Tese Final Ficha Catalografica PDF
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MACEIÓ, AL
2022
EVERTON MELO DA SILVA
MACEIÓ, AL
2022
Catalogação na Fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central
Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecário: Marcelino de Carvalho Freitas Neto – CRB-4 – 1767
Bibliografia: f. 177-191.
CDU: 504(811:812.1)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – PPGSS
This thesis has as its theme the Brazilian State and socio-environmental destruction in
the context of the military-business regime and neoliberalism. The object of study was
to deal with the destructive relationship of the Brazilian State with nature and society
operated by infrastructure works and environmental destruction policies that boosted
the economic development of the capital system in the Brazilian territory. The aim of
the thesis was to demystify the analyzes of those who harbor illusions about the
Brazilian State as a protector and conservator of nature and a defender of a “balanced”
environment for society. Through the historical-dialectical materialist method, we
capture the particularities of the Brazilian State, understanding the reciprocal
articulation of coexistence between the material base (capital) and the political-legal-
legal sphere (State) in the Brazilian economic formation and the demands of
international capital from the perspective of the global totality, in addition to the
foundations of ecology and the “environmental question” anchored in Marxian thought
and in the Marxist tradition. We analyzed the socio-environmental impacts caused by
the state works Transamazônica, Tucuruí Hydroelectric Power Plant, Grande Carajás
Project, Itaipu Hydroelectric Power Plant and Belo Monte Hydroelectric Power Plant,
and the harmful effects of the unbridled release of pesticides. The results indicate that
the Brazilian State is one of the main agents of destruction of nature's biodiversity, on
a large scale in the Amazon Region, and of society, causing socio-environmental
damage, reinforcing our assertion of the destructive tendency of the state apparatus in
its relations with nature and society.
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................13
CONCLUSÃO..........................................................................................................171
REFERÊNCIAS........................................................................................................176
13
INTRODUÇÃO
1 Em 1844, Marx também solidificou suas bases de apreensão sobre a propriedade privada e trabalho
alienado que podem ser observadas nos “Manuscritos Econômico-filosóficos”.
2 Esta obra antecede “A ideologia alemã” (1845-1846) e “Manifesto do Partido Comunista” (1848),
escritas com seu companheiro Engels. Até mesmo, Netto (1998, p. 50, grifos originais) declara que “[...]
o Manifesto é preparado quando Marx e Engels já dispõem das referências teórico-metodológicas
fundamentais com que trabalharão pelo resto de suas vidas; o documento é redigido quando ambos já
tinham assentadas as linhas-de-força de sua concepção teórica da história, da sociedade e da cultura.”.
15
3 A expulsão dos camponeses tinha duas finalidades: primeiro, “[...] expandir a área da grande
exploração agrícola [...]” e, segundo, “[...] multiplicar sua oferta de proletários livres como os pássaros.”
(MARX, 1996, p. 348).
16
4 Essa se expressa nas relações patriarcais e na supremacia da figura masculina no seio da produção
e reprodução social. Segundo Engels (2012, p. 87), “o primeiro antagonismo de classes que apareceu
na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia;
e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino.”. “A monogamia
nasceu da concentração de grandes riquezas nas mesmas mãos – as de um homem – e do desejo de
transmitir essas riquezas, por herança, aos filhos desse homem, excluídos os filhos de qualquer outro.
Para isso, era necessária a monogamia da mulher, mas não a do homem; tanto assim que a monogamia
daquela não constitui o menor empecilho à poligamia, oculta ou descarada, deste. Mas a revolução
social iminente, transformando pelo menos a imensa maioria das riquezas duradoras hereditárias – os
meios de produção – em propriedade social, reduzirá ao mínimo todas essas preocupações de
transmissão por herança.” (ENGELS, 2012, p. 99).
17
enquanto controle tanto da estrutura produtiva quanto da vida social cotidiana. Toda
essa série de acontecimentos históricos deveu-se à base material da propriedade
privada e da criação do Estado para assegurá-la, conforme aponta a síntese
engelsiana:
classe politicamente dominante [...]”, que emerge como produto de uma necessidade
para defender a manutenção da propriedade privada.
Após nos debruçarmos sobre os textos de Marx e Engels sobre os fundamentos
do Estado, questionamos acerca da utilização da concepção de Estado sem
particularizar a formação sócio-histórica do Brasil. Inferimos que a concepção isolada
de Estado pode levar a equívocos analíticos. No que concerne às problematizações,
ao abordar o conceito de Estado de forma isolada, sem fazer as devidas mediações
teóricas e históricas, destacamos algumas implicações: tomar um pensamento do
autor de forma isolada sem considerar os nexos históricos pode dar margem para
leituras e interpretações enviesadas e, até mesmo, negar as contribuições dos
teóricos referentes aos fundamentos do Estado para elucidar a contemporaneidade.
O ponto central para captar o pensamento marxiano é tomar as suas obras como um
conjunto categórico da realidade social. Por isso, o nosso primeiro questionamento de
tese foi: quais as particularidades do Estado brasileiro na dinâmica da formação e
desenvolvimento do modo de produção capitalista? Evidentemente, não se afirma que
os conceitos postos por Marx e Engels não sejam essenciais para compreender o
Estado; o que está em questão é a necessidade de mediatizar essa categoria diante
da formação sócio-histórica brasileira.
No processo de apreensão das determinações do Estado brasileiro, a sua
tendência destrutiva em relação à natureza e sociedade ficaram latentes. Com isso,
apreendemos que o Estado brasileiro tem sido, historicamente, um agente direto de
destruição ambiental, seja com incentivos ao agronegócio e mineração, inclusive com
recursos públicos ou perdão de dívidas públicas, “doando” terras públicas,
flexibilizando legislações ambientais e a fiscalização ou, até mesmo, com ação direta
de destruição operando grandes projetos de infraestrutura que solaparam
drasticamente a natureza e a sociedade para o desenvolvimento do capitalismo no
território brasileiro. Projetos que serviram, sobretudo, para a dinâmica do crescimento
econômico capitalista no Brasil, para atender ao mercado mundial e aos investimentos
do capital internacional às custas da destruição da natureza e das comunidades
tradicionais.
Desse modo, tomamos como objeto de pesquisa de tese a relação entre Estado
brasileiro e destruição ambiental captando as ações estatais que revelam a tendência
destruidora do Estado para atender aos anseios do capital. Capturamos as
particularidades do Estado brasileiro, apreendendo a articulação recíproca de
19
5 Sobre o uso dos aspas em “questão ambiental”, Nunes (2019, p. 167) nos oferece didaticamente a
seguinte reflexão: “[...] não se trata, para o capital, de uma “questão” (o que justifica o uso das aspas),
mas de uma resultante necessária do seu movimento e que mantém o capital mais vivo do que nunca,
buscando o controle das descobertas/pesquisas de novas matérias que substituam as que ele esgotou,
novas tecnologias para eliminar os resíduos que ele lançou e novas ideologias que disfarçam o seu
ímpeto destrutivo e suas soluções minimalistas.”.
23
As imputações não param por aí. No contexto hodierno, temos seis críticas à
Marx na área da ecologia que foram sintetizadas por Foster 6 (2010, p. 24, grifos
originais), vejamos:
6 Jhon Bellamy Foster, Paul Burkett e Kohei Saito fazem parte de uma recente geração de marxistas
ecossocialistas que contribuíram para entender a ecologia e a problemática ambiental nas obras
marxianas (GIOPPO, 2021). Destacamos a obra de Foster “A Ecologia de Marx: materialismo e
natureza” (publicada em 2005) que “[...] sustenta que o pensamento marxiano é integralmente
ecológico, estando teoricamente fundamentado nos estudos da relação sociedade-natureza, sendo o
método do materialismo histórico-dialético indissociável da preocupação ‘ecológica’.” (FONTENELE;
CONCEIÇÃO, 2021, p. 70). Foster (2010) “[...] faz um esforço importante para compreender a
contribuição de Marx à ecologia, a partir da releitura de muitas de suas obras cujas passagens sobre
os danos da industrialização e sobre a importância da natureza na produção da riqueza social são
igualmente incontestes.” (SANTOS, 2017, p. 155). Entretanto, uma obra com esta envergadura teórica
não passaria ilesa a críticas e discordâncias, por isso, indicamos a resenha de Ribeiro (2011) que
aponta algumas críticas e limitações ao texto de Foster (2010).
24
7 Segundo Araújo e Silva (2021, p. 160), o conjunto da obra de Marx apresenta, sob diferentes nuances,
“[...] a ruptura do metabolismo social – falha metabólica – como resultante do modo particular de
desenvolvimento da sociabilidade burguesa em sua fase madura.”. Realizamos este destaque, em
nota, devido a limitarem o conceito da “falha metabólica” apenas a obra “O Capital: crítica da economia
política”, quando, na verdade, este conceito perpassa outras obras, como as obras “Manuscritos
econômico-filosóficos” de 1844 e o volume 3 de “O Capital”, conforme observaremos no
desenvolvimento desta seção.
26
8 A Economia Política, conforme Netto e Braz (2010, p. 29), “[...] é o estudo das leis sociais que regulam
a produção e a distribuição dos meios que permitem a satisfação das necessidades dos homens,
historicamente determinadas.” E tem por objeto “[...] as relações sociais próprias à atividade econômica,
que é o processo que envolve a produção e a distribuição dos bens que satisfazem as necessidades
individuais ou coletivas dos membros de uma sociedade.”.
27
1. Toda madeira de floresta ainda não derrubada; 2. Toda madeira verde, fora
das florestas, destinada à exploração; 3. Toda madeira quebrada
acidentalmente ou derrubada em troncos inteiros cuja preparação ainda não
tenha começado; 4. Aparas e madeira de obra ainda não preparadas que se
encontrem nas florestas e nos depósitos. (BENSAID, 2017, p. 13-14).
O debate tinha o ponto central entre ser furto ou não ser furto: subtrair madeira
verde ainda das árvores, arrancar galhos da árvore que tinha um proprietário e
apanhar madeiras caídas do chão ou juntar madeira seca – prática costumeira entre
a população, considerada um direito consuetudinário. Marx (2017a, p. 55) explica que:
Esta análise aponta a diferença entre cortar a árvore para pegar o galho, pegar
madeira formada pelo proprietário e pegar o galho caído no chão. Nesse último caso,
o “galho caído”, não pertenceria nem à árvore e nem ao proprietário, ou seja, “ajuntar
madeira seca do chão e roubar madeira são coisas essencialmente diferentes.”
(MARX, 2017a, p. 55). Isso levou Marx a questionar a noção de público, privado e
propriedade privada, categoria que dispôs de tratamento frontal nos “Manuscritos
econômico-filosóficos” de 1844.
Estava latente a necessidade do parlamento e do Estado em (re)definir
juridicamente o que é propriedade por meio do Direito Moderno, numa tentativa de
formulação que propunha a diluição da noção de propriedade com base nos
costumes, ainda legatários das antigas relações feudais, para fortalecer o arcabouço
normativo-legal demandado pelos novos tempos da modernidade, que surgiam com
a sociedade capitalista e com os avanços e desenvolvimento do modo de produção
capitalista. Nesse contexto,
[...] a Dieta Renana cumpriu cabalmente sua destinação. Ela cumpriu sua
vocação e representou certo interesse particular, tratando-o como fim último.
O fato de ter pisoteado o direito para fazer isso é simples consequência de
sua tarefa, pois o interesse é, por sua natureza, instinto cego, desmedido,
unilateral, em suma, sem lei; e o que não tem lei pode fazer leis? Do mesmo
modo que um mudo não se torna capaz de falar porque se lhe pôs um enorme
megafone na mão, o interesse privado não se torna capacitado para legislar
quando é sentado no trono do legislador.
