Dores e Sofrimentos Especificos
Dores e Sofrimentos Especificos
Dores e Sofrimentos Especificos
E JUVENTUDES:
DORES E SOFRIMENTOS
ESPECÍFICOS
Autores
Estela Ramires Lourenço
Paulo Vitor Palma Navasconi
Vládia Jamile dos Santos Jucá
Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO
EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
DE ADOLESCENTES E JOVENS
ADOLESCÊNCIAS
E JUVENTUDES:
DORES E SOFRIMENTOS
ESPECÍFICOS
Autores
Estela Ramires Lourenço
Paulo Vitor Palma Navasconi
Vládia Jamile dos Santos Jucá
Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bibliografia.
ISBN 978-85-66909-44-9
23-144558 CDD-362.21
Índices para catálogo sistemático:
Apresentação do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
ADOLESCÊNCIA(S) E VIOLÊNCIA(S) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
ADOLESCÊNCIAS E O USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
ADOLESCÊNCIA, ANSIEDADE E CONTEXTOS SOCIAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
NEM TODA TRISTEZA É PATOLÓGICA: DIFERENCIANDO A DEPRESSÃO DA CONDIÇÃO HUMANA DE FICAR TRISTE 26
ADOLESCÊNCIA, IMAGEM CORPORAL E TRANSTORNOS ALIMENTARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
AUTOLESÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
IDEAÇÃO SUICIDA E SUICÍDIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
PERDAS E LUTOS NAS ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Encerramento do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Minicurrículo dos autores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Material de apoio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
apresentação do módulo
“Ponho linhas no mundo, mas já quis pôr no pulso, nas perspectivas ampliadas da tríade sujeito-droga-contexto e
Sem o torro, nossa vida não vale a de um cachorro triste. na redução de danos. O bloco seguinte tratou de experiências
Hoje cedo não era um hit, era um pedido de socorro. de sofrimento e transtornos mentais. Para além de uma descri-
[...] A última tendência é depressão com aparência de férias. ção desses estados de fragilidade e/ou adoecimento, refletimos
[...] Tenho sangrado demais, acerca da tendência à patologização das experiências vitais,
Tenho chorado pra cachorro. especialmente as desviantes, indesejadas e improdutivas, que
Ano passado eu morri, tendem a centralizar os problemas no indivíduo, desatrelando os
Mas esse ano eu não morro. processos de subjetivação das relações sociais e afetivas.
[...] Permita que eu fale e não as minhas cicatrizes.
Analisamos também o fenômeno da autolesão, suas ex-
Tanta dor rouba a nossa voz, sabe o que resta de nós?”
pressões, modos de enfrentamento, etc. Em diálogo temático,
(EMICIDA)
aprofundamos o tema do comportamento suicida: apresenta-
Seja bem-vindo ao módulo Adolescências e Juventudes: mos dados estatísticos acerca do fenômeno e fazemos uma aná-
Dores e Sofrimentos Específicos. Pretendemos, nesta nossa bre- lise dos condicionantes sociais da saúde, dos fatores de risco,
ve jornada de aprendizagem, conversar sobre as experiências de proteção e mitos envolvidos. A análise do módulo se encerra
de sofrimento mais recorrentes na adolescência, com destaque com o estudo acerca do luto – desde perdas e/ou transforma-
para violência, transtornos mentais, comportamento suicida e ções corporais, que caracterizam o adolescer, às mortes que de-
luto, que são vivências que provocam grandes impactos na saú- terminam os processos de enlutamento.
de mental e nas dinâmicas relacionais.
A nossa proposta denega uma leitura individualizante
A adolescência é uma experiência plural, portanto, fala- acrítica, que, comumente, desconsidera a dimensão sociopolí-
mos de adolescências. Um dos aspectos fundamentais sobre tica presente na produção do sofrimento. Ao contrário de uma
os quais precisamos refletir é a violência durante esse período tendência moderna e neoliberal que compreende a ansiedade,
da vida. A primeira parte do módulo foi dedicada, dessa forma, a depressão, o comportamento suicida ou qualquer comporta-
à elaboração do conceito de violência, aos tipos e aos efeitos di- mento indesejado como sinal de inadequação, transtorno ou
versos que estas podem causar. Abordamos, em seguida, a ado- fracasso individual, o passeio pelo universo psíquico da nossa
lescência e as substâncias psicoativas, especialmente com base juventude no presente módulo tem por finalidade potencializar
12 A 18 ANOS 15 A 29 ANOS
Afinal, o que é adolescência? Quando começa e quando Estatuto da Criança Estatuto da
termina? Como acontecem a adolescência e a juventude? Essas e do Adolescente Juventude
são questões que passaram a ser fundamentais nos estudos do
desenvolvimento humano e, principalmente, nas áreas das ciên-
cias humanas e da saúde. No entanto, a cada tentativa de respon- De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente
der a essas questões, tendemos a naturalizar o processo de de- (BRASIL, 2017a), a adolescência corresponde ao período que vai
senvolvimento da pessoa, sobretudo, o período da adolescência. dos 12 aos 18 anos. Já o Estatuto da Juventude (2013) situa a
Você deve estar se perguntando: o que significa dizer isso? juventude entre os 15 e os 29 anos.
Pois bem, naturalizar significa compreender que o desen- No país há graves problemas educacionais, de moradia,
volvimento humano é um produto natural e, desse modo, que de oportunidades de trabalho e lazer, e, consequentemente,
as práticas educativas e sociais pouco interferem no processo grandes desigualdades nas formas de viver, de adoecer e de
de desenvolvimento. Olhar a adolescência por esse viés nos faz morrer. Esses problemas provocam profundas desigualdades
universalizar um fenômeno complexo e plural, com tendências socioeconômicas e sociais, que também afetam adolescentes
e variações de acordo com a época histórica, povos e culturas. e jovens. Essas desigualdades fazem com que muitos adoles-
Por exemplo: imagine como foi a sua adolescência. Imaginou? centes tenham dificuldades em obter reconhecimento e acesso
Agora imagine a adolescência de Júlia ou Alex. Elas podem ser a seus direitos elementares, como educação, mobilidade, nutri-
consideradas iguais, semelhantes ou diferentes? ção, habitação, boa saúde física e mental, trabalho, lazer, entre
outros (MINAYO; SOUZA, 1999).
Convidamos você a pensar a adolescência não como
um fenômeno universal, ou seja, comum a todas e todos, enten-
demos que não existe uma adolescência, mas várias formas de
experienciar o que estamos chamando de adolescências. Por
exemplo, basta pensarmos em nossas brincadeiras, vestimen-
tas e hábitos que vamos perceber que nossos comportamentos,
ações e hábitos mudam, conforme transformações sócio-históri-
cas vão acontecendo.
