Hierarquia Angelical

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Enrahonar.

Supplement Issue, 2018  399-410

Ordem e hierarquia no comentário


a De angelica hierarchia de pseudo-Dionísio
atribuído a Petrus Hispanus
João Rebalde
Universidade do Porto
[email protected]

Resumo

Entre as numerosas obras atribuídas a Petrus Hispanus dispomos de um conjunto de


comentários a Pseudo-Dionísio Areopagita, intitulados Expositio librorum Beati Dionysii,
que seguem o conteúdo da Extractio In Libros Beati Dionysii Areopagitae de Tomás Gaulês.
O nosso estudo centra-se particularmente no comentário a De angelica hierarchia, pro-
curando relevar as posições do autor acerca da ordem e da hierarquia. No âmbito deste
objetivo tratamos a relação entre unidade e multiplicidade; a definição da hierarquia e o
seu fim próprio; o reflexo da ordem e da hierarquia angelical na humana; e o melhor modo
para conhecer Deus.
Palavras chave: Petrus Hispanus; Pseudo-Dionísio Areopagita; De angelica hierarchia;
ordem; hierarquia

Abstract. Order and Hierarchy in the Commentary to the De angelica hierarchia of Pseudo-
Dionysius attributed to Petrus Hispanus

Among the works attributed to Petrus Hispanus there is a set of commentaries to Pseu-
do-Dionysius Areopagite, entitled Expositio librorum Beati Dionysii, which follow the
content of the Extractio In Libros Beati Dionysii Areopagitae by Thomas Gallus. Our paper
focuses on the commentary to the De angelica hierarchia, aiming to highlight the author’s
positions on order and hierarchy. Within this objective we deal with the relation between
unity and multiplicity; the definition of the hierarchy and its own end; the reflection of the
order and of the angelic hierarchy in the human hierarchy; and the best way to know God.
Keywords: Petrus Hispanus; Pseudo-Dionysius Areopagite; De angelica hierarchia; order;
hierarchy

Sumario
1. Contextualização geral 3. Últimas considerações
2. As questões da ordem e da hierarquia Referências bibliográficas
no comentário a De angelica hierarchia

ISBN 978-84-490-8043-2
400   Enrahonar. Supplement Issue, 2018 João Rebalde

1. Contextualização geral

1.1. O comentário atribuído a Petrus Hispanus


O século xiii contribuiu decisivamente para a difusão da obra de Pseudo-Dio-
nísio Areopagita, na época ainda identificado com o discípulo de São Paulo
convertido em Atenas. Para esta difusão foi importante o interesse dos mais
salientes teólogos da época, entre os quais Alberto Magno, Roberto Grossetes-
te, Pedro de João Olivi, Tomás de Aquino, Tomás Gaulês ou Adão Marsh.
Escreveram amplos comentários que circularam juntamente com as traduções
de Hilduíno, Escoto Eriúgena ou João Sarraceno1. Ao longo do século flores-
ceram versões e comentários da obra dionisiana com diferentes alcances. Uns
têm uma finalidade mais académica, outros menos elaborados e autónomos,
circulando entre monges e padres, funcionam como guia de leitura e de expli-
cação dos escritos.
É neste contexto histórico e cultural do século xiii que encontramos os
comentários atribuídos a Petrus Hispanus, intitulados Expositio librorum Beati
Dionysii, escritos muito provavelmente entre 1238 e 1250. Trata-se de comen-
tários à obra completa (exceção feita às quatro últimas cartas) e têm como
texto de base a tradução latina do cónego agostiniano João Sarraceno, datada
de 1167, que surge a pedido de João de Salisbúria. Esta tradução aparece
incorporada na Expositio de Petrus Hispanus, intercalada com o respetivo
comentário.
O comentário completo encontra-se em quatro manuscritos, um quinto
manuscrito contém apenas o comentário à Teologia Mística. A partir de dois
dos quatro manuscritos com o texto completo, o de Munique (do século xiii)
e o de Besançon (do século xiv)2, Manuel Alonso editou toda a Expositio em
Lisboa em 1957, através do Instituto de Alta Cultura e do Centro de Estudos
de Psicologia e de História da Filosofia3. Esta edição, que não é crítica, é ainda
acompanhada no mesmo volume pela obra Extractio In Libros Beati Dionysii
Areopagitae4 de Tomás Gaulês, escrita por volta de 1238, a partir da edição de
Dionísio Cartusiano, de 1556. Tomás Gaulês é um dos mais conhecidos
comentadores do corpo dionisiano, ao qual dedicou ainda um segundo comen-
tário, Explanatio in Libros Dionysii5. Os dois comentários de Tomás Gaulês
são diferentes entre si. A Extractio é um comentário mais simples e menos
autónomo, vocacionado para uma difusão mais ampla e para um público
menos exigente, enquanto a Explanatio é um comentário mais extenso, refle-
xivo, independente e rico em referências.

