Probioticossuinos
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Capítulo 71
INTRODUÇÃO
A alimentação é um dos maiores custos dentro da produção de suínos,
representando mais de dois terços do custo total de operação. Assim, a obtenção de uma
melhor eficiência alimentar dos animais, ou seja, uma melhor absorção de nutrientes da
dieta para conversão em produto final é um ponto crítico para a lucratividade do produtor
(1), e para isso, se faz necessário um intestino com uma microbiota saudável (2). O trato
gastrointestinal (TGI) dos suínos auxilia a função imunológica, pois o intestino é a primeira
barreira imunológica dos animais contra a ação microbiana (3). Somente um TGI saudável
permite que o animal se desenvolva sem adoecer e com bons índices de produção (4).
Antibióticos têm sido amplamente utilizados para prevenir a diarreia pós-desmame
em leitões e para aumentar a produtividade (5). Entretanto, o uso indiscriminado destes
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produtos leva a um desequilíbrio na microbiota intestinal e pode levar ao surgimento de
genes de resistência (6). A demanda dos consumidores por uma carne segura e sem resíduos
aumentou, e com isso, surgiram buscas por suplementos naturais e seguros que tragam
benefícios aos animais (7). Em alternativa ao uso dos antibióticos, surgiram os aditivos
probióticos (8), que produzem efeitos benéficos ao hospedeiro, estimulando respostas
imunológicas contra patógenos (9). Muitas espécies presentes na microbiota do TGI são
benéficas, como as bactérias láticas Lactobacillus e Bifidobacterium, as quais são capazes
de resistir ao ambiente gastrointestinal (10). Desta forma, uma classificação sobre os
mecanismos de ação dos probióticos na saúde dos animais é necessária para que se utilize
probióticos específicos, conforme o objetivo.
MECANISMOS DE AÇÃO
Quando os probióticos são administrados em suínos, eles causam efeitos
principalmente no cólon e no ceco onde encontram-se diversos grupos de microrganismos
de forma abundante (16). De maneira oposta aos antibióticos, os probióticos atuam na
saúde animal aumentando principalmente a população de microrganismos desejáveis no
intestino (17).
Existem 5 principais mecanismos de ação dos probióticos que contribuem com a
saúde do hospedeiro e melhoram os índices de produção. A modulação da microbiota
intestinal é uma forma de prevenir o desequilíbrio através da alteração da composição da
população microbiana intestinal (3), a introdução de microrganismos desejáveis pode
auxiliar quando existem deficiências de microrganismos benéficos (12). A exclusão
competitiva, que é definida como uma ação normal que protege o organismo contra o
estabelecimento de patógenos, diminui o risco de infecções e pode evitar a disbiose em
suínos (18), ela ocorre, por exemplo, ao inibir a fixação de E. Coli no epitélio do intestino
delgado através da suplementação de probiótico que contém E. faecium e Colicina à base
de E. coli (19). Neste caso os microrganismos probióticos competem com os patogênicos
no intestino por locais de adesão e substratos, e assim evitam danos ao hospedeiro (20),
uma vez que as bactérias prejudiciais precisam estar anexadas às paredes do TGI para
exercer efeitos lesivos (13). Além disso, alguns microrganismos probióticos, quando
estabelecidos, produzem substâncias bactericidas ou bacteriostáticas que suprimem
patógenos (21).
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A modulação das respostas imunes do hospedeiro é outra forma de ação dos
probióticos, que mantém a composição da microbiota equilibrada através da recuperação
do sistema imunológico do hospedeiro pelas respostas imunes inatas e adquiridas (22). A
mucosa do TGI em conjunto com as células epiteliais formam uma barreira seletivamente
permeável entre os tecidos internos e o lúmen. Este obstáculo é a primeira linha de defesa
contra microrganismos nocivos, porém, em condições de estresse ou outras doenças, esta
pode ser rompida (23). Alguns probióticos são capazes de influenciar as interações
celulares da mucosa intestinal e consequentemente a estabilidade das células, eles
aumentam a função da barreira por meio da modulação da fosforilação das proteínas do
citoesqueleto e das proteínas de junção (23). Contudo, a microbiota intestinal pode
funcionar como imunomodulador para suporte de defesa do animal contra patógenos ao
estimular a resposta imune, e auxiliar o desenvolvimento do sistema imunológico do
hospedeiro por meio do estímulo de produção de anticorpos e aumento da atividade
fagocítica (13).
A eficácia de alguns probióticos na redução da incidência de diarreia em leitões se
deve à sua capacidade de proteger o animal contra toxinas provindas de bactérias, isto
porque os microrganismos probióticos neutralizam enterotoxinas produzidas por bactérias
patogênicas (13). Eles também impedem a síntese de amina de alguns patógenos (21),
impedindo a proliferação de coliformes (20).