Refletindo sobre o fenômeno da violência A seguir, duas lições importantes sobre a violência:
A violência está presente nas relações e experiências Lição 01: Podemos com- Lição 02: A violência se
humanas desde os primórdios da humanidade e atinge todos preender que a violência é, torna um tema do campo
os setores da sociedade, apresentando-se como um fenômeno antes de tudo, uma ques- da saúde pelo impacto que
multideterminado e complexo. tão social e, portanto, em provoca na qualidade de
si, não é objeto próprio do vida; pelas lesões físicas,
De origem latina, o vocábulo vem da palavra
vis, que quer dizer força e se refere às noções setor saúde. psíquicas e morais que
de constrangimento e de uso da superiorida- acarreta e pelas exigências
de física sobre o outro. No seu sentido mate-
de atenção e cuidados dos
rial, o termo parece neutro, mas quem ana-
lisa os eventos violentos descobre que eles serviços médico-hospita-
se referem a conflitos de autoridade, a lutas lares (MINAYO, 2004).
pelo poder e a vontade de domínio, de pos-
se e de aniquilamento do outro ou de seus
bens (MINAYO, 2006, p. 13). No ano de 2002, a Organização Mundial da Saúde pu-
blicou extenso informe denominado Relatório Mundial sobre
A violência “não se limita ao uso da força física, mas à pos- Violência e Saúde (KRUG et al., 2002, p.5), trazendo a seguinte
sibilidade ou ameaça de usá-la” (VELHO, 2000, p. 11). Com isso, definição de violência: “uso intencional da força física ou do po-
é possível associar a violência a uma ideia de poder efetivado der, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa,
pela dinâmica das relações sociais marcada pela hierarquia e do- ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha
minação. “Encerrar a noção de violência numa definição fixa e grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicoló-
simples é expor-se a reduzi-la, a compreender mal sua evolução gico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.
e sua especificidade histórica” (MINAYO, 2006, p. 14).
Quanto à tipologia, a violência divide-se em: a) autoinfli-
gida, que é a violência dirigida contra si mesmo; b) interpessoal,
infligida entre duas pessoas, a qual se subdivide em familiar e
comunitária, ou seja, considera-se violência doméstica/intrafami-
liar a que ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros
da família, principalmente no ambiente da casa, mas não unica-
mente. É toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a
integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno Tortura: atos intencionalmente praticados para causar
desenvolvimento de outra pessoa da família. Pode ser cometi- lesões físicas ou mentais, ou de ambas as naturezas, com a fi-
da dentro ou fora de casa por algum membro da família, incluin- nalidade de obter vantagem, informação, aplicar castigo, entre
do pessoas que passam a assumir função parental, ainda que outros.
sem laços de consanguinidade, e que tenha relação de poder.
Violência psicológica: ação ou omissão destinada a
A violência doméstica/intrafamiliar não se refere apenas ao es-
degradar ou a controlar ações, comportamentos, crenças e de-
paço físico onde a violência ocorre, mas, também, às relações
cisões de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação,
em que se constrói e efetua. Este tipo de violência também inclui
ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer
outros membros do grupo, sem função parental, que convivam
outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à auto-
no espaço doméstico. A violência comunitária é definida como
determinação ou ao desenvolvimento pessoal.
aquela que ocorre no ambiente social em geral, entre conheci-
dos ou desconhecidos. Incluem-se aí empregados, pessoas que Discriminação: ato de distinção, segregação, prejuízo,
convivem esporadicamente, agregados, por sua vez, a violência danos ou tratamento diferenciado de alguém, por causa de ca-
comunitária é definida como aquela que ocorre no ambiente so- racterísticas pessoais, raça/etnia, gênero, religião, idade, origem
cial em geral, entre conhecidos ou desconhecidos. É praticada social, entre outras.
por meio de agressão às pessoas, por atentado à sua integrida-
de e vida e/ou a seus bens e constitui objeto de prevenção e re- Violência sexual: ato sexual ou tentativa de obter ato se-
pressão por parte das forças de segurança pública e sistema de xual, investidas ou comentários sexuais indesejáveis, ou tráfico
justiça (polícias, Ministério Público e poder Judiciário). Por fim, a ou qualquer outra forma, contra a sexualidade de uma pessoa
violência c) coletiva, cometida pelos grandes grupos ou Estado, usando coerção.
podendo ser social, política ou econômica. Quanto à natureza
Abuso sexual sem contato físico: assédio sexual; abuso
dos atos violentos, eles podem ser de caráter: físico, sexual e psi-
sexual verbal; telefonemas obscenos; exibicionismo; voyeuris-
cológico (KRUG et al., 2002).
mo; e pornografia.
Conhecendo os tipos de violência Abuso sexual com contato físico: atos físico-genitais
praticados a outrem, que incluem carícias nos órgãos genitais,
Quais tipos de violência você conhece? Krug et al. (2002) tentativas de relações sexuais, masturbação, sexo oral, penetra-
nos apresentam alguns tipos, com suas respectivas definições: ção vaginal e anal.
Violência física: ato de agressão física que provoca mar- Tráfico de crianças e adolescentes: recrutamento,
cas visíveis ou não. Pode ser praticada com uso de força física do transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de uma
agressor, no qual machuca a vítima de várias maneiras, inclusive criança ou adolescente para fins de exploração.
com o uso de armas. Exemplos: bater, chutar, queimar, cortar e
Violência institucional: tipo de violência motivada por
mutilar.
desigualdades (de gênero, étnico-raciais, econômicas, etc.). Es-
Negligência e abandono: abandono, descuido, desam- sas desigualdades se formalizam e institucionalizam nas organi-
paro, desresponsabilização e descompromisso do cuidado. Esse zações privadas e nos aparelhos estatais, assim como nos dife-
ato não está necessariamente relacionado a dificuldades socioe- rentes grupos que constituem essas sociedades.
conômicas.
Violência intrafamiliar: é qualquer tipo de violência pra-
Bullying: também chamado de intimidação sistemática, ticada dentro de casa ou unidade doméstica, sendo, geralmente,
conforme definido pela Lei no 13.185/2015, pode ser compreen- praticada por um membro da família que vive com a vítima. As
dido como sendo, “todo ato de violência física ou psicológica, agressões domésticas incluem: abuso físico, sexual e psicológi-
intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, pra- co, negligência e abandono.
ticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com
Violência moral: ação destinada a caluniar, difamar ou
o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à
injuriar a honra ou a reputação da pessoa.
vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes
envolvidas (BRASIL, 2015). Violência patrimonial: ato de violência que implique
dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, do-
Trabalho infantil: é a exploração da força de trabalho
cumentos pessoais, bens e valores.
de pessoas que tenham idade inferior à mínima permitida para
trabalhar. No Brasil, o trabalho não é permitido, sob qualquer
condição, para crianças e adolescentes com menos de 14 anos.
Adolescentes entre 14 e 16 podem trabalhar, mas na condição
de aprendizes. Quando a pessoa tem entre 16 e 18 anos, as ati-
vidades laborais são permitidas, desde que não aconteçam das
22h às 5h e não sejam insalubres ou perigosas.
