Manual Ibram 2019 07 14 r0f 1
Manual Ibram 2019 07 14 r0f 1
Manual Ibram 2019 07 14 r0f 1
Capítulo 1. Introdução
1.1 - Contexto
As empresas de mineração têm investido na gestão de rejeitos para garantir a sustentabilidade de suas
operações, sendo este um dos seus maiores desafios atuais. Os recentes acidentes comprovaram a
necessidade deste investimento e sua relevância para a segurança de barragens e estruturas de disposição
de rejeitos.
Esta não é uma questão nova. O Boletim 121 da Comissão Internacional de Grandes Barragens (ICOLD, 2001)
já concluía que fatores não-técnicos, como a gestão inadequada das estruturas, estão entre as principais
causas de ruptura de barragens de rejeitos. O mesmo ponto é ressaltado na análise dos acidentes das
barragens de rejeitos de Mount Poulley (2014) e Fundão (2016) e da barragem de acumulação de água de
Oroville (2017).
De fato, a análise destes últimos grandes acidentes com barragens parece indicar que os avanços técnicos
talvez não tenham sido acompanhados por avanços correspondentes nos modelos de gestão destas
estruturas.
Dentro deste contexto, ao longo do ano de 2018, foi elaborado o presente Guia de Boas Práticas, com o
objetivo de reunir conhecimento sobre o tema “Gestão de Estruturas de Disposição de Rejeitos” e apresentá-
lo de forma resumida e adaptada ao contexto brasileiro.
Cabe destacar que este é um Guia de Boas Práticas e, portanto, um documento conceitual e que não tem a
intenção de normatizar pontos específicos ou apresentar soluções para casos individuais. Não se trata,
portanto, de um manual para ser consultado em busca de respostas predefinidas, mas de um conjunto de
diretrizes cuja aplicação requer interpretação profissional e adaptação a cada caso e à cultura e realidade de
cada empresa.
Para dar abrangência às propostas de boas práticas indicadas neste Manual, as estruturas de disposição de
rejeitos foram definidas como:
Estruturas de disposição de rejeitos são o conjunto de estruturas de engenharia e seus componentes
envolvidos no gerenciamento de rejeitos sólidos ou sedimentos, incluindo sistemas de distribuição de
rejeitos e de recuperação de água, barragens, barramentos, diques, cavas com barramentos construídos e
empilhamentos.
O objetivo é abranger todas as estruturas que possam fazer parte da operação de uma mina e sejam utilizadas
para a disposição de rejeitos, sedimentos e/ou lamas (incluindo diques de fechamento ou estruturas de
retenção para rejeitos espessados), contenção de sedimentos gerados por erosão hidráulica, acumulação de
líquidos contaminados, coleta de percolado, fechamento de cavas exauridas em cavas de mineração e
acumulação de água industrial para o beneficiamento de minério.
É importante enfatizar que a gestão de estruturas de disposição de rejeitos é uma questão multidisciplinar e
na maioria das vezes envolve a necessidade de interação entre os diversos departamentos/unidades de uma
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OPERAÇÃO: consiste na fase da vida útil da instalação na qual as estruturas receberão os rejeitos, sedimentos
ou água, podendo vir a ser alteadas conforme projeto. Nesta etapa estão incluídas as atividades de operação,
alteamentos, monitoramento (inspeção visual e instrumentação) e manutenção do sistema.
ENCERRAMENTO: fase do ciclo de vida da estrutura que se inicia com a confirmação de que esta já alcançou
o fim da sua vida útil e/ou não é mais necessária no contexto operacional do empreendimento e, portanto,
poderá ser desativada ou descaracterizada (tomada de decisão da empresa).
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■ Capítulo 1 - Introdução
■ Capítulo 2 - Pilares Fundamentais para a Gestão de Barragens e Estruturas de Disposição de Rejeitos
■ Capítulo 3 - Diretrizes para um Sistema de Gestão de Estruturas de Disposição de Rejeitos
■ Capítulos 4 a 7 - Boas Práticas de Gestão Aplicáveis às Diversas Etapas do Ciclo de Vida de uma
Estrutura
O Capítulo 1 apresenta uma breve introdução e as motivações que levaram à elaboração deste Guia de
Gestão.
O Capítulo 2 apresenta os princípios que devem nortear a gestão de estruturas de disposição de rejeitos,
tendo como principal referência as lições aprendidas com os acidentes mais recentes com barragens no Brasil
e no mundo, podendo ser destacadas as questões de governança e de gestão de riscos.
É importante destacar que os Capítulos 2 e 3 tratam das definições e ações estruturantes aplicáveis a todo o
ciclo de vida das estruturas e devem ser consultados para o entendimento pleno das boas práticas detalhadas
nos Capítulos 4 a 7 subsequentes.
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Figura 2.1 -Pilares fundamentais para a segurança de barragens e estruturas de disposição de rejeitos
(adaptado de Bittar, 2017).
No caso das barragens, e em especial das barragens de mineração, cabe destacar que o contexto regulatório
fornece um arcabouço mínimo de ações em prol da segurança destas estruturas, com foco na fase de
Operação, Monitoramento e Manutenção. As boas práticas aqui apresentadas vão além deste conjunto de
ações e incorporam fatores de prevenção e/ou atenuação de consequências de acidentes, com base em
lições aprendidas e aplicáveis a todo o ciclo de vida de estruturas de disposição de rejeitos.
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nas condições de operação, nos materiais a serem depositados, dificuldades na retenção e padronização de
informações, introdução de novas tecnologias, mudanças no contexto regulatório, evolução da percepção
do risco pela sociedade, dentre outras.
Consequentemente, é essencial estabelecer um sistema
Um sistema de gestão pode ser definido como
de gestão que garanta que os elementos fundamentais um conjunto de procedimentos que orientam
de projeto, princípios operacionais, controles críticos e o planejamento e a execução das atividades de
processos de avaliação e gestão de riscos sejam forma padronizada, cujo desempenho é
consistentemente levados às equipes de gestão avaliado periodicamente para garantir a
subsequentes e envolvam os diferentes níveis melhoria contínua dos processos.
hierárquicos da empresa. Deve-se garantir que os riscos
conhecidos sejam efetivamente gerenciados e evitar que novos riscos sejam introduzidos ao se perder os
dados e objetivos originais do projeto (MAC, 2017).
O sistema de gestão deve ter a capacidade de integrar e gerenciar as informações de projeto, construção,
operação e encerramento, e permitir a passagem de conhecimento adquirido ao longo do tempo (handover)
entre as equipes que atuarão em diferentes fases do ciclo de vida ou mesmo para outros empreendedores,
no caso de transferência de propriedade do sistema.
No caso específico de um sistema de gestão de rejeitos, existe um amplo espectro de boas práticas
empregadas internacionalmente, que devem nortear sua estruturação, dentre as quais podem ser
destacadas:
■ Assegurar o comprometimento e a implantação de governança corporativa;
■ Gerenciar os riscos em todas as fases do ciclo de vida;
■ Implantar sistema de revisão independente;
■ Projetar e operar as estruturas para o fechamento.
As melhores práticas citadas são detalhadas nos itens a seguir e as diretrizes para implantação de um sistema
de gestão de rejeitos são detalhadas no Capítulo 3.
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Os métodos de identificação e análises de riscos mais utilizados para barragens e estruturas de disposição de
rejeitos são os indicados a seguir:
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da probabilidade dos riscos mais importantes empregando ETA e/ou FTA e estabelecimento de controles
empregando o BOWTIE.
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Salienta-se que a importância da realização de treinamentos internos e o suporte aos simulados externos vai
muito além da “manutenção do estado de prontidão”. Permitem a interação com a comunidade, dando
transparência às ações da empresa, além de possibilitar a identificação de possibilidades de melhoria nos
planos existentes.
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POLÍTICAS E COMPROMETIMENTO: Ditam as políticas dentro das quais o sistema de gestão e governança
serão desenvolvidos e implementados.
(P) PLANEJAR: Estabelecer objetivos, processos e planos necessários para atingir tais objetivos.
(D) FAZER: Implementar processos e planos dentro de uma estrutura de gestão estruturada (implementar a
estrutura de gestão dos sistemas de disposição de rejeitos).
(C) VERIFICAR: Medir e monitorar todos os aspectos de desempenho, analisar e relatar resultados (avaliação
da performance).
(A) AGIR: Revisar o desempenho, identificar áreas de não-conformidade e oportunidades de melhoria. Agir
para manter e melhorar continuamente o sistema de gestão (revisão de gestão para melhoria contínua).
Cabe destacar que a complexidade do sistema de gestão deve ser adequada à complexidade das estruturas
e não ajustada de acordo com a capacidade da organização em gerir de seus riscos e incertezas. Quando não
há capacidade de gestão compatível, o ônus deve ser o aumento da margem de segurança do projeto e não
a simplificação ou ajuste do sistema de gestão à capacidade de governança instalada. Em todas as situações,
é importante que os processos sejam estruturados, compreendidos pelos envolvidos e endossados pela alta
administração.
