Direito Fiscal - Aula N.º 3
Direito Fiscal - Aula N.º 3
Direito Fiscal - Aula N.º 3
“In 1790, the nation which had fought a revolution against taxation without representation
discovered that some of its citizens weren’t much happier about
taxation with representation.”
" Em 1790, a nação que tinha feito uma revolução contra a tributação sem representação
descobriu que alguns de seus cidadãos não ficaram muito mais felizes com a tributação com
representação. "
Lyndon B. Johnson
36º Presidente dos EUA
Reportando-nos à acepção mais comum de fontes do Direito, que qualifica estas como os
modos de formação e revelação das normas jurídicas, vamos analisar quais os actos que
produzem normas jurídicas fiscais.
FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2019/2020 Maria Odete Oliveira
As origens e evolução do princípio da legalidade
Trata-se de um princípio que não sendo exclusivo do Direito Fiscal assume neste, e no
Direito Penal, um relevância especial, um sentido rigoroso e exigente.
A reserva de lei formal exige que a lei provenha de um órgão com competência legislativa
apropriada.
Em Direito Fiscal, a reserva de lei formal significa que a criação dos impostos e a
regulamentação dos seus aspectos essenciais compete à Assembleia da República.
Nos termos do artigo 103º n.º 2 da CRP, os impostos são criados por lei que determina a
incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes, lei esta que
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Em Portugal, a institucionalização da autorização para a cobrança de impostos, aparece com a instauração das
Cortes de Coimbra, em 1261, e manifesta-se também com a dissolução das cortes por D. Pedro II em 1674,
podendo dizer-se, entretanto, que a retoma da tributação autorizada só se dá após a Revolução do Porto em
1820, com a Constituição liberal de 1822 (CASALTA NABAIS, 1998, p. 322).
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deve ser entendida como lei emanada da Assembleia da República (cuja competência se
encontra expressa no artigo 165º n.º 1 alínea i) da CRP).
Artigo 165.º
Reserva relativa de competência legislativa
1. É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes
matérias, salvo autorização ao Governo:
......
i) Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e demais contribuições
financeiras a favor das entidades públicas;
....
Fala-se a propósito de reserva relativa de competência, significando que por ela estão
abrangidos apenas os elementos que determinam o nascimento da obrigação de imposto
(pressuposto), o seu quantitativo e a sua imputação a um determinado sujeito (isenções,
base tributável, taxa).
Para além disso, e como veremos mais tarde, também as infracções e sanções tributárias
estão sujeitas à reserva de lei, mas aqui já no âmbito do Direito Penal mais que do Direito
Fiscal.
Entendendo-se ainda que a autorização caducará com a demissão do Governo a que tiver
sido concedida ou com a dissolução da Assembleia da República (artigo 165º n.º 4).
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Assembleia da República, mediante autorização desta, devendo os mesmos invocar
expressamente a lei de autorização legislativa ao abrigo da qual são aprovados (artigo
165º n.º 3).
A este propósito há ainda que referir o artigo 227º que atribui às Regiões Autónomas a
faculdade de exercer poder tributário próprio, nos termos da lei, (competência da
Assembleia legislativa regional nos termos do artigo 232º n.º 1), bem como adaptar o
sistema fiscal nacional às especificidades regionais, nos termos de lei-quadro da
Assembleia da República (alínea i))
. Tal lei tem de provir do órgão legislativo por excelência, ou seja da Assembleia
da República (ou do Governo, mas sempre com prévia autorização legislativa
desta), revestindo pois a natureza de lei em sentido formal (princípio da reserva
de lei formal), sendo certo ainda que, nos termos constitucionais apontados, se
trata de uma reserva absoluta de lei, já que a lei formal deve conter não apenas o
fundamento da conduta da administração mas também os critérios de decisão dos
casos concretos, não dando margem a qualquer discricionariedade ou
disponibilidade de tipo tributário pela administração
. Fala-se em consequência, e como corolário do princípio da legalidade assim entendido, em tipicidade fechada ou taxativa.
fiscal .