Em toda situação de violência, deve haver uma interven- Os desafios da ação profissional:
ção de qualquer pessoa que conheça o fato. O artigo 13 do ECA
1) Saber trabalhar em equipe interdisciplinar: trabalhar
(BRASIL, 2017a) prevê que “os casos de suspeita ou confirmação
em equipe qualifica a ação profissional.
de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoria-
mente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localida- 2) Saber observar, escutar e aceitar o que o adolescente
de, sem prejuízo de outras providências legais”. tem a dizer.
6) Fornecer orientação: sempre estar disponível e orientar Além disso, é de suma importância que você possa:
o adolescente no que diz respeito a todo o processo e
1) Documentar: coletar e registrar de forma detalhada todo
aos procedimentos que serão adotados.
o processo de avaliação, diagnóstico e tratamento, quan-
7) Assegurar sigilo: sendo um dever manter sigilo, o profis- do for o caso.
sional só pode quebrá-lo mediante o consentimento por
2) Transcrever: descrever o histórico do adolescente con-
escrito do paciente ou mediante situações permitidas por
siderando as palavras dele, sem fazer interpretações pes-
lei. Nesse ponto, é importante frisar que não podemos pro-
soais ou pré-julgamentos.
meter à vítima ou à família o que não podemos cumprir,
como guardar segredo de todas as informações obtidas. 3) Notificar: se você for um profissional da saúde, é sua res-
ponsabilidade notificar. Toda suspeita de violência deve
8) Considerar a subjetividade e a singularidade: é de ex-
ser notificada.
trema importância considerar a singularidade de cada
sujeito e de cada situação.
Os casos de violência contra criança e adolescente de-
9) Acolher: é preciso compreender o que o usuário espera vem ser denunciados ao Conselho Tutelar, Ministério
da intervenção e se há clareza disso no acordo que se Público ou aos disque-denúncias 24h, como o Disque
estabelece com ele. 100. O disque 100 é um canal de comunicação da so-
ciedade civil com o poder público, que possibilita conhecer
10) Usar uma linguagem adequada: é preciso ter cuidado
e avaliar a dimensão da violência contra os direitos humanos
com a utilização de termos e palavras e, sobretudo, evi-
e o sistema de proteção, bem como orientar a elaboração de
tar linguagens e afirmações que estejam assentadas e
políticas públicas.
pautadas por juízos de valores, afinal, não estamos lidan-
do com um “fato que eu acho”, mas com uma realidade
que é questão de saúde pública. Além disso, é de suma
importância ter bom senso quanto à posição corporal
durante o atendimento, assim como à organização do es-
paço físico em que o atendimento ocorre. É fundamental
conversar com o usuário mantendo uma posição em que
ele, especialmente, possa olhar e ser olhado.
ADOLESCÊNCIAS E O USO DE consumida e o contexto no qual acontece o uso: “[...] cada hu-
mano consumirá essa ou aquela droga em função de suas ne-
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS cessidades subjetivas e sociais. Não são as drogas que fazem os
humanos [...] são os homens que fazem as drogas” (NERY FILHO,
O uso de substâncias psicoativas por adolescentes preo- 2012, p. 20).
cupa tanto profissionais da rede de assistência e de proteção a É importante esclarecer que preferimos usar substâncias
crianças e adolescentes quanto pais e professores. Para enten- psicoativas a drogas porque, quando escutamos o segundo
dermos melhor essa questão, é importante falarmos sobre os vá- termo, geralmente pensamos em algo que necessariamente é
rios usos que os adolescentes fazem das substâncias. Por exem- ilegal e prejudicial à saúde. O termo substâncias psicoativas, por
plo, se é um uso para socializar com seus pares ou um uso para sua vez, ajuda-nos a evitar um julgamento moral prévio e eviden-
relaxar diante de situações adversas com as quais não está con- cia o fato de que um conjunto de substâncias atua em nosso cé-
seguindo lidar. Outro ponto é sabermos quais são as substâncias rebro, alterando seu funcionamento. Nesse sentido, o café, muito
mais utilizadas e entendermos quando o uso precisa ser objeto ingerido em nossa cultura, é uma substância psicoativa que, to-
de uma atenção especializada no campo da saúde. Nesta dire- mada em demasia, pode gerar dependência. No entanto, em do-
ção, ao tratarmos das questões que envolvem adolescência e ses pequenas, é um estimulante, sem maiores prejuízos à saúde.
substâncias psicoativas, é importante diferenciarmos uso, abuso Vejamos o exemplo das medicações prescritas por psiquiatras,
e adição. Considerando a possibilidade de o uso se tornar abusi- como ansiolíticos e antidepressivos. Essas medicações são líci-
vo, vamos conhecer, também, os fatores de risco que aumentam tas, atuam sobre o cérebro e são comercializadas de forma con-
a probabilidade de o uso tornar-se problemático, bem como os trolada. Devem ser utilizadas com finalidade terapêutica. No en-
fatores de proteção que atuam na direção contrária. tanto, identificamos, inclusive entre adolescentes, uso indevido
O uso de substâncias deve ser pensado a partir de um dessas medicações que, por vezes, são prescritas para familiares
tripé formado pela pessoa usuária e sua história, a substância ou obtidas no mercado informal.
Em linhas gerais, as substâncias psicoativas são classificadas em: As substâncias mais utilizadas por adolescentes são o ál-
cool e o tabaco, seguidos pela maconha (cannabis) (MALTA et
1) depressoras do sistema nervoso central (bebidas
al., 2018).
alcoólicas, solventes ou inalantes, tranquilizantes ou
ansiolíticos, calmantes e sedativos, ópio e morfina);
3) perturbadoras do sistema nervoso central (ma- O nível socioeconômico, os territórios onde circulam e as
conha, cogumelos e plantas alucinógenas, alucinó- cenas de uso são muito importantes para definir quais substân-
geno sintético, êxtase e anticolinérgicos) (MALBER- cias estarão disponíveis para as (os) adolescentes. Por exemplo,
GIER; AMARAL, 2013). em festas eletrônicas, é comum o uso das drogas sintéticas que
alteram o estado de consciência e permitem experiências psico-
délicas (RAUPP; PEREIRA, 2022). Com recorrência, o uso dessas
Sobre a maconha, há discordâncias. Encontraremos substâncias nesses contextos tem um caráter experimental, e as
quem a classifique como substância depressora e quem a co- práticas de redução de danos são fundamentais para proteger os
loque entre as perturbadoras. Sobre isso, é importante reconhe- adolescentes.
cer que hoje há uma grande diversidade de apresentações da
maconha, inclusive a prensada – de menor custo –, que envolve
mistura com outras substâncias.
