Dores e Sofrimentos Especificos

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ADOLESCÊNCIAS

E JUVENTUDES:
DORES E SOFRIMENTOS
ESPECÍFICOS

Autores
Estela Ramires Lourenço
Paulo Vitor Palma Navasconi
Vládia Jamile dos Santos Jucá

Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO
EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
DE ADOLESCENTES E JOVENS

ADOLESCÊNCIAS
E JUVENTUDES:
DORES E SOFRIMENTOS
ESPECÍFICOS

Autores
Estela Ramires Lourenço
Paulo Vitor Palma Navasconi
Vládia Jamile dos Santos Jucá

Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Lourenço, Estela Ramires


Adolescências e juventudes [livro eletrônico] :
dores e sofrimentos específicos / Estela Ramires
Lourenço, Paulo Vitor Palma Navasconi, Vládia Jamile
dos Santos Jucá ; organização Rita Maria Lino Tarcia,
Sílvia Helena Mendonça de Moraes, Débora Dupas
Gonçalves do Nascimento. -- Campo Grande, MS :
Fiocruz Pantanal, 2023.
PDF

Bibliografia.
ISBN 978-85-66909-44-9

1. Adolescência 2. Adolescente - Cuidados e


tratamento 3. Autoimagem 4. Dor 5. Saúde mental
6. Sofrimento (Aspectos psicológicos) I. Navasconi,
Paulo Vitor Palma. II. Jucá, Vládia Jamile dos
Santos. III. Tarcia, Rita Maria Lino. IV. Moraes,
Sílvia Helena Mendonça de. V. Nascimento, Débora
Dupas Gonçalves do. VI. Título.

23-144558 CDD-362.21
Índices para catálogo sistemático:

1. Adolescentes : Política de saúde mental :


Bem-estar social 362.21

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415


© 2022. Fundo das Nações Unidas para a Infância – Coordenação de Educação da Fiocruz MS Autores
UNICEF. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul. Débora Dupas Gonçalves do Nascimento Vládia Jamile dos Santos Jucá
Vice- coordenadora de Educação Estela Ramires Lourenço
Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, Paulo Vitor Palma Navasconi
disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS
sua totalidade, nos Termos de uso do ARES. Deve ser – UNA-SUS Revisora Técnico-científica
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Fiocruz MS
Jislaine de Fátima Guilhermino Revisor
Coordenadora Davi Bagnatori Tavares
SUMÁRIO

Apresentação do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
ADOLESCÊNCIA(S) E VIOLÊNCIA(S) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
ADOLESCÊNCIAS E O USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
ADOLESCÊNCIA, ANSIEDADE E CONTEXTOS SOCIAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
NEM TODA TRISTEZA É PATOLÓGICA: DIFERENCIANDO A DEPRESSÃO DA CONDIÇÃO HUMANA DE FICAR TRISTE 26
ADOLESCÊNCIA, IMAGEM CORPORAL E TRANSTORNOS ALIMENTARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
AUTOLESÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
IDEAÇÃO SUICIDA E SUICÍDIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
PERDAS E LUTOS NAS ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Encerramento do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Minicurrículo dos autores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Material de apoio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
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apresentação do módulo
“Ponho linhas no mundo, mas já quis pôr no pulso, nas perspectivas ampliadas da tríade sujeito-droga-contexto e
Sem o torro, nossa vida não vale a de um cachorro triste. na redução de danos. O bloco seguinte tratou de experiências
Hoje cedo não era um hit, era um pedido de socorro. de sofrimento e transtornos mentais. Para além de uma descri-
[...] A última tendência é depressão com aparência de férias. ção desses estados de fragilidade e/ou adoecimento, refletimos
[...] Tenho sangrado demais, acerca da tendência à patologização das experiências vitais,
Tenho chorado pra cachorro. especialmente as desviantes, indesejadas e improdutivas, que
Ano passado eu morri, tendem a centralizar os problemas no indivíduo, desatrelando os
Mas esse ano eu não morro. processos de subjetivação das relações sociais e afetivas.
[...] Permita que eu fale e não as minhas cicatrizes.
Analisamos também o fenômeno da autolesão, suas ex-
Tanta dor rouba a nossa voz, sabe o que resta de nós?”
pressões, modos de enfrentamento, etc. Em diálogo temático,
(EMICIDA)
aprofundamos o tema do comportamento suicida: apresenta-
Seja bem-vindo ao módulo Adolescências e Juventudes: mos dados estatísticos acerca do fenômeno e fazemos uma aná-
Dores e Sofrimentos Específicos. Pretendemos, nesta nossa bre- lise dos condicionantes sociais da saúde, dos fatores de risco,
ve jornada de aprendizagem, conversar sobre as experiências de proteção e mitos envolvidos. A análise do módulo se encerra
de sofrimento mais recorrentes na adolescência, com destaque com o estudo acerca do luto – desde perdas e/ou transforma-
para violência, transtornos mentais, comportamento suicida e ções corporais, que caracterizam o adolescer, às mortes que de-
luto, que são vivências que provocam grandes impactos na saú- terminam os processos de enlutamento.
de mental e nas dinâmicas relacionais.
A nossa proposta denega uma leitura individualizante
A adolescência é uma experiência plural, portanto, fala- acrítica, que, comumente, desconsidera a dimensão sociopolí-
mos de adolescências. Um dos aspectos fundamentais sobre tica presente na produção do sofrimento. Ao contrário de uma
os quais precisamos refletir é a violência durante esse período tendência moderna e neoliberal que compreende a ansiedade,
da vida. A primeira parte do módulo foi dedicada, dessa forma, a depressão, o comportamento suicida ou qualquer comporta-
à elaboração do conceito de violência, aos tipos e aos efeitos di- mento indesejado como sinal de inadequação, transtorno ou
versos que estas podem causar. Abordamos, em seguida, a ado- fracasso individual, o passeio pelo universo psíquico da nossa
lescência e as substâncias psicoativas, especialmente com base juventude no presente módulo tem por finalidade potencializar

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as diversas vozes e experiências; estimular o debate sobre as di-


versas manifestações de sofrimento na atualidade; legitimar os
discursos dos sujeitos sofrentes para ampliar e intensificar os
modos de cuidado, as ações e políticas de promoção à saúde
mental e prevenção do suicídio. Vamos juntos?

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ADOLESCÊNCIA(S) E VIOLÊNCIA(S) Afinal, a adolescência teria um início?

12 A 18 ANOS 15 A 29 ANOS
Afinal, o que é adolescência? Quando começa e quando Estatuto da Criança Estatuto da
termina? Como acontecem a adolescência e a juventude? Essas e do Adolescente Juventude
são questões que passaram a ser fundamentais nos estudos do
desenvolvimento humano e, principalmente, nas áreas das ciên-
cias humanas e da saúde. No entanto, a cada tentativa de respon- De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente
der a essas questões, tendemos a naturalizar o processo de de- (BRASIL, 2017a), a adolescência corresponde ao período que vai
senvolvimento da pessoa, sobretudo, o período da adolescência. dos 12 aos 18 anos. Já o Estatuto da Juventude (2013) situa a
Você deve estar se perguntando: o que significa dizer isso? juventude entre os 15 e os 29 anos.

Pois bem, naturalizar significa compreender que o desen- No país há graves problemas educacionais, de moradia,
volvimento humano é um produto natural e, desse modo, que de oportunidades de trabalho e lazer, e, consequentemente,
as práticas educativas e sociais pouco interferem no processo grandes desigualdades nas formas de viver, de adoecer e de
de desenvolvimento. Olhar a adolescência por esse viés nos faz morrer. Esses problemas provocam profundas desigualdades
universalizar um fenômeno complexo e plural, com tendências socioeconômicas e sociais, que também afetam adolescentes
e variações de acordo com a época histórica, povos e culturas. e jovens. Essas desigualdades fazem com que muitos adoles-
Por exemplo: imagine como foi a sua adolescência. Imaginou? centes tenham dificuldades em obter reconhecimento e acesso
Agora imagine a adolescência de Júlia ou Alex. Elas podem ser a seus direitos elementares, como educação, mobilidade, nutri-
consideradas iguais, semelhantes ou diferentes? ção, habitação, boa saúde física e mental, trabalho, lazer, entre
outros (MINAYO; SOUZA, 1999).
Convidamos você a pensar a adolescência não como
um fenômeno universal, ou seja, comum a todas e todos, enten-
demos que não existe uma adolescência, mas várias formas de
experienciar o que estamos chamando de adolescências. Por
exemplo, basta pensarmos em nossas brincadeiras, vestimen-
tas e hábitos que vamos perceber que nossos comportamentos,
ações e hábitos mudam, conforme transformações sócio-históri-
cas vão acontecendo.

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Refletindo sobre o fenômeno da violência A seguir, duas lições importantes sobre a violência:

A violência está presente nas relações e experiências Lição 01: Podemos com- Lição 02: A violência se
humanas desde os primórdios da humanidade e atinge todos preender que a violência é, torna um tema do campo
os setores da sociedade, apresentando-se como um fenômeno antes de tudo, uma ques- da saúde pelo impacto que
multideterminado e complexo. tão social e, portanto, em provoca na qualidade de
si, não é objeto próprio do vida; pelas lesões físicas,
De origem latina, o vocábulo vem da palavra
vis, que quer dizer força e se refere às noções setor saúde. psíquicas e morais que
de constrangimento e de uso da superiorida- acarreta e pelas exigências
de física sobre o outro. No seu sentido mate-
de atenção e cuidados dos
rial, o termo parece neutro, mas quem ana-
lisa os eventos violentos descobre que eles serviços médico-hospita-
se referem a conflitos de autoridade, a lutas lares (MINAYO, 2004).
pelo poder e a vontade de domínio, de pos-
se e de aniquilamento do outro ou de seus
bens (MINAYO, 2006, p. 13). No ano de 2002, a Organização Mundial da Saúde pu-
blicou extenso informe denominado Relatório Mundial sobre
A violência “não se limita ao uso da força física, mas à pos- Violência e Saúde (KRUG et al., 2002, p.5), trazendo a seguinte
sibilidade ou ameaça de usá-la” (VELHO, 2000, p. 11). Com isso, definição de violência: “uso intencional da força física ou do po-
é possível associar a violência a uma ideia de poder efetivado der, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa,
pela dinâmica das relações sociais marcada pela hierarquia e do- ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha
minação. “Encerrar a noção de violência numa definição fixa e grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicoló-
simples é expor-se a reduzi-la, a compreender mal sua evolução gico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.
e sua especificidade histórica” (MINAYO, 2006, p. 14).
Quanto à tipologia, a violência divide-se em: a) autoinfli-
gida, que é a violência dirigida contra si mesmo; b) interpessoal,
infligida entre duas pessoas, a qual se subdivide em familiar e
comunitária, ou seja, considera-se violência doméstica/intrafami-
liar a que ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros
da família, principalmente no ambiente da casa, mas não unica-
mente. É toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a

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integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno Tortura: atos intencionalmente praticados para causar
desenvolvimento de outra pessoa da família. Pode ser cometi- lesões físicas ou mentais, ou de ambas as naturezas, com a fi-
da dentro ou fora de casa por algum membro da família, incluin- nalidade de obter vantagem, informação, aplicar castigo, entre
do pessoas que passam a assumir função parental, ainda que outros.
sem laços de consanguinidade, e que tenha relação de poder.
Violência psicológica: ação ou omissão destinada a
A violência doméstica/intrafamiliar não se refere apenas ao es-
degradar ou a controlar ações, comportamentos, crenças e de-
paço físico onde a violência ocorre, mas, também, às relações
cisões de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação,
em que se constrói e efetua. Este tipo de violência também inclui
ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer
outros membros do grupo, sem função parental, que convivam
outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à auto-
no espaço doméstico. A violência comunitária é definida como
determinação ou ao desenvolvimento pessoal.
aquela que ocorre no ambiente social em geral, entre conheci-
dos ou desconhecidos. Incluem-se aí empregados, pessoas que Discriminação: ato de distinção, segregação, prejuízo,
convivem esporadicamente, agregados, por sua vez, a violência danos ou tratamento diferenciado de alguém, por causa de ca-
comunitária é definida como aquela que ocorre no ambiente so- racterísticas pessoais, raça/etnia, gênero, religião, idade, origem
cial em geral, entre conhecidos ou desconhecidos. É praticada social, entre outras.
por meio de agressão às pessoas, por atentado à sua integrida-
de e vida e/ou a seus bens e constitui objeto de prevenção e re- Violência sexual: ato sexual ou tentativa de obter ato se-
pressão por parte das forças de segurança pública e sistema de xual, investidas ou comentários sexuais indesejáveis, ou tráfico
justiça (polícias, Ministério Público e poder Judiciário). Por fim, a ou qualquer outra forma, contra a sexualidade de uma pessoa
violência c) coletiva, cometida pelos grandes grupos ou Estado, usando coerção.
podendo ser social, política ou econômica. Quanto à natureza
Abuso sexual sem contato físico: assédio sexual; abuso
dos atos violentos, eles podem ser de caráter: físico, sexual e psi-
sexual verbal; telefonemas obscenos; exibicionismo; voyeuris-
cológico (KRUG et al., 2002).
mo; e pornografia.

Conhecendo os tipos de violência Abuso sexual com contato físico: atos físico-genitais
praticados a outrem, que incluem carícias nos órgãos genitais,
Quais tipos de violência você conhece? Krug et al. (2002) tentativas de relações sexuais, masturbação, sexo oral, penetra-
nos apresentam alguns tipos, com suas respectivas definições: ção vaginal e anal.

