Unidade Ii

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Metodologia do Ensino

de História
Material Teórico
A invenção da história

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Jurema Mascarenhas Paes

Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
A invenção da história

• A história e o surgimento da escrita


• O fato histórico
• As tendências historiográficas e a sala de aula

OBJETIVO DE APRENDIZADO
Os objetivos desta Unidade são:
·· Abordar a relação da história com o surgimento da escrita.
·· Desdobrar o conceito de fato histórico e documento.
·· Demonstrar o uso das fontes históricas para escrita da história e para a sala
de aula.
·· Discutir as tendências da historiografia, suas características e contribuições.
·· Refletir sobre a leitura de diferentes textos históricos.

ORIENTAÇÕES
Nesta unidade, abordaremos a relação da história com a escrita, a história
e suas fontes, o conceito de fato e fonte histórica e as diferentes escolas
historiográficas. Esses temas circularão em torno do título A Invenção da
História, no sentindo de elencar aspectos que fazem parte do repertório que
compõem a disciplina.

Não se esqueça de acessar o link Materiais Didáticos, no qual encontrará o


conteúdo e as atividades propostas para esta unidade.
UNIDADE A invenção da história

Contextualização
O título desta unidade, A Invenção da História, é uma proposta de reflexão
criativa em algumas direções para nós professores. Entender a história como uma
invenção é aproximar o mundo da ciência ao mundo inventivo da arte. A ideia,
aqui, é desmembrar os percursos historiográficos, métodos e estratégias e, a partir
daí, poder desempenhar o ofício de professor e pesquisador com mais eficiência.

O filósofo Deleuze discorre em uma fala sobre o ato de ensinar e como deve
o professor se preparar para essa função, comparando o processo preparatório
de uma aula aos espetáculos de teatro e música, onde o ator e o músico precisam
ensaiar para atuar e o professor deve ter uma relação de afeto com aquilo que
está ensinando. Dito de outra forma, é preciso gostar do que se faz e estar muito
bem inteirado sobre o assunto em que se vai discorrer. O ofício de professor, para
Deleuze, é de partida transdisciplinar.
Explor

Vamos, então, começar os trabalhos desta unidade vendo o vídeo do Deleuze:


https://youtu.be/JagcUtuyd4o

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A história e o surgimento da escrita
Por fim, o caráter “único” dos eventos históricos, a necessidade do historiador de
misturar relato e explicação fizeram da história um gênero literário, uma arte ao
mesmo tempo que uma ciência.
(Jacques Le Goff – História e Memória)

É muito importante conectar a história ao surgimento da escrita. A escrita foi


um fator fundamental no processo de segmentação dos estudos da história. A
partir dela, dividiu-se a história nos períodos:

• Pré-história (antes do surgimento da escrita)


• História (após o surgimento da escrita)

A leitura dos tempos da pré-história se dá por escritas feitas nas pedras, por
pinturas e gravuras rupestres.

“Com o termo arte rupestre costuma-se englobar, de maneira geral, todas as


variações de signos gráficos pintados ou gravados sobre suportes rochosos fixos,
sejam abrigos, grutas, paredões, lajedos ou algum tipo de afloramento. Os autores
desses grafismos rupestres são sempre relacionados, pelos especialistas, a grupos
humanos pretéritos, vinculados a formações sócio-econômicas de caçadores-
coletores, horticultores, agricultores ou pastores”.

[...] esses códigos imagéticos poderiam ser acionados nas mais diversas situações,
tais como registros de eventos, explicação dos fenômenos naturais, transmissão de
experiências, delimitação de territórios, homenagens, ritualizações, contagens etc. Isso
significa que os motivos pintados ou gravados englobados na denominação de arte
rupestre teriam sido aplicados com funções variadas, da maneira como se emprega a
escrita na sociedade moderna. Desta forma, os locais de pinturas e gravuras rupestres
podem ser considerados verdadeiros documentos sobre a presença e atuação dos
grupos pré-coloniais em determinada região, ao passo que se constituem em marcos
de memória social para as populações contemporâneas. Assim sendo, os sítios de arte
rupestre assumem a condição de monumentos históricos que evocam configurações
sociais diferentes das de origem européia.
(ETCHEVARNE, 2007).

