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PROJETO DE LEI

Institui a Política Nacional de Longo Prazo.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Longo Prazo - PNLP, constante do Anexo
desta Lei, em observância ao disposto no inciso IX do caput do art. 21 e no § 1º do art. 174 da
Constituição.
Art. 2º A PNLP dispõe sobre os fundamentos e os objetivos nacionais aplicáveis ao
planejamento estratégico de longo prazo da administração pública direta, autárquica e fundacional.
Art. 3º São fundamentos da PNLP:
I - garantir a soberania nacional;
II - promover o desenvolvimento nacional;
III - reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover a transparência e a participação social; e
V - estimular o diálogo e a cooperação federativa.

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 4º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se:


I - assuntos estratégicos nacionais - áreas temáticas com as quais o País se ocupa
prioritária e permanentemente e que se configuram como base, vetor e foco de convergência na
manutenção da soberania nacional em defesa, segurança e desenvolvimento;
II - Centro de Governo - órgãos que compõem o comitê da alta administração do Poder
Executivo federal e que prestem apoio ao Chefe do Executivo, geralmente para coordenação política e
técnica das ações de governo, do planejamento estratégico, do monitoramento do desempenho e da
comunicação das decisões e dos resultados do governo;
III - estratégia - documento que contém a visão estratégica em níveis federal, estadual,
distrital, municipal ou setorial, a partir da perspectiva governamental, apoiado por políticas públicas e
objetivos detalhados;
IV - gestão de riscos - processo de natureza permanente, que contempla as atividades de
identificar, avaliar e gerenciar potenciais eventos que possam afetar o desenvolvimento nacional, e é
estabelecido, direcionado e monitorado pela alta administração e destinado a mitigar os riscos de forma
adequada quanto à realização dos objetivos;
V - objetivos nacionais de longo prazo - declarações textuais por meio da qual os objetivos
se realizam, permanentemente, pela nação brasileira, no âmbito de determinado assunto estratégico,
ordenados e priorizados de acordo com sua relevância para o desenvolvimento em espaço de tempo e
conjuntura delimitados;
VI - plano nacional estratégico - instrumento de planejamento, a ser elaborado pelo
governo eleito, com abrangência nos âmbitos federal, estadual, distrital e municipal, durante o primeiro
ano de mandato, a vigorar a partir do segundo ano de mandato, pelos doze anos subsequentes e revisto
a cada quatro anos, contemplados os objetivos, as metas, os indicadores e as ações estratégicas a serem
executadas;
VII - política - instrumento de planejamento por meio do qual os governos declaram os
grandes objetivos, as bases e as orientações para os planejamentos nacional, estadual, distrital e
municipal;
VIII - políticas públicas - ações, programas ou decisões tomadas pelo governo, nas esferas
federal, estadual, distrital ou municipal, para implementação de assunto ou de tema relevante;
IX - sistema de planejamento de longo prazo - conjunto de órgãos independentes, mas
inter-relacionados, com a finalidade de desempenhar as funções de elaboração, de coordenação, de
monitoramento, de avaliação e de revisão das atividades atinentes ao processo de planejamento do
desenvolvimento nacional; e
XVI - sistema de planejamento estratégico de longo prazo - organização e ordenamento
de atividades, de instrumentos e de responsabilidades, com vistas ao desenvolvimento das diversas
fases do ciclo do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, a saber, formulação,
implementação, monitoramento, avaliação e revisão.

CAPÍTULO II
DA POLÍTICA NACIONAL DE LONGO PRAZO

Art. 5º A PNLP, na forma do disposto no § 1º do art. 174 da Constituição, com horizonte


temporal de trinta e seis anos, estabelecerá os Assuntos Estratégicos Nacionais - AEN, os Objetivos
Nacionais de Longo Prazo -ONLP e o marco inicial de vigência para a contagem de prazos relativos ao
planejamento estratégico de longo prazo.
Art. 6º A PNLP será revista a cada doze anos, contados da sua aprovação, mediante
estudo que fundamente a necessidade estratégica de alteração ou de aperfeiçoamento.
Parágrafo único. A PNLP será excepcionalmente revista quando ficar comprovada a
necessidade estratégica de ajuste ou de aperfeiçoamento, em função de eventos aleatórios ou
excepcionais que indiquem alteração significativa na conjuntura e nos cenários prospectivos que afetem
a definição dos objetivos nacionais de longo prazo.
Art. 7º A proposta de elaboração e de revisão da PNLP será coordenada pelo órgão
central responsável pelo planejamento estratégico nacional de longo prazo, que a submeterá ao Centro
de Governo.
Parágrafo único. A Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República é o órgão central responsável pelo planejamento nacional de longo prazo, à qual compete:
I - a coordenação da elaboração e da revisão dos pré-requisitos mínimos da PNLP; e
II - a coordenação para o alinhamento e a coerência de esforços entre os entes
governamentais participantes da proposta da PNLP em seus processos revisionais.
Art. 8º A proposta da PNLP e a sua revisão estarão fundamentados em relatório
circunstanciado.
Parágrafo único. O relatório circustanciado deverá abordar os seguintes aspectos:
I - avaliação das tendências e dos cenários prospectivos nacionais e internacionais;
II - assuntos estratégicos nacionais que o embasem, os quais constituem vetores e focos
de convergência para o desenvolvimento nacional;
III - avaliação da conjuntura nacional para os temas correlatos às tendências
consideradas;
IV - vantagens competitivas e vocações nacionais e regionais;
V - riscos e desalinhamentos entre as tendências e a conjuntura nacional;
VI - possibilidade de ocorrência de evento aleatório ou excepcional que impacte a PNLP e
indique a necessidade estratégica de alteração de objetivos e de diretrizes; e
VII - objetivos nacionais estratégicos elencados com base na análise das conjunturas
nacional e internacional e dos respectivos cenários prospectivos.
Art. 9º A PNLP, a partir dos objetivos e das bases nela estabelecidos, vincula os entes da
administração pública na elaboração de suas políticas, estratégias, planos e ações nacionais, regionais
ou setoriais específicos, a cargo de cada ente, nos seus respectivos âmbitos de atuação.
Parágrafo único. A elaboração das estratégias vinculadas à PNLP deverá possibilitar a
integração, a sinergia, a transversalidade e a convergência com os ONLP definidos.

CAPÍTULO III
DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE LONGO PRAZO

Art. 10. As unidades organizacionais da administração pública direta, autárquica e


fundacional deverão elaborar seus planejamentos estratégicos, com observância ao disposto nesta Lei.
Art. 11. O planejamento estratégico de longo prazo, determinante para o setor público e
orientador para a iniciativa privada, é composto pelos seguintes instrumentos balizadores:
I - Política Nacional de Longo Prazo;
II - Estratégia Nacional de Longo Prazo; e
III - Plano Nacional Estratégico.
Parágrafo único. Os demais instrumentos de planejamento estratégico existentes, tais
como as políticas e as estratégias nacionais, setoriais e regionais da administração pública direta,
autárquica e fundacional, em especial os previstos em lei específica, deverão alinhar seus instrumentos
de planejamento estratégico e adequá-los aos tipos e aos requisitos dos instrumentos de longo prazo
previstos no caput e em conformidade com o disposto nesta Lei.
Art. 12. A gestão dos instrumentos do planejamento estratégico de longo prazo
compreenderá a implementação, o monitoramento, a avaliação e a revisão de seus atributos.
Art. 13. A alta administração das organizações da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional deverá estabelecer, manter, monitorar e aprimorar sistemas de avaliação de
execução e de gestão de riscos.
Art. 14. O planejamento estratégico nacional de longo prazo deverá observar, a partir do
marco inicial da vigência da PNLP, um ciclo temporal não inferior a trinta e seis anos.

CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS, ESPECÍFICAS E TRANSITÓRIAS

Art. 15. O Poder Executivo deverá estabelecer as bases e estruturar o Sistema de


Planejamento Estratégico de Longo Prazo e sua sistemática, com a finalidade de executar as atividades
relacionadas à execução da PNLP, dentre elas:
I - organizar, implementar e gerir o Sistema de Planejamento Estratégico Nacional de
Longo Prazo;
II - formular, implementar, coordenar, monitorar e avaliar a implementação da PNLP;
III - formular, coordenar, monitorar e avaliar estratégias nacionais, setoriais e regionais
para o desenvolvimento da PNLP;
IV - formular, implementar, monitorar e avaliar planos nacionais, setoriais e regionais de
desenvolvimento; e
V - promover a articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com vistas
à compatibilização de normas e de atividades.
Art. 16. Os setores de planejamento estratégico da administração pública direta,
autárquica e fundacional nos níveis federal, estadual, distrital e municipal, como unidades operacionais
integrantes do Sistema de Planejamento Estratégico de Longo Prazo, realizarão, no prazo de trezentos e
sessenta dias, a revisão dos planos estratégicos institucionais de forma a alinhá-los às políticas, às
estratégias e aos planos nacionais, setoriais e regionais.
Art. 17. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília,