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Violência física: ato de agressão física que provoca mar- Tráfico de crianças e adolescentes: recrutamento,
cas visíveis ou não. Pode ser praticada com uso de força física do transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de uma
agressor, no qual machuca a vítima de várias maneiras, inclusive criança ou adolescente para fins de exploração.
com o uso de armas. Exemplos: bater, chutar, queimar, cortar e
Violência institucional: tipo de violência motivada por
mutilar.
desigualdades (de gênero, étnico-raciais, econômicas, etc.). Es-
Negligência e abandono: abandono, descuido, desam- sas desigualdades se formalizam e institucionalizam nas organi-
paro, desresponsabilização e descompromisso do cuidado. Esse zações privadas e nos aparelhos estatais, assim como nos dife-
ato não está necessariamente relacionado a dificuldades socioe- rentes grupos que constituem essas sociedades.
conômicas.
Violência intrafamiliar: é qualquer tipo de violência pra-
Bullying: também chamado de intimidação sistemática, ticada dentro de casa ou unidade doméstica, sendo, geralmente,
conforme definido pela Lei no 13.185/2015, pode ser compreen- praticada por um membro da família que vive com a vítima. As
dido como sendo, “todo ato de violência física ou psicológica, agressões domésticas incluem: abuso físico, sexual e psicológi-
intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, pra- co, negligência e abandono.
ticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com
Violência moral: ação destinada a caluniar, difamar ou
o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à
injuriar a honra ou a reputação da pessoa.
vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes
envolvidas (BRASIL, 2015). Violência patrimonial: ato de violência que implique
dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, do-
Trabalho infantil: é a exploração da força de trabalho
cumentos pessoais, bens e valores.
de pessoas que tenham idade inferior à mínima permitida para
trabalhar. No Brasil, o trabalho não é permitido, sob qualquer
condição, para crianças e adolescentes com menos de 14 anos.
Adolescentes entre 14 e 16 podem trabalhar, mas na condição
de aprendizes. Quando a pessoa tem entre 16 e 18 anos, as ati-
vidades laborais são permitidas, desde que não aconteçam das
22h às 5h e não sejam insalubres ou perigosas.

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que nos dão indícios de alerta; indicam que há algo erra-


Você sabia?
do e que esse adolescente precisa ser escutado.
Segundo Minayo et al. (2018), a violência afeta muito a
• Existe a necessidade de compreender não só situações
saúde:
em que a violência está presente, mas também quais são
os fatores de risco em jogo.
• A violência provoca morte, lesões e traumas físicos e um
Portanto, compreender o fenômeno da violência na ado-
sem-número de agravos mentais, emocionais e espirituais;
lescência requer um olhar contextualizado. É muito importante
• a violência diminui a qualidade de vida das pessoas e saber quem são os adolescentes que estão em contexto de vio-
das coletividades; lência. Para isso, precisamos observar raça, gênero, classe, terri-
tórios, etc. É preciso entender a violência não apenas como uma
• a violência gera desafios para o atendimento médico e
questão singular, mas também social, complexa e multidetermi-
evidencia a necessidade de uma atuação muito mais es-
nada. Com isso, podemos afirmar que a violência contra crianças
pecífica, interdisciplinar, multiprofissional, intersetorial, vi-
e adolescentes acontece em diversos contextos, como no am-
sando às necessidades dos cidadãos.
biente familiar, nas escolas e nas ruas, podendo se manifestar de
diferentes formas, não excludentes entre si.

É de suma importância atentar-se ao fato de que a


situação de risco à qual o adolescente está exposto pode afetar FIGURA 1 - VIOLÊNCIA
o rendimento escolar e provocar outros problemas, como faltas
frequentes à escola. Além disso, pode influenciar nas condições
de saúde de forma geral e nas relações afetivas individuais,
com sua família e com o mundo que o cerca, podendo levá-lo
a um circuito de sociabilidade marcado pela violência, pelo uso
abusivo de drogas e pelos conflitos com a lei.

• Você se lembra do nosso caso complexo? Pois bem, falas


como “Aqui eu não me sinto pertencente”, “eu não per-
tenço a nada” e “eu não tenho nenhum valor” são falas

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Fatores de risco ou de maior vulnerabilidade para Proposição 1 ?


crianças, adolescentes e jovens
Essa reflexão inicial trouxe alguma contribuição para
você? Além disso, no dia a dia do seu serviço, quais dos
1. Violência por parte dos pais e de outros responsáveis; fatores de risco apresentados parecem exercer influên-
cia para que ocorra violência?
2. Abuso sexual, negligência educacional e nutricional,
prostituição forçada;

3. Ambientes familiares instáveis; Feedback positivo:


Os profissionais que trabalham com crianças e adolescentes
4. Reprodução e naturalização da violência, ou seja, em
em situação de vulnerabilidade ou de maior risco de violên-
muitos casos, a violência se torna a forma escolhida
cia precisam estar atentos para identificar quais fatores de
para a resolução de conflitos;
risco estão associados ao contexto específico. Reconhecer
5. Pobreza, elevados níveis de desemprego e rotativi- os fatores de risco é uma forma de ampliar os modos de in-
dade populacional. A pobreza afeta a população in- tervenção e cuidado.
fantojuvenil por impactar o comportamento parental
e provocar a deterioração de infraestruturas físicas e
sociais da comunidade;
Feedback orientador:
6. Abuso de substâncias, o estresse e o isolamento so- Para prevenir a violência contra crianças e adolescentes é
cial (KRUG et al., 2002). preciso saber identificá-la e notificá-la, assim como buscar
formas eticamente comprometidas de atuação.

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Em toda situação de violência, deve haver uma interven- Os desafios da ação profissional:
ção de qualquer pessoa que conheça o fato. O artigo 13 do ECA
1) Saber trabalhar em equipe interdisciplinar: trabalhar
(BRASIL, 2017a) prevê que “os casos de suspeita ou confirmação
em equipe qualifica a ação profissional.
de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoria-
mente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localida- 2) Saber observar, escutar e aceitar o que o adolescente
de, sem prejuízo de outras providências legais”. tem a dizer.

Nesse momento, gostaríamos de saber: quais são as


ações de prevenção à violência contra adolescentes que são de-
FIGURA 2 - SOBRE AS VIOLÊNCIAS
senvolvidas no serviço em que você se encontra inserido?

Humanizar e cuidar para prevenir

Humanizar o cuidado é se posicionar a favor da vida com


dignidade, respeitando as diferenças e as particularidades, como
gênero, etnia, raça, orientação sexual, entre outras característi-
cas, assim como as populações específicas (indígenas, quilom-
3) Manter atitude de credibilidade, ou seja, não deslegiti-
bolas, ribeirinhos, assentados, etc.). A prevenção à violência não
mar a vítima, não fazer perguntas em demasia, não ques-
se dá somente por meio de uma única ação ou iniciativa, mas
tionar o que está sendo relatado e evitar pedir detalhes
pela combinação de diversas estratégias que visem à garantia de
desnecessários.
direitos fundamentais. Nesse sentido, é possível afirmar que a as-
sistência à vítima de violência, aqui, em especial, ao adolescente 4) Esclarecer a condição da vítima, ou seja, deixar explíci-
que está inserido em um contexto de violência, requer empatia, to que a vítima não é culpada e que não deve se envergo-
habilidade, sensibilidade e compromisso com essa questão. Por nhar pelas situações sofridas.
isso, os profissionais devem sempre atuar de forma articulada,
5) Evitar a revitimização, ou seja, evitar que o adolescente
desenvolvendo um trabalho interdisciplinar e interprofissional,
reviva as situações e episódios de violências, para que o
visando sempre à promoção, à proteção e à garantia de direitos.
sofrimento dele não se amplie.

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6) Fornecer orientação: sempre estar disponível e orientar Além disso, é de suma importância que você possa:
o adolescente no que diz respeito a todo o processo e
1) Documentar: coletar e registrar de forma detalhada todo
aos procedimentos que serão adotados.
o processo de avaliação, diagnóstico e tratamento, quan-
7) Assegurar sigilo: sendo um dever manter sigilo, o profis- do for o caso.
sional só pode quebrá-lo mediante o consentimento por
2) Transcrever: descrever o histórico do adolescente con-
escrito do paciente ou mediante situações permitidas por
siderando as palavras dele, sem fazer interpretações pes-
lei. Nesse ponto, é importante frisar que não podemos pro-
soais ou pré-julgamentos.
meter à vítima ou à família o que não podemos cumprir,
como guardar segredo de todas as informações obtidas. 3) Notificar: se você for um profissional da saúde, é sua res-
ponsabilidade notificar. Toda suspeita de violência deve
8) Considerar a subjetividade e a singularidade: é de ex-
ser notificada.
trema importância considerar a singularidade de cada
sujeito e de cada situação.
Os casos de violência contra criança e adolescente de-
9) Acolher: é preciso compreender o que o usuário espera vem ser denunciados ao Conselho Tutelar, Ministério
da intervenção e se há clareza disso no acordo que se Público ou aos disque-denúncias 24h, como o Disque
estabelece com ele. 100. O disque 100 é um canal de comunicação da so-
ciedade civil com o poder público, que possibilita conhecer
10) Usar uma linguagem adequada: é preciso ter cuidado
e avaliar a dimensão da violência contra os direitos humanos
com a utilização de termos e palavras e, sobretudo, evi-
e o sistema de proteção, bem como orientar a elaboração de
tar linguagens e afirmações que estejam assentadas e
políticas públicas.
pautadas por juízos de valores, afinal, não estamos lidan-
do com um “fato que eu acho”, mas com uma realidade
que é questão de saúde pública. Além disso, é de suma
importância ter bom senso quanto à posição corporal
durante o atendimento, assim como à organização do es-
paço físico em que o atendimento ocorre. É fundamental
conversar com o usuário mantendo uma posição em que
ele, especialmente, possa olhar e ser olhado.

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Em suma, abordamos neste primeiro momento, o con-


ceito de violência, sua tipologia, as vulnerabilidades específicas
quando se trata das violências praticadas contra os adolescen-
tes, bem como algumas recomendações de como proceder no
atendimento às vítimas. A violência hoje atravessa transversal-
mente adolescentes de várias etnias, classes sociais e gêneros,
mas de modo desigual, como tratamos anteriormente. A partir
da próxima seção, trataremos de questões concernentes aos
modos de expressão do sofrimento psíquico, iniciando com as
adições na adolescência.

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

ADOLESCÊNCIAS E O USO DE consumida e o contexto no qual acontece o uso: “[...] cada hu-
mano consumirá essa ou aquela droga em função de suas ne-

SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS cessidades subjetivas e sociais. Não são as drogas que fazem os
humanos [...] são os homens que fazem as drogas” (NERY FILHO,
O uso de substâncias psicoativas por adolescentes preo- 2012, p. 20).
cupa tanto profissionais da rede de assistência e de proteção a É importante esclarecer que preferimos usar substâncias
crianças e adolescentes quanto pais e professores. Para enten- psicoativas a drogas porque, quando escutamos o segundo
dermos melhor essa questão, é importante falarmos sobre os vá- termo, geralmente pensamos em algo que necessariamente é
rios usos que os adolescentes fazem das substâncias. Por exem- ilegal e prejudicial à saúde. O termo substâncias psicoativas, por
plo, se é um uso para socializar com seus pares ou um uso para sua vez, ajuda-nos a evitar um julgamento moral prévio e eviden-
relaxar diante de situações adversas com as quais não está con- cia o fato de que um conjunto de substâncias atua em nosso cé-
seguindo lidar. Outro ponto é sabermos quais são as substâncias rebro, alterando seu funcionamento. Nesse sentido, o café, muito
mais utilizadas e entendermos quando o uso precisa ser objeto ingerido em nossa cultura, é uma substância psicoativa que, to-
de uma atenção especializada no campo da saúde. Nesta dire- mada em demasia, pode gerar dependência. No entanto, em do-
ção, ao tratarmos das questões que envolvem adolescência e ses pequenas, é um estimulante, sem maiores prejuízos à saúde.
substâncias psicoativas, é importante diferenciarmos uso, abuso Vejamos o exemplo das medicações prescritas por psiquiatras,
e adição. Considerando a possibilidade de o uso se tornar abusi- como ansiolíticos e antidepressivos. Essas medicações são líci-
vo, vamos conhecer, também, os fatores de risco que aumentam tas, atuam sobre o cérebro e são comercializadas de forma con-
a probabilidade de o uso tornar-se problemático, bem como os trolada. Devem ser utilizadas com finalidade terapêutica. No en-
fatores de proteção que atuam na direção contrária. tanto, identificamos, inclusive entre adolescentes, uso indevido
O uso de substâncias deve ser pensado a partir de um dessas medicações que, por vezes, são prescritas para familiares
tripé formado pela pessoa usuária e sua história, a substância ou obtidas no mercado informal.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Em linhas gerais, as substâncias psicoativas são classificadas em: As substâncias mais utilizadas por adolescentes são o ál-
cool e o tabaco, seguidos pela maconha (cannabis) (MALTA et
1) depressoras do sistema nervoso central (bebidas
al., 2018).
alcoólicas, solventes ou inalantes, tranquilizantes ou
ansiolíticos, calmantes e sedativos, ópio e morfina);

2) estimulantes do sistema nervoso central (cafeína,


anfetaminas, cocaína e tabaco); e

3) perturbadoras do sistema nervoso central (ma- O nível socioeconômico, os territórios onde circulam e as
conha, cogumelos e plantas alucinógenas, alucinó- cenas de uso são muito importantes para definir quais substân-
geno sintético, êxtase e anticolinérgicos) (MALBER- cias estarão disponíveis para as (os) adolescentes. Por exemplo,
GIER; AMARAL, 2013). em festas eletrônicas, é comum o uso das drogas sintéticas que
alteram o estado de consciência e permitem experiências psico-
délicas (RAUPP; PEREIRA, 2022). Com recorrência, o uso dessas
Sobre a maconha, há discordâncias. Encontraremos substâncias nesses contextos tem um caráter experimental, e as
quem a classifique como substância depressora e quem a co- práticas de redução de danos são fundamentais para proteger os
loque entre as perturbadoras. Sobre isso, é importante reconhe- adolescentes.
cer que hoje há uma grande diversidade de apresentações da
maconha, inclusive a prensada – de menor custo –, que envolve
mistura com outras substâncias.

