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Obra
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Edição: Novembro/2022
LEI PENAL.............................................................................................................................................. 9
TEORIA DO CRIME............................................................................................................................... 20
z Proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen nulla poena sine lege praevia);
z Proibir a criação de crimes e penas pelo costume (nullum crimen nulla poena sine lege scripta);
z Proibir o emprego da analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas (nullum crimen nulla
poena sine lege stricta);
z Proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla poena sine lege certa).
O princípio da legalidade criminal apresenta, atualmente, várias esferas de garantia. Dentre estas, as mais
relevantes são os princípios da reserva legal e da anterioridade.
Ainda de acordo com o inciso XXXIX, art. 5º, da CF, e o art. 1º, do CP, em matéria penal, apenas lei em sentido
estrito (aprovada pelo Parlamento, seguindo o procedimento legislativo previsto na CF) pode criar crimes e
sanções (penas e medidas de segurança). Assim, apenas leis ordinárias e leis complementares (leis em sentido
estrito) podem prever crimes e cominar penas: Emendas constitucionais, Medidas Provisórias, Leis Delegadas,
Decretos Legislativos e Resoluções não podem ser usadas.
Princípio da Anterioridade
Previsto também no inciso XXXIX, art. 5º, da CF, e art. 1º, do CP, o princípio da anterioridade determina que,
antes da prática do crime, deve haver prévia definição em lei (estabelecendo, ainda, a pena cabível). Quem pra-
tica a conduta criminosa deve saber de antemão que o ato se trata de conduta criminosa e sua consequência. Em
outras palavras, a lei penal nova deve entrar em vigor antes do fato criminoso e se aplica apenas para os fatos
ocorridos após sua vigência.
Princípio da Aplicação da Lei Mais Favorável (Retroatividade da Lei Penal Benéfica ou, ainda, Irretroatividade da Lei
Penal)
A regra geral impõe que as leis têm sua validade voltada para o futuro, ou seja, são irretroativas. Por que tal
regra? Porque, em caso contrário, haveria enorme insegurança jurídica, correndo-se o risco de a sociedade (desti-
natária da norma) ser surpreendida a todo instante. O inciso XL, art. 5º, da CF, e o art. 2º, do CP, apresentam uma
exceção válida somente no Direito Penal. Observe como o princípio vem disposto na Constituição Federal e no
Código Penal:
CF CP
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei poste-
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos rior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di- a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro- Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo fa-
priedade, nos termos seguintes: vorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
[...] decididos por sentença condenatória transitada em julgado
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu
Trata-se do “princípio-exceção” da retroatividade da lei penal mais benéfica: a norma penal mais benéfica ao
agente do crime retroage, sendo aplicável a casos em curso ou já definitivamente sentenciados. Trata-se de assun-
to pertinente ao tema “Lei penal no tempo”, que será visto mais adiante.
Os princípios que até agora vimos são os mais relevantes (portanto, os mais cobrados) no que diz respeito à
aplicação da lei penal. Podemos resumi-los da seguinte forma:
Além dos princípios vistos, existem outros que dizem respeito à aplicação da pena (como o da individualização
da pena e da humanidade) ou à teoria do crime (como o da intervenção mínima e o da taxatividade, por exemplo).
Taxatividade ou da Determinação
Diz respeito à técnica de elaboração da lei penal, que deve ser suficientemente clara e precisa na formulação
do conteúdo do tipo legal e no estabelecimento da sanção para que exista real segurança jurídica.
Tal assertiva constitui postulado indeclinável do Estado de direito material: democrático e social.
O princípio da taxatividade é uma consequência do princípio da legalidade: de nada adianta estabelecer a
conduta delituosa em lei se a definição do crime é vaga, confusa, ampla demais ou, ainda, dá margem a mais de
uma interpretação, o que gera insegurança e fere a legalidade.
Conforme vimos anteriormente, a função do Direito Penal é proteger bens jurídicos. De acordo com tal prin-
cípio, dentro do Estado Democrático de Direito, a interferência do Direito Penal na liberdade dos cidadãos só é
legítima para proteger os bens jurídicos.
O Direito Penal deve tutelar apenas os bens jurídicos mais relevantes, intervindo apenas o mínimo necessário
nos conflitos sociais e na liberdade dos indivíduos. Em outras palavras, a força punitiva do Estado deve ser utili-
zada apenas como último recurso (ultima ratio).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-
dade, nos termos seguintes:
[...]
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor
do patrimônio transferido;
Tal princípio define que a pena de um agente condenado não pode ser transferida para outra pessoa, ou seja,
apenas o indivíduo sentenciado pode ser responsabilizado pela conduta criminosa praticada. Não importa o tipo
da pena (privativa de liberdade ou multa): apenas o autor da infração penal pode ser apenado, esta é a regra.
No entanto, o próprio inciso XLV traz uma exceção: nas hipóteses previstas nos incisos I e II e no § 1º, do art. 91,
do Código Penal (que estabelece como efeitos da condenação o dever de indenizar o dano causado e o perdimento de
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
determinados bens), mesmo com o falecimento do condenado a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdi-
mento de bens alcançam os sucessores até o limite do valor do patrimônio transferido.
Importante!
Vimos acima a questão da responsabilidade pessoal: mas e as pessoas jurídicas, respondem na esfera penal?
Sim, atualmente, somente em relação aos crimes ambientais. A responsabilidade penal da pessoa jurídica é pre-
vista na Lei Ambiental, Lei nº 9.605, de 1998, em seu art. 3º. A CF prevê a possibilidade da responsabilização
criminal da pessoa jurídica em duas hipóteses: nos crimes ambientais e nos crimes econômicos (§ 3º, arts. 173 e
225, CF) mas apenas o primeiro encontra-se regulamentado e, portanto, pode ser aplicado.
7
Princípio da Individualização da Pena Princípio da Humanidade da Pena ou da Limitação
das Penas
Garante que o Direto Penal seja aplicado em cada
caso concreto, tendo em vista particularidades como a Em um Estado de Direito democrático, veda-se
personalidade do agente e o grau de lesão ao bem jurídi- a criação, a aplicação ou a execução de pena, bem
co (impede, pois, a generalização da aplicação da pena). como de qualquer outra medida que atentar contra
Tal princípio está expresso no inciso XLVI, art. 5º, CF: a dignidade humana. Apresenta-se como uma dire-
triz garantidora de ordem material e restritiva da lei
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção penal, verdadeira salvaguarda da dignidade pessoal,
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e relaciona-se de forma estreita com os princípios da
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilida- culpabilidade e da igualdade.
de do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu- Está previsto no inciso XLVII, art. 5º, da CF, que
rança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] proíbe as seguintes penas:
XLVI - a lei regulará a individualização da pena [...].
z De morte, salvo em caso de guerra declarada;
A pena deve ser individualizada em três planos: z De caráter perpétuo;
legislativo, judicial e executório. Isto é, o princípio da z De trabalhos forçados;
individualização da pena dá-se em três momentos na z De banimento;
esfera penal: z Cruéis.
z Cominação: a primeira fase de individualização Um Estado que mata, que tortura, que humilha o
da pena inicia-se com a seleção feita pelo legisla- cidadão não só perde qualquer legitimidade, senão
dor, quando escolhe para fazer parte do pequeno que contradiz sua razão de ser, colocando-se ao
âmbito de abrangência do Direito Penal aquelas nível dos mesmos delinquentes (FERRAJOLI, 2014).
condutas, positivas ou negativas, que atacam nos-
sos bens mais importantes. Uma vez feita essa Princípio da Adequação Social
seleção, o legislador valora as condutas, apre-
sentando penas de acordo com a importância Uma conduta não será tida como típica se for
do bem a ser tutelado; socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se esti-
z Aplicação: tendo o julgador chegado à conclusão ver de acordo da ordem social da vida historicamente
de que o fato praticado é típico, ilícito e culpável, condicionada.
dirá qual a infração praticada e começará, agora, Outro aspecto é o de conformidade ao Direito, que
a individualizar a pena a ele correspondente, prevê uma concordância com determinações jurídi-
observando as determinações contidas no art. 59, cas de comportamentos já estabelecidos.
do Código Penal (método trifásico); O princípio da adequação social possui dupla fun-
ção, acompanhe:
z Execução Penal: a execução não pode igual para
Uma delas é a de restringir o âmbito de abrangên-
todos os presos, justamente porque as pessoas não
cia do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele
são iguais, mas sumamente diferentes, e tampou-
excluindo as condutas consideradas socialmente ade-
co a execução pode ser homogênea durante todo
quadas e aceitas pela sociedade.
período de seu cumprimento. Individualizar a
A segunda função é dirigida ao legislador em duas
pena, na execução, consiste em dar a cada preso
vertentes.
as oportunidades para lograr a sua reinserção
A primeira delas o orienta quando da seleção das
social, posto que é pessoa, ser distinto.
condutas que deseja proibir ou impor, com a finalida-
de de proteger os bens considerados mais importantes.
Princípio da Proporcionalidade da Pena ou da Se a conduta que está na mira do legislador for
Razoabilidade ou da Proibição de Excesso considerada socialmente adequada, não poderá ele
reprimi-la valendo-se do Direito Penal. A segunda ver-
Deve existir sempre uma medida de justo equilí- tente destina-se a fazer com que o legislador repense
brio entre a gravidade do fato praticado e a sanção os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a pro-
imposta: a pena deve ser proporcionada ou adequada teção sobre aqueles bens cujas condutas já se adapta-
à magnitude da lesão ao bem jurídico representada ram perfeitamente à evolução da sociedade.
pelo delito e a medida de segurança à periculosidade Exemplo clássico é o adultério, que deixou de ser
criminal do agente. crime no Brasil em 2005. Por outro lado, são exemplos
A observância deste princípio impede que o Direi- de condutas formalmente típicas (previstas em tipo
to Penal intervenha de forma desnecessária ou exces- legal) mas materialmente atípicas (por serem social-
siva na esfera individual, gerando danos mais graves mente adequadas/aceitas): a tatuagem e o furo para a
do que os necessários para a proteção social. colocação de um brinco ou de um piercing.
Esse princípio tem duplo destinatário:
Princípio da Insignificância
z O Poder Legislativo: que tem de estabelecer penas
proporcionadas, em abstrato, à gravidade do Relacionado aos chamados crimes de bagatela,
delito; também conhecidos como delitos de lesão míni-
z Juiz: as penas que os juízes impõem ao autor do ma. Este é um dos princípios penais que, nos últimos
delito têm de ser proporcionais à sua concreta anos, vem sendo cada vez mais discutido na doutri-
gravidade. na e tratado pela jurisprudência. De forma simples,
consiste no princípio que afirma que o Direito Penal
8 não deve se preocupar com condutas incapazes de
ofender de forma relevante os bens jurídicos pro- Importante!
tegidos pelo tipo penal.
A insignificância tem natureza jurídica de causa Para o STF e o STJ, o fato de ser reincidente não
de exclusão da tipicidade material, isto é, como con- impede a aplicação do princípio da insignificância.
sequência, devem ser tidas como atípicas as ações ou Nesse sentido, em abril, a Segunda Turma do STF,
omissões que afetam muito infimamente a um bem no julgamento do Habeas Corpus 181389, mante-
jurídico-penal. ve, por unanimidade, decisão do ministro Gilmar
A irrelevante lesão do bem jurídico protegido não Mendes que absolveu réu reincidente condenado
justifica a imposição de uma pena, devendo-se excluir
a um ano e nove meses de reclusão pela tentativa
a tipicidade em caso de danos de pouca importância.
de furto de R$ 4,15 em moedas e de uma garrafa
Tal princípio é utilizado, por exemplo, em casos de
de Coca-Cola, duas de cerveja e uma de cachaça
pequenos furtos simples.
(produtos que totalizam R$ 29,15).
O princípio da insignificância traz consigo uma
série de discussões relevantes. A primeira delas diz Princípio da Lesividade ou da Ofensividade do
respeitos aos requisitos para sua aplicação. Evento
De acordo com o entendimento consolidado do
Supremo Tribunal Federal (STF), sua aplicação não A lei penal tem o dever de prevenir os mais altos
é irrestrita e o princípio da bagatela somente pode custos individuais representados pelos efeitos lesivos
ser aplicado se presentes as seguintes condições das ações reprováveis e somente eles podem justificar
objetivas, ligadas, portanto, ao fato (requisitos o custo das penas e das proibições.
objetivos): O princípio axiológico da separação entre direito
e moral veta, por sua vez, a proibição de condutas
meramente imorais ou de estados de ânimo perverti-
REQUISITOS OBJETIVOS DO PRINCÍPIO DA dos, hostis, ou, inclusive, perigosos.
INSIGNIFICÂNCIA (STF)
tual (aquele que pratica crimes como meio de vida). Ou seja, o nosso estudo da eficácia da lei penal se
O STJ possui súmulas específicas a respeito do dará sob três aspectos:
princípio da insignificância que tratam de sua incom-
patibilidade com certos tipos de crime, como, por z Ao tempo (a lei penal não tem eficácia permanen-
exemplo, as Súmulas 589, 599 e 606, que afirmam, res- te; entra em vigor em determinado momento e não
pectivamente, não ser aplicável a insignificância: é eterna);
z Ao espaço (não vige em tudo o mundo; não é
universal);
z Nos crimes ou contravenções praticados contra a
z Às funções exercidas por certas e determinadas
mulher no âmbito das relações domésticas; pessoas (muito embora o ordenamento jurídico
z Nos crimes contra a Administração Pública; afirme que todos são iguais perante a lei, existem
z Nos delitos de transmissão clandestina de sinal de determinadas funções que concedem prerrogati-
internet via radiofrequência. vas a determinadas pessoas frente à aplicação da
lei penal, como, por exemplo, os parlamentares,
conforme veremos mais adiante). 9
Assim sendo, nossos próximos passos serão estu- z Retroatividade
dar a eficácia da lei penal no tempo e no espaço. Nas
próximas páginas, conheceremos os princípios que Observe o art. 2º, do Código Penal:
regem a aplicação da lei penal nestas duas dimen- Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que
sões: quanto ao lugar (espaço), veremos que se aplica lei posterior deixa de considerar crime, cessan-
o princípio da ubiquidade, e, em relação ao tempo, o do em virtude dela a execução e os efeitos penais da
princípio da atividade. sentença condenatória.
Um mnemônico que resume os dois princípios que Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer
iremos estudar é: L. U. T. A. (Lugar, Ubiquidade, Tem- modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
po, Atividade). anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.
A LEI PENAL NO TEMPO
O art. 2º refere-se apenas à retroatividade, uma vez
Eficácia da Lei Penal no Tempo que está analisando a aplicação da lei penal tomando por
base a data do fato delituoso. Assim, temos duas situações:
Uma lei penal ingressa no ordenamento jurídico
quando o seu processo legislativo é completo e perfei- z Ou se aplica a regra do tempus regit actum, se for
to, e assim passa a vigorar até que, então, outra norma, mais benéfico;
de igual natureza, a revogue. Em outras palavras, a lei z Ou se aplica a lei posterior (aquela que entra em
penal nasce (é sancionada, promulgada e publicada), vigor após outra) se esta for mais benigna (retroa-
tem seu tempo de vida (vigência) e morre (é revogada). tividade). A lei posterior mais benéfica é chamada
A revogação de uma lei pode ser expressa (quan- também de lex mitior.
do lei posterior textualmente afirma que a lei ante-
rior não mais produz efeitos) ou tácita (quando não Deste modo, em casos de edição de lei nova que seja
há revogação expressa, mas a nova lei é incompatível mais benéfica ao acusado, esta deverá retroagir, de modo
com a anterior ou regula totalmente a matéria que que alcance os fatos praticados antes da sua vigência.
constava na lei mais antiga). Observe as duas situações no fluxograma a seguir:
Podemos falar ainda em revogação parcial ou
global. A revogação parcial dá-se quando parte dos RETROATIVIDADE BENÉFICA
dispositivos deixam de ser aplicáveis. Já a revogação
global ocorre quando a lei regula a matéria em sua
Nova lei em
totalidade ou a lei penal passa a não ser mais aplicável Fato Sentença
vigor
de modo algum.
Posto isso, podemos observar que ambas as posi- Art. 237 Contrair casamento, conhecendo a exis-
ções, tanto do STJ quanto do STF, vedam a combinação tência de impedimento que lhe cause a nulidade
de leis. absoluta:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Leis Temporárias e Excepcionais
Aqui, o dispositivo penal não esclarece o que é
A regra da retroatividade benéfica não se aplica
“impedimento que lhe cause nulidade absoluta”. O
no caso das chamadas leis intermitentes (leis tem-
complemento, neste caso, deve ser buscado em fonte
porárias e leis excepcionais). Veja o art. 3º, CP:
legislativa de igual hierarquia (Lei): o branco do art.
237, CP, é complementado pelas hipóteses de impedi-
Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora
decorrido o período de sua duração ou cessadas as mento tratadas pelo Código Civil, em seu art. 1.521.
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao Este caso é o que se chama de norma penal em bran-
fato praticado durante sua vigência. co em sentido lato ou imprópria ou homogênea:
a complementação do preceito primário faz-se com
z Lei Excepcional: é aquela feita para vigorar em auxílio de uma lei.
épocas especiais, como guerra, calamidade etc. É Norma penal em branco é um assunto dos mais
aprovada para vigorar enquanto perdurar o perío- cobrados em concursos. É importante guardar não
do excepcional. São facilmente identificáveis por só suas relações com o direito temporal, mas também
expressões como “esta lei terá vigência enquanto suas classificações. Assim, vamos incluir mais três em
durar o estado de calamidade pública”; nosso vocabulário jurídico-penal:
z Lei Temporária: é aquela feita para vigorar por
determinado tempo, estabelecido previamente na z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Homo-
própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de vitelina: o complemento encontra-se no mesmo
cessação de sua vigência (termo final). Um exem- diploma legal da norma incompleta (exemplo:
plo de lei temporária é a Lei nº 12.663, de 2012, vários tipos do Código Penal tratam de crimes
denominada Lei Geral da Copa, que criou tipos cometidos por funcionário público; o conceito de
penais que duraram até o dia 31 de dezembro de funcionário público é encontrado no art. 327, do
12 2014. próprio CP);
z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Hete- substância da norma complementar, como ficaria a
rovitelina: o complemento está em diploma legal situação do agente?
diferente do da norma incompleta (exemplo: o art. Neste caso, acontecerá a retroatividade benéfica,
237, CP, fala em impedimento que cause a nulidade descriminalizando o comportamento, por força da
absoluta do casamento; o complemento encontra- abolitio criminis. Veja que o fato passa a ser atípico
-se no Código Civil — CC); não pela revogação da Lei que considerava o fato típi-
z Quando o complemento é dado por uma norma co, mas sim por conta de seu complemento.
constante da CF, temos a chamada norma penal Tal foi o que ocorreu no caso do art. 237, do CP. O
em branco de fundo constitucional (exemplo: o Código Civil de 1916, em seu inciso VII, art. 183, previa
art. 246, do CP, que fala em “idade escolar”; tal con- que um dos impedimentos absolutamente dirimentes
ceito encontra-se no inciso I, art. 208, CF). era o casamento do cônjuge adúltero com o corréu
condenado por tal crime. No entanto, o Código Civil de
Agora, veja o caso da Lei n° 11.343, de 2006 (Lei de 2002 não trouxe tal impedimento, ocorrendo, pois, abo-
Drogas): litio criminis, que retroagiu em favor de eventuais réus.
A retroação benéfica, por outro lado, não ocor-
Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro- re quando se tratar de complementos que tenham
duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe- caráter excepcional ou temporário, como foi o caso,
recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, por exemplo, da Lei nº 1.521, de 1951, a Lei de Crimes
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
Contra a Economia Popular: o comerciante que fosse
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
flagrado vendendo produto com preço acima do que
autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar: constasse em tabela oficial respondia pelo ato, ainda
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e que o congelamento, com a respetiva revogação da
pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui- tabela, se encerrasse antes da conclusão do inquérito
nhentos) dias-multa. policial ou do processo penal.
Lei especial que afasta a aplicação de lei geral (lex Pode ocorrer, também, que a relação entre norma
specialis derogat generali), como, a propósito, encon- geral e especial ocorra “dentro” de determinados cri-
tra-se previsto no art. 12, do Código Penal: mes que apresentem um tipo simples e formas típicas
qualificadas ou privilegiadas. Assim, o tipo funda-
Art. 12 As regras gerais deste Código aplicam-se mental é excluído pelo qualificado ou privilegiado,
aos fatos incriminados por lei especial, se esta não que deriva daquele. Nesses termos, o furto simples
dispuser de modo diverso (caput, art. 155) é excluído pelo privilegiado (§ 2º, art.
155); o estelionato simples (caput, art. 171) é excluído
Uma norma penal incriminadora (que descreve pelo qualificado (§ 3º, art. 171) etc.
crimes e comina penas) é especial em relação à outra
quando: Princípio da Subsidiariedade (Tipo de Reserva)
z Possui em sua definição legal todos os elementos Uma norma é considerada subsidiária em relação
típicos que constam na geral; à outra quando a conduta nela prevista (de menor
z Apresenta mais alguns elementos (de natureza gravidade) integra o tipo da principal (que descreve o
objetiva ou subjetiva), chamados de especializan- fato de forma mais abrangente). Neste caso, a lei prin-
tes, que a tornam mais ou menos severa do que a cipal afasta a aplicação de lei secundária (lex primaria
geral. derogat subsidiariae), justamente porque esta última
cabe dentro dela.
Vamos exemplificar. O tipo penal do homicídio Ou seja, a figura típica subsidiária (chamada pelo
simples, descrito a seguir, é lei geral: grande penalista brasileiro Nelson Hungria de “solda-
do de reserva”) é parte da principal, estando nela con-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Homicídio simples tida. Observe que não se trata de ser especial, mas sim
mais ampla. Veja os exemplos a seguir:
Art. 121 Matar alguém.
z O crime de ameaça (art. 147, CP) é subsidiário
Compare com o tipo penal do infanticídio, outro (cabe) no delito de constrangimento ilegal median-
dos crimes contra a vida: te ameaça (art. 146). Este, por sua vez, é subsidiá-
rio ao crime de extorsão (art. 158. CP);
Infanticídio z O crime de disparo de arma de fogo (art. 15, da Lei
nº 10.826, de 2003), encaixa-se no crime de homi-
Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe- cídio cometido com disparo de arma de fogo (art.
ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após. 121, CP).
O infanticídio (crime específico) é lei especial em Veja que há um só fato. No exemplo da morte cau-
relação ao homicídio (crime genérico), uma vez que sada por disparo de arma de fogo, o fato (disparo que
contém mais elementos: acaba matando) é maior do que a norma subsidiária 15
(mero disparo), só podendo, portanto, se encaixar na Os fatos menos amplos e menos graves servem como
norma principal (mais ampla). preparação ou execução ou mero exaurimento.
A subsidiariedade apresenta-se nas seguintes Ou seja, ocorre a consunção ou absorção, quando:
formas:
z Um fato definido por uma norma incriminadora é
z Expressa ou explícita: ocorre quando a própria meio necessário ou fase normal de preparação ou
norma indica expressamente em seu texto seu execução de outro crime;
caráter subsidiário, ou seja, afirma que só será z Quando constitui conduta anterior ou posterior do
aplicada se não for o caso da aplicação de outra, de agente, cometida com a mesma finalidade prática
maior gravidade. Esta é mais simples de ser iden- relativa ao crime que absorve.
tificada, sendo reconhecida por expressões tais
como “se o fato não constituir crime mais grave”. A consunção tem várias aplicações: a tentativa
é absorvida pela consumação; a participação, pela
Um exemplo é o delito de perigo para a vida ou coautoria; e o porte de arma é absorvido no homicídio
saúde de outrem: o art. 132, do CP, descreve em seu quando a arma é adquirida e portada com a finalida-
preceito secundário a pena de detenção, de três meses de de matar a vítima.
a um ano, “se o fato não constitui crime mais grave”. É utilizada, também, no crime progressivo (aque-
Ou seja, a lei explicitamente indica que o art. 132 só le no qual o agente possui um só desígnio, mas, para
é aplicável se o fato não constituir crime mais grave, alcançar o resultado mais grave, passa pelo menos
como a tentativa de homicídio, o perigo de contágio de grave). Em outras palavras, é quando o agente des-
moléstia grave e o abandono de incapaz, entre outros. de o início quer alcançar o resultado mais grave, e o
São outros exemplos de subsidiariedade expressa no § busca, por meio de atos sucessivos e crescentes, como
3º, art. 129, e nos arts. 238, 239 e 307, todos do CP, e os por exemplo no caso do homicida que deseja matar a
arts. 21, 29 e 46, da Lei de Contravenções Penais (LCP). vítima cortando as partes do corpo, embora cometa
várias ações, sua intenção é matar a vítima e, assim,
z Tácita ou implícita: neste caso, a norma nada fala. reponde por um único crime de homicídio qualificado.
No entanto, o fato incriminado na norma subsidiá- Outra aplicação da consunção se dá na progres-
ria serve como elemento componente ou agravan- são criminosa, ou seja, quando o agente possui um
te especial da norma principal, como, por exemplo, dolo inicial e, no mesmo contexto fático, resolve subs-
no caso do estupro (norma principal) que contém tituir o desígnio, como, por exemplo, quando o sujeito,
o constrangimento ilegal (norma subsidiária), e do desejando causar lesões à vítima, corta seus dedos. No
furto qualificado pelo arrombamento, que contém entanto, no mesmo momento, muda de ideia e resolve
o dano (o constrangimento ilegal é subsidiário de matar o ofendido com um tiro na cabeça. Neste caso, o
todos os crimes que têm como meio de execução a agente responde pelo homicídio, ficando as lesões cor-
violência física ou a grave ameaça; o dano, por sua porais absorvidas (se não fossem no mesmo contexto
vez funciona como circunstância qualificadora do fático, como por exemplo no caso do agente que mata
furto). Outro exemplo é a omissão de socorro (art. a vítima um mês após causar-lhe lesões, haveria, por
135, CP) que serve como qualificadora do homicí- outro lado, concurso de crimes, respondendo o agente
dio culposo (§ 4º, art. 121, CP). pelos dois delitos).
