Naquin1,+journal+manager,+2 Iamamoto Conocimientos
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sociais e desigualdades1
“Social question” in Brazil: social relations and inequalities
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Este texto tem como base versão amplamente revista e atualizada da conferência pronunciada no V Seminário
Internacional de Política Social. Desafios da Política Social na Contemporaneidade, na Universidade de Brasília, no dia
04 de outubro de 2012. A versão integral da citada conferência, sob o título: Brasil das desigualdades: questão social,
trabalho e relações sociais, foi publicada na Revista Ser Social. Brasília, v. 15, n º 33, p. 261-384, jul./dez/ 2013.
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Introdução
Estas notas pretendem traçar o terreno histórico das desigualdades constitutivas das relações
sociais na sociedade brasileira, (re)produzidas de forma ampliada com o suporte do Estado por
meio de recursos e políticas públicas. Busca-se caracterizar a “questão social” na era das finanças
no quadro da crise contemporânea, indicando suas repercussões no universo trabalho no País.
Finalmente são registradas algumas orientações, de raiz liberal, transversais às políticas sociais
propostas pelo Estado brasileiro em consonância com as diretrizes dos organismos multilaterais,
que tensionam o projeto do Serviço Social no País.
Desde a década de noventa, com a criação dos mercados globais em condições de extrema
instabilidade econômica, evidencia-se, ao nível mundial, um crescimento sistemático das
desigualdades. Afirma Hobsbawm (2007, p.11):
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O Plano Brasil sem Miséria foi lançado em 2011 com o objetivo de elevar a renda e as condições de bem-estar da
população, especificamente os brasileiros cuja renda familiar é de até R$ 70 por pessoa. O Plano agrega diversas áreas e
iniciativas, como: transferência de renda, acesso a serviços públicos nas áreas de educação, saúde, assistência social,
saneamento, energia elétrica e inclusão produtiva.
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Ver https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2018/01/31/desemprego-quarto-trimestre-
ibge. Acesso em 05 de maio de 2018.
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Resgato neste item, de forma condensada, elementos da análise sobre o tema constante em IAMAMOTO (2007) e
agregando várias outras contribuições.
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“A razão última de todas as crises reais é sempre a pobreza e a restrição do consumo das
massas em face do impulso da produção capitalista a desenvolver as forças produtivas, como
se apenas a capacidade absoluta de consumo da sociedade constituísse seu limite” (Livro III,
p. 30)
A “questão social” condensa múltiplas desigualdades mediadas por disparidades nas relações de
gênero, características étnico-raciais, relações com o meio ambiente e formações regionais, colocando
em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Dispondo de
uma dimensão estrutural – enraizada na produção social contraposta à apropriação privada dos
frutos do trabalho, a “questão social” atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa luta aberta e
surda pela cidadania. (Ianni, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, políticos e sociais. Esse
processo é denso de conformismos e rebeldias, expressando a consciência e luta que acumule
forças para o reconhecimento das necessidades de cada um e de todos os indivíduos sociais.
Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e trabalho,
extrapolando a questão social para a esfera pública. Ela passa a exigir a interferência do Estado no
reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos,
consubstanciados nas políticas e nos serviços sociais, mediações fundamentais para o trabalho
do assistente social.
Segundo Fernandes (1975), no Brasil, a expansão monopolista manteve a dominação imperialista
e a desigualdade interna do desenvolvimento da sociedade nacional. Ela aprofundou as
disparidades econômicas, sociais e regionais, na medida em que vem favorecendo a concentração
de renda, prestígio e poder ao nível social, étnico e regional. Aquela expansão redundou numa forma
típica de dominação política, de cunho contra-revolucionário, em que o Estado capturado
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Ao longo dos três últimos decênios, o Serviço Social na América Latina foi polarizado por um
duplo e contraditório movimento: o processo de ruptura teórica e política com o lastro
conservador de suas origens; em sinal contrário, verificou-se o revigoramento de uma reação
(neo) conservadora aberta e/ou disfarçada em aparências que a dissimulam, como já indicou
Netto (1996), apoiada nos lastro da produção pós-moderna e sua negação da sociedade de
classes.
Nas três últimas décadas, o Serviço Social brasileiro construiu coletivamente um patrimônio
sóciopolítico e profissional que lhe atribui uma face peculiar no cenário latino-americano e
mundial. Ele tem, no seu núcleo central, a compreensão da história a partir das classes sociais e
suas lutas, o reconhecimento da centralidade do trabalho e dos trabalhadores, e foi inspirado
teoricamente na tradição marxista - no diálogo com outras matrizes analíticas- e politicamente
pela aproximação às forças vivas que movem a história: as lutas e os movimentos sociais. Dessa
herança progressista fazem parte entidades fortes politicamente, representativas e articuladas
entre si, com legitimidade política e capilaridade organizativa inédita nesses tempos de combate à
luta social e exaltação do individualismo e da indiferença ante os dramas coletivos.
