Etica Moral e Direito No Transumanismo e
Etica Moral e Direito No Transumanismo e
Etica Moral e Direito No Transumanismo e
DE DIREITOS HUMANOS
DE COIMBRA: UMA VISÃO
TRANSDISCIPLINAR
IV CONGRESSO INTERNACIONAL
DE DIREITOS HUMANOS
DE COIMBRA: UMA VISÃO
TRANSDISCIPLINAR
ORGANIZAÇÃO:
http://www.inppdh.com.br http://igc.fd.uc.pt/
VITAL MOREIRA
JÓNATAS MACHADO
CARLA DE MARCELINO GOMES
CATARINA GOMES
CÉSAR AUGUSTO RIBEIRO NUNES
LEOPOLDO ROCHA SOARES
(Organizadores)
www.cidhcoimbra.com
1ª edição
Jundiaí/SP - Brasil
Edições Brasil / Editora Fibra / Editora Brasílica
2020
© Edições Brasil / Editora Fibra / Editora Brasílica - 2020
Supervisão: César Augusto Ribeiro Nunes
Capa: João J. F. Aguiar
Editoração eletrônica: João J. F. Aguiar, César A. R. Nunes, José R. Polli
Revisão ortográfica: os autores, respectivamente ao capítulo
Revisão Geral: Comissão Organizadora do IV CIDHCoimbra 2019
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José Fernando Petrini, Teresa Helena Buscato Martins.
Conselho Editorial Editora Fibra: Maria Cristiani Gonçalves da Silva, Francisco
Evangelista, Jean Camoleze, Jorge Alves de Oliveira, Sidnei Ferreira de Vares,
Thiago Rodrigues, Guilherme de Almeida Prazeres, Cristiano Reis.
Conselho Editorial Editora Brasílica: César Ap. Nunes, Leopoldo Rocha Soares, Daniel
Pacheco Pontes, Paulo Henrique Miotto Donadeli, Elizabete David Novaes,
Eduardo António da Silva Figueiredo, Egberto Pereira dos Reis
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
N9221a Nunes, César Augusto R.
Anais de Artigos Completos do IV CIDHCoimbra 2019 - Volume
1 / César Augusto R. Nunes et. al. (orgs) [et al.] – Jundiaí: Edições
Brasil / Editora Fibra / Editora Brasílica, 2020.
293 p. Série Simpósios do IV CIDHCoimbra 2019
Inclui Bibliografia
ISBN: 978-65-86051-03-2
1. Direitos Humanos I. Título
CDD: 341
Membros Convidados:
Prof. Doutor Rafael Mario Iorio Filho; Profa. Doutora Fernanda Duarte Lopes
Lucas da Silva; Profa. Dra. Alessandra Benedito; Mestre Alexandre Sanches Cunha.
