Direito Fiscal I: 2019/2020 Marisol Vale
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Direito Fiscal I: 2019/2020 Marisol Vale
2019/2020
MARISOL VALE
DIREITO FISCAL I | Marisol Vale
• DIMENSÃO SUBJETIVA:
− Prestação exigida a (ou devida por) detentores de capacidade contributiva (=aqueles que
revelem, através dos rendimentos que auferem, dos bens cuja titularidade lhes corresponda ou do consumo
que realizem, dispor de capacidade financeira para contribuir para sustentar os encargos públicos);
− Prestação a favor de entidades que exerçam funções públicas.
• DIMENSÃO TELEOLÓGICA:
− As receitas obtidas têm de se destinar à realização de tarefas de interesse geral (caráter
financeiro do imposto) – artigo 103.º/1 CRP;
− O imposto não tem caráter sancionatório (=contraordenações, multas, confisco,
indemnizações – artigo 10.º da LGT).
No âmbito do elemento teleológico, impõe-se distinguir os verdadeiros impostos (ou impostos fiscais), cuja
finalidade principal é a obtenção de receitas para o Estado, dos falsos impostos (ou impostos extrafiscais), cujo
objetivo principal é evitar ou obstar à verificação do respeito pressuposto de facto ou facto gerador (no fundo, estes
“impostos” pretendem desincentivar determinados comportamentos – ex.: taxa sobre lâmpadas de baixa eficiência).
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Sendo o imposto uma prestação unilateral, distingue-se claramente dos tributos bilaterais entre os quais se
destacam as taxas. De facto, as taxas são prestações às quais corresponde uma contraprestação específica. As taxas
assumem-se como prestações pecuniárias que têm como contrapartida a prestação de um serviço/atividade público,
prestado especificamente ao sujeito obrigado pela taxa.
Nos termos do artigo 4.º/2 LGT: “as taxas assentam na prestação concreta de um serviço público, na utilização
de um bem do domínio público ou na remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares”.
A divisão mais razoável, em termos jurídico-constitucionais, parece ser a divisão dicotómica, reconhecendo-
se uma verdadeira summa divisio em sede de tributos. No fundo, consideramos que todos os tributos deverão ser
reconduzidos ou a impostos ou a taxas.
❖ Enquanto os impostos são prestações unilaterais (pois não têm qualquer contraprestação específica), as
taxas assumem-se como a contraprestação devida pela prestação de um determinado serviço público (ou seja,
correspondem-lhes determinados serviços prestados pelo Estado ou por outras entidades públicas);
❖ Os impostos deverão submeter-se ao princípio da legalidade fiscal, sendo que a sua medida terá por base o
princípio da capacidade contributiva (artigo 104.º/1 CRP e artigo 4.º/1 LGT). Já as taxas, bastam-se com a reserva do
seu regime geral à lei parlamentar (ou a decreto-lei autorizado), assentando a sua medida no princípio da
proporcionalidade (entre a taxa e o serviço prestado ou os custos específicos causados à comunidade);
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❖ Enquanto aos impostos se aplica o princípio da não retroatividade (artigo 103.º/3 CRP), às taxas aplica-se
apenas o princípio geral da segurança jurídica (artigo 2.º CRP);
❖ A identificação de um tributo como imposto ou taxa depende de dois testes: o teste da bilateralidade e o
teste da proporcionalidade. Não basta, portanto, que o tributo tenha caráter bilateral, exige-se também que a sua
medida seja auferida com base na ideia de proporcionalidade. Se, por exemplo, determinado tributo passar o teste
da bilateralidade, mas não o da proporcionalidade, então deverá ser qualificado como imposto. Consequentemente,
tais tributos deverão sujeitar-se ao princípio da legalidade fiscal, o que poderá precipitar a sua inconstitucionalidade.
DIVISÃO DICOTÓMICA
Impostos Taxas
Princípio da capacidade
contributiva
A sua medida assenta no princípio da
proporcionalidade taxa/prestação
estadual proporcionada ou taxa/custos
específicos causados à respetiva
comunidade
➔ CONTRIBUIÇÕES FINANCEIRAS:
São taxas cobradas para a cobertura das despesas de pessoas coletivas públicas não territoriais. Visam o
sustento financeiro dessas entidades. São intituladas de tributos parafiscais. Não são impostos porque não são uma
participação nos gastos gerais da comunidade, mas também não são uma retribuição de um serviço concretamente
prestado por uma entidade pública ao sujeito passivo.
Os autores que sustentam uma classificação tripartida dos tributos individualizam esta categoria. De facto, o
artigo 165.º/1/i) CRP refere-se somente aos impostos e às taxas e demais contribuições financeiras. Alguns preceitos
repetem o prescrito no preceito constitucional (associando as “demais contribuições financeiras” às taxas) ou
consideram como impostos algumas contribuições especiais (ex.: artigo 4.º/3 LGT). Portanto, as contribuições
financeiras não são objeto de um regime jurídico unitário, sendo as contribuições especiais consideradas impostos e
as demais contribuições financeiras equiparadas às taxas.
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➔ CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS:
São consideradas impostos e podem assentar na obtenção pelo sujeito passivo de benefícios ou aumentos
de valor dos seus bens em resultados de obras públicas ou de criação ou ampliação de serviços públicos ocasionados
pelo exercício de uma atividade (artigo 4.º/3 LGT).
Esta distinção assenta no peso relativo da incidência real e da incidência pessoal dos impostos.
• Nos impostos reais atinge-se a matéria coletável objetivamente determinada (matéria tributável), não se
tem em consideração a situação económica e pessoal do contribuinte – exemplo: IVA, IMT, IRC, IMI.
• Nos impostos pessoais tem-se em consideração a concreta situação económica e social do contribuinte –
exemplo: IRS. As características típicas dos impostos pessoais são as seguintes:
− Atende-se ao rendimento global do contribuinte;
− Excluem o mínimo de existência;
− Admitem deduções de encargos sociais de natureza pessoal e familiar;
− Aplicação do quociente familiar aos contribuintes casados e aos que vivem em união de facto e
optem por esta modalidade;
− Sujeição da matéria coletável a uma taxa progressiva.
• Os impostos periódicos assentam numa relação jurídica duradoura e a liquidação é efetuada periodicamente
enquanto se mantiver o pressuposto da tributação – exemplo: IRC, IRS.
• Os impostos de obrigação única correspondem a atos isolados, mesmo quando repetidos, ou seja, são
aqueles em que a obrigação do imposto constitui-se instantaneamente – exemplo: IVA.
Esta matéria tem especial importância em sede de contagem dos prazos da caducidade da liquidação e da
prescrição da obrigação de imposto. Tais prazos são contabilizados em termos diferentes consoante estejamos
perante impostos periódicos ou perante impostos de obrigação única:
− Nos primeiros, os prazos contam-se a partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário;
− Nos segundos, os prazos contam-se a partir da data em que ocorreu o facto tributário – artigos
45.º/4 e 48.º/1 LGT.
A diferença reflete-se também na aferição da natureza e limites da retroatividade das leis fiscais.
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Nos casos em que o facto tributário que a lei nova pretende regular já se tenha formado totalmente, então
estará em causa a proibição constitucional da retroatividade (autêntica) – o que, nos impostos de obrigação única,
não coloca maiores problemas.
Já nos impostos periódicos, em que o facto tributário ainda está em formação e advém uma nova lei,
configura-se uma retroatividade inautêntica ou até, para alguns autores, uma retrospetividade.
Para este efeito, o Tribunal Constitucional português, analisando a constitucionalidade de leis que
modificaram a taxa do IRS ao longo do ano fiscal, já decidiu que “é possível, no que diz respeito aos impostos
periódicos, a aprovação de leis no decurso do período de tributação que se destinem a produzir efeitos em relação a
todo esse período, ficando, no entanto, tais leis sujeitas ao teste resultante dos princípios do Estado de Direito, como
seja o teste da proteção da confiança (e não, assim, à expressa vedação de retroatividade do art. 103.º/3 da CRP)”.
• Critério económico em sentido estrito: este critério tem em conta a integração ou não dos impostos nos
custos de produção das empresas.
− Serão impostos diretos aqueles que não constituem custos de produção das empresas e impostos
indiretos aqueles que constituem custos de produção das empresas. Consequentemente, os impostos
diretos não são tidos no apuramento do produto e rendimentos nacionais.
− Já os impostos indiretos, são deduzidos ao produto nacional de modo a obter-se o produto nacional.
No fundo, de acordo com este critério, os impostos indiretos correspondem aos impostos sobre o consumo.
• Critério do tipo de relação jurídica base do imposto: a distinção entre impostos diretos e indiretos reside,
nos termos deste critério, no tipo de relação jurídica fonte da obrigação de imposto: está em causa uma obrigação
instantânea ou duradoura? As relações instantâneas verificam-se quando a relação obrigacional é desencadeada por
um facto ou ato isolado ou por vários factos ou atos sem continuidade entre si. Tais relações dão origem a uma
obrigação de imposto isolada, qualificando-se o imposto devido como indireto. Por sua vez, as relações duradouras
consistem naquelas relações jurídicas que têm como base situações estáveis, situações que se prolongam no tempo.
Tais relações dão origem a obrigações periódicas, que se renovam todos os anos, falando-se aqui em impostos
diretos. Em suma, a distinção entre impostos diretos e indiretos coincide com a distinção entre impostos periódicos
e impostos de obrigação única.
Esta distinção tem que ver com o modo de determinar o montante individual do imposto, ou seja, o montante
a pagar por cada contribuinte.
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• Impostos de quota fixa: a lei fixa uma quantia fixa, a pagar por todos os contribuintes;
• Impostos de quota variável: a lei determina que o montante de imposto a pagar por cada contribuinte varia
consoante a matéria coletável, indicando a percentagem a aplicar à matéria coletável para o apuramento da coleta.