1. Sobre as traduções e os comentários à obra dionisiana: vd. Dondaine (1953), Luscombe


(1978) e Castro (2016)
2. Conhecem-se, por via do contributo de James McEvoy, outros manuscritos: Viena (séc.
xiv), Zurique (séc. xv) e Dublin (séc. xv).
3. Cf. Alonso (1957).
4. No nosso estudo utilizamos a edição de Manuel Alonso (1957: 507-671).
5. Para esta obra utilizámos a edição de Declan Lawell (2011).
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1.2. O problema da autoria


As semelhanças entre o texto da Expositio atribuído nos manuscritos a Petrus
Hispanus e o da Extractio de Tomás Gaulês estão na origem de uma longa
polémica em torno da sua autoria6. É este aspeto que justifica a inclusão dos
dois textos na edição feita por Alonso.
No âmbito desta controvérsia e da proximidade entre os textos, autores
como Umberto Gamba e James McEvoy chegam a propor que a Expositio seja
uma obra de Tomás Gaulês. Uma leitura diferente proporcionam os trabalhos
de João Morais Barbosa, José Maria da Cruz Pontes, José Meirinhos e do
próprio Manuel Alonso. Este último bate-se na introdução da sua edição pela
defesa da irredutível originalidade do comentário de Petrus Hispanus7. Por sua
vez, o trabalho de José Meirinhos, que visa discutir o problema da autoria do
corpus petrinicum, critica as generalizações que sustentam a tese de que o autor
da Expositio é Tomás Gaulês, expondo a falta de elementos específicos que
possam fundamentar com segurança uma decisão, deslocando a questão para
um nível mais amplo e profundo, para a identidade particular do Petrus His-
panus a que são atribuídos os comentários.
É inegável a proximidade entre a Expositio e a Extractio, provavelmente
porque a primeira foi escrita a partir da segunda. O autor recorre amplamen-
te à paráfrase, elaborando um texto pouco autónomo. Certamente seria des-
tinado a um público semelhante. No entanto, encontramos algumas inicia-
tivas de cunho próprio8, como a inclusão de prólogos; um resumo no início
de cada capítulo; e a introdução de notas e esquemas com diversas configu-
rações. Estas iniciativas acabam por ser o contributo mais pessoal do autor ao
longo do comentário.
A dúvida sobre a autoria continua em aberto. Seja como for, mais além do
mistério em torno da identidade do autor, o comentário tem uma indepen-
dência hermenêutica que deve ser valorizada e estudada e que transcende as
dúvidas acerca da autoria.

2. A
 s questões da ordem e da hierarquia no comentário
a De angelica hierarchia
O texto do comentário a De angelica hierarchia está dividido em 15 capítulos
que acompanham o itinerário proposto por Dionísio. Tendo em conta as cara-
terísticas apontadas, o nosso estudo procura relevar, no âmbito do tema a que
nos dedicamos, os elementos de cunho pessoal introduzidos pelo autor e a
influência do texto da tradução de Sarraceno e os comentários de Tomás Gaulês.
Neste sentido, um dos elementos introduzidos por Pedro é desde logo o
pequeno resumo introdutório do começo do primeiro capítulo, onde explica

6. Sobre a polémica da autoria e as diversas posições: vd. Meirinhos (2002: 249-264); Pontes
(1972: 31-50); e Alonso (1957: XV-LXIX).
7. Vd. Alonso (1957: XVII).
8. Vd. Alonso (1957: XXVIII e ss).
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o sentido do pensamento dionisiano sobre a questão da relação da unidade e


da multiplicidade. Este resumo não aparece nem no próprio Dionísio, nem
nos comentários de Tomás Gaulês. Pedro sublinha o sentido do título: a ilu-
minação divina dirige-se aos seres posteriores e menos perfeitos de diversos
modos, sem que perca nada da sua unidade, pensada como emanação divina.
Veja-se a passagem:
divina autem illuminatio hic appellatur omnis divine cognitionis a Deo ema-
natio. Que licet motu bonitatis Dei diversimode procedat ad communican-
dum se creaturis, nichilominus tamen aliis facta per communionem multiplex,
in se tamen manet simplex, a se non divisa (Petrus Hispanus, Expositio libro-
rum Beati Dionysii, p. 10, 15-20)9.