SUMÁRIO
Apresentação .................................................................................................................... 08
A Diversidade Cultural na Europa Cosmopolita e o Tribunal Europeu dos Direitos
do Homem ........................................................................................................................ 10
Belisa Carvalho Nader
A Perspectiva da Migração sob a Luz da Nova Ordem Internacional .................... 22
Bruna Nubiato Oliveira, Maucir Pauletti
As Transformações do Século XXI e os Desafios ao Estado Democrático de Direi-
to: a crise do atual modelo democrático e a possível transição para uma pós-demo-
cracia .................................................................................................................................. 33
Rhuan Rommell Bezerra de Alcantara
Ética, Moral e Direito no Transumanismo e Pós-Humanismo ................................ 40
João Jerónimo Machadinha Maia
Derechos Ambientales Como Nueva Teoría Integral de Los Derechos ................. 53
Gregorio Mesa Cuadros
Efetividade dos Mecanismos de Proteção à Mulher Brasileira ................................. 65
Maria Eduarda Lievore Barros
O Discurso da Lei e da Jurisprudência: entre o significado
e a Descrição ..................................................................................................................... 77
Cláudia Ernst P. Rohden
A Operacionalização do Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes Ameaça-
dos de Morte no Estado do Ceará sob a Ótica da Organização Gestora: o desafio
de salvaguarda da vida na perspectiva da proteção Integral ...................................... 91
Mônica Sillan de Oliveira, André Henriques Bueno
Sujeitos, Objeto e Violência do Discurso na Mídia Digital ..................................... 100
Márcia Fernandes Bezerra
A Internet e a Dominação a Partir do Silêncio do Outro ....................................... 113
Rodrigo Bandeira Marra
Liberdade de Expressão e Informação na Ótica da Proteção de Dados Pessoais:
União Europeia e Brasil ................................................................................................ 126
Juliana Falci Sousa Rocha Cunha
O Impacto da Inteligência Artificial na Democracia ............................................... 135
Sofia Caseiro
A Culpabilização da Vítima: como as manchetes retratam a mulher agredida em
crimes de gênero ............................................................................................................ 143
Andrelize Schabo Ferreira de Assis, Lucélia Miranda de Souza Quintiliano
Punições Implícitas: Realidade da Execução Penal .................................................. 155
Gabriel de Faria Cussolim
Execução Penal: a violação das regras de Mandela no processo de execução penal
no Brasil ........................................................................................................................... 163
Maria Carolina Ramos, Luciene de Jesus Lima
O Suicídio nas Penitenciárias Brasileiras e a aplicação das regras de Mandela .... 172
Rafaela Alves da Fonseca Cassali
Presos que Dão à Luz: a relevância de políticas públicas em face das particularida-
des do gênero feminino ................................................................................................ 185
Lara Esteves Martins
A APAC Feminina de Frutal-Mg, Brasil, Como Opção à Efetiva Aplicação das Re-
gras de Mandela .............................................................................................................. 198
Keila Martins Mota
As Regras de Mandela no Sistema Penitenciário Federal Brasileiro: o isolamento do
preso e os direitos humanos ......................................................................................... 211
Olinda Vicente Moreira
A Dignidade da Pessoa Humana Face ao Sistema Carcerário Brasileiro: Regras de
Mandela ........................................................................................................................... 220
Isabela Joana Mateus Amorim
Justiça Restaurativa: as aplicações dos círculos de paz para adolescentes em conflito
com a lei .......................................................................................................................... 228
Ranna Santos Morais
Justiça Restaurativa como Guardiã da Democracia - uso de princípios restaurativos
no âmbito sociopolítico brasileiro ............................................................................... 234
Amanda Castro Machado
Democracia em Tempos de Crise: a justiça restaurativa como fortalecimento dos
direitos humanos ............................................................................................................ 247
Ana Paula da Silva Sotero
A Mediação Penal Pós-Sentencial Como Técnica de Justiça Restaurativa em Portu-
gal ..................................................................................................................................... 258
Marianna Salvão Felipetto
Justiça Restaurativa e o Filme “Abril Despedaçado”: um novo olhar sobre o crime
para a preservação da paz ............................................................................................. 274
Thaíse Ribeiro Santos Lima
A Insurgência da Justiça Restaurativa Contra o Paliativo - “Populismo Penal” -
Aplicado a Violência de Gênero ...................................................................................287
Jéssica Melo Martins, Nieda Machado da Silva
ÉTICA, MORAL E DIREITO NO TRANSUMANISMO
E PÓS-HUMANISMO
Resumo:
Este artigo mostra uma panorâmica sobre o debate ético-moral, com implica-
ções jurídicas, que tem vindo a ser desenvolvido sobre a aplicação das novas
biotecnologias no organismo humano, quando passíveis de alterar a condi-
ção humana. Trata-se de um debate com posições de ordem religiosa, técni-
co-científica e filosófica que demonstram, consoante o caso, maior ou menor
abertura a este tipo práticas. Neste sentido, também se aborda a documen-
tação que tanto a nível internacional como a nível nacional tem sido produ-
zida em matéria de direito biomédico bem como as práticas desenvolvidas
em diferentes contextos. Os dados apresentados e a discussão desenvolvida
demonstram a necessidade de democratizar o conhecimento e prática cientí-
fica e médica uma vez que este tipo de intervenções comporta uma dimensão
estética, para além do facto do progresso científico e tecnológico tender a
caminhar à frente da legislação produzida.