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

A redução de danos é um modo de cuidar, efetivado por drão abusivo de uso ou em dependência química. É necessário
meio de um conjunto de práticas com o propósito de evitar agra- investigar para conhecer o padrão de uso e como isso afeta sua
vos à saúde relacionados ao uso de substâncias psicoativas. A vida. O uso pode ser ocasional e, conforme afirmamos acima,
redução de danos se alinha aos princípios da integralidade e da ser recreativo ou para fins de socialização. Quando se percebe
universalidade do Sistema Único de Saúde. Todas as pessoas esse padrão de uso, o melhor é conversar e encontrar as formas
têm o direito de ser cuidadas, mesmo as que estão em uso abu- de proteção para que o uso não se torne abusivo ou provoque
sivo ou dependência de substâncias e não conseguem interrom- outros agravos à saúde. Nessa direção, a lógica da redução de
pê-lo (SURJUS; SILVA, 2019). Falar de redução de danos, quan- danos é fundamental. A redução de danos não acontece apenas
do se trata de adolescentes, é sempre delicado, porque envolve quando os problemas de saúde já estão instalados. A estratégia
admitir que adolescentes usam drogas. Não ofertar a redução de em questão serve para reduzir agravos.
danos a esse público, por outro lado, é negar um dado da reali-
dade e, em certa medida, ferir a base do Estatuto da Criança e do
Adolescente, pautada pela ideia de proteção integral.
Proposição 2 ?
Por quais motivos você acredita que o uso de drogas se
As finalidades dos usos dessas substâncias são várias. torna problemático para um adolescente em particular?
Temos usos ritualísticos (em contextos religiosos), usos recrea-
tivos, usos medicinais e, principalmente entre os adolescentes,
usos para vencer a timidez, na tentativa de superar as dificulda- Feedback positivo:
des de socialização. Por vezes, a cocaína é utilizada com este in- A droga não é a causa primeira dos problemas de um ado-
tuito: facilitar a interação com os demais quando a inibição é um lescente. Quando o uso se torna abusivo, geralmente a subs-
obstáculo para estar entre os pares. Encontramos, também, ado- tância se tornou uma resposta a uma história de sofrimento
lescentes que fazem uso, por exemplo, de maconha para aliviar psíquico e social.
momentos de ansiedade. Além disso, é muito comum o adoles-
cente experimentar substâncias psicoativas para conhecer o seu
efeito e para facilitar a construção de seu lugar no campo social, Feedback orientador:
uma vez que esse uso geralmente é compartilhado nos grupos
Importante escutarmos o adolescente para sabermos as
com os quais ele se identifica (SOUZA et al., 2015).
respostas. Responsabilizar a droga é silenciar os jovens e as
O fato de um adolescente fazer uso esporádico de uma pessoas que compõem sua história e sua rede social.
substância não significa necessariamente que esteja em um pa-
Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos
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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Muitas pessoas confundem o abuso de substâncias com Fatores de risco:


dependência, que pode ser psicológica e/ou química. Nos qua-
• Vulnerabilidade social e ausência de uma rede de pro-
dros de dependência, há perdas de laços sociais, e mesmo os
teção;
cuidados básicos, como higiene e alimentação, podem ser in-
terrompidos. O uso se torna compulsivo. Com frequência, nesse • O padrão de uso familiar e a “naturalidade” diante de um
quadro, adolescentes se colocam em situação de risco para ob- início precoce do uso, por exemplo, de álcool;
ter a substância, submetendo-se a diversos tipos de exploração,
como sexual, ou entrando para o mundo do crime para pagar • Relações em grupo que levam a uma necessidade de uso
pelo que consomem. É fundamental entendermos que a depen- de substâncias para ser aceito (situação mais complicada
dência é uma questão de saúde e assim deve ser tratada. Não é quando os adultos não estão atentos a esses movimen-
uma falha de caráter ou qualquer outro modo de desvio moral. tos);
Os Centros de Atenção Psicossocial para a Infância e para Ado-
• A escola opera como fator de risco quando é fonte de fa-
lescência (CAPSi), bem como os Centros de Atenção Psicosso-
tores estressantes, como práticas de bullying e cobran-
cial, que tratam os casos de álcool e de outras drogas (CAPSad),
ças excessivas que geram o sentimento de não ser bom
têm equipes que podem ser acionadas para realizar o cuidado
o suficiente, a não atenção às necessidades de cada pes-
necessário. Eventualmente, a internação para desintoxicação
soa, inclusive aos sinais apresentados pelos adolescen-
pode ser necessária e deve acontecer no âmbito de um hospital
tes que estão sendo alvos de violência;
geral, durando o tempo mínimo para que o tratamento possa se-
guir no contexto comunitário. • A glamourização de algumas substâncias pela publicida-
de e pelas redes sociais;
Precisamos conhecer os fatores de risco e os fatores de
proteção presentes na relação dos adolescentes com as subs- • A disponibilidade e facilidade de obtenção de substân-
tâncias psicoativas (SCHENKER; MINAYO, 2005). Reconhecer cias no território do jovem.
ambos os fatores nos ajuda a trabalhar no sentido da promoção
da saúde, ou seja, do cuidado ampliado que chega antes do
adoecimento.

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
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Fatores de proteção: Apresentamos, nesta seção, as substâncias psicoativas


na adolescência, diferenciando os vários tipos de uso e desta-
• A existência de uma rede de proteção com pessoas nas
cando a diferença entre uso ocasional, abusivo e dependência.
quais o adolescente confia e com quem pode contar;
Elencamos também os fatores de proteção e de risco, cujo co-
• Vínculos familiares produtores de acolhimento e um con- nhecimento nos auxilia a aprimorar as práticas de cuidado. Enfa-
texto relacional que permita o adolescente se expressar; tizamos, por fim, a necessidade de trabalharmos com a redução
de danos em contextos diversos, como escolas, festas e eventos,
• Autoestima e relações de amizade fundadas na solidarie- pelos quais circulam jovens, bem como em outros espaços que
dade e na partilha das estratégias de cuidado e proteção; agreguem adolescentes, como pistas de skate, centros de con-
vivência e de referência em juventudes e espaços destinados à
• Escolas que estimulam a aprendizagem, ofertam ativida-
prática de esportes. Dialogar é o melhor caminho, e não há diá-
des extraclasse (como artes e esportes) e desenvolvem
logo sem a escuta do adolescente acerca das suas experiências,
espaços de trocas e conversas sobre temas diversos. É
inquietações e dúvidas.
fundamental que a escola esteja atenta às necessidades
de cada pessoa e aos sinais de sofrimento que eventual-
mente venham a apresentar;

• Acesso às informações reais sobre o uso de substâncias


e seus efeitos, incluindo práticas de redução de danos.

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ADOLESCÊNCIA, ANSIEDADE E
CONTEXTOS SOCIAIS
A ansiedade é uma das formas mais recorrentes de ex-
pressão do sofrimento psíquico na atualidade entre adolescen-
tes, ao lado de outras condições clínicas, como a depressão e
a síndrome do pânico. Uma definição de ansiedade é: “reação
defensiva comum frente ao perigo ou situações consideradas Fonte: Hippopx
ameaçadoras. Caracteriza-se por um grande mal-estar físico e
psíquico, aflição, agonia” (ASSIS et al., 2007, p. 12). Nem toda ansiedade é patológica, portanto nem sempre
essa condição requer tratamento. É fundamental entendermos o
É muito importante termos isto em mente. A ansiedade é contexto no qual se encontra a pessoa ansiosa. Assim,
uma reação diante de uma situação de perigo real ou imaginário.
O mais intrigante é que a pessoa acometida por essa condição
[...] a ansiedade só deveria ser considerada
nem sempre consegue nomear o que lhe causa o medo e patológica quando exageradamente inten-
a necessidade de estar em situação de constante alerta. A sa, persistente, inadequada à idade ou à
fase do desenvolvimento e quando interfere
ansiedade é vivida não apenas como medo, mas também negativamente nas relações nos ambientes
como preocupação constante. Entre crianças e adolescentes, onde a criança circula (LIMA, 2022, p. 87).
a preocupação pode se centrar em agradar os outros de vários
modos, como tendo bom desempenho escolar. A ansiedade é uma resposta esperada diante de certas
circunstâncias. Talvez o melhor exemplo de ansiedade seja a de
Outro elemento importante é o fato de a ansiedade ser separação, muito vivida por crianças ao iniciarem a vida escolar.
vivida como uma experiência concreta que afeta o corpo, po- É natural que, depois de um tempo de convívio intenso com a fa-
dendo causar taquicardia, suor excessivo nas mãos e nos pés, mília, as primeiras idas para a escola gerem desconforto e medo;
tremores e até a sensação de morte iminente (nesses casos, fala- desconforto por haver o distanciamento de um contexto de pro-
mos de ataques de pânico). teção (quando a família funciona como fator protetivo) e medo

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por causa do desconhecido. A ansiedade de separação acome- a participação em grupos e o trabalho dirigido à família já são
te não apenas as crianças, mas também seus cuidadores princi- suficientes para sair do quadro de ansiedade apresentado. No
pais. Isso faz parte do processo de constituição do novo sujeito. entanto, a construção de um plano terapêutico demandaria mais
conhecimento sobre Maria e seu entorno.
Outras situações contextuais com forte potencial para
gerar ansiedade são as várias violências, elencadas na primei- É necessário compreender o pedido de ajuda e o que
ra parte deste módulo. As diversas formas de violência, como a o sofrimento do adolescente comunica para que possam ser
decorrente do tráfico de drogas, sobretudo para crianças e ado- construídas estratégias de cuidado adequadas. A elaboração de
lescentes que habitam em territórios mais vulneráveis, a violên- um plano de cuidado deve sempre considerar o adolescente,
cia intrafamiliar e o bullying no contexto escolar, são fatores que suas necessidades, interesses e disponibilidades, assim como
contribuem para o surgimento da ansiedade. os recursos disponíveis no território.

A manifestação da ansiedade, como a de qualquer outro Ainda refletindo sobre a ansiedade de Maria, é oportuno
sinal de sofrimento, requer, portanto, um olhar cuidadoso, inclu- lembrarmos que, na perspectiva da promoção da saúde (CZE-
sive para o contexto no qual a pessoa está inserida. Vamos lem- RESNIA; FREITAS, 2000), é necessário cuidar antes de o adoeci-
brar de Maria, cuja história foi brevemente apresentada no nosso mento se instalar. Nessa direção, cuidar de crianças e adolescen-
caso complexo. Maria é vítima de violência intrafamiliar e habita tes, no Brasil atual, envolve uma luta maior na esfera macropolítica
em um território em que as disputas entre facções e a violência para que Maria e outras crianças e adolescentes não cresçam em
policial são parte do cotidiano. meio às diversas violências, para que suas famílias tenham con-
dições dignas de existência e para que o racismo historicamente
Diante da história de vida de Maria e do contexto em que
associado à diferença entre classes possa ser superado.
ela estava, o sofrimento psíquico é uma resposta às adversida-
des vividas. Diante do exposto, tratá-la apenas com medicações As crises de ansiedade de adolescentes têm sido uma
e com psicoterapia seria insuficiente. Aliás, seria inadequado, questão recorrente e motivo de preocupação. Com a reabertu-
pois estaríamos tentando controlar os sintomas sem realizar ou- ra das escolas após o isolamento social que foi necessário ao
tras ações necessárias para tratar as causas do seu sofrimento. enfrentamento da pandemia do coronavírus, crises coletivas de
Cuidar de Maria envolve certamente ofertar um espaço de escu- ansiedade também passaram a acontecer, sendo, inclusive, vei-
ta para ela, mas requer, também, um trabalho dirigido à sua famí- culadas pela mídia.
lia. O que temos é insuficiente para afirmar que seu tratamento
envolverá o uso de medicações. Por vezes, a terapia individual,

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Tais situações não são novas na clínica com adolescen- to psíquico dos adultos ao redor, a redução das possibilidades
tes. É importante considerarmos a ansiedade como uma mani- de lazer, a perda de entes queridos, a dificuldade em realizar o
festação de sofrimento psíquico, que tanto diz respeito ao sujeito luto diante da impossibilidade de fazer os rituais de despedida, o
em sua singularidade quanto ao contexto no qual se encontra in- medo de morrer e de perder as figuras de referência. Como afir-
serido. Desse modo, os momentos de crise social e política tam- ma o psicanalista Joel Birman, a pandemia provocou: “a ruptura
bém contribuem para o surgimento de quadros de ansiedade. e a descontinuidade radical das práticas de sociabilidade e dos
laços intersubjetivos” (BIRMAN, 2020, p. 9).
Um exemplo de contexto produtor de medo, desamparo
e ansiedade foi a pandemia do coronavírus. O sofrimento psíqui- As crises de ansiedade podem acontecer individual e co-
co entre adolescentes, que já era preocupante antes da pande- letivamente. Quando a crise de uma pessoa desencadeia crise
mia, intensificou-se com a propagação do coronavírus, não ape- em outras, estamos falando do contágio psíquico. Tal forma de
nas pela questão sanitária, mas pelo fato de o país ter entrado em contágio foi descrita por Sigmund Freud (1921/2010), o criador
uma grave crise política e socioeconômica. da Psicanálise, no início do século XX, quando abordava outro
quadro clínico denominado de histeria. As crises de ansiedade
Considerando o impacto da pandemia na saúde mental
coletivas nas escolas, durante a travessia pandêmica, são um fe-
de jovens, o Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE) es-
nômeno em que vimos acontecer o contágio psíquico. O contá-
cutou 68.114 jovens entre 15 e 29 anos sobre como estavam se
gio acontece quando uma pessoa se identifica com algo expres-
sentindo. Entre os dados produzidos, vejamos alguns muito sig-
so pelo sofrimento de outra.
nificativos para o assunto sobre o qual estamos refletindo: “de 6
a cada 10 jovens relatam ansiedade e uso exagerado de redes
sociais; 5 a cada 10 sentem exaustão ou cansaço constante; e 4
a cada 10 têm insônia ou tiveram distúrbios de peso. (ATLAS DA
JUVENTUDE, 2022).