[...] quanto mais o trabalhador produz, menos tem de consumir; quanto mais
valores cria, mais sem valor e mais desprezível se torna; quanto mais refinado
o seu produto, mais impotente se torna o trabalhador; quanto mais
significativo magnífico e pleno de inteligência o trabalho, mais o trabalhador
diminui em inteligência e se torna escravo da natureza.
9 As tentativas de separação em “dois Marx”, o “Marx jovem”, com seus escritos filosóficos e o “Marx
maduro” da economia política, fazem parte do espectro da fragmentação da produção do conhecimento
que “ganhou corpo” na modernidade, com o avanço da ciência sob o comando do capital, que opõe
mecanicamente ciência e filosofia, processo que se contrastou à economia do “Marx maduro”, por
considerá-la uma ciência particular e as tendências filosóficas do seu período juvenil (LUKÁCS, 2013).
Não comungamos com qualquer tentativa de oposição, tendo em vista o entendimento do processo de
amadurecimento das reflexões de Marx e da relação complementar e indissociável entre seus estudos
filosóficos com a crítica da economia política, aliás, a magnífica obra “O capital: crítica da economia
política” engloba estudos filosóficos, históricos, políticos, econômicos, estatísticos etc. na perspectiva
de uma única ciência, a Ciência da História ou o materialismo histórico-dialético.
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É sob as bases dessa condição material que o homem produz sua consciência,
que se reproduz em situações historicamente determinadas. As condições materiais
são o fundante, e a consciência o fundado ou, nas palavras de Marx e Engels (2009,
p. 32), “não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a
consciência.”. Indubitavelmente, apontam “a vida” em seus aspectos sócio-históricos
como determinados pela natureza e trabalho, porém, sem desconsiderar os aspectos
biológicos dos homens. A “produção das ideias” está vinculada diretamente à
atividade material dos homens. Dessa forma, “os seus pressupostos são os homens
[...] no seu processo, perceptível empiricamente, de desenvolvimento real e sob
determinadas condições.” (MARX; ENGELS, 2009, p. 32). E as condições históricas
postas pela lógica do capital são destrutivas para o homem e a natureza, “[...] só
causam desgraça, que já não são forças de produção, mas forças de destruição
(maquinaria e dinheiro) [...].” (MARX; ENGELS, 2009, p. 56).
Este “fio condutor”, disposto até o momento, viabiliza a apreensão do
amadurecimento de Marx e Engels sobre o metabolismo social do homem com a
natureza. O metabolismo, de acordo com Foster (2010, p. 226), constitui-se como um
conceito-chave para a compreensão da ecologia em Marx, devido ao fato de ser uma
categoria que capta o “[...] complexo processo bioquímico da troca metabólica, através
do qual um [...] se serve dos materiais e da energia do seu meio ambiente e os
converte por meio de várias reações metabólicas nas unidades constituintes do
crescimento.” Ainda segundo esse autor, o metabolismo “[...] é usado para se referir
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aos processos regulatórios específicos que governam esta complexa troca entre os
organismos e o seu meio ambiente.” (p. 226, grifos originais).
Marx, em seus estudos das Ciências Naturais, deparou-se com o conceito de
metabolismo – “[...] noção de troca e transformações orgânicas da matéria [...]”
(ZACARIAS, 2012, p. 130) – por meio das pesquisas de Justus von Liebig nos anos
1840-1842, momento em que ele
E continua:
As conclusões a que Saito (2021) chega são: primeiro, “o que está por trás
dessa mudança editorial de Engels é o fato de que ele não valorizava a teoria do
metabolismo de Liebig.” (p. 28); e segundo, “infelizmente, devido à diferença de
interesse teórico, os cadernos de Marx foram totalmente negligenciados por Engels e
outros marxistas.” (p. 35)10.
O conceito de metabolismo já estava presente nas Ciências Naturais,
entretanto, Marx avança e aprofunda-o para a apreensão do “metabolismo social”, que
ganha contornos decisivos na obra “O capital”, onde “[...] a concepção materialista de
natureza de Marx alcançou plena integração com a sua concepção materialista de
história.” (FOSTER, 2010, p. 201). O que precisa estar delineado até aqui é que
10 Para aprofundar este debate, recomendamos a leitura e análise de todo o texto de Saito (2021).
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o termo “metabolismo” não é gratuito, mas tem sua origem nas ciências
naturais e busca ilustrar o comportamento humano como parte desse
mundo natural. [Assim,] estabelecido o critério metodológico para
compreender a relação entre a sociedade humana e a natureza externa,
Marx analisa, em As formas que precedem à produção capitalista, como a
membrana da célula que é a sociedade vai se fazendo, historicamente, mais
espessa – as relações com o mundo externo cada vez mais são mediadas
por instrumentos e coisas previamente produzidos –, ao mesmo tempo que
em seu interior os elementos que a compõem se separam em uma
progressiva divisão social do trabalho. Assim, o que requer explicação,
escreve Marx, não é a unidade do ser humano com a natureza, pois isso é
parte da natureza física e química, mas o que se deve explicar é o processo
histórico por meio do qual se separa – aliena-se – a existência humana dos
condicionantes naturais necessários para reproduzir-se. O que Marx irá
explicar por meio de seu método – o materialismo histórico – são as formas
como se vai modificando e se rompendo esse metabolismo com a natureza.
(FOLADORI, 2001, p. 106-107, grifos originais).
Marx, “após acolher o pensamento de Liebig [...]” (SAITO, 2021, p. 26), entende
que a aceleração da fertilidade do solo pela via da técnica e da ciência “[...] significa
esgotamento mais rápido das fontes duradoras dessa fertilidade. [...] A produção
capitalista, portanto, só desenvolve a técnica e a combinação do processo social de
produção, exaurindo as fontes originais de toda a riqueza: a terra e o trabalhador.”
(MARX, 2010a, p. 571). A degradação do solo sob as bases do modo de produção
capitalista leva Foster (2010a, p. 202) a concluir, acertadamente, que Marx
desenvolveu “[...] uma crítica da degradação ambientalista que antecipava boa parte
do pensamento ecológico de hoje.”. Por isso, ao nosso ver pesquisadores e
ambientalistas podem apreender a ecologia de Marx, principalmente “[...] com a
intensificação das crises ecológicas sob a vigência da globalização neoliberal [...]”,
pois ele formula “[...] o conceito de ‘ruptura metabólica’ originado de O capital [que
serve para analisar] ativamente o lado destrutivo da produção capitalista, como o
aquecimento global, desequilíbrio do ciclo de nitrogênio e a extinção de espécies.”
(SAITO, 2021, p. 22, grifos originais).
Subsequentemente, no volume 3 de “O Capital”, Marx retoma de forma direta
a crítica da vinculação entre grande indústria e agricultura para expressar a
compreensão da “falha metabólica” ao pontuar que
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11 Na seção 3, especificamente no item 3.4, iremos analisar os efeitos dos agrotóxicos na natureza e
sociedade.
12 Mesmo com a dinamização da capacidade produtiva industrial dos países periféricos, usar ainda este
termo – “países periféricos” – é viável devido ao papel subalterno que possui na dinâmica do capitalismo
financeiro.
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13Cf. SANTOS, Josiane Soares; SILVA, Everton Melo da. “Agro acima de tudo, minério acima de todos”:
as ameaças do Governo Bolsonaro às áreas legalmente protegidas na Amazônia. Germinal: Marxismo
e Educação em Debate, Salvador, v. 13, n.2, p.343-366, ago., 2021. Disponível em:
https://periodicos.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/44866/25227 Acesso em: 27 out. 2021.
42
14 O capital fictício “[...] se beneficia de uma redistribuição da mais valia e realimenta a ‘criação’ do
capital adicional como meio para sua própria remuneração. Tendo, como âncora de sua rentabilidade,
os Estados Nacionais, por meio do sistema da dívida pública, da política cambial ou mesmo do repasse
financeiro direto para salvamento dos grandes bancos e grandes empresas frente às chamadas
tempestades especulativas [...].” (ARAÚJO; SILVA, 2021, p. 164).
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[...] como o trigo, arroz, os minérios de ferro e lítio, por exemplo, não têm sua
valoração determinada pelos custos de produção; ao contrário, os valores de
troca dessas mercadorias são estabelecidos globalmente e têm seus preços
ditados pelo mercado financeiro, cujas bases são as expectativas de uma
produção futura forjadas pelo próprio mercado. (ARAÚJO; SILVA, 2021, p.
165).
133). Por isso, os escritos de Marx e Engels são essenciais para examinar a essência
destrutiva do capital sobre o homem e a natureza conforme desenvolvemos no item
1.1 da primeira seção.
No cenário de crise estrutural, ganha força a “ecologia política” enquanto “[...]
estudo das relações de poder e conflitos políticos sobre a distribuição ecológica e as
lutas sociais para a apropriação da natureza [...].” (LEFF, 2013, p. 15). Esse campo é
permeado por divergências de visão de mundo e percepções distintas sobre a relação
do homem com a natureza, visando pensar uma “racionalidade” com o meio ambiente.
Leff (2002, p. 110) propõe uma “racionalidade ambiental” sob a urgência de relacionar
um “saber” sociológico com a problemática ambiental. Com isso, ele apresenta “[...]
três teorias que aparecem como campos férteis para compreender os processos
sociais que constituem uma racionalidade ambiental: o conceito de formação
socioeconômica em Marx, o conceito de racionalidade em Weber e o conceito de
saber em Foucault.” (p. 100). Sua pretensão é desenvolver categorias de “formação
socioambiental”, “racionalidade ambiental” e “saber ambiental”, o que deixa nítido seu
ecletismo ao imbricar perspectivas e matrizes teórico conceituais distintas em seus
fundamentos para desenvolver aquelas categorias.
O surgimento expressivo da “ecologia política” está vinculado à crítica ao
consumismo, ao modo de vida e produtivismo desenfreado nos marcos dos anos
1960/1970 (SANTOS, 2017). O termo “ecologia política”
[...] apareceu pela primeira vez na literatura acadêmica em artigo escrito por
Frank Throne em 1935 (THRONE, 1935). No entanto, se a ecologia política
se refere às relações de poder nas interações humano-ambientais, em
estruturas hierárquicas e de classe no processo de produção e apropriação
social da natureza, podemos tratar os precursores desse campo emergente
de pesquisa no materialismo histórico e dialético de Karl Marx e Friedrich
Engels – apesar de permanecer oculto sob a primária contradição entre
capital e trabalho – e no anarquismo cooperativo social de Peter Kropotkin e
sua ênfase – contra o Darwinismo social – na ajuda mútua na evolução e
sobrevivência (KROPOTKIN, 2005; ROBBINS, 2012). A ecologia política foi
forjada no cruzamento da geografia humana, da ecologia cultural e da
etnobiologia para se referir às relações de poder no que diz respeito à
intervenção humana no meio ambiente. Estabeleceu-se como disciplina
específica e um novo campo de investigação e conflito social no início dos
anos sessenta e setenta, desencadeada pela irrupção da crise ambiental,
com os escritos pioneiros de autores como Murray Bookchin, Eric Wolf, Hans
Magnus Enzensberger e André Gorz [...]. (SANTOS, 2017, p. 149).
50
16 Para um aprofundamento na temática sugerimos consultar os textos de Lowy (2005; 2013; 2021),
Santos (2017) e Peneluc (2021).