PL-POLÍTICA NACIONAL DE LONGO PRAZO


ANEXO
Política Nacional de Longo Prazo

I - Apresentação da Política Nacional de Longo Prazo


1. Introdução
O mundo desenvolvido tem consolidado o entendimento da importância que se deve dar
ao planejamento com foco no longo prazo, pensando de forma estratégica em como construir o seu
futuro.
Quando se abdica de planejar, definir objetivos ou elaborar uma estratégia para o futuro,
aceita-se deixar que o desenrolar dos acontecimentos dite o comportamento, tornando-se vulnerável às
crises e permitindo que o futuro seja decidido por interesses de outros atores ou alterado por
ocorrências fortuitas, bem como determinando-se o rumo que se irá trilhar apenas de forma reativa às
forças contrárias e suas consequências, o que impede a construção das bases necessárias ao
desenvolvimento.
Pensar no futuro e preparar o progresso e o desenvolvimento do país é responsabilidade
do Estado, não apenas de um governo específico, pois o tempo transcorrido no longo prazo abrange
várias legislaturas e mandatos governamentais. Por isso, este documento foi elaborado a partir de uma
perspectiva de Estado, colocando o rigor metodológico e a evidência empírica antes de qualquer
posição política.
O Brasil de hoje ainda possui deficiências e desafios que, se não forem superados nas
próximas décadas, continuarão a ser obstáculos que reduzirão a nossa capacidade de crescimento. Um
país não pode se dar ao luxo de não planejar com foco no longo, médio e curto prazo em harmonia, sob
pena de causar graves danos a seus bens e interesses, até mesmo à sua soberania.
Assim, a Política Nacional de Longo Prazo (PNLP) apresenta-se como uma declaração do
Estado brasileiro, com priorização estratégica de temas que precisam ser tratados como base para o
desenvolvimento, constituindo um marco referencial norteador. A PNLP afirma a visão de longo prazo
do país e orienta o alinhamento estratégico nas três esferas governamentais, indicando os objetivos
nacionais que a República Federativa do Brasil deseja alcançar em 36 anos.
Ela é o resultado dos esforços conjugados do poder público e da sociedade, tendo-se em
vista que o planejamento, como ferramenta integradora e sistêmica para o desenvolvimento, com visão
e perspectiva de longo prazo, representa um projeto de nação que repercute por todos os instrumentos
de ação estatal.
Nesse ínterim, as orientações e sugestões advindas dos órgãos de controle da República
Federativa do Brasil, em nível federal, são acatadas considerando-se as melhores práticas de
planejamento estratégico de longo prazo disponíveis nos setores público e privado, inclusive com os
casos bem-sucedidos de democracias que planejam várias décadas à frente, sobre todos os temas
estratégicos de seu interesse.
Para tanto, a PNLP traz em seu texto uma análise de conjuntura (onde estamos), o
desenvolvimento de cenários prospectivos, o que se precisa trabalhar (opções estratégicas) e aponta
caminhos para construir o futuro almejado (orientações e caminhos que devem ser tomados).
Tem por base um conjunto de pilares temáticos que reúnem os assuntos considerados
prioritários e estratégicos para o país, e que proporciona melhoria no alinhamento, na integração e na
sinergia com o seu desenvolvimento, para que a República atinja os resultados almejados no seu
planejamento, conforme a orientação delineada na Carta Magna brasileira de 1988, em seu artigo 174,
parágrafo 1º.
As dimensões continentais do Brasil, com sua ampla riqueza em recursos naturais e suas
vastas potencialidades humanas criativas, necessitam de uma diretriz que contemple o longo prazo em
planejamento, de maneira que seu crescimento se realize de modo contínuo e sustentável.
Ademais, aspirações nacionais, tais como a acessão do país à Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ficam facilitadas pensando-se o longo prazo com
estratégia e método, sendo, dessa maneira, um dos pré-requisitos para essa e outras conquistas.
Portanto, para se construir o futuro na busca do desenvolvimento brasileiro, torna-se
fundamental que o planejamento estratégico de longo prazo seja realizado de forma organizada e
coordenada, de maneira que propicie a consecução dos objetivos do Estado, resgatando iniciativas que,
de forma decisiva, permitam:
a) a retomada do pensamento nacional estratégico;
b) o fortalecimento do centro de governo;
c) a definição consensual e estratégica de grandes objetivos nacionais;
d) a priorização dos objetivos nacionais, frente à conjuntura, às tendências, aos
desafios e aos cenários prospectivos;
e) a proposição de orientações para o planejamento estratégico de longo prazo;
f) o aperfeiçoamento, a integração e o alinhamento dos planos setoriais e regionais aos
objetivos nacionais de longo prazo;
g) o fortalecimento da sinergia entre projetos da administração pública nos três
níveis da federação; e
e)o oferecimento de indicativos para a iniciativa privada.
Dadas essas razões, o governo federal promoveu o diálogo e o intercâmbio de ideias
entre órgãos públicos diversos e representantes especialistas da sociedade, incluindo instituições
acadêmicas e de pesquisa, na construção conjunta do conteúdo deste documento, orientado por uma
metodologia científica para que, finalmente, ele pudesse ser apresentado ao Congresso Nacional.
Constitui-se, dessa maneira, uma iniciativa trabalhada de modo cooperativo e integrador
de várias perspectivas, como deve ser uma política de Estado olhando para o futuro.
A PNLP é o primeiro produto de uma série que proporcionará a composição sistêmica do
conjunto de documentos nacionais e setoriais de longo prazo, como estratégias, planos setoriais, entre
outros.
Esta PNLP e os documentos subsequentes a ela não substituirão as políticas, estratégias e
planos já existentes na Administração Pública, mas serão orientadores e integradores de esforços rumo
à visão de futuro de longo prazo. As conexões no ordenamento jurídico serão, desta feita, realizadas
paulatinamente, por meio dos próprios setores responsáveis, em um todo harmônico que melhor
permita o atingimento dos resultados almejados para o desenvolvimento do país.
A PNLP é composta pelos capítulos descritos a seguir.
No capítulo um, é trazida a introdução da PNLP e são elencados desafios da conjuntura
nacional, em um rol de temas que devem ser levados em consideração na elaboração de um
planejamento estratégico de longo prazo para o Brasil.
No capítulo dois, são descritas as megatendências mundiais, as ameaças e as
oportunidades delas decorrentes, contextualizando as dinâmicas com as quais o país terá de lidar na
construção de seu desenvolvimento, maximizando suas possibilidades, minimizando os riscos e
ajustando, conforme o caso, sua trajetória.
No capítulo três, são apresentados os pilares estratégicos em torno dos quais estão
agrupados conjuntos de Assuntos Estratégicos Nacionais (AEN) considerados vitais para o avanço
brasileiro, de maneira que os objetivos a serem atingidos o sejam também de modo transversal e
integrado, fazendo com que os esforços para uma área reflitam positivamente em várias outras,
conforme o avanço no atingimento dos objetivos.
O capítulo quatro aponta os Objetivos Nacionais de Longo Prazo (ONLP), declarações
daquilo que o Brasil deseja ser e como deseja estar ao final dos 36 anos de trabalho contínuo em
desenvolvimento, nos temas identificados e agrupados como estratégicos para o país, sempre com o
foco harmônico no indivíduo e na sociedade, conforme orientado nos artigos 5º e 6º da Constituição
Federal.
O capítulo cinco traz as considerações finais, junto com os elementos que deverão ser
seguidos para conectar a PNLP com os documentos decorrentes seguintes.
Esta PNLP surge em um momento em que os tomadores de decisão políticos, servidores
públicos e empregados públicos do Estado brasileiro vivem um amplo histórico de experiência em
planejamento de curto prazo, por exemplo, com o Plano Plurianual (PPA); e de médio prazo, com os
diversos planos setoriais e, mais recentemente, com a Estratégia Federal de Desenvolvimento (EFD).
O cenário mundial não comporta mais a possibilidade de Estados atuarem sem um sólido
planejamento estratégico que se ajuste às necessidades internas e externas do país e que oportunize
melhoras reais para suas populações. Igualmente, pode-se afirmar que o processo da globalização
demanda que os países formulem seus esforços para o desenvolvimento de modo racional, equilibrado
e integrado, tal qual preconizado na Constituição Federal.
Os países mais desenvolvidos nos critérios econômico e social são exemplos da
importância do estabelecimento de objetivos definidos em horizontes de longo, médio e curto prazos. A
República Federativa do Brasil se aprimora ao seguir tal caminho, que conduz à prosperidade como
resultado de se guiar por uma política de Estado que exprima as aspirações do país, as quais, por sua
vez, comporão os norteadores na realização de seus anseios.
Com este documento, o Brasil aperfeiçoa seu planejamento público, adotando as
melhores práticas aplicadas para o planejamento de longo prazo, utilizando o planejamento e o
pensamento estratégico para o proveito de seu povo, com seus recursos naturais e humanos,
maximizando as oportunidades de relações internacionais, a defesa de seus bens e interesses para o
desenvolvimento da nação, gerando prosperidade compartilhada e bem-estar para todos.

2. Aspectos da Conjuntura Nacional


Entender o panorama atual é a primeira condição para bem planejar o futuro. Não
poderia ser diferente, já que o atingimento de objetivos estratégicos é conseguido tendo-se por alicerce
a identificação do que já foi (e o que não foi) realizado no tema em que se deseja conseguir resultados.
Desse modo, parte-se da conjuntura atual (onde estamos), avaliam-se as tendências (o
que se espera) para, em seguida, fixarem-se objetivos prioritários (estratégicos) cuja realização
desencadeie e facilite a consecução de todos os outros que a eles estão vinculados.
A República Federativa do Brasil chega ao ano de 2022, bicentenário de sua
Independência, vivenciando desafios próprios e do cenário internacional, muitas vezes indissociáveis,
que continuarão a se fazer sentir nos anos à frente, junto com suas repercussões, tais como:
- a acentuada polarização político-ideológica no país, obstaculizando os esforços de união
nacional em prol da defesa da soberania pátria, dos melhores interesses da nação e dos propósitos de
desenvolvimento, comuns a todos;
- as endemias e pandemias que se sucedem, regional ou globalmente, que inspiram
maiores cuidados e novas práticas em seu enfrentamento em âmbito internacional e, no que diz
respeito às suas peculiaridades, pela nação brasileira;
- a volatilidade dos preços, em especial de alimentos e de combustíveis, fenômeno
internacional que, todavia, impacta mais os países em desenvolvimento, como o Brasil, dado o maior
número de pessoas em situação de vulnerabilidade;
- as repercussões regionais e globais de conflitos internacionais diversos que, além de
afetarem gravemente as populações envolvidas diretamente, geram um somatório de amplas
externalidades negativas, tais como as crises nas cadeias de produção e de distribuição internacionais,
atingindo também consumidores indiretos, além de provocar migrações forçadas e instabilidade
diplomática, entre outras;
- a crescente competitividade para obtenção de insumos voltados para a produção
agrícola, bem como para as atividades industriais;
- os problemas persistentes da saúde pública em âmbito federal, estadual e municipal,
nada obstante o orçamento destinado ao setor ser um dos maiores do país. Daí a necessidade de
priorizar a promoção da saúde, da alimentação adequada e saudável, a prática de atividade física e a
prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (doenças cardiovasculares, obesidade, cânceres,
hipertensão arterial e diabetes), considerando que essas são responsáveis por mais da metade do total
de mortes no Brasil;
- as dificuldades referentes à educação, igualmente em âmbito federal, estadual e
municipal, tanto no ensino básico, quanto no superior, profissional e tecnológico, em especial os
entraves ora existentes para a implantação das melhores práticas internacionais de educação, que
permitiram a ascensão de vários países nesse quesito, alguns em situação anterior mais preocupante do
que a situação brasileira;
- a importância de se formar e capacitar o cidadão brasileiro, nas diversas áreas
profissionais, bem como nas variadas faixas etárias, de forma que estes estejam aptos a competir em
um mercado de trabalho cada vez mais suscetível às inúmeras tecnologias emergentes e disruptivas.
- os desafios crescentes em segurança pública, tais como o fortalecimento e mesmo a
expansão internacional de Organizações Criminosas (Orcrim) brasileiras, que já se apresentam no rol
global das mais perigosas a serem combatidas e debeladas. Elas operam em diversas frentes de ilícitos,
inclusive de caráter transnacional, possuindo contatos e negócios com grupos considerados terroristas;
- a necessidade da promoção da ciência, tecnologia e inovação (CTI) no Brasil, com
formação de uma nova mentalidade onde essas três áreas sejam incentivadas, promovidas e apoiadas
sistemicamente, além de tratadas como uma das mais urgentes prioridades estratégicas para o
desenvolvimento da nação, uma vez que o mundo já sente os avançados efeitos da quarta revolução
industrial e todos os elementos a ela associados;
- as aceleradas mudanças em tecnologias de informação e comunicação (TIC),
decorrentes do desafio anterior, mas com aspectos distintos que justificam o trato com a questão de
maneira específica, já que as interconexões complexas avançam em ritmo acelerado em todo o planeta,
a fim de que o Brasil faça parte desse processo, necessário para o pleno desenvolvimento de suas
capacidades nesta área;
- a manutenção e constante aperfeiçoamento da defesa nacional frente às ameaças
identificadas, objetivando a proteção dos bens e interesses nacionais, junto com a promoção do
desenvolvimento brasileiro, são condições sem as quais nada pode ser feito a favor de seu maior
interessado, a saber, seu povo;
- as demandas prementes e específicas de saneamento básico, em cada região brasileira,
apresentam grave e urgente desafio estrutural que atinge milhões de cidadãos e que está associado a
diversos outros problemas, sobretudo os referentes à saúde pública. Muitas dessas dificuldades devem
ser vencidas ao se proverem a atenção e os cuidados necessários ao tema. Hoje é fato que, para cada
um real investido em saneamento básico, pode-se poupar em média quatro reais em saúde pública;
- os desafios relacionados ao déficit de infraestrutura nacional, em todas as suas áreas,
essencial para o bem-estar da população e para a integração das diversas regiões do Brasil e com o
entorno estratégico brasileiro, isto é, toda a área de interesse prioritário para o país, compreendendo a
América do Sul, o Atlântico Sul, os países da costa ocidental africana e a Antártica. Dado o potencial e as
oportunidades presentes no grande volume de investimentos previstos na carteira de projetos em
infraestrutura, o avanço e a promoção desse setor impactará direta e indiretamente vários outros
setores estratégicos nacionais;
- os esforços envolvendo a dinamização e o crescimento da economia do país, proposta
que pode avançar tendo-se sempre em consideração que a liberdade econômica e o investimento social
caminham de forma conjunta e complementar, apoiados um no outro, desde que o desenvolvimento
nacional seja fundamentado no balanceamento das vertentes econômicas e sociais;
- o cuidado com o meio ambiente, no seguimento das melhores práticas e legislações
nacionais e internacionais sobre o tema, já que o cerne da sustentabilidade, o equilíbrio, é premissa de
nossa Carta Magna;
- a ampliação continuada da oferta de energia sustentável, já notável, do parque
produtivo de energia limpa brasileiro, exigência em qualquer país que pretenda avançar em seu
desenvolvimento e no atendimento às necessidades de seu povo. As consecuções desejáveis nesse tema
têm sido desafiadoras há muito tempo, mas se tornaram mais prementes com o aumento populacional
seguido do uso crescente de energia elétrica impulsionado por novas tecnologias;
- a defesa e a promoção harmoniosa dos direitos e garantias dos indivíduos e a atenção às
necessidades sociais das diversas coletividades que compõem a nação, em especial a família, pois uma
não é excludente da outra, sendo ambos pilares da vida nacional e do ordenamento jurídico pátrio,
ensejando um conjunto de responsabilidades cujo atendimento está nos melhores interesses soberanos
do país;
- a demanda de uma continuada inserção do Brasil no cenário regional e internacional,
como ator respeitado e atuante em todas as áreas, com destaque na promoção da paz, da concórdia,
da liberdade, da justiça e do livre-comércio entre os povos. As vocações pacíficas e empreendedoras,
assim como o carisma e a cordialidade de seu povo, já estão consolidadas historicamente como
expressões de um legítimo soft power (poder brando) brasileiro, constituindo-se fatores positivos que
requerem o mais amplo apoio interno para que os passos já dados se façam cada vez mais significativos
aos olhos de mais e mais países;
- a flexibilização equilibrada da legislação trabalhista brasileira, que permita ao mesmo
tempo a criação regular de mais postos de trabalho e, igualmente, a garantia das valiosas conquistas dos
direitos dos trabalhadores frente aos novos tempos, incluindo a devida contribuição previdenciária para
assegurar uma aposentadoria;
- a diminuição dos litígios internos e daqueles provocados pela administração pública
federal, estadual e municipal por meio das melhores práticas de Governo Aberto e de Integridade,
promovendo a transparência, a accountability e a cultura ética prescritos pela legislação e auxiliando o
processo de governança no setor público;
- a necessidade de promoção e incentivo ao turismo nacional em suas diversas
possibilidades regionais, tanto as já conhecidas quanto aquelas que venham a surgir, já que o Brasil
pode e deve melhorar sua posição no ranking do circuito internacional de visitação por turistas,
melhorando sua imagem junto a outros povos e atraindo investimento neste setor;
- a demanda por maior incentivo às ações de defesa e preservação do patrimônio cultural
brasileiro, como forma de promoção do desenvolvimento cultural, econômico e social. Nesse sentido,
destaca-se a transversalidade do tema, haja vista seus impactos positivos na economia (essencial na
promoção do turismo nacional e na geração de renda local), na educação (educação patrimonial) e na
construção histórica do país (identidade nacional);
- a necessidade de reconhecer a importância estratégica do setor econômico criativo do
país e de estimular o desenvolvimento e fortalecimento do setor;
- o entrave da exploração sustentável dos vastíssimos recursos minerais do território
brasileiro, tanto a de minérios tradicionais quanto a dos que despontaram como necessários às novas
tecnologias que vêm surgindo. A obstaculização é feita por um conjunto de esforços de diversos atores
que agem em várias frentes onde, além de a tentarem contra os melhores interesses do Brasil, atendem
a interesses estrangeiros diversos, negando à nação possibilidades de acesso legítimo e justo a essa
farta riqueza;
- o envelhecimento gradual da população brasileira, que gera consequências e impactos
importantes para diversos setores da vida nacional, tais como os de saúde, educação e previdência,
demandando preparativos e ajustes apropriados em resposta a tal fato;
- a necessidade de se planejarem e implementarem políticas de segurança pública que
facilitem ao Estado brasileiro atingir seus objetivos, alguns deles relacionados acima, bem como de se
fornecer sensação de segurança aos cidadãos;
- a indústria nacional está debilitada em agregar valor aos produtos produzidos ou
necessários para a sociedade; e
- a premência de se planejar e implementar políticas públicas para o enfrentamento dos
problemas relacionados aos bolsões de pobreza nas diversas regiões do país.
Certamente os desafios elencados não esgotam a lista de pontos que precisam ser
tratados pela República Federativa do Brasil para que esta ofereça o melhor à sua população, mas
permitem uma visualização correta em panorama de como está o Brasil e sua posição no cenário
internacional.
Sendo assim, antes que seja estabelecido o que se pretende ser e aonde se deseja chegar
em desenvolvimento nacional, vencendo os obstáculos mencionados, é importante analisar os possíveis
desdobramentos futuros dessa conjuntura, por meio das megatendências e cenários prospectivos a ela
associados. Portanto, os atuais fatores presentes no cenário nacional e internacional podem ser
projetados metodicamente para o vislumbre mais amplo do encaminhamento desses assuntos.
Dessa maneira é possível o estabelecimento de objetivos de longo prazo, focando no que
é verdadeiramente estratégico para o país, permitindo a correção de rumos quando se fizer necessário,
já que haverá clara conexão de causa e efeito.