A pintura rupestre, em contrapartida, não foi considerada como um tipo de


escrita, pois não havia organização, nem padronização das representações gráficas
para caracterizá-la como tal. A pintura rupestre foi entendida como modo de
representação de um universo, de um sistema social, político, econômico e cultural.

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UNIDADE A invenção da história

Figura 1 - Pintura Rupestre


Fonte: Organização Odebrecht, Rio de Janeiro: Versal, 2007

Sobre a relação da história com a escrita Charles Higounet, coloca:


A escrita faz de tal modo parte da nossa civilização que poderia servir de definição dela
própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da
escrita. [...] Vivemos os séculos da civilização da escrita. Todas as nossas sociedades
baseiam-se sobre o escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substituiu
a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E, sobretudo não
existe história que não se funde sobre textos (HIGOUNET, 2003, p.192).

A escrita foi tão determinante no processo constitutivo da História Eurocêntrica


que se acreditou, por muito tempo, que o continente africano fosse desprovido
de história, por ter uma cultura pautada na oralidade. Hoje, com a legitimação da
história oral, esse pensamento vem sendo desconstruído e uma história renovada
emerge imersa aos escombros do século XX, dando voz a outros sujeitos e outras
versões da história.

Trocando ideias...Importante!
Reflexão/ discusssão 1:
O escritor Mia Coto (Moçambicano) afirmou em entrevista que a África deve contar sua própria
história. O que ele quis dizer com isso?
Ver link com texto de Mia Coto: http://goo.gl/54QJ8I

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Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a
coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento
do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento
histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de
uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A
coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do
conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por
39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.

Para saber mais sobre História da África, a Unesco publicou 8 volumes para Dowload:
http://goo.gl/ZzQVR1

Ainda sobre o surgimento da escrita, é


sabido que, por volta de 4000 a.C., os
sumérios (Mesopotâmia) desenvolveram a
escrita cuneiforme, usando placas de barro,
que eram talhadas com auxílio de objetos
em forma de cunha. Muito do que sabemos
hoje desse período da história deve-se às
placas de argila com registros cotidianos,
administrativos, econômicos e políticos
da época. As placas de barro não eram
muito práticas para serem transportadas,
o que passou a dificultar a divulgação das
informações.
Figura 2 - Pedra do Código de Hamurabi, escrita
Cuneiforme em pedra.
Fonte: profjosete.blogspot.com

Os egípcios antigos também desenvolveram


a escrita quase na mesma época que os
sumérios. As paredes internas das pirâmides
eram repletas de textos que falavam sobre
a vida dos faraós, rezas e mensagens
para espantar possíveis saqueadores. Eles
inventaram o papiro, primeira plataforma
portátil e leve.

Figura 3 - Papiro

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UNIDADE A invenção da história

Já na Roma Antiga, no alfabeto romano,


havia somente letras maiúsculas. Contudo,
na época em que começaram a ser escritas
nos pergaminhos, com auxílio de hastes
de bambu ou penas de patos e outras
aves, ocorreu uma modificação em sua
forma original e, posteriormente, criou-
se um novo estilo de escrita denominado
uncial. O novo estilo resistiu até o século
VIII e foi utilizado na escritura de Bíblias
lindamente escritas.
Figura 4 - Pergaminho

Na Alta Idade Média, no século VIII, Alcuíno, um monge inglês, elaborou


outro estilo de alfabeto atendendo ao pedido do imperador Carlos Magno. Esse
novo estilo também possuía letras maiúsculas e minúsculas. Foram os Monges
também que inventaram outro suporte, o pergaminho. Os monges copistas foram
responsáveis por reproduzir a bíblia.

Os chineses por fim inventaram o papel no ano de 10 depois de Cristo e


inspiraram Johannes Gutemberg que em 1455, mecaniza o processo de impressão
e diminui drasticamente o tempo para reprodução de publicações.

Você Sabia? Importante!

Existe uma ciência que estuda as escritas antigas, seus símbolos e significado. Esta
ciência é chamada de Paleografia.

