Resenha - Neusa Santos Souza - Tornar-Se Negro
Resenha - Neusa Santos Souza - Tornar-Se Negro
Resenha - Neusa Santos Souza - Tornar-Se Negro
R E V I S TA L AT I N OA M E R I C A N A
ISSN 1984 - 64 87 / n. 37 / 2021 - e214 02 / Nasciutti, L . / w w w.sexualidadsaludysociedad.org
RES EN HA
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PPCIS/UERJ
Rio de Janeiro, Brasil
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não captar a amplitude de seu legado, que não se esgota às suas signi-
ficativas publicações, que, além do Tornar-se negro, incluem, dentre
outras: A ciência e a verdade: Um comentário (1996); A Psicose: um
estudo lacaniano (1999); e O objeto da angústia (2005), obras de
autoria única e coletiva.
Nascida em Cachoeira, no recôncavo baiano, em 1948, Neusa
estudou na Faculdade de Medicina da Bahia, em Salvador, no mesmo
lastro intelectual que Juliano Moreira e Nise da Silveira, que se for-
maram na mesma instituição, e, como Neusa, seguiram para o Rio de
Janeiro para dedicarem-se à psiquiatria e ao tratamento não conven-
cional de sujeitos psicóticos, a contrapelo dos tratamentos medicamen-
tosos, das internações forçadas e do eletrochoque. Ainda na gradua-
ção, Neusa trabalhou na clínica Sanatório Bahia, onde já exercia seu
interesse em proporcionar amparo psíquico alternativo e criativo aos
internos, precedendo às experiências da Reforma Psiquiátrica Brasilei-
ra (Penna, 2019). Anos depois, no Centro Psiquiátrico Pedro II, atual
Instituto Municipal Nise da Silveira, e em outras instituições nas quais
passou e contribuiu como psicanalista no Rio de Janeiro – como o Nú-
cleo de Atendimento e Transmissão e a Casa Verde – Neusa avançou
nesses objetivos, reconhecendo o psicótico não a partir de um déficit
em relação ao neurótico, mas como um sujeito que nos tem a ensinar
e com o qual se pode dialogar e fazer contato com outra linguagem.
Como afirma Clélia Prestes (2020), Neusa, Nise e Juliano se en-
contram em percurso e pelas marcas significativas deixadas ao cam-
po psi enquanto figuras revolucionárias, ao inovarem na compreen-
são e nas práticas de cuidado em saúde mental. Clélia ainda demarca
que enquanto Nise da Silveira foi largamente reconhecida, Juliano
Moreira e Neusa Souza são figuras cujas contribuições ao campo fo-
ram sistematicamente apagadas, o que denuncia “o reconhecimento
no campo psi não ser proporcional, no caso das figuras negras ou da
temática das relações raciais” (Prestes, 2020: 63). Tornar-se negro
retorna em publicação como resposta ao reconhecimento público ain-
da modesto de Neusa Souza e aos regimes de silenciamento-esqueci-
mento, levando em conta os apelos político-epistêmicos que reforçam
a necessidade da descolonização do pensamento e da recuperação
da contribuição histórica de autores negras e negros, tensionadas,
sobretudo, pelos movimentos sociais negros e pelo crescimento de es-
tudantes e pesquisadores negros e negras nas universidades públicas,
a partir dos anos 2000 com as políticas de cotas.
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