Desvendando o Nosso Lar - de Souza, Luis Eduardo
Desvendando o Nosso Lar - de Souza, Luis Eduardo
Desvendando o Nosso Lar - de Souza, Luis Eduardo
o NOSSO LAR
Universo dos Livros Editora Ltda.
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Telefone: (11) 3217-2600• Fax: (11) 3217-2616
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e-mail: [email protected]
Luis Eduardo de Souza
ISBN 978-85-7930-126-1
Aos leitores que adquiriram o meu livro anterior, O homem que falava com
espíritos, que ocupou por seis semanas seguidas o ranking de “Mais Vendidos”
da revista Veja, trazendo-me enorme alegria pela repercussão positiva do
trabalho e motivando-me a escrever esta segunda obra.
À equipe editorial da Universo dos Livros e aos seus colaboradores, que
foram fundamentais na produção deste livro.
Aos meus pais José Dagoberto e Benedicta, fãs e incentivadores do meu
trabalho.
À Pauline, companheira de hoje, amanhã e sempre.
P REFÁCIO
“Embora ninguém possa voltar atrás para fazer um novo começo, qualquer um
pode começar agora a fazer um novo fim.”
Chico Xavier
Nosso Lar
Uma colônia de auxílio.
Fundada por um grupo de abnegados trabalhadores.
Sua missão é a de socorrer e trazer esclarecimentos.
Atende uma multidão de necessitados.
Muitos deles não tinham ainda consciência da morte.
Julgavam-se ainda encarnados, ou em vida, como diziam.
Mas precisavam de auxílio.
Morrer como nascer não é fácil, pois o desapego é difícil.
Nosso Lar ajuda na transição.
Auxilia a se livrar do apego à Terra.
Ajuda a preparar-se para uma nova oportunidade.
Embora ninguém possa voltar atrás para fazer um novo começo.
Qualquer um pode começar agora a fazer um novo fim.
É exatamente isso que ensina Nosso Lar.
Propiciar a todos os elementos necessários ao recomeço.
Essa é a missão de Nosso Lar.
Pouco a pouco seus instrutores tiram o véu de sobre o místico que cerca a vida
após a morte.
Trazem a todos os socorridos mais do que o simples esclarecimento.
Dando a eles a oportunidade de um recomeço.
E assim, de conquistar um novo lar, o Nosso Lar…
I NTRODUÇÃO
Nosso Lar
Os mensageiros
Missionários da luz
Obreiros da vida eterna
No mundo maior
Libertação
Entre a terra e o céu
Nos domínios da mediunidade
Ação e reação
Evolução em dois mundos
Mecanismos da mediunidade
Sexo e destino
E a vida continua…
Além destes, André ditou a Chico Xavier livros como Desobsessão, Sinal
Verde, Respostas da Vida, Apostilas da Vida e Endereços da paz. Em parceria
com Emmanuel ditou ainda Estude e viva, Ação e Caminho, A verdade responde
e Tempo e nós. Juntamente com o Espírito Lucius ditou Cidade no Além.
C ONTEXTO HISTÓRICO
“A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é o jogo escuro das
ilusões.”
André Luiz
Todos aqueles que assistiram ao filme ou fizeram a leitura do livro Nosso Lar
inicialmente se depararam com conceitos do Espiritismo que apresentam um
mundo novo para quem está tomando contato pela primeira vez com as
informações sobre o mundo espiritual. E mesmo para quem já tem uma ideia
inicial, não é tão simples entender conceitos como Espíritos, encarnação, lei de
ação e reação, umbral, colônia espiritual, médium, entre outros. Porém, sem o
aprofundamento nesses conceitos, fica quase impossível entender a vida após a
morte descrita por André Luiz em Nosso Lar.
Diferentemente da ideia do “morreu, acabou” ou do “dia do juízo final” em
que eleitos serão escolhidos para voltar à vida, o Espiritismo traz como base a
ideia de continuidade da vida após a morte, norteada pelo conceito de
reencarnação.
A reencarnação é a oportunidade que cada Espírito tem de ter diferentes
existências no planeta, cada uma em um corpo diferente. O Espírito é sempre o
mesmo, mas o corpo muda de uma existência para a outra, e o Espírito pode
habitar um corpo de homem ou de mulher. O número de encarnações em cada
sexo depende da necessidade de cada Espírito. Experiências no sexo feminino
podem ajudar o Espírito no desenvolvimento da emoção, da sensibilidade, do
instinto de conservação, da delicadeza de gestos, do contato social, entre outros.
Só quem já passou pela prova da maternidade, por exemplo, pode testemunhar o
quanto ela ajuda na compreensão do amor fraterno e no desenvolvimento do
carinho para com o filho.
Em contrapartida, experiências no sexo masculino ajudam a acentuar a
racionalidade, a força, o senso de responsabilidade pelo sustento da família,
entre outros.
Assim, o sexo escolhido terá como premissa aquele que facilitar mais a sua
evolução, e em geral, o Espírito tende a reencarnar mais em um sexo do que em
outro. O número de reencarnações pelo qual terá de passar dependerá
basicamente da velocidade em que ele evoluir. Quanto mais lenta for sua
evolução, maior o número de reencarnações, visando a auxiliá-lo por meio de
experiências diferentes.
Referente ao assunto homossexualismo, o Espiritismo é contrário a qualquer
tipo de discriminação. Apesar de não abordar diretamente o assunto em nenhuma
das obras básicas de sua codificação, o Espiritismo ensina que todos podem
trazer tendências de vidas passadas, nas quais podem ter habitado um corpo de
sexo diferente do desta encarnação.
Segundo Kardec, o Espírito, inicialmente, não possui gênero sexual, ou seja,
não é homem ou mulher. Somente quando encarna no planeta é que o Espírito
passa a se diferenciar em um corpo masculino ou feminino. Ele afirma que um
espírito não reencarna como homem ou mulher em porcentagem igual; quase
sempre há uma predominância de um dos lados. Assim, no estágio atual de
evolução, mesmo no mundo espiritual, ainda não existe uma personalidade
sexual neutra. Somente Espíritos de primeira ordem – os chamados Espíritos
puros – é que conseguem não apresentar tendências para um ou para outro lado.
Esporadicamente e por necessidade evolutiva acontece um processo chamado
encarnação inversiva, no qual um Espírito com tendência feminina encarna em
um corpo físico masculino ou vice-versa. Mesmo assim, esse tipo de encarnação
não determina necessariamente a prática homossexual, pois uma premissa básica
do Espiritismo é o uso do livre-arbítrio do indivíduo para fazer qualquer tipo de
escolha, incluindo as sexuais.
Mas nem todo homossexual é um Espírito necessariamente vindo em uma
encarnação inversiva, pois existem pessoas de encarnação normal, mas que
sofreram traumas na infância que influenciaram diretamente sua opção sexual.
Outras vezes, o impulso sexual incontrolável – tanto no caso de homossexuais
ou heterossexuais – pode estar relacionado a uma obsessão (ação prejudicial que
um Espírito exerce sobre um encarnado) e, para isso, o Espiritismo oferece
tratamento fluidoterápicos e desobsessivos.
Em seu livro Vida e Sexo, no capítulo que trata sobre homossexualidade,
Emmanuel afirma que:
Como narra André Luiz, no outro lado da vida o sexo deixa de ter a
importância que possuía na Terra. Espíritos não têm sexo como entendemos aqui
na Terra, o que não significa que sejam assexuados. Vemos, em Nosso Lar, que
eles conservam características do sexo que tinham nas últimas encarnações.
O sexo é tido pelo Espiritismo como algo sagrado. Durante uma relação
sexual são trocados fluidos e energias entre os pares. Quando feito com amor, ele
ajuda a revigorar as energias e coloca os pares em contato com algo
extremamente sublime. Nesse tipo de relação não é permitido que Espíritos
inferiores acompanhem o ato sexual.
Já quando existe a promiscuidade, Espíritos menos elevados ficam próximos
para se nutrirem das energias psíquicas do casal e podem participar junto da
relação, algumas vezes, inclusive, comandando seus atos e buscando a satisfação
de desejos de todos os níveis, fazendo os pares serem quase marionetes e meros
executores dos seus desejos.
Boa parte dos Espíritos que desencarna está altamente comprometida pelo
mau uso que fez do sexo enquanto estava na Terra. Toda relação sexual gera
algum grau de comprometimento entre os pares, e se usada como algo
simplesmente para satisfazer o instinto, pode causar sérios problemas para quem
dela fez uso. Há Espíritos, por exemplo, que chegam ao outro lado com sensação
de dor na região genital.
Em No mundo maior, livro psicografado por Chico Xavier, André Luiz narra
sua ida a um grupo de estudos e o esclarecimento que recebeu dos instrutores
sobre o assunto sexo:
Em Nosso Lar, vemos o caso de Laerte, pai de André Luiz e que, mesmo após
o seu desencarne, continuava sendo usado como joguete e marionete por suas
ex-amantes na Terra, não conseguindo se libertar delas e nem tão pouco sair do
Umbral rumo a uma colônia espiritual.
Uma explicação muito interessante sobre esse assunto é dada no livro
Missionários da luz, terceira obra de autoria do espírito André Luiz. Nele, André
questiona o instrutor Alexandre sobre a inviolabilidade das relações sexuais, o
qual responde:
Quando encarnado, o corpo físico é unido ao Espírito por um laço bem tênue
que se desfaz somente no momento do desencarne. Enquanto estão aqui no
planeta, corpo e Espírito formam um conjunto só, porém, quando em sono
profundo, o Espírito tem a oportunidade de se desligar do corpo e retornar a sua
pátria espiritual, tendo algumas vezes vaga lembrança disso por meio do sonho.
André Luiz narra o episódio em que se espantou ao ver dois vultos enormes,
que pareciam homens feitos de uma substância indefinível, semiluminosa, que
ele classificou como autênticos fantasmas.
Ao solicitar esclarecimento à companheira Narcisa, esta asseverou que se
tratava de Espíritos poderosos que viviam na Terra encarnados em missão
redentora e que recebiam a permissão de abandonar o veículo corpóreo
temporariamente para transitar livremente no outro plano. Ela afirmou ainda que
encarnados que têm a oportunidade de ir até lá são criaturas extremamente
espiritualizadas, apesar de humildes na Terra.
