Decisoes Familiares
Decisoes Familiares
Decisoes Familiares
DECISÕES FAMILIARES
FAZER FAMÍLIA
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
- Somos a geração perdida, porque nossos pais nos mandaram e hoje nossos filhos nos mandam.
Ainda que a frase soe engraçada, tem entretanto muito conteúdo. Efetivamente, há hoje um bom
número de pais que têm a impressão ou o sentimento de ser “mandados” por seus filhos. Isto é, se dão conta
de que seus filhos fazem algumas coisas que eles, seus pais, desaprovam, mas estes não têm nem a energia
nem os argumentos suficientes para oporem-se. A perplexidade inicial –muitas vezes não podem apelar a uma
experiência anterior, e outras, a pena que lhes causa o fato lhes bloqueia- pode originar uma atitude passiva,
de resignação, impotência ou de sincera claudicação.
Este tipo de atitudes e condutas se encontram com certa frequência quando estão em jogo algumas
questões relacionadas com a conduta sexual. Por conduta sexual entendemos temas tais como: o uso dos
anticoncepcionais, as relações pré ou extra-matrimonais, o divórcio e o aborto. Para os batizados se
acrescenta o matrimônio civil.
Com certa frequência nos inteiramos de histórias deste tipo, em nossa própria família, nas famílias de
nossos amigos. A saciedade aparecem até nos meios de comunicação social, e originam temas de
conversação a mais de uma tertúlia. Há que se lamentar de que nossos ócios estão absorvidos pela vida dos
famosos, que são os protagonistas mais assíduos das revistas chamadas “do coração”.
Que respostas dão as pessoas que vivem a nosso redor quando lhes apresenta um êxito como os
descritos mais acima? Sem pretender esgotar todo o leque de possibilidades, se nos ocorre que podemos fazer
uma breve classificação de respostas, a partir daqueles que as tomam, em especial os pais. Faremos pois uma
breve tipologia de pais.
Em um extremo, estão os que se deixam levar pela corrente. Esta corrente vai por linha de proteger
aos sujeitos ou agentes do fato. Por apresentar um caso, quando uma filha solteira, fica grávida e quer casar-
se, se lhe proporcionam os meios materiais, o enxoval, a casa –se o pais podem-, a festa e a viagem de lua-
de-mel. Não há diferença de trato com os filhos que se casam com a devidas disposições, isto é, tendo vivido a
castidade pré-matrimonial. Se se trata de um matrimônio civil, acontece o mesmo: cerimônia social, festa,
presentes, etc.
No outro extremo estão os pais que decepcionam se acontece em sua casa algo assim, e trabalham
em consequência. Isto é, demonstram, com suas palavras e com seus fatos, que o fez o filho ou a filha em
questão esteve mal. Não há festa, nem presentes, nem cumprimentos. Ao contrário, a família fica afetada, e
procura que os causadores se arrependam do acontecido.
No passado, a maioria das famílias se comportavam desta forma. Havia inclusive casos dramáticos,
por exemplo, quando jogavam ao “indigno” da casa. Certamente esta conduta foi recusada, ao menos na
opinião coletiva. Apenas ficam alguns restos entre certos grupos minoritários.
Hoje é mais frequente a aceitação, a acolhida e a proteção. Se o fato lhes supõe aos pais, isto lhes
supõe um desgosto aos pais, estes “se o tragam”, e ante seus filhos se esforçam por aparentar alegria e
satisfação. Com o qual termina cumprindo-se a afirmação de meu professor e amigo:
Quando eu era menina, tanto meus irmãos como eu, ou os amigos de nossa idade, certamente
desobedecíamos nossos pais. A desobediência, em coisas pequenas então, por razão dos temas próprios da
idade, era frequente, como hoje. Mas havia uma diferença.
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INTRODUÇÃO
Atualmente os filhos podem discutir o direito de seus pais mandar. Nem sempre, certamente, mas sim
em maior número e com mais frequência que antes. O questionam de palavra ou de fato, com réplicas e
protestos mais ou menos abertos.
- Por que tenho que obedecer a meus pais pelo fato de que me trouxeram ao mundo?
Por outro lado, está a opinião pública, que fez sua a idéia de educar por via do desfrute.
Quando se funciona procurando desfrutar a todo custo, o que se produz em pouco tempo é uma
redução da capacidade para suportar as frustrações ou as contrariedades. E assim ocorre que, longe de
diminuir os problemas, estes aumentam.
2. Averiguar que respostas são as corretas nos tempos atuais, para que pais e educadores possam
qualificar-se de tais.
Para consentir, não é necessário ser nem pai nem mãe, nem educador. O que define a pais e
educadores é precisamente o desejo de bem do qual está a sua custódia. E já se sabe, alcançá-lo custa muito.
Para decair, ou deixar-se levar pela lei do mínimo esforço, não é necessário ajuda.
De onde encontraremos o modelo ou os modelos de respostas válidas, isto é, educativas, para os pais
e educadores nas situações atuais, e no tema que escolhemos para nosso estudo?
Não é fácil cumprir a resposta nesta questão. Por um lado, os educandos são seres humanos, isto é,
são livres. Pode ser que lhes dê a receita aos pais (nos dirigiremos diante deles, ainda que não excluímos aos
professores nem aos amigos), eles a aplicam, mas quem garante que seus filhos a seguem?
- “Para a cama!”, lhe ordena a mãe a Pedrinho de dois anos. E Pedrinho vai para a cama.
- “Está na hora de dormir!”, lhe pediu sua mãe. E Pedrinho, se soubesse falar, responderia:
Não valem as receitas, ainda que mais de uma vez é o que pedem os pais em situações exatas:
- O que faço, lhe dou permissão ou não, lhe castigo ou não, lhe compro a moto ou não ...?
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INTRODUÇÃO
Não valem as respostas, mas sim as reflexões sobre a base de alguns critérios corretos. Com o que,
se as coisas saem mal, ou saem diferentes do que se pretendia ao tomar a decisão de fazer ou deixar de fazer
tal ou qual coisa, pelo menos fica a tranquilidade de ter trabalhado retamente, com retidão de intenção:
Muitas vezes a retidão de intenção acompanha uma decisão incômoda, custosa. Por alguma razão,
para ir ao Céu, que é o supremo bem, há que passar pela porta estreita.
Passamos a vida tomando decisões. Umas se dirigem à ação -se continuam em umas medidas
práticas-, e outras ficam na cabeça, como esclarecimento de uma situação que ante se via confusa, e que está
esperando o melhor momento de atuar. A decisão está pois no âmbito do pensamento e no âmbito da conduta
exterior. Ao longo do livro teremos oportunidade de analisar amplos planos.
Resolver problemas é próprio dos seres humanos. Ninguém mais, nem as pedras, nem as flores, nem
os animais, resolvem problemas. A explicação é fácil: o homem, inteligente e livre, foi criado por Deus para
“acabar” a obrada da criação, precisamente resolvendo problemas. Isto é, decidindo. Duas notas definem a
decisão:
Em relação com os motivos e a finalidade que se pretende. As coisas se fazem por e para algo.
Em relação com os destinatários, que pode ser o mesmo sujeito que decide, outras pessoas ou
coisas. Por exemplo, que saia beneficiado, ou meus filhos, amigos, ou parentes ou inclusive que
se escreva um livro.
Ambas notas nos ajudam a determinar a qualidade moral das decisões humanas.
Serão boas ou melhores as decisões que apontar a um bom fim, e aumenta a bondade das mesmas se
beneficia a mais pessoas ou coisas.
As decisões se tomam em uma realidade concreta, não no ar nem nos sonhos. Esta realidade terá de
ser tida em conta, para adaptar-se a ela, se é cooperadora da bondade da decisão, ou para modificá-la se a
contradiz. A realidade ou entorno das decisões atuam a modo de meios com os quais há que contar. De
maneira que uma decisão será boa se conjuga um bom fim com meios também bons.
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INTRODUÇÃO
Como se sabe se um meio é bom ou mau? Há muitos modos de descobrir a validade dos meios. Nós
escolhemos um:
Das virtudes humanas que podem ajudar a qualificar de boa ou má determinadas decisões,
escolhemos as chamadas virtudes cardinais. A razão é óbvia: são as que estão mais diretamente relacionadas
com a resposta humana aos problemas. Isto é, são as que reclamam mais a intervenção pessoal dos sujeitos.
Como se o homem, com sua boa conduta, “provocasse” a ajuda de Deus para continuar trabalhando bem.
Certamente, não há virtude unicamente humana. Somos os suficientemente frágeis como dar-nos
conta de que, por nós mesmos, não poderíamos chegar muito longe em nossas boas intenções. Pode
começar, se o fazemos, mas perseverar ... Necessitamos da ajuda de alguém. Pedir ajuda é de sábios.
COMEÇAR É DE MUITOS,
PERSEVERAR, DE SÁBIOS
Objetivos do livro
Tida em conta da perplexidade de muitas pessoas ante alguns problemas relacionados com a conduta
sexual, problemas que demandam algumas respostas corretas e de acordo com a normal natural e cristã, se
trata de:
1. Examinar algumas situações reais, ou casos, que nos permitam refletir sobre o acerto ou o erro de
algumas decisões tomadas no passado pelos educadores.
2. Perfilar qual ou quais das decisões possíveis em um momento dado são as que podem ser
consideradas como boas. E tudo isso, argumentado.
Estrutura do livro
É conveniente explicar aqui o início do livro, quais são as linhas de fundo que o constróem, mas
também como essas linhas foram ordenaram, de tal modo que o leitor não lhe chama a atenção encontrar-se
com idéias ou assunto que foram de algum modo mencionados anteriormente.
as decisões
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INTRODUÇÃO
As decisões se “medem” ou valorizam em termos de virtude. Isto é, se contempla conforme o fim que
se persegue com ela, conforme os procedimentos que se seguem.
Os educadores são em nosso caso os pais principalmente, mas também qualquer pessoa enfrentada a
uma decisão, da qual possa derivar-se um bem para alguém. No livro mencionaremos a amigos, irmãos e pais.
Excluímos, por razão de brevidade, aos professores. Suas situação específica merece, a nosso entendimento,
um tratamento mais amplo. Entretanto, acreditamos que ler estas páginas também pode lhes ajudar.
Por último, o argumento. Dissemos anteriormente que vamos centrar-nos em temas que tocam
diretamente à moralidade relacionada com o sexo. Não pretendemos dar aqui doutrina alguma sobre a moral
sexual, ainda que seja evidente que os problemas os sofram aqueles que querem viver uma moral natural,
inscrita na própria natureza do homem e da mulher, que além disso, foi revelada por Deus no Gênesis, e é
custodiada, defendida e difundida pela Igreja Católica. Os que não têm presente esta perspectiva, pode ser que
não sintam problema algum, ainda que o tenham, porque estão vivendo de costas ao que sua própria natureza
de seres livres e responsáveis está lhes demandando.
Esta questão, que estabelece conflito entre uma moral sexual permanente, por um lado, e uma moral
de situação, por outro, centrado muitas vezes o problema no plano de crenças religiosas. Como se a moral
permanente apenas regesse para católico. Pois bem, ainda que possa referir-se a este estabelecimento, não
se mostra intenção de entrar no debate, muito menos de discutir que razões tem a Igreja para ir contracorrente
nos tempos atuais. Vamos centrar na responsabilidade dos educadores, que está inscrita nas duas
coordenadas anteriormente citadas:
a) a dos fins: trabalhar moralmente bem, isto é, orientar-se ao bem objetivo, o que de seu é bom, nos
agrada ou não;
b) a dos meios: comportar-se conforme uns procedimentos corretos, isto é, que facilitem o
cumprimento dos fins bem escolhidos.
Desenvolvimento do livro
O livro que se oferece aos olhos do leitor neste momento está composto por uma introdução, a qual
acaba com estas linhas, e seis capítulos. Lhe seguem algumas breves orientações pedagógicas.
Os quatro primeiros capítulos vê encabeçados pelas quatro virtudes cardinais, seguindo a ordem que
aparece nos tratados de moral: prudência, justiça, fortaleza e temperança.
Estes quatro capítulos têm um desenvolvimento bastante parecido entre si. Começam por um caso –ou
um episódio de um caso adequado ao tema- cujo comentário vai afluindo parte da doutrina correspondente à
virtude que se vai estudar. Esta doutrina se completa e ordena de modo mais sistemático ao final de cada
capítulo. Pretendemos assim utilizar o método que recebe o nome de indutivo, e que parte da experiência, ou
da realidade selecionada, para extrair ou induzir alguns princípios que depois serão ratificados e justificados
pela teoria.
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INTRODUÇÃO
As vezes se descreverá mais de um caso em cada capítulo. Isto ocorre quando há aspectos da
conduta que apelam a faceta diferente da mesma virtude. Na realidade, este procedimento se seguiu conforme
avançamos no livro e as questões são mais complexas, ou inclusive quando se supõe que os leitores estão o
suficientemente ilustrado como para fazer-se cargo rapidamente de problemas mais complexos.
No capítulo V há uma síntese e um resumo do que foi visto anteriormente. O capítulo VI trata da
autoridade dos pais nos dias atuais. Se inseriu ao final do texto, porque entendemos que pode revisar de
noções vistas anteriormente e porque serve também de síntese ainda que, evidentemente, tenha um conteúdo
próprio.
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A PRUDÊNCIA
CAPÍTULO - I
A PRUDÊNCIA
CASO: Elisa
Elisa atribuía seu humor ao fato de que seus pais não se intrometessem em sua vida. Que não
bisbilhotassem seus assuntos, nem averiguassem sobre seus projetos, suas amizades ou seus costumes.
Mas os pais não podiam permitir. O tom desafiante das palavras de Elisa, suas más respostas, suas
ausências inexplicáveis, lhes faziam desconfiar dela. O pior de tudo eram suas idéias sobre a questão sexual.
Para Elisa não lhe importa que seus parceiros fossem solteiros ou casados, com tal de que lhe agradassem.
Não tinha vergonha em admitir as relações pré-matrimoniais, e dava a impressão de que inclusive tinha alguma
prática no tema.
O clima na casa era tenso, taxante, os pais sofriam muito. Por isso, quando Elisa teve a oportunidade
de um trabalho fora da cidade na qual viva, os pais viram o céu aberto. Não apenas a afastaria das más
companhias, mas talvez a separação fizesse bem para todos. Entretanto antes de deixá-la partir, já que Elisa
era menor de idade, lhe fizeram prometer que não teria relações sexuais com ninguém.
