A Obra Missionária Precisa de Parceria
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4. Faz ofertas não das sobras, mas apesar das necessidades (4.19)
A igreja de Filipos tinha o coração maior do que o bolso. Eles davam não do que
sobejava, mas das suas próprias necessidades. Eles ofertavam sacrificialmente. Eles
eram pobres, mas enriqueciam a muitos. Eles nada tinham, mas possuíam tudo. Eles
olhavam a contribuição não como um peso, mas como uma graça, como um dom
imerecido de Deus (2Co 81). Eles não apenas davam com generosidade, mas também
com sacrifício (2Co 8.2), pois ofertavam não apenas segundo suas posses, mas
voluntariamente ofertavam acima delas (2Co 8.3). Eles ofertavam não apenas para
Paulo, o plantador da igreja, mas também para irmãos pobres que eles jamais tinham
visto (2Co 8.4). Eles deram não apenas dinheiro, mas a eles mesmos (2Co 8.5).
William Barclay corretamente afirma que nenhuma dádiva faz o doador mais pobre. A
riqueza divina está aberta para os que amam a Deus e ao próximo. O doador não se faz
mais pobre, senão mais rico, porque seu próprio dom é a chave que lhe abre os dons e as
riquezas de Deus.
II.A ATITUDE DO MISSIONÁRIO EM RELAÇÃO À IGREJA
1. Gratidão pelo sustento recebido da igreja (4.10)
O missionário precisa aprender a depender de Deus e demonstrar gratidão por aqueles
que Deus levanta para cuidar de suas necessidades. Paulo escreve esta carta para
registrar seu tributo de gratidão a essa igreja que foi sua parceira no ministério até o
final da sua vida.
É importante destacar que Paulo coloca toda ênfase de sua alegria no Senhor, não na
generosidade dos filipenses, diz Ralph Martin. Ele sabia que os crentes de Filipos eram
apenas os instrumentos, mas que o Senhor era o inspirador. Paulo tinha profunda
consciência que a providência de Deus, às vezes, opera por meio das pessoas. Assim,
Deus supriu suas necessidades através da igreja. Ele agradece a igreja pela provisão,
mas sua alegria está no provedor.
A gratidão é uma atitude que traz alegria para quem a manifesta e para quem a recebe.
Paulo era um homem pródigo em elogios. Ele sabia reconhecer o valor das pessoas, o
trabalho delas e sobretudo, a generosidade com que era tratado por elas. Ele tornava isso
conhecido diante de Deus e dos homens. Precisamos desenvolver essa atitude no meio
da igreja.
2. Contentamento ultracircunstancial (4.11,12)
Muito embora Paulo julgasse legítimo receber sustento das igrejas (1Co 9.4-10), decidiu
não usufruir desse direito (1Co 9.12; 2Ts 3.9). Desta forma, em alguns lugares, precisou
trabalhar para suprir suas próprias necessidades (1Ts 2.7-9). Com isso, aprendeu a viver
contente em toda e qualquer situação. A vida de Paulo não floresceu num paraíso de
arrebatadoras venturas. Ele passou por grandes necessidades. Ele sabia o que era fome,
sede, frio, nudez, prisão, açoites, tortura mental e perseguições.
William Hendriksen corretamente comenta que Paulo não é nenhum presunçoso para
proclamar: “Eu sou o capitão de minha alma”. Nem tampouco é um estóico que,
confiando em seus próprios recursos, e supostamente imperturbável ante o prazer e a
dor, busque suportar sem queixa sua irremediável necessidade. O apóstolo não é uma
estátua. Ele é um homem de carne e osso. Ele já teve experiências de alegrias e aflições,
mas na urdidura dessa luta aprendeu a viver contente. Seu contentamento, porém, não
emanava dele mesmo, mas de um outro, além de si mesmo. Seu contentamento vinha de
Deus!
O contentamento é um aprendizado e não algo automático, diz o apóstolo. A palavra
grega que Paulo usa memyemai, “ter experiência” (4.12), era usada para a iniciação dos
cultos de mistério. F. F. Bruce diz que da raiz my e deste verbo myein deriva-se
mysterion, “mistério”. O aprendizado do contentamento cristão, porém, não se dá por
meio de um ritual místico, mas pelo exercício da confiança na providência divina.
