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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FREIRE, THAYNÁ ARAÚJO (COORD.) ET AL. MANUAL DE SEMIOLOGIA MÉDICA. 1. ED.
SALVADOR: EDITORA SANAR, 2020.
Editora Sanar Ltda.
Rua Alceu Amoroso Lima, 172
Caminho das Árvores
Edf. Salvador Office e Pool, 3º andar.
CEP: 41820-770 – Salvador/BA
Telefone: 71 3052-4831
[email protected]
editorasanar.com.br
Autores
Aline Linhares Carlos
Ana Raquel Ferreira de Azevedo
Geison Vasconcelos Lira
Igor Abadessa da Igreja
José Augusto Costa Oliveira
Manuel Fortes Monteiro
Mário Henrique de Sá
Priscila Garcia Câmara Cabral Tavares
Raul Alexandre Vasconcelos
Thayná Araújo Freire
Thays Araújo Freire
Yara Maria Vieira dos Santos
Coautores
Alexandre Augusto Bastos Moura
O ensino da Semiologia está mudando? Esta é uma pergunta que está inserida no contexto de
mudança e inovação na Educação Médica nos últimos 50 anos. Desde o aparecimento da
Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-based Learning – PBL), na década de 1960, está em
desenvolvimento, no âmbito da Educação aplicada à Medicina, uma agenda de pesquisa em teorias
pedagógicas, perfil profissional, organização e matriciamento curricular, e metodologias de ensino e
de avaliação (da aprendizagem e de programas), que tem mudado a face das escolas médicas em todo
o mundo e também no Brasil. Em consequência, o ensino da Semiologia Médica, tradicionalmente
executado à beira do leito, tem sofrido tensionamentos.
Em primeiro lugar, a formação por competências, a partir da noção de competência como
constructo que agrega conhecimentos, habilidades e atitudes, tem trazido para a Semiologia a
necessidade de desenvolver habilidades psicomotoras relacionadas à semiotécnica, englobando dois
momentos sequenciais: “o mostrar como” e o “fazer”, tal como proposto por George E. Miller em sua
conhecida pirâmide[1]. O momento do “mostrar como” implica no desenvolvimento de habilidades
psicomotoras em cenários de simulação clínica, bem organizados em laboratórios de habilidades
clínicas, com recurso a pacientes padronizados e a modernos simuladores mecanoeletrônicos. Treinar
habilidades semiotécnicas em cenários de simulação clínica permite que os estudantes de medicina
possam repetir exaustivamente, sob supervisão, a miríade de manobras que compõem a rotina do
exame físico. Esta passa, portanto, a ser uma etapa desejável da formação médica, devendo ser
incorporada ao Ensino da Semiologia, precedendo a abordagem ao paciente na beira do leito, o
momento do “fazer”, somando-se a ela o uso de metodologias de avaliação da aprendizagem para
certificação de competências semiotécnicas em cenários de simulação clínica, como o Objective
Estructured Clinical Examination (OSCE).
Em segundo lugar, a compilação da anamnese, primeiro passo do método clínico, tem passado a
compor uma nova modalidade de abordagem médica, conhecida como Medicina Centrada na Pessoa.
Assim, ademais de ser um essencial recurso propedêutico, a anamnese torna-se estruturante de uma
abordagem plenamente integral, compreensiva e transcendente de organização do complexo trabalho
cognitivo e interrelacional do médico. Estruturando-se a partir da entrevista clínica, a obtenção da
anamnese demanda o treinamento em habilidades de comunicação, que também se podem organizar
nos momentos do “mostra como” e do “fazer”. O primeiro momento em laboratórios de habilidades
clínicas com pacientes padronizados, seguido do segundo momento, com abordagem em pacientes
em cenários reais de prática, após avaliação certificativa por meio do OSCE.
Em terceiro e último lugar, o raciocínio clínico, que tem seu treinamento iniciado de modo mais
amiúde nas unidades curriculares onde aquela disciplina é trabalhada, precisa ter abordagem
formativa mais sistemática e estruturada. Ainda não há consenso sobre a natureza do processo
cognitivo que estrutura a tarefa de diagnosticar e tomar decisões clínicas executada pelo médico. Por
conseguinte, o modo eficaz de desenvolver competências em raciocínio diagnóstico e tomada de
decisão clínica ainda é um problema para educadores, o qual tem sido objeto de pesquisa e discussão
pedagógica entre especialistas. O uso da Psicologia Cognitiva, da Epidemiologia Clínica, da
Medicina Baseada em Evidências e de recursos cibernéticos cada vez mais sofisticados, como a
Inteligência Artificial, tem contribuído sobremaneira para o estabelecimento de estratégias didáticas
que visem ajudar os estudantes a pensarem como médicos, no que diz respeito ao raciocínio
diagnóstico e à tomada de decisão clínica[2].
Vê-se, portanto, que o processo ensino-aprendizagem em Semiologia está em transição. E a
bibliografia nessa disciplina deve acompanhar este momento. Neste livro, os autores e colaboradores,
a partir de suas experiências como docentes e estudantes do Curso de Medicina da Universidade
Federal do Ceará, Campus de Sobral, vinculados ao ensino e à aprendizagem da Semiologia Médica,
procuraram sistematizar sua contribuição original em forma de livro-texto, que se destina a servir a
escolas médicas, professores e estudantes que identificam novos horizontes na Educação Médica.
Este livro incorpora abordagens da Semiologia Baseada em Evidências, do Raciocínio Clínico e
da Simulação Clínica, conservando os aspectos descritivos das principais manobras semiotécnicas,
desde a anamnese até o exame neurológico, percorrendo toda a sequência operacional do exame
físico por sistemas e segmentos corporais. A descrição semiológica e a explicação das manifestações
clínicas, em termos de sinais e sintomas, partiram das bases anatômicas e fisiológicas dos diversos
sistemas abordados. Foi dado ênfase à abordagem de sintomas e sinais por meio de mapas mentais,
para facilitar o estudo e o processamento cognitivo sistemático, visando ao treinamento do raciocínio
clínico, principalmente pelos estudantes que estão começando a coletar anamneses e a executar o
exame clínico abrangente, quando pode parecer difícil ordenar os múltiplos dados num padrão geral
que permita o diagnóstico diferencial. As manobras semiotécnicas foram trabalhadas a partir de
orientações gerais para a execução das diversas etapas do exame físico, incluindo a sua preparação, e
desenvolvidas em um roteiro descritivo da sequência de ações previstas. Para cada manobra,
parâmetros de normalidade do exame foram indicados, para serem confrontados com os sinais
semiológicos que indicam anormalidade. As evidências científicas para os principais achados para os
quais estão disponíveis foram apresentadas, em ternos de sensibilidade, especificidade e razão de
verossimilhança. Também foram utilizados casos clínicos como ferramenta didática para ilustrar a
aplicação dos dados da anamnese e do exame físico no raciocínio diagnóstico. Os casos clínicos
estimulam o raciocínio diagnóstico por meio de pontos de discussão, ao final de cada caso, seguindo-
se uma discussão esquemática e breve sobre o caso, com ênfase no sintoma-guia, no diagnóstico
sindrômico, no diagnóstico anatômico/topográfico, no diagnóstico diferencial e na principal hipótese
diagnóstica. Ao final de cada capítulo, pontos importantes foram destacados a título de resumo.
O treinamento de habilidades semiotécnicas em cenários de simulação clínica foi priorizado em
um capítulo específico, de modo que se possa viabilizar, de modo simples e organizado, esse
treinamento tanto em escolas médicas com laboratório de habilidades clínicas, quanto naquelas que
não o possuem.
Os autores e colaboradores deste livro acreditam que a Medicina de excelência se pratica em
sólidas bases semiológicas. Dedicamos, pois, este trabalho a todos aqueles colegas que entendem que
a Semiologia Médica não está em desuso e que não é uma relíquia de uma Medicina romântica, mas
a própria essência do trabalho médico, com suas profundas dimensões interrelacional e cognitiva.
Esperamos que, todos juntos, engrandeçamos a nossa profissão, contribuindo para a formação de
bons médicos, honrando tantos mestres do passado e do presente, e dando uma inovadora visão
pedagógica para a Semiologia Médica.
. [1] MILLER GE. THE ASSESSMENT OF CLINICAL SKILLS/COMPETENCE/PERFORMANCE. Acad Med 1990; 65: 563–
67.
. [2]
CATE O, CUSTERS EJFM, DURNING SJ (EDS). Principles and practice of case-based clinical reasoning education: A
METHOD OF PRECLINICAL STUDENTS. CHAM: SPRINGER OPEN, 2018.
1. INTRODUÇÃO
Há um século, o diagnóstico clínico se baseava quase inteiramente na observação empírica – ou
seja, naquilo que os médicos viam, ouviam e sentiam. Embora alguns testes tecnológicos estivessem
disponíveis, o seu papel era escasso e o exame tradicional era a principal, quando não era a única,
ferramenta utilizada no diagnóstico médico.1 Algumas informações obtidas a partir de anamnese e
exame físico não têm ainda confirmação de sua utilidade a partir de evidências científicas. Outro
grupo de informações, no entanto, ganhou mais precisão com a abordagem baseada em evidências, a
partir da qual é possível quantificar indicadores como sensibilidade, especificidade, valor preditivo e
razão de verossimilhança e, assim, identificar os achados semióticos que aumentam ou diminuem a
probabilidade de doença.
O conceito de Medicina Baseada em Evidências (MBE) tem sua origem a partir de um
movimento da epidemiologia clínica que ocorreu simultaneamente no Canadá e no Reino Unido, no
início dos anos 19902. Pode ser definida como “o uso consciente, explícito e criterioso das melhores
evidências atuais na tomada de decisões sobre o cuidado de pacientes”.3 O objetivo era fechar a
lacuna entre a evidência e a prática médica, tornando possível avaliar as ações de saúde com base em
evidências científicas. A MBE é, pois, uma abordagem sistemática para a resolução de problemas
clínicos que permite a integração da melhor evidência de pesquisa disponível com a experiência
clínica e os valores do paciente.4
Pode-se entender como melhor evidência clínica disponível a pesquisa clinicamente relevante,
especialmente pesquisa clínica centrada no paciente, na precisão dos testes diagnósticos (incluindo o
exame clínico), no poder dos marcadores de prognóstico e na eficácia e segurança dos regimes
terapêutico, reabilitativo e preventivo. A boa prática, contudo, deve se basear tanto na experiência
clínica individual como na melhor evidência externa disponível, tendo em mente a certeza de que
nenhuma delas sozinha é suficiente. Sem experiência clínica, uma excelente evidência externa pode
ser inaplicável ou inadequada para um paciente. Sem as melhores evidências atuais, a prática clínica
corre o risco de se tornar rapidamente desatualizada.3
Nosso enfoque neste capítulo está nas evidências científicas sobre a aplicação de testes
diagnósticos. Teste diagnóstico é todo e qualquer método utilizado com o fim de identificar ou
descartar a presença de doença no paciente. Pode ser uma informação obtida na história clínica, um
achado no exame físico ou nos exames complementares.
4. Pergunta Clínica: responde às dificuldades mais avançadas e atuais, pois se trata de uma
dúvida originada na aplicação do conhecimento, em um cenário altamente variável e
incerto.
Uma boa forma de organizar os problemas clínicos foi proposta por Sackett.3 Ele propôs que uma
boa questão clínica deveria ter quatro (ou, às vezes, três) componentes essenciais, sintetizados pelo
mnemônico PICO.
Quadro 1. Pergunta PICO.
4. Exemplificando:
“O uso da Ultrassonografia é útil para diagnosticar pneumonia?”
P Pneumonia
I Ultrassonografia
C Opcional. Poderia ser indicado um teste padrão, como Tomografia ou Biópsia
O Diagnóstico
Existem casos em que a “Comparação” pode ser deixada vazia, como quando não existe um
método padronizado ou validado para ser utilizado como parâmetro.
P I C O
Fonte: Autor.
Em cada item da pergunta PICO, as palavras seriam adicionadas à ferramenta de busca com OR.
Depois, seriam unidas com AND, conforme exemplificado abaixo.
Figura 1. Exemplo de pesquisa com descritores no PubMed.
Este teste Revisão Estudos Estudos não Estudos de caso- Raciocínio baseado
diagnóstico é sistemática de transversais consecutivos ou controle, ou em mecanismos
preciso? estudos individuais com estudos sem padrão de fisiopatológicos ou
(Diagnóstico) transversais com padrão de padrões de referência ruim, opinião de
padrão de referência referência ou não especialista
referência aplicado de aplicados de independente
aplicado de forma consistente forma consistente
e cegamento
forma consistente
e cegamento
Fonte: Oxford Centre for Evidence-Based Medicine Levels of Evidence (atualizada em 2011)
modificado.
O que fazer quando a busca retorna mais de um artigo no mesmo nível de evidência? Deve-se
escolher aquele metodologicamente mais rigoroso. Há ferramentas específicas para avaliar a
qualidade de cada tipo de publicação. Para revisões sistemáticas, utiliza-se a Escala AMSTAR
(http://amstar.ca/Amstar_Checklist.php). Para estudos originais de acurácia diagnóstica, utiliza-se o
QUADAS-2 (https://www.bristol.ac.uk/population-health-sciences/projects/quadas/quadas-2/).
O uso dessas escalas é muito importante, mesmo quando há apenas um artigo, pois, antes de
avaliar os resultados, deve-se confirmar o baixo risco de viés. Do contrário, usaremos informações
que podem estar enviesadas no cuidado do nosso paciente. Os próprios sites acima citados
disponibilizam orientações sobre a aplicação. Com a prática e repetição, a utilização das escalas
torna-se fácil e rápida.
Escolhido o artigo que tem baixo risco de viés, é hora de interpretar os resultados. Cabe aqui
lembrar os conceitos básicos.
DOENÇA
TESTE TOTAL
PRESENTE AUSENTE
POSITIVO a b a+b
NEGATIVO c d c+d
Interpretação: observe que a letra “a” corresponde ao grupo de doentes que apresentaram teste
positivo; a letra “b” refere-se ao grupo de não doentes (sadios) com teste positivo. Já a letra “c”
corresponde ao grupo de doentes com teste negativo, e a letra “d” inclui o grupo sadio que
apresentou teste negativo. Conclui-se que: a+c = total de pessoas doentes / b+d = total de
pessoas não doentes / a+b = total de pessoas com teste positivo / c+d = total de pessoas com
teste negativo.
2.3.1.1. Sensibilidade
Assim, define-se sensibilidade como a proporção de pessoas doentes que apresentaram um teste
positivo.9 Os testes sensíveis são bastante úteis no diagnóstico precoce das doenças. Na prática
clínica, um teste altamente sensível, quando apresenta um resultado negativo, oferece mais segurança
ao médico na hora de descartar uma doença grave, por exemplo. Por outro lado, quando positivo,
necessita de confirmação posterior com um teste mais específico.
Aplicando esse conceito ao que aprendemos na tabela anterior, podemos concluir da seguinte
maneira:
Na equação, temos o número de doentes cujo teste tem resultado positivo representado pela letra
“a” sobre o número total de doentes. Ou seja, representa a proporção dos doentes que apresentaram
teste positivo.
Considerando que a sensibilidade de um teste é dada em valor de porcentagem, pode-se inferir
que, quanto maior esta porcentagem, mais sensível é o teste, ou seja, melhor irá nos ajudar no
diagnóstico e, principalmente, a descartar algumas doenças.
4. Exemplificando:
Supondo que um teste apresente a sensibilidade de 97%, isso significa que, a cada 100 doentes
submetidos a esse mesmo teste, 97 apresentam teste positivo. Assim, na prática clínica, ao suspeitar
de uma determinada doença em um paciente e o submetermos a um teste altamente sensível, e se ele
tiver resultado negativo, implica dizer que a probabilidade de esta pessoa estar realmente doente é
mínima.
2.3.1.2. Especificidade
Quando queremos confirmar um diagnóstico sugerido, podemos fazer uso de um teste altamente
específico. Assim, define-se especificidade como a proporção de indivíduos sem a doença que tem
teste negativo.9
De acordo com nossa tabela, podemos encontrar a especificidade de um teste com base na
seguinte equação:
Assim, temos a probabilidade do grupo de os não doentes (sadios), representado pela somatória
das letras “b+d”, apresentarem teste negativo que está representado pela letra “d”. Dessa forma, um
teste bastante específico é bem útil, pois raramente é positivo na ausência de doença.
4. Exemplificando:
Supondo que um teste apresente a especificidade de 90%, isso significa que, a cada 100 pessoas
sadias submetidas a esse mesmo teste, 90 apresentam teste negativo. Assim, na prática clínica, ao
suspeitar de uma determinada doença em um paciente e o submetermos a um teste altamente
específico, e se ele tiver resultado positivo, implica dizer que a probabilidade de esta pessoa estar
realmente doente é máxima.
Entende-se por razão de verossimilhança negativa (RV-) quando estamos nos referindo aos testes
com resultado negativo. Assim, seria a razão entre a proporção de pacientes doentes com teste
negativo, ou seja, c/a+c, e a proporção de pacientes sadios com teste negativo dentre todos os
pacientes sadios, que seria d/b+d.
A tabela abaixo mostra como interpretar o resultado de uma razão de verossimilhança. Conforme
já dito, e repetindo o conceito de outra maneira, quanto maior a RV+ de uma pergunta de anamnese
ou manobra de exame físico, maior será o aumento na probabilidade de doença. Por outro lado,
quanto maior a RV – de uma pergunta de anamnese ou manobra de exame físico, menor será o
aumento na probabilidade de doença. Assim, grandes razões de verossimilhança são bastante úteis
para confirmar ou descartar uma hipótese diagnóstica. Já razões de verossimilhança pequenas ou
raramente importantes têm pouco impacto na mudança de probabilidades.
Tabela 2. Interpretação da razão de verossimilhança
RV+ INTERPRETAÇÃO RV-
Fonte: Autor
Os limiares podem variar dependendo da situação clínica, de sua gravidade e do quão complexo
ou arriscado é o tratamento.
REFERÊNCIAS
• MCGEE SR. EVIDENCE-BASED PHYSICAL DIAGNOSIS. 4TH ED. PHILADELPHIA, PA: ELSEVIER; 2018.
2. Magarey JM. Elements of a systematic review. Int J Nurs Pract. 2001; 7(6): 376-82.
3. Sackett DL, Rosenberg WM, Gray JA, Haynes RB, Richardson WS. Evidence based medicine: what it is and what it isn’t.
BMJ. 1996; 312: 71-2.
4. Akobeng AK. Principles of evidence based medicine. Arch Dis Child. 2005; 90: 837-840.
5. Simel DL, Rennie, D. The Rational Clinical Examination. Evidence-Based Clinical Diagnosis. JAMAevidence. Copyright
© 2009 by the American Medical Association.
6. Levels of Evidence and Grades of Recommendations – Oxford Centre for Evidence-Based Medicine (atualizada em 2011).
Disponível em https://www.cebm.net/2016/05/ocebm-levels-of-evidence/
7. Straus SE, Sackett DL. Using research findings in clinical practice. BMJ. 1998; 317: 339-42.
8. Guyaty G, Drummond R, Maureen OM, Deborah JC. The Philosophy of Evidence-Based Medicine. In: Guyaty G,
Drummond R, Maureen OM, Deborah JC. The User’s Guide to the Medical Literature. 2. ed. New York: McGraw-Hill;
2008.
9. FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S.W. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. Tradução de Roberta Marchiosi
Martins. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
1. INTRODUÇÃO AO RACIOCÍNIO CLÍNICO
O objeto essencial da prática médica é o diagnóstico, que é a identificação, por meio de processo
cognitivo (raciocínio clínico), do problema clínico ou dos problemas clínicos de um paciente, objeto
de cuidados médicos. Há vários tipos de diagnóstico, dentre os quais destacam-se:
Quadro 1. Tipos de diagnóstico e suas definições.
Análise comparativa e probabilística das várias doenças que apresentam quadro clínico
DIFERENCIAL semelhante, procurando-se eliminar sucessivamente as de menor probabilidade em face
dos dados disponíveis.
Quando você começar a fazer suas primeiras anamneses, irá se confrontar com uma série de
dados que podem não fazer nenhum sentido. Somam-se a esses dados da anamnese aqueles obtidos
no exame físico. Isso ocorre porque, ao iniciar os estudos em Semiologia, você ainda não aprendeu a
raciocinar como um médico, e possui pouco conhecimento sobre as doenças e pouca vivência prática
com pacientes. Daí a necessidade de procurar desenvolver um modo sistemático de raciocinar para,
partindo dos dados do exame clínico, conseguir ter uma ideia geral sobre as possíveis doenças que
podem estar implicadas no caso. Vale ressaltar que uma anamnese mal elaborada e um exame físico
incompleto ou feito de maneira errada não gerarão dados de boa qualidade, necessários para fazer um
raciocínio correto e eficiente. Anamnese e exame físico malfeitos podem, no mínimo, requerer que
sejam feitos novamente, perdendo-se tempo, quando não levam a uma consequência mais grave: o
erro médico por negligência!
Os médicos experientes, que já travaram contato com largo repertório de doenças, que têm
amplos conhecimentos sobre as manifestações típicas e atípicas das doenças, e que desenvolveram a
capacidade de identificar sinais clínicos a partir do aprendizado prático, são capazes de identificar
rapidamente, a partir da anamnese e do exame físico, padrões claros, indicativos de determinadas
doenças. Esse método de raciocínio diagnóstico é chamado de “intuitivo” ou por Gestalt (também
popularmente chamado de “olho clínico”). Não será esse o seu caso, ao iniciar seus primeiros exames
clínicos de pacientes.
Você aprenderá agora a empreender o raciocínio clínico sistemático-probabilístico, estruturado
pelo método hipotético-dedutivo de geração e teste de hipóteses diagnósticas, que depende da sua
capacidade cognitiva de fazer o diagnóstico diferencial (ver definição na tabela acima). Esta
capacidade exigirá de você conhecimento de anatomia, fisiopatologia e taxonomia das doenças
humanas.
Sua primeira tarefa é identificar o sintoma-guia, que é o sintoma ou o sinal específico que permite
recompor de modo lógico a história da doença atual e facilitar a definição diagnóstica. Normalmente,
é o sintoma ou o sinal de mais longa duração ou o mais salientado pelo paciente, ou a própria queixa
principal. Com o tempo, você aprenderá que o sintoma-guia é o que permite chegar ao diagnóstico
com facilidade e precisão. Se você consultar a parte do roteiro que corresponde ao interrogatório por
órgãos e aparelhos, perceberá que os sintomas se relacionam a sistemas específicos (diagnóstico
anatômico). Por exemplo, a dispneia sugere um distúrbio no sistema cardiovascular ou no sistema
respiratório. Os sintomas podem também indicar um diagnóstico fisiopatológico. Por exemplo, o
edema pode sugerir insuficiência renal, insuficiência cardíaca ou insuficiência hepática.
Uma das competências que você tem de desenvolver é a de como investigar os principais
sintomas. Estude, pois, nos livros de Semiologia, cada um dos principais sintomas, seus atributos
característicos equaissistemas podem estar implicados quando eles estão presentes. Por exemplo, em
um paciente com hematúria, você pode iniciar seu raciocínio diagnóstico seguindo o algoritmo
abaixo, considerando a presença de outros sintomas e sinais associados:
Figura 1. Algoritmo diagnóstico da hematúria.
GRANDES SÍNDROMES
SÍNDROMES • Toxemia
INFLAMATÓRIAS • Síndrome da resposta inflamatória sistêmica
SISTÊMICAS • Sepse
• Cefaleia
SÍNDROMES DOLOROSAS
• Dor torácica
• Dor abdominal
• Dor musculoesquelética
SÍNDROME FEBRIL
SÍNDROME CONSUMPTIVA
• Anemia
SÍNDROMES DO SISTEMA
• Policitemia
HEMATOPOÉTICO
• Síndrome hemorrágica
• Estados de hipercoagulabilidade
• Síndrome mielodisplásica
• Ascite
• Hipertensão portal
• Síndromes ictéricas
• Diarreia e disenteria
• Hemorragia digestiva
SÍNDROMES ABDOMINAIS • Oclusão intestinal
• Perfuração de víscera oca em peritônio livre
• Peritonite
• Íleo paralítico
• Íleo espástico
• Massas abdominais
• Mecânicas
• Degenerativas
SÍNDROMES
• Inflamatórias
REUMÁTICAS
• Infecciosas
• Metabólicas
• Secundárias
• Funcionais
• Hemisféricas
• Síndrome de hipertensão intracraniana
SÍNDROMES
• Síndromes dos motoneurônios
NEUROLÓGICAS
• Superior
• Inferior
• Extrapiramidais
• Parkinsonismo
• Coreia
• Síndrome de irritação meníngea
• Síndromes do tronco cerebral
• Mesencefálicas
• Pontinas
• Bulbares
• Cerebelares
SÍNDROMES • Medulares
NEUROLÓGICAS • Síndrome cordonal posterior
(continuação) • Síndrome medular transversa
• Síndrome de hemissecção medular
• Síndrome medular central
• Síndrome espinal anterior
• Síndrome do cone medular
• Síndromes periféricas
• Radiculopatias
• Plexopatias
• Mononeuropatias
• Polineuropatias
SÍNDROMES DE
• Insuficiência cardíaca
INSUFICIÊNCIA
• Choque
• Síncope
CIRCULATÓRIA
• Parada cardíaca
SÍNDROMES DO SISTEMA
• Síndrome prostática
GENITURINÁRIO
SÍNDROMES • Síndromes
GRANDES brônquicas
SÍNDROMES
BRÔNQUICAS
EPLEUROPULMONARES • Obstrução
• Infecção
• Bronquite
• Broncopneumonia
• Dilatação (bronquiectasia)
• Síndromes pulmonares
• Consolidação
• Atelectasia
• Hiperaeração
• Congestão passiva dos pulmões
SÍNDROMES
• Hipertireoidismo
• Hipotireoidismo
ENDÓCRINAS
• Síndrome de Cushing
O diagnóstico sindrômico é uma etapa importante do raciocínio clínico, pois o quadro clínico das
doenças é essencialmente sindrômico. Importante ressaltar que uma síndrome pode ser causada por
várias doenças, e uma mesma doença pode se manifestar por várias síndromes. Por exemplo, se um
paciente se apresenta com edema, oligúria, hipertensão arterial e hematúria, você irá identificar que o
paciente está com síndrome nefrítica, podendo, a partir daí, ser capaz de iniciar o diagnóstico
diferencial das doenças que cursam com essa síndrome, que inclui doenças tanto agudas quanto
crônicas, como nefrite lúpica, glomerulonefrite membranoproliferativa, nefropatia por IgA e outras.
O diagnóstico diferencial inicial com base na queixa principal e em dados demográficos costuma
ser muito extenso, de forma que os médicos experientes testam primeiro as possibilidades hipotéticas
durante a história e o exame físico, formulando questões já desde a identificação e a queixa principal
do paciente, passando pela análise do sintoma-guia e buscando outros sintomas (chamados de
qualificadores) que direcionam o raciocínio para uma determinada hipótese diagnóstica, cuja
probabilidade se destaca relativamente à de outras hipóteses concorrentes, e culminando com a
realização de exame físico dirigido, que apoia ou afastao diagnóstico suspeito. Por exemplo, em um
paciente com dor torácica, história de dor, edema na perna e dor à palpação dela, aumenta-se a
probabilidade de embolia pulmonar.
Quando a história e o exame físico fornecem um padrão claro, é feito o diagnóstico presuntivo
por raciocínio intuitivo ou Gestalt (ver acima). Quando não há reconhecimento de um padrão claro
de doença e o raciocínio intuitivo ou Gestalt não é possível, você deve usar o raciocínio sistemático-
probabilístico (método hipotético-dedutivo). Os exames diagnósticos são utilizados quando as
incertezas persistem após a história e o exame físico, particularmente quando doenças são
consideradas graves ou têm um tratamento perigoso ou de custo elevado. Os resultados de exames
modificam mais as probabilidades dos diferentes diagnósticos (probabilidade pós-teste).
Quadro 3. Métodos de raciocínio diagnóstico.
DESCRIÇÃO
2. ANALISE OS DADOS:
a. Diagnóstico intuitivo ou por reconhecimento de padrões (Gestalt), ou
b. Diagnóstico sistemático-probabilístico (Método Hipotético-dedutivo):
+ Identifique achados anormais (sintomas e sinais)
+ Localize os achados anatomicamente (diagnóstico anatômico)
+ Identifique alterações das funções orgânicas (diagnóstico funcional)
+ Agrupe os achados em agregados significativos (diagnóstico sindrômico)
+ Formule hipóteses quanto à causa provável (3 a 5 hipóteses)*
+ Defina a probabilidade pré-teste de cada hipótese
+ Teste as hipóteses, calculando a probabilidade pós-teste de cada uma delas
+ Compare a probabilidade pós-teste com os limiares de tratamento (ver a seguir)
(*) A lista de hipóteses diagnósticas inclui as doenças mais prováveis (lista probabilística), as doenças potencialmente mais graves
se deixadas sem tratamento (lista prognóstica) e as doenças mais fáceis e simples de tratar (lista pragmática).
Fonte: Adaptado de BATES, 2018
2. MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO
(RACIOCÍNIO SISTEMÁTICO-
PROBABILÍSTICO)
A geração de hipótese envolve a identificação das principais possibilidades diagnósticas
(diagnóstico diferencial) que podem explicar o problema do paciente. A principal queixa do paciente
(p. ex., dor torácica) e os dados demográficos básicos (idade, sexo, raça) são os pontos de partida
para o diagnóstico diferencial, que geralmente é gerado por um padrão de reconhecimento. Cada
elemento da lista de possibilidades recebe uma estimativa de possibilidade ou probabilidade de ser o
diagnóstico correto (probabilidade pré-teste). Lembrar que a lista de hipóteses diagnósticas inclui as
doenças mais prováveis (lista probabilística, ou seja, com alta probabilidade pré-teste), as doenças
potencialmente mais graves se deixadas sem tratamento (lista prognóstica) e as doenças mais fáceis e
simples de tratar (lista pragmática).
Como veremos adiante, se a probabilidade pré-teste de uma hipótese for suficientemente alta,
pode ser o caso de não se solicitarem testes diagnósticos, devendo-se iniciar imediatamente o
tratamento. Por outro lado, se a probabilidade pré-teste de uma hipótese for muito baixa, pode ser o
caso de não se solicitarem testes diagnósticos, devendo-se, a princípio, descartar essa hipótese.
Quadro 4. Passos para geração e teste de hipóteses diagnósticas
GERAÇÃO E TESTE DE
PROCEDIMENTO
HIPÓTESES
a. Um achado muito específico pode ser indicativo de uma determinada doença (nesse caso,
ele é dito patognomônico).
b. A lista de hipóteses diagnósticas inclui as doenças mais prováveis (lista probabilística), as
doenças potencialmente mais graves se deixadas sem tratamento (lista prognóstica) e as doenças
mais fáceis e simples de tratar (lista pragmática).
c. Até que seja descartada, uma hipótese potencialmente letal deve ser sempre considerada
como presuntiva.
d. Uma doença de alta prevalência aumenta a probabilidade pré-teste (antes da realização dos
exames complementares) de ela ser a causa do problema do paciente, e pode determinar a
probabilidade pós-teste (após a realização dos exames complementares para elucidação
diagnóstica) de ela ser o diagnóstico presuntivo.
e. O princípio da Navalha de Occam indica que se deve escolher como principal hipótese a
mais simples que explique o quadro clínico do paciente.
f. Sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo, razão de
verossimilhança (likelihood ratio) dos testes.
De posse da lista de hipóteses diagnósticas, você terá de decidir se testes diagnósticos devem ser
solicitados, quais serão eles e quando se deve iniciar o tratamento. Parece claro que a decisão pelo
tratamento é baseada, idealmente, num diagnóstico de certeza, ou, ao menos, em um diagnóstico
presuntivo que considera uma hipótese de alta probabilidade. Contudo, a tomada de decisão clínica é
mais complexa. Podemos ilustrar isso tomando a linha de probabilidades abaixo, que estabelece dois
limiares: o limiar do teste (ou seja, a probabilidade pré-teste de uma hipótese a partir da qual o teste
diagnóstico é útil) e o limiar do tratamento (ou seja, a probabilidade pré-teste ou pós-teste de uma
hipótese a partir da qual o tratamento é a melhor decisão a ser tomada).
Figura 2. Probabilidade da doença.
Em contraste, se a probabilidade de uma hipótese for maior que o limiar do tratamento, este deve
ser iniciado, mesmo quando a probabilidade da hipótese não seja de 100% (diagnóstico de certeza).
O que pretendemos com os exames complementares (testes diagnósticos) é fazer com que a
probabilidade de doença após o teste supere o limiar do tratamento, de modo que a decisão sobre este
esteja racional e probabilisticamente fundamentada.
Nas figuras 4 e 5, considere a doença X, cuja probabilidade antes do teste (definida após a
anamnese e o exame físico de boa qualidade) excede o limiar do teste, mas não atingiu o limiar do
tratamento. A doença X, obviamente, é uma das 3 a 5 hipóteses diagnósticas que você formulou. O
mesmo raciocínio será utilizado para as outras hipóteses da lista. No exemplo da doença X, solicitar
exames complementares para testar a hipótese da doença é mandatório.
Figura 4. Probabilidade pré-teste da doença X.
Nesse exemplo, após a realização do teste, considerando que ele foi positivo, a probabilidade pós-
teste ficou acima do limiar de tratamento. Nesse caso, deve-se iniciar o tratamento.
Pode acontecer de, após a anamnese e o exame físico de boa qualidade, você obtera seguinte
probabilidade pré-teste da doença Y:
Figura 6. Probabilidade pré-teste da doença Y.
Nesse exemplo, você não solicitaria exames complementares para testar a doença Y, e, por ora,
descartaria essa doença como hipótese.
Poderia ainda ser o caso de, após a anamnese e o exame físico de boa qualidade, você obter a
seguinte probabilidade pré-teste de uma doença Z:
Figura 7. Probabilidade pré-teste da doença Z.
Fonte: Adaptado de GUYATT, 2011.
Nesse exemplo, você não solicitaria exames complementares para testar a doença Z e iniciaria
imediatamente o tratamento. Mesmo quando o diagnóstico for incerto, o exame nem sempre é útil.
Os testes devem ser feitos apenas se os resultados alterarem o tratamento. Quando a probabilidade de
doença anterior ao exame (pré-teste) é acima de certo limiar, justifica-se o tratamento (limiar
terapêutico) e não há indicação de fazer certos exames.
Os limiares do teste e do tratamento variam em função do prognóstico da doença sem tratamento,
das propriedades e da segurança do teste e da natureza do tratamento.
Para o limiar do teste, quanto mais seguro e menos caro for o teste, e quanto mais severo for o
prognóstico da doença sem tratamento, poderemos admitir menor certeza diagnóstica e toleraríamos
um limiar de teste menor.
Figura 8. Limiar de teste seguro e barato.
Por outro lado, quanto menos seguro e mais caro for o teste, e quanto mais benigno for o
prognóstico da doença sem tratamento, mais acima colocaríamos o limiar do teste.
Figura 9. Limiar de teste pouco seguro e caro.
Para o limiar do tratamento, quanto mais seguro e menos caro for o próximo teste, quanto mais
benigno for o prognóstico da doença, e quanto mais altos forem os custos ou maiores os efeitos
adversos do tratamento, mais acima colocaríamos o limiar do tratamento, exigindo maior certeza
diagnóstica antes de expor o paciente ao tratamento.
Figura 10. Limiar de tratamento: teste seguro e barato.
Por outro lado, quanto mais caro, invasivo e menos seguro for o próximo teste necessário, quanto
mais ameaçador for o prognóstico da doença sem tratamento, e quanto mais seguro e menos caro for
o tratamento proposto, mais abaixo colocaríamos o limiar do tratamento, já que tratar o paciente é
preferível à crescente incerteza diagnóstica.
Figura 11. Limiar de tratamento: pouco seguro e caro.
Fonte: Adaptado de GUYATT, 2011.
Assim, se o benefício do tratamento for muito elevado, e o risco, muito baixo (como ao
administrar um antibiótico seguro para um paciente idoso que possivelmente tem uma pneumonia),
os médicos tendem a aceitar alta incerteza diagnóstica e podem iniciar o tratamento, mesmo se a
possibilidade de infecção for razoavelmente baixa. Entretanto, quando o risco do tratamento é muito
elevado (como ao realizar um tratamento oncológico em um paciente), os médicos querem estar
extremamente seguros do diagnóstico(podendo recomendar o tratamento apenas quando a
possibilidade de câncer for inquestionável), a que poderíamos chamar de diagnóstico de certeza.
Observe que o limiar de tratamento não necessariamente corresponde à probabilidade de a doença ser
considerada confirmada ou descartada. Ele simplesmente indica que o risco de não a tratar é maior
que o risco de tratá-la.
Em conclusão, começar a desvelar os caminhos do raciocínio clínico já ao cursar a disciplina de
Semiologia, seja em um currículo disciplinar, seja em um currículo modular, é fundamental para o
sucesso de sua carreira profissional. Terminamos com algumas dicas para você se aprimorar nessa
tarefa formativa:
• Participe ativamente das visitas de beira de leito e sempre seja voluntário para fazer
anamneses, executar o exame físico, resumir e relatar casos de pacientes. Lembre-se: a
repetição é um ótimo caminho para a expertise;
• Participe de sessões clínicas e esteja atendo às opiniões dos vários participantes sobre os
casos em análise. Procure identificar as justificativas para sustentar uma determinada
hipótese diagnóstica levantada ou para descartá-la e procure construir seu próprio juízo
crítico. Se julgar que tem algo a acrescentar, não se iniba e dê sua opinião. Não tenha medo
de errar. Afinal, você está aprendendo. E continuará a fazê-lo por toda a sua vida médica;
• Por fim, siga com rigor este axioma: “Caso visto na prática é caso estudado!”. Se viu um
caso nas aulas práticas, qualquer que seja ele, ao chegar em casa, estude os aspectos que
você identificou como necessários para diagnosticar a doença em questão da próxima vez
em que a vir em um paciente. Ocupe-se das manifestações típicas das doenças e também
das atípicas. Estabeleça a seguinte meta: “Eu serei sempre capaz de diagnosticar novamente
uma doença já vista por mim!”. Isso se consegue com a prática e com o estudo.
REFERÊNCIAS
a. BICKLEY LS. BATES: PROPEDÊUTICA MÉDICA. 12. ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN; 2018.
2. Carrió FB. Entrevista clínica: habilidades de comunicação para profissionais de saúde. Porto Alegre: Artmed; 2012.
3. Collins RD. Algorithmic Diagnosis of Symptoms and Signs: A Cost-Effective Approach. 4th ed. Philadelphia: Wolters
Kluwer Heath; 2017.
4. Guyatt G, Drummond R, Maureen OM, Deborah JC. Diretrizes para utilização da literatura médica: manual para prática
clínica da medicina baseada em evidências. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2011.
5. Jansen JM. O pensar diagnóstico: medicina baseada em padrões. Rio de Janeiro: Rubio; 2014.
6. Mattos W. Semiologia do adulto: diagnóstico baseado em evidências. Rio de Janeiro: Medbook; 2017.
7. Monte FQ. As bases do raciocínio médico. 2. ed. São Paulo: Hucitec; 2014.
8. Piezza HE. Síndromes clínicas. In: Sociedade Brasileira de Clínica Médica; Lopes AC, Cipullo JP, Kubiac CAP,
organizadores. PROCLIM Programa de Atualização em Clínica Médica: Ciclo 15. Porto Alegre: Artmed Panamericana;
2018, p. 79-112. (Sistema de Educação Continuada à Distância; v. 3). Mattos W, organizador. Semiologia do adulto:
diagnóstico clínico baseado em evidências. Rio de Janeiro: Medbook, 2017, 848p.
9. Porto CC. Semiologia médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2019.
1. INTRODUÇÃO
A anamnese (do grego ana, “trazer de novo” e mnesis, “memória”) é o primeiro passo na
abordagem de qualquer paciente. Seu conceito surgiu na Grécia, com Hipócrates (460-356 a.C.), e
vem sendo aprimorado ao longo dos séculos. É a habilidade médica mais importante para se chegar
ao diagnóstico correto, além de ser a ferramenta fundamental da relação médico-paciente.
“A história clínica não é o simples registro de uma conversa; é mais do que isso: o resultado de
uma conversação com objetivos explícitos, conduzida pelo médico e cujo conteúdo vai sendo
elaborado criticamente por ele.”1
Dada sua importância, alguns estudos avaliaram o impacto da anamnese no diagnóstico clínico
(Tabela 1), comprovando que seu papel se sobressai em relação ao exame físico e aos exames
complementares.
Tabela 1. Papel da Anamnese, Exame Clínico e Exames Complementares no Diagnóstico Clínico.
Número de
80 630 80 98 95
pacientes
Exames
8,75 23 11 13,2 29,5
complementares
1. COLETA DE DADOS
Determinar e monitorar a natureza do problema
Objetivos
Permitir que o clínico estabeleça um diagnóstico ou recomende exames complementares adicionais, sugira abordagens
terapêuticas e preveja a natureza da doença
2. CONSTRUÇÃO DE RELACIONAMENTO
Desenvolver, manter e concluir o relacionamento terapêutico
Objetivos
3. EDUCAÇÃO DO PACIENTE
Realizar a educação do paciente e implementar planos terapêuticos
Objetivos
2. ROTEIRO DE ANAMNESE
2.1. Identificação
a. Nome (e como gostaria de ser chamado)
b. Idade
c. Sexo
d. Cor/raça
e. Estado Civil
f. Profissão/Ocupação Atual e Anterior
g. Local de Nascimento
h. Procedência
i. Residência Atual e Anterior
j. Grau de Escolaridade
k. Nome da Mãe
l. Religião
m. Fonte da história
• Duração: aqui caberia uma ressalva. Importante diferenciar duração da doença de duração
do sintoma. Por exemplo, o paciente tem uma dor torácica há 3 meses, mas ela vem em
crises de 10 minutos. Isso é importante para diferenciar dor cardíaca de dor não cardíaca.
Este item também inclui frequência da queixa.
• Localização e irradiação
• Qualidade
• Intensidade
• Evolução
• Fatores desencadeantes, de melhora ou de piora: fatores desencadeantes e fatores de piora
nem sempre são os mesmos. Por exemplo, quem tem enxaqueca descreve como fator
desencadeante a ingestão de chocolate. Entretanto, fator de piora seria exposição a luz.
• Manifestações associadas.
Além dos itens descritos, deve-se avaliar o impacto do sintoma no estado geral do paciente e nas
atividades fisiológicas, buscando na história alterações do ciclo sono-vigilia, apetite, defecção e
micção, bem como alterações de peso no período. Encerra-se o relato com a situação dos sintomas no
momento atual.
Exemplo:
Refere dor lombar de início progressivo há cerca de três anos, caracterizada como “em peso”,
sem irradiação, desencadeada e agravada por esforço físico, como levantar peso, e aliviada com
repouso e uso de 500 mg de paracetamol. No início do quadro, a dor não atrapalhava seus afazeres,
sendo quantificada como 2-3 na escala numérica verbal (ENV). Surgia 1 ou 2 vezes por mês,
durando 2-3 horas. Evoluiu com piora progressiva e, nos últimos meses, passou a dificultar seus
afazeres (5 na ENV), se tornando mais frequente (2 vezes por semana) e durando o dia todo. Nega
sintomas associados, como fraqueza muscular, parestesias, alterações urinárias ou gastrintestinais.
Há dois dias, após ajudar no transporte de sacos de cimento, apresentou crise intensa, que não
cedeu. Caracteriza como ora em peso, ora pulsátil. Acomete especialmente o lado direito da região
lombar, irradiando para face posterior da coxa até o joelho ipsilaterais, sem parestesia, perda de
sensibilidade ou fraqueza muscular. Não foi trabalhar, pois a dor é intensa (8 na ENV). Melhora um
pouco quando se deita de costas com as pernas ligeiramente elevadas e com 400 mg de ibuprofeno.
Nega perda de peso, febre, náuseas. Eliminações fisiológicas.
• Geral: febre, sudorese, calafrios, astenia, adinamia, icterícia, palidez, fraqueza, fadiga,
anorexia, perda ou aumento de peso/período, peso usual e atual;
• Aparelho Ocular: dor ocular, fotofobia, diplopia, xeroftalmia, sensação de corpo estranho,
lacrimejamento, nistagmo, escotomas entre outros;
• Aparelho Auditivo:, trauma, lesões da pele, otalgia, otorreia, otorragia, zumbido, acúfenos,
hipoacusia;
• Nariz e Cavidades Paranasais: alterações da olfação, rinorreia, obstrução nasal, crises
esternutatórias e epistaxe;
• Cavidade Bucal e Anexos: lesões de mucosa oral, halitose, disfagia, disfonia, odinofagia,
xerostomia, rouquidão, diseugias, sialose;
Pergunte-se como está o seu humor e a sua atenção antes de começar. Não deixe que
preocupações pessoais interfiram na sua postura durante a entrevista.
Seja cordial
Mantenha a confidencialidade
Deixe o paciente decidir se os visitantes ou os familiares devem permanecer durante a
conversa. Por exemplo: “Eu me sinto à vontade se a sua acompanhante permanecer conosco
durante a entrevista, mas quero ter certeza de que a senhora concorda com isso” ou “A senhora
prefere conversar comigo sozinha ou seu acompanhante pode participar?”.
Guie a entrevista
Comece com perguntas mais amplas, como: “Como posso ajudá-lo hoje?”; “O que motivou sua
vinda hoje?”.
Evite perguntas tendenciosas, como: “Você veio hoje por causa do diabetes, não foi?”.
Faça várias perguntas, mas uma por vez, e ofereça respostas com múltiplas escolhas: “Qual das
seguintes opções melhor descreve sua dor: em pressão, em queimação, em pontada ou de outro
tipo?”.
Delimite claramente as demandas do paciente. “Se entendi bem, hoje você vem para o controle
do diabetes e por causa da coluna... Vamos começar pelo diabetes.”.
Negocie o conteúdo da consulta. Frases que podem ser úteis: “Não temos como abordar tudo
isso hoje, é melhor que esse outro assunto seja visto com mais tempo em outra ocasião.”.
Escute o paciente
Evite interrupções frequentes na fala do paciente, e, quando o fizer, que seja com o intuito de
direcionar o fluxo do relato;
Utilize habilidades verbais e não verbais para encorajá-lo a continuar falando, como inclinar o
corpo para frente, fazer contato visual e usar frases como “continue” ou “estou ouvindo”.
Utilize respostas como “Isso parece tão perturbador” ou “Você deve estar sentindo-se muito
triste”, “Percebo que você está sofrendo”, “Entendo como se sente”;
Mantenha uma distância emocional com o paciente, uma vez que essa distância é terapêutica
(permite pensar e decidir de maneira mais analítica e moderada);
Tenha paciência: conscientize-se de que um idoso, por vezes, demora mais tempo para se
locomover e expressar alguns fatos.
Se o paciente não mencionar o impacto da doença, faça uma sondagem pessoal mais ampla do
tipo: “Como a doença afetou você?” ou “Como você reagiu a ela?”;
Investigue as emoções do paciente, direta ou indiretamente, perguntando-lhe: “Como você se
sentiu a respeito disso?” ou “Muitas pessoas se sentiriam frustradas se algo assim acontecesse”.
História sexual: “Quando foi a última vez que você teve contato físico íntimo com outra
pessoa?”, “Esse contato incluiu relação sexual?”, “Você tem relações sexuais com homens,
mulheres ou ambos?”, “Você usa preservativos?”.
História da saúde mental: “Você já teve alguma doença mental ou problemas emocionais?”,
“Você já se consultou com um psicólogo ou com um psiquiatra?”, “Já foi medicado por causa
de problemas emocionais?”, “Você ou algum parente já foi internado em razão de problemas
mentais ou emocionais?”;
Uso de drogas lícitas e ilícitas: “Você já usou durante sua vida: maconha, cocaína, estimulantes
prescritos por médico, metanfetaminas, sedativos, calmantes?”.
Violência doméstica: “Uma vez que os maus-tratos são uma ocorrência habitual na vida de
muitas mulheres, farei algumas perguntas de rotina”, “Você está em um relacionamento no qual
já foi agredida ou ameaçada?”.
É importante informar ao paciente que o tempo da consulta está finalizando para que ele possa
elucidar quaisquer dúvidas remanescentes. “Você tem alguma dúvida sobre os assuntos
conversados?”, “Gostaria de pergunta algo mais?”, “Há algo que não conversamos e o senhor
gostaria de contar?”;
Faça um resumo do relato do paciente. Isso comunica ao paciente que você está ouvindo
atentamente a história dele e identifica o que você sabe e o que você não sabe.
Deixe o paciente perceber que a decisão e a responsabilidade são compartilhadas entre ele e o
profissional. Diga frases como “É importante que me diga o que pensa sobre isso”, “O senhor
tem mais alguma sugestão?”, “O senhor está disposto a cumprir as orientações?”, “Estou
realmente interessado em seu ponto de vista, especialmente porque é você quem vai ter que
viver com a nossa decisão sobre esse tratamento”, “O senhor vê alguma dificuldade em seguir
esse tratamento? Há algo que possamos fazer para que esse plano de tratamento seja mais fácil
de seguir? Gostaria de conversar com alguma outra pessoa sobre esse tratamento?”.