A pandemia se instalou em um contexto de indicadores


preocupantes na saúde mental. O distanciamento social neces-
sário ao enfrentamento da pandemia agregou fatores de agravo
ao sofrimento já existente, como: a impossibilidade de estar na
escola, a agudização da violência intrafamiliar e nos territórios
periferizados, a imersão nos conflitos familiares e no sofrimen- Fonte: ebiografia.com

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Essa coletivização da ansiedade, para além de uma ma-


nifestação de um sofrimento compartilhado por adolescentes,
pode ser tomada também como uma mensagem dirigida aos
adultos, uma mensagem cifrada que nos alerta sobre a neces-
sidade, depois da pandemia, de escutarmos os adolescentes
sobre como atravessaram esse tempo com suas famílias, como
estão, quais as dificuldades que sentiram quando retomaram as
atividades e assim por diante. Talvez os adolescentes estejam
nos dizendo que é impossível fingir que nada aconteceu e sim-
plesmente seguir adiante.

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NEM TODA TRISTEZA É PATOLÓGICA: Está sendo realizada uma pesquisa virtual sobre como
a pandemia afetou de modo mais específico a saúde mental

DIFERENCIANDO A DEPRESSÃO DA de adolescentes entre 12 e 17 anos. A pesquisa chama ConVid


Adolescentes - Pesquisa de Comportamentos e está sendo feita

CONDIÇÃO HUMANA DE FICAR TRISTE por meio do site: https://convid.fiocruz.br/index.php?pag=convi-


teadolescentes. Essa pesquisa é uma parceria entre Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de Minas Gerais
A depressão, assim como as outras formas de sofrimento
(UFMG) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
abordadas no presente módulo, tem sido muito recorrente nos
dias atuais, tanto em adultos quanto em adolescentes. Durante
A pesquisa mostra que:
a pandemia de Covid-19, as taxas de ansiedade e de depressão
cresceram de modo significativo. De acordo com a Organização
23,9% dos adolescentes relataram início
de problemas com o sono;
Mundial da Saúde, apenas no primeiro ano de pandemia, esse
crescimento foi de 25% na população em geral (WORLD HEAL-
TH ORGANIZATION, 2022).
31,6% dos adolescentes disseram se sentir tristes
durante a maior parte do tempo ou sempre; e

Em âmbito nacional, o relatório do 48,7% dos adolescentes se sentiam preocupados,


nervosos ou mal-humorados a maior parte do
Conselho Nacional de Juventude (2021), tempo ou sempre;
tratando de dados relativos à juventude,
61,6% No caso das meninas, os sentimentos de
+18%
destacou um aumento de 18% nos casos
preocupação, nervosismo e mau humor foram
de depressão entre jovens.
relatados por 61,6% das participantes.

O mesmo relatório destacou ainda um aumento O que seria mesmo depressão? Essa palavra é muito utili-
significativo na frequência de sintomas de depressão: zada hoje em dia, por vezes como sinônimo de tristeza. No entan-
to, na saúde mental, depressão diz respeito a uma situação muito
50% sentimento de 36% insônia
específica, um quadro clínico em que a pessoa não sente prazer
cansaço e exaustão
em nenhuma esfera da vida, tem alterações de sono (tanto pode
44% falta de motivação 33% ganho ou perda
passar a dormir muito, quanto ficar insone) e de apetite e pode
por atividades exagerada de peso
cotidianas ficar mais irritada, nervosa e sensível aos outros estímulos do

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meio ambiente. A depressão pode ser leve, moderada ou grave. circunstância da vida. Assim foi com a pandemia: aumentaram os
Na moderada, acontece um impacto significativo nas atividades casos de depressão, mas, também, os sintomas de um sofrimento
diárias (como o estudo) e, na grave, a falta de energia e a incapa- “normal”, que decorre de uma situação geradora de medo e de
cidade de sentir prazer pode fazer com que a pessoa pare de se desamparo, conforme falado anteriormente. A quebra da rotina e
alimentar e não consiga nem mesmo levantar da cama para rea- dos contatos presenciais contribuiu muito para isso.
lizar higiene pessoal ou fazer outra atividade. É muito importante
Precisamos entender que nem toda tristeza e nem todo
termos em mente que depressão não é tristeza nem uma res-
desânimo são sinais de depressão. Do contrário, vamos patologi-
posta a uma situação de perda (luto). Só quem pode realizar
zar (ou seja, tornar uma doença) sentimentos que fazem parte do
o diagnóstico de depressão é apenas um profissional da saúde
universo humano. No entanto, é verdade: esses são sentimentos
mental, nenhum diagnóstico deve ser feito com base em textos
pouco tolerados no mundo atual, marcado pela aceleração de
da internet.
forma geral e muitos ideais, os quais, ao não serem cumpridos,
FIGURA 3 - PROPAGAÇÃO DIAGNÓSTICA são tomados como signos de um fracasso pessoal (KEHL, 2009).
É natural que fiquemos tristes, desanimados, sem apetite e com
insônia quando estamos atravessando um momento mais delica-
do. No caso do adolescente, esse momento pode ser, por exem-
plo, a conclusão do ensino médio, quando são frequentes as
pressões escolares e familiares acerca do ENEM e vestibulares.
Por isso, é imprescindível analisar o contexto no qual um adoles-
cente está ao apresentar sinais de sofrimento psíquico.

Mesmo quando se configura clinicamente uma depres-


são, nem sempre é necessário tratamento medicamentoso. Ape-
nas com a avaliação clínica, conforme afirmamos anteriormente,
poderá se tomar uma decisão acerca do uso dos fármacos. Em
alguns casos, o uso de antidepressivos e, eventualmente, de an-
É necessário um especialista para levantar a história de siolíticos é importante. No entanto, mesmo nesses casos, outras
vida da pessoa, realizar uma avaliação clínica e entender se ações precisam ser realizadas, dentre as quais podemos desta-
realmente se trata de uma depressão ou se é uma outra situação, car a psicoterapia (individual ou em grupo), a participação em
por exemplo uma tristeza ou desânimo em resposta a uma oficinas, sobretudo as que utilizam a arte como linguagem, e a
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atividade física. Obviamente, não é necessário iniciar tudo de estar colaborando diretamente para o surgimento e/ ou para a
uma vez nem fazer todas as ações aqui destacadas. Os recursos manutenção do quadro depressivo (LEGNANI; ALMEIDA, 2020).
são decididos caso a caso e considerando o que há disponível
Por fim, vamos considerar que a adolescência envolve
no território. Contudo, a psicoterapia, em casos de depressão
um árduo trabalho de elaboração psíquica, que, por sua vez, en-
clinicamente diagnosticada, é recomendável, pois oportuniza
volve um luto pelas mudanças na imagem corporal e pelo lugar
trabalhar as questões relativas tanto à história de vida quanto às
que era ocupado na relação com os pais e com a escola enquan-
contingências que colaboraram para o desenvolvimento do qua-
to criança. A adolescência é uma das mais delicadas travessias
dro depressivo.
(LACADÉE, 2011). Assim, alterações de humor, irritabilidade e
Em muitas situações, o acesso à psicoterapia tem sido retraimento, em alguns momentos, podem acontecer. Acompa-
difícil. Vocês lembram de Ana, personagem do nosso caso com- nhar de perto – sem rotulação, estigmatização ou condenação
plexo? Ela havia sido diagnosticada havia 5 meses com ansie- – e estar disponível para escutar é um bom ponto de partida para
dade e depressão em uma UBS, mas estava, durante todo esse identificarmos quando as mudanças podem ser tomadas como
tempo, tendo acesso apenas ao tratamento medicamentoso. sinais da necessidade de visitar um especialista.
Sem um espaço de fala e escuta qualificada, os problemas
Existe tratamento e, caso consigamos ofertar uma socie-
existenciais e sociais atrelados à ansiedade e à depressão
dade mais justa, mais solidária, menos violenta e quiçá com mais
não podem ser devidamente trabalhados.
espaços para os adolescentes falarem dos seus afetos e de suas
As causas da depressão são várias e envolvem fatores inquietações, certamente teremos menos pessoas adoecidas. O
genéticos, a história de vida e o contexto no qual está o adoles- cuidado deve começar antes do adoecimento. Cuidar é também
cente. Por ser uma condição multicausal, é difícil isolar, em cada um ato político, porque o sofrimento psíquico sempre denuncia
pessoa, exatamente “a causa”. É mais viável e coerente mapear algo que não vai bem em nossos laços sociais.
possíveis elementos desencadeadores.

Quando tentamos explicar a depressão apenas como


uma disfunção cerebral, além de desconsiderar todos os proble-
mas existenciais pelos quais alguém pode estar atravessando,
ainda assumimos uma posição política muito preocupante, pos-
to que desresponsabilizamos todo o entorno social que pode

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ADOLESCÊNCIA, IMAGEM CORPORAL E Os transtornos alimentares podem incluir ingestão inade-


quada ou excessiva de alimentos, o que pode prejudicar o bem-

TRANSTORNOS ALIMENTARES -estar de um indivíduo. As formas mais comuns de transtornos


alimentares incluem anorexia nervosa, bulimia nervosa e trans-
torno de compulsão alimentar e afetam tanto mulheres quanto
Os transtornos alimentares (TA) descrevem doenças que homens.
são caracterizadas por hábitos alimentares irregulares e sofrimen-
Transtornos alimentares podem se desenvolver durante
to grave ou preocupação com o peso ou a forma do corpo, po-
qualquer fase da vida, mas geralmente aparecem durante a ado-
dendo originar prejuízos biológicos e psicológicos e aumento da
lescência ou a idade adulta jovem. Além disso, é possível afirmar
morbidade e mortalidade. A anorexia e a bulimia nervosas são os
que, na anorexia e na bulimia nervosas, geralmente, o peso e o
dois tipos principais de TA que podem apresentar alguns sinto-
formato corporal exercem marcada influência na determinação
mas em comum: preocupação excessiva com o peso, distorção
da autoestima dos pacientes, que, via de regra, encontra-se dimi-
da imagem corporal e medo patológico de engordar (CARMO;
nuída (CARMO; PEREIRA; CÂNDIDO, 2014).
PEREIRA; CÂNDIDO, 2014).

FIGURA 4 - QUESTIONAMENTOS EM TORNO DA AUTOIMAGEM Podemos dizer que muitos são os fatores de risco para
o desenvolvimento desses distúrbios, como fatores biológicos,
genéticos, sociais, culturais, estéticos, entre outros.

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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QUADRO 1 – TIPOS DE TRANSTORNOS ALIMENTARES

O homem ou a mulher que sofre de anorexia nervosa normalmente tem um


medo obsessivo de ganhar peso, recusa-se a manter um peso corporal saudá-
vel e tem uma percepção distorcida da imagem corporal. Muitas pessoas com
anorexia nervosa limitam ferozmente a quantidade de comida que consomem
ANOREXIA NERVOSA
e se consideram com sobrepeso, mesmo quando estão claramente abaixo do
peso. A anorexia pode ter efeitos prejudiciais à saúde, como danos cerebrais,
insuficiência de múltiplos órgãos, perda óssea, dificuldades cardíacas e infertili-
dade. O risco de morte é aumentado em indivíduos com essa doença.

Este transtorno alimentar é caracterizado por compulsão alimentar repetida,


acompanhada de comportamentos que compensam os excessos, como vômi-
tos forçados, exercícios excessivos ou uso frequente de laxantes ou diuréticos.
Homens e mulheres que sofrem de bulimia podem temer o ganho de peso e
BULIMIA NERVOSA sentem-se gravemente infelizes com o tamanho e a forma do corpo. O ciclo de
compulsão alimentar e purgação é, tipicamente, realizado em segredo, criando
sentimentos de vergonha, culpa e falta de controle. A bulimia pode ter efeitos
prejudiciais, como problemas gastrointestinais, desidratação grave e dificulda-
des cardíacas resultantes de um desequilíbrio eletrolítico.

Indivíduos que sofrem de transtorno de compulsão alimentar frequentemente


perdem o controle de sua alimentação. Diferentemente da bulimia nervosa,
episódios de compulsão alimentar não são acompanhados de comportamentos
compensatórios, como purgação, jejum ou exercícios excessivos. Por causa
disso, muitas pessoas que sofrem dessa condição podem ser obesas e com
TRANSTORNO DE COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA
maior risco de desenvolver outras condições, como doenças cardiovasculares.
Homens e mulheres que lutam contra esse distúrbio também podem
experimentar sentimentos intensos de culpa, angústia e constrangimento
relacionados à compulsão alimentar, o que pode influenciar a progressão do
distúrbio alimentar.

Fonte: Amorim (2019).

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Frequentemente, os sintomas surgem na adolescência,


coincidindo com a puberdade, uma etapa de significativa ma- Proposição 3 ?
turação biológica e psicológica. Além disso, efeitos negativos Como ocorre a inserção da pessoa na sociedade em casos
decorrentes de bullying, como rompimentos de relações sociais, em que o corpo não atende aos padrões hegemônicos so-
isolamento, entre outras, podem ter grande relevância para a ciais, como corpos gordos (poderíamos citar, igualmente,
compreensão dos transtornos alimentares e consequentes inter- corpos negros e/ou com deficiência)?
venções (DUARTE; PINTO-GOUVEIA; RODRIGUES, 2015).