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3.2 – Planejamento
O planejamento tem como objetivo estabelecer as bases estruturantes para o sistema de gestão e inclui a
definição dos objetivos de desempenho, de papéis e responsabilidades, estabelecimento de processos,
procedimentos e controles, bem como dos mecanismos para assegurar os recursos necessários ao sistema.
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A Figura 3.2 mostra a interrelação entre estes atores, sem a intenção de representar uma estrutura
organizacional, mas apenas de indicar como deve se dar o reporte de informações, aspecto chave na redução
de riscos.
Figura 3.2 – Reporte de informações sobre a gestão de estruturas de barragens e estruturas de disposição de rejeitos (observar que
não representa a estrutura hierárquica da empresa).
Executivo Responsável
O Executivo Responsável garante ao Empreendedor e partes interessadas que as estruturas de disposição de
rejeitos sejam gerenciadas de forma responsável. Precisa estar ciente dos resultados-chave das avaliações
de risco das estruturas e como esses riscos estão sendo gerenciados e tem como atribuição comunicar à alta
administração as informações geradas na gestão de riscos e pelos Revisores Independentes.
Este Executivo possui responsabilidade e autoridade orçamentária para a gestão das barragens e estruturas
de disposição de rejeitos. Cabe ele a responsabilidade de colocar em vigor uma estrutura de gestão
adequada, definindo os deveres, responsabilidades e estrutura hierárquica necessária em todas as fases na
vida útil das estruturas, e tem sido usualmente denominado “dono da estrutura”. É o responsável por
designar o coordenador do Planos de Ação de Emergência seu substituto e documentar formalmente as suas
atribuições e responsabilidades.
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Responsáveis Técnicos
Cada estrutura ou sistema deverá ter, no mínimo, um Responsável Técnico designado de acordo com a fase
do ciclo de vida da estrutura, que será responsável pelo projeto, construção, operação, manutenção e/ou
monitoramento de tal instalação. Um Responsável Técnico pode ser compartilhado por várias instalações ou
operações, dependendo da complexidade das estruturas, logística e carga de trabalho esperada nessa
posição.
Os Responsáveis Técnicos definem o escopo do trabalho e os requisitos orçamentários (sujeitos à aprovação
final) para todos os aspectos da gestão de barragens e estruturas de disposição de rejeitos, e delegam as
tarefas e responsabilidades específicas para as equipes qualificadas.
A existência de Responsáveis Técnicos internos à empresa não se sobrepõe à responsabilidade técnica pelas
atividades de estudos, inspeção regular de segurança, revisão periódica de segurança, declarações da
condição de estabilidade ou quaisquer outras referentes à execução de atividades de engenharia associadas
a determinada estrutura.
As anotações de responsabilidade técnica devem ser emitidas conforme Resolução Confea 1.025/2009 ou
outro instrumento equivalente que vier a substitui-la.
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O Engenheiro de Registro tem sido definido como um profissional ou empresa designada para prestar
orientação técnica na área de geotecnia ao empreendedor, e em nome deste, para determinada estrutura
de disposição de rejeitos. Suas atribuições e responsabilidades são definidas de acordo com a estrutura de
governança da empresa, mas de forma geral, tem como responsabilidade verificar se determinada estrutura:
■ foi concebida e projetada de acordo com os objetivos de desempenho, diretrizes e padrões aplicáveis,
parâmetros de segurança e requisitos legais;
■ foi construída e esteja operando, ao longo do ciclo de vida, de acordo com os objetivos de
desempenho, parâmetros de segurança, diretrizes e padrões aplicáveis e requisitos legais; e
■ teve o registro de todas as informações relevantes de projeto, construção, operação e encerramento
(de acordo com a etapa do ciclo de vida da estrutura) e atualização dos desenhos “como construído”
incorporando todas as eventuais mudanças ocorridas durante o ciclo de vida das estruturas.
É importante que o EdR seja externo às operações, embora possa pertencer aos quadros da empresa,
evitando conflitos de interesse e elevando diretamente as questões críticas relacionadas a um determinado
sistema de disposição de rejeitos para o nível de gerência sênior.
O EdR deve ter ciência de todas as informações sobre uma determinada estrutura. Deve participar das
atividades de análise de riscos e estar acessível para as revisões de segurança de barragens e revisões
independentes, bem como ser acessível pelos responsáveis técnicos para discutir questões técnicas do site,
quando necessário. Caso assim estabelecido, pode também ter como responsabilidade a realização das
inspeções regulares de segurança e emissão das respectivas Declarações da Condição de Estabilidade.
As atividades de registro podem incluir a padronização, consolidação e validação do Banco de Dados de um
empreendimento. Deve ser verificada a abrangência das informações que afetam a gestão do risco, bem
como a inteligibilidade da informação por meio da padronização/uniformização da terminologia técnica
aplicada ao longo do ciclo de vida (sondagens em diferentes fases podem gerar diferentes classificações de
uma presumível única unidade geotécnica, por exemplo). As lacunas na informação são a maior fonte de
interpretações equivocadas sobre o comportamento de estruturas de disposição de rejeitos.
O EdR deve ter suas funções, responsabilidades e autoridade formalmente atribuídas, por exemplo, por meio
de um termo de referência, e deve ter experiência e conhecimento proporcionais aos requisitos de gestão
de riscos do sistema.
O EdR pode realizar e/ou propor treinamentos para o pessoal-chave do local e equipes envolvidas na gestão
de barragens e estruturas de disposição de rejeitos, para possibilitar a estas equipes uma compreensão
completa dos requisitos e aspectos do projeto e construção e parâmetros operacionais.
No caso de contratação externa, é recomendável que esta contratação seja plurianual, para assegurar a
retenção do conhecimento sobre as estruturas. A gestão da mudança/transição entre dois EdRs deve incluir
um período de atuação conjunta, assegurando uma transição suave e ininterrupta e a garantia de
transferência de toda a documentação e conhecimento sobre a instalação.
Revisor(es) independente(s)
Os Revisor(es) Independente(s) fornecem ao Empreendedor comentários, orientações e recomendações
independentes, objetivas e especializadas para ajudar na identificação, entendimento e gestão de riscos
associados a barragens e estruturas de disposição de rejeitos, assim como sobre a implementação do sistema
de gestão destas estruturas. Devem apoiar na validação de informações e registros para embasar as
percepções e avaliações dos Responsáveis Técnicos e EdR. Os Revisor(es) Independente(s) não t(ê)m
autoridade de tomada de decisão. A responsabilidade pelas decisões está com o Empreendedor.
Deve ser assegurada independência do Revisor (terceiros não envolvidos no projeto ou operação do sistema
em estudo) e especialidade técnica adequada compatível com a complexidade da(s) estruturas(s).
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Quando a complexidade do sistema de disposição de rejeitos exigir, poderá ser constituído um Painel de
Especialistas, composto por Revisores Independentes com competências técnicas adequadas às
necessidades específicas do sistema. Neste caso, quando alterações no Painel de Especialistas se fizerem
necessárias, a substituição dos revisores independentes deve ser feita, preferencialmente, de um membro
por vez, para garantir a transferência de conhecimento para o novo entrante do Painel.
Figura 3.3 – Processos ao longo do ciclo de vida de barragens e estruturas de disposição de rejeitos.
Gestão de Riscos
A gestão de riscos é um dos princípios norteadores da gestão de barragens e estruturas de disposição de
rejeitos e deve ser estruturada e implementada para garantir a segurança das estruturas e evitar riscos
inaceitáveis para pessoas e o meio ambiente ao longo de todo o seu ciclo de vida.
Um plano ou modelo de gestão de riscos deve ser preparado e documentado de forma a registrar os
resultados do processo de avaliação de risco (identificação, análise e avaliação) e subsidiar as tomadas de
decisão quanto às medidas de tratamento mais adequadas para:
■ eliminar, evitar ou reduzir o risco até o limite praticável (seguindo os conceitos de ALARP 1), atuando
na redução da probabilidade ou das consequências potenciais de um evento indesejado;
■ detectar, responder a, e minimizar as consequências caso um evento indesejado ocorra.
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ALARP – As Low as Reasonably Practical: este conceito considera que a redução de riscos abaixo de um certo nível
pode não ser justificável se o custo de redução for muito desproporcional à redução possível de ser obtida.
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A gestão de riscos deve ter início na fase de concepção e planejamento do projeto para novos sistemas e
expansões de sistemas existentes, e evoluir ao longo do ciclo de vida das estruturas, por meio de revisões e
atualizações. Quando os riscos e as incertezas não tiverem sido objeto de avaliação específica na fase de
concepção e/ou elaboração do projeto de engenharia, devem ser avaliadas as investigações, os registros dos
dados, os modelos de análise do projeto e os modos de falha que devem fazer parte da matriz de risco do
sistema de gestão, a serem validados pelos Revisor(es) Independente(s).
Atenção deve ser dada a mudanças, tais como alterações de projeto, extensões à vida útil da mina,
paralisações temporárias, mudanças no minério a ser beneficiado, mudanças de processo e tecnologia,
mudanças na ocupação a montante e a jusante das estruturas, dentre outras, que possam ter impacto
importante no risco associado às estruturas.
