Erradicação Da Pobreza

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Erradicação da pobreza

Temos a obrigação moral de ajudar os mais pobres?

Tuca Vieira, Paraisópolis (São Paulo, Brasil), 2004.

João Gonçalves Magueija/ nº12 / 10ºA


Escola Secundária da Boa Nova 2021-2022
Disciplina de Filosofia – Prof. Maria de Lurdes Ferreira
Com este trabalho pretendo responder à questão: “Temos a obrigação
moral de ajudar os mais pobres?” ou por outras palavras “Será imoral não
ajudar quem vive em pobreza absoluta?”, definir conceitos necessários para a
compreensão clara do ensaio e no final espero conseguir formular o meu
próprio ponto de vista pessoal do problema a partir dos principais argumentos a
favor e objeções (contra-argumentos) das teses propostas por filósofos bem
conhecidos tendo a plena noção que a filosofia é uma área de estudo
conceptual não formal que aceita várias respostas ao mesmo problema.

Dos inúmeros temas disponíveis decidi realizar o meu ensaio sobre a


erradicação da pobreza, porque é um dos maiores problemas no mundo inteiro,
é um tema atual e fiquei com curiosidade em descobrir as diferentes respostas
que podem surgir na discussão deste problema. Para mostrar o quão
alarmante é o problema e a falta de paridade na distribuição da riqueza de
diferentes países: a riqueza do 1% das pessoas mais ricas no mundo é
equivalente a mais do que o dobro da riqueza de sete biliões de pessoas.

Como todos sabem no nosso mundo, os países têm diferentes níveis de


desenvolvimento económico e social, quer por razões geográficas, históricas,
políticas, culturais, etc.., encontram-se divididos em países desenvolvidos e
não desenvolvidos, o que faz com que diferentes pessoas nasçam dentro de
sociedades e ambientes completamente diferentes, o que em si proporciona
vidas distintas e consequentemente que certas pessoas tenham um salário e
condições de vida superiores a outras, só por terem nascido na “melhor” parte
do mundo, se realmente pegarmos no extremo da situação, podemos ter
alguém como a filha do Bill Gates: bilionária à nascença ou alguém que nasce
numa certa área do mundo com poucas probabilidades de sequer chegar aos
30 anos de idade devido ao seu estado constante de pobreza absoluta. Mas a
questão em si deste ensaio não é como obter uma sociedade completamente
justa, mas sim, se quem têm uma vida melhor, quer por mera lotaria social ou
genética ou por trabalho árduo tem o dever de ajudar quem está em pobreza
absoluta?

Pobreza absoluta – Imaginemos que uma pessoa vive num país


desenvolvido e ganha apenas o ordenado mínimo, tenha de sustentar três
filhos e tenha muitas dificuldades, este estilo de vida é pelos nossos padrões
europeus extremamente desagradável e difícil, apesar disto é o “sonho” de
todas as pessoas que vivem em pobreza absoluta.

Para pôr em perspetiva, ser pobre em absoluto é não possuir o


suficiente para satisfazer as mais básicas necessidades humanas: é não ter o
suficiente para se alimentar, estar sempre esfomeado, subnutrido, em alguns
dias nem comer e ter de beber água contaminada por falta de outra, é não ter
dinheiro nenhum e trabalhar no campo, caso fiquemos doentes não temos
dinheiro para o tratamento, muitas crianças e adultos acabam por morrer de
diarreia, nem dinheiro para dar uma educação aos nossos filhos, que se veem
obrigados a ajudar no campo, a única fonte de rendimento, é viver numa
cabana tão precária que tem de ser reconstruída a cada dois a três anos e o
pior de tudo é estar rodeado por mortes e lágrimas todos os dias sem maneira
de escapar.

De acordo com o Banco Mundial em 2008 cerca de mil e cem milhões de


pessoas viviam nesta condição desumana sustentando-se com apenas um
euro por dia e entre um e dois euros por volta de setecentos milhões. Parece-
nos absurdo que sequer existam seres humanos nestas condições tendo em
conta a norma a que estamos habituados.

Ao saber-se da existência destas pessoas que vivem nas piores


condições imagináveis, será que as pessoas que vivem em melhores
condições têm obrigação moral de as ajudar? Se dissermos que sim, devemos
fazê-lo e encorajar outros a fazer o mesmo, se dissermos que não, podemos
ou não o fazer, sem impedir que os outros o façam.

Argumento a favor:

Peter Singer, filósofo utilitarista australiano (o critério ético da moralidade


de uma ação assenta sobre a promoção imparcial de felicidade) defende a sua
posição no seu livro Ética Prática. O seu argumento é o seguinte:

1. Se pudermos impedir que um mal aconteça sem sacrificarmos nada de


importância moral comparável, devemos fazê-lo.

2. A pobreza absoluta é um mal.


3. Há pobreza absoluta que podemos evitar sem sacrificar nada de importância
moral comparável.

4. Logo, temos a obrigação de ajudar os mais necessitados impedindo assim


alguma pobreza absoluta.