Introdução
Os desenvolvimentos recentes em áreas do conhecimento científico-tec-
nológico como a engenharia genética, a nanotecnologia, a inteligência artificial
ou a criogenia vieram alertar para a possibilidade de o ser humano desenvol-
ver uma capacidade tecnológica que lhe permita ultrapassar os limites físicos,
mentais e intelectuais ditados pela sua própria biologia. Tratam-se de tecnolo-
gias cujo o desenvolvimento é pressionado por diferentes tipos de interesses
no âmbito social, tanto a nível terapêutico como económico. Estes dados têm
colocado cada vez mais a relevância académica e científica do debate ético-
moral, com implicações jurídicas, sobre os conceitos de transumanismo e de
pós-humanismo. Os conceitos de transumanismo e de pós-humanismo são
As posições religiosas
No plano do debate público, as grandes religiões mundiais de tradição
abraâmica, como é o caso do judaísmo, do cristianismo e do islão, apresentam
maioritariamente posições de rejeição em relação à aplicação das novas bio-
tecnologias ao organismo humano, nomeadamente quando tais práticas impli-
cam determinações mais significativas. Com base nestas posições estão aquilo
que estas confissões advertem como sendo os interditos fundadores e a alte-
ridade absoluta. Ou seja, questões como a criação humana ou até mesmo a
inteligência, consciência e linguagem humanas terão sido criações de Deus e
como tal não cabe ao homem manipulá-las ou instrumentaliza-las de alguma
forma. Em concreto, estas posições têm sido muito dirigidas à possibilidade
da prática da clonagem humana reprodutiva ser constituída como uma técni-
ca de procriação medicamente assistida. No entanto, sobre este assunto, po-
demos encontrar algumas posições minoritárias nestas religiões que mostram
abertura ao desenvolvimento da clonagem humana reprodutiva. Por exemplo,
As posições técnico-científicas
Sobre o debate acerca da exequibilidade da técnica da clonagem humana
reprodutiva, é possível encontrar posições, em ambos os campos, com um
nível de fundamentação assinalável. Da parte de quem se opõe ao desenvol-
vimento da técnica, podemos encontrar as posições do geneticista francês
Axel Kahn. Segundo ele, tendo por base a experiência da clonagem da ove-
lha Dolly, a produção de um clone viável implica a reconstituição de muitos
embriões o que, desde logo, coloca muitas questões do foro ético-moral, se
for transposto para a clonagem de seres humanos. É muito recorrente, neste
campo, o argumento de que a destruição de um embrião humano implica a
destruição de uma vida humana. Para além disso, sendo necessária uma gran-
de quantidade de embriões humanos para desenvolver a técnica, o facto da
produção de ovócitos, nas mulheres, ocorrer a conta-gotas, até por compara-
ção com outras espécies de animais, também pode ser uma grande limitação
ao desenvolvimento da técnica (Kahn & Papillon, 2000). Sobre a hipótese da
clonagem de órgãos humanos para fins terapêuticos, Kahn assume que não
há nenhuma garantia que seja possível a produção ex vivo de órgãos de ma-
míferos, apesar de algumas experiências promissoras já realizadas para a pro-
dução de órgãos menos complexos. “No entanto, órgãos mais complexos, como o
coração, os rins ou o pâncreas, são constituídos por uma rede de numerosos tecidos celulares,
cuja reunião resulta no próprio órgão e na sua função específica. Parece, pois, claramente
mais difícil conseguir gerar outros tantos tecidos, paralela e simultaneamente, para assegurar
As posições filosóficas
Do ponto de vista filosófico encontramos neste debate vários tipos de
posições que se fundamentam em elementos de diferentes ordens, incluin-