Duas outras aplicações do princípio se dão nos
Na prática, o princípio da subsidiariedade acaba chamados ante factum impunível e no post factum
por gerar os mesmos resultados do princípio da espe- impunível. No primeiro caso, podemos citar, como
cialidade. No entanto, trata-se de institutos diferentes. exemplo, o agente que toca o corpo da vítima e, na
A distinção pode ser feita de duas maneiras: mesma linha de desdobramento, pratica a conjun-
ção carnal: responde pelo estupro, ficando os toques
z Na especialidade: há relação entre o fato descrito absorvidos. Já no caso do fato posterior não punível, o
pela norma genérica e o estabelecido pela especial exemplo clássico é o do sujeito que furta determinada
(relação de gênero e espécie). Na subsidiariedade coisa e em seguida a destrói: vai responder somente
não existe essa relação; pelo furto.
z Na subsidiariedade: quando se afasta a incidên- Em relação ao princípio da consunção, duas ques-
cia da norma primária a pena do tipo subsidiário tões são recorrentes em concursos:
pode ser aplicada, como um “soldado de reserva” e
aplicar-se pelo residuum. z A primeira diz respeito ao porte ilegal de arma
de fogo, disparo de arma de fogo e homicídio
Para fixar o entendimento, vamos ilustrar o princí- doloso: se tudo ocorreu no mesmo contexto fático
pio da subsidiariedade: (mesmo desdobramento, ou seja, o agente só por-
tou irregularmente a arma e a disparou pois tinha
z Lei principal (é o todo). a intenção de matar alguém), o homicídio absorve
Ex.: Extorsão mediante sequestro (art. 159). os anteriores;
z A segunda é relacionada aos crimes de falsida-
z Lei subsidiária (é parte). de e estelionato: neste caso, basta observar o que
Ex.: Sequestro e cárcere privado (art. 148). dispõe a Súmula n° 17, do STJ: quando o sujeito fal-
sifica documento para aplicar um golpe, o estelio-
Princípio da Consunção ou Absorção nato (crime-fim) absorve o falso (crime-meio).
Trata-se do princípio segundo o qual o fato previs- E lembre-se: em qualquer situação, para que haja
to por uma lei está, igualmente, contido em outra de consunção é imprescindível que os fatos de deem den-
16 maior amplitude, aplicando-se somente esta última. tro do mesmo contexto.
A figura utilizada para fazer referência ao princí- Como regra, o Brasil adota o princípio da territo-
pio da consunção é da de um peixão, que engole um rialidade temperada e 4 outros princípios como exce-
peixinho que engole o girino: isto é, o homicídio absor- ção. Vejamos tais princípios:
ve as lesões graves, que absorvem as lesões leves, que,
por sua vez, absorvem as vias de fato. z Real, de proteção ou da defesa: inciso I, § 3º, art.
7º, do CP (exceção: extraterritorialidade). A lei
Princípio da Alternatividade penal leva em conta a nacionalidade do bem jurí-
dico lesado pelo delito, sem se importar com local
O último dos princípios é o da alternatividade e de sua prática ou da nacionalidade do sujeito ativo;
é aplicado quando há a prática, no mesmo contexto z Justiça penal universal ou princípio universal
fático, dos crimes de conteúdo múltiplo, variado ou ou da universalidade da justiça cosmopolita,
plurinuclear, que são os crimes que descrevem várias ou da jurisdição mundial ou da repressão uni-
condutas no mesmo artigo, ou seja, contêm vários versal ou da universalidade do direito de punir:
verbos como núcleos do tipo. Um exemplo desse tipo alínea “a”, inciso II, art. 7º (exceção: extraterrito-
de crime encontra-se no caput do art. 33, da Lei de rialidade). Cada Estado tem o poder de punir qual-
Drogas: quer crime, independentemente da nacionalidade
do autor ou da vítima ou, ainda, do local da sua
Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro- prática. Basta que o criminoso esteja dentro do ter-
duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe- ritório do país;
recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, z Nacionalidade ativa ou princípio da perso-
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo nalidade: alínea “b”, inciso II, art. 7º (exceção:
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
extraterritorialidade). Segundo o princípio da
autorização ou em desacordo com determinação
nacionalidade, a lei penal do Estado se aplica a
legal ou regulamentar.
seus cidadãos onde quer que se encontrem. O Bra-
sil adota a nacionalidade ativa, que impõe a apli-
Note que são dezessete núcleos diferentes: pelo
cação da lei nacional ao cidadão que comete crime
princípio da alternatividade, se o agente pratica mais
no estrangeiro não importando a nacionalidade da
de uma conduta (núcleo diferente), no mesmo con-
vítima;
texto fático, só responderá por um único crime (por
z Representação ou pavilhão ou bandeira: alí-
exemplo, se o sujeito oferece e ministra).
nea “c”, inciso II, art. 7º (exceção: extraterritoria-
lidade). Ficam sujeitos à lei do Brasil os delitos
A LEI PENAL NO ESPAÇO
cometidos em aeronaves e embarcações privadas,
quando ocorridos no estrangeiro e não forem jul-
Ao estudar, nos arts. 5º a 8º, do CP, a aplicação da
gados por eles.
lei penal no espaço, vamos tratar do lugar de inci-
dência da legislação penal brasileira, ou seja, onde ela
é aplicada. Não veremos, portanto, neste momento, Território Nacional
regras de competência, que se encontram nos arts. 70
e seguintes, do Código de Processo Penal (CPP). O texto do art. 5º fala em território. O território que
nos interessa é o território jurídico, ou seja, o espaço
Territorialidade em que o Estado exerce sua soberania, portanto, o
território nacional. Ele é composto pelas seguintes
O princípio adotado para tratar do âmbito da apli- partes:
cação da lei penal brasileira é o princípio da Terri-
torialidade, que se encontra disposto no art. 5º, do CP: z O solo;
z O subsolo;
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de z O espaço aéreo correspondente;
convenções, tratados e regras de direito internacio- z Os cursos d’água internos (rios, lagos, mares
nal, ao crime cometido no território nacional. interiores);
z O mar territorial, assim entendido como a faixa
O princípio da territorialidade significa que a lei de mar exterior que compreende as 12 milhas
penal de um país só é aplicável no território do Estado marítimas medidas a partir da linha do baixa-mar
que a editou, sem se preocupar com a nacionalidade do litoral continental e insular brasileiro, de acor-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
do sujeito ativo (autor) ou passivo (vítima). do com as referências contidas nas cartas náuticas
O princípio da territorialidade pode se dar de duas brasileiras (art. 1º, da Lei nº 8.617, de 1993).
formas:
Em relação aos rios internacionais que constituem
z De forma absoluta (princípio da territorialidade limites entre dois países, normalmente existe tratado
absoluta), quando somente a lei penal do país é sobre o tema que ou determina que a divisa se encon-
aplicável aos crimes cometidos em seu território tra na linha mediana do leito do rio ou que a divisa
nacional; acompanhe a linha de maior profundidade da cor-
z De forma temperada, relativizada ou mitigada rente. Se o rio não for divisa, mas sucessivo, como o
(princípio da territorialidade temperada) quan- Amazonas, é indiviso, e cada Estado exerce soberania
do a lei penal nacional é aplicada via de regra ao sobre ele.
crime cometido no território nacional, mas, excep- No caso dos lagos, salvo acordo em contrário, o
cionalmente, por força de tratados e convenções limite é fixado pela linha da meia distância entre as
internacionais, a lei estrangeira é aplicável a deli- margens do lago ou lagoa, que separa dois ou mais
tos praticados em território nacional. Estados. 17
Por se relacionarem aos assuntos que estamos Dica
vendo, vale a pena estudar as hipóteses de não inci-
dência da lei a fatos cometidos no Brasil: As bancas examinadoras gostam muito de con-
fundir as teorias adotadas quanto ao tempo e
z As imunidades diplomáticas; lugar do crime. Como vimos anteriormente, o CP
z As imunidades parlamentares; adota a teoria da atividade para definir o tempo
z A inviolabilidade do advogado. do crime, e a teoria da ubiquidade para definir
o local do crime. Deste modo, para facilitar seu
Esses assuntos são tratados em Direito Constitucio- estudo, formamos o mnemônico LUTA:
nal, Direito Processual Penal e no estudo do Estatuto Lugar
da Ordem dos Advogados do Brasil. Ubiquidade
Tempo
Território por Extensão Atividade
Prazo Penal
z Hipóteses do inciso II, art. 7, do CP: Art. 10 O dia do começo inclui-se no cômputo do
prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo
Alíneas “a” e “b”, inciso II, art. 7º + requisitos calendário comum.
do § 2º, art. 7º;
Antes de finalizar a chamada teoria da norma e
Alínea “c”, inciso II, art. 7º, do CP + requisitos do
ingressar na teoria do crime, falta falar brevemente
§ 2º, art. 7º, + alínea “c”, inciso II, art. 7º, in fine
sobre o prazo penal, estabelecido no art. 10, CP.
(não ter sido julgado no estrangeiro); O prazo penal e o prazo processual são contados de
§ 3º, art. 7º, do CP + requisitos do § 2º, art. maneiras diferentes:
7º+ requisitos do § 3º (não ter sido pedida ou
ter sido negada a extradição) + requisição do z Prazo penal (regra art. 10, CP): inclui-se o primei-
Ministro da Justiça. ro dia, despreza-se o último;
z Prazo processual penal (regra § 1º, art. 798, CPP):
despreza-se o primeiro dia, conta-se o último; 19
z Frações de penas: não são computadas as horas Conceito Analítico de Crime
nas penas privativas de liberdade e restritivas de
direitos, nem os centavos na pena pecuniária. Do ponto de vista analítico, diferentes doutrinado-
res enxergam o crime de formas diferentes. Existem
várias correntes, mas as principais são duas:
Importante!
Para fins de prescrição e decadência, os prazos z A que entende que o crime é Fato Típico + Antijurí-
são contados de acordo com a regra do art. 10, CP. dico (concepção bipartida), sendo a culpabilidade
pressuposto de aplicação da pena (entre eles René
Ariel Dotti, Fernando Capez, Damásio de Jesus,
Julio Fabrini Mirabete, Cleber Masson);
z A que concebe o crime como um Fato Típico+
TEORIA DO CRIME Antijurídico + Culpável (concepção tripartida
ou tripartite) e que é majoritária tanto no Brasil
Nomenclatura quanto no exterior. Entre seus adeptos estão tanto
aqueles que adotam a teoria da conduta finalista
A doutrina brasileira utiliza o termo infração de (como Heleno Fragoso, Eugenio Raúl Zaffaroni,
forma genérica, para englobar os crimes ou delitos e
Luiz Regis Prado, Rogério Greco, entre outros) ou
as contravenções.
causalista (Nélson Hungria, Frederico Marques,
O Código Penal não utiliza em seu texto a expres-
são “delito”, optando por utilizar as expressões infra- Aníbal Bruno e Magalhães Noronha).
ção, crime e contravenção, sendo que estas duas
últimas estão incluídas na primeira. Diferença entre Crime e Contravenção
No Código de Processo Penal há certa confusão:
algumas vezes usa-se o termo infração, de forma Antes de prosseguir com o estudo do crime, é inte-
genérica, incluindo os crimes (ou delitos) e as contra- ressante fazer a distinção entre crime e contravenção
venções (veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77 penal (também chamada de crime anão, delito Lilipu-
etc.). Em outras situações, emprega a expressão deli- tiano, crime vagabundo ou delitti nani).
tos como sinônimo de Infração (por exemplo, confor- Existem países que utilizam a classificação tripar-
me consta nos arts. 301 e 302, CPP). tida de infrações penais: delitos, crimes e contraven-
Para os fins do nosso estudo temos, então que ções. O Brasil adota, como já vimos, a classificação
Infração Penal pode significar crime (ou delito) e
bipartida, que divide as infrações entre crimes (ou
contravenção penal.
delitos) e contravenções.
As diferenças entre crime e contravenção serão
vistas mais adiante. Não existe um dado único que faça a distinção
entre os dois tipos de infração penal. Tanto os crimes
Conceito de Crime quanto as contravenções configuram comportamen-
tos que violam mandamentos legais que possuem
O conceito de crime não é natural e sim algo arti- como sanção a aplicação de uma pena. A grande dis-
ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes- tinção é a maior ou menor gravidade com que a lei vê
ses da sociedade. Mas o que é crime? tais condutas.
Podemos responder essa pergunta de três formas No entanto, existem outros elementos que ajudam
diferentes, olhando para o crime sob diferentes aspec- na distinção.
tos: material, formal e analítico. Em relação às penas: os crimes são punidos com
Veremos o conceito de crime de acordo com cada
penas privativas de liberdade (reclusão ou detenção),
um desses pontos de vista:
restritivas de direitos e multa; já as contravenções são
punidas com prisão simples e/ou multa.
z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie-
dade tem sobre o que pode e deve ser proibido Com relação ao elemento subjetivo: no crime é o
por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse dolo ou a culpa; na contravenção é a voluntariedade.
aspecto, o conceito material de crime consiste Por último, é possível a tentativa nos crimes,
na conduta que ofende um bem juridicamen- enquanto ela é incabível nas contravenções.
te tutelado (bem juridicamente considerado
essencial para a existência da própria sociedade e Sujeitos do Crime
manutenção da paz social);
z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direi- Antes de analisarmos os elementos do crime, é
to. Assim, o conceito formal de crime constitui importante fixar alguns conceitos sobre os sujeitos do
uma conduta proibida por lei, que se realizada, crime.
resulta na aplicação de uma pena. Considera-se
Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na nor-
crime, dessa forma, o que o legislador apontar
ma penal incriminadora. O crime é uma ação huma-
como tal;
z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu- na, sendo que apenas o ser humano pode delinquir.
dos: sob o aspecto analítico, procura-se apontar, Animais e entes inanimados não possuem capacidade
estabelecer os elementos estruturais do crime. penal (conjunto de condições necessárias para que
Vejamos: um sujeito possa ser titular de direitos e obrigações
na esfera penal).
20
Importante! Classificação dos Crimes
A Constituição Federal prevê no § 5º, art. 173, e § Qualificação é o nome que se dá ao fato ou a infra-
3º, art. 225, que a legislação ordinária estabeleça ção, seja pela doutrina ou pela lei. Assim, temos:
a punição da pessoa jurídica nos atos cometidos
z É o nome que a lei dá (nomen juris). Por exemplo,
contra a economia popular, a ordem econômi-
“ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”
ca e financeira e o meio ambiente. Atualmente
é chamada pelo art. 129, CP, de “lesão corporal”;
apenas a Lei nº 9.605, de 1998, Lei de Proteção z São os nomes dados pela doutrina aos fatos crimi-
Ambiental, prevê essa responsabilidade. Ou seja, nosos. Por exemplo: crime de mera conduta, crime
a pessoa jurídica responde por crime ambientais. permanente, crime próprio etc.);
De acordo com o entendimento jurisprudencial, z É o nome dado à modalidade a que o fato pertence:
é possível a responsabilização penal da pessoa crime ou contravenção. Por exemplo, “homicídio” é
jurídica por delitos ambientais independente- crime, enquanto o “jogo do bicho” é contravenção.
mente da responsabilização penal da pessoa físi-
A classificação doutrinária dos crimes serve para
ca. Não é adotada a teoria da dupla imputação.
facilitar o estudo e o entendimento dos tipos penais
incriminadores. No entanto, existem muitos nomes,
Existem várias nomenclaturas em lei para se refe- ficando difícil fazer uma classificação definitiva, uma
rir ao sujeito ativo: vez que os estudiosos do Direito Penal, ao sistematiza-
rem a matéria, acabam por criar novas nomenclaturas.
z “Agente” (por exemplo, no inciso II, art. 14; art. 15; As principais são:
incisos I e II, art. 18; art. 19; § 3º, art. 20; parágra-
fo único, art. 21; caput e parágrafo único, art. 23; z Crimes Comuns e Especiais: são os definidos no
Direito Penal Comum; os especiais são os descri-
caput e parágrafo único, art. 26, todos do CP);
tos no Direito Penal Especial;
z “Indiciado”, na fase do inquérito;
z Crimes Comuns (quanto ao agente) e Próprios:
z “Acusado”, “denunciado”, “réu”, durante a fase
crime comum é aquele que pode ser praticado por
processual;
qualquer pessoa (furto, homicídio etc.). Crime pró-
z “Sentenciado”, “preso”, “condenado”, “detento” ou
prio é o que só pode ser cometido por um agente
“recluso”, para aqueles que já foram condenados. com qualidades especiais (uma condição jurídica,
como ser funcionário público; de parentesco, como
Usa-se, ainda, sob o ponto de vista biopsíquico, as mãe, filho; profissional, como médico; ou natural,
expressões “criminoso” ou “delinquente”. como no caso da gestante.
Por outro lado, sujeito passivo é entendido como
o titular do bem jurídico protegido, cuja ofensa funda- Dentro do contexto dos crimes próprios há uma
menta o crime. Existem duas espécies: categoria chamada crimes de mão própria ou de
atuação pessoal, que são os que só podem ser cometi-
z Sujeito passivo formal, constante, geral ou gené- dos pelo agente em pessoa, de forma direta, como, por
rico: é o Estado; exemplo, no caso de falso testemunho (a testemunha
z Sujeito passivo material, eventual, particular ou não pode mentir por meio de outro sujeito). O crime de
acidental: o titular do interesse protegido penal- mão própria admite participação, mas não coautoria;
mente (pode ser o ser humano, pessoa jurídica, a
coletividade ou o Estado). z Crimes de Dano e de Perigo: crime de dano é o
que apenas se consuma quando ocorre a efetiva
É importante salientar que pessoa incapaz pode lesão ao bem jurídico (como no homicídio, nas
ser sujeito passivo do crime (recém-nascido, menor lesões corporais). Crime de perigo é o que se consu-
em idade escolar, portador de deficiência mental etc.). ma com a mera possibilidade do dano (como, por
É possível ser sujeito passivo mesmo antes de nascer, exemplo, na rixa, art. 137, CP, e no incêndio, art.
pois o feto tem direito à vida, bem jurídico protegido 250, CP).
pela punição do aborto (arts. 124, 125 e 126, CP). Pes-
soa morta e animais não podem ser sujeitos passivo, Os crimes de perigo, por sua vez, subdividem-se em:
pois não são titulares de direitos (podem ser objetos
Crime de perigo presumido (ou abstrato) e
materiais; a titularidade é de outros: família, coletivi-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 15 O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados.
A desistência voluntária é uma forma de tentativa inacabada e se configura quando o sujeito inicia o proces-
so executório, mas desiste voluntariamente de nele prosseguir, evitando a consumação. Neste caso, tem-se
uma conduta negativa, ou seja, o agente tem a possibilidade de prosseguir com a execução, mas, por vontade
própria, desiste e evita que o crime se consume.
Podemos citar o caso em que o sujeito ingressa na casa da vítima e, voluntariamente, desiste da subtração que
pretendia efetuar. Veja que, no caso do exemplo, se o sujeito desiste do furto pelo risco de ser surpreendido em fla-
grante diante do funcionamento do sistema de alarme, não se fala em desistência, mas sim em tentativa punível.
Já o arrependimento eficaz é uma forma de tentativa acabada e se dá após esgotado o processo executó-
rio imaginado, mas o sujeito resolve voluntariamente atuar para evitar, com sucesso, a consumação.
Nos dois casos, conforme art. 15, do CP, a consequência é que o sujeito deve responder apenas pelos resultados
já produzidos.
Esses dois institutos são incompatíveis com os crimes culposos, pela sua própria natureza, salvo na culpa
imprópria.
MODIFICAÇÃO DA
Desistência Voluntária Arrependimento eficaz Só responde pelos atos já praticados
VONTADE DO AGENTE
Já o arrependimento posterior é uma causa obrigatória de diminuição de pena para os crimes praticados
sem violência ou grave ameaça dolosa à pessoa, nos quais o prejuízo é reparado por ato voluntário do infrator até
o momento do recebimento da denúncia ou queixa.
O art. 16, do CP, estabelece redução de um a dois terços, e prevalece que a redução será tanto maior quando
mais célere a reparação.
Art. 16 Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa,
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
A reparação do dano no crime de estelionato por meio de cheque, até o recebimento da denúncia, tem efeito
diverso.
No peculato culposo (§ 2º, art. 312, do CP), a reparação do dano até a sentença definitiva extingue a punibilida-
de e, se posterior, ainda reduz a pena em metade (§ 3º, art. 312, do CP).
Para estudarmos os crimes consumados e os crimes tentados, é importante conhecermos a iter criminis.
Segundo Cleber Masson, iter criminis é o caminho do crime, corresponde às etapas percorridas pelo agente
para a prática de um fato previsto em lei como infração penal.
Considerando que já estudamos crime doloso, podemos concluir que iter criminis é um instituto exclusivo dos
crimes dolosos.
Os crimes possuem as seguintes fases:
z Cogitação ou fase interna: é a fase mental de preparação do crime: idealização, deliberação e resolução. Não
há conduta penalmente relevante;
z Atos preparatórios: o crime começa a se projetar no mundo exterior. O agente adquire arma de fogo. Em
regra, não são puníveis, salvo nos crimes-obstáculo;
z Atos de execução: o agente começa a realizar o núcleo do tipo penal, de forma idônea e inequívoca. Nessa
fase, pode haver punição pela tentativa;
z Consumação: crime consumado é quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal. Fim do
26 iter criminis;
z Exaurimento: não influi na tipicidade, mas pode z Vermelha ou cruenta: o objeto de crime é atingi-
influenciar na dosimetria da pena, ser reconhecido do pela conduta. Considerando o iter criminis per-
como qualificadora ou configurar crime autônomo. corrido, o quantum de redução da tentativa deve se
aproximar do mínimo (1/3);
Crime-Obstáculo z Perfeita ou acabada: o agente esgota todos os
meios de execução à sua disposição e, mesmo
Classifica-se de crime-obstáculo quando os atos assim, a consumação não sobrevém por circuns-
preparatórios são punidos como crime autônomo, por tância alheias a sua vontade;
exemplo, associação criminosa, art. 288, do CP. z Crime falho: agente dispara tiros na vítima, mas é
socorrida e sobrevive;
Atos Preparatórios e Atos de Execução z Imperfeita ou inacabada: o agente, por fatores
alheios a sua vontade, não esgota os meios de
z Teoria subjetiva: importa a exteriorização da execução ao seu alcance, dentro daquilo que con-
vontade criminosa pelo agente e não distingue sidera suficiente, em seu projeto criminoso, para
atos preparatórios de atos executórios; alcançar resultado;
z Teoria objetiva-formal (majoritária): a execu- z Tentativa propriamente dita: agente, no segundo
ção inicia-se quando o agente começa a praticar o disparo, é interrompido pela chegada de policiais
núcleo contido no tipo penal. Antes disso, os atos e o crime não se consuma por circunstância alheia
são preparatórios; à sua vontade.
z Teoria objetiva-material: são atos executórios
aqueles em que se inicia a prática do núcleo do São crimes que admitem tentativa:
tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
com base na visão de terceira pessoa alheia à con- z Crimes dolosos;
duta criminosa (Rogério Cunha Sanches); z Crime plurissubsistentes (formais e de mera conduta);
z Teoria objetiva-individual: são atos executórios z Omissivos impróprios;
aqueles em que se inicia a prática do núcleo do z Crimes de perigo concreto;
tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
z Crimes permanentes.
com base no plano concreto do agente;
z Teoria da hostilidade ao bem jurídico: a execu-
Crimes que não admitem tentativa:
ção inicia-se quando o agente ataca o bem jurídico.
E se persistir a dúvida quanto a ser o ato preparató- z Crimes culposos, exceto a culpa imprópria;
rio ou de execução? Deve-se considerar, neste caso, o ato z Contravenções penais;
preparatório, por ser mais benéfico ao agente. Para cada z Crimes habituais;
classificação do crime, há o momento da consumação. z Crimes omissivos próprios;
Vejamos a consumação de crime entre Roubo X z Crimes unissubjetivos;
Latrocínio: z Crimes preterdolosos;
z Crimes de resultado;
z Roubo: z Crimes de empreendimento (atendado);
z Crimes impossíveis;
Súmula n° 582 (STJ) Consuma-se o crime de roubo z Crimes de perigo comum;
com a inversão da posse do bem mediante emprego z Crimes subordinados a uma condição objetiva de
de violência ou grave ameaça, ainda que breve tem-
punibilidade;
po e em seguida à perseguição imediata ao agente
z Crimes-obstáculo.
e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível
a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
Pena da Tentativa
z Latrocínio:
Salvo disposição em contrário, pune-se a tentati-
Súmula n° 610 (STF) Há crime de latrocínio, quan- va com a pena correspondente ao crime consuma-
do o homicídio se consuma, ainda que não realize a do, diminuída de 1/3 a 2/3.
agente a subtração de bens da vítima. A tentativa é uma causa de diminuição de pena.
A redução deve basear-se no iter criminis percor-
Há tentativa de latrocínio quando o sujeito age
rido pelo agente.
com dolo de subtrair e dolo de matar, mas o resulta-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
do morte não ocorre por circunstâncias alheias à sua A definição do crime tentado (inciso II, art. 14, do
vontade. O fator determinante para a consumação do CP) é uma norma de extensão ou de ampliação, uma
latrocínio é a ocorrência do resultado morte, sendo vez que, o tipo penal deve ser conjugado com o inciso
dispensada a efetiva inversão da posse. II, art. 14, do CP.
O crime é consumado quando nele se reúnem
Art. 14 Diz-se o crime: [...]
todos os elementos da sua definição legal. A tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se
ocorre quando, iniciada a execução, não se consuma
consuma por circunstâncias alheias à vontade do
por circunstância alheias à vontade do agente.
agente.
Tentativa
O inciso II, art. 14, do CP, dispõe que a tentativa é
z Branca ou incruenta (improfícua): o objeto do o início de execução de um crime que somente não
crime não é atingido pela conduta. O iter criminis se consuma por circunstâncias alheias à vontade do
percorrido, o quantum de redução deve se aproxi- agente.
mar da fração máxima (2/3); O ato de tentativa é um ato de execução. 27
Exige-se que o sujeito tenha praticado atos execu- Vamos exemplificar:
tórios, daí não sobrevindo a consumação por forças
estranhas ao seu propósito, o que acarreta em tipici- z “A” subtrai o celular de “B” e foi condenado a pena
dade não finalizada, sem conclusão. de 2 anos;
A tentativa tem três elementos em sua estrutura: z “A” tentou subtrair o celular de “B” e foi condenado
a pena de 1 ano e 4 meses.
z Início da execução do crime;
z Ausência de consumação por circunstâncias alheia No exemplo 1, o crime foi consumado, por isso, foi
à vontade do agente; aplicada a pena de 2 anos (lembrando que a pena pre-
z Dolo de consumação. vista para furto é de um a quatro anos, e multa).