O processo de gestão de risco pode ter como referência as diretrizes da norma técnica ABNT NBR ISO
31000:2018 (Gestão de Riscos – Diretrizes), conforme apresentado na Figura e definições a seguir:
Figura 3.4 – Etapas do Processo de Gestão de Risco. Fonte: NBR ISO 31000:2018.
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O nível aceitável de risco deve ser definido no contexto do sistema e para a fase específica do ciclo de vida,
levando em conta a probabilidade e consequência de ocorrência.
Gestão da Conformidade
Processos de gestão de conformidade devem ser documentados e implementados para garantir que:
■ legislação, regulamentos, permissões/licenças e compromissos aplicáveis (incluindo
compromissos/condições oriundas de avaliação e licenciamento ambiental) sejam definidos,
documentados, entendidos e comunicados de maneira efetiva;
■ as políticas, diretrizes, normas e procedimentos do Empreendedor sejam definidas, documentadas,
implementadas e revisadas;
■ a existência de desenhos “como construído” e/ou “como está” das estruturas tal como se apresentam
no campo; e
■ os procedimentos para avaliar a situação de conformidade foram estabelecidos, implementados,
documentados e comunicados.
Não conformidades devem ser documentadas, ter suas causas identificadas e medidas corretivas
implantadas. Se necessário, deverão ser feitas mudanças no sistema de gestão para evitar não conformidades
futuras.
Gestão da Mudança
O Empreendedor deve documentar e implementar os processos de gestão de mudança para manter a
integridade das estruturas de disposição de rejeitos, incluindo mudanças em (MAC, 2017):
■ projetos e planos aprovados, incluindo mudanças temporárias;
■ empregados, contratados e consultores com funções chave no sistema de gestão de água e rejeitos,
incluindo o Executivo Responsável, Responsável(is) Técnico(s), EdR e Revisor(es) Independente(s);
■ condições que possam impactar a operação/manutenção contínua das estruturas de disposição de
rejeitos, incluindo a suspensão temporária das operações de mineração;
■ requisitos regulatórios; e
■ outras mudanças que tenham o potencial de alterar, nas fases atuais ou futuras da vida útil, o perfil de
risco das instalações de disposição de rejeitos ou seus componentes.
Mudanças propostas ao projeto original ou atual devem ser cuidadosamente documentadas e os riscos da
mudança nas fases atuais e futuras da vida útil devem ser avaliados. Dependendo da natureza da mudança
e do impacto potencial, recomenda-se uma Revisão Independente da mudança proposta. Antes da
implementação, a mudança proposta deve ser aprovada em um nível compatível com o seu impacto
potencial.
Mudanças propostas nos planos e procedimentos também devem ter os impactos potenciais avaliados,
serem documentadas, aprovadas no nível adequado e comunicadas às pessoas envolvidas nos processos
afetados antes da implementação.
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3.2.4- Recursos
Para implementação efetiva e eficiente de um sistema de gestão de barragens e estruturas de disposição de
rejeitos, incluindo a gestão sustentada pós-encerramento, o Empreendedor deve definir, assegurar e revisar
regularmente a adequação de:
■ recursos humanos (internos, contratados e consultores externos) com nível de qualificação,
experiência e competência consistentes com os requisitos do sistema, responsabilidades e riscos
envolvidos;
■ equipamentos adequados em termos de tipo, quantidade e condição de funcionamento;
■ recursos financeiros, considerando as necessidades de curto e longo prazo para a gestão responsável
e efetiva das estruturas de disposição de rejeitos da fase de planejamento até o pós-encerramento. O
planejamento de recursos deverá ser reavaliado e documentado em frequência adequada,
considerando a fase da vida útil das estruturas e eventuais mudanças técnicas, operacionais e
regulatórias;
■ controle de informações documentadas, que permita que todas as informações potencialmente úteis
na gestão de barragens e estruturas de disposição de rejeito sejam retidas, arquivadas e recuperáveis
quando necessário. Estes registros incluem aqueles relacionados ao planejamento, projeto,
construção, operação e encerramento das estruturas. Devem também incluir revisões dos projetos de
construção, resultados de testes, atas de reuniões, fotos de construção, registros de inspeções e
monitoramento, registros de revisões e auditorias e outras informações pertinentes.
O PSB- Plano de Segurança da Barragem deve ser estruturado para reter todas as informações
requeridas por lei, indicando onde as demais informações estão arquivadas e podem ser consultadas
quando necessário.
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A avaliação do desempenho visa verificar se os objetivos de desempenho estão sendo atendidos e avaliar a
eficácia das medidas de gestão de risco e dos controles estabelecidos. Além disso, irá subsidiar o processo
de gestão de riscos com informações atualizadas e fornecerá dados importantes para a melhora contínua da
estrutura de gestão.
O foco principal da avaliação do desempenho é a verificação do comportamento das estruturas e, portanto,
baseia-se principalmente nos resultados da gestão de riscos e das ações de monitoramento (inspeções
visuais, instrumentação, revisões de segurança). Tem como objetivos (MAC, 2017):
■ o desempenho operacional em comparação com objetivos e indicadores de desempenho, premissas e
parâmetros de projeto, bem como com os controles implantados;
■ a conformidade com os requisitos regulatórios, políticas e compromissos, normas e padrões;
■ o processo de gestão de riscos, incluindo a necessidade de atualizar a avaliação de risco; e
■ a necessidade de mudanças ou atualizações do Manual de Operação, Plano de Ação de Emergência,
ou outros documentos relacionados às barragens e estruturas de disposição de rejeitos específicos.
Isso inclui a avaliação da eficácia dos processos de inspeção e monitoramento e a utilidade das
informações coletadas, bem como a identificação de lacunas na coleta de informações.
A avaliação do desempenho deve também incluir a identificação de lacunas, deficiências ou áreas de não
conformidade no sistema de gestão implantado.
Os planos de ação advindos das análises de desempenho devem ser documentados e aprovados, e sua
implementação deve ser documentada e rastreada até a conclusão.
Resultados e recomendações das avaliações do desempenho devem ser documentados e reportados para
o(s) Responsável(is) Técnico(s), o Executivo Responsável e, conforme o caso, o Conselho de Administração
ou Nível de Governança da Empresa, em uma frequência e nível de detalhe definido nas políticas ou em
procedimentos do Empreendedor.
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Para garantir a melhoria contínua do sistema de gestão devem ser realizadas revisões da estrutura de gestão,
com base nas informações provenientes da fase de Avaliação de Desempenho e inputs do processo de
Garantia da Qualidade. A frequência das revisões deve ser previamente definida, mas normalmente é anual
nas fases de construção, operação e encerramento.
A análise da gestão para melhoria contínua vai além do desempenho técnico e deve abordar todos os
aspectos da gestão de barragens e estruturas de disposição de rejeitos. Fornece uma oportunidade para os
Responsáveis Técnicos, o EdR e demais empregados e contratados envolvidos na gestão destas estruturas
verificarem o alinhamento entre os requisitos de projeto e as práticas operacionais, discutir as mudanças
realizadas e/ou previstas e suas implicações, bem como identificar oportunidades de melhoria.
A revisão da estrutura de gestão deve incluir a avaliação (MAC, 2017):
■ do andamento das ações provenientes da revisão anterior;
■ do desempenho geral do sistema de gestão para assegurar que continue adequado e eficaz e verificar
a necessidade de mudanças nos seus componentes:
o política e compromissos;
o papéis e responsabilidades;
o padrões e controles;
o gestão de riscos, de conformidade e de mudanças;
o recursos (humanos, equipamentos, financeiros, comunicação, controle de informações
documentadas e treinamento);
o Manual de Operação, Plano de Segurança de Barragens e Plano de Ação de Emergência de
Barragens de Mineração.
■ do desempenho das barragens e estruturas de disposição de rejeitos (informações provenientes da
Avaliação de Desempenho);
■ da eficácia do sistema de gestão de riscos;
■ das revisões independentes e/ ou auditorias.
Esta avaliação deve considerar e analisar o impacto de mudanças ocorridas desde a última revisão, que
possam afetar o sistema de gestão implantado, tais como mudanças nos requisitos regulatórios e mudanças
no perfil de risco das barragens e estruturas de disposição de rejeitos.
A análise de gestão para melhoria contínua é relatada para o Executivo Responsável e os resultados devem
ser documentados, incluindo:
■ conclusões sobre o desempenho das barragens e estruturas de disposição de rejeitos e do sistema de
gestão implantado;
■ conclusões do processo de gestão de riscos;
■ conclusões sobre o atendimento aos requisitos legais e regulatórios;
■ modificações necessárias no sistema de gestão;
■ planos de ação para garantir que os objetivos de desempenho sejam atendidos, para tratar não
conformidades observadas e para implantação de oportunidades para melhoria contínua;
■ melhorias necessárias em recursos humanos e financeiros para garantir a gestão efetiva de barragens
e estruturas de disposição de rejeitos.