A redução de danos é um modo de cuidar, efetivado por drão abusivo de uso ou em dependência química. É necessário
meio de um conjunto de práticas com o propósito de evitar agra- investigar para conhecer o padrão de uso e como isso afeta sua
vos à saúde relacionados ao uso de substâncias psicoativas. A vida. O uso pode ser ocasional e, conforme afirmamos acima,
redução de danos se alinha aos princípios da integralidade e da ser recreativo ou para fins de socialização. Quando se percebe
universalidade do Sistema Único de Saúde. Todas as pessoas esse padrão de uso, o melhor é conversar e encontrar as formas
têm o direito de ser cuidadas, mesmo as que estão em uso abu- de proteção para que o uso não se torne abusivo ou provoque
sivo ou dependência de substâncias e não conseguem interrom- outros agravos à saúde. Nessa direção, a lógica da redução de
pê-lo (SURJUS; SILVA, 2019). Falar de redução de danos, quan- danos é fundamental. A redução de danos não acontece apenas
do se trata de adolescentes, é sempre delicado, porque envolve quando os problemas de saúde já estão instalados. A estratégia
admitir que adolescentes usam drogas. Não ofertar a redução de em questão serve para reduzir agravos.
danos a esse público, por outro lado, é negar um dado da reali-
dade e, em certa medida, ferir a base do Estatuto da Criança e do
Adolescente, pautada pela ideia de proteção integral.
Proposição 2 ?
Por quais motivos você acredita que o uso de drogas se
As finalidades dos usos dessas substâncias são várias. torna problemático para um adolescente em particular?
Temos usos ritualísticos (em contextos religiosos), usos recrea-
tivos, usos medicinais e, principalmente entre os adolescentes,
usos para vencer a timidez, na tentativa de superar as dificulda- Feedback positivo:
des de socialização. Por vezes, a cocaína é utilizada com este in- A droga não é a causa primeira dos problemas de um ado-
tuito: facilitar a interação com os demais quando a inibição é um lescente. Quando o uso se torna abusivo, geralmente a subs-
obstáculo para estar entre os pares. Encontramos, também, ado- tância se tornou uma resposta a uma história de sofrimento
lescentes que fazem uso, por exemplo, de maconha para aliviar psíquico e social.
momentos de ansiedade. Além disso, é muito comum o adoles-
cente experimentar substâncias psicoativas para conhecer o seu
efeito e para facilitar a construção de seu lugar no campo social, Feedback orientador:
uma vez que esse uso geralmente é compartilhado nos grupos
Importante escutarmos o adolescente para sabermos as
com os quais ele se identifica (SOUZA et al., 2015).
respostas. Responsabilizar a droga é silenciar os jovens e as
O fato de um adolescente fazer uso esporádico de uma pessoas que compõem sua história e sua rede social.
substância não significa necessariamente que esteja em um pa-
Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos
19
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
ADOLESCÊNCIA, ANSIEDADE E
CONTEXTOS SOCIAIS
A ansiedade é uma das formas mais recorrentes de ex-
pressão do sofrimento psíquico na atualidade entre adolescen-
tes, ao lado de outras condições clínicas, como a depressão e
a síndrome do pânico. Uma definição de ansiedade é: “reação
defensiva comum frente ao perigo ou situações consideradas Fonte: Hippopx
ameaçadoras. Caracteriza-se por um grande mal-estar físico e
psíquico, aflição, agonia” (ASSIS et al., 2007, p. 12). Nem toda ansiedade é patológica, portanto nem sempre
essa condição requer tratamento. É fundamental entendermos o
É muito importante termos isto em mente. A ansiedade é contexto no qual se encontra a pessoa ansiosa. Assim,
uma reação diante de uma situação de perigo real ou imaginário.
O mais intrigante é que a pessoa acometida por essa condição
[...] a ansiedade só deveria ser considerada
nem sempre consegue nomear o que lhe causa o medo e patológica quando exageradamente inten-
a necessidade de estar em situação de constante alerta. A sa, persistente, inadequada à idade ou à
fase do desenvolvimento e quando interfere
ansiedade é vivida não apenas como medo, mas também negativamente nas relações nos ambientes
como preocupação constante. Entre crianças e adolescentes, onde a criança circula (LIMA, 2022, p. 87).
a preocupação pode se centrar em agradar os outros de vários
modos, como tendo bom desempenho escolar. A ansiedade é uma resposta esperada diante de certas
circunstâncias. Talvez o melhor exemplo de ansiedade seja a de
Outro elemento importante é o fato de a ansiedade ser separação, muito vivida por crianças ao iniciarem a vida escolar.
vivida como uma experiência concreta que afeta o corpo, po- É natural que, depois de um tempo de convívio intenso com a fa-
dendo causar taquicardia, suor excessivo nas mãos e nos pés, mília, as primeiras idas para a escola gerem desconforto e medo;
tremores e até a sensação de morte iminente (nesses casos, fala- desconforto por haver o distanciamento de um contexto de pro-
mos de ataques de pânico). teção (quando a família funciona como fator protetivo) e medo
por causa do desconhecido. A ansiedade de separação acome- a participação em grupos e o trabalho dirigido à família já são
te não apenas as crianças, mas também seus cuidadores princi- suficientes para sair do quadro de ansiedade apresentado. No
pais. Isso faz parte do processo de constituição do novo sujeito. entanto, a construção de um plano terapêutico demandaria mais
conhecimento sobre Maria e seu entorno.
Outras situações contextuais com forte potencial para
gerar ansiedade são as várias violências, elencadas na primei- É necessário compreender o pedido de ajuda e o que
ra parte deste módulo. As diversas formas de violência, como a o sofrimento do adolescente comunica para que possam ser
decorrente do tráfico de drogas, sobretudo para crianças e ado- construídas estratégias de cuidado adequadas. A elaboração de
lescentes que habitam em territórios mais vulneráveis, a violên- um plano de cuidado deve sempre considerar o adolescente,
cia intrafamiliar e o bullying no contexto escolar, são fatores que suas necessidades, interesses e disponibilidades, assim como
contribuem para o surgimento da ansiedade. os recursos disponíveis no território.