No exemplo 2, o crime foi tentado, motivo pelo
Não esqueça que o dolo da tentativa é igual ao dolo qual a pena de 2 anos foi diminuída de 2/3, resultando
da consumação: o sujeito quer o resultado. em 1 ano e 4 meses.
Exemplo: “A” quer subtrair o celular de “B”. Na A tentativa constitui-se em causa obrigatória de
consumação, “A” consegue subtrair. Na tentativa, diminuição da pena.
quando “A” consegue colocar a mão no celular, é sur- Incide na terceira fase de aplicação da pena priva-
preendido por “C” que, à distância, percebeu a ação de tiva de liberdade, e sempre a reduz.
“A”. Neste momento, “A” deixa o celular e foge do local. A liberdade do magistrado repousa unicamente no
A vontade de “A” era: subtrair o celular. quantum da diminuição, balizando-se entre os limites
O inciso II, art. 14, do CP, não tem autonomia, pois a legais, de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Deve reduzi-
-la, podendo somente escolher o montante da diminui-
tentativa não existe por si só, isoladamente.
ção. E, para navegar entre tais parâmetros, o critério
Sua aplicação exige a realização de um tipo incri-
decisivo é a maior ou menor proximidade da consuma-
minador, previsto na Parte Especial do CP ou pela
ção, ou seja, a distância percorrida do iter criminis.
legislação penal especial.
Excepcionalmente, entretanto, é aceita a teoria
O CP e a legislação extravagante não preveem,
subjetiva, voluntarística ou monista, consagrada pela
para cada crime, a figura da tentativa, nada obstante
expressão “salvo disposição em contrário”.
a maioria deles seja com ela compatível. Essas teorias têm a tese de que a pena para os cri-
Isso explica o motivo pelo qual não encontramos mes consumados são as mesmas para os crimes tenta-
a descrição do crime, pois há uma pena prevista em dos. Essas teorias são aplicadas em alguns casos.
caso de consumação e outra pena para a hipótese de Há casos restritos em que o crime consumado e o
tentativa. crime tentado comportam igual punição: são os deli-
A tentativa de furto é a combinação de “subtrair, tos de atentado ou de empreendimento. Por exemplo:
para si ou para outrem, coisa alheia móvel” com a exe-
cução iniciada, mas que “não se consuma por circuns- z Evasão mediante violência contra a pessoa (art.
tâncias alheias à vontade do agente”. 352, do CP), em que o preso ou indivíduo submetido
Furto tentado é: caput do art. 155, c/c o inciso II, à medida de segurança detentiva, usando de vio-
art. 14, ambos do CP. lência contra a pessoa, recebe igual punição quan-
do se evade ou tenta evadir-se do estabelecimento
em que se encontra privado de sua liberdade;
Importante! z Lei nº 4.737, de 1965 — Código Eleitoral, art. 309,
A lei penal (CP ou lei extravagante) não prevê a no qual se sujeita à igual pena o eleitor que vota
ou tenta votar mais de uma vez, ou em lugar de
tentativa para cada crime, mas define o delito e
outrem.
prevê a pena para o caso de consumação.
Nas hipóteses de crime tentado, caso a lei não
Crimes Punidos apenas na Forma Tentada
preveja a pena, deverá ser considerada a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída
A regra vigente no sistema penal brasileiro é a
de um a dois terços, nos moldes do parágrafo
punição dos crimes nas modalidades consumada e
único, do art. 14, do CP. tentada.
Mas em algumas situações não se admite a tentati-
E a pena para o caso de crime tentado? va, seja pela natureza da infração penal, seja em obe-
A punibilidade da tentativa é disciplinada pelo diência a determinado mandamento legal, razão pela
parágrafo único, art. 14, do CP. O CP acolheu como qual apenas é possível a imposição de sanção penal
regra a teoria objetiva, realística ou dualista. para a forma consumada do delito ou da contraven-
ção penal.
Art. 14 [...] É o que se verifica, a título ilustrativo, nos crimes
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, culposos (salvo na culpa imprópria) e nos crimes
pune-se a tentativa com a pena correspondente ao unissubsistentes.
crime consumado, diminuída de um a dois terços. Relembrando:
Teoria objetiva, realística ou dualista significa que, z Culpa: o agente não quer, nem assume o risco de
ao se determinar a pena da tentativa, ela deve corres- produzir o resultado;
ponder à pena do crime consumado, diminuída de 1/3 z Culpa imprópria: decorre do erro de tipo evitável
(um terço) a 2/3 (dois terços). nas descriminantes putativas ou do excesso nas
Como o desvalor do resultado é menor quando causas de justificação. O agente quer o resultado
comparado ao do crime consumado, o agente deve em razão de a sua vontade se encontrar viciada
suportar uma punição mais branda. por um erro que, com mais cuidado, poderia ser
28 evitado;
z Crime unissubsistente: é realizado por ato único, não provocou por sua vontade, nem podia de outro
não sendo admitido o fracionamento da conduta, modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifí-
como, por exemplo, no desacato (art. 331, do CP) cio, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
praticado verbalmente. § 1º Não pode alegar estado de necessidade quem
tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
Entretanto, em hipóteses raríssimas somente é § 2º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do
direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de
cabível a punição de determinados delitos na forma
um a dois terços.
tentada, pois nesse sentido orientou-se a previsão
legislativa quando da elaboração do tipo penal.
Conforme expressa o art. 24, CP, o estado de neces-
Exemplos disso encontram-se nos arts. 9º e 11, da
sidade é a situação de perigo atual, que não foi provo-
Lei n° 7.170, de 1983 — Crimes contra a Segurança
cada voluntariamente pelo agente, na qual ele viola o
Nacional.
bem de outrem, para não sacrificar direito seu ou de
terceiros, sacrifício que não poderia razoavelmente
Art. 9º Tentar submeter o território nacional, ou
parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país. ser exigido.
Pena: reclusão, de 4 a 20 anos. Para que se configure:
Parágrafo único. Se do fato resulta lesão corporal
grave, a pena aumenta-se até um terço; se resulta z O perigo deve ser atual;
morte aumenta-se até a metade. z Deve haver ameaça a direito próprio ou alheio,
Art. 10 Aliciar indivíduos de outro país para inva- cujo sacrifício não era razoável de se exigir;
são do território nacional. z A situação não deve ter sido provocada pela von-
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. tade do agente;
Parágrafo único. Ocorrendo a invasão, a pena z A situação deve ser inevitável de outro modo;
aumenta-se até o dobro. z É necessário que o agente saiba que se encontra
Art. 11 Tentar desmembrar parte do território em estado de necessidade (requisito subjetivo);
nacional para constituir país independente. z Não deve haver o dever legal do agente de enfren-
Pena: reclusão, de 4 a 12 anos. tar o perigo (§ 1º, art. 24, CP).
Está disposto na segunda parte, inciso III, art. 23, Inexigibilidade de conduta diversa;
CP. Da mesma forma que a anterior, não pode ser ilíci- Estado de necessidade exculpante;
ta a conduta daquele que age estritamente exercendo Excesso exculpante;
direito seu. Excesso acidental.
Causas Supralegais de Exclusão da Antijuridicidade
Doença Mental
Existem condutas consideradas justas pela cons-
ciência social que não se encontram previstas nas Doença mental pode ser conceituada como o qua-
causas de exclusão da antijuridicidade elencadas no dro de alterações e doenças psíquicas que retiram
art. 23, CP. Nesse sentido, a doutrina aponta que o con- do indivíduo a faculdade de controlar e comandar a
própria vontade. Importante esclarecer que a depen-
sentimento do ofendido (fora das hipóteses em que o
dência patológica, como a dependência de drogas,
dissenso da vítima constitui requisito da figura típi-
configura doença mental quando retira a capacidade
ca) pode vir a excluir a ilicitude, caso se praticado em
de entender ou querer.
situação justificante, como é o caso do indivíduo que
tatua o corpo de outras pessoas, praticando conduta
Desenvolvimento Mental Incompleto
típica de lesões corporais, que, no entanto, são lícitas
se presente o consentimento do ofendido.
Por desenvolvimento mental incompleto se
Excesso Punível entende as limitações na capacidade de compreensão
da ilicitude do fato ou a incapacidade de se autodeter-
Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou minar de acordo com o entendimento (precário) uma
que está em vias de sofrer, em relação ao meio usado o vez que o sujeito ainda não atingiu maturidade (seja
agente pode encontrar-se em três situações diferentes: física ou mental). São causas:
panheiro ou parente consanguíneo até terceiro Temos, aqui, uma qualificadora de natureza obje-
grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei tiva, relacionada aos meios empregados pelo agente
nº 13.142, de 2015) para praticar o crime, que podem estar relacionados a
VIII - com emprego de arma de fogo de uso res- meios insidiosos (emprego de veneno), cruéis (asfixia,
trito ou proibido: tortura) ou que possam resultar em perigo comum
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. (fogo, explosivo).
Em relação ao emprego de veneno, segundo a
Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei doutrina majoritária, tal qualificadora só irá se con-
nº 8.092, de 1990, com redação dada por meio da Lei figurar se ficar comprovado que a vítima ingeriu o
nº 13.964, de 2019, diz que será hediondo o homicídio veneno sem saber que o fazia. Caso a vítima saiba que
qualificado em todas as hipóteses dos incisos I, II, III, está ingerindo veneno, outra qualificadora poderá ser
IV, V, VI, VII e VIII, do parágrafo 2º, art. 121, do CP. aplicada, a de meio cruel.
1 STJ. 6ª Turma. AgInt no REsp 1681816/GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 03/05/2018.
2 HC 123.918/MG e AgRg no AREsp 569047/PR. 33
Importante: no direito penal, o agente é puni- II - menosprezo ou discriminação à condição de
do, em regra, pelo crime que queria praticar. Assim, mulher.
caso o agente queira torturar, mas se exceda e acabe
matando a vítima, irá responder por tortura qualifi- O feminicídio ficará configurado com a morte da
cada pelo resultado morte. Se o agente queria matar e mulher devido à violência de gênero e não quando
usa a tortura como meio para atingir a sua finalidade, ocorrer a morte da mulher em qualquer situação.
irá responder por homicídio qualificado pela tortura.
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo Grave bem as hipóteses de aumento de pena, pois
feminino. são cobradas recorrentemente em provas de concurso
público.
Fique atento, pois este dispositivo tem grande incidên- É importante ressaltar que o inciso II foi modifica-
cia em provas de concursos públicos. Estamos falando do do pela Lei nº 14.344, de 2022 (Lei Henry Borel), para
feminicídio, uma qualificadora de ordem objetiva. revogar a causa de aumento de pena de pessoa menor
Você acertará todos os itens correspondentes quando
de 14 anos, evitando o bis in idem com a qualificadora
entender que nem toda morte de mulher será considera-
de pessoa menor de 14 anos.
da feminicídio, mas, sim, a morte de mulher praticada
em razão da sua condição de sexo feminino.
Art. 121 [...]
O Código Penal estabelece que se deve considerar
§ 2º [...]
razões de condição de sexo feminino quando a mor-
te da mulher envolver violência doméstica ou fami- VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142
liar ou menosprezo ou discriminação à condição de e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
mulher. Veja: prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
Art. 121 [...] seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
§ 2º A Considera-se que há razões de condição de até terceiro grau, em razão dessa condição.
sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
34 3 HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade, julgado em 24/04/2018, DJe 11/05/2018.
O homicídio será qualificado quando praticado I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pes-
contra os seguintes agentes ou autoridades: soa com deficiência ou com doença que implique o
aumento de sua vulnerabilidade;
Integrantes das Forças Armadas (Marinha, II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente,
Exército ou Aeronáutica); padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, compa-
Integrantes dos órgãos de segurança pública: nheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da
vítima ou por qualquer outro título tiver autorida-
Polícia Federal; Polícia Rodoviária Federal;
de sobre ela.
Polícia Ferroviária Federal; Polícias Civis; Poli-
ciais Militares; Corpo de Bombeiros Militares;
A Lei Henry Borel inclui, ainda, o parágrafo 2º-B
Polícias Penais federal, estadual e municipal,
ao homicídio, prevendo causas de aumento de pena
Guardas Municipais, Agentes de segurança viá-
nos casos de homicídio contra menor de 14 anos. Vale
ria, Força Nacional de Segurança Pública.
mencionar que o inciso I somente tem aplicação se o
agente conhece a condição da vítima.
Mais uma vez, você deve ficar atento e levar para a
sua prova que não é a morte de qualquer dos agentes
z Homicídio Culposo
ou autoridades citados que irá qualificar o homicídio,
mas, sim, se a morte deles for praticada no exercício
Art. 121 [...]
da função (enquanto eles trabalham) ou em razão da § 3º Se o homicídio é culposo:
função (devido ao cargo que eles ocupam ou função Pena - detenção, de um a três anos.
que eles exercem).
A qualificadora também será aplicada se o homi- O homicídio culposo é aquele em que o agente não
cídio for praticado contra o cônjuge, companheiro ou quer como o resultado a morte, nem assume o risco de
parente consanguíneo até o 3º grau dos agentes ou realizá-lo, mas acaba causando a morte de alguém por
autoridades que vimos, também motivado pela fun- imprudência, negligência ou imperícia.
ção que os agentes ou autoridades exercem. A imprudência fica configurada quando o agente
é afoito, praticando conduta não recomendada pela
Dica vida em sociedade. Exemplo: João realiza ultrapassa-
gem em local proibido e atinge ciclistas que trafegam
É possível que o homicídio seja privilegiado e
na rodovia.
qualificado ao mesmo tempo? A negligência, por sua vez, fica configurada quan-
Sim, é possível, porém, é necessário que a qua- do o agente é omisso ou relapso. Ele não faz algo que
lificadora seja de natureza objetiva, ou seja, rela- a vida em sociedade recomenda.
cionada aos meios empregados pelo agente Além disso, imperícia é a falta de aptidão técnica
para executar o crime. para o desempenho de determinada atividade.
Segundo a doutrina majoritária, o homicídio Nos exemplos a seguir, que a doutrina apresen-
privilegiado qualificado não será considerado ta com mais frequência, poderemos ver a diferença
hediondo, porque o privilégio afasta a hediondez. entre a negligência e a imperícia:
VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito Exemplo: Adolfo é médico cirurgião. Certo dia,
ou proibido; ao fazer uma cirurgia renal, ele deixa um bistu-
ri dentro do paciente, que vem a óbito.
Trata-se de uma qualificadora de natureza objeti-
va e deve ser interpretada de acordo com o Estatuto Neste caso, Adolfo irá responder por homicídio cul-
do Desarmamento e demais normas complementares. poso por negligência. Observe que ele é médico cirur-
gião, logo, tem perícia para a realização de cirurgias,
IX - contra menor de 14 (quatorze) anos: (Inclu- mas foi omisso ao esquecer o equipamento dentro do
ído pela Lei nº 14.344, de 2022) paciente.
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Exemplo: Teobaldo é médico clínico geral em
Recentemente, a Lei nº 14.344, de 24 de maio de período de residência. Ele vai fazer uma cirurgia
2022 (Lei Henry Borel), modificou o parágrafo 2º, do renal, erra no procedimento e a vítima morre.
art. 121, do Código Penal, e passou a estabelecer que
é homicídio qualificado o assassinato de pessoa Teobaldo irá responder por homicídio culposo por
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
menor de 14 anos (pena de reclusão de 12 a 30 anos). imperícia, já que faltava, a ele, aptidão necessária
Vale mencionar que, o art. 32, da Lei Henry Borel, alte- para realizar perícias.
rou também a Lei nº 8.072, de 1990, de modo que o No caso do homicídio culposo, é possível a aplica-
homicídio praticado contra menores de 14 anos pas- ção do instituto do perdão judicial, previsto no pará-
sou a ser considerado hediondo. grafo 5º, art. 121, do CP:
Importante: a nova qualificadora do homicídio
abrange todo o homicídio de criança, mas não todos Art. 121 [...]
de adolescente, uma vez que se limitou à idade de 14 § 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz pode-
anos. Dessa forma a majorante prevista no parágrafo rá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da
4º (contra pessoa menor de 14 anos), art. 121, não se infração atingirem o próprio agente de forma tão
aplica mais, uma vez que incide a qualificadora. grave que a sanção penal se torne desnecessária.
As causas de aumento de pena estão previstas nos z Induzir: criar uma ideia que não existe. A vítima
parágrafos 4º, 6º e 7º, do art. 121. Veja: nunca pensou em se suicidar e o agente a induz,
fazendo com que tenha esta ideia;
Art. 121 [...] z Instigar: reforçar uma ideia que já existe. A víti-
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada ma pensa ou já pensou em se suicidar e o agente a
de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobser- apoia a realizar o ato;
vância de regra técnica de profissão, arte ou z Auxiliar: o agente presta auxílio material à víti-
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
ma. Por exemplo, emprestando uma arma, uma
socorro à vítima, não procura diminuir as con-
corda, entre outras formas de auxílio.
seqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão
em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é prati- É importante destacar que a consumação do crime
cado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou do art. 122 se dá com o mero induzimento, instigação
maior de 60 (sessenta) anos. ou auxílio ao suicídio ou à automutilação, ou seja, tra-
ta-se de um crime formal. O crime não depende da
As causas de aumento de pena aplicáveis ao ocorrência do resultado morte, mas ocorrendo, acar-
homicídio culposo merecem atenção especial. Nes- retará o reconhecimento de qualificadoras.
tes casos, a pena é aumentada de 1/3 nas seguintes Com o advento da Lei nº 13.968, de 2019, na hipó-
circunstâncias: tese de a automutilação ou de a tentativa de suicídio
resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssi-
Inobservância de regra técnica de profissão, ma, nos termos dos parágrafos 1º e 2º, art. 129, do CP,
arte ou ofício; a pena cominada é de reclusão, de 1 a 3 anos.
Se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as consequências de Art. 122 [...]
seu ato. Nas hipóteses em que a vítima tiver morte § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio
instantânea, tal circunstância, por si só, não pode resulta lesão corporal de natureza grave ou gravís-
afastar a causa de aumento da pena, exceto quan- sima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste
do o óbito seja evidente a qualquer pessoa4; Código:
Se o agente foge para evitar a prisão em flagrante. Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automu-
Já no homicídio doloso, a pena é aumentada de tilação resulta morte:
1/3 quando: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Crime praticado contra pessoa menor de 14 Essa redação (parágrafo 1º, art. 122, do CP) citada
anos ou maior de 60 anos. põe fim à discussão sobre a possibilidade de tentativa
para o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até Hoje, a lei diz que o crime de induzimento, insti-
a metade se o crime for praticado por milícia gação ou auxílio ao suicídio e, agora, à automutilação,
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de admite tentativa. Porém, em caso de consumação do
segurança, ou por grupo de extermínio. suicídio ou de a automutilação resultar morte, a pena
prevista é de reclusão, de 2 a 6 anos.
Nos casos do parágrafo 6º, a causa de aumento de
pena é aplicável tanto ao homicídio simples, quanto z Forma Qualificada
ao homicídio qualificado.
Já quanto ao feminicídio, conforme já vimos, o Com a redação da Lei nº 13.968, de 2019, a pena para
aumento será de 1/3 até metade, quando praticado o crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio
nas circunstâncias do parágrafo 7º, art. 121. e de automutilação é duplicada em dois casos. Veja:
As lesões corporais graves, gravíssimas e seguidas Atente-se à seguinte tabela, elaborada para evitar
de morte compõem o grupo lesões corporais qualifica- confusões quanto às lesões grave e gravíssima:
das, segundo a doutrina penalista.
O crime de lesão corporal é classificado como delito
não transeunte, que é aquele que deixa vestígios, sendo LESÃO GRAVE LESÃO GRAVÍSSIMA
necessária a realização de exame de corpo de delito. Debilidade permanente Perda ou inutilização
de membro, sentido ou do membro sentido ou
Lesão Corporal Leve (Simples) função função
A transmissão deve se
Importante! dar por meio de relação
A transmissão dá-se por
qualquer meio
É importante mencionar, pela própria nature- sexual
za do tipo penal, que não se exige, para a sua Transmite-se moléstia Transmite-se moléstia
configuração simples, dolo específico do agen- venérea grave
te em transmitir a doença venérea (caso ocor-
ra esta hipótese, o crime será qualificado), É norma penal em branco É norma penal em branco
bastando que ele tenha a intenção de ter a rela-
Não se exige dolo
ção sexual, sabendo ou devendo saber que está Exige-se dolo específico
específico
contaminado.
Ação penal pública Ação penal pública
condicionada incondicionada
Como o fato se relaciona a uma ou mais pessoas
determinadas, estamos diante de um delito de perigo Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
individual, o qual deve ser averiguado diante do caso
concreto. Isso porque da simples relação sexual do O art. 132, do CP, trata do crime de perigo para a
agente com a vítima não decorre presunção absolu- vida ou saúde de outrem:
ta da existência desse perigo. A presunção é relativa,
admitindo prova em contrário, como no caso de a víti- Art. 132 Expor a vida ou a saúde de outrem a peri-
ma já ser portadora de doença venérea. go direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato
42 não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a Veja características do crime de abandono de
um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem incapaz:
a perigo decorre do transporte de pessoas para a pres-
tação de serviços em estabelecimentos de qualquer z É crime próprio, já que se exige uma condição
natureza, em desacordo com as normas legais. especial do agente: ser pessoa que tem o cuidado,
guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima;
A conduta nuclear é expor, ou seja, colocar em peri- z É crime formal, que não exige que ocorra qualquer
go a vida, a integridade física ou a saúde de alguém. O coisa com o abandonado (vítima) para fins de con-
perigo é concreto, direto, iminente e anormal. sumação do crime.
6 GRECO, R. Curso de Direito Penal — Parte Especial V, II. Niterói: Editora Impetus, 2019, p. 392. 45
Em se tratando de intenção de brincar por parte do Excepcionalmente, é proibida a prova da verdade,
agente, não há que se falar no crime de calúnia, pois em três hipóteses previstas no parágrafo 3º, art. 138.
o ato não tem o propósito de ofender, sendo assim, Nessas três hipóteses do parágrafo 3º, art. 138,
não incide no crime de calúnia — por falta de dolo do CP, ainda que verdadeira a imputação, o crime de
— aquele que age com intenção de brincar (animus calúnia não será excluído.
jocandi).7 Observa-se a possibilidade de a calúnia incidir
sobre o fato verdadeiro nessas três hipóteses em que
Art. 138 [...] a lei proíbe a exceção da verdade.
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a A primeira ocorre quando o fato imputado cons-
imputação, a propala ou divulga. tituir delito de ação privada e o ofendido não houver
§ 2º É punível a calúnia contra os mortos. sido condenado por sentença transitada em julgado. A
vedação é justificada pelo princípio da disponibilida-
Pune-se a calúnia praticada contra os mortos (nes- de da ação penal privada, que pode ou não ser ajuiza-
da, consoante à exclusiva vontade do ofendido ou de
te caso, o sujeito passivo será família do morto):
seu representante legal.
A segunda hipótese, inciso II, do parágrafo 3º, do
z Segundo parte da doutrina, é possível que a calú-
art. 138, dita que não se admite a exceção da verdade
nia seja praticada contra pessoa jurídica, se o
quando a ofensa for irrogada contra o presidente da
fato falsamente imputado for referente a crime República ou chefe de governo estrangeiro. Justifica-se
ambiental; a proibição pela alta relevância política desempenha-
z Equipara-se à calúnia, incorrendo nas mesmas da pelo presidente da República, que não pode ficar à
penas, a conduta daquele que, sabendo falsa a mercê de qualquer acusação. No tocante ao chefe de
imputação, a propala (espalha) ou divulga. governo estrangeiro, expressão que abrange o primei-
ro-ministro e o presidente, a proibição encontra suas
A calúnia admite, como regra, a exceção da verda- raízes na política de diplomacia que deve reinar nas
de, que nada mais se trata de prova da verdade, que é relações internacionais.
a possibilidade que tem o agente de demonstrar que A terceira hipótese, inciso III, parágrafo 2º, do art.
o fato que ele imputou realmente aconteceu. Porém, 138, de proibição da vedação, dá-se quando o ofendi-
em algumas hipóteses não será admitida a exceção da do tiver sido absolvido por sentença transitada em
verdade. julgado do fato criminoso que lhe é imputado, respei-
tando a coisa julgada.
Art. 138 [...]
§ 3º Admite-se a prova da verdade, salvo: Difamação
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação
privada, o ofendido não foi condenado por sentença Art. 139 Difamar alguém, imputando-lhe fato
irrecorrível; ofensivo à sua reputação:
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, A difamação se configura quando o agente difa-
o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. mar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua repu-
tação. O crime de difamação tutela a honra objetiva. O
Como regra, admite exceção da verdade, ou seja, fato imputado pode ser falso ou verdadeiro, basta que
seja ofensivo.
admite que o réu prove que a vítima realmente prati-
Ex.: Suponha que Lili diga para um grupo de vizi-
cou o crime que lhe foi imputado.
nhos que Márcia, também vizinha, é garota de progra-
No entanto, nos casos de crime imputado, embora
ma e atende aos clientes no período noturno em sua
de ação pública, em que o ofendido tenha sido absol-
residência. A conduta praticada por Lili configura o
vido por sentença irrecorrível, há uma presunção de crime de difamação.
que a imputação é falsa, respondendo o agente por Observe que o fato imputado não constitui um cri-
ela. me, podendo, inclusive, constituir uma contravenção
Mas se o réu conseguir provar que o fato que impu- penal. Entretanto, caso constitua crime, será calúnia.
tou à vítima é verdadeiro, ele será absolvido. A difamação, assim como a calúnia, também se
consuma quando o fato chega ao conhecimento de um
terceiro, distinto do autor e da vítima, já que também
Importante! protege a honra objetiva. Trata-se de crime formal e
irá se configurar ainda que a conduta não desonre
Os crimes contra a honra dos Chefes dos Três
objetivamente a vítima.