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Avaliação da Eficácia: Tem como objetivo avaliar se o sistema de gestão implantado está atingindo os
resultados pretendidos ou não, indo além da verificação de conformidade. Para tal, avalia até que ponto a
execução das atividades planejadas contribuiu para o alcance dos objetivos de desempenho e metas
planejadas.
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As decisões da fase de planejamento e projeto têm implicações relevantes e muitas vezes irreversíveis ao
longo do ciclo de vida de estruturas de disposição de rejeitos. Assim, considerando a importância desta fase
e que os aspectos técnicos já são tratados em diversas normas e guias específicos de projetos, o presente
capítulo tem como objetivo elencar conceitos considerados “boas práticas”, com destaque para aspectos
não-técnicos e sim de gestão.
4.1 –Planejamento
É importante que exista um plano diretor de disposição de rejeitos (PDR) alinhado ao plano de produção da
empresa, que deve orientar todo o planejamento relacionado à disposição de rejeitos com uma visão de
longo prazo. Este alinhamento assegura que os requisitos de projeto e construção sejam adequadamente
conhecidos e programados, além de permitir a otimização de alternativas de projeto e construção
considerando oportunidades, como, por exemplo, o emprego de materiais provenientes do processo na
construção e/ou encerramento de estruturas.
O planejamento é considerado um aspecto essencial no projeto de estruturas de disposição de rejeitos, uma
vez que o desenvolvimento e a implantação desses projetos demandam um tempo relativamente longo de
desenvolvimento dos estudos, licenciamentos, aquisições de terra, aspectos jurídicos e interação com as
diversas partes interessadas.
Por ter uma natureza de longo prazo, o plano de disposição de rejeitos deverá ser revisado sempre que
houver alterações no plano de produção (aumento/redução no processamento com impacto na geração de
rejeitos e na demanda hídrica, por exemplo), para assegurar que as alterações correspondentes aos
requisitos de projeto possam ser avaliadas e tratadas.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Os estudos de alternativas devem ser desenvolvidos por Nas fases de seleção de alternativas e
uma equipe multidisciplinar de especialistas, como projeto conceitual, “uma visão de longo
engenheiros geotécnicos, engenheiros de minas, geólogos, prazo é crítica (incluindo fechamento e
hidrólogos, biólogos, cientistas sociais e economistas, com pós-fechamento), de modo que as
experiência relevante na avaliação de tecnologias, seleção prioridades financeiras de curto prazo não
de locais e projeto, construção e operação de instalações de prevaleçam sobre um projeto mais
rejeitos. Em alguns casos, esta equipe poderá ainda contar apropriado que teria menores impactos a
com arqueólogos e especialistas em relações com longo prazo, complexidade e riscos
comunidades indígenas e quilombolas. (incluindo riscos financeiros a longo prazo
em caso de falha)” (MAC, 2017).
A avaliação de alternativas é tipicamente conduzida como um processo de várias etapas, como sugerido pela
MAC (2017) e apresentado na Figura 4.1.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Na fase de avaliação de alternativas de projetos novos, quando ainda não se tem rejeito gerado em planta
piloto, podem ser empregadas informações de bibliografia e experiência da equipe envolvida. Entretanto, o
conhecimento das características dos rejeitos deverá ser aprofundado na medida em que as etapas de
projeto evoluem, sendo que as premissas consideradas deverão ser validadas/confirmadas nas fases
subsequentes, podendo implicar em revisões no projeto.
c. Alternativas locacionais
Devem ser identificados todos os possíveis locais de disposição de rejeitos, tendo em mente que a escolha
de determinado local está associada ao método de disposição a ser definido. Ao revisar as opções de
armazenamento de rejeitos, devem ser considerados:
▪ distância em relação à planta;
▪ complexidade das estruturas de transporte de rejeitos e recuperação de água;
▪ uso e ocupação no entorno;
▪ tamanho da bacia de contribuição;
▪ oportunidade de ocupação de cavas de minas exauridas e áreas de disposição já existentes;
▪ volume de armazenamento disponível e potencial de expansão;
▪ disponibilidade de materiais de construção;
▪ interferência nos recursos hídricos;
▪ requisitos de fechamento.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Todas as alternativas estudadas devem ser avaliadas e documentadas. Como ferramenta de tomada de
decisão, podem ser empregados métodos de análise de decisão de múltiplos critérios, como, por exemplo, o
MMA - Multiple Accounts Analysis exigido pelo regulador federal no Canadá e o FAST-EV, comumente
utilizado na metodologia FEL. Estes métodos fornecem uma metodologia que permite comparar aspectos
das alternativas muitas vezes díspares ou conflitantes.
Além disso, dada a importância da etapa de análise de alternativas e projeto conceitual, é fortemente
recomendada a revisão por meio da contratação de Revisão Técnica (Design Review) ou por um painel de
revisores independentes.
Aspectos gerais
▪ Os projetos devem incluir a infraestrutura necessária para que a operação e manutenção de cada
instalação seja realizada de forma segura;
▪ A equipe de projeto precisa ter profissionais competentes com experiência nas disciplinas
necessárias para projetar adequadamente as estruturas de disposição de rejeitos. O projeto precisa
considerar e abordar as realidades operacionais previstas e, para tal, pessoas com experiência
operacional devem estar envolvidas nesta fase;
▪ O projeto executivo deverá conter um projeto detalhado da instalação, a metodologia de construção,
os controles e procedimentos operacionais e um plano de fechamento, além de atender ao
preconizado na legislação pertinente.
Aspectos geotécnicos
▪ Todas as informações geradas na fase de estudos geológico-geotécnicos deverão seguir uma
padronização pré-definida e serem armazenadas de forma a permitir sua consulta futura. Se
necessário, poderão ser utilizados softwares disponíveis no mercado para esta finalidade;
▪ Recomenda-se a contratação de empresas com experiência comprovada na realização de
investigações e ensaios. Os ensaios de campo e laboratórios poderão ser objeto de verificação
cruzada caso necessário;
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Aspectos hidrológicos
▪ Para cada instalação deverá ser elaborado um mapa identificando todas as bacias de captação, com
sentidos de escoamento superficial, sobrepondo um mapa topográfico da propriedade de mineração
que inclui tanto a infraestrutura de operação de mina quanto a infraestrutura pública. Este mapa
servirá de apoio para os estudos locacionais e análises de riscos;
▪ Tanto o projeto das estruturas quanto o da infraestrutura associada devem ser baseados em dados
climáticos e hidrológicos confiáveis e atualizados, obtidos de estações meteorológicas e
instrumentação no local ou perto do local da obra;
▪ Para o refinamento dos dados hidrológicos, pode ser necessária a realização de campanhas de
medição de vazão na bacia hidrográfica de contribuição ao local de interesse durante a estiagem e
período chuvoso. Esses dados deverão ser analisados e considerados nos estudos de regionalização
de vazão e quantificação da disponibilidade hídrica;
▪ É recomendada a utilização de métodos consagrados em hidrologia para cálculo da cheia de projeto.
Caso sejam utilizados métodos pouco usuais, as justificativas técnicas correspondentes devem ser
apresentadas nos estudos. Recomendações gerais podem ser consultadas em Pinheiro (2011);
▪ Deve-se atentar para os critérios de definição do período de retorno associado a cheia de projeto,
conforme norma ABNT NBR 13.028/2017;
▪ Deve ser calculado o tempo mínimo de residência (volume total do reservatório/vazão) necessário
para clarificação, considerando a geometria do reservatório e a eficiência de retenção. A definição
do tempo de residência será importante para quantificação do volume mínimo de água a ser mantido
no reservatório, não deixando de considerar que este volume deve ser o menor possível para reduzir
o dano potencial.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ É importante que o balanço hídrico não considere apenas as vazões, mas também a qualidade da
água. Recomenda-se que o projeto e a operação considerem a separação/segregação da água da
bacia de contribuição caso o rejeito tenha potencial de afetar sua qualidade.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
estudos de mitigação da geração de acidez e manejo desses materiais deverão ser realizados e
incorporados ao projeto de disposição do rejeito.
Figura 4.2 – Monitoramento de estruturas de disposição de rejeitos (adaptado de Safety Management of Geotechnical
Structures, 2018).
▪ O banco de dados da instrumentação deve estar disponível antes do início das leituras e sua
complexidade será dada pelo tipo e quantidade de instrumentos instalados.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Como uma primeira atribuição nesta fase, o EdR pode ser o responsável pelo gerenciamento do banco de
dados de projeto (avaliação, identificação das lacunas, complementação e consolidação das informações) e
pode também participar da validação técnica dos documentos de projeto.
Na fase de projeto, o EdR se reporta à equipe geral de desenvolvimento do projeto designada pelo
empreendedor.
e nos materiais de fundação e de construção, devem ser avaliadas e formalmente validadas e assinadas pela
projetista e/ou EdR.