II - Tendências e Cenários

Entre as diversas abordagens metodológicas, a PNLP buscou integrar as melhores práticas


de estudo de futuro que, com viés dinâmico, estimulem continuadamente sua atualização, tendo sido
realizada uma mineração de dados para a identificação de tendências que tragam elementos
recorrentes em diversos projetos e estudos apresentados por instituições governamentais e privadas,
do Brasil e do exterior.
Há muito tempo, o país vem, por meio de cientistas e pesquisadores de diversas
instituições, bem como de servidores públicos e militares, apresentando diversos argumentos para
reunir propostas de orientação e investimento em um plano nacional de longo prazo. A PNLP permitirá
que isso ocorra, indicando os projetos correlacionados que se alinhem às respectivas proposições para o
investimento em áreas estratégicas.
A globalização, em todas as suas vertentes, suscita a transversalidade de temas nos mais
variados contextos e sistemas sociais, políticos e econômicos. Seus desdobramentos afetam
diretamente, por exemplo, o desenvolvimento tecnológico, científico e a capacidade de inovar de uma
nação.
Os indicadores socioeconômicos nacionais mostram um quadro deficiente e/ou oscilante,
principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento humano. As questões afetas à economia,
educação, infraestrutura, saúde, segurança pública, produtividade industrial, telecomunicação, trabalho
e emprego, entre outras, suscitam preocupações cada vez mais prementes, demandando soluções
apropriadas.
A metodologia adotada na PNLP considera diversos conceitos que se complementam,
gerando as informações necessárias ao propósito da política. Nesse contexto, aplicam-se os estudos de
tendências e os cenários prospectivos e seus elementos.
A construção da PNLP foi realizada por meio de sucessivos refinamentos, que contaram
com ciclos de coleta, tratamento, análise e compilação de dados daqueles elementos agregadores de
valor ao processo de seleção dos elementos basilares para o desenvolvimento nacional a longo prazo
em áreas estratégicas.
Para a seleção das tendências relevantes, também foram consideradas as diversas etapas
evolutivas da elaboração da PNLP. Tais tendências são denominadas Tendências de Peso (TPs) e
referem-se a eventos cujas perspectivas de comportamento estão suficientemente consolidadas e
perceptíveis, a ponto de se admitir a permanência desse comportamento em um período estabelecido.
Uma TP representa a disposição natural que leva algo a mover-se em direção a uma dada situação ou
resultado, ou seja, são forças duradouras que moldam um comportamento futuro.
Entretanto, existe um tipo de variável com o mesmo comportamento das TPs, mas com
robustez suficiente para continuar com o mesmo comportamento em médio e longo prazos,
independentemente do interesse dos atores: as megatendências. Em função desse comportamento no
futuro, o estudo das megatendências permite identificar ameaças e oportunidades.
Nesse processo, as megatendências mundiais foram reunidas a partir de seus elementos
contextuais para a elaboração da PNLP. Foram utilizados como referência diversos estudos realizados no
Brasil e no exterior, selecionados de fontes que agregam valor por terem a maturidade metodológica
desejada.
Também foram analisados requisitos de grande relevância que necessitam ser
considerados para a identificação das megatendências. Para que se tenha sucesso na elaboração de uma
política, bem como na elaboração posterior das estratégias, planos e projetos derivados, todos esses
requisitos devem ser considerados e tratados de maneira sistêmica a fim de se obter os resultados
desejados. Entre eles, foram elencados:
a) Soberania: a autonomia do país em suas escolhas estratégicas, proteção do seu
patrimônio natural, material e humano;
b) paradigmas: assertividade nas decisões políticas para que se procedam às novas
escolhas rumo ao sucesso desejado em curto, médio e longo prazo que envolvem, por exemplo:
ambiente sociopolítico-cultural, marco legal, produtos de alto valor agregado, elevação da
produtividade industrial, investimento em pesquisa, desenvolvimento, ciência, tecnologia e inovação;
c) Agilidade: caracteriza-se por tornar céleres todos os processos públicos e privados, de
modo que a rapidez no acesso e na prestação de informações torne os processos descomplicados e
eficientes;
d) Desburocratização: diz respeito ao simples e correto funcionamento dos processos na
administração pública federal, estadual e municipal. Visa à realização de serviços de maneira simples,
transparente, objetiva, eficaz e eficiente;
e) Transformação: diz respeito à modificação, quando necessário, dos processos públicos
e privados, e na relação entre eles e entre seus utilizadores, de maneira a agregar valor a cada processo
realizado, tornando-os responsivos às demandas atualizadas que ocorrerem no país e no mundo;
f) Modernização: trata-se de aplicação de novos métodos e processos de atuação em
todas as relações entre órgãos públicos e privados e entre seus utilizadores, complementados por
recursos de tecnologia da informação e também da comunicação;
g) Integração: soluções construídas com a combinação sistêmica de dados, fluxos e
informações por meio de métodos, processos e recursos de tecnologia da informação e também da
comunicação;
h) Desenvolvimento nacional: união do setor público, setor privado e Academia na busca
de objetivos que gerem riqueza ao país e ao povo brasileiro, observando os itens anteriores; e
i) Bem-estar nacional: objetivo fundamental da República a ser alcançado, devendo ser
considerado em todas as ações de planejamento, investimento e realização que envolvem políticas,
estratégias, planos, ações e projetos.

1. Visão de futuro

Estar entre os 30 países com melhores indicadores de desenvolvimento nos próximos 36


anos.
Essa visão de futuro é uma situação que possui grande possibilidade de se atingir, com
coordenação e concentração de esforços dos entes públicos e da sociedade a partir de escolhas
norteadas com vistas ao desenvolvimento e progresso nacional.
O planejamento de longo prazo e a gestão estratégica são igualmente importantes nesse
processo de construção das bases para o progresso e atingimento da visão de futuro. Nesse processo de
planejamento, o acompanhamento das megatendências, aliado ao conhecimento da conjuntura atual,
das potencialidades e riscos, contribui na definição e priorização de objetivos e permite que o Estado
brasileiro esteja sintonizado com o que acontece em âmbito nacional e internacional e seja mais efetivo
na gestão estratégica das bases e condições que possibilitem alavancar o desenvolvimento nacional.

2. Megatendências
a) Crescimento em ritmo desacelerado e envelhecimento populacional.
b) Intensificação de movimentos de migração.
c) Adaptação do papel do Estado frente aos novos desafios sociais e populacionais.
d) Intensificação da urbanização.
e) Amadurecimento e consolidação do processo de globalização.
f) Crescimento da demanda por energia e alimentos.
g) Aumento da pressão sobre os recursos hídricos.
h) Mudanças climáticas e eventos climáticos extremos.
i) Aumento da competição por recursos naturais.
j) Nova ordem mundial multipolar.
k) Acelerado avanço tecnológico.
l) Expansão do crime organizado transnacional.
m) Prevalência de ameaças complexas como fontes de desestabilização da normalidade
institucional.