17 Na URSS imperava a lógica produtiva do capital, por isso que o ritmo de degradação ambiental é tão
igual ao capitalismo.
51
18 O capitalismo, desde a sua gênese, arranca o trabalhador da sua vinculação com a terra e
transforma-a em sua fonte de lucro (CHESNAIS; SERFATO, 2003) e, ao aplicar capital na terra, seja
na forma de “[...] agricultura, bovicultura, exploração florestal, construção urbana, mineração etc. [...]”,
a terra “[...] obedece, além das leis comuns à aplicação de capital no ramo industrial, à especificidade
derivada do fato de que a terra é um meio de produção monopolizável, heterogêneo e não reproduzível
à vontade.” (FOLADORI, 2001, p. 180). Quanto mais capital adentra a terra, mais rastro de destruição
ambiental e expropriação ele deixará.
52
19 Para uma reflexão mais direcionada sobre as desigualdades estruturais entre países centrais e
periféricos em torno da “questão ambiental” e “questão social”, conferir nosso texto em Santos, Silva e
Silva (2022), “Racismo ambiental e desigualdades estruturais no contexto da crise do capital”.
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20A conferência abordou “[...] temas como a chuva ácida e o controle da poluição do ar [...]” e contou
com a participação de “[...] mais de 100 países e mais 400 instituições governamentais e não
governamentais.” (VITÓRIA, 2016, p. 92).
57
considerar a dinâmica do capitalismo Mello (2009, p. 16) aponta que o “centro” “[...]
compreende o conjunto das economias industrializadas, estruturas produtivas
diversificadas e tecnicamente homogêneas [...]”, enquanto a “periferia” é “[...]
integrada por economias exportadoras de produtos primários, alimentos e matérias-
primas, aos países centrais, estruturas produtivas altamente especializadas e duais.”.
Ao integrar-se enquanto economia periférica, a subordinação econômica em
nenhum momento foi um empecilho para o desenvolvimento da burguesia brasileira,
ao contrário/inversamente, tornou-se uma condição “confortável”, pois mesmo diante
de dificuldades conservou seu lugar no poder político de comando do Estado brasileiro
e de poder de negociação do mercado interno, processo que inicia a conformação
desse Estado, a partir da Independência do Brasil em 1822, momento em que a classe
dominante brasileira “cedeu os anéis para não perder os dedos”.
A subserviência da burguesia interna aos determinantes do capital estrangeiro
está na gênese dos processos econômicos e políticos do Brasil colônia e perfaz a
historicidade do capitalismo e Estado brasileiro. Burguesia essa que “[...] esteve
sempre predisposta às composições e aos acordos com os burgueses do reino, desde
que não alterassem o fundamento de seu poder: o latifúndio e o trabalho escravo.”
(MAZZEO, 1995, p. 14). A classe econômica efetivamente brasileira tem em seu cerne
os senhores de engenho, os proprietários de minas de ouro e diamante e os
fazendeiros de café, e não é necessário ir muito longe para visualizar as similitudes
entre essas personificações do capital no contexto presente, marcado pelo
agronegócio e grandes empreendimentos de mineração. E, igualmente, não é demais
afirmar que a conservação perfaz as práticas político-econômicas brasileiras.
É histórico-estrutural a vinculação orgânica-dependente da burguesia interna à
burguesia estrangeira. Aquela burguesia conforma a tônica dos rumos políticos de
comando do Estado brasileiro e perfila a histórica premissa das “mudanças pelo alto”,
desconsiderando qualquer movimentação das massas, para manter-se no projeto
político de poder e garantir as condições de reprodução do capital. Diferentemente da
“via clássica” e da “via prussiana”, operou-se no Brasil uma “revolução” de
manutenção do status quo por meio do Estado brasileiro. Florestan Fernandes explica
essa tendência diferenciada:
Desse modo, o capital constitui-se como uma categoria mais abrangente que o
capitalismo. Ele precede o capitalismo nas formas de capital usurário e capital
mercantil e transcende o modo de produção capitalista com a experiência soviética
(MÉSZÁROS, 2011). Desde os primeiros séculos, no Brasil, “[...] o capital comercial
invadiu a órbita da produção, estabelecendo a empresa colonial. Indo muito além do
simples domínio direto da produção, o capital subordina o trabalho e esta
subordinação é formal, porque seu domínio exige formas de trabalho compulsório.”
(MELLO, 2009, p. 38). É preciso considerar que no território brasileiro o capital
destruiu as relações tribais e a propriedade coletiva e assentou-se nas relações de
produção a exploração do trabalho (SANTOS NETO, 2015). Entretanto, na gênese
econômica brasileira não existiu um modo de produção específico, definido, fechado
e acabado. Existiram categorias econômicas típicas do capitalismo que dominavam a
orbita da produção econômica, como a figura ativa e determinante do capital comercial
relacionado a distintas formas de relações de trabalho.
63
21 Ratificamos que escapam dos limites desta pesquisa de tese a realização de um balanço crítico entre
as correntes de interpretação da formação sócio-histórica brasileira tendo em vista que nosso objeto
de estudo não demanda tal análise. Entretanto, ao longo da argumentação das seções utilizamos
alguns destes teóricos, mesmo com divergências teóricas e metodológicas sinalizadas entre eles, pois
trazem mananciais de informações, dados históricos, referenciais, pesquisas e elucidações que
auxiliam na compreensão da realidade brasileira.
64
22 Merece atenção esta explicação de Maurice Dobb (1983, p. 15, grifos nossos) sobre o surgimento
do capitalismo: “Quando examinamos a história do capitalismo concebida dessa maneira, torna-se claro
que devemos situar sua fase inicial na Inglaterra, não no século XII [...] nem mesmo no século XIV [...]
mas na segunda metade do século XVI e início do século XVII, quando o capital começou a penetrar
na produção em escala considerável, seja na forma de uma relação bem amadurecida entre capitalista
e assalariados, seja na forma menos desenvolvida da subordinação dos artesãos domésticos, que
trabalham em seus próprios lares, a um capitalista, própria do assim chamado ‘sistema de encomendas
domiciliares’.”
65
Sodré (1962, p. 24) vai além na análise e afirma que “o processo de que surge
o capitalismo é, pois, endógeno; ele surge de condições internas do país ou região
em que se implanta; não surge de condições externas, não surge do capital comercial,
como a causa única e necessária.”. Essa afirmação sintetiza todo o panorama ao qual
se faz aqui a crítica, que esse marxista secundariza a categoria totalidade para
aprender a dinâmica do modo de produção capitalista, desconsiderando tanto a
relação dialética (diferenciação e identidade) entre a economia brasileira e a dinâmica
do capitalismo mundial, quanto as determinações externas que impulsionaram ao
desenvolvimento do capitalismo sui generis brasileiro.
Independentemente das polêmicas e discordâncias teóricas e metodológicas,
é inegável que Sodré (1962; 1990) aprofundou, ampliou e avançou no debate da
formação sócio-histórica brasileira por meio da teoria social de Marx, inclusive suas
produções teóricas têm um arsenal rico em informações históricas, sendo essencial
se debruçar sobre suas produções teóricas para quem se propõe a entender a
formação social brasileira. Entretanto, reafirmamos que ele perde de vista as
categorias totalidade, contradição e dialética, e o caráter de universalidade do modo
de produção capitalista, além de não captar a estrutura, dinâmica e historicidade do
capital. Santos Neto (2015, p. 35) afirma que:
23 “O mercantilismo marca o período histórico de transição das relações de produção feudal para as
relações genuinamente capitalistas.” (SANTOS NETO, 2015, p. 69).
69
24 Conforme Mazzeo (2015, p. 29), Portugal “[...] se torna o primeiro Estado nacional europeu, ao final
do século XIV, e cria as condições objetivas para o surgimento de um poder político centralizado, que
irá subsidiar a expansão marítimo-comercial lusitana dos séculos XV e XVI, propiciando a criação do
que será conhecido como ‘sistema colonial’.”.
70
25Os arquivos da Biblioteca Nacional apontam que “diversos grupos étnicos ou ‘nações’, com culturas
também distintas, foram trazidos para o Brasil. A Guiné e o Sudão, ao norte da linha do Equador, o
71
Congo e Angola, no centro e sudoeste da África, e a região de Moçambique, na costa oriental, foram
as principais áreas fornecedoras. Das duas primeiras vieram, entre outros, os afantis, axantis, jejes,
peuls, hauçás (muçulmanos, chamados malês na Bahia) e os nagôs ou iorubás. Estes últimos tinham
uma grande influência política, cultural e religiosa em ampla área sudanesa. Eram de cultura banto os
negros provenientes do Congo e de Angola — os cabindas, caçanjes, muxicongos, monjolos, rebolos—
, assim como os de Moçambique.” (BIBLIOTECA NACIONAL, 1988, p. 9, grifos originais).
72
Um dos maiores golpes desferidos nas franquias locais foi a introdução dos
juízes-de-fora no Brasil em substituição aos juízes ordinários de eleição
popular. Além de suas funções jurisdicionais, cabia aos juízes a presidência
das Câmaras. É em 1696 que são criados os primeiros juízes-de-fora de
nomeação do Rei: na Bahia, no Rio de Janeiro e em Pernambuco, isto é, nas
75
a Lei de Terra foi muito importante. Ela foi concebida no bojo da crise da
escravidão e preparou a transição da produção com o trabalho escravo – nas
unidades de produção tipo plantation, utilizadas nos quatros séculos do
colonialismo – para a produção com o trabalho assalariado. [...] A partir de
1850, as terras podiam ser compradas e vendidas. Até então, eram apenas
objeto de concessão de uso – hereditária – por parte da coroa àqueles
capitalistas com recursos para implantar, nas fazendas, monoculturas
voltadas à exportação. [Com a Lei de Terras, surgia] o latifúndio excludente
e injusto socialmente. E os trabalhadores negros, impedidos de se
transformarem em camponeses, foram as cidades. Nascia também a favela,
pois, mesmo nas cidades, esses trabalhadores não dispunham de condições
para comprar seus terrenos, normatizados pela mesma lei. Subiram morros,
ocuparam manguezais e locais de difícil acesso, e construíram suas
moradias, únicos espaços dos quais a sanha do capital não havia se
apropriado. (STEDILE, 2005, p. 284-285).
A coroa não tinha interesse, nem o Estado, em desenvolver uma base técnica
e científica. A agricultura rudimentar/arcaica permaneceu por vários séculos, utilizou
principalmente a enxada; a mineração, do mesmo modo, não desenvolveu novas
técnicas. O que mantinha a dinâmica da produção para a exportação era o grande
número de trabalhadores, no caso, o trabalho escravo. A dimensão da produtividade
na economia colonial era medida por meio da quantidade de escravos (SANTOS
NETO, 2015). Alerta Prado Júnior (1994, p. 92) que “[...] o baixo nível técnico das
nossas atividades agrárias e as consequências que teria, não se devem atribuir
unicamente à incapacidade do colono. [...] Estava no próprio sistema, um sistema de
agricultura extensiva que desbaratava com mãos pródigas uma riqueza que não podia
repor.”.
Não havia investimento no desenvolvimento das forças produtivas, apenas na
intensificação da exploração da força de trabalho. Indiscutivelmente, o trabalho
escravo foi a base para o êxito da empresa colonizadora. Entretanto, com a
emergência da nova dinâmica do capitalismo industrial na Europa, essa estrutura
escravista se tornava um empecilho, um entrave para o desenvolvimento do
capitalismo brasileiro, “[...] pois era completamente desfavorável ao desenvolvimento
das forças produtivas, o que resultava num baixo nível de sua produtividade quando
comparada àquela que adotava o incremento tecnológico.” (SANTOS NETO, 2015, p.