O surgimento da escrita forneceu materiais como livros e documentos escritos


que foram fundamentais para a elaboração de métodos, conferindo a história um
dos seus aspectos de ciência em sentido técnico. Le Goff coloca:
[...] desde a Antiguidade, a ciência histórica, reunindo documentos escritos e fazendo
deles testemunhos, superou o limite do meio século ou do século abrangido pelos
historiadores que dele foram testemunhas oculares e auriculares. Ela ultrapassou
também as limitações impostas pela transmissão oral do passado. A constituição de
bibliotecas e de arquivos forneceu assim os materiais da história. Foram elaborados
métodos de crítica científica, conferindo à história um dos seus aspectos de ciência em
sentido técnico, a partir dos primeiros e incertos passos da Idade Média (Guenée), mas
sobretudo depois do final do século. XVII com Du Cange, Mabillon e os beneditinos
de Saint-Maur, Muratori, etc. Portanto, não se tem história sem erudição. (LE GOFF,
1990, p. 06).

A historiografia do século XIX tinha, no documento escrito, a referência


de documento legítimo. O documento escrito, em si, trazia uma áurea de
veracidade incontestável. Ao historiador cabia a tarefa de organizar dados e
fatos documentados.

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Hoje, os documentos escritos, ou elaborados em linguagens outras, são
analisados pelo historiador em seu tempo e contexto histórico. Os documentos não
são aceitos como verdades prontas de partida, eles passam por todo um processo
de análise. Cabe ao historiador, duvidar, questionar o documento. Investigar como,
por quem e em que contexto ele foi produzido. Analisar o documento é parte
fundamental do ofício de historiador.
Ao professor, então, cabia reproduzir os conteúdos produzidos pelos historia-
dores. O professor seria o mediador entre o historiador e os alunos.
No século XX, emergiram discussões metodológicas que colocaram em
pauta o documento histórico. Foram feitas também observações críticas sobre o
entendimento do fato histórico. O fato histórico não era mais entendido como um
objeto dado e acabado e as fontes históricas passaram a ser testadas e questionadas.

Desse cenário, emergiram questionamentos.


• O que podemos entender por documento histórico?
• E o que é fato histórico? Como se dá?
• Qual sua importância para a historiografia?

O fato histórico
Os historiadores são partícipes do processo de criação dos fatos, e dão
valor a cada um, de acordo com uma série de critérios que a historiografia vem
aperfeiçoando, métodos de análise, comparação de dados e fontes. Para o ensino,
os fatos históricos podem ser entendidos como ações humanas significativas,
escolhidas por professores e alunos, para análise de determinados momentos
históricos. Podem ser eventos pertencentes ao passado mais próximo ou distante,
de caráter material ou mental, que destaquem mudanças ou permanências ocorridas
na vida coletiva.

Os PCN descrevem os fatos históricos da seguinte maneira:


Os fatos históricos podem ser traduzidos, por exemplo, como aqueles relacionados
aos eventos políticos, às festas cívicas e às ações de heróis nacionais, fatos esses
apresentados de modo isolado do contexto histórico em que viveram os personagens e
dos movimentos de que participaram.

Em outra concepção de ensino, os fatos históricos podem ser entendidos como


ações humanas significativas, escolhidas por professores e alunos, para análises de
determinados momentos históricos. Podem ser eventos que pertencem ao passado
mais próximo ou distante, de caráter material ou mental, que destaquem mudanças
ou permanências ocorridas na vida coletiva. Assim, por exemplo, dependendo das
escolhas didáticas, podem se constituir em fatos históricos as ações realizadas pelos
homens e pelas coletividades que envolvem diferentes níveis da vida em sociedade:
criações artísticas, ritos religiosos, técnicas de produção, formas de desenho, atos de
governantes, comportamentos de crianças ou mulheres, independências políticas de
povos. (Parâmetros Curriculares Nacionais – Secretaria de Educação – 1998, p.29).
Fonte: http://goo.gl/Y1717n

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UNIDADE A invenção da história

A “educação pela cidadania” proposta pelos PCN tem a proposta de desenvolver


entre crianças e adolescentes – por meio de temas transversais valores de
solidariedade, compaixão, tolerância, preparando-os para um futuro dentro e
fora do local de trabalho. A proposta é trabalhar os temas em torno da idéia de
inclusão social.