2.1. Descritivo de megatendências


a) Crescimento em ritmo desacelerado e envelhecimento populacional
A dinâmica populacional mudará radicalmente nas próximas décadas. A população
crescerá a taxas marginais decrescentes, como resultado da baixa taxa de fecundidade, da elevação da
expectativa de vida, determinando um envelhecimento populacional. Isso trará a necessidade de se
fortalecer e se reavaliar ao longo do tempo o financiamento do sistema previdenciário e dos serviços de
saúde, ou seja, acarretará maior pressão no sistema de proteção social no perfil e na oferta de serviços
públicos para a população idosa e na geração de empregos, com consequências também para o sistema
educacional e nas relações familiares.
Em comparação com situações vivenciadas por outros países, o Brasil está realizando
uma das transições demográficas mais rápidas do mundo. A radical transformação do perfil demográfico
constitui uma das mais importantes modificações estruturais verificadas na sociedade brasileira, com
reduções na taxa de crescimento e alterações na estrutura etária, o que implica a diminuição do
número de crianças e adolescentes (0 a 18 anos), paralelamente ao aumento da população idosa (60
anos e mais) e à diminuição da população em idade ativa de trabalho (15 a 64 anos).
De acordo com as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
população idosa nacional, que era de 19,6 milhões de pessoas em 2010, deve aumentar para 66,5
milhões em 2050. Está previsto também que, por volta de 2048, a população nacional comece a s e
reduzir, quando se projeta que o número de mortes superará o de nascimentos.
b) Intensificação de movimentos de migração
O movimento migratório mundial, provocado especialmente por crises, conflitos, busca
por melhores condições de vida, trabalho, além de outros fatores, intensificar-se-á, gerando
crescimento da demanda por serviços públicos, proteção social e geração de empregos, o que exigirá
políticas públicas de interesse estratégico dos Estados nos aspectos humanitários, econômicos, políticos
e de segurança.
c) Adaptação do papel do Estado frente aos novos desafios sociais e populacionais
A sociedade civil organizada conhecerá um maior empoderamento, com aumento da
classe média em escala global. O crescimento do poder de influência de diversos grupos sociais
organizados vai exigir novas estratégias dos governos, com a probabilidade de existência de tensões e
conflitos sociais (religiosos, étnicos, ideológicos ou políticos) em razão da demanda crescente por
melhorias na qualidade de vida e da capacidade do Estado em provê-la. Será necessária a busca
constante pela inovação e a adaptação do papel do Estado frente aos novos desafios sociais e
populacionais, buscando novas formas de atuação para suprir as demandas e os custos crescentes.
d) Intensificação da urbanização
O crescimento da população e a intensificação dos movimentos migratórios trarão
impacto e elevação do nível de urbanização, com crescimento da demanda por infraestrutura e serviços
públicos (saúde, educação, segurança, saneamento, energia, telecomunicações e transporte) nas
atividades produtivas e sociais. Quanto melhor os governos gerirem o processo de urbanização, maior
será o impacto direto sobre o sucesso nastransformações para alcançar o desenvolvimento sustentável.
As projeções para 2050 estimam que a população urbana mundial quase dobrará, tornando a
urbanização uma das transformações mais importantes do século XXI.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2015, a
maior parte da população brasileira, 84,72%, vive em áreas urbanas. O Brasil historicamente sofre com
as consequências advindas da falta do adequado planejamento da ocupação territorial urbana que,
recorrentemente, causa perdas econômicas e de vidas humanas. Essa megatendência demandará
políticas e investimentos por parte da União e, em especial, dos estados, Distrito Federal e municípios.
e) Amadurecimento e consolidação do processo de globalização
A economia global interconectada presenciará um aumento contínuo nos níveis de
comércio internacional e nos fluxos de capital. Grandes conglomerados empresariais ajudarão a
perpetuar a globalização. Contudo, permanecerá a incerteza se as relações econômicas serão mais ou
menos cooperativas, se haverá crescimento do controle do comércio internacional e se os mercados
serão mais abertos ou mais protegidos.
O Brasil ainda possui participação reduzida no comércio internacional em comparação às
maiores economias mundiais, necessitando ampliar sua presença nas cadeias globais de valor. O mundo
enfrenta atualmente o desafio de reconfiguração das cadeias produtivas globais devido à pandemia de
Covid-19 e à guerra entre Rússia e Ucrânia, o que abre um leque de oportunidades para que o país
amplie os laços de integração internacionais e receba novos investimentos.
f) Crescimento da demanda por energia e alimentos
A interdependência entre energia e alimento deverá crescer exponencialmente. A
competição por recursos naturais para a produção de energia e alimentos está aumentando à medida
que se buscam alternativas de bioenergia aos combustíveis fósseis. Projeções apontadas pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 2018 indicam o crescimento da demanda mundial
por alimento em 35% e por energia em 40% até 2030.
O crescimento da classe média global exercerá forte pressão sobre os recursos críticos,
elevando a demanda por energia e de sua oferta por meio de uma matriz energética diversificada, com
aumento do peso das fontes renováveis.
A matriz elétrica nacional é uma das mais limpas do planeta e conta, atualmente, com
83% da geração de eletricidade oriunda de fontes renováveis. A Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE)
aponta que, apesar das incertezas sobre a evolução do setor no longo prazo, tanto pelo lado da
demanda de energia quanto pelas tecnologias e fontes que a suprirão, confirma-se a riqueza de recursos
energéticos do Brasil, que supera em muitas vezes a demanda de energia total estimada até 2050.
O rápido crescimento da renda nos países emergentes, proporcionando a ascensão de
uma classe média global, também está acelerando as mudanças na dieta alimentar. O aumento
populacional dos países emergentes, dos países asiáticos e os conflitos mundiais exercerão pressão na
demanda por alimentos no mundo. A demanda por alimentos está se deslocando para um maior
consumo de carnes e laticínios, além de outros alimentos de produção intensiva, o que pode vir a
ocasionar graves repercussões no uso sustentável dos recursos naturais.
Novas tecnologias, gestão logística e melhoria da eficiência no uso de terras cultiváveis,
na gestão da água e uso de fertilizantes, serão primordiais para garantir a produção sustentável, o
abastecimento global e minimizar desperdícios, frente às crescentes demandas por alimentos.
O Brasil está entre os grandes atores do agronegócio global. É o quinto maior país em
extensão territorial e um dos que possuem a maior área agricultável, tornando-se cada vez mais
protagonista na garantia da segurança alimentar nutricional mundial. Enquanto os demais países
utilizam em média de 20% a 30% de seus territórios para a produção agrícola, o Brasil utiliza apenas
7,6%, o que aponta para o potencial de crescimento do agronegócio nacional.1
g) Aumento da pressão sobre os recursos hídricos:
Por seu incontestável valor social, econômico e ambiental, os recursos hídricos são
historicamente reconhecidos por sua força motora e papel no desenvolvimento da agricultura e da
indústria. Nas próximas décadas, a vulnerabilidade dos sistemas ambientais, a continuidade da
ocorrência de eventos climáticos extremos e o debate sobre as questões relacionadas às mudanças do
clima demandarão um modelo de desenvolvimento econômico sustentável.
As projeções do consumo mundial de água, apontados pela Embrapa em 2018, preveem
aumento em 50% até 2030. A demanda urgente e a competição por água entre a agricultura, indústria e
áreas urbanas estão esgotando os recursos hídricos. A demanda de água para a agricultura representa,
em média, 70% da retirada total desse recurso. A Food and Agriculture Organization (FAO) estima que
mais de 40% da população rural mundial vive em bacias hidrográficas sem água. Em muitas áreas de
baixa pluviosidade no Oriente Médio, Norte da África e Ásia Central, bem como na Índia e na China, os
agricultores usam grande parte dos recursos hídricos disponíveis, causando o esgotamento dos rios e
aquíferos. Em algumas dessas áreas, de 80% a 90% da água são usados para fins agrícolas.
A intensificação da urbanização e o aumento da demanda por alimentos causarão pressão
sobre os recursos hídricos, gerando necessidade de gestão mais efetiva do uso da água para fins de
consumo humano e em atividades econômicas, sobretudo nos países em desenvolvimento e com
elevada produção agropecuária, como o Brasil.
O Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), retira atualmente em torno
de 60% da água de suas bacias hidrográficas para a agricultura e a pecuária. Em que pesem as
desigualdades regionais, o país manterá sua posição de destaque nessa questão, por possuir a maior
quantidade de água doce no mundo, com 12% do total existente no planeta. É mais do que todo o
continente europeu e africano, por exemplo, que detêm 7% e 10%, respectivamente.
h) Mudanças climáticas e eventos climáticos extremos
Os efeitos físicos das mudanças climáticas, como temperaturas mais altas, aumento do
nível do mar e eventos climáticos extremos, afetarão todos os países. Essas alterações provavelmente
restringirão a disponibilidade de terras cultiváveis no mundo, destacando- se a África e o Oriente Médio
como as regiões que mais sofreriam nesse contexto, com vulnerabilidades também existentes na China
e na Índia em especial, quanto à disponibilidade de terras agricultáveis e limitações à ampliação do uso
dos recursos hídricos.
A transição para uma economia de baixo carbono, visando à neutralidade climática,
norteará o debate sobre como e com que rapidez o mundo deve controlar a emissão dos gases do efeito
estufa, à medida que países enfrentam escolhas difíceis sobre como implementar cortes drásticos de
emissões e medidas adaptativas, com maior ênfase na mitigação das emissões por meio de novas
1
No Plano Estratégico do Mapa 2020-2031, é utilizada a nomenclatura “Cadeia Produtiva Agropecuária”, ou seja: “a soma
das atividades de fornecimento de bens e serviços à agricultura, da produção agropecuária, do processamento, da
transformação e da distribuição de produtos de origem agropecuária até o consumidor final. No segmento de produção são
contemplados o pequeno, o médio e o grande produtor rural”.
tecnologias de geração de energia renovável e de captura de carbono. Os países deverão implementar
de forma gradativa medidas eficazes de mitigação das emissões, o que impactará a concorrência,
contribuir para a instabilidade e eventualmente provocar conflitos geopolíticos.
O Brasil tem um expressivo potencial de ser fornecedor de produtos de baixa intensidade
de carbono e de ter uma das maiores economias de baixo carbono do globo, sendo ainda um grande
fornecedor de créditos de carbono para o mundo, por suas características e ampla cobertura vegetal. O
país é exemplo de legislação ambiental e boa prática, como as reservas legais em todas as propriedades
rurais regularizadas, o que contribui para o ciclo de carbono. Ademais, o uso sustentável da Floresta
Amazônica, com garantia de sua conservação e exploração sustentável, pode ser impulsionador dos
investimentos internacionais do mercado de carbono e dos fundos dos “títulos verdes”.
i) Aumento da competição por recursos naturais
O crescimento econômico e o aumento dos padrões de consumo impactam diretamente
a corrida mundial por recursos naturais. A busca por recursos não convencionais ainda pouco
explorados deverá impulsionar o desenvolvimento de novas tecnologias.
As mudanças climáticas e a degradação ambiental contribuirão para a escassez de
recursos naturais e deverão impactar negativamente o ambiente social e econômico, gerando um
cenário geopolítico mais conflituoso. Países deverão competir por alimentos, minerais, água e fontes de
energia tornadas mais acessíveis, mais valiosas ou mais escassas.
O Brasil, com abundantes riquezas em recursos naturais, está em posição privilegiada
para lidar com essas ameaças, com potencial para tornar-se líder mundial em economia verde.
j) Nova ordem mundial multipolar
Na esfera da geopolítica, a segunda metade do século XXI tenderá para um período de
incerteza, marcado por continuidades e rupturas no campo da segurança internacional. Velhos e novos
problemas demandarão novas perspectivas para solução, cobrando respostas concretas e novas
posturas da comunidade internacional.
Em um ambiente geopolítico e econômico mundial multipolar, apesar do desgaste
político, econômico e militar, os Estados Unidos continuarão a ocupar posição de destaque, exercendo
influência política e econômica. Contudo, é possível que, em meados do século XXI, haja um
reordenamento das posições relativas dentro do ambiente da multipolaridade. Poderão surgir “novos
atores” estatais, não estatais, supranacionais, legais e mesmo ilegais, gerando desafios normativos e de
liderança que assinalam a necessidade de se debater a governança global nas instâncias decisórias
internacionais.
Haverá o surgimento de um movimento de contestação para a reformulação da ordem
internacional e de seus mecanismos de governança, que ocorrerá em meio a crises econômicas,
financeiras, ambientais e de segurança internacional, com tendência a permanecer um arranjo inapto
para se lidar com os problemas e desafios globais.
Blocos regionais tenderão a ser formados ou fortalecidos como instrumento à disposição
dos países para contornar as imperfeições da governança global e a falta de ação estatal para resolver
problemas transnacionais.
k) Acelerado avanço tecnológico
Uma das características mais marcantes das próximas décadas será o papel da tecnologia
em uma era digital cada vez mais acelerada. Os avanços tecnológicos continuarão a transformar
rapidamente os modos de vida e de trabalho.
As próximas décadas serão marcadas por uma crescente competição global pelos
elementos estratégicos da supremacia tecnológica, impactando a geopolítica e criando novas lideranças
tecnológicas. Por outro lado, a maior parte das novas tecnologias estarão disponíveis, permitindo o seu
emprego pelos países em desenvolvimento e sua maior participação nas cadeias globais de valor.
Entretanto, o aproveitamento pelos países dos dividendos das tecnologias digitais será
desigual. Para o seu adequado aproveitamento, os países terão de atualizar políticas e marcos
regulatórios em muitas áreas, incluindo inovação, financiamento, conectividade, mercado de trabalho,
concorrência e governança, desenvolvimento e uso de tecnologias proteção da propriedade intelectual.
Os países de industrialização tardia exitosa tiveram suas estratégias assentadas em inflexões decisivas
no contexto da educação e da ciência e tecnologia. O Brasil não promoveu essa revolução e, a despeito
de avanços importantes, poderá perder oportunidades face à necessidade de se avançar rápido no
domínio do conhecimento. As estratégias passadas, mesmo as mais exitosas, não mais poderão ser
repetidas, devendo o Brasil procurar novos caminhos para atingir seu objetivo de criação e distribuição
de riqueza compatível com as aspirações de sua população (MCTI, 2019).
Situações vividas por países que focaram no desenvolvimento educacional, na inovação,
no empreendedorismo e na transformação digital mostram que a tendência é de um melhor
aproveitamento das oportunidades surgidas em tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA), Big
Data, Internet das Coisas, manutenção preventiva com machine learning, plataformas nativas em
nuvem, automação de processos de negócios, Cibersecurity Mesh ou Malha de Segurança Cibernética,
Privacy - Enhancing Computation (PEC), hiperautomação, metaverso, entre outras.
l) Expansão do crime organizado transnacional
O crime organizado transnacional abrange diferentes atividades ilícitas, tais como tráfico
de drogas, de pessoas, contrabando de armas, comércio de órgãos humanos, falsificações, fraudes e
lavagem de dinheiro. Como consequência da globalização da economia e do avanço da tecnologia, um
novo impulso, de caráter internacional, foi propiciado às organizações criminosas, criando novas
oportunidades para as atividades ilícitas.
m) Prevalência de ameaças complexas como fontes de desestabilização da normalidade
institucional
Durante as últimas décadas, o ambiente estratégico que caracteriza a “defesa” vem
sendo rapidamente modificado por ameaças e desafios para os quais o estado moderno não se encontra
suficientemente preparado. Para garantir a segurança dos estados, governos necessitam analisar a nova
complexidade desses desafios e desenvolver metodologias e ferramentas que os permitam se antecipar
à consecução de tais ameaças, bem como garantir a segurança nacional e a consecução dos interesses
nacionais.
As ameaças complexas caracterizam-se por não respeitarem fronteiras físicas, pela
dificuldade no controle dos resultados que podem causar, por resultarem de múltiplas causas inter-
relacionadas e de difícil distinção individual e cujo enfrentamento não admite soluções permanentes.
Pandemias e outros riscos biológicos, crimes cibernéticos e digitais, a escalada da crise climática,
perturbações econômicas internacionais, crises humanitárias prolongadas, terrorismo e extremismo
violento, crimes transfronteiriços e a proliferação de armas nucleares e de destruição em massa são
exemplos de ameaças complexas para os quais os estados modernos terão de preparar respostas
eficazes.