Estes impostos de quota variável podem ser:
o Impostos proporcionais ou de taxa fixa: a taxa mantém-se inalterada independentemente do valor
da matéria coletável;
o Impostos regressivos: a taxa diminui à medida que aumenta a matéria coletável;
o Impostos progressivos: a taxa aumenta à medida que aumenta a matéria coletável (IRS):
− Progressividade global: a matéria coletável é dividida em classes, partindo do zero ou do
mínimo de isenção, fazendo-se depois corresponder uma taxa a cada classe de matéria coletável, taxa
que se aplica à totalidade da matéria coletável;
− Progressividade por escalões: a matéria coletável é igualmente dividida em várias partes,
sendo cada uma delas tributada à taxa correspondente.
Os impostos de quota fixa dispensam a fase da liquidação, pois o montante da coleta consta da própria lei.
Estes impostos têm, ainda assim, de subordinar-se ao princípio da igualdade fiscal aferida pela capacidade
contributiva. Daí que, embora o montante do imposto conste da lei, tal montante terá de ter por base uma
manifestação da capacidade contributiva dos contribuintes.
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Universalidade
Igualdade
Materiais Justiça
Progressividade
Princípios
Capacidade
económica
Formais Legalidade
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Nos termos do artigo 238.º/4 da CRP, as autarquias locais podem dispor dos poderes tributários atribuídos
pelo legislador, nos quais se integra o poder tributário strictu sensu (poder de criar impostos e disciplinar os seus
elementos essenciais).
O princípio da reserva de lei formal implica que a regulamentação da matéria fiscal conte sempre com uma
intervenção da lei parlamentar. A criação de impostos e a matéria fiscal integram as matérias de reserva relativa de
competência legislativa da AR (artigo 165.º/1-i) CRP).
Consequentemente, ou a disciplina dos impostos é regulada diretamente por lei parlamentar, ou aquela
disciplina é elaborada pelo Governo ao abrigo de uma lei de autorização emanada pela AR.
Mesmo quando tenha lugar tal autorização, a lei parlamentar que a concede terá de fixar, no mínimo, uma
indicação sumária quanto aos elementos essenciais dos impostos (artigo 165.º/2 CRP).
As matérias reservadas no artigo 165.º/1-i) da CRP são também da competência das assembleias regionais
das regiões autónomas (artigo 227.º/1-i) CRP) e das assembleias municipais (artigo 238.º/3 CRP).
O princípio da tipicidade ou da reserva material de lei exige que a lei contenha a disciplina tão completa
quanto possível dos elementos essenciais dos impostos (artigo 103.º/2 CRP):
• Incidência;
• Taxa ou alíquota do imposto;
• Benefícios fiscais;
• Garantias dos contribuintes.
A lei deve abranger estas matérias quer se trate da criação ou do aumento dos impostos como da sua
extinção ou diminuição.
Menos segurança
para os contribuintes
Mais
Menos tipicidade e mais eficiência no
discricionariedade
combate à fraude e
evasão fiscais
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aos impostos retroativos demonstra que estes constituem uma violação gravíssima ao princípio do Estado de Direito,
nomeadamente aos subprincípios concretizadores da segurança e da proteção da confiança.
→ QUANDO É QUE O IMPOSTO TEM NATUREZA RETROATIVA? Quando se reporta a factos tributários já
ocorridos. Estamos perante situações da vida que já ocorreram e que a norma legal posterior vem tributar, sem que
antes estivessem sujeitas a tributação, ou quando a norma vem agravar a respetiva tributação.
• Impostos de obrigação única: o imposto é retroativo sempre que abrange factos tributários que já
ocorreram previamente;
• Impostos com liquidações agregadas (ex:. IVA): por motivos de praticabilidade, ocorre a liquidação agregada
de um conjunto de factos tributários.
− E se a alteração legislativa ocorrer durante esse período? Só poderá incidir sobre factos tributários
futuros.
− E se por motivos de praticabilidade não for possível a fragmentação do período de tributação? O
agravamento fiscal apenas poderá ser aplicado ao período tributário seguinte, em que todos os factos
tributários sujeitos a agregação tenham tido lugar depois da entrada em vigor da norma fiscal que agrava a
tributação.
↓
RETROATIVIDADE INAUTÊNTICA
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• Impostos periódicos: sendo o facto tributário contínuo, se o agravamento fiscal ocorrer durante o ano fiscal
apenas deve ser aplicado ao período decorrido a partir da sua entrada em vigor.
− Mas e se por motivos de praticabilidade não for possível a fragmentação do período de tributação?
↓
RETROSPETIVIDADE
A admissibilidade constitucional do agravamento fiscal deverá ser analisada em função do princípio
da proteção da confiança legítima porque o facto tributário ainda não se esgotou, logo não se aplica a
proibição do artigo 103.º/3 da CRP.
O princípio da proteção da confiança em matéria de lei fiscal retroativa não se esgota na proibição de
impostos retroativos. Aplica-se também:
• Às situações de retroatividade inautêntica – a alteração legislativa tem lugar depois de ter esgotado
o facto tributário, mas antes de efetuada a sua liquidação e cobrança;
• Às situações de lei fiscal retrospetiva – em que o facto tributário ainda não completou a sua
formação.
RETROATIVIDADE DA LEI FISCAL QUANDO NÃO INTERFERE COM OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DOS IMPOSTOS:
↓
Aplicação do princípio da proteção da confiança
↓
Não onera a tributação de factos tributários passados ou que se iniciaram em momento passado e ainda decorrem,
mas revela-se prejudicial para os sujeitos passivos por lhes impor novos encargos com os quais eles legitimamente
não contavam
↓
Violação das expectativas legítimas
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Trata-se de uma posição demasiado restritiva: o que releva é o momento em que o facto tributário ocorreu.
DUAS NOTAS:
• PROSPETIVIDADE RETROATIVA:
− O Direito Fiscal é um direito ablativo, ou seja, faz parte do conjunto/da matéria do Direito
Administrativo onde tradicionalmente a Administração atuava de forma agressiva, ou seja, podia aqui restringir para
uns ou limitar para outros os direitos de propriedade através do pagamento dos impostos. Nós, quando tomamos
decisões com impacto fiscal, essas decisões são feitas à luz de uma lei que existia no momento. O problema é que a
lei fiscal está em constante alteração. A própria ideia de prospetividade, de que as normas fiscais só valem para o
futuro, é válida, mas também temos de ter em conta que isso não impede que o quadro de referência com base no
qual são tomadas decisões de investimento possa vir a ser afetado por essa alteração posterior. Do ponto de vista da
captação do investimento externo, não é só a taxa do imposto que conta, é o nível de simplicidade do próprio
imposto fiscal, a forma como a Administração se relaciona com os contribuintes e até a própria estabilidade da lei
fiscal.
*Contudo, sempre que exista uma regra especial constante de convenção internacional, a mesma prevalece.
A regra do “worldwide income” estabelece que relativamente à tributação das pessoas singulares ou
coletivas que sejam residentes ou que tenham sede em Portugal, na tributação dos residentes, a lei fiscal abrange
não apenas os rendimentos obtidos em território português, mas também aqueles que forem obtidos fora desse
território.
No artigo 13.º do CIRS diz-nos quem é que está sujeito a IRS: os residentes em Portugal e os que, não sendo
residentes, obtenham rendimentos em Portugal.
A tributação dos residentes e dos não residentes vai ter regras diferentes e isso consta do artigo 15.º do
CIRS.
O legislador estabeleceu uma norma anti-abuso para prevenir situações de invasão ou planificação abusiva e
de invasão à aplicação das normas fiscais nacionais – artigo 16.º/6 CIRS.
No caso do IRC as regras são as mesmas.
IRS
ELEMENTOS DE CONEXÃO Residência Origem ou fonte dos rendimentos
Residentes (artigo 13.º/1
QUEM ESTÁ SUJEITO A IRS? Não residentes (artigo 13.º/1 segunda parte)
primeira parte e 16.º CIRS)
Regra do WWI Rendimentos obtidos em território português
ÂMBITO DA SUJEIÇÃO
(artigo 15.º/1 CIRS) (artigo 15.º/2 e 18.º CIRS)
IRC
ELEMENTOS DE CONEXÃO Sede/direção efetiva Origem ou fonte dos rendimentos
Entidades com sede ou direção
Entidades com sede ou direção efetiva em
QUEM ESTÁ SUJEITO A IRC? efetiva em território português
território português (artigo 2.º/1-c) CIRC)
(artigo 2.º/1-a,b) CIRC)
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Quando um sujeito fica obrigado a pagar impostos por rendimentos obtidos no estrangeiro, sendo também
tributados no território em que são obtidos, estes ficarão sujeitos a uma dupla tributação: uma tributação no país de
residência e uma tributação no país de obtenção do rendimento.
Para resolver este problema tem-se seguido um modelo de uma convenção (OCDE). Essa convenção-modelo
é no fundo apenas um modelo, não é vinculativa para os Estados. Os Estados têm adotado nas suas convenções
bilaterais as regras dessa convenção-modelo. Mesmo nos casos em que não há convenção para evitar a dupla
tributação, há regras no direito interno (por exemplo no artigo 81.º do CIRS) que visam também resolver esse
problema).
Pode haver também dupla tributação no plano interno: se uma sociedade for tributada em IRC e depois
distribuir os lucros, fala-se em dupla tributação económica porque o mesmo rendimento vai ser tributado em IRC na
esfera da sociedade, mas quando for distribuído aos sócios (pessoas singulares) vai ser tributado em IRS – é uma
tributação económica e não jurídica porque os sujeitos jurídicos são diferentes.
→ Segundo o critério da generalidade, todos hão de ser chamados a pagar impostos, ao cumprimento desse
dever fundamental de modo a que sejam satisfeitas as necessidades do Estado ao nível da perceção das receitas
públicas.
→ Por outro lado, todos hão de ser chamados a pagar impostos de acordo com o mesmo critério e este critério
a nível fiscal é o da capacidade contributiva. Portanto, sujeitos com igual capacidade contributiva hão de pagar
impostos iguais e sujeitos com capacidade contributiva diferente hão de pagar impostos diferentes na medida da
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diferença. O princípio da capacidade contributiva constitui o termo de comparação com base no qual se vai apurar a
diferente carga fiscal que recai sobre os sujeitos passivos.