A modulação da digestibilidade de nutrientes é também um dos mecanismos de
ação dos probióticos, já que eles aumentam a produção e a atividade de enzimas digestivas
no intestino. Ademais, possuem alta capacidade fermentativa e produzem uma melhora na
digestibilidade de nutrientes dietéticos em suínos (24). Podemos tomar como exemplo os
Lactobacillus spp., que são amplamente conhecidos por produzirem ácido lático e enzimas
proteolíticas que atuam na digestão de nutrientes no TGI (25). Além disso, afetam as
atividades de absorção e secreção, como no transporte de L-glutamina e na secreção de
íons (12), porque auxiliam no comprimento das vilosidades intestinais, ampliando a
superfície de absorção de nutrientes. Por fim, os probióticos são capazes de produzir
antioxidantes, eliminar radicais livres e diminuir o estresse oxidativo do hospedeiro (13).
É importante destacar que diferentes tipos de probióticos podem divergir quanto aos modos
de ação (24).
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existem diferenças significativas entre os diferentes produtos (13). Na Tabela 1 estão
listados alguns dos microrganismos com propriedades probióticas utilizados na nutrição
animal. Para facilitar o entendimento, os microrganismos comumente usados podem ser
divididos em diferentes grupos de acordo com os critérios (28).
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Além disso, Wang et al. (2019) (31) demonstraram um aumento na relação
vilo:cripta, que é extremamente favorável à absorção de nutrientes e ao desempenho
animal, devido ao aumento da área de contato da mucosa do intestino. Neste estudo ainda
se evidenciou a redução nas enzimas hepáticas AST e ALT. O aumento da abundância de
RNA mensageiro da mucina 2 (MUC2) e de proteínas de junções na mucosa jejunal foi
constatado, ocorrendo redução dos danos intestinais causado pelo desmame, além de
diminuir a entrada de agentes patogênicos pelo aumento da expressão de proteínas das
junções (34). Na dieta de leitões, se observou melhora nos fatores de crescimento,
diferenciação e proliferação do epitélio intestinal, dada a ação positiva do Peptídeo-2
Semelhante ao Glucagon (GLP-2) e a expressão do gene Fator de Crescimento Semelhante
à Insulina tipo 1 (IGF1R) (30). Já no que se refere ao sistema imune dos animais, se relata
o aumento dos níveis de IgM, e após 14 dias, houve também incremento de IgG, IgM e
IgA, sendo que IgA participa da imunidade da mucosa intestinal (31)
A diarreia é um dos pontos críticos na produção de leitões, ela ocorre
principalmente nas primeiras semanas pós-desmame, e representa grandes perdas
econômicas ao produtor (35). No entanto, 80% dos estudos relatam benefícios no uso de
probióticos quando à diarreia, sendo este efeito independente do microrganismo utilizado
(36). A utilização de probióticos também melhora o escore fecal dos animais (37), e
provoca redução na mortalidade geral pré-desmame (38). Leitões submetidos ao estresse
por altas temperaturas ambientais, obtiveram uma incidência de diarreia significativamente
reduzida através da suplementação com probióticos (39).
No estudo de Robles-Huaynate et al. (2013) (40), foi observado que suínos nas fases
de crescimento e terminação tiveram melhorias de 10 a 15% no ganho de peso e na
conversão alimentar quando suplementados com probióticos. Tal fato está relacionado com
as bactérias benéficas que são favorecidas pela diminuição do pH e pela modulação da flora
intestinal. No mesmo estudo foi observado aumento na qualidade de carne, melhora na
digestibilidade, redução da contaminação por conta da diminuição de NH3 e N fecais,
redução da mortalidade devido à baixa incidência de doenças, aumento do ganho de peso
e melhora na saúde intestinal. Por fim, porcas obtiveram aumento no consumo de ração
durante o período final da gestação e lactação, aumento nas condições corporais no período
final da lactação, redução no intervalo do desmame e cio, aumento na qualidade e
quantidade de colostro e leite, modulação da imunidade e aumento do tamanho da leitegada
(41).
CONCLUSÃO
A suplementação de probióticos na nutrição animal tem avançado muito nos
últimos anos e a busca por maiores informações tendem a avançar. Eles são utilizados para
diversas finalidades como a melhora do desempenho, mitigação de doenças e até mesmo
para aumento da qualidade do produto final, de forma a favorecer o meio ambiente, e
reduzir os poluentes ambientais. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos
contribuiu para o aumento da resistência de agentes patogênicos à alguns medicamentos,
tornando-os ineficazes, e uma das alternativas que competem com eles na produção suína
são os probióticos, visto que são uma alternativa natural apoiada positivamente pela
pressão dos consumidores e da legislação.
Contudo, ao levar em consideração a capacidades destes microrganismos de
modularem a microbiota e o sistema imune dos animais, são muitos os fatores favoráveis
a utilização. Embora estes aditivos estejam no mercado há alguns anos, maiores pesquisas
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são necessárias para geração de conhecimento a fim de projetar terapias robustas e reduzir
os inconsistentes resultados do uso tradicional de probióticos.
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