Esta citação mostra a síntese que Pedro faz do texto de Dionísio. A ilumi-
nação emana de Deus e comunica-se a todas as criaturas de diversos modos
segundo a natureza de cada uma, segundo aquilo que podem ou conseguem
receber. Esta procedência está também intrinsecamente ligada à bondade divi-
na. Os modos segundo os quais a iluminação se comunica às criaturas supõem
uma complexa relação entre unidade e multiplicidade, tomando um dos tópi-
cos fundamentais da obra dionisiana. Pedro acrescenta que a iluminação se
comunica a todas as criaturas no âmbito da sua natural diversidade não perden-
do a sua simplicidade, enquanto proveniente da unidade. A iluminação que
provém de Deus não se faz múltipla em si e por si. Antes pelo contrário, man-
tém-se simples e indivisível. É múltipla apenas por via dos outros, os que dela
comungam. Este ponto faz ressaltar um aspeto interessante da síntese de Pedro.
De facto, as criaturas, aqui os outros relativamente à unidade, são responsáveis
pela multiplicidade da unidade da iluminação proveniente de Deus, precisa-
mente pelas determinações subjacentes à sua possibilidade de receber essa ilu-
minação, recebendo-a cada uma de acordo com a sua natureza determinada e,
dessa forma, determinando-a. No entanto, essa unidade irredutível que está a
montante da multiplicidade provocada pelas criaturas assegura que a multipli-
cidade destas ainda assim seja una. Desta forma a iluminação divina permite a
unidade da totalidade das criaturas, em si mesmas diversas, que as suas diferen-
ças fundamentais sejam absorvidas numa só unidade, uma ordenação colocada
nos termos de uma comunhão. Esta ideia expressa-se bem no resumo:
Et non tantum hoc facit, ut aliis communicata in se maneat simplex, set
etiam ea que ab ipsa illimunantur et illa illi per ipsam et sibi ipsis per illam
invicem uniuntur. Divina igitur illuminatio ad nos veniens et simplex est a se
non recedendo et efficax est illuminatio a se sibi et invicem uniendo (Petrus
Hispanus, Expositio librorum Beati Dionysii, p. 10-11, 20-2).

Pedro capta bem os matizes do texto dionisiano, evidenciando nas passa-


gens que vimos essa relação fundamental da unidade com a multiplicidade e

9. Para as referências ao comentário de Petrus Hispanus usámos sempre a edição de Manuel


Alonso (1957).
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da multiplicidade com a unidade, de um múltiplo que é sempre uno. O que


assistimos é a uma valorização dessa complexa relação.
A iluminação depende da Luz divina, que para Dionísio é Cristo, referindo-
se a ele como a «Luz do Pai», numa alusão ao Evangelho de São João, colocando
o elemento cristão na matriz neoplatónica, especialmente via Proclo. Cristo surge
como Luz e veículo para Deus, que é entendido como princípio da Luz:
Igitur Ihesum invocantes quod est paternum lumen, quod est quod verum
est quod illuminat omnem hominem venientem in hunc mundum, per quem
ad principem luminis patrem adductionem habuimus, ad sanctissimorum
eloquiorum a patribus traditas illuminationes, sicut possibile est, respiciamus,
et ab ipsis significative nobis et sursum active manifestas celestium mentium
ierarchias, sicut potentes sumus, inspiciamus (Petrus Hispanus, Expositio libro-
rum Beati Dionysii, p. 14, 1-7).

Pedro dará especial atenção a esta passagem de Dionísio e à introdução do


elemento cristão na matriz neoplatónica, como testifica a sua iniciativa de ela-
borar um esquema explicativo que não encontramos nos comentários de Tomás
Gaulês. O esquema diz:
conmendatur hic Ihesus a quinque: primo a paternali processione, ibi: qui est
paternum lumen. Secundo ab eternali substantificatione, ibi: quod est. Tertio
ab ineffabili cognitione, ibi: quod verum est. Quarto a communi omnium
illuminatione: quod illuminat omnem hominem, etc. Quinto a ad fontem
luminis perductione, ibi: Per quem ad principem luminis, etc. (Petrus His-
panus, Expositio librorum Beati Dionysii, p. 15, 13-22).