3.2. CRÍTICAS
Há quem reconheça aqui uma certa indeterminação do princípio, fala-se até que este princípio se traduz numa
fórmula “passe-partout” de grande abertura e indeterminação, mas na visão do Doutor tratam-se de críticas que
devem ser ultrapassadas porque este principio enquanto principio conformativo projeta na ordem jurídica
importantes concretizações relativamente às quais assume um caráter verdadeiramente essencial.
• Este princípio exige que na construção da incidência haja uma preocupação em construir o imposto
sobre bens fiscais, ou seja, apenas aqueles pressupostos de facto estarão legitimados enquanto norma de incidência
objetiva do imposto. Ao selecionar os factos tributários, o legislador deve preocupar-se em estabelecer o imposto
fazendo recair apenas sobre factos que sejam expressivos e reveladores, que nos desvelem uma particular capacidade
contributiva para pagar o imposto. A incidência e a construção do imposto devem recair sobre bens fiscais, sobre
factos expressivos da existência de uma verdadeira capacidade contributiva/económica.
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• Um dos préstimos do princípio da capacidade contributiva reside no facto de excluir outros critérios
com base nos quais possa basear-se a tributação ao nível dos impostos, por exemplo o critério do benefício ou outro
critério de capitação (em que o imposto fosse cobrado per capita). No âmbito dos tributos unilaterais, estes critérios
são afastados em prol do princípio da capacidade contributiva.
o O princípio do benefício diz-nos que os contribuintes devem ser chamados a pagar impostos
em função do benefício que aferirem com a atividade do Estado, o que se traduz num critério que também
devemos pôr de lado porque aqueles que mais beneficiam da atividade do Estado devem ser aqueles que mais
beneficiam dessa atividade e que, portanto, menores rendimentos têm de forma a poderem depender menos
da atuação pública.
• Excluindo estes critérios, o princípio da capacidade contributiva afirma-se como o verdadeiro critério
com base no qual há de ser repartida a carga fiscal nesta comunidade solidária de contribuintes em que nos inserimos.
Cada um há de pagar o imposto de acordo com a sua capacidade contributiva, de acordo com a sua capacidade para
efetivamente contribuir para a satisfação das necessidades financeiras do Estado. Este no fundo é o critério que mais
vai ao encontro de uma ideia de igualdade.
• O princípio da capacidade contributiva exige que exista uma relação efetiva entre a prestação
tributária (o pagamento do imposto) e o seu pressuposto económico, ou seja, apenas aqueles factos que sejam
efetivamente expressivos de uma capacidade contributiva hão de estar subjacentes ao pagamento do imposto. Se é
assim, devemos ter aqui uma conexão entre a prestação tributária e a realidade a partir da qual essa prestação
tributária resulta.
• A capacidade contributiva há de ser a sua base construída baseada numa realidade efetiva, portanto
não pode ser ficcionada pelo legislador. Por outro lado, a capacidade contributiva há de ser revelada através dos
rendimentos que são efetivamente auferidos por um determinado sujeito passivo. Decorre desta exigência a
proibição de o legislador efetuar presunções inilidíveis relativamente às normas de incidência – artigo 73.º LGT. A
capacidade contributiva não se presume de forma inilidível, ou seja, não se presume nem se ficciona, existe – e só
enquanto existir é que de facto temos uma base material fundamental do imposto que está a ser exigido a um sujeito
passivo.
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✓ Artigo 104.º/2: a tributação das empresas incidirá fundamentalmente sobre o seu rendimento real.
↓
Esta ligação da noção de rendimento real ao princípio da capacidade contributiva não é inédita. Trata-se de
uma exigência que a Constituição impôs ao legislador na criação dos impostos sobre o rendimento na parte da
tributação das empresas, em particular na parte da tributação das sociedades e fê-lo para afastar o regime anterior
onde apenas as grandes empresas eram tributadas de acordo com rendimentos efetivos. A generalidade das demais
eram tributadas em grande medida pelo rendimento que poderiam ter obtido laborando em condições normais. A
Constituição quis deixar claro que o critério aqui devia ser à partida o do lucro/rendimento real.
Em qualquer medida, a capacidade contributiva não deve à partida aferir-se segundo critérios de pura
normalidade, ou seja, segundo aquilo que acontece na maior parte dos casos, mas sim a partir de realidade, a partir
dos rendimentos efetivos e realmente auferidos pelos sujeitos passivos.
Se tivermos de elencar um âmbito no qual este princípio adquire a maior expressividade, esse será sempre o
âmbito dos impostos sobre o rendimento e aqui é de facto o âmbito onde o princípio acaba por ter um maior alcance
que resulta de uma tríplice exigência na construção estrutural dos impostos sobre o rendimento:
− Por um lado, este princípio exige que o imposto incida sobre um conceito amplo de rendimento, um
conceito que abranja todo e qualquer incremento patrimonial que seja aportado à esfera do sujeito passivo,
um conceito de rendimento que não exige que este provenha de forma regular e constante de uma
determinada fonte produtora, de uma atividade económica regular, mas que igualmente abrange os
acréscimos patrimoniais que nos termos das normas de incidência sejam imputáveis a um determinado sujeito
passivo. O artigo 9.º do CIRS funciona como uma cláusula residual de abertura da incidência do imposto a
realidades que dificilmente estariam compreendidas numa noção restrita do rendimento enquanto produto
de uma qualquer atividade.
− Por outro lado, o princípio da capacidade contributiva exige também que os impostos sobre o
rendimento atendam à noção de rendimento líquido, ou seja, que se tenha em conta o montante dos gastos
e dos encargos que são suportados por um determinado sujeito passivo para obter os proveitos/rendimentos.
O imposto deve recair apenas sobre rendimentos líquidos, ou seja, rendimentos uma vez abatidos os gastos e
os encargos suportados pelo sujeito passivo para gerar esses rendimentos. Dois sujeitos com o mesmo
rendimento bruto podem ter rendimentos líquidos diferentes.
− O princípio exige ainda que o legislador tenha em conta o rendimento disponível, ou seja, que sejam
tidas em conta determinadas despesas realizadas com esse rendimento e que são despesas essenciais – artigo
78.º.
− O princípio da capacidade contributiva não exige que a taxa do imposto seja progressiva, o que não
quer dizer que a progressividade do imposto seja incompatível com este princípio.
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Quando falamos de igualdade não falamos apenas de uma igualdade perante a lei, mas de uma verdadeira
igualdade material que o princípio da capacidade contributiva se preocupa em tornar funcional no direito dos
impostos. De facto, devemos também olhar para este princípio numa perspetiva de igualdade de aplicação da lei.
O IRC é o imposto que incide sobre os rendimentos das pessoas coletivas e, portanto, é sobre o rendimento.
No entanto, o legislador no artigo 88.º do CIRC acabou por disciplinar o IRC como uma tributação autónoma dos
rendimentos que a sociedade em concreto venha a apresentar, tributação essa que não incide sobre rendimentos,
incide sobre determinadas despesas que as empresas suportam no exercício da sua atividade.
Porque é que o legislador criou estas taxas de tributação autónomas? Há aqui razões extrafiscais com base
nas quais o legislador por exemplo na tributação de viaturas pretende impedir que as viaturas sejam adquiridas no
nome das empresas para depois serem utilizadas na esfera pessoal. Mas, neste caso, como estamos a tributar
rendimentos e não lucros obtidos durante o período de tributação, isto leva-nos a concluir que dentro das hipóteses
de retroatividade o facto tributário já teria ocorrido.
As tributações autónomas são no fundo apuradas e liquidadas e pagas apenas quando for apresentada a
declaração de IRC, ou seja, já no ano seguinte aquele em que os rendimentos são obtidos e em que as despesas
foram realizadas.
A relação tributária apresenta evidente complexidade, desdobrando-se em diversas relações. Temos três
aceções ou sentidos:
• Aceção constitucional: Estado-comunidade/contribuinte;
• Aceção administrativa: Administração Fiscal/contribuinte;
• Aceção obrigacional: Fazenda Pública/contribuinte.
Encargo que o Estado (enquanto comunidade) impõe sobre os respetivos membros, com o objetivo de garantir
liquidez para a realização das tarefas de interesse geral. Há mesmo alguns autores que consideram que se está perante
um dever fundamental do contribuinte perante o Estado.
Administração Fiscal: dotada de um poder público que habilita a praticar atos de autoridade nos quais fixa o
conteúdo da obrigação do imposto que cada um deve cumprir.
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Destinatário dos atos de autoridade: pessoa física ou jurídica de direito público ou privado sobre a qual recai
o dever jurídico de os executar de forma voluntária dentro do prazo estabelecido na lei (pagamento do imposto).
Acrescenta-se o ónus de proceder à sua impugnação quando entender que os mesmos desrespeitam o disposto nas
regras ou princípios plasmados na lei, na CRP ou em outros instrumentos normativos aplicáveis.
Consiste numa relação de crédito entre a Fazenda Pública (capacidade tributária ativa, ou seja, poder de exigir
o crédito do imposto) e o contribuinte (que fica obrigado a satisfazer o crédito tributário).
• É uma obrigação estruturalmente como qualquer outra, mas é uma obrigação legal – artigo 36.º LGT.
• Tem caráter público (presunção de legalidade do ato tributário).
• É uma obrigação exequível (carece de execução), executiva (a sua execução não depende de qualquer
pronúncia) e semi-executória (a sua execução ocorre, na maior parte, na administração tributária e, em parte, nos
tribunais tributários).
• É uma obrigação indisponível e irrenunciável – artigo 30.º/2 LGT e 85.º/5 CPPT.
• É autotitulada, ou seja, a AT cria os seus próprios títulos executivos, constituídos pelas certidões das notas de
cobrança – artigo 88.º CPPT.
• É especialmente garantida quanto ao seu cumprimento (garantias especiais que colocam o credor tributário
numa situação vantajosa face aos credores comuns).
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A competência tributária diz respeito à administração ou gestão dos impostos, traduzida no lançamento,
liquidação e cobrança dos impostos, uma competência que tradicionalmente cabia à administração fiscal, mas que,
hoje em dia, se divide entre a administração fiscal e os particulares. Na verdade, estes são cada vez mais legalmente
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incumbidos de liquidar e entregar nos cofres do Estado aos mais diversos impostos, o que tem conduzido a uma
acentuada “privatização da Administração”.