Um ponto que merece destaque é o fato de os padrões


estéticos mudarem ao longo do tempo e serem diferentes de Feedback positivo:
uma cultura para outra. O conceito de beleza também é alterado, Corpos dissidentes, com frequência, sofrem violência, ex-
ou seja, os padrões de beleza sofreram grandes mudanças ao clusão, estigma e processos de invisibilização, o que desen-
longo da história. Em cada época é possível identificar a valo- cadeia, como consequência, experiências de sofrimento.
rização por um ou outro tipo físico, dos corpos rechonchudos
aos mais secos, das barrigas mais acentuadas aos abdomens
sequinhos, dos seios pequenos aos bustos fartos. Na contempo-
Feedback orientador:
raneidade, as redes sociais podem ser um instrumento de poten-
cialização dos distúrbios alimentares, uma vez que as pessoas Como atores ou mobilizadores sociais, em instituições de
que se expõem tendem a mostrar apenas aspectos positivos de saúde, em sala de aula, em espaços coletivos, no âmbito co-
si e nem sempre quem as observa tem condições de alcançar o munitário ou qualquer lugar, há que se comprometer com o
mesmo padrão, muitas vezes causados pela imposição de ideias reconhecimento daqueles que não seguem ou performam
e corpos perfeitos. o ideal de corpo instaurado em nossa sociedade.

É pelo corpo que o ser humano estabelece a constituição


do Eu e é também por meio dele que ocorre a inserção e
reconhecimento da pessoa na sociedade.

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Sendo assim, na busca pelo ideal de um corpo perfeito, Por que devemos ter cuidado com a Patologização da Vida?
bem como, pela busca de ser reconhecido, afetado, visualizado
e amado, é que podemos compreender que o sujeito passa a O que seria patologia? Etimologicamente, o termo patologia
utilizar como medidas frequentes para obter seu ideal, medica- origina-se do grego (“pathos” = sofrimento, doença; “logia” =
mentos, vitaminas milagrosas, elixir, suplementos, plásticas, ho- estudo). Desse modo, podemos pensar que patologia é a área
ras exaustivas em academias. da ciência médica que estuda as alterações morfológicas e
fisiológicas dos estados de saúde. Quando essas alterações
De acordo com Drabkin (2017), além de fatores genéticos, não são compensadas, podemos dizer que um indivíduo está
deficiências nutricionais, imagem negativa do corpo e baixa au- doente. Então o que significa dizer patologização da vida? Pois
toestima, é possível listar outros exemplos de fatores que contri- bem, esse é o tema que abordaremos nos próximos parágrafos.
buem para a ocorrência de transtornos alimentares. Por exemplo:
A patologização da vida se faz presente quando situa-
Fatores Ambientais: ções, vivências e expressões humanas passam a ser associadas
a categorias médico-psiquiátricas e, consequentemente, enqua-
• Dinâmica familiar disfuncional;
dradas na ideia de “transtornos mentais”.
• Profissões e carreiras que promovem a magreza e a perda
de peso; Sendo assim, na lógica da patologização e da medicali-
zação, condições humanas viram transtornos que devem não só
• Esportes esteticamente orientados, em que a ênfase é co-
ser tratados, mas medicalizados. Com isso, o que verificamos é
locada na manutenção de um corpo magro para melhorar o
desempenho. a patologia em detrimento da pessoa. A pessoa, a experiência,
bem como suas vivências, passam a ser secundárias, tendo em
• Traumas familiares e da infância: abuso sexual na infância, vista que o que conta é a classificação de comportamentos, dos
trauma grave;
sintomas e de suas expressões.
• Pressão cultural e/ou de pares entre amigos e colegas de
trabalho; Por exemplo, não é raro percebermos, em consultas, aten-
dimentos ou até mesmo em conversas do cotidiano, as pessoas,
• Transições estressantes ou mudanças na vida. sobretudo jovens e adolescentes, não se apresentarem mais pelo
nome e por outros elementos subjetivos, mas dessa forma: “Olá,
Abordamos várias situações vinculadas ao sofrimento psí-
sou Pedro e tenho ansiedade”. O que queremos dizer é que, na
quico na adolescência. Algumas são consideradas transtornos.
atualidade, é possível verificarmos uma atitude que transforma

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questões não médicas em questões médicas. Assim, aspectos FIGURA 5 - O MONSTRO-TRANSTORNO


da vida de diferentes ordens são transformados em “doenças”,
“transtornos”, “distúrbios”; questões coletivas são olhadas como
individuais; e problemas sociais e políticos são transformados em
biológicos. Uma das consequências desse cenário é a manuten-
ção da desresponsabilização de pessoas, instituições e gover-
nos por essa situação de sofrimento, discriminação e exclusão
(CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO, 2019).

Nesse sentido, criam-se rótulos, estigmatiza-se e apaga-


-se o indivíduo. Em outras palavras, deixa-se de ser um sujeito Para exemplificar essa discussão, gostaríamos que você
para ser o transtorno em si. refletisse conosco: diariamente, sentimos uma vastidão de senti-
mentos e emoções, como alegria, tristeza, raiva, nojo, medo, sur-
presa, apatia, vazio e tantos outros. Esses sentimentos e emoções
são produtos e reações de vivências e experiências humanas.

Imagine uma adolescente que não se sente pertencente


no contexto escolar, ambiente que, por diversas razões, produz
exclusão, tristeza, sofrimento, entre outros sentimentos e emo-
ções. Caso esta jovem ultrapasse a métrica da “normalidade”,
ou seja, aquilo que é esperado dela socialmente, ela terá seus
sentimentos, que são expressões humanas, em diagnósticos pa-
tológicos e, muitas vezes, será medicada. Nesse caso, o que ve-
rificamos é um modo de olhar, compreender e cuidar com base
em uma lógica universalizante, isto é, não percebemos a “ado-
lescente”, mas a “patologia”; passamos a cuidar e a tratar apenas
os sintomas.

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Por vezes, a medicalização desnecessária pode ser uma


Proposição 4 ? forma de silenciar as dores dos adolescentes para não perturba-
Você pensou nas possíveis razões para que essa jovem rem os adultos, ou porque não há outros recursos para ajudar os
não se sinta pertencente? adolescentes a lidarem com suas questões existenciais humanas.

De acordo com o Conselho Regional de Psicologia do


Estado de São Paulo (2019), a infância e a juventude estão em
Feedback positivo: risco, posto que são perceptíveis: a) a realização cada vez mais
O sofrimento não é uma expressão abstrata, mas produto de precoce de cirurgias em jovens por culto a um determinado tipo
uma série de fatores que precisam ser olhados, nomeados e, de beleza; b) usos alarmantes de Ritalina em vestibulandos ou
sobretudo, cuidados. estudantes pressionados por exigências acadêmicas; c) exces-
sivos diagnósticos de TDAH, TOD e dislexia em decorrência de
um suposto mau desempenho ou comportamento na escola; d)
Feedback orientador: a contenção química a adolescentes em medidas protetivas ou
socioeducativas; e) o capacitismo em relação às pessoas com
Analisar a situação de despertencimento começa pelo olhar
deficiência; f) a tendência ao silenciamento e apagamento das
atento ao sujeito em sofrimento. Quem é essa jovem? Qual
singularidades; g) entre outras tentativas de enquadramento e
é a raça/cor dessa jovem? Com quem vive? Onde mora?
captura das subjetividades por processos biologizantes e pato-
Como faz para chegar até a escola? Quantas refeições faz
logizantes, conforme ilustração a seguir.
por dia?

FIGURA 6 - MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA

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Tratar questões, comportamentos e condutas sociocul-


turais como questões biológicas é uma estratégia de poder, afi-
nal, isentamos as responsabilidades de todas as instâncias de
poder, que, nas entranhas, também geram e perpetuam esses
problemas. A individualização dos impasses e dos processos de
sofrimento, além de invisibilizar os conflitos gerados no e pelo
laço social tem, entre as suas maiores consequências, a patolo-
gização ou criminalização da expressão da dor, dos problemas,
desvios, disfuncionalidades e dificuldades de adaptação (ROSA,
2018).

Novamente, é preciso evitar julgamentos e rotulações


para dar visibilidade e reconhecimento ao que está por detrás
desses sintomas que crianças e adolescentes apresentam, levan-
do em consideração a singularidade de cada jovem para loca-
lizar o padecimento no contexto familiar, educacional, histórico
e social em que essa pessoa está inserida. O reconhecimento
das dimensões e condicionantes que envolvem os processos de
saúde, adoecimento e cuidado tende a instrumentalizar e poten-
cializar a promoção da saúde mental.

Por fim, é mais do que urgente lembrarmos que:

A saúde mental não é certamente o bem-estar psíqui-


co. A saúde é quando ter esperança é permitida. [...] O que
faz as pessoas viverem é, antes de tudo, seu desejo. [...] O
verdadeiro perigo existe quando não há mais desejo, quan-
do ele não é mais possível (DEJOURS, 1986, p. 9).

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AUTOLESÃO O nosso foco precisa ser o ensino de habilidades so-


cioemocionais para que esses adolescentes consigam lidar e
O comportamento autolesivo é um fenômeno que tem gerenciar as emoções de maneira mais funcional, por isso é tão
aumentado muito nos últimos anos entre o público adolescente, importante que nós, enquanto profissionais, estejamos prepara-
especialmente entre as meninas. Primeiramente, é importante dos para identificar e avaliar os riscos e promover ações de pro-
uma breve conceitualização para que você consiga diferenciar moção e prevenção nas escolas, nos serviços de saúde, entre as
o comportamento autolesivo das tentativas de suicídio. Trata-se famílias e na sociedade como um todo.
de fenômenos distintos, embora ainda haja confusão em alguns Os adolescentes, quando praticam a autolesão, fazem-no
momentos. para sentir alívio. É como se o comportamento de se machucar
Você também tem recebido essas demandas em seu ser- pudesse tirar a dor de dentro deles, uma tentativa de externalizar
viço? Tem tomado conhecimento de adolescentes que pratica- essa dor. A tentativa de diminuir a angústia pode ser compreen-
ram ou estão praticando autolesão? Você percebe um aumento dida, por fim, como uma forma de o adolescente se reorganizar
no atendimento desses casos? Pois é, muitos serviços e escolas internamente.
têm lidado com essas situações. Adolescentes também relatam, diante do comportamen-
A autolesão sem intenção suicida (ASIS) é caracteriza- to autolesivo, que não “sentem nada”, não “sentem dor”. Pare-
da como qualquer ato intencional que envolve agressão direta ce que a autolesão pode ser uma possibilidade de sentir algo.
ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio e não é É como uma tentativa de sobrepor a dor física à dor emocional,
aceito socialmente. As formas mais frequentes de agressão são uma possibilidade de suprimi-la.
os cortes, queimaduras, arranhões, mordidas e socos na parede Podemos olhar para o comportamento autolesivo como
(GIUSTI, 2013). É necessário oferecer escuta e cuidado aos ado- uma forma de comunicação para os adolescentes. Eles estão gri-
lescentes que as praticam, pois, se não houver acompanhamen- tando, não com a voz, mas com as marcas no corpo.
to e cuidado, há um risco aumentado de suicídio.
Dessa forma, o trabalho de educação e promoção da
Ao lidar com adolescentes que praticam a autolesão, pre- saúde deve unir esforços para auxiliá-los na resolução de pro-
cisamos focar em estratégias e recursos que visam à redução e blemas, bem como no gerenciamento das emoções por meio de
à resolução de problemas e de conflitos vivenciados, pois contri- habilidades alternativas.
buem para o comportamento autolesivo.

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Então, não se esqueça: a escuta atenta, acolhedora


e sem julgamentos é muito importante, além de necessária!
Escutar o adolescente e conhecer as situações que ele está
vivenciando é importante para identificarmos as vulnerabi-
lidades que eles possam estar enfrentando. Lembre-se: se
não olharmos para os adolescentes através da lente deles,
não vamos conseguir compreendê-los! Todos os sentimen-
tos e percepções precisam ser validados através da ótica
deles, pois isso gera conexão e pode facilitar nossa escuta
empática.

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IDEAÇÃO SUICIDA E SUICÍDIO O suicídio entre adolescentes e jovens vem


ganhando destaque no mundo nas últimas
décadas, sendo atualmente considerado
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2000), o sui-
a segunda causa de morte mundial de
cídio é compreendido como um fenômeno multidimensional, pessoas de 15 a 29 anos (WORLD HEALTH
envolvendo fatores biológicos, ambientais, genéticos e sociais. ORGANIZATION, 2019). A OMS assinala ainda
que 90% dos jovens que morrem por essa
Isso é importante, pois é muito perigoso querer dar uma resposta causa são de países de baixa e média renda (WORLD HEALTH
única a um problema tão grave e complexo! ORGANIZATION, 2019).

Essa realidade alarmante se reproduz no Brasil,


FIGURA 7 - COMPORTAMENTO SUICIDA conforme os números dos últimos Boletins
Epidemiológicos publicados pelo Ministério
da Saúde. Dados mostram que, de 2012 a
2016, ocorreram, em média, 11 mil suicídios
na população em geral, dos quais 3.043 foram
entre adolescentes e jovens, colocando o
suicídio como a quarta causa de morte desses grupos etários
(BRASIL, 2018).

Em julho de 2019, foi divulgado o último


Boletim Epidemiológico pelo Ministério da
Saúde com o perfil de óbitos por suicídio
na população a partir de 10 anos. Do total
de suicídios, 21.790 (27,3%) ocorreram na
faixa etária de 15 a 29 anos, dos quais 17.221
(79,0%) eram do sexo masculino e 4.567
(21,0%) do sexo feminino. No período de 2011 a 2017, verificou-
se um aumento no número de óbitos por suicídio entre jovens
de 15 a 29 anos, sendo 8,7% entre os homens e 7,3% entre as
mulheres (BRASIL, 2019).

