Políticas Publicas - Pessoas em Situação de Rua
Políticas Publicas - Pessoas em Situação de Rua
Políticas Publicas - Pessoas em Situação de Rua
CURSO DE PSICOLOGIA
SÃO PAULO - SP
2023/1°
BEATRIZ PARREIRAS
CECÍLIA FRANCO
MARIANA JACOB
RAQUEL HLEAP
SOFIA STIFELMAN
Versão original
SÃO PAULO
1º/2023
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………3
3. ANÁLISE CRÍTICA…………………………………………………………………6
4. DISCUSSÃO…….……………………………………………………………………9
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………….11
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1. INTRODUÇÃO
De acordo com Iracilda Braga (2018), a história das políticas públicas voltadas para
essa população foi tornando-se viável através da Constituição Federal de 1988 com o decreto
de que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Com o crescimento das cidades e a
industrialização o número de pessoas em situação de rua cresceu, e a partir de 2004 foram
estabelecidas diversas leis que incluíram a população em situação de rua em suas
considerações, como no caso do SUAS. Durante muito tempo, a abordagem predominante da
população em situação de rua foi a repressão e a criminalização, com ações de policiamento e
limpeza urbana voltadas exclusivamente para a retirada das pessoas das ruas, o que apenas as
deslocou para outra área da cidade, como ainda se vê hoje no contexto da Cracolândia. No
entanto, há uma tentativa de mudança de paradigma nas políticas públicas, com a adoção de
abordagens mais humanitárias e inclusivas.
Um passo importante nesse processo foi a criação da Política Nacional da População
em Situação de Rua, em 2009, que estabeleceu diretrizes e ações para promover os direitos
dessa população. A política reconhece a situação de vulnerabilidade e exclusão social a que
estão submetidas estas pessoas e visa garantir o acesso a serviços públicos como saúde,
educação, habitação e trabalho, visando dar a estas pessoas caminhos para a sua
independência: “Logo, pode-se depreender que para que uma transformação social tenha
início e seja possível, a população em situação de rua deve sentir-se credora de direitos, ter
consciência de que eles estão sendo violados”. (BRAGA, 2018)
As políticas públicas para pessoas em situação de rua evoluíram para além do
atendimento emergencial, buscando também promover a inclusão social e a autonomia dessas
pessoas. Isso inclui ações como a oferta de cursos de formação e inserção no mercado de
trabalho, bem como a criação de abrigos temporários e alojamentos transitórios.
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Apesar dos avanços nas políticas públicas, muitos desafios ainda precisam ser
vencidos no que diz respeito à população em situação de rua. É preciso garantir uma
abordagem integral e multidisciplinar, que considere não só apenas as necessidades imediatas
de atendimento, mas também as causas estruturais da exclusão social e a promoção de
políticas públicas mais amplas que possam prevenir a situação de rua: “Sendo assim, compete
ao Estado e à sociedade o dever de lutar pela participação e pelo desenvolvimento do ser
social, capacitando-o por meio de sua potencialidade, lutando pela sua emancipação e
autonomia”. (BRAGA, 2018, p. 11)
O programa Autonomia em Foco é uma política pública que atua no município de São
Paulo realizada por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.
Fundada em setembro de 2014, tem como objetivo oferecer moradia e dignidade às pessoas
em situação de vulnerabilidade que desejam viver com seus companheiros ou evoluir no
processo de independência pessoal. O programa conta com um sistema colaborativo de
limpeza entre os moradores e possui uma grade de atividades socioeducativas, roda de
conversas e mediação de conflitos. Além disso, os moradores fazem suas próprias refeições e
lavam suas roupas na cozinha e lavanderia comunitárias.
Em relação à gama de beneficiados pelo programa, são 150 pessoas, entre famílias,
crianças e solteiros, e funciona 24 horas por dia com um quadro de 30 funcionários, entre
orientadores socioeducativos, operacionais, assistentes sociais e gerente. Uma estratégia de
fortalecimento de vínculos se trata das recorrentes celebrações de datas comemorativas, estas
são uma oportunidade para fortalecer os vínculos familiares, interpessoais e comunitários, por
meio de atividades coletivas, como almoços, oficinas e decorações temáticas.
Autonomia em Foco é um ponto de referência para os moradores, um lugar onde
sempre têm para onde voltar, ao contrário da vida nas ruas. Os moradores têm vontade de
estudar e trabalhar, e o programa incentiva a cidadania e o respeito ao próximo por meio da
grade de atividades mensais com temas diferentes, como saúde e cidadania. O ingresso ao
programa é feito via CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).
Trata-se de uma importante política pública que busca fortalecer os laços familiares e
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comunitários, além de oferecer moradia e dignidade às pessoas em situação de
vulnerabilidade.
No entanto, é importante ressaltar que esta política depende fortemente do
financiamento público, o que torna sua continuidade incerta. Sem o financiamento adequado,
o programa pode ser descontinuado, deixando muitas famílias vulneráveis sem assistência.
Portanto, é necessário que seja continuamente aprimorada para que se ofereça recursos mais
abrangentes aos usuários deste serviço, e garanta sua sustentabilidade a longo prazo.