Fala-se em consequência, e como corolário do princípio da legalidade assim
entendido, em tipicidade fechada ou taxativa.
3. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos da
Constituição, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança se não façam
nos termos da lei,
tem-se discutido se o princípio da legalidade enquanto reserva de lei formal se aplica não
apenas aos elementos que qualificamos como elementos essenciais dos impostos
(incidência, taxas, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes) mas também à
liquidação e cobrança dos impostos, inquestionável que é a aplicação do princípio na
vertente da preeminência de lei (norma jurídica preexistente).
. Fala-se em consequência, e como corolário do princípio da legalidade assim entendido, em tipicidade fechada ou taxativa.
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facto tributário, nem o quantum a pagar (incidência, taxas ou benefícios fiscais), nem tão
pouco as garantias dos contribuintes, então não será exigível a reserva de lei formal,
devendo exigir-se apenas que a conduta seja legitimada por lei anterior, sem que essa lei
(norma) tenha de provir da Assembleia da República.
E é neste contexto que deve ser interpretado o teor do artigo 8º da LGT quanto ao
âmbito de aplicação do princípio da legalidade:
Artigo 8º
Princípio da legalidade tributária
Aliás, em nossa opinião, o n.º 1 deste artigo 8º parece-nos desnecessário por fixar uma
reserva de lei em elementos que já estavam cobertos por ela no texto constitucional. O
n.º 2 deve ser interpretado, quando conjugado com o mesmo texto constitucional, como
exigindo tão só lei prévia (preeminência de lei).
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língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução,
situação económica ou condição social).
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Na vertente relativa à forma de tributar, o princípio assume-se muito conexo com o que
se costuma designar por princípio da capacidade económica ou capacidade contributiva,
ao qual já nos referimos aquando da delimitação do conceito de imposto.
A sujeição ao imposto é geral, universal, mas o quantum a exigir a cada um dos sujeitos
tem de respeitar o princípio da capacidade económica, que é individualmente aferida em
cada tributo e para cada sujeito. Dito de outra forma, entre capacidade económica e
exigência concreta de obrigação tributária tem de haver um vínculo, tendo esta de se
apresentar necessariamente como consequência daquela.
Na sequência, falar-se-á também em progressividade como exigência da capacidade
económica. Ela aparece com dignidade constitucional no tocante à tributação do
rendimento das pessoas singulares – IRS, porque aí, tratando-se de tributar o
rendimento global e pessoal, a progressividade pode facilmente aplicar-se. Diferente é a
situação nos impostos não pessoais nem gerais, os quais, não permitindo o conhecimento
do rendimento, património ou consumo globais, tornam a progressividade discutível.
O princípio da anualidade
A Magna Carta, ao limitar os poderes do Rei João Sem Terra, já previa nos seus artigos
12.º e 14.º a autorização para imposições pecuniárias. A título meramente elucidativo,
assim se dizia naqueles artigos:
“ A não ser para resgate da nossa pessoa, para armar cavaleiro nosso filho mais velho e
para celebrar, mas uma única vez, o casamento da nossa filha mais velha; e esses tributos não
excederão limites razoáveis.” (artigo 12.º).