A capacidade tributária (ativa) traduz a qualidade de sujeito ativo da relação de crédito em que a relação fiscal
se consubstancia. Consiste na titularidade do crédito de imposto e demais direitos tributários, uma qualidade que é
inerente à personalidade tributária ativa ou suscetibilidade de ser sujeito ativo da relação jurídica tributária e que cabe
aos credores tributários, entre os quais se destaca o credor do imposto (artigo 15.º LGT).
Finalmente, temos a titularidade da receita fiscal dos impostos, uma situação que se verifica naqueles casos
em que, por imposição constitucional ou legal, as receitas proporcionadas por certos impostos estejam
subjetivamente destinadas a determinados entes públicos que não tenham todas ou algumas das outras titularidades
fiscais ativas.
A respeito do sujeito passivo ou das titularidades passivas em sede da relação jurídica fiscal, costuma a
doutrina distinguir as seguintes figuras:
• Contribuinte;
• Devedor do imposto;
• Sujeito passivo da relação jurídica fiscal;
• Suportador do encargo do imposto por repercussão legal.
O contribuinte é a pessoa relativamente à qual se verifica o facto tributário, o pressuposto de facto ou o facto
gerador do imposto.
Tanto é contribuinte o contribuinte direto, em relação ao qual o referido desfalque patrimonial ocorre
diretamente na sua esfera seja ele ou não o devedor do imposto, como o contribuinte indireto, em relação ao qual o
mencionado desfalque patrimonial ocorre na sua esfera através do fenómeno económico da repercussão do imposto
(artigo 18.º/4 da LGT).
Por sua vez, o devedor do imposto é a pessoa sobre quem impende o dever de satisfazer uma determinada
prestação tributária. Em sentido estrito, é o devedor principal. Em sentido amplo, são todos aqueles aos quais o Fisco
exige, subsidiariamente, o crédito do imposto.
O sujeito passivo da relação fiscal é toda e qualquer pessoa, singular ou coletiva, a quem a lei imponha o
dever de efetuar uma prestação tributária – artigo 18.º/3 LGT. Sendo o devedor do imposto um qualificado sujeito
passivo, não admira que, por vezes, não coincidam.
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Por fim, o suportador do encargo do imposto por repercussão legal é a pessoa que suporta financeiramente
o imposto através do mecanismo de repercussão legal, ou seja, repercute-se no adquirente do bem ou serviço o valor
do imposto.
− O artigo 18.º/4-a) diz-nos que não é sujeito passivo quem suporte o imposto por mera repercussão
legal. É o que acontece no caso do IVA – quem suporta o valor do IVA é o consumidor final quando adquire
um bem ou utiliza um serviço, mas o consumidor final não é sujeito passivo do IVA, ou seja, não é o
consumidor final que tem de efetuar a liquidação do imposto e a entrega do valor do imposto ao Estado. O
consumidor não é sujeito passivo de IVA. Quem é sujeito passivo de IVA será o comerciante ou o prestador
de serviços que liquida o valor do imposto e depois o tem de entregar ao Estado.
Do lado passivo, consoante bem expressa o artigo 18.º/3 da LGT, é possível que se estabeleçam relações
simples entre o sujeito ativo e o contribuinte ou relações mais complexas no caso de não se concentrarem no
contribuinte os deveres tributários, hipótese da substituição tributária (artigos 20.º e 28.º LGT), da responsabilidade
tributária (artigos 22.º a 28.º LGT), em que outras pessoas irão, solidária ou subsidiariamente, assumir obrigações
fiscais.
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• Em regra, trata-se de uma responsabilidade subsidiária (artigo 22.º/4 LGT e 153.º CPPT), como por
exemplo a responsabilidade dos administradores, gerentes e diretores (artigo 24.º LGT).
− O responsável tributário só é chamado a satisfazer a dívida tributária do sujeito passivo depois
de esgotado todo o património deste, ou seja, depois de comprovado no processo de execução fiscal que não
existem bens penhoráveis do devedor originário ou que há fundada insuficiência do património do devedor
para a satisfação da dívida exequenda – artigos 23.º/2 LGT e 153.º/2 CPPT.
− Esta responsabilidade subsidiária efetiva-se através da reversão do processo de execução
fiscal (artigo 23.º/1 LGT), i.e., existe uma modificação subjetiva da instância, pelo chamamento, a fim de
ocupar a posição passiva na ação, de alguém que não é o devedor que figura no título. O responsável
subsidiário tem direito de audição prévia (artigo 23.º/4 LGT) e o benefício da execução prévia.
• Nos casos previstos na lei, existe responsabilidade solidária (artigo 22.º/4 LGT e artigo 512.º CC), como
por exemplo a responsabilidade do representante fiscal (artigo 27.º LGT) e dos sócios das sociedades de
responsabilidade ilimitada (artigo 21.º/2 LGT).
↓
Contrariamente aos casos de responsabilidade solidária em que o credor pode bater à porta de qualquer
devedor solidário exigindo-lhe o pagamento da totalidade da dívida, nos casos de responsabilidade subsidiária o
credor bate à porta do devedor principal e só pode ir bater a outra porta se obviamente o devedor principal não
tiver meios para pagar a dívida exequenda.
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da prova pertence à AT. Além disso, esta responsabilidade depende sempre de culpa. Assim, são responsáveis
subsidiariamente:
− Os gerentes e administradores que já não exerçam o cargo no momento em que se
verifica a falta de pagamento (liquidação), apesar de a dívida se ter formado durante o exercício
do seu cargo (o ónus da prova pertence à AT que tem de provar que foi por culpa dessa pessoa
que está a chamar à responsabilidade que o património da pessoa coletiva se tornou insuficiente
para a satisfação da dívida);
− Os gerentes e administradores que exerçam o cargo no momento em que se verifica
a falta de pagamento (o ónus da prova pertence aos gerentes e administradores que têm de
provar que não lhes foi imputável a falta de pagamento para não serem chamados à
responsabilidade).
• Se, no momento da reversão (provada a fundada insuficiência dos bens do devedor originário) não for
possível determinar a suficiência dos bens penhorados por não estar definido com precisão o montante a pagar pelo
responsável subsidiário, o processo de execução fiscal fica suspenso desde o termo do prazo de oposição até à
completa excussão do património do executado, sem prejuízo de adoção das medidas cautelares adequadas. Assim, a
excussão fica suspensa (relativamente ao responsável subsidiário) até estar definido com precisão o montante que ele
terá de pagar.
➔ MEIOS DE REAÇÃO:
• Dedução de oposição à execução (artigos 203.º, 204.º CPPT e 23.º/5 LGT): é o meio processual
adequado para o executado por reversão discutir o despacho determinativo dessa reversão, nomeadamente,
imputando-lhe vícios de forma por ausência de fundamentação e preterição de formalidades legais, mais devendo
enquadrar-se este fundamento da oposição no artigo 204.º/1-i) CPPT;
• Reclamação graciosa (artigos 68.º e ss. CPPT);
• Impugnação judicial (artigos 99.º e 102.º CPPT e 22.º/5 LGT).
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• Os responsáveis podem ser demandados conjuntamente com o sujeito passivo ou, se for um a
satisfazer a totalidade do valor da dívida em falta, fica com um direito de crédito sobre o sujeito passivo e os demais
responsáveis solidários (artigo 23.º/6 LGT) – são os casos previstos no artigo 21.º LGT.
Nos termos do artigo 20.º da LGT, “a substituição tributária verifica-se quando, por imposição da lei, a
prestação tributária for exigida a uma pessoa diferente do contribuinte” (nº 1), sendo a mesma “efetivada através
do mecanismo da retenção na fonte do imposto devido” (nº 2) – remissão para os artigos 33.º e 34.º LGT.
Ocorre um caso de substituição tributária quando a prestação for exigida a uma pessoa diferente do
contribuinte, ou seja, o contribuinte, que é a pessoa relativamente à qual se verifica o facto tributário, vai ser
substituído por outra. Então neste caso a prestação vai ser exigida por força da lei ao substituto – o substituto substitui
o contribuinte na realização da prestação tributária.
A retenção na fonte, de acordo com o artigo 34.º, é uma dedução realizada pelo substituto nos rendimentos
que paga ao substituído e que entrega posteriormente ao Estado. O contribuinte nem sequer chega a ver aquele
dinheiro. Qualquer valor que venha a lucrar está sujeito a esta retenção na fonte a título definitivo.
A LGT entende a retenção na fonte (artigo 34.º LGT) em termos que abrange não apenas a verdadeira retenção
na fonte, mas também os pagamentos por conta de imposto efectuados por terceiro. De outro lado, integra nos
pagamentos por conta não só as entregas pecuniárias antecipadas efetuadas pelo próprio contribuinte, mas também
as entregas efetuadas por terceiro.
EXEMPLO:
Vejamos o artigo 71.º do CIRS: “estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo (…) os rendimentos de capitais obtidos
pelos residentes e não residentes em território português”. O rendimento capital são os juros, outras formas de remuneração, por
exemplo contas de depósito à ordem, a prazo, etc. – artigo 5.º do CIRS. Suponhamos que temos um rendimento sujeito a IRS como
rendimento capital abrangido por uma retenção na fonte a título definitivo à taxa de 28%. Imaginemos que temos de pagar 1000€
de juros/rendimento. Quem nos paga esses 1000€ é o banco. No entanto, este rendimento está sujeito a uma retenção na fonte
a título definitivo. Isto significa que vai existir aqui uma substituição tributária. A entidade que paga os rendimentos (o banco) vai
reter o valor do imposto devido – artigo 20.º/2 da LGT. Assim, 280€ vão ser retidos pelo banco e entregues pelo banco ao Estado.
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O banco irá pagar-nos os 720€. A prestação tributária vai ser exigida ao banco. O contribuinte somos nós, mas quem tem de
efetuar a prestação é o substituto que efetua a retenção desse valor para o entregar ao Estado. Ou seja, o banco é o substituto.
