UMBANDA
UMBANDA
UMBANDA
Umbanda é uma religião afro-brasileira de raiz Bantu, isto é, uma prática religiosa
de povos Bantu que, na diáspora africana, assume uma configuração própria no território
brasileiro.
Pessoas nativas das terras habitadas majoritariamente pelos povos Kongo,
Mbundu e Ovimbundu o que hoje compreende parte do que é Angola, Rep. do Congo e
Rep. Dem. do Congo - reorganizaram no Brasil suas práticas espirituais, especialmente
o culto aos ancestrais da terra, sendo a umbanda um tipo de prática religiosa Bantu na
diáspora.
Podemos citar a Cabula, o Palo Monte e o Candomblé Angola como práticas
primas da umbanda uma vez que compartilhamos uma territorialidade afro-diaspórica
(Kongo-Angola). Isto é, são todas resultado dessa reorganização religiosa nas Américas.
Ou seja, a umbanda faz parte de um grupo de religiões afro- diaspóricas Bantu.
Não há data de fundação da umbanda, ela provavelmente surgiu no final do séc.
XIX ou pelo menos foi a partir dessa época que começou a adquirir sua estrutura ritual
contemporânea.
"Umbanda" é uma palavra Bantu antiga que aparece em idiomas como kimbundu
e umbundu cujo significado é "arte ou maneira de curar, produção de atos mágicos",
tendo sido usada ao longo da história dos povos Estuário do Kongo para designar práticas
espirituais e aparecido como nome de movimentos religiosos no Brasil em diversos
momentos desde o séc. XVII.
Umbanda aparece especialmente como auto declaração religiosa de grande parte
das makumbas cariocas noticiadas nos jornais do Rio de Janeiro no séc. XIX.
"Mbandwa", por exemplo, era o nome de uma prática de transe com espíritos territoriais
na região dos Grandes Lagos, no leste da África, há 2 mil anos atrás.
A prática de umbanda é o culto a diversos espíritos ancestrais da terra que inclui
os povos indígenas, que são os pioneiros dos pioneiros da terra, que chamamos de
cabokos/as e também os vários povos que se assentaram nessa terra ao longo dos últimos
522 anos. Mas não é qualquer espírito que é cultuado, as entidades são espíritos ilustres
pertencentes comunidades a tradicionais, camponesas e proletárias. Ou seja, que tem
vínculos com a terra e com o trabalho que não combinam com a organização social
colonial.
Assim, cabokos/as são indígenas. Pretos/as velhos/as são pessoas pretas.
Baianos/as, que é um nome a ser repensado, parece abranger pessoas ilustres da Bahia,
das baías, e diversos lugares do Nordeste. Boiadeiros/as são pessoas de diversas partes
do Brasil que foram trabalhadores de manejo de gado. Ciganos/as, que poderíamos
começar a chamar de povos Rom, são pessoas pertencentes a esses povos "ciganos" em
diáspora que se assentaram no Brasil.
Exus e pombo giras tem origem muito nebulosa, mas muitos/as deles/as
provavelmente foram pessoas que trabalharam em vários tipos de ocupações urbanas e
noturnas. Marujos são pessoas que viveram junto do mar e dos rios como pescadores,
trabalhadores portuários, operários, ribeirinhos e praças da Marinha. Erês são crianças,
seres complexos que adquirem diferentes posições dependendo da tradição.
Perceba que a maioria das entidades de umbanda são pessoas com gostos,
vontades e personalidades.
A umbanda também cultua divindades sem forma humana, cujo corpo é o próprio
cosmos. Por exemplo, a divindade da Justiça que rege também os raios é Ele mesmo o
próprio raio. São chamados de Orixá, mas esse é o nome das divindades de origem
Yorubá que são muitos diferentes dessas cultuadas na umbanda. Por diversos motivos
ao longo da história esse foi o nome que ficou, mas o conceito é muito mais parecido com
as divindades Bantu que se chamam Nkisi. Outras tradições Bantu também chamam de
Mahamba.
Muitas tradições de umbanda fazem iniciações tanto para os espíritos quanto
para as divindades e o modo de viver dessa religião é sobre manter relações íntimas
(algumas mais, outras menos) com a terra e seus entes, pois de acordo com uma ética
Bantu é assim que se vive com qualidade.
Viver com qualidade, nesse sentindo, significa chamar, se relacionar e prestar
respeito aos ancestrais da terra que habitamos porque esses já viveram e se
transmutaram (desencarnaram, retornaram à Mpemba [mundo espiritual]) e por isso
detém sabedoria sobre como viver no mundo.
Chamamos esses ancestrais porque já pisaram na mesma terra que pisamos hoje
e pedimos que nos ajudem em nossa caminhada.
Umbanda é, essencialmente, um tipo de relação com entes da terra (esses
espíritos e divindades).