Poderes (Presidente da República, Presidente Não há difamação praticada na modalidade cul-
do Senado Federal, Presidente da Câmara dos posa. É possível a tentativa da difamação, quando for
Deputados e Presidente do Supremo Tribunal possível fracionar o iter criminis, a exemplo da difa-
Federal), com exceção da injúria, em caso de mação cometida por meio de carta.
motivação política, configurarão delito contra a A pessoa jurídica pode ser o sujeito passivo do cri-
Segurança Nacional. me de difamação.
Na difamação, a exceção da verdade não pode ser
aplicada, salvo se o ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício da função.
46 7 (APn 887/DF, j. 03/10/2018)
z Exceção da Verdade Art. 140 [...]
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de
Art. 139 [...] fato, que, por sua natureza ou pelo meio emprega-
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se do, se considerem aviltantes:
admite se o ofendido é funcionário público e a ofen- Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
sa é relativa ao exercício de suas funções. além da pena correspondente à violência.
ta, se a conduta não constitui crime mais grave. psicológica e autodeterminação da mulher.
Importante: nem sempre haverá a incidência da
Importante: a violência psicológica é uma das for- Lei nº 11.340, de 2006 (Lei Maria da Penha) sobre o
mas de violência contra a mulher prevista no inciso II, art. 147-B, do CP, uma vez que o crime não exige vio-
art. 7º, da Lei Maria da Penha: lência doméstica ou familiar contra a mulher (a vio-
lência psicológica pode ser praticada, por exemplo, no
Art. 7º São formas de violência doméstica e fami- âmbito profissional).
liar contra a mulher, entre outras:
[...]
II - a violência psicológica, entendida como qualquer
z Violência Psicológica como Motivo de Afasta-
conduta que lhe cause dano emocional e diminui- mento do Agressor
ção da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe
o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou É importante também destacar as alterações da
controlar suas ações, comportamentos, crenças Lei Maria da Penha no que concerne à violência psi-
e decisões, mediante ameaça, constrangimento, cológica contra a mulher. Veja: 51
Art. 12-C Verificada a existência de risco atual ou Importante: qualquer pessoa pode ser o sujeito
iminente à vida ou à integridade física ou psicoló- ativo. Se, todavia, tratar-se de funcionário público
gica da mulher em situação de violência doméstica no exercício das suas funções, estará caracterizado o
e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será crime de abuso de autoridade. Nos termos do inciso
imediatamente afastado do lar, domicílio ou local IV, art. 12, da Lei nº 13.869, de 2019 (Lei de Abuso de
de convivência com a ofendida: autoridade), comete crime de abuso autoridade aque-
[...] le que:
serão alterados (de 1 a 3 meses para 6 meses a 2 anos), me impossível por absoluta impropriedade do objeto
se for praticado em uma das hipóteses previstas. (art. 17, do CP).
Observe o que o Código Penal diz sobre a expres- A lei penal protege a correspondência fechada,
são “casa”: pois somente esta contém em seu interior um segre-
do. É preciso que seja a correspondência endereçada
Art. 150 [...] a destinatário específico.
§ 4º A expressão “casa” compreende: Não há crime de violação de correspondência:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva; z Conduta do sujeito que lê uma carta cujo envelope
III - compartimento não aberto ao público, onde está aberto;
alguém exerce profissão ou atividade. z Correspondências cujos envelopes possuem a
expressão “este envelope pode ser aberto pela
Empresa de Correios e Telégrafos”;
9 STF — RE 603.616/RO. 55
z Aquele que abre uma carta que encontrou e estava A ação penal é pública condicionada à
perdida há décadas em lugar público; representação.
z Alguém abre uma carta remetida ao povo, aos elei- Tratando-se de crime de dupla subjetividade pas-
tores em geral, aos amantes do futebol etc.; siva (remetente e destinatário), o direito de represen-
z Os pais que abrirem cartas estranhas endereçadas tação pode ser exercido tanto pelo remetente como
aos filhos menores; pelo destinatário da correspondência. Se um deles
z Ao diretor do estabelecimento prisional é assegu- quiser representar, e o outro não, prevalece a vontade
rado o direito de acessar o conteúdo de correspon- daquele que deseja autorizar a instauração da perse-
dências suspeitas remetidas aos presos (inciso XV, cução penal.
parágrafo único, art. 41, da Lei de Execução Penal);
z Quando um dos cônjuges abre correspondências Sonegação ou Destruição de Correspondência
encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em
face do exercício regular de direito. Acompanhe:
representação.
nicação ou conversação telegráfica, radioelétrica
ou telefônica. Pune-se o indivíduo que, sem amparo O objeto jurídico desse crime é a inviolabilidade
legal, não deixa ser realizada a comunicação ou con- de correspondência. A lei penal tutela a liberdade de
versação alheia. comunicação do pensamento transmitida por meio de
O inciso IV, § 1º, art. 151, do CP, foi substituído pelo correspondência comercial.
art. 70, da Lei nº 4.117, de 1962 — Código Brasileiro de O objeto material é a correspondência comercial
Telecomunicações. que suporta a conduta criminosa. No conceito de cor-
A finalidade da lei é vedar a uma pessoa, sem auto- respondência comercial, encaixa-se toda e qualquer
rização legal, a instalação ou utilização de aparelho carta, bilhete ou telegrama inerente à atividade mer-
clandestino de telecomunicações. cantil. Deve se relacionar às atividades exercidas pelo
Nesse crime, tem-se por objeto jurídico o sigilo da estabelecimento comercial ou industrial.
comunicação transmitida pelo telégrafo, pelo rádio e O núcleo do tipo é abusar, que significa utilizar de
pelo telefone. forma excessiva ou inadequada.
57
Os sócios ou empregados, no exercício de suas Pressupõe-se dois elementos:
atividades, geralmente têm acesso a informações
contidas em correspondências endereçadas ao esta- z Negativo: ausência de notoriedade;
belecimento comercial ou industrial. z Positivo: vontade determinante de sua custódia
A conduta de abusar concretiza-se mediante o ato ou preservação.
de, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu Nos crimes contra a inviolabilidade de corres-
conteúdo. Pode ser exteriorizada por ação, por exemplo, pondência, o legislador busca coibir o conhecimen-
abrir uma carta, ou por omissão, por exemplo, deixar to do conteúdo de uma missiva sem autorização
uma correspondência ser destruída pela chuva. para tanto; tutela-se unicamente a inviolabilidade de
Desviar é afastar a correspondência do seu real correspondência.
destino. Já nos crimes contra a inviolabilidade dos segre-
Sonegar é esconder, no sentido de obstar a che- dos, protege-se um segredo nela contido, capaz de
gada da correspondência ao correto estabelecimento ser divulgado ou revelado e com isso, causar danos a
comercial ou industrial. outrem. Além disso, o bem jurídico resguardado pela
Subtrair é apoderar-se da correspondência comer- lei penal é a inviolabilidade dos segredos.
cial, retirando do seu devido lugar ou impedindo seu
envio ao destino original. Divulgação de Segredo
Suprimir é destruir para que a correspondência
não seja entregue em seu destino, ou para que seja Art. 153 Divulgar alguém, sem justa causa, conteú-
retirada do estabelecimento comercial ou industrial do de documento particular ou de correspondência
para o qual foi encaminhada. confidencial, de que é destinatário ou detentor, e
Revelar é permitir o acesso ao conteúdo da cor- cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, de
respondência do estabelecimento comercial ou indus-
trezentos mil réis a dois contos de réis.
trial a quem seja alheio aos seus quadros ou não tenha
§ 1º Somente se procede mediante representação.
o direito de conhecer o que nela se contém.
Sobre o sujeito ativo, somente pode ser o sócio ou
O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade
empregado do estabelecimento comercial ou indus-
ou da vida privada. Veda-se a divulgação de segredos
trial, por ser crime próprio.
cujo conhecimento por terceiros pode trazer prejuízos
Já o sujeito passivo é o estabelecimento comercial
ao seu titular.
ou industrial titular da correspondência violada.
O objeto material é o conteúdo secreto de docu-
Esse crime é praticado na modalidade dolosa. Exi-
mento particular ou de correspondência confidencial.
ge-se também um especial fim de agir, representa- Vejamos que o núcleo do tipo é divulgar, vulgari-
do pela intenção de abusar da condição de sócio ou zar, tornar público ou conhecido um fato ou informa-
empregado. É necessário ter o agente, ao tempo da ção. Não basta a comunicação a uma só pessoa ou a
conduta, a consciência de que abusa da sua peculiar um número reduzido e limitado, exige-se propagação,
condição em relação à vítima. difusão, possibilitando o conhecimento do fato a um
Não se admite a modalidade culposa. número indeterminado de pessoas.
O crime é formal, de consumação antecipada ou de A conduta de divulgar pode ser praticada por
resultado cortado. Consuma-se quando o agente desvia, variados meios — crime de forma livre. Veda-se que
sonega, subtrai ou suprime a correspondência comer- uma pessoa, destinatária de um documento particular
cial, ou então quando revela a terceiro seu conteúdo. ou de uma correspondência confidencial, possa divul-
É possível a tentativa. gá-la a terceiros, provocando danos a alguém.
A ação penal é pública condicionada à representação. Esse tipo penal não se aplica ao documento públi-
co, por ausência de previsão legal. A revelação do seu
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS conteúdo pode, contudo, caracterizar o crime de vio-
SEGREDOS lação de sigilo funcional, previsto no art. 325, do CP.
O elemento do tipo está contido na expressão sem
Observamos que o inciso X, art. 5º, da CF, de 1988, é justa causa. Não é qualquer divulgação de conteúdo de
responsável por assegurar a inviolabilidade de dois direi- documento particular ou de correspondência confiden-
tos fundamentais do ser humano: honra e vida privada. cial que caracteriza o delito de divulgação de segredo — a
Reserva-se a toda pessoa o direito de manter segre- divulgação deve ser realizada sem justa causa.
do acerca de fatos de sua vida privada. Nessa seara, a A justa causa conduz à exclusão da tipicidade do fato.
norma constitucional resguarda os segredos pessoais. Há justa causa, entre outras, nas seguintes hipóteses:
De fato, um segredo inerente a alguém, quando
divulgado ou revelado sem justa causa, tem o condão z Comunicação à autoridade policial, ao Ministério
de acarretar sérios danos às pessoas em geral. Público ou ao Poder Judiciário de infração penal;
Veja, os arts. 153 e 154, do Código Penal, resguar- z Consentimento do interessado;
dam o conhecimento público de segredos cuja revela- z Para servir de prova da existência de uma infração
ção possa produzir danos a alguém. penal ou de sua autoria;
Não ingressa na proteção penal, consequentemen- z Dever de testemunhar em juízo;
te, a punição pela revelação ou divulgação de fatos z Defesa de interesse legítimo.
secretos incapazes de proporcionar consequências
jurídicas ao seu titular. Também não há crime quando alguém entrega à
Secreto é o fato da vida privada que se tem interes- autoridade policial, ao Ministério Público ou à autori-
se em ocultar. dade judiciária uma missiva recebida de outrem, con-
58 tendo a confissão de um delito pelo verdadeiro autor.
Trata-se de um crime próprio, pois o sujeito ativo Violação do Segredo Profissional
do crime somente pode ser o destinatário ou detentor
do documento particular ou correspondência de con- Acompanhe o que dispõe o art. 154:
teúdo confidencial.
Sujeito passivo é aquele a quem a divulgação do Art. 154 Revelar alguém, sem justa causa, segredo,
segredo possa produzir dano, remetente, destinatário de que tem ciência em razão de função, ministério,
ou qualquer outra pessoa. ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir
dano a outrem:
Esse crime é praticado na modalidade dolosa, não
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa
se admite a forma culposa, consuma-se no instante
de um conto a dez contos de réis.
em que o segredo é divulgado para um número inde- Parágrafo único. Somente se procede mediante
terminado de pessoas e é possível a tentativa. representação.
Os parágrafos 4º e 5º do art. 154-A não sofreram O primeiro crime contra o patrimônio é o furto.
modificação por parte da Lei nº 14.155, de 2021, man- Em síntese, o crime de furto é definido por ser a sub-
tendo, portanto, sua redação original: tração de coisa alheia móvel para si ou para outrem.
Há o furto (art. 155, do CP) e o furto de coisa comum
Art. 154-A [...] (art. 156).
§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a Sobre o bem jurídico, não há consenso na doutri-
dois terços se houver divulgação, comercialização na, vejamos:
ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos
dados ou informações obtidos. z Somente a propriedade (Hungria);
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o z A propriedade e a posse (Nucci; Greco; Masson);
crime for praticado contra: z A propriedade, a posse e a detenção (Mirabete;
I - Presidente da República, governadores e prefeitos Delmanto; Bitencourt).
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Sena- Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima,
do Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, passando-a ao poder do agente. Pode ocorrer por apo-
da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de deramento direto, quando o agente apreende a coisa
Câmara Municipal; ou manualmente, ou por apoderamento indireto, na hipó-
IV - dirigente máximo da administração direta e tese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal.
indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito
Federal. z Coisa: refere-se a tudo aquilo que possui existên-
cia de natureza corpórea;
Os parágrafos 4º e 5º cuidam, respectivamente, da z Coisa alheia: significa pertencente a outrem.
majorante que se aplica à forma equiparada (do § 1º),
no caso de divulgação, comercialização ou transmis- A coisa sem dono não é objeto de furto.
são dos dados ou informações para terceiros (ainda Não configura o crime de furto (art. 155, do CP) a
que gratuita); e da causa de aumento em razão da subtração de coisa própria, mesmo que em poder de
vítima ser ocupante de um dos cargos elencados nos terceiro, embora possa caracterizar o delito descrito
incisos do § 5º. no art. 346, do CP, ou o crime de furto de coisa comum
(art. 156, do CP).
z Ação Penal Não há furto de coisa abandonada, pois não inte-
gra o patrimônio de ninguém.
Art. 154-B Nos crimes definidos no art. 154-A, Se houver o apoderamento de coisa perdida, pode-
somente se procede mediante representação, -se configurar o crime do inciso II, § único, art. 169,
salvo se o crime é cometido contra a adminis- do CP.
tração pública direta ou indireta de qualquer Sobre o valor afetivo, para alguns autores (como
dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Damásio e Rogério Greco), coisa de valor afetivo ou
Municípios ou contra empresas concessionárias sentimental também pode ser objeto material de furto.
de serviços públicos. Segundo Hungria, “a coisa subtraída deve represen-
tar para o dono, se não um valor reduzível a dinheiro,
No crime de invasão de dispositivo informático, pelo menos uma utilidade (valor de uso), seja qual for,
em regra, a ação é pública condicionada à represen- de modo que possa ser considerada como integrante
tação do ofendido ou de quem tiver qualidade para do seu patrimônio”.
representá-lo. Em sentido contrário, uma parcela da doutrina
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Isso é justificado pela disponibilidade do interesse (Nucci, por exemplo) sustenta que deve haver subtra-
atacado pelo delito, vinculado precipuamente à esfera ção de coisa com valor patrimonial.
de intimidade da vítima. Em regra, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa,
Reserva-se ao ofendido ou ao seu representante exceto o proprietário.
a oportunidade (ou conveniência) para autorizar ou Sujeito passivo à vítima do furto: o proprietário, o
não o início da persecução penal. possuidor ou detentor da coisa legítima.
Excepcionalmente, a ação penal será pública
incondicionada, nas hipóteses em que o delito envol- Furto Simples
ver a Administração Pública, pois nesses casos há
ofensa a valores de natureza indisponível. O art. 155 do CP define o furto simples.
Configura-se quando o agente subtrai, para si ou
para outrem, coisa alheia móvel.
61
Para entendê-lo, dividiremos em duas partes: Portanto, vimos que não se pode restringir o patri-
mônio às coisas de valor econômico.
z Subtrair (verbo) — consiste no ato de se apossar de Além disso, o sujeito ativo do crime de furto pode ser
propriedade de outra pessoa, seja para si ou para qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum ou geral.
outra pessoa. Por exemplo, o agente subtrai para Há, ainda, exceções. Vejamos:
si uma bicicleta que estava estacionada próximo
à lanchonete; z Furto qualificado pelo abuso de confiança, previs-
z Coisa alheia móvel — necessário que o objeto to no inciso II, § 4º, art. 155, por ser crime próprio,
material do crime de furto seja coisa móvel e que o agente é aquela pessoa que a vítima confia, por
pertença a outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou exemplo, o furto praticado por um empregado;
que pertença ao próprio autor, não configurará z Quanto ao proprietário, caso subtraia a própria coi-
furto. Por exemplo, o agente que, aproveitando a sa que se encontra em poder de terceiro, não res-
distração da vítima, subtraia o aparelho celular. ponderá por furto, mas sim pelo crime de exercício
arbitrário das próprias razões (arts. 345 ou 346, do
Não há emprego de violência nem grave ameaça CP, conforme a pretensão seja legítima ou ilegítima);
à pessoa, distinguindo-se, nesse aspecto, do delito de z Quando a coisa pertencer a mais de uma pessoa,
roubo. o condômino que a subtrair responderá pelo deli-
to de furto de coisa comum (art. 156, do CP). Por
O furto tem as seguintes características: exemplo, um dos condôminos furta cadeiras da
área de uso comum do condomínio;
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- z O funcionário público, que subtrai bem público,
quer pessoa; responderá por peculato-furto (§ 1º, art. 312, do
z É crime material, que exige a ocorrência do resul- CP), desde que a função pública tenha facilitado a
tado naturalístico para fins de consumação, ou subtração, pois, se em nada facilitou, o delito será
seja, o crime só ocorre quando o sujeito ativo sub- de furto (art. 155, do CP);
trai a coisa móvel;
z O furto só se pratica dolosamente; Funcionário público que subtrai bem particu-
lar que se encontra sob a guarda ou custódia da
z Não admite a modalidade culposa;
Administração Pública, desde que a função tenha
z É crime plurissubsistente, ou seja, a conduta do
facilitado a subtração, responderá por peculato-
agente para praticar o furto é fracionada em
-furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub-
diversos atos que somados consumam o delito;
trai veículo que estava apreendido no pátio do
portanto, admite a tentativa quando o agente, por
posto de fiscalização da Polícia Rodoviária;
motivos alheios a sua vontade, pratica alguns atos
Funcionário público que subtrai bem particu-
e não ocorre a consumação do delito. Por exemplo,
lar que não estava sob a guarda ou custódia da
o agente, com animus de furtar objetos eletrôni-
Administração Pública ou estava, mas a função
cos de uma casa, pula o muro para ingressar no
em nada facilitou a subtração, responderá por
interior da residência, mas o proprietário da casa
furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub-
acorda e acende a luz, momento em que o agente
trai um bem que se encontrava no porta-malas
deixa de praticar os demais atos.
de um veículo que ele foi vistoriar, mas que não
estava apreendido, cometerá o crime de furto.
A lei tutela a propriedade e a posse. A simples
detenção não configura o crime de furto. O sujeito passivo é o titular do bem jurídico lesado
Sobre a consumação deste crime, é importan- ou exposto a perigo de lesão.
te conhecer o posicionamento adotado pelas cortes O titular do bem jurídico, apesar de divergên-
superiores (STF e STJ). cias na doutrina, prevalece sendo o proprietário e
Os tribunais superiores adotam a teoria da apprehen- possuidor.
sio, também chamada de amotio, que considera con- O detentor é arrolado no processo como testemu-
sumado o crime de furto (e isso vale para o crime de nha, e não como vítima.
roubo) quando o agente se apossa da coisa alheia móvel, Vejamos os pontos mais questionados sobre o
mesmo que por um breve período de tempo, não sen- crime de furto:
do necessário que a coisa saia da área de vigilância da
vítima. z Coisas ilícitas: podem ser objeto de furto, por exem-
Um questionamento oportuno é verificar se o bem plo, responde por furto quem subtrai mercadoria
subtraído deve ter valor econômico, ou seja, se o obje- contrabandeada e, neste caso, a vítima responderá
to material pode ser negociável. pelo crime de contrabando. Por outro lado, as coi-
sas ilícitas não podem ser objeto de furto se cons-
Vejamos os bens que integram o patrimônio: tituírem elemento de outro crime, por exemplo, a
subtração de droga é crime do art. 33, da Lei nº
z Os bens corpóreos, com existência material, por 11.343, de 2006; a subtração de arma de fogo é cri-
exemplo, um veículo, e incorpóreos, com existên- me do art. 16, da Lei nº 10.826, de 2003;
cia abstrata, por exemplo, um direito autoral, de z Algumas partes naturais do corpo humano: podem
valor econômico; ser objeto de furto se passíveis de figurarem numa
z Os bens de valor afetivo ou sentimental, por exem- relação jurídica, por exemplo, subtração do cabelo
plo, cartas e fotografias; com o fim de obter lucro. Portanto, a subtração de
z Os bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor um rim ou outro órgão vital não é furto, e sim lesão
62 econômico ou sentimental. corporal grave, ou homicídio consumado ou tentado;
z Cadáver: não pode ser objeto de furto, pois consti- I - com destruição ou rompimento de obstáculo à
tui delito do art. 211, do CP, destruição, subtração subtração da coisa;
ou ocultação de cadáver. Porém, se o cadáver tem II - com abuso de confiança, ou mediante fraude,
valor econômico, por exemplo, sendo pertencente escalada ou destreza;
à Faculdade de Medicina, haverá furto. Se houver III - com emprego de chave falsa;
furto de algum objeto que foi sepultado junto ao IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
cadáver, por exemplo, arcada dentária de ouro, o
crime será furto, e a vítima será o herdeiro do de É importante ressaltar também as recentes altera-
cujus; ções legais. Atenção especial para o disposto no § 4º-B
z Energia elétrica: discutia se constituía ou não coisa e § 4º-C, do art. 155, que foram incluídos pela Lei nº
móvel. O legislador penal tipificou o furto de ener- 14.155 de 2021. Vejamos:
gia elétrica no § 3º, art. 155, do CP, equiparando-se
à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra Art. 155 [...]
que tenha valor econômico, por exemplo, ener- § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
gia radioativa, energia cinética, energia atômica, anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de
energia genética etc. Porém, a energia deve ser artefato análogo que cause perigo comum.
suscetível de apossamento, ou seja, que possa ser § 4º-B A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
separada da coisa que a produz. anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometi-
do por meio de dispositivo eletrônico ou informáti-
co, conectado ou não à rede de computadores, com
Art. 155 [...]
ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a
§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
utilização de programa malicioso, ou por qualquer
qualquer outra que tenha valor econômico.
outro meio fraudulento análogo.
§ 4º-C A pena prevista no § 4º-B deste artigo, consi-
z Alteração no sistema de medição de energia elétri- derada a relevância do resultado gravoso:
ca: de acordo com o entendimento do STJ, a alte- I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),
ração no sistema de medição de energia elétrica, se o crime é praticado mediante a utilização de ser-
mediante fraude, para que o resultado calculado vidor mantido fora do território nacional;
no sistema seja menor do que o consumo real, II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o cri-
configura o crime de estelionato, e não o crime de me é praticado contra idoso ou vulnerável.
furto; § 5º A pena é de reclusão de três a oito anos, se a
z Instalação clandestina de TV a cabo: há duas subtração for de veículo automotor que venha a ser
correntes: transportado para outro Estado ou para o exterior.
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
Primeira: trata-se de fato atípico, pois não há se a subtração for de semovente domesticável de
propriamente a subtração de energia e, sim, produção, ainda que abatido ou dividido em partes
o aproveitamento de um serviço. A energia se no local da subtração.
consome ou se reduz com o uso e isso não ocor- § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
re com a TV a cabo, cuja utilização não gera anos e multa, se a subtração for de substâncias
qualquer custo adicional para a operadora. É explosivas ou de acessórios que, conjunta ou iso-
um mero ilícito civil. Observe que o art. 35, da ladamente, possibilitem sua fabricação, montagem
Lei nº 8.977, de 1995, dispõe que é “ilícito penal ou emprego.
a interceptação ou a recepção não autorizada
dos sinais de TV a Cabo”, entretanto, não lhe z Com destruição ou rompimento de obstáculo à
cominou qualquer pena, sendo vedada a sua subtração da coisa:
imposição pela via da analogia;
Segunda: dominante no STJ, considera que há Destruir é desfazer, demolir, por exemplo, o agen-
crime de furto. Argumenta-se que o sinal de te destrói algo para subtrair a coisa, a exemplo daque-
televisão se propaga por meio de ondas, o que le que arromba o portão de uma casa para entrar e
na definição técnica se enquadra como energia subtrair uma televisão.
radiante, que é uma forma de energia associa- Romper é abrir brecha, arrombar, arrebentar, ser-
da à radiação eletromagnética. rar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, o agente abre a
porta da casa com um pé de cabra para entrar e sub-
Furto Qualificado trair uma televisão.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Não confunda o furto mediante fraude com o z Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo
estelionato.
No furto mediante fraude, o agente usa a fraude O § 4º-A, art. 155, do CP, foi introduzido por meio
sobre a vítima para subtrair a coisa. da Lei nº 13.654, de 2018, e dispõe que: “A pena é de
No estelionato, o agente emprega a fraude para reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se hou-
ludibriar a vítima e fazer com que ela mesma ver emprego de explosivo ou de artefato análogo que
entregue a coisa. cause perigo comum”.
É o único furto que é crime hediondo (inciso IX,
No furto qualificado pela escalada, segundo o STJ, a art. 1º, da Lei n° 8.072, de 1990, com redação dada pelo
entrada em um local se dá por um meio anormal, que inciso IX, art. 1º, da Lei).
exige do agente esforço físico incomum. Para a dou- O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo,
trina majoritária, não é relevante se ocorre por cima torna o fato mais grave, justificando-se o rigor da
ou por baixo, desde que o agente não pratique nenhu- reprimenda penal, em razão da provocação de perigo
ma forma de destruição ou rompimento de obstáculo, coletivo.
quando aplicaremos outra qualificadora ao fato. Meio explosivo é o que causa estrondo, por exem-
No furto qualificado pela destreza, o agente faz uso plos, dinamite, pólvora.
de alguma habilidade especial. Segundo a doutrina, o Importante destacar que o tipo penal, ao contrário
exemplo clássico é o batedor de carteira. do art. 251, do CP, não se refere à substância explosiva,
Não há a qualificadora quando a vítima percebe a mas, sim, a meio explosivo. O meio explosivo utiliza-
subtração. Em tal situação, o agente responde por ten- do para explodir caixas eletrônicos de agências ban-
tativa de furto simples, ou furto simples consumado, cárias para subtrair o dinheiro é um típico exemplo
caso consiga arrebatar o objeto. do § 4º-A, art. 155, do CP. Já no crime do art. 251, do CP,
podemos trazer a hipótese de o agente que lança um
z Com emprego de chave falsa: artefato explosivo num ponto de ônibus e que expõe
as pessoas a risco.