“E, quando o conselho geral do reino tiver de reunir para se ocupar do lançamento dos
impostos, exceto nos três casos indicados, e do lançamento de taxas, convocaremos por carta,
individualmente, os arcebispos, abades, condes e os principais barões do reino; além disso,
convocaremos para dia e lugar determinados, com a antecedência, pelo menos, de quarenta dias, por
meio dos nossos xerifes e bailios, todas as outras pessoas que nos têm por suserano; e em todas as
cartas de convocatória exporemos a causa da convocação; e proceder-se-á à deliberação do dia
designado em conformidade com o conselho de todos os convocados.” “Não lançaremos taxas ou
tributos sem o consentimento do conselho geral do reino (commue concilium regni),
A Magna Carta foi alterada muitas vezes (trinta e sete), mas as cláusulas exigindo a
autorização para imposições pecuniárias persistiram até ao século XVII, quando foram
previstas na compilação do Petition of Rights, de 07 de junho de 1628, nos seguintes
termos:
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“I- Os lordes espirituais e temporais e os comuns, reunidos em parlamento, humildemente
lembram ao rei, nosso soberano e senhor, que uma lei feita ao reinado do rei Eduardo I,
vulgarmente chamada Statutum de tallagio non concedendo, declarou e estabeleceu que nenhuma
derrama ou tributo (tallage or a id) seria lançada ou cobrada neste reino pelo rei ou seus herdeiros
sem o consentimento dos arcebispos, bispos, condes, barões, cavaleiros, burgueses e outros
homens livres do povo deste reino; que, por autoridade do Parlamento, reunido no vigésimo quinto
ano do reinado do rei Eduardo III, foi decretado e estabelecido que, daí em diante, ninguém podia
ser compelido a fazer nenhum empréstimo ao rei contra a sua vontade, porque tal empréstimo
ofenderia a razão e as franquias do país; que outras leis do reino vieram preceituar que ninguém
podia ser sujeito ao tributo ou imposto chamado benevolence ou a qualquer outro tributo
semelhante; que os nossos súbditos herdaram das leis atrás mencionadas e de outras boas leis e
provisões (statutes) deste reino a liberdade de não serem obrigados a contribuir para qualquer
taxa, derrama, tributo ou qualquer outro imposto que não tenha sido autorizado por todos, através
do Parlamento. Nota-se que os auxílios financeiros, que não destinados aos fins constantes no
artigo 12.º do contrato feudal, necessitavam da prévia autorização do Concilium (órgão feudal),
cujos membros seriam convocados mediante carta com antecedência mínima de 40 dias da
realização da sessão.”
Estabeleceu-se, então, o princípio de que a cobrança dos impostos deve ser autorizada
anualmente pelo Parlamento daí resultando a actual necessidade de votação anual do
Orçamento.
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Contudo, com a alteração do papel do Estado na economia e na sociedade em geral, que
analisamos mais detalhadamente na disciplina de Finanças Públicas, o conteúdo do
princípio veio a alterar-se, continuando a abranger a arrecadação das receitas
necessárias à satisfação das necessidades financeiras, mas devendo também adequar-se
a outros objectivos prosseguidos pelo Estado. A eficiência do sistema fiscal abandonou
pois os limites da simples neutralidade falando-se agora numa eficiência funcional.
Esta nova visão encontra-se, desde logo expressa na 2ª parte do n.º 1 do artigo 103º da
CRP – O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras
entidades públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza.
Também a LGT no seu art.º 7º refere a propósito:
Para além da Constituição da República, que como se disse constitui a mais importante
fonte interna do Direito Fiscal, dada a generalidade e supremacia das suas normas, é
importância não esquecer a relevância das fontes comunitárias nesta matéria.
Independentemente da discussão sobre a hierarquia dessas fontes em relação à
Constituição Portuguesa, é o próprio artigo 8º desta que estabelece a sua força jurídica
nos seguintes termos:
Artigo 8.º
(Direito internacional)
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2. As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas
vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente o
Estado Português.
3. As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal
seja parte vigoram directamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos
respectivos tratados constitutivos.
Trata-se, convém não esquecer, de normas que vinculam os Estados Membros não
podendo ser derrogadas por normas internas.
3. A Lei
A Lei é, como se disse, a fonte por excelência do Direito Tributário. Tal resulta do
princípio da legalidade como reserva absoluta de lei formal, já abordado. É indispensável
quanto à criação de impostos e definição dos seus elementos essenciais (incidência, taxa,
isenções e garantias dos contribuintes), mas através dela pode a Assembleia da República
disciplinar todos os elementos dos tributos, incluindo os não essenciais, se entender que
tal se revela útil ou conveniente.