Ver-se independente, com dinheiro, e sem fiscalização familiar, parece que transformou Elisa. Assim
pois, se via muito responsável em seu trabalho, suas companheiras a apreciavam, e ela mesma ficou mais
alegre e comunicativa. Os amigos anteriores foram pouco a pouco desaparecendo de cena. Tudo a fazia
pensar que tinha acabado a disputa ruim.
Ao chegar o verão. Elisa pediu a seus pais permissão para fazer uma viagem ao estrangeiro com duas
amigas, as mesmas que em uma ocasião levou à sua casa. Os pais, felizes por sua filha, e animados pela
conduta que ela adotou nos último tempos, cederam.
Depois de pouco tempo Elisa ter voltado, Bárbara uma amiga da mãe se inteirou: de que não eram
duas meninas as acompanhantes de Elisa na viagem, mas um menino que conheceu em uma festa do bairro.
Foi então quando se estabeleceu a Bárbara um problema. O que fazer?, falar ou calar-se? E se fala,
para quem? Além do mais, porque tinha de intervir?
Está claro que deve tomar uma decisão, ainda que esta seja a de calar-se. Suspender a ação é às
vezes resultado de uma decisão. Como lhe ocorria àquele professor que, quando reprovava a alguém, podia
dizer:
- Não reprovo à pessoa, reprovo o argumento, porque não tenho elementos suficientes para saber
se este aluno pode ser aprovado.
Para decidir, Bárbara deve discernir primeiro que fatores ou elementos garantem sua decisão.
Tentaremos reunir estes elementos no quadro da página seguinte.
Se trata agora de ver qual é o motivo mais importante ou valioso, de tal modo que os demais motivos
se subordinem a ele. Os motivos se referem a dois tipos: os valores, os sentimentos.
Os valores
Como acabamos de ver, os valores são razões “de fundo” que vão mais além da mera situação na qual
alguém se encontra, e que justificam e motivam uma ação uma decisão coerente com eles.
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A PRUDÊNCIA
Entre Bárbara e os pais de Elisa há uma relação de amizade. A amizade supõe, sempre e em qualquer
situação, uma série de valores: a lealdade, por exemplo e, em íntima relação com a lealdade –que é a
coincidência com os valores do outro- a disposição de ajuda. Bárbara, em consequência, deveria reger-se por
critérios de lealdade e de ajuda quando se estabelece o que fazer com os pais.
QUADRO 1
Motivos:
- lealdade - evitar sofrimentos
Ainda que Bárbara não fosse amiga íntima de Elisa –ou não tão amiga como dos pais- deverá também
ter em conta de que a lealdade e a ajuda de uns não pode converter-se em deslealdade ou falta de ajuda para
com outros.
Por outro lado, estão os valores que justificam e motivam a atuação dos pais em sua relação em Elisa,
e a de Elisa para com seus pais.
Estes valores, como vimos no quadro anterior; se centram para os pais em torno à responsabilidade.
Mas para atuar responsavelmente, há que estar informado. Informar é a decisão a tomar por Bárbara, que é a
que sabe o que aconteceu.
Se aos pais lhes corresponde atuar responsavelmente, a Elisa lhe “toca” reger-se pelo valor de
piedade. Piedade equivale a
AMOR, DEVOÇÃO
RESPEITO, GRATIDÃO
TERNURA
As palavras anteriores podem também generalizar-se a todos os filhos, isto é, afetam à condição de
filiação.
De modo que Bárbara fique comprometida a intervir no caso estamos vendo, pela força dos valores
que estão “debaixo” dos vínculos que unem aos pais e indiretamente com Elisa.
O que nos detemos um pouco neste ponto tem, junto com o fim de ir esclarecendo posturas, outra
intenção. Isto é, pretende denunciar uma carência que se observa com frequência a nosso redor. Há pessoas
que decidem e se comportam sem saber muito bem por que e para que o faz. Ou, se apurar encontrará razões
fracas, de tipo subjetivo ou sentimental. Daí que distinguimos o que são valores objetivos -o racionais- e o que
são valores subjetivos ou sentimentais.
Os sentimentos
Os sentimentos são, como seu nome indica, algo que se sente, e, em geral se sente em termos
agradáveis, ou positivos, ou em termos desagradáveis, ou negativos. E, já sabe, o agradável é mais atrativo
que o desagradável. De onde podemos concluir que os sentimentos atuam às vezes como motivo para
comportar-se ou tomar decisões (porque “atraem“ o “repelem”).
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A PRUDÊNCIA
Está claro que é mais agradável satisfazer que sofrer, e a ninguém lhe agrada ser recusado. Mas nem
um nem outro sentimento devem tomar-se como motores da decisão ainda que se devam ter em conta como
efeitos secundários a assumir, beneficiosos em uns casos, custosos em outros.
Hoje em dia, entretanto, parece que o sentimento, a emotividade, tem muito boa impressão. Em
ocasiões até chegam a passar adiante dos valores.
Outras vezes os sentimentos dão passagem a valores novos, porque necessitam justificar-se em algo.
Esta postura, quando compartilhada por muitas pessoas recebe o nome de ideologia hedonista.
“A pessoa se realiza apenas mediante o prazer”, quando todos sabemos que o sofrimento bem
aceito -sem masoquismo-, é fonte de maturidade humana, e, no plano da fé, também de
maturidade sobrenatural.
O problema de Bárbara
Depois de considerar os motivos de sua eventual intervenção, Bárbara todavia teve outro problema,
que é o mesmo que tem o médico quando cura uma ferida. Nenhum dos dois sabe se o resultado vai ser
positivo:
De algum modo, a ação de Bárbara, como a do médico, equivale à conduta do bom intermediário, que
atua quando é preciso e apenas do modo que for necessário ocultando-se à hora de recolher os frutos. Por
mais agradável que seja saber que foi graças a sua intervenção Elisa corrigiu-se, não é assunto seu, mas sim
dos pais. Em consequência, o que Bárbara tem que fazer é: fazer e desaparecer.
Se corre o risco que denunciar a frase aplicada aos fariseus: são cegos que guiam a outros cegos.
Quando se diz que “o amor é cego”, se pode entender a frase como algo bom ou algo mau:
- Mau: não pensa que é melhor amor o que ajuda ao outro a ser feliz, nem se lembra que a
felicidade custa.
Os custos da decisão
Voltando aos valores que motivam a decisão a tomar no caso que comentamos, nos encontramos com
valores bons, mas contraproducentes. Isto é,
Como tudo não pode ser, pois soprar e aspirar por sua vez não é possível, se trata de hierarquizar, os
valores de categorias superior, renunciando aos outros ou colocando-os em segundo lugar, a fim de conseguir
potenciar o bem ou suavizar o mau que se pode derivar dessa hierarquia. Isto é o que chamamos pagar os
custos da decisão.
Se entende por custos, a parte de renúncia que aparece em qualquer escolha. Há custos obrigatórios,
como:
- não poder estar em dois lugares por sua vez (tocando as campainhas e na processão).
Quando em lugar de ser obrigatórios, os custos são opcionais, se tratará de funcionar com os critérios
que regem em economia, isto é:
- máximo benefício;
- mínimo custo;
- ... ou em relação excelente qualidade-preço.
A decisão de Bárbara
O que aconselharíamos a Bárbara? Definitivamente, que fale. Se fala, se comportará como uma boa
amiga, mas além disso, se exercitará no desprendimento. Cumprirá o ditado, que por mim não fique, e não
buscará a complacência que é o lógico desejar depois da boa ação. De modo que Bárbara também sairá com a
melhor decisão de falar. Além disso, terá resistido na repugnância que todos sentimos à hora de enfrentar-nos
aos problemas.
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A PRUDÊNCIA
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A PRUDÊNCIA
- Bárbara é amiga dos pais, não (ou menos) de Elisa. A lealdade lhe obriga primariamente com os
pais.
- É provável que Elisa não aceite o conselho de Bárbara. Em todo caso, Bárbara deve contar antes
com a autorização dos pais, porque, senão, estaria suplantando um papel que lhe corresponde a
eles.
- Não está facultada para erguer-se em árbitro dos problemas que há entre pais e filha, exceto que o
outorguem expressamente.
Em consequência, deve falar, sim, mas primeiro aos pais, e sempre contando com outros fatores.
Suponhamos que um dos pais ou ambos sofrem do coração. Bárbara falaria com eles, “o quanto
antes”, ou procuraria o momento oportuno, a ocasião apropriada, e escolheria as palavras mais delicadas? Ao
que há que fazer, haverá que acrescentar “o modo” como há que fazê-lo. Um e outro constituem o núcleo da
virtude da prudência. Mas, repetimos, um e outro, não um sem o outro.
A virtude da prudência
Acabamos de definir de um modo simples o que é a prudência em ativo, isto é, a atuação prudente.
- Por outro lado, é fazer bem as coisas, preferindo o que deve fazer-se ao que apetece fazer. O deve
avaliar a qualidade da ação.
No caso de Bárbara, atuar mal seria falar, por exemplo, desbaratadamente. Pelo contrário, falar
primeiro com os pais é mais eficaz com respeito a Elisa, que dirigir-se a própria Elisa.
Mas trabalhar assim, atendendo aos dois planos (o que –ou finalidade-, e o como- ou procedimento-)
estabelece uma série de problemas.
Alguns problemas
- Se Bárbara estivesse de acordo com as relações pré-matrimoniais, nem sequer teria estabelecido
advertir algo, nem aconselharia nada.
Por isso, tomar decisões lança antes de mais nada ao mundo das convicções pessoais, e, se um é
honesto, a sua constante revisão, a fim de que não se desviem da verdade. Lembremos:
12
A PRUDÊNCIA
Outro problema se refere a análise da situação, a qual se diagnostica desde o julgamento que se
aproxima da verdade ou do erro do assunto que se trata. E neste caso, se analisa a conduta de Elisa em
relação à norma moral da castidade própria dos solteiros, que devem manter a pureza de seu corpo e de sua
alma, para oferecê-la no futuro em toda sua integridade conforme o estado que adotem: castidade conjugal
para os casados, castidade perfeita para os consagrados a Deus. Como Elisa não está de momento em
nenhuma das situações, deve perseverar seu corpo e seu espírito, sem contaminá-lo com precipitações ou
desvios, que de um modo geral pervertem o reto sentido de sua sexualidade.
Definido este problema de fundo, se trata de arbitrar os modos de abordá-la e resolvê-lo. Mas para
isso há que contar com alguns fatores, alguns dos quais vai condicionar a intervenção de Bárbara, e outros que
vão lhe facilitar.
Bárbara contempla a situação concreta da família. Se dá conta de que ela não é indiferente ao tema,
que os pais são antes que ela, e o que o assunto é relevante. Vai assim “separando” alguns âmbitos de outros,
dando-lhe a cada um seu significado e valor.
Pois bem, o que Bárbara está fazendo com estas operações não é nada mais que deliberar. Com o
que,
Ao deliberar, Bárbara está sendo objetiva. Como se colocasse o problema diante dela, e o examinasse
com a cabeça, deixando pelo momento o sentimento que, diante de ajudar-lhe, poderia conduzir-lhe talvez pelo
caminho da crítica, interna ou externa (os típicos falatórios, por exemplo). Assim resultará que não é que Elisa
“seja” uma fresca, ou uma insensata, ou uma inconsiderada com o sofrimento de seus pais. Se o é ou não, não
interessa aos efeitos que se pretende, que são os de ajudar deixar essa conduta, conduta que lhe prejudicou.
A SEGUNDA FASE
DA ATUAÇÃO PRUDENTE É
ELABORAR UM DIAGNÓSTICO OU JULGAMENTO
É o que faz o médico depois de examinar os sintomas que se observou previamente no doente, mas os
dados obtidos com as oportunas análises e provas. O médico pede essas análises para avaliar melhor, com
maior certeza, e apenas uma vez examinadas as informações, emite o diagnóstico, ou julgamento sobre a
espécie da patologia e seu tratamento.
Mas isto não basta. Terá que fazer algo, para cortar o mal ou para conseguir a cura. Esta fase que se
denomina poder ou ordem (“faça-o” ou “façamos–nós”).
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A PRUDÊNCIA
Nas grandes ocasiões, esta fase se traduz em decisões de muita importância. Nas situações
frequentes, talvez apenas lhe dê importância. Entretanto, todos temos muitas oportunidades de decidir. E, se
isto é assim, o melhor é que nossas decisões sejam prudentes.
Atender tanto ao fim como aos meios adequados, isto é, bons também.
Objetivar a questão, sem deixar-se levar pelo sentimentalismo paralisante ou pela opinião
subjetiva que possa conduzir à parcialidade.
- a deliberação;
- o julgamento;
- a ordem.
Para, no final, atuar ou deixar de atuar, postergando a ação ou anulando-a definitivamente, se for
conveniente.
Quando há um acidente na estrada e os carros não param para socorrer as vítimas, ou não avisam à
polícia, estamos ante uma situação imprudente. Normalmente a esta omissão de ajuda se chama insolaridade,
egoísmo ou injustiça.
A prudência, se vê aqui, está na origem das demais virtudes. Por isso pode dizer-se corretamente que
Já o dizia um autor:
Se isto é assim, teremos que ter em conta esta virtude ao desenvolver o resto do livro. Apenas a efeitos
de organização separamos umas virtudes das outras. Veremos como, longe disso, se encadeiam umas com as
outras como as cerejas. Mas as mais presentes em todos os casos vai ser a prudência.
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A JUSTIÇA
CAPÍTULO - II
A JUSTIÇA
CASO: Marta
Marta é irmã de Henrique, esposo de Diana. O casal está divorciado. Há anos houve uma história de
infidelidade, à qual se acrescenta Henrique e o incumprimento de seus deveres econômicos para com sua
mulher e filhos.
Atualmente Henrique vive em outro país. Encontrou a mulher com a qual tem um filho, e, certamente,
continua sem dar um tostão a sua família. De modo que é o ruim do filme, tanto que Diana aparece como a
heroína que, com uma gentileza admirável, criou a seus quatro filhos.
Poderia dizer-se, uma história de nossos dias. Entretanto, Marta tem de imediato um problema.
Henrique anunciou que vem a sua terra de origem para ver seus irmãos. Faz mais de cinco anos que
não os vê. Mas Diana está muito firme. Ameaçou.
Ou ele ou eu.