O contribuinte vai ser substituído porque a prestação tributária vai ser exigida a uma pessoa diferente dele. O banco substitui-se
ao contribuinte retendo a parte correspondente ao valor do imposto que o contribuinte deve suportar.
Substituição parcial/imprópria/
Substituição total/definitiva/
retenção na fonte a título de pagamento por conta do
retenção na fonte a título definitivo (artigos 71.º/1,4
imposto devido a final
CIRS e 94.º/3 CIRC)
(artigos 98.º e 99.º CIRS e 94.º/1 CIRC)
Esta ocorre quando a substituição abrange tanto a Verifica-se quando o substituído tiver de cumprir a
obrigação de imposto como a generalidade das generalidade ou algumas das obrigações fiscais
obrigações fiscais acessórias. acessórias. O substituto não substitui completamente o
O substituído não tem nenhuma relação com a AT pois substituído perante a AT, sendo que o substituído
a relação passa-se entre a AT e o substituto. As mantém obrigações para com a AT, nomeadamente
retenções feitas já não necessitam de sofrer nenhuma apresentar a declaração de rendimentos. As retenções
operação no final do ano fiscal. feitas são para, no final do ano fiscal, pagar o imposto.
Vantagens: Vantagens:
• Redução da complexidade da atividade • Anestesia fiscal (o imposto vai sendo pago em
administrativa; pequenas “prestações” que são subtraídas ao rendimento
• Diminuição da evasão fiscal. que é devido ao contribuinte, então o contribuinte acaba por
nem ter acesso a esse dinheiro);
O artigo 33.º da LGT refere-se aos pagamentos por conta: são entregas pecuniárias antecipadas efetuadas
por dedução nos rendimentos que são pagos ao contribuinte durante o período de formação do facto tributário.
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Retenção na fonte a título definitivo Pagamento por conta efetuado por terceiro
O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO é uma sucessão de atos dirigida à declaração de direitos tributários (artigo
54.º LGT) e compreende, de acordo com o artigo 44.º do CPPT, entre outros elementos:
− O conjunto de ações preparatórias ou complementares da liquidação dos tributos ou de confirmação
dos factos tributários declarados pelos sujeitos passivos ou outros obrigados tributários;
− A liquidação dos tributos, quando efetuada pela Administração tributária;
− A avaliação direta ou indireta dos rendimentos ou valores patrimoniais.
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Antes do pagamento e antes do apuramento da coleta do imposto que se obtém com a liquidação, temos de
determinar o valor dos bens ou dos rendimentos que vão estar sujeitos à aplicação da taxa do imposto. Para isso,
temos de falar do procedimento de avaliação.
Hoje temos impostos que são autoliquidados pelo sujeito passivo/contribuinte e nesses impostos cabe
igualmente ao sujeito passivo a determinação do valor dos bens ou do rendimento que vai estar sujeito à aplicação do
imposto. Exemplo: IRC, IVA, etc.
No fundo trata-se de deixar nas mãos do sujeito passivo a gestão do próprio sistema fiscal. Esta determinação
da matéria tributável corresponde a um momento sempre anterior à liquidação que pode ser feito pelo sujeito passivo
no caso da autoliquidação, mas que também pode ser feito pela Administração, como acontece com o IRS.
Mas, mesmo nos casos em que é a Administração a apurar esse valor, em larga medida essa atividade
administrativa arranca e tem como pressuposto as declarações que são feitas pelo sujeito passivo e, portanto,
podemos ter posteriormente um procedimento administrativo que é dirigido à comprovação da realidade dos
elementos declarados com base nos quais se apurou a matéria tributável, de modo a que a Administração comprove
que esses elementos declarados correspondem à verdade e que o valor do rendimento não padece de qualquer
patologia.
Caso contrário, será a Administração que irá determinar a matéria tributável, apurar o valor dos rendimentos
ou bens sujeitos a imposto e proceder a uma liquidação adicional, levando a um imposto corrigido.
Este procedimento de avaliação está previsto nos artigos 81.º a 94.º. da LGT. Nestes artigos iremos encontrar
duas modalidades de avaliação da matéria tributável:
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É o caso originário da avaliação indireta porque é aquele em que a Administração está autorizada a determinar
o rendimento através de presunções porque existe uma impossibilidade de comprovar de maneira exata e direta o
valor dos rendimentos sujeitos a tributação, ou seja, esta depende do incumprimento daquelas obrigações.
Estamos perante uma situação em que há diversas patologias que comprometem a determinação do valor dos
rendimentos de forma exata e de acordo com a realidade. Que patologias são estas? São as referidas no artigo 88.º
da LGT. então do artigo 87.º/1-b) remetemos para o artigo 88.º LGT.
Numa situação destas a Administração tem de partir para a avaliação indireta, ou seja, presumir o rendimento
tributável do sujeito passivo através dos critérios previstos no artigo 90.º LGT (elementos objetivos e subjetivos) –
essa quantificação é feita com base nesta lista não taxativa. É a Autoridade Tributária (AT) que vai provar se o sujeito
passivo cumpriu ou não as obrigações que permitem a determinação da matéria tributável.
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Artigo 87.º LGT – c), d), e) e f) – são situações de avaliação indireta que se justificam quando há um desvio à
normalidade (por exemplo comprar um Ferrari por 250 mil €, mas declarar o salário mínimo).
Se há um desvio à normalidade, o sujeito passivo vai ter de justificar as razões pelas quais se verifica este
desvio, ou seja, vai ter de justificar que os rendimentos declarados correspondem à realidade.
Em suma, são situações de desvio à normalidade com base nas quais se “presume” a ocultação de
rendimentos, dependendo da não apresentação de razões justificativas por parte do sujeito passivo.
Se o sujeito passivo não apresentar as justificações, não é possível comprovar os rendimentos e devemos
então aplicar a avaliação indireta.
Que situações de desvio são estas? São as seguintes:
• DESVIO DE INDICADORES DE RENDIMENTO (alínea c)): o rendimento normal é o rendimento que uma
pessoa poderia em condições normais ter recebido, opondo-se ao rendimento realmente obtido. Se há um
desvio a um rendimento normal, o sujeito passivo teria de apresentar as razões justificativas para esse desvio.
Se não conseguisse, ficava então abrangido pela avaliação indireta. A constitucionalidade desta norma foi
avaliada pelo TC no Acórdão 84/2003 porque se colocou a questão de saber se, no caso de haver um desvio
ao rendimento normal, depois poderia ser atribuída ao sujeito passivo a possibilidade de prova em contrário
desse mesmo rendimento normal. O TC concluiu que não havia aqui inconstitucionalidade porque este regime
só se aplicava se o sujeito passivo não apresentasse razões justificativas.
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Estas razões justificativas, à partida, só afastam a aplicação do regime se for uma justificação total.
Quid iuris se o sujeito passivo apenas consegue fazer uma justificação parcial da origem do rendimento que
lhe permitiu realizar os negócios qualificados, segundo a lei, como manifestações de fortuna?
Nestes casos, o tribunal tem entendido que esta justificação não é suficiente para afastar a aplicação
do regime jurídico das manifestações de fortuna, mas a mesma releva para a fixação presuntiva do montante
do acréscimo patrimonial não justificado, ou seja, deve ser tida em conta.
Vamos supor que o sujeito passivo justificou metade, mas que a Administração Tributária não deu
importância a essa justificação e determinou um rendimento de 20% no valor de aquisição e o sujeito passivo
pretende reagir. Como é que o pode fazer?
↓
IMPUGNAÇÃO DOS ATOS QUE DETERMINAM A APLICAÇÃO DO REGIME JURÍDICO DAS
MANIFESTAÇÕES DE FORTUNA:
Este meio de reação está previsto no artigo 89.º-A/7: é um caso excecional em que podemos ir para
tribunal discutir de forma direta e imediata a avaliação indireta da matéria tributária. Este meio traduz-se num
recurso que deve ser entreposto no prazo de 10 dias. É um recurso suspensivo e tramita como processo
urgente.
Traduz-se numa exceção ao princípio da impugnação unitária (artigo 54.º CPPT): este princípio diz-
nos que apenas será impugnável o ato final que põe termo ao procedimento e que afeta a esfera jurídica dos
contribuintes. Isto vai dar-nos apenas um valor do rendimento sujeito a tributação, não nos dá o valor do
imposto a pagar. Há aplicação da taxa e determinação do valor do imposto a pagar (liquidação). O ato que
atinge o contribuinte, que o obriga a pagar uma determinada quantia, é o ato de liquidação do imposto.
Todavia, nos casos em que há lugar à aplicação do artigo 89.º-A/7, há uma exceção a este princípio
porque a aplicação destes métodos é imediatamente recorrível, ou seja, o sujeito passivo, quando for
notificado da aplicação de uma avaliação indireta apurada nos termos do artigo 89.º-A, sabe logo que o meio
de reação apropriado é este recurso urgente.
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EM SUMA:
O REGIME SIMPLIFICADO DE TRIBUTAÇÃO (art. 87.º/1 a) LGT) não constitui um verdadeiro caso de avaliação
indireta da matéria coletável pelas seguintes razões:
• Não se trata de um caso de aplicação subsidiária de um método de quantificação da matéria coletável,
mas antes de uma opção do sujeito passivo em alternativa ao regime de contabilidade organizada (art. 81.º/2 LGT;
art. 28.º/1 e 31.º CIRS e 86.º-A CIRC), desde que preencha os requisitos para poder realizar essa opção (art. 28.º/2
CIRS);
• Não se trata de apurar o rendimento real a partir de indícios ou presunções, mas sim de tributar um
rendimento-presumido, que se aceita de modo alternativo ao rendimento real, como forma de não sobrecarregar os
titulares de rendimentos mais baixos com obrigações contabilísticas mais complexas.