O Espiritismo dá ao sono uma significação muito mais profunda do que a
simples finalidade de descanso do corpo físico. No período em que permanece
adormecido, o corpo não necessita da presença do Espírito para comunicar-lhe
atividades físicas ou mentais. Então o Espírito se liberta, afastando-se do corpo e
reintegrando suas faculdades perceptivas e ativas, passando a agir a distância do
corpo físico e tendo contato direto com o mundo extrafísico onde vivem os
Espíritos, local também conhecido como erraticidade. No momento em que se
desprende do corpo, o Espírito permanece ligado somente por um cordão
fluídico e energético.
Dependendo de seus interesses e de sua evolução, o encarnado poderá
aproveitar esses momentos para visitar outras esferas espirituais em que terá a
oportunidade de aprender e conversar com seres que com ele se sintonizem ou
mesmo de reencontrar amigos que estão no plano físico ou no espiritual.
Quando uma pessoa é excessivamente apegada à matéria, seu Espírito procura
por ambientes mundanos ou mesmo por locais do outro lado onde habitam
Espíritos inferiores, buscando satisfazer seus impulsos enquanto dorme.
O sono tem uma enorme importância para o encarnado. Se este acorda se
sentindo bem, é porque esteve, durante a noite, em boa companhia. Ao contrário,
se despertar cansado e com mau humor, é porque esteve em companhia de
Espíritos ignorantes. O Espiritismo indica que, antes de dormir, seja feita uma
oração a Deus para que o encarnado sintonize os planos mais elevados.
Curiosamente, em Nosso Lar, André Luiz relata que Espíritos também
dormem no outro lado, narrando o episódio do encontro com a sua mãe, que
estava em uma esfera superior e que teve oportunidade de se encontrar com
André durante o sono deste.
Ao desencarnar, o Espírito se liberta do corpo físico, considerado por este uma
verdadeira prisão, e retoma, pouco a pouco, aptidões que tinha anteriormente,
como a possibilidade de volitar*, já que o corpo físico traz limitações ao
Espírito. Para entender isso, é só se lembrar das roupas dos astronautas, que
permitem o movimento fora da atmosfera terrestre, mas que tornam os
movimentos dos astronautas muito mais lentos e difíceis do que se estivessem
aqui no planeta e sem a roupa. Porém, um Espírito não pode prescindir do corpo
físico para habitar o planeta, da mesma maneira que os astronautas necessitam
de roupas especiais.
Esse processo de desencarne é acompanhado por uma equipe de socorro
espiritual, que prestará auxílio ao Espírito se este tiver merecimento e o ajudará
no processo de desligamento dos fios tênues que prendem-no ao corpo, trazendo,
se possível, esclarecimentos sobre a nova situação dele e levando-o a uma
colônia espiritual, onde receberá os primeiros cuidados. Esse desligamento pode
ser feito lentamente ou de maneira brusca, dependendo do tipo de desencarne,
por exemplo, por doença ou por acidente com morte imediata.
Quem já acompanhou o processo de desencarne de um parente em um hospital
pode ter a ideia de um procedimento extremamente comum. Os Espíritos iniciam
o processo de desligamento, mas, por vezes, os parentes que estão lá com o
doente vibram tão intensamente para que ele continue vivo que acabam
dificultando demais o processo de desligamento. Para resolver isso, os Espíritos
fazem o doente ter uma melhora súbita. Nesse momento, os parentes relaxam e
retornam aos seus afazeres, e então, na sequência, os Espíritos podem retomar o
processo de desligamento, vindo o doente a falecer em poucas horas.
Porém, nem sempre é possível aos socorristas prestar o atendimento no
processo de desencarne. Espíritos altamente comprometidos que praticaram o
mal durante sua existência podem ser recepcionados, no momento do
desencarne, por inimigos que buscam se vingar deles ou mesmo por Espíritos
ainda não evoluídos e que entram em contato com eles a fim de levá-los consigo
para regiões do Umbral, por exemplo. Estes poderão até tentar escravizá-los para
que façam parte do seu grupo de Espíritos que praticam o mal aos encarnados
que se sintonizem com eles.
Muitos desses Espíritos passam muito tempo na espiritualidade até ter
consciência exata de que desencarnam. Alguns deles tentam ficar junto das
coisas que tinham aqui na Terra e julgam, por vezes, que enlouqueceram. Esse
tormento durará até que tenham consciência de que não pertencem mais à
matéria e se livrem do ódio e da maldade que os impede de receber auxílio.
Quem assistiu ao filme Ghost: do outro lado da vida terá a visão clara do
desencarne de um Espírito bom e de um Espírito que praticou o mal em vida. O
primeiro terá um processo similar ao do personagem Sam, quando vai ao
encontro do plano espiritual. Já o do segundo será similar ao do assassino de
Sam que, quando desencarna, é recepcionado por seres trevosos. Tirando toda a
fantasia do cinema e ficando somente com a essência da cena, é possível ter uma
ideia próxima do que acontece.
Evidentemente, não existe uma regra geral para o desencarne, podendo este
variar um pouco de Espírito para Espírito. Desencarnar, porém, não traz ao
Espírito nenhuma mudança significativa. A vida do outro lado é continuidade da
que ele tinha aqui. Com isso, vemos que ninguém vira santo depois de
desencarnar e nem tão pouco fica mau. Os Espíritos conservam as características
que tinham em vida. O que determinará o tipo de companhia que terão do outro
lado será a afinidade e a sintonia com elas. Quem pensa o mal ou está em
desespero se identifica com Espíritos que também pensam o mal. Quem praticou
o bem e está tranquilo e sereno se identifica com Espíritos que buscam a prática
do bem. É simplesmente uma questão de sintonia.
Ao tomar contato com essas informações sobre desencarnação,
inevitavelmente vem à nossa mente questões referentes à possibilidade de
doações de órgãos e ao prazo adequado para enterro ou cremação do falecido.
Quando Allan Kardec escreveu suas obras, a ciência não cogitava a
possibilidade de existir a doação de órgãos. Por isso, esse assunto não foi
abordado. No entanto, quando questionou aos Espíritos sobre se “A alma não
leva nada deste mundo?”, ele recebeu a seguinte resposta: “Não mais que a
lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor”.
Como visto anteriormente, quando o Espírito desencarna, seu corpo físico não
lhe serve para mais nada. Como o objetivo do ser humano é evoluir, e para isso,
a principal ferramenta é a prática da caridade, o Espiritismo é favorável à doação
de órgãos.
No entanto, apresenta-se uma questão importante. Segundo os espíritas, é
preciso diferenciar morte e desencarnação. Enquanto a morte é a paralisação
definitiva das funções físicas, a desencarnação é o desligamento do Espírito do
corpo físico, e não necessariamente os dois fenômenos ocorrem
simultaneamente.
Comentamos anteriormente que pode ocorrer a morte, mas o Espírito
continuar ligado ao corpo em virtude do excessivo apego que ele tem pela
matéria. Enquanto o Espírito se mantém ligado ao corpo, ele possui todas as
sensações ligadas à matéria. Por essa razão, o Espiritismo aconselha que se
obtenha antes a concordância do doador, pois se efetuada a retirada de algum
órgão sem que o Espírito esteja de acordo, ele pode vir a sofrer algum tipo de
perturbação ou de dor, uma vez que as sensações físicas perduram algumas horas
após a morte, principalmente se o Espírito for muito materialista.
Quanto a enterro e cremação, vemos que o Espírito preexiste e sobrevive ao
corpo. Tanto o sepultamento como a cremação são formas de acomodar o
cadáver e expressam o livre-arbítrio de cada um. No entanto, a escolha da
cremação exige que se tenha um desapego aos laços materiais, pois se estiver
ligado à matéria, o Espírito poderá sofrer demasiadamente ao ver seu corpo
incinerado.
O espírito Emmanuel, na psicografia de Chico Xavier, informa que “a
cremação é legítima, desde que haja um período de, pelo menos, 72 horas de
espera para que ela ocorra”.
A cremação, com base em critérios médico-científicos, pode se dar em 24
horas, mas, segundo o Espiritismo, o período deve ser maior, para que se tenha a
certeza de que o Espírito se desligou totalmente do corpo e, dessa forma, não
receba a impressão do acontecido, o que evita traumas psíquicos.
Quanto ao enterro, se o Espírito continuar apegado à matéria e velando seu
corpo, ele poderá sofrer da mesma maneira ao perceber a decomposição deste. O
ideal é que a pessoa se torne mais espiritualizada, para que, no momento em que
passar pelo processo de desencarne, ela se desligue tranquilamente e inicie uma
nova etapa de vida.
Em Nosso Lar, André Luiz, ao trabalhar junto com Narcisa nas câmaras de
retificação, tem contato com o caso de Francisco. Ao vê-lo em desespero como
se estivesse sendo perseguido, André questiona Narcisa sobre o que estava
acontecendo, e ela esclarece que Francisco se via perseguido pelo próprio
cadáver, relatando:
A recordação dessa ou daquela falta grave que fica calcada no Espírito sem que
tenha tido oportunidade de desabafo ou correção cria na mente um estado
anormal que classificamos de zona de remorso, provocando distonias diversas
de uma encarnação para outra.
Deus, algumas vezes, permite que elas vos sejam reveladas, conforme o objetivo.
Se for para vossa edificação e instrução, as revelações serão verdadeiras e,
nesse caso, feitas quase sempre espontaneamente e de modo inteiramente
imprevisto. Ele, porém, não o permite nunca para satisfação de vã curiosidade.
Perdoe a curiosidade; no entanto, até agora, ainda não pude conhecer mais
detidamente o que se relaciona com o meu passado espiritual. Não estou isento
dos laços físicos? Não atravessei o rio da morte? A senhora recordou o passado
logo após sua vinda ou esperou o concurso do tempo?
Ela explicou que é necessário ter grande equilíbrio e livrar-se das impressões
físicas para poder se recordar de coisas que, muitas vezes, nos recordam de
grandes erros que cometemos. “Quem lembra o crime cometido costuma
considerar-se o mais desventurado do Universo; e quem recorda o crime de que
foi vítima considera-se em conta de infeliz, do mesmo modo”, esclarece.
Dona Laura também esclarece que, nos primeiros tempos, tinha somente uma
lembrança vaga e que, juntamente com seu marido, procurou o assistente
Longobardo, que após examinar cuidadosamente suas impressões, encaminhou-
os aos magnetizadores do Ministério do Esclarecimento.
Lá, eles foram direcionados à seção do arquivo, onde estão guardadas as
anotações de cada um, e foram aconselhados a ler, durante o período de dois
anos, as próprias memórias que ali se encontravam e que dizem respeito ao
período anterior, há trezentos anos.