Interesse particular reveste a Lei do Orçamento de Estado como fonte de Direito Fiscal,
o mesmo acontecendo com as Leis de autorização legislativa. Nestas, e muitas vezes
fruto de maior celeridade e flexibilidade na actividade legislativa, o poder legislativo,
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sem abdicar da sua função e da sua competência, delega as suas funções no Governo mas
com sujeição a requisitos precisos que significam, a final, que continua na Assembleia da
República a verdadeira competência na matéria.
4. O Decreto-Lei
5. Os tratados internacionais
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Há que distinguir, dentro das normas internacionais, as de direito internacional geral ou
comum e as de direito convencional, estas apresentando bastante relevo em sede de
Direito Fiscal.
Os tratados internacionais são acordos entre Estados que, na vertente que nos ocupa
estão essencialmente voltados para a delimitação de poderes tributários com o fim de
evitar a dupla tributação e permitir uma certa cooperação entre entidades estatais, além
de visarem também o estabelecimento de procedimentos de decisão de litígios.
Acompanham, como não poderia deixar de ser, a crescente internacionalização das
economias, a livre circulação das pessoas, bens e capitais.
Este carácter, quase que indispensável, dos tratados conduziu, como à frente
desenvolveremos, algumas organizações internacionais à elaboração de Convenções–
Modelo para eliminar ou minorar a dupla tributação, sendo o exemplo mais conhecido e
com maior alcance prático nesta sede, a Convenção Modelo da OCDE em matéria de
tributação do rendimento.
Artigo 8.º
(Direito internacional)
1. As normas e os princípios de direito internacional geral ou comum fazem parte integrante do
direito português.
2. As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas
vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente o
Estado Português.
3. As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal
seja parte vigoram directamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos
respectivos tratados constitutivos.
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Note-se que no primeiro caso a aprovação tem de ser feita pela Assembleia da República,
não podendo haver autorização legislativa do Governo. Trata-se pois de competência
absoluta total. Assim determinam o artigo 161º alínea i) da CRP (competência política e
legislativa da AR), sendo certo que o artigo 111º n.º 2 também da CRP estabelece que
nenhum órgão de soberania pode delegar os seus poderes noutros órgãos, a não ser nos
casos e nos termos expressamente previstos na Constituição e na lei, ao mesmo tempo
que a possibilidade da concessão de autorizações legislativas pela AR ao Governo apenas
se encontra expressamente prevista para as competências enumeradas no artigo 165º e
não no artigo 161º.
6. O Regulamento
Podem apresentar-se como meros regulamentos de execução, não inovadores mas apenas
complementares da lei que visam executar, assumindo-se então como fonte derivada ou
mediata de direito fiscal.
Se contrariamente, contiverem disposições inovadoras, só o podem fazer em matérias
não reservadas à lei, não sujeitas ao princípio da legalidade como reserva absoluta de lei
formal.
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portarias e despachos normativos, emanados dum membro do Governo, ou ainda
resoluções normativas do Conselho de Ministros.
Em todos os casos, apenas poderão ser considerados fonte de direito fiscal, como se
disse, quando não sejam inovadores em matérias de competência reservada à lei.
Considera-se também haver erro imputável aos serviços nos casos em que, apesar da
liquidação ser efectuada com base na declaração do contribuinte, este ter seguido, no seu
preenchimento, as orientações genéricas da administração tributária, devidamente
publicadas.
Artigo 59.º
Princípio da colaboração
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c) ...............;
d) .....................;
e) .................;
f) O esclarecimento regular e atempado das fundadas dúvidas sobre a interpretação e
aplicação das normas tributárias;
g) .................;
h) ..........;
i) ......................;
j) .......................;
l) ..................
