BALCÃO DE

REDAÇÃO
TEMA 8 – 2021 | Período de 22 a 28 de março PRÉ-VESTIBULAR
PV
O VALOR DO ÓDIO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

ORIENTAÇÕES PARA O ALUNO

A coletânea a seguir suscita reflexões sobre o sentimento de ódio presente no mundo contemporâneo. Manifestando-se de diferentes formas
nas esferas individual e coletiva, esse sentimento se torna um entrave para o diálogo e a convivência entre as pessoas, contrariando princípios de-
mocráticos. Além disso, parece ser uma cultura que favorece a lógica da competitividade da qual fazemos parte, atendendo a interesses específi-
cos e sendo incentivada de diversos modos, ainda que as pessoas não percebam. Procure pensar em algumas dessas formas de incentivo ao ódio
presentes em seu cotidiano, nos hábitos de consumo ou nas interações sociais e associe-as aos textos para desenvolver a proposta de redação.

TEXTO 1
Berço de pedra
O ódio fica mais jovem a cada dia.
NEWTON, Moreno. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4123371/mod_resource/content/2/40%20microcontos%202017%20-%20
divisa%CC%83o%20por%20grupos.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2021.

TEXTO 2

Disponível em: <www.otempo.com.br/charges/charge-o-tempo-24-10-2016-1.1389969>. Acesso em: 24 fev. 2021.