Este argumento é válido e Peter Singer discute cada uma das


premissas, defendendo que são verdadeiras ou pelo menos aceitáveis. Em
suma, este afirma que mesmo ao sermos indivíduos de classe média,
possuímos riqueza suficiente para que se transferíssemos uma parte aos
pobres absolutos, salvaríamos vidas e não ameaçaríamos o nosso bem-estar
básico e chega a conclusão que ao não colaborar permitimos a morte e
sofrimento de imensas pessoas que vivem nestas condições, tornando-nos de
alguma forma homicidas como este afirma no livro: “Quem vive bem e nada faz
para ajudar os desfavorecidos, gastando uma parte considerável do seu
dinheiro em luxos, está ao nível de quem não impede uma criança de morrer
para não sujar a roupa”.

Objeções:

-Não devemos ajudar, pois essa ajuda pode ter consequências


negativas, leva os governos desses países à desresponsabilização,
dependendo cada vez mais das organizações de solidariedade e
posteriormente ao aumento descontrolado da população, o que causará ainda
mais pobreza. Contra-argumentação: Este argumento é superficial e não está
muito de acordo com a realidade pois estudos mostram que se ajudarmos uma
população, a médio-prazo esta têm tendência a tornar-se progressivamente
autossuficiente dependendo cada vez menos de ajudas externas.

-Temos de ajudar os outros, mas não de uma maneira tão radical, Singer
acredita que devemos ajudar os outros até nos encontrarmos numa situação de
pobreza, o que ameaçaria a nossa integridade pessoal.

-Não temos obrigação de ajudar, uma vez que não fomos nós que
causamos a pobreza absoluta não podemos ser responsabilizados por esta.

Argumento contra:
Robert Nozick, filósofo deontológico americano, defensor de um
liberalismo radical, através da sua teoria de justiça considera absolutos os
direitos individuais como a liberdade e a propriedade e afirma que o estado ao
tirar a alguns indivíduos, sem o seu consentimento, parte daquilo que possuem
legitimamente, para beneficiar os mais desfavorecidos viola os seus direitos de
propriedade e consequentemente desrespeita a sua liberdade. Logo, face a
este problema, para Nozick, se adquirirmos os bens de forma legítima não
somos obrigados a partilhá-los.

Conclusão

Na minha opinião, depois de realizar a pesquisa e elaborar este trabalho,


a minha resposta ao problema: Temos a obrigação moral de ajudar os mais
pobres? é que há certas pessoas que deviam ter esse dever/obrigação moral
enquanto outras não tanto, ou seja, de certa forma concordo e discordo com
certas partes dos argumentos dos dois filósofos ao mesmo tempo.

Primeiramente, acho que é impossível erradicar a pobreza e mesmo se


toda a gente tivesse a obrigação moral de ajudar os pobres absolutos, o
problema não se resolveria devido à estrutura da nossa sociedade e natureza
humana. Seguidamente, para mim, um ato de ajuda mesmo aos pobres
absolutos deve ser simplesmente um ato louvável, solidário e significativo sem
nenhuma obrigação moral tal como acha Nozick e como mostram duas das
objeções a Singer apresentadas, apesar disto penso de forma diferente deste
filósofo americano quanto a quem se aplica esta tese, este pensa que toda a
gente é legível, eu acho que não, ao obtermos um certo nível de riqueza
passamos a ter uma obrigação moral como defende Singer de ajudar os menos
favorecidos, claro que não é até nos encontrarmos em pobreza, temos de
encontrar um limite.

E ao terminar o meu ensaio, proponho uma questão ao leitor: a partir de


que nível de riqueza é que ajudar deve passar a ser um dever, será só quando
somos bilionários ou milionários ou simplesmente da classe alta ou média alta
ou é quando temos o suficiente para realizar o nosso projeto de vida?
Bibliografia:

 O Espanto – Filosofia 10º ano, Autores: Aires Almeida e Desidério


Murcho
 https://www.eapn.pt/o-que-e-a-pobreza
 https://jus.com.br/artigos/20511/para-nao-confundir-caridade-com-dever-
etico
 http://filosofarliberta.blogspot.com/2016/04/criticas-teoria-de-rawls.html
 https://www.trabalhosgratuitos.com/Sociais-Aplicadas/Filosofia/Ensaio-
Filosofico-Temos-a-obriga%C3%A7%C3%A3o-moral-de-ajudar-
1669313.html
 https://prezi.com/dw1uk5sqxzqr/a-pobreza-e-a-obrigacao-moral-de-
ajudar/
 https://notapositiva.com/ensaio-filosofico-sobre-a-pobreza/#
 https://aia.madeira.gov.pt/images/files/telensino/
FILOS10_Aulas_5_e_6_19_e_26_maio.pdf
 http://logosecb.blogspot.com/2010/06/sera-que-cada-um-de-nos-tem-
obrigacao.html
 https://criticanarede.com/eti_futnathumana.html

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