Como se pode ver, o esquema remete para as primeiras linhas do trecho de


Dionísio que citámos. Procura reunir cinco aspetos que distinguem o papel
de Cristo, sendo eles luz, ser, verdade, iluminação e princípio de iluminação
de todos os seres humanos, e faz associar estes aspetos, fiel aos elementos neo-
platónicos presentes no texto de base, à processão Deus-Cristo, à substância
eterna, ao conhecimento inefável e à iluminação e retorno a Deus. O esquema
introduzido por Pedro percorre desta forma as complexas relações de hierar-
quia, da permanência e unidade primeira de Deus, à processão, à substância
eterna, à relação da unidade com a multiplicidade, à iluminação de todos os
seres e ao retorno e à salvação por via de Cristo. Esta esquematização mostra
também uma valorização da relação entre a tradição cristã e neoplatónica,
apreciando-se a forma como Pedro num pequeno esquema oferece um sinté-
tico percurso de leitura.
Ainda no primeiro capítulo e após a passagem que citámos acima, Dionísio
explica a necessidade de uma conversão virada para Deus como fim último da
criatura, sempre mediada por Cristo, assistida também por uma ampla hierar-
quia de seres angelicais e que encontra nas Sagradas Escrituras e na Eucaristia
os meios por excelência de comunicação e participação. Dionísio insiste ainda
na necessidade de uma acomodação da iluminação divina à natureza humana
e de uma revelação da dimensão espiritual através dos símbolos e das analogias.
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Pedro introduz um amplo trecho de comentário, de cunho próprio, precisa-


mente para explicar estas posições dionisianas:
thearchicum radium. Nota quod thearchicus radius est splendidus divinae
sapientiae intellectus, qui revelate a celestibus mentibus contemplatur, set
velate a nostra ratione conspicitur. Mens enim nostra materiali corpori unita
ad immaterialia contemplanda non nisi mediantibus materialibus adminiculis
elevatur. Et ideo radius sapientiae sub velaminibus rerum nobis familiarum
est occultatus a divina bonitate, ut per ipsarum collationem et inspectionem,
citius a nobis sit cognitus. Noli igitur timere. Noli diffidere de profectu sapien-
tiae. Quoniam si eius radius tibi circumvelatus apparet, set est tibi familia-
ris fructus utpote tuis armis amictus. Quere igitur ipsum sub illis et tibi se
denudabit. Investiga illum et tuis mentalibus oculis radiabit. Non enim tibi
apparet velatus, ut a te sicut alienus non videatur, set ut a te sicut tuus et
tuis circumtectus velaminibus diligentius et familiarius ac dulcius exquiratur
(Petrus Hispanus, Expositio librorum Beati Dionysii, p. 16, 17-32).

Pedro explica a necessidade de a sabedoria divina se apresentar através das


coisas materiais para dessa forma compatibilizar e acomodar o conhecimento
e a iluminação à possibilidade imposta pela natureza humana, caraterizada por
a mente estar unida a um corpo material. Esta dificuldade está para Pedro na
origem do velamento do que é espiritual. A sabedoria e a verdade de Deus
estão ocultas nas coisas materiais quotidianas precisamente porque são de natu-
reza espiritual. Para que se possa alcançar o que é espiritual é necessária uma
outra forma de conhecer, mais elevada e contemplativa, apenas com os olhos
da mente, o que supõe uma conversão. Na medida em que há um velamento e
uma verdade oculta de natureza espiritual que não é dada a conhecer imedia-
tamente no âmbito material e se exige uma elevação contemplativa, as coisas
materiais podem contribuir e auxiliar no conhecimento das espirituais, fun-
cionando como escada, e nesse sentido o que vela ajuda a desvelar e a conhecer.
O que se valora a seu modo é de certa forma a doutrina da escada do sen-
sível ao inteligível que Platão defende no Banquete e que se assume como uma
constante nos escritos de matriz neoplatónica. Pedro, aqui já parafraseando o
comentário de Tomás Gaulês, comenta precisamente o contributo da ordem
e das belezas sensíveis para a elevação às coisas inteligíveis e a Deus, um auxí-
lio material para uma elevação ao âmbito espiritual. No entanto, vai mais além
do Abade de Vercelli, ao incluir uma nota de sua iniciativa onde sublinha que
o ser humano é constituído por alma e corpo, explicando que este necessita
apoiar-se nas coisas materiais porque são aquelas que estão mais próximas e
são mais familiares. Citamos aqui o corpo completo da nota em causa:
quoniam neque possibile. Nota ibi quod cum homo compositus sit ex anima
et corpore, cum anima sit invisibilis et corpus visibile, prius ei nota sunt que
visibilia sunt quam que sunt invisibilia, quia magis ei sunt familiaria. Unde
cum secundum Apostolum prius sit quod animale est, deinde quod spiritale,
et spiritualia inter materialia lateant, prius oportet animum inducere ad cog-
nitionem invisibilium ut utatur materialium manuductione quam immediata
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ipsorum invisibilium perfruatur contemplatione, ut verbi gratia: si quis autem