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− Na falta de acordo, será sempre a Administração a decidir, mas nesse caso o contribuinte pode
sempre posteriormente impugnar a liquidação que vier a ser feita unilateralmente pela Administração
(86.º/4);
− O objetivo deste procedimento é chegar a um acordo e esse acordo deve ser respeitado tanto
pelo contribuinte como pela Administração;
− Se hoje a Administração chegar a um acordo e amanhã tiver na sua posse conhecimento de
factos supervenientes que nunca teriam feito com que ela chegasse aquele acordo, ela não pode alterar –
apenas se houver condenação pela prática de um crime de fraude fiscal por parte do sujeito passivo;
− Este procedimento constitui um pressuposto indispensável para posteriormente se poder
impugnar a liquidação que vai ser feita depois da decisão desta reclamação nos casos em que não há um
acordo com o contribuinte.
CORREÇÃO QUANTITATIVA:
Tem lugar quando a administração tributária procede à correção da matéria tributável determinada com base
em métodos indiretos, correção cuja impugnação judicial está dependente de prévia impugnação administrativa
através do procedimento de revisão da matéria tributável fixada por métodos indiretos, se os fundamentos da
impugnação judicial forem um dos previstos no art. 86.º/5 LGT.
A natureza da correção administrativa mencionada supra é diferente das CORREÇÕES TÉCNICAS, que são
correções que a administração tributária faz à matéria tributável determinada no âmbito da avaliação direta, como
correção concretizada, por exemplo, na não consideração de determinadas verbas como gastos fiscais assim
qualificadas na declaração de rendimentos. Estas correções apenas podem ser impugnadas judicialmente em sede de
impugnação da consequente liquidação, embora não se exija qualquer prévia impugnação administrativa.
O IRS irá incidir sobre pessoas singulares residentes (art. 16.º CIRS) na totalidade dos seus rendimentos,
incluindo os obtidos fora do território nacional, e sobre as pessoas singulares não residentes, na medida em que serão
tributadas apenas pelos rendimentos obtidos em Portugal.
Existindo agregado familiar, o imposto é apurado individualmente em relação a cada cônjuge ou unido de
facto, a não ser que seja exercida a opção pela tributação conjunta (art. 13.º/3 e 4 LGT).
Com a reforma de 2015, a tributação separada do casal passa a ser regra do IRS, embora se salvaguarde a
opção pela tributação conjunta, que protege os casais com rendimentos de valores díspares (art. 59.º).
Quanto aos unidos de facto (art. 14.º) estes podem optar pela tributação conjunta ou manterem-se na
tributação separada, igualmente. No caso de os contribuintes não optarem pela entrega da declaração conjunta, os
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respetivos dependentes passam a poder integrar a declaração de cada um dos progenitores, ou seja, podem ser
incluídos em mais do que uma declaração anual de IRS.
a) LANÇAMENTO OBJETIVO:
• Qualificar o rendimento, integrando-o numa categoria:
− Categoria A – rendimentos do trabalho dependente (art. 2.º).
− Categoria B – rendimentos empresariais e profissionais (arts. 3.º e 4.º).
− Categoria E – rendimentos capitais (arts. 5.º ao 7.º).
− Categoria F – rendimentos prediais (art. 8.º).
− Categoria G – incrementos patrimoniais (arts. 9.º e 10.º).
− Categoria H – pensões (art. 11.º).
• Determinar se o rendimento é tributado ou não.
• Quantificar qual o rendimento coletável (que em muitos casos não corresponderá ao total obtido):
são dedutíveis os custos ou valores expressamente previstos na lei, a qual não permite sempre a integral
dedutibilidade de todos os encargos suportados pelos contribuintes para a obtenção de alguns rendimentos.
Este argumento acontece categoria a categoria – tratam-se dos valores que a lei permite que sejam subtraídos
ao rendimento bruto para se apurar o rendimento líquido tributável (deduções específicas) – arts. 25.º e ss.
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Artigo 12.º CIRS – exclusões tributárias de caráter primário (situações que o legislador não pretende tributar
em IRS):
• Porque são tributadas em sede de outros impostos (12.º/3);
• Porque as quer livre de impostos (12.º/1, 2, 4 e 5);
• Rendimentos das atividades agrícolas, silvícolas e pecuárias quando o valor dos proveitos ou das receitas não
exceda, por agregado familiar, quatro vezes e meio o valor anual do IAS.
A Lei 106/88 é a lei que autorizou o Governo a elaborar o CIRS e, nesta lei, o artigo 6.º refere-se a estas
deduções específicas: a lei, a propósito do IRS, deve determinar as deduções a fazer em cada categoria de rendimentos
tendo como critério os custos que são suportados para obter esse rendimento. O legislador nunca poderia tratar da
mesma maneira rendimentos que tivessem uma fonte completamente distinta.
Mas o legislador nesta lei foi de certa forma um legislador muito atento à realidade e no nº2 deste artigo ele
diz-nos que em princípio estas deduções devem corresponder aos encargos efetivos e comprovados, suportados pelos
sujeitos, para obter o rendimento, mas, se oferecer maior comodidade aos contribuintes, maior simplicidade e
segurança à Administração, estas deduções poderão ser fixadas pelo próprio legislador através de presunções.
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De facto, na categoria A encontramos presente uma dedução que está pré-estabelecida na lei: este sujeito
não tem de comprovar qualquer encargo – este sistema facilita a vida à Administração e também facilita a vida dos
sujeitos passivos. Na categoria B o legislador vai admitir deduções que não admite na categoria A, por exemplo.
Uma vez apurado o rendimento líquido nas diferentes categorias, vamos proceder ao englobamento, ou seja,
vamos agregar o rendimento líquido das diferentes categorias, obtendo aquele que dispõe do artigo 22.º do CIRS: o
rendimento coletável em IRS é aquele que resulta do englobamento dos rendimentos das várias categorias, feitas as
deduções específicas relativamente a cada tipo de rendimento. O rendimento tributável será o rendimento líquido
das diferentes categorias.
Os rendimentos de IRS das categorias A, B e H estão, em princípio, sujeitos a uma taxa progressiva – artigo
104.º/1 CRP -, ou seja, estes vão ser englobados para serem tributados em conjunto.
Um imposto progressivo é um imposto onde a taxa aumenta à medida que aumenta a matéria tributável,
como é o caso típico do IRS nos termos do artigo 68.º.
Não há aqui nenhuma inconstitucionalidade porque, tanto nos casos em que são aplicadas taxas liberatórias
(artigo 71.º), tanto nos casos em que são aplicadas taxas especiais (artigo 72.º), existe sempre a possibilidade de o
sujeito passivo optar pelo englobamento desses rendimentos, ou seja, o sujeito passivo pode optar pela tributação
desses rendimentos em conjunto e com a sujeição à taxa progressiva prevista no artigo 68.º do CIRS: isto está previsto
no artigo 22.º/3-b) do CIRS.
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2.5. TAXA
São as taxas gerais de IRS que são aplicadas ao rendimento anual de cada contribuinte.
Taxas (%)
Rendimento coletável (€)
Normal (A) Média (B)
Até 7.091 14,50 14,500
De mais de 7.091 até 10.700 23,00 17,367
De mais de 10.700 até 20.261 28,50 22,621
De mais de 20.261 até 25.000 35,00 24,967
De mais de 25.000 até 36.856 37,00 28,838
De mais de 36.856 até 80.640 45,00 37,613
Mais de 80.640 48,00 -
• Taxas liberatórias: libertam das obrigações de declaração, de englobamento e pagamento pelo contribuinte (a
obrigação do imposto considera-se cumprida com a retenção efetuada pela entidade pagadora).
• Taxas especiais (art. 72.º): nestas, o sujeito passivo mantém a obrigação de fazer constar estes rendimentos da
respetiva declaração. Se o contribuinte tiver retido na fonte mais IRS do que o montante do imposto apurado por
aplicação das taxas dos escalões de IRS, tem direito a ser reembolsado. Se tiver retido menos (ou nada), terá IRS a
entregar ao Estado.
O princípio da capacidade contributiva impõe que a tributação sobre o rendimento tenha em conta o
rendimento disponível do sujeito passivo, i.e., decorre deste princípio ao nível da tributação do rendimento das
pessoas singulares que se tenham em conta um conjunto de despesas realizadas por estas pessoas, despesas com o
seu agregado familiar, suportadas pelo sujeito passivo que obviamente interferem na sua capacidade contributiva.
Aquelas despesas que diminuem o rendimento disponível e que são essenciais relacionadas à própria
existência da pessoa ou do seu agregado familiar e de caráter relacionado com a educação (artigo 78.º) vão ser
deduzidas à coleta do IRS.
Uma vez aplicada a taxa à matéria tributável (liquidação em sentido estrito), vamos apurar o valor da coleta.
Mas no caso do IRS a coleta não significa um valor do imposto a pagar porque a esse valor que coleta o
legislador admite que sejam efetuadas ainda deduções (deduções à coleta) relativas à composição do seu agregado
familiar e às despesas familiares, de saúde, de educação, etc., ou seja, ao imposto liquidado subtrai-se um valor fixo
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por cada membro do agregado familiar e os valores resultantes da aplicação de percentagens fixadas por lei ao
montante de cada um desses tipos de despesas.
O IRS é pago, em larga medida, antecipadamente, seja através da retenção na fonte, seja através do
pagamento por conta.
a) RECLAMAÇÃO GRACIOSA:
↓
• Esta pode ser apresentada por escrito ou oralmente (em caso de manifesta simplicidade) e reduzida a termo
nos serviços da AT (art. 70.º/6 e 73.º/1).
• Há, aqui, uma limitação dos meios probatórios (arts. 50.º CPPT e 58.º LGT), pois apenas se admitem provas
documentais e elementos oficiais de que os serviços disponham, sem prejuízo do artigo 69.º/e); arts. 50.º CPPT e 58.º
LGT.
• A dedução da reclamação graciosa não suspende os efeitos do ato tributário, salvo no caso previsto no art.
92.º/8 LGT ou quando for prestada garantia adequada (199.º e 169.º CPPT).
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• A garantia caduca se a reclamação não for decidida dentro do prazo estipulado (1 ano a contar da data da sua
interposição), o que constitui uma garantia importante para os sujeitos passivos – 183.º-A.
• Pode ser deduzida com os fundamentos previstos para a impugnação judicial – 70.º/1 e 99.º CPPT.
• É apresentada no prazo de 120 dias a contar a partir dos factos previstos no art. 102.º/1 CPPT – 70.º/1 CPPT.
