Úsica, Teatro e Dança: Studos Vançados 26 (76) 2012
Úsica, Teatro e Dança: Studos Vançados 26 (76) 2012
Úsica, Teatro e Dança: Studos Vançados 26 (76) 2012
Abrindo
E
m julho de 2009, no Teatro Paulo Autran da unidade Sesc Pinheiros de
São Paulo, dei início às apresentações do espetáculo de dança “Natural-
mente – teoria e jogo de uma dança brasileira”. Digo espetáculo, mas, na
verdade, ele tanto poderia ser tratado como uma aula bem ilustrada ou como
um espetáculo comentado. De qualquer maneira, aula-espetáculo ou propria-
mente espetáculo – como prefiro considerá-lo –, o fato é que essa minitempora-
da, para a minha grata surpresa, estava destinada a provocar um bom périplo de
apresentações do espetáculo. Uma primeira e boa notícia chegou-me logo após
a última apresentação desse fim de semana de estreia. Danilo Miranda, diretor
do Sesc São Paulo, presente à ela, após a apresentação fez-me o convite para
gravá-lo por intermédio da instituição que dirigia. E é claro que de imediato
aceitei o convite. A gravação foi realizada em meados de 2010 e teve na sua dire-
ção o meu velho amigo e parceiro de outras tantas gravações e trabalhos Walter
Carvalho. Do momento dessas suas primeiras apresentações até o registro em
DVD, o espetáculo foi merecedor de prêmios e contou sempre com uma muito
boa acolhida de público e crítica.
Mas eu dizia da minha surpresa pelo bom destino que o espetáculo veio a
ter. Porque havia em mim uma certa dúvida, uma insegurança mesmo, em rela-
ção à sua natureza. Receava, fundamentalmente, que os textos nele inclusos não
fossem de interesse geral do público e que terminassem por cansá-lo. Para minha
sorte, não foi o que aconteceu. Na verdade, o que constatei foi uma generosa e
interessada disposição do público em procurar acompanhar as falas. Penso que
o fato de estarem organicamente ligadas às performances fez que o público as
aceitasse fluidamente, como se fossem, me permitam, falas-dançantes... falas que
se completavam com a movimentação dos corpos.
O presente texto é um registro ligeiramente ampliado daquelas falas.
Aproveito a oportunidade de sua publicação para tentar aprofundá-las. Uma
tarefa que venho me propondo realizar e que encontra nessa ocasião, portanto,
um bom ensejo para começar.
Primeiramente, devo situar o leitor em relação ao espetáculo. Ele se inicia
com a exibição, num imenso telão colocado ao fundo do palco, de uma mul-
tifacetada coletânea de momentos coreográficos de diversas danças populares
brasileiras. Essas cenas foram tiradas da série televisiva Danças Brasileiras, prota-