140). O trabalho escravo não correspondia mais à base econômica que surgia e
entrava em contradição com o estatuto colonial.
É sob a base material do estatuto colonial, que acabamos minimamente de
apresentar, que se constitui o Estado brasileiro. Seu marco histórico consiste na vinda
da Família Real Portuguesa (1808), que trouxe seu aparato estatal, implementando
no Brasil o Estado com funções burocráticas específicas; e com a Independência do
Brasil (1822), observamos os contornos políticos específicos desse Estado e da
classe burguesa. Amplificaram-se, portanto, as seguintes funções: “[...] das forças
armadas, instrução pública, higiene, povoamento, abertura de novas estradas, obras
de urbanismo no Rio de Janeiro, etc.” (PRADO JUNIOR, 1994, p. 138), o que gerou
despesas econômicas para manter a função sociopolítica do aparato estatal.
O sistema colonial tinha a função principal de extrair as riquezas do país,
notadamente as naturais – ocasionando rastros de destruição socioambiental –, para
exportar ao exterior, produzir em benefício do mercado mundial. Essa base material
do sistema colonial não demandava uma organização estatal complexa. Com o
79
Estado brasileiro delineado, a organização estatal que operava “de fora para dentro”
passou a operar “de dentro para fora”, obviamente, com a mesma essência de atender
aos determinantes do mercado mundial e aos interesses da dinâmica do capital
internacional. Escreve Fernandes (1976, p. 32) que “sob o estatuto colonial, não só o
controle do poder se operava de fora para dentro; as probabilidades de atuação social
das elites ‘nativas’ subordinavam-se às conveniências da Coroa e dos que
representassem, dentro da sociedade colonial, os seus interesses econômicos,
sociais e políticos mais profundos.”.
A Independência do Brasil foi resumida à barganha desajustada da oligarquia
brasileira com a metrópole para que essa renunciasse, em partes, o seu poder
econômico para conservar seu poder político de comando do Estado. Entretanto,
institui-se uma forma de autonomia política relativa, devido à dependência ontológica
da estrutura produtiva com relação à superestrutura estatal. Esse processo determina
a conformação do caráter antinacional do Estado brasileiro, conforme apontou
Mazzeo (2015, p. 107), “[...] a Independência possui o caráter de ‘arranjo político’, [...]
a Independência assemelha-se mais à contrarrevolução do que à revolução; à
conciliação com o velho, relegando ao novo uma exterioridade vazia de significado
concreto.”.
A metrópole e outros países europeus eram favoráveis à extinção do estatuto
colonial, desde que essa extinção não rompesse com a dependência e subordinação
econômica. Isto é, os interesses do mercado externo eram nítidos e prioritários no
processo de concordância com o fim da condição de colônia. Assim, a Independência
cessa, limitadamente, com o estatuto colonial e autonomiza, relativamente, a nascente
burguesia brasileira (FERNANDES, 1976), que iria se moldando e revigorando suas
raízes por meio das determinações conjunturais da sociedade brasileira. De acordo
com esse autor, “[...] a burguesia nacional converte-se, estruturalmente, numa
burguesia pró-imperialista, incapaz de passar de mecanismos autoprotetivos indiretos
ou passivos para ações frontalmente antiimperialistas, quer no plano dos negócios,
quer no plano propriamente político e diplomático.” (FERNANDES, 1976, p. 305). A
emergência do Império tem sua base material na crise do sistema colonial,
26 Concordamos com Mazzeo (2015) e Santos Neto (2015) que curvam para tratar como
“contrarrevolucionário”.
81
28Maranhão (2009) pondera sobre “O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte” que, com as Revoluções
de 1848, a burguesia foi desafiada pelas movimentações das massas populares acarretando a
curvatura da burguesia de classe revolucionária para classe de conservação do capitalismo.
83
trabalho utilizadas de formas discriminadas pelo capital, sendo aquela por meio do
trabalho forçado e o imigrante europeu como uma mão de obra demandada pela nova
fase do capitalismo brasileiro e absorvida pelos cafeicultores e por alguns segmentos
industriais urbanos. O Estado brasileiro, juntamente com a burguesia agrária e a
burguesia comercial, constitui-se como responsável pela vinda dos imigrantes
(trabalhadores assalariados) oferecendo, em larga medida, condições favoráveis para
a nova força de trabalho e, ao mesmo tempo, “arremessando à própria sorte” os
recém-libertos escravos não absorvidos no mercado de trabalho.
O capital, enquanto força totalizadora global (MÉSZÁROS, 2011), consegue
mobilizar e transportar exércitos industriais de reserva de um lugar para o outro,
mantendo seu ritmo de acumulação. A força de trabalho excedente da Europa foi
conduzida para o território brasileiro como a principal força de trabalho, o que delegou
aos recém-libertos escravos a condição de exército industrial de reserva. O capital
movimentou uma mão de obra especializada, tendo em vista que os negros eram
entendidos como apenas mão de obra para o trabalho bruto, e não para a nascente
indústria. A utilização do trabalho forçado obstaculizou o desenvolvimento das
técnicas das forças produtivas no Brasil, conforme destaca Mello (2009, p. 61):
Apesar desta ser a razão material para a não absorção da mão de obra escrava,
temos aspectos político-ideológicos para esta questão, tendo em vista que o
capitalismo brasileiro, na sua estrutura medular, delegou ao negro um “lugar”
específico – esse “lugar” do negro não era o mercado formal de trabalho, nem a
“proteção social” viabilizada pelo Estado brasileiro –, em outras palavras,
29“A maioria das agências bancárias estabelecidas no Brasil estava situada na região Sudeste,
demonstrando claramente sua vocação para atender às demandas postas pelo crescimento econômico
derivado da produção cafeeira, bem como o fluxo e o refluxo de mercadorias. Essa economia tentaria
combinar a importação de produtos manufaturados (bens de produção e bens de consumo) com a
exportação de produtos agrícolas. Enquanto importava inúmeros produtos (máquinas, produtos
manufaturados, combustível, carvão, ferro, aço etc.), exportava basicamente quatro produtos: café,
borracha, cacau e manganês.” (SANTOS NETO, 2019, p. 62).
88
A taxa de crescimento industrial de São Paulo era maior que a taxa do Brasil –
enquanto aquele crescia 8,5 vezes, o Brasil crescia 3,5 vezes (CANO, 2007). Portanto,
São Paulo desenvolvia sua economia mais que as outras regiões, como exemplifica
Cano (2007, p. 263-264):
[...] 120 milhões de hectares da sua cobertura original foram substituídos por
atividades urbanas ou até mesmo atividades rurais [...]; avanço da fronteira
agrícola, a exploração irracional de recursos minerais [...]; efeitos do
desmatamento, tais como a erosão e a compactação do solo, o assoreamento
e a diminuição dos cursos d’água, além da extinção de plantas e animais [...],
a redução da fertilidade do solo, o aumento da área aberta não utilizada, a
concentração da terra em grandes propriedades, a introdução de espécies
exóticas e de agentes fitopatogênicos, sem falar na descaracterização das
paisagens, cavernas e sítios arqueológicos [...].
31 Conforme Souza (2002), “a biodiversidade do Cerrado é considerada a mais rica dentre as savanas
do mundo. Os números mostram que a sua flora é composta por cerca de 774 espécies de árvores e
arbustos, sendo que destas 429 são espécies endêmicas da região do Cerrado. Estima-se que as
espécies vasculares variam entre 4 e 10 mil, mas apenas 1700 estão determinadas à Área de Proteção
Ambiental (APA) do rio São Bartolomeu, no Distrito Federal (Alho & Martins 1995).” (p. 27). “Em relação
a fauna do Cerrado, esta não tem recebido a atenção merecida principalmente em relação a sua
extensão, sua biodiversidade, seu potencial de desenvolvimento sustentável e a ameaça causada pelo
processo de ocupação. É sabido, portanto, que a fauna dos vertebrados do Cerrado é
consideravelmente rica, incluindo diversas espécies ameaçadas de extinção. Apresenta, por exemplo,
mais de 400 espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos não voadores e 30 espécies de morcegos,
somente no Distrito Federal (Alho & Martins 1995; Neiman, 1989). Sem falar que o índice de endemismo
de invertebrados é bastante significante, isto graças a imensa diversidade de artrópodes. Até 1992,
tinham sido coletados aproximadamente 103 gêneros e 550 espécies de insetos, segundo o Mapa
Ambiental do Distrito Federal (2000 b).” (p. 28).
92
32Silva (1985) que concebe, em seus estudos da década de 1980, a tese da relação entre o capital
cafeeiro e o início da industrialização no Brasil, conforme podemos resgatar em sua obra SILVA, S.
Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil. 6° ed. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1985.
93
33O termo “substituição de importações” é utilizado pelos teóricos da via cepalina para tratar o
desenvolvimento econômica na América Latina.
95
etc., que contribuem, em larga medida, para a fluidez do capital. Para Bugiato (2016,
p. 42), “[...] o Estado devia assumir o papel de investidor principal na criação da
infraestrutura voltada ao desenvolvimento da indústria nacional [...] e no
desenvolvimento do parque industrial nacional, que conduziria à independência
econômica do país e à soberania nacional.”. Ora, o Estado brasileiro não foi
constituído para possibilitar qualquer autonomia da economia perante o mercado
externo e o capital estrangeiro. Temos enfatizado até aqui que, desde a sua gênese
e constituição, operou-se um Estado subserviente desde a “quebra” do estatuto
colonial, pois o pacto formado nas estruturas estatais era para constituir um Estado
voltado “para fora”. Ademais, esse processo de um possível rompimento com as
demandas externas e as imposições “de fora para dentro” torna-se impraticável devido
às conformações das tendências do capitalismo mundial. Nitidamente, não há
desenvolvimento do capitalismo brasileiro sem a presença do Estado, uma presença
auxiliar ao capital, com atuação forte e firme perante a reprodução do capital.
A tendência estrutural de dependência da economia brasileira é tão latente que
o início das construções de infraestrutura contou de forma direta, inicialmente, com o
capital inglês (lembrar que outrora pontuamos isso sobre a construção das ferrovias).
Entre 1850 e 1930, segundo Campos (2012), as empresas de infraestrutura vieram
do exterior, principalmente dos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Alemanha,
países que possuíam mais desenvolvimento tecnológico nesse setor. As principais
empreiteiras estrangeiras foram Cia. Construtora Nacional, Hoffmann Bosworth
(ambas da Alemanha), Dumez (França), Noreno do Brasil (Noruega), Hugo Cooper
(Inglaterra), Morrisen Knudsen (EUA), Brascan (Canadá) e Christiani-Nielsen
(Dinamarca) (CAMPOS, 2012).
O chamado “Estado Novo”, com a emblemática “Revolução” de 1930, “[...]
tomou novos rumos e começou a levar a cabo políticas de modernização do país [...]”
(HIRT, 2016, p. 67), após mediar os conflitos de interesses econômicos e políticos da
burguesia interna. Os projetos internos em disputa foram consubstanciados na
intervenção estatal com o projeto “nacional-desenvolvimentista”, configurado como
Do Governo Vargas até meados dos anos 1950 o Estado assume diretamente
o desenvolvimento de infraestrutura que “[...] entrou como contratador e também
realizador de obras públicas, subsidiando a formação e o fortalecimento de um capital
industrial no país, o que incluiu a criação de instrumentos jurídicos e institucionais e
montagem das agências que iriam contratar as obras de infra-estrutura [...].”