• A reclamação graciosa é dirigida ao órgão periférico regional da AT e instruída, quando necessário, pelo serviço
periférico local da área do domicílio ou sede do contribuinte, da situação dos bens ou da liquidação – 73.º CPPT. O
órgão periférico local instaurará o processo, dentro de um prazo não superior a 90 dias, com os elementos de que
disponha e elaborará proposta fundamentada da decisão.
• Nos demais casos, a entidade competente para a decisão de reclamação graciosa é o dirigente do órgão
periférico regional da área de domicílio ou sede do contribuinte, da situação de bens ou da liquidação – 75.º/1 CPPT.
• Se a entidade competente para a decisão entender que a mesma deve ser indeferida, cabe-lhe elaborar
proposta de decisão e ouvir o reclamante (nos termos do art. 60.º/1/b) da LGT), podendo esta formalidade ser
dispensada (nos termos do art. 60.º/3 da LGT).
• A notificação da decisão deve ser acompanhada da proposta de decisão elaborada pelo serviço periférico local
(art. 37.º/1 CPPT).
→ O sujeito pode reclamar e impugnar se deduzir impugnação ainda no prazo de 3 meses, caso em que a
reclamação sobre e é decidida pelo tribunal (111.º/3 CPPT).
→ O sujeito pode impugnar e depois reclamar desde que utilize um fundamento diverso daquele que usou na
impugnação (68.º/2 CPPT).
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→ O sujeito não pode impugnar e depois reclamar se o fizer com o mesmo fundamento (68.º/2 CPPT).
→ Não pode ser deduzida impugnação judicial depois de terminado o prazo de 3 meses (102.º CPPT), sem que
antes tenha havido decisão expressa da reclamação ou se tenha formado um ato de tácito indeferimento.
→ Do indeferimento pode ainda ser interposto recurso hierárquico, e deste, posteriormente, ação
administrativa relativa à decisão do recurso, quando não estiver em causa a legalidade do ato de liquidação (76.º/2 e
97.º/1-d) CPPT).
− A retenção na fonte é suscetível de impugnação por parte do substituto em caso de erro na entrega de
imposto superior ao retido. Neste caso, a regra é a de que o imposto entregue a mais será descontado nas entregas
seguintes da mesma natureza a efetuar no ano do pagamento indevido;
− Só no caso de não ser possível corrigir desta forma é que o substituto terá de impugnar judicialmente a
retenção na fonte, mas antes terá de reclamar graciosamente;
− A reclamação graciosa será feita para o órgão periférico regional da administração tributária competente;
− A reclamação graciosa deve ser feita no prazo de 2 anos a contar do termo do ano do pagamento indevido;
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− O mesmo se aplica ao substituído da retenção na fonte que lhe tiver sido efetuada (132.º/4 CPPT). Esta
possibilidade está vedada aos casos de retenção com natureza de pagamento por conta do imposto devido a final
(exceção), pois neste caso o substituído terá sempre direito à devolução da diferença, acrescida de uma remuneração
compensatória (96.º CIRS). Também aqui se aplica o disposto no art. 131.º/3 CPPT.
− A impugnação judicial deve ter por fundamento erro sobre os pressupostos da sua existência ou do seu
quantitativo, quando determinado pela AT (nº 1);
− A impugnação depende de prévia reclamação graciosa para o órgão periférico local da AT, no prazo de 30 dias
após o pagamento indevido (nº 2);
− Se a reclamação for expressamente indeferida, o contribuinte poderá, no prazo de 30 dias, impugnar o ato
nos mesmos termos que é impugnável o ato de liquidação (nº 3);
− 90 dias após a apresentação da reclamação sem que a mesma tenha sido indeferida, a mesma considera-se
tacitamente deferida (nº 4).
b) RECURSO HIERÁRQUICO
↓
• É um meio administrativo para atacar decisões dos órgãos da AT.
• Não pode interpor-se recursos hierárquicos de um ato de liquidação, mas apenas de atos administrativos
respeitantes a questões tributárias ou de decisões administrativas que versem sobre a apreciação dos atos de
liquidação;
• O recurso hierárquico apenas pode ser usado no procedimento tributário quando a lei o expressamente
determinar;
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• Tem natureza meramente facultativa e efeito devolutivo, salvo disposição em contrário da lei tributária
(67.º/1 CPPT);
• É dirigido ao mais elevado superior hierárquico do autor do ato (66.º/2 CPPT);
• É interposto no prazo de 30 dias a contar:
o Da notificação do ato respetivo perante o auto do ato recorrido;
o No caso de indeferimento tácito, a partir da data em que se formou o ato de indeferimento (57.º/1,5
LGT).
• O autor do ato dispõe de 15 dias para proceder à revogação total ou parcial do ato:
o Se o ato for totalmente revogado o recurso fica sem efeito por inutilidade superveniente;
o Se houver mera revogação parcial ou se o autor de ato entender que o ato deve ser mantido, deve
fazer subir o recurso, acompanhado do processo a que respeite o ato ou, quando o recurso tiver efeito
meramente devolutivo, com um extrato do mesmo.
• Os recursos são decididos no prazo de 60 dias, findo o qual se consideram tacitamente indeferidos.
• A decisão de recurso hierárquico é passível de recurso contencioso (ação administrativa), salvo se de tal
decisão já tiver sido deduzida impugnação judicial com o mesmo objeto.
→ O sujeito pode recorrer hierarquicamente e impugnar, se deduzir impugnação ainda no prazo de três meses,
caso em que o recurso sobe e é decidido pelo tribunal (111.º/3,5 CPPT).
→ O sujeito passivo pode impugnar e depois recorrer, desde que o recurso tenha um objeto diferente, sendo o
mesmo neste caso também apenso ao processo de impugnação judicial (111.º/4,5 CPPT).
→ O sujeito não pode propor um pedido de impugnação do ato administrativo relativamente à decisão do
recurso se já tiver deduzido impugnação judicial com o mesmo objeto (76.º/2 CPPT) – entende-se que o objeto é o
mesmo quando a decisão do recurso hierárquico comportar a apreciação da legalidade do ato de liquidação.
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• MODALIDADES:
A revisão é um meio que não opera exclusivamente em sentido favorável ao contribuinte, podendo ser
utilizado para rever a matéria tributável apurada com fundamento em injustiça grave ou notória de que tenha
resultado elevado prejuízo para a Fazenda Nacional.
A revisão é um meio de defesa complementar e não alternativo. Significa que o contribuinte só pode lançar
mão quando já não tenha nenhum outro meio de defesa à sua disposição (ou porque já os esgotou ou porque já não
tem prazo para lançar mão dos mesmos).
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A lista dos fundamentos da impugnação do artigo 99.º é meramente indicativa e a impugnação tem efeito
suspensivo mediante prestação de garantia.
Se tiver sido apresentada reclamação graciosa ou recurso hierárquico e antes da decisão dos mesmos for
apresentada impugnação judicial, os mesmos são anexos a esta. O mesmo acontece se forem apresentados
posteriormente à impugnação, mas com um fundamento distinto – art. 111.º/3 e 5 CPPT.
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• Estão isentas de imposto de selo as transmissões entre cônjuges ou unidos de facto, descendentes e
ascendentes (parentes em linha reta como pais, filhos, avós, netos, etc.) e na parte relativa às transmissões gratuitas
previstas na tal verba (al. 1.2. da tabela geral) – nos termos da al. e) do art. 6.º deste imposto – ver art. 1.º/1, conjugado
do ponto de vista da sujeição passiva com o art. 2.º/2 e ter em conta a isenção no art. 6.º, al. e).
• O IMI é o imposto municipal, porque a receita deste imposto é consignada aos municípios e incide sobre o
património imobiliário.
• O IVA é o imposto geral sobre o consumo que tributa as transmissões onerosas de bens e as prestações de
serviços.
• Se um sujeito vender um imóvel, ele pode ficar sujeito ao IRS se existir uma mais valia, ou seja, se com a venda
do imóvel eu tiver um ganho/incremento patrimonial que decorre do facto de ele ter vendido o bem por um preço
superior àquele que tinha sido o preço de aquisição do imóvel (art. 9.º e 10.º do CIRS) – ele pode ficar sujeito ao IRS
se tiver um ganho (constituído pela diferença pelo preço que ele comprou e o preço que ele vendeu. Esta mais valia
decorrente da venda do imóvel pode ficar excluída de tributação, se o imóvel vendido for a sua habitação própria e
permanente e o sujeito em questão reexistir o dinheiro que recebeu na aquisição de um imóvel para a mesma
finalidade (habitação própria e permanente). Os prazos estão previstos no n.º 5 deste artigo. Se for uma habitação
secundária (de férias) haverá uma mais valia tributada, ainda que, nestes casos, o legislador tenha tido em conta que
estas mais valias não serão posteriormente tributadas na sua totalidade, mas apenas em 50%, como decorre do art.
43.º/2 CIRS.
Em suma, se houver uma mais valia decorrente da venda do imóvel, ela pode estar sujeita a IRS e, no caso de
ser uma habitação própria e permanente, poderá estar excluída se houver reinvestimento na aquisição de um imóvel
para a mesma finalidade.
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SABIAS QUE…?
• Sabias que... num imposto de quota fixa, o montante a pagar consta diretamente da lei, dispensando a
operação de liquidação em sentido estrito (aplicação da taxa à matéria tributável)?
• Sabias que... apenas nos casos de manifestações de fortuna e de acréscimos patrimoniais não justificados é
que há "recurso" urgente para o Tribunal da decisão de aplicação dos métodos indiretos, não sendo aplicável o
procedimento do artigo 91.º da LGT?
• Sabias que o regime das manifestações de fortuna e de acréscimos patrimoniais não justificados só tem
aplicação relativamente aos sujeitos passivos de IRS?
QUESTÕES
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5. Qual das matérias poderá ser legislada pelo Governo sem autorização da AR?
a) Regime da responsabilidade;
b) Incidência objetiva do imposto;
c) Moratória de cobrança do imposto;
d) Criação de benefícios fiscais.