Os PCN entendem os fatos históricos como processuais. Colocam que, para


que os mesmos estejam inseridos no processo ensino e aprendizagem e sejam
eficientes, é interessante que tenham conexão com a realidade dos alunos. Os
fatos são construídos, consolidam-se no discurso do passado e ressignificam-
se no cotidiano do presente escolar, alinhados a proposta filosófico educacional
das escolas. A escolha dos temas e as abordagens serão fundamentais para o
desenvolvimento da transversalidade dos saberes, enquanto proposta/pilar de uma
formação pautada na inclusão social e na cidadania.

A relação entre história e cidadania torna-se ponto bastante significativo quando


pensamos sobre as finalidades políticas da educação e, especificamente, o papel
que a história pode desempenhar na formação das crianças e adolescentes,
fortalecendo conceitos como política, cidadania, solidariedade e humanismo.

Você já presenciou algum fato histórico?

O fato histórico, no século XIX, vinha alinhavado ao modo do pensamento


positivista. No texto O positivismo, os Annales e a Nova História, Angela Biardi
aprofunda essas tendências historiográficas em um pequeno traçado cartográfico.
Segue pequeno trecho do texto, em que é abordado o processo constitutivo de
construção dos fatos históricos pelo viés positivista:
Tão objetiva é a História para os positivistas que um de seus maiores ensinamentos é
a busca incessante de fatos históricos e sua comprovação empírica. Daí a necessidade,
como pregavam, de se utilizar na pesquisa e análise o máximo de documentos
possíveis: para se obter a totalidade sobre os fatos e não deixar nenhuma margem de
dúvida no que se refere à sua compreensão. A busca desses fatos deve ser feita por
mentes neutras, pois qualquer juízo de valor na pesquisa e análise altera o sentido e a
verdade própria dos fatos, modificando, pois a própria História. Esta se tornaria uma
ciência falha e totalmente fora de seu caráter científico e, portanto, destituída de valor
e validade. Coulanges chega a afirmar que a “História não é arte, mas uma ciência
pura [...] a busca dos fatos é feita pela observação minuciosa dos textos, da mesma
maneira que o químico encontra os seus em experiências minuciosamente conduzidas”.
A objetividade, a minuciosidade, o detalhe e a dedicação impessoal, portanto, são as
grandes lições da escola positivista para o estudo da História no século XIX e no início
do XX. Os historiadores que, nessa época, tentaram provar outras formas de se estudar
a disciplina foram desconsiderados e postos à margem. (BIRARDI, 2001, p.2)
Explor

BIRARDI, Ângela et al. O positivismo, os annales e a nova História, 2001.


Disponível em: http://goo.gl/0tlwmQ

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No século XX, o fato histórico passa a ser entendido como uma construção
discursiva conectada a uma ideia de não inocência do documento. Esse
questionamento gerou uma desconfiança perante a história e seus fatos. Essas
críticas e reflexões levaram a uma expansão e apuramento do método científico da
história, chegando a outros modos de pensar e fazer história.

O documento passou a ser compreendido como um material que exprime o


poder da sociedade do passado. Jacques Le Goff (1990, p. 545) colocou: “Todo
documento é monumento, ou seja, todo documento é fruto de escolhas e intenções
de quem o elabora, sendo assim um ponto de vista parcial da história”. Para ele:
[...] o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto
da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que estavam no poder. Só
a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo
e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa. (LE
GOFF, 1990, p. 545)

Com essa desmitificação do documento escrito primário como absoluto e


verdadeiro, ampliou-se a possibilidade de outros objetos da cultura virem a
ser inclusos e aceitos como documentos pelo historiador e passou a história a
respirar outros ares. A história não caberia mais uma única versão, absoluta sobre
determinada experiência humana ou acontecimento. O devir histórico anunciava
uma abertura para a ideia da polissemia, ou seja, de diversas possibilidades de
entendimentos e versões sobre determinado fato ou experiência humana.
Ao mesmo tempo, ampliou-se a área dos documentos, que a história tradicional reduzia
aos textos e aos produtos da arqueologia, de uma arqueologia muitas vezes separada
da história. Hoje os documentos chegam a abranger a palavra, o gesto. Constituem-
se arquivos orais; são coletados etnotextos. Enfim, o próprio processo de arquivar os
documentos foi revolucionado pelo computador. A história quantitativa, da demografia
à economia até o cultural, está ligada aos progressos dos métodos estatísticos e da
informática aplicada às ciências sociais5. (LE GOFF, 1990, p. 11).