(CAMPOS, 2012, p. 69). Temos, nesse contexto, a construção da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN) para implantar a usina de Volta Redonda, uma das
maiores da América Latina, a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão,
e a Usiminas em Ipatinga (MG).
A crise de 1929 também influenciou diretamente os rumos que seriam tomados
pela economia brasileira. A industrialização passou a fazer parte da agenda do Estado
brasileiro, “ou seja, o planejamento estatal teria a função técnica de alocação dos
recursos, com uma suposta neutralidade.” (HIRT, 2016, p. 69). A industrialização foi
apresentada como a forma de saída do “subdesenvolvimento” e da latente
desigualdade econômica e social.
p. 28). Esse autor ainda afirma que estes empresários, que emergiram fortemente na
economia brasileira, participaram diretamente do aparelho estatal após o golpe
empresarial-militar, o que não é de estranhar que as obras faraônicas dos empreiteiros
do período do regime militar-empresarial tenham sido permeadas por indícios de
corrupção.
A dinamização da produção brasileira demandou uma forte intervenção estatal
em setores estratégicos com a instituição da Companhia Vale do Rio Doce, da
Companhia Siderúrgica Nacional e da Petrobras34, empreendimentos que
possibilitaram, em um definido espaço-tempo, a autonomia da extração de minérios,
produção de ferro e aço e da produção energética35 (SANTOS NETO, 2015; 2019).
Na construção desses empreendimentos, o Estado assumiu todo o processo,
tomando empréstimos ao capital estrangeiro, uma vez que, “[...] inexistia interesse das
multinacionais em investir de maneira expressiva no desenvolvimento industrial do
Brasil.” (SANTOS NETO, 2019, p. 90). As multinacionais americanas, por exemplo,
“[...] representavam 48% das multinacionais estabelecidas no Brasil na década de
1960. [E em] 1972, as multinacionais representavam 147 das 300 maiores empresas
instaladas no Brasil, sendo que 100 delas detinham ¾ do volume de capitais
existentes [...].” (SANTOS NETO, 2019, p. 123). Os custos do desenvolvimento
industrial de base e da infraestrutura ficaram a cargo do Estado brasileiro, não para
os grandes empreendimentos fixados no Brasil, tampouco para o capital nacional.
Campos (2009) aponta que o destino dos estoques de IDE no Brasil
configurava-se da seguinte maneira: 1. em 1950, eram dos setores que mais
absorveram a indústria, em especial a indústria de transformação, a química e de
alimentos e de serviços com utilidade pública; 2. entre 1956-1973, destacaram-se a
indústria, com a transformação, material de transporte e química, e serviços, com
destaque para as consultorias; 3. por outro lado, entre 1974-1980, foram: indústria de
transformação, material de transporte e química, e o setor de serviços com
consultorias; e 4. já entre 1981-1992, tiveram destaque a indústria de transformação
e química e o setor de serviços.
2009).
99
Câmbio Câmbio
Lei 4.131 10% do Capital 5% (valor
Unificado Unificado 20% -
1962 Inicial máximo)
(EIN) (EIN)
12% do Capital
Lei 4.390 Inicial +
- - - - -
1964 Reinvestimento
s
* EIN: Regime institucional destinado a selecionar a entrada ou saída do capital estrangeiro de ‘Especial
interesse Nacional’.
Fonte: Campos (2003, p. 89).
36 As principais empreiteiras que atuaram durante o regime militar-empresarial tiveram suas fundações
entre as décadas de 1920 a 1950, mas conseguiram ganhar expressividade econômica neste período
da “Ditadura do capital”. Em São Paulo, as principais empreiteiras foram: Azevedo & Travassos, Beter,
Camargo Corrêa, CBPO, CCBE, Cetenco, Conspador, Constran, Guarantã, H. Guedes, Rossi,
Serveng-Civilsan e Servix; em Minhas Gerais (segundo maior estado com importantes empreiteiras):
Alcindo Convap, Andrade Guitierrez, Barbosa Mello, Brasil, ENCG, M. Roscoe, Mendes Júnior, Rabello,
Santa Bárbara e Triângulo (CAMPOS, 2012). Rio de Janeiro, a região Sul e Nordeste também possuem
empreiteiras com destaques significativos na economia. Na região Nordeste temos durante este
período: Concic, Delta, EIT, Estacon, Noberto Odebrecht, O’Grady – Comasa, OAS, Queiroz Galvão e
Soares Leone, que surgiram entre as décadas de 1950-1970. “[...] a região Nordeste do país foi
beneficiada pelas atividades de instituições federais: o DNOCS, a Chesf, BNB, a Petrobrás e a Sudene.
A atuação dessas autarquias e empresas públicas se deu através da implantação de uma infra-
estrutura regional e realização de obras, havendo em geral preferência para empreiteiras locais, o que
correspondia aos interesses organizados e alojados nos nessas instituições e às próprias diretrizes das
políticas que norteavam a ação desses organismos, dado que elas intentavam fortalecer as empresas
da região.” (CAMPOS, 2012, p. 111). As áreas de ramificação das empreiteiras foram: agropecuária,
indústria em geral, cimento, materiais e equipamentos, projetos de engenharia, construção naval,
Petróleo, Petroquímica, bancos e finanças, centros comerciais, siderurgia, mineração, coleta de lixo e
limpeza urbana (CAMPOS, 2012). É preciso destacar que, o setor de mineração foi altamente explorado
pelas empreiteiras: “Os empreiteiros reforçaram os capitais injetados no setor, participando de grandes
projetos, como o Carajás, com produção de bauxita, alumínio e minério de ferro para exportação. Ouro
e outros metais preciosos foram explorados pelas empreiteiras, que tinham presença física em regiões
do país pouco exploradas por outros grupos capitalistas. Projetos de mineração foram estabelecidos
ao lado das rodovias feitas na Amazônia e o próprio equipamento para a abertura da estrada foi usado
para minerar metais. A Mendes Júnior produzia bauxita no Pará e a Montreal e a CR Almeida atuaram
na exploração de ouro na Amazônica. A Odebrecht explorou cobre na Bahia com a Odebrecht-Harrison
Engenharia de Minas e a Ecisa fez incursões no setor. O projeto Carajás teve participação da Camargo
Corrêa e da Andrade Gutierrez, que investiu também em urânio e na exploração prata e da terceira
maior mina de ouro do mundo no Zaire.” (CAMPOS, 2012, p. 151).
106
O objetivo desta última seção é analisar obras estatais operadas pelo Estado
brasileiro no regime militar-empresarial e no neoliberalismo que funcionaram para
dinamizar a economia e facilitar a penetração de capital no território brasileiro
ocasionando em destruição da natureza e da sociedade, aprofundando as expressões
da “questão ambiental” no Brasil e revelando a tendência destrutiva desse Estado para
atender aos anseios do capital nacional e internacional. É preciso considerar que, para
captar nosso objeto de estudo, devemos ponderar que o capitalismo passou por
transformações significativas, especialmente em contextos de crise, como a que
eclodiu no final da década 1970, aprofundando seu caráter destrutivo da natureza e,
concomitantemente, indicando os limites da natureza para a reprodução do capital
(MÉSZÁROS, 2011).
39 O Brasil saltou de 54.506.661 milhões de veículos em 2008 para 107.948.371 milhões em 2020,
sendo desses 58.016.405 automóveis e 23.862.010 motocicletas, segundo dados do IBGE (2021).
Somente São Paulo acomoda mais de 28% desse total de veículos. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/22/28120. Acesso em: 04 nov. 2021.
40 O professor e pesquisador Fernando Meirelles da Fundação Getúlio Vargas liderou a 32ª Pesquisa
Anual do uso de TI nas Empresas (2021) e revelou que, em 2020, estavam em uso no Brasil 440
115
[...] seria desejável, em princípio, que mais e mais recursos de uma sociedade
fossem destinados à produção de bens reutilizáveis (e, naturalmente,
genuinamente utilizados e reutilizados) – de moradias duráveis e
esteticamente agradáveis a meios de transporte rápidos e confortáveis, ou
ainda, de esculturas e pinturas a obras de arte literárias ou musicais etc. –,
contanto que as necessidades básicas de todos os membros da sociedade
fossem adequadamente satisfeitas. (MÉSZÁROS, 2011, p. 640, grifos
originais).
milhões de dispositivos digitais, sendo 198 milhões de computadores (47%) e 242 milhões de
smartphones (53%). O relatório completo da pesquisa pode ser acessado no site:
https://eaesp.fgv.br/sites/eaesp.fgv.br/files/u68/fgvcia2021pesti-relatorio.pdf. Acesso em: 04 nov. 2021.
116
(1) seu caráter é universal, em lugar de restrito a uma esfera particular (por
exemplo, financeira ou comercial, ou afetando este ou aquele ramo particular
de produção, aplicando-se a este e não àquele tipo de trabalho, com sua
gama específica de habilidades e graus de produtividade etc.); (2) seu
alcance é verdadeiramente global (no sentido mais literal e ameaçador do
termo), em lugar de limitado a um conjunto particular de países (como foram
todas as principais crises no passado); (3) sua escala de tempo é extensa,
contínua, se preferir, permanente, em lugar de limitada e cíclica, como foram
todas as crises anteriores do capital; (4) em contraste com as erupções e os
colapsos mais espetaculares e dramáticos do passado, seu modo de se
desdobrar poderia ser chamado de rastejante, desde que acrescentemos a
ressalva de que nem sequer as convulsões mais veementes ou violentas
poderiam ser excluídas no que se refere ao futuro: a saber, quando a
complexa maquinaria agora ativamente empenhada na “administração da
crise” e no “deslocamento” mais ou menos temporário das crescentes
contradições perder sua energia. (MÉSZÁROS, 2011, p. 795-796, grifos
originais).
Empresa Industrial Téc. S/A. (259 km); a Construtora Rabelo S.A. (374 km); a
Construtora Com. Camargo Correa S.A. (400 km); e a Paranapanema S/A –
Mineração Ind. e Construções (300 km) (SOUZA, 2009). Ao todo, a Transamazônica
contabiliza 5.400 km de extensão, sendo 2.300 km construídos no período do regime
militar-empresarial e, posteriormente, integrada à outra rodovia já existente que
conectava Ceará, Piauí e Paraíba, resultando na ligação da Transamazônica ao
Oceano Atlântico (SOUZA, 2015). Podemos dividir a Transamazônica em quatro
trechos: Trecho Nordestino (PB, CE, PI e MA) (1.576 km); Trecho Estreito (MA) –
Itaituba (PA) (1.252 km); Trecho Itaituba (PA) – Humaitá (AM) (1.070 km); e Trecho
Humaitá (AM) – Boqueirão da Esperança (AC)41 (1.521 km).
Souza (2009), ao analisar os relatórios do INCRA e SUDAM sobre a
Transamazônica, concluiu que a preservação da natureza e das populações
tradicionais era vista pelos órgãos oficiais como “obstáculos” ao desenvolvimento
econômico capitalista. A lógica destrutiva do capital tinha seu vetor de espraiamento
no Estado brasileiro, o qual intervia “[...] no meio ambiente para os grandes projetos
de desenvolvimento [que] ocasion[aram] significativa degradação da fauna, flora e
recursos hídricos da região [...].” (SOUZA, 2009, p. 143).
Para sua construção, foi necessário derrubar florestas com o intuito de limpar
o terreno para a consolidação da estrada. Outras estradas menores foram construídas
na Amazônia, na década de 1980, que destruíram cerca de 25 milhões de hectares
de florestas (SANTOS, 2009). A natureza, ao mesmo tempo que era tomada pelo seu
potencial econômico, era vista como obstáculo, portanto, deveria ser “removida do
caminho”. Nas palavras de Souza (2009, p. 145),
41Souza (2009, p. 60) observa que “[...] o traçado real da BR-230 [Transamazônica] vai para o noroeste,
passa por Labrea e segue até Benjamin Constant na fronteira Brasil/Colômbia, trecho este que não foi
implantado”.