9. O meio processual para um gerente reagir à aplicação do regime do 24.º/1-a) ou b) da LGT em que tenha
havido aplicação do disposto na al. f) do artigo 87.º/1 da LGT (acréscimos patrimoniais não justificados) é:
a) Oposição à execução;
b) Recurso previsto no artigo 89.º-A/7 LGT;
c) Ambos.
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12. Assinale os impostos que poderão ser devidos por uma pessoa singular que obtenha um ganho com a
venda de um imóvel:
a) IRS;
b) IRC;
c) IMT;
d) IVA.
13. O pedido de revisão da matéria tributável fixada por métodos indiretos é uma reclamação…
a) … aplicável em todos os casos de avaliação indireta;
b) … sempre facultativa porque o sujeito passivo pode posteriormente impugnar a liquidação;
c) … apresentada posteriormente à liquidação;
d) … graciosa;
e) … que é decidida através de um debate contraditório que tem em vista a existência de um acordo.
14. Uma sociedade, constituída em 2010, adquiriu um imóvel por 500.000,00€, em 2019, ano em que, pela
terceira vez, não apresentou qualquer lucro tributável. Em abstrato qual ou quais a(s) avaliação (ões) indireta (s)
que pode (m) ser despontada (s) pela realidade referida?
a) Artigo 87.º/1-b);
b) Artigo 87.º/1-e);
c) Artigo 87.º/1-f);
d) Artigo 87.º/1-d).
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17. Se Ana tiver apresentado uma reclamação graciosa, qual é o prazo que a administração tem decidir e a
partir do qual aquela se presume indeferida?
a) 4 meses;
b) 6 meses;
c) 12 meses;
d) Não há formação de indeferimento tácito.
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21. Uma destas características não permite definir ou caracterizar a substituição tributária. Qual?
a) Própria;
b) Parcial;
c) Total;
d) Facultativa.
23. Qual destas normais pode ser alterada por Decreto-Lei do Governo sem necessidade de autorização da
AR?
a) Art 61.º do CIRS;
b) Art 2.º do CIRS;
c) Art 68.º do CIRS;
d) Art 78.º do CIRS.
24. Qual destes impostos não está em causa na aquisição e propriedade de um imóvel?
a) IS;
b) IVA;
c) IMT;
d) IMI.
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27. Qual destes momentos não integra o procedimento de determinação da matéria tributável em IRS?
a) Divisão em categorias;
b) Deduções específicas;
c) Englobamento;
d) Determinação da coleta.
29. Qual destes rendimentos de IRS está, em princípio, sujeito a uma taxa progressiva?
a) Categorias F, G, H;
b) Categorias A, B, E;
c) Todas as categorias;
d) Categoria A, B, H.
31. Qual o meio jurisdicional adequado a reagir à legalidade dos atos de liquidação?
a) Oposição à execução;
b) Impugnação judicial;
c) Recurso jurisdicional;
d) Recurso hierárquico.
32. Uma vez indeferida a reclamação graciosa, quais são os meios pelos quais a reclamante pode reagir:
a) Impugnação judicial e recurso hierárquico.
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33. O meio jurisdicional para que um responsável subsidiário possa discutir a legalidade da dívida que lhe está
a ser exigida é:
a) Oposição à execução;
b) Impugnação judicial;
c) Recurso contencioso;
d) Reclamação graciosa.
35. Em geral, a reclamação graciosa não é condição de impugnação judicial em que casos?
a) Autoliquidação;
b) Pagamentos por conta;
c) Retenções na fonte;
d) Liquidação oficiosa de imposto.
36. Se for apresentada uma reclamação graciosa, qual o prazo para que a mesma possa considerar-se
tacitamente indeferida?
a) 4 meses (artigo 57.º/4 LGT);
b) 6 meses;
c) 12 meses;
d) Não há indeferimento tácito.
37. Se for apresentada uma impugnação judicial, pode o sujeito deduzir reclamação graciosa?
a) Sim, com diferentes fundamentos;
b) Não (artigo 68.º/2 CPPT);
c) Sim;
d) Sim, mas com o mesmo fundamento.
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39. Um destes impostos pode ser apontado simultaneamente como imposto de quota variável e, em alguns
casos, também como imposto de quota fixa:
a) IVA;
b) IRS;
c) IUC.
43. A distinção entre impostos periódicos e impostos de obrigação única é importante para a contagem do
prazo de:
a) Pagamento;
b) Reclamação;
c) Caducidade;
d) Impugnação judicial.
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44. As isenções, reduções de taxas, deduções e outras medidas destinadas à tutela de interesses públicos
superiores ao da tributação que impedem constituem:
a) Benefícios fiscais;
b) Garantias dos contribuintes;
c) Contribuições financeiras;
d) Preços de transferência.
46. Qual destas titularidades ativas tem passado em maior grau para as mãos dos sujeitos passivos?
a) Poder tributário;
b) Competência tributária;
c) Titularidade da receita;
d) Capacidade tributária.
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51. O princípio da legalidade fiscal resulta da conjugação do artigo 165.º/1-I) da CRP com o artigo…
a) 103.º/1;
b) 103.º/3;
c) 104.º/2;
d) 103.º/2.
52. A dimensão material do princípio da legalidade fiscal também é especificamente designada por princípio
da…?
a) Abertura;
b) Segurança;
c) Tipicidade;
d) Estabilidade.
CASOS PRÁTICOS
1. Suponhamos que A adquiriu uma coleção de selos por 200 mil €. Nesse ano declarou 20 mil €. No ano anterior
recebeu 30 mil € de herança de um familiar.
a) Estamos perante uma manifestação de fortuna?
b) Quais os efeitos fiscais associados à hipótese referida?
c) Como pode A reagir?
ii) Aumento da taxa de IRC aplicável aos lucros das sociedades relativos ao exercício de 2020.
3. Três hipóteses:
a. Ana, residente em Portugal, auferiu rendimentos em Espanha, onde esteve a trabalhar 4 meses durante o
surto de COVID-19.
b. Paolo, cidadão italiano, residente em França e que trabalha na Raynair, auferiu uma mais-valia com a venda
de um apartamento em Albufeira.
c. JPR, cidadão português, auferiu rendimentos de capitais pagos por uma holding com sede nas ilhas Virgens
Britânicas, para onde deslocalizou a residência.
4. O Governo, pretendendo dinamizar o tecido empresarial, aprovou em 2017 um Decreto-Lei que prevê um
novo regime para as micro e pequenas empresas. As suas medidas mais significativas foram dirigidas às empresas
com mais de 5 e menos de 10 trabalhadores: por um lado, foi criada para estas empresas uma taxa reduzida de IRC
de 15%; por outro, e em contrapartida, foi fixado um lucro tributável mínimo presumido de € 50.000,00. A sociedade
Gertrudes & Filhos, Lda., tem ao seu serviço quatro pasteleiras, um empregado de balcão e um webmaster, desde
que abriu portas em 15 de janeiro de 2018. Apesar de ter tido prejuízo no primeiro ano de atividade, foi tributada,
em sede de IRC, ao abrigo daquele regime, à taxa de 15% sobre € 50.000,00. Inconformada, deduziu Reclamação
Graciosa que foi indeferida o mês passado. Agora pretende reagir contra a liquidação com fundamento em princípios
jurídico-constitucionais. Aprecie a pretensão da sociedade Gertrudes & Filhos, Lda., à luz dos princípios da legalidade
e da igualdade fiscal.
5. Ana, trabalhadora dependente, aufere um salário de 3500€/mês que deposita numa conta a prazo no Banco
X, remunerada à taxa de 3%. Aprecie os factos descritos do ponto de vista da substituição tributária e indique quem
pode ser responsabilizado pela falta de pagamento das prestações tributárias devidas.
6. A Sociedade Rainha da FDUC, Lda., não pagou uma dívida relativa ao IRC de 2017, no valor de 50 mil €, cujo
prazo de pagamento terminou no passado mês de março. Os seus atuais gerentes, Ana e António, que exercem
funções desde fevereiro deste ano, constataram que a empresa apenas dispõe de património no valor de 5 mil € e que
os antigos gerentes, Bárbara e Bernardo, provocaram um desfalque de 50 mil €. Ana e António pretendem saber se
podem ser responsabilizados pelo pagamento da dívida. Quid iuris?
7. Em 2017, Ana doou um imóvel a Bárbara, sua filha, que o vendeu, em 2018, a Carlos, para habitação própria
e permanente deste. No passado mês, Carlos vendeu esse apartamento, tendo um ganho de 50.000,00€. Qual a
relevância fiscal destes factos do ponto de vista da incidência (objetiva e subjetiva)?
8. Uma empresa de máscaras cirúrgicas efetuou, em 2019, retenções na fonte aos rendimentos pagos aos seus
trabalhadores, em valor muito inferior ao devido. Os trabalhadores, ao preencherem a declaração de IRS, constataram
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que vão ter de pagar IRS, em vez de serem reembolsados e querem saber se a empresa pode ser responsabilizada por
esses pagamentos. Quid iuris?
9. Uma Sociedade Portuguesa, com proveitos de 1 Milhão de Euros, sujeitos à taxa normal de IRC (artigo 87.º
CIRC), adquiriu a uma Sociedade Cabo Verdiana, maioritariamente detida pela sociedade portuguesa e instalada no
Centro Internacional de Negócios daquele país, bens e serviços pelo valor de 900 K euros. Sabendo que a taxa do
imposto devido em Cabo Verde é, no caso, 5 % e que o valor de mercado daqueles bens e serviços é de 90k euros,
identifique o problema em questão.
10. Suponha que o Governo alterou hoje as taxas de tributação autónoma previstas no artigo 88.º, n.º 1, al. a), do
CIRC, agravando para 20% a aquisição de viaturas com custo de aquisição inferior a 25K€, dizendo que a nova taxa
será aplicada às aquisições ocorridas desde 1 de janeiro. A Empresa FDUC, SA, que tinha renovado a sua frota
automóvel, adquirindo 100 veículos, pretende saber se esta alteração será inconstitucional. Tendo em conta que a
liquidação desse imposto apenas será feita em 2021, "quid iuris"?
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