A postura de Diana é compreensível. Uma vez sua cunhada foi aos país onde Henrique vive, e esteve
em sua casa. Conheceu à segunda mulher, e ao menino. Quando Diana se inteirou, lhe retirou o cumprimento.
Por outro lado, está a fraternidade, e detrás, os pais, que já morreram. Por acaso pode abster-se da
vida de seu irmão?, com que cara se atreveria a olhar-lhes de frente?
Há outra razão. Marta tem um filho um pouco “pirata”. Todavia é uma criança, mas se algum dia se
comportar como Henrique, ela a mãe preferirá, que um irmão lhe levante a mão?
Se aceitar a visita de Henrique, Diana vai se incomodar. E Marta quer e admira muito a Diana. Marta
não sabe o que fazer.
Decisão
Prudência Ordem
A decisão
Nesta fase, Marta deve começar por selecionar os aspectos ou planos que lhe vão permitir organizar os
dados. Estes aspectos são:
- Os laços de família que lhe unem a Henrique (fraternidade), e a Diana (fraternidade política).
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A JUSTIÇA
Marta
cunhadas
afetos
Diana Henrique
Separados os dados, e reagrupados conforme certas afinidades, podemos comparar qual ou quais
deles têm uma maior força ou peso, de modo que devam preferir-se aos demais. Está claro que,
objetivamente, isto é, independentemente das circunstâncias,
O juízo
Em consequência, Marta deve decidir-se ver a seu irmão Henrique. Porque a fraternidade diz
incondicionalidade e, portanto,
- querer e admirar a sua cunhada não tem por que colocar em risco seus deveres fraternos.
- O ressentimento de Diana, por mais explicável que seja sem ela, não tem por que prolongar-se em
Marta.
A ordem
O dever lhe obriga a ver Henrique. Mas, junto ao dever, ou melhor, dentro do dever, está a
necessidade e a disposição de ajudar-lhe. Por isso a conversa entre os dois irmãos não pode ser uma mera
visita. Tem que conter uma mensagem de tipo moral. Não esqueçamos que Henrique está em falta com sua
esposa e com seus filhos, mas também com os valores e requisitos do casamento. Além disso, estão os pais,
que podem reclamar a intervenção de Marta próximo de seu irmão. Como se ela estivesse no lugar deles.
A preparação
A própria entrevista é outra ocasião de viver a virtude da prudência. Haverá que deliberar –ou ter em
conta- uma série de dados:
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A JUSTIÇA
Pode supor-se que não está disposto a mudar de vida. Tudo isso, mais outras questões que poderiam
contribuir-se, talvez estejem induzindo Marta a manter-se a margem, a não intervir. Isto é, os argumentos que
podem assaltar a Marta na linha de inibir-se, atuam sob modo de pressão ou chantagem. Marta fará bem em
precaver-se contra eles. Tanto mais se ela mesma pode provocar-se essa chantagem, já que em seu interior
talvez pense que quem se portou mal foi seu irmão. Ou também pode ocorrer que Henrique merece o
isolamento ou o afastamento de sua família.
Nossa protagonista haverá de deliberar de novo entre seus sentimentos e seus deveres. Deverá julgar
que os deveres vem primeiros que os sentimentos, para atuar em consequência.
Marta terá que contemplar sua decisão com as formas ou modos mais “prudentes“, isto é, procurando
que o benefício seja maior que o custo, sobretudo em qualidade.
Os custos da entrevista
Um provável custo da decisão de ver Henrique será o incômodo de Diana. Já tinha dito antes.
Ou ele ou eu
Mas há que questionar se esta postura é justa, ainda que seja compreensível. Diana tem o direito a
decidir por si própria, mas não o de impor sua decisão a terceiros. Mas todavia, as pessoas que tiveram uma
relação com seu marido no passado (como ocorre na situação apresentada: a separação conjugal; senão
for assim, a esposa seria a primeira). Impor uma conduta, ou pretender tomar represálias se os outros não
seguem essa conduta, é um outro modo de fazer chantagem. E, já sabe, chantagem é muito perigoso porque
mexe com fatores afetivos, isto é, coloca em risco algo bom:
- A “jogada” de Henrique.
Marta tem que concluir a jogada. Não basta ir ver seu irmão e lhe fazer recomendações morais. Terá
que aproveitar a oportunidade que Diana oferece se esta se incomoda, para esclarecer sobre seus direitos, e
sobre os limites desses mesmos direitos. Assim, poderá lhe ajudar a ser menos rígida e intransigente.
Portanto, os resultados não devem determinar nossas decisões, ainda que seja bom tê-los em conta.
Poderíamos lembrar Marta da citação evangélica.
As vezes somos impacientes e queremos ver logo os resultados. Outras vezes, nos desanimam alguns
resultados contrários ou diferentes dos esperados. De algum modo, estamos agindo como se o resultado fosse
a medida de nossas ações. De modo, que se não acontece o que esperamos, acreditamos que fracassamos.
17
A JUSTIÇA
Pois bem, dar a cada um o que é seu é uma definição prática da justiça. Em outros termos, nos
deparamos com a frase evangélica,
Na figura de Deus podemos ver o Bem e a Verdade, concretizados aqui nos valores ou princípios que
dão sentido à fraternidade, e que a preenchem de uma série de normas a cumprir.
Ser justo é, pois, ser fiel a ambos aspectos, tanto às pessoas como às idéias.
Como a oferta do mercado, que reclama a demanda. Ou como a fraternidade, que reclama a
incondicionalidade.
Olhando ao plano sobrenatural, essa justiça, entendida como fidelidade a Deus e a seus preceitos, leva
à santidade. O homem santo por excelência é São José, do qual precisamente se diz que foi “homem justo e
bom”.
No plano humano, a justiça está reclamando o respeito a honra e à dignidade das pessoas, que é
anterior e superior a seus atos. E exige também o respeito a honra e à dignidade das instituições com as quais
o indivíduo está comprometido. O vimos em relação com o casamento. Analisemos-o um pouco mais.
18
A JUSTIÇA
Hoje em dia há um setor de pessoas que recusam casar-se diante de testemunhas, e com papéis por
medo. Acreditam que é mais espontânea e autentica sua união, precisamente porque não se atam com
promessas que não sabem se poderão cumprir no futuro.
Entretanto, quando se unem, é que preferiram a essa pessoa sobre outras. E no seu íntimo acreditam
em seu íntimo que essa é a mulher ou o homem de sua vida. O que lhes freiam a assinar um papel é o medo a
deixar de querê-la.
Pois para isso existem os “papéis”, para demonstrar que, apesar do medo, isto é, apesar de conhecer a
própria fragilidade, que pode um dia deixar de querer o que hoje quer, se compromete a ser exigido, reclamado
inclusive legalmente, se falha
Pois para isso existem os “papéis”, para demonstrar que, apesar do medo, isto é, apesar de conhecer
a própria fragilidade, que pode um dia deixar de querer o que hoje quer, se compromete a ser exigida,
reclamado inclusive legalmente, se falha.
O “papel”, a assinatura dos cônjuges no ata do matrimônio, se pudesse falar, diria coisas como estas:
- Lhe quero tanto que quero entregar-me a ti para toda a vida. Mas como não fio em mim, me firmo
aqui mesmo que te quero, e assim, se falhar alguma vez poderá reclamar. Melhor ainda, mais que dar-te meus
direitos, ou comprometer-me a alguns deveres, o que estou fazendo ao assinar é pedir-te ajuda para ser-te
sempre fiel, estando muito unido a ti.
Antigamente quando o pretendente se declarava a sua amada, costumava colocar-se de joelhos ante
ela. Esse gesto de devoção, era também um gesto de petição de ajuda. Como fazemos quando nos
ajoelhamos ante o altar.
A responsabilidade nos leva a cumprir as próprias promessas ou os deveres que se derivam de nossos
compromissos. No extremo contrário podemos falar de:
Irresponsabilidade ilimitada
A insolidariedade leva a cometer abusos, tais como ignorar os direitos dos inocentes que estão atados
a nossas decisões. O aborto e o divórcio, por exemplo, são medidas injustas, além de insolidárias. Para
satisfazer à mãe que não ”deseja” o filho, ou para dar-lhe ao cônjuge infiel o direito a divorciar-se, estão
oprimindo os direitos do filho à vida -direito primordial- e o direito do filho a viver toda sua vida com os pais que
lhe geraram, e não com outros. No caso dos esposos, se viola o direito a continuarem casados durante toda
sua vida.
Se esquecem, ou se desprezam os direitos da própria instituição, paterno-filial no caso dos filhos,
conjugal no dos esposos.
19
A FORTALEZA
CAPÍTULO - III
A FORTALEZA
CASO: A saída
- Quero me casar no civil. Preciso da autorização de vocês. Como vão dizer que não, lhes peço que
me dêem a maioridade.
Quem disse isto foi Flávia, a segunda dos oito filhos do casal Gomes.
Falou o pai:
- Não podemos dar-lhe a maioridade. Por duas razões. A primeira, porque não estamos de acordo
com o casamento apenas no civil. Um batizado –e você o é- ou se casa na Igreja, ou não se casa.
A segunda, porque não podemos dar mau exemplo a seus irmãos. Quando for maior de idade, e
lhe faltam apenas seis meses, você poderá decidir. Entretanto, terá que ajustar-se às normas da
casa ...
- Estaríamos dispostos a esquecer tudo. Isto ficaria entre nós, se prometer não ter relações sexuais
até que atingir a maioridade e se casar.
- Não quero ser desonesta comigo mesma. Não estou disposta a mudar ...
- Então ... –a lentidão das palavras revelava o peso de sua dor- ...terá que sair de casa. Não
podemos amparar sob nosso teto alguém que está em uma disposição como a sua ...
Os elementos da saída
Na cena descrita anteriormente há dois tipos de elementos, que podem ser considerados como causas
explicativas da respostas dos pais. Estes elementos são: intelectual e afetivo.
a) De tipo intelectual
Em primeiro lugar, nos encontramos ante um conflito de fidelidades. Nos pais, a suas profundas
convicções com respeito aos princípios morais e à normas da Igreja. Em Flávia, a sua sinceridade.
No plano da responsabilidade social, os pais pensam nos irmãos e Flávia em si mesma. É um pouco o
bem comum contra o bem privado.
Se temos que valorizar estes dados para diagnosticar o problema, teríamos que dizer que as
“obrigações” dos pais são mais graves que as de Flávia, porque lhes transcendem.
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A FORTALEZA
b) De tipo afetivo
Dá a impressão de que Flávia não dá a seus pais a menor abertura. Pois bem, se comporta como
quer, “coloca-lhes contra a parede”. Isto é, como se sua saída, mais que decisão dos pais, tivesse sido
provocado pela filha.
Flávia situa ao mesmo nível suas razões que a de seus pais. Com o qual parece que estamos
assistindo a um combate, onde se espera que um ganhe e o outro perca.
Esta impressão, junto com a surpresa, pode talvez explicar a prontidão da resposta dos pais. Mais que
resposta, soa a reação. Mas que uma reação tem por trás um dever de fidelidade.
O efeito imediato é que Flávia vá viver com seu namorado. Isto é, que se produza o contrário do que os
pais queriam. E, além disso, de algum modo, esse final foi provocado por eles.
Os pais de Flávia são responsáveis por esta última conduta de sua filha? Em parte, sim; em parte,
não. Vejamos-o.
A surpresa é provável que tivesse desencadeado nos pais sentimentos de ira ou de desgosto.
Expulsaram a filha por isso, são em parte responsáveis.
Determinaram sua própria “impossibilidade” de mudar, e foram consequentes com ela, não o são.
Afinal de contas, Flávia o que ela quer, não porque os pais se incomodaram com ela. Isto é, que é ela a
máxima responsável por seus atos. Daí que o incômodo dos pais não é motivo suficiente para culpar-lhes.
Contudo, esta solução, a saída de Flávia, não é a única possível. Teria provavelmente que apelar à
prudência, que daria um pouco mais de tempo aos pais e a filha para refletir. Mas em nenhum caso, a decisão
final deveria intervir o reto julgamento dos pais. Isto é, se eles não estão dispostos a admitir sob seu teto a uma
pessoa que convive mal com todos, não é Flávia quem vai fazer-lhes mudar o modo de pensar. Têm direito a
decidir sobre os âmbitos que lhes pertencem, neste caso, a casa. É assim como os pais exerce sua liberdade.
Voltaremos mais adiante sobre este ponto.
Seja como for, os pais sabem que sua decisão final tem um custo, e estão dispostos a pagá-lo. Este
custo vai desde a constatação da vida que vai levar Flávia adiante, o que vai lhes fazer sofrer muito, até a
dúvida sobre o que poderiam ter feito melhor. Além de atrever-se as iras de mais de um “bienpensante”.
21
A FORTALEZA
O soldado que vai ao combate sabe que pode ser ferido, e que talvez perca a vida. Mas, se não
desiste, está resistindo a esse medo. É assim como é forte. Todo mundo gosta de conservar a vida; a ninguém
lhe atrai ter problemas, mas quando a causa o merece –isto é, tem sentido para o afeto-, então tiram forças de
fraqueza, e se segue adiante. De modo que a força para resistir arranca do âmbito dos motivos. De novo,
estamos no tema dos valores.
Esta é a razão que avalio a conduta de Santo Tomás Moro ante as pretensões do rei Henrique VIII da
Inglaterra, quando este quis firmar-se o Ata de Supremacia, pelo qual passava a ser o chefe da Inglaterra
anglicana, suplantando a legítima autoridade do Papa.
Sua família, seus amigos, as pessoas em geral, lhe animava a firmar. Lhe diziam algo que em nossos
dias poderia formular-se assim:
E se a manipulou. Mas em nenhum momento se fez o mártir ou o herói. Tinha “as mãos atadas” por
suas convicções que lhe obrigavam como católico antes que como súdito do rei. Sua resistência não era
resistência nem obstinação, mas efeito de uma integridade de vida, ancorada em uns valores, ou motivos,
verdadeiros.
O contrário da resistência é a claudicação. Se pode claudicar pelas duas vias que descobrimos ao
comentar o caso, a intelectual e a afetiva.
Plano intelectual
No tema sexual, o desfrute vem considerar que uma pessoa se realiza conforme más gratificações
emotivas tenha. Daí que pretenda uma educação sexual “emotiva e gratificante”, que dure “desde o berço até a
tumba”, e que se concretize no maior número de experiências sexuais, com a conseguinte precaução contra as
gravidez não desejadas.