Compartilhe a decisão
Faça a recomendação explícita de realização de testes preventivos e vacinação;
Promova conscientização sobre comportamentos de risco, como tabagismo, etilismo,
sedentarismo, prática sexual desprotegida. “Todos, às vezes, fazemos coisas que não são boas
para nós mesmos. Pode ser algo como deixar de colocar o cinto de segurança ou beber mais do
que pensamos ser adequado. Que comportamentos você tem que talvez o coloquem em
situação de risco?”, “O que tem feito ultimamente que, na sua opinião, pode estar contribuindo
para sua saúde ou para sua doença?”;
Pratique entrevistas motivacionais. “O que é mais importante para você?”, “O que você espera
ser diferente em sua vida daqui a alguns anos?”.
• Definir o problema. Algumas vezes será necessário rotular o problema para que a pessoa
entenda a causa, o que esperar em termos de progressão ou evolução e o qual será o
resultado;
• Estabelecer metas de tratamento e/ou manejo. É necessário entender as expectativas e
ideias das pessoas sobre o tratamento; é importante também explicar claramente todas as
opções, com suas múltiplas vantagens e desvantagens;
• Identificar os papéis a serem assumidos por ambos. O nível de participação da pessoa
pode flutuar dependendo da sua capacidade emocional e física. Alguns podem estar
doentes demais ou muito sobrecarregados pelo fardo de sua experiência de doença; outros
podem achar que tomar decisões sobre o tratamento é muito complexo e confuso, por isso,
deixam a tarefa para o médico. O importante é sempre deixar claro que existe uma
responsabilidade mútua.
• Encontrar um consenso. É imprescindível obter consenso sobre o manejo terapêutico, de
forma que ele reflita necessidades, valores e preferências individuais, bem como
evidências científicas e diretrizes.
• Aparência
a. Consciência
1. Atenção
2. Orientação
3. Pensamento
4. Linguagem
5. Memória
6. Sensopercepção
7. Afetividade
5. Volição (Vontade)
6. Psicomotricidade
2. ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA
De uma forma geral, pacientes psiquiátricos não oferecem risco e não precisam ser temidos, sendo
necessário apenas alguns cuidados por parte do médico e da equipe para que não haja situações de perigo.
Lamentavelmente, o entendimento errado deste fato no passado levou a situações como de diversos
pacientes serem amarrados, amordaçados, presos e destratados. A maioria dos pacientes psiquiátricos não
oferece perigo real à equipe, sendo eles apenas doentes que necessitam de ajuda.
É importante, entretanto, entender que, devido ao estado de desorganização mental e sofrimento que
estes pacientes se encontram, eles podem vir a tomar ações que inflijam dano em outras pessoas ou na
estrutura física do local de atendimento. Abaixo são listados alguns cuidados que devem ser tomados:
• Não tenha medo: Seus pacientes não devem ser temidos, mas entendidos. Isso não quer dizer
que você não precise tomar certos cuidados;
• Não dar as costas: Não permita que pacientes, sobretudo psicóticos, se coloquem fora do seu
campo de visão, pois, sendo imprevisíveis, podem tomar ações indesejáveis;
• Não use adereços: O uso de brincos, colares, pulseiras ou mesmo o estetoscópio pode chamar a
atenção do paciente, fazendo-o querer pegar esses objetos para si;
• Não deixe objetos potencialmente nocivos perto do paciente: Deixar abridores de carta,
canivetes, chaves pontiagudas, tesouras ou outros objetos sobre a mesa ou em estantes perto do
paciente pode ser potencialmente perigoso;
• Tenha uma rota de fuga: O consultório do médico que atenda pacientes psiquiátricos deve
dispor de uma porta adicional, perto do médico e longe do paciente, para que, em caso de
necessidade, o médico possa sair com velocidade e segurança. Na ausência dessa porta
adicional, é aconselhável ao clínico posicionar-se próximo à porta de saída;
• Evite fazer muitas anotações: Anotações pontuais serão importantes, porém o médico que fica
apenas anotando a entrevista em um papel, além de perder contato visual, pode transmitir uma
sensação de descaso ou de insegurança ao paciente;
• Saiba modular suas emoções: Muitos pacientes terão histórias tristes a lhe contar. O médico
deverá ser capaz de ouvi-las sem demonstrar tristeza excessiva. Da mesma forma, o médico
deve ser capaz de se alegrar comedidamente quando o paciente estiver alegre, criando sempre
uma empatia mútua;
• Saiba quando ser firme: Por vezes, será necessário contrariar o paciente, porém o médico deve
ser capaz de saber quando é o momento ideal para fazê-lo, sem quebrar a confiança e a boa
relação médico-paciente, mas também sem perder o controle da entrevista;
• Não minta: Seu paciente não merece ser enganado. Se você diz que virá no dia seguinte, venha.
Se não poderá, diga que não virá. Mentir significa quebrar a relação de confiança que seu
paciente tem com você;
• Confirme a história: Sempre que possível, consiga familiares ou conhecidos do paciente para
confirmar a história. Por vezes, o que parece real é fantasioso e vice-versa;
• Não tenha preconceitos: Os pacientes psiquiátricos já sofreram preconceitos de todas as outras
pessoas e você será uma das últimas capazes de ajudá-lo.
3. FUNÇÕES MENTAIS
3.1. Aparência
Atenção, leitor, esta não é uma função mental, porém deverá estar presente na avaliação e na súmula
psicopatológica, sendo, por este motivo, colocada em primeiro lugar. Ela servirá como a primeira dica de
transtornos mentais para todo e qualquer paciente. A beleza do paciente pouco importará para sua análise,
porém suas vestes, seu estado de higiene, a concordância entre as cores das peças de roupas ou a ausência
delas será de grande ajuda para sua investigação.
A situação e o contexto social em que o paciente se apresenta deve ser levado em consideração. Por
exemplo, um paciente vestido de roupas de banho será considerado “adequado” se visto assim vestido na
praia, porém “inadequado” se visto assim em uma congregação religiosa.
Da mesma forma, deve ser avaliado o contexto étnico e religioso do paciente. Uma pessoa vestida de
robe amarelo, com colar de contas nas mãos, chinelos de madeira e cabeça raspada será considerado
adequado se for um sacerdote budista, mas o mesmo não poderia ser dito se assim fosse encontrada na
praia e que jamais tendo sequer conhecido essa religião.
3.2. Consciência
Esta é, talvez, a principal função mental, pois, sem ela, não é possível avaliar as demais. Não é
possível avaliar a memória de uma pessoa desacordada, por exemplo. Desta forma, é imprescindível que
o paciente esteja desperto, ao menos parcialmente, para que o estudo das demais funções mentais seja
possível. Entretanto, a ausência de consciência também é uma informação importante e que deve orientar
o leitor a pensar em diagnósticos como distúrbio eletrolítico, traumatismos encefálicos, acidentes
vasculares. Via de regra, se há alteração do nível de consciência, a condição que a provocou não é
psiquiátrica.
A função “consciência” é estudada em diversas áreas da medicina, sobretudo na neurologia. Neste
livro, será estudada nos capítulos de exame neurológico.
3.3. Atenção
A função atenção é didaticamente dividida em outras duas, mas que devem ser levadas em
consideração conjuntamente. São elas:
Tenacidade e vigilância devem ser entendidos como dois lados de uma balança. Aquele que tem toda
sua atenção focada em um só objeto (tenacidade) terá sua atenção difusa prejudicada (vigilância) ou vice-
versa.
Imagine que o leitor viaja de ônibus enquanto conversa com uma pessoa atraente. O leitor irá notar a
cor do cabelo, o olhar, o sorriso, pode até mesmo notar dimensões corpóreas, mas deixará passar a
informação de quantas pessoas se movem ao seu redor, do tempo que passa durante a conversa, das
cidades que passaram. Isso acontece porque toda a atenção estava voltada para a pessoa atraente
(tenacidade), deixando a sua vigilância diminuída, por consequência.
Agora imagine que o motorista do ônibus esteja dirigindo, porém sua atenção é difusa. Ele precisa
prestar atenção na estrada para não cair em buracos, em animais na pista, no volante, na marcha, nos
pedais, na rádio e, por vezes, em outros carros tentando ultrapassá-lo. Por fim, o leitor tenta conversar
com ele pedindo que melhore a temperatura do ônibus, e ele o faz, mas se fosse perguntada uma conta
relativamente simples, tal como 39 x 3, o motorista poderia não ser capaz de responder ou demorar muito
mais do que seria necessário se ele não estivesse dirigindo. Nesta situação, o motorista está tendo sua
atenção dividida em várias atividades ao mesmo tempo (vigilância), tendo, portanto, enorme dificuldade
de realizar uma ação que necessite de mais atenção, como uma conta matemática (tenacidade).
3.4. Orientação
É a capacidade de se situar quanto ao ambiente e quanto a si. Esta função também é subdividida em
duas outras:
Um paciente que tenha perdido a memória pode ser confundido com um paciente com déficit na
função orientação. O leitor deve estar atendo a vários sinais para tentar diferenciar uma função de outra.
Por este motivo, já foi dito no início deste capítulo que as funções devem ser estudadas separadamente,
mas entendidas em conjunto.
3.5. Pensamento
O pensamento é uma função um pouco mais complexa de se estudar. Além da dificuldade de análise
da própria função, ela será avaliada por uma outra, a linguagem. Avaliar o pensamento de uma pessoa
incapaz de falar será bem mais difícil, ainda que não impossível.
O pensamento pode ser entendido como o processo lógico que leva o indivíduo a realizar associações.
Um recém-nascido tem capacidade de pensamento reduzido, por isso, consegue ver, ouvir e sentir, sem
entender. Com o passar do tempo, ele começa a associar que aquela imagem que lhe sorri, o amamenta e
o acaricia é um ser bom, que lhe provê suas necessidades básicas. Este processo em que fatos passam a
ser conectados e entendidos como um conceito novo (“esta pessoa cuida de mim”) é o pensamento.
O pensamento pode ser dividido em:
• Conteúdo: Aquilo de que o pensamento fala. As alterações de conteúdo podem ser bem notórias
e importantes para a elucidação do diagnóstico. Por vezes, será necessária confirmação com
fontes externas para saber distinguir informações reais de fantasiosas, mas que soam
verdadeiras.
3.7. Linguagem
É importante lembrar que linguagem é tudo aquilo que produz comunicação com outrem. Nos seres
humanos, a linguagem é primordialmente verbal, mas o leitor não deve se enganar e acreditar que
somente é linguagem a língua falada, pois, se assim o fosse, animais de estimação, incapazes de entender
nossos idiomas, não seriam capazes de entender quando o dono está feliz ou insatisfeito com ele.
Existem alterações de linguagem predominantemente neurológicas, como as afasias de Broca ou de
Wernicke, conhecidas por todo estudante de medicina. Existirão, entretanto, outras menos neurológicas e
mais psiquiátricas, como a repetição compulsória de fonemas e a criação de linguagens próprias,
entendidas somente pelo paciente.
3.8. Memória
É uma função conhecida por todos os animais, sendo a capacidade de lembrar de fatos passados.
Tradicionalmente, a memória é subdividida em imediata, recente e remota, tratando de segundos, horas e
anos, respectivamente.
Especialmente em pacientes demenciados, esta função é necessária para a diferenciação do transtorno
investigado. Pacientes com Alzheimer costumam ter primordialmente sua memória imediata prejudicada,
esquecendo para que foram na geladeira ou onde deixaram a chave, posteriormente perdendo a memória
recente e, por fim, a remota, quando já não conseguem mais reconhecer ninguém e nem a si mesmos.
3.9. Sensopercepção
É a função referente à percepção dos sentidos pelo paciente. Aqui todos os sentidos poderiam ser
avaliados, ainda que normalmente seja dado destaque aos sentidos alterados, especialmente audição e
visão. Indivíduos que escutam vozes que outros não escutam, que sentem insetos caminharem sobre a
pele, que sentem cheiros que não se encontram no lugar, que veem pessoas que já morreram, são
indivíduos com alterações nesta função.
3.10. Afetividade
Trata-se de da função referente aos sentimentos, tanto como o paciente está se sentindo como o
quanto o paciente consegue emitir de seu sentimento.
Em pacientes esquizofrênicos crônicos, com frequência se nota uma ausência de sentimento emitido
pelo paciente, a que se dá o nome de embotamento afetivo, sendo impossível saber, pela observação, se o
paciente se encontra feliz, triste, com raiva ou outro.
Entretanto, alterações menos drásticas também podem ser notadas, como aquele paciente que possui
uma predominância do sentimento de tristeza, como os depressivos, ou euforia, como os maníacos. Isto
não quer dizer que, se contada uma piada particularmente engraçada, um paciente depressivo não possa
rir ou um paciente maníaco não possa chorar, dependendo da situação. A esta predominância afetiva
chamamos de humor, enquanto à variação, pela expressividade momentânea, chamamos de modulação.
Alguns pacientes chamarão atenção por terem uma modulação muito grande (hipermodulados) ou muito
pequena (hipomodulados).
3.12. Psicomotricidade
Trata-se da função responsável pelo movimento. Aqui, muito já se sabe pela própria neurologia,
especialmente nas alterações de marcha e tremores. Entretanto, a psicomotricidade abrange além daquelas
alterações neurológicas, havendo também alterações de movimento puramente psicológicas, tal como
conversões, ou metabólicas, como intoxicação por antipsicóticos, causando efeitos extrapiramidais.
Existem outras informações que podem ser levadas em consideração como dados. Em uma
especialidade em que não existem exames diagnósticos que não a anamnese, qualquer informação
adicional pode ser útil.
Dentre essas informações adicionais, pode ser considerado o nível educacional do paciente, sua
atitude perante a família, os outros pacientes e o médico, o comportamento durante atividades recreativas,
a capacidade de autocuidado durante a internação, entre outras.
4. SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
Agora que são conhecidas as funções mentais, trataremos de definir como abordá-las na semiologia
mental. Quando escrevendo a história de um paciente na psiquiatria, além de todos os tópicos já escritos
em todas as demais especialidades (queixa principal, história da doença atual, história patológica
pregressa etc.), existem duas outras particulares na psiquiatria e que abordarão as mesmas funções já
descritas, porém de formas distintas. São elas:
• Exame psíquico ou mental: Este é o tópico no qual se descreve a entrevista do médico com o
paciente focando a descrição das funções mentais. Idealmente, este tópico deve ser algo
extenso, com descrições detalhadas e simples, sem o uso de linguagem técnica. Neste tópico, o
médico deve optar em descrever minuciosamente tudo que foi percebido durante a entrevista;
• Súmula psicopatológica: Neste tópico, devem ser resumidas as alterações mentais identificadas
anteriormente no exame psíquico, porém desta vez com linguagem técnica, de forma objetiva e
sucinta. É importante que o leitor seja capaz de realizar o exame psíquico e a súmula
psicopatológica com competência, de forma organizada e regrada. Juntos, eles devem ser
capazes de descrever as alterações mentais do paciente, possibilitando elucidação diagnóstica.
especialmente para casos já diagnosticados, avaliando sua evolução. Utilizada também como
comparação com escalas mais novas;
• Montgomery Åsberg Depression Rating (MADRS): Avalia síndrome depressiva, sendo mais
7
utilizada em ensaios com medicações antidepressivas, sendo, neste tocante, superior à HAM-D;
• Beck Depression Inventory (BDI): Escala de autoavaliação para depressão. Quando utilizados
8
• Center for Epidemiological Studies of Depression Scale (CES-D): Avalia depressão e apresenta
9
boa correlação com a HAM-D, variando entre 0,60 e 0,66. Também apresenta um bom nível
para rastreamento de transtorno depressivo em pacientes reabilitados, com boa sensibilidade
(variação de 89 a 96%);
• Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI): Teste rápido (15-30 minutos) que
explora prioritariamente episódios atuais. Comparativamente ao CIDI, apresenta concordância
superior a 0,5 em diagnósticos, exceto um deles. Apresenta ainda sensibilidade de 0,70 e
especificidade de 0,7 para a maioria dos diagnósticos;
• MINI Plus: 12
Versão estendida e mais detalhada do MINI; apresenta sensibilidade > a 0,64 e
especificidade > 0,71 para a maioria dos diagnósticos, quando comparado ao CIDI.
PRIMEIRA PARTE
Paciente de 25 anos, sexo masculino, trazido por familiares após briga em bar. Família relata que há 1
semana o paciente tem se comportado de forma estranha, estando acordado a noite inteira rindo e
gritando, dizendo que é o mais poderoso de todos. Referem, ademais, que desde então tem se envolvido
em várias brigas pela vizinhança, além de ter aparecido com uma moto nova, apesar das dificuldades
financeiras da família. Outros familiares declaram que o paciente era um excelente filho e muito
trabalhador há poucos dias e estão perplexos com o comportamento do rapaz nos últimos tempos. Negam
a possibilidade do uso de drogas, dizendo que o rapaz sempre teve Deus no coração e não faria isso.
Chega com as roupas rasgadas na confusão, porém aparentemente de boa qualidade. O paciente
afirma que o dono do bar havia falado mal em suas costas, mas ele, o paciente, que seria capaz de ouvir
através das paredes, escutou e quis tirar satisfações. Relata, ademais, não o ter matado apenas porque não
queria sujar suas mãos de sangue humano, o que mancharia sua pele divina, terminando com uma
gargalhada. Sua fala encontra-se um pouco acelerada, mas sem contradições no momento.
Discussão
Um examinador com alguma experiência no caso acima não teria dificuldade em estabelecer uma
hipótese diagnóstica inicial devido a alguns elementos-chave citados. É, entretanto, de maior importância,
no momento. que o leitor seja capaz de analisar algumas das funções mentais acima descritas.
Veja como ficaria a súmula psicopatológica do caso acima:
Aparência: Vestes novas, rasgadas. Paciente higienizado.
Consciência: Alerta
Atenção: Não foi possível testar
Orientação: Não foi possível testar
Pensamento:
SEGUNDA PARTE
Durante a entrevista, é solicitado ao paciente que repita 3 palavras (“carro, azul e girafa”), fazendo-o
adequadamente. Digo-lhe então que posteriormente irei perguntar-lhe novamente estas 3 palavras para
que as repita. Em seguida, solicito que o paciente diga seu nome completo, o que o faz rapidamente e sem
erros. Entretanto, logo em seguida, pergunto-lhe o dia, o mês e o ano em que estamos. O paciente
responde com igual agilidade, informando ser sexta-feira, 13 de maio de 1927. Refere então ser
marinheiro das grandes navegações, sendo muito rico, pois vende Pau-Brasil para padres catequizadores.
Pergunto-lhe então se ele se lembra quais as 3 palavras que pedi que memorizasse, mas neste momento
somos interrompidos pelo pai do paciente, perguntando se poderia se sentar ao lado do filho. Neste
momento, o paciente encontra-se mexendo no celular, tendo esquecido completamente a pergunta que lhe
fiz anteriormente. Solicito novamente que me diga as palavras, mas o paciente só é capaz de responder
corretamente “carro”, errando as outras duas. Faço-lhe outra pergunta, porém o paciente começa a tentar
matar uma mosca que se aproxima de sua perna, ignorando completamente a pergunta que lhe fiz. Por
fim, o paciente se joga no chão com as mãos nos ouvidos, como se escutando tiros, e lá permanece por
alguns segundos, por fim me olhando assustado e pedindo para ir ao banheiro. Concedo-lhe permissão e o
paciente ruma para o quarto, já tendo esquecido o desejo de ir ao banheiro.
Atenção:
• Imediata: Preservada
• Recente: Prejudicada
• Remota: Não avaliada
Sensopercepção: Alucinação auditiva
Discussão
Na descrição acima, é possível definir as alterações das funções antes não testadas. Note que o
paciente sabe referir seu nome, tendo em algum grau a orientação autopsíquica preservada, entretanto
acreditando ter um trabalho completamente diferente do seu trabalho real. Além disso, o paciente
encontra-se completamente perdido no tempo e espaço, acreditando estar no ano errado e não sendo
capaz de notar que as grandes navegações aconteceram em uma época ainda anterior à que o paciente diz
estar. A memória do paciente é testada de forma objetiva, ao se pedir que repita as 3 palavras e depois que
se lembre delas após alguns minutos e as diga novamente. O paciente é capaz de repetir as palavras
imediatamente, apresentando memória imediata preservada, porém logo após alguns minutos já as
esqueceu, denotando um déficit em sua memória recente. A atenção do paciente é testada e analisada de
forma subjetiva, levando-se em consideração a pobre capacidade do paciente em responder as perguntas e
de se lembrar que se encontra em uma entrevista com um médico.
Nota-se, entretanto, que o paciente se encontra atento a seu meio, tendo, dessa forma, uma vigilância
aumentada, ainda que fosse possível classificar como “não alterada”. Por fim, uma nova informação
sobre a sensopercepção do paciente nos permite reclassificar esta função de “sem vivências alucinatórias”
para “alucinação auditiva”, devido ao sinal de que o paciente naquele momento escutou algum barulho
que o deixou amedrontado. Como dito anteriormente, de acordo com os dados coletados, o examinador
pode redefinir as alterações encontradas nas funções mentais.
Sintoma-guia: Crença em superioridade (megalomania)
Diagnóstico sindrômico: Síndrome Psicótica
Diagnósticos diferenciais: Síndrome Psicótica por uso de substâncias
Hipótese diagnóstica: Transtorno Bipolar – episódio maníaco
REFERÊNCIAS
1. DALGALARRONDO P. PSICOPATOLOGIA E SEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS. 3. ED. PORTO ALEGRE:
ARTMED; 2019.
2. Barlow DH, Durand VM. Psicopatologia – Uma Abordagem Integrada. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning; 2015.
3. Cheniaux E Jr. Manual de Psicopatologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
4. Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Compêndio de Psiquiatria – Kaplan & Sadock. 11. ed. Porto Alegre: Artmed; 2017.
5. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
6. Gallucci Neto J, Campos Júnior MS, Hübner CK. Escala de Depressão de Hamilton (HAM-D): revisão dos 40 anos de sua
utilização. Rev Fac Ciênc Méd. 2001; 3(1): 10-4.
7. Moreno RA, Moreno DH. Escalas de avaliação clínica em psiquiatria e psicofarmacologia: escalas de avaliação para depressão
de Hamilton (HAM-D) e Montgomery-Asberg (MADRS). Rev Psiquiatr Clin. 1998; 25(5): 1-17.
8. Lasa L, Ayuso-Mateos JL, Vazquez-Barquero JL, DiezManrique FJ, Dowrick CF. The use of the Beck Depression Inventory to
screen for depression in the general population: A preliminary analysis. J Affect Disord. 2000; 57(1): 261-5.
9. Marcolino JAM, Mathias LAST, Piccinini Filho L, Guaratini AA, Suzuki FM, Alli LAC. Escala Hospitalar de Ansiedade e
Depressão. Rev Bras Anestesiol. 2007; 57(1): 52-62.
10. Bjelland I, Dahl AA, Haug TT, Neckelmann D. The validity of the Hospital Anxiety and Depression Scale An updated literature
review. J Psychosom Res. 2002; 52(2): 69 – 77.
11. World Health Organisation [WHO]. The Composite International Diagnostic Interview (CIDI). Authorized Core Version 1.0.
Geneva: WHO; 1990.
12. Amorim P. Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI): validação de entrevista breve para diagnóstico de transtornos
mentais. Rev Bras Psiquiatr. 2000; 22(3): 106-15.
1. MAPA MENTAL DOS PRINCIPAIS
SINAIS E SINTOMAS
2. INTRODUÇÃO
Também chamada de Exame Físico Geral ou Somatoscopia, a Ectoscopia
costuma ser a primeira etapa do exame físico. Nela são obtidos dados gerais,
independentemente dos vários sistemas orgânicos ou segmentos corporais,
obtendo-se, com isso, uma visão global do paciente. Compreende as
seguintes etapas: estado geral, nível de consciência, fala e linguagem, estado
de hidratação, estado de nutrição, grau de palidez, presença de icterícia,
presença de cianose, medidas antropométricas, fácies, biotipo, pele e
fâneros, musculatura, movimentos involuntários, postura e atitude, e marcha.
3. SEMIOTÉCNICA
O paciente deve ser examinado em ortostase e na posição sentada, bem
como caminhando. Para melhor conforto do paciente e melhor
sistematização do exame físico geral, deve-se examiná-lo primeiramente
sentado na beira do leito ou na mesa de exame, ou ainda deitado, caso essa
posição seja mais confortável para ele. Em um segundo momento, pede-se
para o paciente ficar de pé ou andando, conforme a necessidade.1
ESTADO DE VIGÍLIA
ESTADOS DE SONOLÊNCIA
ESTADO DE OBNUBILAÇÃO
ESTADO DE ESTUPOR
ESTADO DE COMA
• Pele;
• Esclerótica;
• Freio da língua.
O paciente é classificado em anictérico ou ictérico. Se ictérico, deve ser
graduado subjetivamente em cruzes variando de 1 (+) a 4 (++++).6
• Lábios;
• Região perioral;
• Leito ungueal;
• Pavilhões auriculares;
• Eminências malares.
O paciente é classificado em acianótico ou cianótico. Se cianótico, deve
ser graduado subjetivamente em cruzes variando de 1 (+) a 4 (++++).1
a) Altura
A altura total ou medida planta-vértice é mais comumente utilizada. Sua
verificação é importante para o controle do crescimento e avaliação do grau
de nutrição. Em pacientes adultos não acamados, sua medida é feita com o
paciente ereto, sem calçados e pés justapostos.3
b) Peso
A verificação do peso é de grande importância para se avaliar a perda ou
ganho ponderal e o estado nutricional. A melhor maneira de se medir o peso
é através da balança antropométrica, pois esta possui maior precisão. Para
obter valores mais fidedignos, idealmente, o paciente deve estar despido.5
Como utilizar a balança antropométrica?1,5
• Subir na plataforma da balança e ficar parado;
• Levantar o “grande peso” suavemente sobre a barra e movê-lo
lentamente para a direita, observando a seta na extremidade direita da
trave de equilíbrio, parando de mover o peso quando a seta estiver
nivelada;
Exemplo:
Sexo masculino, 1,70m. Peso ideal = 70 kg
Sexo feminino, 1,70m. Peso ideal = 70 – 5% = 66,5kg
Exemplo:
Sexo masculino, normolíneo, peso ideal 70kg. Peso máximo normal = 70
+ 5% = 73,5kg. Peso mínimo normal = 70 – 5% = 66,5kg.
c) Índice de Massa Corporal (IMC)
Através dos valores de peso e altura de uma pessoa, pode-se fazer o
cálculo do IMC. Esta fórmula procura relacionar o comprimento (altura)
com o peso do corpo. Assim, conforme o resultado do IMC, pode-se
classificar se a pessoa está com o peso reduzido, adequado, com sobrepeso
ou obesidade.8
O IMC, porém, apesar de ter uma acurácia razoável na determinação da
presença ou do grau de obesidade frente a inquéritos populacionais,
apresenta alguns problemas quando utilizado individualmente. O IMC não é
capaz de distinguir gordura central de gordura periférica nem massa gorda
(tecido gorduroso) de massa magra (músculos, ossos e órgãos), podendo
superestimar o grau de obesidade em indivíduos musculosos ou
edemaciados.5,10
IMC INTERPRETAÇÃO
25 – 29,9 SOBREPESO
≥ 94 CM (H)
AUMENTADO
≥ 80 CM (M)
CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL
≥ 102 CM (H)
SUBSTANCIALMENTE AUMENTADO
≥ 88 CM (M)
e) Biotipo
O biotipo, também denominado tipo morfológico, é o conjunto de
características morfológicas apresentadas pelo indivíduo. Não confunda
biotipo com altura! Embora haja certa relação entre altura e o tipo
constitucional, são conceitos diferentes.1
A principal utilidade da determinação do biotipo é a correta interpretação
das variações anatômicas que acompanham cada tipo morfológico.5
Tabela 3. Tipos morfológicos.
• “SANCHO
PANÇA”
• “DOM QUIXOTE”
• PESCOÇO CURTO
E GROSSO • TÓRAX AFILADO
E CHATO
• TÓRAX
ALARGADO E • MEMBROS
VOLUMOSO ALONGADOS COM
FRANCO
• MEMBROS PREDOMÍNIO
CURTOS EM • EQUILÍBRIO ENTRE OS MEMBROS E O SOBRE O TRONCO
RELAÇÃO AO TRONCO
TRONCO • ÂNGULO DE
• ÂNGULO DE CHARPY EM TORNO DE 90° CHARPY< 90°
• ÂNGULO DE
CHARPY> 90° • MUSCULATURA
DELGADA E
• MUSCULATURA PANÍCULO
DESENVOLVIDA E ADIPOSO POUCO
PANÍCULO DESENVOLVIDO
ADIPOSO ESPESSO
• TENDÊNCIA PARA
• TENDÊNCIA BAIXA ESTATURA
PARA BAIXA
ESTATURA
4. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
Fonte: Autor.
PALIDEZ EM
22-77 66-92 3,8 0,5
QUALQUER LOCAL
PALIDEZ NO LEITO
59-60 66-93 SS* 0,5
UNGUEAL
PALIDEZ DA PREGA
8 99 7,9 SS*
PALMAR
PALIDEZ
31-62 82-97 4,7 0,6
CONJUNTIVA
PALIDEZ DA
48 87 3,7 0,6
LÍNGUA
* SS: Sem significância
Fonte: Modificado de McGee, Steven R.14
MUCOSAS DO NARIZ E
49-85 58-88 3,1 0,4
BOCA SECAS
SULCOS
LONGITUDINAIS NA 85 58 SS* 0,3
LÍNGUA
TURGOR DA PELE
ANORMAL 73 79 3,5 0,3
(SUBCLAVICULAR)
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: regular estado geral, hipocorada (1/4+),
desidratada (3+/4+), anictérica, acianótica, afebril, eutrófica, eupneica,
letárgica, pouco reativa. Peso atual 9,6kg. Último peso anotado na caderneta
10kg.
Sinais vitais: FC: 165 bpm, FR: 32 irpm, Tax: 37,5°C, PA:85x65 em
decúbito, no MSD.
Exame da cabeça e do pescoço: crânio normocefálico, ausência de cicatrizes
e abaulamento no couro cabeludo. Fontanela retraída. Choro sem lágrimas.
Mucosas ressecadas. Ausência de linfadenomegalias cervical e periauricular.
Exame neurológico: letárgica, sonolenta. Sem outras alterações relevantes.
Sistema respiratório: tórax atípico, eupneica, boa expansibilidade e frêmito
toracovocal normal, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular
presente e universal, sem ruídos adventícios.
Sistema cardiovascular:precórdio normodinâmico, ausência de turgência
jugular, ictus palpável no quinto espaço intercostal na linha hemiclavicular
esquerda, ritmo cardíaco regular, em dois tempos, bulhas hipofonéticas, sem
sopros.
Exame abdominal: Abdome plano, ruídos hidroaéreos aumentados,
aumentodo irritabilidade à palpação abdominal, flácido, sem massas ou
visceromegalias palpáveis.
Extremidades:pouco perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, filiformes e
simétricos, sem cianose. Tempo de enchimento capilar maior que 3
segundos. Sinal da prega presente.
Articulações e sistema osteomuscular: Sem alterações.
Exames complementares
Não realizou exames complementares.
Pontos de discussão
1. QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
2. QUAL É O DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO?
3. QUAL É O DIAGNÓSTICO ANATÔMICO/TOPOGRÁFICO?
4. QUAL É A PRINCIPAL HIPÓTESE DE DIAGNÓSTICO
ETIOLÓGICO?
5. QUAIS SÃO OS ACHADOS DO EXAME FÍSICO QUE
CORROBORAM A HIPÓTESE?
6. QUAIS SÃO OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS?
Discussão do caso
A ectoscopia é um importante preditor da gravidade do caso. Nesse ponto
da anamnese, podemos destacar o estado geral do paciente, avaliar sinais de
desidratação, icterícia, dispneia, consciência e palidez por uma simples
primeira análise do paciente em questão.
No caso, podemos destacar o principal sintoma como a diarreia, sendo
este o nosso sintoma-guia, e a partir dele podemos dar continuidade à nossa
investigação. Devemos destacar que as características desses sintomas
podem nos conduzir a uma causa mais provável da sua etiologia. As
diarreias podem ser classificadas em agudas, quando com menos de duas
semanas, persistente, de duas a quatro semanas, e crônicas, quando
continuam por mais de 4 semanas. Alguns sinais e sintomas falam a favor de
causas mais complicadas, como sangramento e muco nas fezes, relacionados
com infecções bacterianas, parasitoses (normalmente amebíase), doenças
inflamatórias etc.5,9,11
Na síndrome diarreica, podemos encontrar alguns sinais e sintomas
associados como náuseas, vômitos, dor abdominal e febre. Devemos ficar
atentos aos sinais de complicações dessa síndrome, sendo a desidratação a
mais importante nas diarreias agudas, principalmente quando associada a
vômitos. Outra complicação é o distúrbio eletrolítico e que também deve ser
identificado nos casos mais importantes de perda de volume.12,13
No caso clínico, temos um lactente de 1 ano e 6 meses com uma provável
gastrenterocolite aguda complicada por desidratação grave, visualizada
através da anamnese e exame físico, apresentando mucosas secas, pouca ou
ausência de lágrimas, sinal da prega positiva, tempo de enchimento capilar
elevado, perda de peso, provável oligúria e letargia. A esses pacientes,
devemos ficar sempre atentos, pois o risco de evoluir com desfecho fatal é
alto.12
O tratamento é voltado para os sintomas. A hidratação vigorosa precoce é
a principal ação para recuperação do paciente. O Ministério da Saúde
classifica a desidratação em três grupos distintos que variam de acordo com
o nível de desidratação, e o tratamento é voltado para esta classificação. No
caso em questão, a paciente é classificada em estado grave, com necessidade
de internação hospitalar, hidratação venosa vigorosa e acompanhamento.9,11
Sintoma-guia: Diarreia aguda.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome diarreica.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Trato gastrointestinal.
Hipótese diagnóstica: Desidratação por gastroenterite viral.
Diagnósticos diferenciais:
REFERÊNCIAS
a. PORTO CC. SEMIOLOGIA MÉDICA. 8. ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN;
2019.
2. Bickley LS. Bates: propedêutica médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2018.
3. Rezende JM. et al. Guia para o Exame Clínico. 6. ed. rev. e ampl. Goiânia: Ed. da UFG, Vieira;
2004.
4. World Health Organization. Obesity: Preventing and managing the global epidemic. Geneva;
1997.
5. Benseñor IM. Semiologia Clínica. 1. ed. São Paulo: SARVIER; 2002.
6. Porto CC, Porto AL. Clínica Médica na Prática Diária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2006.
7. Kamimura MA, Baxman A, Sampaio LR, Cuppari L. Avaliação nutricional. In: Cuppari L. Guia
de nutrição: nutrição clínica no adulto. 2. ed. São Paulo: Manole; 2006.
8. Detsky AS, McLaughlin JR, Baker JP, Johnston N, Whittaker S, Mendelson RA, et al. What is
subjective global assessment of nutritional status? JPEN. J Parenter Enteral Nutr.1987; 11(1): 8-
13.
9. Manejo do paciente com diarreia. Ministério da Saúde do Brasil. [Internet]. [acesso em 15 de
agosto de 2019].
10. UNICEF/WHO. Diarrhoea. Why children are still dying and what can be done? Geneva:
UNICEF/WHO; 2009.
11. Sociedade Brasileira de Pediatria. Diarreia aguda: diagnóstico e tratamento. Guia prático de
atualização. 2017; 1(1): 1-15.
12. Sociedade Brasileira de Pediatria. Tratado de pediatria. 4. ed. Barueri, SP: Manole; 2017.
13. WHO – World Health Organization. The Treatment of Diarrhoea – A Manual for Physicians
and Other Senior Health Workers (WHO/CAH/03.7). Geneva: World Health Organization;
2005.
14. McGee, Steven R. Evidence-based physical diagnosis. 4. ed. Philadelphia: Elsevier; 2018.
1. MAPA MENTAL DOS PRINCIPAIS
SINAIS E SINTOMAS
2. INTRODUÇÃO
A avaliação dos sinais vitais é uma etapa de fundamental importância no
exame físico de qualquer paciente. Eles são indicadores das condições de
saúde de uma pessoa, sendo sua mensuração um meio eficiente e rápido de
avaliar essas condições ou identificar a presença de problemas. A avaliação
possui uma semiotécnica simples e possibilita sua realização de maneira
rápida e eficaz. Avaliar os sinais vitais consiste em mensurar: pressão
arterial, frequência respiratória, frequência cardíaca, pulso arterial e
temperatura.
3. SEMIOTÉCNICA
• Pode-se avaliar o paciente em ortostase ou decúbito dorsal, conforme
seja mais cômodo para ele;
Fonte: Autor.
NORMAL ≤ 120 ≤ 80
QUANDO A PAS E A PAD SITUAM-SE EM CATEGORIAS DIFERENTES, A MAIOR DEVE SER UTILIZADA
PARA A CLASSIFICAÇÃO DA PA
Fonte: Malaquias.6
Fonte: Autor.
60-100B.P.M NORMAL
a) Pulsos Carotídeos1
• Localização: na altura da cartilagem tireóidea, abaixo e profundo do
músculo esternocleidomastoide;
•
NUNCA se deve palpar as duas artérias simultaneamente.
Fonte: Autor.
b) Pulsos Femorais12
• Localização: região inguinocrural, abaixo do ligamento inguinal, na
sua porção média (triângulo de Scarpa);
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
3.5. Temperatura
Sabe-se que a temperatura do interior do corpo permanece quase
constante, em uma variação de no máximo 0,6°C, enquanto a temperatura da
parte externa do corpo (que é a mensurada na prática clínica), ao contrário,
está sujeita a variações das condições ambientais. Pequenas variações na
temperatura normal são observadas de pessoa para pessoa, e, principalmente,
em diferentes regiões do corpo. As principais regiões do corpo em que se
afere a temperatura são a axila, cavidade oral e cavidade retal. A Tabela 5
mostra os valores de normalidade de cada região.8,11
Para aferir a temperatura, é necessário o uso de um termômetro clínico de
mercúrio, que registra temperaturas entre 35°C e 42°C. Antes de posicionar
o termômetro, é essencial fazer a higiene adequada do equipamento,
evitando umidade no local.8,11
4. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
Fonte: Autor.
Razão de Verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%)
Achado presente Achado ausente
Razão de Verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%)
Achado presente Achado ausente
FC > 90 BPM
MORTALIDADE, SE TRAUMA E 94 38 1,5 0,2
HIPOTENSÃO
FC > 95 BPM
MORTALIDADE, SE CHOQUE 97 53 2,0 0,1
SÉPTICO
FC > 110
MORTALIDADE, SE 70 97 25,4 0,3
HEMORRAGIA PONTINHA
CASO CLÍNICO
História clínica
R. A. M., sexo feminino, 9 anos, procedente e residente em Sobral,
interior do Ceará, parda, estudante, comparece à emergência pediátrica
acompanhada da mãe, que relata que a paciente começou a apresentar febre
não aferida e dor no membro inferior direto (MID) há duas semanas.
A mãe relata que há 30 dias a paciente sofreu atropelamento por
motocicleta, ocasionando fratura proximal do fêmur direito. Foi submetida à
cirurgia ortopédica com fixação de haste no fêmur direito. Realizou
tratamento com antibiótico durante 7 dias (não sabe informar qual). Passou
uma semana sem intercorrências. Duas semanas após a cirurgia, iniciou
quadro de dor e edema no mesmo membro associado a febre não aferida, que
a fez procurar a emergência.Durante a internação, passou a apresentar
desconforto respiratório importante com tiragem intercostal e frequência
respiratória aumentada, com febre persistente de 38°C. A mãe relatava que a
paciente apresentava o quadro por ansiedade, que sempre fica nesse estado
enquanto se encontra internada.
Foi encaminhada para Unidade de Terapia Intensiva, onde evoluiu com
insuficiência respiratória e injúria renal aguda, com necessidade de
intubação orotraqueal e hemodiálise de urgência. No dia seguinte,
apresentou hemartrose no joelho direito. No quarto dia de internação, foi a
óbito por parada cardiorrespiratória.
Medicações em uso: Dipirona, quando tem febre.
Antecedentes pessoais: Acidente automobilístico há 30 dias.
Hábitos: Sedentária.
Antecedentes familiares: Nega antecedentes importantes.
Exames complementares
Hemograma completo: Hb 11,2 Ht 34% Leucócitos 22.500 Neutrófilos 59%
Bastões 11% Linfócitos 22% Plaquetas 140.000
Creatinina 1,9 Ureia 82 PCR 12,6 Gasometria arterial (pH 7,3 PO2 55 PCO2
34 BIC 15).
Pontos de discussão
4. QUAL O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
5. Qual o diagnóstico sindrômico?
6. Qual o diagnóstico anatômico/topográfico?
7. Qual a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
5. Quais os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
6. Quais os diagnósticos diferenciais?
Discussão do caso
Os sinais vitais são pontos essenciais para a avaliação do paciente. A
partir deles, podemos constatar evidências clínicas de que o paciente se
encontra em estado de evolução para um desfecho ruim.
No caso clínico, temos uma paciente que realizou uma cirurgia
ortopédica e que seguiu corretamente o tratamento pós-operatório, mas
evoluiu com uma provável infecção de sítio cirúrgico. O primeiro sinal desse
quadro é a febre, que, pela história, seria o sintoma-guia para chegar no
diagnóstico infeccioso, que foi notada precocemente, porém não recebeu a
importância que merecia. Os sinais clínicos mostravam que a paciente
apresentava piora do estado geral, vistos através dos sinais vitais, com
aumento da frequência respiratória e cardíaca. Isso levanta a hipótese de
sepse, já que a paciente apresentava sinais de SRIS (Síndrome da Resposta
Inflamatória Sistêmica), tendo critérios de febre, taquicardia, taquipneia e
leucocitose, associado a um provável foco infeccioso.13,14
A SEPSE É UM CONJUNTO DE MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS
GRAVES EM RESPOSTA A UM QUADRO INFECCIOSO. É UMA
ENTIDADE COM UM PROGNÓSTICO RUIM SE NÃO FOR TRATADA
DE FORMA ADEQUADA, COM EVOLUÇÃO DO QUADRO, SE NÃO
TRATADO, PARA DISFUNÇÕES ORGÂNICAS, ESTAS COM ALTOS
ÍNDICES DE MORTALIDADE, TORNANDO-SE UM PROBLEMA DE
SAÚDE PÚBLICA. OS PROTOCOLOS RECOMENDAM UMA SÉRIE
DE MEDIDAS PARA A REVERSÃO DO QUADRO, SENDO
ANTIBIOTICOTERAPIA PRECOCE E HIDRATAÇÃO VOLÊMICA
VIGOROSA AS MAIS IMPORTANTES PARA A ESTABILIZAÇÃO DO
PACIENTE.4
O processo inicial do quadro traz como diagnóstico anatômico a infecção
do sítio cirúrgico na coxa direita, com posterior evolução para sepse grave e
disfunção de rins, pulmões e fígado (constatados pela injúria renal aguda,
insuficiência respiratória e distúrbios da coagulação).13
Os achados do exame físico que corroboram a hipótese diagnóstica são
sinais flogísticos encontrados na coxa direita (edema, calor, rubor e dor), que
nos remetem a uma infecção, associados à febre e alteração dos sinais vitais.
Os diagnósticos diferenciais para sepse são normalmente aqueles que
evoluem com SRIS, como pancreatite, infarto agudo do miocárdio e
cetoacidose diabética ou sinais de hipovolemia, hipotensão, embolia
pulmonar, etc. A história clínica e exame físico normalmente são suficientes
para afastar os principais diagnósticos diferenciais.13
Sintoma-guia: Febre
Diagnóstico sindrômico: Síndrome febril
Diagnóstico anatômico/topográfico: Membro inferior direito
Hipótese diagnóstica: Sepse por infecção de ferida operatória
Diagnósticos diferenciais:
• Reação transfusional sanguínea
• Hipotensão
• Perda aguda importante de sangue
• Embolia pulmonar
• Pancreatite aguda
• Cetoacidose diabética
Pontos importantes
4. DIANTE DE UMA SÍNDROME FEBRIL COM PRESENÇA DE
SINAIS DE INFECÇÃO, É IMPORTANTE FICAR ATENTO AOS
SINAIS VITAIS DO PACIENTE PARA DIAGNÓSTICO PRECOCE
DE SEPSE.
5. O protocolo sepse deve ser aberto o quanto antes, haja vista a alta
mortalidade em pacientes que não são conduzidos de forma
adequada.
6. As principais condutas que modificam mortalidade nesses casos são a
antibioticoterapia precoce associada a reposição volêmica adequada.
REFERÊNCIAS
4. BICKLEY LS. BATES: PROPEDÊUTICA MÉDICA. 12. ED. RIO DE JANEIRO:
GUANABARA KOOGAN; 2018.
2. Benseñor IM. Semiologia Clínica. 1. ed. São Paulo: Sarvier; 2002.
3. Bickley LS. Bates: Propedêutica Médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
4. Instituto latino americano de sepse. Campanha de Sobrevivência a sepse – Protocolo Clínico
Pediátrico. 3. ed. São Paulo: ILAS; 2019.
5. Lima NKC. Manobra de Osler: método e significado. Rev Bras Hiperten. 2002; 9(2): 199-200.
6. López M. Semiologia Médica: As bases do diagnóstico clínico. 5. ed. Rio de Janeiro: Livraria e
Editora Revinter; 2004.
7. Martinez JB, Dantas M, Voltarelli JC. Semiologia Geral e Especializada. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2013.
8. Porto C. Celeno. Semiologia Médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
9. Porto CC, Porto AL. Doenças do coração. Prevenção e tratamento. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2005.
10. Pickering TG. The influence of daily activity on ambulatory blood pressure. Am Heart J. 1988;
116: 1141-5.
11. Pickering TG, Pieper C, Schechter CB. Ambulatory monitoring and blood pressure variability.
London: Science Press; 1991.
12. Swatz MH. Tratado de Semiologia Médica: história e exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2015.
13. Silva LR, Burns DAR, Campos Júnior D, Borges WG. Tratado de pediatria: Sociedade
Brasileira de Pediatria. 4. ed. Barueri, SP: Manole; 2017.
14. Malachias MVB, Souza WKSB, Plavnik FL, Rodrigues CIS, Brandão AA, Neves MFT, et al.
VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras
Cardiol. 2016; 107(3): 1-83.
15. PAZIN-FILHO A; SCHMIDT A; MACIEL BC. Semiologia Cardiovascular: Inspeção,
palpação e percussão. Medicina, Ribeirão Preto, v. 37: 227-239, jul./dez. 2004.
16. McGee, Steven R. Evidence-based physical diagnosis. 4. ed. Philadelphia: Elsevier; 2018.
17. Rocco JR. Semiologia Médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011
1. MAPA MENTAL DOS PRINCIPAIS
SINAIS E SINTOMAS
2. INTRODUÇÃO
As doenças da cabeça e pescoço são causas frequentes de atendimento
com o médico generalista. Conhecer a semiotécnica deste exame físico é,
portanto, de primordial importância para correta orientação diagnóstica e
terapêutica.
3.1. Crânio
Avaliar forma, volume, postura, movimentos involuntários,
abaulamentos, retrações e deformidades. Realize a inspeção e palpação.1,2
3.3. Face
Avaliar pele, simetria, deformidades e sensibilidade.1,2 Veja Figura 1.
3.4. Olhos
Avaliar quantidade e implantação dos pelos das sobrancelhas, pálpebras,
cílios, fenda palpebral, aparelho lacrimal, globos oculares, conjuntivas,
escleras, córneas, movimentos dos olhos, íris, pupilas, tensão ocular,
acuidade visual, campo visual, reflexos oculomotores e fundo de olho.1,2
3.7. Boca
Avaliar mucosa, língua, palato, assoalho, orofaringe, tonsilas, observando
umidade, coloração, presença de lesões, dentição (grau de conservação da
arcada dentária: se está completa ou incompleta, se os dentes estão em bom
ou mau estado de conservação).1,2
Utilize dois abaixadores de língua unidos em uma das pontas formando
um ‘V’ para melhor avaliar a cavidade oral.1,2
a) Linfonodos
Realizar palpação e inspeção, avaliando tamanho, aderência a planos
profundos e superficiais, localização, simetria, consistência, coalescência,
sensibilidade e alterações da pele circunjacente (fístulas, retrações, sinais
flogísticos, ulcerações).1,3,4
b) Tireoide
Realizar inspeção, palpação, ausculta.3,5
c) Vasos
Realizar palpação e ausculta das carótidas. Avaliar presença de turgência
jugular.1,2
• Submentonianos – Nível I
• Submandibulares – Nível I
• Jugular alto – Nível II
• Jugular médio – Nível III
• Jugular baixo – Nível IV
• Trígono posterior – Nível V
• Compartimento anterior – Nível VI
Figura 2. Trígonos cervicais.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Figura 7. Palpação linfonodos cervicais anteriores.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Exemplo:
Linfonodo retroauricular; linfonodo localizado no nível cervical V a
aproximadamente 2 cm do músculo trapézio
• Número: especificar a quantidade, sempre que possível. Quando não
o for, especificar se é único ou se são múltiplos.