Os riscos associados às mudanças internas ou do ambiente externo devem ser identificados, avaliados,
controlados e comunicados para evitar a introdução de incertezas, riscos inaceitáveis e/ou não gerenciados
que possam vir a implicar no comprometimento da integridade das estruturas (ICMM, 2016).
Ainda na fase de projeto, os processos de gestão de riscos devem orientar a definição dos controles críticos,
os quais deverão ser validados e/ou reavaliados periodicamente ao longo da vida útil das estruturas.
(6) ICMM (2016). Preventing catastrophic failure of tailings storage facilities. Position statement.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
O presente capítulo tem como objetivo elencar conceitos considerados boas práticas na fase de implantação
de estruturas de disposição de rejeitos, sejam estruturas novas ou alteamentos, com foco nos aspectos de
gestão, dentre os quais pode ser destacada a importância do registro das informações de construção, o papel
da garantia da qualidade e o controle de mudanças/desvios.
Planejamento e Contratação
▪ Antes da contratação, é importante verificar se o projeto executivo e a especificação técnica
construtiva abordaram todos os aspectos relevantes relativos à obra;
▪ Deve ser preparado um planejamento detalhado para a execução da obra (orçamentação,
cronograma, responsabilidades, planejamento da gestão de mudanças e gestão da informação);
▪ Deve ser buscada a contratação de empresa experiente em obras de porte semelhante ao da obra a
ser executada;
▪ A Proposta Técnica da empresa deverá abordar minimamente e de forma clara e detalhada os
seguintes tópicos:
o Logística das atividades;
o Metodologia executiva (detalhamento do método executivo dos serviços);
o Plano de construção (estratégia de implantação dos serviços);
o Plano de Qualidade;
o Organograma da obra;
o Currículo resumido da equipe chave;
o Relatório detalhando a experiência da empresa em obras similares (descrição de serviços
anteriores) e ARTs correspondentes.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ Antes do início das obras, é recomendada a realização de uma reunião para discussão dos principais
riscos identificados na fase de projeto, se possível com a participação da projetista, da contratada,
do Acompanhamento Técnico da Obra e da fiscalização;
▪ A fiscalização deve acompanhar in loco a abertura das áreas de empréstimo, certificando as camadas
a serem exploradas, e descrevendo o material e se este recebeu tratamento ainda na área de
empréstimo;
▪ Devem ser previstas equipes de controle tecnológico no campo durante todos os turnos para
verificação da qualidade e aderência às especificações técnicas dos concretos, materiais de
empréstimo e de construção, por meio de ensaios realizados em campo bem como de ensaios
especiais a serem realizados em laboratórios próximos ao local da obra. Recomenda-se que os
ensaios sejam realizados por empresa externa à construtora;
▪ Deve ser mantida uma equipe de topografia para acompanhamento e controle geométrico da obra.
Recomenda-se que seja feita a verificação topográfica (conferência da topografia de projeto com a
topografia real de campo e DATUM utilizado) antes do início dos serviços;
▪ A liberação da fundação deverá ser feita formalmente pela equipe de fiscalização e pela equipe de
acompanhamento técnico da obra;
▪ É importante que a fiscalização e o acompanhamento técnico da obra acompanhem criteriosamente
as atividades de compactação e demais controles tecnológicos (materiais).
▪ Em construções onde as geomembranas serão aplicadas como um elemento de controle de
percolação, recomenda-se uma revisão técnica externa e independente (por meio de visitas e análise
de documentação) antes e durante a instalação. Este serviço deve ser adicional aos serviços de
supervisão de qualidade já executados pelo instalador;
▪ É recomendado que o empreendedor faça preparar uma documentação técnica onde sejam
indicadas todas as normas e controles requeridos para que se garanta a melhor qualidade nas etapas
de aquisição, transporte, estocagem, aplicação, verificação da qualidade, comissionamento e
manutenção de estruturas com geomembrana;
▪ É recomendado que seja feita uma amostragem independente para verificar a conformidade de
geomembranas a serem aplicadas na construção. Amostras devem ser retiradas e enviadas para um
laboratório certificado pelo Instituto de Geossintéticos para confirmar se as propriedades das
membranas atendem às especificações do projeto e à norma internacional GRI / GM 13;
▪ As soldas efetuadas nas geomembranas devem ser submetidas a testes, conforme normas/diretrizes
existentes, para garantir que foram devidamente executadas;
▪ Materiais e equipamentos devem ser armazenados de forma a garantir a adequada preservação.
Geossintéticos deverão ser armazenados de forma a não alterar a sua qualidade;
▪ Para os tratamentos de fundação deve se atentar para a necessidade de rebaixamento do lençol
freático e sistemas de bombeamento e, nesses casos, a construtora deve prever e mobilizar bombas
e equipamentos para tal finalidade.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ É importante garantir que esses padrões façam parte da especificação de construção, bem como
validá-los com o contratado antes do início da execução;
▪ Devem ser elaborados e arquivados os relatórios de controle tecnológico dos materiais, concreto e
aterro, bem como controle geométrico da obra.
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▪ Assegurar a adequada execução das obras, observando e garantindo que a Contratada execute
corretamente os projetos, aplicando as melhores técnicas de construção;
▪ Certificar-se de que a Contratada esteja de posse da última revisão dos desenhos e projetos
executivos e fiscalizar a sua utilização nas obras;
▪ Esclarecer dúvidas e questões pertinentes ao projeto e ao planejamento das obras em execução;
▪ Avaliar, elaborar e aprovar as alterações de campo que não envolvam revisão de projeto, sejam estas
devido a interferências, deficiências de projeto ou condições de campo diferentes das previstas;
▪ Solicitar à projetista (ou ao EdR, quando definido pelo empreendedor em função da complexidade
das estruturas) a avaliação, elaboração e aprovação de alterações de campo que necessitem de
revisão de projeto;
▪ Garantir que as alterações de projeto sejam implementadas;
▪ Verificar e atestar que o “como construído” contemple todas as alterações de projeto executadas;
▪ Emitir relatório técnico de acompanhamento de obra e relatório técnico de fim de obra, com o
registro de todos os pontos relevantes de construção e destaque para as mudanças ocorridas durante
a obra e medidas tomadas para assegurar que os objetivos de desempenho a longo prazo fossem
atendidos.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ Assegurar que a estrutura seja construída de acordo com os critérios de projeto, objetivos de
desempenho, diretrizes e padrões aplicáveis e requisitos legais. Para tal, deverá avaliar, elaborar e
aprovar as alterações de campo que envolvam revisão de projeto, sejam essas solicitadas pela
fiscalização ou quando as condições de obra exigirem;
▪ Validar e/ou revisar as premissas de projeto, uma vez que as características dos rejeitos podem
mudar em relação ao previsto, além de possíveis alterações devido a aspectos construtivos (tais
como mudanças de geometria e de materiais de construção) e aquisição de informações adicionais
advindas da fase de implantação (por exemplo, informações sobre as fundações);
▪ Assegurar o registro de todas as informações relevantes de projeto e construção, e atualização dos
desenhos “como construído”, incorporando todas as eventuais mudanças ocorridas durante a
implantação das estruturas.
Destaca-se que, caso a figura do EdR não seja implementada em determinada obra, estas atividades deverão
ser assumidas pelo ATO.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
pertinente, poderá ser elaborado um Relatório de Desvios para a validação e aprovação de mudanças
(Morgenstern, 2018).
Todos os desenhos ou croquis com alterações sugeridas pelas equipes de campo devem ser registrados em
notas de alteração de projeto (NAPs), a serem aprovadas pelo ATO, projetista ou EdR de acordo com a
estrutura de supervisão da obra e a complexidade das alterações propostas.
Mudanças pontuais que não envolvam alterações nos critérios ou na concepção de projeto, podem ser
aprovadas formalmente pelo ATO. Sempre que as alterações implicarem em modificações de projeto que
demandem novas análises de estabilidade, estas deverão ser elaboradas e formalmente aprovadas pela
projetista, para assegurar que os critérios de projeto sejam atendidos.
Em todos os casos, todas as modificações devem ser comunicadas à empresa projetista e/ou EdR,
destacando-se que o papel de ATO muitas vezes deve ser exercido pela empresa projetista.
O ATO deverá certificar em campo a execução das modificações após sua conclusão, para que as notas de
alteração de projeto possam ser arquivadas e as informações inseridas no projeto “como construído”.
Quando forem necessárias modificações importantes no projeto aprovado para construção (por exemplo,
maior área ocupada envolvendo liberação adicional de terreno), outras aprovações regulatórias podem ser
necessárias antes de prosseguir com a construção modificada.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Portanto, é essencial, tanto para garantir a conformidade com o projeto original, quanto para acomodar as
variações operacionais, que esta fase receba um alto nível de atenção e que as atividades de Operação,
Monitoramento e Manutenção estejam integradas, como apresentado na Figura 6.1. Cabe também destacar
a importância da gestão de riscos, que deve abranger todas as atividades citadas nesta fase do ciclo de vida.