A inovação das fontes históricas foi enriquecedora para o historiador/


pesquisador e também para o professor de história que hoje conta com uma
série de documentos interessantes para trabalhar em sala de aula, analisando e
desconstruindo discursos. Hoje, são diversos os textos que podem ser utilizados e
lidos em sala de aula, propiciando um trabalho rico e criativo como, por exemplo,
um vídeo, um quadro, uma poesia, um diário de viagem, uma música. São infinitas
as opções.

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UNIDADE A invenção da história

Lendo textos de outra época:


Assim como hoje temos a fotografia como ferramenta de registro da experiência
humana, no passado, muitos viajantes pintaram, e desenharam cenas dos lugares
por onde passaram e muitos foram os viajantes estrangeiros que visitaram o Brasil e
registraram iconograficamente e textualmente, por meio de seus diários de viagem,
cenas do cotidiano e acontecimentos do período colonial.

Trabalhar esses textos/documentos em sala de aula traz uma infinidade de


possibilidades para o entendimento da História do Brasil do período colonial de
uma forma rica e profunda. Esses viajantes, pintores e desenhistas registraram a
paisagem humana viva de uma colônia que elevada à categoria de Reino Unido,
ainda não havia rompido com as amarras econômicas sustentadas pela escravidão,
tanto dos negros africanos, quanto dos indígenas nativos.

Do homem à botânica, das etnias que construíam a Colônia aos animais que
habitavam as suas florestas, tudo foi retratado por esses grandes desenhistas/
viajantes. Dentre eles, pode-se citar da primeira metade do século XIX, o francês
Jean-Baptiste Debret, o alemão Johann Moritz Rugendas.
Explor

Johann Moritz Rugendas (Augsburg, Alemanha 1802 - Weilheim, Alemanha 1858).


Pintor, desenhista, gravador. Desde criança, exercita o desenho e a gravura com o pai
Johann Lorenz Rugendas II (1775 - 1826). Freqüenta o ateliê de Albrecht Adam (1786
- 1862), de 1815 até 1817, quando ingressa na Academia de Belas Artes de Munique.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas J. B. von Spix (1781 - 1826) e C. Fr. Ph.
de Martius (1794 - 1868) e pela obra de Thomas Ender (1793 - 1875), vem para o Brasil em
1821, como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff. Abandona a expedição
em 1824, mas continua sozinho o registro de tipos, costumes, paisagens, fauna e flora
brasileiros. Segue para Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo e retorna ao Rio de Janeiro
ainda no mesmo ano. Rugendas não realiza nenhuma pintura a óleo em sua primeira
estada no Brasil, privilegia o desenho e ocasionalmente o colore à aquarela. Informação
tirade do site: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa707/rugendas

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Fonte: rioeduca.net Fonte: “Viagem pitoresca através do Brasil”; Johann Moritz
Rugendas; Biblioteca Histórica Brasileira

Vamos então degustar e analisar dois textos, um iconográfico intitulado Nègres


a Fond de Calle (Negros no Porão de Navio) – Johann Moritz Rugendas –
Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil” e o outro, escrito por Henry Korster
Viagens ao Nordeste do Brasil.
Explor

Filho do comerciante inglês de Liverpool, John Theodore Koster, Henry Koster nasceu
em Lisboa, Portugal. Não se sabe ao certo a data do seu nascimento, mas ao chegar no
Recife, no dia 7 de setembro de 1809, consta que tivesse 25 anos de idade. Considerado
um dos mais importantes cronistas sobre o Nordeste brasileiro, Koster viajou para o Brasil
em busca de um clima tropical para curar uma tuberculose. Teve um papel importante
na vida social, artística e até política do Recife na época. Fez muitas amizades, conheceu
governadores, senhores-de-engenho, comerciantes, coronéis. Informação tirada do site da
Fundação Joaquim Nabuco: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php

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UNIDADE A invenção da história

Fonte: Organização Odebrecht, Rio de Janeiro: Versal, 2007

Os textos de Koster foram traduzidos para portugues por Luiz da Câmara


Cascudo, em Viagens ao Nordeste deo Brasil.