Exemplo:
Linfonodo único; 3 linfonodos; linfadenopatia generalizada em região
cervical.
Exemplo:
Linfonodo medindo 2cm.
4.2.1. Inspeção
Habitualmente, a tireoide não é visível, com exceção de pacientes muito
emagrecidos. Para melhor visualização, o paciente deve estar sentado,
estendendo a cabeça para trás e solicitando que o mesmo degluta. Como a
glândula situa-se fixa à fáscia pré-traqueal, é esperado que ela se desloque
para cima ao pedir para o paciente deflutir. Nos aumentos difusos da
glândula, as duas faces laterais e a anterior do pescoço ficam uniformemente
abauladas.1,2,5
4.2.2. Palpação
A glândula tireoide é palpável em muitos indivíduos normais,
apresentando lobos com cerca de 3 a 5 cm no sentido vertical e o istmo com
diâmetro aproximado de 0,5 cm.1,5
• Paciente sentado;
• Examinador em pé atrás do paciente;
• Solicita-se que o paciente fleta a cabeça para o lado a ser examinado,
com o objetivo de relaxar o músculo esternocleiodomastoideo;
4.2.3. Ausculta
A ausculta da glândula tireoide ficará restrita àqueles pacientes com
suspeita de tireotoxicose, uma vez que o aumento do fluxo sanguíneo poderá
determinar a ocorrência de sopros sobre a glândula, associados ou não a
presença de frêmitos.2,5
5. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
Se meu paciente tem uma doença, qual probabilidade de um teste diagnóstico ser
Sensibilidade
positivo?
Se meu paciente não tem uma doença, qual probabilidade de um teste diagnóstico
Especificidade
ser negativo?
Achado presente
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
(%) (%)
CASO CLÍNICO
História clínica
M. C. S, sexo feminino, 73 anos, procedente e residente em Santa
Quitéria, interior do Ceará, parda, casada, aposentada, católica, com
escolaridade até a quarta série do ensino fundamental, comparece ao
consultório médico acompanhada do sobrinho, relatando queixa de “caroços
no pescoço”.
A paciente relata que há dois meses apresentou quadro de infecção de via
aérea superior, evoluindo no mês seguinte com linfadenomegalia cervical
bilateral (em seu prontuário, é descrito o maior, à direita, com tamanho de
aproximadamente 20mm, de consistência tensa, elástica e dolorosa ao toque)
associada à febre vespertina não aferida, quando realizou tratamento com
amoxicilina e clavulanato por 7 dias, apresentando discreta melhora clínica,
porém sem remissão completa do quadro. A paciente abandonou a consulta.
Após algumas semanas, a paciente recorreu ao serviço de emergência
apresentando febre de 39°C, normalmente ocorrendo no final da tarde,
adenomegalia cervical à direita com presença de eritema e dor, odinofagia,
anorexia e perda ponderal de 4kg no último mês. Foi submetida à USG
cervical e excisão do gânglio linfático à direita por agravamento dos sinais
inflamatórios.
Medicações em uso: Losartana 50mg (1-0-1).
Antecedentes pessoais: Hipertensa crônica controlada há 12 anos.
Hábitos: Ex-tabagista (15 maços/ano) há 13 anos.
Antecedentes familiares: Mãe falecida aos 82 anos por infarto agudo do
miocárdio, com história prévia de hipertensão arterial sistêmica. Não
conheceu o pai.
Exame físico
Exame físico geral / Ectoscopia: Regular estado geral, hipocorada (1/4+),
hidratada, anictérica, acianótica, febril, sobrepeso, eupneica, consciente,
orientada.
Dados vitais: FC 95bpm, FR 19 irpm, Tax 38°C, PA 130x90 em decúbito e
sentada, no MSE.
Exame da cabeça e do pescoço: Crânio normocefálico, ausência de retrações,
cicatrizes e abaulamento no couro cabeludo. Cavidade oral sem alterações.
Pescoço com mobilidade diminuída por dor, principalmente à direita.
Linfadenomegalia cervical bilateral em cadeia anterior, com maior linfonodo
palpável com tamanho de 1 polpa digital e meia, de consistência tensa,
elástica, não aderida aos planos profundos, doloroso à palpação, com eritema
ao redor da área linfonodal.
Exame neurológico: Ausência de achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneica,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à
percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de
turgência jugular patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas,
em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelho genital): Sem alterações relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: Extremidades bem
perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, cheios e simétricos, sem alterações
de cianose. Melanodermia em membros superiores.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: Sem alterações relevantes.
Exames complementares
Relatório histopatológico: infiltrado inflamatório agudo, necrose e presença
de granulomas.
Exames laboratoriais: Hb 11,1 g/dL, Ht 34%, VCM 92 fl, leucócitos 13.400,
neutrófilos 73%, Proteína-C Reativa 15,9 mg/dL.
Radiografia de tórax: sem alterações.
USG cervical: múltiplas adenopatias nas cadeias ganglionares laterocervicais
bilaterais, sugestivas de lesões secundárias.
Pontos de discussão
a. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
1. Qual é o diagnóstico sindrômico? Discuss
2. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico? ão do
3. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico? caso
4. Quais os achados do exame físico corroboram a hipótese? O caso
5. Quais são os diagnósticos diferenciais? clínico em
questão trata de uma paciente do sexo feminino, idosa, com queixa de
linfadenomegalias cervicais bilaterais, dolorosas, sinais inflamatórios, com
tratamento prévio para outras infecções, com melhora parcial do quadro e
abandono do tratamento e das consultas. O sintoma-guia para o caso é a
linfadenomegalia importante, que se apresenta de forma crônica, com sinais
inflamatórios, apresentando características benignas, mas que precisam ser
investigadas para confirmação da principal hipótese diagnóstica.
É importante salientar nesse caso a relação temporal da
linfadenomegalia, uma vez que os casos mais comuns, como reação às
infecções, normalmente desaparecem de forma precoce junto ao processo
infeccioso. Quando encontramos casos mais tardios, é preciso ficar de olho
nos diagnósticos diferenciais, levando em consideração as características
encontradas na anamnese e exame físico, como o tamanho, evolução do
crescimento, dor à palpação, mobilidade ou aderência aos planos profundos,
consistência, bem como os achados de exames complementares.10,11
O quadro clínico trata-se de tuberculose ganglionar (diagnóstico
etiológico), o segundo tipo mais comum de tuberculose extrapulmonar
(TEP). Essa doença compromete, principalmente, os gânglios das cadeias
cervicais (diagnóstico anatômico), mais comumente a anterior, com um leve
predomínio à direita, como no caso descrito. Esses sinais corroboram o
diagnóstico, podendo ser comprovado por histopatológico. Normalmente, as
mulheres são mais acometidas (2:1).11
Os gânglios apresentam crescimento lento e evoluem de forma insidiosa.
No início, se apresentam de forma indolor e móveis ao exame físico. Na
história natural da doença, tendem a aumentar seu volume e coalescer,
aderindo aos planos profundos. Sem o devido tratamento, a massa pode
evoluir com fístula, drenando material soroso ou purulento.12-14
O diagnóstico é confirmado por meio de histopatologia, com o
granuloma descrito como o principal achado. O material pode ser obtido por
biópsia ou por punção aspirativa da massa ganglionar. O diagnóstico
diferencial deve ser feito com as doenças linfoproliferativas, viroses, lues,
fases iniciais de aids, etc.1,15
O tratamento da TEP ganglionar é realizado com o mesmo esquema de
drogas utilizado na tuberculose pulmonar, normatizado no Brasil com quatro
drogas específicas (rifampicina, isoniazida, etambutol e pirazinamida), com
tempo de tratamento divergente na literatura, normalmente durante 6 meses
nos casos mais simples.16,17
Sintoma-guia: Adenomegalia cervical.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome linfadenopática. Síndrome febril.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Comprometimento da cadeia linfática
cervical anterior.
Hipótese diagnóstica: Tuberculose ganglionar.
Diagnósticos diferenciais:
• Neoplasia primária
• Metástase
• Linfadenite cervical
• Linfonomegalia reativa
• Vasculites
• Toxoplasmose
• Sarcoidose
• Doença da arranhadura do gato
• Doença de Kikuchi-Fujimoto
Pontos importantes
a. Diante de uma síndrome linfadenopática, deve-se excluir causas
neoplásicas, principalmente em paciente susceptíveis, com fatores de
risco, pela grande morbimortalidade desse tipo de doenças;
1. O diagnóstico de certeza é feito através de biópsia excisional do
linfonodo acometido;
2. Linfonodos inflamatórios, não aderidos a planos profundos,
dolorosos, de consistência fibroelástica, falam a favor de doenças
infecciosas.
REFERÊNCIAS
4. López M, Laurentz JM. Semiologia médica: as bases do diagnóstico clínico. 4. ed. Rio de
Janeiro: Revinter; 1999. 2v.
5. Benseñor IM. Semiologia Clínica. 1. ed. São Paulo: SARVIER; 2002.
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Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1979.
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Lições de Cirurgia. Rio de Janeiro: Interlivros; 1997.
11. Seidel HM, Ball JW, Dains JE, Benedict GW. Mosby’s Guide to Fhysical Examination. 3. ed.
Saint Louis: Mosby; 1995.
12. Porto CC. Semiologia Médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2019.
13. Rizzon CFC, Ott WP. Tuberculose: epidemiologia, diagnóstico e tratamento em clínica e saúde
pública. Rio de Janeiro: Medsi Ed. Médica e Científica Ltda; 1993.
14. Veronesei R, Focaccia R. Tratado de infectologia. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora
Atheneu; 2015.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
A capacidade de executar e registrar uma avaliação respiratória é uma
habilidade essencial para todos os médicos. Os elementos básicos do exame
clínico são anamnese, inspeção, palpação, percussão e ausculta, e outros
exames adicionais podem ser necessários para confirmar ou negar suspeitas
diagnósticas.
Um ponto importante no raciocínio médico é reconhecer os principais
sinais e sintomas de cada sistema. No sistema pulmonar, é imprescindível
reconhecer os seguintes sinais e sintomas: dor torácica, tosse, expectoração,
hemoptise, dispneia e cianose.¹
1.2. Tosse
A tosse é um dos sintomas mais comuns para os quais se busca atendimento
ambulatorial, e pode ser classificada, com base na duração, em:7
1.3. Expectoração
A expectoração é originária da depuração mucociliar, que tem como
finalidade remover as impurezas do ar através da movimentação em direção à
nasofaringe. A tosse funciona, então, como um facilitador da eliminação dessas
secreções.1,12
O escarro é composto por material proveniente do trato respiratório inferior,
boca e nasofaringe. Sua análise é fundamental para diagnosticar diversas
doenças, como tuberculose e abscesso pulmonar.
O exame clínico da expectoração deve compreender: volume, aspecto e
odor:1,12
1.4. Hemoptise
A hemoptise é qualquer sangramento eliminado pela boca proveniente do
trato respiratório inferior, abaixo da glote, que se exterioriza, muitas vezes,
através da tosse. Atenção: não confundir com epistaxe, que é o sangramento
proveniente do nariz!1,7,12
Diversas são as causas de hemoptise13,14 (Figura 5). Dentre elas, devemos
dedicar maior atenção àquelas que causam hemoptise maciça e, portanto,
necessitam de abordagem imediata. Definiremos como hemoptise maciça a
expectoração de sangue maior que 200 a 600 mL/24 horas ou o sangramento
que causa instabilidade hemodinâmica ou insuficiência respiratória.
• Há dispneia associada?
• Quais são os fatores de melhora e de piora da hemoptise?
• Como é a evolução da hemoptise? Há períodos assintomáticos?
• A hemoptise é associada a outros sintomas (dor, tosse, vômito, diarreia,
náuseas…)?
1.5. Dispneia
A dispneia, ou desconforto respiratório, pode ser entendida como um
sintoma ou como um sinal. Essa distinção depende da consciência do paciente
acerca desse estado. Afeta milhares de pacientes e pode ser a manifestação
primária de doença pulmonar ou não pulmonar, como isquemia ou disfunção
miocárdica, anemia, distúrbios neuromusculares, obesidade ou sedentarismo.1,15
Perguntas essenciais na investigação da dispneia:
1.6. Cianose
A cianose é a coloração azulada da pele e de mucosas, atribuída ao aumento
da hemoglobina reduzida (desoxigenada) no sangue capilar, quando esta
ultrapassa 5g/dL. Costumar ser uma manifestação tardia da hipoxemia. Pode
ser central ou periférica:1,12
a. CIANOSE CENTRAL: pode ser de origem pulmonar ou cardíaca e
ocorre em decorrência de três mecanismos, que são hipoventilação
pulmonar, falha na troca gasosa no pulmão e desvio arteriovenoso;
b. Cianose periférica: aumento da hemoglobina reduzida no sangue
venoso, por perda exagerada de oxigênio na rede capilar por estase venosa
ou diminuição do calibre dos vasos na microcirculação. Visto em áreas mais
distais do corpo e acompanhada por pele fria.
Como resposta à cianose, a primeira alteração no exame físico é o aumento
da frequência do pulso cardíaco. Mais tardiamente, há aumento da frequência
respiratória. Quando a hipoxemia é crônica, é possível ter a existência de
hipocratismo digital (baqueteamento digital), que é a deformidade dos dedos.
Os dedos se tornam globosos e com uma forma que lembra a de uma baqueta
de tambor, com unhas convexas em todos os sentidos, como vidro de
relógio.1,12 Lembrar que a cianose pode ser um fenômeno local, visto,
principalmente, durante no fenômeno de Raynaud.12
Figura 11. Mapa mental 7 – Sinais e Sintomas do Sistema Pulmonar.
Se meu paciente tem uma doença, qual probabilidade de um teste diagnóstico ser
Sensibilidade
positivo?
Se meu paciente não tem uma doença, qual probabilidade de um teste diagnóstico
Especificidade
ser negativo?
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
CASO CLÍNICO
História clínica
J.S.S, sexo masculino, 60 anos, natural e procedente de Sobral, negro,
casado, pedreiro, analfabeto. Comparece à consulta na UBS com queixa de
tosse há mais de um mês.
Paciente, previamente hígido, relata que há pouco mais de um mês iniciou
um quadro de tosse diária, sem expectoração, sem horário preferencial, de
intensidade moderada, sem fatores de melhora e com piora quando realiza
atividade mais intensa. Acompanhada de dor em hemitórax direito (ventilatória
dependente). Além disso, informa ter sudorese noturna e sensação de febre ao
final da tarde, não aferida. Apresentou na última semana piora da intensidade
da tosse, da dor e surgimento de dois episódios hemoptoicos. Perda ponderal
de 07 kg desde o início dos sintomas.
Medicações em uso: nega uso de medicação diária.
Antecedentes pessoais: hernioplastia inguinal há 15 anos. Nega hipertensão,
diabetes e alergias.
Hábitos: tabagismo (carga tabágica: 40 maços/ano = 20 anos / 40 cigarros /
dia).
Antecedentes familiares: mãe falecida aos 70 anos devido a complicações de
AVE. Pai falecido aos 50 anos em decorrência de um acidente automobilístico.
Irmão com 55 anos com diabetes e hipertensão.
História Psicossocial: vive com esposa e dois filhos numa casa de alvenaria de
5 cômodos com saneamento básico. Relata convívio familiar harmonioso. Tem
uma renda familiar de cerca de R$1.000,00 mensais.
Interrogatório Sintomatológico: Geral: febre, perda ponderal. Aparelho
respiratório: tosse e hemoptise. Demais aparelhos sem queixas dignas de nota.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, hipocorado (+/4+),
hidratado, acianótico, anictério e afebril, emagrecido, eupneico, consciente,
orientado.
Dados vitais: FC 80 bpm, FR 21 irpm, Tax 38,0°C, PA 140x80 mmHg, em
decúbito/sentado, no membro superior direito.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: ausência de achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório:
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 11 g/dL, Ht 33%, VCM 85 fl, leucócitos 7.800/mm3,
plaquetas 150.000/mm3, creatinina 1,1 mg/dL, ureia 40 mg/dL, sódio 140
mg/dL, potássio 3,5 mg/dL, TGO 20 U/L, TGP 16 U/L; glicose 88 mg/dL.
Radiografia de tórax: Opacidade heterogênea em campo superior do pulmão
direito com cavitação de permeio.
Valores de referência: HB 13,5-18 g/dL; Ht 40-54%; VCM 82-98Fl;
Leucócitos 4.000-10.000/mm3, plaquetas 150.000-450.000/mm3; creatinina
0,7-1,3mg/dL; ureia 17-41mg/dL; sódio 135-145 mg/Dl; potássio 3,5-5 mg/dL;
TGO até 40U/L;TGP até 41 U/L; glicose 60-99 mg/dL
Pontos de discussão
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
5. Quais são os diagnósticos diferenciais?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
Discussão do caso
A tuberculose é uma das principais doenças infectocontagiosas e de grande
importância na saúde pública mundial. É de evolução crônica e compromete
principalmente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e/ou
sistemas. O agente etiológico é a Mycobacterium tuberculosis (diagnóstico
etiológico), conhecida também como bacilo de Koch (BK). É um bacilo álcool-
ácido resistente (BAAR), aeróbio, com parede celular rica em lipídios (ácidos
micólicos e arabinogalactano), o que lhe confere baixa permeabilidade, reduz a
efetividade da maioria dos antibióticos e facilita sua sobrevida nos macrófagos.
A transmissão é através da via respiratória, pela inalação de aerossóis
produzidos pela tosse, fala ou espirro de um doente com tuberculose ativa
pulmonar ou laríngea.22,23
No caso em questão, estamos diante de um paciente com tosse diária há
mais de um mês, sendo esta a queixa principal, definida então como nosso
sintoma-guia, e o enquadramos em uma síndrome pleuropulmonar. Associada à
sudorese noturna, febre, perda ponderal e dor torácica, temos ainda as
síndromes febril e consumptiva. Na avaliação da tosse, temos que caracterizar
o início (aguda ou insidiosa), intensidade, período de exacerbação, seca ou com
expectoração, se há hemoptise, se há associação com outros sintomas.
Qualquer pessoa que apresente tosse por mais de três semanas é
considerada um sintomático respiratório, devendo ser investigada para
tuberculose através de exames bacteriológicos. Os principais exames são
baciloscopia do escarro e teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB).23
As manifestações clínicas mais prevalentes são as formas pulmonares
(diagnóstico anatômico e topográfico). A forma primária pulmonar acomete,
em geral, crianças e adolescentes, e tem como sintomas febre, tosse produtiva,
perda ponderal e dor pleurítica. A principal forma nos adultos é pós-primária,
ocorrendo por reativação de uma infecção latente, caracterizando-se por tosse
crônica com expectoração mucopurulenta, fenômenos hemoptoicos, febre
vespertina diária acompanhada de sudorese noturna e perda ponderal.
Infelizmente, o exame físico não é característico da tuberculose. A ausculta
pulmonar pode apresentar redução do murmúrio vesicular, sopro anfórico ou
ser sem alteração.24 É preciso ter a suspeição clínica e associar a achados de
exames bacteriológicos e de imagem.
Devemos ficar atentos aos diagnósticos diferenciais: Na pneumonia
adquirida na comunidade, geralmente, os sintomas têm duração mais curta, em
comparação, e, se houver dúvidas, considerar inicialmente o tratamento para
pneumonia bacteriana sem usar fluoroquinolonas ou outros antibióticos com
atividade antituberculosa significativa. Câncer de pulmão: lembrar que pode
coexistir com tuberculose. Micobactérias não tuberculosas: Mycobacterium
avium complex e o M. kansasii podem se apresentar como lesões cavitárias.
Infecção fúngica: inclui histoplasmose, coccidioidomicose e blastomicose. Na
sarcoidose, linfadenopatia intratorácica e artralgias podem estar presentes.
Em resumo, estamos diante de um paciente idoso com tosse crônica, o qual
consideramos como sintomático respiratório, devendo ser investigada a
tuberculose. Além de solicitar testes bacteriológicos, a radiografia de tórax é
um método complementar importante na investigação da doença. As lesões
sugestivas de tuberculose em radiografias de tórax localizam-se, em geral, nas
partes altas e dorsais dos pulmões, particularmente no pulmão direito, e
apresentam-se como opacidades, infiltrados, nódulos, cavidades, fibroses,
retrações, calcificações, linfadenomegalia ou aspecto miliar. Com o diagnóstico
dado, é fundamental iniciar imediatamente o tratamento. A recomendação atual
é iniciar o esquema básico. Os fármacos usados nos esquemas padronizados
para a tuberculose sensível são a isoniazida (H), a rifampicina (R), a
pirazinamida (Z) e o etambutol (E). Para maiores de 10 anos, a primeira
escolha é 2RHZE/4RH.23,24
Sintoma-guia: Tosse
Diagnóstico sindrômico: Síndromes pleuropulmonar, febril e consumptiva
Diagnóstico anatômico/topográfico: Pulmão
Diagnósticos diferenciais:
• Sarcoidose
Hipótese diagnóstica: Tuberculose
Pontos importantes
1. Os principais sinais e sintomas pulmonares são dor torácica, tosse,
expectoração, hemoptise, dispneia e cianose;
2. A dor torácica é a segunda queixa mais comum no pronto-atendimento.
REFERÊNCIAS
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22. Lopes AC. Tratado de Clínica Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Roca; 2016.
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24. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde: volume único [recurso eletrônico. 3ª ed.
Brasília: Ministério da Saúde; 2019.
1. O EXAME PULMONAR
Para realizar o exame físico do aparelho respiratório, é necessário um
ambiente adequado, com boa iluminação e silencioso.
2. INSPEÇÃO
É dividida em duas etapas: Inspeção Estática e Inspeção Dinâmica.
a) Inspeção Estática
As alterações encontradas durante o exame físico devem ser descritas
com maior precisão anatômica, por isso é importante dividir o tórax em
linhas e regiões para melhor referência anatômica.¹
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Forma do Tórax
O tórax sem alterações mantém uma relação entre os diâmetros
anteroposterior e lateral de 1:2. Mesmo em pessoas livres de qualquer
patologia, a forma do tórax pode variar em relação a sexo, idade e biótipo.²
A seguir, são apresentadas as formas anormais mais frequentes:
a. NORMAL
b. Em tonel (enfisema): diâmetro anteroposterior igual ao lateral
c. Tórax infundibuliforme (pectus exacavatum): depressão acentuada
no nível do terço inferior do externo
d. Tórax caroniforme (pectus carinatum): saliência no nível do
esterno, em forma de pompo ou quilha de navio
e. Escoliose: desvio lateral do segmento torácico da coluna vertebral
f. Cifose: encurvamento posterior da coluna torácica
g. Gibosidade
Fonte: Autor.
b) Inspeção Dinâmica
Avalia o padrão respiratório, observando a frequência respiratória, tipo
respiratório, ritmo respiratório e presença de tiragem.4
• Material Necessário:
Para realização da inspeção não é necessário nenhum material.
• Dificuldades:
Ambiente inadequado, com péssima iluminação.
• Parâmetros de Normalidade
Tabela 1. Frequência Respiratória – Parâmetros de Normalidade.
3. PALPAÇÃO
Através da palpação, deve-se avaliar:
• Parte Moles:
Contraturas musculares
Enfisema subcutâneo
• Temperatura
• Pontos dolorosos
• Presença de gânglios:
Supraclaviculares
Axilares
Manobras realizadas na palpação:
I) Expansibilidade
Os movimentos ventilatórios podem ser analisados através da simples
inspeção, mas com a palpação é possível identificar pequenas variações da
expansibilidade, sendo este um sinal precoce de anormalidade na caixa
torácica, pleura e pulmão adjacente.1,2,4
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
• Técnica:
Paciente sentado, de frente para o examinador, com os braços
pendentes. O médico deve colocar as mãos cobrindo a região
supraclavicular de cada lado, de modo que as pontas dos dedos
venham apoiar-se no músculo trapézio. Os dois polegares devem
se juntar ao nível da linha medioesternal na região infraclavicular.
Para juntar os dois polegares, faz-se uma pequena prega cutânea.
O paciente passa então a respirar profundamente e o médico
observa o afastamento dos dois polegares. Normalmente, o
afastamento deve ser igual de um lado e do outro.
Fonte: Autor.
• Técnica:
Paciente sentado, de frente para o examinador, com os braços pendentes.
As mãos devem alcançar até o côncavo axilar de cada lado, ao nível da
prega axilar posterior. Os dois polegares devem se juntar ao nível da linha
medioesternal através de uma prega cutânea.
Fonte: Autor.
• Técnica:
É pesquisada tanto na parte anterior como na posterior do tórax. Na
parte posterior, o paciente deve permanecer sentado, de costas para o
examinador. Coloca-se a ponta dos polegares nas linhas paravertebrais, à
altura do 12º arco costal, envolvendo com os outros dedos a face posterior
da base do tórax, com a mão espalmada e os dedos entreabertos. A
solicitação de realizar inspirações e expirações profundas provoca um
afastamento simétrico das mãos, representando a expansibilidade dos
segmentos pulmonares posteriores. Na parte anterior, colocam-se os
polegares na base do apêndice xifoide e os outros dedos sobre os
hipocôndrios. Ao realizar movimentos das mãos, representa a
expansibilidade dos segmentos pulmonares basais.
II) Frêmito Toracovocal
O frêmito toracovocal (FTV) corresponde às vibrações das cordas
vocais transmitidas à parede torácica. Estas vibrações são mais perceptíveis
nos indivíduos cuja tonalidade da voz é grave.1,2,4
• Técnica:
A palpação é feita com a superfície palmar dos dedos das mãos. O
paciente é solicitado a repetir em voz alta o número 33. Deve-se comparar a
intensidade das vibrações em regiões homólogas.
• Material Necessário:
Para realização da palpação, não é necessário nenhum material.
• Dificuldades:
Ambiente inadequado, com péssima iluminação.
• Parâmetros de Normalidade
• Expansibilidade Pulmonar: movimento simétrico das mãos em
ambos os hemitórax. Considerado anormal quando há diminuição da
expansibilidade torácica, podendo ser unilateral ou bilateral,
localizada ou difusa, patológica ou fisiológica.
4. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
Fonte: Autor.
INSPEÇÃO E PALPAÇÃO
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%)
Achado Achado
presente ausente
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorada,
hidratada, acianótica, anictérica e afebril, obesa, dispneica, consciente,
orientado.
Dados vitais: FC 90 bpm, FR 26 irpm, Tax 37,5°C, PA 150 x 90 mmHg, em
decúbito e sentado, no membro superior direito.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: ausência de achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório:
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 16 g/dL, Ht 50%, VCM 85 fl, leucócitos 17.800,
plaquetas 150.000, creatinina 0,9 mg/dL, ureia 26 mg/dL, sódio 140 mg/dL,
potássio 3,5 mg/dL, TGO 20 TGP 16 glicose 130 mg/dL
Radiografia de tórax: sinais de hiperinsuflação pulmonar, com consolidação
em base direita.
Gasometria arterial: pH =7,20; PaCO2 = 74; PaO2: 90%; HCO3 = 26,
SatO2 = 84%
Espirometria: VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo)/CVF
(capacidade vital forçada) < 70%
Pontos de discussão
5. QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
6. Qual é o diagnóstico sindrômico?
7. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais são os diagnósticos diferenciais?
• Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
1. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir
o diagnóstico levantado?
Discussão do caso
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), importante causa de
morbimortalidade, é definida como uma doença respiratória prevenível e
tratável, caracterizada pela presença de obstrução crônica do fluxo aéreo,
que não é totalmente reversível. Esta obstrução é geralmente progressiva e
associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de
partículas ou gases tóxicos, e o principal envolvido é o tabagismo.13,14
A limitação crônica do fluxo aéreo característica da DPOC é causada
por uma mistura de doença das pequenas vias aéreas (bronquite) e
destruição do parênquima (enfisema). As contribuições relativas
(predomínio do padrão bronquítico ou enfisematoso) variam de pessoa para
pessoa. A inflamação crônica provoca alterações estruturais e estreitamento
das pequenas vias aéreas (remodelamento brônquico). A destruição do
parênquima pulmonar, também por processos inflamatórios, leva à perda de
ligações alveolares às pequenas vias aéreas e diminui o recolhimento
elástico pulmonar; por sua vez, essas alterações diminuem a capacidade das
vias aéreas de permanecerem abertas durante a expiração (diagnóstico
anatômico e topográfico).15,16
No caso em questão, estamos diante de um paciente com dispneia
progressiva, sendo esta a queixa principal e definida como nosso sintoma-
guia, e o enquadramos em uma síndrome dispneica. Na avaliação da
dispneia, temos que caracterizar o início dos sintomas, duração, intensidade
(grandes, médios e pequenos esforços), associações com outros sinais e
sintomas, fatores de melhora e piora. Além disso, nossa paciente apresenta
tosse crônica associada ao quadro de dispneia.
Um diagnóstico clínico de DPOC deve ser considerado em qualquer
paciente que tenha dispneia, tosse crônica ou expectoração e uma história
de exposição a fatores de risco para a doença15 (ex-tabagista com carga
tabágica de 30 maços/ano). A dispneia é o sintoma inicial, sendo, na
maioria dos casos, progressiva, persistente e com piora aos esforços.16
No início da doença, o exame físico não ajudará no diagnóstico, mas nos
graus mais avançados do DPOC podemos observar tórax hiperinsuflado
(aumento do diâmetro anteroposterior: tórax em barril), tempo expiratório
prolongado, respiração com lábios semicerrados, uso de musculatura
acessória cervical e cintura escapular, diminuição dos sons respiratórios,
sibilos e, raramente, estertores crepitantes.14 Ficar atento a manchas
amarelas nos dedos devido à nicotina e alcatrão da queima do tabaco, pois
são uma pista para o tabagismo contínuo e pesado. O baqueteamento digital
não é comum, mesmo com hipoxemia associada, e sugere comorbidades
como câncer de pulmão, doença pulmonar intersticial ou bronquiectasia.16
Diante de um quadro clínico sugestivo, a espirometria é fundamental
para ajudar no diagnóstico, demonstrando limitação do fluxo aéreo, ou seja,
VEF1 / CVF menor que 0,7 ou menor do que o limite inferior do normal, e
um VEF1 menor que 80% do previsto (pós broncodilatador) e geralmente
irreversível após a administração de um broncodilatador inalatório.13
Atenção maior deve ser dada ao caso, quando foi dito que na última
semana houve piora da dispneia e tosse com expectoração. Isto é
característico da exacerbação aguda DPOC. Definida como piora aguda dos
sintomas da doença, caracteriza-se por 3 sintomas cardinais: piora da
dispneia, aumento de expectoração ou alteração da característica do escarro
(purulento), e piora da frequência e gravidade da tosse.17 Em relação ao
diagnóstico etiológico, cerca de 70% das exacerbações são de origem virais
ou bacterianas, e o restante é decorrente da poluição ambiental, embolia
pulmonar ou etiologia desconhecida.18
Não devemos nos esquecer dos diagnósticos diferenciais. A asma
brônquica é a doença com maior similaridade, porém difere em muitos
aspectos, desde a epidemiologia até o processo inflamatório e,
principalmente, pela resposta ao tratamento com corticoide inalatório. A
bronquiolite é mais comum em não tabagista, dispneia de progressão mais
acelerada. Nas bronquiectasias, os pacientes podem apresentar tosse,
dispneia, secreção abundante e cursar nas fases avançadas com hipoxemia e
cor pulmonale. Já a tuberculose, devido a sua alta prevalência no Brasil,
sempre deve ser pensada, e a pesquisa de BAAR no escarro e a radiografia
de tórax confirmam o diagnóstico. Na insuficiência cardíaca congestiva,
encontramos estertores finos em bases e aumento da área cardíaca no
radiograma de tórax.13,16
Em resumo, estamos diante de uma paciente idosa, ex-tabagista, em
franca exacerbação da DPOC, provavelmente em decorrência de uma
pneumonia, com saturação baixa de oxigênio, acidose respiratória.
Devemos realizar a monitorização cardiorrespiratória e iniciar os primeiros
cuidados. A administração de oxigênio suplementar visa atingir uma
saturação de oxigênio 88 a 92% ou pressão arterial de oxigênio de 60 a 65
mmHg, geralmente com uso de cateter nasal em baixo fluxo, mas ventilação
mecânica não invasiva pode ser utilizada, desde que o paciente não esteja
com rebaixamento do sensório nem apresentando vômitos. Na exacerbação,
podem ser utilizados agentes agonistas beta-adrenérgicos inalatório e
anticolinérgicos, visando melhorar o fluxo de ar. A terapia com
glicocorticoides sistêmicos parece ter um pequeno efeito benéfico, mas as
diretrizes atuais sugerem o uso de uma dose equivalente a 40 mg de
prednisona por dia durante cinco dias. A antibioticoterapia é recomendada
apenas para os pacientes com maior probabilidade de ter infecção
bacteriana ou com exacerbação moderada a grave (2 ou mais sintomas
cardinais).
Sintoma-guia: Dispneia
Diagnóstico sindrômico: Síndrome Dispneica
Diagnóstico anatômico/topográfico: Pulmão/Pequenas vias aéreas e
parênquima pulmonar
Diagnósticos diferenciais:
• Asma
• Bronquiolite
• Tuberculose
• Insuficiência Cardíaca Congestiva
Hipótese diagnóstica: Exacerbação da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
Pontos importantes
5. A INSPEÇÃO DO TÓRAX É DIVIDIDA EM DUAS ETAPAS:
INSPEÇÃO ESTÁTICA E INSPEÇÃO DINÂMICA;
6. Na inspeção dinâmica, deve-se avaliar a frequência respiratória, o
tipo respiratório, o ritmo respiratório e presença de tiragem;
7. Durante a palpação do tórax, avaliam-se as partes moles,
temperatura, pontos dolorosos e linfonodos, a expansibilidade
torácica e o frêmito toracovocal.
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1. PERCUSSÃO
O tórax é constituído de estruturas de densidades distintas. A percussão
constitui as vibrações na parede torácica que se transmitem aos órgãos e
tecidos subjacentes. Essas vibrações irão produzir um som, que varia
dependendo da relação existente entre a quantidade de ar e de tecido.1,2
A percussão só possibilita captar os sons de estruturas localizadas no
máximo a 5 cm do ponto de impacto do dedo percussor. Esse fato faz com
que o método só tenha valor no estudo de lesões até essa profundidade e cujo
tamanho seja suficiente para modificar a densidade relativa da região.
Causas ligadas à parede torácica, como obesidade, massas musculares
hipertrofiadas e edema, reduzem a nitidez dos sons normais, fazendo com
que ele se torne submaciço ou mesmo maciço.1,2
Fonte: Autor.
a. Material necessário:
Para realização da percussão, não é necessário nenhum material.
a. Dificuldades:
Ambiente inadequado, com muito barulho.
a. Parâmetros de normalidade:
Som claro pulmonar: áreas de projeção dos pulmões.
Exemplo:
Descrição normal dos dados obtidos após procedimento semiotécnico
Tórax atípico, sem abaulamentos, retrações, cicatrizes ou lesões
dermatológicas, frequência respiratória 16 a 20 irpm, ritmicidade e
amplitude dentro da normalidade, expansibilidade preservada, tipo de
respiração torácica, sem uso de musculatura acessória, som claro pulmonar,
murmúrio vesicular e sons laringotraqueais (regiões do pescoço e fúrcula
esternal) e respiração brônquica nas zonas torácicas de projeção de grossos
calibres.
2. AUSCULTA
Apesar de todo avanço tecnológico dos exames complementares,
particularmente os exames de imagem, a ausculta pulmonar permanece
como uma ferramenta importante no diagnóstico das doenças respiratórias.
Fonte: Autor.
b) Murmúrio Vesicular
É o som que normalmente se ausculta em toda a superfície torácica. O
conceito antigo de que o murmúrio vesicular (MV) é produzido pela entrada
e saída de ar dos alvéolos não é correto, visto que neste nível do sistema
respiratório o fluxo do ar já se faz pela movimentação das moléculas, um
fenômeno silencioso. Acredita-se que o MV seja gerado pelo fluxo de ar
passando por vias aéreas mais calibrosas (brônquios lobares e segmentares),
com alteração em suas características auscultatórias por sofrer a ação de um
“filtro”, representado pelos alvéolos preenchidos de ar, que, como se sabe,
propaga mal o som. Assim, sua sensação auscultatória é mais “fraca”,
quando comparado com o som traqueal, e apresenta-se como uma inspiração
mais prolongada que a expiração, sem intervalo entre elas.1-5
A modificação que pode ocorrer com o MV é sua diminuição ou até
mesmo estar abolido. Esta redução de intensidade MV pode ocorrer por duas
razões principais:
c) Som Brônquico
Quando o som traqueal é auscultado sobre a parede torácica, ele é
denominado som brônquico, cujo significado é a perda do filtro
correspondente aos alvéolos aerados, que transformam o som traqueal em
murmúrio vesicular. Clinicamente, o som brônquico corresponde,
geralmente, à consolidação alveolar, embora possa ocorrer também em
atelectasias periféricas, nas quais há colapso do parênquima sem obstrução
da via aérea correspondente (ex.: fibroatelectasias nos processos cicatriciais,
como na sequela de tuberculose).1-5
a. Sons Musicais:
Estridor
Sibilos
Roncos
Grasnido
a) Estridor
Trata-se de um som musical de alta frequência, intenso (frequentemente
ouvido claramente sem auxílio de estetoscópio), que tende a ser
predominantemente inspiratório e mais audível na região cervical do que na
superfície torácica. Estas duas características auxiliam na sua distinção em
relação aos sibilos. Decorre da passagem de um fluxo de ar turbulento
através de um segmento estreitado das vias aéreas superiores (sobretudo
laringe ou traqueia). Algumas das principais condições clínicas associadas
ao estridor são: edema das vias aéreas após extubação, epiglotite aguda,
anafilaxia, disfunção de corda vocal, inalação de corpo estranho, tumor de
laringe ou traqueia, paracoccidioidomicose, tuberculose, sarcoidose,
tireoidite.1-5
b) Sibilo
Som musical, que pode ser mais agudo ou mais grave, e pode ser
percebido na expiração, inspiração ou ambas as fases. Decorre da passagem
do fluxo de ar por vias aéreas obstruídas (acredita-se que brônquios entre a
segunda e a sétima geração), não havendo correlação entre as características
dos sibilos e a gravidade da obstrução. Na verdade, em obstruções muito
graves, os sibilos podem desaparecer em função da redução acentuada do
fluxo de ar, o que determina também redução ou desaparecimento do MV,
caracterizando o que se denomina silêncio respiratório.1-5
Os sibilos podem ser difusos, como na asma e na DPOC, ou localizados,
nos processos obstrutivos brônquicos locais, como tumores, presença de
corpo estranho ou de tampão mucoso. Deve-se estar atento para o caráter
localizado dos sibilos, para que não se foque a investigação diagnóstica em
doenças que cursam com sibilância difusa, que são mais frequentes,
atrasando o diagnóstico correto e podendo comprometer o prognóstico do
paciente, sobretudo nos casos câncer de pulmão.1-5
c) Roncos
São considerados por alguns autores uma variante dos sibilos com menor
frequência (mais grave). Embora possam apresentar fatores em comum com
os sibilos em sua gênese, o fato de melhorar ou desaparecer após a tosse
sugere que a presença de secreção nas vias aéreas esteja relacionada com sua
ocorrência. Em algumas publicações, o termo ronco não é empregado, e os
sons são descritos como sibilos de maior ou menor frequência (agudos ou
graves, respectivamente).1-5
d) Crepitações
São sons não musicais, de curta duração, de caráter explosivo, percebidos
mais frequentemente na inspiração, às vezes na expiração. São divididos em
duas categorias: crepitações finas e crepitações grossas.1
As crepitações finas são geralmente auscultadas ao final da inspiração
(chamadas teleinspiratórias) e lembram o som obtido ao se separar tiras de
velcro (“crepitações em velcro”). Decorrem da abertura súbita de pequenas
vias aéreas que se colabaram ao final da expiração prévia, fato que ocorre
nas doenças intersticiais (ex.: fibrose pulmonar idiopática, asbestose,
pneumonia intersticial associada à colagenose, pneumonia intersticial não
específica) ou após decúbito prolongado, sobretudo em idosos. Neste último
caso, as crepitações finas tendem a desaparecer após algumas inspirações
mais profundas com o indivíduo sentado ou de pé. As crepitações finas são
marcantes na fibrose pulmonar idiopática (mas não patognomônicas),
situação em que surgem precocemente, às vezes antecedendo as alterações
radiológicas.1-5
As crepitações grossas decorrem da passagem de bolus de gás por vias
aéreas que se abrem e fecham de forma intermitente. Ocorrem com
frequência nas pneumonias, na insuficiência cardíaca e nas doenças de vias
aéreas, como DPOC, asma e bronquiectasias.
e) Grasnido
Trata-se um som misto, musical e não musical, semelhante a associação
de sibilos de curta duração com crepitações finas, sendo tipicamente
auscultado entre o meio e o final da inspiração. Acredita-se que o grasnido
decorra da oscilação de vias aéreas periféricas, determinada pela passagem
de ar por paredes que se encontravam em aposição/justaposição durante a
expiração. É encontrado nas doenças intersticiais pulmonares, mais
comumente na pneumonia de hipersensibilidade, embora não seja
patognomônico dela.1-5
f) Atrito Pleural
Ruído decorrente do espessamento da pleural visceral, que passa a
produzir ruído em sua movimentação em contato com a pleura parietal, tanto
na inspiração quanto na expiração. É mais audível nas regiões basais e
axilares, sendo encontrado nas doenças inflamatórias ou neoplásicas da
pleura.1,5
a. Material necessário:
Para realização da ausculta é necessário o estetoscópio.
a. Dificuldades:
Ambiente inadequado, com péssima iluminação.
a. Parâmetros de normalidade:
Som traqueal: áreas de projeção da traqueia.
a. Exemplo:
Descrição normal dos dados obtidos após procedimento semiotécnico
Tórax atípico, sem abaulamentos, retrações, cicatrizes ou lesões
dermatológicas, frequência respiratória 16 a 20 irpm, ritmicidade e
amplitude dentro da normalidade, expansibilidade preservada, tipo de
respiração torácica, sem uso de musculatura acessória, som claro pulmonar,
murmúrio vesicular e sons laringotraqueais (regiões do pescoço e fúrcula
esternal) e respiração brônquica nas zonas torácicas de projeção de grossos
calibres.
3. PRINCIPAIS SÍNDROMES
PULMONARES
Figura 6. Mapa mental – Principais Síndromes Pulmonares X próxima
página
4. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Se meu paciente tem uma doença, qual probabilidade de um teste diagnóstico ser
Sensibilidade
positivo?
Se meu paciente não tem uma doença, qual probabilidade de um teste diagnóstico
Especificidade
ser negativo?
Macicez à percussão em
paciente com tosse para 4-26 82-89 3.0 NS
detectar pneumonia.
Macicez na percussão em
paciente com queixas
89 81 4.8 0.1
respiratórias para detectar
derrame pleural.
Hipersonoridade na
percussão para detectar 21-33 94-98 7.3 0.8
DPOC.
Diminuição do
murmúrio vesicular na
detecção de derrame 88 83 5.2 0.1
pleural em pacientes
hospitalizados.
Diminuição do
murmúrio vesicular na 29-82 63-96 3.5 0.5
detecção do DPOC.
Diminuição do
murmúrio vesicular na
detecção de derrame
42 90 4.3 0.6
pleural em pacientes
com ventilação
mecânica.
Diminuição do
murmúrio vesicular na
detecção de pneumonia 7-49 73-98 2.2 0.8
em pacientes com tosse e
febre.
Ausculta pulmonar
assimétrica após
intubação traqueal na
28-83 93-99 18.8 0.5
detecção intubação
seletiva do brônquio
fonte direito.
Som bronquial na
detecção de pneumonia
14 96 3.3 NS
em pacientes com febre e
tosse.
RAZÃO DE
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
VEROSSIMILHANÇA
Achado presente Achado ausente
Presença de crepitações na
detecção de fibrose pulmonar 81 86 5.9 0.2
em trabalhadores de amianto.
Presença de crepitações na
detecção da elevação pressórica
15-64 82-94 2.1 NS
do átrio esquerdo em
cardiopatas.
Presença de crepitações na
detecção de pneumonia em 19-67 36-96 2.3 0.8
pacientes com tosse e febre.
CASO CLÍNICO
História clínica
W.R.S, 30 anos, sexo feminino, natural e procedente de Sobral,
vendedora, ensino médio completo, casada. Comparece à consulta com
queixa de “falta de ar” e “chiado no peito”.
Paciente refere crises de dispneia em repouso, dor torácica em aperto,
sibilos e tosse com expectoração mucoide que iniciaram há 5 dias, sendo
diárias e com piora dos sintomas no final da tarde. Apresentou várias crises
semelhantes desde a infância, porém estava assintomática há mais de dois
anos. Há aproximadamente três meses os sintomas retornaram, com piora há
5 dias. Ao ser indagada, relata dois despertares noturnos por semana, quatro
sintomas diurnos por semana, precisando faltar ao trabalho, último episódio
há dois dias, com necessidade constante do uso de agonista beta-2
adrenérgico para alívio do quadro. Última internação há dois meses, devido à
dispneia de grande intensidade, precisando de suporte de ventilação não
invasiva.
Medicações em uso: budesonida 1200 mcg/dia + formoterol 24 mcg/dia
(inalatórios) e sabutamol spray 100mcg/jato de resgate diariamente (quatro
vezes ao dia).
Antecedentes pessoais: Rinossinusite de repetição; G2P2A0, partos cesáreas.
Nega cirurgias prévias.
Hábitos: Nega etilismo e tabagismo
Antecedentes familiares: mãe viva, 55 anos, portadora de hipertensão e
diabetes. Pai vivo, 60 anos, portador de asma, sem outras comorbidades. 3
irmãos mais novos saudáveis.
História Psicossocial: vive com dois filhos e o marido em uma casa de
alvenaria de 6 cômodos com saneamento básico. Relata convívio familiar
harmonioso. Tem uma renda familiar de cerca de quatro salários mínimos.
Interrogatório Sintomatológico: Aparelho respiratório: dispneia, dor torácica
em aperto e tosse com expectoração mucoide. Demais aparelhos sem queixas
dignas de nota.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorada,
hidratada, acianótica, anictérica e afebril, eutrófica, dispneica, consciente,
orientado.
Dados vitais: FC 80 bpm, FR 30 irpm, Tax 36,5°C, PA 110 x 70 mmHg, em
decúbito e sentado, no membro superior direito.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: ausência de achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório:
Exames Complementares
Exames laboratoriais: Hb 12 g/dL, Ht 37%, VCM 88 fl, leucócitos 5.800,
plaquetas 250.000, creatinina 0,7 mg/dL, ureia 24 mg/dL, sódio 140 mg/dL,
potássio 3,5 mg/dL, TGO 18 U/L; TGP 13 U/L; glicose 88 mg/dL
Radiografia de tórax: sem alterações.
Espirometria: VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo)/CVF
(capacidade vital forçada) > 80%, com resposta broncodilatora positiva
(maior ou igual a 12% e maior ou igual a 200 ml do VEF1 ou da CVF)
Valores de referência: HB 13,5-18 g/dL; Ht 40-54%; VCM 82-98Fl;
Leucócitos 4.000-10.000/mm3, plaquetas 150.000-450.000/mm3; creatinina
0,7-1,3 mg/dL; ureia 17-41 mg/dL; sódio 135-145 mg/Dl; potássio 3,5-5
mg/dL; TGO até 40U/L;TGP até 41 U/L; glicose 60-99 mg/dL
Pontos de discussão
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
5. Quais são os diagnósticos diferenciais?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir
o diagnóstico levantado?
Discussão do caso
A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores, na
qual muitas células e elementos celulares têm participação. A inflamação
crônica está associada à hiperrresponsividade das vias aéreas, que leva a
episódios recorrentes de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse,
particularmente à noite ou no início da manhã.11 Então, temos como
diagnóstico anatômico/topográfico os pulmões, especificamente, os
brônquios.
No caso apresentado, estamos diante de uma paciente com quadro de
sibilos, dispneia e tosse com expectoração mucoide, que são os nossos
sintomas-guias e são considerados como a tríade clínica da doença, além de
serem característicos da síndrome brônquica. Na avaliação inicial, é preciso
caracterizar bem o começo do quadro, se é desencadeado por irritantes
inespecíficos (como fumaças, odores fortes e exercícios) ou por
aeroalérgenos (como ácaros e fungos), se há piora à noite e se ocorre
melhora espontânea ou após o uso de medicações específicas para asma.