O chefe do serviço de recordações não permitiu que eles tivessem acesso a
lembranças anteriores a este período, dizendo que estas poderiam ser muito
dolorosas e que eles não eram capazes de suportá-las.
Após ler as anotações, eles passaram um longo período meditando sobre elas,
e só então, foram submetidos a determinadas operações psíquicas por meio do
recebimento de passes no cérebro, o que propiciou poderem entrar fundo em
suas lembranças e conhecerem os últimos trezentos anos de história do casal.
Com isso, viram que ainda eram muito devedores e combinaram reencarnar
juntos no planeta.
Referente à escolha da família em que o Espírito vai reencarnar, esta nem
sempre se dá por meio de afinidade entre os futuros familiares. Muitas vezes, o
laço entre eles será somente corporal, e os Espíritos serão colocados na mesma
família para que possam superar desavenças do passado e evoluir juntos.
Durante a gestação, o Espírito já passa a conviver com a mãe para se
ambientar a ela e ao planeta, guardando consigo algumas impressões desse
período. Assim, o amor dos pais nesse período o ajuda a ganhar ânimo. Já as
brigas entre os pais podem gerar traumas e medos no Espírito, e estes o
acompanharão enquanto encarnado.
O Espiritismo ensina que a reencarnação é o instrumento pedagógico de que
Deus se utiliza para proporcionar a oportunidade da evolução espiritual rumo à
perfeição possível. Portanto, permitir, por meio da paternidade ou da
maternidade, o retorno de um espírito que necessita reencarnar para evoluir é um
ato de amor e de caridade. Porém, o casal tem o direito de fazer a sua
programação familiar e definir quantos filhos terão, levando em consideração
fatores inclusive de ordem econômica. A questão, portanto, é complexa e deve
ser analisada conforme cada caso. Havendo razões realmente justas, pode o
homem limitar sua prole, principalmente se o casal já possui filhos e entender
que não mais convém ter outros. Assim, o uso de anticoncepcional e outros
métodos contraceptivos não são proibidos pelo Espiritismo, exceto aqueles
considerados abortivos como o DIU e a pílula do dia seguinte.
“Ninguém quer saber o que fomos, o que possuíamos, que cargo ocupávamos
no mundo; o que conta é a luz que cada um já tenha conseguido fazer brilhar em
si mesmo.”
Chico Xavier
Por que será que eu nasci em determinada família? Será que existe alma
gêmea? Quando desencarnar, será que eu poderei reencontrar meus entes
queridos? Viverei do outro lado com minha esposa, meu marido ou meus filhos?
Essas são dúvidas comuns de quem começa a estudar a vida do outro lado. É
natural esperar ser recepcionado por amigos e parentes que desencarnaram antes.
Ao ler Nosso Lar, vemos que isso é claramente possível, mas não está
exclusivamente sob a nossa vontade.
Da mesma maneira, ao desencarnar, é natural querer ter notícias daqueles que
continuam encarnados no planeta. Chico Xavier dizia que “o telefone toca de lá
para cá”, afirmando assim que são os Espíritos que fazem o contato com os
médiuns, e não o contrário. Mas será que a todo Espírito é dada a oportunidade
de entrar em contato com seus parentes na Terra?
Ao ser atendido pelo irmão Herinque de Luna, do serviço de assistência
médica da colônia espiritual, André Luiz tinha, entre seus muitos
questionamentos, um que o atormentava sobremaneira: “Que terá sido feito de
minha esposa Zélia e de meus filhos?”, pensava.
Em certo momento, André Luiz teve a oportunidade de questionar o amigo
Lísias sobre a possibilidade de encontro com aqueles que o antecederam na
morte do corpo físico. Ao receber uma resposta afirmativa de Lísias, André
perguntou, reticente:
Por que não me visitam? Na Terra, sempre contei com a abnegação maternal.
Minha mãe, entretanto, até agora não deu sinal de vida. Meu pai, igualmente,
fez a grande viagem três anos antes do meu trespasse.
Foi só então que André recebeu o esclarecimento de que sua mãe o havia
ajudado dia e noite, desde o momento em que ficou doente até o tempo de oito
anos que passara no Umbral. Nesse período, ela havia intercedido muitas vezes a
seu favor, rogando a Clarêncio, que passou a visitá-lo frequentemente, até que,
vencido pelo cansaço, André percebesse a presença do querido instrutor. Porém,
por estar menos evoluído, ele não conseguiu sentir a presença da mãe durante os
oito anos que passou no Umbral.
No plano espiritual, desde que foi socorrido inicialmente, ele nutria forte
desejo de encontrar sua mãe e também seu pai. Porém, foi pouco a pouco que
recebeu esclarecimentos a respeito. Sua mãe, por exemplo, estava em esfera
mais elevada e só depois de algum tempo teve permissão para ir visitá-lo em
Nosso Lar. Assim, vemos que a um Espírito superior pode ser permitida a visita
a um Espírito menos evoluído, porém o contrário não acontece. Por essa razão, a
mãe dele foi quem teve a oportunidade de visitá-lo, algum tempo depois que ele
foi socorrido.
Na visita, ela também trouxe notícias sobre Laerte, seu pai, que se encontrava
em pior situação. Estava há doze anos vagando por uma região do Umbral. Na
Terra, sempre parecera fiel às tradições da família, arraigado ao cavalheirismo do
alto comércio, a cujos quadros pertenceu até o fim da existência, e ao fervor do
culto externo, em matéria religiosa, mas, no fundo, era fraco e mantinha ligações
clandestinas fora do lar. Duas delas estavam mentalmente ligadas à vasta rede de
entidades maléficas, e tão logo desencarnou, a passagem ao Umbral lhe foi
muito amarga, pois as duas o aguardavam lá, prendendo-o de novo às teias da
ilusão.
Sua mãe, já desapegada das paixões, visitava constantemente Laerte. Porém,
era preciso a adesão mental dele para tirá-lo de lá, coisa que estava muito difícil
de conseguir, tal a ligação dele com a mentira e com as duas mulheres. André
também ficou sabendo que suas irmãs Clara e Priscila viviam no Umbral. Já a
irmã Luisa, depois de tentar auxiliar os parentes juntamente com a sua mãe,
preparava-se para reencarnar na mesma família, a fim de auxiliar a minimizar as
grandes perturbações pelas quais esse lar estava passando.
Em Nosso Lar, André também tomou contato com outro caso de separação e
reencontro espiritual, que se deu entre Hilda e Tobias. Eles haviam se casado
ainda na Terra, quando eram muito jovens. Porém, poucos anos depois, ela veio
a desencarnar durante o nascimento do seu segundo filho. Um sofrimento
enorme se abateu sobre o marido, que ficou na Terra e que chorava o tempo
todo. Da mesma maneira, ela se via sem forças para sufocar a própria angústia,
tendo ficado por tempos no Umbral após o desencarne. De tempos em tempos,
ela voltava ao velho lar e ficava agarrada, em desespero, ao marido e ao casal de
filhinhos.
Porém, um ano após o seu desencarne, o marido decidiu casar-se com
Luciana. Hilda se revoltou com a situação e só pensava em se vingar dela,
aniquilando-a. Ao receber a visita de sua avó materna, ela conseguiu se
esclarecer à medida que esta dizia que Luciana estava ali para cuidar de seus
filhos, de sua casa, de seu marido, e tinha o direito de assumir o papel de
companheira dele.
Sendo recolhida pela avó e trazida a Nosso Lar, ao se despojar daquele ódio
que a consumia, ela entendeu a situação e passou a ver Luciana como mais uma
filha.
Ao desencarnar, Tobias se reuniu novamente com Hilda, e logo depois, foi a
vez de Luciana desencarnar e juntar-se à família.
Luciana esclareceu a André Luiz a visão dela sobre a situação, dizendo que foi
graças à atitude de Hilda que ela pôde aprender que “há casamento de amor, de
fraternidade, de provação, de dever, e no dia em que Hilda me beijou,
perdoando-me, senti que meu coração se libertara desse monstro que é o ciúme
inferior”.
André aproveitou o ensejo para questionar sobre como se realizaria o
casamento em Nosso Lar. Foi a vez de Tobias esclarecê-lo de que é pela
combinação vibratória desencadeada pela afinidade máxima ou completa.
Luciana também aproveitou um questionamento de André Luiz para
esclarecer que já havia compreendido que o seu casamento com Tobias foi
apenas uma união fraternal, acima de tudo. Ela, inclusive, já estava noiva de seu
nobre companheiro de muitas etapas terrenas, que a precedeu a alguns anos,
regressando ao círculo carnal. No próximo ano, seria a vez de ela ir ao seu
encontro, reencarnando em São Paulo.
Intrigado com a história, André foi conversar com Dona Laura a respeito disso
e perguntou se todo homem e toda mulher que se tenham casado mais de uma
vez restabelecem em Nosso Lar o núcleo doméstico, fazendo-se acompanhar de
todas as afeições que hajam conhecido, como no caso de Hilda, Luciana e
Tobias. Ele recebeu o seguinte esclarecimento:
[…] O caso Tobias é o caso de vitória da fraternidade real, por parte das três
almas interessadas na aquisição de justo entendimento. Quem não se adaptar à
lei de fraternidade e compreensão, logicamente não atravessará essas
fronteiras. As regiões obscuras do Umbral estão cheias de entidades que não
resistiram a semelhantes provas. Enquanto odiarem, se assemelharão a agulhas
magnéticas sob os mais antagônicos influxos; enquanto não entenderem a
verdade, sofrerão o império da mentira, e consequentemente, não poderão
penetrar as zonas de atividade superior. São incontáveis as criaturas que
padecem longos anos, sem qualquer alívio espiritual, simplesmente porque se
esquivam à fraternidade legítima. […] Depois de padecimentos verdadeiramente
infernais, pelas criações inferiores que inventam para si mesmas, vão fazer na
experiência carnal o que não conseguiram realizar em ambiente estranho ao
corpo terrestre. Concede-lhes a Bondade Divina o esquecimento do passado, na
organização física do planeta, e vão receber, nos laços da consanguinidade,
aqueles de quem se afastaram deliberadamente pelo veneno do ódio ou da
incompreensão.
Ora essa! Era o que nos faltava!… Aflitíssima como estou, tolerar as suas
perturbações. Que passadismo é esse, minha filha? Já proibi a vocês,
terminantemente, qualquer alusão, nesta casa, a seu pai. Não sabe que isso
desgosta o Ernesto? Já vendi tudo quanto nos recordava aqui o passado morto;
modifiquei o aspecto das próprias paredes, e você não me pode ajudar nisso?