non apparentem pulchritudinem velit cordi ostendere, cogitet quia qualis est
materialis substantia in mundo, talis est radius sapientie in animo. Et qualis
est sapientia in animo, talis et ultra quam dici potest splendidius, est Deus
in celo empyreo vel etiam in se ipso. Vides ergo primum. Ex primo cogita
secundum. Ex secundo concipe tertium (Petrus Hispanus, Expositio librorum
Beati Dionysii, pp. 17-18, 31-12).

Destaca-se nesta passagem a importância que as coisas materiais assumem


na condução da alma para o espiritual, do visível ao invisível. O ser humano
eleva-se assim por via da imitação, dos símbolos e das analogias, mas sempre
pela mediação de auxílios espirituais.
A forma como a verdade e a sabedoria divinas estão ocultas e veladas supõe
um problema considerável para aquele que as investiga. Pedro dirá algumas
palavras suas, no trecho antes citado, que refletem a sua leitura: «noli igitur
timere. Noli diffidere de profectu sapientie» (Petrus Hispanus, Expositio libro-
rum Beati Dionysii, p. 16, 25). Apesar do âmbito espiritual estar velado e
oculto ao ser humano enquanto está unido a um corpo material, dá-se a ver,
revela-se. O que o autor realça é assim o papel central desempenhado pela
providência divina, que de outra ordem encontra os caminhos para comunicar,
um natural tocado permanentemente de sobrenatural, onde menos se espera:
«quere igitur ipsum sub illis et tibi se denudabit» (Petrus Hispanus, Expositio
librorum Beati Dionysii, p. 16, 27).
Na obra dionisiana o ser humano descobre-se numa hierarquia de seres,
composta por diversos graus, que tem subjacente uma complexa estrutura de
diferentes mediações e perfeições. Dionísio define-a desta forma:
est quidem Ierarchia, secundum me, ordinatio sancta et scientia et operatio
ad deiformem, sicut possibile est, assimilata, et ad inditas ipsi a Deo illumina-
tiones iuxta proportionem ad Dei inmitativum sursumacta (Petrus Hispanus,
Expositio librorum Beati Dionysii, p. 34, 1-8).

Como vemos, o autor define a hierarquia como uma ordem sagrada de


seres dependentes da iluminação de Deus, em que todos procuram, dentro das
suas diferentes possibilidades, ser o mais possível semelhantes ao criador, atra-
vés do conhecimento e da ação.
Pedro escreve uma pequena introdução ao capítulo III, também de cunho
próprio e que não se encontra nos comentários de Tomás Gaulês, onde abor-
da a definição dionisiana de hierarquia. Citamos aqui a passagem completa:
comendatur autem hic Ierarchia a sex: primo a sanctitate, quam habet in affec-
tu, ibi: sancta; secundo ab ordinatione quam habet in gradu, ibi: ordinatio;
tertio a scientia quam habet in intellectu, ibi: scientia; quarto ab operatione
quam habet in actu, ibi: operatio; quinto ab assimilatione quam habet in habi-
tu, ibi: ad deiformem, sicut in desiderio vel appetitu, ibi: ad inditas ipsi a Deo
illuminationes iuxta proportionem sursumacta. — Utilitas autem Ierarchie est
assimilari Deo et uniri: assimilari scilicet per refulgentiam luminis veritatis in
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intellectu; uniri vero per affluentiam dulcedinis divine bonitatis in affectu,


ut videlicet assimilativo sit luminosa et unitio saporosa (Petrus Hispanus,
Expositio librorum Beati Dionysii, p. 33, 15-28).