O exame físico durante a exacerbação da asma é fundamental, pois ajuda
no diagnóstico e avalia a gravidade do episódio. A presença dos sinais
clássicos de obstrução, como sibilância, é bom preditor da doença, mas sua
ausência pode indicar insuficiência respiratória devido à obstrução grave do
fluxo aéreo ou pneumotórax hipertensivo.12 Outros achados que podemos
encontrar no exame físico são: aumento da frequência respiratória, redução
bilateral da expansibilidade, hipersonoridade, diminuição do frêmito
toracovocal e do murmúrio vesicular.1
As exacerbações agudas da asma são episódios de agravamento dos
sintomas da asma e da função pulmonar, podendo ser a manifestação da
própria asma, asma não controlada, ou ser a resposta, em paciente asmáticos,
a um “gatilho”, como infecção viral do trato respiratório superior, exposição
a alérgenos ou irritantes, falta de adesão à medicação do controle ou um
estímulo desconhecido. A melhor estratégia para o tratamento das
exacerbações agudas da asma é o reconhecimento e a intervenção precoces,
antes que os ataques se tornem graves e potencialmente fatais.13 Em relação
ao diagnóstico etiológico, cerca de 80% das exacerbações são de origem
virais.
Devemos lembrar que asma não controlada é caracterizada pela presença
de três ou mais parâmetros: três ou mais sintomas diurnos, qualquer
limitação de atividades, qualquer sintoma noturno, necessidade de drogas de
resgate mais de três vezes na semana e/ou função pulmonar menor do que
80% do predito ou do melhor prévio, se conhecido.
Diante de um quadro clínico sugestivo de exacerbação, podemos usar a
prova de função pulmonar ou aferição do pico de fluxo (peak-flow) na
avaliação da gravidade da limitação do fluxo aéreo. Um decréscimo superior
a 20% do normal, ou do melhor valor basal do paciente, sinaliza a presença
de uma exacerbação da asma. Um peak-flow ≤50% do basal paciente deve
ser considerado um ataque de asma grave.12,13
Os diagnósticos diferenciais durante um episódio de exacerbação devem
ser considerados: exacerbação DPOC (sendo o principal diagnóstico
diferencial, pois ambas doenças cursam com quadro obstrutivo brônquico),
refluxo gastroesofágico, rinossinusite, obstrução de vias aéreas superiores, os
pacientes podem apresentar estridor na ausculta, mas sibilos são incomuns; a
disfunção da glote pode provocar obstrução parcial de vias aéreas; a doença
endobrônquica pode se manifestar com dispneia e sibilos unilaterais; na
insuficiência cardíaca descompensada, costumam surgir crepitações, escarro
sanguinolento e outros sinais sugestivos de disfunção cardíaca; a pneumonia
eosinofílica possui infiltrados pulmonares na radiografia e outros (Síndrome
de Churg-Strauss, tumor carcinoide e embolia pulmonar).12
Em resumo, estamos diante de uma paciente jovem, em franca
exacerbação da asma, provavelmente em decorrência de um gatilho
aeroalérgeno ou de uma asma não controlada. A ausência de sibilos nos leva
a pensar em insuficiência respiratória iminente e devemos realizar a
monitorização cardiorrespiratória e iniciar os primeiros cuidados, como
fornecer oxigênio suplementar para manter a saturação de oxigênio maior
que 92%. A administração de beta 2 agonista (via inalatória) é o passo inicial
do tratamento, podendo ser associados anticolinérgicos e corticosteroides
sistêmicos.
Sintoma-guia:
a. Sibilos
a. Dispneia
a. Dor opressiva torácica
a. Tosse com expectoração mucoide
Diagnóstico sindrômico: Síndrome brônquica
Diagnóstico anatômico/topográfico: Pulmão /Brônquios
Diagnósticos diferenciais:
a. DPOC.
a. Refluxo gastroesofágico.
a. Rinossinusite
a. Obstrução de vias aéreas superiores
a. Disfunção da glote
a. Doença endobrônquica
a. Insuficiência cardíaca descompensada
a. Pneumonia eosinofílica
a. Síndrome de Churg-Strauss
a. Tumor carcinoide
a. Embolia pulmonar
Hipótese diagnóstica: Exacerbação da asma
Pontos importantes
1. Quatro sons são definidos pela percussão torácica: som claro
pulmonar, som timpânico, som submaciço e som maciço;
2. A ausculta é a principal etapa do exame pulmonar. Apesar de todo
avanço tecnológico dos exames complementares, particularmente os
exames de imagem, a ausculta pulmonar permanece como uma
ferramenta importante no diagnóstico das doenças respiratórias;
3. Durante a ausculta pulmonar, buscamos distinguir os sons
respiratórios normais (som traqueal, murmúrio vesicular e som
brônquico) dos ruídos adventícios (estridor, sibilos, roncos,
crepitações e grasnido).
REFERÊNCIAS
1. PORTO CC. SEMIOLOGIA MÉDICA. 8. ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN;
2019.
2. Lopez M, Laurentys-Medeiros J. Semiologia Médica: as bases do diagnóstico clínico. 5. ed. Rio
de Janeiro: Thieme Revinter; 2004.
3. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
4. Benseñor IM. Semiologia Clínica. São Paulo: SALVIER; 2012
5. Bohadana A, Izbicki G, Kraman SS. Fundamentals of lung auscultation. N Engl J Med. 2014;
370: 744-51.
6. McGee SR. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
7. Kalantri S, Joshi R, Lokhande T, Singh A, Morgan M, Colford JM Jr, et al. Accuracy and
reliability of physical signs in the diagnosis of pleural effusion. Respir Med. 2007; 101:431-8.
8. Lichtenstein D, Goldstein I, Mourgeon E, Cluzel P, Grenier P, Rouby JJ. Comparative diagnostic
performance of auscultation, chest radiography, and lung ultrasonography in acute respiratory
distress syndrome. Anesthesiol. 2004; 10(1): 9–15.
9. Heckerling PS, Tape TG, Wigton RS, Hissong KK, Leikin JB, Ornato JP, et al. Clinical
prediction rule for pulmonary infiltrates. Ann Intern Med. 1990; 113:664-70.
10. Al Jarad N, Strickland B, Bothamley G, Lock S, Logan-Sinclair R, Rudd RM. Diagnosis of
asbestosis by a time expanded wave form analysis, auscultation and high-resolution computed
tomography: a comparative study. Thorax. 1993; 48: 347–53.
11. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da Asma – 2012. J Bras Pneumol. 2012; 38(Supl 1):
S1-46.
12. Velasco IT, Neto RAB, Souza HP. Medicina de emergência: abordagem prática. 13. ed. rev.,
atual e ampl. Baueri, SP: Manole; 2019.
13. Fanta CH. Acute exacerbations of asthma in adults: Home and office management. UpToDate.
[Internet]; 2019. [acesso em 26 maio 2019].
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
4. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 3. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
RAZÃO DE
VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
Achado
Achado ausente
presente
DETECÇÃO DA RAZÃO
39-60 76-93 3.4 0.6
CARDIOTORÁCICA > 0.5
DETECÇÃO DO VOLUME
DIASTÓLICO FINAL DO 33-34 92-96 5.1 0.7
VENTRÍCULO ESQUERDO
DETECÇÃO DA TAXA DE
PRESSÃO CAPILAR PULMONAR > 42 93 5.8 NS
12 MMHG
DETECÇÃO DA RAZÃO
61-80 28-97 NS 0.5
CARDIOTORÁCICA > 0.5
DETECÇÃO DO AUMENTO DO
VOLUME DIASTÓLICO FINAL DO 48-85 79-96 4.7 NS
VENTRÍCULO ESQUERDO
CASO CLÍNICO
História clínica
A.S.D., sexo masculino, 59 anos, agricultor, ensino médio incompleto,
natural e procedente de Sobral, interior do Estado do Ceará, pardo,
evangélico, casado. Dá entrada ao pronto-atendimento da cidade referindo
intensa “falta de ar”, há 4 semanas, com piora nas últimas 24 horas. Paciente
relata que percebeu a dispneia após quadro gripal arrastado que apresentou
há cinco semanas, sendo necessário o uso de antibioticoterapia. Inicialmente,
a dispneia era aos moderados esforços, porém notou que na última semana
não conseguia trabalhar, sentindo-se muito adinâmico e com sensação de
falta de ar. Refere ainda episódio de ortopneia e, um dia antes do
internamento, notou os dedos das mãos e dos pés cianóticos com piora da
dispneia, motivos pelos quais os filhos o levaram ao hospital. Interrogado
sobre as condições de moradia, destino do lixo e esgoto, revelou que morava
em casa de pau a pique, queimava o lixo e não tinha saneamento básico em
sua comunidade.
Medicações em uso: não faz uso de nenhum medicamento.
Antecedentes pessoais: nega doenças prévias, cirurgia ou doação de sangue.
Hábitos: nega tabagismo e alcoolismo.
Antecedentes familiares: refere que irmão mais velho (67 anos) morreu há 3
anos por “coração crescido”, e que esse morava na mesma residência.
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 10,4 g/dL, Ht 31,2%, VCM 82 fl, leucócitos 6.800,
plaquetas 250.000, creatinina 1,04 mg/dL, ureia 32 mg/dL, sódio 140 mg/dL,
potássio 4,0 mg/dL, TGO 30, TGP 20, glicose 92 mg/dL, TSH 2,74 µUI/mL,
sorologia para Trypanosoma cruzi positiva, Radiografia de tórax:
cardiomegalia.
Pontos de discussão
•
QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
•
QUAL É O DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO?
•
QUAL É O DIAGNÓSTICO ANATÔMICO/TOPOGRÁFICO?
•
QUAIS SÃO OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS?
•
QUAL É A PRINCIPAL HIPÓTESE DE DIAGNÓSTICO
ETIOLÓGICO?
•
QUAIS SÃO OS ACHADOS DO EXAME FÍSICO QUE
CORROBORAM A HIPÓTESE?
•
OS DADOS DO EXAME CLÍNICO SÃO SUFICIENTES PARA
CONFIRMAR OU EXCLUIR O DIAGNÓSTICO LEVANTADO?
Discussão
E então, de que doença estamos falando? Quais dados do exame físico
desse paciente podem nos fornecer informações relevantes para chegarmos
ao diagnóstico? Se a insuficiência cardíaca passou por sua mente, você está
no caminho certo. Mas, nesse caso em específico, o que levou a essa
insuficiência?
A insuficiência cardíaca pode ser causada por alterações estruturais,
congênitas ou adquiridas. Entre elas, temos a cardiomiopatia dilatada
(CMD).
A cardiomiopatia dilatada (CMD) é caracterizada por dilatação das
câmaras cardíacas e comprometimento da contração de um ou ambos os
ventrículos, especialmente o ventrículo esquerdo, levando a uma disfunção
sistólica progressiva e, consequentemente, a uma redução da fração de
ejeção.1
Atualmente, cerca de 10.000 mortes e 46.000 hospitalizações nos Estados
Unidos decorrem da CMD, sendo a faixa etária mais afetada entre 20 e 50
anos.2
Entre as causas, podemos dizer que se trata de idiopática quando fatores
primários e secundários da doença forem excluídos por avaliação minuciosa,
que inclui história clínica, exame físico e exames complementares. Sabe-se
que cerca de 25 a 35% dos pacientes com CMD apresentam uma forma
familiar autossômica dominante, que leva a mutações nos genes da distrifina
e desmina.1 Já entre as causas secundárias, podemos citar a doença de
Chagas, uma zoonose endêmica em determinadas regiões do Brasil (estados
nordestinos, Minas Gerais e região sudoeste do Rio Grande do Sul) causada
pelo protozoário Trypanosoma cruzi.
O Trypanosoma cruzi é encontrado na natureza no sistema
gastrointestinal dos barbeiros (hospedeiros invertebrados) e em hospedeiros
vertebrados (homem e vários mamíferos). A infecção ocorre basicamente
quando os tripanossomas são ingeridos pelo barbeiro, a partir de um
mamífero infectado, e eliminados nas fezes do inseto que, quando em
contato com a pele não íntegra de outro hospedeiro vertebrado, dissemina-se
pelo organismo, tendo tropismo pelos cardiomiócitos. No coração, o
protozoário causa danos diretos ao miocárdio e distúrbios no sistema
nervoso e na microvasculatura, proporcionando fibrose, progressivo
remodelamento e consequente falência cardíaca.3
A CMD causada por doença de Chagas caracteriza-se clinicamente por
miocardite aguda, aumento do volume cardíaco, taquicardia e anormalidades
eletrocardiográficas inespecíficas.
Pacientes afetados pela CMD apresentam sintomas de insuficiência
cardíaca, como dispneia progressiva com esforço, capacidade de exercício
prejudicada, ortopneia, dispneia paroxística noturna e edema periférico. Esse
quadro deve-se ao comprometimento da função ventricular esquerda, que
resulta em congestão pulmonar e baixo débito cardíaco. São frequentes os
casos em que se é possível obter uma história de doença infecciosa (com
febre e infecção de vias aéreas superiores, gastrointestinal e/ou
musculoesquelética). Além disso, no caso de haver uma sobrecarga de
ventrículo direito, o paciente pode evoluir com congestão sistêmica,
apresentando hepatomegalia, turgência jugular, edema de membros
inferiores e ascite.
No exame físico, pode-se encontrar: palidez cutaneomucosa, com pele de
extremidades frias, sendo rara a cianose; pressão arterial (PA) com redução
do nível sistólico e aumento inicial do diastólico (por diminuição da
resistência vascular renal e liberação de renina); ictus cordis desviado para
esquerda e para baixo, geralmente não muito propulsivo, denotando maior
dilatação do que hipertrofia; o ritmo cardíaco é de bulhas abafadas e com
frequentes alterações do ritmo.
No caso clínico em questão, tem-se um paciente com 59 anos, portanto
dentro da faixa etária em que a CMD é mais prevalente, procedente de uma
cidade do nordeste brasileiro, onde a doença de Chagas é endêmica. Em sua
história clínica, observamos dados importantes que corroboram o
diagnóstico de uma insuficiência cardíaca causada por CMD de origem
infecciosa.
Além da procedência do paciente, as condições precárias de moradia, o
fato de ser agricultor e a história familiar positiva para uma cardiopatia que
sugere CMD são outros fatores que levam o raciocínio clínico para o
diagnóstico de Doença de Chagas, já que o barbeiro geralmente se encontra
em áreas rurais e, muito provavelmente, a doença cardíaca do irmão deveu-
se a uma infecção pelo tripanossoma.
O paciente apresenta história de infecção de vias aéreas superiores
recente, que é comum em determinados casos de cardiomegalia. Além disso,
refere sinais e sintomas que são característicos de uma insuficiência cardíaca
por um comprometimento da função do ventrículo esquerdo, como dispneia
progressiva, ortopneia e cianose de extremidades, caracterizando uma
síndrome congestiva pulmonar. Não existem evidências de congestão
sistêmica, portanto, provavelmente, o ventrículo direito ainda não está
acometido de forma significativa.
No exame físico, entre os sinais que podem contribuir para o diagnóstico
de CMD, tem-se dispneia e estertores finos em bases pulmonares, que
sugerem uma congestão pulmonar, em decorrência de insuficiência cardíaca
esquerda. O aparelho cardiovascular encontra-se com abafamento de bulhas,
presença de impulso apical no 6º espaço intercostal, a 13 cm da borda
paraesternal esquerda, medindo 3-4 polpas digitas, sugerindo um aumento da
área cardíaca, devido ao progressivo remodelamento causado pelo
Trypanosoma cruzi sobre o músculo cardíaco. Outras alterações são:
extremidades mal perfundidas, com tempo de enchimento capilar de 4
segundos (normal até 3 segundos), o que pode ser consequência do baixo
débito cardíaco.
Entre os exames complementares, tem-se uma bioquímica sem grandes
alterações; portanto, relativamente inespecífica; uma sorologia para
Trypanosoma cruzi positiva, que, junto aos dados clínicos e à cardiomegalia,
evidenciada na radiografia de tórax, confirma o diagnóstico de CMD por
doença de Chagas.
Portanto, tomando conhecimento do caso clínico exposto e entendendo a
clínica da CMD, temos como diagnóstico sindrômico a síndrome dispneica,
já que a dispneia é o principal sintoma do paciente, nos levando à
identificação de uma síndrome congestiva pulmonar; diagnóstico
anatômico/topográfico: cardiomiopatia dilatadora, visto que o paciente
apresenta, ao exame físico, um ictus cordis desviado para esquerda e para
baixo e, à radiografia, uma cardiomegalia; e dentre as etiologias que podem
causar essa síndrome poderíamos pensar nas causas de insuficiência cardíaca
esquerda, em que encontramos a CMD. No caso da CMD do paciente em
questão, temos como etiologia comprovada a doença de Chagas.
Sintoma-guia: Dispneia.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome dispneica.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Cardiopatia dilatadora.
Diagnósticos diferenciais:
Pontos importantes
•
O OBJETIVO DA INSPEÇÃO É AVALIAR A MORFOLOGIA
TORÁCICA, PRESENÇA DE ABAULAMENTOS OU PULSAÇÕES;
•
DIANTE DE SÍNDROME DISPNEICA, DEVE-SE SEMPRE
AVALIAR O CORAÇÃO E OS PULMÕES, EM CONJUNTO.
REFERÊNCIAS
1. Focesatto L, Barros E. Medicina Interna na Prática Clínica. São Paulo: Artmed, 2013.
2. Weigner M, Morgan J. Causas da Cardiomegalia Dilatada. Cardiomiopatia, [s.I.], 26 abr. 2018.
3. Pedrosa R et al. Cardiopatia Chagásica. Rio de Janeiro, nov. 2018.
4. López M, Laurentys-Medeiros J. Semiologia Médica: As bases do diagnóstico clínico. 5. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2004.
5. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.
6. Mcgee S. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. PROPEDÊUTICA DA AUSCULTA
CARDÍACA
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
TERÇO INICIAL DA
PROTOSSÍSTOLE
SÍSTOLE
TERÇO MÉDIO DA
MESOSSÍSTOLE
SÍSTOLE
TERÇO FINAL DA
TELESSÍSTOLE
SÍSTOLE
TODO O PERÍODO DA
HOLOSSÍSTOLE
SÍSTOLE
TERÇO INICIAL DA
PROTODIÁSTOLE
DIÁSTOLE
TERÇO MÉDIO DA
MESODIÁSTOLE
DIÁSTOLE
TERÇO FINAL DA
TELEDIÁSTOLE DIÁSTOLE OU PRÉ-
SÍSTOLE
HOLODIÁSTOLE TODO O PERÍODO DA
DIÁSTOLE
RITMOS TRIPLICES
b) Timbre e tom
Na estenose mitral, a rigidez das valvas causa um tom mais agudo e um
timbre metálico ao se chocarem.
c) Desdobramento
Pode ser fisiológico em até metade da população. Se os componentes
estiverem muito distantes, a suspeita de Bloqueio de Ramo Direito (BRD)
pode ser aventada. Isso porque o atraso da condução elétrica de
despolarização para o ventrículo direito atrasa a sua contração e,
consequentemente, o seu esvaziamento, atrasando o fechamento da valva
pulmonar. Sua onomatopeia será: TLUM – TÁ – TLUM – TÁ.
d) Mascaramento
Como o nome sugere, ocorre uma sobreposição (sopro, por exemplo)
exatamente no momento de B1. Esse ruído novo é mais intenso que o
fisiológico e causa camuflagem.
b) Timbre e tom
Essa bulha passa a ter caráter seco.
c) Desdobramento
Quando se estuda o desdobramento de B2, o foco escolhido é o
pulmonar, pois nele encontramos os 2 componentes. O desdobramento
fisiológico já foi descrito anteriormente, quando falamos sobre aumento do
fluxo sanguíneo durante a inspiração. Os patológicos são:
CLIQUES E ESTALIDOS
2.4. Sopros
Iniciamos um dos pontos mais importantes de toda a ausculta cardíaca,
que é a identificação e classificação dos sopros cardíacos. Os sopros são
decorrentes de alguma alteração do fluxo sanguíneo, como estenose,
dilatação ou qualquer obstáculo ou até mesmo comunicação entre duas
estruturas. Resumindo os mecanismos causadores dos sopros:
AUMENTO DA VELOCIDADE DA
CORRENTE SANGUÍNEA
DIMINUIÇÃO DA VISCOSIDADE
SANGUÍNEA
ESTENOSE
DILATAÇÃO
SOPROS CARDIACOS
• de ejeção:
SÃO CAUSADOS PELA PASSAGEM DO FLUXO SANGUÍNEO POR ESTRUTURAS
ESTENOSADAS (COMO AS VALVAS AÓRTICA E PULMONAR) DURANTE A SÍSTOLE.
CARACTERÍSTICAS: INICIAM PRATICAMENTE APÓS A B1, AGUARDANDO APENAS O
FIM DA CONTRAÇÃO VENTRICULAR ISOVOLUMÉTRICA. INICIALMENTE, A EJEÇÃO
É LENTA, INTENSIFICANDO NO MEIO E VOLTANDO A DIMINUIR A VELOCIDADE NO
FINAL. É JUSTAMENTE POR ESSA RAZÃO QUE O SOPRO (NOS CASOS DAS
ESTENOSES) GANHA O ASPECTO CRESCENTE-DECRESCENTE. O SOPRO TERMINA
SISTÓLICOS
ANTES DA B2. SÃO ENCONTRADAS NA ESTENOSE AÓRTICA E NA PULMONAR.
• de regurgitação:
SURGEM DESDE O INÍCIO DE B1, PODENDO ATÉ MESMO MASCARÁ-LA. OCORREM
DEVIDO A ALGUMA INSUFICIÊNCIA DAS VALVAS AV (MITRAL E TRICÚSPIDE) QUE
NÃO CONSEGUEM MANTER-SE COMPLETAMENTE FECHADAS, PERMITINDO O
REFLUXO SANGUÍNEO PARA OS ÁTRIOS OU PARA O OUTRO VENTRÍCULO, NOS
CASOS DE CIV. SÃO HOLOSSISTÓLICOS, PODENDO RECOBRIR ATÉ B2, E POSSUEM
INTENSIDADE SEMELHANTE DO INÍCIO AO FIM.
b) Localização
Identifica-se auscultando todos os focos cardíacos, porém com muita
atenção, pois um ruído observado em uma área não quer dizer absolutamente
que ele tem origem ali.
c) Irradiação
O primeiro passo é avaliar o foco de maior intensidade; após, direciona-
se o receptor centrifugamente para as demais áreas e tenta seguir o padrão da
irradiação. Os fatores que influenciam a irradiação são a sua intensidade e a
direção da corrente sanguínea. Ora, quanto maior a intensidade, maior a
irradiação. De igual forma, a irradiação segue, geralmente, o fluxo
sanguíneo.
d) Intensidade
Como a avaliação é demasiadamente subjetiva, o ideal é usar o sistema
de cruzes (+ a 6+). Alguns autores utilizam o sistema de 4 cruzes.
+: débil, necessitando de grande atenção
++: discreto, porém audível de imediato
+++: moderadamente intenso
++++: intenso, acompanhado de frêmito, somente audível quando o
estetoscópio se mantém em contato completo com a pele do paciente
+++++: audível mesmo quando o contato do estetoscópio é parcial com a
pele do paciente
++++++: pode ser auscultado sem que haja necessidade do contato de
qualquer parte do estetoscópio com a pele do paciente
A intensidade varia de acordo com a sua transmissão (pessoas obesas ou
com enfisema apresentarão sopros subestimados, por exemplo) ou o seu
mecanismo propriamente dito (velocidade do fluxo e volume). Nas
comunicações intraventriculares, por exemplo, quanto menor a
comunicação, mais intenso será o sopro, pois o sangue fluirá de uma câmara
à outra com velocidade maior. Agora, se o volume sanguíneo é pequeno, o
sopro terá igualmente intensidade menor.
e) Timbre e Tom
Juntos, formam a qualidade do som, que é determinada pelo volume e
tipo de mecanismo que causou o turbilhonamento sanguíneo. Pode receber a
denominação de rude, aspirativo, musical, piante, ruflar e tantos outros.
AUSCULTA DO CORAÇÃO NOS PRINCIPAIS DEFEITOS OROVALVARES ADQUIRIDOS E NAS ANOMALIAS CONGÊNITAS
MAIS FREQUENTES
INSUFICIÊNCIA MITRAL
AQUI OCORRE O REFLUXO, A REGURGITAÇÃO DO SANGUE DO VENTRÍCULO PARA O
ÁTRIO DURANTE A SÍSTOLE, DECORRENTE DO MAU FECHAMENTO DESSA VALVA.
TAMBÉM PODE SER DECORRENTE DE FEBRE REUMÁTICA, MAS TAMBÉM DE
ENDOCARDITE INFECCIOSA, INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO, CARDIOMIOPATIAS
ETC. O ACHADO CLÁSSICO É O SOPRO SISTÓLICO DE REGURGITAÇÃO. LOCALIZA-SE
NA ÁREA DE MESMO NOME COM IRRADIAÇÃO PARA REGIÃO AXILAR IPSILATERAL.
A INTENSIDADE SERÁ DE ACORDO COM A QUANTIDADE DE SANGUE REFLUÍDO,
PODENDO ALCANÇAR 6+. O TIMBRE E O TOM SÃO VARIÁVEIS. PODE MASCARAR B1 E
DEIXAR A B2 HIPERFONÉTICA SE HOUVER AUMENTO DE PRESSÃO NO TERRITÓRIO
PULMONAR.
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 8. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Razão de verossimilhança
• Quanto maior a RV positiva = MAIS O RESULTADO POSITIVO AUMENTA A
PROBABILIDADE DE DOENÇA.
Fonte: Autor
Intensidade variável B1
DETECÇÃO DA DISSOCIAÇÃO
58 98 24.4 0.4
ATRIOVENTRICULAR
Batida paradoxal
P2 ruidoso
DETECÇÃO DE HIPERTENSÃO
PULMONAR EM PACIENTES COM 58-96 19-46 NS NS
ESTENOSE MITRAL
DETECÇÃO DE HIPERTENSÃO
PULMONAR EM PACIENTES COM 38 98 17.6 NS
CIRROSE
P2 palpável
DETECÇÃO DE HIPERTENSÃO
96 73 3.6 0.05
PULMONAR
B2 aumentada ou diminuída
Fonte: McGee³.
Achado
Achado ausente
presente
Sopro funcional
DETECÇÃO DE ESTENOSE
90 85 5.9 0.1
AÓRTICA LEVE OU MODERADA
DETECÇÃO DE ESTENOSE
83-98 71-76 3.5 0.1
AÓRTICA SEVERA
DETECÇÃO REGURGITAÇÃO
56-75 89-93 5.4 0.4
MITRAL LEVE OU MODERADA
DETECÇÃO DE REGURGITAÇÃO
73-93 61-76 2.6 0.3
MITRAL SEVERA
DETECÇÃO DE REGURGITAÇÃO
TRICÚSPIDE LEVE OU 23 98 14.6 0.8
MODERADA
DETECÇÃO DE REGURGITAÇÃO
20-62 94-98 9.6 NS
TRICÚSPIDE SEVERA
DETECÇÃO DE DEFEITO DE
90 96 24.9 NS
SEPTO VENTRICULAR
DETECÇÃO DE PROLAPSO DA
55 96 12.1 0.5
VALVA MITRAL
DETECÇÃO DE REGURGITAÇÃO
54-87 75-98 9.9 0.3
AÓRTICA LEVE E MODERADO
DETECÇÃO DE REGURGITAÇÃO
88-98 52-88 4.3 0.1
AÓRTICA SEVERA
DETECÇÃO DE REGURGITAÇÃO
15 99 17.4 NS
PULMONAR
Fonte: McGee³.
CASO CLÍNICO
História clínica
M.A.S, sexo feminino, 82 anos, natural e residente de Maracanaú, região
metropolitana do Ceará, parda, viúva, evangélica, com ensino fundamental
completo. Vem à consulta no pronto-atendimento, acompanhada pela
nora,com queixa de “falta de ar” há 7 dias, com piora significativa desde
ontem.
Acompanhante relata que a paciente já se queixava de dispneia, há cerca
de 3 anos, apenas aos moderados esforços, tais como caminhar duas quadras,
porém fazia sua própria refeição, banhava-se só e não aparentava dispneia
para realização de atividades básicas de vida diária e atividades
instrumentais. Após viagem de ônibus para visitar os filhos no interior do
Estado, iniciou quadro de tosse produtiva, associada à febre baixa. Os
parentes também notaram que ela apresentava dificuldade de dormir deitada,
necessitando ficar praticamente sentada para conseguir descansar. Foi
medicada com antitussígenos e xarope caseiro; no entanto, piorou do quadro
no dia seguinte, apresentando alteração do nível de consciência e intensa
dispneia, motivo pelo qual os filhos trouxeram-na ao pronto-socorro da
cidade.
Medicações em uso: Hidroclorotiazida 50 mg (1-0-0), Losartana 50 mg (1-0-
0) e Metformina 500 mg (1-1-1)
Antecedentes pessoais: hipertensa e diabética diagnosticada há 20 anos,
ambas compensadas. Queda da própria altura, com evolução para pequena
lâmina de hematoma subdural, optado, na ocasião, pela equipe de
Neurologia, por tratamento clínico. Varizes em ambas as pernas, com ferida
aberta de difícil cicatrização.
Hábitos: nega etilismo e tabagismo.
Antecedentes familiares: não recorda a idade nem a causa da morte dos pais.
Lembra-se apenas de que um irmão morreu de câncer, porém não sabe qual
tipo. Não sabe informar também quais doenças os demais irmãos
apresentam.
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 8,7 g/dL, Ht 26%, VCM 113 fl, leucócitos 13.800,
plaquetas 300.000, creatinina 1,04 mg/dL, ureia 29 mg/dL, sódio 138 mg/dL,
potássio 3,3 mg/dL, TGO 32, TGP 21, glicose 80 mg/dL, TSH 2,89 µUI/mL,
sorologias virais e VDRL negativos
Tomografia de crânio: atrofia cortical difusa, sem outras alterações.
Pontos de discussão
1. QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir
o diagnóstico levantado?
Discussão
Você inicialmente deve estar se perguntando o que um caso de
pneumonia está fazendo no capítulo de ausculta cardíaca. Se a suspeita
inicial foi pneumonia, você está no raciocínio clínico exato. Contudo, como
explicar os achados do sistema cardiovascular? Eles são consequências,
causas ou achados sem significado clínico para esse caso?
A insuficiência cardíaca é uma doença cada vez mais comum na nossa
população devido ao seu envelhecimento nas últimas décadas. Ela se
subdivide clinicamente em insuficiência ventricular direita ou esquerda (ou
até mesmo mista), o que determinará sinais e sintomas distintos. Pode ser
dividida ainda em sistólica (70%) e diastólica. Embora com manifestações
semelhantes, a insuficiência diastólica traz consigo um quadro mais brando.
Existem várias causas etiológicas, desde infecciosas até uso de drogas
cardiotóxicas. Todavia, independentemente da etiologia inicial, a evolução e
fisiopatologia é a mesma. Em muitos casos, é impossível saber o fator
inicial, pois ele pode ter se dado há décadas, como no nosso caso, em que a
paciente já apresentava, há anos, dispneia, porém nunca era realizada
investigação, e, após uma descompensação, aqui causada pela infecção
pulmonar, apresentou sintomatologia franca. Quando o fator agressivo não é
retirado, como, por exemplo, uma pressão arterial elevada, ou quando o
paciente não faz uso de drogas cardioprotetoras (no nosso caso a paciente
nem sabia que apresentava insuficiência cardíaca), ocorre o que chamamos
de remodelamento cardíaco, ou seja, ocorre um remodelamento do tecido
miocárdico ventricular.
O organismo se protege dos sintomas da insuficiência aumentando a
força contrátil do miocárdio, e posteriormente até necessitando da ativação
do sistema renina-angiotensina-aldosterona, tudo isso para compensar a
carga hemodinâmica, para manter uma boa perfusão tecidual, porém chega
um momento em que as forças compensatórias não são mais suficiente para
manter a homeostase. Isso ocorre classicamente quando o paciente
desenvolve uma infecção, tipicamente a Pneumonia Bacteriana Adquirida na
Comunidade (PAC), o que ocorreu justamente com a nossa paciente.
Os sintomas vão desde os cardíacos até os extracardíacos. Os cardíacos
são: taquicardia (para compensar a sobrecarga); ritmos anormais, tais como o
ritmo de galope; sopros; intolerância aos esforços; hiperfonese de 2ª bulha
cardíaca; cardiomegalia; arritmias; pressão arterial convergente. Os
extracardíacos são decorrentes da congestão venosa: dispneia e tosse;
hemoptoicos; estertores pulmonares; fadiga; cianose; hepatomegalia; edema;
ingurgitamente jugular; derrames cavitários.
No caso supracitado, estamos diante de uma idosa que, após quadro de
PAC, iniciou dispneia intensa e outros sinais e sintomas. Temos, portanto, a
dispneia como sintoma-guia.
Inicialmente, pensamos ser devido ao quadro pulmonar, e isso é correto,
porém cabe-nos investigar se é de origem primária do pulmão ou secundária
ao coração ou outra alteração, como quadros hematológicos, ou até mesmo
uma junção de mais que uma causa, algo muito comum na prática clínica
diária.
Como o sintoma-guia é dispneia, esse fato nos faz pensar em
insuficiência ventricular esquerda. Como o ventrículo esquerdo não
consegue bombear sangue para a circulação sistêmica de maneira adequada,
há, retrogradamente, congestão venocapilar no tecido pulmonar, causando os
sintomas extracardíacos já citados, como a dispneia.
A dispneia pode ter diversas formas:
a. DISPNEIA DE ESFORÇO: COMO O NOME SUGERE, É
AQUELA QUE O PACIENTE SE SENTE CANSADO APÓS
EXERCÍCIO FÍSICO, QUE ANTES REALIZAVA SEM QUEIXAS;
PODE SER GRADUADA AOS PEQUENOS, MÉDIOS OU GRANDES
ESFORÇOS; A NOSSA PACIENTE APRESENTAVA A DISPNEIA
AOS MODERADOS ESFORÇOS;
b. Dispneia de decúbito: na posição de decúbito dorsal, o sangue
represado nos leitos venosos dos membros inferiores e esplâcnicos
chegam ao ventrículo direito, de onde é bombeado para o pulmão, o que
causa aumento da congestão venosa nesse órgão. Note que a paciente
necessitou ficar sentada para dormir, o que denota grande congestão
venocapilar pulmonar;
c. Dispneia paroxística: ocorre mais durante a noite e, por essa razão, é
mais conhecida como dispneia paroxística noturna. Durante o sono, o
centro respiratório diminui a sua sensibilidade, o que faz com que a
paciente consiga inicialmente dormir, porém, pelo mesmo motivo citado
na dispneia de decúbito, o leito venovascular do pulmão se encharca. No
meio da madrugada, a paciente acorda com intensa dispneia, necessitando
sentar-se à beira do leito ou da cama para conseguir respirar;
d. Dispneia periódica de Cheyne-Stokes: a paciente inicialmente
apresenta movimentos respiratórios cada vez mais intensos até um
máximo, então começa a diminuir, podendo ficar em apneia. Esse ritmo é
cíclico e caracteriza uma doença mais grave.
Nossa paciente também apresentou estertores em ambas as bases, porém
mais audível à esquerda (isso porque na base direita está formada uma
consolidação devido à PAC). Esses sinais são os mais precoces da congestão
pulmonar e o seu reconhecimento é fundamental para evitar iatrogenias, tais
com hiperidratação. Às vezes, pode estar associada a broncoespamos,
caracterizados como sibilos, dando o que chamamos de asma cardíaca,
apresentada pela nossa paciente.
Como consequência da diminuição do débito cardíaco, podem surgir
sintomas decorrentes da má oxigenação cerebral. Esses sintomas podem ser
desde irritabilidade ou fadiga até alteração do nível de consciência. Aqui,
mais uma vez, notamos um sinal que é observado tanto na PAC como na
insuficiência cardíaca ventricular esquerda, fato que demonstra que várias
etiologias podem se sobrepor.
A paciente está taquicárdica, o que pode ser decorrente de um quadro de
sepse ou um mecanismo compensatório, na tentativa de manter um débito
cardíaco minimamente aceitável. Os pacientes poderão se queixar de
palpitações.
No exame físico dessa paciente, encontramos o ritmo em três tempos,
conhecido como ritmo de galope, ou seja, as duas bulhas cardíacas clássicas
(B1 e B2), mais uma outra bulha. Aqui não pode entrar na contagem como
bulha um sopro, um estalido ou um atrito. Esse terceiro ruído ocorrerá dentro
da diástole, seja no seu início (protodiástole) ou até no seu final (telediástole
ou pré-sístole). O ritmo de galope é um exemplo de 3ª bulha patológica e
recebe esse nome porque lembra um cavalo galopando. Sua onomatopeia
fica dessa forma, lida paulatinamente: PÁ-TÁ-TÁ PÁ-TÁ-TÁ PÁ-TÁ-TÁ. É
audível com mais clareza usando-se a campânula nos focos mitral e
tricúspide, com o paciente em decúbito lateral esquerdo. Em alguns casos, é
mais palpável que audível. Esse ritmo pode representar uma disfunção
miocárdica.
O exame cardiovascular de nossa paciente também apresentou uma
alteração na palpação dos pulsos radiais, classificada como pulso alternante,
que é decorrente da variação do número de fibras que se contraem em cada
batimento. Quando poucas fibras se contraem, o pulso será fraco. O oposto
também é verdadeiro.
Diante do quadro exposto, temos como diagnóstico sindrômico:
Síndrome dispneica. Anatômico/Topográfico: Coração e Pulmão e dentre as
etiologias que podem causar essa síndrome, ficamos com a Insuficiência
ventricular esquerda (aqui, investigar a causa primária: HAS? Isquêmica?
Viral?) e PAC por Streptococcus pneumoniae, respectivamente.
RAZÃO DE
VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
Achado
Achado ausente
presente
Sinais vitais
Exame pulmonar
Exame cardíaco
MURMÚRIO DE REGURGITAÇÃO
25 89 — —
MITRAL
Outros
HEPATOMEGALIA 3 97 — —
Fonte: McGee³.
Sintoma-guia: Dispneia.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome dispneica.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Insuficiência ventricular esquerda.
Diagnósticos diferenciais:
Pontos importantes
1. DIANTE DE SÍNDROME DISPNEICA, DEVE-SE SEMPRE
AVALIAR O CORAÇÃO E OS PULMÕES, EM CONJUNTO;
2. O tratamento da PAC unicamente não seria suficiente para o manejo
dessa paciente. Logo, a correta avaliação cardíaca iria demonstrar
insuficiência ventricular e consequente tratamento domiciliar de
manutenção.
3. Sempre diferenciar a insuficiência ventricular esquerda da direita, e
se diastólica ou sistólica.
REFERÊNCIAS
1. LÓPEZ M, LAURENTYS-MEDEIROS J. SEMIOLOGIA MÉDICA: AS BASES DO
DIAGNÓSTICO CLÍNICO. 5. ED. RIO DE JANEIRO: REVINTER; 2004.
2. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.
3. Mcgee S. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
• Superior: Diafragma;
• Inferior: Assoalho pélvico;
• Lateral: Músculos oblíquos e transverso do abdome;
• Anterior: Músculos reto abdominais;
• Posterior: Músculo quadrado lombar e psoas.
Este conjunto é dividido em nove regiões anatômicas que se relacionam
com órgãos cuja localização, forma, tamanho e limites devem ser
memorizados. As linhas da divisão anatômica do abdome são 7: 3
horizontais, 2 oblíquas e 2 arqueadas.
Fonte: Autor.
Quando um fenômeno se localiza nas regiões 1, 2 e 3, pode ser referido
em andar superior do abdome; quando em regiões 4, 5, e 6, em andar médio
do abdome, e quando em 7, 8 e 9, em andar inferior do abdome.
Outra maneira de dividir topograficamente o abdome, que pode facilitar a
referência a dados da anamnese ou do exame físico, é a divisão em
quadrantes, tomando como referência 1 linha horizontal e 1 linha vertical.
Fonte: Autor.
Segue abaixo uma lista com os principais órgãos presentes em cada
região abdominal:
GRANDE ACÚMULO DE TECIDO ADIPOSO NO SUBCUTÂNEO FAZ COM QUE O ABDOME CAIA
AVENTAL
SOBRE AS COXAS, QUANDO PACIENTE ESTÁ EM PÉ. PRESENTE EM GRANDES OBESOS.
•
Movim
entos
peristált
icos;
• Massas
abdominais e abaulamentos (identificadas à inspeção tangencial);
4. AUSCULTA
Fonte: Autor.
5. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 3. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
Sensibilidade SE MEU PACIENTE TEM UMA DOENÇA, QUAL PROBABILIDADE DE UM
TESTE DIAGNÓSTICO SER POSITIVO?
Fonte: Autor.
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
EXAME ABDOMINAL
SENSILIDADE NO
QUADRANTE INFERIOR 65-100 1-92 1,9 0,3
DIREITO
DOR NO PONTO DE
50-94 75-86 3,4 0,4
MCBURNEY
OUTROS SINAIS
SEM
SINAL DO PSOAS 13-42 79-97 2,0
SIGNIFICÂNCIA
SEM SEM
SINAL DO OBTURADOR 8 94
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
ESCORE DE ALVARADO
SEM
5-6 PONTOS 4-48 - -
SIGNIFICÂNCIA
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
SEM SEM
FEBRE 29-44 37-83
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
SENSIBILIDADE NO
QUADRANTE SUPERIOR 60-98 1-97 2,7 0,4
DIREITO
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
INSPEÇÃO DO ABDOME
SEM
PERISTALTISMO VISÍVEL 6 100 18,8
SIGNIFICÂNCIA
PALPAÇÃO DO ABDOME
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
SEM SEM
DEFESA ABDOMINAL 20-63 47-78
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
SEM SEM
RIGIDEZ 6-18 75-99
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
AUSCULTA DO ABDOME
SONS INTESTINAIS
40-42 89-94 5,0 0,6
HIPERATIVOS
EXAME RETAL
SEM SEM
SENSIBILIDADE AO TOQUE 4-26 72-94
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
RAZÃO DE
VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
Achado
Achado ausente
presente
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
ACHADO SENSIBILIDADE (%) ESPECIFICIDADE (%)
DETECÇÃO DE HIPERTENSÃO
27-56 89-96 5,6 0,6
RENOVASCULAR
DETECÇÃO DE HIPERTENSÃO
39 99 38,9 0,6
RENOVASCULAR
CASO CLÍNICO
História clínica
F.A.V., sexo masculino, 74 anos, procedente e residente em Santana do
Acaraú, Ceará, pardo, casado, aposentada, evangélico, com escolaridade
ensino fundamental incompleto. Procura serviço hospitalar devido à “pele
amarelada e dor na barriga”, trazido pela esposa.
Paciente relata que há 3 semanas iniciou dor em epigastro e hipocondrio
direito, constante, sem relação com ingestão alimentar e sem fatores de
piora. Relata melhora parcial ao uso de analgésicos. Refere também quadro
de colúria há 2 semanas. O que mais o preocupou foi a coloração amarelada
da pele e olho, iniciada há 7 dias, acompanhada de prurido, que melhorou ao
uso de hidratantes, mas não cessou. Esposa relata que há 6 meses paciente
não se sente bem, relata que ele apresenta fadiga e indisposição – o que a
preocupou, pois é o homem trabalhador –, mas não quis logo procurar
auxílio médico. Relata perda de peso nesse período, cerca de 6 kg. Paciente
nega alterações de hábito intestinal, relata hiporexia, Nega febre, nauseas e
vômitos. Nega disfagia, odinofagia.
Medicações em uso: Captopril 25 mg (1-0-0), Hidroclorotiazida 25 mg (1-0-
0)
Antecedentes pessoais: Hipertenso há 12 anos. Nega cirurgias anteriores.
Hábitos: Tabagismo: 30 maços/ano, cessado tabagismo a 20 anos. Etilista –
consumo de 1000 ml de destilado durante finais de semana.
Antecedentes familiares: Sem antecedentes familiares relevantes.
Exame Físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Regular estado geral, hipocorado (++/4+),
hidratado, acianótico, ictérico de mucosa e escleras (++/4+) e afebril,
emagrecido, eupneico, consciente e orientado.
Dados vitais: FC 65 bpm, FR 18 irpm, Tax 36,5°C, PA 120 x 70 mmHg, em
decúbito e sentado, no membro superior esquerdo.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: Orientado em tempo-espaço, Miniexame do estado
mental (MEEM) 27 pontos – perdeu pontos na evocação de palavras. Sem
alterações de pares cranianos, massa muscular hipotrófica, tônus e força
preservada. Sinal de Romberg negativo, sem déficit de sensibilidade
vibratória, tátil superficial e térmica. Reflexos preservados. Marcha atípica.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à
percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de
turgência jugular patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas,
em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome plano, sem
abaulamentos, retrações ou cicatrizes, RHA presentes. À percussão
timpanismo com macicez em área hepática. Traube livre. Hepatomegalia
dolorosa de consistência endurecida, contornos regulares e borda romba 5
cm abaixo do rebordo costal direito e epigastro, sem refluxo hepato-jugular.
Sinal de Murphy positivo. Ausência de ascite.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem
perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, cheios e simétricos, sem alterações
de cianose. Presença de xerose cutânea.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: ausência de achados
relevantes.
Exames Complementares
Exames laboratoriais:
• BT 3.81 mg/dL (BD 2.23 / BI 1.58), TGO 222 U/L, TGP 381 U/L,
GGT 2219 U/L, FA 1114 U/L
Discussão
A icterícia é a manifestação visível da hiperbilirrubinemia e, em geral,
pode ser notada no exame físico quando a bilirrubina sérica exceder de 2 a
2,5 mg/dL. O ensino tradicional relativo ao paciente ictérico divide o
mecanismo de hiperbilirrubinemia em pré (excesso de produção de
bilirrubina), intra e extra-hepático (como na obstrução biliar). Na maioria
dos pacientes com icterícia, talvez seja clinicamente mais útil pensar em
doença hepática ou biliar que cause hiperbilirrubinemia conjugada (direta),
porque isso representa a maioria das causas clinicamente importantes de
icterícia.
O termo hiperbilirrubinemia não conjugada (indireta) é usado quando a
bilirrubina conjugada (ou fração direta) não excede 15% da bilirrubina total,
o que quase sempre é causado por hemólise ou por síndrome de Gilbert.
Nessas doenças, a bilirrubina sérica é quase sempre < 5 mg/dL e geralmente
não há outros sinais clínicos de hepatopatia. Além disso, não deve haver
bilirrubinúria (somente a bilirrubina conjugada pode ser filtrada e excretada
pelos rins). A hemólise, com frequência, é clinicamente aparente, como na
anemia falciforme ou na anemia hemolítica autoimune. A síndrome de
Gilbert é uma doença benigna causada por deficiência de conjugação
enzimática hepática da bilirrubina, que resulta em hiperbilirrubinemia não
conjugada intermitente. A concentração de bilirrubina total normalmente é <
4 g/dL, e a condição, em geral, é precipitada por eventos como estresse,
jejum e doença febril. Ela não está associada à disfunção hepática e não
necessita de tratamento.
A hiperbilirrubinemia conjugada (direta) quase sempre reflete doença
hepatocelular ou obstrução biliar. Essas duas condições clínicas podem ser
diferenciadas pelo padrão de elevação das enzimas hepáticas. A elevação dos
níveis séricos de AST e de ALT é característica de lesão hepatocelular
resultante de inflamação/destruição dos hepatócitos e de liberação das
enzimas no sangue. O nível sérico de fosfatase alcalina aumenta na colestase
como consequência de inflamação, de destruição ou de obstrução dos duetos
biliares intra e extra-hepáticos, poupando relativamente os hepatócitos. Os
níveis séricos de AST e ALT podem estar levemente aumentados na
colestase, mas em geral não, até os níveis observados na lesão hepatocelular
aguda primária. Outros exames, como albumina sérica e TP, comumente
refletem a capacidade de os hepatócitos sintetizarem proteínas, como os
fatores de coagulação. Quando são anormais, geralmente refletem doença
hepatocelular aguda primária.
O paciente discutido neste caso tem indícios de colestase e o primeiro
exame diagnóstico em um paciente com colestase geralmente é a
ultrassonografia. Ela não é invasiva e é muito sensível na detecção de
cálculos na vesícula e de dilatação biliar intra e extra-hepática. No entanto,
cálculos obstrutivos que causam icterícia normalmente estão associados à
dor epigástrica em cólica ou no quadrante superior direito. Dilatação extra-
hepática sem evidência de cálculos exige análise com tomografia
computadorizada ou colangiopancreatografia retrógrada endoscópica
(CPRE) para detectar cálculos ocultos ou estenoses e excluir causas
malignas de obstrução do ducto biliar comum e do ducto pancreático,
incluindo colangiocarcinoma, câncer de pâncreas e câncer da ampola
(ampola de Vater).
Outras causas possíveis são estenoses, que podem resultar de cirurgia
biliar anterior, doenças inflamatórias prévias, como pancreatite (raramente),
doenças inflamatórias da árvore biliar ou infecção, no caso de pacientes com
HIV. As duas doenças primárias mais importantes são colangite esclerosante
primária e cirrose biliar primária.