O presente capítulo foi estruturado a partir da Figura 6.1, na qual estão referenciados os itens que descrevem
as boas práticas de operação, monitoramento e manutenção que serão abordadas.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
6.1 – Operação
6.1.1 - Definição dos Controles Operacionais e Controles Críticos
Como definido no Capítulo 3, Controles são medidas colocadas em prática para prevenir ou reduzir a
probabilidade de ocorrência de um evento não desejado ou para minimizar/mitigar os impactos no caso de
sua ocorrência.
Os controles podem ser de natureza técnica, operacional ou de governança. É fundamental que o
empreendedor garanta que controles acompanhem e sejam atualizados de acordo com o ciclo de vida da
estrutura e grau de maturidade do sistema de gestão.
Para permitir a operação das estruturas de disposição de rejeitos em conformidade com os requisitos de
projeto, devem ser definidos Controles Operacionais (parâmetros de operação específicos, baseados no
projeto e nas condições locais) para cada estrutura, tais como (adaptado de MAC, 2011):
▪ Parâmetros típicos de transporte e disposição de rejeitos, tais como vazão, pressão e densidade da
polpa de rejeito;
▪ Projeções de quantidade, vazões e teor de sólidos dos rejeitos;
▪ Pressões operacionais do sistema de bombeamento e das tubulações;
▪ Propriedades físicas do rejeito, tais como densidade, granulometria;
▪ Propriedades químicas do rejeito, tais como potencial de geração de ácidos e lixiviação/solubilização
dos metais, quando aplicável;
▪ Comprimento mínimo da praia (denominada em alguns projetos como largura da praia de rejeitos);
▪ Borda livre mínima;
▪ Volume mínimo para amortecimento de cheias;
▪ Controles associados ao monitoramento (inspeções visuais e instrumentação) e às atividades de
manutenção.
Os controles são definidos como Controles Críticos quando (MAC, 2017):
▪ identificar os possíveis modos de falha e suas respectivas causas, usando técnicas de avaliação de
riscos;
▪ identificar as causas consideradas como principais, em função dos possíveis modos de falha para
cada estrutura;
▪ identificar os controles preventivos associados aos possíveis modos de falha e suas causas principais
e identificar aqueles considerados como críticos;
▪ indicar um "Dono de Risco" e "Dono de Controle Crítico";
▪ definir critérios de desempenho para os controles críticos, indicadores de desempenho específicos
mensuráveis e requisitos de monitoramento;
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ definir ações ou controles (controles mitigatórios) a serem executados se o controle preventivo for
perdido ou falhar;
▪ avaliar, pelo Dono do Controle Crítico ou seu Designado, se o ambiente do controle em suas
dimensões (desenho, operação e verificação) está sendo realizado de forma adequada;
▪ relatar deficiências em controles críticos para o(s) Responsável(is) Técnico(s) e, conforme o caso,
para o Executivo Responsável e definir ações para abordar tais deficiências;
▪ rastrear a implementação de ações para abordar as deficiências de controle crítico e relatar para o(s)
Responsável(is) Técnico(s) e, conforme o caso, para o Executivo Responsável; e
▪ revisar e atualizar periodicamente os controles e os controles críticos, com base nas avaliações
atualizadas de risco, planos de gestão de risco e desempenho passado.
Recomenda-se fortemente que os Controles Críticos e Controles Operacionais sejam parte integrante do
Manual de Operação, juntamente com critérios de performance esperados (valores de controle) e ações a
serem tomadas se desvios forem detectados. Por exemplo, sendo a largura da praia um controle crítico para
determinada estrutura, devem ser previstas ações no caso de não atendimento ao valor de controle definido,
tais como intensificar as leituras dos instrumentos e promover ações imediatas para o rebaixamento do nível
de água do reservatório, seja via bombeamento adicional ou, caso possível, pela operação do sistema
extravasor.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ O controle do volume dos rejeitos dispostos no reservatório deverá ser realizado periodicamente
conforme critérios formalmente estabelecidos pelo empreendedor, e com nível de detalhamento
compatível com as especificidades e complexidade do sistema analisado;
▪ O controle das características do rejeito disposto deve ser feito por meio de ensaios geotécnicos de
caracterização e análises químicas e mineralógicas, em função dos resultados de mapeamento
sistemático das frentes de lavra. Caberá ao empreendedor garantir que estes controles sejam
formalmente estabelecidos por equipe com competência adequada e que sejam devidamente
registrados.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ O balanço hídrico da estrutura deverá ser representado, sempre que possível, de forma esquemática,
com o objetivo de permitir um entendimento geral do sistema e dos pontos de manejo de água;
▪ É importante que haja uma integração do balanço hídrico da barragem com o balanço hídrico da
unidade operacional (visão integrada);
▪ O balanço hídrico deve ser periodicamente atualizado com base nas medições topobatimétricas e
nas variáveis hidrológicas medidas (vazões, precipitações, evaporação) devendo obedecer aos
critérios técnicos de operação segura (geotécnico e ambiental);
▪ É importante que o Manual de Operação contenha referência à ferramenta de balanço hídrico, que
deve ser preparada em função das particularidades de cada estrutura de disposição de rejeitos;
▪ A operação do sistema de captação de água e efluentes deve ser executada pelas equipes
operacionais, de acordo com os procedimentos específicos de operação e manutenção de seus
componentes;
▪ As regras de operação do sistema extravasor deverão ser detalhadas, excetuando-se extravasores de
crista livre (de superfície) para os quais este detalhamento não seria aplicável;
▪ A qualidade da água liberada para jusante, através do sistema extravasor e do sistema de drenagem
interna, deverá ser controlada e monitorada por meio de coleta e análises de amostras, devendo
atender os limites legais estabelecidos para vertimento e manutenção do enquadramento de corpos
hídricos receptores. A qualidade e vazão da água que retorna para tratamento também deve ser
avaliada para assegurar que a estação de tratamento existente tenha capacidade de receber e tratar
de forma adequada os efluentes gerados.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
O monitoramento das características dos rejeitos deverá ser conduzido como descrito no item “Controle do
rejeito disposto” e as informações provenientes deste controle poderão ter impacto nas análises dos dados
da instrumentação e nas condições de segurança das estruturas.
▪ As inspeções visuais visam avaliar qualitativamente as condições físicas das partes integrantes da
estrutura, de modo a identificar e monitorar anomalias que afetem potencialmente a sua
estabilidade e estado de conservação;
▪ As inspeções visuais ocorrem em diferentes graus de complexidade e detalhamento, como
apresentado na Figura 6.3. No caso específico de barragens de mineração, as inspeções visuais
devem ter seus registros cadastrados no SIGBM – Sistema Integrado de Gestão de Barragens de
Rejeito, como detalhado no Anexo I;
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ Para assegurar a qualidade das inspeções visuais, sugere-se que o Manual de Operação descreva
brevemente os modos de falha específicos da estrutura, incluindo aspectos importantes de projeto
e construção executados para reduzir as possibilidades de falha. É importante que questões não
previstas, que surgirem durante a implantação e operação e que possam ter impacto na segurança,
também sejam relatadas. Como exemplo, podem ser citados condicionantes geológico-geotécnicos,
alterações na geometria, variações nos materiais de construção, nascentes existentes antes do início
da construção ou do enchimento do reservatório;
▪ A periodicidade das inspeções de rotina poderá ser intensificada, a critério do empreendedor,
quando identificadas alterações de comportamento importantes. Recomenda-se a realização de
inspeções após eventos excepcionais, tais como chuvas intensas e sismos, para verificação da
integridade física da estrutura, vertedouro e instrumentos;
▪ As roçadas e capinas nas estruturas e áreas do entorno devem ser realizadas periodicamente,
mantendo a vegetação baixa de forma a facilitar a identificação de anomalias e permitir o acesso aos
instrumentos;
▪ As anomalias identificadas devem ser registradas e priorizadas, para permitir a elaboração de um
plano de ação com as devidas medidas corretivas e/ou preventivas e definição do prazo para a
execução.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ Além dos desenhos representando a distribuição espacial em planta dos instrumentos, constitui uma
boa prática que a instrumentação seja descrita por seção (ou agrupando instrumentos mais
próximos), para facilitar o entendimento dos objetivos pretendidos com a instrumentação e a análise
dos dados (Figura 6.4);
▪ Os relatórios de instalação devem conter os croquis de instalação e, no caso de instrumentos
elétricos ou de corda vibrante, as fichas de calibração e fórmulas de cálculo do fabricante. Estes
documentos deverão ser arquivados para dirimir possíveis dúvidas futuras quanto a cotas de
instalação, constantes e fórmulas de cálculo e métodos de instalação. O material onde as células
piezométricas, placas de medidores de recalque interno e ancoragens de extensômetros de hastes
foram instalados (camada específica da fundação, maciço, tapete drenante) deve ser registrado nos
croquis.
Figura 6.4– Exemplo ilustrativo de descrição da instrumentação por seção. (RBEB, 2017).