A manifestação da ansiedade, como a de qualquer outro Ainda refletindo sobre a ansiedade de Maria, é oportuno
sinal de sofrimento, requer, portanto, um olhar cuidadoso, inclu- lembrarmos que, na perspectiva da promoção da saúde (CZE-
sive para o contexto no qual a pessoa está inserida. Vamos lem- RESNIA; FREITAS, 2000), é necessário cuidar antes de o adoeci-
brar de Maria, cuja história foi brevemente apresentada no nosso mento se instalar. Nessa direção, cuidar de crianças e adolescen-
caso complexo. Maria é vítima de violência intrafamiliar e habita tes, no Brasil atual, envolve uma luta maior na esfera macropolítica
em um território em que as disputas entre facções e a violência para que Maria e outras crianças e adolescentes não cresçam em
policial são parte do cotidiano. meio às diversas violências, para que suas famílias tenham con-
dições dignas de existência e para que o racismo historicamente
Diante da história de vida de Maria e do contexto em que
associado à diferença entre classes possa ser superado.
ela estava, o sofrimento psíquico é uma resposta às adversida-
des vividas. Diante do exposto, tratá-la apenas com medicações As crises de ansiedade de adolescentes têm sido uma
e com psicoterapia seria insuficiente. Aliás, seria inadequado, questão recorrente e motivo de preocupação. Com a reabertu-
pois estaríamos tentando controlar os sintomas sem realizar ou- ra das escolas após o isolamento social que foi necessário ao
tras ações necessárias para tratar as causas do seu sofrimento. enfrentamento da pandemia do coronavírus, crises coletivas de
Cuidar de Maria envolve certamente ofertar um espaço de escu- ansiedade também passaram a acontecer, sendo, inclusive, vei-
ta para ela, mas requer, também, um trabalho dirigido à sua famí- culadas pela mídia.
lia. O que temos é insuficiente para afirmar que seu tratamento
envolverá o uso de medicações. Por vezes, a terapia individual,
Tais situações não são novas na clínica com adolescen- to psíquico dos adultos ao redor, a redução das possibilidades
tes. É importante considerarmos a ansiedade como uma mani- de lazer, a perda de entes queridos, a dificuldade em realizar o
festação de sofrimento psíquico, que tanto diz respeito ao sujeito luto diante da impossibilidade de fazer os rituais de despedida, o
em sua singularidade quanto ao contexto no qual se encontra in- medo de morrer e de perder as figuras de referência. Como afir-
serido. Desse modo, os momentos de crise social e política tam- ma o psicanalista Joel Birman, a pandemia provocou: “a ruptura
bém contribuem para o surgimento de quadros de ansiedade. e a descontinuidade radical das práticas de sociabilidade e dos
laços intersubjetivos” (BIRMAN, 2020, p. 9).
Um exemplo de contexto produtor de medo, desamparo
e ansiedade foi a pandemia do coronavírus. O sofrimento psíqui- As crises de ansiedade podem acontecer individual e co-
co entre adolescentes, que já era preocupante antes da pande- letivamente. Quando a crise de uma pessoa desencadeia crise
mia, intensificou-se com a propagação do coronavírus, não ape- em outras, estamos falando do contágio psíquico. Tal forma de
nas pela questão sanitária, mas pelo fato de o país ter entrado em contágio foi descrita por Sigmund Freud (1921/2010), o criador
uma grave crise política e socioeconômica. da Psicanálise, no início do século XX, quando abordava outro
quadro clínico denominado de histeria. As crises de ansiedade
Considerando o impacto da pandemia na saúde mental
coletivas nas escolas, durante a travessia pandêmica, são um fe-
de jovens, o Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE) es-
nômeno em que vimos acontecer o contágio psíquico. O contá-
cutou 68.114 jovens entre 15 e 29 anos sobre como estavam se
gio acontece quando uma pessoa se identifica com algo expres-
sentindo. Entre os dados produzidos, vejamos alguns muito sig-
so pelo sofrimento de outra.
nificativos para o assunto sobre o qual estamos refletindo: “de 6
a cada 10 jovens relatam ansiedade e uso exagerado de redes
sociais; 5 a cada 10 sentem exaustão ou cansaço constante; e 4
a cada 10 têm insônia ou tiveram distúrbios de peso. (ATLAS DA
JUVENTUDE, 2022).
NEM TODA TRISTEZA É PATOLÓGICA: Está sendo realizada uma pesquisa virtual sobre como
a pandemia afetou de modo mais específico a saúde mental
O mesmo relatório destacou ainda um aumento O que seria mesmo depressão? Essa palavra é muito utili-
significativo na frequência de sintomas de depressão: zada hoje em dia, por vezes como sinônimo de tristeza. No entan-
to, na saúde mental, depressão diz respeito a uma situação muito
50% sentimento de 36% insônia
específica, um quadro clínico em que a pessoa não sente prazer
cansaço e exaustão
em nenhuma esfera da vida, tem alterações de sono (tanto pode
44% falta de motivação 33% ganho ou perda
passar a dormir muito, quanto ficar insone) e de apetite e pode
por atividades exagerada de peso
cotidianas ficar mais irritada, nervosa e sensível aos outros estímulos do
meio ambiente. A depressão pode ser leve, moderada ou grave. circunstância da vida. Assim foi com a pandemia: aumentaram os
Na moderada, acontece um impacto significativo nas atividades casos de depressão, mas, também, os sintomas de um sofrimento
diárias (como o estudo) e, na grave, a falta de energia e a incapa- “normal”, que decorre de uma situação geradora de medo e de
cidade de sentir prazer pode fazer com que a pessoa pare de se desamparo, conforme falado anteriormente. A quebra da rotina e
alimentar e não consiga nem mesmo levantar da cama para rea- dos contatos presenciais contribuiu muito para isso.
lizar higiene pessoal ou fazer outra atividade. É muito importante
Precisamos entender que nem toda tristeza e nem todo
termos em mente que depressão não é tristeza nem uma res-
desânimo são sinais de depressão. Do contrário, vamos patologi-
posta a uma situação de perda (luto). Só quem pode realizar
zar (ou seja, tornar uma doença) sentimentos que fazem parte do
o diagnóstico de depressão é apenas um profissional da saúde
universo humano. No entanto, é verdade: esses são sentimentos
mental, nenhum diagnóstico deve ser feito com base em textos
pouco tolerados no mundo atual, marcado pela aceleração de
da internet.
forma geral e muitos ideais, os quais, ao não serem cumpridos,
FIGURA 3 - PROPAGAÇÃO DIAGNÓSTICA são tomados como signos de um fracasso pessoal (KEHL, 2009).
É natural que fiquemos tristes, desanimados, sem apetite e com
insônia quando estamos atravessando um momento mais delica-
do. No caso do adolescente, esse momento pode ser, por exem-
plo, a conclusão do ensino médio, quando são frequentes as
pressões escolares e familiares acerca do ENEM e vestibulares.
Por isso, é imprescindível analisar o contexto no qual um adoles-
cente está ao apresentar sinais de sofrimento psíquico.
atividade física. Obviamente, não é necessário iniciar tudo de estar colaborando diretamente para o surgimento e/ ou para a
uma vez nem fazer todas as ações aqui destacadas. Os recursos manutenção do quadro depressivo (LEGNANI; ALMEIDA, 2020).
são decididos caso a caso e considerando o que há disponível
Por fim, vamos considerar que a adolescência envolve
no território. Contudo, a psicoterapia, em casos de depressão
um árduo trabalho de elaboração psíquica, que, por sua vez, en-
clinicamente diagnosticada, é recomendável, pois oportuniza
volve um luto pelas mudanças na imagem corporal e pelo lugar
trabalhar as questões relativas tanto à história de vida quanto às
que era ocupado na relação com os pais e com a escola enquan-
contingências que colaboraram para o desenvolvimento do qua-
to criança. A adolescência é uma das mais delicadas travessias
dro depressivo.