As complicações da obstrução biliar incluem colangite aguda, como
resultado de infecção ascendente, ou cirrose hepática secundária, se a
obstrução for crônica ou recidivante. No caso citado, o paciente tem icterícia
indolor, enzimas hepáticas, que indicam processo colestático, e fezes claras,
que sugerem obstrução do fluxo de bile para o intestino. Em virtude de ele
não ter história de cirurgia abdominal ou biliar que poderiam causar
estenose, tumor maligno é a causa mais provável da obstrução biliar. O
tumor maligno mais comum que se manifesta desse modo é o câncer
pancreático. O paciente com tal quadro clínico deve ser submetido a um
exame de imagem do abdome, que inclui ultrassonografia do quadrante
superior direito, para avaliar a árvore biliar, assim como tomografia
computadorizada ou ressonância magnética (RM), para visualização do
pâncreas. A ultrassonografia endoscópica com aspiração por agulha fina
precisa no estabelecimento de diagnóstico histológico.
De acordo com o INCA-MS, em 2017, o câncer de pâncreas foi a quinta
maior causa de morte no sexo feminino e sétimo no sexo masculino. O pico
da incidência é na sétima década da vida, com dois terços dos casos
ocorrendo em pessoas com idade acima de 65 anos. Há uma leve
predominância masculina e incidência mais alta na população negra. A
média de sobrevida é de nove meses, sendo que apenas 3% dos doentes
sobrevivem por cinco anos. Metástases clinicamente aparentes são
encontradas em 80% dos pacientes na ocasião do diagnóstico. Em pacientes
sem metástases óbvias, a melhor esperança de cura é a ressecção cirúrgica
por duodenopancreatectomia (cirurgia de Whipple) que, em mãos
experientes, tem mortalidade perioperatória de < 5%. O índice de recidiva do
câncer é alto, mesmo que o tumor seja considerado ressecável, e muitos
programas de tratamento incluem quimioterapia neoadjuvante. Tratamento
paliativo alternativo inclui colocação de stent em ducto pancreático e biliar
comum para aliviar a obstrução.
Sintoma-guia: Icterícia
Diagnóstico sindrômico: Icterícia colestática
Diagnóstico anatômico/topográfico: Colestase biliar
Diagnósticos diferenciais:
• Coledocolitiase
• Estenose de colédoco
• Crrose biliar primária (CBP)
• Colangite esclerosante primária (CEP)
• Tumor de Cabeça de Pâncreas
• Tumor de Ampola de Vater
• Colangiocarcinoma
Hipotese diagnóstica: Tumor periampular
Pontos importantes
1. PARA MELHOR AVALIAÇÃO DO ABDOME, PODEMOS
DIVIDI-LO TOPOGRAFICAMENTE EM NOVE REGIÕES:
HIPOCÔNDRIO DIREITO, EPIGÁSTRIO, HIPOCÔNDRIO
ESQUERDO, FLANCO DIREITO, MESOGÁSTRIO, FLANCO
ESQUERDO, FOSSA ILÍACA DIREITA, HIPOGÁSTRIO E
FOSSA ILÍACA ESQUERDA;
2. No exame do abdome, recomenda-se que a ausculta seja a segunda
etapa, após a inspeção;
3. O encontro de sopros na ausculta abdominal é indicativo de
situações patológicas como isquemia intestinal, obstrução parcial da
luz de um vaso ou aneurisma de aorta abdominal.
REFERÊNCIAS
1. LOPEZ M. SEMIOLOGIA MÉDICA: AS BASES DO DIAGNÓSTICO CLÍNICO. 5. ED. RIO
DE JANEIRO: REVINTER; 2004.
2. Porto CS. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2014.
3. Bickley lS. Bates: Propedêutica Médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
4. Meneghelli UG, Martilnelli ALC. Principios de semiotécnica e de interpretação clínica do
abdômen. Simpósio semiologia, Capítulo IX. Medicina, Ribeirão Preto. 2014; 37: 267-85.
5. Toy EC, Patlan Jr JT. Casos clínicos em medicina interna. Porto Alegre: AMGH; 2014.
6. Moura CAGG. Raciocínio clínico: diagnóstico diferencial à beira do leito. 1. ed. Salvador:
Sanar; 2018.
7. McGee, Steven R. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th [edition]. | Philadelphia, PA:
Elsevier, [2018]
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. PALPAÇÃO
Constitui uma etapa de fundamental importância na propedêutica
abdominal, pois, por seu intermédio, colhem-se informações essenciais para
a elaboração do raciocínio clínico com o fim de se realizar o diagnóstico.
Permite tanto a avaliação das características da parede abdominal e do seu
conteúdo quanto pode reforçar a relação médico-paciente por meio do
contato físico do examinador e o paciente.
Tem como objetivo os seguintes itens:
• AVALIAR O ESTADO DA PAREDE ABDOMINAL;
b. Reconhecer as condições anatômicas das vísceras abdominais e
detectar alterações de sua consistência;
c. Explorar a sensibilidade abdominal.
Importante observar que, em condições normais, não se consegue
distinguir, pela palpação, todos os órgãos abdominais. Com o objetivo de
sistematizar a palpação abdominal, seguiremos a seguinte ordem:
a. Palpação superficial;
a. Palpação profunda (Inclui a palpação dos órgãos abdominais);
a. Manobras especiais de palpação.
2.1. Técnica
A palpação deve ser realizada com o examinador em pé, ao lado direito
do paciente, em mesa de exame provida com um pequeno travesseiro que
apoie cabeça e ombros com membros superiores estendidos ao longo do
tronco, além dos membros inferiores estendidos e descruzados. As mãos do
examinador não devem estar frias, sendo recomendado aquecê-las. O
paciente deve ser orientado a se manifestar caso sinta dor ou qualquer
sensação desagradável; para isso o examinador também deve estar atento às
fácies do paciente durante a palpação abdominal.
Podem ser realizar as formas: mono ou bimanual, mono ou bidigital, e
com as mãos superpostas.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
PONTOS
LOCALIZAÇÃO IMPORTÂNCIA
ABDOMINAIS
a. Localização;
a. Forma;
a. Volume;
a. Sensibilidade;
a. Consistência;
a. Mobilidade;
a. Pulsatilidade.
2.1.3. Palpação do fígado
Existem várias técnicas utilizadas para a palpação hepática. O
procedimento fundamental consiste em palpar o hipocôndrio direito e o
epigástrio, executando a palpação junto ao rebordo costal direito coordenada
com os movimentos respiratórios. Durante a expiração, a mão do
examinador ajusta-se à parede abdominal, sem fazer compressão ou se
movimentar. Durante a inspiração, a mão do examinador, ao mesmo tempo
em que comprime, é movimentada para cima, buscando detectar a borda
hepática.
Fonte: Autor.
Técnica 2: MÉTODO DE MATHIEU
O examinador posiciona-se à direita do tórax do paciente com as costas
voltadas para o seu rosto. A seguir, coloca as mãos paralelas sobre o
hipocôndrio direito do paciente e, com as extremidades dos dedos fletidos,
formando garras, tenta palpar a borda hepática durante a inspiração
profunda.
Fonte: Autor.
a. FINA
BORDA a. ROMBA
a. NORMAL
SUPERFÍCIE
a. REGULAR
a. IRREGULAR
SENSIBILIDADE
a. DOLOROSO
a. INDOLOR
a. NORMAL
CONSISTÊNCIA a. FIRME (AUMENTADA)
a. DIMINUÍDA
REFLUXO HEPATOJUGULAR
a. PRESENTE
a. AUSENTE
AUSCULTA
a. COM SOPRO
a. SEM SOPRO
HEPATITE
ESTEATOSE ICC CIRROSE METÁSTASE CÂNCER
VIRAL
Refluxo
AUSENTE PRESENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE
Hepatojugular
3. PERCUSSÃO
Constitui um complemento à palpação. Por seu intermédio, pode-se
identificar a presença de ar livre, líquidos e massas intra-abdominais.
Também é útil para dimensionar órgãos maciços como fígado e baço. Deve-
se iniciar sempre fora da área de maior sensibilidade, estendendo-se a todo o
abdome com a mesma intensidade.
3.1. Técnica
• COM O DEDO MÉDIO DE UMA DAS MÃOS EM
HIPEREXTENSÃO (FLEXÍMETRO), APOIE A ARTICULAÇÃO
INTERFALANGIANA DISTAL FIRMEMENTE NA REGIÃO A SER
PERCUTIDA. EVITE O CONTATO DA SUPERFÍCIE A SER
PERCUTIDA COM QUALQUER OUTRA REGIÃO DA MÃO;
b. Posicione o antebraço direito da outra mão próximo à superfície,
com a mão levantada. O dedo médio deve ficar parcialmente fletido,
levantado e suspenso, pronto para golpear;
c. Mantenha as articulações do ombro e cotovelo fixos e, com a mão
que irá percutir, golpeie com a ponta do dedo médio (plexor) o dedo
médio (plexímetro) que está apoiado na superfície, mirando na articulação
interfalangiana distal;
d. O dedo que golpeia deve estar quase em ângulo reto com o dedo que
é golpeado. É recomendado que se mantenha as unhas curtas para não se
machucar ou, por ventura, machucar o paciente;
e. Afaste rapidamente o dedo que golpeia, para evitar abafar as
vibrações que foram criadas.
b) Sinal de Jobert
Representa a presença de ar na região hepática, que pode decorrer de
uma interposição de alça intestinal e pneumoperitôneo. É observado pelo
examinador quando ocorre a presença de som timpânico ou hipertimpânico
na região de projeção hepática.
c) Sinal de Torres-Homem
Ocorre quando o paciente refere dor abdominal em região do hipocôndrio
direito quando o examinador realiza a percussão sobre a projeção da área
hepática. Está relacionado a processos infecciosos, como abscesso hepático.
a) Sinal do Piparote
A face palmar de uma das mãos é posicionada em um dos flancos do
paciente e com a outra mão o examinador dispara “piparotes” no outro
flanco do paciente. O abalo produzido pelos piparotes é transmitido ao
líquido ascítico e percebidos pela palma da mão posicionada no flanco
oposto. Para que as ondas não sejam transmitidas ao lado oposto pela parede
abdominal, o paciente ou um assistente posiciona a borda cubital da sua mão
na linha mediana do abdome. Esse sinal é característico de grandes ascites,
não sendo efetivo em ascites de médio ou pequeno volume.
Fonte: Autor.
b) Semicírculos de Skoda
Com o paciente em decúbito dorsal, o líquido ascítico tende a se
depositar nas regiões de flanco e hipogastro; assim, uma percussão realizada
desde o epigastro em direção aos flancos e andar inferior do abdome,
revelará uma transição do som timpânico para o maciço ou submaciço,
formando uma linha semicircular com concavidade voltada para região
epigástrica.
c) Macicez Móvel
Quando uma ascite de médio volume, o líquido livre na cavidade
peritoneal se acumula em flancos. Assim, a percussão dessa região se
mostrará com macicez ou submacicez. Posicionando o paciente em decúbito
lateral, direito ou esquerdo, o líquido livre se deslocará para a posição do
decúbito e o lado contralateral será esvaziado, apresentando, então, uma
percussão timpânica.
3.6. Percussão Renal
Existem pontos na região lombar cuja palpação pode despertar dor, na
vigência de afecções renais e uretéricas, tais como pielonefrite, tuberculose
renal e litíase renal. Assim, em situações em que há algum processo
inflamatório retroperitoneal, o abalo produzido por golpes com a borda
cubital da mão no ponto lombar costovertebral (no vértice do ângulo
formado pela última costela e a coluna vertebral) pode produzir dor – Sinal
de Giordano.
A manobra deve ser realizada em diferentes alturas da região lombar,
tanto à direita quanto à esquerda, iniciando com manobras leves e
aumentando-se gradualmente a força. O sinal de Giordano é um achado
inespecífico do exame físico, tendo seu valor semiológico quando associado
à anamnese e ao exame físico.
Fonte: Autor.
4. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 4. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
Fonte: Autor.
HEPATOMEGALIA E ESPLENOMEGALIA
Razão de verossimilhança
Fígado
Baço
Razão de verossimilhança
Razão de verossimilhança
Vesícula Biliar
OBSTRUÇÃO BILIAR EM
31 99 26.0 0,7
PACIENTES COM ICTERÍCIA
OBSTRUÇÃO MALIGNA EM
PACIENTES COM ICTERÍCIA 26-55 83-90 2,6 0,7
OBSTRUTIVA
Bexiga
Aorta
PESQUISA DE ASCITE
Razão de verossimilhança
Inspeção
Palpação e percussão
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, hipocorado (2+/4+),
desidratado (+/4+), acianótico, anictérico, febril ao toque, desnutrido,
eupneico, consciente, orientado.
Dados vitais: FC 108 bpm, FR 16 irpm, Tax 38,1°C, PA 100x80 mmHg, em
decúbito e sentado, no membro superior direito.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: orientado em tempo e espaço, sem achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à
percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de
turgência jugular patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas,
em dois tempos, sopro sistólico pancardíaco, 2+/6+.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome globoso, sem
abaulamentos, retrações ou cicatrizes, RHA presentes, flácido, macicez de
flancos, doloroso a palpação profunda difusamente, hepatimetria 15 cm,
espaço de Traube ocupado, hepatoesplenomegalia palpável (fígado palpável
a 3 cm do rebordo costal direito e baço palpável a 6 cm do rebordo costal
esquerdo).
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem
perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, cheios e simétricos, sem alterações
de cianose. Presença de edema nos membros inferiores com sinal do cacifo
2+/4+.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: hipotrofia muscular.
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 7,8 g/dL, Ht 19%, leucócitos 1.800, plaquetas
78.000, creatinina 0,9 mg/dL, ureia 22 mg/dL, sódio 127 mg/dL, potássio 4,1
mg/dL, albumina sérica 2,2 g/dL, globulina 6,8 g/dL, bilirrubinas totais 0,9
mg/dL (direta 0,52 mg/dL, indireta 0,38 mg/dL), TGO 52 U/L, TGP 55 U/L.
Pesquisa de anticorpos contra o antígeno recombinante k39 positiva.
Sorologias virais para HIV e hepatites negativas.
Pontos de discussão
1. QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir
o diagnóstico levantado?
Discussão
Nosso paciente se apresenta com queixa principal de febre, que será
nosso sintoma-guia. Contudo, não estamos falando de qualquer paciente com
febre, mas de um paciente procedente de uma região endêmica de várias
doenças febris infecciosas, um dado importante da identificação do paciente
que contribui de forma muito significativa para nosso raciocínio clínico. E,
além disso, estamos falando também de um paciente soropositivo com febre,
uma informação muito valiosa sobre o status imunológico do paciente que
corrobora o pensamento anterior de doenças febris infecciosas.
Além uma síndrome febril clássica, temos também um paciente com
síndrome consumptiva e tosse seca. Vale lembrar que a perda de peso é
considerada significativa quando maior que 5% do peso habitual no período
de 6 a 12 meses. Uma perda ponderal maior que 10% já corresponde a um
estado de desnutrição. Então, temos um paciente soropositivo, com febre,
tosse seca e perda de peso, de evolução subaguda (os sintomas se iniciaram
há 2 meses). Esse quadro clínico é muito sugestivo de uma doença que é
cerca de 100 vezes mais frequente nesse paciente do que na população em
geral: a tuberculose. Poderia e deveria ser nossa principal hipótese
diagnóstica, mas o exame físico do nosso paciente não fortalece nosso
raciocínio, pois o exame pulmonar é normal e as principais alterações
aparecem no exame do abdome.
Temos um paciente desnutrido, hipocorado e com sopro sistólico
pancardiaco, portanto, anêmico. Além de um rico exame abdominal: abdome
globoso e com macicez de flancos, que se traduz clinicamente em presença
de ascite, e hepatoesplenomegalia palpável. Nesse momento, outro leque de
hipóteses diagnósticas deve estar em nossa mente: doenças febris
infecciosas, como a esquistossomose, a leishmaniose visceral, a malária e a
doença de Chagas, e doenças hematológicas, como as leucemias.
Dentre as hipóteses levantadas, a história clínica e o exame físico
direcionam nosso raciocínio para a leishmaniose visceral, pela
epidemiologia, já que é doença endêmica no Estado do Ceará, e para as
leucemias, que até então não podem ser descartadas. Nesse momento,
precisamos de ajuda de alguns exames complementares. Pelos exames
laboratoriais apresentados no caso, temos duas alterações muito importantes:
pancitopenia e inversão da relação albumina/globulina. Precisamos de mais
algum exame? A rigor, nosso paciente tem indicação de uma punção
aspirativa de medula óssea (mielograma) ou biopsia de medula óssea para
investigação da pancitopenia. Esses exames seriam mandatórios se um outro
exame apresentado no caso não estivesse disponível ou não fosse
esclarecedor, que é a pesquisa de anticorpos contra o antígeno recombinante
k39, cujo resultado no nosso paciente foi positivo. O antígeno k39 é uma
sequência de aminoácidos clonada da Leishmania chagasi, complexo
donovani-específico. Portanto, podemos fechar o diagnóstico de
leishmaniose visceral.
A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é uma doença
infecciosa sistêmica causada por um protozoário do gênero Leishmania,
considerada doença de notificação compulsória em todo o território nacional.
No Brasil, o principal agente etiológico é a Leishmania chagasi, transmitida
pelo inseto vetor flebotomíneo chamado Lutzomyia longipalpis,
popularmente conhecido como “mosquito palha”, “cangalhinha” e “birigui”.
Apesar de a grande maioria dos casos evoluir para a cura clínica, a letalidade
ainda é elevada em crianças e indivíduos acima de 60 anos, bem como em
adultos jovens, nos casos de coinfecção com o vírus HIV.
O diagnóstico é feito com base no quadro clínico e epidemiológico. Nos
exames de laboratório, as alterações que mais chamam a atenção são a
pancitopenia e a inversão da relação albumina/globulina. Outras alterações
são inespecíficas, como elevação discreta das aminotransferases hepáticas e
bilirrubinas. Os exames parasitológicos são considerados métodos de
referência no diagnóstico da leishmaniose visceral, mas necessitam de
procedimentos invasivos. A confirmação da doença pode ser feita pela
demonstração direta em esfregaços ou cultivo do parasito obtido de baço,
fígado, medula óssea ou linfonodos, com sensibilidade variando de 95 a 98%
para o aspirado de baço, 76 a 91% para o de fígado, 52 a 89% para o de
medula óssea e 52 a 69% para o de linfonodos. Os testes sorológicos para
detecção de anticorpos, como a pesquisa de anticorpos para o antígeno
recombinante k39, utilizam métodos sensíveis e específicos, de fácil
execução e interpretação, permitindo o diagnóstico acurado e rápido da LV,
principalmente nas localidades onde o acesso a exames laboratoriais mais
complexos é limitado.
O tratamento de escolha é o antimoniato de N-metil glucamina
(glucantime), na dose de 20 mg/kg/dia de 20 a 40 dias consecutivos, por via
intramuscular ou intravenosa. Por sua cardiotoxicidade, hepatotoxicidade e
nefrotoxicidade, é contraindicada em gestantes, cardiopatas, pacientes com
insuficiência renal e em uso de betabloqueadores. O tratamento de segunda
linha é feito com a anfotericina B (desoxicolato ou anfotericina lipossomal).
Para o tratamento da coinfecção Leishmania-HIV na forma visceral, a
anfotericina B lipossomal é a droga de primeira escolha.
Sintoma-guia: Febre.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome febril, síndrome consumptiva.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Sistema hematopoiético.
Diagnósticos diferenciais:
a. Leishmaniose visceral
a. Esquistossomose
a. Malária
a. Doença de Chagas
a. Leucemias
Hipotese diagnóstica: Leishmaniose visceral.
Pontos importantes
a.
DURANTE O EXAME DO ABDOME, O PACIENTE DEVE SER
AVALIADO EM DECÚBITO DORSAL COM MEMBROS
SUPERIORES ESTENDIDOS AO LONGO DO TRONCO COM UM
PEQUENO TRAVESSEIRO QUE APOIE CABEÇA E OMBROS, E
MEMBROS INFERIORES ESTENDIDOS E DESCRUZADOS;
a.
NO PACIENTE COM DOR ABDOMINAL, A PALPAÇÃO
ABDOMINAL INICIA-SE FORA DA ÁREA INDICADA COMO
MAIS SENSÍVEL;
a.
ALGUMAS DOENÇAS DE VÍSCERAS ABDOMINAIS PODEM SE
MANIFESTAR COM DOR EXTRA-ABDOMINAL, E
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS SEMPRE DEVEM SER
LEVANTADOS;
a.
AO CONTRÁRIO DO FÍGADO, QUE PODE SER PALPÁVEL EM
CONDIÇÕES NORMAIS, O BAÇO SOMENTE É PALPÁVEL EM
CONDIÇÕES PATOLÓGICAS;
a.
NAS REGIÕES ENDÊMICAS, EM PACIENTE COM SÍNDROME
FEBRIL, HEPATOESPLENOMEGALIA E PANCITOPENIA, É
MANDATÓRIA A INVESTIGAÇÃO DE LEISHMANIOSE
VISCERAL.
REFERÊNCIAS
1. LOPEZ M. SEMIOLOGIA MÉDICA: AS BASES DO DIAGNÓSTICO CLÍNICO. 5. ED. RIO
DE JANEIRO: REVINTER; 2004.
2. Porto CS. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2014.
3. Bickley lS. Bates: Propedêutica Médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
4. Meneghelli UG, Martilnelli ALC. Princípios de semiotécnica e de interpretação clínica do
abdômen. Simpósio semiologia, Capítulo IX. Medicina, Ribeirão Preto. 2014; 37: 267-85.
5. Cavalcante IJM, Vale MR. Aspectos epidemiológicos da leishmaniose visceral (calazar) no
Ceará no período de 2007 a 2011. Rev Bras Epidemiol. 2014; 17(4): 911-24.
6. Assis TSM, Braga ASC, Pedras MJ, Barral AMP, Siqueira IC, Costa, CHN, et al. Validação do
teste imunocromatográfico rápido IT-LEISH® para o diagnóstico da leishmaniose visceral
humana. Epidemiol Serv Saúde. 2008;17(2):107-16.
7. McGee, Steven R. Evidence-based physical diagnosis. 4th [edition]. Philadelphia, PA: Elsevier,
[2018]
A história clínica é o pilar do diagnóstico médico e o diagnóstico
neurológico não é uma exceção.1 Em poucos ramos da medicina é possível
elaborar, através da história clínica e do exame físico, um diagnóstico
topográfico tão preciso quanto na Neurologia. Talvez por isso mesmo o
exame neurológico seja considerado por muitos como domínio do
especialista. Contudo, a disfunção neurológica é a primeira manifestação de
muitas doenças sistêmicas, e as disfunções mais comuns podem e devem ser
diagnosticadas e tratadas por médicos na clínica geral.
Pela multiplicidade de sinais e variações na interpretação, uma
abordagem sistematizada é essencial. O exame, entretanto, não tem de ser
realizado em nenhuma sequência específica, e todo médico, com a
experiência, desenvolve sua própria rotina.
Vamos sugerir a sistematização do exame neurológico em nove etapas:
2.1.2. Consciência5
As estruturas responsáveis por manter o indivíduo consciente estão
localizadas no tronco cerebral, no diencéfalo e no córtex cerebral.
Consciência aqui deve ser entendida fundamentalmente como o estado de
estar desperto, acordado, vígil, lúcido. O córtex cerebral é incapaz de
funcionar por si próprio de maneira consciente. Para isto depende de
impulsos ativadores que recebe da formação reticular do tronco encefálico, a
partir do que se criou o conceito de sistema ativador reticular ascendente
(SARA), importante na regulação do sono e da vigília. O SARA é um
conjunto de fibras nervosas, originadas posteriormente ao tronco encefálico,
que se estendem ao longo do bulbo, ponte e mesencéfalo.
Podemos avaliar a consciência a partir de dois aspectos: o nível de
consciência – ou estado de vigília – e o conteúdo da consciência, incluindo
funções cognitivas, atenção e respostas afetivas que geram a consciência de
si e do ambiente. O estado de vigília depende da ativação elétrica do córtex
cerebral pelo diencéfalo através do SARA e os distúrbios relativos ao
conteúdo da consciência acometem funções ao nível do córtex cerebral e
conexões subcorticais. Alterações estruturais e não estruturais podem ser
causa dos distúrbios da consciência.
2.1.3. Cognição
O termo cognição vem da raiz latina cognoscere, que significa
“conhecer”. Quando falamos de cognição nos referimos ao acúmulo e
processamento de informações que adquirimos através da percepção,
aprendizagem e experiência. Muitas funções mentais estão envolvidas nesse
processo: percepção, atenção, associação, memória, raciocínio, juízo,
imaginação, tomada de decisões, pensamento e linguagem. A avaliação da
cognição faz parte do exame do estado mental e é particularmente útil para
distinguir doença neurológica e psicológica e ainda para determinar a
coexistência de ambas.
A memória, particularmente avaliada no exame neurológico, é a
capacidade de registrar, armazenar e reter informação, podendo estar
prejudicada por doença cortical difusa ou doença bilateral do lobo temporal.6
Está intimamente relacionada às demais funções complexas do encéfalo,
como a vigília, a atenção e as funções afetivas. Portanto, a memória não
pode ser atribuída a uma única região encefálica, mas depende de múltiplos
circuitos neuronais inatos e adquiridos.3
A avaliação da memória se dá por meio do teste da memória imediata
(operacional), da memória recente (de médio prazo) e da memória remota
(de longo prazo), as quais correspondem, de modo geral, ao registro, à
armazenagem e à recuperação da informação, respectivamente. A
memorização de uma sequência de números é um teste da memória imediata
e de atenção, no qual o conteúdo não é realmente registrado na memória e
supõe-se que seria decorrente de atividade neural contínua. Quanto ao
substrato anatômico da memória recente, reconhece-se a função do sistema
hipocampo-mamilar, parte do circuito de Papez, e da memória de longo
prazo, as áreas associativas neocorticais, com particular importância para o
hipocampo. Acredita-se que o hipocampo seja responsável pela função de
estabelecer novas memórias de longo prazo – lesão do hipocampo gera
amnésia anterógrada.
Amnésia é a alteração da memória e do aprendizado em proporções
maiores que das demais funções cognitivas em um paciente sem alteração do
nível de consciência. Nos processos orgânicos cerebrais, o esquecimento
ocorre dos fatos mais recentes para os mais antigos, e a recuperação dá-se no
sentido inverso, seguindo o denominamos de lei de Ribot. O quadro a seguir
descreve os principais tipos de amnésia.
Espontânea 4
Após estímulo verbal 3
Abertura ocular Após pressão 2
Ausente 1
Não testável NT
Resposta orientada 5
Resposta confusa, porém coerente 4
Melhor resposta Palavras inapropriadas/ininteligíveis 3
verbal Apenas sons incompreensíveis 2
Nenhuma resposta verbal 1
Não testável NT
a) Material necessário
Escala de Glasgow
b) Orientações Gerais
5. Locais para estimulação física: pressão na extremidade dos dedos,
pinçamento do trapézio ou pressão na incisura supraorbitária;
5. Flexão normal: retirada rápida, variável, com flexão rápida do
membro superior ao nível do cotovelo, padrão predominante não
anormal;
c) Parâmetros de normalidade
Espera-se que uma pessoa lúcida com respostas normais tenha escore 15,
ou seja, a abertura ocular normal é espontânea, a melhor resposta verbal é
uma fala orientada, fluida e organizada e a melhor resposta motora é a
obediência a comandos verbais.
Um paciente com escore de 11 já é considerado em coma superficial e
um paciente em coma profundo terá escore 3. Em caso de traumatismo
cranioencefálico, os pontos de corte para classificar as lesões são: GCS 13–
15 (leve), GCS 9–12 (moderada) e GCS ≤ 8 (grave).
4. Se presente ou anormal,
descreva o ______
comportamento.
Alerta (normal)
Vigilante (hiperalerta)
6. Como você classificaria o nível de consciência do Letárgico (sonolento)
paciente? Estupor
Coma
Alteração do nível de
Incerto
consciência
a) Orientações Gerais
Para o diagnóstico de delirium é necessária a presença de início agudo e
curso flutuante mais a presença de pensamento desorganizado ou alteração
do nível de consciência.
b) Parâmetros de normalidade
Espera-se que uma pessoa normal não tenha alterações nos domínios
avaliados.
2.3. Avaliação do Estado Mental
A avaliação do estado mental, embora tradicionalmente associada à
propedêutica psiquiátrica, também integra o exame neurológico. A avaliação
do estado mental inicia-se na própria entrevista com o paciente, buscando
informações de dados pessoais manifestações associadas, alterações de
comportamento e interferência nas atividades de vida diária.3 Uma vez que o
paciente consegue contar uma história lógica, coerente, pertinente e sensível
raramente necessitará de testes adicionais. A observação cuidadosa durante a
história também pode indicar o estado emocional, a memória, a inteligência
e a personalidade, o que auxilia na avaliação psiquiátrica.
No exame mental propriamente dito, avaliam-se distintas funções
psíquicas: estado de consciência, atenção, orientação, sensopercepção,
pensamento, humor e vontade. A avaliação do estado de consciência já foi
comentada anteriormente e funções como sensopercepção, pensamento,
humor e vontade foram abordadas no exame psiquiátrico.
Como parte do exame neurológico, a avaliação do estado mental
idealmente começa com testes de rastreio para avaliar função cognitiva,
dentre os quais o mais utilizado é o Miniexame do estado mental (MEEM)
de Folstein. Foi proposto em 1975 por Folstein et al. No Brasil, foi
modificado por Bertollucci et al. (1994) e por Brucki et al. (2003), para ser
aplicado em nosso meio, tanto nos ambientes hospitalares e ambulatorial
quanto no domicílio.12
O MEEM é um teste de triagem, cuja pontuação máxima é de 30 pontos,
que pode ser influenciado pela escolaridade do indivíduo e que pode ser
afetado por outras entidades patológicas que não a demência. Apesar do
grande uso no rastreio de síndromes demenciais, o MEEM não dá
diagnóstico de demência, ele apenas documenta o déficit cognitivo. Existem
muitos outros testes de rastreio, com desempenho diagnóstico comparável,
que podem ser utilizados no exame cognitivo inicial, como o Exame
Cognitivo de Addenbrooke – Revisado (ACE-R), o teste Mini-Cog e o Teste
Clínico Geral de Cognição (GPCOG).
Dentre estes outros testes citados, vale a pena mencionar o Mini-Cog.
Esse teste é um instrumento de rastreio cognitivo rápido que leva em torno
de três minutos para ser aplicado. É útil para uma avaliação inicial em
ambientes de atenção primária de saúde ou consultas não especializadas e é
muito utilizado em idosos.12
2.3.1. Roteiro do mini-exame do estado mental de
Folstein1,12,13,14
Quadro 5. Miniexame do estado mental de Folstein.
PONTUAÇÃO ORIENTAÇÃO
1 Dia da semana
1 Dia do mês
1 Mês
1 Ano
1 Hora aproximada
1 Local específico
1 Instituição
1 Bairro ou rua
1 Cidade
1 País
PONTUAÇÃO REGISTRO
Peça ao paciente para fazer o cálculo 100-7, cinco vezes sucessivas. Ganha 1
5
ponto para cada cálculo correto.
PONTUAÇÃO EVOCAÇÃO
Pergunte pelas três palavras registradas anteriormente. Ganha 1 ponto para cada
3
palavra recordada.
PONTUAÇÃO LINGUAGEM
Obedecer ao comando verbal: “Pegue este papel com a mão direita, dobre ao
3
meio e coloque no chão”
Copiar um desenho
Fonte: Folstein13.
a) Orientações Gerais
5. Os eventuais erros cometidos pelo paciente durante a prova não
devem ser corrigidos, pois esta correção poderá inibi-lo;
b) Parâmetros de normalidade
O escore máximo é de 30 pontos, mas o desempenho normal mínimo é
variável entre 24 e 27 a depender da idade e do nível educacional da pessoa.
Contudo, um escore normal não exclui de modo fidedigno demência, pois o
teste é insensível e não detecta distúrbios cognitivos discretos, especialmente
em pessoas com maior escolaridade ou em alto nível de funcionamento. Diz-
se que os pacientes estão orientados se sabem quem são, onde estão e a data
correta. Pacientes que conseguem recordar itens apenas com a ajuda de
indicações são capazes de reter a informação, mas não de evocá-la. Já
aqueles que não conseguem lembrar mesmo com indicações, tem falhas no
processo de retenção da memória.
Interpretação: pontuação mínima de acordo com a escolaridade:
analfabetos – 20 pontos; 1 a 4 anos de estudo – 25 pontos; 5 a 8 anos de
estudo – 26 pontos; 9 a 11 anos de estudo – 28 pontos; superior a 11 anos de
estudo: 29 pontos. Fonte: Folstein et al., 1975, modificado por Bertollucci et
al., 1994 e por Brucki et al., 2003.14
MINI-COG
Passo 1 Pedir ao paciente para memorizar 3 palavras não relacionadas e pedir-lhe para repeti-las,
garantindo a aprendizagem correta.
Exemplos:
5. VILA, COZINHA, BEBÊ
5. CAPITÃO, JARDIM, FOTOGRAFIA
5. FILHA, PARAÍSO, MONTANHA
Pedir ao paciente para desenhar o mostrador de um relógio de ponteiros. Pedir ao paciente
Passo 2 para desenhar os ponteiros para ler 10 minutos depois das 11:00 (ou 20 minutos depois das
8:00).
Fonte: Borson14.
a) Orientações Gerais
5. Na repetição das palavras do passo 1, permitir 3 tentativas;
5. Os dois horários sugerindo no passo 2 são mais sensíveis que os
outros;
b) Parâmetros de normalidade
A recordação das 3 palavras é negativa para déficit cognitivo. Se o
paciente recordar 1-2 palavras e apresentar teste do desenho do relógio
normal, o Mini-Cog também é dito negativo. O Mini-Cog é considerado
positivo quando paciente consegue recordar apenas 1-2 palavras recordadas
com teste do desenho do relógio anormal ou quando não consegue recordar
nenhuma das palavras.
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 7. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
Se meu paciente tem uma doença, qual probabilidade de um teste diagnóstico ser
Sensibilidade
positivo?
Se meu paciente não tem uma doença, qual probabilidade de um teste diagnóstico
Especificidade
ser negativo?
Fonte: Autor.
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
AGRUPADOS (IC 95%)
AGRUPADA (IC 95%)
Exames complementares
5. Exames laboratoriais: Hb 12,0 g/dL, Ht 32%, leucocitos 4.800,
plaquetas 255.000, creatinina 1,3 mg/dL, ureia 31 mg/dL, sódio 142
mg/dL, potássio 4,0 mg/dL, glicose 140 mg/dL, vitamina B12 250
pg/dL, TSH 2,74 µUI/mL, sorologias virais e VDRL negativos.
5. Tomografia de crânio: atrofia cortical difusa, sem outras
alterações.
Pontos de discussão
6. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
• Qual é o diagnóstico sindrômico?
1. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir
o diagnóstico levantado?
Discussão do caso
A cognição é o conjunto de habilidades mentais, que permitem ao
indivíduo compreender e resolver os problemas do cotidiano. São diversas as
funções cognitivas: memória, atenção, linguagem, funções executivas e
habilidades visuoconstrutivas. Diante da queixa de esquecimento no idoso,
relatada pelo paciente ou por acompanhante, deve-se abordar amplamente o
sintoma em busca de distinguir mudanças fisiológicas associadas ao
envelhecimento de um declínio cognitivo patológico.
No caso em questão, estamos diante de uma paciente com perda de
memória, que constitui a queixa principal e o nosso sintoma-guia. Na
avaliação desse sintoma, devemos distinguir qual ou quais elementos básicos
dessa função cognitiva estão afetados (registro, conservação ou evocação),
que tipo de memória está comprometido (imediata, recente ou remota),
caracterizar início, duração e progressão do sintoma, bem como pesquisar
sintomas associados. No caso em discussão, devem ser investigados
distúrbios de outras funções cognitivas, do sono, do humor e do
comportamento.
Nossa paciente apresenta uma perda de memória recente (esquece onde
deixa objetos, confunde datas), com preservação da memória remota,
associada a distúrbio de humor (hipotimia). Podemos dizer que estamos
diante de uma paciente com transtorno cognitivo leve, pois apresenta um
declínio em relação a um nível cognitivo anterior que não interfere nas
atividades de vida diária. Três grandes síndromes representam os principais
diagnósticos diferenciais de transtornos cognitivos em idosos: síndrome
demencial, síndrome confusional aguda (delirium) e síndrome depressiva.
A síndrome demencial, classicamente caracterizada por declínio
progressivo das funções cognitivas, com comprometimento funcional, tem
diagnóstico eminentemente clínico e fundamentado no comprometimento da
memória (que costuma ser o primeiro sintoma a surgir) e de pelo menos mais
um domínio da cognição (como agnosia, afasia, apraxia ou disfunção
executiva). A avaliação cognitiva inicial deve idealmente incluir testes de
rastreio, dentre os quais o mais utilizado é o Miniexame do Estado Mental
(MEEM). Nossa paciente pontuou abaixo da nota de corte no MEEM
(pontuou 19, enquanto o ponto de corte para 8 anos ou mais de escolaridade
é de 26 pontos) e tem história familiar positiva para demências – diagnóstico
paterno de Doença de Alzheimer. Contudo, mesmo esse resultado ainda não
define o diagnóstico, lembre-se que o MEEM é um teste de triagem, que
pode ser afetado por outras entidades patológicas que não a demência e que
apenas documenta o déficit cognitivo.
Pelos critérios do DSM-V, podemos descartar o delirium, pois o déficit
não se apresenta como distúrbio da atenção ou da consciência em um curso
flutuante de horas ou dias, nem é secundário a distúrbio orgânico de base.
Considerando os critérios para síndrome depressiva, nossa paciente
apresenta uma evolução temporal compatível, pois tem sintomas há 4 meses,
com anedonia, perda de peso significativa, insônia, fadiga e dificuldade de
concentração. Fortalecendo essa hipótese, existe a história de tratamento
prévio para depressão interrompido e uma história familiar rica em doenças
psiquiátricas (irmã tratando depressão e irmão tratando esquizofrenia), além
de fatores sociais agravantes, como a situação conjugal (divorciada) e o fato
de morar sozinha, mesmo tendo filhos.
No exame físico, nenhum achado adicional chama a atenção, e, com
exceção da pontuação baixa no MEEM, nossa paciente não apresenta
nenhuma outra alteração neurológica.
Vamos falar agora de diagnósticos etiológicos. No exemplo, temos uma
paciente de 68 anos, com evolução subaguda em termos de déficit cognitivo,
o que não exclui, porém afasta bastante o diagnóstico de causas
neurodegenerativas, em geral, com evolução lenta no decurso de muitos
anos. Soma-se a isso o fato de que o diagnóstico da principal doença que
causa declínio cognitivo em idosos, a Doença de Alzheimer, é um
diagnóstico de exclusão. A história fala mais a favor de causas
potencialmente reversíveis, como deficiência de vitaminas, infecções,
pseudodemência depressiva, hipo ou hipertireoidismo.
Nesse momento, os outros dados da história clínica e do exame físico já
são insuficientes para fechar nosso diagnóstico e precisaremos de
investigação adicional com exames complementares. Na investigação das
causas de demência, alguns exames são considerados de rotina: hemograma,
dosagem de vitamina B12 e ácido fólico, função renal e tireoidiana, enzimas
hepáticas, sorologia para sífilis e HIV e exame de imagem. O exame do
líquor não faz parte da rotina e guarda indicações específicas. Nos exames da
nossa paciente, encontramos função renal levemente alterada
(provavelmente por uma nefropatia crônica secundária ao diabetes ou a
hipertensão arterial), TSH e dosagem de vitamina B12 normais, sorologias
negativas e uma imagem de tomografia de crânio compatível com a idade.
Por tudo que foi exposto, ficaremos com a hipótese principal de
pseudodemência depressiva. Geralmente, o déficit cognitivo apresenta início
e evolução mais rápidos do que a demência propriamente dita e, diferente
dos pacientes com demência, os pacientes deprimidos relatam com mais
ênfase o comprometimento cognitivo (no caso-exemplo, note que todas as
queixas são percebidas e descritas pela própria paciente, que foi sozinha a
consulta e que sempre ressalta o distúrbio da memória, sem se esforçar para
responder aos questionamentos).
Na pseudodemência depressiva, as alterações mnêmicas são decorrentes
de uma redução somente da atenção e não apresenta alterações de outras
funções superiores do córtex como afasia, agrafia e acalculia. Por isso,
tendem a desaparecer com a melhora do quadro depressivo. Contudo, muitos
idosos permanecerão com alterações cognitivas mesmo após o tratamento e a
remissão dos sintomas depressivos (Alexopoulos, 1996; Baldwin &
Tomenson, 1995). As principais alterações cognitivas observadas são: a
redução da velocidade de processamento da informação, déficits na
evocação, na memória de reconhecimento, na memória a curto prazo e na
linguagem (fluência verbal, compreensão) (Baldwin, 2010). No entanto, uma
parcela desses pacientes pode não apresentar evidência de comprometimento
cognitivo nas avaliações objetivas das funções cognitivas.15
Sintoma-guia: Perda de memória.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome demencial.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Supratentorial – hemisférios cerebrais
Diagnósticos diferenciais:
5. Hipotireoidismo
5. Pseudodemência depressiva
5. Deficiência de vitamina B12
5. Doenças infecciosas (Sifilis, HIV)
5. Demências neurodegenerativas (Doença de Alzheimer, demência
vascular)
Hipótese diagnóstica: Pseudodemência depressiva.
Pontos importantes
5. Nem todos os pacientes necessitarão de um exame neurológico
completo, mas, em todos eles, devemos realizar um exame de
triagem;
REFERÊNCIAS
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CAETANO DE ARAÚJO. 7ª ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN; 2014.
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Rio de Janeiro: Revinter; 2007.
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trauma cranioencefálico e sua relevância para a prática de enfermagem em neurocirurgia. Arq
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traumatic brain injury. Part 1: The GCS-Pupils score: an extended index of clinical severity. J
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10. Sampaio FMC, Sequeira CAC. Tradução e validação do Confusion Assessment Method para a
população portuguesa. Rev Enferm Referência. 2013; III(9): 125-34.
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version of the Confusion Assessment Method (CAM) for the detection of delirium in the
elderly. Arq Neuro-Psiquiatr 2001; 59(2A): 175-9.
12. Tsoi KKF, Chan JYC, Hirai HW, Wong SY, Kwok TCY. Cognitive Tests to Detect Dementia: A
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13. Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. Mini-Mental State: a practical method for grading the
cognitive state of patients for clinician. J Psychiatr Res 1975;12:189-198.1. Freitas EV, PY L.
Tratado de geriatria e gerontologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016.
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15. Castro-Costa E, Aguiar CCT, Blay SL. A diferenciação entre os quadros depressivos com
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17. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.). Rotinas em neurologia e
neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
• Telencéfalo,
2.1. Anatomia dos Hemisférios Cerebrais
constituído
pelos dois hemisférios cerebrais;
• Diencéfalo, situado na linha mediana entre os dois hemisférios e
dividido em epitálamo, tálamo e hipotálamo;
2.2.1. Linguagem
Linguagem e fala são atributos exclusivamente humanos. A linguagem é
uma função do córtex cerebral que representa a capacidade de exprimir e
comunicar o pensamento por meio de um sistema de símbolos. Difere da
fala, que são os sons vocais utilizados para comunicar as ideias, consistindo
em um processo puramente mecânico.
Para essa função, algumas regiões do hemisfério dominante são
importantes: a área auditiva primária, a zona central da linguagem na área de
Wernicke e o polo expressivo oral na chamada área de Broca. Quando a
palavra é ouvida, o som é percebido no córtex auditivo primário e
transmitido à área de Wernicke, onde a informação é processada,
interpretada e transferida, através do fascículo arqueado para a área de
Broca, região capaz de evocar o processo de vocalização. O córtex motor,
através do feixe corticonuclear e dos nervos cranianos, estimula os músculos
da fonação.5
Em pacientes neurológicos, as anormalidades mais comumente
encontradas são as afasias (distúrbio da expressão e da compreensão dos
símbolos verbais, gerando incapacidade de utilizar os códigos da
linguagem), as disartrias (distúrbios da articulação da fala), as dislalias
(distúrbio que acarreta troca de letras) e as disfonias (distúrbio do timbre e
da intensidade do som). Do ponto de vista anatômico, as disartrias, em geral,
resultam de doenças cerebelares ou doenças que afetam a musculatura da
fala. Já as afasias são consequência de distúrbios no córtex associativo.
Neste capítulo, as afasias serão estudadas mais profundamente.
Quadro 1. Classificação das afasias.
TAMBÉM CHAMADA DE AFASIA MOTORA OU EXPRESSIVA. OS PACIENTES
APRESENTAM FALA ESPONTÂNEA, SEM FLUÊNCIA, MAS PRESERVAM A
COMPREENSÃO DA LINGUAGEM, QUE ESTÁ POUCO OU NADA
COMPROMETIDA. O VOCABULÁRIO SE TORNA REDUZIDO A FRASES
ESTEREOTIPADAS E CURTAS E FORMAS GRAMATICAIS SIMPLES. O
AFASIA DE BROCA PACIENTE SABE O QUE QUER DIZER, MAS É INCAPAZ DE DIZÊ-LO, POR
ISSO ACABA FRUSTRADO POR SUA DIFICULDADE. ELE TAMBÉM É
INCAPAZ DE REPETIR. ESSE TIPO DE AFASIA, EM GERAL, ESTÁ
ASSOCIADO À HEMIPARESIA OU HEMIPLEGIA DIREITA, DEVIDO À LESÃO
DE ÁREAS ADJACENTES.
2.2.2. Praxia
Praxia vem do grego práxis, que significa “ação”. Pode ser definida
como “a faculdade de executar gestos voluntários aprendidos na ausência de
alterações da motricidade e da coordenação motora.”5 Apraxia seria então a
incapacidade de executar, quando solicitado, um ato motor intencional e
familiar, na ausência de deficiência motora ou sensitiva da parte afetada. É
importante o entendimento de que tal ato motor pode ser executado
espontaneamente, pois a anormalidade reside na incapacidade de exercê-lo
sob comando.
Alguns conceitos importantes são o de praxia ideatória (capacidade de
executar atos que têm relação com o próprio corpo, como usar a escova de
dente), praxia ideomotora (capacidade de executar gestos de significação
simbólica tradicional, como realizar o sinal da cruz) e praxia construtiva
(capacidade de desenhar formas geométricas simples).
O SUBSTRATO ANATÔMICO DAS FUNÇÕES DE PRAXIA
DEPENDE DA INTEGRAÇÃO ENTRE O CÓRTEX ASSOCIATIVO
PARIETAL, ONDE OCORRE A ELABORAÇÃO DOS GESTOS
ADQUIRIDOS PELA APRENDIZAGEM, E DO CÓRTEX MOTOR,
ONDE OCORRE A TRADUÇÃO DA INFORMAÇÃO VERBAL
(COMANDO) OU VISUAL (IMITAÇÃO) A SER EXECUTADA. A
ELABORAÇÃO FINAL DAS SEQUÊNCIAS DE MOVIMENTO SE DÁ
NA ÁREA PRÉ-FRONTAL.5
2.2.3. Gnosia
Gnosia vem do grego gnosis, que significa “conhecimento”. Pode ser
definida como a capacidade de reconhecer o mundo exterior por meio dos
órgãos dos sentidos.5 A agnosia seria, então, um distúrbio de percepção no
qual a sensação é preservada, mas a capacidade de reconhecer um estímulo
ou saber seu significado é perdida.9 Lissaeuer (1890) definiu como a
incapacidade de atribuir significado ao que é percebido, uma desordem a que
ele se referiu como Seelenblindheit, ou “cegueira de alma”.
A agnosia ocorre na ausência de distúrbios da cognição, da atenção ou da
consciência e geralmente é específica para determinada modalidade
sensorial. A faculdade da gnosia se dá através das vias nervosas aferentes.
Por meio delas, os estímulos chegam às áreas sensitivas e sensoriais
primárias, onde darão origem a diferentes sensações (luminosidade, cor,
consistência). Para que ocorra a percepção e o objeto seja identificado, são
necessárias a memória de experiências anteriores sensitivo-sensoriais que
vão orientar a seleção e análise das informações e sua integração em padrões
já conhecidos.
Quadro 3. Classificação das agnosias.
ESTEREOGNOSIA É O RECONHECIMENTO DE OBJETOS COMUNS
ATRAVÉS DO TATO. ASTEREOGNOSIA É, POIS, A INCAPACIDADE DE
RECONHECER E DE IDENTIFICAR UM OBJETO PELO TATO, SEM PERDA
ASTEREOGNOSIA DA PERCEPÇÃO. ISTO É, O PACIENTE SENTE O OBJETO, NO ENTANTO, É
INCAPAZ DE RECONHECÊ-LO E IDENTIFICÁ-LO. A AGNOSIA TÁTIL OU
ASTEREOGNOSIA É DETERMINADA POR LESÕES DO CÓRTEX PARIETAL
CONTRALATERAL.
• Por fim, a leitura pode ser testada solicitando que o paciente leia um
papel.
b) Procedimento semiotécnico
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 4. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Fonte: Autor.