Esta passagem do comentário de Pedro incide sobre o texto de Dionísio


que citámos acima, realçando diversos aspetos na sua definição de hierarquia
e do seu fim. Na definição identifica seis aspetos, sendo estes a santidade, a
ordem, o conhecimento, a operação, a semelhança a Deus nos hábitos e o
desejo espiritual de união com Deus. Repare-se na forma prática e simples
como o comentário abarca os elementos fundamentais da definição dionisiana,
realçando a santidade da ordem de seres dependente da iluminação divina, o
conhecimento e a ação dos seres voltada para a procura de uma semelhança
com Deus, assim como no desejo de uma união espiritual.
A par da definição, Pedro acrescenta no seu resumo que a utilidade da
hierarquia é conseguir a semelhança e a união com Deus, tal como se indica
nesta passagem da obra de Dionísio: «intentio igitur Ierarchie est ad Deum,
sicut est possibile, assimilatio et unitio […]» (Petrus Hispanus, Expositio libro-
rum Beati Dionysii, p. 34, 24-25). Neste seguimento, Pedro dá uma explicação
mais autónoma do texto comentado, ao dizer que a semelhança se dá pela luz
da verdade no intelecto e a união pela doçura da vontade divina no amor. À
semelhança corresponde o luminoso, à união o saboroso. Note-se aqui um
certo pendor místico da iniciativa de Pedro, ao jeito do estilo dionisiano. Mais
adiante, ao longo do capítulo III, já parafraseando a Extractio de Tomás Gau-
lês e também seguindo de perto a tradução de Sarraceno, Pedro considera que
o nome de hierarquia é atribuído a um conjunto de seres racionais ordenados
de modo distinto por graus e funções, que reflete o conhecimento e as ações
divinas, e que se assemelha a Deus segundo as possibilidades de cada ser.
Assim, a perfeição da hierarquia existe para cada um de modo diferente, segun-
do o grau com que seja reconduzido à imitação do divino e tornado coopera-
dor. Deus gera em todos uma conformidade na medida do possível e é dessa
forma que se estabelece uma ordem dividida por graus e funções. A ordem da
hierarquia tem de ser descendente e degradativa, os superiores medeiam os
inferiores, expondo-se desta forma a estrutura de mediações que encontramos
no texto dionisiano e na tradição neoplatónica em geral.
As ordens superiores purificam, iluminam e aperfeiçoam as inferiores, ade-
quando-se à peculiaridade de cada um dos seres hierárquicos, de tal forma que
todos possam participar na felicidade divina. Pedro acrescenta que Deus não
tem qualquer dissemelhança e, por isso, purifica, está pleno de uma luz eterna
que ilumina e, na medida em que é plena, nada lhe falta, por isso, aperfeiçoa.
Deus é assim purificador, iluminador e aperfeiçoador. É neste contexto que
acrescenta uma breve nota de sua iniciativa. Citamos a nota completa:
purgatio est recessus ab ignoto per fortitudinem divini amoris. Illuminatio est
accessus ad cognitum per virtutem divini splendoris. Perfectio est unitio ad id
ipsum per magnitudinem divini dulcoris (Petrus Hispanus, Expositio librorum
Beati Dionysii, p. 37, 11-16).
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O bonito texto da nota, a que não é alheio uma vez mais um certo pendor
místico que já assinalámos acima, acrescenta que o amor divino liberta da
ignorância e isso é a purificação, que abre para o conhecimento espiritual, que
é a iluminação, e a união com Deus, que é a perfeição. Assim, se tivermos em
conta esta nota juntamente com o resumo introdutório do começo do tercei-
ro capítulo que citámos acima, encontramos aspetos particulares da leitura que
Pedro faz do texto dionisiano, uma leitura própria, diversa das suas principais
fontes, nomeadamente da tradução de Sarraceno e dos comentários de Tomás
Gaulês. Pedro resume os conceitos fundamentais da conceção de hierarquia
preconizada por Dionísio, nomeadamente a purificação, a iluminação e a per-
feição, que assim aparecem ligados ao amor divino e à imitação e união com
Deus. Mais além da valorização destes conceitos, tanto a introdução como a
nota vincam a relação da criatura com Deus, realçando predominantemente
a necessidade de assistência, mediação e dependência da primeira, elevando e
destacando a prioridade divina. Esta relação hierárquica liga-se às diversas
ordens de seres angelicais e ao reflexo da ordem geral e da hierarquia espiritual
na ordem e na hierarquia entre os seres humanos, desde logo através de uma
hierarquia eclesiástica.
Pedro atém-se ao longo do seu comentário aos diferentes níveis de ordens
angelicais que propõe Dionísio. O primeiro princípio é Deus, seguido das
ordens em sentido descendente de proximidade e perfeição espiritual, Serafins,
Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos
e Anjos. No resumo introdutório ao capítulo XII10, também de sua iniciativa,
Pedro sublinhará o lugar hierárquico do ser humano. Do mesmo modo que a
hierarquia angélica se organiza por graus de perfeição, o mesmo deve suceder
na hierarquia humana, dependendo a inferior da superior, sempre num pro-
cesso degradativo. A hierarquia humana ordena-se no reflexo da ordenação
espiritual, pela hierarquia eclesiástica, que no topo tem os bispos, que no seu
grau e de acordo com as suas possibilidades, imitam os anjos que lhes estão
acima, cooperando com Deus, purificando, iluminando e aperfeiçoando:
sicut enim angelorum officium est purgare, illuminare et perficere, ita episco-
pus sive ierarcha ad similitudinem angelorum purgat, dum baptizat non auc-
toritate sed ministerio; illuminat vero, dum predicat; perficit, dum ad Deum
subvehit (Petrus Hispanus, Expositio librorum Beati Dionysii, p. 86, 16-2).