3. Cenários
A partir da identificação das megatendências, consideradas como variáveis componentes
e determinantes dos possíveis cenários, buscou-se a construção de cenários prospectivos com o objetivo
de organizar, sistematizar e delimitar incertezas, possibilitando o enfrentamento de qualquer um dos
cenários descritos a seguir.
Assim, foram definidos três cenários exploratórios com características distintas, a saber:
pessimista, realista e otimista.
O cenário pessimista é aquele que torna o Brasil dependente em quase todas as esferas
de atuação, com degradação de todos os seus sistemas públicos e privados no horizonte temporal de 36
(trinta e seis) anos. As características desse cenário, onde não se atinge a visão de futuro almejada,
tornarão o Brasil um país refém da comunidade internacional e de seus interesses, com reduzida
atuação no ambiente internacional.
O cenário realista é aquele que coloca o Brasil com avanços tímidos considerando as
condições atuais no horizonte temporal de 36 (trinta e seis) anos, com perturbações externas e internas
em suas escolhas como Estado soberano em investimentos para o domínio do conhecimento de novas
tecnologias disruptivas, sua busca, proteção e desenvolvimento. As características desse cenário, onde
pouco se atinge a visão de futuro desejada, manterão o país na situação de luta para não se tornar
refém da comunidade internacional e de seus interesses, com modesta atuação no ambiente
internacional em comparação a outros países com economias inferiores à nacional.
O cenário otimista é aquele que torna o Brasil soberano em todas as suas escolhas de
investimentos para o domínio do conhecimento de novas tecnologias disruptivas, sua busca, proteção e
desenvolvimento no horizonte temporal de 36 (trinta e seis) anos. As características desse cenário, por
meio do qual se consegue atingir totalmente a visão de futuro ansiada, tornam viável a possibilidade de
o Brasil ser um país de referência e um ator relevante, competitivo e respeitado no cenário
internacional, assim como de possuir o domínio em áreas estratégicas do conhecimento selecionadas e
com elevado indicador de desenvolvimento humano.

4. Desafios/Obstáculos
Após a definição do cenário almejado (cenário otimista), a proposição dos objetivos
nacionais norteadores da PNLP considerou os desafios/obstáculos a serem superados para o pleno
sucesso da política no horizonte temporal de 36 (trinta e seis) anos.
Esses desafios são limitações ou óbices ao desenvolvimento, aqui definidos como
obstáculos de toda ordem que dificultam ou impedem a conquista de objetivos nacionais. Dentre
muitos desafios, destacam-se os seguintes:
a) Economia Circular e Digital: o sistema econômico precisa funcionar de maneira cíclica,
integrando a exploração sustentável dos recursos naturais com modelos de negócio modernos e
inovadores, otimização dos processos produtivos e baixa dependência de matéria-prima virgem, dando
ênfase ao uso de insumos renováveis, duráveis e recicláveis. A Economia Circular é um modelo de
produção e consumo que envolve a partilha, locação, reutilização, reparação, renovação e reciclagem de
materiais e produtos existentes para que sejam mantidos no ciclo produtivo o maior tempo possível. A
Economia Circular visa enfrentar desafios globais, tais como mudanças climáticas, perda de
biodiversidade, resíduos e poluição, enfatizando a implementação baseada em design de três princípios
básicos: eliminação de resíduos e poluição, circulação de produtos e materiais, e regeneração da
natureza. A digitalização de todos os serviços assume papel relevante na medida em que gere e agregue
valor aos processos, produtos e serviços, 2 assim como fomente a inclusão. As tecnologias digitais e
outras tecnologias também estão tendo um impacto no comportamento dos negócios e na estrutura do
mercado. Produtos digitais intangíveis e altamente móveis, replicáveis com pouco ou nenhum custo,
reduzem a importância da presença física de uma empresa, criando oportunidades para novos
produtores de pequena escala entrarem em mercados cada vez mais globalizados;
b)Carga Tributária: é elevada e se apresenta como um dos obstáculos ao
desenvolvimento. Segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional, para o ano de 2021 a Carga
Tributária do Governo Geral foi de 33,90% do Produto Interno Bruto (PIB). O Custo Brasil é elevado e
dificulta a atração de novos investimentos e empreendimento. A carga tributária sobre a mão de obra,
as empresas e os cidadãos é alta. O sistema tributário precisa ser revisto, modernizado e simplificado no
âmbito da União, estados, Distrito Federal e municípios;
c) Burocracia Excessiva: apesar da evolução na melhoria dos processos nos últimos três
anos, ainda ocorre burocracia em excesso em alguns setores públicos que dificultam os processos de
negócio. Requer, portanto, uma pronta ação para a sua redução ao mínimo adequado. Na mesma linha,
a ampliação da coleta da percepção quanto a qualidade dos serviços públicos prestados, apurados
diretamente pelos usuários, objetiva o aumento da efetividade da ação estatal, em benefício do bem-
estar da sociedade;
d)Demografia: o país apresenta dados preocupantes em relação à evolução de sua
estrutura demográfica e seus reflexos que envolvem, por exemplo: ocupação urbana desequilibrada e
não planejada, dificuldade na mobilidade urbana, falta de acessibilidade principalmente para as Pessoas
com Deficiência (PcD) e para as pessoas com mobilidade reduzida, sistema de saúde com deficiências,
empregabilidade com alto nível de variação, especulação imobiliária, saneamento básico precário e
grandes desafios na esfera educacional;
e)Infraestrutura: é amplamente reconhecida a importância de uma base adequada de
infraestrutura como forma de promover o desenvolvimento econômico e social. Conforme apontado
pelo Plano Integrado de Longo Prazo da Infraestrutura (Pilpi), o estoque de capital de infraestrutura,
composto por estradas, ferrovias, portos, hidrovias, aeroportos, canais, açudes, adutoras, redes de
saneamento básico, sistemas de transporte público, usinas geradoras de energia elétrica, linhas de
transmissão e redes de comunicação, entre outros, é muito inferior ao necessário, proporcionalmente
ao tamanho da economia brasileira, comparada ao montante observado em países desenvolvidos.
Apesar dos avanços nos últimos três anos, esse déficit de infraestrutura, por vezes combinado a uma
deficiência de qualidade, aumenta os custos operacionais e, por conseguinte, onera diversas atividades
produtivas, reduzindo a competitividade das exportações e contribuindo para a baixa produtividade
total da economia, bem como reduzem o bem-estar da população;