No emprego de chave falsa, para subtrair a coisa, o O meio ou artefato explosivo, a que se refere a qua-
agente faz uso de chave distinta da chave original ou obje- lificadora em análise, abrange qualquer explosão, seja
to capaz de abrir um cadeado ou fechadura, por exemplo, ela oriunda de substância explosiva ou não explosiva,
gazuas, pedaço de arame, micha, clips etc. Anote-se que a mas o assunto certamente enseja polêmica.
chave falsa pode ou não ter formato de chave. Sobre o artefato explosivo, trata-se de qualquer
A jurisprudência não é unânime no caso de se a objeto confeccionado por trabalho mecânico ou à mão,
ligação direta do veículo caracteriza ou não chave por exemplo, as denominadas “bombas caseiras”.
falsa. Para a incidência da qualificadora, é preciso
A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicita- que seja um explosivo ou artefato que cause perigo
mente pelo agente, não caracteriza chave falsa. comum, ou seja, que coloque em risco um número
A cópia da chave verdadeira, quando obtida licita- indeterminado de pessoas ou de patrimônios.
mente, não é chave falsa. Se, no entanto, for tirada clan- O agente que se utiliza de um explosivo com poten-
destinamente, incide a qualificadora do crime de furto. cial para causar perigo comum que, entretanto, mes-
mo diante da explosão, não se concretiza, responderá,
z Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas: em caso de destruição ou rompimento de obstáculo,
pelo furto qualificado do inciso I, § 4º, art. 155, do CP, e
O reconhecimento da qualificadora depende de não pela qualificadora em análise, prevista no § 4º-A.
pelo menos duas pessoas. O explosivo geralmente é utilizado em furtos de
Computam-se os inimputáveis (menores e doentes caixas eletrônicos de bancos, sendo que, diante do
64 mentais) e os desconhecidos. advento desta nova qualificadora, encerra-se o antigo
debate travado acerca da adequação típica, que dividia Com efeito, presentes uma das qualificadoras do
as opiniões entre o furto qualificado pela destruição ou § 4º, exclui-se a incidência da qualificadora em apre-
rompimento de obstáculo (inciso I, § 4º, art. 155, do CP) ço, pois sua pena é mais branda, podendo funcio-
e a explosão com intuito de obter vantagem pecuniária nar, nesse caso, como circunstância judicial do art.
(§ 2º, art. 251, do CP). O enquadramento do § 4º-A, art. 59, do CP, servindo de parâmetro apenas para dosa-
155, do CP, absorve delitos de explosão e de dano, pois gem da pena-base. Entretanto, existe outra corrente
já funciona como causa de aumento de pena, aplican- mais favorável ao réu que, com base no princípio da
do-se o princípio da subsidiariedade tácita. especialidade, afasta a qualificadora do § 4º quando
se tratar de semovente domesticável de produção,
z Furto de veículo automotor que venha a ser trans- impondo-se, nesse caso, a qualificadora específica do
portado para outro Estado ou para o exterior: § 6º, considerando-a novatio legis in melius.
O objeto material é o animal domesticável de pro-
A pena será de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos dução, ainda que abatido ou dividido em partes no
se a subtração for de veículo automotor que venha a local da subtração.
ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Trata-se de um tipo penal aberto, porquanto a defi-
Não basta, porém, para a incidência da qualifica- nição desse elemento normativo é complementada
dora, o furto de veículo automotor, pois ainda se exige pelo juiz.
o efetivo transporte para outro Estado ou exterior. Para a incidência da qualificadora, é necessário
Veículo automotor engloba, por exemplo, carros, que o agente subtraia o animal por inteiro ou na sua
motos, lanchas, aviões etc. essência. O tipo penal refere-se à subtração de semo-
Não é necessário que o transporte para outro Esta- vente e, não, de partes dele, de modo que, quando o
do ou exterior seja realizado pelo próprio agente. animal já estava abatido ou dividido em partes, a inci-
Basta que o agente saiba da intenção de eventual dência da qualificadora estará condicionada à subtra-
receptador transportar o veículo para outro Estado ou ção do todo ou das partes substanciais. Na hipótese
exterior. de o agente deixar no local apenas as patas do boi e
Quem realiza o transporte após a consumação do subtrair o restante, persiste a qualificadora. Não teria
furto responde pelo crime de receptação. Por conse- cabimento, por exemplo, qualificar o delito pelo fur-
quência, o agente que é contratado para realizar o to de uma picanha extraída de um animal já abatido.
transporte responde pelo furto, se o contrato for ante- Também não incide a qualificadora quando o próprio
rior à subtração, e por receptação, se só foi contratado agente abate o animal, subtraindo-lhe apenas uma de
após a consumação. suas partes.
Consuma-se o transporte quando o veículo trans- Observa-se que, ao tempo da conduta, é necessário
põe os limites das fronteiras do Estado ou do país, com que o animal ainda pertença ao produtor, posto que o
intuito de ali permanecer. intuito da lei foi protegê-lo.
A mera condução do veículo para outro Estado ou A subtração, por exemplo, de um porco que se
exterior, com o intuito de retornar ao local de origem, encontra no açougue não qualifica o delito.
é insuficiente para a caracterização da qualificadora. Não há que se falar, também, no delito em estudo
Admite-se a tentativa quando o agente realiza a quando se subtrai o leite da vaca ou outro bem pro-
subtração e é preso em flagrante, próximo à trans- duzido pelo animal, porquanto o tipo penal se refe-
posição da fronteira, antes de obter a posse pacífica. re à subtração do semovente e, não, dos bens que ele
Sabemos que a jurisprudência considera o furto con- produz.
sumado como o simples apossamento do bem, inde- Nessas hipóteses, o furto será simples.
pendentemente da posse pacífica. Porém, a tentativa
tornou-se impossível, pois, com o início da remoção do z A subtração for de substâncias explosivas ou de
bem, o furto já se consuma nas modalidades anterio- acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi-
res, ainda que o agente seja preso próximo à fronteira. bilitem sua fabricação, montagem ou emprego:
se a subtração for de semovente domesticável (ani- Quanto aos acessórios, são os elementos que, em
mais, como: bovinos, suínos, equinos) de produção, conjunto ou isoladamente, são capazes de se transfor-
ainda que abatido ou dividido em partes no local de mar quimicamente numa substância explosiva; aqui
subtração. podemos exemplificar com o estopim, a espoleta e o
O bem jurídico primário é o patrimônio do produ- cordel detonante. São estes acessórios que possibili-
tor e, o secundário é a saúde pública. Isso porque o tam a fabricação, montagem ou emprego da substân-
animal poderá ser comercializado pelo criminoso sem cia explosiva.
que haja fiscalização do poder público, principalmen- A fabricação é a produção ou confecção.
te sanitária. Pode-se incluir o sistema tributário na Montagem é a junção dos componentes.
condição de patrimônio lesado. Emprego é a utilização.
Na prática, dificilmente esta qualificadora será O tipo penal não se refere aos maquinários e
aplicada, pois este tipo de delito geralmente é prati- outros objetos que também são utilizados para fabri-
cado por mais de uma pessoa e, diante disso, incidirá car, montar ou utilizar os explosivos, mas tão somen-
a qualificadora do inciso IV, § 4º, art. 155, do CP, que é te aos acessórios que compõem a própria substância
mais grave. explosiva. 65
É bom lembrar que configura crime, nos termos do São características do furto privilegiado:
inciso III, do § único, art. 16, da Lei nº 10.846, de 2003,
Estatuto do Desarmamento, possuir, deter, fabricar z Réu primário;
ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem z Coisa furtada de pequeno valor — Segundo a juris-
autorização ou em desacordo com determinação legal prudência, até 1 (um) salário mínimo.
ou regulamentar.
Esse delito será absorvido pelo crime do§ 7º, art. No caso do furto privilegiado, o juiz poderá ado-
155, do CP, pois já funciona como qualificadora. tar uma das seguintes medidas:
A pena será de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez)
anos, se a subtração for de substâncias explosivas ou z Substituir a pena de reclusão pela de detenção;
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibi- z Diminuir a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
litem sua fabricação, montagem ou emprego. terços);
z Aplicar somente a pena de multa.
Furto Majorado
Segundo o STJ, é possível o reconhecer privilé-
O furto será majorado quando a ele for aplicada a gio para o furto simples ou para o furto qualificado;
causa de aumento de pena prevista no § 1º, art. 155, entretanto, neste caso, as qualificadoras têm que ser
do CP. de natureza objetiva (emprego de chave falsa, por
exemplo).
Art. 155 [...]
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é Súmula n° 511 (STJ) É possível o reconhecimen-
praticado durante o repouso noturno. to do privilégio previsto no § 2º do art. 155 o CP
nos casos de crime de furto qualificado, se estive-
Sobre o repouso noturno, considere que, segundo rem presentes a primariedade do agente, o peque-
o STJ (jurisprudência atual), a causa de aumento de no valor da coisa e a qualificadora for de ordem
pena se aplica ao furto simples e ao furto qualificado. objetiva.
O furto majorado ocorre, por exemplo, quando o
agente, aproveitando-se do repouso noturno, entra O termo “pequeno valor da coisa” é entendido,
numa casa para furtar os eletroportáteis. pela jurisprudência, como o valor que não excede ao
Há discussão sobre a necessidade de a casa estar valor do salário mínimo. É necessário o auto de ava-
habitada e os moradores repousando, para que incida liação. É claro que o referencial do salário mínimo
o aumento de um terço. não é tão rígido, admitindo-se o privilégio quando a
Duas teorias tratam da discussão: coisa excede modicamente esse valor.
Considera-se “ordem subjetiva” a hipótese de furto
z Teoria subjetiva: a razão de ser do aumento da qualificado por abuso de confiança. Deve-se identifi-
pena é a maior proteção à tranquilidade dos que car a confiança da vítima para com o agente. Por isso,
repousam, bem como à incolumidade da vítima, não se trata de furto privilegiado.
que se encontra dormindo e desprotegida. Nes- A regra é que as qualificadoras do crime de fur-
te caso, restringe o aumento da pena ao furto to são objetivas, por exemplo, emprego de chave
cometido em casa habitada com os moradores falsa. Nesta regra, há compatibilidade com o furto
repousando; qualificado.
z Teoria objetiva: o fundamento do aumento da pena
é a proteção do patrimônio, que, nesse período, Furto de Uso
encontra-se vulnerável à subtração. A finalidade
da lei visa proteger primordialmente o patrimô- Esta conduta não exige a intenção de se apoderar,
nio, e depois, a tranquilidade. para si ou para outra pessoa, da coisa alheia móvel
que foi subtraída.
As duas teorias são aceitas, mas devemos com- O furto de uso é fato atípico, tal instituto não se
preender que incide o aumento de um terço não só aplica ao crime de roubo.
em furtos de residência, mas também em bancos, joa- Por exemplo, se o agente subtrai a coisa com a
lherias, casas comerciais, bem como de automóveis intenção de usar e devolver depois, não cometerá o
estacionados na rua, de gado (abigeato). crime de furto.
Aplica-se a regra do repouso noturno mesmo que o Na hipótese de o indivíduo subtrair uma bicicleta,
local seja área comercial ou local desabitado. devolvendo-a após dar uma volta no quarteirão, não
se configura crime de furto.
Furto Privilegiado O reconhecimento do furto de uso necessita da
presença de dois requisitos:
Art. 155 [...]
§ 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor z Uso momentâneo de coisa infungível, ou seja, o
a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de uso duradouro constitui crime de furto. Tratando-
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois -se de coisa fungível, como o dinheiro, nem o uso
terços, ou aplicar somente a pena de multa. momentâneo seguido da pronta restituição exclui
o delito;
Está previsto no § 2º, art. 155, do CP. Ocorre, por z Restituição imediata e integral da coisa. Nesta
exemplo, no caso de agente primário que subtraiu hipótese, o ladrão, para beneficiar-se do furto de
uma pequena bolsa vazia de uma loja, cujo valor é uso, deve deixar a coisa no mesmo lugar de onde a
66 inferior ao salário mínimo. subtraiu ou nas proximidades.
Furto de Coisa Comum ROUBO E EXTORSÃO
arbitrário das próprias razões. Vejamos: “A” deve uma cai — temos aqui o roubo impróprio.
quantia em dinheiro para “B”. “B”, cansado de cobrar o Exemplo 3: Tício conhece Mévia em uma festa.
valor da dívida, subtrai a bicicleta de “A” para quitá-la. Os dois vão para a casa dela. Ele coloca sonífero
O furto famélico é aquele em que o agente bus- na bebida dela, que entra em sono profundo, em
ca saciar a fome, não é estado de necessidade, salvo seguida, o agente subtrai todos o dinheiro existen-
se a subtração for o único meio de se alimentar. Por te na carteira de Mévia — temos aqui o roubo com
exemplo, a mãe, diante da necessidade de alimentar o violência imprópria.
filho, subtrai uma maçã de uma barraca de feira para
alimentá-lo. Roubo Simples
O furto em estado de precisão, aquele em que o
agente está desempregado e subtrai alimentos, ele- Art. 157 Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
trodomésticos etc. constitui crime. Por exemplo, o pai, para outrem, mediante grave ameaça ou violência
estando desempregado e sem condições de manter o a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
sustento da família, subtrai alimentos e eletroportá- reduzido à impossibilidade de resistência:
teis de um hipermercado para suprir o sustento do lar. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 67
Irá praticar o crime de roubo o agente que subtrair VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou
coisa móvel alheia, para si ou para outrem, median- de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi-
te grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de bilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilida- VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com
de de resistência. emprego de arma branca;
Também irá praticar o crime de roubo o agente
que, logo depois de subtraída a coisa, emprega violên- Vejamos cada uma das majorantes:
cia contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar
a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si A primeira majorante, concurso de
ou para terceiro. duas ou mais pessoas, justifica-se pela
Vamos falar das características do crime de maior organização do delito, aumen-
roubo: tando a possibilidade de consumação
PRIMEIRA à medida em que diminui a chance de
z É crime comum, já que pode ser praticado por MAJORANTE defesa da vítima
qualquer pessoa; Os menores de 18 anos, os doentes
z É crime complexo, já que atinge mais de um bem mentais e os desconhecidos, partici-
pantes da conduta criminosa, também
jurídico penalmente relevante (há mais de um cri-
são computados
me configurando o tipo penal do crime de roubo):
furto (+) ameaça ou violência; A segunda causa de aumento ocorre
z Não admite a modalidade culposa; quando a vítima está em serviço de
z É crime material, que exige a ocorrência do resul- transporte de valores e o agente conhe-
tado para fins de consumação; ce tal circunstância
SEGUNDA
z Para consumação, adota-se, assim como no furto, a Objetiva-se tutelar a segurança do
MAJORANTE
teoria da apprehensio, ou amotio. transporte
“Valores” abrange dinheiro, joias pre-
Há duas definições em que devemos ter atenção: ciosas e qualquer outro bem passível
arrebatamento de inopino e trombada. de ser convertido em pecúnia
No arrebatamento, que é o ato de arrancar com
A terceira majorante consiste na sub-
violência a coisa que está em poder da vítima ou no
tração de veículo automotor que venha
corpo dela, temos por exemplo o ato de puxar o colar
a ser transportado para outro Estado
do pescoço da vítima.
ou Exterior
A doutrina se divide. Alguns defendem a tese de A expressão “veículo automotor” abran-
que a arrebatamento caracteriza violência contra coi- ge, do mesmo modo que estudamos no
sa, constituindo o delito de furto. Por outro lado, há crime de furto: aeronaves, automóveis,
quem defenda que se trata de violência contra pessoa, TERCEIRA motocicletas, lanchas
configurando crime de roubo, teoria mais aceita. MAJORANTE Para a incidência do aumento da pena,
A trombada contra a vítima tem suas divergências é necessário que o veículo seja efetiva-
na jurisprudência. mente transportado para outro Estado
Há quem afirma que se trata de furto, exceto quan- ou Exterior. Isso porque o transporte
do reduzir a vítima à impossibilidade de resistência, diminui a possibilidade de recuperação
quando então configurará roubo. do bem, facilitando ainda a adulteração
Outra parte defende que sempre se enquadrará na e negociação do veículo, envolvendo,
hipótese de roubo, visto que o ato tem violência física. muitas vezes, terceiros de boa-fé
Aqui, no caso de trombada, a maioria entende que
se trata de furto. A quarta majorante ocorre quando o
QUARTA agente mantém a vítima em seu poder,
MAJORANTE restringindo a sua liberdade. Viola-se a
Roubo Majorado
liberdade pessoal de locomoção
O roubo majorado ocorre, por exemplo, quando o A quinta majorante acontece se a sub-
agente, sabendo que a vítima está prestando serviço tração for de substâncias explosivas
QUINTA
de transporte de valores, subtrai, mediante violência, ou de acessórios que, conjunta ou iso-
MAJORANTE
os malotes que a vítima portava. ladamente, possibilitem sua fabrica-
Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis ção, montagem ou emprego
ao crime de roubo.
70
Extorsão Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou
jurídica, inclusive a que sofre constrangimento sem
Art. 158 Constranger alguém, mediante violência ou lesão patrimonial.
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou O núcleo do tipo é o verbo constranger, que signi-
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, fica coagir, forçar, obrigar alguém a fazer, deixar de
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: fazer ou tolerar que se faça alguma coisa que a lei não
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
lhe impõe.
O delito é punido a título de dolo. O agente visa
O crime de extorsão previsto no art. 158, do CP,
conseguir da vítima uma ação ou omissão, com o fim
configurar-se-á quando o agente constranger alguém,
de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
mediante violência ou grave ameaça, com o intuito de
econômica.
obter para si ou para outrem indevida vantagem eco-
nômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer A finalidade específica é a intenção de obter uma
alguma coisa. vantagem indevida e econômica.
Por exemplo, o agente chantageia uma mulher e o A vantagem econômica pode consistir em bem
marido, ameaçando de morte o seu filho, objetivando móvel ou imóvel, diferentemente do roubo, cuja van-
a obtenção de vantagem econômica. tagem restringe-se ao bem móvel.
Neste crime, observe que não se fala em coisa A vantagem, além de econômica, deve ainda ser
móvel, mas sim em indevida vantagem econômica. indevida, contrária ao direito.
Logo, para a configuração da extorsão, é possível que
a vantagem econômica seja coisa imóvel. z Extorsão qualificada:
Há quatro qualificadoras:
A primeira qualificadora justifica-se pela maior fragilidade emocional do sequestrado menor de 18 anos, cuja
personalidade se encontra, ainda, em formação.
A segunda qualificadora, o sequestro que dura mais de 24 horas, é um crime a prazo, porque o seu reconheci-
mento depende de um lapso de tempo. Quanto mais duradouro o sequestro, maior o sofrimento da vítima e dos
familiares, daí a razão da qualificadora. Contam-se as horas, minuto a minuto, a partir do início da privação da
liberdade.
A terceira qualificadora foi introduzida pelo Estatuto do Idoso. Ocorre quando o sequestrado é maior de 60
anos. Se no início do sequestro era menor de sessenta, ao atingir esta idade incide a causa de aumento, caso ainda
esteja em poder dos sequestradores. Há tese que afirma que a lei diz maior de 60 anos, motivo pelo qual não se
aplica qualificadora.
A quarta qualificadora, crime cometido por quadrilha ou bando, justifica-se pela maior organização dos
sequestradores, aumentando as chances de êxito no delito. Quadrilha ou bando é a associação estável ou perma-
nente entre três ou mais pessoas, com o intuito de cometer uma série indeterminada de delitos.
Vejamos uma hipótese: o agente priva a vítima da liberdade, colocando-a sob vigilância em um cativeiro. Em
seguida, visando obter vantagem, exige de familiares da vítima o preço do resgate, mas devido a um impasse com
os familiares, o agente mata a vítima.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
O § 2º, art. 159, do CP, dispõe que, se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena cominada é de
reclusão, de 16 a 24 anos.
E o § 3º, art. 159, do CP, dispõe que, se resulta morte, a pena será reclusão de 24 a 30 anos.
A lesão grave e a morte podem ser dolosas ou culposas.
Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles dolosos ou culposos, são absorvidos, porque já funcionam
como qualificadoras.
A extorsão mediante sequestro seguida de morte é o crime mais grave do CP, tendo como pena mínima 24 anos
de reclusão.
Não há necessidade de que a morte seja provocada por violência física ou grave ameaça. O suicídio do seques-
trado, por exemplo, é suficiente para o reconhecimento da qualificadora, porque em tal situação é evidente a
culpa dos sequestradores.
73
A EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO SERÁ QUALIFICADA NOS SEGUINTES CASOS:
Se o sequestrado é Se o crime é cometido por
Se o sequestro durar Se do fato resultar
menor de 18 (dezoi- bando ou quadrilha (agora Se do fato resultar
mais de 24 (vinte e qua- lesão corporal de
to) anos ou maior de é associação criminosa — a morte
tro) horas natureza grave
60 (sessenta) anos responde pelos 2 crimes)
Reclusão de 12 a 20 Reclusão de 12 a 20 Reclusão de 16 a Reclusão de 24 a
Reclusão de 12 a 20 anos
anos anos 24 anos 30 anos
Para que incida a redução da pena, a delação deve ter sido feita à autoridade, devendo essa expressão ser
tomada em sentido amplo para abranger qualquer agente encarregado do combate à criminalidade, por exemplo,
juiz, autoridade policial etc.
Quanto maior a contribuição, maior a redução da pena.
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
O art. 13 da Lei nº 9.807, de 1999 dispõe sobre a extinção da punibilidade pelo perdão judicial ao acusado que,
sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que
dessa colaboração tenha resultado cumulativamente a identificação dos demais agentes, a localização da vítima
com sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Presente apenas um desses requisitos, a pena ainda poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, independentemente da
primariedade do réu, por força do art. 14, da Lei nº 9.807, de 1999.
Extorsão Indireta
Art. 160 Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar
causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando o agente exigir ou
receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento
criminal contra a vítima ou contra terceiro.
Como dito, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo penal (exigir ou rece-
ber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que um agiota, apro-
veitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita um empréstimo, já que o filho deste
se encontra internado em estado grave e ele precisa do dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que
possa dar causa a procedimento criminal — pronto, teremos configurada a extorsão indireta, já que o agiota abu-
sou da condição da vítima.
No verbo exigir, este crime é formal, consumando-se com a exigência do documento.
Já no verbo receber, é crime material, consumando-se com o efetivo recebimento do documento.
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter criminis fracionado.
É crime comum, já que não se exige qualquer condição especial do sujeito.
USURPAÇÃO
Alteração de Limites
Art. 161 Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-
-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
É necessário que o agente tenha intenção de apropriar-se, no todo ou em parte, da propriedade alheia, por meio da
supressão ou deslocamento do marco divisório.
Temos, por exemplo, a hipótese que não configura crime, o fato de um agricultor retirar a cerca que divide as
74 terras com outro proprietário apenas para reformá-la.
Trata-se de crime próprio, somente podendo ser Nesse caso, o fato é atípico. Não obstante, o § 1º, art.
praticado pelo vizinho do imóvel, quer na zona urba- 1.210, do Código Civil, permite que o dono retome a
na, quer na rural. posse, desde que o faça imediatamente, por meio do
Sendo assim, o sujeito passivo desse tipo penal só chamado desforço imediato.
pode ser o vizinho, dono ou possuidor do imóvel. Se, em outra hipótese, logo após a invasão pacífica,
Consuma-se no exato instante em que o agente o invasor empregar violência para se manter na posse
suprime ou desloca o marco divisório, ainda que a quando o legítimo proprietário tentava retomá-la pelo
vítima posteriormente perceba o ocorrido e retome a desforço imediato, haverá a configuração do delito.
parte de que foi tolhida. O crime só existe se a invasão se dá com o fim espe-
É possível a tentativa, quando o agente é flagrado cífico de esbulho possessório, ou seja, a retirada forçada
iniciando supressão ou deslocamento e é impedido de do legítimo possuidor, desde que o agente queira excluir
prosseguir. Se já o fez por completo, conforme já men- a posse da vítima para passar a exercê-la ele próprio.
cionado, o crime está consumado, ainda que a vítima O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o
retome posteriormente a parte a que faz jus. dono.
Trata-se de crime comum.
O dono que invade imóvel alugado não incorre no
Usurpação de Águas
tipo penal em análise, que exige expressamente que o
bem seja alheio.
Art. 161 [...]
Dependendo da hipótese, poderá incorrer em cri-
§ 1º Na mesma pena incorre quem:
me de violação de domicílio (art. 150) ou retirada de
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de
coisa própria do poder de terceiro (art. 346, do CP).
outrem, águas alheias;
Já o sujeito passivo é o dono ou possuidor do imó-
vel invadido.
Neste delito, a lei resguarda as águas públicas Consuma-se no momento da invasão.
ou particulares que passem por determinado local, É possível tentativa quando a invasão não se aper-
evitando que o dono do terreno sofra prejuízo caso feiçoe em razão da oposição apresentada pelo dono,
alguém queira desviar o seu curso ou represá-las, sem possuidor ou por terceiro.
autorização para tanto. Observe que, se o agente comete o esbulho com
Exige-se que sejam águas correntes, cujo curso seja emprego de violência, responde também pelas lesões
desviado ou represado pelo agente, alterando, portan- corporais causadas, ainda que leves, nos termos do § 2º,
to, seu fluxo pela propriedade. art. 161, do CP, e as penas serão somadas.