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TEXTO 3 TEXTO 5
O que é discurso de ódio? Quem tem medo do cancelamento?
[...] O discurso de ódio, como limite da liberdade de expressão, [...] A cultura do cancelamento aprofunda e radicaliza a prá-
diz respeito a um discurso muito específico e tem três características tica da lacração, entendida como pronunciamento contundente e
principais: a primeira delas é que ele é um discurso de conteúdo definitivo que tende a silenciar o outro. Por exemplo, “você lacrou
discriminatório; a segunda delas é que é um discurso que se dirige a muito naquele discurso” quer dizer que a pessoa fez um discurso
um grupo de pessoas no geral; e a terceira delas é que é um discur- muito bom, que não pode ser refutado ou é uma maneira irônica
so que é proferido no debate público de ideias. [...] de indicar um texto muito grande ou um argumento excessivo. Já
GROSS, Clarissa. “O que é discurso de ódio?”. Nexo Jornal, 8 dez. 2020. “cancelar” é um verbo usado para suspensão de um serviço, curso
Disponível em <https://pp.nexojornal.com.br/pergunte-a-um- ou dispositivo. Isso sugere que estamos diante não só da supressão
pesquisador/2020/11/02/Clarissa-Gross-o-que-%C3%A9-discurso-de- da fala do outro, mas da redução dele a uma coisa ou objeto.
%C3%B3dio>. Acesso em: 24 fev. 2021.
Cancelamentos individuais podem não afetar muito os “cance-
lados”, porque, muitas vezes, para obter maior frequência de en-
TEXTO 4 gajamento em A, é preciso estar disposto a perder o engajamento
A máquina do ódio: notas de uma repórter em B; outras vezes, o poder de engajamento em A é inteiramente
sobre fake news e violência digital dependente da posição anti-B. Mas essa prática destrói reputações
[...] Na versão moderna do autoritarismo – em que governantes e cria mecanismos de extorsão social que provocam cada vez mais
não rasgam a Constituição nem dão golpes de Estado clássicos, medo e hesitação, reduzindo a participação ativa em diálogos e de-
mas corroem as instituições por dentro –, não é necessário censurar bates. Opiniões de gosto e declarações de preferência podem levar
a internet. Nas democracias “iliberais”, segundo o vernáculo do pri- alguém a ser cancelado “por associação”, indicando que estamos
meiro-ministro húngaro Viktor Orbán, basta inundar as redes sociais em progressão para uma situação de condominização social da vida
e os grupos de WhatsApp com a versão dos fatos que se quer em- digital, com progressiva exclusão do que nos contraria e das diferen-
placar, para que ela se torne verdade – e abafe as outras narrativas, ças que não conseguimos tramitar ou mediar psiquicamente.
inclusive e sobretudo as reais. [...] Tudo indica que há um prazer específico no cancelamento, por
Uma vez “impulsionada”, a narrativa é então propagada natu- isso ele funciona melhor, como prática psíquica, contra pessoas com
ralmente pelas redes orgânicas, que são as pessoas de carne e osso quem podemos nos identificar. Mas o que significa exatamente se
que acreditam naquilo que está sendo veiculado. Os estadunidenses identificar? Há várias acepções para isso na psicanálise e na teoria
chamam isso de firehosing, derivado de fire hose, mangueira de in- social, porém, para os propósitos do cancelamento, identificar-se é
cêndio – trata-se da disseminação de uma informação, que pode ser incluir-se na mesma categoria do outro, em função de um traço de
mentirosa, em um fluxo constante, repetitivo, rápido e em larga esca- afinidade. Cancelar, seria, nesse sentido, se desidentificar? Sim e não,
la. As pessoas são bombardeadas de todos os lados por uma notícia – porque a identificação em espelho, baseada no ódio ou na rivalidade
site de notícias, grupos de WhatsApp, Facebook, Instagram – e essa concorrencial, é ainda assim um tipo de identificação. O oposto da
repetição lhes confere a sensação de familiaridade com determinada identificação – assim como o do amor – não é o ódio, mas a indiferen-
mensagem. A familiaridade, por sua vez, leva o sujeito a aceitar certos ça. A cultura do cancelamento pode ser compreendida como parte da
conteúdos como verdadeiros. Muitas vezes, esse será o primeiro con- luta entre as pessoas por um tipo de reconhecimento. [...]
tato que ele terá com determinada notícia – e essa primeira impressão DUNKER, Christian. “Quem tem medo do cancelamento?”. Gama,
é muito difícil de desfazer. [...] 26 jul. 2020. Disponível em: <https://gamarevista.com.br/semana/ta-
com-medo/o-medo-da-cultura-do-cancelamento/>.
MELLO, Patrícia Campos. “A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre
Acesso em: 24 fev. 2021.
fake news e violência digital”. São Paulo: Companhia das Letras. 2020. Dis-
ponível em: <https://books.google.com.br/books?id=BjbrDwAAQBAJ&pg=
PT14&lpg=PT14&dq=Na+vers%C3%A3o+moderna+do+autoritarismo+ PROPOSTA DE REDAÇÃO
%E2%80%93+em+que+governantes+n%C3%A3o+rasgam+
a+Constitui%C3%A7%C3%A3o+nem+d%C3%A3o+golpes+ Tomando como base a leitura e a análise dos textos bem como
de+Estado+cl%C3%A1ssicos&source=bl&ots=3HLenxNCyD&sig= o seu repertório prévio, redija uma dissertação-argumentativa
ACfU3U1HOeibkS4_a_dpl7wRwFUmfResyA&hl=pt-BR&sa=X&ved= defendendo um ponto de vista sobre o tema O valor do ódio na
2ahUKEwjRzveWrYPvAhXGIbkGHWsGDGIQ6AEwAXoECAIQAw#v= sociedade contemporânea. Lembre-se de planejá-la com caute-
onepage&q=Na%20vers%C3%A3o%20moderna%20do%20autoritarismo%20
la, delimitando e sustentando um ponto de vista claro por meio de
%E2%80%93%20em%20que%20governantes%20n%C3%A3o%20rasgam%20
a%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20nem%20d%C3%A3o%20golpes%20
raciocínios lógicos consistentes e exemplos a eles conectados, com
de%20Estado%20cl%C3%A1ssicos&f=false>. Acesso em: 24 fev. 2021. coesão e coerência. Além disso, cumpra os seguintes critérios:
(Adapt.). • dê um título ao texto;
• evite excesso de paráfrases ou cópia de trechos da coletânea
para não zerar a sua redação;
• respeite o mínimo de 24 e o máximo de 30 linhas.

Boa produção!
Professora Andressa Tiossi

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Orientações para o professor

Na atualidade, culturas de cancelamento, linchamento e discursos
de ódio estão amplamente presentes em variados círculos sociais. A
coletânea oferece alguns exemplos concretos dessas manifestações.
Em sala de aula, o assunto pode ser explorado por meio da coleta
de novos exemplos com os alunos. Ao desenvolver a redação, é im-
portante que a análise seja encaminhada para os seguintes pontos:
a quem interessa a cultura do ódio? Quem se beneficia com o in-
centivo à competitividade extrema e com o destaque à intolerância?
Para além da esfera política, há empresas e instituições que lucram
com o aumento das fragmentações sociais; não à toa redes sociais
nos direcionam a conteúdos que já nos são familiares, distanciando
o que é diferente; marcas reforçam ideais de identidade pautados
na segregação; polarizações no esporte são incentivadas sob a
justificativa de “amor à camisa”, entre outros. Inicialmente banais,
esses exemplos presentes no cotidiano serão fundamentais para o
planejamento do texto, porque apontam para o valor atribuído à
distinção em detrimento da convivência.

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