A passagem indica bem como o lugar dos bispos é imitar o mais possível
os anjos na realização das suas funções hierárquicas, expressão do reflexo de
uma ordem na outra. No restante texto introdutório ao capítulo XII, encon-
tram-se as caraterísticas que apontámos antes a propósito de outras notas e
resumos introdutórios:
vel purgat, dum cooperant Dei gratia movet ad conpuctionem; illuminat, dum
elevat ad Dei cognitionem; perficit vero, dum informat ad piam actionem

10. Petrus Hispanus, Expositio librorum Beati Dionysii, p. 86, 15-26.


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et extollit ad celestium contemplationem. Ille tamen vere perfectus est, qui


et in opere est pius vel virtuosus et in contemplatione purus vel affectuosus.
Dicitur etiam ierarcha angelus, quia divine voluntatis est enuntiativus (Petrus
Hispanus, Expositio librorum Beati Dionysii, p. 86, 20-26).

Purificação, iluminação e aperfeiçoamento enaltecem uma vez mais a priori-


dade do auxílio divino e da intervenção de Deus, uma marca do autor que acom-
panha os seus mais importantes contributos do início ao fim do comentário.
A referência que Pedro faz aos bispos no resumo introdutório dará lugar
mais adiante no texto, já parafraseando a Extractio de Tomás Gaulês, à referên-
cia ao Sumo Pontífice11, colocando-o à cabeça da hierarquia humana, enquan-
to reflexo da hierarquia espiritual, inserindo-o no esquema geral de mediações
e atribuindo-lhe as funções de purificar, iluminar e aperfeiçoar como determi-
nantes no papel desempenhado pelos mediadores, expondo a importância deci-
siva da hierarquia eclesiástica no âmbito da relação do ser humano com Deus.
No âmbito desta relação reveste-se da maior importância saber qual o melhor
modo de conhecer Deus. No segundo capítulo da obra, Dionísio escreve sobre
o uso dos símbolos para dizer as verdades divinas, defendendo o uso de expres-
sões negativas que descrevem precisamente aquilo que Deus não é, por conser-
varem e salvaguardarem melhor o mistério divino. Pedro segue Dionísio, e o seu
comentário nesta questão parafraseia o de Tomás Gaulês, distinguindo duas
formas de conhecer Deus. Uma que passa por dizer o que Deus é, outra que diz
o que não é, a via positiva e a negativa. Citamos o seguinte excerto:
[…] iste modus secundus efficacius nos inducit ad cognitionem Dei. Quo-
niam, sicut secretius ab apostólica doctrina accepimus, non proprie dicitur
Deus esse aliquid existens aut intelligibile. Unde ab eo possunt omnia vere
et proprie removeri, nichil autem proprie affirmari. Secundus autem modus
plus congruit negationibus que proprie sunt, quam primus, ut patet in Mistica
Theologia. Vere enim ignoramus supersubstantialem et incomprehensibilem et
ineffabilem ipsius infinitatem, que ipsam excedit unitionem. Cum ergo omnia
de Deo vere et proprie negentur et removeantur et nichil proprie de ipso affir-
metur, divino oculto convenientior est manifestatio per viliores et dissimiliores
formas sensibiles quam per pretiosiores. Dum ergo sacra scriptura designat
divina et celestia formis vilioribus, non ipsa per hoc dehonestat sed honorat.
Et ostendit per hoc quod ipsa supermundane excedant omnia sensibilia vel
materialia (Petrus Hispanus, Expositio librorum Beati Dionysii, p. 25, 8-23).