O divórcio é lei humana que tem por objeto separar legalmente o que já, de fato,
está separado. Não é contrário à lei de Deus, pois reforma o que os homens
fizeram e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta a lei divina.
Quando um homem e uma mulher se unem por laços de afeto mútuo e afinidade
entre os espíritos, essa união é, por si só, indissolúvel, porque está de acordo
com as leis de Deus. Caso contrário, quando predominam os interesses
puramente materiais, é fonte de dores e sofrimentos, por contrariar a lei de
amor.
O Espiritismo então prega que as separações são contrárias à lei de Deus
somente se forem para atender interesses circunstanciais e materiais, mas, se for
para evitar males maiores, não. “É mais humano, mais caridoso e mais moral,
restituir a liberdade a seres que não podem mais viver juntos, do que mantê-los
unidos”, afirma Kardec.
O MUNDO DOS E SPÍRITOS – O
U MBRAL
Creio que haja engano, meu regresso do mundo não teve essa causa. Lutei mais
de quarenta dias, na casa de saúde, tentando vencer a morte. Sofri duas
operações graves, por causa da oclusão intestinal.
O Espiritismo ensina que a vida é o maior dom que alguém pode receber e que
tirar a própria vida é um ato contra o Criador.
Quando um Espírito encarna no planeta, já vem sabendo de antemão quanto
tempo deve durar seu corpo físico e já sabe quando desencarnará se cuidar
adequadamente desse corpo. Não existe fatalidade, segundo o Espiritismo. Como
diz o ditado popular, ninguém morre de véspera. Se morreu, é porque a hora era
chegada, e se sobreviveu, é porque ainda necessitava passar por algumas
experiências.
O tempo de vida só é alterado pelo crime do suicídio ou pelo aborto, praticado
contra o feto. Para o Espiritismo, o aborto é uma transgressão à lei de Deus.
Trata-se de um crime tirar a vida de uma criança antes de seu nascimento, e
quem o pratica adquire um débito que, necessariamente, terá de ser resgatado
nesta ou na próxima encarnação.
Vale ressaltar que, desde a concepção, o Espírito se encontra ligado por um
laço fluídico ao novo corpo em formação. Com o aborto, esse laço é rompido
violentamente, o que pode causar enorme pertubação ao Espírito da criança e
gerar, inclusive, o início de um processo obsessivo da criança para com a mãe.
O Espiritismo só admite o aborto em uma hipótese: quando o nascimento da
criança colocar em perigo a vida da mãe. Nesse caso, é preferível sacrificar um
ser que não existe a sacrificar a mãe. Fora dessa situação, o aborto é considerado
crime contra a lei de Deus, pois impede o retorno à vida material de um Espírito
que necessita dessa nova experiência para prosseguir sua evolução.
Até em caso de estupro, o Espiritismo não aconselha a prática do aborto,
afirmando que, mesmo com o sofrimento causado por esse tipo de crime, a
criança não pode ser responsabilizada, e portanto, tem o direito a uma nova
existência.
A eutanásia também é condenada pelo Espiritismo e é considerada uma
transgressão à Lei de Deus, ao abreviar o tempo de existência de um Espírito e
as provas pelas quais ele tem de passar. Nas câmaras de retificação, André tem a
oportunidade de abordar o tema ao conhecer o caso do pai da enfermeira
Paulina, que fora vítima da eutanásia e que, agora, não consegue perdoar aqueles
que praticaram esse crime. Narcisa narra da seguinte maneira esse caso:
Não. Se nas esferas materiais cada região e cada estabelecimento revela traços
peculiares, imagine a multiplicidade de condições em nossos planos. Aqui, tal
como na Terra, as criaturas se identificam pelas fontes comuns de origem e pela
grandeza do fim que devem atingir. Quando os recém-chegados das zonas
inferiores do Umbral se revelam aptos a receber cooperação fraterna, demoram
no Ministério do Auxílio; quando, porém, se mostram refratários, são
encaminhados ao Ministério da Regeneração. Se revelam proveito, com o correr
do tempo, são admitidos aos trabalhos de auxílio, comunicação e
esclarecimento, a fim de se que preparem, com eficiência, para futuras tarefas
planetárias. Somente alguns conseguem atividade prolongada no Ministério da
Elevação, e raríssimos, em cada dez anos, os que alcançam intimidade nos
trabalhos da União Divina.
Nosso Lar seria somente mais uma das inúmeras colônias espirituais que
recebem os Espíritos enquanto estão desencarnados. Porém, ao conhecê-la, é
possível ter uma clara noção de como seriam as demais, respeitando somente
algumas diferenças e o grau de elevação dos Espíritos que lá se encontram, o que
interfere em detalhes de sua constituição.
Segundo a Ministra Veneranda, Nosso Lar, como cidade espiritual de
transição, é uma bênção concedida por acréscimo de misericórdia, para que
alguns poucos se preparem para a ascensão, e para que a maioria volte à Terra
em serviços redentores.
A LIMENTAÇÃO NO MUNDO DOS
E SPÍRITOS
André Luiz narra que sentia muita fome e sede enquanto estava no Umbral e
que, ao chegar a Nosso Lar, recebeu uma espécie de sopa. Com isso, podemos
fazer a inevitável pergunta: os Espíritos precisam continuar se alimentando de
maneira igual à da Terra?
A resposta é sim e não. Inicialmente, existe uma transição, em que o Espírito
está bastante apegado à matéria e conserva comportamentos, vícios e
necessidades que possuía no planeta Terra. Porém, pouco a pouco, o Espírito vai
se depurando, livrando-se do apego material, e nesse momento, vai reduzindo
sua necessidade de alimentos similares aos do planeta, passando a tirar sua
energia do ar e da água fluidificada, alimento muito consumido em Nosso Lar.
O autor relata a existência do bosque das Águas, onde fica o reservatório de
água da colônia, provinda de um enorme rio azul. A água lá tem outra densidade,
mais tênue, pura, quase fluídica. Em Nosso Lar, a água é usada como alimento e
remédio, sendo um veículo extremamente poderoso para transmitir fluidos de
diferentes naturezas. Tal a importância da água em Nosso Lar que o seu
transporte é gerenciado pelo Ministério da União Divina. Sobre o assunto, o
instrutor Lísias esclarece que a água no planeta não só carrega os resíduos do
corpo, mas também as expressões da vida mental.
Lísias, no Capítulo 8 de Nosso Lar, explica a André Luiz os problemas que a
colônia já enfrentou, mostrando que, no passado, a alimentação era muito similar
à do planeta, mas que o governador atual implementou mudanças na
alimentação, tornando-a cada vez mais sutil. Ele conta que essa transição
demorou certo tempo e que gerou grande descontentamento em muitos
ministérios que julgavam necessário manter alimentação similar, buscando as
mesmas proteínas e vitaminas. Conta o instrutor que esses distúrbios fizeram o
governador ligar pela primeira vez as baterias elétricas das muralhas da cidade,
para garantir que ela não fosse atacada por Espíritos inferiores que buscavam
uma oportunidade de invadir Nosso Lar. Não houve combate, e pouco a pouco, a
resistência do governador propiciou a mudança nos hábitos de alimentação da
colônia.
Tempos após ser socorrido e em conversação em casa de Lísias, André ouviu
esclarecimentos acerca do assunto alimentação feitos por Dona Laura, mãe do
amigo:
Nossas refeições aqui são muito mais agradáveis que na Terra. Há residências,
em “Nosso Lar”, que as dispensam quase por completo; mas nas zonas do
Ministério do Auxílio, não podemos prescindir dos concentrados fluídicos, tendo
em vista os serviços pesados que as circunstâncias impõem. Despendemos
grande quantidade de energias. É necessário renovar provisões de força.
Pode você figurar um exemplo com a água e o ar. O avião que fende a atmosfera
do planeta não pode fazer o mesmo na massa equórea. Poderíamos construir
determinadas máquinas como o submarino; mas, por espírito de compaixão
pelos que sofrem, os núcleos espirituais superiores preferem aplicar aparelhos
de transição. Além disso, em muitos casos, não se pode prescindir da
colaboração dos animais.
Por esta explicação, vemos que grupos socorristas como o dos Samaritanos,
apresentado em Nosso Lar, usam cães para auxiliar no transporte de cargas
quando em missão de resgate no Umbral.
Narcisa também narra que, em Nosso Lar, alguns habitantes podem dispensar
o aérobus por terem a capacidade de volitar de um local para outro. Porém, pelo
fato de a maioria não ter essa faculdade, eles se abstêm de exercê-la nas vias
públicas de Nosso Lar. Essa abstenção, todavia, não impede que se utilize a
volitação longe da cidade, quando é preciso ganhar distância e tempo. Um
exemplo de uso da volitação foi quando Narcisa foi até a casa física de André
Luiz ajudar o companheiro que buscava seu auxílio na cura de Ernesto, atual
marido de Zélia, ex-mulher de André.
Ao nos depararmos com seriados de ficção científica como Jornada nas
estrelas, vemos a possibilidade de desmaterialização, e é natural imaginar que
Espíritos possam também fazer isso. Pelo exposto em Nosso Lar, temos relato
somente da possibilidade de volitação para se deslocar rapidamente em longas
distâncias.
Em O livro dos médiuns, Kardec relata que os Espíritos mais evoluídos podem
irradiar pensamentos para vários locais simultaneamente, fazendo-se sentir por
meio da presença de um médium no local. Ele compara essa possibilidade ao
Sol, que mesmo estando em um determinado local, consegue irradiar calor em
várias direções simultaneamente.
Como a medida de tempo na espiritualidade é diferente da existente no
planeta, não temos condições de precisar a velocidade obtida por um Espírito na
volitação ou mesmo a velocidade em que um aérobus pode circular.
O PODER DA ORAÇÃO
“Convém não esquecer, contudo, que a realização nobre exige três requisitos
fundamentais, a saber: primeiro, desejar; segundo, saber desejar; e terceiro,
merecer, ou por outros termos, vontade ativa, trabalho persistente e merecimento
justo.”
André Luiz
Quando André chegou ao esgotamento total por causa do sofrimento pelo qual
padecia no Umbral, ele começou a se recordar de que deveria haver um Autor da
Vida, e quando já lhe faltavam as forças, ele rogou ao Autor da Vida. Ele relata
da seguinte maneira esse momento:
Não existe melhor oração ou posição para rezar. O que importa não são as
palavras, e sim o que está no coração de quem está orando. Em outras palavras, o
desejo sincero de quem pede. Da mesma maneira, não é necessário se colocar de
joelhos para orar, pois não adianta somente a aparência externa.