50
VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
seco) em medidas (por exemplo, poropressões) e gerar os gráficos que servirão de apoio para a
análise dos dados;
▪ Os instrumentos deverão ser calibrados conforme orientações dos fabricantes e os piezômetros
deverão ser verificados por meio de ensaios de dissipação, sempre que a análise dos dados indicar
esta necessidade;
▪ Observações de campo e intervenções executadas nos instrumentos, que possam interferir em seus
comportamentos, devem ser devidamente registradas e arquivadas.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
O Plano de Monitoramento Ambiental deve incluir a avaliação periódica da qualidade dos efluentes gerados
(vertimentos, drenos de fundo, surgências d’água, sistemas de detecção de vazamento, etc.) das águas
superficiais e subterrâneas a montante e a jusante das estruturas.
O monitoramento de águas subterrâneas, quando aplicável, deve ser realizado em poços de monitoramento
instalados com base em estudo hidrogeológico da área de influência. Estes poços deverão ser instalados e
desenvolvidos de acordo com as técnicas vigentes, assegurando-se a manutenção e o arquivamento dos
croquis de instalação e relatórios de desenvolvimento. Para a amostragem, é indicada a utilização da
metodologia de baixa vazão (low flow).
Adicionalmente, para as estruturas de disposição a seco, onde há o risco de geração de poeira oriunda do
rejeito armazenado, é recomendado que seja realizado um estudo de dispersão atmosférica para avaliação
da aplicação de monitoramento de qualidade do ar no entorno da estrutura.
As atividades de monitoramento ambiental devem ser planejadas de forma a detectar sinais de atenção
precoces associados aos modos de falha potenciais específicos para determinada estrutura (falha no sistema
de impermeabilização, descarte de efluente fora do padrão, levantamento de poeira com alteração da
qualidade do ar) e a evitar a formação de passivos ambientais ao longo da operação e/ou após o seu
encerramento. Devem, portanto, estar referenciadas no Manual de Operação, podendo ser detalhadas em
um plano específico.
O documento deverá conter, no mínimo, o resumo do estudo de dam break com a mancha de envoltória de
inundação e definição de ZAS e ZSS, os procedimentos preventivos e corretivos e os fluxos e notificações a
serem seguidos no caso de ocorrência de uma emergência.
A operacionalização do PAE/PAEBM deve prever atividades de cunho preventivo e preparatório para garantir
prontidão de todos os envolvidos em caso de emergência e inclui:
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
6.5 – Manutenção
O processo de manutenção é determinante para que o sistema de disposição de rejeitos tenha o
desempenho desejado e deve estar integrado às atividades de operação, monitoramento e gestão de riscos.
As ações de manutenção podem ser provenientes das atividades de operação, inspeção visual,
instrumentação ou de análises de riscos. A análise destas atividades poderá indicar mudanças nas condições
das instalações que podem implicar em ações tanto em relação à revisão de projeto quanto às mudanças
necessárias na construção e/ou reparos.
Todas as atividades de manutenção devem ser priorizadas e planejadas, levando em consideração que
podem envolver estudos adicionais, investigações e projetos.
A manutenção deve ser norteada por procedimentos específicos, sendo que os principais componentes
sujeitos a manutenção devem ter o tipo de atuação definida previamente:
▪ Manutenção preventiva (em intervalos de tempo pré-fixados ou baseada nas condições);
▪ Manutenção corretiva (após a ocorrência de falha);
▪ Obras de melhoria
Os requisitos de manutenção devem ser documentados para as diversas estruturas civis e eletromecânicas,
com destaque para os componentes essenciais à segurança de barragens, tais como, vertedouro, condutos,
sistemas de bombeamento, equipamentos de dragagem, instrumentação, iluminação normal e de
emergência.
Todos os manuais de manutenção relevantes, fornecidos por fabricantes e projetistas, e devem ser
elaborados numa linguagem que facilite a interpretação e devem estar disponíveis para as equipes de
operação da estrutura. Ainda neste contexto, é recomendável que as equipes de operação participem
ativamente da elaboração e da revisão dos documentos.
Dentre os serviços de manutenção civil geral e de rotina em estruturas de disposição de rejeitos, podem ser
citados:
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ assegurar que determinada estrutura seja operada de acordo com os objetivos de desempenho,
critérios de projeto, diretrizes do Manual de Operação, padrões aplicáveis e requisitos legais;
▪ avaliar eventuais anomalias geotécnicas ou estruturais com impacto na segurança das estruturas e a
adequação do tratamento dado para a situação;
▪ assegurar o registro de todas as informações relevantes de operação e construção continuada e
atualização dos desenhos “como construído”, incorporando todas as eventuais mudanças ocorridas
durante esta fase.
Deverá ter ciência de todas as informações sobre uma determinada estrutura. Para tal, deve participar das
atividades de análise de riscos e estar acessível para as revisões de segurança de barragens e revisões
independentes, bem como ser acessível pelos responsáveis técnicos para discutir questões técnicas do site,
quando necessário. Caso assim estabelecido, pode também ter como responsabilidade a realização das
inspeções regulares de segurança e emissão das respectivas Declarações da Condição de Estabilidade (DCEs).
Neste caso, possuirá responsabilidade técnica compartilhada das estruturas.
O EdR também pode ser o responsável pelo gerenciamento do banco de dados das estruturas (avaliação,
identificação das lacunas, complementação e consolidação das informações).
É importante que o EdR realize e/ou proponha treinamentos para o pessoal-chave do local e equipes
envolvidas na gestão de barragens e estruturas de disposição de rejeitos, para possibilitar a estas equipes
uma compreensão completa dos requisitos e aspectos do projeto e construção e parâmetros operacionais
para alcançar esses requisitos.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Os riscos identificados deverão ser tratados, avaliando diferentes estratégias de resposta, tais como: eliminar
o risco (execução de investigações, estudos e/ou obras), minimizar o risco por meio de monitoramento
(estabelecimento de controles e respectivos critérios de desempenho), ou mesmo executar ações para
minimizar os impactos no vale a jusante.
As atividades de análise de risco devem suportar a identificação dos controles operacionais, controles críticos
e atividades de monitoramento (inspeções visuais e instrumentação), a serem definidos com base nos modos
de falha e consequências associadas.
Especialistas qualificados e experientes devem ser envolvidos na identificação e análise de riscos das
barragens e estruturas de disposição de rejeitos, bem como no desenvolvimento e revisão da eficácia dos
controles associados.
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(9) BRASIL, L. S. S., LOPES, M., GONTIJO, A., SANTOS, L. (2017). Estratégia de operacionalização dos
planos de atendimento a emergência para barragens de mineração (PAEBM) na VALE – Área de
Ferrosos. II Seminário de Gestão de Riscos e Segurança de Barragens de Rejeitos. Belo Horizonte.
(10)DNPM (2017). Portaria nº 70.389, de 17 de maio de 2017. Cria o Cadastro Nacional de Barragens de
Mineração, o Sistema Integrado de Gestão em Segurança de Barragens de Mineração e estabelece a
periodicidade de execução ou atualização, a qualificação dos responsáveis técnicos, o conteúdo
mínimo e o nível de detalhamento do Plano de Segurança da Barragem, das Inspeções de Segurança
Regular e Especial, da Revisão Periódica de Segurança de Barragem e do Plano de Ação de
Emergência para Barragens de Mineração.
(11) Mulcahy, R. (2010). Risk Management.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Complementarmente ao Guia para Planejamento do Fechamento de Mina (IBRAM, 2013), que aborda um
conjunto de diretrizes e boas práticas relacionadas ao encerramento das atividades de um empreendimento
mineral, o presente capítulo tem como objetivo elencar boas práticas na fase de encerramento de estruturas
de disposição de rejeitos, com destaque para os aspectos de gestão.
Fechamento de Mina
▪ Fechamento é uma fase do ciclo de vida de uma mina. O planejamento para o fechamento é um
processo progressivo de preparação do empreendimento para o encerramento das operações, que
deve envolver aspectos ambientais, sociais, técnicos e econômicos;
▪ O fechamento de uma mina deve ser progressivo, ou seja, a reabilitação deve ser maximizada
durante a fase operacional e as estruturas devem ser encerradas na medida em que não forem mais
utilizadas, em consonância com o plano de fechamento do empreendimento;
▪ O fechamento progressivo, como apresentado na Figura 7.1, tem como objetivo reduzir os esforços,
gastos e riscos pós-operacionais.
▪ É importante que o fechamento seja parte integrante do ciclo de vida da mina, devendo ser
considerado nos aspectos de planejamento desde a concepção do projeto – “planejar para fechar”;
▪ Nas fases de seleção de alternativas e projeto conceitual de um empreendimento, o planejamento
para o fechamento deve levar em consideração os aspectos de encerramento das estruturas,
avaliando impactos a longo prazo, complexidade e riscos associados - “design for closure”;
▪ Além disso, as estruturas de disposição de rejeitos devem ser operadas considerando a necessidade
de facilitar seu encerramento e, consequentemente, eliminar ou reduzir os riscos futuros no
fechamento.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Figura 7.2 – Fases do ciclo de vida de uma mina e de uma estrutura de disposição de rejeitos.