Bruce Barton afirma que os bens materiais devem ser vistos sempre como dons de Deus
e nunca como substitutos de Deus. Nosso contentamento deve estar em Deus mais do
que nas dádivas de Deus. O contentamento de Paulo não está em coisas ou
circunstâncias. A base do seu contentamento é Cristo e não o dinheiro. Para ele o ser é
mais importante do que o ter. Humilhação ou honra, fartura ou fome, abundância ou
escassez eram situações vividas por ele, mas no meio delas e apesar delas, aprendeu a
viver contente, pois a razão do seu contentamento estava em Deus e não nas
circunstâncias.
A palavra grega autarkes, “contente” (4.11) é uma das palavras mais importantes da
ética pagã. Esta autarkeia (auto-suficiência) era a maior aspiração da ética estóica. Para
os estóicos autarkeia significava uma situação espiritual em que o homem era absoluta e
inteiramente independente de tudo e de todos; um estado em que o homem aprendia por
si mesmo a não necessitar de nada nem de ninguém. Os estóicos propunham alcançar
essa auto-suficiência eliminando todo desejo e toda emoção. Paulo, porém, não era um
estóico, mas um cristão. Para o estóico o contentamento era uma conquista humana;
para Paulo, um dom divino. O estóico era auto-suficiente; Paulo encontrava sua
suficiência em Deus.
Nessa mesma linha de pensamento, Ralph Martin diz que autarkeia descrevia a
independência de uma pessoa quanto a coisas materiais. Era uma asserção de auto-
suficiência. Era a virtude fundamental, na vida moral dos estóicos. Paulo tomou
emprestada essa palavra e a transformou em algo totalmente diferente, pois o homem
“auto-suficiente” estóico enfrenta a vida e a morte com recursos encontrados dentro de
si mesmo. Paulo, porém, encontra o segredo da vida em Cristo (1.21; 4.13). F. F. Bruce
diz que Paulo empregou a palavra autarkeia a fim de expressar sua independência das
circunstâncias externas. Estava sempre consciente de sua total dependência de Deus. O
apóstolo era mais “suficiente em Deus” que auto-suficiente. O próprio apóstolo
escreveu: “… a nossa suficiência vem de Deus” (2Co 3.5).
Warren Wiersbe, expondo este texto, diz que Paulo era um termostato e não um
termômetro. Um termômetro não muda coisa alguma, apenas registra a temperatura. Um
termômetro não tem o poder de mudar as coisas, ele se deixa afetar por elas. Está
sempre descendo ou subindo de acordo com a temperatura. Mas um termostato regula a
temperatura do ambiente em que se encontra e faz as alterações necessárias. Paulo era
um termostato, pois em vez de ter altos e baixos espirituais de acordo com a mudança
das situações, ele tinha aprendido a viver contente apesar das situações. Ele não era uma
vítima das circunstâncias, mas um vitorioso sobre elas.
3. Confiança inabalável em Cristo (4.13)
Paulo está preso, na sala de espera do martírio, com um pé na sepultura, caminhando
para uma condenação inexorável, mas longe de ser um caniço agitado pelo vento, ergue-
se como uma rocha que mesmo fustigada pelo vendaval da adversidade, permanece
firme e imperturbável. “Tudo posso naquele que me fortalece” (4.13). H. C. Moule está
certo quando diz que a expressão “eu tenho forças para fazer todas as coisas”,
obviamente, não significa todas as coisas no sentido pleno; Paulo não se tornara
onipotente. Paulo não pode tudo, ele pode todas as coisas dentro da vontade de Deus.
Ele pode todas as coisas em Cristo e não à parte de Cristo.
J. A. Motyer diz que o versículo 13 refere-se a dois tipos de poder. De um lado há o
poder que Paulo experimenta nas circunstâncias adversas da vida. Este é o poder da
vitória sobre das demandas de cada dia. Mas, este poder ergue-se de outra fonte, não
inerente em Paulo, mas derivado de um outro alguém. Paulo tem este poder diário para
enfrentar as necessidades diárias porque Jesus infundiu nele seu poder (dynamis). Paulo
somente está habilitado a enfrentar todas as circunstâncias porque Jesus é quem o
fortalece.
A razão da fortaleza do apóstolo Paulo não é sua idade, sua força, seu conhecimento,
sua influência ou seus ricos dons e talentos, mas Cristo. Ele tudo pode porque o Todo-
poderoso Filho de Deus é quem o fortalece. Ele é como uma máquina ligada na fonte de
energia, a força do seu trabalho vem não dele mesmo, mas do poder que vem de Cristo.