Essa oração pode ser feita a qualquer momento, e não é a quantidade que vai
determinar seu resultado, e sim o desejo sincero.
Entender o poder da oração traz a cada pessoa um enorme benefício, pois ela
tem, inclusive, propriedades terapêuticas, restabelecendo o equilíbrio e
propiciando um melhor combate a enfermidades.
Nos dois momentos de grande provação de André Luiz, o primeiro deles no
Umbral e o segundo quando viu sua ex-esposa casada com outro homem, André
se colocou a meditar e a orar, mostrando, assim, o quanto essas ações puderam
ajudá-lo em momentos de dura provação.
T RABALHO, PROPRIEDADE E BÔNUS-
HORA
Da mesma forma que existe a lei do trabalho em Nosso Lar, a lei do descanso
é rigorosamente observada, para que determinados servidores não fiquem mais
sobrecarregados do que outros.
A cada hora de serviço, o trabalhador adquire um bônus-hora, que não é
exatamente uma moeda, mas uma ficha de serviço individual com valor
aquisitivo. Assim, há muita gente que consegue 72 bônus-hora por semana,
contando as quatro horas extras diárias. Isso sem contar os serviços considerados
de grande sacrifício, em que a remuneração é duplicada, e às vezes, triplicada.
Em Nosso Lar há serviços centrais de distribuição gratuita de vestuário e
alimentação essencial a todos da colônia, mesmo para quem está abrigado ali e
ainda não iniciou algum tipo de trabalho.
Porém, quem trabalha pode acumular bônus-hora para aquisição da casa
própria ou para possuir as roupas que desejar. Poderá também trocá-los por
oportunidade de gozar a companhia de irmãos queridos, nos lugares consagrados
ao entretenimento, ou pelo contato de orientadores sábios, nas diversas escolas
dos ministérios em geral.
Além disso, quanto maior a contagem do tempo de trabalho, mais intercessões
o Espírito pode fazer em prol de parentes ou amigos, que necessitem de auxílio
em outras regiões, como o Umbral, por exemplo.
Da mesma maneira que na Terra, a propriedade em Nosso Lar é relativa. As
construções, em geral, representam patrimônio comum, sob controle da
Governadoria; cada família espiritual, porém, pode conquistar um lar
apresentando 30 mil bônus-hora, o que se pode conseguir com algum tempo de
serviço. Vale ressaltar que a propriedade é limitada a somente um lar. A moradia
de Dona Laura, por exemplo, foi adquirida pelo trabalho do seu esposo Ricardo,
que veio 18 anos antes para Nosso Lar.
Quando chegou o momento em que ela reencarnaria na Terra, os 3 mil bônus-
hora que ela possuía foram revertidos ao patrimônio, permanecendo sua família
apenas com o direito de herança ao lar. Porém, sua ficha de serviço lhe
possibilitou interceder pela família, para auxiliá-la.
Referente à acumulação de bônus, vemos o episódio em que as “Fraternidades
da Luz”, que regem os destinos cristãos da América, homenagearam a Ministra
Veneranda conferindo-lhe a medalha do Mérito de Serviço. Ela foi a primeira
entidade da colônia que conseguiu, até aquele momento, semelhante triunfo,
apresentando 1 milhão de horas de trabalho útil, sem interromper, sem reclamar
e sem esmorecer. Um recorde realmente impressionante, em se tratando de horas
de trabalho.
Allan Kardec fala sobre o assunto trabalho no Livro dos Espíritos quando
questiona o porquê de o trabalho ser imposto ao homem. Os Espíritos
respondem:
“Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que
vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus
e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os
justos e os injustos.”
Mateus 5:43-47
[…] Desde a infância, era perseguida pelos adversários tenazes de outro tempo.
Na vida de solteira, porém, no ambiente de proteção dos pais, ela conseguiu, de
algum modo, subtrair-se à integral influenciação dos inimigos persistentes,
embora lhes sentisse a atuação de maneira menos perceptível. Sobrevindo, no
entanto, as responsabilidades do matrimônio, em que, na maioria das vezes, a
mulher recebe maior quinhão de sacrifícios, não pôde mais resistir. Logo após o
nascimento do primeiro filhinho, caiu em prostração mais intensa, oferecendo
oportunidade aos desalmados perseguidores e, desde então, experimenta
penosas provas.
Em geral, noventa por cento dos casos de obsessão que se verificam na Crosta,
constituem problemas dolorosos e intricados. Quase sempre, o obsidiado padece
de lastimável cegueira, com relação à própria enfermidade. E, porque não
atende ao chamamento da verdade pela cristalização personalista, torna-se
presa fácil e inconsciente, embora responsável, de perigosos inimigos das zonas
de atividades grosseiras. Comumente, verificam-se casos dessa natureza, em
vista de ligações vigorosas e profundas pela afetividade mal dirigida ou pelos
detestáveis laços do Ódio que, em todas as circunstâncias, é a confiança
desequilibrada convertida em monstro (…) Por este motivo, André, ainda
mesmo para o psiquiatra esclarecido à luz do Espiritismo cristão, a maioria dos
casos desta ordem é francamente desconcertante. Em virtude dos ascendentes
sentimentais, cada problema destes exige solução diferente. Além disso, importa
notar que os nossos companheiros encarnados observam somente uma face da
questão, quando cada processo desse teor se caracteriza por aspectos infinitos,
com vistas ao passado dos protagonistas encarnados e desencarnados. Diante
do obsidiado, fixam apenas um imperativo imediato – o afastamento do
obsessor. Mas, como rebentar, de um instante para outro, algemas seculares,
forjadas nos compromissos recíprocos da vida em comum? Como separar seres
que se agarram uns aos outros, ansiosamente, por compreenderem que na dor
de semelhante união permanece o preço do resgate indispensável? Efetivamente,
não faltam os casos, raros embora, de libertação quase instantânea. Ai, porém,
vemos o fim de laborioso processo redentor, ou então encontramos o doente que,
de fato, faz violência a si mesmo, a fim de abreviar a cura necessária.
Allan Kardec em O livro dos médiuns esclarece que existe três tipos de
obsessão. A primeira delas é a simples e é quando o espírito se aproxima do
encarnado e passa a lhe inspirar diariamente pensamentos, que começam a se
misturar aos do encarnado, que lentamente passa a ouvir tudo o que o Espírito
lhe pede para fazer.
Esse estágio pode evoluir para o grau de fascinação. Nele, o encarnado
começa a idolatrar o Espírito seguindo a risca tudo o que ele lhe intui e passa a
estar em sintonia total com ele, enganado por uma espécie de ilusão produzida
pela ação direta do Espírito.
O terceiro estágio é o mais perigoso. Nele, já se configura a subjugação, em
que o encarnado perdeu total controle e passa a ser comandado pelo Espírito que
intui tudo o que ele deve dizer ou as ações que deve praticar. Trata-se, portanto,
de uma opressão que paralisa a vontade daquele que a sofre. Quando chega a
esse estágio, o tratamento já é muito difícil, pois o encarnado já está de tal
maneira envolvido que não se dispõe a receber ajuda, acreditando não necessitar
dela.
Essa subjugação pode ser moral, em que a pessoa é solicitada a tomar decisões
absurdas e comprometedoras, ou corporal, em que o Espírito age diretamente
sobre os órgãos do corpo provocando movimentos involuntários, e levando o
encarnado a praticar atos considerados ridículos.
Muitas vezes, acaba sendo dado como louco pela sociedade e internado em
algum manicômio. Porém, frequentando trabalhos de desobsessão, este
encarnado pode receber auxílio, sendo necessária a ajuda de amigos e parentes
para convencê-lo da necessidade de tratamento.
Como dito, em geral, esses casos de obsessão, são motivados pelo desejo de
vingança que o Espírito obsessor nutre.
O tipo mais comum de obsessão é a que se dá do Espírito para o encarnado,
entretanto a obsessão pode se dar de encarnado para Espírito e de encarnado para
encarnado.
O segundo caso acontece quando o encarnado não para de pensar em quem
desencarnou, se dando este processo normalmente pela ação de familiares ou
amigos do desencarnado, que não param de pensar, sofrer e chamar pelo morto, e
acabam prejudicando-o no outro lado, a medida que ele pode receber esses
pensamentos e agravar seu estado de desequilíbrio.
Em alguns casos também temos a obsessão de encarnado para encarnado, em
que um indivíduo começa pouco a pouco a influenciar o outro, e esta
influenciação pode evoluir até o total controle sobre o outro.
A ação dos Espíritos se dá somente quando eles se sintonizam com o
encarnado e, para isso, é necessário que esteja na mesma faixa de vibração. A
obsessão existe para que os encarnados e Espíritos possam ser testados se já
evoluíram e, principalmente, como um mecanismo para a Lei de ação e reação,
em que tudo o que é feito em determinado momento gerará consequências
positivas ou negativas de acordo com o ato. Com a existência da obsessão é
possível esses ajustes sempre que eles se façam necessários, tendo esta uma
função para reajuste e resgate.
A única maneira de evitar a obsessão é mantendo o pensamento firme, focado
no bem, e fazer orações para se ligar a Deus toda vez que sentir um certo
desequilíbrio.
M EDIUNIDADE
Nosso Lar foi ditado ao médium Francisco Cândido Xavier pelo espírito
André Luiz. Mesmo que não seja praticante espírita, você já deve ter ouvido
falar na figura do médium. Mas, afinal de contas, o que é a mediunidade? Para
simplificar a compreensão, chamaremos a mediunidade de sexto sentido.
Segundo Allan Kardec, esse sexto sentido permitiria a percepção da influência
dos Espíritos e poderia ser desenvolvido por qualquer pessoa, já que a
mediunidade é uma capacidade orgânica.
Existe um órgão responsável pela mediunidade: esse órgão é a epífise,
glândula situada na região centroposterior da área diencefálica do cérebro,
constituindo a sede fisiológica de todos os fenômenos mediúnicos.
Assim, conclui-se que todas as pessoas têm a capacidade de perceber a
influência dos Espíritos, mas nem todos a desenvolvem durante sua existência.
O sexto sentido ou percepção extrassensorial abrange uma enorme gama de
fenômenos, como a telepatia e a vidência, entre outros, e tem como objetivo
estabelecer uma ponte para contato entre o mundo físico e o espiritual. Para isso,
ele se apresenta por meio de fenômenos de efeitos intelectuais (psicografia,
psicofonia, clarividência, clariaudiência, entre outros) ou efeitos físicos (batidas,
movimento de objetos, materializações, fenômenos de voz direta etc.).