2
Diversos países, como aqueles situados no sudeste asiático, desenvolveram-se por meio do incentivo às startups e do
empreendedorismo individual, reconhecendo estes como indutores do desenvolvimento econômico, social e tecnológico.
Nesse sentido, o desafio está muito relacionado à prospecção de novas práticas e soluções de negócio, à identificação de
oportunidades de execução e à implementação de projetos inovadores.
f) Legislação: a sobreposição de vários instrumentos legais ocasiona diversas
interpretações e inseguranças jurídicas. Apesar de avanços pontuais, nos últimos três anos, é necessária
a atualização e racionalização da legislação concernente às áreas consideradas estratégicas para a
estabilidade jurídica e o resultante desenvolvimento nacional;
g) Estabilidade Econômica: a estabilidade na economia é pré-requisito para o crescimento
sustentável e para uma sociedade mais justa. A globalização modificou o comportamento dos agentes
econômicos na medida em que os colocou diante de uma nova realidade, com mudanças cada vez mais
aceleradas. A instabilidade econômica gera, por exemplo, baixo investimento e baixo crescimento
econômico, desemprego, alto custo dos processos, produtos e serviços, inflação, desesperança,
insegurança social e afastamento de investimentos, entre outras consequências. Por essa razão, é
importante a implementação de políticas econômicas que visem à estabilidade macroeconômica,
melhor alocação e uso dos recursos públicos e fomento da produtividade da economia brasileira,
preservando-se, precipuamente, o equilíbrio das contas públicas, a expansão da renda e do emprego,
bem como a superação dos problemas sociais;
h)Meio Ambiente: em seus seis biomas, o país possui recursos naturais com grande
potencial de uso sustentável e capacidade turística. Para atenuar os efeitos das mudanças climáticas e
atrair recursos para a indústria nacional sustentável, será necessário um conjunto de medidas para o
alcance de uma economia verde e circular, com acesso aos mercados dos créditos de carbono,
investimentos dos fundos dos “títulos verdes” e ações voltadas ao ecoturismo. Medidas como
reflorestamento, manejo sustentável e recuperação de áreas degradadas podem permitir aumento da
produção agropecuária sem prejuízo ao meio ambiente;
i) Cadeias Globais de Valor: o enfoque de cadeias globais de valor conduz, para as
economias com estruturas produtivas mais diversificadas, à discussão sobre o desenho de políticas que
contribuam para aumentar a parcela de valor agregado capturado pela economia doméstica. O Brasil
apresenta baixos níveis de integrações locais, nacionais e globais. As cadeias são, na maioria dos casos,
subordinadas e dependentes de insumos importados;
j) Agronegócio: considerando as megatendências relacionadas ao setor e os respectivos
estudos nacionais e internacionais, identificam-se os seguintes desafios:
 prática de subsídios pela concorrência internacional na produção e
comercialização de alimentos, aliada à elevada carga tributária nacional;
 campanhas internacionais interessadas na falência do agronegócio nacional, que
buscam vincular a imagem do Brasil como não cumpridor de critérios de conservação e preservação
ambiental;
 grande dependência externa de fertilizantes, defensivos e insumos agrícolas em
geral;
 interesse de outros países no agronegócio brasileiro;
 nada obstante os avanços significativos da Embrapa, ainda persiste a necessidade
de investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento, ciência, tecnologia e inovação na produção e
gestão do agro brasileiro;
 infraestrutura deficiente de transporte e armazenamento da produção;
 em decorrência disso, elevado custo logístico;
 aperfeiçoamento da regularização fundiária rural;
 pressões, com viés comercial, de atores nacionais e internacionais, com impactos
na expansão da superfície agricultável;
 limitação da disponibilidade de insumos outros para a agricultura, tais como água
e energia, em que pese a riqueza desses recursos em território nacional; e
 necessidade de desenvolver ações que visem à superação da pobreza e das
desigualdades socioeconômicas no meio rural;
k) Melhores Práticas, Normas e Padrões: deficiente cultura institucional do país acerca da
compreensão dos benefícios do investimento em padronização no ambiente público e privado e na
consolidação de uma política de integridade em ambos os setores. A deficiência em todas as suas
dimensões cria, no caso do ambiente público, a possibilidade de se onerar os custos dos sistemas
públicos envolvidos, como os decorrentes de ações judiciais contra os entes públicos;
l) Transformação Digital: necessidade de fortalecer o processo de transformação digital
dos serviços por meio da automação e simplificação de serviços, desburocratização de procedimentos e
normas e o desenvolvimento de uma cultura digital no país. Entretanto, há que se compreender seu
significado para que se possam desenvolver soluções adequadas e cumprir seu propósito do ponto de
vista tecnológico. O primeiro requisito é facilitar a vida dos usuários. O segundo é a integração dos
dados dos sistemas afins. O terceiro é tornar as instituições públicas ágeis na realização de suas
atribuições e no atendimento das demandas de seus usuários. Por fim, os sistemas devem permitir o
monitoramento e controle dos dados respeitando- se a LGPD;
m) Tecnologias: barreiras internas que dificultam a adoção das tecnologias digitais
como as identificadas em análise de fraquezas, principalmente pelas indústrias. O Brasil precisa reduzir a
dependência de tecnologias importadas, principalmente das tecnologias estratégicas (críticas, sensíveis
e prioritárias), investindo no domínio do conhecimento e pesquisa, desenvolvimento e produção, a fim
de garantir sua independência nessa área;
n)Produtos e Serviços de Baixo Valor Agregado: são os mais comuns no ambiente
produtivo nacional e já estão incorporados à cultura nacional. Historicamente, o Brasil é um produtor e
exportador de commodities como grãos, minérios, proteína animal, ferro e aço, que contribuem com a
indústria e possuem a maior participação no PIB nacional. Entretanto, os benefícios de se gerar produtos
de alto valor agregado apontam para um necessário fortalecimento da indústria nacional, em especial
com investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e CTI;
o) Educação: no âmbito global, a qualidade da educação brasileira coloca o país entre
os últimos lugares entre 64 nações segundo o IMD World Competitiveness Center 2021, enquanto, no
Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2021, ocupa a 60ª posição entre 76 países
avaliados. Deve-se focar no conhecimento e no domínio das ciências exatas e das novas tecnologias,
bem como na formação de profissionais especializados no tema e responsivos aos objetivos e metas do
Estado, dada a relevância da tecnologia para o desenvolvimento sustentável e para a transformação
digital. Torna-se essencial e premente uma revisão do planejamento nacional em educação para que o
Brasil melhore sua colocação e se posicione entre os países mais desenvolvidos. Ainda, o ensino à
distância deve ser cada vez mais valorizado, em função da amplitude e dos custos, permitindo acesso ao
maior número possível de brasileiros;
p)Elevação da produtividade industrial: o processo de desindustrialização pode ser
entendido como uma consequência natural do amadurecimento de uma economia. Com a terceirização
e os ganhos de produtividade, que reduzem os preços de bens industriais, é natural que exista uma
tendência de redução do valor adicionado industrial no valor adicionado total. O problema, portanto,
não é necessariamente a redução da participação da indústria no PIB. Dessa forma, falar sobre como
elevar a produtividade industrial e como tratar seus gargalos parece ser o foco da questão. Para tanto,
requer-se uma plataforma industrial compatível com a estatura necessária e voltada para o futuro, com
domínio tecnológico, inovação e agregação de valor, a fim de que ocorra o desenvolvimento do país,
tornando-o cada vez menos refém de produtos e serviços importados;
q)Recursos para CTI e P&D: valores distantes daqueles necessários, com cortes e/ou
contingenciamentos orçamentários recorrentes e pouca priorização para o setor. Destaca-se que cada
um dólar investido em CTI resulta na obtenção de dez vezes mais para a economia de maneira geral;
r) Desenvolvimento Regional: observa-se, em diversas regiões do território nacional, de
dimensões continentais e diversos biomas, um desequilíbrio no seu desenvolvimento socioeconômico
que pode ser superado com planejamento, investimentos, estratégias e ações coordenadas e alinhadas
a uma política nacional de longo prazo com objetivos e prioridades;
s) Ocupação Urbana: historicamente as ocupações no território nacional ocorrem sem
planejamentos, criando toda ordem de óbices a um bem-estar urbano saudável e sustentável. Esse
desordenamento, com grandes aglomerações e concentrações humanas em áreas urbanas, tem trazido
problemas nas cidades, com fortes reflexos na mobilidade (pessoas e bens), na segurança pública, na
educação, na saúde, na habitação, no saneamento, na distribuição de energia e em vários outros
serviços públicos, bem como no meio ambiente, em razão do lixo produzido, do uso ineficiente e
descuidado com os recursos naturais, do desmatamento e da poluição (visual, sonora e atmosférica).
Faz-se necessário dotar o Poder Público, nas três esferas, de capacidade técnica, financeira e
institucional para o planejamento, a gestão urbana e territorial, com vistas à prestação de serviços, ao
bem-estar e ao controle do ordenamento urbano;
t) Segurança Pública: o grau de insegurança da população é alto, e a violência urbana
apresenta números anuais que colocam o país entre os mais violentos, considerando-se os índices de
criminalidade, impunidade, mortes no trânsito, entre outros. As diversas razões desse fenômeno social
devem ser tratadas de maneira urgente, pois seu impacto nos demais setores é inibidor do
desenvolvimento nacional;
u)Segurança Viária: é mais um fenômeno social grave e que deve ser objeto de atenção. A
média anual de mortes de pessoas no trânsito é da ordem de 60.000 (sessenta mil) e dos sequelados de
500.000 (quinhentos mil). A promoção do combate às causas da acidentalidade deve partir da
consideração de cinco pilares: gestão da segurança viária; vias mais seguras e mobilidade; veículos mais
seguros; conscientização de usuários; e resposta ao acidente;
v) Segurança da Informação: a transformação digital e o crescimento do uso das TICs no
âmbito público e privado, na oferta de serviços públicos, no comércio eletrônico, nos serviços bancários,
entre outros, traz em seu bojo a necessidade de proteção de sistemas e informações. Há que se garantir
que o uso da tecnologia não exponha os dados e informações pessoais, comerciais, industriais e
financeiros, bem como garanta a integridade e inviolabilidade dos sistemas e informações estratégicas e
sensíveis. Deve-se fortalecer a cultura de proteção e tratamento de dados e aprimorar sua governança.
O tema segurança cibernética deve ser de conhecimento e preocupação de todos os entes federativos e
privados, bem como da sociedade como um todo. Frente a esse desafio, é necessário que seja
promovida a educação digital desde a juventude, a qualificação de profissionais para as demandas do
mercado e que o Estado tenha uma estrutura que possa responder às ameaças cibernéticas que, cada
vez mais, impactam a vida do cidadão;
w) Segurança de Infraestruturas Críticas: as infraestruturas de comunicações, de
energia, de transportes, de finanças, de águas e de defesa, entre outras, possuem dimensão estratégica,
uma vez que desempenham papel essencial tanto para a segurança e soberania nacionais, como para a
integração e o desenvolvimento econômico sustentável do país. Fatores que prejudiquem o adequado
fornecimento dos serviços provenientes dessas infraestruturas podem acarretar transtornos e prejuízos
ao Estado, à sociedade e ao meio ambiente. Em uma visão ampla, a atividade de Segurança de
Infraestruturas Críticas tem por finalidade articular, em diversos níveis e esferas do Poder Público, bem
como no setor privado, o desenvolvimento de um processo de segurança preventiva de recursos
humanos, de equipamentos, de instalações, de serviços, de sistemas, de informações e de outros
recursos que, de alguma forma, assegurem a resiliência e o funcionamento dos serviços e das atividades
indispensáveis ao Estado e à sociedade;
x) Mobilidade Urbana: é um dos problemas responsáveis pelo aumento de custo do
sistema produtivo, do sistema de saúde, do meio ambiente, do baixo nível escolar e da segurança
pública. Isso é resultado de diversos fatores, tais como: o sistema de transporte público inadequado
para o atendimento das demandas existentes, com indução ao transporte individual, com os efeitos de
esgotamento da capacidade dos sistemas viários, aumento das emissões de poluentes e aumento dos
custos de transporte, a ocupação urbana dissociada do planejamento dos deslocamentos, a ausência de
planejamento urbano em relação às áreas de ocupação, vias inadequadas e inseguras, transporte
público coletivo caro e insuficiente, entre outras. Assim, faz-se necessário promover mobilidade urbana
sustentável, por meio de investimentos em matriz de transporte urbano menos poluente e de maior
eficiência energética, de forma a mitigar os efeitos sobre a poluição atmosférica e a emissão de gases do
efeito estufa. O desafio da mobilidade urbana sustentável é prover serviços de maior qualidade e
conforto, como, por exemplo, melhor acessibilidade de pessoas com necessidades especiais, idosos e
crianças, bem como a utilização de tecnologias inovadoras que propiciem redução nos custos de
operação que permita modicidade tarifária para os usuários;
y) Economia Criativa: ainda são poucas as pesquisas que contemplem de modo amplo os
diversos setores desta economia, de modo a que se conheçam os dados relativos às vocações, bem
como as oportunidades de empreendimentos criativos, com o fim de se realizar uma definição de
políticas públicas responsivas às necessidades desse setor;
z) Defesa Nacional: um país com a importância do Brasil no cenário internacional não
pode prescindir de Forças Armadas capazes de defender o território nacional contra ameaças regionais
e extrarregionais, por meio de sistemas de emprego militar modernos, para a pronta resposta a fim de
apoiar o cumprimento dos objetivos estratégicos e garantir a soberania nacional;
aa) Retenção de talentos: o Brasil forma anualmente e conta com quadros de
profissionais de primeiro mundo, que são atraídos para outros países, contribuindo com o baixo
desenvolvimento nacional. Assim, Estado e setor privado devem se unir na formulação de políticas e
iniciativas para a continuidade de projetos de Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) e para
retenção desses talentos;
bb) Redução do Fardo Regulatório: Indicadores internacionais evidenciam que o Brasil
possui um ambiente regulatório que desfavorece o desenvolvimento econômico do país e a atração de
investimentos, tanto de origem doméstica quanto internacional. Apenas para mencionar alguns
indicadores internacionais, apresenta-se o Índice de Liberdade Econômica de 2019, elaborado pela
Heritage Foundation, no qual o Brasil ficou em 150º lugar no ranking global e no 27º no ranking regional
(de 32 países). No Indicador de Regulação de Mercados (PMR) de 2018, calculado pela OCDE para
estimar o grau de barreiras regulatórias à entrada no mercado e à concorrência, o Brasil ficou em
penúltimo lugar entre os 39 países considerados.
I. Pilares Estratégicos

1. Metodologia e construção
Para que um país alcance seu pleno desenvolvimento e a desejada prosperidade, é
necessário que se desenvolva uma série de etapas. Em uma realidade de muitas demandas e recursos
finitos, faz-se necessário o estabelecimento de prioridades que sejam estratégicas. Com a constatação
de que várias dessas demandas exercem e sofrem impacto direto de outras, trazendo uma condição de
quase dependência, é relevante reuni-las em um agrupamento que possa considerar a transversalidade
verificada. Para tanto, surgiu a necessidade de se estabelecer Pilares Estratégicos (PE) bem definidos,
dentro dos quais um conjunto de temas estratégicos nortearão o crescimento harmonizado e
duradouro.
Os PE representam, conceitualmente, um núcleo temático onde são aglutinados os AEN e
onde estão alocados os ONLP. Essa forma de representação permite que se conheça a transversalidade
dos AEN e ONLP, de forma a orientar a priorização de investimentos com foco nos resultados e impactos
que pode trazer aos demais AEN e ONLP de cada pilar estratégico. Assim, quando a PNLP for desdobrada
no nível operacional, em planos estratégicos, poderá ser decidido quais projetos serão priorizados para
o desenvolvimento dentro do horizonte temporal estipulado, a fim de se atingir a visão de futuro do
país.
Dentro do contexto deste documento, um pilar estratégico constitui uma coleção de AEN,
envolvendo uma ou mais temáticas relevantes à definição da PNLP. As temáticas de alguns AEN são
transversais e aparecem em mais de um pilar, com ONLP distintos.
No que diz respeito aos objetivos, estes precisam ser alcançáveis, realistas e temporais, e
ao mesmo tempo, abrangentes, passíveis de acompanhamento e avaliação dentro de períodos de
tempo determinados.
Em resumo, os ONLP se aglutinam em torno de AEN, que por sua vez compõem os PE.
A identificação dos PE é um processo contínuo e passível de revisões. Isso garante que,
neste tempo de surgimento de tecnologias disruptivas e de novos modelos de negócio e das próprias
mudanças sociopolíticas que afetam de forma irreversível a sociedade, o passo dessas transformações
seja acompanhado e incorporado. Além disso, os melhores resultados são atingidos quando o processo
é realizado de forma colaborativa, com o envolvimento da sociedade e suas entidades representativas,
aumentando, desta forma, a inteligência coletiva.
Com a finalidade de aplicar esses conceitos e buscar informação junto às entidades de
governo, sociedade e academia para a geração desta PNLP, foram coletados cerca de 1.500 objetivos
nacionais junto aos órgãos de governo, pastas ministeriais, universidades e especialistas dos diversos
setores. Esses objetivos foram obtidos por meio de consulta direcionada, discutidos em workshop, e
extraídos de políticas e estudos vigentes. Organizados em forma de documentos textuais, os objetivos
foram utilizados para a identificação de assuntos temáticos elucidativos dos pilares estratégicos.
Dado o número grande de documentos analisados, decidiu-se pela utilização de
algoritmos computacionais para organização, compilação e extração das informações relevantes. Para
tanto, foram utilizadas técnicas de processamento de linguagem natural e análise de redes de relações
para tratamento dos textos contidos nos documentos.
O intuito dessa metodologia foi a identificação, de forma automatizada e não enviesada,
de grupos de objetivos em torno de cada assunto estratégico. Utilizando-se técnicas de agrupamento
comuns à análise de redes complexas, foi possível agrupar os objetivos de acordo com suas
similaridades textuais ou semânticas. Esses agrupamentos se referem a textos similares no uso de suas
palavras e que tratam de assuntos estratégicos semelhantes. Da mesma forma, assuntos que tratam de
uma mesma temática foram agrupados para formar os pilares estratégicos.
Dentro de cada agrupamento, identificaram-se os objetivos mais representativos de seus
grupos. Esses objetivos estão associados aos assuntos estratégicos que, agrupados, caracterizam áreas
temáticas presentes no conjunto de dados. Esses grupos de assuntos estratégicos constituem os PE.
Com base na análise textual supracitada dos objetivos e assuntos associados a cada um
dos pilares, nomearam-se os seguintes pilares para representar o teor dos assuntos estratégicos neles
contidos:
a) Desenvolvimento Social: agrega assuntos essenciais à sociedade, capazes de mudar a
conjuntura social e econômica, como, por exemplo, cidadania, educação, saúde, movimentos
migratórios, turismo e cultura;
b)Desenvolvimento Sustentável: abrange assuntos referentes ao desenvolvimento
sustentável dos biomas brasileiros (em especial o bioma Amazônia), o desenvolvimento do turismo, do
agronegócio, da economia, da mineração e a proteção de ecossistemas e biodiversidade;
c) Desenvolvimento Científico e Tecnológico: engloba assuntos relativos à ciência,
tecnologia e inovação, saúde, agropecuária, comunicações, defesa e segurança, tecnologias críticas e
transversais habilitadoras. Este pilar é o mais transversal, permeando os demais;
d)Infraestrutura e Desenvolvimento Regional: constituído por assuntos relacionados à
infraestrutura, logística, defesa e segurança, desenvolvimentos urbano e regional, e integração e
desenvolvimento da Amazônia e dos demais biomas brasileiros; e
e) Soberania e Modernização do Estado: trata de assuntos estratégicos que se
referem à garantia da governança, defesa, segurança e aperfeiçoamento do Estado. Esse pilar agrega
assuntos como coesão nacional, defesa, modernização dos serviços, geopolítica e segurança pública.
Esses pilares compreendem 28 assuntos estratégicos, vários dos quais possuem
transversalidades, podendo aparecer em mais de um pilar. A distribuição dos objetivos estratégicos
dentro de seus assuntos associados aos PE está contida no capítulo IV.
A concretização dos PE envolve o trabalho cooperativo e colaborativo de várias áreas da
sociedade, a fim de garantir a visão de país estabelecida nesta PNLP. A execução estratégica de ações
visando consolidar estruturalmente os pilares elencados, envolve o estabelecimento de uma Estratégia
Nacional, próximo documento a ser elaborado pela Seae, na construção do arcabouço documental do
planejamento de longo prazo do Estado. Para isso, tarefas devem ser delegadas e cumpridas pelos
órgãos públicos, por meio de um monitoramento de indicadores que possibilitem a otimização dos
resultados e a aplicação eficiente de recursos.