Art. 163 Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa Art. 164 Introduzir ou deixar animais em proprie-
alheia: dade alheia, sem consentimento de quem de direito,
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou
O crime de dano previsto no art. 163, do CP, poderá multa.
ser praticado mediante a execução das seguintes con-
dutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. Dispõe o art. 164, do CP, que é crime a conduta de
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
estabelece sobre cada um dos verbos): sem consentimento de quem de direito, desde que do
fato resulte prejuízo: pena — detenção, de 15 dias a 6
z Destruir – dano total da coisa alheia; meses, ou multa.
z Inutilizar – dano parcial, mas que torna a coisa
Tutela-se a propriedade e a posse do imóvel contra
alheia sem utilidade;
o dano causado por animais.
z Deteriorar – dano parcial da coisa alheia, que fica
O objetivo primordial da lei é a proteção da pro-
estragada, por exemplo.
priedade rural, onde o delito é comumente cometido.
Todavia, estende-se também a tutelar a propriedade
Tutela-se a propriedade e a posse.
urbana, tendo em vista que a lei não restringiu a exis-
Trata-se de crime doloso.
tência do delito à propriedade rural.
O tipo penal fala em coisa alheia, sem exigir que
Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido
seja móvel. Portanto, caso o agente destrua, por exem-
plo, uma casa, praticará o crime de dano. por qualquer pessoa.
Características do crime de dano: Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor,
titulares do patrimônio ofendido.
z Crime comum — pode ser praticado por qualquer Consuma-se com a danificação total ou parcial da
pessoa; propriedade alheia, isto é, com o efetivo prejuízo.
z Não admite a forma culposa. O dano culposo cons- Este crime somente se procede mediante queixa.
titui ilícito de ordem civil;
z É crime material, que exige a ocorrência do resul- Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou
tado (destruição, inutilização ou deterioração). Histórico
Consuma-se quando o agente destrói, inutiliza ou O proprietário comete o delito de dano ambiental,
deteriora a coisa. previsto no art. 62, da Lei nº 9.605, de 1998, e não do
A danificação parcial constitui crime consumado, art. 165, do CP, que foi revogado pela citada lei, quan-
enquadrando-se no verbo deteriorar. do se tratar de coisa de valor artístico, arqueológico,
histórico ou outro bem especialmente protegido por
Dano Qualificado lei, ato administrativo ou decisão judicial, pois nesse
tipo penal não se exige que a coisa seja alheia.
O dano será praticado na modalidade qualificada
se for cometido em uma das hipóteses a seguir: Alteração de Local Especialmente Protegido
Art. 163 [...] Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605, de 1998, que
Parágrafo único. Se o crime é cometido: dispõe ser crime a conduta de alterar o aspecto ou
I - com violência à pessoa ou grave ameaça; estrutura de edificação ou local especialmente prote-
II - com emprego de substância inflamável ou explo- gido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em
siva, se o fato não constitui crime mais grave
razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico,
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do
artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico,
Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de etnográfico ou monumental, sem autorização da auto-
economia mista ou empresa concessionária de ser- ridade competente ou em desacordo com a concedida.
viços públicos; A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa.
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo conside-
rável para a vítima: Ação Penal
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
além da pena correspondente à violência. Art. 167 Nos casos do art. 163, do inciso IV do
seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
76 mediante queixa.
A ação penal é privada no dano simples (caput Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
do art. 163, do CP) e no dano qualificado por motivo
egoístico ou considerável prejuízo para a vítima (inci- O crime de apropriação indébita previdenciária
so IV, § único, art. 163, do CP). Nas demais formas de é um crime próprio, pois só pode ser praticado pelo
dano qualificado, a ação é pública incondicionada. substituto tributário, que é a pessoa que recolhe as
contribuições sociais em nome do INSS para depois
APROPRIAÇÃO INDÉBITA repassá-las.
No caso do contribuinte individual, ele é o res-
Art. 168 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que ponsável por esse desconto das contribuições e pelo
tem a posse ou a detenção: repasse ao INSS, de modo que é ele que irá responder
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. pelo crime.
No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito
O crime de apropriação indébita está previsto no ativo é a pessoa física que no âmbito da empresa tem
art. 168, do Código Penal. Este crime irá se configurar o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a
quando o agente se apropriar de coisa alheia móvel de contribuição arrecadada.
que tem a posse ou a detenção. Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autarquia
Neste crime, exige-se que a coisa alheia seja móvel. federal, de modo que a competência é da Justiça Federal,
Para que você compreenda a apropriação indébi- conforme o inciso IV, art. 109, da Constituição Federal.
ta, é necessário saber que o agente já tem a posse ou Logo, o sujeito passivo é o INSS.
a detenção da coisa, passando, posteriormente, a agir
como se fosse dono da coisa.
Não se deve confundir a apropriação indébita com Importante!
o crime de estelionato. Veja a diferença:
Conduta principal: ficará configurada quando o
z Apropriação Indébita: o agente recebe a coisa agente deixar de repassar à previdência social
de boa-fé, depois, muda seu ânimo e passa a agir as contribuições recolhidas dos contribuintes,
como se fosse dono da coisa (passa a ter má-fé); no prazo e forma legal ou convencional.
z Estelionato: o agente já recebe a coisa de má-fé,
com a intenção de ficar com ela desde o início.
Observe que o tipo penal principal é praticado na
modalidade omissiva, deixando o agente de praticar
A apropriação indébita é crime que decorre de
uma conduta que deveria (repassar à previdência as
uma relação de confiança entre o autor e a vítima.
contribuições recolhidas após reter os valores).
Este entrega a coisa móvel ao agente, devido à con-
Condutas equiparadas:
fiança que deposita nele.
O agente recebe a coisa com boa intenção, mas,
Art. 168-A [...]
depois (parte da doutrina chama de dolo subsequen-
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
te), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra
agir como dono dela. importância destinada à previdência social que
Veja as principais características da apropriação tenha sido descontada de pagamento efetuado a
indébita: segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- social que tenham integrado despesas contábeis ou
quer pessoa; custos relativos à venda de produtos ou à prestação
z Não admite a forma culposa; de serviços;
z Não admite tentativa, conforme doutrina majoritá- III - pagar benefício devido a segurado, quando as
ria, tratando-se de crime unissubsistente, ou seja, respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem-
é o conjunto de um só ato, a realização da condu- bolsados à empresa pela previdência social.
ta esgota a concretização do delito, por exemplo,
apropriar-se de objeto de valor; Trata-se de norma penal em branco, complemen-
z É crime material, que se consuma quando o agente tada em diversos dispositivos pela lei previdenciária
inverte a posse da coisa alheia móvel. correspondente.
Veja as características do crime de apropriação
Aumento de Pena indébita previdenciária:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 168 [...] z É crime omissivo, como dito, já que o agente não
§ 1º A pena é aumentada de um terço, quando o pratica a conduta que se espera dele (repassar);
agente recebeu a coisa: z Não admite a modalidade culposa;
I - em depósito necessário; z Deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida- STF, não é necessário dolo específico (especial fim
tário, inventariante, testamenteiro ou depositário de agir);
judicial; z Não admite tentativa.
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
O entendimento majoritário na doutrina é o de que
Apropriação Indébita Previdenciária a apropriação indébita previdenciária é crime formal
e, por isso, dispensa-se o enriquecimento indevido por
Art. 168-A Deixar de repassar à previdência social parte do agente ou o efetivo prejuízo ao erário.
as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
77
Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que faculdade atribuída ao juiz de deixar de aplicar a pena
o crime de apropriação indébita previdenciária é ou de aplicar somente a pena de multa não se apli-
material, pois, quando o agente omitiu o repasse, con- ca aos casos de parcelamento de contribuições cujo
figurou-se o enriquecimento indevido e o consequen- valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele
te prejuízo ao Erário. estabelecido, administrativamente, como sendo míni-
Essa decisão corrobora com o entendimento exa- mo para ajuizamento de suas execuções fiscais.
rado na Súmula Vinculante nº 24. Faculta-se ao juiz:
Art. 171 [...] Este crime está previsto no inciso II, § 2º, art. 171,
§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor do CP, que consiste no agente que vende, permuta,
o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o dá em pagamento ou em garantia coisa própria ina-
disposto no art. 155, § 2º. lienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que
prometeu vender a terceiro, mediante pagamento
Vejamos as formas equiparadas do crime de este- em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
lionato, que serão submetidas às mesmas penas. circunstâncias.
Temos que destacar que o objeto material do crime
Disposição de Coisa Alheia como Própria pode ser bem móvel ou imóvel.
Vejamos:
Art. 171 [...] Coisa própria inalienável — os bens inalienáveis
§ 2º Nas mesmas penas incorre quem: são: bem de família do Código Civil, bem doado com
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação cláusula de inalienabilidade e bem deixado por testa-
80 ou em garantia coisa alheia como própria; mento com cláusula de inalienabilidade.
Coisa própria gravada de ônus, por exemplo: pe- O crime de fraude para recebimento de indeniza-
nhor, hipoteca, anticrese, enfiteuse, servidão, superfí- ção ou valor de seguro, segundo a doutrina majoritá-
cie, uso, usufruto, habitação e superfície. ria, é crime formal, que se consuma com a prática da
Coisa própria litigiosa: bem sub-judice é aquele conduta, independentemente de o agente conseguir
em que há uma ação judicial acerca da titularidade da ou não receber os valores referentes a indenização ou
propriedade. valor de seguro.
Imóvel próprio que prometeu vender a terceiro, Lembre-se de que o agente não é punido penal-
mediante pagamento em prestações. mente por causar mal somente a si mesmo, sendo
Observa-se que a lei é omissa em relação a imóvel assim, caso ele se lesione sem o fim de receber seguro,
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento ele não será sujeito passivo do crime.
à vista. Também é omissa sobre o compromisso que O sujeito passivo será a seguradora.
recai sobre bens móveis, ainda que em prestações.
Fraude no Pagamento por Meio de Cheque
Defraudação de Penhor
Art. 171 [...]
§ 2º [...]
Art. 171 [...]
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos
§ 2º [...]
em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
III - defrauda, mediante alienação não consentida
pelo credor ou por outro modo, a garantia pigno-
Leve em consideração que, para configuração des-
ratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
ta forma equiparada de estelionato, é necessário que
o agente saiba desde o início que não dispõe de fundos
Este crime está previsto no inciso III, § 2º, art. 171,
para cobrir o cheque, não se englobando nesta moda-
do CP, e consiste na conduta de o agente defraudar,
lidade criminosa os casos de não pagamento de che-
mediante alienação não consentida pelo credor ou que por motivos cotidianos (sem má-fé).
por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem É importante conhecer duas súmulas do STF, refe-
a posse do objeto empenhado. rentes ao crime de fraude no pagamento por meio de
É essencial a fraude, isto é, a falta de autorização cheque.
do credor. O consentimento deste exclui o crime.
A consumação ocorre com a efetiva defraudação, Súmula n° 521 O foro competente para o proces-
isto é, com a alienação, ocultação, abandono etc. da so e julgamento dos crimes de estelionato, sob a
coisa empenhada. modalidade da emissão dolosa de cheque sem pro-
A defraudação parcial é suficiente para a consu- visão de fundos, é o local onde se deu a recusa do
mação, porque diminui a garantia do credor, gerando pagamento pelo sacado.
prejuízo. Súmula n° 554 O pagamento de cheque emitido
sem provisão de fundos, após o recebimento da
Fraude na Entrega de Coisa denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação
penal.
Art. 171 [...]
§ 2º [...] Podemos concluir, pela leitura da Súmula n° 554,
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade que se o agente pagar os valores referentes ao cheque
de coisa que deve entregar a alguém; emitido sem fundos antes do recebimento da denún-
cia, será impedido o início da ação penal.
Este crime está previsto inciso IV, § 2º, art. 171, do Vejamos também a Súmula n° 17 do STJ: “Quando o
falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
CP, em que o agente defrauda substância, qualidade
lesiva, é por este absorvido”.
ou quantidade, de coisa que deve entregar a alguém.
Entenda da seguinte forma: se o uso do documento
Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa
falso se exaurir (extinguir) na prática do estelionato,
que deve entregar a alguém”, pressupondo-se, portan-
este crime absorverá aquele.
to, uma obrigação de prestação de dar entre as partes.
Se não se exaurir, o agente responderá pelos dois
A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratui- crimes em concurso formal.
ta, como o comodato e a doação, desaparece o delito, Observe as causas de aumento de pena previstas
porque não há prejuízo ao credor. Nos negócios gra- no Código Penal para o estelionato:
tuitos, não se pode reclamar sequer vício redibitório,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri-
Seguro me é praticado:
seu açougue, gado abatido após ser furtado em uma A última causa de imunidade absoluta, quando se
fazenda, com a finalidade de comercializar a carne. pratica crime contra o patrimônio em prejuízo de des-
Fulano praticou o crime de receptação de animal. cendente, é aplicada também nos casos de adoção.
Estupro
z Ao crime de roubo, ainda que o roubo seja com
violência imprópria, como a subtração ocorrida Art. 213 Constranger alguém, mediante violên-
após o ladrão hipnotizar a vítima, exclui-se a imu- cia ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
nidade, pois a lei não abre qualquer exceção ao a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
delito de roubo; ato libidinoso:
z Ao crime de extorsão, ainda que se trate da extor- Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
são indireta, onde não há violência ou grave amea-
ça, exclui-se a imunidade; No caput do art. 213 encontra-se a modalidade
z Aos delitos cometidos com emprego de grave simples. Constranger significa forçar, coagir alguém
ameaça ou violência à pessoa; usando de violência (vis absoluta) ou grave ameaça
z Ao estranho que participa do crime, pois, a (vis compulsiva). No caso do estupro a coação tem a
86 imunidade é uma circunstância pessoal, logo, finalidade de se obter:
z A conjunção carnal, que é a introdução do pênis Todos os tipos de estupro (caput e parágrafos) são
na vagina (cópula vagínica); considerados hediondos, conforme o inciso V, art. 1º,
z Outro ato libidinoso (diverso da conjunção car- da Lei nº 8.072, de 1990.
nal como, por exemplo, sexo oral, sexo anal,
toques íntimos ou sobre a roupa, masturbação e o z Hediondos:
beijo lascivo). A conjunção carnal é um tipo de ato
Art. 213, caput (estupro simples);
libidinoso (gênero).
Art. 213, § 1º (qualif. pela lesão grave/idade);
Art. 213, § 2º (qualif. pela morte).
natureza grave ou se a vítima é menor de 18 ção na qual dois ou mais agentes se revezam
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: na prática do estupro contra a mesma vítima.
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. Ocorre, por exemplo, quando um agente segura a
vítima, enquanto o outro mantém com ela conjun-
E a outra forma é qualificada pela morte: ção carnal; logo após, eles se revezam. Neste caso,
cada um dos agentes vai responder por dois
Art. 213 [...] crimes (um como autor e outro como coautor,
§ 2º Se da conduta resulta morte: como no nosso exemplo; ou ainda como partícipe,
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. dependendo da situação);
z A presença de lesões na vítima não é requisito
São, assim, três as formas qualificadas: necessário, uma vez que certos atos libidinosos não
deixam marcas visíveis que sejam passíveis de serem
z Estupro com resultado lesão corporal grave (§ 1º); apuradas por meio de exame de corpo de delito. Na
z Estupro contra vítima menor de 18 e maior de 14 (§ 1º); verdade, em algumas situações, o contato físico
z Estupro com resultado em morte (§ 2º). entre a vítima e o agressor não é necessário para 87
que haja consumação do estupro (com relação aos Com a entrada em vigor da Lei nº 13.718, de 2018,
atos libidinosos). O tipo do art. 213, menciona “prati- que alterou o art. 225, do Código Penal, todos os cri-
car” ou “permitir” (a vítima), que com ela se pratique mes contra a dignidade sexual passaram a ser crimes
ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Imagine de ação penal pública incondicionada, não precisando
a situação hipotética na qual o agente constrange a mais da representação da vítima.
vítima mediante grave ameaça a tocar seu próprio
corpo de maneira erótica (automasturbação). Neste
caso, o agente vai responder pelo estupro, uma vez Importante!
que constrangeu a vítima a praticar ato libidinoso,
O crime de estupro, previsto no art. 213, seja na
mediante grave ameaça;
z Absurdamente, o casamento da vítima com o
sua forma simples ou qualificada, constitui cri-
agressor (ou com terceiro), até 2005, configu- me hediondo.
rava causa extintiva da punibilidade para os
crimes de estupro. A Lei nº 11.106, de 2005, entre VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE
outras mudanças, acabou com essa possibilidade.
A atual redação do art. 215, CP, deu-se com as
Formas Qualificadas Pelo Resultado modificações da Lei nº 12.015, de 2009, da qual já fala-
mos quando estudamos o estupro. Aqui houve nova
O art. 213 apresenta duas formas de estupro qua- continuidade típico-normativa: o tipo do art. 216 foi
lificado pelo resultado: no § 1º (lesão grave) e no § revogado e a conduta, incluída no art. 215, CP.
2º (morte). Em relação à lesão corporal, esta pode ser
tanto grave quanto gravíssima (a distinção encontra- Art. 215 Ter conjunção carnal ou praticar
-se no art. 129, CP, respectivamente, nos §§ 1º e 2º). As outro ato libidinoso com alguém, mediante
lesões leves são absorvidas. fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a
Em relação a estes resultados mais graves (lesão livre manifestação de vontade da vítima:
grave e morte), a maioria da doutrina entende ser Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
hipótese de crime preterdoloso, isto é, o resultado Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim
lesão ou morte se dá por culpa do agente (lembre-se: de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa.
preterdolo = dolo na conduta antecedente e culpa na
consequente). Nesse sentido, se o agente quer estu-
Consiste na prática de conjunção carnal ou outro
prar e também tem o dolo de lesionar ou de matar,
ato libidinoso com alguém (homem ou mulher) com
vai responder pelos dois crimes em concurso. Alguns
emprego de fraude ou outro meio que impeça ou
doutrinadores, no entanto, entre eles Guilherme Nuc-
dificulte a livre manifestação de vontade da vítima.
ci, entendem ser indiferente o fato de o agente agir
Na violação sexual mediante fraude, não há o
com dolo ou culpa em relação ao resultado mais grave. emprego de violência ou grave ameaça, o que difere
O § 1º apresenta, ainda, a qualificadora pela ida- do estupro. Nesta situação, o ato é consentido (há a
de da vítima, caso seja menor de 18 e maior de 14. Em manifestação de vontade da vítima), porém o agente
relação à idade da vítima, temos as seguintes hipóteses utiliza meios fraudulentos, enganando a vítima para
(atenção que há uma possível “pegadinha” de prova): que esta conceda.
O exemplo clássico (que já apareceu em mais de
IDADE DA VÍTIMA CONSEQUÊNCIA uma prova) é o do médico que pede para que a pacien-
Estupro simples te tire toda a roupa, pois precisa examiná-la e, sem
Maior de 18 anos que seja necessário, toca as partes íntimas da vítima
(caput, art. 213, CP)
(que foi enganada, pois pensou que os toques fossem
Vítima maior de 14 e menor Estupro qualificado parte normal do exame; ou seja, houve engano sobre
de 18 (§ 1º, art. 213, CP) a legitimidade do ato). Outro exemplo muito usado é o
Estupro de vulnerável do irmão gêmeo que toma o lugar de seu irmão e pra-
Vítima menor de 14 anos
(art. 217-A, CP) tica conjunção carnal com a namorada deste (engano
sobre a pessoa).
É importante não confundir, na hora da prova, o
Você notou uma “falha”? O que acontece se a víti-
crime do art. 215 com o do art. 217-A (que veremos
ma tiver exatos 14 anos, ou seja, se for estuprada exa- mais adiante). A redação da violação sexual mediante
tamente no dia em que completa 14 anos? Existe uma fraude (art. 215) aponta que o agente deve impedir ou
lacuna na lei que deixa de fora da forma qualifica- dificultar a livre manifestação da vontade da vítima:
da a vítima com exatos 14 anos completos na data se o agente retira por completo a vontade da vítima
do crime (que fala em vítima “maior de” 14, mas não (embebedando-a completamente, por exemplo), esta
menciona com idade “igual”) bem como não tipifica se torna vulnerável, sendo o caso então da aplicação
a conduta com estupro de vulnerável (“menor de” do tipo penal do art. 217-A (estupro de vulnerável).
14 anos). Neste caso, o enquadramento é feito como Também não confunda o art. 215 com o 213 (estu-
estupro simples (caput, art. 213). Fique atento a este pro): o meio de execução é diferente:
fato, que pode ser uma típica “pegadinha”.
z Art. 213 (estupro): violência ou grave ameaça;
Causas de Aumento de Pena z Art. 215 (violação): fraude ou outro meio que
impeça ou dificulte a manifestação de vontade.
Atente-se ao fato de que as causas de aumento de
pena que se aplicam a todos os crimes contra a dig- Veja que para que configure este tipo, deve haver
nidade sexual encontram-se no art. 226, que veremos fraude, engano, ardil; se houver violência ou grave
88 mais adiante. ameaça, não configura o art. 215, CP. Se a vítima for
menor de 14 anos, será o caso da incidência do art. obter favorecimento sexual de qualquer forma (pode
217-A. Não é crime hediondo. ser até um beijo), mediante uma ameaça (quer pode
O parágrafo único, do art. 215, prevê a aplicação ser explícita ou não) ou de uma promessa (de promo-
também da pena de multa se o delito é praticado com ção, por exemplo), que também pode ser explícita ou
a finalidade de obter vantagem econômica, como no implícita.
caso do agente que deixa de pagar a prostituta após
O sujeito ativo está em posição hierarquicamente
a realização da conjunção carnal ou de outro ato
superior à vitima (tem maior autoridade na estrutu-
libidinoso.
É importante destacar que, se durante a relação ra administrativa) ou tem ascendência inerente ao
sexual a vítima percebe a fraude e consente com a emprego, cargo ou função que exerce (setor privado);
continuidade do ato, este se tornará atípico perante a por sua vez, o sujeito passivo é o subordinado (assédio
legislação brasileira. vertical). É o que se chama de crime bipróprio (exige
características especiais do sujeito ativo e do passivo).
IMPORTUNAÇÃO SEXUAL Não há assédio sexual entre funcionários do mes-
mo nível (assédio horizontal). Também não se confi-
Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018, o art. 215-A gura quando o subordinado assedia o superior.
revogou o art. 61, da Lei de Contravenções Penais (que São aspectos relevantes relativos ao tipo do art.
previa conduta semelhante), criando o tipo penal de 216-A:
importunação sexual:
z É crime bicomum;
Art. 215-A Praticar contra alguém e sem a sua z O flerte (paquera) ou o namoro não configuram a
anuência ato libidinoso com o objetivo de satis- conduta descrita;
fazer a própria lascívia ou a de terceiro:
z Se a vítima é menor de 14 anos, configura o tipo
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato
do art. 217-A;
não constitui crime mais grave.
z É crime formal (de resultado cortado), ou seja,
Exemplo de conduta tratada por este tipo penal consuma-se com o constrangimento;
foi objeto de destaque na mídia em tempos recentes, z O parágrafo § 2º determina o aumento de até um
que se materializava quando o sujeito, dentro de um terço se a vítima tem mais de 14 e é menor do que
transporte coletivo, ejaculava na vítima ou se esfre- 18 anos (atente-se ao fato de que o dispositivo fala
gava nela. em menor de 18, mas, como vimos, os menores de
Os principais aspectos sobre esse crime são: 14 são cuidados pelo art. 217-A); não estabelece,
no entanto, o quantitativo mínimo de aumento: a
z Não é hediondo; doutrina aponta que deve ser aplicado o aumento
z É crime subsidiário (só será aplicado se não consti- mínimo existente no CP: um sexto;
tuir crime mais grave); z A paixão do agente pela vítima não exclui o
z É bicomum (homem e mulher podem ser sujeitos crime (veja o inciso I, art. 28, do CP, que afirma
ativos/passivos); expressamente que a emoção e a paixão não afas-
z Se praticado contra menor de 14 anos, é afastado, tam a responsabilidade penal);
incindo o tipo do art. 217-A (estupro de vulnerável); z Não há relação de hierarquia (superioridade)
z Deve ser praticado contra vítima(s) determina(s); entre cônjuges, sendo assim, não é possível a con-
se não é praticado contra pessoa específica, consti- figuração deste crime;
tui ato obsceno (art. 233, CP), como, por exemplo,
z Conforme a doutrina majoritária, é crime ins-
quando o agente se masturba no meio de um par-
tantâneo, não exigindo a prática de atos de forma
que, sem se dirigir a ninguém de forma particular;
reiterada;
z É elementar do delito de importunação sexual que
z Não se exige que o assédio ocorra dentro do
este seja realizado sem a anuência da vítima;
z Não há emprego de violência ou grave ameaça. ambiente de trabalho;
z Por último, temos a questão da relação professor
ASSÉDIO SEXUAL e aluno. Existe o crime, por exemplo, quando o
professor, ao afirmar a uma aluna que precisava
O assédio sexual encontra-se previsto no art. 216-A: de pontos para ser aprovada em sua disciplina,
aproxima-se e toca sua barriga e seus seios? Nes-
Art. 216-A Constranger alguém com o intuito de te caso, temos duas posições: a primeira corren-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
obter vantagem ou favorecimento sexual, pre- te afirma que não, por não haver hierarquia ou
valecendo-se o agente da sua condição de superior ascendência do docente em relação ao aluno (já
hierárquico ou ascendência inerentes ao exer- foi o entendimento predominante e ainda pre-
cício de emprego, cargo ou função. valece na doutrina); já pela segunda corrente,
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos
adotada pelo STJ em 2019 (ao analisar exatamen-
Parágrafo único. (VETADO)
te um caso como o do exemplo), afirma que, ape-
§ 2º o A pena é aumentada em até um terço se a
vítima é menor de 18 (dezoito) anos. sar de não haver relação de hierarquia, há um
domínio do docente sobre o aluno, sendo apli-
O parágrafo único foi vetado. Temos apenas o § 2º. cável o tipo do assédio sexual. Essa discussão
A palavra constranger, no caso do art. 216-A, não se aplica na relação entre líderes religiosos, como
tem o mesmo sentido do que no estupro: o assédio pastores e padres, e seus fiéis; neste caso, aplica-se
sexual tem a ideia de intimidar alguém a fazer a posição da doutrina que afirma não ser possível.
alguma coisa (atos sexuais, libidinosos) sem o uso
de violência ou grave ameaça. O intuito do agente é 89
Em relação à configuração de crime de assédio na É importante notar que a lei fala em “caráter ínti-
relação entre professor e aluno: mo e privado”. Por exemplo, filmar um casal realizan-
do ato sexual em uma praia não configura o tipo do
z Em uma prova objetiva, o mais indicado é seguir a art. 216-B.
posição do STJ, no sentido de que é possível o assé- É cabível a tentativa: o agente pode tentar regis-
dio sexual entre professores e alunos; trar e não conseguir.