O Espiritismo diz que é perfeitamente natural a comunicação com os Espíritos
desencarnados e vice-versa, uma vez que todos são Espíritos, embora alguns
estejam temporariamente encarnados. Essa comunicação se estabelece nos níveis
mental e emocional e dentro dos princípios da lei de sintonia, ou seja,
encarnados e desencarnados se atraem ou se repelem por afinidade e interesses
em comum.
Aquele que desenvolve a mediunidade é denominado médium. Geralmente, os
médiuns têm uma aptidão especial para determinado tipo de fenômeno. Disso
resulta a formação de tantas variedades quantas são as formas de manifestações.
As principais são a dos médiuns de efeitos físicos, a dos sensitivos, a dos
audientes, a dos videntes, a dos sonambúlicos, a dos curadores, a dos
pneumatógrafos e a dos psicógrafos:
“ A maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com própria
consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no purgatório ou nos
precipitamos no abismo infernal.”
Emmanuel
O livro Nosso Lar é formado por cinquenta capítulos. Cada um deles traz
esclarecimentos sobre o outro lado da vida. A seguir, um pequeno resumo dos
assuntos abordados em cada capítulo:
Capítulo 1 – Nas zonas inferiores
André Luiz descreve sua passagem pelo Umbral, mostrando o cenário
sombrio e pavoroso que encontrou por lá.
Capítulo 2 – Clarêncio
O antigo médico, enquanto encarnado, narra o desespero causado pelos gritos
de suicida que ouvia de toda a parte, e o momento em que reza pedindo ajuda ao
Criador da Vida, e então, é socorrido e levado a Nosso Lar, pelo Ministro
Clarêncio e mais dois auxiliares.
Capítulo 3 – A oração coletiva
O Espírito descreve o ambiente que encontrou em Nosso Lar, traz informações
sobre a colônia espiritual e narra a presença do Governador e dos Ministros
juntamente com todos os habitantes de Nosso Lar na primeira oração coletiva a
que teve acesso na colônia, oração que ocorre diariamente no crepúsculo.
Capítulo 4 – O médico espiritual
André Luiz é atendido por um médico espiritual que descreve o estado
debilitado do seu espírito e explica-lhe por que chegou ao plano espiritual em
estado de suicida inconsciente.
Capítulo 5 – Recebendo assistência
O companheiro Lísias esclarece que, onde André estava internado, havia mais
de mil Espíritos naquele momento em condições muito delicadas e necessitando
de auxílio. André recebe esclarecimentos sobre os males que tinha causado ao
corpo por conta de sua má conduta e recebe uma injeção de ânimo para buscar
sair daquela situação.
Capítulo 6 – Precioso aviso
O Espírito recém-chegado se lamenta com o Ministro Clarêncio pela sua
situação e se recorda da esposa e dos filhos, perguntando por notícias. Clarêncio
ouve pacientemente suas lamentações.
Capítulo 7 – Explicações de Lísias
André Luiz traz novos detalhes sobre Nosso Lar comparando a paisagem que
vê com uma cópia melhorada da Terra. Lísias esclarece sobre a mãe de André
Luiz e sobre o quanto ela o tem ajudado dia e noite.
Capítulo 8 – Organização de serviços
Novos esclarecimentos sobre Nosso Lar são trazidos, mostrando sua divisão
em ministérios e apresentando a história da criação de Nosso Lar por espíritos
portugueses, desencarnados no Brasil, no século XVI.
Capítulo 9 – Problema de alimentação
André fica sabendo sobre como é a alimentação em Nosso Lar e também
recebe relato do episódio em que alterações nos hábitos alimentares foram
introduzidas pelo Governador e dos protestos que estas geraram até serem
aceitas.
Capítulo 10 – No Bosque das Águas
Um impressionante relato sobre o aeróbus, o veículo aéreo usado pelos
Espíritos para se locomoverem em Nosso Lar, e sobre a visitação que André faz
ao reservatório de água da colônia espiritual. Com isso, ele tem oportunidade de
esclarecer-se sobre a importância da água em diferentes planos.
Capítulo 11 – Notícias do plano
André Luiz narra a existência de outras colônias espirituais semelhantes a
Nosso Lar, como a de Alvorada Nova, que é sua vizinha.
Capítulo 12 – O Umbral
Um detalhado esclarecimento sobre o Umbral, região sombria situada próxima
à crosta terrestre e habitada por Espíritos pouco evoluídos e muito apegados
ainda à matéria.
Capítulo 13 – No gabinete do Ministro
André vai a um encontro com o Ministro Clarêncio, visando a pedir-lhe a
oportunidade de iniciar um trabalho em Nosso Lar. Lá, tem a oportunidade de
presenciar uma audiência de uma voluntária que deseja proteger seus filhos
encarnados. Também recebe esclarecimentos sobre o bônus-hora.
Capítulo 14 – Elucidações de Clarêncio
O Ministro Clarêncio permite que André Luiz comece um trabalho em Nosso
Lar como aprendiz, deixando de lado seu passado de médico na Terra.
Capítulo 15 – A visita materna
Narra a emocionante visita da mãe de André, Espírito mais elevado que vive
em esferas superiores.
Capítulo 16 – Confidências
Na conversa, sua mãe traz notícias de Laerte, pai de André, e que vagava pelo
Umbral, sendo obsidiado por duas mulheres vingativas, que, em vida, tinham
sido suas amantes. Além disso, ele recebe notícias sobre suas três irmãs já
desencarnadas.
Capítulo 17 – Em casa de Lísias
André é hospedado em casa de Lísias. Lá, conhece Dona Laura, mãe do
anfitrião, e as duas irmãs dele, tendo oportunidade de conhecer e relatar como é
um lar típico da colônia.
Capítulo 18 – Amor, alimento das almas
Alertas sobre a questão do sexo e novas descrições do funcionamento da
alimentação em Nosso Lar.
Capítulo 19 – A jovem desencarnada
André conhece a neta de Dona Laura, que era recém-desencarnada e vivia na
casa padecendo grande sofrimento pela lembrança de seu noivo, que ainda está
encarnado e já se relacionando com uma amiga.
Capítulo 20 – Noções de lar
Em conversação entre Dona Laura, Lísias e André são descritos detalhes sobre
o lar e a função de homens e mulheres na sua constituição.
Capítulo 21 – Continuando a palestra
A conversação se estende abordando assuntos como bônus-hora e a
recordação do passado, que, segundo Dona Laura, exige bastante equilíbrio.
Capítulo 22 – O bônus-hora
É feito um detalhamento do funcionamento do bônus-hora e de como ele é
distribuído aos trabalhadores da colônia.
Capítulo 23 – Saber ouvir
André Luiz recebe esclarecimentos sobre o quanto é inconveniente, para a
maioria dos desencarnados, receber notícias sobre os encarnados com quem
conviviam na Terra.
Capítulo 24 – O impressionante apelo
André tem a oportunidade de ouvir, pela emissora da colônia, que eclodia na
Terra a Segunda Guerra Mundial, em episódio passado em 1939. Também ouve
pedidos para que voluntários se apresentem para proteger a colônia de tentativas
de invasões durante o período.
Capítulo 25 – Generoso alvitre
O Espírito recebe profundas orientações sobre as futuras atividades que
poderá empreender em Nosso Lar.
Capítulo 26 – Novas perspectivas
André visita as câmaras de retificação, locais onde estão internados Espíritos
necessitados e ainda em grave situação. O espírito solicita ao Ministro Genésio a
oportunidade de trabalhar lá.
Capítulo 27 – O trabalho, enfim
O ex-médico orgulhoso na Terra inicia seu trabalho nas câmaras de retificação
como auxiliar de limpeza de vômitos de fluidos venenosos expelidos por
Espíritos. Nas câmaras, presencia impressionante quadro de sofrimento.
Capítulo 28 – Em serviço
André Luiz se coloca à disposição para permanecer durante a noite nas
câmaras de retificação auxiliando no atendimento dos que lá chegam. Também
conhece Narcisa, com a qual vai trabalhar no atendimento nas câmaras.
Capítulo 29 – A visão de Francisco
Um relato impressionante sobre a história de Francisco, que era
profundamente apegado a seu corpo, tanto que, após ser sepultado, continuou
ligado a ele e acabou presenciando a sua decomposição, o que gerou enorme
transtorno em sua mente, e fê-lo continuar com a visão do corpo e dos germes a
persegui-lo, mesmo tempos depois.
Capítulo 30 – Herança e eutanásia
André toma contato com o caso do pai de Paulina, que foi submetido à
eutanásia, pois sua família queria ficar com sua herança, e que agora, não
consegue se livrar do sentimento de vingança.
Capítulo 31 – Vampiro
O Espírito narra a história de uma mulher que tentava ingressar em Nosso Lar
e que foi impedida pelo vigilante-chefe, pois estava fortemente vampirizada,
trazendo impressos em seu períspirito 58 pontos negros, correspondentes ao
número de abortos que tinha praticado enquanto trabalhava como ginecologista.
Capítulo 32 – Notícias de Veneranda
André Luiz fica sabendo do trabalho realizado pela Ministra Veneranda, que
possui 1 milhão de bônus-hora e é a maior trabalhadora de Nosso Lar, e conhece
os salões verdes, idealizados por ela.
Capítulo 33 – Curiosas observações
O interessante relato de dois Espíritos ainda encarnados e que, por já serem
superiores, têm a oportunidade de visitar Nosso Lar, enquanto dormem.
Capítulo 34 – Com os recém-chegados do Umbral
O espírito atende uma senhora trazida pelos Samaritanos, que se desfaz em
lamentações, mostrando que ainda estava ligada a seu passado na época da
escravatura.
Capítulo 35 – Encontro singular
André encontra-se com um conhecido da época em que estava encarnado e
tem a oportunidade de pedir perdão, pois seu pai havia prejudicado muito esse
homem no passado.
Capítulo 36 – O sonho
Emocionante relato sobre a necessidade que os Espíritos têm de dormir para
repor as energias e sobre o encontro que André Luiz teve com sua mãe enquanto
ele dormia, tendo a oportunidade de visitá-la em esferas mais elevadas.
Capítulo 37 – A preleção da Ministra
André Luiz assiste a uma palestra proferida pela Ministra Veneranda, que fala
sobre a importância do pensamento e sobre o papel de Nosso Lar como colônia
de transição.
