118
118
118
Dezembro 2016
Mudanças do clima: breve histórico das conferências e análise de como o setor industrial químico
pode auxiliar o Brasil a atender suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa
Climate change: a brief history of conferences and analysis of how the chemical industry
sector can help Brazil to meet its greenhouse gases emission reduction targets
Abstract: Climate change has become a concern since the middle of last century. In 1992 the
United Nations Framework Convention on Climate Change was established. From there the
member countries meet annually to avoid the increase of greenhouse gases emissions, the
main cause of global warming. Important decisions were taken at these conferences, such as
the adoption of the Kyoto Protocol and the Paris Agreement. This article presents a brief
history of the conferences of parties, details that resulted in negotiations related to greenhouse
gases emissions targets by the validation of the nationally determined contributions of the
Convention's signatory countries in December 2015. It also analyzes the target set by Brazil
and how the industrial sector, and in particular the chemical can help the country so that the
national goal is reached.
2. Revisão Bibliográfica
3. Metodologia
Carbono equivalente: medida métrica utilizada para comparar as emissões dos diferentes
GEE com base no seu potencial de aquecimento global. Converte os GEE em equivalentes de
dióxido de carbono (sigla CO2e).
Clima: o tempo meteorológico médio ou descrição estatística em termos da média e da
variância, de quantidades relevantes e mudanças no tempo meteorológico num período de
tempo que vai de meses a milhões de anos.
Crédito de carbono: medida de redução de emissões de GEE padronizada em toneladas de
carbono equivalente, sigla tCO2e. Cada tonelada de CO2e equivale a um crédito de carbono.
Contribuição nacionalmente determinada: meta de redução de emissões de GEE. Cada
Parte da UNFCCC estabeleceu suas metas para combater o aquecimento global. Estas metas
foram validadas durante a CoP21 em 2015 e vão entrar em vigor a partir de 2020.
Nota: Até as NDCs serem validadas havia a palavra ‘pretendida’ na sua sigla, INDC. Após
validação as metas são reais, não mais pretendidas, e esta palavra saiu da sigla.
Efeito estufa: é a captura e acúmulo de calor na atmosfera (troposfera) perto da superfície da
terra. Parte do calor flui de volta para o espaço e é absorvido pelo vapor de água, dióxido de
carbono e vários outros gases na atmosfera e, em seguida, é novamente irradiado de volta para
a superfície terrestre. Se as concentrações atmosféricas desses GEE aumentarem, a
temperatura média da atmosfera irá aumentar gradualmente.
Gases de Efeito Estufa (GEE): constituintes gasosos da atmosfera, naturais e antrópicos, que
absorvem e reemitem radiação infravermelha. A tabela 1 apresenta os GEE e suas principais
fontes de emissão.
Mudança climática: qualquer alteração no clima que possa ser atribuída direta ou
indiretamente à atividade antrópica que altere a composição atmosférica global e seja
adicional à variabilidade climática natural, ambas observadas em um período de tempo
comparável.
Sumidouro: qualquer processo, atividade ou mecanismo que remova gás de efeito estufa,
aerossol ou precursor de gás de efeito estufa da atmosfera.
Protocolo de Quioto
Foi adotado na CoP3 e entrou em vigor em fevereiro de 2005. Este protocolo é um
marco para as tratativas referentes ao aquecimento do planeta, já que detalha os pilares
centrais do regime climático global internacional e tem como principal objetivo a redução de
emissão de gases de efeito estufa nos países industrializados. É comum nos documentos sobre
mudanças climáticas aparecer as expressões “países Anexo I” e “países não Anexo I”, a
primeira refere-se aos países que constam no Anexo I da Convenção do Clima, os países
desenvolvidos e a segunda aos demais países. Ficou estabelecido que países do Anexo I
teriam de reduzir suas emissões em 5,2% em relação aos níveis de emissão de 1990. Esta
redução seria medida e avaliada no período entre os anos de 2008 e 2012, o primeiro período
de compromisso do Protocolo.
Baseia-se no princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, que reúne
três critérios importantes na luta contra o aquecimento global. O primeiro é a responsabilidade
de cada país signatário na contribuição proporcional para a redução de emissões; o segundo é
que a capacidade para se enfrentar o aquecimento global deve ser proporcional à situação
interna de cada país, levando-se em conta a sua estabilidade política e econômica e a sua
riqueza. O terceiro é o da necessidade, no qual os esforços para se combater o aquecimento
global devem respeitar o igual direito ao desenvolvimento.
Segundo Granziera e Rei (2015), este princípio é um dos pilares centrais do regime
climático global internacional, pois foi usado como fundamento para a definição de
obrigações comuns, aplicáveis a todos os países signatários, bem como obrigações
diferenciadas, aplicáveis, particularmente, aos países desenvolvidos, listados no Anexo I da
Convenção do Clima, que, na primeira fase de construção do consenso para a assinatura da
referida Convenção, privilegiou o argumento centrado na responsabilidade histórica das
emissões de gases de efeito estufa.