Nesta passagem Pedro inclui por sua iniciativa uma remissão para a Teologia
mística em defesa do segundo modo de conhecimento. Nesse tratado, Dionísio
defende que Deus não pode ser nem uma coisa sensível nem um conceito, por-
que está mais além de todas as coisas e dessa forma está mais além de toda a
afirmação e de toda a negação, transcendendo tudo o que é conhecido. No
comentário a esta obra de Dionísio, Pedro valoriza estas ideias, sublinhando que
Deus está para além de todas as coisas e que nenhuma comparação com uma

11. Petrus Hispanus, Expositio librorum Beati Dionysii, p. 100, 10.


Ordem e hierarquia no comentário a De angelica hierarchia Supplement Issue, 2018   409

coisa pode ser verdadeira, realçando a utilidade da via negativa. No seu comen-
tário a De angelica hierarchia, como já indicava a remissão, encontramos a mesma
ideia, a defesa da importância de dizer o que Deus não é, a negação como forma
de aproximação ao conhecimento verdadeiro. Releva também a ignorância
humana e a transcendência da substância divina, valorizando mais a incognos-
cibilidade, no sempre nem isto nem aquilo de um aproximar indefinido, indican-
do a exigência decisiva de uma outra prática de entrega espiritual. Deus mani-
festa-se assim através de formas diversas, que não são mais que indicações
simbólicas e analógicas, e desse modo até auxiliadoras, mas essencialmente dife-
rentes quando identificadas literalmente. Pedro segue pela via negativa, apon-
tando assim esse absoluto e esse para além de todas as coisas de Deus12.

3. Últimas considerações
Ao longo do nosso estudo procurámos mostrar a leitura que Petrus Hispanus
faz de De angelica hierarchia de Pseudo-Dionísio Areopagita no âmbito do tema
proposto. Tendo em conta as caraterísticas deste comentário, que se carateriza
pela proximidade aos comentários feitos por Tomás Gaulês e à tradução de João
Sarraceno, procurámos principalmente relevar as passagens de cunho próprio
do autor. Tratámos assim a relação entre a unidade e a multiplicidade; a ema-
nação de Deus e a dependência das criaturas; a definição da hierarquia e o seu
fim próprio; o reflexo da ordem e da hierarquia angelical na humana; e a melhor
forma de conhecer Deus. As passagens que realçámos desta obra evidenciam
uma especificidade própria na abordagem de Pedro que, por um lado, valoriza
e acentua o papel da mediação de Cristo, delimita a definição de hierarquia e
da sua utilidade, a reflete sobre a relação entre a hierarquia angelical e humana
e valoriza a via negativa para o conhecimento de Deus. Por outro lado, podemos
observar que os contributos do autor, nomeadamente os resumos, explicações
e teorizações que introduz, caraterizam-se por um peculiar pendor místico e
uma maior valorização do papel da assistência divina frente à criatura.

Referências bibliográficas

Fontes
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Manuel Alonso: Pedro Hispano. Exposição sobre os livros do Beato Dioní-
sio Areopagita (Expositio librorum Beati Dionysii). Lisboa: Instituto de Alta
Cultura e Centro de Estudos de Psicologia e de História da Filosofia da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
— (2008). De mystica theologia. Traduzido por Maria Leonor Lamas de Oli-
veira Xavier: Teologia Mística. Textos de Pedro Hispano e Tomás Galo.
Lisboa: Ésquilo.

12. Sobre esta questão: vd. Xavier (2008: 20).


410   Enrahonar. Supplement Issue, 2018 João Rebalde

Thomas Gallus (2011). Explanatio in Libros Dionysii. Editado por Declan


Anthony Lawell: Explanatio in Libros Dionysii (Corpus Christianorum
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1066.
— (2008). «Introdução». In: Teologia Mística. Textos de Pedro Hispano e Tomás
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João Rebalde é doutorado pela Universidade do Porto e membro integrado do Instituto de


Filosofia da Universidade do Porto. As suas principais áreas de investigação são o neoplatonismo,
a Filosofia Medieval e a Escolástica peninsular, no âmbito das quais tem apresentado comuni-
cações e publicado livros e artigos. É atualmente investigador de pós doutoramento do projeto
Critical Edition and Study of the Works Attributed to Petrus Hispanus — 1, dirigido pelo Profes-
sor Doutor José Meirinhos, no Instituto de Filosofia da Universidade do Porto.

João Rebalde took his doctoral degree at the Univesidade do Porto and is a member of the
Instituto de Filosofia of this University. His main areas of research are Neoplatonism, Medieval
Philosophy and Peninsular Scholasticism, with several publications on these subjects. At present
he is a postdoctoral researcher in the project Critical Edition and Study of the Works Attributed
to Petrus Hispanus — 1, directed by José Meirinhos at the Instituto de Filosofia of the Univer-
sidade do Porto.

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