(LACADÉE, 2011). Assim, alterações de humor, irritabilidade e
Em muitas situações, o acesso à psicoterapia tem sido retraimento, em alguns momentos, podem acontecer. Acompa-
difícil. Vocês lembram de Ana, personagem do nosso caso com- nhar de perto – sem rotulação, estigmatização ou condenação
plexo? Ela havia sido diagnosticada havia 5 meses com ansie- – e estar disponível para escutar é um bom ponto de partida para
dade e depressão em uma UBS, mas estava, durante todo esse identificarmos quando as mudanças podem ser tomadas como
tempo, tendo acesso apenas ao tratamento medicamentoso. sinais da necessidade de visitar um especialista.
Sem um espaço de fala e escuta qualificada, os problemas
Existe tratamento e, caso consigamos ofertar uma socie-
existenciais e sociais atrelados à ansiedade e à depressão
dade mais justa, mais solidária, menos violenta e quiçá com mais
não podem ser devidamente trabalhados.
espaços para os adolescentes falarem dos seus afetos e de suas
As causas da depressão são várias e envolvem fatores inquietações, certamente teremos menos pessoas adoecidas. O
genéticos, a história de vida e o contexto no qual está o adoles- cuidado deve começar antes do adoecimento. Cuidar é também
cente. Por ser uma condição multicausal, é difícil isolar, em cada um ato político, porque o sofrimento psíquico sempre denuncia
pessoa, exatamente “a causa”. É mais viável e coerente mapear algo que não vai bem em nossos laços sociais.
possíveis elementos desencadeadores.
FIGURA 4 - QUESTIONAMENTOS EM TORNO DA AUTOIMAGEM Podemos dizer que muitos são os fatores de risco para
o desenvolvimento desses distúrbios, como fatores biológicos,
genéticos, sociais, culturais, estéticos, entre outros.
Sendo assim, na busca pelo ideal de um corpo perfeito, Por que devemos ter cuidado com a Patologização da Vida?
bem como, pela busca de ser reconhecido, afetado, visualizado
e amado, é que podemos compreender que o sujeito passa a O que seria patologia? Etimologicamente, o termo patologia
utilizar como medidas frequentes para obter seu ideal, medica- origina-se do grego (“pathos” = sofrimento, doença; “logia” =
mentos, vitaminas milagrosas, elixir, suplementos, plásticas, ho- estudo). Desse modo, podemos pensar que patologia é a área
ras exaustivas em academias. da ciência médica que estuda as alterações morfológicas e
fisiológicas dos estados de saúde. Quando essas alterações
De acordo com Drabkin (2017), além de fatores genéticos, não são compensadas, podemos dizer que um indivíduo está
deficiências nutricionais, imagem negativa do corpo e baixa au- doente. Então o que significa dizer patologização da vida? Pois
toestima, é possível listar outros exemplos de fatores que contri- bem, esse é o tema que abordaremos nos próximos parágrafos.
buem para a ocorrência de transtornos alimentares. Por exemplo:
A patologização da vida se faz presente quando situa-
Fatores Ambientais: ções, vivências e expressões humanas passam a ser associadas
a categorias médico-psiquiátricas e, consequentemente, enqua-
• Dinâmica familiar disfuncional;
dradas na ideia de “transtornos mentais”.
• Profissões e carreiras que promovem a magreza e a perda
de peso; Sendo assim, na lógica da patologização e da medicali-
zação, condições humanas viram transtornos que devem não só
• Esportes esteticamente orientados, em que a ênfase é co-
ser tratados, mas medicalizados. Com isso, o que verificamos é
locada na manutenção de um corpo magro para melhorar o
desempenho. a patologia em detrimento da pessoa. A pessoa, a experiência,
bem como suas vivências, passam a ser secundárias, tendo em
• Traumas familiares e da infância: abuso sexual na infância, vista que o que conta é a classificação de comportamentos, dos
trauma grave;
sintomas e de suas expressões.
• Pressão cultural e/ou de pares entre amigos e colegas de
trabalho; Por exemplo, não é raro percebermos, em consultas, aten-
dimentos ou até mesmo em conversas do cotidiano, as pessoas,
• Transições estressantes ou mudanças na vida. sobretudo jovens e adolescentes, não se apresentarem mais pelo
nome e por outros elementos subjetivos, mas dessa forma: “Olá,
Abordamos várias situações vinculadas ao sofrimento psí-
sou Pedro e tenho ansiedade”. O que queremos dizer é que, na
quico na adolescência. Algumas são consideradas transtornos.
atualidade, é possível verificarmos uma atitude que transforma
A incidência de suicídios entre os adolescentes tem cha- indígenas, negros, LGBTQIA+, entre outros têm um risco aumen-
mado a atenção de pais, educadores, pediatras, hebiatras, pro- tado de morte, inclusive por suicídio.
fissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, entre
outros profissionais e pessoas da sociedade que lidam com ado-
lescentes. Estão todos os jovens no mesmo barco?
Proposição 5 ?
Qual é a relação entre o comportamento suicida e uma
Ao analisar a proporção de óbitos de acordo com a faixa exposição maior à vulnerabilidade, como vidas indíge-
etária e raça, é possível perceber que 44,8% dos suicídios ocorri- nas, negras, transsexuais e não heterossexuais?
dos na população indígena foi entre o público adolescente (10 a
19 anos), ou seja, número oito vezes maior que entre os brancos
e negros (5,7 em cada) na mesma faixa etária (BRASIL, 2017b). Feedback positivo:
Outro trabalho de referência é a cartilha Óbitos por Suicídio entre Devemos estar atentos aos efeitos subjetivos danosos da
Adolescentes e Jovens Negros, produzida no final de 2018 pelo falta de enquadramento do adolescente aos padrões mais
Ministério da Saúde em parceria com a Universidade de Brasília aceitos, que produzem marcas de exclusão, estigmatiza-
(UnB) com base nas informações referentes aos anos de 2012 a ção, violência, silenciamento, subordinação, criminaliza-
2016 do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do De- ção, etc. Essas marcas tendem a desencadear desamparo,
partamento de Informática do SUS. Constatou-se que os jovens comprometimento da dinâmica dos afetos e da autoestima,
negros têm risco aumentado de 45% de morte autoprovocada sensação de não pertencimento, assimilação da identidade
quando comparados aos jovens brancos (BRASIL, 2018). inferiorizada, fragilidade com a vida e o viver, entre outros
problemas.