Capítulo 38 – O caso Tobias
André tem a oportunidade de conhecer o caso de Tobias e suas duas ex-
esposas Hilda e Luciana, que se tornaram amigas e convivem em harmonia em
Nosso Lar.
Capítulo 39 – Ouvindo a senhora Laura
Buscando entender melhor a questão do casamento na espiritualidade e
nutrindo muitos questionamentos acerca da sua família terrestre, André procura
Dona Laura e dela obtém as respostas para suas dúvidas.
Capítulo 40 – Quem semeia colherá
André vai ao departamento feminino das câmaras de retificação. Lá, tem
contato com Elisa, que fora empregada em sua casa terrena e da qual ele se
aproveitara, antes que ela fosse despedida de sua casa. Com o encontro, ele tem
a oportunidade de se arrepender e de buscar ajudá-la a superar os traumas do
passado.
Capítulo 41 – Convocados à luta
O Espírito narra a chegada da notícia de que o planeta está iniciando a
Segunda Guerra Mundial, a repercussão dessa notícia lá e como esta influenciou
negativamente Nosso Lar.
Capítulo 42 – A palavra do Governador
André Luiz vê pela primeira vez o Governador de Nosso Lar, que esclarece
aos trabalhadores os problemas advindos da Guerra e convoca 30 mil servidores
voluntários para criar defesas especiais.
Capítulo 43 – Em conversação
Relatos sobre os horrores da guerra são apresentados neste capítulo, bem
como a esperança que o Espiritismo traz como o Consolador prometido.
Capítulo 44 – As Trevas
André Luiz questiona Lísias sobre as Trevas, região mais inferior conhecida
em Nosso Lar, e este esclarece o amigo sobre o que levaria alguém a ficar preso
nessa região.
Capítulo 45 – No Campo da Música
O espírito relata o momento em que teve a oportunidade de conhecer o Campo
da Música, local em que encontra Espíritos ali comentando com alegria os
ensinamentos de Jesus.
Capítulo 46 – Sacrifício de mulher
André tem novo encontro com sua mãe, que o informa de que reencarnará
novamente na Terra em missão para auxiliar o marido Laerte, que também
reencarnaria. Na Terra, ela seria mãe das duas ex-amantes do seu marido, que o
obsidiavam no Umbral.
Capítulo 47 – A volta de Laura
André fica sabendo que também Dona Laura, mãe de Lísias, reencarnará em
dois dias e reencontrará seu ex-marido Ricardo, que já se encontrava encarnado,
para viverem juntos na Terra como marido e mulher novamente.
Capítulo 48 – Culto familiar
Narração da reunião de despedida antes do reencarne de Dona Laura. Nela,
Ricardo aparece desligado, durante o sono, do seu corpo físico de criança, para
trazer palavras de apoio. Ele se comunica por meio de um globo de cristal, a fim
de ser preservado das irradiações de emotividade dos que ali se encontravam e
que poderiam prejudicá-lo, já que ele se encontrava ainda frágil, em tenra idade.
Capítulo 49 – Regressando a casa
André descreve a sua ida ao lar terreno, um ano após ser socorrido em Nosso
Lar, e a dura prova que teve de passar ao encontrar sua ex-mulher, Zélia, já
casada com outro homem, que estava fortemente enfermo e em cuja cura André
Luiz teve de auxiliar.
Capítulo 50 – Cidadão “Nosso Lar”
No desfecho deste primeiro livro da série, André, mostra o quanto evoluiu no
período de um ano em que esteve na colônia espiritual Nosso Lar, se livrando de
todo o apego e sentimento de posse que tinha da família terrena e se predispondo
a ajudar no auxílio do novo marido de Dona Zélia.
Para auxiliá-lo, ele pede ajuda de sua companheira de trabalho Narcisa, que
vai até o encontro de André e ministra o auxílio ao enfermo. Tendo vencido essa
dura batalha contra o apego, André deixa a família terrena e retorna a Nosso Lar.
Ao chegar a colônia espiritual, ele é recebido pelos amigos, sendo finalmente
declarado cidadão de Nosso Lar.
A PÊNDICE 2
P ERSONAGENS CITADOS EM N OSSO
L AR
“Chico Xavier é meio estranho pra quem não acredita em seu próprio
coração.”
Trecho de música interpretada por
Fábio Júnior em homenagem a Chico
Francisco Cândido Xavier. Ninguém consegue ficar indiferente a esse nome.
O maior médium de todos os tempos, com mais de 451 livros publicados, não
somente é admirado pelos espíritas, mas também por pessoas de todos os
segmentos religiosos, políticos e sociais – nacionais e internacionais – que viram
a seriedade dos postulados que abraçara e exemplificara durante 92 anos de vida,
sendo indicado, inclusive, para concorrer ao prêmio Nobel da Paz, em 1981, e
eleito o cidadão mineiro do século.
Fenômeno é um adjetivo constantemente usado para qualificar esse homem
singular. Tendo cursado apenas o primário, escreveu centenas de livros e
mensagens em vários idiomas. Poderia ter ficado rico, mas doou tudo o que
ganhou em direitos autorais para instituições de auxílio ao próximo. Viveu, até o
seu último dia, com o salário de sua aposentadoria, sem usufruir materialmente
dos ganhos obtidos com suas obras.
Seu falecimento se deu no mesmo dia em que o Brasil festejava a conquista
mundial no futebol em 2002, o que possibilitou-lhe voltar ao mundo espiritual
sem muito alarde, colocando em prática até o último momento a humildade,
maior característica desse Espírito iluminado, que exemplificou em todos os
momentos de sua vida os ensinamentos de Jesus, em especial aquele que dizia:
“Quem deseja ser o maior, que seja o servidor e o menor de todos”.
O maior médium psicógrafo do mundo nasceu em Pedro Leopoldo, modesta
cidade de Minas Gerais, em 2 de abril de 1910. Batizado como Francisco de
Paula Cândido, por um erro de seu pai, que em vez de ir ao cartório registrar a
criança, solicitou a um amigo que o fizesse. O amigo, na ocasião, se confundiu
com o santo do dia 2 de abril, que é São Francisco de Paula, e acabou trocando o
nome do garoto. A confusão só foi percebida muitos anos depois, quando Chico
foi ingressar no serviço público como inspetor agrícola e precisou providenciar
seus documentos. Ao chegar ao cartório, ficou sabendo que não existia nenhum
Francisco Cândido Xavier e que o filho do senhor João Cândido Xavier foi
registrado, na data, com outro nome. Somente em 1965 seu nome foi
modificado.
Filho de família humilde e numerosa, as provações de sua vida começaram
aos cinco anos, quando ficou órfão da mãe, D. Maria João de Deus, que faleceu
deixando nove filhos: Maria Cândida, Luíza, Carmozina, José Cândido, Maria de
Lurdes, Francisco Cândido, Raymundo, Maria da Conceição e Geralda. Cada
uma das crianças foi entregue a um parente. Chico, por sua vez, foi obrigado a
viver com a madrinha Rita, que lhe dava surras todos os dias.
Sua primeira experiência mediúnica completa foi uma conversa com o
Espírito de sua mãe, após a sua morte, que o aconselhara a ter muita paciência
para suportar as provações que viriam.
Passando por grandes conflitos e muita dificuldade, o menino cresceu, tendo
os Espíritos como companheiros quase diariamente.
Com quatro anos de idade, ele já tivera uma pequena experiência mediúnica
enquanto assistia a uma conversa entre sua mãe e seu pai a respeito de um
nascimento prematuro ocorrido em uma casa vizinha.
O pai, João Cândido, vendedor de bilhetes de loteria, que teve quinze filhos
em dois casamentos, não conseguia entender o caso. Chico, nessa hora,
interrompeu a conversa e disse: “O senhor naturalmente não está informado
sobre o caso. O que houve foi um problema de nidação inadequada do ovo, de
modo que a criança adquiriu posição ectópica”.
João Cândido se assustou e disse à mulher que aquele filho não parecia deles,
que deveria ter sido trocado na Igreja quando eles estavam na confissão. Virou-
se para Chico e perguntou o que ele teria respondido. Chico disse que uma voz o
teria mandado dizer aquilo. João Cândido continuou desconfiado da maluquice
do menino…
Em especial, Chico teve a companhia do Espírito de sua mãe, com a qual pôde
travar várias conversas que lhe foram bastante confortadoras. “Independente de
o fenômeno ter ocorrido quando eu era muito criança, considero o reencontro
com minha mãe desencarnada o momento de maior emoção da minha vida”,
relata.
Apesar de os Espíritos entrarem sempre em contato com ele, o menino tinha
muito receio de ser chamado de louco ao comentar com alguém as conversas que
mantinha com almas de outro mundo.
Além de ouvir vozes, via figuras de outro mundo na igreja de Matosinhos,
cidade vizinha de Pedro Leopoldo, e à qual ele ia diariamente.
Durante a missa, via Espíritos que frequentavam a igreja. Buscava então se
confessar com o Padre Sebastião Scarzello, do qual recebia severas penitências
para deixar de ser mentiroso.
Certa vez, Chico dirigiu-se muito feliz à sua madrinha, dizendo que havia
conversado com a mãe desencarnada. Foi o suficiente para receber uma grande
surra. Ao saber que o menino continuava tendo visões de coisas de outro mundo,
sua madrinha resolveu conversar sobre o assunto com o padre da região. Este,
por sua vez, colocou como penitência que o garoto rezasse mil ave-marias com
uma pedra de quinze quilos em cima da cabeça durante toda a procissão.
Outro fato que marcou a infância de Chico foi quando sua madrinha soube,
por meio da receita de uma benzedeira, que a única maneira de curar a ferida
infeccionada de seu filho era outra criança lamber a ferida durante três semanas
seguidas, em completo jejum. Quando ficou sabendo que teria de cumprir essa
penosa tarefa, o menino se desesperou e evocou sua mãe, para que o socorresse.
Acabou obrigado a cumprir a ingrata tarefa, mas durante a penitência, percebeu
que o Espírito de sua mãe jogava algo sobre a ferida, o que fez o jovem curar-se
rapidamente.
Após viver dois anos com a madrinha, o calvário de Chico acabou. Seu pai,
João Cândido Xavier, casou-se novamente com uma moça chamada Cidália
Batista, que fez questão de reunir em sua casa os nove filhos do primeiro
casamento de João. Assim, o menino Chico conseguiu livrar-se dos maus-tratos
que sua madrinha lhe impusera, mas continuou a ter de conviver com as
dificuldades financeiras.