II. Objetivos Nacionais de Longo Prazo

A PNLP ousa olhar e pensar o Brasil para meados do século XXI. Se hoje o país possui
deficiências e enfrenta desafios ao desenvolvimento constante e sustentável, há que se pensar e
planejar a atuação estratégica do poder público. É necessário definir objetivos de longo prazo que
indiquem ações do Estado para aumentar a capacidade para o desenvolvimento e superar os obstáculos
paulatinamente.
Com esses ONLP, relativos a 28 assuntos estratégicos, poder-se-á trabalhar para,
aproveitando-se as oportunidades, compreender e superar os desafios que o Brasil enfrentará nas
décadas vindouras. Da mesma forma, será possível orientar a formulação de estratégias, focadas nas
prioridades para a ação do Estado que os objetivos representam, permitindo-se coordenar esforços e
buscar a prosperidade e o bem-estar.
Atingir os ONLP será uma tarefa difícil, mas perfeitamente possível. Com a priorização,
cooperação e conjugação de esforços de toda Administração Pública, em conjunto com a iniciativa
privada e com o conhecimento dos reais objetivos da nação, cria-se uma condição importante e
favorável para o desenvolvimento brasileiro, gerando-se oportunidades de investimentos, sinergia e
alinhamento estratégico.
Esses objetivos, reunidos em pilares, constituídos de núcleos temáticos onde se verifica a
existência de um maior grau de relação e transversalidade, indicam à sociedade o que se almeja atingir e
onde se quer chegar, bem como quais as condições a serem paulatinamente alcançadas e mantidas pela
nação com a PNLP.
Com essa abordagem, foram definidos 71 ONLP, sendo agrupados em seus respectivos
AEN e, conforme já exposto, em cinco PE, os quais leva-se ao conhecimento da sociedade, conforme
segue.

1. Pilar I - Desenvolvimento Social

Tendências demográficas apontam para a mudança do perfil da população brasileira


(composição e concentração das faixas etárias) com a estagnação do seu crescimento e envelhecimento,
tendo como consequência pressões sobre o financiamento do sistema de proteção social.
Aliado a isso, a intensificação do fluxo migratório contribui com essa mudança,
impactando a demanda por serviços públicos, a geração de empregos, a oferta de alimentos, a
segurança pública, educação e determinando a necessidade de políticas públicas para os aspectos
humanitários, sociais, econômicos, políticos e de segurança.
A partir dessas constatações e da conjuntura nacional, as estratégias para a ação do
Estado e da iniciativa privada, com a priorização e foco nos objetivos a seguir listados, tendem a atacar
essas questões e possibilitar uma evolução do desenvolvimento social.

AEN-1: Cidadania
ONLP-1: Posicionar o Brasil entre os países com melhores indicadores de
desenvolvimento social.
ONLP-2: Promover o fortalecimento dos vínculos familiares e da solidariedade
intergeracional.
ONLP-3: Tornar acessível e incentivar a prática esportiva e o lazer para toda a
população.
ONLP-4: Minimizar o número de pessoas em situação de vulnerabilidade sócio econômica.
ONLP-5: Minimizar os danos associados ao uso e/ou abuso de drogas lícitas e ilícitas.

AEN-2: Cultura
ONLP-6: Ter reconhecida no exterior a qualidade da produção c u l t u r a l b r a s i l e i r a .
ONLP-7: Tornar acessível e incentivar a cultura e a preservação do patrimônio
cultural do país.

AEN- 3: Educação
ONLP-8: Possuir, formar e valorizar profissionais de educação com orientação para
demandas estratégicas futuras.
ONLP-9: Promover a educação técnica e a profissional orientadas pelas demandas
futuras.
ONLP-10: Universalizar o acesso à educação básica, possibilitando que todos os
cidadãos tenham completado o ensino de nível médio com qualidade.
ONLP-11: Possuir profissionais em setores estratégicos que possam colocar o Brasil
entre as principais potências mundiais.
ONLP-12: Ter consolidado o ensino e habilidades nas Ciências, Tecnologia, Engenharia
e Matemática.

AEN-4: Movimentos Migratórios


ONLP-13: Dispor de capacidade de atuação frente aos movimentos migratórios.
ONLP-14: Fomentar a atração de mão de obra qualificada focada nos interesses
nacionais.

AEN-5: Saúde
ONLP-15: Mitigar vulnerabilidades e riscos à saúde individual e coletiva.
ONLP-16: Adequar o perfil de atendimento do sistema de saúde para demandas
decorrentes do envelhecimento populacional.
ONLP-17: Aumentar a capacidade de enfrentamento a bioameaças e epidemias,
incrementando a preparação e a resposta diante de situações de emergência e de necessidade de
cooperação internacional.

AEN-6: Segurança Alimentar e Nutricional


ONLP-18: Maximizar o acesso da população brasileira a alimentos de qualidade,
diversificados e seguros ao consumo.

AEN-7: Trabalho e Previdência


ONLP-19: Possuir um sistema previdenciário sustentável.
ONLP-20: Ter capacidade de adaptação frente às transformações produtivas e
tecnológicas e seus impactos nas relações de trabalho.

AEN-8: Turismo
ONLP-21: Ter um setor de turismo desenvolvido, competitivo e que contribua para a
redução das desigualdades regionais.

2. Pilar II – Desenvolvimento Sustentável

Este pilar congrega o potencial de desenvolvimento sustentável, aliando o crescimento


econômico, a abundância e a diversidade natural às oportunidades e forças econômicas nacionais,
observando os requisitos e peculiaridades para a proteção do meio ambiente. Em uma economia global
interconectada, com o aumento contínuo dos fluxos de comércio internacional e de capital, as
megatendências apontam para um crescimento econômico sustentado pelos países emergentes e
estimulado, principalmente, por ganhos de produtividade, por melhorias na qualidade do capital
humano e por reformas estruturais.
Os assuntos e objetivos oferecem elementos a serem utilizados como um marco geral
para orientar as estratégias, as metas, os programas e as ações de governos, de empresas e da
sociedade civil, visando ao desenvolvimento nacional sem descuidar da proteção das riquezas naturais e
do ambiente em que vivemos.

AEN-9: Agropecuária
ONLP-22: Liderar o agronegócio mundial.
ONLP-23: Ter as cadeias produtivas agropecuárias brasileiras alicerçadas sobre sistemas
sustentáveis, resilientes e produtivos.

AEN-10: Amazônia
ONLP-24: Explorar sustentavelmente os recursos naturais da Amazônia.

AEN-11: Meio Ambiente


ONLP-25: Ter ampla capacidade de enfrentamento aos desafios nacionais relacionados à
segurança hídrica, à mudança do clima e aos eventos extremos.
ONLP-26: Impulsionar a economia verde, respeitando as particularidades de cada bioma.
ONLP-27: Proteger os ecossistemas marinhos e garantir o uso sustentável do mar.

AEN-12: Economia
ONLP-28: Possuir uma economia circular e sustentável.
ONLP-29: Ampliar a participação do uso de recursos da bioeconomia na economia
nacional.
ONLP-30: Aumentar a inserção nacional nos fluxos globais de comércio e investimentos.
ONLP-31: Possuir uma economia digital dinâmica, produtiva, competitiva, integrada e
desburocratizada.
ONLP-32: Alcançar e manter o crescimento econômico sustentável.
ONLP-33: Posicionar o Brasil entre as economias de maiores indicadores de
produtividade e competitividade.

AEN-13: Mineração
ONLP-34: Maximizar a agregação de valor e a participação da indústria da mineração na
economia.

3. Pilar III – Desenvolvimento Científico e Tecnológico

O progresso científico será cada vez mais impulsionado pela intensa interação entre os
vários campos da física, da biologia molecular, da informática e das TICs. Vislumbra-se a aceleração do
desenvolvimento com uma visão interdisciplinar, com aplicações tecnológicas cada vez mais integradas,
tendo a internet como a espinha dorsal das economias em desenvolvimento. Como tendência, há
necessidade de investimentos para o desenvolvimento e a aplicação nos campos tecnologia quântica, da
nanotecnologia, biotecnologia e tecnologia nuclear, em especial nas comunicações e na produção e
conservação de alimentos.
Avanços em áreas como novos materiais e bioengenharia estão mudando os princípios
farmacêuticos e de cuidados médicos. No que diz respeito a inovações em produtos e serviços para
saúde humana, verifica-se a alta probabilidade de avanço em gerontologia e tecnologias genéticas, com
o uso de nano chips e tecnologia de micro sensores, transplantes de órgãos, células nervosas, retina etc.
Isso propiciará um aumento substancial na qualidade de vida.
Assim, os objetivos desse pilar indicam a importância de se buscar o desenvolvimento no
campo científico e tecnológico. Essa é uma condição necessária para estar entre os países emergentes
mais promissores na segunda metade do século XXI.
Para isso, é importante ter autonomia e capacidades em áreas portadoras de futuro e
estratégicas.
AEN-14: Ciência, Tecnologia e Inovação
ONLP-35: Assegurar a soberania científica e tecnológica nacional em áreas
estratégicas.
ONLP-36: Ter autonomia em soluções baseadas em ciência, tecnologia e inovação para
superação dos desafios enfrentados pela nação brasileira.

AEN-15: Indústria e Tecnologia da Saúde


ONLP-37: Consolidar o complexo econômico-industrial da saúde.
ONLP-38: Incentivar a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a inovação para a
produção de medicamentos, vacinas, biotecnológicos e tecnologias em saúde.
ONLP-39: Expandir o uso da telemedicina na prática médica, em especial no
atendimento às populações em áreas remotas.

AEN-16: Comunicações
ONLP-40: Estar entre os países mais avançados nas tecnologias de informação e de
comunicação.

AEN-17: Agropecuária3
ONLP-41: Liderar mundialmente a pesquisa científica, o
desenvolvimento tecnológico e a inovação no setor agropecuário.

AEN-18: Tecnologias Críticas


ONLP-42: Ter autonomia no desenvolvimento de tecnologias críticas e/ou sensíveis,
sobretudo dos setores nuclear, espacial e cibernético.

AEN 19: Tecnologias Transversais Habilitadoras


ONLP-43: Fomentar e fortalecer a pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico e
a inovação em tecnologias transversais habilitadoras (cibernética, nanotecnologia, materiais
avançados, fotônica, tecnologias digitais, biotecnologia, web 3.0, inteligência artificial e outras).

4. Pilar IV – Infraestrutura e Desenvolvimento Regional


3
No Plano Estratégico do Mapa 2020-2031, o termo “agropecuária” teve seu conceito expandido para incluir as diversas
áreas cobertas pelas cadeias produtivas vegetal e animal, sendo conceituado como: “...atividades relacionadas à agricultura e
pecuária, as atividades florestais, aquícolas, pesqueiras, extrativistas, seus beneficiamentos e assuntos fundiários”.
Não há dúvidas quanto à importância da infraestrutura, como um conjunto de atividades
e estruturas fundamentais para o desenvolvimento de outras atividades. Assim, ter uma infraestrutura
adequada é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico de uma região e do país, permitindo
que as empresas e as organizações se desenvolvam, bem como que as pessoas tenham acesso a serviços
básicos fundamentais para o seu bem-estar.
Para reduzir as desigualdades econômicas e sociais, intra e inter-regionais, é necessária a
criação de oportunidades de desenvolvimento que resultem em crescimento econômico, geração de
renda e melhoria da qualidade de vida da população. Por essa razão, a relação direta de dependência e
sinergia entre a existência de infraestrutura adequada e o desenvolvimento regional é tão forte. Um
sem o outro fica prejudicado.
Os objetivos relacionados nesse pilar indicam a necessidade de se priorizar regiões e
serviços com vistas a que os benefícios do desenvolvimento sejam usufruídos por toda a população em
qualquer lugar do país.

AEN-20: Integração e Desenvolvimento da Amazônia


ONLP-44: Consolidar a integração da Amazônia às demais regiões do País.
ONLP-45: Dotar a Amazônia de infraestrutura adequada ao seu desenvolvimento e
ao bem-estar da sua população.

AEN-21: Desenvolvimento Regional


ONLP-46: Minimizar as desigualdades econômicas, sociais e regionais.
ONLP-47: Ter ordenamento fundiário rural moderno, com segurança fundiária, direito à
propriedade, segurança jurídica e sustentabilidade.

AEN-22: Desenvolvimento Urbano


ONLP-48: Minimizar o déficit habitacional.
ONLP-49: Possuir condições adequadas de mobilidade urbana.