Me preocupam enormemente essas mães que publicamente apoiam e defendem o aborto voluntário
que suas filhas desejam ou se fazem praticar. Me preocupa, pelo que supõe a mudança de mentalidade em
algumas pessoas que, pelo fato de ser mãe, têm que conhecer o prazer que produz dar vida, e ao contrário,
sabem a dor que se sente quando se dá morte. É algo que vai contra a natureza da maternidade.
O extremo dos perigos contra a fortaleza está no que se originou lavagem cerebral.
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A FORTALEZA
A lavagem cerebral
- Matar entre os terroristas. O que se nega a matar joga sua própria vida.
- Delatar aos familiares nos regimes totalitários. Quem não o faz é visto como um traidor na pátria.
No tema que nos ocupa, há lavagem de cérebro quando se acredita firmemente que se respeita a
liberdade dos filhos, deixando-lhes que tenham relações sexuais com quem quiser, o que hoje em dia se
expressa falsamente com “fazer o amor” (o amor é outra coisa), e por sua vez lhes enche de preservativos ou
de anticonceptivos. Longe de respeitar-lhes, estão induzindo aos filhos a viverem essa “liberdade sexual”.
A “LIBERDADE SEXUAL”:
NÃO LHE PARECE, MAIS UMA
ESCRAVIDÃO SEXUAL?
Lavagem cerebral, por último, quando se acredita que uma pessoa virgem é uma pessoa doente,
imatura ou pervertida.
Falamos anteriormente da chantagem como atentado à liberdade para decidir. Agora é o momento de
voltar sobre o tema, vendo-o como um risco contra a virtude da fortaleza. A liberdade se opõe a falta de
liberdade, que nós podemos denominar coação.
Tipos de coação
a) Física
Esta coação se limita ao físico; portanto sendo dolorosa, é a menos grave. As grades por exemplo.
Disse R. Alvira:
b) Psicológica ou afetiva
Esta é a versão à qual damos particular preferência nas páginas anteriores, porque entendemos que é
a que mais pode afetar às relações familiares.
A coação afetiva é a que chamamos chantagem. É o sistema que utilizam os sequestradores, quando
obrigam aos familiares do sequestrado a “comprar” com dinheiro a liberdade de seu ser querido, só pena de
perdê-lo ou de passar à opinião pública como umas pessoas desalmadas e cruéis. A chantagem é um
procedimento que joga com os sentimentos das pessoas.
Pois algo acontece passa na família. Na família pode dar-se a chantagem em um duplo sentido:
É o caso dos pais autoritários, que identificam a boa conduta dos filhos com a complacência dos pais.
As vezes essa complacência é correta, e quase sempre acompanha à boa ação, mas nunca é o fim da
educação.
23
A FORTALEZA
Ocorre isto quando os filhos ameaçam com acometer ações piores que as que estão fazendo. Se
amparam assim no mal menor. Como ocorreu a Carmem.
CASO: Carmem
À noite Carmem descobriu na escrivaninha de sua filha Nali duas pílulas. Ao averiguar o tipo, Nali lhe
respondeu:
Se movem os três argumentos no mesmo plano de importância? Qual é o mal maior e o mal menor?
Em sentido positivo qual o bem menor e o bem maior?
É bom não ficar grávida sendo solteira. Mas é melhor não cometer nenhum pecado mortal. E é melhor
também, sendo mãe, não dar mal exemplo a uma filha. De modo que Carmem deveria responder mais ou
manos assim:
- Não venha com chantagem. Se ficar grávida ou não, isso será sem meu consentimento. De modo que
nesta casa não entram anticoncepcionais.
As vezes se acredita que os pais não têm que meter-se nas intimidades dos filhos. Esta opinião para
mim tem o efeito de um anticoncepcional. Se colocar filhos no mundo é apenas um fato biológico, que me
impede guiar meus filhos e orientar-lhes para o bem, então me tacham de procriadora. Sendo assim não me
interessa ter filhos.
O “conselho” de um pai
Há muitos anos tive a oportunidade de ir a um congresso sobre a fertilidade feminina. Ali, um
“moralista” se mostrou partidário do uso da pílula de um modo seletivo. Isto é, algumas recomendação às
prostitutas, mas também daria a uma filha que estivesse correndo risco de ficar grávida.
CASO: O batismo
Estamos ante um episódio final do caso com que se inicia este capítulo: “A saída”.
Passado um tempo, os pais e Flávia se reconciliaram. Ao nascer seu primeiro filho, Flávia disse a seus
pais o seguinte:
24
A FORTALEZA
- Se me dizer que alguém vai morrer ou vai acontecer algo muito terrível se não batizarmos esta
criança, o faremos. Mas senão, já sabem nossas idéias ...
A criança não foi batizada. Como se explica esta mudança nos pais católicos, posto que, sacramento
por sacramento, tanto vale o matrimônio canônico quanto o batismo ...?
O CANSAÇO É UM RISCO
PARA A FORTALEZA
Há ocasiões nas quais ocorre todo o contrário. Por que se diz, por exemplo, que os soldados cansados
são os que ganham as batalhas?
Não é o cansaço a causa da falar de fortaleza, ainda que seja um risco. A verdadeira causa está em
deixar-se vencer pelo medo a sofrer, ou pelo medo de enfrentar os problema desde a perspectiva da verdade e
do bem.
CASO: Guto
Um belo dia Guto desapareceu da casa de seus pais sem dar explicações. Andou por aí e quando os
pais tentaram encontrá-lo através da polícia, lhes ameaçou com matar alguém. Assim que optaram por
esperar. Uma espera que, como é de se supor, foi angustiosa.
Passaram-se mais de dois anos. Um belo dia, apareceu acompanhado de uma menina com a qual
declarou que vivia, todavia sem estar casados. Ao chegar a noite, os pais se perguntaram que plano tinha
Guto. E quando este lhes disse que dormiria com a menina na casa, não pensaram duas vezes ao responder-
lhe:
- Você tem direito a dormir aqui, porque está em sua casa, mas ela, não. Não podemos aprovar esse
tipo de relação.
Partiram. Mas desta vez os pais ficaram mais tranquilos. Tinha muito claro o respeito que o lar, como
símbolo dos valores vividos em sua família, representava.
Depois de um tempo. Guto voltou, desta vez sozinho. O mais chamativo foi o semblante, sofrido e
arrependido. E suas palavras:
25
A FORTALEZA
Por isso não surpreende que Guto parecesse aborrecido pela gravidez de sua irmã, e, a frase é muito
significativa, pela injustiça que essa situação supunha para os pais.
Ao estabelecer as regras do jogo, e ao ser consequente com elas, este pais cometeram um ato de
audácia. Esse ato de audácia é a fortaleza vista como ataque.
CASO: Os convidados
André trouxe um casal de convidados à casa de seus pais. Esse casal, anunciou, que não estavam
casados oficialmente, ainda que morassem juntos.
Os pais, católicos praticantes, alojaram à menina e procuraram para o menino um quarto em um hotel.
No dia seguinte, domingo, todos foram a Missa, os convidados também. A hora de comungar, puderam
observar que os convidados se aproximaram do altar para receber a comunhão.
Depois do café da manhã, em um lugar à parte o pai pegou ao garoto e a mãe à garota. Com todo
carinho, lhes disseram que em sua situação não estavam em tais condições de receber ao Senhor.
Se se faz com delicadeza e correção, há muita gente que o agradecerá. Mas não se faz nem para que
o agradeça nem sequer para que mudem, mas porque nesse momento alguém tem que prestar sua voz à boa
doutrina. E, em assunto que tem a ver com a fé e com a moral, é obrigação grave para os católicos.
Ainda que custe, há que fazê-lo. Esta é também a fortaleza como ataque.
Se é inteligente quando se vê a situação globalmente, desde as causas aos efeitos, passando por seu
desenvolvimento ou processo, e se calculam os custos e os benefícios. Mas também, se é inteligente quando
se medem as próprias forças e se reconhece que, muitas vezes, não temos as energias suficientes para levar
adiante o que nos propomos. É então medida de inteligência pedir ajuda a quem nos pode dá-la.
26
A FORTALEZA
Quando se trata de assuntos que exaltam nossas forças psicológicas -efetivas- ou morais –critérios- é
conveniente não fiar-nos em nós mesmos.
Deus, quer conhecer bem nossa fraqueza, está esperando que lhe peçamos na oração as forças
necessárias para ser em todo momento fiéis a sua Vontade, e para ser bons instrumentos, se temos que ser
seus porta-vozes ante aqueles que Ele nos encomenda. No caso dos pais, os filhos.
O prudente é que sabe ordenar os meios convenientes para obter um bom resultado, distinguindo
benefícios e custos.
O forte é o que resiste aos ataques contra o cumprimente dos deveres, e é valente ao reclamar o
direito a acometer boas ações.
27
A TEMPERANÇA
CAPÍTULO – IV
A TEMPERANÇA
CASO: Carla e Daniel
Carla e Daniel casaram “de uma hora para outra” há dois meses. Aparentemente, nada fazia suspeitar
que as coisas estavam mal entre eles. Depois de seis anos, Daniel praticamente já fazia parte da família, e
ainda que não tivessem resolvido a situação econômica, tinham em troca projetos para o casamento.
Os jovens se mostravam tristes e sentidos enquanto anunciavam a novidade aos pais de Carla. Se via
que, mais que procurá-lo, o fato havia lhes acontecido. O que em outros tempos se chamava ter um quarto de
hora frouxo.
Não houve cenas. Os noivos queriam casar-se. Tudo foi resolvido com delicadeza e facilidade. A mãe
comentava, como em brincadeira:
- E logo dizem que é necessário muito tempo para preparar um casamento ...
Entretanto, havia tristeza no ambiente. Algo ficava pendente. Por isso, após alguns dias de reflexão, e
enquanto os recém casados andavam de viagem, os pais descobriram a causa de seu mal estar.
Assim, quando Daniel e Carla voltaram, os pais tiveram uma conversa com eles.
3ª A paterna. Os pais sofreram a causa de sua filha, e na medida em que Daniel foi aceito pela família,
por ele também.
4ª A familiar. Os demais filhos estavam esperando uma atuação dos pais, que lhes esclarecesse sobre
o grau de firmeza de seus princípios morais.
Sendo assim como nas duas primeiras questões os pais não tinham nada o que dizer, se em troca nas
outras duas. Isto é, havia uma duplo agravo que os jovens cometeram:
Ambos agravos estavam reclamando uma reparação. O cômodo era calar de deixar passar o tempo,
mas não era nem o justo nem o forte. Tampouco o prudente.
A primeira noite em que a família inteira se reuniu no lar recém estreado do jovem casal, ao benzer-se
a mesa, Daniel pronunciou algumas palavras. Nelas, gaguejando um pouco, pedia perdão a todos pelo prejuízo
que lhes tinha causado, aos pais em primeiro lugar, mas também aos irmãos. Ninguém disse nada. Bem, sim O
pai, disse:
- Bom proveito.
E pela noite, quando os pai ficaram sozinhos, houve entre eles um olhar de cumplicidade. O pai falou
previamente com Daniel.
A ferida ficou, mais que estancada ou curada, esquecida. Como se nunca tivesse ocorrido nada.
O ARREPENDIMENTO
BORRA O PASSADO
28
A TEMPERANÇA
Quando João Paulo II visitou a seu agressor na prisão, lhe deu um abraço. O Papa havia perdoado de
todo coração a Alí Agca, mas isso não impediu que o processo judicial seguisse seu curso. Não podia o Papa
“omitir o compromisso” as normas previstas para os assassinos, por maior que fosse. Era algo superior a suas
possibilidades.
Esse respeito que os pais devem a seu cargo lhes leva a reclamar uma reparação, e a fazê-lo cumprir,
se a conduta dos filhos a agravasse. Isto é, se faltaram ao respeito que lhes devem os pais, pelo fato de ser
seus filhos.
A diferença com o Papa é que, assim como neste caso quem exige a reparação na Justiça,
independentemente de que o Papa perdoasse ou não a seu assassino no caso dos pais, são estes os que
devem reclamar a reparação. Porque o que estão defendendo não são suas pessoas, Luís ou Flávia por
exemplo, mas a figura do pai e da mãe, às quais eles próprios devem respeito.
A confissão
Deus Nosso Senhor não necessita de nosso arrependimento. Pode ajudar-nos e salvar-nos sem nossa
cooperação, mas, como é infinitamente justo, “não pode” deixar de escolher um arrependimento no pecador.
Como os homens fomos fizemos a sua imagem e semelhança, a paternidade humana deve também
inspirar-se na paternidade divina da qual toma exemplo e inspiração. E, do mesmo modo que a culpa se repara
na Confissão por um procedimento sacramental, as palavras que representam a dor de coração e do propósito
da emenda no penitente, e a justiça exige que a culpa seja reparada por uma penitência –normalmente é uma
pequena oração-, também basta com uma palavra dos filhos que fizeram algo ruim acompanhada pela dor e
pelo arrependimento, para que os pais lhes perdoem de todo coração. E o abraço conciliador, seguir a
celebração e o prazer, como ocorreu na parábola do filho pródigo.
29
A TEMPERANÇA
O filho pródigo
Lembre-se que o filho desperdiçador voltou a olhar sua casa quando passou fome. Enquanto tinha
dinheiro o desperdiçava com mulheres ruins. Entretanto, o pai não foi atrás para recuperá-lo. Ficou em casa,
ainda que a cada dia se assomava ao caminho por si o via voltar. É de supor os sofrimentos desse pai, apesar
de que nos fala dele na Escritura. Quando o filho voltou, arrependido, suas palavras foram:
Habitualmente se entende por “céu” e por “ti” a Deus Nosso Pai. Mas, de um modo um tanto livre,
também podemos distinguir, atribuindo a expressão “céu” a Deus Pai, e ”ti” ao pai da carne. Na contrição do
filho pródigo se reúnem as duas paternidades, porque a ambas tinha ofendido com sua conduta.
De maneira que cabe encontrar aqui uma evocação, ou melhor uma aplicação, do quarto mandamento
do Decálogo. Os filhos devem respeito, devoção e carinho a seus pais, virtudes que se reúnem e englobam na
virtude da piedade.
A virtude da piedade
Lembremos: piedade é o sentimento que devem ter os filhos por aqueles com os quais têm contraída
uma dívida impagável, como é a do ter recebido deles a vida. Por isso a piedade se dirige aos pais da carne e
ao Pai Eterno.