O protocolo de Quioto inovou no estabelecimento de compromissos para a redução da
emissão dos gases de efeito estufa e no sistema de relatórios para países desenvolvidos, além
de definir metas obrigatórias de redução de emissão dos GEE. Para o cumprimento destas
metas foram propostos mecanismos de flexibilização e de negociação de emissões de GEE,
como o mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL).
Para viabilizar os mecanismos de negociação foram criados diversos procedimentos e
regras para a comercialização dos créditos de carbono.
O MDL foi amplamente utilizado no Brasil. Os países do Anexo I podem utilizar as
reduções certificadas de emissões resultantes das atividades de projetos, para contribuir com o
cumprimento de parte dos compromissos quantificados de limitação e redução de emissões. A
unidade padronizada de negociação é a tonelada de carbono equivalente (tCO2e).
Na CoP18, foi definido o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto,
válido de 2013 a 2020, instituído pela “Emenda de Doha ao Protocolo de Quioto”.
Acordo de Copenhague
Foi ratificado na CoP15 o compromisso de se limitar o aumento de temperatura média
global da superfície terrestre em 2°C em relação aos níveis pré-industriais. Também nesta
conferência deu-se a motivação para que cada país definisse e adotasse metas de redução de
emissão de gases de efeito estufa.
Plataforma de Durban
Foi acordada na CoP17 e estabelece que os detalhes dos compromissos do novo acordo
global sejam firmados até o ano de 2015, na CoP21, e serão válidos a partir de 2020.
Este compromisso foi acordado entre representantes de quase 200 países, inclusive os
Estados Unidos e a China, as principais potências poluidoras de gases de efeito estufa
(Marques, 2012). As negociações avançaram para a criação de um sistema capaz de permitir
pagamentos a países que reduzam suas emissões de GEE evitando desmatamentos. Também
foram estabelecidos detalhes sobre como as nações vão calcular suas emissões.
Acordo de Paris
Considerada uma conferência histórica pois, pela primeira vez, foi firmado um acordo
em que todos os países signatários da Convenção do Clima concordaram em assumir
compromissos para minimizar os efeitos do aquecimento do planeta, apresentando suas metas
voluntárias de redução de emissão de gases de efeito estufa (NDC) levando-se em
consideração o princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas, ou seja, a
distinção entre países mais e menos desenvolvidos.
O objetivo de longo prazo é estabilizar a temperatura da terra abaixo de 2oC até o final
deste século e aumentar a capacidade de adaptação à economia de baixo carbono. As NDCs
serão a base para a implementação de procedimentos de monitoramento, relato e verificação
(MRV), planos de adaptação, mecanismos de mercado e apoio financeiro.
As metas devem passar por revisão a cada 5 anos, sendo que os países em
desenvolvimento vão reportar o cumprimento das suas metas a cada dois anos.
Foi criado um novo mecanismo de mercado, que deve considerar os já existentes, como
o MDL. O grande diferencial é que este é válido para todos os países (desenvolvidos e em
desenvolvimento). Seu principal objetivo é promover a mitigação, permitindo que as reduções
de emissões de GEE de um país sejam utilizadas no próprio país ou por outros para que se
chegue ao cumprimento das metas estabelecidas.
O Acordo de Paris entrará em vigor no trigésimo dia após a data em que pelo menos 55
países membros da Convenção do Clima, representando pelo menos, 55% do total das
emissões de gases de efeito estufa tenham depositado os seus instrumentos de ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão. Ou seja, terá validade na prática com a ratificação de 55
países e que somem 55% das emissões mundiais.
No início de setembro de 2016 a adesão ao acordo teve um grande avanço, já que houve
a ratificação dos dois maiores emissores mundiais, Estados Unidos da América e China.
Somando estes países com os que já haviam assinado, o Acordo de Paris conta com a adesão
de 27 países, contabilizando 39,08% das emissões globais de GEE, considerando a data de
conclusão deste artigo.
A previsão inicial é de que o acordo passa a valer a partir do ano de 2020, porém há
expectativa de que outros grandes e médios países emissores anunciem sua ratificação ainda
no ano de 2016, o que pode fazer com que o pacto climático entre em vigor neste ano, quatro
anos antes da data oficial.
4.3 As metas de redução de gases de efeito estufa
Figura 1 – Percentual de emissões de GEE por setor, nos anos de 2005 e 2012
Fonte: Adaptado de Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil, MCTI, 2ª edição
(2014).
2005
2%
Energia
16%
4% Processos
industriais
Agropecuária
20%
58% Uso da terra e
florestas
Tratamento de
resíduos
2012
4% Energia
15%
Processos industriais
37%
Agropecuária
Uso da terra e
37% florestas
7% Tratamento de
resíduos
Estes dois anos foram escolhidos pois as metas de redução estabelecidas para o Brasil
definem o ano de 2005 como o ano-base e 2012 é o ano com dados oficiais mais recentes.
A tabela 3 e a figura 1 mostram que o setor processos industriais não está entre os
maiores emissores; permanece no 4º lugar em todos os anos analisados, atrás das áreas de uso
da terra e florestas, agropecuária e energia.
A figura 1 ilustra, ainda, que o setor processos industriais, em temos percentuais,
aumentou suas emissões de 4%, em 2005 para 7%, em 2012. Há vários motivos para esta
elevação, o que não significa, necessariamente, somente o aumento das emissões de GEE.