AEN-23: Infraestrutura
ONLP-50: Universalizar o acesso aos serviços de infraestrutura.
ONLP-51: Maximizar o uso de energias renováveis e de energias limpas, mantendo a
elevada participação de fontes renováveis na matriz energética nacional.
ONLP-52: Possuir segurança energética, considerando a modicidade tarifária e a
sustentabilidade ambiental.
ONLP-53: Possuir eficiência logística.
ONLP-54: Garantir o saneamento básico.
ONLP-55: Possuir uma matriz de transporte eficiente.
ONLP-56: Possuir infraestruturas energéticas inteligentes em todo o territorial nacional.

5. Pilar V – Soberania e Modernização do Estado

O Estado precisa desenvolver sua capacidade de atuar em defesa do seu território, do seu
povo e dos assuntos estratégicos para o seu desenvolvimento. Precisa se modernizar e cooperar para
atender às demandas inerentes à cidadania e prestar serviços públicos de qualidade em todo o
território.
Uma nação precisa ser soberana em suas decisões e nos rumos que deseja tomar na
defesa dos seus interesses. O sentimento e o desejo de pertencimento, orgulho, o amor e a devoção do
povo ao seu país são algumas das características importantes na coesão e na identidade nacional,
fortalecendo a sua soberania. Tal questão é tão relevante que consta como o primeiro princípio
fundamental da Constituição da República Federativa do Brasil.
A força da transversalidade e sinergia dos AEN e ONLP, a seguir, corroboram as
afirmativas para esse pilar, indicando as bases e a necessidade de serem priorizados para o
desenvolvimento nacional.

AEN-24: Coesão nacional e patriotismo


ONLP-57: Fortalecer os valores morais, éticos e cívicos na sociedade.

AEN-25: Defesa e Segurança Nacional


ONLP-58: Ampliar a capacidade de dissuasão.
ONLP-59: Garantir a soberania, a integridade territorial, o patrimônio e os interesses
nacionais.
ONLP-60: Desenvolver a defesa e a segurança cibernéticas.
ONLP-61: Fortalecer a base industrial de defesa, incluindo-se sua cadeia produtiva.
ONLP-62: Possuir resiliência nas infraestruturas críticas nacionais.

AEN-26: Geopolítica
ONLP-63: Alcançar e manter autonomia estratégica nos campos político, econômico,
militar, científico-tecnológico, diplomático, ambiental e cultural.
ONLP-64: Ampliar a inserção brasileira no concerto mundial das nações, potencializando
a postura pacífica e cooperativa do Brasil, para fortalecer a capacidade do país de exercer influência no
ambiente e nos processos decisórios no âmbito internacional.
AEN-27: Modernização do Estado
ONLP-65: Possuir uma Administração Pública eficiente, transparente e íntegra.
ONLP-66: Dispor de serviços públicos de qualidade e acessíveis a toda a população.
ONLP-67: Ter um pacto federativo eficiente.
ONLP-68: Possuir um sistema tributário eficiente.

AEN-28: Segurança Pública


ONLP-69: Posicionar-se entre os países com as menores taxas de criminalidade e
violência.
ONLP-70: Possuir sistemas de prevenção e combate aos crimes cibernéticos.
ONLP-71: Ampliar a capacidade de prevenção e combate aos crimes transnacionais e
transfronteiriços.

III. Considerações Finais

A PNLP não esgota as orientações necessárias para o atingimento dos ONLP, uma vez que
é um elo entre outros que se seguirão, todos ligados primaria e fundamentalmente à Constituição
Federal.
Esta PNLP abrange o horizonte de 36 anos a partir de sua publicação, indicando os macro-
objetivos para a concretização do pleno potencial brasileiro, tanto o de suas riquezas naturais quanto o
do poder criativo de seu povo. Por isso, os ONLP aqui listados traduzem expressões de vontade, de
querer ser e/ou estar, as mais abrangentes e sintéticas possíveis.
Certamente existem muitos outros objetivos importantes a serem atingidos pelo país em
vários níveis e setores. Porém os apresentados neste documento são os de caráter estratégico, básicos e
impulsionadores para outros objetivos, sendo, portanto, não apenas importantes, mas indispensáveis
para a vida e o desenvolvimento nacionais.
Os ONLP foram selecionados dentro da perspectiva dos AEN que, por sua vez, são
diretamente alinhados ao que a Constituição brasileira prioriza em seu texto, sempre em harmonia com
as percepções do panorama nacional e o contexto internacional em que o país se insere.
Por isso, a seleção dos AEN com os ONLP a eles vinculado deve contemplar as conjunturas
nacional e internacional, acompanhadas do vislumbre das megatendências internacionais que sinalizam,
ao longo da jornada do planejamento de longo prazo brasileiro, os importantes aspectos a serem
levados em consideração na tomada de decisões, evitando-se ao máximo imprecisões e perda de foco
no rumo planejado.
Ademais, é feito um esforço de prospecção com métodos reconhecidos nos meios
acadêmico e profissional para a identificação das grandes possibilidades que se desenham no futuro,
levando-se em consideração tanto a conjuntura quanto as megatendências e os desafios nacionais,
acrescidas de propostas elencadas para a lide com os cenários apresentados.
Considerando-se os cenários identificados e sua correlação com os ONLP, a PNLP foi
elaborada com o fim de se atingir o cenário otimista, gerando subsídios para as melhores escolhas de
investimentos que possibilitem o atendimento de necessidades as quais, uma vez satisfeitas, resultarão
no bem-estar nacional em longo prazo:
a) a criação do ambiente institucional necessário para se atingir o alto retorno de
investimentos e o alto valor agregado de produtos e serviços;
b) a necessária atualização e racionalização da legislação concernente às áreas
consideradas estratégicas tornando-a objetiva e desburocratizando o ambiente de negócio;
c) a concentração de investimentos nas áreas econômicas de alto valor agregado,
visando à maior integração de interesses e competividade possível;
d) a geração de mecanismos de investimentos multissetoriais que melhorem
significativamente os indicadores de segurança pública;
e) o equilíbrio do desenvolvimento regional por meio dos recursos de tecnologias,
cidades inteligentes, infraestrutura adequada, produção e criação de empregos;
f) a inclusão do Brasil na lista de países com os mais elevados índices de
desenvolvimento humano;
g) tornar o país autossuficiente em áreas estratégicas, tais como: saúde, educação,
energia, defesa, CT&I, espacial, aeronáutico, cibernético, nuclear, sistemas inteligentes e autônomos,
tecnologia da informação, tecnologia da comunicação, agronegócio, fármacos, radiofármacos,
tecnologia assistiva, entre outras que vierem a ser elencadas e priorizadas;
h) a garantia da soberania nacional no domínio das áreas de conhecimento
estratégico desejadas pela nação, sem afetar a relação de parcerias internacionais estratégicas;
i) a ampliação e diversificação dos sistemas de comunicação para que atinjam todo o
território nacional;
j) diversificação da matriz energética brasileira, com investimentos em fontes
alternativas e renováveis de energia;
k) o crescimento e amadurecimento do sistema de inovação nacional;
l) uma maior integração dos entes públicos e privados nos temas de governança,
gestão, ciência e tecnologia;
m) o desenvolvimento de uma base sólida de conhecimento científico e tecnológico,
acompanhada de mecanismos efetivos de proteção contra cerceamentos;
n) a proteção dos ativos dos patrimônios de todos os setores do sistema institucional
nacional, tais como: educação, CT&I, indústria, bioeconomia, biotecnologia e biodiversidade;
o) a estruturação de uma base educacional atualizada, madura e efetiva que
possibilite o suporte aos projetos de desenvolvimento nacional, em qualidade e quantidade suficiente
por parte dos egressos;
p) o desenvolvimento da base industrial nacional, incluindo a base industrial de
defesa, com o fortalecimento, autonomia e independência das cadeias produtivas e de suprimentos;
q) posicionar o Brasil entre os países mais competitivos nos mercados internacionais;
r) a plena participação brasileira no ambiente internacional de produtos e serviços
de alto valor agregado;
s) o fortalecimento da política externa nacional para o posicionamento geopolítico e
geoestratégico adequados à defesa dos interesses e da soberania nacionais; e
t) a elevação da taxa de empregabilidade, em especial, nos empregos de alta
especialização e retorno de investimento.
Essas necessidades são encontradas no conjunto dos temas vitais à nação e que
influenciam o seu desenvolvimento integral. Levá-las em consideração é pré-requisito fundamental para
o atingimento daquilo que o Brasil deseja ser e onde aspira estar em 36 anos.
Por isso, os AEN e os ONLP foram, assim, identificados, selecionados e, na sequência,
agrupados em pilares de sustentação da proposta da Política que, novamente, não ignoram outros que
possam ser pensados, mas indicam uma importante síntese que facilita a visualização do caminho a ser
tomado no atendimento das necessidades, anseios e interesses do Estado brasileiro.
Esta proposta de iniciativa da Administração Pública Federal inserirá o Brasil no rol das
nações que pensam estrategicamente no longo prazo e à frente de seu tempo, utilizando-se das
melhores práticas internacionais desenvolvidas em planejamento estratégico de longo prazo. Seu
desdobramento natural será, na sequência, a Estratégia Nacional de Longo Prazo, onde as ações
implícitas nos ONLP, com estratégias, ações estratégicas e orientações associadas a cada um, serão
detalhadas.
Desse modo, a nação brasileira segue em passos firmes e contínuos na defesa de sua
soberania, na busca de seus interesses e no atendimento de suas necessidades, atuando
harmoniosamente no concerto dos povos e realizando sua vocação democrática, pacífica, livre e justa,
com vista ao seu pleno desenvolvimento.
EM nº 00061/2022 CC
 
Brasília, 29 de Dezembro de 2022

Senhor Presidente da República,

1.                Submeto à apreciação de Vossa Excelência proposta de Projeto de Lei que dispõe sobre a
Política Nacional de Longo Prazo (PNLP), no âmbito nacional, com foco na construção de um documento
que oriente as ações de Estado, com priorização estratégica de temas que precisam ser tratados como base
para o desenvolvimento nacional, constituindo-se como um marco referencial em forma de lei.
2.                Com horizonte de 36 anos a partir de sua publicação, a PNLP se insere num conjunto de
propostas que visam ao desenvolvimento nacional, conforme disposto na Constituição Federal de 1988,
especificamente no § 1º do artigo 174, que trata da ordem e do progresso do País, estruturados
harmoniosamente em suas diversas dimensões. Verifica-se, também, na Carta Magna, o embasamento
sólido das perspectivas de progresso da República, em relação a seus fundamentos e em direção aos seus
objetivos fundamentais, expostos em seus Artigos 1º e 3º.
3.                A República Federativa do Brasil chega ao ano de 2022, em seu bicentenário de
Independência, vivenciando desafios próprios e do cenário internacional, muitas vezes indissociáveis, que
continuarão a se fazer sentir nos anos à frente. O planejamento com horizonte de longo prazo é essencial
para permitir o crescimento ordenado, vislumbrar oportunidades, lidar com desafios e concentrar esforço
em áreas estratégicas nacionais com forte potencial de desenvolvimento. Se faz imprescindível para
nortear políticas públicas, utilizar mais efetivamente os recursos e servir como referência na delineação e
reordenação de rotas para gestores nas mais diversas esferas.
4.                Igualmente, objetiva-se a colaboração com o Sistema de Planejamento e de Orçamento
Federal, conforme disposto na Lei 10.180/2001, em seu Artigo 2º Incisos I e II, uma vez que a PNLP trará
contribuições para a formulação do planejamento estratégico nacional e de planos nacionais, regionais e
setoriais de desenvolvimento econômico e social.
5.                Sendo assim, a proposta da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República (SEAE/PR) de “pensar o Brasil, construir o futuro” materializa-se respaldada pelo exercício de
suas atribuições, conforme dispostas no Decreto 10.374/2020, alterado pelo Decreto 10.817/2021. Isso é
feito com uma perspectiva abrangente e multisetorial, por meio de reflexões e apoio ao planejamento de
longo prazo e trabalho em parceria com os entes setoriais.
6.                A PNLP organiza os principais assuntos nacionais concernentes ao desenvolvimento em 5
Pilares Estratégicos, a saber: Soberania e Modernização do Estado; Infraestrutura e Desenvolvimento
Regional; Desenvolvimento Social; Desenvolvimento Sustentável; e Desenvolvimento Científico e
Tecnológico. Os Pilares, por sua vez, são desdobrados em 28 Assuntos Estratégicos Nacionais (AEN),
que compreendem, a seu turno, 71 Objetivos Nacionais de Longo Prazo (ONLP), orientadores dos
planejamentos, projetos e ações de médio e curto.
7.                A definição das bases da PLNP, Pilares Estratégicos, Assuntos e Objetivos Estratégicos
contou com a colaboração e participação cooperativa de todos os entes setoriais, com subsídios colhidos
em consulta a especialistas, workshop e análises reiteradas por meio de ferramentas tecnológicas que
utilizaram as políticas, estratégias e planos já existentes em conjunto com o material produzido para se
elaborar a proposta ora submetida.
8.                São essas, Senhor Presidente, as razões que justificam a proposta de Projeto de Lei que ora
submetemos à elevada apreciação de Vossa Excelência.
Respeitosamente,

 
 

Assinado eletronicamente por: Ciro Nogueira Lima Filho

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