O perdão e a necessidade
Era muito pouco o que o pai da parábola exigia a seu filho. Pouco, mas profundo –saindo do coração-
e imprescindível, ainda que a volta do filho fosse motivada a princípio pela necessidade.
Quantas vezes as necessidades ou os problemas são providenciais, e acabam produzindo frutos que
compensam muito os prejuízos anteriores. Por isso, nem sempre acertar equivale a não ter problemas.
Não tem mais êxito o que não tem problemas que o que, tendo-os, os enfoca bem, e pelo ato, de
enfocá-los bem, os resolve à metade.
O perdão e o esquecimento
De vez enquando se ouve esta frase:
Perdão vem de per-dão, isto é, mais que dom, super-dom ou hiper-dom. Isto é, o que se esquece não
é o fato, que é difícil de esquece e fica na memória, mas justamente que esse fato é ou foi uma ofensa.
O QUE SE ESQUECE É
A OFENSA RECEBIDA
No caso anterior, como no filho pródigo, a ofensa se esquece porque houve uma restituição da honra
do ofendido. Se não há fica como uma avaliação pendente.
30
A TEMPERANÇA
Marina não queria sair de férias com seus pais. Desgostosos, estes fizeram um pacto com ela. Ficaria
a metade do tempo com eles, e a outra metade ficaria no apartamento da cidade, estudando as matérias que
estava com notas baixas.
Quando ligavam para ela, nunca estava em casa. Ao final do verão, averiguaram. E o que descobriram
não lhes agradou. Esteve todo esse tempo acompanhada por um jovem, suposto namorado, de muitas
garantias. Ao cabo de um tempo, ambos brigaram. Nunca lhe disseram nada.
Hoje em dia Marina está casada com outro homem, e é muito feliz. Os pais também estão contentes.
Mas no íntimo a parte, e como confidência, com certa tristeza, a mãe confessou a uma amiga:
Esta mãe se cala, não sabe muito bem porque, mas o que se vê é que tampouco toma decisões.
Decidem os acontecimentos, e, certamente, sua filha, que rompe com o primeiro namorado e se casa com o
segundo. Visto deste modo, podemos pensar que sem uma intervenção as cosias se consertaram.
Ora bem, por que está triste e pensa em avaliações pendentes? Podemos descobrir alguma razão que
nos o explique?
Se há, a razão está justamente no que destacamos dos pais de Carla, e aqui não vemos. Ali houve
reparação de um agravo, reparação que seguiu à contrição dos filhos e a sua manifestação expressa. Aqui não
houve nada disso. Não estabeleceu nenhum a violência, mas provavelmente se perdeu também a
oportunidade:
1ª De fazer Marina refletir sobre seus deveres para com a moral sexual e para com seus pais.
2ª De reforçar a autoridade de seus pais, restaurando além disso a confiança perdida, ou pelo menos
afetada, pelo engano ao qual nos tinha submetido.
Calar e admitir o curso dos acontecimentos vinha a ser, assim, curar em falso uma ferida.
Provavelmente o tempo suavizaria o mal estar da mãe, mas nem para ela nem para ninguém é uma política
aconselhável.
A virtude da temperança
Temperança tem a mesma raiz que templo, e de templo vem contemplar, contemplação.
O templo é um lugar para contemplar. E contemplar é olhar com carinho, com admiração. Por isso se
disse:
31
A TEMPERANÇA
O que ama a alguém gasta todas suas energias em servir a seu amado, amando-lhe e ajudando-lhe.
Todo o restante, ou está vinculado a este objetivo, ou padece em importância, porque para ele,
O MUNDO É BOM
PORQUE VOCÊ EXISTE.
QUE BOM QUE VOCÊ
EXISTE!
Esta atitude produz um sentimento de confiança, de otimismo. E a partir desta atitude, não há problema
que rompa a serenidade. Porque temperança também diz: serenidade, equanimidade e equilíbrio interior.
O equilíbrio interior
Um não pode se temperado com apenas propondo-o, como tampouco pode ser prudente ou justo. Mas
para tudo temos que pedir ajuda. Sozinhos, não iríamos muito longe. O que acontece é que esse pode
exercitar-se na prudência, na justiça e na fortaleza a força de empenho; mas não pode, por mais que o tente,
ser moderado.
Porque a temperança é o resultado em si mesmo do fato de tentar viver as virtudes. Vem a ser como o
prêmio que recebe quando se esforça durante muito tempo em ser bom. Ou quando um ama muito.
A temperança e a moderação
Outras das interpretações etimológicas da palavra temperança nos remete ao latim. E em latim,
temperança vem de temperantia, isto é, temperatura. Como a temperatura do corpo.
Quando temos uma temperatura de 36,5° não notamos nosso corpo. Nos sentimos bem nele. Em
troca, se passamos de 37°, nosso corpo se faz sentir, por via de mal estar, dores ou mal estar. A temperatura é
o indicado de nossa ordem ou desordem interior. Pois o mesmo ocorre no ânimo.
A ordem do ânimo reflete a ordem de nossas potências. O superior tem mais relevância, pesa mais que
o inferior. Por isso o homem temperado usa moderadamente os bens materiais, porque atende primeiro aos
bem espirituais, que habitam na alma, “nas coisas de cima”. Se, pelo contrário, se dá prioridade aos bens
materiais estes arrastam aos espirituais. Já o disse o refrão.
É bom aborrecer-se?
Dá a impressão de que a temperança se opõe ao aborrecimento. Entretanto, não é assim. O
aborrecimento é positivo se cooperam algumas das seguinte razões:
32
A TEMPERANÇA
Em qualquer caso, o aborrecimento deverá tomar-se como uma medida que serve à educação. Isto é,
como um meio. Mas resulta que nem sempre é para educar pelo que alguém se indigna. Muita vezes, alguém
se indigna porque já não pode mais, por cansaço, desânimo, ou simplesmente porque tem um caráter nevoso.
Estas últimas situações são as que hão que revisar à luz da virtude da temperança. Para ela vale a
expressão,
A temperança e a soberbia
Outro dos riscos que podem atacar a temperança é a soberbia,
- de si mesmo;
- de todo um grupo ou família.
A soberbia, que é o pecado por antomasia, se caracteriza por estas duas notas:
- A suficiência.
- A cegueira.
Ambas notas levam o sujeito a comportar-se de modo rígido e duro, pouco compreensivos com defeitos
dos demais e, pelo contrário, a acreditar que ele não tem nenhum defeito, porque está em posição da verdade.
Assim não pode viver a temperança. Lembre-se a temperança, deriva do amor, e o amor é compreensivo,
tolerante, paciente serviçal ... O soberbo, em troca,
- utiliza às pessoas;
- perverte os valores.
A temperança da paz
A temperança, ao contrário da soberba, se comporta como a saúde. Faz brotar a energia vital e
transmite alegria e otimismo. Dá paz ao sujeito e irradia paz a seu redor. Essa é a diferença com o pacifista.
Paz e paciência têm a mesma raiz. E assim, como a paz é consequência da guerra, às vezes a
paciência não é passividade, mas esperança ativa, que prepara os bons frutos trabalhando-os. Como fez o que
negociou com os talentos recebidos.
A paciência é também sinal de esperança. Quando se luta, nesta maravilhosa tarefa que é a educação,
tudo é para o bem.
Podemos fazer uma agrupação das virtudes conforme os destinatários ou beneficiários das mesmas.
A prudência se traduz em obras ao exterior. Ilumina algumas decisões bem orientadas e corretamente
levadas à prática.
A justiça se ocupa das relações com os demais e com as coisas. As vezes entre essas coisas está a
dignidade pessoal, à qual o indivíduo deve respeito, como se deve aos demais.
A fortaleza leva ao esquecimento de si, na resistência ao mal, e na luta pelo bem. Neste esquecimento
cabe até a entrega da própria vida.
33
A TEMPERANÇA
A temperança é, por fim, como o prêmio que se recebe pela boa ação.
Viver ou tentar viver as virtudes humanas, ou ao menos na medida das forças humanas, produz esse
estado habitual que torna à pessoa tão atrativa, acolhedora, hospitaleira, e sempre disponível.
34
FAÇAMOS UMA REVISÃO
CAPÍTULO – V
FAÇAMOS UMA REVISÃO
Pois bem; pretendemos agora resumir algumas das idéias que foram trabalhadas ao longo do livro, e
se for possível, ratifica alguns conceitos com os quais nos movemos e, fiéis a nosso estilo o faremos servido-
de um caso completo, tal com o fizemos em uma ocasião anterior.
Para o desenvolvimento deste capítulo, escolhemos a mesma fórmula que nas anteriores.
Começaremos pois pela narração, à qual seguirá o comentário.
Assim de supetão foi dada a notícia, e assim tão intenso foi o assombro de Amanda. Após o assombro
veio a histeria:
- Meu Deus, pela segunda vez! Mas o que fiz na vida para merecer isto?
Amanda e Fernando têm quatro filhos. O mais velho, Artur, se casou há três anos, porque, ele também
ia ser pai. Trancou a matrícula na Faculdade -terceiro ano de medicina- e se precaveram, por um tempo, o
jovem casal e a criança, entre uma e outra família de pais, até que Artur conseguiu um emprego de barman em
uma discoteca. Entretanto, Raquel, sua mulher, continuava estudando, ao parecer brilhantemente, carreira de
Letras.
A criança e suas gracinhas encantavam aos avós das duas famílias e se esqueceram dos princípios da
história. A final de contas, o casal, tinha que casar na Igreja, e adquirir a graça do sacramento ...
Só que ultimamente as coisas não ia bem entre os jovens. Raquel reprovava a seu marido o qual não
teve mais ambições, e ela que, com tanto estudo, estava deixando de dar atenção a criança e a ele. Algumas
vezes recorreu a sua mãe para contar-lhe de suas desavenças com sua mulher. Inclusive pensava na
separação. Amanda, que sempre acreditou que sua nora tinha se “casado” com más intenções com seu filho,
secretamente tomou partido por ele. Mãe, enfim ...
Mas desta vez era mais grave; primeiro, porque se tratava de Irene, que era mulher. Segundo, porque
havia por trás uma história de desgostos e de enfrentamentos inúteis que se acumularam nestes dois anos, e
que havia deteriorado de algum modo a relação entre os pais e a filha.
Irene, “passava” pela casa de seus pais, mais “vivia” nela. Quase nunca ia jantar, costumava chegar
por volta das três ou quatro da madrugada, e com a desculpa de que era maior de idade e que trabalhava
dispunha de dinheiro, organizava suas diversões conforme sua vontade, sem inteirar a seus pais do tipo de
vida que levava e das amizades que tinha. Quanto ao mais era uma menina agradável e educada, carinhosa e
prestativa, mas que guardava sua intimidade cuidadosamente.
Os pais o sabiam e sofriam por isso, mas, ao ponto que com as brincadeiras não podiam conseguir
nada, iam passando como podiam, suportando algumas vezes, fazendo como se não se dessem conta de
outras e pulando as ruins. Era sua cruz.
E agora, grávida. A história de Artur se repetiria, claro. Assim que, quando Amanda recobrou o
incentivo e se acalmou um pouco perguntou:
35
FAÇAMOS UMA REVISÃO
- Me caso, mas no civil. Não acredito na Igreja, nem no casamento indissolúvel. Sendo assim, se
algum dia não nos entendermos mais, me divorciarei e em paz. Não quero ficar como meu irmão ...
O desgosto dos pais foi duplo. Fernando acuso a sua filha de pisotear os princípios morais da família,
de prejudicar sua fama (“Como vão pensar que lhe educamos?”). Amanda lhe disse de tudo: que não queria
vê-la pela frente, que a renegava, que era uma má filha...
Irene e o pai de seu filho Ernesto se manifestava muito contentes com a idéia do casamento e de ter
um filho. Assim que o desgosto dos pais lhes parecia algo assim como dano social. Ele “passavam” por tudo
isso. De modo que decidiram convidar à cerimônia às duas famílias -que seria como queria– e organizaram
um almoço em um restaurante da cidade para comemorar o acontecimento.
Pais
Raquel-Artur Irene-Ernesto
A efeitos do que nos interessa, nos centraremos no círculo interior. Observamos nele uma influência
recíproca entre os três elementos, e assim comprovamos, por exemplo que:
Os pais reagem pior ante Irene, porque tinham a experiência de Artur. De ter sido Irene a primeira,
provavelmente teria sido diferente. Estamos ante o problema pela segunda vez.
O caso de Irene é mais grave que o de Artur, porque é mulher. O problema da garota.
Irene não quer casar na Igreja, conforme testemunho próprio, porque não acredita nela, mas
também porque não quer que ocorra a ela ”o mesmo“ que ocorreu a seu irmão. Problema da
Igreja e do casamento indissolúvel.
Artur censura sua irmã. Não aprendeu com os exemplos alheios? Por reflexo de sua própria
experiência, ao parecer não muito positiva. Problema da projeção pessoal.
36
FAÇAMOS UMA REVISÃO
Se observa, em primeiro lugar, que o que pensam fazem e dizem uns tem certa relação com o que
pensam, fazem ou dizem os outros. Isso é o que queremos dizer ao falar de interação. E cada uma das idéias
que aparecem no caso, contém uma mensagem, que faz referência as demais mensagens. Mas vamos fixar-
nos ordenadamente com os quatro problemas que acabamos de formular.
A segunda vez
Ante problemas que se repetem, podem dar-se duas respostas: que se consideram como problema ou
que não lhes dá importância. Aqui vamos referir-nos às primeiras, isto é, aquelas que dão valor ao fato de que
uma filha ficar grávida antes de casar-se, e que decida casar-se apenas no civil, sendo cristã. Neste caso, pode
ocorrer:
a) Que a gente goste menos ainda. Acontece isto quando há alguns princípios firmes.
b) Que a gente se acostume. Pode ocorrer isto por várias razões. Uma delas é a de que não se tem
os princípios muito integrados, o que facilita que a gente se deixe levar pelas opiniões da maioria,
ou pela pressão de grupos de pressão. Esta resposta é muito frequente hoje em dia.
c) Que se descubra o sentido positivo da dor. Esta terceira postura necessita de uma concepção
transcendente da vida. O homem e a mulher, que foram criados para ser felizes, entretanto hão de
ganhar-se essa felicidade com esforço, esforço que comporta dor. E, ante a evidência do mal no
mundo e do mal produzido por nós mesmos, a única razão está em olhar a Cristo, que sendo Deus,
quis abraçar a dor e a morte para salvar-nos e dar-nos exemplo e ânimo. É necessário a fé para
entender esta última postura, mas é certo que a dor também é um bom motivo para aproximar-se a
ela, nem sequer seja por razão de nossa indigência. Já o disse o refrão:?
