A Ypióca, Comprada Pela Diageo, Está Na Mão Do Ex-Dono
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14/10/2019 A Ypióca, comprada pela Diageo, está na mão do ex-dono | EXAME
São Paulo – O empresário cearense Everardo Telles deve sua fortuna — que supera facilmente
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bilhão de reais — à cachaça. No longínquo ano de 1846, seu bisavô fundou a destilaria Ypióca
em Maranguape, no sertão do Ceará.
O anúncio da compra da Ypióca foi carregado daquela euforia típica. O Brasil era um mercado
“atraente”, que crescia “rapidamente” e, com a Ypióca, a empresa estaria pronta para dar um
salto no país. Mas não demorou para que, passada a euforia — pense num inglês que acaba de
tomar cinco caipirinhas —, crescesse a suspeita de que a Diageo exagerara na dose.
O tal mercado que crescia diminuiu, e a cúpula responsável pela compra foi substituída. O
cerne do problema é o próprio Telles — que vendeu, mas ainda manda muito em sua ex-
empresa. O contrato entre ele e a Diageo deixou nas mãos de Telles uma variável crucial para o
sucesso do negócio — o preço da matéria-prima.
Das três fábricas da Ypióca no Ceará, só uma, junto com a fazenda próxima que produz cana-
de-açúcar, foi vendida à Diageo. Telles manteve duas destilarias que produziam 50% da
aguardente usada pela Ypióca como base para suas diferentes cachaças. Ele também é dono
das fazendas de cana que abastecem as duas fábricas.
Para complicar um pouco mais as coisas, a Diageo topou que Telles decida a que preço vai
fornecer. Ou seja, ele cobra quanto quer. A Diageo pode até comprar de outros fornecedores.
Mas os grandes produtores estão muito distantes da fábrica, e comprar cana deles é
impraticável, já que o produto estragaria no caminho.
A Diageo logo percebeu que estava nas mãos do antigo dono da empresa comprada por eles.
Procurado, Telles não deu entrevista. O diretor de suprimentos da Diageo, Marcelo Pimenta, diz
que o contrato de fornecimento está “dentro dos padrões globais” da empresa.
O primeiro embate aconteceu três meses depois do anúncio da aquisição, quando Telles
colheria a primeira safra de cana. Surpresos com o preço pedido por Telles pelo litro de
aguardente (mais de 2 reais por litro, quando a média do custo na região é 1 real), os diretores
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se apavoraram.
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Logo foi espalhado o boato de que Telles estava em conversas com a sul-africana Distell, uma
das grandes rivais da Diageo. A seu favor, Telles tinha a estratégia do então presidente da
Diageo, Paul Walsh, que pressionava por grandes aquisições nos mercados emergentes para
compensar a pasmaceira nos países desenvolvidos.
Além da Ypióca, investiu em outras duas empresas que produziam bebidas locais: a chinesa
Sichuan Shuijingfang e a turca Mey Icky. No último balanço, a Diageo registrou uma perda de
150 milhões de dólares no investimento na China.
Jogo duro
O jogo duro de Telles e a avidez da Diageo resultaram num negócio que, mesmo para os
padrões eufóricos da época, parecia ter custado caro demais aos ingleses. O preço de 900
milhões de reais da Ypióca correspondia a 18 vezes a geração de caixa da empresa, a maior da
história do setor no Brasil.
Em 2011, a japonesa Kirin pagara um múltiplo de 16 vezes pela cervejaria Schincariol. A própria
Diageo, por exemplo, vale em bolsa o equivalente a 12 vezes sua geração de caixa.
O mercado não se comportou como a Diageo esperava. A venda de cachaça no país vem
caindo desde 2011 — o faturamento e o volume de vendas encolheram. No primeiro ano após a
aquisição, as vendas da Ypióca ficaram estagnadas.
A Diageo enfrentou problemas inicialmente ao definir uma estratégia para trazer para o
Sudeste a Ypióca, até então uma marca com forte sotaque regional. A Ypióca sempre custou
mais do que o dobro de marcas populares, como 51 e Velho Barreiro, e a Diageo tentou reduzir
os preços, mas a tentativa de concorrer com as marcas populares não deu certo.
“Foram testes feitos logo no início”, diz Grazielle Parenti, diretora de relações institucionais da
Diageo. No segundo ano após a aquisição, já sob a presidência da espanhola Olga Martinez, a
Ypióca voltou a crescer. Com a estratégia definida de marca premium, aumentos de preço e
esforço nas exportações, as vendas subiram.
Segundo dados
4 conteúdos do balanço
gratuitos da Diageo,
restantes o volume
neste mês. Assineaumentou 7% nailimitado
e tenha acesso comparação
» com 2012, e a
receita contabilizada em libras, 20%. De acordo com a Euromonitor, a Ypióca ganhou meio
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A estrutura de cargos criada na Ypióca logo após a aquisição foi extinta e, desde o fim do ano
passado, 40 executivos foram demitidos. Só permaneceram um diretor de operações e um
comercial, responsável por todos os produtos da Diageo no Nordeste. Olga Martinez está,
agora, tentando diminuir o poder de Everardo Telles.
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