123
42 De acordo com Santos (2009), o PGC abarca um total de “[...] de 218 municípios pertencentes aos
estados do Maranhão, Pará e Goiás, com abrangência superior a 10,6% do território nacional.” (p. 24).
Em termos geográficos, o PGC se situa “[...] numa faixa que envolve das caatingas do Nordeste à
floresta amazônica, passando pelo planalto central brasileiro e tem, no seu interior, vários rios
importantes para o funcionamento das atividades do programa [...]. (p. 25-26). Ele está dividido em três
blocos: “o primeiro bloco corresponde à região entre São Luís e Santa Inês, no Maranhão; o segundo
bloco está situado entre as cidades de Santa Inês a Marabá, no Pará; e no terceiro bloco, a área
corresponde às terras situadas entre as cidades de Marabá a Serra dos Carajás [...].” (p. 26). Esses
blocos possuem similitudes geográficas, como: “[...] o primeiro bloco é constituído de manguezais,
babaçuais, áreas de inundação e área costeira. [...]. O segundo bloco é composto por florestas densas,
cerrado e babaçuais, além de vários outros tipos de cobertura vegetal. [...] O terceiro bloco, por ser de
ocupação mais recente, vem sofrendo as maiores pressões com o desmatamento da floresta nativa e
a devastação dos recursos naturais.” (p. 26-27).
43 Segundo Coelho, Zonta e Trocate (2015), as minas do Complexo de Carajás estão “rodeadas pela
Floresta Nacional de Carajás (FLONA Carajás), que é uma Unidade de Conservação [...]” (p. 53); já a
Serra dos Carajás “[...] é um complexo de cristais e chapadas localizado entre os rios Itacaiúnas e
Parauapebas. [...]” (p. 53) e a infraestrutura do Complexo Grande Carajás comporta “[...] mina, áreas
de beneficiamento, porto e ferrovia.” (p. 53).
124
A estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi quem assumiu a direção da
extração, até a sua privatização na década de 1990 – que a tornou “Vale” em 1997.
A CRVD contraiu empréstimos com as instituições estrangeiras e nacionais e contou
com o apoio de diversas instituições internacionais de países estrangeiros, como “[...]
a União Europeia – UE, a Confederação Europeia de Ferro e aço, o Banco Mundial,
além de ajuda dos governos do Japão e Estados Unidos [...].” (SANTOS, 2009, p. 22).
Esse interesse do capital internacional “[...] desempenhou um papel fundamental no
direcionamento dos rumos do Projeto Grande Carajás.” (SANTOS, 2009, p. 32). Na
década de 1980, o PGC foi executado pelo Estado brasileiro com interferência do
capital internacional (SANTOS, 2009).
Devido à crise estrutural do capital e ao aumento do endividamento externo do
Brasil, o Estado tinha altas expectativas com o PGC com vistas à “[...] geração de
emprego e renda, bem como com a melhoria da qualidade de vida das populações da
região.” (SANTOS, 2009, p. 22). A CVRD formulou o documento “Amazônia Oriental
– Plano Preliminar de Desenvolvimento” estipulando “[...] gasto na ordem dos 61,7
bilhões de dólares, dos quais seriam 22,5 bilhões somente com infra-estrutura, a
prioridade em curto prazo, e 39,2 bilhões nos outros setores [...].” (SANTOS, 2009, p.
23). Conforme Santos (2009), o Estado brasileiro assumiu a infraestrutura (75% dos
custos) e “mesmo o Governo declarando que a absorção de recursos externos deveria
causar o menor impacto possível na balança de pagamentos, pela dimensão dos
investimentos, seria muito remota essa possibilidade.” (p. 34). A sequência seria da
seguinte forma, “[...] primeiro viriam os empréstimos de instituições estrangeiras;
depois, a criação de condições estruturais para a realização de negócios, com o intuito
de gerar divisas e saldo positivo na balança comercial; por fim, o pagamento dos
empréstimos e o investimento social.” (p. 33). Entretanto, os projetos estatais de
infraestrutura para o desenvolvimento do capital geraram um maior endividamento e
aprofundamento da “[...] subserviência política e econômica do país em relação aos
125
credores [...]” (p. 41), reforçando o traço constitutivo da economia política brasileira
exposto na seção 2.
Ao assumir a infraestrutura do Projeto Grande Carajás, o Estado brasileiro
curvou todo seu aparato estatal para a implementação desse complexo, conforme
explicita Santos (2009, p. 34):
Além desses órgãos, o Estado brasileiro instituiu, por meio do Decreto-lei n.º
85.383, a criação do Conselho Interministerial para gerir o funcionamento do PGC e
concedeu mais de 400 mil hectares para a implementação desse projeto via
Resolução n.º 331/86 do Senado Federal (SANTOS, 2009). Com esse arcabouço de
incentivos estatais e de infraestrutura, os objetivos traçados no documento “Amazônia
Oriental – Plano Preliminar de Desenvolvimento” consistiam em:
foi presenciado pela população no Maranhão foi a consolidação de “[...] índices sociais
e econômicos situados nas piores colocações, comparado ao restante do país.
Atualmente é uma das unidades da federação mais pobres, com uma série de
conseqüências sociais negativas.” (p. 31). Além das expressões da “questão social”,
as expressões da “questão ambiental” também ficaram evidenciadas nos municípios
que foram abarcados pelo PGC, como Açailândia (MA) que “[...] sofre com a poluição
urbana provocada pela emissão de gazes na atmosfera pelas indústrias. Como
conseqüência, há um alto índice de doenças respiratórias, especialmente entre a
população idosa e infantil.” (SANTOS, 2009, p. 31). Foi o próprio capital que alastrou
as desigualdades sociais na Região Amazônica (COELHO; ZONTA; TROCATE,
2015), onde o desemprego é maior e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é
menor nos municípios do PGC (PENHA; NOGUEIRA, 2015).
Considerando as expressões da “questão ambiental”, os danos
socioambientais são diversos devido à magnitude da extração e processamento de
minérios, como queimadas de carvão vegetal provenientes do desmatamento que
“alimentam” as siderurgias – na década de 1980, “[...] 80% do carvão consumido pelas
indústrias siderúrgicas no País provinham de florestas nativas.” (SANTOS, 2009, p.
44). Nesse sentido:
O PGC utilizou, nos primeiros anos, “[...] cerca de cinco bilhões de metros
cúbicos de madeira no Pará [...]. Na mesma época ocorreu um desmatamento de mais
de três milhões de hectares de florestas, 2,75% de todo o território do estado [...].”
(SANTOS, 2009, p. 51). Conforme os dados apresentados por Santos (2009 p. 60),
“[...] passam de 200 as carvoarias licenciadas pelo IBAMA e são mais de 500 o número
total, incluindo as que não possuem licença. Elas devastam 1.348 hectares de
cobertura vegetal por mês só no cerrado envolvido pelo Projeto Carajás [...]”. Para
extrair essa quantidade de madeiras da Floresta Amazônica, esse
megaempreendimento passou a absorver áreas habitadas por indígenas e
127
A luta de classe pelo uso e apropriação das riquezas naturais faz parte do
cotidiano da Região Amazônica. A Vale se constitui como uma das grandes
deflagradoras de “conflitos socioambientais” nessa região, sendo a atividade de
mineração uma das principais causas (COELHO; ZONTA; TROCATE, 2015). O
Estado brasileiro representa o capital na luta de classe pela apropriação e uso da
128
O projeto estatal PGC construiu a EFC, uma ferrovia de expressivo impacto nos
meios de vida dos municípios por onde passa com seus 892 km de extensão afetando
26 municípios. O Brasil é o país que lidera as mortes por questões vinculadas à terra,
esse processo. Constatamos que é inexpressiva a categoria “luta de classe” em suas análises sobre a
dinâmica do capital sobre a natureza e o trabalho. Em suas palavras, os “conflitos ambientais” se
revelam “[...] envolvendo grupos sociais com modos diferenciados de apropriação, uso e significação
do território, tendo origem quando pelo menos um dos grupos tem a continuidade das formas sociais
de apropriação do meio que desenvolvem ameaçada por impactos indesejáveis [...] decorrentes do
exercício das práticas de outros grupos.” (ACSELRAD, 2004b, p. 16, grifos nossos).
129
Para formação do lago que inundou uma área de 2.875km2, com 45.8 bilhões
de m3 de água, a hidrelétrica atingiu 13 vilas e povoados rurais do baixo
Tocantins: Repartimento, Breu Branco, Remansão do Centro, Remansão da
Beira, Areião, Jatobal, Chiqueirão, Coari, Canoal, Vila Braba, Ipixuna, Sta
Tereza do Tauri. Inundou nove reversas indígenas pertencentes a cinco
diferentes tribos: Assurinis, Gavião, Suruí, Parakanã e Xincrim. Além disso,
ficaram submersos 250km de rodovia sendo 150km da rodovia
Transamazônica, e a cobertura vegetal não retirada na quase totalidade do
reservatório.
47 “O Tratado de Itaipu, assinado em 1973, criou uma empresa com regime jurídico único no mundo. É
binacional, rege-se pelo próprio Tratado que a originou e seus Anexos (A, B e C), pelos protocolos
adicionais e outros atos decorrentes e também por seu Regulamento Interno, bem como pelas normas
de Direito Público Internacional. Totalmente atípica, não é estatal nem sociedade anônima. Sua moeda
é o dólar norte-americano, mas as transações no Brasil são feitas em reais e, no Paraguai, em
guaranis.” (ITAIPU BINACIONAL, 2017, p. 17). O capital financeiro controla a Usina por meio da
“governança corporativa regida pelas regras da Lei Sarbanes-Oxley, as mais rigorosas do mercado
financeiro internacional.” (ITAIPU BINACIONAL, 2017, p. 18).
132
48“Os governos brasileiro e paraguaio recebem uma compensação financeira, denominada royalties,
pela utilização do potencial hidráulico do Rio Paraná para a produção de energia elétrica na Itaipu. [...]
O repasse de royalties é proporcional à extensão de áreas submersas pelo lago e a quantidade de
energia gerada mensalmente. No Paraguai, os recursos dos royalties são repassados ao Ministerio de
Hacienda. No Brasil, o Tesouro Nacional recebeu mais de US$ 5,4 bilhões em royalties.” (BINACIONAL
ITAIPU, 2017, p. 25);
133
mas sim em agir para recolher os animais à medida em que esses saíssem da área
em alagamento.” (ZANIRATO; ZIOBER, 2014, p. 71).
Até os dias atuais, a região sofre com os impactos socioambientais referentes
à construção dessa usina hidrelétrica. Não obstante, a Itaipu Binacional utiliza
oficialmente em seus documentos o slogan do “desenvolvimento sustentável” ao
mesmo tempo que reafirma seu compromisso em “[...] criar novas oportunidades de
negócio e proporcionar autonomia energética para os setores agropecuário e
agroindustrial da região Oeste do Paraná, paralelamente a um processo de
saneamento ambiental.” (ITAIPU BINACIONAL, 2017, p. 30). Nas palavras de
Zanirato e Ziober (2014, p. 70), “minimizar as consequências do empreendimento era
um objetivo secundário. Essa disposição ficou clara no Plano Básico para a
Conservação do Meio Ambiente, ao estabelecer em suas diretrizes que os impactos
ambientais deveriam ser contemplados para não perturbarem o funcionamento da
hidrelétrica.”.
A construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu pelo Estado brasileiro curvou as
riquezas naturais e a vida social da região para atender a lógica de desenvolvimento
econômico capitalista no Brasil que precisava de um alto potencial energético para
dinamizar sua produção mesmo que para isso custasse o meio ambiente, a população
local, as terras dos moradores e as vidas dos trabalhadores que construíram a usina.
Conforme apresentou Picketti e Noschang (2015, p. 3):
Os ideais neoliberais surgem após a Segunda Guerra Mundial como “[...] uma
reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar.”.
Com a crise que se instaura na década de 1970, os defensores do neoliberalismo
pontuavam que os problemas “[...] estavam localizadas no poder excessivo e nefasto
dos sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento operário, que havia corroído
as bases de acumulação capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os
salários e com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez mais
os gastos sociais.” (ANDERSON, 1995, p. 9-10). A doutrina neoliberal surgiu para
defender “[...] a promoção da liberdade das forças impessoais e neutras do mercado
na alocação e distribuição eficiente dos recursos produtivos entre os agentes sociais
[...]”, e seus ideólogos53 deixam explícito que “[...] não defendem a total ausência do
Estado no controle da vida social, que deve ter uma ação seletiva e focalizada em
esferas vitais para o pleno funcionamento da ordem capitalista [...].” (CASTELO,
2013a, p. 220).
O neoliberalismo ganhou concretude inicial sob os auspícios do Governo de
Augusto Pinochet (1973), inextricavelmente entrelaçado aos Estados Unidos, que
implementou medidas “[...] como controle da emissão monetária, aumento da taxa de
juros, privatização dos bens e serviços públicos.” (CASTELO, 2013a, p. 224). Não
obstante, os países centrais executaram também esse receituário, como Margaret
Thatcher (1979, ex-primeira-ministra do Reino Unido do Partido Conservador inglês)
e Ronald Reagan (1980, Partido Republicado estadunidense). Esses governos
efetuaram um conjunto de medidas tortuosas neoliberais, considerando obviamente
as especificidades das suas estruturas econômicas.
Para Castelo (2013a, p. 230), “[...] houve um desenvolvimento desigual do
neoliberalismo nas diversas formações econômico-sociais [...]”. Em alguns países da
América Latina, as medidas neoliberais defrontaram-se com as particularidades
econômicas de cada nação, entrando, inclusive, “[...] em contradição com realidades
nacionais, regionais ou locais e enfrentaram resistências no seu longo percurso,
demorando a se concretizar como um consenso [...].” (CASTELO, 2013a, p. 227-228).
Se o neoliberalismo suplantou as possibilidades do governo socialista de Allende no
Chile, nos demais países periféricos o seu custo de efetivação e materialização foi a
rendição ao capital financeiro, às instituições financeiras (fundos de pensão, fundos
mútuos, fundos de investimentos, companhias de seguro (TAVARES, 2014)), a
diluição da democracia, o aumento do corte nos gastos sociais e o uso expressivo da
violência estatal como mecanismo de coerção contra a classe trabalhadora. Cabe
mencionar, neste momento, a reflexão de Castelo (2013a, p. 230) sobre a relação
entre neoliberalismo e violência estatal:
53 Os mais expressivos foram Friedrick Hayek, Milton Friedman, Karl Popper e Ludwig Von Mises.
138
54 Nesta via, Soares (2009, p. 31, grifos originais) destaca que, “[...] mesmo reconhecendo as gritantes
evidências do fracasso social do ajuste, os organismos internacionais mascaram a impossibilidade de
que, a persistir a mesma política econômica, esse fracasso possa ser revertido, impondo uma visão de
que os problemas sociais hoje existentes são apenas um problema de administração do ajuste,
culpabilizando, mais uma vez, os Estados Nacionais de serem incompetentes na gestão econômica e
social. É nessa perspectiva que se situam as recomendações recorrentes da necessidade de
‘reformas’, baixo o argumento de que elas ou ainda não foram realizadas ou foram mal implementadas
nos países latino-americanos.”.
139
[...] (a) ter livre acesso aos mercados, [...]; (b) ter o máximo de flexibilidade
para aproveitar as potencialidades da região como plataformas de
exportações que requerem mão-de-obra barata; (c) açambarcar das mãos do
capital nacional, público ou privado, os segmentos da economia que possam
representar bom negócio. (SAMPAIO JR., 2004, p. 6).
55 Não há ruptura com o passado. O passado é sempre evocado para firmar o presente e pensar o
futuro, sempre mantendo as velhas bases estruturais.
56 O atraso do desenvolvimento industrial e da tecnologia na produção são sintomáticos desta condição
as empresas que, havendo sido criadas pelo setor privado, passaram para o
controle direto ou indireto do Governo Federal, em decorrência de
inadimplência de obrigações, execução de garantias ou situações análogas;
as empresas criadas pelo Poder Público que não mais devam permanecer
sob o controle e direção do Governo Federal, por já existir, sob controle
nacional, setor privado suficientemente desenvolvido e em condições de
exercer as atividades que lhes foram atribuídas; as subsidiárias das
empresas instituídas pelo Poder Público, cuja existência não seja
indispensável à execução dos objetivos essenciais da empresa controladora
e importem em injusta ou desnecessária competição com as empresas
privadas nacionais. (BRASIL, 1985, online).
60A relação entre economia, BNDES e Estado brasileiro pode ser consultada, de forma detalhada, em:
Bugiato (2016), Moreira (2019) e Hirt (2016).
145
Assim, o “festival de doações” foi altamente rentável para o capital privado, pois
as empresas eram vendidas a preços mais baratos do que valiam; inclusive, vendiam-
se empresas estatais62 com dinheiro em caixa – como o caso da Vale que “[...] foi
entregue a Benjamin Steinbruch com 700 milhões de reais em caixa, segundo
noticiário da época” (BIONDI, 2003, p. 16). E, para fechar o “pacote”, os novos donos
ficam com o direito sob o estoque da estatal e seu mercado. Assim, a cultura
patrimonialista, traço da formação sócio-histórica brasileira, das frações da burguesia
brasileira, presente desde a época da Independência do Brasil, é ainda a tônica para
a privatização em tempos presentes. Se na década de 1980 tivemos o início das
privatizações de estatais de porte médio, é na década de 1990 que acontece uma
avalanche de “doações” das grandes estatais. O Estado brasileiro “[...] deveria operar
um giro de 180 graus e entregar todas as empresas estatais ao capital privado,
coordenando o processo de privatização das empresas, na perspectiva de fornecer
criadas 274 estatais, sendo 58 no governo Castello Branco, 55 no governo Costa e Silva, 99 no governo
Médici, 50 no governo Geisel e 12 com Figueiredo (FOLHA DE SÃO PAULO, 2014 apud SANTOS
NETO, 2019).
146
partir do custo do trabalho, bem como contribuir para atrair investimentos estrangeiros
produtivos para o país, já que tal retirada implica a diminuição dos encargos sobre as
empresas.” (BEHRING, 2003, p. 220). Retirar esses entraves seria a adaptação
essencial para atender às novas demandas da economia. A cada novo
aprofundamento da crise do capital os custos do trabalho são evocados para manter
o ritmo de acumulação, seja ampliando e intensificando a exploração, seja retirando
direitos dos trabalhadores ou ainda utilizando simultaneamente ambos os
mecanismos. Outro ponto retratado pela autora é o processo crescente de
desfinanciamento da Seguridade Social vinculado ao discurso da necessidade da
Reforma da Previdência63, assentada na justificativa do “ajuste fiscal” para o equilíbrio
das contas públicas (com respaldo da Lei de Responsabilidade Fiscal), sendo que a
priorização do pagamento da dívida pública é o real pano de fundo do “desequilíbrio”
das contas. De acordo com Behring (2003, p. 58-59), essas transformações do Estado
podem ser sintetizadas como uma “contra-reforma do Estado brasileiro”64, como
evidente “[...] evocação do passado no pensamento neoliberal, bem como um aspecto
realmente agressivo quando da implementação de seu receituário, na medida em que
são observadas as condições de vida e de trabalho das maiorias, bem como das
condições de participação política.”.
Behring (2001, p. 167-168) realiza um balanço-síntese dessa primeira fase do
neoliberalismo no Brasil, vejamos:
63 Após severos ataques aos direitos previdenciários dos trabalhadores desde a década de 1990, a
Reforma da Previdência foi aprovada em 2019 sob a condução do Governo Bolsonaro.
64 Segundo esta autora, “[...] esteve em curso no Brasil dos anos 1990 uma contra-reforma do Estado,
e não uma ‘reforma’ [...]. Uma contra-reforma que se compôs de um conjunto de mudanças estruturais
regressivas sobre os trabalhadores e a massa da população brasileira, que foram também antinacionais
e antidemocráticas.”. (BEHRING, 2003, p. 281).
148
meio de uma inserção na ordem internacional que deixou o país à mercê dos
especuladores no mercado financeiro.
Sob a égide neoliberal, a economia brasileira não pode dar um passo fora da
trilha dos determinantes dos organismos financeiros internacionais, visto que “pisar
fora da linha” pode gerar, de um lado, instabilidade econômica na dinâmica do capital
financeiro e, de outro, instabilidade política com a colocação em xeque do governante
que estiver à frente do Estado. Sob essas condições estruturais e firmado o “pacto”
entre burguesia e Estado nos Governos do PT (Lula e Dilma) destacamos, por meio
de Moreira (2019, p. 176), o aumento da internacionalização da economia brasileira
através das multinacionais, entre elas destacam-se: “[...] do ramo da construção civil
151
67Essas empreiteiras foram impulsionadas pelo regime militar-empresarial. Nas palavras de Santos
Neto (2019, p. 132), “O governo do ditador Emílio Garrastazu de Médici procurou atender à demanda
das construtoras nacionais (Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Rabello, Mendes Júnior,
Servix, Cetenco, CBPO e consortes), aprofundando uma tendência que havia começado em 1950, em
que as construtoras estrangeiras foram paulatinamente substituídas pelas brasileiras na contratação
de obras públicas.”.
156
(2017, p. 59) detalha que houve “[...] perdas na atividade pesqueira, perdas na
qualidade da água, inundação de remanescentes da floresta e de propriedades rurais
desenvolvidas, emissão de CO2 e metano (CH4), perdas de água por evaporação,
perdas por atividades turísticas, perdas da biodiversidade e perdas sociais.”. A
dinâmica societária da região da UHE de Belo Monte foi modificada e transfigurada
para um aprofundamento das expressões da “questão social” como a “[...] piora dos
serviços públicos, aumento da prostituição; pagamentos insuficientes de indenização;
perdas de relações sociais que estavam vinculadas a comércios [...].” (JARDIM, 2015,
p. 169).
Apesar de utilizarem o discurso do “desenvolvimento sustentável” – “[...] a mais
extraviadora ilusão [...]” (MARQUES, 2015, p. 50) – o que ocorreu na realidade
concreta foi o impacto na natureza e em terras indígenas provocado pelo Estado e
capital agindo de “mãos dadas”. Os ritos institucionais pedem um estudo que contenha
“[...] a avaliação das potenciais consequências de danos da implementação do projeto
para o local afetado. Juntamente com o EIA, é elaborado um relatório resumindo as
principais abordagens do Estudo [...] chamado Relatório de Impacto Ambiental –
RIMA” (SANTANA; BRZEZINSKI, 2018, p. 238-239). O Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), analisados por Ferreira (2017),
apontavam que nenhuma terra indígena seria afetada diretamente, porém, esse
documento “[...] não considera impacto direto a criação da UHE Belo Monte na vida
das pessoas que dependem do rio para sobreviver, para o mesmo, só é tratado como
área de impacto direto as terras alagadas.” (p. 77). O que ocorreu foi que 19.242 mil
pessoas foram impactadas com a construção da UHE de Belo Monte distribuídas em
5.988 mil imóveis e 5.186 mil famílias (FERREIRA, 2017).