O culto umbandista é realizado em templos, terreiros ou Centros apropriados
para o encontro dos praticantes onde entoam cânticos e usam instrumentos musicais
como o atabaque. Apesar disso, quando o Umbanda foi criada, não existiam
manifestações musicais, como cânticos e utilização de instrumentos. O culto é presidido
por um chefe masculino ou feminino. Durante as sessões são realizadas consultas de
apoio e orientação a quem recorre ao terreiro, práticas mediúnicas com incorporações de
entidades espirituais e outros rituais. O culto se assemelha ao candomblé, no entanto,
são religiões que possuem práticas distintas.
1908
Já existiam terreiros de umbanda antes de 1908 que tinham uma estética muito
mais umbandista do que a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade. Terreiros que não
disfarçavam sua africanidade, que iniciavam as pessoas para divindades e espíritos, que
praticavam corte e sabiam que sua matriz era Bantu do Estuário do Kongo.
O que aconteceu? Como viramos uma religião que acha que é um espiritismo
popular? Em função de um Brasil da década de 30 que tentava tanto disfarçar
cientificamente que não tinha racismo quanto colocava a Europa em seu horizonte
filosófico, a umbanda foi sequestrada e tomada, usando o conceito de Lélia Gonzalez,
como objeto parcial e coberta por um véu kardecista que esconde aquilo que a umbanda
realmente é.
À primeira vista pode sim parecer que Zélio foi um grande antirracista a "criar",
sob ordens de Seu 7E, uma nova religião que daria voz a espíritos que não são brancos.
Mas olhando com detalhes, percebemos as armadilhas da história.
Pai Antônio, outro espírito que teria trabalhado com Zélio de Moraes, quando
incorporou pela 1a vez, segundo contam os zelistas, teria saído da mesa que os médiuns
sentam na TENSP e pedido um banquinho para sentar no canto do terreiro. Teria feito
isso porque ele não sentava junto a mesa dos "senhores". Gente, como assim?! Eu
confesso que não sei nem por onde começar a explicar porque essa parte é problemática,
desde quando um preto-velho tem que se sentar no canto na sua própria casa? Por que
um "arquétipo espiritual" (para pensar nos termos deles) reproduziria uma lógica
escravocrata dentro de terreiro?
E essa crítica ganha um corpo muito mais robusto quando vem à tona que a
umbanda na sua forma contemporânea já existe antes de Zélio de Moraes, desde o final
do séc. XIX. Uma umbanda que cultua divindades, que faz iniciação, que faz sacralização
animal e que entende as entidades como ancestrais.
O culto que Zélio de Moraes quis criar era um culto espírita. Ele nunca quis
abandonar a doutrina espírita, ele rompe com kardecismo enquanto movimento e não
como horizonte. O nome "espiritismo de linha" é muito autoexplicativo quanto a isso.
Inclusive, sobre os nomes, Leonardo Cunha diz que o espiritismo de linha era sem nome
até depois de 1913, ano em que Orixá Mallet teria se manifestado em Zélio. Segundo
contam, esse espírito era um malásio muçulmano sendo Alláh o seu Deus. Teria então,
em certa altura da história, nomeado a religião como "Alabanda" pois haveria o desejo
de homenagear uma das 3 entidades de Zélio de Moraes.
Percebam que se resolve homenagear uma coisa que não é indígena ou africana,
mas algo que está num oriente distante e que esses espíritas ali do séc. XX se apropriaram
de maneira irresponsável esvaziando de sentido os modos de viver orientais. O bisneto
de Zélio de Moraes diz que esse nome não pegou e que mudaram para "Aumbandha",
fazendo referência ao mantra. E daí viraria umbanda.
A história de Zélio de Moraes é, então, fazer parecer que há uma liberdade que não existe.
Assim como o mito da democracia racial abraçada pela república após a abolição
institucional de 1888, o 15 de nov. de 1908 finge que há uma luta antirracista quando
efetivamente não há.
A umbanda pós segunda metade do séc. XX, após ser forçosamente aproximada
do espiritismo de e um esoterismo diverso, convencionou a chamar de "linha de
trabalho" os vários grupos/povos de espíritos que se manifestam nos terreiros. Daí temos
a constituição de duas questões fortes nas umbandas contemporâneas: as ideias de (1)
arquétipo e (2) trabalho "edificante".
"[...] os Bantu [...] já haviam aceitado, há muito tempo, a autoridade dos Batwa
[estrangeiros] como fontes de conhecimento vital. [...] até que uma comunidade Bantu
se estabelecesse em uma área por várias gerações e seus anciões tivessem morrido e sido
enterrados ali, os únicos espíritos ancestrais teriam sido os pioneiros".
Não é porque a umbanda cultua sei lá quantos grupos de espíritos que todos os
terreiros precisam ter todos eles ali. Isso é, antes de tudo, empobrecedor, pois tem como
pano de fundo a homogeneização dos terreiros (fundada nos manuais, na codificação e
na padronização). Apaga nossas diferenças e também a lógica da Hospitalidade.