Ele narrou assim os contatos que teve com sua mãe e seu apego em Jesus para
suportar as provações:
Passei fome, passei frio… Em Pedro Leopoldo sempre fez muito frio, ventava
muito… A nossa casa não era forrada…, às vezes, a gente não tinha o que
comer, era somente uma panela no fogão. Mas ninguém em casa morreu por
causa das privações que passávamos. A gente comia só arroz e chuchu. De vez
em quando uma mandioca ou ovo, carne era muito difícil… Caso tivéssemos
tido muita comida em casa, eu iria me empanturrar, pois sempre gostei de
comer. Como seria capaz de dar comunicações de Espíritos com a minha
barriga cheia, se me sobravam somente os horários do almoço para escrever?
Penso que tudo o que passei na vida tinha uma razão de ser, o meio
aparentemente adverso em que renasci foi-me de grande valia para cumprir
minha missão.
Nem José Divino nem ninguém teve culpa em meu caso. Brincávamos a respeito
da possibilidade de ferir alguém pela imagem no espelho. Sem que o momento
fosse para qualquer movimento meu, o tiro me alcançou, sem que a culpa fosse
do amigo ou minha mesmo. O resultado foi aquele. Se alguém deve pedir perdão
sou eu mesmo, porque não devia ter admitido brincar em vez de estudar. Estou
vivo e com muita vontade de melhorar.
A carta foi aceita como prova legal, pois um laudo grafotécnico atestou que a
assinatura do falecido era exatamente igual à que ele tinha em vida. Em seguida,
o Tribunal de Justiça revogou a sentença, e o réu foi a julgamento novamente,
sendo absolvido pelo júri popular, em junho de 1980, por seis votos a um.
Chico esteve às voltas com a Justiça em duas outras oportunidades. Na
primeira delas, em 1982, uma carta psicografada pelo morto, o então deputado
federal Heitor Alencar Furtado, foi usada pela defesa para inocentar o policial
José Aparecido Branco, conhecido como Branquinho, da acusação de
assassinato doloso (em que o assassino tem a intenção deliberada de matar). O
juiz concluiu que o disparo fora acidental.
No ano de 1985 foi a vez do bancário Francisco João de Deus usar uma
psicografia de Chico Xavier para tentar comprovar que o tiro que matou sua
esposa, a ex-miss Campo Grande, Gleide Dutra de Deus, fora disparado por ele
acidentalmente. O veredicto da Justiça foi pela absolvição de Francisco.
Sua extraordinária mediunidade permitia-lhe adentrar o íntimo de cada um,
conhecendo claramente seus pontos positivos e negativos. Era comum, por
exemplo, ele chamar uma pessoa pelo nome sem nunca tê-la visto ou recebido
informações de antemão sobre ela.
Celso de Almeida Afonso, um dos principais médiuns residentes na cidade de
Uberaba, narra o primeiro contato com Chico Xavier, ocorrido quando tinha
apenas dezesseis anos de idade:
Eu considero esse encontro a minha porta de Damasco. (Referência à aparição
de Jesus Cristo para Paulo de Tarso que simbolizou o momento de sua
conversão ao Cristianismo.) A partir daquele momento, houve modificações na
minha vida que me ajudaram no meu equilíbrio. O que é interessante é que eu
não tinha vontade de conhecer Chico Xavier. Eu tinha muito medo do
Espiritismo. Mas acabei indo lá, entrei, sem cumprimentá-lo, e fiquei de costas
para ele. Então, ouvi uma senhora pedir-lhe um autógrafo. Chico respondeu:
– Somente se o nosso Celso emprestar a caneta. – Ele nunca tinha me visto. Eu
me virei e lhe disse:
– O senhor está falando comigo? Nisso, ele respondeu, simples:
– Sim, meu filho, você não tem uma caneta para me emprestar?
Aquela criatura me envolveu com o magnetismo dela. Eu não gosto de endeusar
as pessoas, mas Chico, para mim é uma pessoa excelente, é um caminho.
Nós estamos muito felizes sabendo que um prêmio dessa ordem coube a uma
instituição que já atendeu mais de 18 milhões de refugiados. A organização
detentora do prêmio é mais do que merecedora dessa homenagem do mundo
inteiro por meio do Prêmio Nobel. Nós todos deveríamos instituir recursos para
uma organização como essa, em que mais de 18 milhões de criaturas encontram
apoio, refúgio, amparo e benção. Nós estamos muito contentes, e, sem nenhuma
ideia de falsa modéstia, nos regozijamos com os resultados da Comissão, que foi
tão feliz nessa escolha.
Religiosos Porcentagem
Outro momento de destaque foi quando Chico Xavier foi eleito o Mineiro do
Século no concurso realizado pela Rede Globo, ficando à frente de
personalidades como Santos Dumont, Pelé, Betinho, Carlos Drummond de
Andrade, Ary Barroso e Juscelino Kubitschek.
A pesquisa foi realizada pela Rede Globo Minas e apresentada em novembro
de 2000.
Em 2006, foi a vez da revista Época, em sua edição 434, de 11 de setembro,
apontar Chico Xavier como “O Maior Brasileiro da História”, em pesquisa feita
pela Internet.
Os oito primeiros colocados na votação dos leitores de Época foram:
Personalidade Votos
3º Pelé 4.320
4º Garrincha 924
7º Lula 540
Chico narra ainda que, após essas palavras, Emmanuel lhe disse que eles
teriam uma tarefa para realizar e que esta consistia inicialmente na redação, por
meio da psicografia, de trinta livros. Naquele momento, ele se surpreendeu e, de
pronto, afirmou a Emmanuel que a publicação de trinta livros demandaria muito
dinheiro, e a sua situação financeira era muito precária. Emmanuel disse-lhe que
a publicação dos livros seria feita por caminhos que Chico não poderia imaginar.
A profecia se cumpriu. Ao enviar sua primeira obra, intitulada Parnaso de
além-túmulo, para um dos diretores da Federação Espírita Brasileira, ele teve seu
livro aprovado para publicação.
Em 1947, já havia concluído a série de trinta livros e questionou Emmanuel se
o trabalho já estava cumprido. O Espírito respondeu que eles iniciariam uma
nova série de trinta livros.
Em 1958, ele finalizou a nova série e questionou novamente se a tarefa já
estava cumprida. Emmanuel respondeu-lhe que os mentores espirituais haviam
determinado que eles deveriam cumprir a missão de trazer cem livros por meio
da psicografia de Chico.
Quando cumpriu a tarefa, achou que já havia finalizado, e ao questionar o
mentor sobre isso, recebeu a seguinte resposta:
- Eis aqui uma coisa que é bem mais extraordinária: não somente se faz girar
uma mesa, magnetizando-a, mas também se pode fazê-la falar. Interroga-se, e
ela responde.
– Isso, replicou Hippolyte, é outra questão; eu acreditarei quando vir e quando
me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir,
e que se pode tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão
uma fábula para provocar o sono.
Foi aí, pela primeira vez, que testemunhei o fenômeno das mesas girantes que
saltavam e corriam, e isso em condições tais que a dúvida não era possível. Aí vi
também alguns ensaios muito imperfeitos de escrita mediúnica com o auxílio de
uma cesta. Minhas ideias estavam longe de se haver modificado, mas naquilo
havia um fato que devia ter uma causa. Entrevi, sob essas aparentes futilidades e
espécie de divertimento, que ali se fazia alguma coisa séria e que estava
presenciando a revelação de uma nova lei, em que me prometi aprofundar. A
ocasião se me ofereceu, e pude observar mais atentamente do que tinha podido
fazer. Em um dos serões da Sra. Plainemaison, fiz conhecimento com a família
Baudin, que se ofereceu para me permitir assistir às sessões que se efetuavam
em sua casa, e às quais eu fui, desde esse momento, muito assíduo. Foi aí que fiz
os meus primeiros estudos sérios em Espiritismo, menos ainda por efeito de
revelações que por observação. Apliquei a essa nova ciência, como até então o
tinha feito, o método da experimentação; nunca formulei teorias preconcebidas,
observava atentamente, comparava, deduzia as consequências; dos efeitos
procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos
fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia
resolver todas as dificuldades da questão.
Kardec – Ouvistes o fato que acabo de narrar; podereis dizer-me a causa dessas
pancadas que se fizeram ouvir com tanta insistência?
Espíritos – Era o teu Espírito familiar.
K. – Com que fim, vinha ele bater assim?
E. – Queria comunicar-se contigo.
K. – Podereis dizer-me o que queria ele?
E. – Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.
K. – Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, agradeço-vos terdes vindo
visitar-me. Quereis ter a bondade de dizer-me quem sois?
E. – Para ti chamar-me-ei a Verdade, e todos os meses, durante um quarto de
hora, estarei aqui, à tua disposição.
K. – Ontem, quando batestes, enquanto eu trabalhava, tínheis alguma coisa de
particular a dizer-me?
E. – O que eu tinha a dizer-te era sobre o trabalho que fazias; o que escrevias
desagradava-me e eu queria fazer-te parar.
Nota – O que eu escrevia era precisamente relativo aos estudos que fazia sobre
os Espíritos e suas manifestações.
K. – A vossa desaprovação versava sobre o capítulo que eu escrevia, ou sobre o
conjunto do trabalho?
E. – Sobre o capítulo de ontem: faço-te juiz dele. Torna a lê-lo esta noite;
reconhecer-lhe-ás os erros e os corrigirás.
K. – Eu mesmo não estava muito satisfeito com esse capítulo e o refiz hoje. Está
melhor?
E. – Está melhor, mas não muito bom. Lê da terceira à trigésima linha e
reconhecerás um grave erro.
K. – Rasguei o que tinha feito ontem.
E. – Não importa. Essa inutilização não impede que subsista o erro. Relê e
verás.
K. – O nome de Verdade que tomais é uma alusão à verdade que procuro?
E. – Talvez, ou, pelo menos, é um guia que te há de auxiliar e proteger.
K. – Posso evocar-vos em minha casa?
E. – Sim, para que eu te assista pelo pensamento; mas, quanto a respostas
escritas em tua casa, não será tão cedo que as poderás obter.
K. – Podeis vir mais frequentemente que todos os meses?
E. – Sim; mas não prometo senão uma vez por mês, até nova ordem.
K. – Animastes alguma personagem conhecida na Terra?
E. – Disse-te que para ti eu era a Verdade, o que da tua parte devia importar
discrição; não saberás mais que isto.