O EIA-RIMA da UHE de Belo Monte foi “[...] elaborado pela Eletrobrás em
conjunto com grandes empreiteiras que seriam os principais beneficiários [...]”
(FERREIRA, 2017, p. 77), isto é, Estado e capital68 no comando para avaliar os riscos
ambientais que ambos causaram ao meio ambiente. A licença ambiental, conferida
pelo Estado, é emitida após a entrega do EIA/RIMA, que concede a “[...] localização,
instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas
68“No caso de Belo Monte, a instituição escolhida foi uma empresa chamada Leme Engenharia, que
hoje, ao adotar o mesmo nome de sua controladora, chama-se Tractebel.” (SANTANA; BRZEZINSKI,
2018, p. 252).
157
que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental [...].” (BRASIL, 1997,
art. 1º). Entretanto, apreendemos que muitas vezes os mecanismos legais estatais
desconsideram suas próprias normas institucionais para oferecer ao empreendimento
suporte para sua instalação. Nas palavras de Santana e Brzezinski (2018, p. 236), o
EIA-RIMA “[...] não pode se furtar da análise dos interesses que estão por trás de todo
seu processo, seja de elaboração, consolidação ou construção.”. No caso da UHE de
Belo Monte, os indígenas e ribeirinhos “[...] não foram considerados significativos no
EIA, pois o mesmo não menciona as mudanças provocadas com a construção da
hidrelétrica.” (FERREIRA, 2017, p. 72). E mesmo os impactos ambientais na natureza
apontados pelo EIA-RIMA de Belo Monte não foram suficientes para barrar sua
construção, uma vez que, o setor agrário-mineral demandava fortemente a
hidrelétrica. Estado e capital utilizam do discurso da “proteção socioambiental”, porém,
na realidade, o próprio Estado flexiona todo aparato jurídico, que normatiza essa
“proteção” para atender aos determinantes do capital que precisa acumular e
expandir-se sob o território brasileiro.
69“O porcentual de consumo residencial de toda a energia gerada no Brasil é bem inferior se comparado
com aquela utilizada pelos setores industriais, onde 133,9 milhões de MWh são utilizados por
residências, enquanto 165,8MWh são consumidos por parte da demanda Industrial. Somente na região
norte, em 2017, o consumo anual total utilizado pelas residências foi de aproximadamente 9,5 milhões
de MWh, enquanto no setor industrial o número chega aos 15,1 milhões.” (SANTANA; BRZEZINSKI,
2018, p. 244-245).
158
Esta não seria a primeira nem a última vez que empresas estrangeiras
participariam da construção de grandes obras de infraestrutura no país. Há uma
159
70 O jornal “Brasil de Fato” produziu um pequeno balanço sobre o Estatuto da Terra, em 2019, ano em
que esta legislação completou 55 anos. Conferir: https://www.brasildefato.com.br/2019/11/30/lei-da-
ditadura-que-estabeleceu-funcao-social-da-propriedade-completa-55-anos. Acesso em: 3 jan. 2022.
160
71 O Governo Bolsonaro é marcado como um governo de segmento religioso, de extrema direita, liberal,
moralista, punitivo, intolerante, subserviente aos EUA, em especial ao Governo de Donald Trump
(2017-2021).
72 Essa “[...] estende o benefício de dispensa de vistoria de pequenas ocupações [...]. Permite, por meio
de licitação, regularização futura de terras públicas invadidas a qualquer momento [...]. Considera que
a simples inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é autodeclaratório, já seria prova de
regularidade ambiental [...]. Desobriga imóveis com até 6 módulos a aderir ao Programa de
Regularização Ambiental (PRA) ou ter um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), quando for
constatado dano ambiental via auto de infração ou embargo em vistoria prévia. Basta a apresentação
do CAR. Isso é incompatível com o Código Florestal.” (DOSSIÊ “A CONTA CHEGOU...”, 2022, p. 26-
27). Atualmente, essa PL está aguardando apreciação do Senado Federal.
73 Essa PL discorre sobre a mineração em Terras Indígenas: “possibilita liberação para mineração e
construção de hidrelétricas sem entraves em TIs ainda em processo de demarcação [...]. Valida todos
os requerimentos minerários que tenham sido solicitados ou protocolados antes da homologação das
TIs. Valida 362 processos minerários incidentes em 62 terras indígenas em demarcação. Outras 78 TIs
homologadas ou reservadas também poderiam ter validados 2.562 processos minerários protocolados
ou concedidos antes da conclusão de sua regularização. Funciona como um liberou geral para grandes
empreendimentos e garimpo em 315 TIs, aumentando riscos sanitários e de violência contra povos
indígenas. Libera a pesquisa e lavra mineral, bem como aproveitamento hidráulico em caráter provisório
em todas as Tis.” (DOSSIÊ “A CONTA CHEGOU...”, 2022, p. 28).
74 Essa PL “[...] prevê anistia a quem invadiu e desmatou ilegalmente terra pública até dezembro de
2014. Aumenta o risco de titular áreas em conflito ou com demandas prioritárias, pois elimina a vistoria
prévia à regularização de latifúndios de até 2.500 hectares. Também enfraquece os casos excepcionais
em que a vistoria é obrigatória. Permite a emissão de novos títulos de terra para aqueles que já foram
beneficiados com terras públicas no passado. Incentiva a continuidade de ocupação de terra pública e
desmatamento, pois cria direito de preferência na venda por licitação a quem estiver ocupando área
pública após dezembro de 2014. Permite titular áreas desmatadas ilegalmente sem exigir assinatura
prévia de instrumento de regularização de passivo ambiental, nos casos em que não houve autuação
ambiental”. (DOSSIÊ “A CONTA CHEGOU...”, 2022, p. 27). Aprovada na Câmara dos Deputados, em
2021, e aguardando votação no Senado Federal.
75 Segundo Alentejano (2020, p. 381), “[...] Bolsonaro não foi o único a propor, nos últimos anos, ações
Devido à dinâmica das relações capitalistas, os países periféricos que têm suas
economias fincadas em produtos agrário-mineral-exportáveis tendem a importar
agrotóxicos dos países industrializados. Nos dois anos do Governo Bolsonaro, a
China foi “[...] o principal fabricante (61,28% dos produtos) com o total de registros de
agrotóxicos aprovados maior do que a soma de todos os demais países, seguida pelo
referente à legislação sobre os agrotóxicos. No entanto, configuramos como uma mudança na forma
de atuação do Estado brasileiro com as demandas do setor de commodities, o que fez o Estado
direcionar suas ações mais direta e precisamente, desconsiderando, inclusive, quaisquer mecanismos
normativos.
164
Brasil (13,23%) e EUA (5,51%) [...]”. O mais sintomático dessa importação dos países
industrializados é que os “[...] produtos fabricados na China (35), Índia (11), Suíça (2),
França (3) e Alemanha (1) foram aprovados no Brasil, apesar de não terem aprovação
nestes países.” (GURGEL; GUEDES; FRIEDRICH, 2021, p. 143). E para continuar a
expansão desses produtos, os megaempreendimentos como Bayer, Syngenta, Basf,
Du Pont, Nortox e Adama realizaram novos pedidos de aprovação de agrotóxicos ao
Estado Brasileiro no Governo Bolsonaro (LIMA; OLIVEIRA, 2020).
Analisamos que houve um salto quantitativo da aprovação de agrotóxicos a
partir do Governo de Temer, atingindo 277 (2016), 405 (2017), 450 (2018) e 382
(2019), conforme apontamos no Gráfico 01.
Registros de Agrótóxicos
500
450 450
400 405
382
350
300
277
250
200 203 191
168
150 137 146 148 139
100 110 104 110
90
50
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
78
Dados extraídos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2022). Disponível em:
https://dados.contraosagrotoxicos.org/dataset/registro-de-agrotoxicos-e-afins. Acesso em: 30 jul. 2022
79 Existem hoje 3.748 produtos agrotóxicos comercializados em todo o Brasil, conforme monitoramento
do perfil @Robotox, “[...] que monitora os registros de aprovação de novos agrotóxicos no Brasil,
através das publicações no Diário Oficial da União” (LIMA; OLIVEIRA, 2020, p. 72).
165
80 A análise completa de cada um desses itens pode ser acessada em Gurgel, Guedes e Friedrich
(2021). Aqui, cabe-nos ilustrar o quantitativo crescente de liberação de agrotóxicos sob a direção do
Governo Bolsonaro que impacta diretamente na natureza e sociedade.
81 De acordo com Souza et al. (2020, p. 338), “[...] estes venenos e os produtos de sua metabolização
acabam percolando nos solos, alcançando e se acumulando nos aquíferos, com o que comprometem
166
reservas de água essenciais para as próximas gerações [...]. Basta uma alusão ao mar Morto, que
alcançou condição estéril pelo acúmulo de sais, para entender o possível destino dos aquíferos
Guarany, Furnas e Urucuia, cujas áreas de recarga são hoje dominadas pelo cultivo, em larga escala,
das lavouras altamente tecnificadas.”.
82 Conforme Lima e Oliveira (2020, p. 80), “em reportagem intitulada: ‘Depressão e suicídio: 1569
brasileiros se mataram tomando agrotóxicos na última década’, o Repórter Brasil, utilizando como base
de dados o mais recente Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde e as fichas de notificação do
Sinan, informou que 55,6 mil pessoas se mataram no Brasil entre 2011 e 2015. O principal meio
utilizado foi o enforcamento, com 61,9% dos casos, seguido por intoxicação exógena (17,7%), que
inclui envenenamento por agrotóxicos ou medicamentos. [...] Já em todo o mundo ocorrem cerca de
800 mil casos de suicídio por ano e que uma a cada cinco mortes, ou seja, 20%, acontece por auto-
167
envenenamento com agrotóxicos, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) citado
na matéria produzida. A maioria das mortes ocorreu em zonas rurais de países com baixa e média
renda, como o Brasil. [...].”
168
83
Disponível em: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/08/19/queimadas-aumentam-82percent-
em-relacao-ao-mesmo-periodo-de-2018.ghtml. Acesso em: 01 jul. 2022.
84 Há diferenças entre a metodologia da CPT e Fiocruz. A primeira, “[...] registra conflitos, entendidos
como ações de resistência e enfrentamento que acontecem em diferentes contextos sociais no âmbito
rural, envolvendo a luta pela terra, água, direitos e pelos meios de trabalho ou produção. Esses conflitos
169
acontecem entre classes sociais, entre os trabalhadores ou por causa da ausência ou má gestão de
políticas públicas. Nesse sentido, os registros são catalogados por situações de disputas em conflitos
por terra, pela água, conflitos trabalhistas, em tempos de seca, conflitos em áreas de garimpo e conflitos
sindicais.” (CPT, 2021, p. 12); a segunda, por sua vez, produz um mapa de conflitos envolvendo
injustiça ambiental e Saúde no Brasil. Entendemos que ambos apresentam sistematizações sobre a
luta de classe pela natureza.
85 Mattos (2017, p. 41) aponta que “[...] são seis os bilionários que detêm riqueza equivalente à de
CONCLUSÃO
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