É o primeiro dos crimes do Capítulo II, “Crimes Assim, são considerados vulneráveis (sujeitos pas-
sexuais contra vulnerável”. No caput do art. 217-A, sivos) para os fins dos crimes sexuais:
temos o estupro de vulnerável simples ou próprio:
z Art. 217-A, caput:
Art. 217-A Ter conjunção carnal ou praticar
outro ato libidinoso com menor de 14 (cator-
Menores de 14 anos (o Professor Rogério San-
ze) anos:
chez denomina esta vulnerabilidade absoluta).
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Conforme podemos notar do tipo do art. 217-A, z Art. 217-A, primeira parte:
não é necessário o constrangimento da vítima
(mediante violência ou grave ameaça): qualquer prá- Enfermos e doentes mentais que não pos-
tica de conjunção carnal ou outro ato libidinoso suem discernimento necessário para a prá-
com pessoa menor de 14 anos configura estupro de tica do ato sexual (Rogério Sanchez denomina
vulnerável (o constrangimento é presumido: presun- esta de vulnerabilidade relativa, uma vez que,
ção absoluta). por se tratar de critério biopsicológico, pode
Importante: a súmula nº 593, do STJ, dispõe sobre acontecer de o enfermo ou doente mental ter
o crime de estupro quando praticado com menor de o discernimento exigido para a prática do ato).
14 anos:
z Art. 217-A, parte final:
Súmula nº 593 (STJ) O crime de estupro de vulne-
rável se configura com a conjunção carnal ou prá- Qualquer um que, por outra causa, não pos-
tica de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo sa oferecer resistência (por exemplo, uma
irrelevante eventual consentimento da vítima para
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Por fim, cabe mencionar um tema muito inte- Art. 218-A Praticar, na presença de alguém
ressante: trata-se da chamada Exceção de Romeu menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a pre-
e Julieta. Você certamente já ouviu falar do clássico senciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso,
de William Shakespeare: Julieta é uma jovem que se a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:
apaixona por Romeu, de uma família rival. A per- Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
sonagem Julieta, na obra, tinha 13 anos quando se
relacionou amorosamente com Romeu (que, tinha 17 O tipo do art. 218-A pode ser divido em duas partes:
anos). Agora imagine tal situação frente à legislação
penal brasileira: Julieta se enquadraria, como vimos, z Praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso
no conceito de vulnerável. Segundo a teoria da Exce- apto a satisfazer o prazer sexual, na frente de víti-
ção de Romeu e Julieta, caso haja consentimento e, ma menor de 14 anos;
desde que haja pequena diferença de idade entre os
z Induzir menor de 14 a presenciar tais atos.
parceiros (normalmente se fala em até 5 anos), não
seria o caso de considerar o ato sexual, por exemplo,
Aspectos que merecem destaque:
de um casal de namorados de 13 e 18 anos, como estu-
pro. No entanto, no Brasil, conforme jurisprudência
consolidada, tal exceção não se aplica (lembre-se, z De acordo com a maior parte da doutrina, não se
de acordo com o STJ, “o consentimento da vítima, sua exige a presença física da vítima no mesmo local
eventual experiência sexual anterior ou a existência de onde ocorre a conjunção ou o ato libidinoso. Ou
relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não seja, pode ser praticado por meio virtual;
afastam a ocorrência do crime” – Resp 148.0881/PI, z É tipo misto alternativo: se o sujeito induz a pre-
julgado em 26/08/2015). senciar e também pratica os atos, responde por um
só crime;
CORRUPÇÃO DE MENORES z Não há envolvimento físico do menor de 14 anos.
Este apenas assiste à prática de libidinagem.
O art. 218, do CP, trata do crime de corrupção de
menores:
Art. 218 Induzir alguém menor de 14 (catorze)
anos a satisfazer a lascívia de outrem.
92 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA z O proprietário, gerente ou responsável do local
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU em que ocorre a prática do delito do caput, lem-
ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL brando, claro, que devem ter conhecimento (pois
não há responsabilidade objetiva). Neste caso, a cas-
O art. 218-B tem seis núcleos: sação da licença do local é efeito obrigatório (§ 3º).
Art. 218-B Submeter, induzir ou atrair à prosti- Trata-se de crime hediondo, em todas as formas:
tuição ou outra forma de exploração sexual caput, incisos I e II, do § 2º. Agora já sabemos quais
alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, são os três os crimes contra a dignidade sexual que
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o são hediondos:
necessário discernimento para a prática do ato,
facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: z Art. 213, caput e §§:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
Estupro.
O art. 218-B visa punir o sujeito que insere (sub-
mete, induz ou atrai) o menor de 18 anos ou o vul- z Art. 217-A, caput e §§:
nerável (homem ou mulher) no âmbito da exploração
sexual (prostituição e turismo sexual), tráfico para
Estupro de vulnerável.
fins sexuais e pornografia) ou facilita sua permanên-
cia ou impede ou dificulta sua saída.
z Art. 218-B, caput e §§:
Em resumo, é trazer a vítima vulnerável para
a prostituição (ou outra forma de exploração) ou
Favorecimento da prostituição ou outra forma
impedir que a vítima saia desse meio (neste último
de exploração sexual de vulnerável.
caso trata-se de crime permanente).
DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA
z Trata-se de um crime hediondo;
DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO
z O sujeito passivo é pessoa menor de 18 anos. Se
OU DE PORNOGRAFIA
a pessoa for maior de 18 anos, poderá ser confi-
gurado o crime do art. 228, do CP. Se a pessoa for
O tipo do art. 218-C é um crime subsidiário, que
menor de 14 anos, o crime será o de estupro de possui seis núcleos (tipo misto alternativo):
vulnerável;
z Crime material, se consumando no momento em Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi-
que a vítima passa a realizar atos de prostituição tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
ou forma de exploração sexual. divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
comunicação de massa ou sistema de informática
Existem 4 formas de exploração sexual: ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou
de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou
z Prostituição;
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da
z Turismo sexual; vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
z Tráfico para fins sexuais; Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato
z Pornografia. não constitui crime mais grave.
O art. 218-B só cuida da prostituição e do turismo Visa coibir qualquer tipo de divulgação de mate-
sexual envolvendo vulnerável. O tráfico é tratado pelo rial que contenha:
inciso V, art. 149-A, CP (tráfico de pessoas); a pornogra-
fia envolvendo vulnerável, pelos arts. 240, 241, 241-A z Cena de estupro ou estupro de vulnerável ou que
e 241-E, do ECA. faça apologia ou induza a prática de tais crimes;
z Cena de sexo, nudez ou pornografia, sem o consen-
Proxenetismo Mercenário timento da vítima.
Se houver a intenção do agente em obter lucro, Para os fins do art. 218-C, são vulneráveis: pessoas
aplica-se também a pena de multa: com enfermidades ou doença mental ou que não pos-
sam, por qualquer razão, oferecer resistência. Veja
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 218-B [...] bem que estas devem ter mais de 18 anos! No caso da
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter van- divulgação de imagens de estupro, estupro de vulne-
tagem econômica, aplica-se também multa. rável ou cenas de pornografia, nudez ou sexo, apli-
cam-se as disposições do ECA.
Bem, agora sabemos quais são os crimes contra a
Neste caso, se dá o nome ao agente de proxeneta
dignidade sexual mais importantes (Capítulos I e II) e
mercenário.
quais as divergências doutrinárias e jurisprudenciais
que são aplicados a eles. O Capítulo III, que tratava
Formas Equiparadas sobre o Rapto, está revogado.
O Capítulo IV, nos arts. 225 e 226, apresenta dis-
De acordo com o § 2º, incorre nas mesmas penas: posições gerais que se aplicam aos crimes que já
vimos até agora (do art. 213 ao 218-C). Veja a seguir.
z Quem pratica conjunção carnal ou outro ato
libidinoso com vítima vulnerável em situação z Disposições aplicáveis a todos os crimes dos Capí-
de prostituição ou exploração sexual; tulos I e II: 93
Procedem-se mediante ação penal pública Este crime pode ser praticado de duas formas:
incondicionada (art. 225);
Aumento de pena (art. 226): FALSIFICAR A MOEDA METÁLICA OU PAPEL-
MOEDA DE CURSO LEGAL NO PAÍS ESTRANGEIRO
Art. 226 [...]
I - de quarta parte, se o crime é cometido com o Neste caso, o agente cria a moeda fal-
concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; Fabricando-a
sa ou papel-moeda
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companhei- Neste caso, o agente altera uma moe-
ro, tutor, curador, preceptor ou empregador Alterando-a da ou papel-moeda que são verdadei-
da vítima ou por qualquer outro título tiver ros, transformando-os em falsos
autoridade sobre ela;
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
é praticado: Sobre o crime de moeda falsa, é importante levar
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agen- em consideração o seguinte:
tes (estupro coletivo);
b) para controlar o comportamento social ou z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
sexual da vítima (estupro corretivo)
quer pessoa;
z Não admite a modalidade culposa, podendo ser
O Capítulo V apresenta 5 tipos penais (arts. 227,
praticado somente a título de dolo;
228, 229, 230 e 232-A). Sobre esses tipos, não há diver-
z Admite a tentativa;
gências doutrinárias ou jurisprudenciais, valendo a
z Segundo posicionamento doutrinário majoritário,
leitura da lei seca (note que o art. 232-A não tem nada
para configuração deste crime, a falsificação ou
a ver com dignidade sexual, tratando de migração). Os
arts. 231 e 231-A foram revogados, passando o tema a alteração não podem ser grosseiras (aquela vista a
ser tratado pelo art. 149, CP. olho nu por qualquer pessoa dotada de capacidade
O Capítulo VI traz dois tipos, o do art. 233 (ato mediana) — neste caso, estaremos diante de con-
duta que configura crime impossível em relação
obsceno) e o do art. 234 (escrito ou objeto obsceno).
ao crime de moeda falsa.
Sobre eles, além da leitura da lei, cabe mencionar que
há discussão sobre a constitucionalidade de ambos,
Contudo, caso a falsificação seja grosseira, o seu
em relação ao primeiro por violação ao princípio da
uso pode caracterizar o crime de estelionato, confor-
taxatividade (seria muito vago, subjetivo) e, quanto ao
me entendimento sumulado do STJ.
segundo, por ferir a liberdade de expressão.
Por fim, o Capítulo VII, nos arts. 234-A e 234-B,
Súmula n° 73 (STJ) A utilização de papel moeda
apresenta disposições que são aplicáveis a todo o grosseiramente falsificado configura, em tese, o
Título dos crimes contra a dignidade sexual, con- crime de estelionato, da competência da Justiça
forme observado a seguir: Estadual.
z Disposições aplicáveis a todos os crimes contra a Exige-se que a moeda metálica ou papel-moeda
dignidade sexual: tenham curso legal no país ou no estrangeiro. Caso
não tenham, ou estejam fora de circulação, não irá se
Aumento de pena (234-A): configurar este crime.
Dica: Não se aplica o instituto do arrependi- Art. 290 Formar cédula, nota ou bilhete representa-
mento posterior ao crime de moeda falsa. tivo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou
bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou
Imagine a seguinte situação: o réu utilizou uma bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circu-
moeda falsa para comprar um fogão em determinado lação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir
comércio. Descobriu-se, em momento posterior, que à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condi-
ções, ou já recolhidos para o fim de inutilização:
se tratava de uma moeda falsa e, antes da denúncia,
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
o réu realizou o pagamento do fogão com uma moeda
verdadeira, evitando o prejuízo. Neste ínterim, ainda
É importante, sobre o delito assimilado à moeda
que o réu se arrependa e evite o prejuízo, o crime de
falsa:
moeda falsa já estará consumado (o dano patrimonial
é mero exaurimento do crime).
O STJ entende que a vítima do crime de moeda z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
falsa é a coletividade, não sendo passível de repara- quer pessoa;
ção. Desse modo, os crimes contra a fé pública, seme- z O crime é doloso;
lhantes aos demais crimes não patrimoniais em geral, z Não admite a modalidade culposa;
são incompatíveis com o instituto do arrependimento z Admite tentativa;
posterior, dada a impossibilidade material de haver z É processado e julgado pelo Justiça Federal,
mediante ação penal pública incondicionada;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
11 TJ. 6ª Turma. REsp 1242294-PR, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/11/2014
(Info 554). 95
Existe a possibilidade de ser crime próprio, caso Emissão de Título ao Portador Sem Permissão Legal
seja cometido por funcionário que trabalha na repar-
tição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela Art. 292 Emitir, sem permissão legal, nota, bilhe-
tenha fácil ingresso, em razão do cargo. te, ficha, vale ou título que contenha promessa de
Neste caso, o máximo da reclusão é elevado a doze pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte
indicação do nome da pessoa a quem deva ser pago:
anos.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. Quem recebe ou utiliza como
Petrechos para Falsificação de Moeda dinheiro qualquer dos documentos referidos neste
artigo incorre na pena de detenção, de quinze dias
Art. 291 Fabricar, adquirir, fornecer, a título one- a três meses, ou multa.
roso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto espe- O crime de emissão de título ao portador sem
cialmente destinado à falsificação de moeda: emissão legal é praticado quando o agente emite, sem
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que
contenha promessa de pagamento em dinheiro ao
O objeto material deste crime é o maquinismo, portador ou a que falte indicação do nome da pessoa
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial- a quem deva ser pago.
mente destinado à falsificação de moeda. Considera-se menos grave a conduta de quem uti-
Embora o artigo tenha a previsão do termo “espe- liza nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha
cialmente”, é desnecessário o uso exclusivo do petre- promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou
cho para falsificação de moeda. De acordo com o a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva
Informativo n° 633, do STJ, basta que o agente detenha ser pago como dinheiro.
a posse de petrechos especialmente destinados à falsi- É importante saber, sobre o delito de emissão de
ficação de moeda, sendo prescindível que o maquiná- título ao portador legal:
rio seja de uso exclusivo para esse fim.
Dica: o uso de tais objetos, para a configuração do z Exige-se que o agente não tenha permissão legal
crime em tela, depende da análise do elemento subje- para a emissão;
z Se o agente tem permissão para emitir o título ao
tivo do tipo (dolo), de modo que, se o agente detém a
portador, o fato será atípico;
posse de impressora, ainda que manufaturada visan-
z O delito é doloso;
do ao uso doméstico, mas com o propósito de a utilizar
z Não admite a modalidade culposa;
precipuamente para contrafação de moeda, incorre
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
no crime de petrechos para falsificação de moeda. quer pessoa.
É desnecessário que a posse de petrechos seja espe-
cificamente com o uso exclusivo para falsificação de FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS
moeda.12 PÚBLICOS
Temos, neste artigo, uma conduta que constitui
exceção à punição de um crime a partir do momen- Falsificação de Papéis Públicos
to em que se inicia a execução do crime. Isso porque,
caso um agente tenha a finalidade de falsificar moe- Art. 293 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
da e, para isso, adquira um aparelho, mesmo que não I - selo destinado a controle tributário, papel
inicie a execução da falsificação, poderá ser responsa- selado ou qualquer papel de emissão legal destina-
bilizado criminalmente pelos atos preparatórios, que do à arrecadação de tributo;
constituem crime autônomo. II - papel de crédito público que não seja moeda
de curso legal;
Sobre o crime de petrechos para emissão de moe-
III - vale postal;
da, é importante ficar atento ao seguinte: IV - cautela de penhor, caderneta de depósito
de caixa econômica ou de outro estabelecimento
z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado mantido por entidade de direito público;
por meio da execução de quaisquer um dos verbos V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro
previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne- documento relativo a arrecadação de rendas
cer, possuir ou guardar; públicas ou a depósito ou caução por que o
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- poder público seja responsável;
quer pessoa; VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
transporte administrada pela União, por Estado ou
z O crime configura-se ainda que o agente pratique
por Município:
as condutas descritas no tipo penal sem finalidade Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
onerosa;
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente, O tipo penal do caput poderá ser praticado com a
que admite a prisão em flagrante enquanto não se falsificação de quaisquer um dos documentos vistos
cessar a permanência; acima, de duas formas: fabricando-os (neste caso, o
z O delito é doloso; agente cria um documento) ou alterando-os (o agente
z Não admite a modalidade culposa; altera documento já existente).
z Admite tentativa. Existem formas equiparadas ao crime de falsifica-
ção de papéis públicos, incorrendo o agente nas mes-
mas penas deste.
96 12 STJ. 6ª Turma. REsp 1758958-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/09/2018 (Info 633).
Art. 293 [...] Sobre o crime de falsificação de papéis públicos, é
§ 1º Incorre na mesma pena quem: importante levar em consideração o seguinte:
I - usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis
falsificados a que se refere este artigo; z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, quer pessoa;
empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação z Só admite a modalidade dolosa — não pode ser
selo falsificado destinado a controle tributário; praticado culposamente;
III - importa, exporta, adquire, vende, expõe à z Caso a falsificação seja grosseira, haverá a atipici-
venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
dade deste crime;
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
z Admite a tentativa;
utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
z Se o papel for de emissão da União, será processa-
de atividade comercial ou industrial, produto ou
mercadoria:
do e julgado pela Justiça Federal;
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a z Será de competência do Juizado Especial Criminal
controle tributário, falsificado; Federal nas hipóteses de crime privilegiado, defi-
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação nido no § 4º, art. 293, do CP.
tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação. Petrechos de Falsificação
§ 2º Suprimir, em qualquer desses papéis, quan-
do legítimos, com o fim de torná-los novamente Art. 294 Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua guardar objeto especialmente destinado à falsifi-
inutilização: cação de qualquer dos papéis referidos no artigo
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. anterior:
§ 3º Incorre na mesma pena quem usa, depois de Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
parágrafo anterior. Sobre o crime de petrechos de falsificação, é impor-
§ 4º Quem usa ou restitui à circulação, embora tante que você saiba, para a sua prova, as seguintes
recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados informações:
ou alterados, a que se referem este artigo e o seu
§ 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado
incorre na pena de detenção, de seis meses a dois mediante a execução de qualquer um dos verbos
anos, ou multa. previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne-
§ 5º Equipara-se a atividade comercial, para os fins cer, possuir ou guardar;
do inciso III do § 1º, qualquer forma de comércio
z É crime comum, que poderá ser praticado por
irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
qualquer agente;
vias, praças ou outros logradouros públicos e em
z Entretanto, caso o crime seja praticado por fun-
residências.
cionário público, prevalecendo-se este do cargo, a
pena será aumentada da sexta parte (1/6).
O tipo penal do crime de falsificação de papéis
públicos apresenta três modalidades em que a pena
Art. 295 Se o agente é funcionário público, e come-
será mais branda se comparada ao tipo penal prin- te o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
cipal e às formas equiparadas, que têm como pena a pena de sexta parte.
reclusão de dois a oito anos e multa:
A pena do crime de petrechos de falsificação será
z Aquele que suprimir, em qualquer dos papéis vis- aumentada de 1/6 (um sexto) se o agente é funcionário
tos anteriormente, quando legítimos, com o fim de público e comete o crime prevalecendo-se do cargo.
torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal
indicativo de sua inutilização, incorrerá na pena z Assim como o crime de petrecho para falsificação
de reclusão de um a quatro anos e multa; de moeda, o objeto deve ser destinado especial-
z Aquele que usar os papéis, depois de alterados mente para falsificar os papéis previstos no art.
(após a supressão de carimbo ou sinal indicativo 293; caso o objeto tenha outras finalidades (tem
de inutilização, quando legítimos, com o fim de outras utilidades e também serve para falsificar
torná-los utilizáveis), incorrerá na pena de reclu- papéis), não há que se falar na prática deste tipo
são de um a quatro anos e multa; penal;
z Aquele que usar ou restituir à circulação, embora
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 297 Falsificar, no todo ou em parte, docu- Cleber Masson (2018) destaca que se a falsida-
mento público, ou alterar documento público de lançada na Carteira de Trabalho e Previdência
verdadeiro: Social relacionar-se com os direitos trabalhistas
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
do empregado, incidirá o crime definido no art.
§ 1º Se o agente é funcionário público, e comete o
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena 49, do Decreto-lei 5.452, de 1943. Por seu turno,
de sexta parte. se a falsidade atingir a Previdência Social, estará
§ 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a docu- caracterizado o crime tipificado no inciso II, § 3º,
mento público o emanado de entidade paraestatal,
art. 297, do CP.
o título ao portador ou transmissível por endosso,
as ações de sociedade comercial, os livros mercan-
tis e o testamento particular.
É de suma importância você saber que não se
§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz
inserir: pode confundir a falsidade material com a falsidade
98 ideológica.
FALSIDADE MATERIAL FALSIDADE IDEOLÓGICA
O agente cria um documento falso ou modifica um docu- O agente falsifica a declaração que deveria constar no do-
mento verdadeiro cumento público ou privado, que é verdadeiro
O documento é materialmente falso O documento é materialmente verdadeiro, com o conteúdo
Altera-se o aspecto formal do documento, podendo o con- falso
teúdo ser verdadeiro ou não Altera-se o conteúdo do documento, mas o aspecto formal
Crimes: falsificação de documento público ou particular continua intacto
Por exemplo, criar uma certidão de nascimento Crime: falsidade ideológica
Por exemplo, alterar data de nascimento em certidão de
nascimento
Sobre o crime de falsificação de documento público, é importante que você leve em consideração as seguintes
informações:
É muito importante que você saiba o que é documento público, para fins de configuração deste crime, já que
existe, também, o crime de falsificação de documento particular, já que eles são apenados de formas diferentes,
sendo aquele mais grave do que este.
Para fins de concurso público, pode-se conceituar documento público como aquele emitido por funcionário
público, no exercício de suas funções, a serviço da União, estados-membros, Distrito Federal ou municípios (emi-
tido por órgãos ou entidades públicas).
Porém, o Código Penal equipara alguns outros documentos, embora emitidos por particulares, a documento
público.
A falsidade diz respeito às informações falsamente inse- Parte do documento, que dele pode ser individualizada, é
ridas ou retiradas do papel, o que ocorre posteriormente à criada falsamente
criação do documento
O título ao portador é documento de crédito que não informa o seu beneficiário, a exemplo do cheque no valor
de até R$ 100,00 (cem reais). O endosso é uma forma de transferir a propriedade de um título (do endossante para
o endossatário), como os cheques em geral e as notas promissórias, que constituem exemplos de títulos transmis-
síveis por endosso.
Súmula n° 17 (STJ) Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
Esta súmula se refere à aplicação do princípio da consunção ou absorção. Quando o crime de falsificação de
documento público for meio para praticar o crime de estelionato, será por este absorvido.
Por exemplo, agente que, para obter ilícita vantagem em prejuízo de terceiro, altera sua carteira de identidade
verdadeira, responderá apenas pelo crime de estelionato caso a potencialidade lesiva da falsificação fique exau-
rida com a prática do estelionato.
Caso a falsificação ou alteração sejam grosseiras, haverá atipicidade deste crime, podendo configurar outra
infração penal.
Art. 298 Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 99
O crime de falsificação de documento particular
A FALSIDADE IDEOLÓGICA CONFIGURA-SE DAS
é praticado quando o agente age de acordo com o SEGUINTES FORMAS:
núcleo do tipo, ou seja, falsifica, no todo ou em parte,
documento particular ou altera (segundo núcleo do Omitir, em documento Inserir ou fazer inserir, em do-
tipo) documento particular verdadeiro. público ou particular, cumento público ou particular,
declaração que dele declaração falsa ou diversa
A conduta é muito semelhante ao crime de falsifi-
devia constar da que devia constar
cação de documento público, sendo diferente no que
se refere ao objeto material do crime. Estes crimes
também se diferenciam em relação à pena cominada. A falsidade ideológica pode ser praticada tanto em
documento público quanto em documento particular,
Falsificação de documento Falsificação de documento tendo, como distinção, tão somente a pena, vejamos:
público particular
z Documento público: reclusão, de um a cinco anos,
Objeto Material: documento Objeto material: documento
público particular e multa;
z Documento particular: reclusão, de um a três
Pena: Reclusão, de dois a seis Pena: Reclusão, de um a cinco
anos, e multa.
anos, e multa anos, e multa
É importante ressaltar também que, caso o falso z Para caracterização deste crime, não basta o mero
atestado médico seja destinado à pratica de outro cri- porte do documento falso, exigindo-se que o agen-
me, tendo o médico ciência desta circunstância, será te o use efetivamente, apresentando-o a alguém;
este responsabilizado como partícipe pelo crime mais z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
grave (princípio da consunção), restando absorvido o quer pessoa;
crime do art. 302. z É crime formal;
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser
Reprodução ou Adulteração de Selo ou Peça praticado dolosamente;
Filatélica z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
z Caso o agente desconheça a falsidade do documen-
Art. 303 Reproduzir ou alterar selo ou peça filaté- to e o utilize, não há que se falar na configuração
lica que tenha valor para coleção, salvo quando a deste tipo penal, já que, como visto acima, o ele-
reprodução ou a alteração está visivelmente anota- mento subjetivo é somente o dolo;
da na face ou no verso do selo ou peça:
z Prevalece o entendimento de que não admite a
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
modalidade tentada, já que se trata de crime unis-
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem,
para fins de comércio, faz uso do selo ou peça subsistente, perfazendo-se mediante a execução
filatélica. de um único ato (ou o agente usa o documento e
pratica o crime; ou o agente não usa o documento
O crime tipificado neste artigo foi tacitamente e o fato será atípico);
revogado pelo art. 39, da Lei nº 6.538, de 1978. z Segundo o STJ, se o documento usado for grosseira-
mente falsificado, perceptível aos olhos do homem
Uso de Documento Falso comum, não irá se configurar o crime de uso de
documento falso.
Art. 304 Fazer uso de qualquer dos papéis falsifi-
cados ou alterados, a que se referem os arts. 297 A Súmula n° 522, do STJ, diz respeito ao uso de
a 302: documento falso e o instituto da autodefesa. Vejamos:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
Súmula n° 522 (STJ) A conduta de atribuir-se falsa
Vamos recordar quais são os tipos penais previstos identidade perante autoridade policial é típica, ain-
entre os arts. 297 e 302, do Código Penal: da que em situação de alegada autodefesa.