Fonte: Organização Odebrecht, Rio de Janeiro: Versal, 2007

Texto de Henry Koster(1942, p.496):


Embarcam-se, anualmente, cerca de 120 000 negros na costa da África, unicamente
para o Brasil, e é raro chegarem ao destino mais de 80 a 90 mil. Perde-se, portanto,
cerca de um terço durante a travessia de dois meses e meio a três meses... Ao chegarem
à fazenda, confia-se o escravo aos cuidados de um ou outro mais velho e já batizado.
Este o recebe na sua cabana e procura fazê-lo, pouco a pouco, participar de suas
ocupações domésticas; ensina-lhe também algumas palavras em português.
E somente quando o novo escravo se acha completamente refeito das consequências
da travessia que se começa a fazê-lo tomar parte nos trabalhos agrícolas.
Explor

KOSTER, Henry. Viagens ao nordeste do Brasil. Tradução Câmara Cascudo. Companhia


Editorial Nacional, Rio de Janeiro, 1942. Link de acesso ao livro: http://goo.gl/fcAcr4

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Na imagem, pode-se constatar as condições desumanas do navio negreiro, onde
todos viajavam amontoados. Vê-se a figura de dois homens brancos, em pose de
mando. O texto de Koster complementa a imagem com informações sobre as
perdas humanas que se davam na travessia, ele traz inclusive dados quantitativos.
Aborda o tempo de duração da viagem o processo de chegada e adaptação dos
escravos nos pontos de chegada.

Sabe-se que a construção do discurso dos viajantes, assim como de qualquer


documento histórico, traz consigo repertório ideológico do lugar de origem dos
mesmos, de suas profissões, posto econômico, político. Muitas vezes, observa-
se um teor eurocêntrico, cargas positivistas e higienistas em textos dos viajantes
europeus. Um bom exemplo disso é o quadro pintado por de Rugendas nomeado
“Danse batuca”.

Fonte: Organização Odebrecht, Rio de Janeiro: Versal, 2007

Conforme o antropólogo e artista plástico Renato da Silveira(2006, p.44) o viajante


e artista Rugendas, nessa imagem, desenhou os negros com expressões horrendas e
estúpidas, olhos arregalados, gerando, por meio de expressões apavoradas, a imagem
do Africano como raça inferior. Rugendas como muitos outros artistas da época, viveu
em ambiente ideológico tendencioso, repetindo a ideia do negro prognata, animalizado,
gerando, assim, a ideia por meio da imagem do africano como inferior.

Esses detalhes aumentam ainda mais a sofisticação desses textos e as múltiplas


leituras que o mesmo pode propiciar no exercício do ensino-aprendizagem da sala
de aula. Outro aspecto de grande potencialidade para se abordar em curso é a
constatação de que os documentos são produzidos por pessoas que trazem consigo
referências geográficas, culturais, socioeconômicas, políticas, seja qual for sistema
que façam parte.

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UNIDADE A invenção da história

Explorar essa infinidade de potencialidades que trazem os documentos na


construção do discurso histórico propicia ao aluno caminhos de vertentes variadas
que podem se deslocar por diversas abordagens da nova história, percorrendo a
história das mentalidades, do imaginário, a história social, dentre outras.
Explor

PINSKY, Jaime (org). O ensino de História e a criação do fato. São Paulo: Contexto,1984.
Esse livro traz uma discussão atual sobre as formas de os historiadores “criarem” o fato
histórico e de como os livros didáticos reproduzem essas ‘verdades’ e de como muitos
professores apresentarem-nas como definitivas. Embora com posições teóricas diferentes,
os autores colocam-se numa postura antipositivista e ressaltam a importância da
historicidade e até o subjetivismo como ingredientes da leitura do passado.