4. Maior interesse no bem espiritual dos crentes do que no dinheiro deles (4.17)
A maior alegria de Paulo não foi receber o donativo enviado pela igreja, mas saber que
os dividendos espirituais da igreja aumentaram por conta da sua generosidade. Paulo
manteve a tônica desta carta: os interesses do outro vêm antes dos interesses do eu.
F. F. Bruce corretamente afirma que o apóstolo enfatiza que sente gratidão não apenas
porque eles lhe enviaram uma oferta, mas, também, porque esse envio serviu de sinal da
graça celestial na vida deles. Usando uma figura de linguagem, seria um depósito que
efetuaram no banco celeste, que se multiplicaria a juros compostos, para benefício deles
mesmos. O objetivo dos filipenses fora que sua generosidade tivesse Paulo como alvo, e
isso, de fato, aconteceu; todavia, no âmbito espiritual, o lucro permanente pertence aos
filipenses.
Ralph Martin, na mesma linha de raciocínio, diz que este versículo está cheio de termos
comerciais. “… procure o donativo” talvez seja um termo técnico para a exigência de
pagamento de juros. Já a palavra “fruto” é lucro ou juros. A expressão grega pleonazein
“que aumente” é um termo bancário regular para crescimento financeiro; “vosso
crédito” significa conta. Assim, a sentença toda é um jogo de palavras que procura
exprimir a esperança de Paulo, num jargão comercial: “aguardo os juros que serão
creditados em vossa conta”, de tal forma que Paulo, no último dia, estará satisfeito com
seus investimentos em Filipos.
Quando nós ofertamos, nós beneficiamos a nós mesmos na mesma medida em que
socorremos os necessitados (2Co 9.10-15). Quem dá ao pobre, a Deus empresta. Quem
semeia com abundância, com abundância também ceifará (2Co 9.7). O texto bíblico de
Hebreus 6.10 diz: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e
do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos
santos”. O doador enriquece as duas pessoas: ao que recebe e a si próprio. Nessa mesma
trilha de pensamento William Hendriksen diz que o donativo era realmente um
investimento que entrava como crédito na conta dos filipenses, um investimento que
lhes acresce paulatinamente ricos dividendos. A Palavra de Deus é enfática em afirmar
que um donativo dado de modo correto, sempre enriquece o doador. “A alma generosa
prosperará” (Pv 11.25). “Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta” (Pv 19.17).
“Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20.35).
Hoje, muitos obreiros, pastores e missionários estão atrás do dinheiro do povo e não
interessados na alma do povo (2Co 12.14-18). São obreiros fraudulentos e gananciosos
que usam toda sorte de esperteza para explorar o povo em vez de apascentar o povo.
São pastores de si mesmos e não do rebanho de Deus. São exploradores das ovelhas e
não pastores das ovelhas. São mercenários e não missionários.
5. Recebe os donativos da igreja com reverência cúltica (4.18)
Agora, o apóstolo Paulo deixa de lado a linguagem da contabilidade e apela para as
expressões do culto. Paulo recebe o donativo da igreja com tal reverência que ele vê
nessas ofertas da igreja um sacrifício agradável e suave a Deus. Ele entende que antes
daqueles irmãos filipenses terem lhe enviado esse sustento a Roma, essas ofertas
subiram como aroma suave aos céus, antes deles serem dadas a ele, foram consagradas a
Deus. A expressão “aceitável e aprazível a Deus” são termos cúlticos, associados ao
sistema sacrificial veterotestamentário.
Werner de Boor neste mesmo raciocínio diz que Paulo está profundamente imbuído de
que o donativo que o “preenche” na realidade foi feito para Deus. Afinal, um
“sacrifício” nunca é ofertado a pessoas, mas somente a Deus.