EVENTO VASCULAR
RAZÃO DE
VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
RAZÃO DE
VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
P.R.D., sexo masculino, 54 anos, procedente de Ubajara-CE, branco, casado,
trabalhador rural, católico, analfabeto. Admitido no pronto-atendimento,
acompanhado pelo filho, com quadro de “dificuldade de fala” e “sem mexer
o lado direito do corpo”.
O acompanhante refere que, há um dia, o paciente iniciou quadro súbito de
afasia, com fala sem fluência, desconexa, sem compreender os familiares,
após pico pressórico (PA 220x120 mmHg). Associou-se ao quadro,
hemiplegia à direita, impedindo deambulação, com um episódio de queda.
Sem outros sintomas relatados, nomeadamente cefaleia, vômitos, febre e
rebaixamento do nível de consciência.
Medicações em uso: captopril 25 mg (1-1-1), hidroclorotiazida 25 mg (1-0-
0), anlodipino 5 mg (1-0-1), aas 100 mg (0-1-0), sinvastatina 40 mg (0-0-1).
Antecedentes pessoais: Hipertenso, em uso irregular das medicações. Filho
relata acidente vascular encefálico isquêmico há dois anos, porém sem
sequelas neurológicas.
Hábitos: Tabagista desde os 20 anos (carga tabágica 68 maços/ano). Nega
etilismo.
Antecedentes familiares: Mãe falecida de causas naturais. História paterna
desconhecida.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado,
hidratado, acianótico, anictérico e afebril, sobrepeso, eupneico, vigil,
desorientado.
Dados vitais: FC 110 bpm, FR 20 irpm, Tax 36,5°C, PA 190x110 mmHg
(aferida no membro superior esquerdo, com o paciente sentado).
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: desorientação temporal, fala estereotipada, alexia,
agrafia, anomia, incapacidade de repetição e acalculia, sem nenhum
reconhecimento de signos linguísticos. Hemiplegia à direita. Reflexos
preservados.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à
percussão, murmúrio vesicular presente reduzido globalmente, sem ruídos
adventicios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de
turgência jugular patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas,
em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome globoso por
adiposidade, sem abaulamentos, cicatriz de apendicectomia prévia, RHA
presentes, flácido e indolor, ausência de massas ou visceromegalias
palpáveis, espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem
perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose
ou edema, dermatite ocre de membros inferiores.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: sem achados de
significância clínica.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Exames laboratoriais: Hb 13,0 g/dL, Ht 32%, leucocitos 5.300,
plaquetas 202.000, creatinina 1,01 mg/dL, ureia 28 mg/dL, sódio 133
mg/dL, potássio 3,7 mg/dL, glicose 90 mg/dL.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
Quadro 5. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
Fonte: Autor. Baseado em Chaves13.
DISCUSSÃO DO CASO
No caso apresentado, encontramos um paciente com distúrbio da
linguagem e da motricidade, que representam sinais neurológicos focais.
Dentre os distúrbios da linguagem, conseguimos identificar que se trata de
uma afasia, uma vez que os sons são articulados (não se trata de disartria),
sem troca de fonemas (não é dislalia) e nem é caraterizada por alteração na
intensidade da voz (não é disfonia). Qual é o tipo de afasia? Ao que tudo
indica, uma afasia global, pois guarda características da afasia de Broca e da
afasia de Wernicke. Ademais, temos um déficit motor déficit motor, do tipo
hemiplegia, uma vez que compromete completamente a força à direita (seria
paresia se houvesse diminuição parcial da força).
Esses déficits focais constituem a queixa principal e serão nossos
sintomas-guia. De que tipo de síndrome estaríamos falando, então? Diante
de um déficit neurológico focal, levando em consideração a cronologia dos
sintomas, podemos dividir as causas em cerebrovasculares, traumáticas,
neurodegenerativas ou neoplásicas. Temos um quadro neurológico agudo
(iniciou há um dia), o que fala muito a favor de uma doença vascular,
infecciosa ou traumática. Podemos descartar causas traumáticas (apesar do
episódio de queda da própria, que ocorreu após início dos sintomas, em
consequência deles) e infecciosas (não há na história outros sintomas
sistêmicos associados que justificassem infecção). Portanto, a história fala
mais a favor de uma síndrome neurológica vascular.
Para topografar de forma ainda mais específica a lesão do nosso paciente,
precisamos conhecer a vascularização dos territórios corticais.
Resumidamente, temos três grandes vasos que nutrem o parênquima
cerebral: artéria cerebral anterior (ACA), que irriga a face medial de cada
hemisfério e o polo frontal; artéria cerebral média (ACM), que irriga a
porção superolateral de cada hemisfério e o polo temporal; e a artéria
cerebral posterior (ACP), que irriga a face inferior dos hemisférios e o polo
occipital. De uma forma didática, podemos dizer que o acometimento de
cada uma delas gera síndromes neurológicas específicas: déficit motor ou
sensitivo em geral acometendo apenas membros inferiores, nas lesões de
ACA; afasia, associada a déficit motor e/ou sensitivo em dimídio
contralateral, nas lesões da ACM; e distúrbios principalmente visuais nas
lesões de ACP. Nosso caso configura melhor uma lesão em ramos da ACM
esquerda.
Estamos diante de um caso de acidente vascular cerebral (AVC) que pode
ser dividido ainda em AVC isquêmico e AVC hemorrágico. O primeiro é
oriundo de uma oclusão arterial aguda por êmbolos ou trombos, e, o
segundo, de sangramento de aneurismas saculares (hemorragia
subaracnóidea) ou rupturas de vasos intraparenquimatosos. A confirmação
do tipo de AVC é feita através da tomografia computadorizada de crânio sem
contraste já nas primeiras horas após início do quadro.
Nosso paciente fez o exame de imagem, que não mostrou alterações.
Soma-se a isso o fato de que os sintomas descritos são duradouros (mais de
24h) e a história pregressa guarda fatores de risco (hipertensão arterial
sistêmica em uso irregular das medicações e AVE prévio), o que fortalece
nossa hipótese de AVC isquêmico. Lembre-se de que a isquemia cerebral
pode demorar entre 24 a 72 horas para ser evidente, de forma que o exame
de imagem precoce é mais importante para descartar uma lesão hemorrágica
do que para confirmar uma lesão isquêmica. Se os sintomas remitissem
caracteristicamente em poucas horas, sem evidencia de lesão isquêmica na
imagem, estaríamos diante de um quadro de acidente isquêmico transitório
(AIT).
É importante lembrar que algumas doenças não vasculares podem
simular um AVE e, por isso, são denominadas em conjunto de Stroke
Mimics. Podem ser causas metabólicas (distúrbios hidroeletrolíticos,
hipoglicemia), infecciosas (meningite, encefalite), neoplásicas,
neurodegenerativas, psiquiátricas (síndromes conversivas), dentre outras.
Necessitam de exames complementares para confirmar ou afastar seu
diagnóstico.
Sintoma-guia: Afasia global e hemiplegia direita.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome deficitária motora e da linguagem.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Isquemia no território de artéria
cerebral média esquerda.
Diagnósticos diferenciais:
• AVC hemorrágico
• Stroke mimics
Hipótese diagnóstica: Acidente vascular encefálico isquêmico
PONTOS IMPORTANTES
• No exame dos hemisférios cerebrais, abordamos a linguagem, a
praxia e a gnosia;
• Cada uma das apraxias e das agnosias podem ser identificadas por
testes específicos;
REFERÊNCIAS
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Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
Fonte: Lynch1.
a) NC I: o nervo olfatório
O NC I é exclusivamente sensitivo, sendo responsável pela olfação. É
constituído por numerosos feixes de fibras nervosas que, originando-se na
região de cada fossa nasal (mucosa nasal), atravessam a lâmina crivosa do
osso etmoide e terminam no bulbo olfatório, uma região constituída de
substância cinzenta no rinencéfalo localizado sob o lobo frontal.2 O bulbo
olfatório continua-se posteriormente com o trato olfatório, de forma que uma
parte das fibras seguem em direção ao córtex olfatório do úncus e giro para-
hipocampal, enquanto outra parte vai fazer conexão com o sistema límbico,
na área septal.3
b) NC II: o nervo óptico
O NC II é exclusivamente sensitivo, responsável pela visão. É
constituído por um grosso feixe de fibras nervosas que conectam a retina ao
encefálo.2 O feixe penetra no crânio pelo canal óptico e atravessa o quiasma
óptico até o corpo geniculado lateral, no tálamo. Finalmente, as fibras
seguem pelas radiações ópticas até o córtex visual, no lobo occipital. As
meninges intracranianas formam bainhas ao longo do trajeto intraorbital dos
nervos, permitindo a continuação do espaço subaracnóideo intracraniano até
o olho. Por isso, nos casos de elevação da pressão intracraniana, ocorre
consequente papiledema.4
c) NC III: o nervo oculomotor
O NC III é exclusivamente motor, participando da motricidade do globo
ocular, da contratilidade pupilar e da elevação da pálpebra. Parte de suas
fibras se originam no núcleo oculomotor no mesencéfalo, levando fibras
motoras aos músculos extraoculares, e outra parte no núcleo de Edinger-
Westphal, também no mesencéfalo, levando fibras autonômicas
parassimpáticas ao músculo esfíncter da pupila e músculo ciliar, que atuam
na contração pupilar e acomodação do cristalino, respectivamente.2 O nervo
passa pelo seio cavernoso e depois pela fissura orbital superior para inervar
os músculos reto medial, oblíquo inferior, reto superior, reto inferior e
levantador da pálpebra.
d) NC IV: o nervo troclear
O NC IV é exclusivamente motor, atuando na motricidade do globo
ocular (olhar para baixo e para dentro). Suas fibras se originam no núcleo do
troclear no mesencéfalo e circundam o tronco encefálico antes de seguir pelo
seio cavernoso. Em seguida, penetra na órbita através da fissura orbital
superior para então suprir o músculo obliquo superior.2,4
e) NC V: o nervo trigêmeo
O NC V é um nervo misto (predominantemente sensitivo, mas também
motor), cujas funções são essencialmente a sensibilidade da face e a
mastigação. A raiz sensitiva é formada por três ramos: oftálmico (V1),
maxilar (V2) e mandibular (V3), responsáveis pela sensibilidade somática
geral da face. As fibras oftálmicas penetram no crânio pela fissura orbital
superior, as maxilares pelo forame redondo, e as mandibulares pelo forame
oval, para se juntarem no gânglio trigeminal (ou gânglio de Gasser) e
continuarem como nervo trigêmeo até a ponte. A raiz motora é constituída
por fibras que acompanham o ramo mandibular, distribuindo-se aos
músculos da mastigação (temporal, masseter, pterigoide lateral, pterigoide
medial), além de suprir os músculos milo-hioideo, corpo anterior do
digástrico, tensor do véu palatino e tensor do tímpano.2,4
f) NC VI: o nervo abducente
O NC VI é exclusivamente motor, participando na motricidade do globo
ocular (olhar para fora). É constituído por fibras que partem da ponte,
atravessam o seio cavernoso e penetram na órbita através da fissura orbital
superior, para inervar o músculo reto lateral.
g) NC VII: o nervo facial
O NC VII é um nervo misto (predominantemente motor, mas também
sensitivo), sendo responsável pela motricidade dos músculos da expressão
facial e sensibilidade gustativa dos dois terços anteriores da língua. Esta
última função fica a cargo de sua raiz sensitiva e visceral, o nervo
intermédio. O componente motor é formado por fibras que se originam no
núcleo facial na ponte, núcleo este formado por dois subnúcleos: superior e
inferior. O núcleo facial superior recebe fibras corticonucleares provenientes
dos dois hemisférios cerebrais e dá origem às fibras que inervam a
musculatura do andar superior da face. Já o núcleo facial inferior recebe
fibras provenientes unicamente do hemisfério contralateral e dá origem às
fibras para a musculatura do andar inferior da face. Isto explica por que as
lesões que acometem fibras corticonucleares unilaterais não geram paralisia
no andar superior, apenas inferior (paralisia facial central). O NC VII emerge
do crânio pelo forame estilomastoideo, atravessa a glândula parótida e
distribui uma série de ramos para os músculos mímicos, músculo estilo-
hioideo e ventre posterior do músculo digástrico.
h) NC VIII: o nervo acústico ou vestibulococlear
O NC VIII é exclusivamente sensitivo, dividido em um componente
vestibular e um componente coclear, cuja origem, função e conexão centrais
são diferentes. O componente vestibular é formado por fibras que se
originam dos neurônios sensitivos do gânglio vestibular, conduzindo
impulsos nervosos relacionados com o equilíbrio, coordenação e orientação
no espaço. O componente coclear é constituído de fibras originárias nos
neurônios sensitivos do gânglio espiral, situado na cóclea, conduzindo
impulsos nervosos relacionados com a audição.2,4
i) NC IX: o nervo glossofaríngeo
O NC IX é um nervo misto e essencialmente visceral. Seu componente
mais importante é representado por fibras sensitivas viscerais, responsáveis
pela sensibilidade geral do terço posterior da língua, faringe, úvula, tonsila,
tuba auditiva, além do seio e corpo carotídeos. Seu componente motor
pertence à divisão parassimpática do sistema nervoso autônomo.4
j) NC X: o nervo vago
O NC X é também um nervo misto e essencialmente visceral. Emerge
do crânio pelo forame jugular, percorre o pescoço e o tórax, terminando no
abdome. Dá origem ao nervo motor mais importante da laringe (nervo
laríngeo recorrente) e a numerosos ramos que inervam também a faringe e
formam os plexos viscerais da inervação autônoma parassimpática das
vísceras torácicas e abdominais. O NC IX e X deixam o crânio juntos,
mantêm-se próximos ao longo do trajeto no pescoço e suprem algumas das
mesmas estruturas.2,4
k) NC XI: o nervo acessório
O NC XI é um nervo exclusivamente motor, formado por uma raiz
craniana (ou bulbar) e uma raiz espinhal. O principal componente é a raiz
espinal, cuja função é inervar o músculo esternocleidomastoideo (ECM) e o
trapézio, responsáveis respectivamente pelo movimento de rotação da cabeça
e elevação dos ombros. A raiz craniana é distribuída principalmente com o
nervo laríngeo recorrente e sua contribuição é indistinguível da contribuição
do nervo vago.2,4
l) NC XII: o nervo hipoglosso
O NC XII é um nervo exclusivamente motor, responsável pela
motricidade da língua. Emerge do crânio pelo canal do hipoglosso,
distribuindo-se aos músculos intrínsecos e extrínsecos da língua.4
2.2. Exame dos nervos cranianos
Os nervos cranianos constituem apenas a parte periférica das vias
funcionais da extremidade cefálica. Da mesma forma que o sistema
corticoespinal ou piramidal, as vias motoras são constituídas de dois
neurônios, um central corticonuclear e um periférico núcleo-muscular (nervo
craniano). Já nas vias sensitivas, como nas vias somestésicas do tronco e
membros, encontramos três neurônios, cujo segmento periférico é o nervo
craniano e cujo segmento central é núcleo-cortical.
A AVALIAÇÃO DOS PARES CRANIANOS TEM UMA
ORGANIZAÇÃO PRÓPRIA PARA CADA PAR, DE ACORDO COM AS
FUNÇÕES ESPECÍFICAS DE CADA UM DELES, AS QUAIS
DEPENDEM, PORTANTO, DA INTEGRIDADE TANTO DE SEUS
COMPONENTES PERIFÉRICOS COMO CENTRAIS. NO DECORRER
DO CAPÍTULO, VAMOS DISCUTIR DETALHADAMENTE CADA PAR.
Distúrbios do olfato
Fonte: Autor. Baseado em Campbell4 e Larner7.
c) Parâmetros de normalidade:
A acuidade visual normal equivale a 1 ou 20/20, ou seja, aquilo que uma
pessoa com visão normal enxerga a 20 pés (6 m), o paciente também enxerga
a 20 pés. A escala varia até 1/10 ou 20/200 (o maior caractere), o que
significa que aquilo que uma pessoa com visão normal enxerga a 200 pés (60
m), o paciente só consegue enxergar a 20 pés (ou 6 m). Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), a classificação das deficiências
visuais de acordo com a classe de acuidade visual é a seguinte:
Fonte: Autor.
c) Parâmetros de normalidade:
O campo visual normal estende-se de 90° a 100° temporalmente, cerca
de 60° nasalmente, de 50° a 60° superiormente e 60° a 75° inferiormente.
Apesar de haver variações individuais nos campos de visão devido à
configuração facial, à forma da orbita, à posição do olho na orbita ou ao grau
de projeção da sobrancelha e do tamanho do nariz, essa variação raramente é
significativa do ponto de vista clínico.
Quadro 4. Principais anormalidades do campo visual.
SÃO ÁREAS DE VISÃO COMPROMETIDA CIRCUNDADAS POR VISÃO NORMAL, QUE
PODEM SER ABSOLUTOS, QUANDO A FUNÇÃO VISUAL ESTÁ PERDIDA, OU RELATIVOS,
QUANDO A FUNÇÃO VISUAL ESTÁ DIMINUÍDA, MAS NÃO AUSENTE. SÃO
REPRESENTADOS POR MANCHAS ESCURAS. O ESCOTOMA FISIOLÓGICO É O DISCO
ÓPTICO, DENOMINADO “PONTO CEGO” DA VISÃO. ESCOTOMAS SÃO SINTOMAS, POR ISSO
ESCOTOMAS PODEM ESTAR PRESENTES EM DIVERSAS DOENÇAS, VARIANDO SUA LOCALIZAÇÃO E
SUA FORMA. CAUSAS: DOENÇAS DA RETINA OU DO NERVO ÓPTICO, COMO A NEURITE
ÓPTICA, DOENÇAS CEREBRAIS NO POLO OCCIPITAL, DOENÇA OCULAR PRIMÁRIA, COMO
GLAUCOMA, DENTRE OUTRAS. ESCOTOMAS CINTILANTES SÃO UM TIPO DE AURA
VISUAL COMUM NA ENXAQUECA.
Principais
anormalidades do
campo visual
Fonte: Autor.
ANORMALIDADES DA
FUNDOSCOPIA
EXOFTALMIA E ENOFTALMIA A POSIÇÃO DO BULBO DO OLHO NA ÓRBITA PODE SER ANORMAL, COM
PROTRUSÃO (EXOFTALMIA, PROPTOSE) OU RETRAÇÃO (ENOFTALMIA).
A EXOFTALMIA GERALMENTE É BILATERAL, E, NA MAIORIA DAS
VEZES, É CAUSADA POR DOENÇA DA TIREOIDE. ALGUMAS DAS
CAUSAS NEUROLOGICAMENTE IMPORTANTES DE PROPTOSE
UNILATERAL INCLUEM LESÃO EXPANSIVA DA ÓRBITA, FÍSTULA
CAROTIDEOCAVERNOSA, TROMBOSE DO SEIO CAVERNOSO,
MENINGIOMA DA ASA DO ESFENOIDE, MENINGOCELE E
MUCORMICOSE.
Fonte: Autor.
c) Parâmetros de normalidade:
Espera-se que o paciente seja capaz de realizar todos os movimentos
solicitados e que eles permaneçam uniformes e conjugados durante todo o
exame.
Testes auditivos
Fonte: Autor. Baseado em Gusmão3, Campbell4, Greenberg6 e Porto8.
Fonte: Autor.
Anormalidades auditivas
Anormalidades vestibulares
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 15. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Fonte: Autor.
Tabela 1. Variáveis diagnósticas do teste de confrontação.
DEFEITO POSTERIOR (QUIASMA ÓPTICO OU CÓRTEX OCCIPITAL) 43-86% 86-98% 9,6 0,4
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
PROPORÇÃO (%) 31 11 45 13
ETIOLOGIA (%)
TRAUMA CRANIANO 13 34 11 18
NEOPLASIA 11 5 19 29
ISQUEMIA 25 22 20 7
ANEURISMA 17 1 3 11
OUTROS 14 8 21 19
Etiologia isolada de
paralisia dos nervos
cranianos III, IV e VI
NC NC NC
MISTAS
III IV VI
HISTÓRIA CLÍNICA
M.J.D., sexo masculino, 55 anos, procedente de Sobral-CE, pardo, casado,
aposentado, católico, ensino médio completo. Veio à consulta com
neurologista devido à queixa de “dor no ouvido e no rosto” há 1 semana.
O paciente relata que, há 1 semana, iniciou quadro de otalgia intensa a
esquerda, associada a dor em hemiface correspondente, descrita como
queimadura, constante, agravada pela mastigação e sem fatores de alívio.
Refere também presença de acúfenos e perda auditiva do mesmo lado dos
sintomas. Nega febre, otorreia e queixas respiratórias. Já fez uso de dipirona
e anti-inflamatórios não esteroidais, sem melhora dos sintomas. Está em uso
de Amoxicilina-Clavulonato há 2 dias, prescrita pelo médico assistente do
Programa de Saúde da Família, por suspeita de otite externa, também sem
melhora do quadro.
Medicações em uso: Losartana 50 mg (1-0-1), Hidroclorotiazida 25 mg (1-
0-0), Levotiroxina 75 mcg (1-0-0), Amoxicilina-Clavulanato.
Antecedentes pessoais: Hipertenso e hipotiroideo. Varicela aos 20 anos.
Hábitos: Nega etilismo e tabagismo.
Antecedentes familiares: Mãe diabética e renal crônica dialítica. Pai já
falecido por causas externas.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado,
hidratado, acianótico, anictérico e afebril, eupneico, vigil, orientado.
Dados vitais: FC 70 bpm, FR 18 irpm, Tax 36,2°C, PA 130x90 mmHg
(aferida no membro superior direito, com o paciente sentado).
Exame da cabeça e do pescoço: presença de lesões vesiculares em pavilhão
auricular esquerdo. Otoscopia a esquerda revela edema e eritema no canal
auditivo externo, membrana timpânica sem sinais inflamatórios.
Adenomegalia submandibular esquerda, medindo cerca de 1,5 cm no seu
maior diâmetro, móvel, doloroso a palpação, de consistência fibroelástica.
Desvio de comissura labial para a direita.
Exame neurológico: orientado em tempo e espaço. Ausência de expressão
facial em toda a hemiface esquerda, com incapacidade de elevação da
comissura labial esquerda e incapacidade de encerramento da pálpebra
esquerda. Teste de Rinne normal em ambas as orelhas e teste de Weber com
lateralização para o ouvido direito. Pupilas normais. Reflexos tendinosos e
marcha preservados.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à
percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos adventicios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de
turgência jugular patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas,
em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome semigloboso
por adiposidade, sem abaulamentos ou cicatrizes, RHA presentes, flácido e
indolor, ausência de massas ou visceromegalias palpáveis, espaço de Traube
livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem
perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose
ou edema.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: sem achados de
significância clínica.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
Quadro 16. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
DISCUSSÃO DO CASO
O paciente apresenta como queixa principal um quadro álgico e uma
paralisia facial, que serão nossos sintomas-guia. A caracterização da dor
deve ser feita questionando sua localização, qualidade, intensidade, duração,
progressão, fatores de melhora e de piora, bem como sintomas associados.
Pela descrição do paciente, trata-se de um quadro agudo de otalgia e de dor
em hemiface esquerda, que pode ser definida como dor neuropática (“em
queimação”, continua e sem fatores de melhora).
A paralisia facial é a perda de função motora nos movimentos da mímica
facial que pode ser do tipo central ou periférica. Paralisia facial central é
aquela advinda de distúrbios do sistema nervoso central, como um Acidente
Vascular Cerebral (AVC). Apresenta-se com perda dos movimentos na
metade inferior da hemiface, poupando os movimentos frontais. Já a
paralisia facial periférica compromete toda a hemiface e tem origem nos
distúrbios do nervo facial (NC VII). Sua principal apresentação é a paralisia
de Bell, cuja origem é idiopática. Outras causas de paralisia facial periférica
são infecções virais, diabetes, herpes zoster, tumores de parótida e do ângulo
ponto-cerebelar, doença de Lyme, entre outros. O paciente do caso tem um
comprometimento dos movimentos de toda a hemiface esquerda; portanto,
se caracterizando como paralisia facial periférica.
Além disso, durante a entrevista, foram ainda referidos sintomas
auditivos (acúfenos e perda auditiva). Entretanto, faz-se necessário o exame
físico para melhor entendimento dessa queixa.
O exame físico mostra, já na inspeção, lesões vesiculares em pavilhão
auricular esquerdo, otoscopia sem sinais de infecção da membrana
timpânica, e uma adenomegalia pequena com sinais puramente benignos
(nódulo móvel, doloroso, fibroelástico). Todos estes são sinais que falam a
favor de um quadro infeccioso. O exame neurológico confirma a paralisia
facial periférica e identifica o déficit auditivo como surdez do tipo
neurossensorial (o Teste de Rinne, que avalia perda auditiva condutiva, foi
normal em ambas as orelhas, e o Teste de Weber, com lateralização para o
lado contrário da perda auditiva). A união desses achados recebe o nome de
Síndrome de Ramsay Hunt,15 uma reação do herpes-zoster no gânglio
geniculado, que compromete os pares de nervos cranianos VII e VIII
(perceba a história pregressa de varicela na idade adulta).
Esse vírus tem tropismo por tecido ganglionar e, geralmente, permanece
em latência nos gânglios nervosos após a primo-infecção. Em situações de
falha na imunidade celular, o vírus latente acomete o nervo produzindo uma
erupção cutânea no dermátomo afetado. A paralisia facial é a sequela mais
comum da síndrome. Pode alcançar sua máxima intensidade dentro da
primeira semana de início da sintomatologia e apresenta como fatores de
mau prognóstico a idade superior a 50 anos e paralisia completa. No que diz
respeito ao diagnóstico, na maioria das vezes, é clínico. O tratamento da
síndrome é feito com aciclovir, corticoide e medicações para dor
neuropática, como pregabalina. Distúrbios do sistema nervoso central,
colesteatoma, neuromas faciais e tumores da glândula parótida são
diagnósticos diferenciais.
Sintoma-guia: Otalgia e paralisia facial periférica.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome deficitária motora (motricidade
facial) e sensorial (perda auditiva).
Diagnóstico anatômico/topográfico: Supratentorial: NC VII e VIII.
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
• Os nervos cranianos (NC) partem em doze pares do encéfalo em
direção aos órgãos dos sentidos e aos músculos da cabeça e do
pescoço;
REFERÊNCIAS
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1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. EXAME DA COORDENAÇÃO
MOTORA
• Etapas do procedimento:
Teste índex-nariz-índex: o paciente estende completamente o
braço e então toca, com o dedo indicador, a ponta do seu nariz e o
dedo indicador do examinador. Primeiro, lentamente, e depois
rapidamente, com os olhos abertos. O dedo do examinador pode
ser movimentado um pouco no decorrer do teste e o paciente é
solicitado a tocar o alvo durante o movimento.
Fonte: Autor.
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS - MBE
Quadro 2. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
SE MEU PACIENTE TEM UMA DOENÇA, QUAL PROBABILIDADE DE
SENSIBILIDADE
UM TESTE DIAGNÓSTICO SER POSITIVO?
Fonte: Autor.
DISMETRIA 71-86%
DISDIADOCOCINESIA 47-69%
NISTAGMO 54-84%
HIPOTONIA 76%
DISARTRIA 10-25%
DEGENERAÇÃO CEREBELAR ANTERIOR
(INGESTÃO CRÔNICA DE ÁLCOOL)
NISTAGMO 9%
DISARTRIA 9%
INFARTO CEREBELAR
DISARTRIA 44%
HEMIPARESIA 22%
TETRAPARESIA 24%
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
V.C.S, sexo masculino, 3 anos, procedente de Camocim-CE, negro.
Apresenta-se à consulta com pediatra trazido pela mãe com a queixa de
“dificuldade para andar”.
A mãe refere que, há cerca de 10 dias, a criança apresentou febre não
mensurada, vômitos, diarreia e hiporexia, por 3 dias. Foi medicado apenas
com dipirona e anti-inflamatórios não esteroidais com remissão dos
sintomas descritos. Uma semana depois, evoluiu com quedas frequentes e
tremores pelo corpo. Nega outras queixas e outros sintomas neurológicos.
Antecedentes pessoais: Desenvolvimento neuropsicomotor normal.
Antecedentes familiares: Mãe e pai sem doenças relatadas.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado,
hidratado, acianótico, anictérico, febril, eupneico, vigil, orientado.
Dados vitais: FC 70 bpm, FR 30 irpm, Tax 37,8°C, PA 106x80 mmHg,
sentado, no membro superior esquerdo.
Exame da cabeça e do pescoço: sem achados de significância clínica.
Exame neurológico: Deambula com apoio, base de sustentação alargada.
Presença de tremor intencional nos membros e nistagmo horizontal bilateral
com piora durante fixação do olhar. Funções superiores, pares cranianos,
função motora e reflexos normais.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à
percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos adventicios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ritmo
cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome semigloboso
por adiposidade, sem abaulamentos ou cicatrizes, RHA presentes, flácido e
indolor, ausência de massas ou visceromegalias palpáveis, espaço de Traube
livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem
perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose
ou edema.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: sem achados de
significância clínica.
EXAMES COMPLEMENTARES
Tomografia de crânio e exame do líquido cefalorraquidiano normais.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
Quadro 3. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
Fonte: Autor. Baseado em Chaves10.
DISCUSSÃO DO CASO
O sintoma-guia é a ataxia, no caso descrito, a ataxia de marcha. A
ataxia (do grego ataktos) é a falta de coordenação dos movimentos
voluntários e do equilíbrio, que resulta, em linhas gerais, de um dos três
distúrbios a seguir: disfunção cerebelar, disfunção vestibular ou disfunção
sensorial. Pode ser classificada como aguda, quando sua instalação se dá em
menos de 72 horas, em um indivíduo previamente normal, ou crônica, cujo
curso tende a ser mais insidioso e progressivo. Na criança, um quadro de
ataxia crônica guarda maior relação com doenças congênitas e
malformações do sistema nervoso central. A investigação desse sintoma é
feita através dos antecedentes pessoais e familiares, infecções ou
traumatismos recentes e ingesta de substâncias tóxicas.
A ataxia do paciente em questão se manifestou por quedas frequentes
em uma criança com desenvolvimento neuropsicomotor normal até então, o
que leva a classificá-la como aguda e conduz o raciocínio para causas
adquiridas. Associado ao quadro, existe um tremor intencional de
extremidades e nistagmo horizontal, que falam a favor de uma síndrome de
ataxia cerebelar.
O nistagmo é o grande sintoma dos distúrbios do labirinto, contudo sua
origem pode ser central ou periférica. Nas causas periféricas, apresenta-se
quase sempre associado a vertigem, em crises, com fatigabilidade à fixação
do olhar e sem mudança de sentido com o olhar fixo. Já nas causas centrais,
costuma se apresentar sem associação com vertigem, de forma uni ou
bidirecional, com piora durante a fixação do olhar. Note que o nistagmo do
paciente em questão guarda característica de causa central, fortalecendo a
hipótese colocada.
O tremor é uma oscilação involuntária e rítmica, geralmente
classificado como tremor de repouso ou de ação, sendo este último
dependente da contração muscular. O tremor de ação pode ainda ser
dividido em subtipos: postural, cinético, intencional, tarefa-específica e
isométrico. O tremor de origem cerebelar é tipicamente intencional, ou seja,
ocorre durante o movimento de atingir um alvo. Também é a apresentação
encontrada no exame físico do paciente.7
Ademais, a história patológica pregressa mostra um quadro infeccioso
inespecífico, de provável origem viral, que antecedeu o quadro neurológico,
e os exames complementares não evidenciaram lesões cerebrais que
pudessem justificar os sintomas relatados, o que corrobora com a hipótese
levantada.
Na criança, a causa mais frequente de ataxia cerebelar aguda
corresponde à ataxia cerebelosa ou cerebelite aguda pós-infecciosa (quase
sempre de causa viral), seguida pelas intoxicações medicamentosas (os
principais fármacos envolvidos são os anticonvulsivantes, anti-histamínicos
e os benozodiazepínicos), que, em geral, são quadro benignos e
autolimitados. Contudo, causas traumáticas, e, com maior preocupação, as
causas neoplásicas devem ser descartadas, apesar da menor prevalência.
Dentre as causas neoplásicas, os tumores de fossa posterior são as mais
prevalentes.8
Sintoma-guia: Ataxia.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome cerebelar.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Infratentorial – cerebelo.
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
• O cerebelo é o centro de coordenação dos movimentos voluntários;
• Quatro sinais físicos são fundamentais para a doença cerebelar:
ataxia, nistagmo, hipotonia e disartria;
REFERÊNCIAS
1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Humana. 12. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier; 2011.
2. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2014.
3. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo:
Atheneu; 2014.
4. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases
anatomofuncionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2007.
5. Larner AA. Dictionary of Neurological Signs. 3rd ed. New York:
Springer; 2011.
6. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia,
PA: Elsevier; 2018.
7. Borges V, Ferraz HB. Tremores. Rev Neuroci. 2003; 14(1): 43-7.
8. Caldeira F, Sanches B, Monteiro JP, Calhau P, Fonseca MJ. Ataxia
aguda em idade pediátrica – revisão retrospectiva de cinco anos. Sci
Médica. 2012; 22(1): 3-11.
9. Greenberg DA, Aminoff MJ, Simon RP. Neurologia clínica. 8. ed.
Porto Alegre: AMGH; 2014.
10. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.).
Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. FUNÇÃO MOTORA
Tanto o sistema nervoso
central quanto o periférico
participam da atividade
2.1. O Sistema Motor 1,3 motora. Filogeneticamente,
as respostas motoras
apropriadas para as informações sensoriais processadas tiveram início na
medula espinhal e, posteriormente, estenderam-se para o tronco cerebral e
prosencéfalo, tornando-se cada vez mais complexas. As grandes vias
eferentes põem em comunicação os centros nervosos com os órgãos
efetores. Podemos dividi-las em vias eferentes somáticas, que controlam a
atividade dos músculos estriados esqueléticos (que atuam na motricidade
voluntária), e vias eferentes viscerais, que fazem parte do sistema nervoso
autônomo.
Neste capítulo, vamos nos ater às vias eferentes somáticas. As vias
motoras iniciam-se pelos tratos de substância branca, através dos neurônios
motores superiores, localizados na faixa motora do córtex cerebral e em
vários núcleos do tronco encefálico. Esses neurônios fazem sinapse com os
nervos cranianos no tronco encefálico e com nervos periféricos na medula.
No corno anterior da medula espinal, as vias continuam com os neurônios
motores inferiores, seguindo para a periferia por meio dos nervos
periféricos, cujos axônios transmitem impulsos através das raízes anteriores
e dos nervos espinais para os nervos periféricos, terminando na junção
neuromuscular.
Cabe lembrar que esses níveis são interdependentes entre si e que não é
possível analisar o sistema motor separadamente do sistema sensorial. O
comprometimento da sensibilidade pode afetar todos os aspectos do
movimento – volitivo, reflexo, postural, tônico e fásico.
Anormalidades do movimento
DOENÇA DE PARKINSON É O PROTÓTIPO DOS TRANSTORNOS HIPOCINÉTICOS E
DEVE SER DIFERENCIADA DE PARKINSONISMO. O TERMO
PARKINSONISMO ENVOLVE A PRESENÇA DE TREMOR EM
REPOUSO, BRADICINESIA, RIGIDEZ E REFLEXOS
POSTURAIS COMPROMETIDOS, SENDO A DOENÇA DE
PARKINSON APENAS UMA DE SUAS CAUSAS.
PATOGÊNESE: DEGENERAÇÃO DOS NEURÔNIOS
DOPAMINÉRGICOS NA SUBSTÂNCIA NEGRA;
EPIDEMIOLOGIA: PREDOMINANTE EM IDOSOS,
AUMENTANDO EXPONENCIALMENTE A PARTIR DA 6ª
DÉCADA DE VIDA;
CLÍNICA: BRADICINESIA, RIGIDEZ, TREMOR DE
REPOUSO, FACE INEXPRESSIVA E INSTABILIDADE
POSTURAL, SEM PERDA EFETIVA DA FORÇA MUSCULAR,
ATROFIA, FASCICULAÇÕES, ALTERAÇÕES REFLEXAS NEM
REFLEXOS PATOLÓGICOS;
TREMOR: GROSSEIRO (“ENROLAR DE PÍLULAS”), NÃO
INTENCIONAL E RÍTMICO, PODENDO ENVOLVER MÃOS,
PÉS, MAXILARES, LÍNGUA, LÁBIOS E FARINGE, MAS NÃO
A CABEÇA;
MARCHA: MARCHA LENTA E ARRASTADA, PASSOS
CURTOS, POSTURA FLEXIONADA E ENCURVADA DO
TRONCO E DAS EXTREMIDADES, OSCILAÇÃO DOS
BRAÇOS REDUZIDA E TENDÊNCIA A VIRAR O CORPO “EM
BLOCO”;
FÁSCIES: EXPRESSÃO TÍPICA COM HIPOMIMIA E OLHAR
FIXO, CHAMADA “FACE EM MÁSCARA”. O FENÔMENO DO
CONGELAMENTO É COMUM E SE DÁ QUANDO O
PACIENTE PARA SUBITAMENTE NO MEIO DE UM ATO
MOTOR.
Síndromes dos
neurônios
motores
DOENÇA DO
SEGUNDO
DOENÇA DO PRIMEIRO NEURÔNIO MOTOR NEURÔNIO
(PARALISIA ESPÁSTICA) MOTOR
(PARALISIA
FLÁCIDA)
NENHUMA
0
CONTRAÇÃO
UM ESBOÇO
OU TRAÇO
1
DE
CONTRAÇÃO
MOVIMENTO
ATIVO COM
2 ELIMINAÇÃO
DA
GRAVIDADE
MOVIMENTO
ATIVO
3
CONTRA A
GRAVIDADE
MOVIMENTO
ATIVO
CONTRA
4– GRAVIDADE
E
RESISTÊNCIA
LEVE
MOVIMENTO
ATIVO
CONTRA
4 GRAVIDADE
E
RESISTÊNCIA
MODERADA
MOVIMENTO
ATIVO
CONTRA
4+ GRAVIDADE
E
RESISTÊNCIA
FORTE
FORÇA
5
NORMAL
Fonte: Escala de força do Medical Research Council.
a) Orientações gerais
O exame da força avalia principalmente a força muscular voluntária, e
não a contração reflexa;
Fonte: Autor.
• Fita métrica
b) Orientações gerais
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 4. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
SE MEU PACIENTE
TEM UMA DOENÇA,
QUAL
SENSIBILIDADE PROBABILIDADE DE
UM TESTE
DIAGNÓSTICO SER
POSITIVO?
SE MEU PACIENTE
NÃO TEM UMA
DOENÇA, QUAL
ESPECIFICIDADE PROBABILIDADE DE
UM TESTE
DIAGNÓSTICO SER
NEGATIVO?
QUANTAS VEZES É
MAIS PROVÁVEL
ENCONTRAR UM
RESULTADO, SEJA
ELE POSITIVO OU
NEGATIVO, EM
PESSOAS DOENTES
EM RELAÇÃO A
PESSOAS SADIAS?
• QUANTO MAIOR
A RV POSITIVA =
MAIS O
RAZÃO DE RESULTADO
VEROSSIMILHANÇA POSITIVO
AUMENTA A
PROBABILIDAD
E DE DOENÇA.
• QUANTO
MENOR A RV
NEGATIVA =
MAIS O
RESULTADO
NEGATIVO
DIMINUI A
PROBABILIDAD
E DE DOENÇA.
Fonte: Autor.
SINAIS
RIGIDEZ E BRADICINESIA 4.5 (2.9-7.1) 0.12 (0.03-0.45)
DIFICULDADE EM ANDAR
COM PISADA NO SENTIDO 2.9 (1.9-4.5) 0.32 (0.15-0.70)
CALCANHAR-DEDOS
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
I.A.F., sexo masculino, 52 anos, natural e procedente de Uruoca-CE,
branco, casado, evangélico, pedreiro, analfabeto funcional. Veio à consulta
ambulatorial com queixa de “fraqueza há meses”.
O paciente refere que, há cerca de 9 meses, percebeu dificuldade de segurar
objetos na mão direita (o paciente é destro e algumas vezes deixou cair
instrumentos de trabalho). Inicialmente, eram episódios isolados e não
prejudicavam suas atividades diárias. Há cerca de 5 meses, no entanto, vem
apresentando piora do sintoma, com dificuldade de elevar o membro
superior direito, mesmo em atividades simples do dia a dia, como pentear os
cabelos. Procurou atendimento no PSF de origem, realizando radiografia e
ultrassonografia do ombro, sem alterações. Contudo, os sintomas impediam
as atividades laborais e ele foi afastado do emprego desde então. Associado
ao quadro refere ter percebido dificuldade da marcha há 2 meses, com 1
episódio de queda no mês anterior, dentro de casa, ao subir os degraus da
escada que leva ao seu quarto (nega vertigem, lipotimia ou outros sintomas
no momento da queda).
Medicações em uso: Diazepam 5 mg, 1 comprimido a noite por insônia.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades, alergias e cirurgias.
Hábitos: Tabagista desde os 18 anos (carga tabágica 34 maços/ano).
Etilismo há 3 anos (ingere bebida alcóolica pelo menos 3 vezes na semana).
Antecedentes familiares: Mãe falecida aos 75 anos por complicações de
Acidente Vascular Cerebral, com diagnóstico prévio de epilepsia. Pai
falecido aos 80 anos, por causas indeterminadas. Irmã em tratamento para
transtorno depressivo.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado,
hidratado, acianótico, anictérico, afebril, eupneico, vigil, orientado.
Dados vitais: FC 85 bpm, FR 14 irpm, Tax 36,7°C, PA 130x84 mmHg
(aferida com o paciente sentado, no membro superior direito).
Exame da cabeça e do pescoço: sem achados de significância clínica.
Exame neurológico: Funções corticais e de pares cranianos preservadas.
Força muscular grau 3 em MSD, grau 4 em MSE e grau 4 em MMII.
Sensibilidade tátil e vibratória preservadas, reflexos grau 3 globalmente,
hipotrofia em mãos, MMSS e MMII, presença de miofasciculações.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax em tonel, eupneico,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à
percussão, murmúrio vesicular reduzido globalmente, sem ruídos
adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ritmo
cardíaco regular, bulhas hipofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal: abdome globoso por adiposidade, cicatriz no ponto de
McBurney, RHA presentes, flácido e indolor, ausência de massas ou
visceromegalias palpáveis, espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem
perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose
ou edema.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: Hipotrofia em
membros superiores e inferiores.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Exames laboratoriais: Hb 13,5 g/dL, Ht 32%, leucócitos 4.550,
plaquetas 287.000, creatinina 0,97 mg/dL, ureia 28 mg/dL, sódio
139 mg/dL, potássio 3,9 mg/dL, glicose 138 mg/dL, TGO 16 U/L,
TGP 18 U/L, PCR negativa;
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
Quadro 5. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
Fonte: Autor. Baseado em Chaves11.
DISCUSSÃO DO CASO
Trata-se de um paciente cuja queixa principal é fraqueza. Este sintoma
será tomado como sintoma-guia. Na investigação da fraqueza,
primeiramente é necessário determinar o padrão de fraqueza. Ela pode ser
subjetiva (sem achados anormais no exame físico, geralmente decorrente de
doenças sistêmicas como doenças cardiopulmonares, síndromes anêmicas,
depressão, fibromialgia) ou objetiva; generalizada ou com predomínio em
grupos musculares específicos; distal ou proximal. A fraqueza simétrica
distal é característica precoce da doença dos neurônios motores ou
neuropatia periférica, enquanto a fraqueza muscular proximal é
normalmente observada nas várias miopatias, em algumas distrofias
musculares e na miastenia gravis.
O paciente do caso apresenta um padrão de fraqueza distal, e o exame
neurológico permite confirmar que o problema é puramente motor, sem
outras funções neurológicas afetadas, como também evidencia sinais de
comprometimento tanto dos neurônios motores superiores quanto dos
neurônios motores inferiores (hiperreflexia, hipotrofia e miofasciculações).
Uma vez identificado o padrão da fraqueza, deve-se buscar o local de lesão
e a causa.
Unindo os dados da história clínica e do exame físico, resume-se que se
trata de um homem de meia-idade, branco, com uma história patológica
pregressa pobre, apresentando distúrbio neurológico puramente motor
(síndrome deficitária motora), com sintomas de primeiro e de segundo
neurônios motores. Ou seja, não se tem um sítio anatômico único, de forma
que a doença parece afetar desde o córtex até o corno anterior da medula. E
qual seria a causa? Para responder a essa pergunta, é necessário lançar mão
de exames complementares.
Na investigação complementar, os exames laboratoriais e de imagem
são normais. Apenas um exame complementar está alterado e chama a
atenção: a eletroneuromiografia, que apresenta padrão de denervação em
mais de um segmento.
E agora? Em qual doença pensar? A história clínica aliada ao exame
físico e aos exames complementares sugerem fortemente a Esclerose
Lateral Amiotrófica (ELA). O termo “Amiotrófica” faz referência à
atrofia das fibras musculares, que gera paresia dos músculos afetados
associada a fasciculações. “Esclerose Lateral” reporta-se à degeneração do
trato corticoespinhal anterior e lateral, cujos neurônios são substituídos por
gliose.
Trata-se de um distúrbio progressivo que envolve a degeneração do
sistema motor em vários níveis (bulbar, cervical, torácico e lombar), sendo
a idade o fator preditor mais importante e cuja sobrevida média gira em
torno de três a cinco anos. Sua causa permanece desconhecida, mas já
foram sugeridos mecanismos como mutações genéticas, alterações
citoesqueléticas, disfunção mitocondrial, infecções virais, apoptose,
anormalidades nos fatores de crescimento e respostas inflamatórias. O
quadro clínico da ELA reflete a perda de neurônios do sistema motor – do
córtex ao corno anterior da medula. Os sinais físicos desse distúrbio
incluem achados de ambos neurônios motores, o superior (NMS) e o
inferior (NMI), sem déficits sensitivos, pois estes são incompatíveis com a
fisiopatologia da doença. Os achados físicos correlacionam-se com as
diferentes topografias da degeneração dos núcleos motores: bulbar, cervical
ou lombar. O diagnóstico definitivo é dado com sinais de alteração nos
NMS e NMI em três regiões (bulbar, cervical, torácica ou lombossacral),
associado a progressão da doença e ausência de sinais sensitivos.
Várias estratégias modificadoras da doença têm sido testadas em ensaios
clínicos, mas apenas um medicamento (riluzol) foi aprovado até agora.
Sobre a terapia não farmacológica, o suporte ventilatório não invasivo, nas
suas várias modalidades, é o que mais aumenta a sobrevida e a qualidade de
vida do paciente com ELA, sendo inclusive possivelmente superior ao uso
de riluzol.
Sintoma-guia: Fraqueza muscular.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome deficitária motora.
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
• As grandes vias eferentes põem em comunicação os centros
nervosos com os órgãos efetores, sendo a unidade motora o destino
comum final das vias da motricidade;
REFERÊNCIAS
1. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo:
Atheneu; 2014.
2. Bickley LS, Szilagyi PG. Bates, propedêutica médica. 12. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2018.
3. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2014.
4. Gondim FAA, Thomas FP, Graça JRV. Lesões medulares clínicas e
experimentais. Fortaleza: Imprensa Universitária; 2016.
5. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases
anatomofuncionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2007.
6. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Humana. 12. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier; 2011.
7. Greenberg DA, Aminoff MJ, Simon RP. Neurologia clínica. 8. ed.
Porto Alegre: AMGH; 2014.
8. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2011.
9. LARNER, A. A DICTIONARY OF NEUROLOGICAL SIGNS.
THIRD EDITION. Springer. 2011.
10. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia,
PA: Elsevier; 2018.
11. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.).
Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. O SISTEMA SENSITIVO1,2
Sensibilidade é a capacidade do sistema nervoso perceber um estímulo,
de forma consciente ou não. Todas as nossas sensações dependem de
impulsos originados por estimulação de receptores ou órgãos terminais e de
vias sensoriais que conectam os tecidos periféricos ao córtex sensitivo
primário (localizado no giro pós-central, nas áreas 1, 2 e 3 de Brodmann).
Essas vias podem envolver três neurônios (vias conscientes) ou dois
neurônios (vias inconscientes). Sherrington dividiu a sensibilidade em:
2.1. Receptores
O receptor constitui a interface entre o sistema nervoso sensorial e o
ambiente. Mecanorreceptores, quimiorreceptores, termorreceptores e
nocirreceptores são encontrados na pele e nas mucosas de todo o corpo. Eles
estão conectados aos prolongamentos periféricos dos primeiros neurônios da
via sensitiva.