O programa “Bom Prato” foi criado pelo Governo do Estado de São Paulo em
Dezembro de 2000 e é coordenado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social.
Teve seu primeiro restaurante inaugurado em Janeiro de 2001 pelo então governador Mario
Covas. O programa consiste em distribuir restaurantes pelo estado que ofereçam refeições
saudáveis e de qualidade por um valor acessível, sendo que almoço e jantar estão no valor de
R$1,00 e sem custo para crianças de até 6 anos de idade. Além disso, desde 2011 também
oferecem café da manhã no valor de R$0,50. Para o governo a estimativa média de
investimento para o Bom Prato é de R$59,2 milhões, considerando implantação e
revitalização das unidades, além do custeio das refeições, considerando que o subsídio
governamental é de R$6,10 para adultos e R$7,10 para as crianças.
Os pratos para almoço e jantar contam com arroz, feijão, salada, legumes, uma
proteína e sobremesa, normalmente uma fruta. Já o café da manhã é composto por café com
leite, achocolatado ou iogurte, pão com margarina, requeijão ou frios e uma fruta. Hoje
existem 100 unidades de restaurantes espalhadas por São Paulo, sendo 73 fixas e 27 móveis.
Os restaurantes fixos são distribuídos em 24 unidades na Capital, 21 no interior, 19 na Região
Metropolitana de São Paulo e 9 no Litoral. O governador atual, Tarcísio de Freitas, alega que
o objetivo é implantar mais 30 unidades em 2023 e outras 30 em 2024.
O Bom Prato Móvel foi implantado mais recentemente, em Março de 2022 após um
projeto piloto realizado no final de 2021. Foi criado pensando em atender a parcela da
população que não tem condições de se locomover até as unidades fixas e, para isso, funciona
em caminhões do tipo VUC e distribui refeições que são preparadas nas unidades fixas em
regiões que concentram uma grande densidade populacional e com altos índices de
vulnerabilidade social e insegurança alimentar. No entanto, o Bom Prato Móvel serve apenas
almoço e permanece cerca de 3 meses em cada endereço.
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A quantidade de refeições oferecidas por dia variam de acordo com as unidades. O
Bom Prato Centro de Mogi das Cruzes serve 1400 almoços diariamente, sendo 300
destinados ao Bom Prato Móvel, além de 500 cafés da manhã e 300 jantares, que não são
servidas no local, mas sim distribuídas como marmitas. Já o Bom Prato 25 de Março serve
2.100 refeições por dia, sendo 300 cafés da manhã, 1500 almoços e 300 jantares.
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3. ANÁLISE CRÍTICA
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Dessa forma, a suposta “unanimidade” das “políticas públicas”, uma vez que
objetivaria o referido “bem comum”, encobre, no chamado “ciclo das
políticas públicas”, seu caráter conflitivo quanto aos interesses em disputa e
os vetos, por meios distintos, advindos dos grupos sociais que se sentem, real
ou imaginariamente, prejudicados. Tais conflitos podem assumir conotações
de embate de classes sociais, por mais que conceituar classes e seus embates
implique novo esforço analítico. (ARENDT, 2007, p. 74)
Por essa razão, a construção de uma nova política pública deveria estar sempre
relacionada com demandas e envolvimento popular, como no caso de políticas cidadãs, onde
a sociedade prevalece o Estado e tem uma movimentação ativa no momento de implementar
uma nova forma de combater certas desigualdades ou falta de direitos, sendo essas mesmas
pessoas que as vivenciam no cotidiano.
Em 2004 foi aprovada a Resolução nº 145, decorrente de decisões do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, com o objetivo de prover serviços, programas,
projetos e benefícios, considerando as desigualdades socioterritoriais, visando seu
enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender
contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. Assim, entendemos a
importância da criação e manutenção do “Programa Bom Prato”, uma vez que ele garante a
segurança alimentar para pessoas em situação de vulnerabilidade. Nessa perspectiva,
entende-se que, para muitas pessoas, a impossibilidade de uma alimentação mínima agrava
ainda mais a realidade de abandono e invisibilidade social.
Pensando nesse conceito exposto por Arendt, conseguimos entender como essas
políticas assistencialistas subsidiam muito mais do que os valores nutricionais e a segurança
alimentar para as pessoas que se utilizam dela. O estado de necessidade vulnerabiliza a
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existência humana e coloca barreiras que dizem respeito a liberdade de ser e existir como
pertencente a uma sociedade, fazendo com que esse homem se limite a ações mecânicas e às
vezes alienadas, para garantir sua sobrevivência mínima. Ainda nesse raciocínio, entende-se
que o Programa Bom Prato colabora para que, de certa forma, parte dessa liberdade possa ser
garantida, já que o homem tem a possibilidade de comer com dignidade por um valor -
praticamente - simbólico, R$ 2,50 o dia, contando três refeições diárias (café da manhã,
almoço e jantar). E, desenvolvendo a questão do preço, deve-se considerar que, mesmo sendo
um valor mínimo, ainda sim existem pessoas que não conseguem arcar com isso,
permanecendo escravizadas, como propõe a autora.