4 - .....................
5 - A publicação dos elementos referidos nas alíneas e), f) e i) do n.º 2 far-se-á no jornal oficial ou
nos termos a definir por despacho do Ministro das Finanças.
6 - A administração tributária publica integralmente, até 31 de Março de cada ano, os códigos
tributários devidamente actualizados.
Artigo 55.º
Orientações genéricas
Artigo 56.º
Base de dados
7 – Doutrina e Jurisprudência
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As interpretações doutrinárias dos jurisconsultos e especialistas de Direito Fiscal
através de lições, comentários, pareceres, e escritos em geral, não têm valor como fonte
de Direito Fiscal.
Também as sentenças dos tribunais (jurisprudência) não são fonte de Direito Fiscal face
ao princípio da legalidade. Todavia e, como opina Casalta Nabais, as decisões do Tribunal
Constitucional que assumam a natureza de declarações de inconstitucionalidade e de
ilegalidade, bem como os acórdãos de uniformização de jurisprudência fiscal emitidos
pelo Supremo Tribunal Administrativo, devem ser consideradas fontes de Direito Fiscal.
O mesmo se passa com os acórdãos do Tribunal de Justica da União Europeia em algumas
situações.
8 - Costume
Em sede de Direito Fiscal o costume não se pode considerar como fonte de Direito
Fiscal, nem nas matérias sobre as quais existe reserva de lei nem em quaisquer outras.
Poder-se-á tão só dizer que certas práticas administrativas são fundamentadas em
procedimentos reiterados da Administração Fiscal, sem que isso justifique o
reconhecimento do costume como fonte de direito.
Para além das normas que definem os poderes tributários do Estado, ou seja o poder de
tributar e os limites dentro dos quais tal poder se deve situar, que se designam por
normas de soberania fiscal, e que constam da própria CRP (artigo 103º, artigo 165º,
conforme analisamos), ou de leis ordinárias, é habitual dentro do articulado dos códigos
dos vários impostos, ou noutros diplomas de conteúdo fiscal, distinguir diferentes tipos
de normas:
Normas de incidência;
Normas de lançamento, liquidação, fiscalização e cobrança;
Normas sancionatórias;
Normas de contencioso;
Normas relativas a garantias dos contribuintes.
Normas de incidência
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que estão sujeitos a imposto, qual a matéria colectável, e a forma como esta deve ser
apurada.
Embora não tenha na LGT nem no CPPT tradução expressa, é habitual designar-se por
lançamento o conjunto de actos praticados pela administração tributária para a
determinação em concreto dos elementos da relação jurídica fiscal. Distingue-se da
incidência porque esta é desenvolvida em termos abstractos (definição legal dos
pressupostos), enquanto que do lançamento resulta a fixação concreta, individual, do
sujeito passivo, da respectiva matéria colectável. A aplicação da taxa à matéria
colectável (liquidação) fornecerá o montante do imposto a pagar (colecta). O pagamento
será efectuado nos termos definidos nas normas de cobrança.
Embora a liquidação seja habitualmente da competência dos serviços fiscais, casos há em
que esta tarefa cabe nos termos da lei ao sujeito passivo – auto lançamento ou
autoliquidação. Assim parece dever concluir-se do teor do artigo 54º alínea b) da LGT
conjugado com os artigos 89.º alínea a) do CIRC e 27.º do CIVA.
Normas sancionatórias
Normas de contencioso
São normas que disciplinam os processos judiciais que opõem a administração fiscal e os
contribuintes. Abrangem o processo judicial tributário (onde se incluem o processo de
impugnação; o processo de acção cautelar; as acções para o reconhecimento de um direito
ou interesse legítimo em matéria tributária; os meios processuais acessórios e as
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intimações para cumprimento de deveres impostos à administração tributária), a
execução fiscal e o recurso dos actos jurisdicionais.
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