C5 – CLAVÍCULAS
C5, 6, 7 – FACE LATERAL DOS MEMBROS
SUPERIORES
C8, T1 – FACE MEDIAL DOS MEMBROS
SUPERIORES
C6 – POLEGAR
C6, 7, 8 – MÃO
C8 – QUARTO E QUINTO QUIRODÁCTILOS
T4 – NÍVEL DOS MAMILOS
T10 – NÍVEL DA CICATRIZ UMBILICAL
T12 – REGIÃO INGUINAL
L1, 2, 3, 4 – FACE ANTERIOR E INTERNA DOS
MEMBROS INFERIORES
L4, 5, S1 – PÉS
L4 – FACE MEDIAL DO HÁLUX
S1,2, L5 – FACE POSTERIOR E EXTERNA DOS
MEMBROS INFERIORES
S1 – MARGEM LATERAL DO PÉ E QUINTO
PODODÁCTILO
S2, 3, 4 – PERÍNEO
2.3. Vias Centrais
Os prolongamentos centrais dos gânglios espinais formam as raízes
posteriores que vão subir pela medula espinal. As fibras nervosas que
carregam sensibilidade dolorosa e térmica entram na medula espinhal e
atravessam para o outro lado, seguindo seu trajeto pelo trato espinotalâmico
lateral contralateral.
As fibras que carregam a sensibilidade proprioceptiva dos músculos,
articulações e tendões entram na raiz dorsal e participam do arco reflexo.
Outras fibras, que carregam sensibilidade proprioceptiva e tátil, entram
diretamente nas colunas posteriores e sobem nos fascículos grácil e
cuneiforme para os núcleos ipsilaterais. Suas fibras vão cruzar a linha média
no lemnisco medial.
O destino comum final de todas as aferências sensitivas é fazer sinapse
no tálamo e, finalmente, no giro pós-central do lobo parietal. Ainda outras
fibras proprioceptivas sobem cruzando e sem cruzar nos tratos
espinocerebelares para o cerebelo.
Figura 2. Representação esquemática das vias sensitivas.
Fonte: Autor.
Quadro 1. Principais vias aferentes sensoriais.
Principais vias
aferentes
sensoriais
TRATO
ESPINOTALÂMICO
Dor e temperatura
LATERAL E TRATO
ESPINORRETICULAR
TRATO
Pressão e tato protopático ESPINOTALÂMICO
ANTERIOR
Propriocepção consciente
FASCÍCULOS GRÁCIL
Tato epicrítico
E CUNEIFORME
Sensibilidade vibratória
TRATOS
ESPINOCEREBELARES
Propriocepção inconsciente
E TRATO
CUNEOCEREBELAR
FIBRAS VISCERAIS
AFERENTES QUE
Sensibilidade visceral PERCORREM NERVOS
SIMPÁTICOS OU
PARASSIMPÁTICOS
Principais
distúrbios
sensoriais
Alodinia DOR PRODUZIDA
POR UM
ESTÍMULO
MECÂNICO LEVE
QUE
NORMALMENTE
NÃO É
DOLOROSO.
PERCEPÇÃO DE
UM ESTÍMULO
SENSORIAL EM
Alestesia LOCAL
DIFERENTE DO
LOCAL DE SUA
APLICAÇÃO.
AUSÊNCIA DE
SENSIBILIDADE
Anestesia
GLOBAL OU
SELETIVA.
AUSÊNCIA DE
RESPOSTA
DOLOROSA A UM
Analgesia
ESTÍMULO
NORMALMENTE É
DOLOROSO.
INCAPACIDADE
DE RECONHECER,
Astereognosia ATRAVÉS DO
TATO, OBJETOS
FAMILIARES.
SENSAÇÃO
DESAGRADÁVEL
Disestesia OU ANORMAL
PRODUZIDA POR
UM ESTÍMULO.
PERCEPÇÃO
EXAGERADA DA
DOR EM
Hiperalgesia RESPOSTA A UM
ESTÍMULO
NORMALMENTE
DOLOROSO.
Hiperpatia REAÇÃO
EXAGERADA A
DOR APÓS
ESTÍMULOS
REPETITIVOS.
RESPOSTA
DIMINUÍDA À DOR
APÓS UM
Hipoalgesia
ESTÍMULO
NORMALMENTE
DOLOROSO.
SENSAÇÕES
ESPONTÂNEAS
Parestesia ANORMAIS COMO
QUEIMAÇÃO E
FORMIGAMENTO.
PERDA DA
Palanestesia SENSIBILIDADE
VIBRATÓRIA.
3. EXAME DA FUNÇÃO
SENSITIVA3,4,5
a) Orientações gerais
• Etapas do procedimento:
O indivíduo deve ser instruído a dizer o tipo de estímulo percebido
e sua localização, e o examinador deve ter cuidado para não sugerir
respostas;
4. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 3. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
SE MEU PACIENTE
TEM UMA DOENÇA,
QUAL
Sensibilidade PROBABILIDADE DE
UM TESTE
DIAGNÓSTICO SER
POSITIVO?
SE MEU PACIENTE
NÃO TEM UMA
DOENÇA, QUAL
Especificidade PROBABILIDADE DE
UM TESTE
DIAGNÓSTICO SER
NEGATIVO?
QUANTAS VEZES É
MAIS PROVÁVEL
ENCONTRAR UM
RESULTADO, SEJA ELE
POSITIVO OU
NEGATIVO, EM
PESSOAS DOENTES
EM RELAÇÃO A
PESSOAS SADIAS?
• QUANTO
MAIOR A RV
POSITIVA = MAIS
Razão de O RESULTADO
verossimilhança POSITIVO
AUMENTA A
PROBABILIDADE
DE DOENÇA.
• QUANTO
MENOR A RV
NEGATIVA =
MAIS O
RESULTADO
NEGATIVO
DIMINUI A
PROBABILIDADE
DE DOENÇA.
Fonte: Autor.
As anormalidades de sensações de sensibilidade tátil, dor e temperatura
definem todas as síndromes sensoriais clínicas importantes: lesão do nervo
periférico, radiculopatia, síndromes da medula espinhal, infarto medular
lateral e síndromes hemisférica talâmica e cerebral. Até o momento, nenhum
teste de diagnóstico se mostrou superior ao exame na beira do leito. Por
exemplo, a avaliação da hipoestesia é um preditor mais específico da perda
de fibras nervosas do que a avaliação com estesiômetro automático. Tabela
1. Detecção de perda de fibras nervosas.
ACHADO
ACHADO PRESENTE
AUSENTE
DIMINUIÇÃO DA
SENSIBILIDADE
DOLOROSA AO 88 81 4,6 0,2
EXAME COM
ALFINETE
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
E.D.S, sexo masculino, 67 anos, natural e procedente de Crateús-CE, pardo,
casado, católico, guarda de segurança, ensino médio completo. Veio à
consulta ambulatorial do Programa de Saúde da Família onde está
acompanhado por queixa de “dormências nos pés há 2 anos”.
O paciente refere que, há cerca de 2 anos, iniciou quadro de parestesias, tipo
“formigamento”, nos membros inferiores. Os sintomas relatados não
atrapalhavam a marcha e as atividades de vida diária, por isso não buscou
atendimento médico no período. Um ano depois, associaram-se ao quadro
descrito, lesões dermatológicas recorrentes também nos membros inferiores.
As lesões iniciavam com aspecto bolhoso, evoluindo com ulcerações e
crostas. Por conta dessas lesões, buscou atendimento médico, sendo
diagnosticado com úlceras venosas e iniciando uso de diosmina. Fez uso da
medicação por 6 meses, sem melhora das lesões, quando suspendeu o uso
por conta própria. Voltou a procurar a atendimento médico, porque notou
desaparecimento da sensação térmica e dolorosa após acidente com café
quente, há 1 mês, que culminou em queimadura de segundo grau no pé
direito. Além disso, o paciente queixa também de ressecamento da pele. Traz
resultados de exames de laboratório e biópsia de pele que foram solicitados
na consulta ambulatorial.
Medicações em uso: Captopril 25 mg 8/8h, anlodipino 5 mg 12/12h,
hidroclorotiazida 25 mg/dia; metformina 500 mg 8/8h.
Antecedentes pessoais: Hipertenso e diabético, diagnosticado há cerca de 5
anos, com curva pressórica e glicêmica bem controladas. Nega alergias e
cirurgias.
Hábitos: Tabagista desde os 25 anos, carga tabágica 43 maços/ano. Etilista
desde os 30 anos, com ingesta “em binge” de destilados (cachaça).
Antecedentes familiares: Mãe já falecida por causas desconhecidas. Não
sabe referir história pregressa do pai.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado,
hidratado, acianótico, anictérico, afebril, eupneico, vigil, orientado, pele
ressecada, presença de madarose e de múltiplos nódulos endurecidos,
indolores com pele local hiperpigmentada em antebraços e pernas.
Dados vitais: FC 90 bpm, FR 16 irpm, Tax 36,3°C, PA 130x90 mmHg
(aferida com o paciente sentado, no membro superior direito).
Exame da cabeça e do pescoço: Presença de linfadenomegalias cervicais e
axilares, indolores, móveis, fibroelásticas.
Exame neurológico: Funções corticais e de pares cranianos preservadas.
Força muscular grau 4 em membros inferiores. Sensibilidade térmica e
dolorosa comprometida em regiões plantares bilateralmente, com
preservação da sensibilidade tátil. Hipoestesia/anestesia plantar, alteração na
abdução e adução do hálux e artelhos, flexão dos metatarsianos (garra de
artelhos), com espessamento visível do tibial posterior bilateralmente.
Hiporreflexia dos reflexos Aquileus bilateralmente.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à
percussão, murmúrio vesicular reduzido globalmente, com crepitações
discretas basais bilaterais.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ritmo
cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal: abdome globoso por adiposidade, sem cicatrizes,
abaulamentos ou retrações, ruídos hidroaéreos presentes, flácido e indolor,
ausência de massas ou visceromegalias palpáveis, espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades mal
perfundidas, pulsos periféricos pediosos de difícil palpação, filiformes e
simétricos, acrocianose, edema em pés, bilateralmente com cacifo +/4+,
presença de lesões crostosas pré-tibiais e maleolares em ambos os membros
inferiores.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: sem achados de
significância clínica.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Sorologias para HIV, hepatite B e C negativas; VDRL reagente 1/2;
FAN e fator reumatoide negativos;
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
DISCUSSÃO DO CASO
Quadro 4. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
• Nervos periféricos.
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
• As anormalidades sensoriais podem ser caracterizadas por aumento,
diminuição, ausência ou perversão da sensibilidade;
REFERÊNCIAS
1. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2014.
2. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo:
Atheneu; 2014.
3. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases
anatomofuncionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2007.
4. Bickley LS, Szilagyi PG. Bates, propedêutica médica. 12. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2018.
5. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 20116. Greenberg DA, Aminoff MJ, Simon RP. Neurologia
clínica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH; 2014.
6. Seguin B, Endelman E, Granquist T. Dermatomes/Myotomes. Head and
C-Spine – A BOC Exam Preparation Overview. [Internet]. [acesso em
29/09/19].
7. Larner AA. Dictionary of Neurological Signs. 3rd ed. New York:
Springer; 2011.
8. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia prático
sobre a hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde; 2017.
9. Lastorial JC, Abreu MAMM. Hanseníase: diagnóstico e tratamento.
Diagn Tratamento. 2012; 17(4): 173-9.
10. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia,
PA: Elsevier; 2018
11. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.).
Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
As duas figuras mostram o exemplo de arco reflexo profundo monossináptico, ou seja, aquele em que
as vias aferente e efetora estão no mesmo nível medular.
As anormalidades reflexas causadas por doença das vias motoras descendentes (suprassegmentares)
costumam ser conhecidas como sinais do neurônio motor superior (primeiro neurônio), corticospinais ou
piramidais.
FLEXORES C7-
FACE FLEXÃO DOS
Flexor dos dedos DOS DEDOS C8- NERVO MEDIANO
PALMAR DEDOS DA MÃO
DAS MÃOS T1
FLEXÃO DO
ANTEBRAÇO E,
APÓFISE EVENTUALMENTE,
C5-
Supinador SUPINADORES ESTILOIDE LIGEIRA NERVO ULNAR
C6
DO RÁDIO PRONAÇÃO E
FLEXÃO DOS
DEDOS
C6-
PROCESSO PRONAÇÃO DA
C7-
Pronador PRONADORES ESTILOIDE MÃO E NERVO RADIAL
C8-
DA ULNA ANTEBRAÇO
T1
TENDÃO
C5- FLEXÃO DO NERVO
Bicipital BÍCEPS DISTAL DO
C6 ANTEBRAÇO MUSCULOCUTÂNEO
BÍCEPS
C6- TENDÃO
EXTENSÃO DO
Tricipital TRÍCEPS C7- DISTAL DO NERVO RADIAL
ANTEBRAÇO
C8 TRÍCEPS
Os reflexos miotáticos fásicos podem ser: normais, abolidos, diminuídos, vivos ou exaltados. Suas
alterações podem ser simétricas ou não. O registro dos resultados deve ser feito literalmente ou por meio
de sinais convencionais:
Tabela 1. Classificação dos reflexos quanto à intensidade de sua resposta.
Arreflexia ou abolido (0)
Hiporreflexia (1+)
Normoreflexia (2+)
Hiperreflexia (4+)
As imagens abaixo exemplificam as manobras para o exame dos reflexos profundos mais comumente
utilizadas.
Figura 3. Obtenção do reflexo patelar com a percussão do tendão rotuliano.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Em caso de obtenção de um reflexo grau 0, deve-se usar manobras de sensibilização, como aumentar
a tensão passiva no músculo avaliado, a fim de constatar se realmente está ausente. No entanto, reflexos
ausentes ou aumentados, por si só, não significam doença neurológica presente. Por exemplo, 6% a 50%
dos idosos que comprovadamente não possuem doença neurológica podem cursar com abolição do
reflexo aquileu mesmo com realização de manobras de sensibilização (manobra de Jendrassik), e uma
pequena parcela de indivíduos normais tem hiperreflexia generalizada. Portanto, para definir que há
alguma alteração real e com importante significado clínico, é importante se relacionar com outros dados
do exame físico, como, por exemplo, achados compatíveis com lesão do neurônio motor superior
(fraqueza, espasticidade, sinal de Babinski) ou inferior (fraqueza, atrofia, fasciculações). Os reflexos de
grau 4 são patológicos, pois a resposta é muito rápida, o limiar é baixo e a zona reflexógena é ampla,
com sinais associados de disfunção do trato corticospinal, como aumento do tônus, flexão dorsal dos
dedos ou clônus sustentado.
Toda vez que você classificar um reflexo como anormal, deverá, primeiro, avaliar se está usando a
técnica correta e o material adequado.
Tabela 2. Variáveis dos testes diagnósticos relacionadas ao diagnóstico de radiculopatia cervical e
lombossacra.
SEM
REDUÇÃO DO REFLEXO BICIPITAL 10 99 9,1
SIGNIFICÂNCIA
SEM
REDUÇÃO DO REFLEXO BRAQUIORRADIAL 8 99 SEM SIGNIFICÂNCIA
SIGNIFICÂNCIA
SEM
REDUÇÃO DO REFLEXO TRICIPITAL 10 95 SEM SIGNIFICÂNCIA
SIGNIFICÂNCIA
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
Um homem de 20 anos, que trabalha como ajudante de obras, dá entrada na unidade de pronto-
atendimento (UPA) após sofrer uma queda em seu local de trabalho. Seus colegas relatam que ele
tropeçou, e a partir de então passou a ter dificuldades progressivas para realizar as atividades inerentes ao
seu serviço, como manusear os instrumentais e materiais de construção, evoluindo para incapacidade de
deambulação. Ao chegar à UPA, o paciente não conseguia mais elevar as suas pernas e visivelmente não
conseguia encontrar a melhor posição no leito. Ele também começou a apresentar desconforto
respiratório pouco tempo após ser deixado de observação. O paciente nega outros sintomas sistêmicos no
momento e também comorbidades; porém, afirma que, há cerca de 20 dias, ele e seus colegas
apresentaram episódio de diarreia após um churrasco de confraternização na empresa.
Medicações em uso: paciente não relata comorbidades, portanto não faz uso contínuo de nenhuma
medicação;
Antecedentes pessoais: refere quadro recente de gastroenterite (há cerca de 3 semanas);
Hábitos: nega etilismo e tabagismo;
Antecedentes familiares: mãe, 45 anos, hipertensa e diabética.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: estado geral regular, levemente dispneico, afebril, um pouco adinâmico,
normocorado, hidratado;
Dados vitais: a temperatura axilar é de 36,2°C, frequência cardíaca de 60 bpm, frequência respiratória de
24 irpm e pressão arterial de 90x60 mmHg.
Exame neurológico:
Nível de consciência: alerta, sem alteração das funções mentais.
Nervos cranianos: Pupilas isocóricas com resposta de contração lentificada à luz.
Motor: tetraparesia simétrica de predomínio nos membros inferiores. Ele consegue manter as mãos
suspensas contra a gravidade apenas por 10 segundos e apresenta evidente fraqueza nas mãos. Consegue
realizar movimentos discretos com a pernas.
Reflexos: reflexos tendinosos profundos (bicipital, tricipital, patelar, aquileu) = abolidos (grau 0).
Sensibilidade: diminuição da sensibilidade para todas as modalidades nos membros inferiores até a raiz
da coxa e distal dos membros superiores.
Equilíbrio e marcha: impossibilidade de ficar em pé.
Coordenação: impossibilidade de testar devido à fraqueza.
Sinais meníngeos: ausentes.
Exame do sistema cardiovascular: ausculta cardíaca rítmica e bradicárdica, porém sem sopros. Pulsos
periféricos simétricos, cheios.
Exame do tórax e aparelho respiratório: ausculta pulmonar tem murmúrio presente com roncos
difusos de transmissão, taquipneico com respiração superficial.
Exame abdominal: ruídos presentes, flácido, sem visceromegalias aparentes ou peritonismo.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: boa perfusão periférica, não observados edemas ou
assimetrias de membros e articulações.
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais: Hemograma sem sinais de anormalidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Quadro 3. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
DISCUSSÃO DO CASO
Este homem de 20 anos desenvolveu alteração sensitiva e motora de rápida evolução (aguda),
ascendente simétrica aguda, com envolvimento progressivo dos músculos diafragmáticos. Seu problema
imediato é a insuficiência respiratória iminente. A primeira prioridade deve ser a determinação da
progressão da insuficiência respiratória e a necessidade de se garantir uma via aérea avançada, se
necessário. Após determinar a necessidade de intubação, a próxima prioridade é determinar a topografia
do acometimento neurológico. Deve-se usar como sintoma-guia a fraqueza. Neste caso, temos uma
tetraparesia simétrica de padrão distal com reflexos abolidos, mostrando comprometimento do nervo
periférico (neurônio motor inferior). Os reflexos são fundamentais para topografar o acometimento.
O raciocínio seguinte é estabelecer a etiologia. Diante de um quadro de paralisia flácida aguda
arreflexa, o principal diagnóstico é a síndrome de Guillain-Barré. Esta é, na verdade, uma síndrome que
engloba várias etiologias de cunho imunológico e agressão contra o nervo periférico agudamente.
Esse paciente apresentou uma história clássica de doença gastrintestinal três semanas antes do início
dos sintomas neurológicos. Ele pode ter sido exposto Campylobacter jejuni, que, classicamente, induz a
produção de agressão cruzada contra o nervo periférico.
A arreflexia ou hiporreflexia é um achado característico. São comumente encontradas em lesões que
interrompem o arco reflexo, o contrário do que acontece no caso da hiperreflexia, em que ocorre lesão do
trato piramidal (AVCs, tumores, traumatismos, doença desmielinizante do sistema nervo central). Ocorre
em conjunto com a arreflexia, fraqueza proximal das extremidades inferiores, com alterações sensoriais
distais e de progressão ascendente. Os testes complementares são: avaliação do líquor com aumento de
albumina (proteína) e celularidade normal (dissociação proteína citologia) e exame de
eletroneuromiografia.
Esse quadro faz diagnóstico diferencial com doenças centrais medulares cervicais que irão produzir
fraqueza nos membros proximais e alteração sensitiva; neste caso, havendo um nível sensitivo torácico.
Os reflexos tendinosos, neste caso, seriam exaltados, havendo sinal de Babinski. As doenças da unidade
motora periférica que acometem placa neuromuscular ou músculo não cursam com alteração sensitiva.
Os reflexos, neste caso, são geralmente normais ou podem estar pouco diminuídos, dependendo do grau
de lesão.
REFERÊNCIAS
1. Encyclopaedia Britannica. Knee-jerk-reflex-motor-neuron-connection. [Internet] [acesso em 22 out
2019].
2. Sci-info-pages. SPINAL CORD INJURY LEVELS & CLASSIFICATION. [Internet] [acesso em 22
out 2019].
3. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2007.
4. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
5. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
6. Chaves MLF, Finkelstein A, Stefani MA. (Org.). Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto
Alegre: ArtMed; 2008.
7. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
8. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
MARCHA E EQUILÍBRIO
Postura estática é a atitude e capacidade de ficar em pé. A marcha é um
movimento que primariamente necessita daquela capacidade e é constituído
dos eventos transcorridos entre o momento em que o calcanhar toca o solo e
o momento em que o mesmo calcanhar toca o solo novamente, para produzir
um deslocamento. O corpo também pode produzir movimentos sem a
necessidade de se deslocar, como na dança, que necessita de equilíbrio
dinâmico. Para tanto, seja para marchar ou estar equilibrado, parado ou em
movimento, necessitamos da integridade e interação entre vários sistemas
neurológicos:
1. Sistema motor piramidal;
2. Sistema motor extrapiramidal;
3. Cerebelo e vias cerebelares;
4. Sistema vestibular;
5. Propriocepção.
Qualquer perturbação de um ou mais desses componentes levará a uma
perturbação do equilíbrio e marcha em graus variados. Desta forma, observar
um paciente caminhar é a parte da avaliação em que, isoladamente, mais se
obtém informações neurológicas.
3. AVALIAÇÃO DA MARCHA OU
EQUILÍBRIO DINÂMICO
Cada pessoa possui sua própria forma de andar; portanto, tal aspecto do
exame é extremamente variável, individualizado pelas suas características
físicas e mentais. Ao observar a forma como o paciente se locomove, é
possível suspeitar de uma doença neurológica ou até mesmo traçar
diagnósticos sindrômicos.
Durante o exame da marcha, é sempre necessário observar
sistematicamente os parâmetros:
1. Largura da base: é a distância entre os pés; os valores habitualmente
estão entre cinco e dez centímetros;
2. Comprimento do passo: é a distância entre dois pontos de contato
sucessivos em pés opostos; o valor costuma variar entre 35 e 41 cm;
3. Velocidade: é definida como a distância percorrida por unidade de
tempo. Ela depende do comprimento do passo e da cadência.
Normalmente, esse valor gira em torno de 82 m/min ou 5 km/h;
4. Cadência: é o número de passos executados em determinado período de
tempo; habitualmente é um valor entre 90 e 120 passos por minuto;
5. Movimentos associados: são movimentos de partes do corpo que ajudam
na marcha, como o quadril e o balanço passivo dos braços.
Alargar a base é uma estratégia para melhorar o equilíbrio quando este
está comprometido, e qualquer afastamento pode ser um sinal precoce de
disfunção. Desta forma, diminuir a base pedindo ao paciente para andar em
tandem (pés em linha reta encostando o dedão no calcanhar) sensibiliza
alterações mais sutis. O encurtamento da passada, pode ser o primeiro sinal
de doença bifrontal ou extrapiramidal. Em casos de fraqueza muscular, é
comum ver movimentos excessivo dos quadris.
Algumas marchas são tão típicas que, ao vê-las, sindromicamente, já se
tem um diagnóstico.
Quadro 1. Principais marchas patológicas.
O PACIENTE MANTÉM O MEMBRO SUPERIOR FLETIDO EM 90° NO
COTOVELO E EM ADUÇÃO E A MÃO FECHADA EM LEVE PRONAÇÃO.
O MEMBRO INFERIOR IPSILATERAL É ESPÁSTICO, E O JOELHO NÃO
MARCHA CEIFANTE OU HEMIPLÉGICA FLEXIONA. ASSIM, A PERNA TENDE A SE ARRASTAR PELO CHÃO,
DESCREVENDO UM SEMICÍRCULO QUANDO O PACIENTE TROCA DE
PASSO (ACONTECE EM PACIENTES QUE APRESENTAM HEMIPLEGIA, E
TEM COMO CAUSA COMUM AVC).
Marchas patológicas
4. AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO
ESTÁTICO
A avaliação do equilíbrio estático é feita principalmente por meio do
teste de Romberg.
a) Orientações gerais
5. AVALIAÇÃO DA MARCHA
• Posição do paciente e do examinador: Paciente em ortostase. O
examinador posiciona-se onde possa observar todos os parâmetros da
marcha e também possa auxiliar o paciente caso haja instabilidade,
evitando uma queda.
Dicas importantes
1. Toda vez que o equilíbrio ou a marcha tiver um padrão muito pior com
olhos fechados do que com olhos abertos, pensar em distúrbio sensitivo
(propriocepção);
2. Distúrbios cerebelares causam alteração da coordenação associados que
serão unilaterais em casos de acometimento de lobo cerebelar. É comum a
presença de disartria e nistagmo. O paciente tende a cair ou pender para o
lado acometido;
3. Distúrbios vestibulares tendem a ser unilaterais, com queixas de
vertigem, tendendo o paciente a cair ou pender para o lado acometido.
Comumente há nistagmo e não há disartria;
4. Alterações extrapiramidais cursam comumente com algum dos sintomas
de parkinsonismo: rigidez, bradinesia, tremor de repouso e instabilidade
postura;
5. Alterações do sistema piramidal são vistas na avaliação motora com
padrão de fraqueza diversos, tendo ou não acometimentos dos reflexos.
6. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 2. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
FALHA NO tandem walk test (> 2 ERROS) 53% 70% 1,7 0,7
Testes especiais
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
CAPAZ DE DAR 10 PASSOS NO tandem walk TESTE 67-92% 82-91% 5,4 0,2
MARCHA DE PEQUENOS PASSOS DETECTANDO DEMÊNCIA VASCULAR 56% 91% 6,1 0,5
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade Especificidade
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
Paciente do sexo masculino, 27 anos, caucasiano, solteiro, trabalha como
recepcionista. Natural e procedente do estado de Santa Catarina, tem
ascendência portuguesa e é destro. Paciente iniciou aos 9 anos de idade
quadro de desequilíbrio, incoordenação motora e fraqueza difusa, com piora
progressiva, evoluindo para dificuldade de deambulação. Tornou-se restrito à
cadeira de rodas aos 25 anos. Nega palpitações, dispneia, disfagia ou queixas
dolorosas.
Medicações em uso: paciente não relata comorbidades, portanto não faz uso
contínuo de nenhuma medicação;
Antecedentes pessoais: Teve uma internação anterior durante sua infância
para investigação do quadro neurológico; porém, esta resultou inconclusiva;
Hábitos: nega etilismo e tabagismo;
Antecedentes familiares: em relação à história mórbida familiar, a mãe
faleceu por arritmia cardíaca e o pai faleceu por câncer de pulmão. Por parte
da família materna, possui um irmão e uma prima de segundo grau, com
quadro semelhante, e um tio com arritmia, sugerindo padrão de herança
genética Mendeliana autossômica recessiva.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: estado geral regular, eupneico em ar
ambiente, afebril, um pouco adinâmico, normocorado, hidratado;
Dados vitais: a temperatura axilar é de 36,5°C, frequência cardíaca de 60
bpm, frequência respiratória de 16 irpm e pressão arterial de 110x70 mmHg.
Exame do sistema cardiovascular: ausculta cardíaca rítmica e
normocárdica, porém sem sopros.
Exame do tórax e aparelho respiratório: ausculta pulmonar tem murmúrio
presente sem ruídos adventícios.
Exame abdominal: ruídos presentes, flácido, sem visceromegalias aparentes
ou peritonismo.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: boa perfusão periférica, não
são observados edemas ou assimetrias de membros e articulações; pulsos
periféricos são simétricos e cheios.
Exame neurológico:
EXAMES COMPLEMENTARES
Foram solicitados exames laboratoriais, eletrocardiograma e
ecocardiograma, e os resultados obtidos foram normais. A
eletroneuromiografia revelou neuronopatia sensorial pura, e a ressonância
magnética de encéfalo evidenciou redução volumétrica de predomínio
cerebelar com envolvimento em menor grau de ponte, bulbo e medula
cervical.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
DISCUSSÃO DO CASO
Quadro 3. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
• Infratentorial – cerebelo
• Medula
• Nervo periférico
• Sistema extrapiramidal (multitopográfico)
Diagnósticos diferenciais:
• Síndromes cerebelares adquiridas (toxicas) como por uso de
fenitoína
PONTOS IMPORTANTES
• Qualquer perturbação do andar que é causada por distúrbio do
sistema nervoso central recebe o nome de disbasia;
REFERÊNCIAS
1. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases
anatomofuncionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2007.
2. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2014.
3. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia,
PA: Elsevier; 2018.
4. Chaves MLF, Finkelstein A, Stefani MA. (Org.). Rotinas em neurologia
e neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed; 2008.
5. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo:
Atheneu; 2014.
6. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2017.
7. Watanabe N, Lin J, Lin K. Ataxia progressiva hereditária. Arq Catarin
Med. 2013; 42(2): 81-5.
8. Blindauer KA. Cerebellar Disorders And Spinocerebellar Ataxia.
Continuum: Lifelong Learning Neurol. 2004; 10: 154-73.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. NOÇÕES DE ANATOMIA2,3
A síndrome meníngea agrupa o conjunto dos sintomas ligados à
irritação patológica das meninges do sistema nervoso central (SNC) com
modificação dos constituintes do líquido cefalorraquidiano (LCR),
destacando-se em especial as hemorragias subaracnoideas e as meningites.
O SNC é revestido por membranas, chamadas de meninges, formadas
por tecido conjuntivo. As meninges recobrem e protegem o tecido nervoso,
determinando espaços com importância anatomoclínica. As meninges são
constituídas pela dura-máter, aracnoide e pia-máter.
Destas membranas, a dura-máter é a mais espessa e mais externa e
desempenha funções de proteção (em latim, dura-máter, que significa mãe,
porque protege; dura, por ser resistente). É composta por células
semelhantes a fibroblastos que secretam colágeno em abundância para
produzir uma membrana protetora firme. A região da dura-máter que
recobre os hemisférios cerebrais e o tronco cerebral é constituída por duas
lâminas separadas: uma externa, a lâmina periostal, e uma lâmina meníngea
mais interna. A lâmina periostal está acoplada à superfície interna do
crânio. Duas importantes expansões originam-se da lâmina meníngea e
separam diferentes componentes dos hemisférios cerebrais e do tronco
cerebral: (1) a foice do cérebro, que separa os dois hemisférios; (2) o
tentório do cerebelo, que separa o cerebelo dos hemisférios cerebrais. A
dura-máter que recobre a medula espinhal tem continuidade com a dura-
máter craniana e com o epineuro dos nervos periféricos.
A aracnoide está justaposta à dura-máter, porém não de uma forma
muito firme, permitindo assim a existência de um espaço potencial entre
ambas. Este espaço virtual recebe o nome de espaço subdural e tem
importância clínica. Devido ao fato de a dura-máter possuir vasos
sanguíneos, a ruptura de um desses vasos pode levar a um sangramento e
consequente formação de coleção sanguinolenta (hematoma subdural).
Nesta situação, o coágulo pressiona a aracnoide afastando-a da dura-máter e
preenche o espaço subdural, comprimindo o tecido nervoso subjacente.
O envoltório meníngeo mais interno é a pia-máter, muito delicada,
aderida à superfície do encéfalo e da medula espinhal. Em latim, pia-máter
significa mãe frágil ou proteção delicada. O espaço compreendido entre a
aracnoide e a pia-máter é o espaço subaracnoideo. Através desse espaço
cruzam filamentos da aracnoide que se conectam à pia-máter, dando a este
espaço a aparência de teia de aranha. Daí o nome aracnoide, que deriva do
grego arachne, significando aranha. Após sua saída do quarto ventrículo, o
LCR circula no espaço subaracnoideo e banha o encéfalo e a medula
espinhal, sendo reabsorvido pelas granulações aracnoideas no interior do
seio sagital superior (Figura 1).
As meninges também desempenham funções circulatórias importantes.
Tanto os vasos venosos como os arteriais que recobrem a superfície do SNC
estão localizados no espaço subaracnoideo. Além disso, no interior da dura-
máter existem vasos calibrosos e de baixa pressão, que são partes das vias
de retorno do sangue venoso encefálico, denominados seios da dura-máter.
Figura 1. Corte frontal mostrando a situação anatômica da dura-máter,
aracnoide e pia-máter. O folheto interno da dura-máter forma a foice do
cérebro. Visualizam-se as granulações aracnoideas que permitem o envio do
LCR dentro do seio dural.
3. PRINCIPAIS ETIOLOGIAS DA
SÍNDROME MENÍNGEA
A
hemorragia
subaracnoid
3.1. Hemorragia Subaracnoidea ea se
manifesta
por uma síndrome meníngea, podendo ser provocada por diversas causas:
traumáticas, vasculares, infecciosas, tóxicas, inflamatórias ou tumorais. O
padrão clássico da hemorragia espontânea é a ruptura de um aneurisma
cerebral de forma sacular, ligado a uma anomalia congênita da parede de
uma artéria cerebral, essencialmente na sua camada elástica. A hipertensão
arterial descontrolada, sobretudo em episódios de picos, favorece a
ocorrência dessas rupturas.
A ocorrência de hemorragia nos envelopes meníngeos leva ao
aparecimento de LCR hemorrágico. A evolução da hemorragia depende da
importância da extensão do sangramento durante a ruptura. Às vezes, a
abertura na parede da artéria é mínima, sendo rapidamente ocluída por um
coágulo sanguíneo, havendo risco de recidiva não negligenciável. Às vezes,
a hemorragia é brutal, com invasão do parênquima cerebral, levando
rapidamente o paciente ao coma e, não raramente, à morte súbita. As
principais complicações da hemorragia subaracnoidea são a hipertensão
intracraniana (devido a um hematoma compressivo), a hidrocefalia
obstrutiva (devido à formação de coágulos no sistema ventricular) e o
vasoespasmo (que pode levar à isquemia cerebral).
3.2. Meningite
As meningites agudas, consecutivas a uma inflamação dos envelopes
meníngeos, caracterizam-se pelo aumento significativo do número de
leucócitos no LCR. Os principais agentes infecciosos são as bactérias e os
vírus. As meningites bacterianas levam ao aparecimento de LCR turvo ou
purulento. As meningites por meningococo têm predileção pelos indivíduos
jovens; já aquelas provocadas por pneumococo ocorrem
predominantemente em indivíduos frágeis ou que apresentam fístulas
osteomeníngeas. Outros germes envolvidos em processos dessa natureza
são: Listeria monocytogenes (mais frequente em idosos, recém-nascidos e
imunossuprimidos), estreptococos, estafilococos, Haemophilus influenzae e
Klebsiella.
As meningites de origem viral se caracterizam por LCR claro e rico em
linfócitos, sendo comuns nas infecções herpéticas, por rubéola e por
mononucleose infecciosa. A meningoencefalite herpética, normalmente
gravíssima, pode ocorrer na primoinfecção pelo vírus da imunodeficiência
humana.
Fonte: Autor.
5. O EXAME DO LCR
O LCR é habitualmente coletado por punção lombar, após exame de
fundo de olho, para verificar ausência de edema de papila. Um exame
tomográfico de crânio é imprescindível em caso de alterações neurológicas
focais antes da realização da punção lombar. Na punção lombar, determina-
se a pressão do LCR e, sobretudo, determinam-se as modificações que ele
apresenta: elementos celulares (hemácias, leucócitos), taxa de proteínas (N
= 0,2 a 0,4 g/L), glicose (N = 0,5 g/L) e cloreto (N = 7 g/L). O exame de
punção lombar permite reconhecer a natureza da síndrome meníngea,
demonstrando líquido sanguinolento, purulento ou claro, auxiliando na
precisão da causa da síndrome.
6. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Fonte: Autor.
EXAME FÍSICO
Estudos prospectivos
HISTÓRIA CLÍNICA
NÁUSEAS E
THOMAS et al 0.70 (0.59-0.79) 1.3 (1.1-1.6) 0.64 (0.44-0.92)
VÔMITOS
UCHIHARA AND
0.32 (0.18-0.48) 0.81 (0.39-1.7) 1.1 (0.74-1.7)
TSUKAGOSHI
EXAME FÍSICO
SINAL DE KERNIG
UCHIHARA AND
0.09 (0.02-0.21) 4.2 (0.23-77) 0.92 (0.81-1.0)
TSUKAGOSHI
RIGIDEZ DE NUCA
UCHIHARA AND 0.15 (0.06-0.28) 6.6 (0.38-113) 0.83 (0.74-1.0)
TSUKAGOSHI
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
R.K.C., sexo masculino, 12 anos, procedente e residente em Barroquinha,
interior do Ceará, pardo, estudante, comparece à emergência pediátrica
acompanhado da tia que relatava queixa de cefaleia intensa, febre e
manchas vermelhas no corpo há dois dias. Refere que há aproximadamente
48 horas o paciente começou a apresentar náuseas, vômitos, astenia,
hiporexia e irritabilidade. No mesmo dia iniciou quadro de cefaleia
holocraniana, sem irradiação, que aumentou de intensidade
progressivamente, relatada como grau 8 na escala visual analógica, que
piorava com a movimentação da cabeça e em ambientes mais claros, sem
fatores de melhora mesmo com uso de analgésicos orais, associada à febre
de 39,5°C e manchas vermelhas no abdome e dorso que aparentam estar
aumentando a área. Tia relata ainda um episódio convulsivo tônico-clônico
há 2 horas, de duração de aproximadamente dois minutos, que a fez
procurar a emergência.
Medicações em uso: dipirona 1 g de 6 em 6 horas.
Antecedentes pessoais: Quadro gripal há 2 semanas. Duas internações
prévias no mesmo ano por pneumonia. Não sabe relatar o estado vacinal do
paciente.
Antecedentes familiares: Avó materna hipertensa. Pais hígidos. Irmã
apresentou episódio único de convulsão febril aos 2 anos de idade.
Hábitos: Sedentário e não faz uso de substâncias psicoativas.
EXAME FÍSICO
Ectoscopia: Regular estado geral, hipocorado 1+/4+, anictérico, acianótico,
febril, hidratado, taquidispneico, consciente, orientado.
Sinais vitais: FC: 120 bpm, FR: 25 irpm, PA: 130x90, Temperatura axilar:
38,5ºC.
Exame da cabeça e pescoço: Petéquias em região cervical anterior.
Rigidez de nuca presente. Sem outras alterações.
Exame neurológico: Sinais de Laségue, Kernig e Brudzinski positivos.
Demais exames sem alterações significativas.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico com presença de
petéquias disseminadas, expansibilidade e frêmito toracovocal normais,
som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular presente e universal,
sem ruídos adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de
turgência jugular patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas,
em dois tempos, sem sopros.
Exame do abdome: petéquias disseminadas à inspeção, plano, som
timpânico à percussão, sem dor à palpação superficial e profunda, sem
massas ou visceromegalias palpáveis.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades perfundidas,
pulsos periféricos palpáveis, filiformes e simétricos, sem cianose, tempo de
enchimento capilar de dois segundos.
EXAMES COMPLEMENTARES
Hemograma completo: Hb: 11,0 g/dL, Ht: 32,8% VCM: 91fl Leucócitos:
21.000 Neutrófilos: 72% Bastões: 6% Plaquetas: 65.000
Proteína C Reativa: 17,2 mg/dL
Tomografia de crânio: Sem alterações.
Punção lombar: Líquido com coloração turva, com diminuição nos níveis
de glicose, aumento das proteínas totais e aumento da celularidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
5. Quais achados do exame físico que corroboram a hipótese?
6. Quais são os diagnósticos diferenciais?
Quadro 2. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
PONTOS IMPORTANTES
• As meninges têm uma importante função de proteção do nosso
sistema nervoso;
REFERÊNCIAS
1. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2014.
2. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo:
Atheneu; 2014.
3. Martin JH (ed). Neuroanatomia texto e atlas. 2. ed. Porto Alegre:
Editora Artes Médicas Sul Ltda; 1998.
4. Marieb EM. Anatomie et Physiologie Humaine. 6ème ed. Bruxelles:
Éditions De Boeck Uni – versité; (2005).
5. De Recondo J (Ed). Sémiologie du système nerveux. 2. ed. Paris:
Flammarion Médecine-Sciences; 2004.
6. Fernandes BR, Freitas DHM, Gomes ACSC, Magalhães PG, Santos
APB, Santos CR, et al. Diagnóstico diferencial das meningites. Rev
Méd Minas Gerais. 2008; 18(3 Supl 4): S68-S71
7. Bickley LS, Szilagyi PG. Bates, propedêutica médica. 12. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2018.
8. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases
anatomofuncionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2007.
9. Thomas KE, Hasbun R, Jekel J, Quagliarello VJ. The diagnostic
accuracy of Kernig’s sign, Brudzinski’s sign, and nuchal rigidity in
adults with suspected meningitis. Clin Infect Dis. 2002; 35: 46-52.
10. Branco RG, Amoretti CF, Tasker RC. Doença meningocócica e
meningite. J Pediatr. 2007; 83(2 Suppl): S46-S53
11. Simel DL, Rennie D. The Rational Clinical Examination: Evidence-
Based Clinical Diagnosis. JAMA Evidence. New York: McGraw-Hill;
2009.
12. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia,
PA: Elsevier; 2018
13. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.).
Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. EXAME FÍSICO
O exame físico osteoarticular guarda semelhanças e particularidades em
relação aos outros sistemas, de forma que as etapas básicas de inspeção e
palpação são parte fundamental; no entanto, ele ainda é marcado pela etapa
de movimentação ou manobras especiais por segmento. Todas são etapas
que devem ser realizadas, uma vez que se complementam. Pela simples
inspeção da postura, por exemplo, podemos verificar a presença de geno
varo ou geno valgo, escoliose e cifose; quando associamos inspeção e
palpação, contudo, deixamos de procurar dados isolados e avaliamos não só
musculatura e estruturas osteoarticulares, mas os outros elementos corporais
(como pele e anexos, rede vascular e sistema nervoso, e pontos dolorosos).1
Durante o exame físico, o paciente pode ser examinado de pé, sentado ou
deitado, com cuidado de sempre descobrir de modo suficiente a região a ser
examinada e sempre comparando articulações homólogas. Cabe ressaltar que
o exame da marcha pode constituir etapa não só da semiologia neurológica,
mas também da osteoarticular, pois alterações na marcha podem surgir de
processos articulares da coluna ou dos membros inferiores.1
Por questão didática, devido a cada segmento articular conter
especificidades que merecem destaque, vamos dividir o exame osteoarticular
de acordo com os segmentos corporais no sentido craniocaudal. Cada
segmento será abordado em capítulos diferentes e serão destacadas as
principais manobras especiais, começando pela coluna vertebral.
• Lordose cervical;
• Cifose torácica;
• Lordose lombar;
• Cifose sacral.
Figura 1. (A) Curvaturas fisiológicas da coluna vertebral. (B) Aumento da
cifose torácica. (C) Aumento da lordose lombar.
Fonte: Barros Filho4.
• Deformidades;
• Assimetrias;
• Lesões de pele: cicatrizes, equimoses, escoriações, hematomas;
• Volume;
• Atrofias e/ou contraturas musculares;
• Alterações vasculares;
• Presença de sinais flogísticos;
• Alterações posturais.
c) Observar o perfil da coluna vertebral e a presença das suas curvaturas
fisiológicas (lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar, cifose
sacral).
d) Atentar para a atitude do paciente: avaliar a atitude (um paciente que se
inclina para um dos lados pode estar tentando aliviar a compressão de uma
raiz nervosa) e a expressão facial do paciente frente a sua condição, pois
apreensão, relutância e não cooperação podem fornecer dados sobre o
estado psicológico do paciente e orientar o estabelecimento do
diagnóstico, tratamento e prognóstico.
e) Deve-se notar se há presença de posturas patológicas da coluna
vertebral. São elas:
• Hipercifose torácica;
• Hiperlordose lombar;
• Escoliose: desvio lateral da coluna;
• Postura do Esquiador: marcada pela retificação da lordose cervical e
lombar, com acentuação da cifose torácica e semiflexão dos joelhos.
Esta postura pode indicar espodilite anquilosante.
2.4.3. Palpação
a) Palpar, de forma bilateral e simétrica, as seguintes estruturas:
• Saliências ósseas;
• Processos espinhosos;
• Musculatura paravertebral;
• Estruturas ligamentares.
b) Analisar as particularidades da coluna cervical:
Fonte: Autor.
b) Manobra de Spurling
c) Teste de Distração
d) Sinal de Lhermitte
Fonte: Autor.
e) Distância occipito-parede
b) Manobra de Valsalva
Fonte: Autor.
h) Manobra de Naffziger-Jones
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Fonte: Autor.
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
MANOBRA
12- 84- 4,5- 0,05-
DE
95 98 15,8 0,6
SPURLING5,6
TESTE DA
- - - -
DISTRAÇÃO5
TESTE DE
TENSÃO NO
97 22
MEMBRO
(90- (12- 1,3 0,12
SUPERIOR
100) 33)
(Upper limb
tension test)5
TESTE DO
APERTO DO
96 96 24 0,4
BRAÇO (Arm
squeeze test)5
FRAQUEZA
DE
QUALQUER 73 61 1,9 0,4
MÚSCULO
DO BRAÇO6
REDUÇÃO
DO
10 99 9,1 NS
REFLEXO
BICIPITAL6
Tabela 2. Lombalgia.
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
AUSÊNCIA DE 46 93
DOR QUANDO (30- (84- 6,6 0,58
SENTADO5 62) 100)
71 30
PIORA DA DOR AO
(57- (14- 1,0 0,97
CAMINHAR5
85) 46)
72- 11-
LASÈGUE4 - -
97 66
84 83
TESTE DA QUEDA
(74- (73- 4,94 0,19
(slumb test)5
90) 90)
FRAQUEZA NA
EXTENSÃO DO
38- 89-
JOELHO 4,0 0,6
48 90
(RADICULOPATIA
DE L3-L4)6
FRAQUEZA NA
EXTENSÃO DO
12- 54-
HÁLUX 1,7 0,7
62 91
(RADICULOPATIA
DE L5)6
FRAQUEZA À
DORSIFLEXÃO DO
37- 51-
TORNOZELO NS NS
62 77
(RADICULOPATIA
DE L5)6
FRAQUEZA À
FLEXÃO PLANTAR
26- 75-
DO TORNOZELO NS 0,7
45 99
(RADICULOPATIA
DE S1)6
Fonte: Adaptado de Barros4, Cleland5 e McGee6.
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
MEDIDA
DA
EXPANSÃO 91 99 0,91 0,9
TORÁCICA
(< 2,5CM)5
TESTE DE
SCHOBER 30 86 2,14 0,81
(< 4CM)5
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
M.D.A., feminino, 65 anos, procedente e residente em Fortaleza, parda,
casada, doméstica, católica, escolaridade até ensino médio completo. Vem
em consulta no PSF queixando-se de “dor nas costas” há 10 anos. Relata
quadro de dor lombar crônica, contínua, com piora aos esforços, fazendo uso
regular de analgésicos e AINES, como dipirona e cetoprofeno, com melhora.
Nos últimos 2 anos, percebeu piora da intensidade da dor, evoluindo com
irradiação para a região posterior dos membros inferiores, principalmente o
membro inferior esquerdo, até a região plantar, com piora a flexão do tronco.
Refere melhora parcial com repouso e medicações. Nega trauma local, febre,
perda ponderal, rigidez muscular ou paresia.
Antecedentes pessoais: É hipertensa e diabética há mais de 10 anos. Nega
outras patologias. Nega cirurgias de qualquer natureza.
Medicações em uso: losartana 100 mg/dia, hidroclorotiazida 25 mg/dia e
metformina 1500 mg/dia.
Hábitos de vida: É tabagista (dois maços/dia) há cerca de 50 anos.
Antecedentes familiares: Mãe, 83 anos, hipertensa e diabética. Pai falecido
aos 65 anos por ferimento por arma de fogo. Nega quadros semelhantes na
família.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorada, hidratada,
acianótica, anictérica e afebril, sobrepeso, eupneica, consciente e orientada.
Dados vitais: FC 86 bpm, FR 18 irpm; PA 140x90 mmHg, sentada, no
membro superior direito.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: Postura antálgica com
retificação da lordose lombar fisiológica e descompensação do tronco para a
direita. Sem deformidades ou abaulamentos em região lombar e sem
alterações de pele; dor à palpação paravertebral da coluna lombar
bilateralmente, sem crepitações. Manobra de Lasègue positiva a 40° em
membro inferior esquerdo. Manobra de Lasègue invertido negativa.
Exame da cabeça e do pescoço: achados dentro da normalidade.
Exame neurológico: achados dentro da normalidade.
Exame do tórax e aparelho respiratório: achados dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: achados dentro da normalidade.
Exame abdominal: achados dentro da normalidade.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem
perfundidas, pulsos palpáveis e cheios, sem cianose.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
PONTOS IMPORTANTES
1. Os dados da anamnese e exame físico direcionam o raciocínio
diagnóstico para as possíveis etiologias, devendo ser sempre minuciosos;
2. A dor é realmente a queixa mais frequente relacionada à coluna lombar e
deve ser sempre bem caracterizada;
3. Podem ter origem mecânica ou não mecânica, e exames de imagem só
estão indicados na persistência dos sintomas e presença de sinais de
alarme;
4. A lombalgia comum, em geral, não apresenta irradiação da dor; já a
lombociatalgia é marcada pela irradiação, com envolvimento das raízes
nervosas e distribuição em dermátomos.