As tendências historiográficas e a sala de aula


Muitos são os professores que se queixam em debruçar-se sobre o estudo e o
ensino da teoria da história por acharem o assunto denso. A teoria é de significativa
importância para a compreensão da potencialidade e da diversidade dos discursos
históricos. Por meio dela, adquire-se o atalho para o entendimento profundo das
diversas abordagens. Por isso se faz importante acompanhar as transformações e
as novas tendências da historiografia.
Conhecer e acompanhar as principais tendências de produção historiográfica não
é apenas uma questão fechada em si, mas uma necessidade prática que o professor
deve assegurar como critério indispensável para uma aprendizagem efetiva e coerente.
A teoria é o esqueleto filosófico do corpo e da musculatura histórica.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de História (1997) abordam a questão da
teoria, recorrendo especialmente às discussões historiográficas oriundas da Escola
dos Annales e da história social inglesa. Segue abordagem:
[...] as propostas curriculares passaram a ser influenciadas pelo debate entre as diversas
tendências historiográficas. Os historiadores voltaram-se para a abordagem de novas
problemáticas e temáticas de estudo, sensibilizados por questões ligadas à história
social, cultural e do cotidiano, sugerindo possibilidades de rever no ensino fundamental
o formalismo da abordagem histórica tradicional. (BRASIL, 1997, p.28)

O conhecimento historiográfico, aliado a outros aspectos como a


interdisciplinaridade, a importância da realidade do aluno e o contato com os debates
recentes da psicologia cognitiva, formariam, assim, um arcabouço necessário para
o enfrentamento dos novos desafios do ensino da História no final do século. Mas
o que temos na realidade no cotidiano da sala de aula ainda está um pouco distante
do desejado pela teoria.
A mudança de paradigmas e a ideia de uma história para todos possibilitou a
interação uma amplitude de temas. A escrita da história ganhou novos espaços e
novos instrumentos, estabelecendo, diálogos interdisciplinares com a sociologia, a
antropologia, a física, a economia, a geografia, dentre outros.

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Na teoria da história, as correntes mais conhecidas são: o Positivismo, a
Escola dos Annales, o Marxismo e a Nova História, que se desdobram no que
poderíamos denominar:
1. A história como narrativa;
2. De uma história econômica a uma história social – o Marxismo e a Escola
dos Annales;
3. História Cultural – História Nova;
4. História do Tempo Presente – História Nova.
A história narrativa tem sua origem no século XIX, junto ao Positivismo,
uma história voltada para os fatos passados, organizada cronologicamente e
ideologicamente em torna de um tempo linear.
O Positivismo foi elaborado por Augusto Comte no século XIX. Tal teoria acreditava
que os pesquisadores deveriam encontrar um fator que determinasse a verdadeira
história, ela seria indiscutível e encontrada nos documentos governamentais, que por
isso, nunca estariam errados. De acordo com esse pensamento, apenas as histórias
politicas teriam importância de serem verificadas. Além disso, defende a ideia que
o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro, podendo-
se afirmar que uma teoria é verdadeira apenas se a mesma for comprovada através
de métodos científicos válidos. Assim, os positivistas, excluem tudo o que se refere
a crenças, supertições, ou qualquer outra coisa que não possa ser comprovada
cientificamente. Toda essa devoção à ciência fez com que com o Positivismo fosse
considerado “a religião da humanidade”.
(AUGUSTO, Pedro, artigo: Teoria da história, in: http://www.infoescola.com/historia/teoria-da-historia/)

No século XX, a Escola dos Annales propôs uma história problema, no lugar
da história factual, centrada nas ideias e decisões de grandes homens, em batalhas
e estratégias diplomáticas. Era uma proposta de uma história acerca de outras
temáticas, interagindo com métodos de outras disciplinas das ciências humanas, a
exemplo das ciências sociais. Daí aconteceu a divisão, por exemplo, entre história
social e econômica.