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Programa de Fechamento
▪ Para permitir que o fechamento de uma mina se dê de forma progressiva, recomenda-se o
desenvolvimento de um Programa de Fechamento, abordando de forma integrada os projetos de
encerramento e as ações para o fechamento;
▪ Este programa envolve um conjunto de atividades multidisciplinares que visa identificar nas
Operações as estruturas que possam ser descomissionadas, avaliando a melhor solução de
engenharia a ser aplicada, em qual tempo o projeto poderá ser elaborado e quando as obras de
encerramento devem ser implantadas;
▪ O Programa de Fechamento pode ser dividido em 4 etapas, como apresentado na Figura 7.3. As fases
descritas podem servir para o fechamento de uma mina ou para o encerramento de uma estrutura
específica.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ Esta etapa de Identificação e estratégia tem início com o envolvimento das diversas áreas da empresa
(planejamento, engenharia, operações e meio ambiente, por exemplo) que terão responsabilidades
dentro do processo, visando:
• Integração com processos de planejamento da mina;
• Definição e otimização de soluções;
• Avaliação de oportunidades de sinergia;
• Priorização de ações e estabelecimento de sequenciamento das ações;
• Previsão/Revisão dos recursos financeiros.
▪ Pode ser destacada a importância da participação das equipes operacionais nas discussões técnicas
de fechamento, para que as diretrizes de fechamento, bem como as “lições aprendidas”, sejam
consideradas na elaboração de novos projetos;
▪ Devem ser levantados os dados disponíveis e as informações complementares que se farão
necessárias para subsidiar os projetos de encerramento;
▪ A avaliação de riscos permite a identificação de interferências e de oportunidades que favorecem a
integração do planejamento do fechamento com os demais processos de planejamento da mina,
permitindo a otimização de custos e de logística, eventual aproveitamento de materiais entre obras,
redução de contratos a serem gerenciados, dentre outros;
▪ O resultado final desta fase é a priorização e sequenciamento das ações de fechamento, conforme
exemplificado na Figura 7.4.
Provisão Financeira
▪ Todos os custos previsíveis de fechamento devem ser estimados e atualizados periodicamente, para
que o empreendedor possa constituir a provisão financeira correspondente, conforme previsto nas
normas contábeis pertinentes;
▪ Aspectos referentes a este tópico, incluindo garantia financeira, são descritos no Guia para
Planejamento do Fechamento de Mina (IBRAM, 2013).
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
▪ A manutenção deverá envolver aspectos técnicos das estruturas existentes, considerando sistema
de drenagem, tratamento de eventuais efluentes gerados, vegetação, etc.;
▪ As estruturas desativadas continuam cumprindo a legislação pertinente nos quesitos monitoramento
e manutenção. Estas questões devem ser tratadas conforme descrito no Capítulo 6.
Quando se fala em encerramento de um depósito de rejeitos uma boa prática reconhecida em toda a
indústria é o chamado “projetar para fechar” ou mesmo o “operar para fechar”. Essa prática consiste em
incorporar os conceitos e requisitos de fechamento desde a etapa de engenharia e na operação, de forma
que o encerramento seja mais eficaz e com menor custo. Dentro deste contexto, uma opção interessante
para estruturas de maior complexidade e empreendimentos de maior porte configura-se na definição e
retenção de um especialista em fechamento, que irá atuar em conjunto com a área de projeto/operação
durante o ciclo de vida do depósito de rejeitos ou mesmo de outras unidades de fechamento que compõem
determinada empresa de mineração.
Deverá também garantir que os recursos previstos para o encerramento estejam provisionados.
Quando o empreendedor optar pela estruturação de uma engenharia de registros, suas atribuições e
responsabilidades devem ser formalmente definidas e, de forma geral, o EdR tem como responsabilidades
na fase de encerramento:
▪ Assegurar que todas as informações sobre as estruturas, necessárias para o projeto e implantação
das obras de encerramento, sejam disponibilizadas;
▪ Assegurar que a estrutura final esteja de acordo com os critérios de projeto, objetivos de
desempenho, diretrizes e padrões aplicáveis e requisitos legais;
▪ Assegurar o registro de todas as informações relevantes das etapas de projeto, implantação e
monitoramento das estruturas encerradas, bem como a atualização dos desenhos “como construído”
incorporando todas as eventuais mudanças nesta fase.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
Assim como descrito para as demais fases do ciclo de vida de uma estrutura de disposição de rejeitos, o papel
de EdR pode ser desenvolvido por equipe de engenharia interna do empreendedor ou por empresa projetista
contratada para esta finalidade.
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VERSÃO REVISADA – 14/07/2019
• consequências que podem se manifestar a longo prazo (ex.: lixiviação de metais e sua
disponibilização à biota).
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VERSÃO 14/07/2018
ANEXO I – Atividades na FASE de OPERAÇÂO referentes às Barragens de Mineração em atendimento à Portaria DNPM nº 70.389, de 17 de maio
de 2017 e Portaria ANM, de fevereiro de 2019
instrumentação automatizado, método construtivo com pontuação 10 Resolução ANM nº 4 Até maio de 2019 para as
SISTEMA DE
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VERSÃO 14/07/2018
O que A quais estruturas se aplica Como Quando
O PSB de toda barragem de mineração construída Capítulo II, Seção I
BUILT
AS Elaborar projetos “como
após a promulgação da Lei 12.334 de 2010 deverá Art 9 § 5º Durante a fase de implantação.
construído”
conter projeto “como construído”.
Barragens de mineração enquadradas na PNSB. Capítulo II, Seção I Para barragens novas, deve
PLANO DE SEGURANÇA DA BARRAGEM -
Elaborar o PAEBM Barragens de mineração com DPA alto, bem como as Capítulo II, Seção I
estar disponível antes do início
com DPA médio, quando o item “existência de Art 9
do primeiro enchimento.
Definir Coordenador do população a jusante” atingir 10 pontos ou o item Capítulo VI
Quando exigido formalmente
PAEBM “impacto ambiental” atingir 10 pontos. Capítulo IX, Art 51
pela ANM: prazo de 12 meses.
PAEBM
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VERSÃO 14/07/2018
Sempre que ocorrerem modificações estruturais, Anexo II - RPSB Concluir nova RPSB no prazo de
como alteamentos ou modificações na classificação Anexo III- DCE seis meses contados da
dos rejeitos depositados na barragem. conclusão da modificação.
Revisão Periódica de Para barragens de mineração alteadas A cada dois anos ou a cada 10
Segurança – RPSB e continuamente, independente do DPA. metros alteados (o que ocorrer
Declaração de Estabilidade antes), com prazo máximo de 6
-DCE meses para a conclusão.
No caso de retomada de barragens por processo de Executar previamente a RPSB.
reaproveitamento de rejeitos.
Barragens de mineração enquadradas na PNSB. Capítulo IX, Art 50 Prazos para a primeira RPSB:
Outubro 2017 (DPA Alto),
Maio 2018 (DPA Médio),
Outubro 2018(DPA Baixo)
Inserir DCE referente à Barragens de mineração enquadradas na PNSB. Capítulo III, Seção I Após concluída a RPSB.
RPSB e respectiva ART no Art 13
SIGBM
Barragens de mineração enquadradas na PNSB. Art 22, alterado
Assinatura da Declaração As DCEs deverão ser assinadas pelo responsável conforme Resolução
DCE
Imediato.
de Estabilidade técnico e pela pessoa física de maior autoridade na ANM nº 4.
hierarquia da empresa.
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VERSÃO 14/07/2018
O que A quais estruturas se aplica Como Quando
Definir equipe de Barragens de mineração enquadradas na PNSB. Art 2; XVIII
Para barragens novas, antes do
segurança da barragem
INSPEÇÃO DE SEGURANÇA REGULAR DE
primeiro enchimento.
própria ou contratada
Estabelecer procedimentos Capítulo IV, Seção I Para barragens novas, antes do
para as Inspeções rotineiras primeiro enchimento.
Executar a Inspeção Regular Capítulo IV, Seção I Quinzenalmente, com períodos
ROTINA
Preencher Extrato de pontos, em qualquer coluna do Quadro “Estado de Capítulo V, Seção I extinta ou controlada.
Inspeção Especial (EIE) no Conservação”. Art 26
ESPECIAL
SIGBM
Relatório Conclusivo de Uma vez extinta ou controlada a anomalia que gerou Capítulo V, Seção I Quando a anomalia for extinta
Inspeção Especial (RCIE) a inspeção especial. Art 27 e 28 ou controlada.
e Anexo II
Informar no SIGBM a
extinção ou o controle da
anomalia
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VERSÃO 14/07/2018
O que A quais estruturas se aplica Como Quando
Barragens de mineração em emergência Níveis 1, 2 Capítulo IV, Seção V Quando iniciar-se uma
ou 3. inspeção especial de segurança
Declarar situação de ou em qualquer outra situação
SITUAÇÃO DE
EMERGÊNCIA
controlado, quando
aplicado, livre de
vegetação arbustiva e
arbórea, permitindo
inspeção visual adequada
da estrutura
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