REFERÊNCIAS
1. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2017.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo:
Editora Phoenix; 2012.
4. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São
Paulo: Sarvier; 2017.
5. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical
examination: an evidence-based approach. 3rd ed. Philadelphia:
Elsevier; 2016.
6. Mcgee S. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA:
Elsevier; 2018.
7. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em
Ortopedia e Traumatologia: guia prático para formação e atualização
em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. EXAME FÍSICO
O sistema esquelético é
tradicionalmente dividido
em esqueleto axial (crânio,
2.1. Revisão Anatômica coluna vertebral e caixa
torácica) e esqueleto
apendicular (cintura escapular, cintura pélvica e membros).
A articulação do ombro é a mais móvel e a mais instável do corpo,1
fazendo parte da cintura escapular. É estabilizado graças à ação da
musculatura e dos ligamentos locais e ao posicionamento da escápula.
Constitui-se de três articulações:
• Esternoclavicular: é formada pela união da extremidade esternal na
clavícula e o manúbrio do esterno.
Fonte: Gracitelli4.
2.4.3. Palpação
a) Avaliar dor, edema, alterações de temperatura, características musculares,
crepitações e mobilidade.
b) Palpar as seguintes estruturas:
• Incisura supraesternal;
• Articulação esternoclavicular;
• Clavícula;
• Articulação acromioclavicular;
• Regiões supraespinhal, infraespinhal e deltoidea.
c) Pode-se incluir na palpação a análise dos movimentos passivos.
b) Teste de Neer
Fonte: Autor.
c) Teste de Gerber
Fonte: Autor.
e) Teste de Yergason
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
ATROFIA
55 73 2,0 0,6
SUPRAESPINHOSO
ATROFIA
55 73 2,0 0,6
INFRAESPINHOSO
39- 10-
ARCO DOLOROSO NS 0,5
97 84
59- 43-
TESTE DE NEER 1,7 NS
88 82
TESTE DE
17,6 100 - -
GERBER
TESTE DA
GAVETA
53 85 - -
ANTERIOR E
POSTERIOR
TESTE DA
INSTABILIDADE 72 96 - -
ANTERIOR
Fonte: Adaptado de McGee5 e Cleland6.
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
E.D.S, masculino, 29 anos, procedente de Massapê, negro, solteiro, trabalha
como pintor, católico, escolaridade até ensino médio incompleto. Traz à
consulta queixa de “dor no ombro direito” há cerca de 5 meses. O paciente
refere dor de caráter progressivo em região anterolateral do ombro direito,
sendo mais intensa à noite, durante o sono, e durante o trabalho, quando
eleva o braço acima do nível do ombro. Devido à piora da queixa nos
últimos 2 meses, diminuiu suas horas de trabalho, pois é destro. Nega
irradiação da dor, trauma local ou outros sintomas associados. Vem usando
anti-inflamatórios de forma esporádica por conta própria nos dias em que a
dor o incomoda mais.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades ou uso de medicações
contínuas. Nega cirurgias de qualquer natureza. Sem relatos anteriores de
problemas no ombro.
Hábitos de vida: Nega tabagismo ou etilismo.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorado, hidratado,
acianótico, anictérico e afebril, eupneico, consciente e orientado.
Dados vitais: FC 82 bpm, FR 21 irpm; PA 120x70 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: À inspeção dos ombros,
ausência de deformidades ou cicatrizes; simétricos; ausência de dor à
palpação. Arco de movimentação normal dos dois lados. Dor na elevação
anterior, rotação medial e lateral e na abdução do ombro direito. Ombro
direito: teste de Neer positivo; teste de Yergason positivo; teste de Jobe
positivo; teste de Gerber positivo; força dos rotadores externos globalmente
reduzida. Exame da coluna cervical normal.
Exame da cabeça e do pescoço: dentro da normalidade.
Exame neurológico: massa muscular preservada; reflexos preservados;
sensibilidade preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: dentro da normalidade.
Exame abdominal: dentro da normalidade.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: sem alterações.
Pontos de discussão:
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
• Osteoartrite acromioclavicular.
• Capsulite adesiva.
• Tendinite calcárea.
• Fraturas.
• Radiculopatias.
Hipótese diagnóstica: Lesão completa do manguito rotador por overuse.
PONTOS IMPORTANTES
1. Na abordagem da dor no ombro, devemos não só caracterizar o sintoma,
mas também investigar ativamente sinais e sintomas associados;
2. Questionar sobre ocupação e mão dominante é parte essencial da
anamnese na investigação de patologias do ombro;
3. Em quadro que apresentam dores irradiadas para membro superior até a
mão, deve-se fazer diagnóstico diferencial com as cervicalgias;
4. O exame físico minucioso do ombro é imprescindível para definir as
características topográficas das lesões;
5. A síndrome do impacto do ombro é, em geral, de natureza
microtraumática, por impactação mecânica ou compressão de estruturas
do manguito rotador, podendo evoluir com rupturas tendinosas parciais ou
totais, podendo ter abordagem conservadora ou cirúrgica, dependendo do
grau de lesão.
REFERÊNCIAS
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo:
Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São
Paulo: Sarvier; 2017.
4. Gracitelli M. Discinesia de escápula (escápula alada). Dr. Mauro
Gracitelli. [Internet]. [acesso em 26/08/2019]. Disponível em:
https://maurogracitelli.com/blog/discinesia-da-escapula-alada.
5. McGee S. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA:
Elsevier; 2018.
6. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical
examination: an evidence-based approach. Third ed. Philadelphia:
Elsevier; 2016.
7. Metzker CAB. Tratamento conservador na síndrome do impacto no
ombro. Fisioter Mov. 2010; 23(1): 141-51.
8. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em
Ortopedia e Traumatologia: guia prático para formação e atualização
em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E
SINTOMAS
2. EXAME FÍSICO
A articulação do cotovelo é
composta pelas articulações
umeroulnar (tróclea e olecrano),
2.1. Revisão Anatômica umerorradial (capítulo e cabeça
do rádio) e radioulnar proximal.1
Os componentes dessa articulação complementam as movimentações do ombro e
da mão com movimentos de flexoextensão e pronossupinação.2 Dessa forma, o
cotovelo funciona como uma articulação em dobradiça com alta estabilidade, além
de influenciar o posicionamento da mão e conduzir cargas.1,2
A cápsula articular envolve as faces articulares cartilagíneas de todos os três
ossos e é reforçada por um conjunto de ligamentos.1 Os dois ligamentos colaterais
estabilizam a articulação do cotovelo medial e lateralmente. Em relação a sua
composição muscular, vale destacar o papel dos flexores do cotovelo (músculo
braquial e bíceps), anteriormente, e dos flexores-pronadores do antebraço.1
Estruturas importantes passam pela articulação do cotovelo e merecem
relevada importância, dentre elas:
• Nervo ulnar: passa pela região medial do braço e atinge a face posterior do
epicôndilo medial;
2.4.3. Palpação
a) Palpar os referenciais ósseos a seguir (com o cotovelo em flexão, é possível
palpar simultaneamente os epicôndilos medial e lateral e a ponta do olécrano;
esses pontos normalmente formam um triângulo equilátero):3
Fonte: Autor.
c) Teste de Cozen
Fonte: Autor.
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Fonte: Autor.
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
EXTENSÃO
96,8 48,5 1,88 0,6
DO
COTOVELO
TESTE DE
FLEXÃO DO 64 100 INDEFINIDO 0,36
COTOVELO
TESTE DE
PRONAÇÃO
34 100 INDEFINIDO 0,66
DO
COTOVELO
TESTE DE
SUPINAÇÃO
43 97 INDEFINIDO 0,59
DO
COTOVELO
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
FLEXÃO DO 60 100 INDEFINIDO 0,4
COTOVELO
SINAL DE
70 98 35 0,31
TINEL
Tabela 3. Instabilidade.
ESTRESSE
COM DOR 65 50 1,3 0,7 ACHADO ACHADO
EM
COM
PRESENTE AUSENTE
VALGO 19 100 INDEFINIDO 0,81
FROUXIDÃO
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
E.G.D, feminino, 35 anos, procedente de Sobral, parda, solteira, católica,
digitadora. Relata queixa de “dor no cotovelo” há cerca de 1 ano. A dor localiza-se
na face lateral do cotovelo e estende-se ao dorso do antebraço. No início, era
insidiosa e não prejudicava suas atividades. Usou corticosteroide injetável,
apresentando melhora temporária. Nos últimos meses houve aumento da
intensidade da dor, prejudicando seu desempenho no trabalho. Relata piora ao
levantar objetos pesados. Nega parestesias ou fraqueza muscular. Nega trauma
local.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades ou uso de medicações contínuas.
Nega cirurgias de qualquer natureza.
Hábitos de vida: Nega tabagismo ou etilismo. Sedentária.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorada, hidratada,
acianótica, anictérica e afebril, eupneica, consciente e orientada.
Dados vitais: FC 80bpm, FR 22irpm; PA 110x60 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: À inspeção dos membros
superiores, ausência de deformidades ou cicatrizes; ausência de valgismo ou
varismo de cotovelos; simetria preservada. Cotovelo direito: dor à palpação na
região lateral; teste de Cozen positivo. Exame neurológico dos membros
superiores normal.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos preservados;
sensibilidade preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: ausência de achados relevantes.
Exame abdominal: ausência de achados relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: dentro da normalidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
PONTOS IMPORTANTES
1. A dor no cotovelo pode ter origem em condições inflamatórias, degenerativas,
traumáticas ou em síndromes compressivas por comprometimento dos nervos
mediano, ulnar ou radial a nível do cotovelo;
2. A epicondilite lateral é a causa mais comum de dor no cotovelo e acomete a
origem dos tendões extensores;
3. Apesar de a descrição clássica da epicondilite lateral ser atribuída a atletas que
praticam tênis, mais de 95% dos pacientes que têm a doença são de pessoas que
exercem atividades de repetição;
4. Um importante diagnóstico diferencial com a epicondilite lateral é a síndrome
do túnel radial.
REFERÊNCIAS
1. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
2. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo: Editora
Phoenix; 2012.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São Paulo:
Sarvier; 2017.
4. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical
examination: an evidence-based approach. Third ed. Philadelphia: Elsevier;
2016.
5. Hebert S, Barros Filho TEP, Xavier R, Pardini Jr AG e colaboradores.
Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. 4. ed. Porto Alegre: Artmed;
2009.
6. Hayter CL, Giuffre BM. Overuse and traumatic injuries of the elbow. Magn
Reson Imaging Clin N Am. 2009; 17(4): 617-38.
7. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em Ortopedia e
Traumatologia: guia prático para formação e atualização em ortopedia. 1. ed.
Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
1. SINAIS E SINTOMAS – MAPA
MENTAL
2. EXAME FÍSICO
A mão ocupa quase um
terço da área motora
primária no córtex;1 todavia,
2.1. Revisão Anatômica além da função motora,
também tem grande papel
sensitivo, participando da imensa maioria das atividades cotidianas e de
interação ambiental.2 É o segmento mais especializado do sistema
musculoesquelético e só funciona eficientemente se as articulações
proximais do membro forem estáveis. É dividida em duas partes principais:
o punho e os cinco dedos;3 e constituída das articulações
metacarpofalangeanas, interfalageanas proximais e distais, radiocarpais e
carpometacarpal do polegar.
O punho (ou carpo) é o segmento anatômico intermediário entre o
antebraço e a mão, formado por 8 ossos.2,3 Seu limite anatômico vai do rádio
distal até as articulações carpometacárpicas.3 O movimento do punho e dos
dedos é executado pelos tendões flexores e extensores, que passam através
das áreas palmar e dorsal do punho.
A musculatura extrínseca inclui flexores e extensores. Os tendões
flexores, ao chegarem ao punho, introduzem-se por baixo do retináculo dos
flexores do carpo. Junto com o assoalho formado pelos ossos, cápsula e
ligamentos do carpo, forma um túnel (o túnel do carpo) que contém
estruturas nobres, como o nervo mediano.2 Os tendões dos extensores
cruzam o punho e são limitados pelo retináculo extensor.2
A musculatura intrínseca inclui os músculos tênares, hipotênares e
interósseos.2
A mão recebe a inervação basicamente dos nervos mediano e ulnar, além
do nervo radial que inerva os músculos extensores extrínsecos,3 exercendo as
seguintes funções:
• Dorsal.
e) Observar as pregas palmares. Na mão dominante, as pregas costumam ser
mais profundas.
f) Observar a coloração e o formato das unhas, avaliando a
microcirculação.3
g) Avaliar a presença de alterações e deformidades, como as seguintes:
2.4.3. Palpação
a) Deve-se realizar a palpação de partes moles e de estruturas ósseas,
avaliando presença de edema, alterações de temperatura, características
musculares, mobilidade.
b) Avaliar a presença de pontos dolorosos e sua localização anatômica. Para
tanto, deve-se palpar os principais referenciais anatômicos:
• Cabeça da ulna.
c) Para iniciar a palpação óssea, o examinador deve colocar seu polegar
sobre o processo estiloide do rádio do paciente e seus dedos indicador e
médio sobre o estiloide da ulna e seguir pelas estruturas do punho,
metacarpo e falanges.3 A maioria dos tendões é palpável.1
d) Pesquisar a presença de crepitações e estalidos.
b) Teste de Tinel
c) Manobra de Phalen
Fonte: Autor.
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Fonte: Autor.
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
4- 82-
ATROFIA TENAR 1,7 NS
28 99
15- 85-
HIPERALGESIA 3,1 NS
51 93
23- 56-
SINAL DE TINEL 1,4 NS
60 91
TESTE DE
82 99 - -
DURKAN
OS SINTOMAS
MAIS
INCÔMODOS
SÃO DOR,
0,04 91 0,42 1,1
DORMÊNCIA,
FORMIGAMENTO
OU PERDA DE
SENSIBILIDADE
APERTAR A MÃO
MELHORA OS 81 57 1,9 0,34
SINTOMAS
SINTOMAS
77 28 1,07 0,82
NOTURNOS
TESTE DE
89 14 1,04 0,75
EICHHOFF
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
A.F.C., feminino, 56 anos, procedente de Goiânia, branca, casada, católica,
aposentada, atualmente dona de casa. Relata queixa de “dor nas mãos” há
cerca de 1 ano. A dor é em “pontada”, bilateral, mais intensa na direita (mão
dominante), com piora noturna, associada à sensação de “formigamento”.
No início, não prejudicava suas atividades usuais. Contudo, nos últimos
meses, houve aumento da intensidade, não conseguindo realizar suas
atividades de costura, evoluindo com dificuldade para segurar objetos.
Refere melhora da dor com massagem nas mãos e punhos.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades ou uso de medicações
contínuas. Nega cirurgias de qualquer natureza.
Hábitos de vida: Nega tabagismo ou etilismo. Sedentária.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorada, hidratada,
acianótica, anictérica e afebril, eupneica, consciente e orientada.
Dados vitais: FC 81 bpm, FR 23 irpm; PA 140x90 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: Mão direita: discreta
atrofia da região tenar; consegue realizar a oponência do polegar; Teste de
Tinel positivo; Teste de Phalen positivo. Ausência de deformidades. Mão
esquerda: Teste de Tinel e Phalen negativos. Mobilidade preservada
bilateralmente.
Exame da cabeça e do pescoço: dentro da normalidade.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos
preservados; sensibilidade preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: dentro da normalidade.
Exame abdominal: dentro da normalidade.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: sem alterações.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
REFERÊNCIAS
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo:
Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São
Paulo: Sarvier; 2017.
4. Gray H, Carter HV. File:Gray812and814.jpeg. Wikimedia Commons.
Modificado por Fred the Oyster. [Internet]. [acesso em 04/10/2019].
5. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2017.
6. Pacientes brasileiros podem participar de pesquisa mundial sobre artrite
reumatoide. O Taboense. [editorial]. [Internet]; 2018. [acesso em
04/10/2019].
7. Artrite Reumatoide. Grupo BioCentro. [editorial]. [Internet]. [acesso em
18/11/2019].
8. Extra – Globo. [Internet]. [acesso em 18/11/2019].
9. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia,
PA: Elsevier; 2018.
10. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical
examination: an evidence-based approach. Third ed. Philadelphia:
Elsevier; 2016.
11. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em
Ortopedia e Traumatologia: guia prático para formação e atualização
em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
12. Chammas M, Boretto J, Burmann LM, Ramos RM, Santos Neto FC,
Silva JB. Síndrome do túnel do carpo – Parte I (anatomia, fisiologia,
etiologia e diagnóstico). Rev Bras Ortop. 2014; 49(5): 429-36.
1. SINAIS E SINTOMAS – MAPA
MENTAL
2. EXAME FÍSICO
O membro inferior é um
elemento de movimento e
sustentação, com um
2.1. Revisão Anatômica cíngulo estável e amplo. Os
ossos do quadril sustentam o
peso da metade superior do corpo e das vísceras abdominais, além de
auxiliar a marcha. Enquanto o cíngulo do membro superior é composto por
dois ossos, o cíngulo do membro inferior é formado por dois ossos e pelo
sacro.
Em situação normal, as grandes articulações do membro inferior se
encontram em uma linha reta imaginária, caracterizada como um eixo
mecânico, e é protegida por um conjunto ligamentar altamente estável, o que
a torna um anel ósseo quase inflexível. É constituída de 03 articulações: a
acetabulofemoral ou coxofemoral, a sacroilíaca e a sínfise púbica.1 As duas
últimas são praticamente imóveis e mais raramente causam dor ou limitação
funcional. O formato em “bola e soquete” da articulação do quadril fornece
extrema liberdade de movimentação.2
Em relação à musculatura, o principal flexor do quadril é o iliopsoas, e o
principal extensor é o grande glúteo.2 Os glúteos médio e mínimo funcionam
como abdutores, enquanto os adutores são o adutor longo, curto e magno.2
2.4.3. Palpação
a) Preferencialmente, o paciente deve ser examinado de pé e em decúbito.
b) O quadril deve ser palpado com digitopressão, de ambos os lados
simultaneamente, avaliando face anterior e posterior, bem como estruturas
ósseas e tecidos moles.
c) Avaliar presença de dor, edema, alterações da temperatura, características
musculares, crepitações e mobilidade.
d) Deve-se palpar na face anterior:
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
d) Sinal de Ortolani
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Fonte: Autor.
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
DOR NA ARTICULAÇÃO
82 12 0,93 1,5
SACROILÍACA
LADO
66 51 1,37 0,64
DIREITO
TESTE DE
PATRICK4
LADO
54 62 1,43 0,73
ESQUERDO
69
TESTE DA
(44- 69 2,2 0,46
COMPRESSÃO
86)
LADO
53 71 1,84 0,66
DIREITO
TESTE DE
GAESLEN4
LADO
50 77 2,22 0,65
ESQUERDO
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Diagnóstico de osteoartrite
AGACHAMENTO
CAUSANDO
DOR EM 24 96 6,1 NS
QUADRIL
POSTERIOR
ABDUÇÃO OU
ADUÇÃO
CAUSANDO 33 94 5,7 NS
DOR NA
VIRILHA
ROTAÇÃO
INTERNA 39 96 9,9 0,6
PASSIVA (<15°)
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Teste de
Abdução Unilateral 70 90 7,0 0,33
do
quadril
com Bilateral 43 90 4,3 63
limitação
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
23 94 3,64 0,82
TRENDELENBURG
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
F.J.B.F., masculino, 70 anos, procedente de Teresina, branco, casado,
católico, aposentado. Relata queixa de “dor na virilha” há cerca de 2 anos. O
paciente relata que sente uma dor na região inguinal direita, que de início era
insidiosa, fazendo uso apenas de anti-inflamatórios por conta própria por
muito tempo, pois não valorizava seu sintoma e a própria família dizia que
“era da idade”. Evoluiu com irradiação da dor para face anteromedial da
coxa, atingido o joelho e tendo uma piora importante da intensidade há cerca
de 4 meses, apresentando dificuldade de marcha com claudicação no
membro afetado e necessitando do uso de bengala. Refere também
dificuldade para calçar meias e sapatos e ausência de melhora com os anti-
inflamatórios que usava antes. Antes era bastante ativo, fazendo caminhadas
de 1h por dia; no entanto, com a piora da dor, parou de realizar seus
exercícios. Nega história de traumas ou outros sintomas associados.
Antecedentes pessoais: HAS de longa data, compensada. Nega outras
comorbidades. Nega cirurgias de qualquer natureza.
Medicações em uso: Enalapril 20 mg (1-0-1); Hidroclorotiazida 25 mg (1-0-
0).
Hábitos de vida: Ex-tabagista, parou há cerca de 15 anos. Parou de realizar
atividade física há cerca de 4 meses.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorado, hidratado,
acianótico, anictérico e afebril, eupneico, consciente e orientado.
Dados vitais: FC 76 bpm, FR 18 irpm; PA 130x70 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: À inspeção:
encurtamento do membro inferior direito em relação ao esquerdo, atrofia
discreta da musculatura da coxa e da região glútea direita; Marcha:
claudicação acentuada à direita, que melhora ao uso da bengala na mão
esquerda; Dor à rotação medial do quadril direito. Sinal de Trendelenburg
presente à direita. Teste de Patrick-Faber positivo.
Exame da cabeça e do pescoço: dentro da normalidade.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos
preservados; sensibilidade preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: murmúrio vesicular diminuído
universalmente, sem ruídos adventícios, sem outras alterações.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ritmo
cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em três tempos, presença de B4,
sem sopros, ausência de outros achados.
Exame abdominal: ausência de achados relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: dentro da normalidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
• Lombalgia/Lombociatalgia.
• Impacto femoroacetabular.
• Bursite do quadril.
• Osteonecrose da cabeça do fêmur.
• Displasia do quadril.
• Osteíte púbica (pubalgia).
• Fraturas.
Hipótese diagnóstica: Osteoartrose do quadril (coxartrose).
PONTOS IMPORTANTES
1. A dor na região inguinal é característica das lesões da articulação
coxofemoral; entretanto, devemos pesquisar outras causas, como:
patologias extra-articulares, dores referidas e causas não ortopédicas;
2. Devemos sempre avaliar as características da dor e sua relação com
atividades diárias habituais (calçar sapatos e meias, sentar), com a marcha
(presença de claudicação, necessidade de uso de apoio) e com diminuição
de amplitude de movimento;
3. É importante diferenciar as patologias do quadril (articulação formada
pela cabeça do fêmur e a cavidade do acetábulo) das patologias da
articulação sacroilíaca, através do exame físico pela avaliação da marcha,
da posição ortostática, do grau de amplitude de movimento, dos testes de
força motora e das manobras semiológicas do quadril;
4. A artrose primária ou idiopática, causa mais comum de artrose do quadril,
é uma doença que prejudica a capacidade funcional do paciente, levando a
uma vida pouco ativa.
REFERÊNCIAS
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo:
Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São
Paulo: Sarvier; 2017.
4. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical
examination: an evidence-based approach. Third ed. Philadelphia:
Elsevier; 2016.
5. Simel DL, Rennie D. The Rational Clinical Examination: Evidence-
Based Clinical Diagnosis. JAMA Evidence. New York: McGraw-Hill;
2009.
6. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em
Ortopedia e Traumatologia: guia prático para formação e atualização
em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
1. SINAIS E SINTOMAS – MAPA
MENTAL
2. EXAME FÍSICO
A articulação do joelho é
constituída pelas
articulações tiobiofemoral e
2.1. Revisão Anatômica patelofemoral.1 Todos os
ossos estão envolvidos pela
mesma cápsula articular e formam uma articulação bicondilar, que se
comporta como um gínglimo, com dois graus de liberdade: um eixo de
movimento transversal para extensão e flexão e um eixo longitudinal para o
movimento de rotação. Também faz parte da articulação do joelho a patela,
que é um osso sesamoide em meio ao tendão do músculo quadríceps e atua
aumentando o braço de alavanca e o movimento de rotação desse músculo.2
O joelho é estabilizado por um complexo de estabilizadores passivos
(basicamente ligamentos colaterais medial e lateral, ligamentos cruzados,
meniscos e cápsula articular) e ativos (representados pela musculatura do
quadríceps, jarrete e poplíteo).2
Além da articulação do quadril, a articulação do joelho também sofre
estresse do peso do corpo. Os meniscos do joelho são cartilagens presentes
na articulação tiobiofemoral que têm a função de transmitir cargas e
amenizar esse estresse, diminuindo o impacto entre as faces articulares do
fêmur e da tíbia.2
• Extensão;
• Rotação interna;
• Rotação externa.
2.4.3. Palpação
a) Avaliar estruturas ósseas e tecido mole adjacente, pesquisando dor,
edema, alterações de temperatura, características musculares, crepitações,
mobilidade.
b) Examinar as seguintes estruturas:
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
e) Teste de McMurray
Fonte: Autor.
f) Manobra de Apley
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
3. MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
REVISÃO RÁPIDA MBE
Fonte: Autor.
Razão de
Especificidade verossimilhança
Achado Sensibilidade (%)
(%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Diagnóstico de osteoartrite
Razão de
Especificidade verossimilhança
Achado Sensibilidade (%)
(%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Diagnóstico de osteoartrite
RIGIDEZ < 30
85 72 3,0 0,2
MINUTOS4
CREPITAÇÃO À
MOVIMENTAÇÃO 89 58 2,1 0,2
PASSIVA4
AUMENTO
55 95 11,8 0,5
ÓSSEO4
DEFORMIDADE
24 83 NS NS
EM VALGO4
DEFORMIDADE
22 93 3,4 0,8
EM VARO4
Razão de verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE
MUSCULAR
MANUAL
DA FORÇA 63- 77- 3,1- 0,34-
DE 72 89 5,7 0,42
EXTENSÃO
DO
JOELHO5
SINAL DA
27- 91-
GAVETA 13,6 0,4
94 99
ANTERIOR4
TESTE DO
28 81 1,47 0,89
pivot-shift5
SINAL DA
90-
GAVETA 99 97,8 0,1
95
POSTERIOR4
Lesão meniscal
SINAL DE
38 84 2,4 0,73
APLEY5
BLOQUEIO À
EXTENSÃO 44 86 3,2 0,7
COMPLETA4
FROUXIDÃO
79- 49-
AO ESTRESSE 7,7 0,2
89 99
EM VALGO4
FROUXIDÃO
AO ESTRESSE 25 98 16,2 NS
EM VARO4
MOBILIDADE
INFERIOR E
63 56 1,4 0,7
SUPERIOR DA
PATELA5
MOBILIDADE
MEDIAL E
54 69 1,8 0,7
LATERAL DA
PATELA5
INCLINAÇÃO
DO POLO
19 83 1,1 0,9
INFERIOR À
COMPRESSÃO5
MOBILIDADE
DO TENDÃO 49 83 2,8 0,6
PATELAR5
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
T.A.F., masculino, 14 anos, procedente de Fortaleza, pardo, solteiro,
católico, estudante e jogador amador de futebol. Relata queixa de “dor e
inchaço em joelho direito” há cerca de 4 dias. Refere entorse do joelho há 4
dias, ao jogar futebol na escola, ao fazer um drible para a esquerda com o pé
direito fixo ao solo, sem contato. Procurou a emergência no mesmo dia,
sendo realizada radiografia de joelho direito, cujo laudo não relatava
alteração. Foi encaminhado para casa após uma injeção de Voltaren. Evoluiu
com persistência da dor e edema de joelho direito com limitação de
movimento, procurando novo atendimento hoje devido à piora do quadro.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades. Nega cirurgias de qualquer
natureza.
Hábitos de vida: Nega etilismo ou tabagismo. Pratica esportes na escola e
joga futebol como hobby.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia:estado geral bom, normocorado, hidratado,
acianótico, anictérico e afebril, eupneico, consciente e orientado.
Dados vitais: FC 78 bpm, FR 21 irpm; PA 110x70 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: À inspeção: membros
inferiores simétricos, com eixo normal. Joelho direito: dor à palpação;
derrame articular +/3+; Teste de Lachmann positivo 2+/4+; Teste da gaveta
anterior de difícil avaliação, considerado positivo; Teste da gaveta posterior
negativo; Testes de Apley e McMurray negativos. Marcha claudicante à
direita.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos
preservados; sensibilidade preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: dentro da normalidade.
Exame abdominal: abdome plano, ausência de achados relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: dentro da normalidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
• Síndrome patelofemoral.
• Condromalácia patelar.
• Síndrome da banda ileotibial.
• Síndrome de Osgood-Schlatter.
• Fraturas.
Hipótese diagnóstica: Ruptura de ligamento cruzado anterior por
trauma.
PONTOS IMPORTANTES
1. História de entorse associada à dor, derrame articular, estalido e
incapacidade de continuar a prática desportiva é fortemente sugestiva de
ruptura do ligamento cruzado anterior;
2. A avaliação da instabilidade rotacional é essencial para o diagnóstico;
3. As radiografias simples ajudam a excluir avulsões ósseas das inserções
ligamentares e fraturas associadas; contudo, o diagnóstico é confirmado
através da ressonância magnética;
4. Em caso de história de trauma, sempre descartar presença de fraturas
inicialmente.
REFERÊNCIAS
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo:
Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São
Paulo: Sarvier; 2017.
4. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia,
PA: Elsevier; 2018.
5. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical
examination: an evidence-based approach. Third ed. Philadelphia:
Elsevier; 2016.
6. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em
Ortopedia e Traumatologia: guia prático para formação e atualização
em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
7. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2017.
8. Collins RD. Algorithmic Diagnosis of Symptoms and Signs: A Cost-
Effective Approach. 4th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer Heath; 2017.
1. SINAIS E SINTOMAS – MAPA
MENTAL
2. EXAME FÍSICO
O pé está dividido em
tarso, metatarso e dedos.1
2.1. Revisão Anatômica Clinicamente, pode ser
distinguido em retropé e antepé, considerando-se como linha divisória a
linha articular das articulações tarsometatarsais.2
Os movimentos ocorrem nas articulações talocrural e
talocalcaneonavicular e são realizados por músculos extrínsecos e
intrínsecos.1,2 A irrigação arterial é fornecida pela artéria tibial posterior e
anterior, enquanto a inervação, pelos nervos tibial, fibular e safeno.1,2
O tornozelo é uma articulação em dobradiça com as articulações da tíbia,
fíbula e tálus, sustentada por ligamentos colaterais.2
• Abdução;
• Adução;
• Pronação;
• Supinação.
2.4.1.3. Palpação
a) Avaliar estruturas ósseas e tecido mole adjacente, pesquisando dor,
edema, alterações de temperatura, características musculares, crepitações,
mobilidade.
b) Avaliar partes moles, analisando a consistência, a mobilidade e a
passividade musculotendínea.
c) Deve-se realizar a palpação dos pulsos periféricos das artérias pediosa e
tibial posterior.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
g) Teste de Tinel do Pé
Fonte: Autor.
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade (%) Especificidade (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
DETECÇÃO DE IMPACTO
ANTEROLATERAL
SINAL DO
95 88 7,91 0,6
IMPACTO
GAP
PALPÁVEL NO 73 89 6,8 0,3
TENDÃO
TESTE DA
COMPRESSÃO
96 93 13,5 0,05
DA
PANTURRILHA
TESTE DA
FLEXÃO DO 88 86 6,2 0,1
JOELHO
TESTE DE
96 93 13,47 0,4
THOMPSON
TESTE DA
GAVETA 33 73 1,27 0,90
ANTERIOR
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
triple 86 100 INDEFINIDO 0,14
compression
Fonte: Adaptado de Cleland5.
CASO CLÍNICO
História clínica
C.A.S., feminino, 38 anos, procedente de Palmas, parda, solteira, católica,
dona de casa e confeiteira. Relata queixa de “dor embaixo do pé esquerdo”
há cerca de 1 ano. Refere dor em queimação na região plantar do pé
esquerdo, mais intensa pela manhã, quando pisa pela primeira vez ao
levantar e após ficar muito tempo sentada. Melhora com o repouso e com
marcha. Nega outros sintomas associados. Quando questionada, refere que
os sapatos entortam e gastam no calcanhar. Como trabalha com confeitaria,
passa mais de 8 horas em pé por dia. Nega outros sintomas associados.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades. Nega cirurgias de qualquer
natureza.
Hábitos de vida: Nega etilismo ou tabagismo. Pratica atividade física
regular (caminhada).
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorado, hidratado,
acianótico, anictérico e afebril, eupneico, consciente e orientado, obesidade
grau II.
Dados vitais: FC 89 bpm, FR 19 irpm; PA 120x80 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: pé direito sem achados
patológicos ao exame físico.
Exame do pé esquerdo sem carga: à inspeção, ausência de cicatrizes,
hipotrofia, assimetrias ou nódulos, sem edemas; sapato com solado rígido e
paralelo ao solo e desgastado na face interna na região do calcanhar; dor à
palpação na projeção da tuberosidade medial e plantar do calcâneo, sem
nódulos palpáveis, dor à extensão passiva dos dedos e à palpação da região
plantar; pulsos presentes com boa perfusão distal; exame do pé esquerdo
com carga: marcha claudicante com o pé esquerdo em pronação, com piora
da dor na marcha sobre o calcâneo e melhora ao caminhar na ponta dos pés;
testes de triple compression e tinel do pé negativos.
Exame da cabeça e do pescoço: dentro da normalidade.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos
preservados; sensibilidade preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: ausência de achados relevantes.
Exame do sistema cardiovascular: ausência de achados relevantes.
Exame abdominal: abdome globoso sem outros achados relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: dentro da normalidade.
Pontos de discussão
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o
diagnóstico levantado?
Pontos importantes
1. A fasciíte plantar é uma causa comum de dor no pé, com curso em geral
autolimitado;
2. Seu diagnóstico é eminentemente clínico;
3. Dentre os principais fatores de risco, estão a obesidade, o uso de sapatos
rígidos e o ortostatismo prolongado;
4. O tratamento conservador deve ser tentado inicialmente e baseia-se no
uso de anti-inflamatórios, fisioterapia e medidas comportamentais.
Referências
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo:
Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São
Paulo: Sarvier; 2017.
4. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2017.
5. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical
examination: an evidence-based approach. Third ed. Philadelphia:
Elsevier; 2016.
6. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia,
PA: Elsevier; 2018.
7. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em
Ortopedia e Traumatologia: guia prático para formação e atualização
em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
8. Collins RD. Algorithmic Diagnosis of Symptoms and Signs: A Cost-
Effective Approach. 4th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer Heath; 2017.
1. SIMULAÇÃO CLÍNICA PARA O
ENSINO DA SEMIOTÉCNICA
MÉDICA
A Simulação Clínica tem ocupado cada vez mais espaço nas Escolas Médicas, tanto para
assegurar, no âmbito dos processos formativos de habilidades e atitudes dos profissionais da saúde,
segurança para o paciente quanto uma maior padronização e controle do treinamento dessas
habilidades e atitudes em um laboratório ou centro de simulação. A Simulação Clínica é uma
metodologia ativa de aprendizagem, que incorpora a estratégia de aprender fazendo, que possui grande
capacidade de provocar maior retenção do que é aprendido; além de ser uma metodologia autêntica,
ou seja, que reproduz com maior ou menor realismo e fidedignidade o cenário real de prática, em que
o estudante pode ter despertado maior envolvimento emocional e motivacional, e também em que ele
pode “errar” e obter feedback útil, seguro e construtivo.
NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM EM SEMIOLOGIA, ESPECIALMENTE EM
SEMIOTÉCNICA MÉDICA, A SIMULAÇÃO CLÍNICA TEM SIDO EMPREGADA, CHEGANDO
A SER DESCRITA NOS LIVROS-TEXTOS DA DISCIPLINA. ISSO SEM NEGLIGENCIAR,
OBVIAMENTE, O TRADICIONAL ENSINO “À BEIRA DO LEITO”, MAS PREPARANDO-O
COM MAIOR EFETIVIDADE, PADRONIZAÇÃO E PROATIVIDADE, E, PRINCIPALMENTE,
SEGURANÇA E CONFORTO PARA OS PACIENTES, QUE SERIAM ABORDADOS EM UMA
ETAPA POSTERIOR DA PROGRESSÃO DO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES E
ATITUDES, DENTRO DE UMA TRILHA DE APRENDIZAGEM DEVIDAMENTE PLANEJADA
E DESENHADA.
A SIMULAÇÃO CLÍNICA APLICADA À SEMIOLOGIA PODE DESTINAR-SE À
APRENDIZAGEM DA SEMIOTÉCNICA DA ANAMNESE E DO EXAME FÍSICO. NO
PRIMEIRO CASO, ATORES, MONITORES OU OS PRÓPRIOS ESTUDANTES PODEM
SIMULAR PACIENTES, CUJOS CASOS DEVEM SER DEVIDAMENTE COMPILADOS E
PADRONIZADOS PARA SIMULAR DO MODO MAIS REALÍSTICO POSSÍVEL UMA
ANAMNESE, COM TODOS OS SEUS ASPECTOS INFORMATIVOS, COMUNICACIONAIS E
EMOCIONAIS, DE MODO QUE OS ESTUDANTES, PARTICIPANTES DA SIMULAÇÃO COMO
ENTREVISTADORES A COLETAR A ANAMNESE, TREINEM HABILIDADES NECESSÁRIAS
À COLETA DE INFORMAÇÕES, AOS DESAFIOS DA ENTREVISTA CLÍNICA, ÀS
ESPECIFICIDADES DOS DIFERENTES TIPOS DE PACIENTES E AO PRÓPRIO CONSTRUTO
DA ANAMNESE COM FINS AO RACIOCÍNIO DIAGNÓSTICO.
No segundo caso, atores, monitores e os próprios estudantes podem ser manequins para que os
estudantes, participantes da simulação, possam executar as manobras semiotécnicas, de modo a
aprender sua tática, sua sequência cinética, o refinamento dos movimentos e a adequação atitudinal à
abordagem da pessoa sob manipulação médica no exame físico. A participação dos próprios
estudantes como manequins pode dar a eles a oportunidade de sentir como é ser examinado,
propiciando o desenvolvimento da empatia e do profissionalismo médico. A utilização de pessoas
como manequins, sejam atores, monitores ou mesmo os estudantes, obviamente tem implicações
éticas que devem ser devidamente ponderadas e equacionadas para uma abordagem segura e efetiva,
preservando-se a privacidade.
A seguir, descrevemos uma estratégia possível de implantação de ensino de Semiotécnica Médica
por meio de Simulação Clínica, que possa ser usada como referência nas Escolas Médicas,
considerando as diferentes realidades.
I. No início da aula prática em ambiente de simulação, os estudantes serão divididos em grupos e
percorrerão estações pré-definidas;
II. Em cada estação, o professor/monitor irá fazer uma demonstração completa das manobras
semiotécnicas constantes delas;
III. Após a demonstração pelo professor/monitor, cada estudante, em regime de rodízio, replicará as
manobras semiotécnicas constantes da estação em um colega, sendo observado pelo
professor/monitor e pelos outros colegas, que acompanharão seu desempenho com base no
checklist;
IV. Ao final da replicação das manobras, o estudante que as executou receberá feedback dos colegas
que observaram seu desempenho e do professor/monitor.
Segue, abaixo, a sequência do Treinamento de Habilidades em Semiotécnica Médica:
2. CHECKLISTS
b) Material Necessário
• Balança
• Fita métrica
• Estetoscópio
• Esfigmomanômetro aneroide
• Relógio
• Termômetro de mercúrio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais
vitais, o estudante será capaz de:
• Replicar as etapas da ectoscopia, da aferição dos sinais vitais (Pressão Arterial, Frequência
Respiratória, Frequência Cardíaca, Pulso e Temperatura) e das medidas antropométricas
(Peso, Altura, Circunferência Abdominal e Circunferência do Quadril) e em paciente
simulado;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
ECTOSCOPIA
O NÍVEL DE CONSCIÊNCIA ❑ ❑
FÁCIES ❑ ❑
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSTALAÇÃO DO ESFIGMOMANÔMETRO
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
b) Material Necessário
• Lanterna
• Abaixador de língua
• Otoscópio
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais
vitais, o estudante será capaz de:
• Replicar as etapas do exame da cabeça, dos olhos, das orelhas, do nariz e seios paranasais,
da boca, da tireoide e dos linfonodos cervicais, axilares, epitrocleares e inguinais em
paciente simulado;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
SUA SIMETRIA ❑ ❑
b) Material Necessário
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais
vitais, o estudante será capaz de:
• Executar procedimentos de higienização das mãos;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
HÁ RETRAÇÃO SUPRACLAVICULAR ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
EXPLICOU O PROCEDIMENTO A SER EXECUTADO ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
b) Material Necessário
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais
vitais, o estudante será capaz de:
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSPEÇÃO DO PRECÓRDIO
PALPAÇÃO DO PRECÓRDIO
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
❑ ❑
ENVOLVEU A PERNA COM UM GRAU LEVE DE FLEXÃO DELA
b) Material Necessário
• Fita métrica
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais
vitais, o estudante será capaz de:
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
❑ ❑
PEDIU AO PACIENTE PERMISSÃO PARA INICIAR O PROCEDIMENTO
INSPEÇÃO DO ABDOME
CICATRIZES ❑ ❑
ESTRIAS ABDOMINAIS ❑ ❑
ESCORIAÇÕES ❑ ❑
CIRCULAÇÃO COLATERAL ❑ ❑
AUSCULTA DO ABDOME
AQUECEU O ESTETOSCÓPIO ❑ ❑
EPIGÁSTRIO ❑ ❑
PERCUSSÃO EXPLORATÓRIA
AQUECEU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
MANOBRA DO RECHAÇO
b) Material Necessário
• Fita métrica
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais
vitais, o estudante será capaz de:
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
SUPRAESPINHAL ❑ ❑
INFRAESPINHAL ❑ ❑
REDONDO MENOR ❑ ❑
POSICIONOU O PACIENTE DE PÉ ❑ ❑
POSICIONOU O PACIENTE DE PÉ ❑ ❑
❑ ❑
INFORMOU EM VOZ ALTA QUE A INCAPACIDADE DE FAZÊ-LO OU
DE MANTER O AFASTAMENTO, SE FEITO PASSIVAMENTE PELO
EXAMINADOR, INDICA GRAVE LESÃO DO M. SUBESCAPULAR
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSPEÇÃO DO COTOVELO
PALPAÇÃO DO COTOVELO
TESTE DE COZEN
AVALIAÇÃO DE EPICONDILITE LATERAL
EDEMA SUPRA-ARTICULAR ❑ ❑
PALPAÇÃO DA MÃO
PALPAÇÃO DO PUNHO
TESTE DE FINKELSTEIN
AVALIAÇÃO DE TENOSSINOVITE DE DE QUERVAIN
TESTE DE TINEL
AVALIAÇÃO DE SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO
TESTE DE PHALEN
AVALIAÇÃO DE SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO
AVALIAR SE O ALUNO: SIM NÃO
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
AS CRISTAS ILÍACAS ❑ ❑
TESTE DE PATRICK
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
TESTE DE MCMURRAY
AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DOS MENISCOS MEDIAL E
LATERAL
PALPAÇÃO DO TORNOZELO
b) Material Necessário
• Diapasão de 128 Hz
• Chumaço de algodão
• Agulha
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais
vitais, o estudante será capaz de:
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
❑ ❑
POSICIONOU-SE DE FRENTE PARA O PACIENTE
FUNDOSCOPIA
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
❑ ❑
MOVEU A MÃO, SUCESSIVAMENTE, PELOS CAMPOS VISUAIS
TEMPORAL E NASAL DO PACIENTE, INCLUINDO QUADRANTES
SUPERIOR E INFERIOR, ALTERNADO MOVIMENTOS COM OS DEDOS
❑ ❑
E PERÍODOS DE REPOUSO DELES, AO MESMO TEMPO EM QUE PEDIA
AO PACIENTE PARA DIZER QUANDO PERCEBIA MOVIMENTOS DOS
DEDOS
TESTOU A CONVERGÊNCIA: ❑ ❑
FRANZISSE A TESTA ❑ ❑
SORRISSE ❑ ❑
ENCHESSE DE AR AS BOCHECHAS ❑ ❑
CONTRAÍSSE O PLATISMA ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
EXAME DA MARCHA
SEQUÊNCIA DO ANDAR ❑ ❑
INSPEÇÃO GERAL
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
MAMILOS (T4) ❑ ❑
UMBIGO (T10) ❑ ❑
3. OSCE
Os checklists apresentados acima podem ser utilizados pelos estudantes tanto como referência para
estudo das manobras semiotécnicas quanto para a avaliação da aprendizagem. A metodologia de prova
prática utilizada será o Objective Estructured Clinical Examination (OSCE), em que os alunos
percorrem um rodízio de estações, com duração definida e contendo tarefas específicas que devem ser
executadas, usualmente envolvendo habilidades clínicas. Dentre as habilidades clínicas que podem ser
avaliadas por essa metodologia, em geral, estão:
• Anamnese
• Exame físico
• Investigação complementar
• Aconselhamento
• Habilidades procedimentais
• Abordagem terapêutica
Checklist
ESTAÇÃO 6B
Exame Neurológico
ALUNO:
AVALIADOR:
ENUNCIADO: Execute no paciente o Teste de Rinne e o Teste de Weber.
Observe que essa estação (6B) tem 2 manobras semiotécnicas do Exame Neurológico (Testes de
Rinne e Weber), sendo constituída de 12 ações (6 para cada teste). As ações 6, 9, 10, 11 e 12 devem
ser ditas EM VOZ ALTA para o examinador. As demais devem ser apenas demonstradas. O código
6B indica que ela é questão da sexta estação, Gabarito B (para o segundo grupo de estudantes, que
iniciaram como modelos). O cálculo da nota da estação é obtido dividindo-se o número de ações que o
estudante efetivamente executou na estação pelo número de ações a serem executadas (12). Observe
ainda que as ações a serem executadas são as mesmas constantes dos checklists correspondentes,
utilizados no treinamento de habilidades clínicas. É, pois, fundamental que o estudante treine
repetidamente as manobras usando os checklists, para memorizar a sequência de ações das manobras.
Nessa estação, o diapasão de 256 Hz está disponível na sala, juntamente com outros equipamentos
para exame neurológico (não necessariamente apenas os utilizados nas questões). Importante: os
nomes dos testes e manobras (incluindo epônimos) e das estruturas anatômicas (por exemplo: Espaço
de Traube, Ponto de McBurney, Manobra de Phalen, Sinal do Obturador) fazem parte da interpretação
da questão e devem ser conhecidos pelos estudantes (no exemplo acima, o estudante deve conhecer os
nomes dos testes de Rinne e Weber e as respectivas sequências de ações).
A nota do estudante na estação será calculada dividindo-se o número de ações executadas pelo
número total de ações da(s) manobra(s) a serem executadas. Cada estação pode valer 1,0 ponto, e a
nota global do OSCE será calculada por meio da média aritmética das notas obtidas nas estações.
O rodízio do OSCE obedecerá a seguinte dinâmica:
• Todos os estudantes aguardarão ser chamados para o rodízio em uma sala de espera (SALA
PRÉ-OSCE);
• Ao serem chamadas, as duplas de estudantes entrarão nas estações para as quais foram
previamente designadas;
• Na primeira estação do rodízio, após comando com o apito, o estudante terá 2 minutos para
executar a manobra solicitada pelo avaliador;
• Nas 5 estações seguintes, após cada comando com o apito, ele terá 2 minutos e 30 segundos
para trocar de estação e executar a manobra solicitada pelo avaliador;
Importante: Os estudantes só entrarão no rodízio do OSCE obedecendo às seguintes prescrições:
• Não será permitido ausentar-se da sala “Pré-OSCE” durante o exame, exceto em situações
de emergência. Recomenda-se que o estudante vá ao banheiro antes de entrar nessa sala, para
evitar contratempos;
• Uma vez iniciado o OSCE, o estudante só pode abordar o professor Coordenador do exame
em situação de EMERGÊNCIA.
Referências
Básica
1. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 2001.
2. Bickley LS. Bates: propedêutica médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2018.
3. Carrió FB. Entrevista clínica: habilidades de comunicação para profissionais de saúde. Porto
Alegre: Artmed; 2012.
4. Mattos W. Semiologia do adulto: diagnóstico baseado em evidências. Rio de Janeiro: Medbook;
2017.
5. Porto CC. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
Complementar
1. Guyaty G, Drummond R, Maureen OM, Deborah JC. Diretrizes para utilização da literatura
médica: manual para prática clínica da medicina baseada em evidências. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed; 2011.
2. Lopez M, Laurentys-Medeiros J. Semiologia Médica: as bases do diagnóstico clínico. 5. ed. Rio
de Janeiro: Thieme Revinter; 2004.
3. Martinez JB, Dantas M, Voltarelli JC. Semiologia Geral e Especializada. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2013.
4. Qulici AP. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Editora Atheneu; 2012.
5. Rocco JR. Semiologia médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011.
6. Swatz MH. Tratado de Semiologia Médica: história e exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2015.