Warren Wiersbe, comentando sobre o significado espiritual da oferta enviada pela igreja
de Filipos, diz que Paulo a compara com três coisas: Primeiro, Paulo a compara com
uma árvore brotando (4.10). O termo traduzido “renovar” refere-se a uma flor se
abrindo ou uma árvore brotando ou florescendo. Muitas vezes, passamos por invernos
espirituais, mas quando chega a primavera, as bênçãos e a vida se renovam. Segundo,
Paulo a compara com um investimento (4.14-17). Esse investimento era muito lucrativo
para a igreja. A igreja associou-se com Paulo e nesse acordo, a igreja deu riquezas
materiais a Paulo e recebeu riquezas espirituais do Senhor. É o Senhor quem cuida da
contabilidade e jamais sonegará dividendos espirituais. Terceiro, Paulo a compara com
um sacrifício (4.18). É um sacrifício espiritual colocado no altar para a glória de Deus.
6. Retribui o socorro financeiro da igreja em fervorosa intercessão (4.19)
Um missionário não é apenas alguém que prega, mas, sobretudo, alguém que ora. Paulo
sabe que a igreja lhe enviou uma oferta da sua pobreza, mas Deus recompensará à igreja
da sua riqueza em glória. A igreja supriu a necessidade financeira e emocional do
apóstolo, mas Deus há de suprir todas as necessidades da igreja.
É importante enfatizar que Deus supre não nossa ganância nem mesmo nossos desejos,
mas nossas necessidades. James Hunter, em seu livro O Monge e o Executivo, diz que
precisamos distinguir desejos de necessidades. A provisão divina contempla nossas
necessidades e não nossos desejos. Bruce Barton escreve: Nós precisamos lembrar a
diferença entre desejos e necessidades. A maioria das pessoas deseja sentir-se bem e
evitar a todo o custo o desconforto e a dor. Nós poderemos não conseguir tudo o que
desejamos, mas Deus irá prover para nós tudo aquilo de que necessitamos. Confiando
em Cristo, nossas atitudes e desejos podem mudar. E, em vez de desejarmos todas as
coisas, aceitaremos sua provisão e poder para viver para ele.
Hudson Taylor costumava dizer: “Quando a obra de Deus é realizada à maneira de Deus
e para a glória de Deus, nunca falta a provisão de Deus”.
7. Reconhece que o fim último da vida é a glória de Deus (4.20)
Para Paulo, a doutrina nunca é uma matéria árida. Sempre que ocupa sua mente,
também enche seu coração de louvor. Paulo é um homem que faz da vida uma
doxologia constante. Sua teologia governa suas atitudes. Ele prega o que vive e vive o
que prega. Sua vida está centrada em Deus e não nele mesmo. Ele não busca glória
pessoal. Ele não constrói monumentos a si mesmo. Ele não busca as luzes da ribalta
nem procura os holofotes do sucesso. Ele vive com os pés na terra, mas com o coração
no céu. Ele fecha as cortinas da sua vida proclamando a verdade central das Escrituras:
a glória de Deus é o grande vetor da vida humana.
CONCLUSÃO
Paulo conclui esta carta magna da alegria, este monumento formoso da providência
divina, como um pastor que se lembra de cada uma das suas ovelhas (4.21) e invoca
sobre elas a graça do Senhor Jesus (4.23). E também, como um evangelista que dá
relatórios dos milagres da pregação do evangelho, cujos frutos são vistos até mesmo na
casa de César (4.22). Essa expressão não se refere necessariamente aos familiares ou
parentes do imperador, mas a todas as pessoas que estavam a seu serviço nos
departamentos domésticos e administrativos da casa imperial. Esses membros da casa
de César eram pessoas convertidas, possivelmente, por intermédio do apóstolo durante
sua prisão em Roma. Assim, Paulo transformou sua prisão num campo missionário e os
frutos apareceram mesmo entre algemas. Esse fato nos ensina que não é o lugar que faz
a pessoa, mas é a pessoa que faz o lugar. Ensina-nos, outrossim, que no Reino de Deus
não existe lata de lixo, ou seja, não há vida irrecuperáveis. Finalmente, nos ensinam que
as oportunidades estão ao nosso redor.
William Hendriksen, coloca esta bendita verdade assim: Ainda mais importante é o fato
de que o Cristianismo havia penetrado até mesmo nos círculos desses servidores
palacianos. Sua posição no ambiente completamente pagão, onde muitos adoravam o
imperador como se fosse deus, não os impedia de permanecer fiéis a seu único Senhor e
Salvador, de anunciar as boas-novas a outros e de reanimar a igreja de Filipos com suas
saudações. A eternidade revelará quão grandes bênçãos devem ter emanado das vidas
daqueles que se dedicaram a Cristo no seio de ambientes tão mundanos!