do elementos científicos, para defenderem, consoante o caso, oposição ou
abertura à aplicação das novas biotecnologias no ser humano. A área neo-
conservadora, nos Estados Unidos da América, por influência de grupos re-
ligiosos tem relevado posições contrárias em relação à aplicação dos recentes
desenvolvimentos da biotecnologia. Francis Fukuyama (2002) sendo oriundo
desta área política não coloca de parte estas posições. Na sua perspetiva de
evolução humana não descarta a possibilidade de ter havido a emergência, a
certa altura, de uma alma no ser humano. No entanto, este autor socorre-se
de outro tipo de posições para defender a proibição deste tipo de biotecno-
logias. Adotando uma influência aristotélica assume a distinção entre o que
é natural e o que é convencional. Para ele, está em causa o perigo de alterar
a natureza humana e o fator x. Segundo Fukuyama, todos os seres humanos
têm determinadas caraterísticas, os chamados universais, que os identificam
Considerações finais
Ao debatermos os conceitos de transumanismo e de pós-humanismo,
por um lado na área ético-moral, por outro lado na área jurídica, encontramos
um campo óbvio de ligação entre as duas áreas. A ideia atual de dignidade hu-
mana, que se encontra transposta na Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos das Nações Unidas, está fundada numa herança histórica de elemen-
tos sucessivos da teologia, da filosofia kantiana e do legado do pós-II Guerra
Mundial (Bostrom, 2007). Este conceito de dignidade humana poderá sempre
ser alvo da crítica de que encerra uma visão ligada a um processo histórico es-
pecífico. Na mesma medida, também se pode apontar à documentação e à le-
gislação internacional e nacional, em matéria de direito biomédico, o facto de
estar muito centrada em processos como a procriação medicamente assistida,
a clonagem e mesmo as terapias genéticas excluindo todas as outras técnicas
futuras que ainda não são possíveis de conceber mas que se tornam plausíveis
dadas as promessas que os desenvolvimentos da ciência e da tecnologia vão
trazendo. As aplicações de áreas como a nanotecnologia e a criogenia colo-
cam questões de uma complexidade tal que ultrapassam as implicações estri-
tas para a pessoa intervencionada. Provavelmente em muitos casos colocar-
se-ão implicações para os familiares da pessoa intervencionada e, uma vez que
as técnicas sejam aplicadas em larga escala, haverá com certeza implicações de
ordem sociodemográfica, socioeconómica, sociocultural e ambiental.
Neste sentido, defende-se a ponderação da dimensão estética em cada
intervenção no domínio das biotecnologias em humanos. Valores mais altos
como o alívio do sofrimento, a justiça, a igualdade, a liberdade, a equidade, a
Referências
ANTUNES, J. L. Ética e participação pública. In Conselho Nacional de Ética para
as Ciências da Vida (Ed.), Nanotecnologias e O.G.M.: Ciência, Ética, Sociedade
– Actas do 11º Seminário do CNECV (pp. 13-20). Lisboa: Conselho Nacional de
Ética para as Ciências da Vida. 2011.
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2016, de http://www.nickbostrom.com/ethics/dignity-enhancement.pdf.
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BRAIDOTTI, R. The Posthuman, 7ª Edição. Cambridge: Polity Press. 2015.
DESCAMPS, P. Que faire du droit familiar de Fichte? Les études
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FAUSTINO, V. Uma introdução a um consenso improvável. In R. Naumann
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HABERMAS, J. O futuro da natureza humana: a caminho de uma eugenia liberal
(M.B. Bettencourt, Trad.). Coimbra: Edições Almedina. 2006.