Onde estão estes pais? Dá a impressão, pelo que nos diz, que podemos situar na primeira e na terceira
postura. Lembremos que incomodar-se não é sempre negativo. Mas tampouco estão livres da opinião pública
(“Como vão pensa que lhe educamos?”), nem de sentir-se ofendidos em seus princípios morais. O que sim
podem fazer é servir-se da contrariedade para aproximar-se mais a Deus e pedir-lhe luz a fim de encarar bem
a situação, cobrando força para enfrentar as decisões corretas.
- Enfoque antropológico.
- Enfoque psicológico.
- Enfoque sociológico.
- Enfoque moral e cristão.
Desde a antropologia, há que lembrar que ambas, o homem e a mulher, são iguais em dignidade, o
que quer dizer que têm os mesmos direitos naturais ... Estes direitos se concentrarão, nas realidades de cada
caso, em um direito e uns deveres civis, idôneos a cada circunstância ou “caminho”. E assim, resultará que a
igualdade radical, sem deixar de sê-lo, se diversificará na prática, por um lado, mas também deverá ter em
conta as condições de cada “caminho” ou via escolhida para passar esta vida, por outro lado.
O chefe de uma empresa, independentemente de que seja mulher ou homem, tem o direito de ser
respeitado, por seus subordinados, sejam estes homens ou mulheres, e estes, o dever de
respeitar-lhe e de cumprir bem com seu contato.
O pai de família tem o dever de amar a seus filhos, ainda que os trate a sua modo, dentro de sua
original individualidade.
- Paula, por exemplo, organizará sua casa de modo diferente como o faz como o faz sua vizinha,
Joana.
37
FAÇAMOS UMA REVISÃO
E assim até o infinito. Isto é, os direitos e os deveres civis estão em relação com os requisitos do cargo
e com a o âmbito de autonomia, iniciativa e originalidade de cada qual. E será mais meritório o que, em
igualdade de condições, o faz melhor.
Outra coisa é que um disponha do próprio corpo para um uso diferente daquele para o qual foi criado.
Aqui podemos falar de requisitos da natureza, onde falávamos de exigência do cargo, ou de deveres e direitos
entre pessoas, grupos ou instituições. Estes princípios (porque estão no princípio, na origem), terão de estar
presentes em qualquer circunstância, e poderão ser vividos conforme o estado civil de cada caso.
A mulher foi preparada pela natureza para procriar, coisa que o homem não pode fazer. Pois bem, esta
diferença biológica condiciona, por um lado, o modo de ser e estar no mundo das mulheres e dos homens, e,
por outro, recebeu um tratamento diferente ao longo da história. Isto é, a diferença biológica condicionou à
percepção psicológica e à interpretação sociocultural e histórica.
Quando uma mulher carrega em seu ventre a uma criança e a ama -as crianças, tão frágeis
fisiologicamente, entretanto têm uma grande força à hora de despertar amor-, sente que está dando vida. Uma
vida dela –descalcificação, descamação da pele e queda do cabelo às vezes, entrega de seu próprio tempo e
interesses-, mas, sobretudo, sabe que está dando uma vida que se começa, e que necessita de sua mãe para
desenvolver-se e levar a cabo, desde o ponto de vista biológico. Desde a antropologia, essa vida é um projeto
de realização. E ninguém tem o direito de impedi-la, ou de, como se diz corretamente, de abortá-la.
Nem todas as culturas pensaram nestes termos, talvez tampouco a atual. Mas isso não é obstáculo
para que não se deva voltar às raízes. E é justamente essa raiz explicativa da maternidade a que deve orientar
a conduta das mulheres. Também a de Irene.
Qualquer criança merece o melhor. As vezes tratamos melhor aos animais que aos “cachorros” de
homem. Pois bem, um modo de dar o melhor a uma criança é
e que sejam os próprios pais que lhe criem e lhe eduquem. Um segundo modo consiste em:
dentro de uma família legalmente constituída. Por último, teria de convidar aos pais a refletir sobre sua
condição de filhos de Deus, e sobretudo o encargo que Deus deu às famílias, desde o Gênesis, de criar os
filhos para o céu.
Desprezar, ou não ter em conta estas qualidades femininas e da maternidade, é, além de uma falta, um
enorme desperdiço de energias.
38
FAÇAMOS UMA REVISÃO
A fé é um dom de Deus. Certamente há quem perde a fé, mas o que acontece a muitos é que “fogem”
das práticas de piedade, na realidade do culto e da assistência à Igreja. Talvez Irene pertença ao grupo dos
“católicos não praticantes“. Contudo, não é nossa intenção catequizá-la. Aceitamos o fato e seguimos adiante.
A Igreja defende e sustenta o matrimônio indissolúvel. Logo virá a vida, com seus problemas. A
indissolubilidade não o remédio aos problemas, tomara que seja. Mas se tem um montão de vantagens.
Mencionaremos algumas:
Dá segurança. Saber que é para toda a vida dá muita tranquilidade, e se podem investir em outras
causas as energias que de outro modo teria que destinar a assegurar-se o futuro.
Dá uma nova oportunidade. Quantas vezes ocorre que aqueles cônjuges, à noite, depois de uma
brincadeira, diziam a si mesmo:
Permite viver o matrimônio com sentido de vocação. Isto é, é um modo de passar pelo mundo
fazendo algo que deixará frutos de amor e é onde ele/ela pode se aperfeiçoar pessoalmente.
Há outras razões, quase todas de mais peso, mas contribuímos com estas que são as que diríamos a
Irene se pudéssemos.
Claro que Irene se confessa fraca à hora de encarar uma fidelidade vitalícia ... Mas não é esse o
argumento válido.
Quem pode afirmar a priori que sempre vai fazer o que promete agora?
Todos somos fracos. O que acontece é que, a nossa fraqueza, se acrescenta a “astúcia” para
encontrar o melhor aliado na graça de Deus, que generosamente reparte a Igreja através dos Sacramentos.
A projeção pessoal
Daniel ri para sua irmã quando passa a noite em sua casa. Fica a dúvida do que quer dizer com essa
frase, que repetimos várias vezes:
Pode ser que queira advertir-lhe sobre o que acontece quando se começam mal as coisas. Ou talvez
seja um modo de retrair-lhe do compromisso matrimonial ... Em qualquer caso está projetando sua própria
história na de sua irmã. Mas isto não é bom. Cada um tem suas cadaunadas, dizia um velho e bom amigo
meu. Irene terá que resistir as consequências de seus atos, juntando fortaleza e responsabilidade. Aos pais ao
irmão, aos amigos e orientadores, lhes corresponderá informar-lhe o mais adequada e corretamente possível,
sobretudo no referente ao matrimônio, incluindo, certamente, uma visão otimista, realista, do matrimônio
cristão.
As perguntas
Lembremos que as perguntas que se fazem Amanda e Fernando dá voltas sobre a conveniência ou
não, de ir à cerimônia do casamento, do almoço, e à oportunidade de convidar ou não aos familiares.
39
FAÇAMOS UMA REVISÃO
Cada vez mais estão estabelecendo situações como está em nosso mundo, e não é infrequente que os
afetados, senão compartilham a idéia do matrimônio civil, se sintam perplexos, sem saber o que fazer. Vejamos
os argumentos que se escondem atrás destas posturas:
Por um lado, está o respeito à relação afetiva ou de parentesco com os noivos. Sobretudo quando
se trata dos pais e dos irmãos.
Por outro, o possível efeito que poderia derivar-se da assistência ou da ausência a este tipo de
atos.
A prudência na atuação
Podemos refletir os três tipos de razões em um triângulo. No vértice, estariam as razões referidas aos
princípios, e nos dois ângulos da base, os referentes as razões de relação humana.
Princípios
Filhos e familiares
Sociedade em geral
Se trata de deliberar, ou de discernir, quais destas razões têm mais peso. Mas, ainda que seja lógico
deduzir que é mais sólido o plano dos princípios, entretanto a relação com os demais é também muito
importante.
Há que pensar no efeito que a presença ou a ausência a um casamento civil ou a sua comemoração
social pode produzir nos demais assistentes ou não. Nos filhos e nos menores de idade, por exemplo. E
decidir, depois de ter ponderado possíveis escândalos ou desorientação. Uma vez mais, nossas decisões hão
de ser guiadas pelo bem dos demais, começando pelos mais próximos.
- Jesus comia com publicanos e pecadores –era a réplica que esgrimiam os parentes, um pouco como
reprovação, outro pouco como pressão ...
E Manoel e Aline sofriam sem saber o que fazer ... Contemplando os custos e benefícios, preferiam
passar por retrógrados e resistir as iras dos familiares. Mas no fundo, ia crescendo a verdadeira resposta:
- Jesus certamente comia com publicanos, não com pecadores (ainda que se aproximara à mesa a
lavar-lhe os pé com perfume e secá-los com seus cabelos). Mas aproveitava a oportunidade para repreender-
lhes, como Simão, ou para perdoar seus pecados como à mulher adúltera. E, a todos, para recomendar-lhes
que não pecassem mais.
40
FAÇAMOS UMA REVISÃO
A presença de Jesus entre os pecadores tinha um sentido redentor. Se queremos seguir-lhe, nossa
presença nestes atos deveria ter um sentido apostólico. Mas quando esse objetivo ficara comprometido pela
incompreensão ou o escândalo farisaico de alguns, de novo teria que seguir ao Mestre, que preferiu resistir as
iras dos duvidosos, antes ofender a Deus.
Ir ou não? Poderíamos perguntar-nos, como Hamlet. A resposta prudente, depois do que dissemos,
seria:
Fazer aquilo que for produzir mais frutos de bem.
As demais virtudes
Para comportar-se assim, olhando a um fim bom, e subordinando os meios a esse fim (ou atuação
prudente), é necessário viver as demais virtudes. Dizíamos que todas se entrelaçam como as cerejas.
Trabalhar com justiça significa dar a cada um o que é seu, sendo por sua vez uma hierarquia correta de
valores.
1. Deus;
2. os demais;
3. eu;
Isto é centrando-nos no tema que nos ocupa, é preferível o servir aos valores permanentes tentando
que os demais os vivam, ainda que seja a custo de desgosto ou de incompreensões.
Mas isto exige o exercício da fortaleza, ou o que é o mesmo, resistir às pressões de fora, quando estas
são incorretas, ainda que isso nos leve a fama, e bons critérios, oportuna ou inoportunamente. A causa do
cristão o vale.
E não cair, na armadilha de fazer tragédia. Isto é, ser moderado, sereno, equânime, sóbrio em
preocupações. Como dizia o mesmo amigo das cadaunadas,
- e se acontece,
- o que acontece?
41
A AUTORIDADE DOS PAIS
CAPÍTULO – VI
A AUTORIDADE DOS PAIS
- É algo fora de moda, impossível de viver, ou não serve para nada, porque total, nada lhe dá
importância ...
Se pode acreditar que esta opinião é própria de alguns, nem de todos, ainda que pareça que hoje está
estendendo-se, não apenas entre os desencantados, mas também entre muitas pessoas.
Por referir-nos a nossos país, e centrando-nos nos últimos cinquenta anos, podemos distinguir três
fases ou etapas de uma duração aproximada de vinte anos cada uma. Estas etapas são:
- anos 40 – 60
- anos 60 – 80
- anos 80 – até hoje.
Anos 40 – 60
Entre os anos quarenta e sessenta, a autoridade paterno-materna não era discutida, ainda que não se
acatara em ocasiões. Teria que falar melhor de autoridade paterna, posto que as esposas e mães recebiam,
em geral, um trato equivalente aos filhos, e a opinião pública recomendava que, ainda que estivessem melhor
dotadas que seus maridos, não deveriam brilhar mais que eles.
A titularidade da cabeça de família recaia nos homens e assim se exercia na maioria dos casos.
Anos 60 – 80
Por um lado, os filhos dependem economicamente dos pais durante mais tempo. Por outro, adquirem
uma maior margem de liberdade. Esta liberdade é encaixada pelos pais de modos diferentes.
Há pais que concordam com o novo sistema de relações familiares. São os pais que reflete a Sra.
Collange em seu livro “Eu, sua mãe”.
Quando a autora desse livro se queixa ante uma real ou suposta filha pós-adolescente (com mais de 18
anos), de que não conversa com ela, que faz sua vida a margem da atenção de seus pais, ou não respeita os
costumes e normas da casa, concentra sua queixa neste lamento:
42
A AUTORIDADE DOS PAIS
Há pais que conservam os valores e normas herdados e se opõem às novidades” que traz uma
liberdade dos filhos que não vai acompanhada da correspondente responsabilidade. São estes pais que
estabelecem a chamada tensão de gerações. Dizemos bem. São os pai, não os filhos, os que criam o
problema. Ao menos, esta é a impressão que se vai introduzindo na opinião pública. Se começa a acusar de
intransigentes, antiquados, autoritários e rígidos. E essa opinião vai diminuindo as convicções desses pais que
se mantém firmes em alguns princípios morais, digamos-o de uma vez, têm raízes cristãs.
Contra a resistência, que arrasta consigo ou provoca uma série de problemas na casa, vai cobrando
força esta outra afirmação:
Para não brigar, é melhor não saber. Ou, se se sabe, fazer como se não soubesse.
Chegamos à última fase, a dos anos oitenta, próxima a nossos dias. Nos anos oitenta, as posições
iniciadas nas etapas anteriores, cobram plena função da natureza. Se definem com toda clareza as posturas
dos pais, nos seguintes tipos (com toda a gama de intermédios, como lógico):
Os pais permissivos.
São os herdeiros daqueles que davam tudo e não reclamavam nada aos filhos. Como se todos os
deveres estivessem do seu lado e todos os direitos do lado dos filhos. Deste tipo de pais podem diferenciar os
subtipos:
1. Os permissivos convencidos
São os que acreditam que, como os filhos são hoje mais “espontâneos” e “sinceros”, são melhores que
os filhos da geração anterior, que eles mesmos inclusive. E dão por boas todos as mudanças, inclusive as que
são objetos de nossa atenção, isto é, a conduta sexual “livre”. Estes pais podem ser simbolizados pela autora
que comentamos, quando em uma parte do livro e em meio de seu lamento pelas desatenções de sua filha, lhe
lembra que ela e sua geração –correspondente ao ’68 francês-, lhes trouxeram a revolução sexual.