O Mapa da Violência revela ainda que, de 2002


a 2012, houve crescimento de 40% da taxa
de suicídio entre crianças e pré-adolescentes
com idades entre 10 e 14 anos; na faixa etária
de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5%
(WAISELFISZ, 2014).

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A incidência de suicídios entre os adolescentes tem cha- indígenas, negros, LGBTQIA+, entre outros têm um risco aumen-
mado a atenção de pais, educadores, pediatras, hebiatras, pro- tado de morte, inclusive por suicídio.
fissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, entre
outros profissionais e pessoas da sociedade que lidam com ado-
lescentes. Estão todos os jovens no mesmo barco?
Proposição 5 ?
Qual é a relação entre o comportamento suicida e uma
Ao analisar a proporção de óbitos de acordo com a faixa exposição maior à vulnerabilidade, como vidas indíge-
etária e raça, é possível perceber que 44,8% dos suicídios ocorri- nas, negras, transsexuais e não heterossexuais?
dos na população indígena foi entre o público adolescente (10 a
19 anos), ou seja, número oito vezes maior que entre os brancos
e negros (5,7 em cada) na mesma faixa etária (BRASIL, 2017b). Feedback positivo:
Outro trabalho de referência é a cartilha Óbitos por Suicídio entre Devemos estar atentos aos efeitos subjetivos danosos da
Adolescentes e Jovens Negros, produzida no final de 2018 pelo falta de enquadramento do adolescente aos padrões mais
Ministério da Saúde em parceria com a Universidade de Brasília aceitos, que produzem marcas de exclusão, estigmatiza-
(UnB) com base nas informações referentes aos anos de 2012 a ção, violência, silenciamento, subordinação, criminaliza-
2016 do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do De- ção, etc. Essas marcas tendem a desencadear desamparo,
partamento de Informática do SUS. Constatou-se que os jovens comprometimento da dinâmica dos afetos e da autoestima,
negros têm risco aumentado de 45% de morte autoprovocada sensação de não pertencimento, assimilação da identidade
quando comparados aos jovens brancos (BRASIL, 2018). inferiorizada, fragilidade com a vida e o viver, entre outros
problemas.
Evidências internacionais indicam uma chance aumenta-
da de morte autoprovocada entre não heterossexuais e pessoas
transgênero, conforme pesquisas norte-americanas: 1) em uma
Feedback orientador:
amostra de 30 mil participantes, observou-se que a propensão
É preciso compreender o sofrimento em articulação com um
ao suicídio entre heterossexuais foi de 4%, enquanto a de não
contexto relacional - afetivo, social e político. Nesses termos,
heterossexuais foi de 20% (HATZENBUEHLER, 2011); 2) ao longo
o suicídio se localiza entre os processos de subjetivação,
da vida, 1,6% de pessoas cisgênero tentaram suicídio, enquanto
sempre singulares e as condições sociopolíticas ofertadas
41% das pessoas trans atentaram contra a própria vida (GRANT
ao sujeito em sofrimento (LIMA, 2020).
et al., 2010). Em suma, os grupos de maior vulnerabilidade, como

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No ano de 2017, a temática do suicídio foi amplamente


divulgada, especialmente o suicídio entre adolescentes, após Feedback positivo:
publicações da imprensa sobre o Desafio da baleia azul e a sé- Mesmo considerando um maior e efetivo registro de noti-
rie Os 13 porquês, que tiveram grande repercussão no Brasil e ficações, há uma curva ascendente de suicídios no nosso
no mundo. Provavelmente, você acompanhou ou ficou sabendo país. Isso tem nos obrigado a olhar, desmistificar e ampliar
dessa repercussão. Essa situação causou grande preocupação as informações, ações e políticas em prol da prevenção do
nos profissionais da educação e da saúde, assim como em pais, suicídio.
adolescentes e comunidades religiosas, mas também possibili-
tou trazer à tona um assunto que precisava ser discutido. Feedback orientador:
Trabalhar com a prevenção do suicídio diz respeito à vida,
mais do que à morte. A compreensão do tema, dos fatores
de risco e proteção, dos sinais de alerta, modos de ajuda,
escuta, cuidado e encaminhamento devem ser encaradas
como tarefas de todos nós. À vista disso, demarca-se a im-
Proposição 6 ? portância de um trabalho em rede, colaborativo, com a par-
Nos serviços em que você atua, houve aumento de de- ticipação de vários profissionais, instituições e da comuni-
mandas relacionadas às tentativas de suicídio? Você se dade para que a complexidade do fenômeno do suicídio
deparou com demandas de pais ou profissionais da edu- seja alcançada em uma perspectiva de saúde coletiva e dos
cação preocupados e pedindo ajuda? princípios do Sistema Único de Saúde.

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Em 26 de abril de 2019 foi instituída no Brasil a Política Mito 1: O suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem
Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, de acor- pleno direito a exercitar o seu livre-arbítrio.
do com a Lei no 13.819. Dentre alguns objetivos da lei citados
Realidade 1: As pessoas em risco de suicídio estão passando,
no artigo 3o, destaca-se: “VII - promover a articulação intersetorial
quase invariavelmente, por uma situação de crise que pode alte-
para a prevenção do suicídio, envolvendo entidades de saúde,
rar a sua percepção da realidade, interferindo em seu livre-arbí-
educação, comunicação, imprensa, polícia, entre outras” (RIO
trio. O acompanhamento em saúde e o tratamento de um trans-
GRANDE DO SUL, 2019). Essa política ratifica a notificação com-
torno mental, quando presentes, são pilares fundamentais na
pulsória, ampliando a obrigatoriedade também aos profissionais
prevenção do suicídio. Nós entendemos que a conexão social e
da educação.
a coletivização do cuidado também são fatores primordiais.
É muito importante que, ao atender ou lidar com
Mito 2: As pessoas que ameaçam se matar não farão isso; que-
adolescentes com tentativa de suicídio, as notificações sejam
rem apenas chamar a atenção.
efetuadas, pois, além de acionar a rede de equipamentos para o
acompanhamento, os registros dessas notificações nos revelam Realidade 2: A maioria das pessoas que tenta o suicídio fala ou
a realidade da situação e podem contribuir com a criação de dá sinais de suas ideias de morte.
políticas públicas para lidarmos com essa problemática.
Mito 3: Quando um indivíduo mostra sinais de melhora ou sobre-
São inegáveis o sofrimento mental e as várias adversida- vive a uma tentativa de suicídio está fora de perigo.
des enfrentadas por muitos adolescentes. No entanto, é preciso
tomar muito cuidado ao olhar para essa população e adotar a Realidade 3: Uma tentativa prévia é o principal fator de risco para
devida cautela para não caracterizar a adolescência pela ótica o suicídio. Os períodos mais críticos são quando a pessoa está
unilateral de risco, vulnerabilidade e fragilidade. melhorando da crise que a motivou a tentar e quando a pessoa
ainda está no hospital, na sequência de uma tentativa. A semana
Você sabia que existem alguns mitos sociais sobre o que se segue à alta hospitalar é um período em que a pessoa
suicídio? está particularmente fragilizada.

O Guia Intersetorial de Prevenção do Suicídio em Crian-


ças e Adolescentes (RIO GRANDE DO SUL, 2019) nos apresenta
alguns. Confira a seguir:

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Mito 4: Não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode Uma vez desconstruídos os mitos, vamos visitar os fato-
aumentar o risco. res de risco e de proteção do suicídio. De acordo com a OMS
(2000) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (2014):
Realidade 4: Falar sobre suicídio não aumenta o risco, muito
pelo contrário. Falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a Fatores de risco
angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.
• Baixo nível socioeconômico;
Mito 5: Apenas pessoas com transtornos mentais têm compor-
tamento suicida. • Inadequação às características relacionadas ao gênero e
questões relacionadas à identidade e orientação sexual, em
Realidade 5: Muitas pessoas com transtorno mental não desen-
função da LGBTfobia;
volvem comportamento suicida, e nem todas as pessoas que
morrem por suicídio têm transtorno mental. Comportamento • Tentativa prévia de suicídio;
suicida indica profundo sofrimento, não necessariamente trans-
torno. • Famílias disfuncionais;

Mito 6: Quem planeja se matar está determinado a morrer. • Violência intrafamiliar (abuso físico e sexual);

Realidade 6: Ao contrário: existe ambivalência, existe o desejo • Bullying;


de viver e morrer. A pessoa muitas vezes não deseja a morte, mas
• Morte dos pais/cuidadores;
uma saída para o seu sofrimento. Por isso, o acesso a suporte
emocional no momento certo pode prevenir o suicídio. • Abuso de álcool e de outras substâncias;

• Humor instável, raiva e impulsividade;

• Baixa tolerância à frustração;

• Ter sofrido algum tipo de trauma.

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Fatores de proteção Você conhece os sinais de alerta para o comportamen-


to suicida na adolescência? O Guia Intersetorial de Prevenção
• Bom relacionamento e apoio familiar;
do Suicídio em Crianças e Adolescentes (RIO GRANDE DO SUL,
• Habilidades e relações sociais; 2019) nos apresenta alguns deles:

• Confiança em si mesmo;
• Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança;
• Capacidade de procurar ajuda;
• Expressão de ideias ou de intenções suicidas;
• Integração social, como esportes, igreja, clubes, entre ou-
• Diminuição ou ausência de autocuidado;
tras atividades;
• Mudanças na alimentação e/ou hábitos de sono;
• Bom relacionamento com colegas da escola;
• Uso abusivo de drogas/álcool;
• Bom relacionamento com professores, entre outros adultos
de referência. • Alterações nos níveis de atividade ou de humor;

• Crescente isolamento de amigos/família;

• Diminuição do rendimento escolar;

• Autoagressão: mudanças no vestuário para cobrir partes do


corpo (usar blusas de manga comprida) ou resistir em parti-
cipar de atividades físicas que envolvem o uso de shorts ou
roupas de banho.

É possível citar ainda: tristeza profunda e duradoura;


sentimento de menos-valia; desejar uma tragédia ou se colocar
em risco; interesse por meios letais; discursos de despedida;
falas como “ando pensando em besteira”, “queria dormir e não
acordar mais”, “não aguento mais essa dor”, “quero morrer”, “vou
me matar”.

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Ainda de acordo com o Guia (RIO GRANDE DO SUL, • Histórico de tentativa;


2019) e com Botega (2015), podemos identificar a avaliação de
• Fatores agravantes (impulsividade, rigidez no propó-
risco conforme as três classificações abaixo:
sito, desespero, delirium, alucinações, abuso/depen-
Risco Baixo dência de álcool ou outras drogas);

• Autoagressão (por exemplo, autolesão); • Tem meio para se matar e já tomou providências
para o pós-morte.
• Ideação suicida passageira e sem plano;
Conversar sem criticar, oferecer apoio, ouvir com aten-
• Sem histórico de tentativa;
ção (a escuta empática é terapêutica e preventiva), amparar e
• Tem vida e apoio sociais. não julgar são atitudes importantes que podem fazer com que
os adolescentes se sintam mais acolhidos e compreendidos. O
Risco Médio reconhecimento de adolescentes em sofrimento é um ponto fun-
damental para a prevenção do suicídio.
• Ideação suicida frequente e persistente, sem plano;
Especialmente entre os jovens, existe o fenômeno do
• Com ou sem autoagressão (por exemplo, autolesão);
suicídio em grupo. Publicações de tentativas de suicídio ou de
• Histórico de tentativa; suicídio consumado de uma celebridade podem levar jovens a
comportamentos autodestrutivos em grupo. Isso pode aconte-
• Depressão e/ou transtorno bipolar;
cer, por exemplo, caso pertençam a comunidade que seguia o
• Ausência de impulsividade ou abuso/dependência estilo de vida e características da pessoa que morreu (ORGANI-
de álcool ou outras drogas; ZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006).

• Tem apoio social. O contágio do comportamento suicida é conhecido


como “efeito Werther”, que faz alusão à obra de Goethe intitu-
Risco Alto lada Sofrimentos do jovem Werther, em que o autor descreve o
suicídio do seu protagonista. Logo após a sua publicação em
• Tormento psíquico intolerável;
1774, muitos jovens europeus imitaram o personagem principal
• Ideação suicida frequente e persistente com plano nas vestimentas e métodos de morte.
definido, ameaça ou tentativa;

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

A abordagem e a divulgação de casos de suicídio de- Por fim, é importante garantirmos a educação em saúde
mandam um compromisso ético, conforme detalhado no Rela- na comunidade com relação à saúde mental do adolescente e
tório da OMS dirigido aos profissionais da mídia (ORGANIZAÇÃO das suas especificidades, que são próprias dessa fase da vida
MUNDIAL DA SAÚDE, 2000), de modo a garantir proteção às e que podem interferir de maneira muito significativa na com-
pessoas em sofrimento, assim como àquelas que perderam seus preensão desse sujeito. A sensibilização, desestigmatização e
entes por suicídio. informações acerca do fenômeno do suicídio são tarefas impera-
tivas para toda a sociedade. Somos todos, se empregarmos uma
Em contraposição, existe o efeito Papageno, referente a
escuta acolhedora e isenta de julgamentos morais e/ou religio-
uma ação informativa e preventiva adequada, que provoca a mi-
sos, possíveis agentes de prevenção do suicídio.
nimização do comportamento suicida. A adoção de iniciativas e
políticas de prevenção de amplo acesso é fundamental para que
o fenômeno ocorra.