E percebam...cabokos/as e pretos/as-velhos/as estão em todos os terreiros, né?
Pois é! Se os espíritos indígenas são pioneiros em relação a todo mundo, os espíritos de
africanos Bantu só são recém-chegados em relação aos indígenas!
Se você nunca incorporou um marujo/a. talvez você não tenha um corpo que
entra em transe com esses espíritos. Talvez você não tenha tido contato com um/a
marujo/a que tenha escolhido o seu Mutuê a ponto de querer pegar a sua cabeça. Talvez
você tenha um/a marujo/a, mas não dá transe. São muitos talvez...nisso tudo o que
realmente importa é que NENHUMA PADRONIZAÇÃO/CODIFICAÇÃO JAMAIS
SERVIRÁ A UMBANDA.
Quantas vezes você já sentiu enviesado em tentar incorporar "tipos" de espíritos que viu
os irmãos de santo incorporando. Como pessoas que desejam se tornar nganga
[especialistas] devemos ter a clareza em relação às coisas que o nosso corpo responde e
não sobre o corpo de outro. Isso torna nossa prática mecânica e propensa a problemas
no transe.
Em muitas casas o/a sacerdote bate o martelo e diz que "todo mundo tem x
espíritos de cada uma das linhas". Isso pode trazer graves problemas. Cada Mutuê é um
Mutuê...não se deve bater o martelo de nada, não se pode falar de maneira genérica sobre
a ancestralidade de ninguém. Querendo se adequar a um manual perdemos toda
organicidade que é inerente a nossa prática.
Eu não incorporo todos os "tipos" de espíritos que já tive contato...e tudo bem. E
se você incorpora, tudo bem também. Temos corpos diferentes, vivemos em lugares
diferentes e estamos em casas de umbanda diferentes.
A umbanda hoje tem sérios problemas no que diz respeito ao transe. Se distanciando de
seu seio afrodiaspórico e se aproximando de um esoterismo universalista, se perdeu de
vista que, antes de tudo, corpos respondem à Mpemba (mundo dos ancestrais) de
maneiras diversas. Existem pessoas que entram em transe e existem pessoas que não
entram em transe, a organização de um terreiro deve partir antes disso.
Forçar a lógica da incorporação como a única possibilidade de fazer umbanda
empobrece nossa prática e frustra pessoas ao mesmo tempo que poda e bloqueia todas
as outras possibilidades que um corpo de alguém que é, por exemplo, ogã ou ekeji.
Não é um manual que vai ditar como uma makumba será tocada e sim a própria
prática dessa makumba. Sobre umbanda não se pode generalizar nada. Os antigos dizem
que umbanda é magia porque cada gira é uma gira, não importa seu tempo de terreiro.
E eles afirmam que toda gira é uma surpresa, toda vez a entidade faz alguma coisinha
que está fora do script.
Tentar imitar manuais empobrece nossa prática e nos deixa propensos a mentir
para nós mesmos. Não é porque no terreiro de fulano há 50 "tipos" diferentes de espíritos
que no meu precisa ter também. Não é porque está escrito num livro que todo mundo
incorpora tantos espíritos que isso seja verdade.
Primeiro porque espírito não tem "tipo" de nada, pois as linhas de umbanda são
os povos de espíritos de um território (sendo os nomes das linhas coisas que remetem a
identidade). Segundo porque todos os corpos que existem nesse planeta são diferentes,
assim como são os territórios.
Sejamos honestos e orgânicos em nossas práticas. Aprendi que cautela é o que faz
um bom makumbeiro e que certezas demais só nos afundam em erros.
HINO DA UMBANDA
O Hino da Umbanda foi composto em 1960 por Dalmo da Trindade Reis e José
Manoel Alves. No mesmo ano, a canção foi apresentada ao Caboclo das Sete
Encruzilhadas, que a aprovou. Em 1961, durante o Segundo Congresso Brasileiro de
Umbanda, a canção foi adotada como hino oficial da religião. Segue abaixo a letra do
hino.
Refletiu a Luz Divina
Com todo seu esplendor
É do reino de Oxalá Onde há paz e amor
Luz que refletiu na terra
Luz que refletiu no mar
Luz que veio de Aruanda
Para tudo iluminar
A Umbanda é paz e amor
É um mundo cheio de Luz
É a força que nos dá vida
E a grandeza que nos conduz
Avante, filhos de fé
Como a nossa lei não há
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá
ORIXÁS DA UMBANDA
Os umbandistas acreditam que os orixás e as entidades ancestrais habitam outro
plano de existência. Os orixás são antigas divindades iorubás cujo culto foi trazido ao
Brasil pelos negros escravizados. Dentre os orixás, os mais cultuados nos terreiros de
umbanda são:
ENTIDADES DA UMBANDA