São aqueles que, não estando de acordo com as novas modas dos jovens, entretanto, se sentem
exaltados pela pressão de seus filhos -a chantagem agressiva ou sutil- e, sobretudo, pela pressão dos meios
de comunicação. Para ajudar a este tipo de pais foi escrito preferencialmente este livro.
Estes pais estão em fraco retrocesso e a ele pode reservar-se com propriedade o qualificativo de
autoritários. Estes pais optam pela norma, prescindindo da pessoa.
Isto é, são pais que conhecem uma opção de vida que respeita e este ao serviço da dignidade humana
e se aderem a ela, mas, ao aplicá-la, têm em conta às pessoas e suas circunstâncias. Isto é, (se soubemos
fazê-lo bem até agora), são os que se esforçam por servir ao bem de seus filhos através de um correto
exercício da autoridade. A autoridade é pois um meio educativo, não um fim em si própria.
43
A AUTORIDADE DOS PAIS
Podemos enfocar o estudo da autoridade desde três ângulos ou facetas, que estão entre si
relacionadas:
O valor subjetivo
O que vale pode vale para mim ou para todo um grupo ou uma coletividade. Se estamos neste
segundo caso, falamos de valor cultural ou de moda. Cabe também que valha para uns mais que para outros
ou em alguns aspectos para uns mais que para outros, como ocorre em nossa sociedade plural e mutável.
Podemos aventurar dizendo que apreciam mais a autoridade os que mandam que os que têm que
obedecer, ou que é mais valorizada pelos superiores que pelos inferiores. Em geral, esta valorização depende
dos resultados que se obtenham. Isso é, estamos ante uma valorização “funcional” ou utilitário. Assim que,
conforme o serviço ou os benefícios que se obtenham da autoridade, se lhe terá em mais ou menos apreço.
A AUTORIDADE SE MEDE EM
GRAUS DE EFICÁCIA
Não estamos contra este conceito. Apenas que, uma vez mais, haverá que examinar o tema dos
objetivos, cuja qualidade vai permitir pesar e medir a utilidade dos meios. No caso estudado anteriormente,
pretendemos, confirmar o valor positivo da autoridade, quando está a serviço de um bom objetivo.
Na família, que por princípio é uma pequena sociedade, é necessário uma organização. Nesta
organização se incluem os fins (os valores e objetivos mais importantes, em geral os dos pais), e os meios (a
contribuição de cada um, a normas previstas, os costumes e “ritos”). Alguém tem que fazer-se cargo de que
esses fins se alcancem e de que se vivam essas normas e costumes. Pois bem, esse alguém é o que detém a
autoridade. Assim resulta que
Mas continua sendo um valor utilitário ou funcional, útil quando é necessário. Mas útil certamente,
quando a família é numerosa que quando é reduzida. Mas, também, quando os filhos são pequenos.
O valor objetivo
Para explicar o valor objetivo da autoridade -que é boa em si, ainda que a pratique- vamos recorrer,
uma vez mais, à etimologia.
44
A AUTORIDADE DOS PAIS
Autoridade vem de duas vozes, ou está relacionada com dois vocábulos latinos. Por um lado, tem a
mesma raiz que o termo autor, que quer dizer autor, e por outro de augere, que significa elevar, enaltecer,
subir. Em nossa linguagem, equivale a potenciar, enriquece, promocionar.
O autor de si mesmo
Todo autor é reconhecido, quando assina suas obras, seja um quadro, um livro ou um descobrimento.
Assinar uma obra é reconhecê-la como própria e, portanto, assumir as consequências que se derivem de tê-la
criado, se estas são boas ou más. O autor sabe que a crítica valorizará sua obra, mas nem por isso vai deixar
de inventar ou produzir, nem muito menos vai renegar, se é honesto, de reconhecer sua “autoritária”.
O autor se distingue, pois, pelas notas. Por um lado, tem a liberdade de produzir algo que seja seu e o
fazer a sua maneira, ainda que o tenham encarregado. Por outro lado, tem a responsabilidade de assumir as
consequências que se derive do efeito que sua obra vai produzir nos demais e na sociedade.
LIBERDADE E RESPONSABILIDADE
PESSOAL SÃO AS DUAS NOTAS
DA “AUTORIA” DE UMA OBRA,
SEJA DO GÊNERO QUE FOR
Uma obra própria é também uma decisão, na medida em que essa decisão foi tomada livre e
responsavelmente. Portanto tomar decisões se pode entender como:
fazer a si mesmo.
Educar é colocar aos educandos em situações para que tomem decisões livres e responsáveis, isto é,
de que sejam autores de suas obras do que é o mesmo que ser autores de si próprios. González Simancas
dirá:
45
A AUTORIDADE DOS PAIS
Fazer isto, dedicar-se a educar, é uma tarefa custosa e, para os pais, vitalícia. Porque os resultados
são incertos -não se educa para obter resultados, ainda que seja lógico esperá-los e prevê-los-, e porque
alguém dá tudo de si. Portanto, o exercício da autoridade na família há de se entender como um serviço ao
bem dos filhos.
Liberdade
Responsabilidade Serviço
são três condições que avaliam a autoridade, independentemente das circunstâncias ou os pareceres de uns e
outros. Portanto, a autoridade vale por si própria.
Vista como uma virtude, a autoridade se confunde no exercício da ordem. Ou, ao menos, nós vamos
ver desde o exercício da ordem. Há uma primeira questão: a autoridade nasce ou se faz?
A questão é irrelevante. Todos conhecemos a pessoa que ordena muito bem e que de algum modo
nascera com essa qualidade. Se lhes nota porque apenas se irritam, sabem ter contentes a seus subordinados,
e conseguem levar adiante os propósitos do empreendimento no qual estão envolvidos. E isso com total
serenidade, como se não lhes custasse esforço.
Este é o caso dos diretores natos que encontramos, por exemplo, nos líderes políticos ou nos
personagens que configuraram a história passada ou presente. Outras vezes, estes líderes se aperfeiçoam
nas escolas criadas para fazer diretores. Mas, é este o caso dos pais de família, ou das pessoas próximas à
famílias?
Se fosse assim, que apenas pudessem mandar os que sabem fazê-lo porque nasceram com esse dom
ou porque nasceram para isso, teríamos que colocar em dúvida o direito primário que assiste a todas as
pessoas para casar-se e ter filho. Se Deus não coloca obstáculos para ninguém neste tema, quem somos nós
para desqualificar a alguém?
Exceto casos dramáticos –que os pais prendem a seus filhos ou os maltratam de tal modo que há
retirar-lhes a guarda- a lei reconhece e protege os direitos dos pai a exercer a ordem em sua família. Mas não
são as qualidades pessoais, nem a proteção legal, as que avalia ou determinam a qualidade da ordem dos
pais, mas sua condução de pais, em primeiro lugar, e depois, o amor que têm por seus filhos, amor que
acertará em sua atuações ou decisões na mesma medida em que se rege conforme critérios de virtude.
Da maneira que as dote de ordem não pode exigir-se a priori nos pais, ainda que deva animar-lhes a
que reflitam sobre o amor que têm por seus filhos, e que procurem que esse amor se concretize em atos de
serviço. Com o qual uma vez mais, se confirma que
46
A AUTORIDADE DOS PAIS
Outorgar a autoridade a alguém é tanto dar-lhe o poder. Falaremos pois do poder no exercício da
autoridade. Este poder tem duas versões, o domínio por um lado e a sabedoria por outro.
O domínio
a) O plano do reconhecimento por parte dos demais de que alguém possa mandar. Podemos assim
falar de domínio real, que se chama também legal porque está acolhida no direito civil.
O domínio real
- “Meu capitão, meu capitão ... trago um prisioneiro ...”
- “Entre ...”
Com ou sem reconhecimento legal, está claro que o soldado não pode mandar ante um prisioneiro que
o sujeita. As vezes ocorre isto na família, mas não é o comum.
Não é esta tampouco a aceitação que se encerra no termo “real”. Ora bem, nos referimos aos âmbitos
do direito. Por domínio real entendemos o reconhecimento de que alguém possa mandar, e isto, por duas
razões:
Âmbitos de autonomia
Podem os pais mandar sobre seus filhos, sempre e em qualquer plano, ou este exercício do poder tem
que condicioná-lo conforme as circunstâncias?
Mandar sempre e em qualquer plano absurdo e inviável. A história demonstra que os tiranos -que
assim se chama- acabam, ou sozinhos ou desprezados, ou são, entregues à violência desatada de seus
inimigos.
Ordenar bem equivale a usar desse poder corretamente, isto é, colocar-se a serviço daqueles com os
quais se sustenta uma relação de superioridade-inferioridade.
ORDENAR É SERVIR
Contudo, é necessário um âmbito concreto de poder, para que este serviço não fique no terreno dos
princípios. E assim, temos que perguntar-nos por questões tais como:
47
A AUTORIDADE DOS PAIS
a) Podem ordenar os pais a todos os filhos da mesma maneira, sem fazer distinção de idades, sexo
ou caráter?
b) Pode mandar, também da mesma forma no plano da conduta exterior (ações), e no da conduta
interior (pensamentos, crenças, valores)?
É critério de prudência –ou de sentido comum, que afinal de contas é o mesmo responder que as
circunstâncias pessoais dos filhos são fatores que condicionam o exercício da autoridade dos pais.
Todo mundo sabe que há filhos mais sensíveis que outros aos prêmios e castigos, ou que sentem mais
que outros a um erro ou a uma injustiça. Com estes filhos os pais costumam ter mais cuidado com sua
conduta, sobretudo se se trata de decidir sobre eles, ou se os assuntos se referem ao âmbito de sua
intimidade. Em geral, se admite que com as pessoas emotivas –sentimentais, nervosas ou coléricas- há que
ser mais cautelosos que com as fleumáticas, amorfas e apáticas. O caráter de cada filho é um fator ao qual há
que adaptar-se.
O que se trata de um menino ou uma menina também influência à hora de outorgar permissivos, como
por exemplo, as saídas noturnas. Não por machismo pernoitado, mas porque as meninas têm menos
resistência física ante um eventual agressor.
Por último está a idade. É do domínio pública que os meninos pequenos têm menos campo de
autonomia que os filhos maiores. A autonomia vai se adquirindo paralelamente ao aumento da
responsabilidade -ou se gradua para que se possam ter experiência de responsabilidade-, mas em todo caso,
há um convencionalismo aceito, que marca uma linha divisória nesta relação de autonomia-presença de
responsabilidade: a maioridade.
Dos três fatores anteriores parece ser a idade o dado mais significativo à hora de deliberar, decidir e
intervir os pais no âmbito das conduta dos filhos.
Lembremos. Há dois tipos de condutas, externas –ou ações– e internas -ou pensamentos, sentimentos,
crenças e valores-. Pois bem, quando se trata de crianças pequenas, os pais podem informar, ajudar a viver ou
exige seu cumprimento, em um amplo leque de questões que vão desde a conduta exterior -normas de
disciplina e de convivência- até a interior –costumes religiosos, valores pessoais, familiares e sociais-. Sem
grandes preocupações pelo que dirão, os pais sensatos sabem que:
- ainda que as crianças tenham uma consciência que lhe dita o que está certo e o que está errado,
- para o qual a autoridade de seus pais é fonte de moralidade. O que aprovam os pais é, para as
crianças pequenas, o bom.
Isto é prudência, não imposição. Há em nossa época algumas correntes liberais que pretendem
“antecipar acontecimentos“, acreditando ingenuamente que as crianças sabem decidir sempre, e que sem guia
escolheram melhor. E assim o que conseguem é desorientá-los.
As coisas mudam com a maioridade, aos 18 anos hoje. Por um lado, aumenta sua autonomia real
(horários flexíveis, maior participação nas decisões, projetos pessoais, etc ...)
Os pais vão restabelecendo-se a um discreto segundo plano em muitos assuntos, e é bom que seja
assim. Mas, e quando se trata de aspectos que afetam à consciência, isto é, que são de índole moral ou
espiritual? Os pais têm que inibir-se também do que acreditam, pensam ou sentem seus filhos.
O poder real e legal dos pais é vitalício. Suas formas, em troca, hão de adaptar-se à crescente
autonomia dos filhos, autonomia que lhes vem dada não apenas pelo que são -dignos e responsáveis nos
casos melhores, mas nem sempre- mas pelo acordo dos 18 anos. Este dado “marca”, por assim dizê-lo, uma
relação paterno-filial de mais nível nas diferenças. Os pais e os filhos maiores vão se igualando.
Assim que no plano da conduta interior pode discrepar uns e outros, não deve atuar de modo
impositivo, coativa sobre a consciência de alguém. Ora bem, o que esteve na verdade contraiu com ela uma
dívida: servi-la.
Normalmente se acredita que são os pais os que farão este trabalho com seus filhos. Mas às vezes, e
tomara que ocorra muito mais vezes, são os filhos os que podem ajudar a seus pais.
Se isto ocorre, se pode chegar a produzir a igualação entre as gerações pela via da correspondência,
que é tanto como dizer co-responsabilidade.
Se o amor se concretiza no diálogo dar-receber, os pais e os filhos serão amigos entre si quando tantos
uns como outros estiverem em condições de
DAR AO OUTRO
RECEBER DO OUTRO
Se olhamos à conduta exterior, isto é, às ações, teremos também que matizar. Os filhos têm uma
grande liberdade de ação em muitos planos: amizades, estudos, ócio dinheiro tempo, etc. Têm também alguma
restrição que se podem resumir no ditado popular.
O QUE PAGA
MANDA
Quando falam de “pagamento”, estamos certamente evocando o dinheiro. Isto é, se os pais dão
dinheiro a seus filhos, inclusive se são maiores de idade, têm direito a conhecer o destino desse dinheiro ou a
menos quando o algarismo é significativo, e também têm, direito a opinar ao respeito. Mas também há
“pagamentos “ não monetários, como é o sustentamento do filho no lar.
No princípio, os donos da casa são os pais. A eles, pois, lhes corresponde estabelecer as normas que
querem que rijam na convivência, bem entendido que essas normas terão de atender às necessidades e se
adotarão às circunstâncias de todos, sempre com flexibilidade, prudência e, no possível, mediante decisões
compartilhadas.
49
A AUTORIDADE DOS PAIS
Esta realidade é, na maior parte dos casos, prazerosa e não estabeleça problemas. Mas alguma vezes
se há problemas. Então o momento de lembrar a dimensão legal e real do domínio paterno-materna, o qual vai
obrigar aos pais os primeiros, por razão do serviço de bem a seus filhos que justifica o uso de sua autoridade.