Foram muitas as conquistas derivadas dessa orientação político-profissional. Na contramão do
mar de individualismo os assistentes sociais preservaram sua capacidade de indignação ante as
desigualdades e injustiças sociais, mantendo viva a esperança em tempos mais humanos. No campo
do exercício profissional, verifica-se a busca permanente de aperfeiçoamento, a inquietação criadora
e o compromisso com a qualidade dos serviços prestados, dotados de clara direção política e
profundamente sintonizados com as necessidades dos sujeitos coletivo. Tem sido construída uma
nova imagem social de profissão relacionada aos direitos, voltada à participação qualificada dos
sujeitos sociais em defesa de suas necessidades e direitos nos espaços ocupacionais, nas
instâncias de representação coletiva e nas formas diretas de mobilização e organização social.
Avança-se no autorreconhecimento, por parte do assistente social, de sua condição de trabalhador
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“Primeiro não é a crise, mas as vitórias do capitalismo que produzem a nova forma social.
Segundo, isto significa que não é a luta de classe, mas a modernização normal e a
modernização adicional que está dissolvendo os contornos da sociedade industrial. A
constelação que está surgindo disso também nada tem em comum com as utopias até agora
fracassadas da sociedade socialista” (p. 12-13)
A hipótese é, pois, que a chamada teoria do risco é o anverso da teoria da crise do capital. Em outros
termos: não há crise do capital, mas existem contradições e impasses decorrentes do êxito da
radicalização da modernidade na era da globalização (visto ser o desenvolvimento capitalista um
processo natural e perene). Assim, a crise do capital é fetichizada e apresentada ao reverso:
meros riscos inerentes ao sucesso do capital, passíveis de serem administrados. Daí a proteção
social passa a ser tratada como “gestão do risco”. Como a dinâmica da sociedade de risco ocorre
mais além de posições e classes, a análise prescinde de diferenças de classe e iguala artificialmente
a todos diante do risco.
Para o Banco Mundial (2006), a globalização oferece aos países em desenvolvimento “enormes
oportunidades de prosperar no marco da economia mundial, mas também os expõem a riscos maiores”
o que justificaria a agenda de reformas neoliberais. As mudanças tecnológicas aceleram o ritmo
do crescimento, mas também aumentam a “decalagem entre os que possuem e os que nada
têm”. Os pobres, os mais vulneráveis, reclamariam apoio para manejar os riscos com que se
defrontam. Assim, emerge uma nova maneira de encarar a política de proteção social como:
estratégia de manejo ou administração de risco. Ela transforma a proteção social “em mais um
trampolim que permita às pessoas dar o salto para vidas mais seguras”. A proteção envolve
estratégias voltadas à “redução de riscos”, à “atenuação de riscos”, ao “enfrentamento dos
riscos”; o “manejo dos riscos” incorpora as questões de vulnerabilidade no debate sobre a
pobreza.
Uma dupla dimensão no alívio da pobreza extrema afirma-se na “sociedade de risco”: a) a criação
de redes de segurança social para a proteção da subsistência básica: e b) a promoção de
aceitação do risco.
Em decorrência surge a necessidade de “empoderar” as pessoas que vivem a pobreza crônica,
nelas desenvolvendo potências e capacidades para aliviar os riscos previsíveis do mercado, com
base no acesso crescente a uma gama de ativos. Em outros termos, a superação da pobreza está
na inserção ativa dos pobres na lógica do mercado, seja por meio da produção ou do consumo.
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Conclusões
As análises inspiradas nessa leitura da proteção social se chocam claramente com as conquistas
acumuladas pelo Serviço Social brasileiro. A dimensão de classe das relações sociais não tem
lugar nesse universo, assim como a luta por direitos sociais universais como estratégia de
acumulação de forças na perspectiva de construção histórica de uma sociedade radicalmente
democrática para todos. Dissemina-se, assim, o novo ecletismo no âmbito das políticas sociais: entre
o risco social e a luta por direitos, ao qual se requer atenção.
Tais tendências exigem um esforço redobrado de estreitar laços com as lutas e movimentos
sociais das classes subalternas e as necessidades sociais por eles veiculadas; de realizar o
acompanhamento rigoroso e permanente das formas históricas assumidas desigualdades de
classe nos países latino-americanos, considerando as diferenças de gênero, etnia, geração e
regionais presentes nas expressões da “questão social” em nossas sociedades; e de decifrar as
políticas públicas e o Serviço Social no marco das relações entre Serviço Social e a sociedade nas
sociedades latino-americanas.
Referências bibliográficas
Acanda, Jorge Luis (2006): Hegemonia e sociedade civil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ.
Alves, Giovanni (2000). O novo (precário) mundo do trabalho. Reestruturação produtiva e crise
do sindicalismo. São Paulo: Ed. Boitempo/FAPESP.
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Fontes eletrônicas
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Marilda Villela Iamamoto (2018): «Questão social no Brasil: relações sociais e desigualdades»
[artículo en línea]. Conciencia Social. Revista digital de Trabajo Social. Vol. 2, Nro. 3. Carrera de
Licenciatura en Trabajo Social. Facultad de Ciencias Sociales. UNC. pp. 27-44 [Fecha de consulta:
dd/mm/aa].
https://revistas.unc.edu.ar/index.php/ConCienciaSocial/article/view/21586
ISSN 2591-5339
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Sobre la autora
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