Este fato precisa ser analisado levando-se em consideração outros fatores como o aumento da
produção industrial e a competitividade. Nestes últimos anos o segmento vem desenvolvendo
tecnologias de baixo carbono, podendo produzir mais e emitir menos.
As estimativas anuais de emissões em análise separam o segmento processos industriais
nos subsetores de produção de: cimento, cal, outros usos do calcário e da dolomita, barrilha,
química, ferro-gusa e aço, alumínio, hidrofluorcabonos e hexafluoreto de enxofre. A tabela 4
e a figura 2 apresentam os resultados por subsetor.
Figura 2 – Percentual de emissões de GEE dos processos industriais por subsetor, nos anos de
2005 e 2012
Fonte: Adaptado de Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil,
MCTI, 2ª edição (2014).
2005
4,7%
0,8% Cimento
4,3%
18,4% Cal
Outros usos
6,9% calcário e dolomita
2,3% Barrilha
49,1% 13,1%
Química
0,3%
Ferro-gusa e aço
2012
0,2% Cimento
3,7%
7,7%
Cal
29,6%
Outros usos calcário
e dolomita
Barrilha
42,9% 7,5%
Química
3,9%
0,4% Ferro-gusa e aço
4,0%
Em termos de quantidade de emissões de gases de efeito estufa, o setor processos
industriais aumentou de 63.065 Gg tCO2e em 1995 para 85.365 Gg tCO2e em 2012. Aqui vale
o mesmo comentário feito acima, ou seja, ao analisar as razões de aumento, é importante se
considerar que outros fatores, como o aumento da produção nacional. Note que de 2011 para
2012 já houve um pequeno decréscimo, de 86.173 Gg tCO2e em 2011, para 85.365 Gg tCO2e
em 2012, o que pode ser atribuído ao uso de tecnologias de baixo carbono.
A indústria química já está reduzindo suas emissões, como demonstrado na tabela 4 e
figura 2. A partir de 2005 o setor diminuiu suas emissões em mais de 50%, de 10.224 Gg
tCO2e em 2005 para 3.446 Gg tCO2e em 2012. Em termos percentuais, passou de 13,1% para
4,0%, se comparado com os demais subsetores dos processos industriais.
Ainda em relação aos outros subsetores industriais, o químico foi o setor que mais
reduziu suas emissões no período considerado, como pode ser visto na tabela 4. Os anos de
2010 e 2011 tiveram redução significativa em relação ao ano de 2005, mais de 50%. Entre as
razões para esta diminuição pode-se mencionar (a) a utilização do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo em indústrias de produção de ácido adípico e ácido nítrico que
geram óxido nitroso, um dos gases de efeito estufa (vide tabela 1), (b) mudanças nos
combustíveis, com a substituição de óleo combustível por gás natural e biomassa e (c)
economia de energia térmica, com investimentos em caldeiras mais eficientes, cogeração de
energia, isolamento térmico de equipamentos e aproveitamento de outras fontes térmicas nos
processos.
Além disso, o setor dispõe de alternativas para alterar seus processos produtivos visando
fabricar de forma mais eficiente, usando menos energia e com menor emissão de gases à
atmosfera. A literatura científica já aponta inovação no uso de tecnologias para a indústria
química com vistas ao abatimento direto e/ou indireto de emissões de GEE, como: a
instalação de biorrefinarias de biomassa, palha e bagaço de cana, localizadas prioritariamente
próximas a usinas sucroalcooleiras, evitando uso de combustíveis fósseis, a produção de
bioquímicos, como glicerina e propilenoglicol, aproveitando-se a estrutura existente da cadeia
de óleos, a produção de amônia e metanol com base em hidrogênio, desde que o balanço
energético desta rota não gere emissões de GEE, o uso de biomassa como matéria-prima,
podendo originar novos produtos, diminuindo a pressão pelo uso de matéria-prima de origem
fóssil e o uso de energia para as rotas de biomassa ao invés de combustível fóssil, desde que o
balanço energético seja positivo.
Ainda, a indústria química está desenvolvendo atividades inovadoras que poderão ser
aplicadas, no longo prazo, para a redução direta e/ou indireta de emissões setoriais de GEE.
Exemplos: o uso de sílica nos pneus para redução do consumo de combustíveis em veículos, a
utilização de materiais avançados (compósitos/plásticos) para redução de peso de veículos,
impactando na redução do consumo de combustível.
Por outro lado, o setor governamental pode colaborar, propondo e aprovando, para as
plantas já instaladas, políticas públicas de incentivo da melhoria de eficiência energética que
pode reduzir o consumo de energia e, em consequência, reduzir a emissão de CO2. Para novas
plantas políticas públicas de incentivo para desenvolvimento de novas tecnologias,
tecnologias emergentes e tecnologias de ruptura, que também vão evitar a emissão de CO2.
Referências
RIBEIRO, W. C., Mudanças climáticas, realismo e multilateralismo. Terra Livre, ano 18,
vol. I, n. 18 p. 75 – 84 Jan. –Jun. 2002