Não é apenas uma razão de serviço aos filhos que leva aos pais exercer o domínio. É também uma
oportunidade para seu próprio desenvolvimento pessoal e dos pais.
Ao exercer a autoridade, os pais aprendem a servir, mas também tem oportunidade de saber mais.
Saber mais pode ajudar-lhes a ser melhores, mais donos de seus atos mais livres, mais seguros.
Esta era (ou é) que permite contrair matrimônios “a distância” quando os noivos estão separados e não
podem reunir-se para casar-se. Uma pessoa –um amigo em geral- representava ao noivo na cerimônia de
casamento, e assim os noivos, se convertiam em esposos podiam juntar-se sem reparo das famílias nem
impertinência da pessoa.
Para que esta fórmula fosse positiva, era necessário testemunhar que o noivo não podia recorrer junto
à noiva, mas também se esperava que o amigo fosse fiável, isto é, que não mudaria a suplência pela
suplantação.
O noivo delegava em um amigo o poder de representar-lhe, justamente, porque ele era o noivo isto é,
era ele quem tinha o domínio ou faculdade para delegar. E o “delegado“ devia responder à confiança de quem
tinha esse poder.
Este exemplo nos serve para explicar uma das dimensões da autoridade como domínio, na realidade,
para podê-lo aplicar às relações entre o pais e os filhos.
Mas os pais nem sempre podem estar adiante para educá-los, nem tampouco ”dominar” todas as
matérias que compõem o corpo de conhecimento ou capacidades da educação. Daí que devam procurar uns
“delegados”, que são normalmente os professores alguns peritos, amigos ou inclusive os filhos maiores sobre
os pequenos. Estes, em lei, devem ser colaboradores dos pais, não seus competidores, e devem atuar como
suplente, não como suplantadores.
Tanto o noivo como os pais, quando delegam, outorgam sua confiança, e com ela, concedem as
vítimas uma ampla mudança de manobra -iniciativa, atuação, poder- mas se reserva a última palavra, que
consiste em conservar o direito a reiterar-lhe o “poder” se por alguma razão estes deixam de merecer sua
confiança, ou se portam de modo desleal.
O tema que ocupa nossa atenção aqui, o domínio paterno-materna entendida como faculdade para
delegar, tem um amplo campo de ação nas interferências que podem haver entre a família como instituição
outra agência sociais educativas (a escola) ou políticas (o Estado).
50
A AUTORIDADE DOS PAIS
Faz um tempo a televisão espanhola difundiu um “spot” publicitário, onde se fazia propaganda de
preservativos destinados aos jovens. Neste anúncio -apresentado em forma de cena-, estava presente um
grupo de jovens e um professor. Brilhavam por sua ausência os pais. Essa foi uma boa oportunidade para
lembrar a todos a quem compete primariamente a autoridade como poder -de decidir, de ordenar as virtudes –
prudência, justiça, fortaleza e temperança– para reclamar esse poder se em um algum momento é arrebatado.
Dizíamos anteriormente que o domínio podia ver-se de duas formas: real e legal, ou moral ou
autocrítica. Nos toca agora desenvolver este último ponto.
A autoridade moral equivale ao reconhecimento inteligente e livre que a gente faz sobre a
superioridade de alguém. Esta superioridade pode ser reconhecida em dois planos. O primeiro, pelo bem que
se faz ou que se tem que fazer, ou competência. O segundo, pela razão das qualidades humanas ou virtudes
de quem faz o que tem que fazer, ou admiração.
Assim como sobre a competência apenas pode julgar com propriedade os que sabem disso, isto é, os
que são também competentes na mesma matéria, se admira alguém quando lhe reconhecem como valiosas
determinadas qualidades, todavia quando quem admira não as tem. Competência e admiração se fundam na
linguagem corrente no vocábulo prestígio.
Daí que, antes de conseguir prestígio, os pais e educadores, também os professores e governantes ou
qualquer um que ocupe um posto de categoria superior deva interessar-se em fazer bem as coisas. O normal
será que lhes “presenteie” também o prestígio, mas, nem sempre ocorre, nem automático. Ora bem, se a
concede isso é muito bom para aproveitá-lo, sem a intenção de servir melhor aquele que tem seu cargo.
Funcionando assim se está contribuindo ao aperfeiçoamento, não apenas dos filhos, mas dos próprios
pais.
A sabedoria
Com este ponto acabamos de descrever os conteúdos ou operações da autoridade, que podemos
refletir graficamente assim:
Mandar
Poder Saber
51
A AUTORIDADE DOS PAIS
OS ADULTOS BENEFICIÁRIOS
DA EDUCAÇÃO
SÃO OS EDUCADORES
- está aberta e ao alcance daquele, com coração nobre e reta intenção, orienta sua vida ao amor e
por amor, converta seu campo de atividade em ocasião de oferecer a todos, sobretudo aos que
lhes está encomendado, o melhor serviço de que seja capaz.
“ ... essa autoridade inconfundível, que não violenta e oprime, mas que apaixona e entusiasma a
paternidade“.
Enquanto os pais correm com os gastos da casa, a ele lhes corresponde a última palavra na
determinação das regras do jogo da convivência familiar seja no plano da presença física como no da
colaboração na casa, material ou moral. Certamente estas regras serão flexíveis, ou mais flexíveis que com os
filhos menores, mas o mais importante que os pais tenham direito a dizer algo a respeito.
Calar e aguentar, ou aceitar indiscriminadamente os costumes dos filhos, sem que estes tenham em
conta os mínimos deveres para com seus pais, que afinal de contas são os que pagam, é um ato de injustiça
por parte dos filhos. Como ocorreria se os pais não reconhecessem que seus filhos cresceram e que muita
vezes querem medir esse crescimento em graus de autonomia. É toda uma aprendizagem para as duas
partes, o de inteirar-se em conviver com algumas pessoas sem hipotecar a liberdade de ninguém.
O problema mais grave se estabelece, entretanto, no âmbito da consciência. Isto é, no qual pensa os
filhos e nos quais pensam os pais.
Aqui não cabe exigir uma correspondência “ao que se paga”. Não se pode comprar a consciência de
ninguém. Entretanto, a educação alcança esse âmbito, sobretudo a esse âmbito, e portanto lhes compete aos
pais.
a) Passar-se por Pedrinho, sem tomar represália senão lhes dá importância. Ou, o que é o mesmo,
não cansar-se nem jogar a toalha.
52
A AUTORIDADE DOS PAIS
b) Marcar alguns limites debaixo dos quais o respeito à consciência se traduz em cumplicidade ao
mal. Isto é,
não toleram leituras espetáculos, condutas ou conversações que denigrem o tom moral da família
ou deterioram o respeito que merece a própria casa;
não permitir que o filho enganado influa negativamente entre seus irmãos menores.
2. A flexibilidade
As idéias anteriores se apresentam como critérios de atuação que deveriam ser revisados conforme
as condições do sujeito, as possibilidades do ambiente ou qualquer outro tipo de dificuldades.
“Revisados” não quer dizer que devam desprezar-se. Talvez tenha de reprovar-se a decisão, como
víamos anteriormente se o custo é muito elevado.
No caso “A saída“, por exemplo, a firmeza de Flávia pode ver-se como uma insolência, se ela se nega
a outorgar certa razão aos pais. Neste sentido pode ser que a lição que recebe com a saída seja mais
importante que a aparente perca da filha para os pais. Em outros casos, onde a falta se deve à pura fraqueza,
talvez tenha que dar um pouco de corda ...
Falamos da autoridade como ordem e como poder. Nos resta agora tratar da autoridade como saber.
A sabedoria responde ao que os romanos chamavam autoritas, e que nós entendemos como
ascendência moral ou prestígio. Falaremos pois da autoridade desde o âmbito do prestígio.
Voltando ao tema da eficácia, que mencionamos anteriormente, acreditamos que este tipo de prestigio,
mais encontrado que procurado, pode estar na base da eficácia educativa dos pais e dos educadores em geral.
Com o qual conectamos com outra idéia exposta mais acima: ao educador não deve importar-lhe tanto os
resultados de sua gestão, quanto fazê-lo bem ele mesmo. Em algum momento tive a intenção de titular este
livro com o seguinte parágrafo.
Mas isto é errôneo. Os pais nunca foram pais ante de ter seu primeiro filho. Para dizê-lo com toda
certeza, não são os pais que fazem aos filhos, mas os filhos que fazem aos pais.
53
A AUTORIDADE DOS PAIS
“Fazer aos pais” equivale a colocar-lhe em transe de descobrir até onde pode levar-lhes o amor que
têm por seus filho , no plano das virtudes humanas. Isto é,
Assim resulta que, passado o tempo, os pais que querem educar bem a seus filhos a força de
examinar-se a si mesmos sobre as mesmas questões nas quais querem que seus filhos estejam ”fortes”, estão
desenvolvendo as ganas de responder positivamente às exigências dessas mesmas questões. Vão se
aperfeiçoando, em suma. São coisas que faz o amor.
54
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
APÊNDICE
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Na impossibilidade de mostrar aqui todas as idéias expostas no texto, pegamos as que nos pareceram
mais significativas.
1) Os pais costumam pedir receitas na educação de seus filhos, mas isso não garante que os filhos a
seguirão. Sendo assim,
5) O bom educador intervém quando é necessário e apenas do modo que for necessário, ocultando-
se à hora de recolher os frutos:
FAZER E DESAPARECER
55
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Por cansaço.
Se lembra o fato.
Se esquece a ofensa.
A TEMPERANÇA SE VIVE
QUANDO SE AMA
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ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
16) Lembre:
A suficiência.
A cegueira.
Primeiro, atrai,
Depois, irrita,
Por último, repele.
não saber;
e, para não saber;
não perguntam.
20) Na família:
A DESORIENTAÇÃO É
O PREÂMBULO DA MANIPULAÇÃO
57
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
58
ÍNDICE
ÍNDICE
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................................
Somos a geração perdida?...............................................................................................................................1
Os problemas de pais e os educadores de hoje..............................................................................................2
Decisões e virtudes humanas...........................................................................................................................3
O que é uma decisão?......................................................................................................................................3
a) É pessoal, não coletiva.................................................................................................................................3
Objetivos do livro...............................................................................................................................................4
Estrutura do livro...............................................................................................................................................4
Desenvolvimento do livro..................................................................................................................................5
CAPÍTULO - I
A PRUDÊNCIA.....................................................................................................................................................7
Comentário do caso “Elisa”...............................................................................................................................7
Os valores.........................................................................................................................................................7
Os sentimentos.................................................................................................................................................8
O problema de Bárbara....................................................................................................................................9
Agir com a cabeça............................................................................................................................................9
Os custos da decisão......................................................................................................................................10
A decisão de Bárbara.....................................................................................................................................10
A virtude da prudência....................................................................................................................................11
CAPÍTULO - II
A JUSTIÇA.........................................................................................................................................................14
Comentário de caso Marta..............................................................................................................................14
A deliberação..................................................................................................................................................14
O juízo.............................................................................................................................................................15
A ordem...........................................................................................................................................................15
A preparação...................................................................................................................................................15
Os contos da entrevista..................................................................................................................................16
O prêmio da boa ação....................................................................................................................................16
A justiça como fidelidade................................................................................................................................17
Fidelidade e união no matrimônio...................................................................................................................18
Condutas que se opõem à justiça..................................................................................................................18
CAPÍTULO - III
A FORTALEZA..................................................................................................................................................19
Comentário do caso “A saída”........................................................................................................................19
Os elementos da saída...................................................................................................................................19
A fortaleza como resistência...........................................................................................................................20
Comentário do caso “Carmem”.......................................................................................................................23
O “conselho” de um pai...................................................................................................................................23
Abandonar por cansaço..................................................................................................................................24
A fortaleza como ataque.................................................................................................................................24
Comentário do caso “Guto”.............................................................................................................................25
Comentário do caso “Os convidados”............................................................................................................25
Um certo elogio da fraqueza...........................................................................................................................25
Síntese das três primeiras virtudes cardinais.................................................................................................26
59
ÍNDICE
CAPÍTULO – IV
A TEMPERANÇA...............................................................................................................................................27
Comentário do caso “Carla e Daniel”.............................................................................................................28
A dignidade dos filhos e dos pais...................................................................................................................28
A dignidade dos pais.......................................................................................................................................28
A confissão......................................................................................................................................................28
O filho pródigo.................................................................................................................................................28
A virtude da piedade.......................................................................................................................................29
O perdão e a necessidade..............................................................................................................................29
O perdão e o esquecimento............................................................................................................................29
Comentário do caso “A avaliação pendente”.................................................................................................30
O problema existe para ser resolvido.............................................................................................................30
A virtude da temperança.................................................................................................................................30
O equilíbrio interior..........................................................................................................................................31
A temperança e a moderação.........................................................................................................................31
É bom aborrecer-se?......................................................................................................................................31
A temperança e a soberbia.............................................................................................................................32
A temperança da paz......................................................................................................................................32
CAPÍTULO – V
FAÇAMOS UMA REVISÃO...............................................................................................................................33
Comentário do caso “Um duplo desgosto”.....................................................................................................34
Relato ou a interação entre os personagens..................................................................................................34
A segunda vez................................................................................................................................................35
Se trata de uma garota...................................................................................................................................35
A Igreja e a indissolubilidade do matrimônio..................................................................................................36
A projeção pessoal.........................................................................................................................................37
As perguntas...................................................................................................................................................37
A prudência na atuação..................................................................................................................................38
“Mais papistas que o Papai”?.........................................................................................................................38
As demais virtudes..........................................................................................................................................39
CAPÍTULO – VI
A AUTORIDADE DOS PAIS..............................................................................................................................40
Um objetivo de nosso tempo..........................................................................................................................40
Sobre a tensão das gerações.........................................................................................................................40
Conceitos de autoridade e sua relação com a autoridade dos pais...............................................................42
A autoridade como valor.................................................................................................................................42
A autoridade para fazer autores.....................................................................................................................43
A autoridade como virtude..............................................................................................................................44
A autoridade como um tipo específico de relação humana...........................................................................45
O domínio real.................................................................................................................................................45
Âmbitos de autonomia....................................................................................................................................45
O aperfeiçoamento dos pais...........................................................................................................................51
APÊNDICE
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS.....................................................................................................................53
ÍNDICE................................................................................................................................................................57
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