Evidências internacionais indicam uma chance aumenta-
da de morte autoprovocada entre não heterossexuais e pessoas
transgênero, conforme pesquisas norte-americanas: 1) em uma
Feedback orientador:
amostra de 30 mil participantes, observou-se que a propensão
É preciso compreender o sofrimento em articulação com um
ao suicídio entre heterossexuais foi de 4%, enquanto a de não
contexto relacional - afetivo, social e político. Nesses termos,
heterossexuais foi de 20% (HATZENBUEHLER, 2011); 2) ao longo
o suicídio se localiza entre os processos de subjetivação,
da vida, 1,6% de pessoas cisgênero tentaram suicídio, enquanto
sempre singulares e as condições sociopolíticas ofertadas
41% das pessoas trans atentaram contra a própria vida (GRANT
ao sujeito em sofrimento (LIMA, 2020).
et al., 2010). Em suma, os grupos de maior vulnerabilidade, como
Em 26 de abril de 2019 foi instituída no Brasil a Política Mito 1: O suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem
Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, de acor- pleno direito a exercitar o seu livre-arbítrio.
do com a Lei no 13.819. Dentre alguns objetivos da lei citados
Realidade 1: As pessoas em risco de suicídio estão passando,
no artigo 3o, destaca-se: “VII - promover a articulação intersetorial
quase invariavelmente, por uma situação de crise que pode alte-
para a prevenção do suicídio, envolvendo entidades de saúde,
rar a sua percepção da realidade, interferindo em seu livre-arbí-
educação, comunicação, imprensa, polícia, entre outras” (RIO
trio. O acompanhamento em saúde e o tratamento de um trans-
GRANDE DO SUL, 2019). Essa política ratifica a notificação com-
torno mental, quando presentes, são pilares fundamentais na
pulsória, ampliando a obrigatoriedade também aos profissionais
prevenção do suicídio. Nós entendemos que a conexão social e
da educação.
a coletivização do cuidado também são fatores primordiais.
É muito importante que, ao atender ou lidar com
Mito 2: As pessoas que ameaçam se matar não farão isso; que-
adolescentes com tentativa de suicídio, as notificações sejam
rem apenas chamar a atenção.
efetuadas, pois, além de acionar a rede de equipamentos para o
acompanhamento, os registros dessas notificações nos revelam Realidade 2: A maioria das pessoas que tenta o suicídio fala ou
a realidade da situação e podem contribuir com a criação de dá sinais de suas ideias de morte.
políticas públicas para lidarmos com essa problemática.
Mito 3: Quando um indivíduo mostra sinais de melhora ou sobre-
São inegáveis o sofrimento mental e as várias adversida- vive a uma tentativa de suicídio está fora de perigo.
des enfrentadas por muitos adolescentes. No entanto, é preciso
tomar muito cuidado ao olhar para essa população e adotar a Realidade 3: Uma tentativa prévia é o principal fator de risco para
devida cautela para não caracterizar a adolescência pela ótica o suicídio. Os períodos mais críticos são quando a pessoa está
unilateral de risco, vulnerabilidade e fragilidade. melhorando da crise que a motivou a tentar e quando a pessoa
ainda está no hospital, na sequência de uma tentativa. A semana
Você sabia que existem alguns mitos sociais sobre o que se segue à alta hospitalar é um período em que a pessoa
suicídio? está particularmente fragilizada.
Mito 4: Não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode Uma vez desconstruídos os mitos, vamos visitar os fato-
aumentar o risco. res de risco e de proteção do suicídio. De acordo com a OMS
(2000) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (2014):
Realidade 4: Falar sobre suicídio não aumenta o risco, muito
pelo contrário. Falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a Fatores de risco
angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.
• Baixo nível socioeconômico;
Mito 5: Apenas pessoas com transtornos mentais têm compor-
tamento suicida. • Inadequação às características relacionadas ao gênero e
questões relacionadas à identidade e orientação sexual, em
Realidade 5: Muitas pessoas com transtorno mental não desen-
função da LGBTfobia;
volvem comportamento suicida, e nem todas as pessoas que
morrem por suicídio têm transtorno mental. Comportamento • Tentativa prévia de suicídio;
suicida indica profundo sofrimento, não necessariamente trans-
torno. • Famílias disfuncionais;
Mito 6: Quem planeja se matar está determinado a morrer. • Violência intrafamiliar (abuso físico e sexual);
• Confiança em si mesmo;
• Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança;
• Capacidade de procurar ajuda;
• Expressão de ideias ou de intenções suicidas;
• Integração social, como esportes, igreja, clubes, entre ou-
• Diminuição ou ausência de autocuidado;
tras atividades;
• Mudanças na alimentação e/ou hábitos de sono;
• Bom relacionamento com colegas da escola;
• Uso abusivo de drogas/álcool;
• Bom relacionamento com professores, entre outros adultos
de referência. • Alterações nos níveis de atividade ou de humor;
• Autoagressão (por exemplo, autolesão); • Tem meio para se matar e já tomou providências
para o pós-morte.
• Ideação suicida passageira e sem plano;
Conversar sem criticar, oferecer apoio, ouvir com aten-
• Sem histórico de tentativa;
ção (a escuta empática é terapêutica e preventiva), amparar e
• Tem vida e apoio sociais. não julgar são atitudes importantes que podem fazer com que
os adolescentes se sintam mais acolhidos e compreendidos. O
Risco Médio reconhecimento de adolescentes em sofrimento é um ponto fun-
damental para a prevenção do suicídio.
• Ideação suicida frequente e persistente, sem plano;
Especialmente entre os jovens, existe o fenômeno do
• Com ou sem autoagressão (por exemplo, autolesão);
suicídio em grupo. Publicações de tentativas de suicídio ou de
• Histórico de tentativa; suicídio consumado de uma celebridade podem levar jovens a
comportamentos autodestrutivos em grupo. Isso pode aconte-
• Depressão e/ou transtorno bipolar;
cer, por exemplo, caso pertençam a comunidade que seguia o
• Ausência de impulsividade ou abuso/dependência estilo de vida e características da pessoa que morreu (ORGANI-
de álcool ou outras drogas; ZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006).
A abordagem e a divulgação de casos de suicídio de- Por fim, é importante garantirmos a educação em saúde
mandam um compromisso ético, conforme detalhado no Rela- na comunidade com relação à saúde mental do adolescente e
tório da OMS dirigido aos profissionais da mídia (ORGANIZAÇÃO das suas especificidades, que são próprias dessa fase da vida
MUNDIAL DA SAÚDE, 2000), de modo a garantir proteção às e que podem interferir de maneira muito significativa na com-
pessoas em sofrimento, assim como àquelas que perderam seus preensão desse sujeito. A sensibilização, desestigmatização e
entes por suicídio. informações acerca do fenômeno do suicídio são tarefas impera-
tivas para toda a sociedade. Somos todos, se empregarmos uma
Em contraposição, existe o efeito Papageno, referente a
escuta acolhedora e isenta de julgamentos morais e/ou religio-
uma ação informativa e preventiva adequada, que provoca a mi-
sos, possíveis agentes de prevenção do suicídio.
nimização do comportamento suicida. A adoção de iniciativas e
políticas de prevenção de amplo acesso é fundamental para que
o fenômeno ocorra.
