9151-Texto Do Artigo-27555-1-10-20180617
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HUMANIDADE?
Resumo: Com o presente ensaio pretende-se entender a relevância do texto de Max Weber, A
ciência como vocação, do ponto de vista específico das humanidades. Para o efeito, parte-se de
aspetos muito concretos que, segundo o Autor, determinam a necessidade e a importância das
ciências humanas na continuação do culto e da compreensão da complexidade do Homem. São
detalhados aspetos, num breve percurso histórico, filosófico e literário, que, por um lado,
diferenciam as humanidades das ciências exatas, e, por outro, as ressignificam no mesmo jogo
em que são colocadas ante o Homem, seu objeto em perpétuo devir. Entre os vários argumentos,
conclui-se que as ciências humanas procuram o sentido de a vida acontecer, assegurando algum
do seu encantamento, sem o que o Homem afundaria em sua perplexa desumanização.
Abstract: This essay intends to understand the relevance of Max Weber's text, Science as
vocation, from the specific point of view of the humanities. To this end, it is based on very concrete
aspects which, according to the author, determine the necessity and importance of the human
sciences in the continuation of the cult and the understanding of the complexity of Man. They are
detailed in a brief historical, philosophical and literary course, which, on the one hand,
differentiate the humanities from the exact sciences, and, on the other hand, re-signify them in
the same game in which they are placed before Man, his object in perpetual becoming. Among
the various arguments, one concludes that the human sciences seek the meaning of life to happen,
assuring some of its enchantment, without which Man would sink in its perplexed dehumanization.
Ao sair da caverna, que vi eu? Nada mais que não fosse a solidão, ela mesma.
Pela primeira vez confrontava-me com a verdade da impessoalidade — poderia ser este
um modo de ver as coisas.
1
“A grande música é uma coisa inteira. Como substância inexistente para a faca. Não se corta uma sensação
em dois. A grande música é uma coisa inteira” (TAVARES, 2004, p. 24).
O que é a vocação da ciência dentro da vida inteira da humanidade?
Afluente, UFMA/Campus III, v.3, n. 7, p. 128-138, jan./abr. 2018 ISSN 2525-3441
sistematizavam-se de igual modo pela escrita, refletindo-se no outro pela expressão
comunicacional. Mesmo que com gradações de inteligibilidade variando na sua forma.
Ainda hoje, o pensamento empregado ou depreendido nos estudos elaborados pelos dois
grupos é racionalizado recorrendo-se a esse mistério que as aproxima, a linguagem
humana, a partir do qual estruturam tanto narrativas de tentativas anteriores ou factos
garantidos, quanto possibilidades não realizadas, porém no limbo do quase. Conjeturas
tocadas.
3 Um acaso incontrolável
4 Quebrando o feitiço
Desde que Platão fez sair o homem do seu jogo de sombras infantil, o mundo
progrediu no achamento do seu sentido, com o homem nele. Não serão as ciências
naturais a “ensinar algo sobre o sentido do mundo ou […] sobre o caminho no qual se
poderia encontrar um vestígio desse sentido” (WEBER, s. d., p. 17). Nem as ciências
humanas que, na tentativa de uma metodologia própria, conceptualizam o que se vai
acumulando como sendo a verdade, jamais o conseguirão, na medida em que a morte
continua um buraco sem sentido, desconhecendo-se o seu fundo ou se o tem: “como a
morte carece de sentido, também o não tem a vida cultural enquanto tal, pois é justamente
esta que, com a sua absurda ‘progressividade’ põe na morte a marca do absurdo”
(WEBER, s. d., p. 14). A descoberta e compreensão desse sentido só é possível, numa
perspetiva weberiana, de se encontrar na “única coisa que […] não se vira afectada pelo
intelectualismo, as esferas do irracional” (WEBER, s. d., p. 18). Embora as ciências
humanas não tenham a chave que resolve o sentido intocado da morte, ensinam-nos a
razão por que “não oferece ela ‘nenhuma’ resposta” (WEBER, s. d., p. 18), ou seja, a
viver no passo suave que pensa sobre o não-sentido. Em passo suave, “pianissimo,
puls(e)[ando] algo que corresponde ao que, noutro tempo, irrompia como pneuma
profético, em fogo tempestuoso” (WEBER, s. d., p. 32). Não podendo “demonstrar se o
mundo, que elas descrevem, é digno de existir, se tem um ‘sentido’ ou se tem sentido
existir nele” (WEBER, s. d., p. 19), partem, por isso, de um pressuposto não verificável
de modo lógico e limitado. E a ter um sentido, “como se deve ele interpretar, para que se
torne possível pensá-lo?” (WEBER, s. d., p. 30). Como pedra isolada, o mundo só passa
a significar algo logo após que o indivíduo o olha e sente a sua importância. Assim, a
ciência. De outro modo, seria o homem a solidão de um lugar inóspito — a ciência,
armadura oca sem corpo nela. A fonte inesgotável da irracionalidade é promissora de um
O que é a vocação da ciência dentro da vida inteira da humanidade?
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resultado maior, pois “Improvisar é obrigar-se ao Espanto” (TAVARES, 2004, p. 23),
natureza dos incomodados, dos planeadores de futuros e perscrutadores do que está por
baixo de, e atrás de, e ao lado de, e no escuro de. Na formulação das problemáticas, mais
surpreendentes que tudo, aportam-se as soluções menos previsíveis e igualmente
avassaladoras.
Se as ciências exatas registam a ação do homem no mundo, no âmbito dos limites
que o determinam de modo legível, i. e., enquanto ser de alcance finito que inscreve, no
seu julgamento, a marca multíplice da sua passagem, por seu lado, as ciências humanas
dedicam-se a compreender, sem manipular, “Uma anatomia metafísica: os dedos das
mãos procuram o que não é material nos objectos” (TAVARES, 2004, p. 21). Aos dados
quantitativos, respondem com a ininterrupta, porém, irresolúvel indagação, negando-se a
circunscrever o homem numa temporalidade e num lugar esgotados de si, pois
Referências