Nas últimas décadas do século XX, a História Nova abriu sua perspectiva para
outros estudos como os do cotidiano, das mulheres, das cidades, dos corpos,
das sensibilidades, das mentalidades, do imaginário, além das abordagens que
permitiam novas possibilidades como a história e o espaço urbano, a história e a
música, por exemplo.
A Escola dos Annales é uma corrente historiográfica nascida na França, em torno
da revista “Annales d’histoire économique et sociale”, e criada por Marc Bloch e
Lucien Febvre que acreditavam que eram insuficientes a forma com que a história
era tratada. Apesar disso, não foram os primeiros a propor novas abordagens a
História. Tal corrente se destaca por incorporar métodos das Ciências Sociais à
História, o que ampliou o quadro das pesquisas históricas com a incorporação de
atividades até então pouco investigadas, rompendo assim com a compartimentação
das Ciências Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia) e
privilegiando os métodos pluridisciplinares.

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UNIDADE A invenção da história

A Nova História é a corrente historiográfica correspondente a terceira geração da


“Escola dos Annales”. Surgiu nos anos de 1970 e seu nome derivou da publicação
da obra “Fazer a História”, organizadas pelos historiógrafos Jacques Le Goff e Pierre
Nova. Tal corrente é acima de tudo a historia das mentalidades. Seus seguidores propõe
que se estabeleça uma historia serial das estruturas mentais das sociedades, e cabe ao
historiador a análise dos dados.
(AUGUSTO, Pedro, artigo: Teoria da história, in: http://www.infoescola.com/historia/teoria-da-historia/)

O paradigma Marxista desenvolveu-se paralelamente à Escola dos Annales,


centrava-se na ideia do carácter científico do conhecimento histórico e o foco
da análise acontece na estrutura da dinâmica das sociedades humanas. A análise
marxista tem como finalidade orientar a práxis social.

Ciro Flamarion Cardoso elenca em 1997, as aproximações entre os dois grupos


entre o Marxismo e a Escola dos Annales:
Explor

CARDOSO, Ciro Flamarion. História e paradígmas rivais. In:VAINFAS, Ronaldo. Domínios da


História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

1. A crença no caráter científico da história – a passagem de uma história


narração para uma história problema, formulando hipótese de trabalho.
2. A história importou das ciências sociais problemática, conceitos, métodos e
técnicas a quantificação sistemática.
3. Explicando o social, fazendo vinculação ao econômico, ao poder e às
mentalidades.
4. Uma ênfase menor que no passado, nas fontes escritas, favorecendo a
ampliação do uso da história oral, vestígios iconográficos e iconografia.
5. Tomada de consciência da pluralidade de temporalidades: curta e longa
duração, tempo médio.
6. A história vista como ciência do passado e do presente ao mesmo tempo.
7. A Escola dos Annales e a Nova História são entendidas como histórias-
problema, em que o conhecimento do presente é condição fundamental
para o conhecimento de outros períodos históricos.
8. Para ir mais fundo, ler o texto: História e Paradigmas Rivais. In: VAINFAS,
Ronaldo. Domínios da História. Ensaios de teoria e metodologia. Rio de
Janeiro, 1997.

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Material Complementar

 Vídeos
Abecedário Deleuze - P de Professor (Parte 1)
https://youtu.be/JagcUtuyd4o

  Sites
Sobre História da África, a Unesco publicou 8 volumes para Download:
http://goo.gl/ZzQVR1

Saiba Mais:
http://goo.gl/epkAYD
http://goo.gl/cCO0QF
http://goo.gl/sWDZ3m
http://goo.gl/0tlwmQ
http://goo.gl/54QJ8I

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UNIDADE A invenção da história

Referências
ETCHEVARNE, Carlos. Escrito na Pedra: cor, forma e movimento nos grafismos
rupestres: Organização Odebrecht. Rio de Janeiro: Versal, 2007. P.11.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: UNICAMP, 1990.

HIGOUNET, Charles. História concisa da escrita. 10. ed. São Paulo: Parábola, 2003.

PINSKY, Jaime (org). O ensino de História e a criação do fato. São Paulo:


Contexto,1984.

SILVEIRA, Renato. O Candomblé da Barroquinha. Salvador: Maianga. 2006.

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