PERDAS E LUTOS NAS ADOLESCÊNCIAS aflição. Por vezes, esse novo cenário que envolve sexualidade,
menstruação, uma nova voz, uma nova performance, etc., ocorre
da a sensação de amparo e segurança. Esses sentimentos con- que envolve atenção às mudanças, realização de novas ativida-
tribuem para que eles se sintam mais devastados pela excessiva des, evitação ou negação do pesar e foco em novos laços, rela-
confusão geral que se estabelece (MOTA, 2008). cionamentos e papéis. Nessa compreensão, é esperado que a
pessoa, pós-perda, esteja no primeiro polo e, gradualmente e de
O luto por morte é um dos muitos eventos frequentes na
modo descontinuado, aproxime-se da restauração. Para Stroebe
vida de um ser humano, apesar disso, é uma das experiências de
e Schut (2001), o modo de enfrentamento e a construção do sig-
estresse mais graves e potencialmente danosas (PARKES, 2009).
nificado acontecem na oscilação entre a perda e a restauração,
Em outras palavras, a perda decorrente da morte de uma pessoa
de modo que o equilíbrio entre esses polos favorece a elabora-
próxima pode acarretar uma importante desorganização na vida
ção do luto.
dos adolescentes. Dependendo do vínculo e da personalidade
desse adolescente com a pessoa falecida, as sensações de estar FIGURA 8 – MODELO DO PROCESSO DUAL DO LUTO
perdido, de desespero e choque podem desenhar a experiência.
ORIENTAÇÃO PARA A PERDA ORIENTAÇÃO PARA A RESTAURAÇÃO
Perder uma pessoa próxima pode, também, despertar no adoles-
cente a consciência de sua própria morte, abalando os sentimen-
tos de resistência e força geralmente encontrados nessa fase da - LIDAR COM AS
- ELABORAÇÃO DO LUTO MUDANÇAS NA VIDA
vida (DOMINGOS; MALUF, 2003). OSCILAÇÃO SEM O ENTE QUERIDO
- VER FOTOGRAFIAS
- RETOMAR AS TAREFAS
Uma referência sobre o tema do luto, aplicada a qualquer - FALAR SOBRE O ENTE DO DIA A DIA
QUERIDO MORTO
faixa etária, que tem sido amplamente empregada na atualida-
- FAZER COISAS NOVAS,
- RUMINAÇÃO
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PARKES, C. M. Amor e perda: as raízes do luto e suas complica- SURJUS, L. T. de L. S.; SILVA, P. C. (Org.). Redução de Danos:
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SCAVACINI, K. Curso de Aperfeiçoamento em Prevenção de WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Mental Health Re-
Suicídio. Escola de Medicina e Saúde Pública. Salvador, 2019. port: Transforming Mental Health For All. Geneva, 2022.
material de apoio
1 Título do material
Podcast “Psicanálise de Boteco”. Episódio “Crise de Pânico e e a Psica-
nálise”
https://open.spotify.com/episode/2Ch7av994DHg2nH86zPUPa?-
Link
si=1348bfff1ebc49cf
material de apoio
2 Título do material Guia de Saúde Mental para Adolescentes de 11 a 14 anos
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_saude_mental_ado-
Link
lescente_11_14_anos.pdf
material de apoio
3 Título do material
Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no
Brasil
https://www.unicef.org/brazil/media/16421/file/panorama-violencia-letal-
Link
-sexual-contra-criancas-adolescentes-no-brasil.pdf
material de apoio
4 Título do material Pro dia Nascer Feliz
Sinopse, resumo, contexto, referência ajudando a pintar um quadro completo das desigualdades e da violência
no país a partir da realidade escolar.
Ficha Técnica: Título Original: Pro Dia Nascer Feliz. Origem: Brasil, 2006.
Direção: João Jardim. Roteiro: João Jardim. Produção: Flávio R. Tam-
bellini e João Jardim. Fotografia: Gustavo Hadba. Edição: João Jardim.
Música: Dado Villa-Lobos.
Link https://www.youtube.com/watch?v=nvsbb6XHu_I
material de apoio
5 Título do material Elena (2012)
Link https://www.youtube.com/watch?v=JG87q2zdw7I&t=564s
material de apoio
6 Título do material Meninas
Link https://www.youtube.com/watch?v=bXbToN1lLPY
material de apoio
7 Título do material Cartilha para Pais e Educadores Prevenção do Suicídio na Internet
Essa cartilha foi pensada com a intenção de auxiliar pais, mães, respon-
sáveis e educadores a identificar situações de sofrimento emocional e de
Sinopse, resumo, contexto, referência
risco em adolescentes e de discutir abertamente a prevenção do suicídio
na internet incluindo atitudes que promovam a saúde mental
http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2019/11/20190262-carti-
Link
lha-para-pais-prevencao-do-suicidio-na-internet.pdf
material de apoio
8 Título do material O Suicídio e os Desafios para a Psicologia
Este livro é fruto da transcrição dos debates online “Suicídio: uma ques-
tão de saúde pública e um desafio para a Psicologia clínica” e “Suicídio:
o luto dos sobreviventes”, realizados, respectivamente, pelo Conselho
Federal de Psicologia (CFP), em 24 de julho e no dia 21 agosto de 2013.
Sinopse, resumo, contexto, referência
O intuito foi chamar atenção para uma situação que retira a vida de mi-
lhões de pessoas em todo mundo e que pode ser evitada, especialmente
por meio do apoio psicológico para os que atentam contra a própria vida
e para aqueles que vivenciam o luto da perda
http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2019/01/20190011-Suici-
Link
dio-e-os-desafios-para-psicologia.pdf
material de apoio
9 Título do material Combate ao Racismo Institucional: essa luta também é sua
https://www.neca.org.br/wp-content/uploads/20190926cartilhacomba-
Link
teracismo.pdf
material de apoio
10 Título do material
Vamos falar sobre sexualidade? Material educativo para promover a saú-
de sexual e reprodutiva na adolescência
Link http://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_sexualidade.pdf
material de apoio
11 Título do material Atenção psicossocial a crianças e adolescentes negros no SUS
http://www.ee.usp.br/cartilhas/Cadernos_de_textos_Atencao_psicosso-
Link
cial_a_criancas_e_adolescentes_negros_no_SUS.pdf
material de apoio
12 Título do material 2h37
Link https://www.youtube.com/watch?v=OWTSJFzwkcw
material de apoio
13 Título do material
Crise de ansiedade coletiva na escola: o que se sabe sobre o “contágio
emocional”.
https://omny.fm/shows/isso-fant-stico/crise-ansiedade-coletiva-na-esco-
Link
la-o-que-se-sabe-s
Luana Lima
Coordenação Pedagógica