Ademais, existe um trabalho de “prevenção para as fu-


turas gerações” nomeado de Posvenção (SHNEIDMAN, 1973).
Posvenção é todo cuidado prestado às pessoas que perderam
alguém por suicídio, também conhecidos por sobreviventes,
cujos objetivos são: a) trazer alívio dos efeitos relacionados ao
sofrimento e à perda; b) prevenir o aparecimento de reações ad-
versas e complicações do luto; c) minimizar o risco de comporta-
mento suicida nos enlutados por suicídio; d) promover resistên-
cia e enfrentamento em sobreviventes. Sem ajuda apropriada,
sobreviventes por suicídio, especialmente crianças, podem
experienciar um luto traumático e complicado – fenômeno que
será abordado a seguir.

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

PERDAS E LUTOS NAS ADOLESCÊNCIAS aflição. Por vezes, esse novo cenário que envolve sexualidade,
menstruação, uma nova voz, uma nova performance, etc., ocorre

E JUVENTUDES sem mediação, nomeação e/ou reconhecimento social, ficando


o sujeito à deriva do seu próprio e novo corpo. Nesse sentido, é
muito importante que, nessa fase da vida, os adultos de referên-
Luto é definido como uma “reação à perda de uma pes- cia para esse adolescente enlutado mantenham-se disponíveis e
soa querida ou de uma abstração que esteja no lugar dela, como estejam prontos a ajudar e ouvir, especialmente quando se tratar
a pátria, liberdade, ideal, etc.” (FREUD, 2011, p. 47). Conforme dessa ou de qualquer outra situação de luto.
elucida Freud, o luto corresponde à resposta a uma perda sig-
Nesses momentos, são comuns e esperados diversos
nificativa que carrega um estado de ânimo doloroso, em que o
sentimentos e reações, que podem ser vivenciados de maneira
mundo se torna pobre e vazio. Expressa-se pela perda de interes-
contraditória, como tristeza e alívio; saudade e raiva; culpa e tran-
se pelo mundo externo, tristeza e desânimo profundos, inibição,
quilidade. Essas reações também podem ser físicas, e o adoles-
retraimento, distanciamento de toda atividade sem relação com
cente enlutado pode sentir dores no corpo, náuseas, dores de
a memória do morto ou do objeto perdido, relação distinta com
estômago, dificuldades para se concentrar, para dormir e assim
o tempo, etc. Apesar de envolver afastamentos daquelas que são
por diante.
consideradas atitudes normais e esperadas perante a vida, não é
uma condição patológica, não podendo, portanto, ser submeti- O luto pode afetar a pessoa de forma integral, em todos
do a tratamento médico. os seus aspectos: físico, emocional e espiritual. É um processo
permeado por muitos sentimentos. No entanto, é importante lem-
O luto não é um evento, mas um processo natural, parti-
brar que nem todo adolescente enlutado vai precisar de acom-
cular e com tempo próprio que acontece quando perdemos algo
panhamento psicológico – aliás, é uma pequena parcela que vai
ou alguém significativo para nós. Scavacini (2019) traduziu a sin-
necessitar –, porém a escuta, o acolhimento e o apoio são muito
gularidade do luto por meio da metáfora da digital da identidade,
importantes em todo processo de luto. Conforme Tanis (2009), o
fenômeno impossível de se repetir de modo idêntico.
adolescente se depara com muitos sentimentos e emoções que
Algumas especificidades fazem parte do luto do adoles- ainda não sabe lidar, e é necessário um tempo para que consiga
cente. Elas estão relacionadas e são influenciadas por essa fase elaborar as experiências de forma simbólica.
específica da vida. Um dos lutos que o adolescente enfrenta é
Os adolescentes vivenciam as mesmas reações ao luto
a perda do corpo infantil, acompanhado por alterações e/ou ex-
que os adultos, como angústia e estresse, e percebem ameaça-
plosões hormonais e físicas, desconhecimento, desconforto e
Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos
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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

da a sensação de amparo e segurança. Esses sentimentos con- que envolve atenção às mudanças, realização de novas ativida-
tribuem para que eles se sintam mais devastados pela excessiva des, evitação ou negação do pesar e foco em novos laços, rela-
confusão geral que se estabelece (MOTA, 2008). cionamentos e papéis. Nessa compreensão, é esperado que a
pessoa, pós-perda, esteja no primeiro polo e, gradualmente e de
O luto por morte é um dos muitos eventos frequentes na
modo descontinuado, aproxime-se da restauração. Para Stroebe
vida de um ser humano, apesar disso, é uma das experiências de
e Schut (2001), o modo de enfrentamento e a construção do sig-
estresse mais graves e potencialmente danosas (PARKES, 2009).
nificado acontecem na oscilação entre a perda e a restauração,
Em outras palavras, a perda decorrente da morte de uma pessoa
de modo que o equilíbrio entre esses polos favorece a elabora-
próxima pode acarretar uma importante desorganização na vida
ção do luto.
dos adolescentes. Dependendo do vínculo e da personalidade
desse adolescente com a pessoa falecida, as sensações de estar FIGURA 8 – MODELO DO PROCESSO DUAL DO LUTO
perdido, de desespero e choque podem desenhar a experiência.
ORIENTAÇÃO PARA A PERDA ORIENTAÇÃO PARA A RESTAURAÇÃO
Perder uma pessoa próxima pode, também, despertar no adoles-
cente a consciência de sua própria morte, abalando os sentimen-
tos de resistência e força geralmente encontrados nessa fase da - LIDAR COM AS
- ELABORAÇÃO DO LUTO MUDANÇAS NA VIDA
vida (DOMINGOS; MALUF, 2003). OSCILAÇÃO SEM O ENTE QUERIDO
- VER FOTOGRAFIAS
- RETOMAR AS TAREFAS
Uma referência sobre o tema do luto, aplicada a qualquer - FALAR SOBRE O ENTE DO DIA A DIA
QUERIDO MORTO
faixa etária, que tem sido amplamente empregada na atualida-
- FAZER COISAS NOVAS,
- RUMINAÇÃO
de é de Stroebe e Schut (1999; 2001): Modelo do Processo Dual SE DISTRAIR

do Luto. De base adaptativa, o modelo é orientado, de um lado,


para a perda e enfrentamento da dor: intromissão do pesar, re-
memoração das lembranças, contato com fotos da pessoa que Modelo do Processo Dual do Luto
se foi, continuidade do vínculo, evitação das tarefas de restabe-
lecimento; de outro, para a restauração e enfrentamento da vida, Fonte: adaptado de Stroebe e Schut (1999).

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

duração do luto, podendo contribuir para o diagnóstico de luto


Proposição 7 ? crônico.
Como podemos acolher e garantir um espaço de cuida-
É importante considerar que o processo de luto do
do ao adolescente e jovem enlutado?
adolescente sofre influência tanto da relação do sujeito com
a pessoa que se foi, como da relação do sujeito com aquelas
Feedback positivo: que ficaram, uma vez que o processo de reconhecimento,
É muito importante que os adolescentes enlutados se sin- acolhimento e/ou validação por adultos do círculo de
tam acolhidos e escutados em sua dor. No caso de um luto convivência do sujeito pode facilitar (ou dificultar) o processo
por morte, é fundamental que eles possam ter a oportuni- de luto. Toda sociedade tem um conjunto de expectativas a
dade de contar e recontar quantas vezes forem necessárias respeito do luto, que respondem às seguintes perguntas: Quem?
suas histórias com a pessoa querida que faleceu e relatar Quando? Como? Onde? (DOFA, 1989). A falta de legitimidade
qual a representação dessa pessoa na vida deles, como ocorre, frequentemente, pelo desconhecimento de como
aconteceu essa perda, como eles estão lidando com essa ajudar um adolescente enlutado ou mesmo por experiências
perda no momento, etc. Narrar essa dor, pode torná-la mais de perdas “não autorizadas”. A possibilidade de ser enlutada é
amena, mais suportável de ser sentida, além de ampliar as um pressuposto para a vida que importa, afirma Judith Butler
ferramentas de ressignificação. (2015). Assim, designamos aqui mortes decorrentes de chacina,
em periferia e mesmo perda de um pet, que podem ocorrer sem
reconhecimento, narrativa ou qualquer tipo de manifestação
Feedback orientador: social da perda.
A escuta de um jovem enlutado demanda a legitimação e
Você já se deparou com uma situação assim? Já teve a
reconhecimento da dor do jovem; implica ocupar um lugar
oportunidade de atender ou lidar com um adolescente enlutado?
de testemunho da perda e da travessia para um novo “eu”.
É importante que os adolescentes encontrem ambientes
Parkes (2009) afirma que mortes súbitas, inesperadas, e pessoas que os ajudem a construir recursos para elaborar
prematuras e violentas, em especial o homicídio e o suicídio, têm as perdas, espaços em que se sintam seguros e autorizados a
risco aumentado de originar problemas, como traumas e luto expressar sentimentos decorrentes do luto sem serem julgados,
complicado. As perdas traumáticas abalam as premissas básicas criticados ou cobrados.
de segurança e, por isso, comumente aumentam a intensidade e

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

ENCERRAMENTO DO MÓDULO As experiências de dor – aqui expressadas de modo pri-


vilegiado pelas adições, ansiedade, tristeza, transtornos alimen-
tares, autolesão, suicídio e luto – devem ser compreendidas no
contexto de uma rede complexa que envolve a interseccionali-
Não há uma régua para medirmos o sofrimento. Talvez o dade, os modos de viver e de socializar, as oportunidades, a rede
sofrimento de um adolescente possa ser lido apenas como “uma de apoio, o acesso à educação e à saúde, entre outros condicio-
tentativa de chamar a atenção”. Pois bem: dê atenção! Olhe-o! nantes sociais. Dito isso, torna-se evidente a necessidade de res-
Escute-o! ponder às manifestações de sofrimento com uma pluralidade de
ferramentas de enfrentamento, de ações e de políticas públicas
Ao banalizar o sofrimento do jovem ou adolescente, cor- que garantam direitos e promovam saúde, segurança, dignida-
remos o risco de intensificar esse sofrimento. Por exemplo, na de, esperança e formas de coletivização do cuidado.
tentativa de amparar e ouvir o adolescente que está vivencian-
do alguma violência, por vezes passamos, enquanto sujeitos, a
comparar o sofrimento dele com o nosso e a minimizar esse sofri-
mento, considerando-o fraco ou simplesmente uma mera tentati-
va de “chamar a atenção”.

Antes de tudo, precisamos desenvolver uma escuta aco-


lhedora, sem julgamentos, na tentativa de entender e construir
em conjunto possibilidades de ação e superação do sofrimento
e minimização das violências, com a diminuição da culpa, de-
samparo e despertencimento.

Na abordagem crítica sobre dores, sofrimentos e transtor-


nos mentais, pudemos observar ainda os riscos de considerar
certos sinais, sintomas ou diagnósticos como um problema ape-
nas do indivíduo. Tal compreensão desresponsabiliza todos os
atores sociais relacionados ao adolescente.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

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Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


53
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

MINICURRÍCULO DOS AUTORES


Paulo Vitor Palma Navasconi

Psicólogo, professor e membro do coletivo Yalodê-Badá e do Nú-


cleo de Estudos Interdisciplinar Afro-Brasileiro da UEM (NEIAB).
Graduado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Espe-
cialista em Psicologia Social. Mestre e Doutor em Subjetividade
e Práticas Sociais na Contemporaneidade pela Universidade
Estadual de Maringá. Autor do livro Vida, Adoecimento e Suicí-
dio: racismo na produção do conhecimento sobre jovens negros
LGBTTIs, publicado no ano de 2019.

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


54
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

MINICURRÍCULO DOS AUTORES


Estela Ramires Lourenço

Psicóloga e consultora em Saúde Mental na Escola. Doutoranda


do PPG Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela UNI-
FESP. Mestra em Ensino em Ciências da Saúde pela UNIFESP.
Especialista em Autolesão, Prevenção e Posvenção do Suicídio
pelo Instituto Vita Alere-SP. Especialista em Gestão em Saúde
pela UFSJ. Especialista em Gestão de Pessoas e Projetos Sociais
pela UNIFEI. Membro da Associação Brasileira de Estudos e Pre-
venção de Suicídio (ABEPS).

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


55
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

MINICURRÍCULO DOS AUTORES


Vládia Jamile dos Santos Jucá

Psicóloga pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mes-


trado em Comunicação e Cultura e doutorado em Saúde Públi-
ca, ambos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Realizou
estágio pós-doutoral em teoria psicanalítica pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora dos cursos de gra-
duação de pós-graduação do Departamento de Psicologia da
UFC, em que integra o grupo de Pesquisas e Intervenções sobre
Violências e Produção das Subjetividades (VIESES). Desenvolve
pesquisas e práticas de extensão voltadas para adolescentes em
contextos de vulnerabilidade, por meio do diálogo entre a teoria
psicanalítica e a saúde mental coletiva.

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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1 Título do material
Podcast “Psicanálise de Boteco”. Episódio “Crise de Pânico e e a Psica-
nálise”

O podcast aborda os temas da ansiedade e das crises de pânico que po-


dem ser compreendidas como momentos nos quais a pessoa é tomada
por uma angústia intensa. De modo leve, com exemplos do cotidiano,
Alexandre Patrício de Almeida e Felipe Pereira Vieira apresentam algu-
mas reflexões sobre essas formas de manifestação do mal-estar a partir
Sinopse, resumo, contexto, referência de contribuições da teoria psicanalítica.

Referência: Crise de Pânico e a Psicanálise. Locução de Alexandre Patrí-


cio de Almeida e Felipe Pereira Vieira. São Paulo: 05 de agosto de 2022.
Disponível em: <https://open.spotify.com/episode/2Ch7av994DHg2nH-
86zPUPa?si=1348bfff1ebc49cf>. Acesso em 12 de out. de 2022.

