista jurídico-legal no Brasil a lei nº 8.662/93 regulamenta a profissão e
o Código de ética de 1993 define as competências, atribuições privativas e os valores éticos
norteadores do trabalho do Assistente Social, que devem ser observados e respeitados,
tanto pelos profissionais quanto pelas instituições empregadoras.
O Assistente Social é o profissional que direciona a sua intervenção aos seguimentos
da população mais empobrecidos e subalternizados da sociedade. Sendo assim, a profissão
vem desenvolvendo, nos diversos espaços socio-ocupacionais o atendimento das
demandas e necessidades sociais dos seus usuários, podendo produzir resultados
concretos nas condições materiais, sociais, políticas, culturais da população atendida,
viabilizando o acesso desta às políticas sociais, programas, projetos, serviços, recursos e
bens de natureza diversa (YAZBEK, 2010).
Além de desenvolver atividades diretas com a população usuária dos serviços, o
Assistente Social é capacitado para atuar no planejamento e gestão, assim como realizar
assessoria e consultoria em matéria de Serviço Social a órgãos da administração pública
direta e indireta, empresas privadas e outras entidades (BRASIL, 1993).
Iamamoto (2011) nos referenda que são diversos os espaços ocupacionais que os
assistentes sociais ocupam na contemporaneidade. Assim estes precisam ser considerados
em sua natureza particular, pois esta é que condiciona o caráter do trabalho realizado, visto
que “as incidências do trabalho profissional na sociedade não dependem apenas da atuação
isolada do assistente social, mas do conjunto das relações e condições sociais por meio das
quais ela se realiza”.

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O assistente social é parte do conjunto de trabalhadores na sociedade capitalista. Ou


seja, também é um trabalhador assalariado, que estabelece uma relação de compra e venda
de sua força de trabalho especializada e dela depende, trabalhando em instituições que
demandam ou requisitam a sua atividade profissional.
O trabalho do Assistente Social no Hospital Veterinário da UFMG justifica-se devido
à demanda recorrente que se apresenta em relação à condição socioeconômica dos tutores
dos animais e a ausência de política pública de saúde para tratamento animal, gerando
impacto no acesso e continuidade do tratamento veterinário na Instituição.
O objetivo principal do trabalho é promover o acesso da população que apresenta
condição socioeconômica desfavorável para acessar os serviços do Hospital Veterinário da
UFMG. E tem como objetivos específicos: democratizar informações referente a programas
e projetos institucionais; realizar estudos socioeconômicos; emitir pareceres sociais;
construir o perfil dos usuários atendidos pelo Serviço Social no Hospital Veterinário da
UFMG e dentre outros.
Como público alvo definiram-se os tutores e/ou responsáveis dos animais, animais
estes que se encontram em tratamento médico veterinário no Hospital Veterinário da
Universidade Federal de Minas Gerais. E como atividade principal destaca-se a realização
de estudo socioeconômico dos tutores e/ou responsáveis dos animais, com objetivo de
possibilitar o acesso e a continuidade do tratamento veterinário de acordo com a condição
socioeconômica dos tutores. O que concretamente se consegue viabilizar a partir da
solicitação de descontos, isenções e parcelamentos conforme as realidades identificadas
através do estudo socioeconômico.
O estudo socioeconômico é um instrumento técnico operativo do Assistente Social
que é utilizado como um meio aproximativo da realidade da população. O estudo
socioeconômico tem como objetivo ser um meio que possibilite o acesso da população aos
serviços, bem como possibilitar a formulação de estratégias de intervenção por meio da
situação socioeconômica dos usuários dos serviços, além de subsidiar programas e projetos
da Instituição (CFESS, 2013).
Este instrumento pode ser definido como um processo de análise, conhecimento e
interpretação de uma determinada situação social do qual o sujeito demandante da ação
depende para acessar benefícios e/ou serviços (MIOTO, 2010). Sua finalidade é emitir um
parecer social, que se trata de uma exposição e manifestação sucinta que corresponde a
uma análise da situação referenciada em fundamentos éticos, técnicos e teóricos inerentes
ao Serviço Social, de caráter conclusivo ou indicativo (CFESS, 2013).
No caso específico do Hospital Veterinário da UFMG o estudo socioeconômico é
realizado com vistas a possibilitar o custo do tratamento médico veterinário proporcional à

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condição socioeconômica do tutor/responsável. Cabe ressaltar que com o início do exercício