A Política Pública Centro POP, busca apoiar e reverter o quadro de vulnerabilidade
que as pessoas em situação de rua se encontram. A equipe do equipamento, busca promover
um ambiente que estimule os usuários a organizarem suas vidas, a fim de resgatar sua
autoestima, exercício da cidadania, participação e reintegração social, bem como a
recuperação de seus direitos sociais e políticos. Além disso, a equipe realiza
encaminhamentos para outros serviços da Rede de Assistência Social e demais políticas
públicas setoriais, bem como para órgãos do Sistema de Garantia de Direitos. (PINHEIRO E
POSSAS, 2018, p. 40).
De acordo com Hannah Arendt (1958), o espaço público é aquele em que as pessoas
se reúnem para participar da vida política, discutir questões públicas e tomar decisões que
afetam a comunidade como um todo, é tudo o que pode ser visto e ouvido por todos. Por
outro lado, o espaço privado é aquele em que as pessoas exercem sua vida privada, realizam
suas atividades cotidianas e convivem em um ambiente íntimo e familiar.
Significa, em primeiro lugar, que tudo o que vem a público pode ser visto e
ouvido por todos e tem a maior divulgação possível. Para nós, a aparência -
aquilo que é visto e ouvido pelos outros e por nós mesmos constitui a
realidade. Em comparação com a realidade que decorre do fato de que algo é
visto e escutado, até mesmo as maiores forças da vida íntima - as paixões do
coração, os pensamentos da mente, os deleites dos sentidos - vivem uma
espécie de existência incerta e obscura, a não ser que, e até que, sejam
transformadas, desprivatizadas e desindividualizadas, por assim dizer, de
modo a se tornarem adequadas à aparição pública. (ARENDT, 1958, p. 59)
No entanto, as pessoas em situação de rua não têm acesso a nenhum desses espaços.
Eles são excluídos do espaço público, poorque não têm voz ou representação política, e são
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marginalizados pela sociedade. Além disso, também não têm acesso ao espaço privado,
porque muitas vezes não têm um lar ou uma casa para chamar de sua. Dessa forma, a situação
das pessoas em situação de rua, pode ser vista como uma negação dos conceitos de espaço
público e espaço privado de Hannah Arendt. Desse modo, a política pública Centro POP
surge a fim de oferecer um espaço público para as pessoas em situação de rua, onde eles
possam se reunir e ter acesso a serviços básicos e atendimento social. Essa iniciativa pode ser
vista como uma tentativa de resgatar o direito desses indivíduos ao espaço público e,
consequentemente, contribuir para a promoção de sua inclusão social. Dessa forma, as
políticas públicas vigentes hoje para a população em situação de rua, busca uma maior
garantia de direitos, tanto sociais quanto de subsistência.
4. DISCUSSÃO
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ambiguidade do cuidado é muito bem explicado por Luís Claudio Figueiredo em seu texto “A
Metapsicologia do cuidado”:
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Acessar o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro
POP). Governo Federal, 2023. Disponível em:
<https://www.gov.br/pt-br/servicos/acessar-centro-pop-centro-de-referencia-especializado-par
a-populacao-em-situacao-de-rua>. Acesso em 01 abr. 2023.
Bom Prato de Mogi das Cruzes completa 17 anos com mais de 6,5 milhões de refeições
servidas. Secretaria de Assistência Social, 2023. Disponível em:
<https://www.mogidascruzes.sp.gov.br/noticia/bom-prato-de-mogi-das-cruzes-completa-17-a
nos-com-mais-de-65-milhoes-de-refeicoes-servidas#:~:text=Atualmente%2C%20o%20Bom
%20 Prato%20 Centro,sob%20a%20forma%20de%20 marmitas.> Acesso em 01 abr. 2023.
Governador Tarcísio de Freitas comemora aniversário de São Paulo com almoço no Bom
Prato da rua 25 de Março. Governo do Estado de São Paulo, 2023. Disponível em:
<https://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/governador-tarcisio-de-freitas-comemora-aniv
ersario-de-sao-paulo-com-almoco-no-bom-prato-da-rua-25-de-marco/> Acesso em: 01 abr.
2023.
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KEHL, M. R. Subjetividade, política e Direitos Humanos. In: Conselho Federal de
Psicologia. Psicologia e Direitos Humanos: subjetividade e exclusão. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2004.
LEVY, Marília. Autonomia em Foco atende 150 pessoas que estão em processo de
autonomia. Prefeitura de São Paulo, 2018. Disponível em:
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/noticias/?p=253739&a
mp
Portabilis. Centro POP e sua importância para as pessoas em situação de rua. Disponível em:
<https://blog.portabilis.com.br/entenda-o-que-e-centro-pop-e-sua-importancia-para-as-pessoa
s-em-situacao-de-rua/>. Acesso em 01 abr. 2023.
13
<https://www.capital.sp.gov.br/noticia/programa-autonomia-em-foco-transfere-familias-para
> Acesso em: 02 abr. 2023.
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