O material permite, através de uma transmissão clara, entendermos


Contribuições do material para o estudo do tema melhor como a ansiedade e o pânico se articulam com a história de vida
e as contingências presentes na vida das pessoas.

https://open.spotify.com/episode/2Ch7av994DHg2nH86zPUPa?-
Link
si=1348bfff1ebc49cf

Módulo: Adolescências e Juventudes: Dores e Sofrimentos Específicos


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material de apoio
2 Título do material Guia de Saúde Mental para Adolescentes de 11 a 14 anos

Este manual é dirigido para os adolescentes de 11 a 14 anos e pode ser


trabalhado em contextos diversos: educação, SUS e SUAS. Tem como
intuito ajudar as(os) jovens a reconhecer suas emoções, bem como refle-
tir quando as mesmas são respostas esperadas diante de situações do
cotidiano ou quando se tornam “patológicas”, no sentido de indicarem
Sinopse, resumo, contexto, referência que algo não vai bem e precisa ser melhor compreendido.

Referência: Quesada, A. A. et al. Guia de saúde mental para adolescentes


| 11 a 14 anos. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2020. <Disponível
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_saude_mental_
adolescente_11_14_anos.pdf>. Acesso em 12 de out. de 2022.

O manual serve sobretudo para realizar trabalhos com adolescentes em


uma perspectiva de educação em saúde. É muito importante não apenas
Contribuições do material para o estudo do tema fornecer informações a elas e eles, mas sobretudo utilizar de recursos
como o manual para ajudá-los a reconhecer e falar sobre suas emoções e
as dificuldades que atravessam.

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_saude_mental_ado-
Link
lescente_11_14_anos.pdf

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material de apoio
3 Título do material
Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no
Brasil

Este Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes


no Brasil reúne uma análise inédita dos dados de violência letal e sexual
Sinopse, resumo, contexto, referência contra crianças e adolescentes no país, compilando as informações dos
registros de ocorrências das polícias e de autoridades de segurança
pública das 27 unidades da federação.

Como é explicitado no documento, é um trabalho inédito, é uma


importante contribuição para o entendimento do fenômeno da violência
Contribuições do material para o estudo do tema contra crianças e adolescentes no Brasil. É, também, um chamado à
ação. Meninos e meninas têm o direito de viver e se desenvolver livres da
violência; garantir-lhes esse direito é uma obrigação de todos.

https://www.unicef.org/brazil/media/16421/file/panorama-violencia-letal-
Link
-sexual-contra-criancas-adolescentes-no-brasil.pdf

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4 Título do material Pro dia Nascer Feliz 

As angústias e inquietações do adolescente, e, em especial, a maneira


como ele se relaciona com um ambiente fundamental em sua formação:
a escola. Filmado em três estados brasileiros com classes sociais distin-
tas, Pro dia nascer feliz desenha um diário de observação do adolescen-
te brasileiro. Professores também expõem seu cotidiano profissional,

Sinopse, resumo, contexto, referência ajudando a pintar um quadro completo das desigualdades e da violência
no país a partir da realidade escolar.

Ficha Técnica: Título Original: Pro Dia Nascer Feliz. Origem: Brasil, 2006.
Direção: João Jardim. Roteiro: João Jardim. Produção: Flávio R. Tam-
bellini e João Jardim. Fotografia: Gustavo Hadba. Edição: João Jardim.
Música: Dado Villa-Lobos.

Este documentário acaba por ilustrar o cenário desigual em que vivemos.


Deste modo, nos são apresentadas diversas escolas, em situações
diferentes, levando a (inevitavelmente) compararmos uma com a
Contribuições do material para o estudo do tema outra. É possível problematizar diversas questões como processo de
identidade, violências, Bullying, pertencimento, sexualidade, família,
orientação profissional, projeto de vida, dentre outros atravessamentos
da adolescência

Link https://www.youtube.com/watch?v=nvsbb6XHu_I

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material de apoio
5 Título do material Elena (2012)

Ao viajar para Nova York, Elena segue o sonho de se tornar atriz de


cinema e deixa no Brasil uma infância vivida na clandestinidade, devido
à ditadura militar implantada no país, e também a irmã mais nova, Petra,
Sinopse, resumo, contexto, referência de apenas sete anos. Duas décadas depois, Petra, já atriz, embarca para
Nova York atrás da irmã. Em sua busca, Petra apenas tem algumas pistas,
como cartas, diários e filmes caseiros. Ela acaba percorrendo os passos
da irmã até encontrá-la em um lugar inesperado.

Elena aborda temas difíceis, mas necessários, principalmente se


pensarmos no processo da adolescência. Sendo assim, Elena toca
em assuntos sensíveis acerca de suicídio, depressão, desilusões e
Contribuições do material para o estudo do tema
finitudes. É um excelente instrumento para discutirmos e refletirmos
sobre o processo de vida e morte, principalmente na juventude e na
adolescência

Link https://www.youtube.com/watch?v=JG87q2zdw7I&t=564s

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6 Título do material Meninas

O documentário mostra, por meio de casos específicos, uma situação


social geral: a gravidez precoce em ambientes de carência social. Sua
disposição é a de coletar experiências individuais para ilustrar um conhe-
Sinopse, resumo, contexto, referência cimento sobre esse fenômeno social.

Direção: Sandra Werneck; Roteiro: Bebeto Abrantes; Lançamento: 5 de


maio de 2006

O documentário busca abordar e mostrar como as jovens lidam com os


desafios de uma gestação precoce, as mudanças fisiológicas, a relação
Contribuições do material para o estudo do tema
com as famílias, namorados, os desafios da maternidade, os estudos e as
esperanças para o futuro.

Link https://www.youtube.com/watch?v=bXbToN1lLPY

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material de apoio
7 Título do material Cartilha para Pais e Educadores Prevenção do Suicídio na Internet

Essa cartilha foi pensada com a intenção de auxiliar pais, mães, respon-
sáveis e educadores a identificar situações de sofrimento emocional e de
Sinopse, resumo, contexto, referência
risco em adolescentes e de discutir abertamente a prevenção do suicídio
na internet incluindo atitudes que promovam a saúde mental

Este material apresenta informações importantes sobre o uso seguro da


rede e alguns pontos que merecem atenção e cuidado, especialmente
se tratando de adolescentes expostos a conteúdos dos mais variados
Contribuições do material para o estudo do tema
tipos e qualidades e que se relacionam com a internet de um modo
próprio. Além disso, este material tem por objetivo alertar para os riscos e
desconstruir alguns mitos que existem em torno deste universo.

http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2019/11/20190262-carti-
Link
lha-para-pais-prevencao-do-suicidio-na-internet.pdf

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8 Título do material O Suicídio e os Desafios para a Psicologia 

Este livro é fruto da transcrição dos debates online “Suicídio: uma ques-
tão de saúde pública e um desafio para a Psicologia clínica” e “Suicídio:
o luto dos sobreviventes”, realizados, respectivamente, pelo Conselho
Federal de Psicologia (CFP), em 24 de julho e no dia 21 agosto de 2013.
Sinopse, resumo, contexto, referência
O intuito foi chamar atenção para uma situação que retira a vida de mi-
lhões de pessoas em todo mundo e que pode ser evitada, especialmente
por meio do apoio psicológico para os que atentam contra a própria vida
e para aqueles que vivenciam o luto da perda

Este material é uma referência para as(os) psicólogas(os) que atuam na


área e para ações futuras da Psicologia, pautadas em políticas públicas
que busquem dar assistência à questão do suicídio com análises
Contribuições do material para o estudo do tema sociais e psicológicas aprofundadas voltadas para dirimir esse tipo de
situação. Cabe salientar que, apesar de ser um material específico para
profissionais da Psicologia, este material é rico para as demais áreas de
atuação, principalmente por ter uma sessão com dúvidas e respostas.

http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2019/01/20190011-Suici-
Link
dio-e-os-desafios-para-psicologia.pdf

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9 Título do material Combate ao Racismo Institucional: essa luta também é sua

O presente volume – Combate ao Racismo Instucional: essa luta também


é sua – foi idealizado para fornecer informações básicas e análises das
várias formas de racismo e discriminação racial que ocorrem na socie-
dade brasileira. Os principais objetivos são incentivar o diálogo e sugerir
Sinopse, resumo, contexto, referência
estratégias de combate ao racismo institucional. Além disso, possibilitar
o contato com os interessados em tornar mais eficaz a compreensão de
como o racismo funciona, seus impactos e como podemos mitigar as
práticas racistas ocorridas diariamente no interior das instituições.

A Cartilha desenvolvida fornece informações sobre as múltiplas formas


de racismo e também incluem sugestões e estratégias anti racistas
Contribuições do material para o estudo do tema que podem ser utilizadas nos diversos espaços institucionais: escolas,
empresas, instituições em geral, para incentivar o respeito às diferenças e
aos direitos humanos.

https://www.neca.org.br/wp-content/uploads/20190926cartilhacomba-
Link
teracismo.pdf

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10 Título do material
Vamos falar sobre sexualidade? Material educativo para promover a saú-
de sexual e reprodutiva na adolescência

Este material foi produzido na Escola de Enfermagem da Universidade


de São Paulo (USP) com apoio financeiro da Pró-Reitoria de Pesquisa
da Universidade de São Paulo, mediante o programa Olimpíada USP do
Sinopse, resumo, contexto, referência
Conhecimento, e é destinado aos adolescentes. Seu objetivo é colaborar
na promoção da saúde sexual e reprodutiva na adolescência por meio
do acesso a informações educativas e qualificadas.

O conteúdo foi elaborado buscando criar um material seguro para


discutir temas como a autoestima, o corpo, as mudanças físicas e
emocionais que ocorrem em ambos os sexos na adolescência, as
Contribuições do material para o estudo do tema
expressões da sexualidade, o sexo e as responsabilidades que devem ser
assumidas ao praticá-lo, principalmente na prevenção das IST e da Aids e
da gravidez não planejada.

Link http://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_sexualidade.pdf

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11 Título do material Atenção psicossocial a crianças e adolescentes negros no SUS

Neste caderno as leitoras e leitores passarão por textos que discutem


temas como a Eugenia, o Racismo, os Determinantes sociais de saúde
mental, as Drogas lícitas e ilícitas, sobrepostos pelo Estigma e a exclusão.
Sinopse, resumo, contexto, referência A partir do SUS, na RAPS, pelo CAPSi, na perspectiva dos Direitos, apre-
sentam saídas pelos Projetos Terapêuticos Singulares (PTS), consideran-
do a Representatividade, na Intersetorialidade, em Redes, que pressupõe
Territorialidades e a Participação e Controle Social.

A necessidade de aprimorar correlações entre a saúde mental e a


questão racial está colocada, dado todos os indicadores relacionados
à mortalidade e morbidade da população preta e parda (negra) e os
Contribuições do material para o estudo do tema poucos estudos que estabelecem correlações entre sofrimento psíquico
e raça/cor, deste modo, este material é rico para pensar adolescências,
juventudes e os efeitos psicossociais do racismo neste momento tão
importante do desenvolvimento humano.

http://www.ee.usp.br/cartilhas/Cadernos_de_textos_Atencao_psicosso-
Link
cial_a_criancas_e_adolescentes_negros_no_SUS.pdf

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12 Título do material 2h37

A vida de seis estudantes do ensino médio está prestes a mudar. Em um


dia normal de escola, às duas e trinta e sete da tarde, uma tragédia está
Sinopse, resumo, contexto, referência
marcada para acontecer, afetando a vida de um grupos de adolescentes
e seus professores, que aos poucos têm seus segredos revelados.

Filme denso e complexo que aborda a temática da vida, morte, suicídio,


sexualidades, transtornos alimentares, gravidez na adolescência, bem
como explicita as diferentes facetas do processo da adolescência. O
Contribuições do material para o estudo do tema
filme apresenta alguns conteúdos sensíveis, mas necessários para os
profissionais refletirem sobre as questões graves, reais e urgentes que
atravessam a vida dos adolescentes.

Link https://www.youtube.com/watch?v=OWTSJFzwkcw

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13 Título do material
Crise de ansiedade coletiva na escola: o que se sabe sobre o “contágio
emocional”.

O psiquiatra Guilherme Polanczyck, professor de psiquiatria da infância e


da adolescência da faculdade de Medicina da USP, explicou o conceito
de “contágio emocional”, que está sendo cada vez mais visível entre os
Sinopse, resumo, contexto, referência jovens. Já a diretora-executiva da consultoria em inteligência educacio-
nal Vozes da Educação, Carolina Campos, colocou em perspectiva a
atenção que o Brasil dá à saúde mental dos estudantes em comparação
com outros países.

A entrevista com os dois profissionais (saúde mental e educação), foi


Contribuições do material para o estudo do tema realizada para informar e conscientizar sobre ansiedade por contágio
entre adolescentes.

https://omny.fm/shows/isso-fant-stico/crise-ansiedade-coletiva-na-esco-
Link
la-o-que-se-sabe-s

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minicurrículo dos autores
Coordenação acadêmica

Luana Lima

Psicóloga e Bacharel Interdisciplinar em Humanidades (UFBA). Doutoranda


e Mestra em Bioética (UnB). Membra-fundadora da Associação Brasileira de
Estudo e Prevenção do Suicídio (ABEPS). Pesquisadora do Observatório de
Direitos Humanos dos Pacientes (ODHP). Autora do livro Deverei velar pelo
Outro? Suicídio, estigma e economia dos cuidados.

Coordenação Pedagógica

Maisse Fernandes de Oliveira Rotta

Médica pediatra. Mestra em Saúde da Família e Comunidade pela Fiocruz.


Doutoranda em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste pela UFMS.
Pós-graduada em psiquiatria infantil. Professora do curso de medicina da Uni-
versidade Anhanguera (UNIDERP) e da Universidade Estadual do Mato Grosso
do Sul.
Realização
FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL

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