no cargo de Assistente Social neste espaço, realizei um levantamento por meio de contato
telefônico com a finalidade de conhecer se existia em outros Hospitais Veterinários
Universitários no Brasil a atuação do Assistente Social.
A partir disto, identificou-se que apenas em dois Hospitais Veterinários Universitários
possuem Assistente Social, sendo uma profissional no Hospital Veterinário Universitário
localizado na cidade de Botucatu no estado de São Paulo e outra profissional localizada em
um Hospital Veterinário Universitário na cidade de Cruz das Almas no estado da Bahia.
Cabe frisar que atualmente no Brasil existem quarenta e dois Hospitais Veterinários
Universitários de Universidade Federais, excluindo deste número os Hospitais de
Universidades Estaduais e Privadas.
Sendo assim, a atuação do Assistente Social neste espaço é uma novidade e diante
desta amostra ainda é reduzida. Assim como na UFMG as outras profissionais também
utilizam o instrumento do estudo socioeconômico para possibilitar o acesso dos
tutores/responsáveis dos animais ao tratamento veterinário.
Ao longo do período de implantação do Serviço Social no HV/UFMG foi possível
identificar o perfil e estratificação dos beneficiários atendidos, sendo estes em sua maioria:
beneficiários dos programas sociais do governo federal (BPC, Bolsa Família, Invalidez),
alunos da UFMG, alunos da UFMG atendidos pela Fundação Universitária Mendes Pimentel
(FUMP), comunidade externa socioeconomicamente vulnerabilizada, servidores,
professores e colaboradores do Hospital Veterinário, atuantes na proteção animal e
comunidade externa em geral.
Infere-se que a conjuntura econômica e social brasileira tem implicado fortemente na
capacidade de manutenção das famílias. De um modo geral, observa-se um grande
contingente de indivíduos que não tem conseguido acessar o mercado de trabalho. Aliado a
isso, a situação distributiva continua praticamente inalterada frente às profundas mudanças
que marcaram a economia brasileira e as políticas sociais nessas últimas décadas.
Sendo assim, conforme os atendimentos realizados pelo Serviço Social no
HV/UFMG algumas percepções iniciais podem ser consideradas e assim descritas: a) a
maioria dos tutores de animais que procuraram o atendimento do Serviço Social chegou
com os animais em caráter emergencial para procedimentos cirúrgicos, de internação,
consultas de emergência, ou outros atendimentos que não estavam em sua programação de
gastos; b) muitos apresentam a argumentação de que não sabiam que o Hospital
Veterinário não fazia atendimentos gratuitos, que por ser uma universidade pública acharam
que não haveria cobrança dos procedimentos ou que não imaginavam que a conta chegaria
ao valor que está sendo cobrado ou mesmo, que não se programaram para aquela despesa

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e que agora esta conta irá comprometer o seu orçamento; c) as solicitações de descontos,
isenções e análise pelo Serviço Social se justificam pelo alto valor considerado pelos
mesmos e sua incapacidade, na maioria dos casos, de arcar com o pagamento integral da
conta; d) a escuta qualificada feita pelo Serviço Social tem possibilitado realizar orientações
e encaminhamentos a serviços que são oferecidos tanto pela UFMG, quanto pela rede de
atendimentos em Belo Horizonte. O trabalho tem a perspectiva de ir além do mero desconto
e intermediação para o tratamento; e) o atendimento pelo Serviço Social é recente, está
sendo estruturado em conjunto com a diretoria executiva, e em algumas circunstâncias tem
ocasionado dúvidas e insegurança por parte dos demais setores envolvidos, visto que
perderam um pouco a autonomia e precisam aguardar pelas definições, o que requer maior
atenção pelo profissional ao trato com os demais a fim de evitar conflitos.
Por ser um espaço novo, uma perspectiva que se coloca é que ainda há muito a ser
feito e um longo caminho a ser percorrido no sentido de dar visibilidade à profissão dentro
destes espaços, vez que o profissional muitas vezes é reconhecido apenas pelo trabalho de
análise socioeconômica e de concessão de descontos.
Há que se fazer um estreitamento das relações e buscar o entendimento quanto ao
espaço veterinário como um espaço socio-ocupacional possível e campo real que assegure
o acesso e garantia aos direitos sociais e ao exercício profissional qualificado do assistente
social.

IV) CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este artigo é um ponto de partida para compreender a demanda que se coloca ao


Assistente Social, mas que não se esgota em si, portanto, através da atuação profissional e
do conhecimento da realidade do cotidiano da Instituição, outras demandas podem ser
apreendidas, sendo importante o constante repensar e a elaboração de novos instrumentos
de reflexão.
O assistente social é o profissional que está mais próximo dessa questão,
observando os dilemas da exclusão social em suas diversas formas de manifestação e
criando alternativas de atuação frente a essa problemática. Para tanto, é condição que ele
desenvolva seu potencial crítico e analítico e seus instrumentos de intervenção, tendo em
vista o mercado de trabalho cada vez mais retraído e com tendências a precarização das
relações trabalhistas e deterioração das condições sociais de existência dos trabalhadores.

Diante dessa diversidade no mercado de trabalho profissional e das novas


demandas postas ao Serviço Social, é exigido que o assistente social seja um profissional
crítico, propositivo, polivalente, interventivo, pesquisador, questionador e que tenha novas
habilidades (teórico, técnica, ético, política), que seja qualificado para atuar em novos

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espaços (terceiro setor, consultoria, assessoria), que saiba olhar e decifrar a realidade,
construir propostas, formular e gerir políticas, romper com a burocracia e o teoricismo,
entender a questão social e recriar as antigas formas de trabalho.

Esse cenário de mudanças e rearranjos coloca para o profissional a questão da


qualificação e a exigência de novas especializações. O trabalho multidisciplinar na
intervenção vem comprovar a necessidade de se articularem saberes diversificados, na
busca de estratégias, na definição dos papéis e na articulação do trabalho, contribuindo para
um constante processo de reaprendizado. A tecnologia passa a fazer parte desse processo,
ou seja, através da informática, da internet, das redes sociais, abre-se um importante
espaço para a interação entre os grupos sociais; a circulação de informações e
conhecimentos se faz de modo muito mais rápido e abrangente, dominar a técnica da
informática se torna imprescindível para o assistente social. Principalmente em locais em
que se trabalha com sistema integrado de gestão de informações, como no caso do Sistema
de Gestão veterinário utilizado pelo HV/UFMG.
Percebe-se que o assistente social tem se inserido de forma competente,
identificando as ações, planejando, executando, avaliando e contribuindo para a
democratização das relações de poder nas equipes das quais participa.
As situações evidenciadas neste artigo nos remetem à reflexão quanto à
necessidade do profissional assistente social ter uma compreensão crítica sobre o seu papel
enquanto executor das políticas sociais e da sua necessidade constante de qualificação e
de conhecimento da realidade em que está inserido.

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