102 13 (STF — AP 530 — Rel. Min. Rosa Weber — Rel. p/ Acórdão: Min. Roberto Barroso — 1ª Turma — julgado em 9-9-2014).
Assim, caso o agente utilize uma carteira de iden- alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa natu-
tidade falsa, não será relevante para fins de análise reza, falsificado por outrem:
de competência para processo e julgamento o órgão Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
expedidor do documento (unidade da federação que Parágrafo único. Se a marca ou sinal falsificado é o
o expediu), mas sim o órgão ou entidade ao qual foi que usa a autoridade pública para o fim de fiscali-
apresentado o documento. zação sanitária, ou para autenticar ou encerrar
Caso o agente apresente o documento falso a um determinados objetos, ou comprovar o cumprimen-
órgão ou entidade federais, a exemplo da Polícia Rodo- to de formalidade legal:
Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e
viária Federal e do INSS, a competência para processo
multa.
e julgamento será da Justiça Federal. Se o documento
falso for apresentado a órgão ou entidade estaduais, a
Trata-se de crime de ação múltipla, que pode ser
exemplo das polícias civis ou da SANEAGO, o processo
praticado mediante a execução dos verbos:
e julgamento será de competência da Justiça Estadual.
z Falsificar;
Supressão de Documento
z Usar.
Art. 305 Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu- Responderá o agente com uma pena mais branda,
mento público ou particular verdadeiro, de que não podendo ser reclusão ou detenção, de um a três anos,
podia dispor: e multa, se a marca ou sinal falsificado é o que usa a
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o autoridade pública para o fim de:
documento é público, e reclusão, de um a cinco
anos, e multa, se o documento é particular. z Fiscalização sanitária;
z Autenticar ou encerrar determinados objetos;
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser z Comprovar o cumprimento de formalidade legais.
praticado com a execução das seguintes condutas:
Sobre este crime, é importante levar as seguintes
z Destruir, Suprimir e Ocultar: documento público informações para a sua prova:
ou particular verdadeiro, de que não podia dispor,
em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuí- z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
zo alheio. quer pessoa;
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser
A pena do crime será diferente, a depender da praticado dolosamente;
natureza do documento destruído, suprimido ou z Não exige dolo específico;
ocultado. z Admite a forma tentada, salvo quando executado
por meio verbo usar.
z Documento público: reclusão, de dois a seis
anos, e multa; Dica
z Documento particular: reclusão, de um a cinco
anos, e multa. Falsificar, fabricando-o ou alterando-o, admite
tentativa.
Em relação aos tipos penais que apresentam penas Usar não admite tentativa.
como visto acima, você deve ter um cuidado redobra-
do ao analisar o tipo penal e possíveis questões de pro- Falsa Identidade
va sobre o tema.
Sobre este crime, faz-se necessário ficar atento às Art. 307 Atribuir-se ou atribuir a terceiro fal-
seguintes informações: sa identidade para obter vantagem, em proveito
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa,
quer agente; se o fato não constitui elemento de crime mais
z Não admite a modalidade culposa; grave.
z É necessário que o agente pratique as condutas des-
critas no tipo penal em benefício próprio ou alheio Figura típica: atribuir-se, ou atribuir a terceiro, fal-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
ou em prejuízo alheio (finalidade específica); sa identidade para obter vantagem, em proveito pró-
z Exige-se, para configuração deste tipo penal, que o prio ou alheio, ou para causar dano a outrem.
agente não possa dispor do documento público ou O crime pode ser praticado das seguintes formas:
particular;
z Admite a tentativa. FALSA IDENTIDADE
O crime de falsa identidade é subsidiário, e só Conduta: usar, como próprio, passaporte, título
será cabível quando o fato não constituir ele- USO DE DOCU- de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer
MENTO DE IDEN- documento de identidade alheia ou ceder a ou-
mento de crime mais grave. Desta feita, caso TIDADE ALHEIO trem, para que dele se utilize, documento dessa
o indivíduo, valendo-se da falsa identidade, natureza, próprio ou de terceiro
obtenha efetivamente a vantagem indevida em
prejuízo alheio, estará configurado o crime de
Fraude de Lei Sobre Estrangeiro
estelionato.
Art. 309 Usar o estrangeiro, para entrar ou perma-
z Não se exige que o agente atribua a si ou a tercei-
necer no território nacional, nome que não é o seu:
ro nome de pessoa real, podendo ocorrer caso o
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
nome seja inexistente.
Parágrafo único. Atribuir a estrangeiro falsa qua-
lidade para promover-lhe a entrada em território
Uso de Documento de Identidade Alheia
nacional:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 308 Usar, como próprio, passaporte, título de
eleitor, caderneta de reservista ou qualquer docu-
mento de identidade alheia ou ceder a outrem, Trata-se de crime bastante parecido com o crime
para que dele se utilize, documento dessa nature- de falsa identidade, porém, com este não se confunde.
104 za, próprio ou de terceiro:
DIFERENÇAS
Suponha que Augusto, brasileiro nato, preste-se a
figurar como proprietário de empresa jornalística e
Fraude de Lei sobre
Falsa Identidade de radiodifusão sonora e de sons e imagens, que, na
Estrangeiro
verdade, pertence a Alfred, estadunidense nato.
Crime Finalidade Crime próprio Finalidade Vejamos, a conduta praticada por Augusto configu-
comum, que específica: que só pode específica:
ra o tipo penal previsto no art. 310, do CP, podendo ele
pode ser obter ser praticado entrar ou
praticado vantagem pelo permanecer ser incurso nas penas de detenção, de seis meses a três
por qualquer em proveito estrangeiro no território anos, e multa.
pessoa próprio ou nacional Sobre o crime previsto no art. 310, é importante
alheio, ou levar em consideração:
para causar
dano a z É crime próprio, que só poderá ser praticado por
outrem
brasileiro, seja nato ou naturalizado;
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser
z Forma simples: usar o estrangeiro, para entrar ou praticado dolosamente;
permanecer no território nacional, nome que não z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
é o seu. z É necessário que o agente saiba que a propriedade
ou posse dos bens seja proibida por lei ao estran-
Detenção, de um a três anos, e multa. geiro (lembre-se de que o crime não admite a for-
ma culposa);
z Forma qualificada: atribuir a estrangeiro falsa z Admite tentativa.
qualidade para promover-lhe a entrada em terri-
tório nacional. Adulteração de Sinal Identificador de Veículo
Automotor
Reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 311 Adulterar ou remarcar número de chassi
Sobre este crime, é importante que você leve em ou qualquer sinal identificador de veículo auto-
consideração as seguintes informações: motor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
z É crime próprio; § 1º Se o agente comete o crime no exercício da fun-
z Não admite a modalidade culposa — só poderá ser ção pública ou em razão dela, a pena é aumenta-
praticado dolosamente; da de um terço.
z Exige finalidade especial de agir (dolo específico):
Fraudes em Certames de Interesse Público Sobre este crime, é importante ficar atento às
seguintes informações:
Art. 311-A Utilizar ou divulgar, indevidamente,
com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de com- z Este crime se aplica a certames de interesse públi-
prometer a credibilidade do certame, conteúdo sigi- co de maneira geral, e não apenas a concursos
loso de: públicos em sentido estrito;
I - concurso público; z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
II - avaliação ou exame públicos; quer pessoa.
III - processo seletivo para ingresso no ensino supe-
rior; ou É comum acharem que se trata de crime próprio,
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: que só pode ser praticado por funcionário público.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Contudo, não é crime próprio. Na verdade, para este
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou
crime, a condição de funcionário público não é ele-
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não
mentar, constituindo, contudo, causa de aumento de
autorizadas às informações mencionadas no caput.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à adminis- pena de 1/3 (um terço).
tração pública: Vejamos os pontos importantes deste crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é z Não admite a modalidade culposa — só pode ser
cometido por funcionário público. praticado dolosamente;
z Exige fim especial de agir (dolo específico): fim de
Este tipo penal foi editado para proteger a lisura beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a
dos certames de interesse público. credibilidade do certame;
Este crime tem como figura típica a prática da z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
seguinte conduta: utilizar ou divulgar, indevidamen- mera divulgação ou utilização das informações
te, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de sigilosas, ainda que o agente não consiga benefi-
comprometer a credibilidade do certame, conteúdo ciar a si ou a terceiro ou não consiga comprometer
sigiloso de: a credibilidade do certame público;
z Admite a forma tentada;
z Concurso público (segundo Sanches, instrumento z Caso o agente promova a utilização ou divulgação
de acesso a cargos e empregos públicos); das informações sigilosas devidamente (com justa
z Avaliação ou exame públicos (segundo Sanches, causa), não há que se falar na prática deste crime.
abrange, por exemplo, os exames psicotécnicos);
z Processo seletivo para ingresso no ensino superior REFERÊNCIAS
(conforme Sanches, engloba vestibulares e outras
formas de avaliação para ingresso no ensino supe- CAPEZ, F. Curso de Direito Penal. Vol. 1, 19. ed.
rior, a exemplo do ENEM); São Paulo: Saraiva, 2016.
z Exame ou processo seletivo previstos em lei (con- CUNHA, R. S. Pacote Anticrimes — Lei 13.964, de
forme ensina Rogério Sanches, a exemplo do exa- 2019: Comentários às Alterações no CP, CPP e LEP.
me da OAB). Salvador: Juspodium, 2020.
GONÇALVES, V. E. R. Direito penal esquematiza-
do: parte especial. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO JESUS, D. de. Código Penal Anotado. 22. ed. São
Paulo: Saraiva, 2017.
Conduta: utilizar ou divulgar, indevidamente, com o MASSON, C. Código Penal Comentado. 2. ed. São
fim de beneficiar a si ou a outrem, ou comprometer a Paulo: Método, 2019.
credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
Processo Exame ou
Concurso Avaliação ou seletivo para processo DOS CRIMES CONTRA A
público exame públicos ingresso no seletivo previsto
ensino superior em lei ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS
O crime de fraude em certames de interesse pública PÚBLICOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
apresenta uma forma equiparada, uma forma qualifi-
cada e uma forma majorada (com aumento de pena): Nos crimes contra a Administração Pública, o bem
jurídico genericamente tutelado é a moralidade ou
z Forma equiparada: incorre nas mesmas penas o probidade administrativa.
agente que permite ou facilita, por qualquer meio, Tratam-se de crimes próprios, que exigem uma
o acesso de pessoas não autorizadas às informa- condição especial do sujeito ativo: ser funcionário
106 ções sigilosas relacionadas a concurso público; público.
Os crimes praticados por funcionário público con- z Emprego público, por sua vez, é a função pública
tra a administração em geral são chamados de crimes exercida em caráter temporário ou extraordinário
funcionais. Os crimes funcionais são aqueles prati- (por exemplo, diarista que presta serviço de faxi-
cados contra a Administração Pública por indivíduo na em uma repartição pública). Assim, obtém-se
que se encontra investido em uma função pública. São por exclusão o conceito de emprego público como
divididos em funcionais próprios, ou puros, e funcio- sendo todo aquele que não se classifica como cargo
nais impróprios, ou impuros. público;
Os crimes funcionais próprios são aqueles que z Função pública é toda e qualquer atividade que
serão atípicos caso não sejam praticados por funcio- realiza os fins próprios do Estado (por exemplo,
nários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocor- perito judicial, estagiário do Ministério Público ou
rerá uma hipótese de atipicidade absoluta. da Defensoria Pública ou de qualquer outro órgão
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que público, juiz de direito, Presidente da Repúbli-
serão desclassificados para outras infrações penais ca, Governador de Estado, escreventes, Prefeitos,
caso não sejam praticados por funcionários públicos. vereadores, faxineiros do fórum etc.).
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma hipóte-
se de atipicidade relativa. Além dos dispositivos legais, é importante termos
Já a conduta que define o crime de peculato-furto, ciência de alguns julgados que estabelecem que são
praticada por meio do verbo subtrair, será desclassi- considerados funcionários públicos para fins penais:
ficada para o crime de furto, caso não seja praticada
por um funcionário público. z Diretor de organização social;14
O Código Penal, em seu art. 327, define o que é fun- z Administrador de Loteria;15
cionário público. Vejamos: z Advogados dativos;16
z Médico de hospital particular credenciado/conve-
Art. 327 Considera-se funcionário público, para os niado ao SUS;17
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou z Estagiário de órgão ou entidade públicos.18
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou fun-
ção pública. Nestes termos, não são considerados funcionários
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce públicos para fins penais os depositários judiciais.19
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, No § 2º, do art. 327, o Código Penal apresenta uma
e quem trabalha para empresa prestadora de ser-
causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes
viço contratada ou conveniada para a execução de
praticados por funcionário público contra a adminis-
atividade típica da Administração Pública.
tração em geral. Observe:
§ 2º A pena será aumentada da terça parte quan-
do os autores dos crimes previstos neste Capítu- A pena será aumentada de 1/3 (terça parte) quan-
lo forem ocupantes de cargos em comissão ou de do os autores dos crimes praticados por funcionário
função de direção ou assessoramento de órgão da público contra a administração em geral forem ocu-
administração direta, sociedade de economia mis- pantes de cargos em comissão ou de função de direção
ta, empresa pública ou fundação instituída pelo ou assessoramento de órgão da administração direta,
poder público. sociedade de economia mista, empresa pública ou fun-
dação instituída pelo poder público.
É importante saber que a pena não será aumen-
Importante! tada caso o funcionário público ocupe cargo em
comissão ou função de direção ou assessoramento em
Para o Direito Penal, funcionário público é aquele autarquias, por falta de previsão legal. Lembre-se de
que, embora transitoriamente ou sem remunera- que o nosso ordenamento jurídico não admite a ana-
ção, exerce cargo, emprego ou função pública. logia para prejudicar o agente.
Como é possível de se observar, o conceito de Não podemos deixar de tratar do concurso de pes-
funcionário público é bastante amplo. No § 1º, soas nos crimes funcionais.
art. 327, o Código Penal equipara a funcionário Os crimes funcionais são crimes próprios, à medi-
público quem exerce cargo, emprego ou função da que o autor deve ser funcionário público e, em
em entidade paraestatal, e quem trabalha para regra, não podem serem praticados por qualquer pes-
empresa prestadora de serviço contratada ou soa. Todavia, admitem a participação e a coautoria,
conveniada para a execução de atividade típica bem como a autoria mediata.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
z O sujeito passivo é a administração pública. Caso Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
o bem seja particular, também será sujeito passivo
da infração penal o dono do bem; O peculato mediante erro de outrem está previs-
z É crime material. to no art. 313, do CP, configurando-se quando o funcio-
nário público se apropriar de dinheiro ou qualquer
Peculato Culposo utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
de outrem.
Art. 312 […] Parte da doutrina chama esta modalidade de
§ 2º Se o funcionário concorre culposamente peculato-estelionato.
para o crime de outrem: Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro
Pena - detenção, de três meses a um ano. de outrem, toma posse de um bem móvel, em razão
da função, apropriando-se do mesmo. O terceiro que
O peculato culposo, previsto no § 2º, art. 312, con- induz o funcionário a apropriar-se do bem que rece-
figura-se quando o funcionário público concorre cul- beu por erro será partícipe deste delito de peculato
posamente para o crime de outrem. mediante erro. 109
O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente, z Inserir dados falsos;
isto é, posterior ao recebimento da coisa. z Facilitar a inserção de dados falsos;
Em um primeiro momento, o funcionário público z Alterar dados corretos;
toma posse do bem de boa-fé, sem constatar o erro z Excluir indevidamente dados corretos.
alheio, mas, posteriormente, após detectar o erro,
apropria-se da coisa. É necessário, para a tipificação do delito, que as
É importante levar em consideração as seguintes condutas acima sejam realizadas em sistema informa-
características do crime de peculato mediante erro de tizado (computador) ou bancos de dados (fichários,
outrem: livros ou outro meio físico) da Administração Pública.
Objeto material:
z É crime material, que se consuma quando o agen-
te inverte a propriedade do dinheiro ou outra uti- z Sistemas informatizados ou bancos de dados da
lidade, sabendo que eles chegaram ao seu poder Administração Pública.
por erro de outra pessoa, passando a agir como se
dono fosse;
Finalidade (dolo específico):
z Segundo a doutrina majoritária, admite a modali-
dade tentada;
z Obter vantagem indevida para si ou para outrem;
z O funcionário público deve receber a coisa em
z Causar dano.
razão do cargo que exerce;
z O sujeito passivo é a Administração Pública. Caso
o bem seja particular, também será sujeito passivo O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico,
o dono do bem; que consiste no fim de obter vantagem indevida para
z Parte da doutrina entende que se a pessoa for si ou para outrem ou causar dano à Administração
induzida a erro, configurar-se-á o crime de estelio- Pública ou a uma terceira pessoa.
nato, previsto no art. 171, do CP, sendo necessário, Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar
para caracterização do crime de peculato median- dano, haverá o crime do art. 313-B, do CP.
te erro de outrem, que a vítima entregue a coisa O crime consuma-se com a conduta, independen-
por erro próprio. temente do resultado. Trata-se de crime formal, que
se caracteriza ainda que a vantagem ou o dano alme-
Inserção de Dados Falsos em Sistemas de jado não se verifique.
Informação Admite-se a tentativa na hipótese de o agente ser
surpreendido antes de ultimar a conduta, por exem-
O crime de inserção de dados falsos em sistemas plo, agente é flagrado quando iniciava a supressão dos
de informação está previsto no art. 313-A, do CP: dados corretos.
Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autori- Modificação ou Alteração Não Autorizada de
zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir Sistemas de Informação
indevidamente dados corretos nos sistemas infor-
matizados ou bancos de dados da Administração O crime de modificação ou alteração não autori-
Pública com o fim de obter vantagem indevida para zada de sistemas de informação está previsto no art.
si ou para outrem ou para causar dano: 313-B, do Código Penal.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa.
Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário,
sistema de informações ou programa de infor-
Dica mática sem autorização ou solicitação de autori-
dade competente:
“Inserção de dados falsos em sistemas de
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
informação” é também chamado de peculato
e multa.
eletrônico. Parágrafo único. As penas são aumentadas de
um terço até a metade se da modificação ou altera-
Sujeito ativo é apenas o funcionário público auto- ção resulta dano para a Administração Públi-
rizado a inserir ou excluir dados do sistema. Outros ca ou para o administrado.
funcionários que não dispõem desta competência res-
pondem pelo crime do art. 313-B, do CP. Trata-se de Trata-se de crime próprio, sendo praticado somen-
crime próprio. te por funcionário público, qualquer que seja a sua
A fraude no sistema informatizado ou em bancos função, estando autorizado ou não a manipular sis-
de dados pelo funcionário competente, para obter temas de informações ou programas de informática.
vantagem para si ou para outrem, caracteriza o delito A consumação deste crime se dá com a modifica-
em análise, sendo que o estelionato, por ser um crime ção ou alteração não autorizada do sistema. Não é
menos grave, é absorvido. necessário um especial fim de agir.
Para que este crime se configure, é necessário que Caso o funcionário público seja autorizado ou pra-
as condutas descritas no tipo penal sejam praticadas tique a conduta por solicitação da autoridade compe-
por funcionário público autorizado a operar os siste- tente, o fato será atípico.
mas informatizados ou bancos de dados da Adminis- A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um
tração Pública. terço) até metade caso da modificação ou alteração
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal resulte dano para a Administração Pública ou para o
descreve vários verbos que podem ser praticados administrado.
para a sua configuração. Fique atento às diferenças entre os tipos penais
110 Condutas: do crime de inserção de dados falsos em sistemas de
informação e do crime de modificação ou alteração Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, res-
não autorizada de sistemas de informação: pondendo este pelo crime previsto em lei específica, o
Decreto nº 201, de 1967.
MODIFICAÇÃO OU AL- Exige que o emprego irregular aconteça em bene-
INSERÇÃO DE DADOS fício da própria Administração Pública, contrariando
TERAÇÃO NÃO AUTO-
FALSOS EM SISTEMAS a legislação, não podendo o agente desviar as verbas
RIZADA DE SISTEMAS
DE INFORMAÇÃO ou rendas em benefício próprio, sob pena de respon-
DE INFORMAÇÃO
der por outro crime.
Verbos: Inserir, facilitar a Verbos: modificar ou alterar Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do
inserção, alterar, excluir Se praticado por funcio- Município XYZ aprova a utilização de um milhão de
indevidamente nário autorizado, será fato reais para construção de uma passarela. A autoridade
Deve ser praticado por atípico pública competente utiliza a verba mencionada para
funcionário autorizado Não exige dolo específico a construção de uma escola.
Exige dolo específico de Pronto, configurou-se o crime de emprego irregu-
obter vantagem indevida lar de verbas ou rendas públicas. O agente deu às ver-
ou de causar dano bas públicas destinação diversa daquela estabelecida
em lei.
Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou Observe que a destinação da verba ocorreu no inte-
Documento resse da administração, já que, caso se dê em benefí-
cio próprio, o agente responderá por outro crime.
Está previsto no art. 314, do Código Penal. É importante mencionar a aplicação da excludente
de ilicitude do estado de necessidade: caso o empre-
Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer docu- go se dê devido a uma situação de perigo iminente
mento, de que tem a guarda em razão do cargo; (utilizou-se verba pública destinada ao esporte para
sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: se construir um abrigo durante perigo de chuvas que
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não desabrigaram grande parte da população), o fato será
constitui crime mais grave. típico, mas não será antijurídico.
Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas
Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer públicas, é importante mencionar:
desaparecer), sonegar (não apresentar) e inutilizar
(tornar imprestável). z Este crime será praticado pelo funcionário público
Sobre este crime, é importante que você saiba: que tem poder de decisão sobre as verbas ou ren-
das públicas, podendo delas dispor;
z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvi- z Não exige nenhum fim específico;
do quando o fato constitui crime mais grave), res- z Não admite a modalidade culposa;
pondendo por ele, o funcionário público, apenas se z Admite a tentativa;
não se configurar crime mais grave; z Não exige a ocorrência de dano pela Administra-
z Não admite a modalidade culposa; ção Pública para a sua configuração.
z Admite tentativa;
z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser Concussão
parciais ou totais.
Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta
ou indiretamente, ainda que fora da função ou
Sujeito ativo é apenas o funcionário público res-
antes de assumi-la, mas em razão dela, vanta-
ponsável pela guarda do livro oficial ou documen- gem indevida:
to. Se a conduta for praticada por outro funcionário Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
público, o crime será o previsto no art. 337, do CP. Caso
seja praticado por advogado ou procurador, que inu- No crime de concussão, o funcionário público,
tiliza documento ou objeto do processo, o enquadra- valendo-se de sua autoridade, exige (conduta mais
mento será no art. 356, do CP. forte do que apenas pedir) o pagamento de vanta-
O delito em estudo é subsidiário, pois só será apli- gem não devida pela pessoa. O particular, por temer
cado se não houver outro crime mais grave. qualquer represália por parte do funcionário público,
Assim, o funcionário público que recebe dinheiro pode ou não pagar a vantagem indevida.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
para destruir livro ou documento responderá apenas Vamos exemplificar: funcionário público, agen-
pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave. te de trânsito, exige de particular a quantia de R$
Por fim, quando se tratar de livros ou documentos 2.000,00 para que libere o seu veículo, sob pena de
relativos a tributos, o funcionário que tinha a guar- levá-lo indevidamente ao pátio do Detran.
da e praticou uma das condutas acima responderá A vantagem indevida, segundo posicionamento
pelo crime do inciso I, art. 3º, da Lei nº 8.137, de 1990, majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
quando o fato acarretar pagamento indevido ou ine- ser qualquer outra vantagem.
xato de tributo. É importante mencionar que a concussão ocorrerá
em razão da função do agente público, não se exigindo
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas que o fato seja praticado no efetivo desempenho das
atribuições do cargo. Sendo assim, este crime pode ser
Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplica- cometido por funcionário público de férias e, segundo
ção diversa da estabelecida em lei: a doutrina dominante, nomeado, mas não empossado
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. (antes de assumir). 111
A violência ou grave ameaça (morte, prisão) não O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferente-
são elementos integrantes do crime de concussão. mente do crime de concussão, não significa uma
Se o funcionário público exigir o pagamento de ameaça, mas sim a simples cobrança indevida.
vantagem indevida, mediante violência ou grave A cobrança é indevida quando o tributo ou a con-
ameaça, estará cometendo o crime de extorsão, pre- tribuição social não existe ou então já foi pago, bem
visto no art. 158, do Código Penal. como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em
Sobre a concussão, é importante que você conheça valor maior que o devido.
as seguintes informações, frequentemente cobradas O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste
em prova: no fato de o agente ter consciência, ou dúvida, de que
se trata de uma cobrança indevida.
z Não pode ser praticada na modalidade culposa; Na segunda modalidade criminosa, cobrança
z Trata-se de crime formal, que se consuma com a vexatória ou gravosa, o tributo ou contribuição social
prática da exigência, sendo o recebimento da van- é devido. O problema reside no “modus operandi” da
tagem mero exaurimento do crime; cobrança, que é feita de forma vexatória, humilhante,
z O particular, de quem se exigiu a vantagem inde- ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas
vida, é sujeito passivo secundário deste crime. A totalmente desnecessárias.
Administração Pública é o sujeito passivo primário; Neste caso, o crime consuma-se com a simples
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando cobrança vexatória ou gravosa, independentemente
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo da do recebimento.
concussão praticada mediante carta endereçada à Admite-se a tentativa quando a cobrança vexató-
vítima; ria ou gravosa é realizada por escrito, mas, por cir-
z É possível praticar a concussão indiretamente,
cunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta
quando, por exemplo, o funcionário público exige a
antes que a vítima tomasse conhecimento.
vantagem indevida por intermédio de outra pessoa.
Vejamos: José, funcionário público da prefeitu-
ra do Município de Simplicidade, sabendo que seu
É importante diferenciar concussão e corrupção
vizinho, Márcio, deve dez mil reais em tributo, para
passiva:
cobrá-lo, coloca uma faixa enorme na entrada da rua,
com a seguinte frase escrita: “Márcio, deixe de ser
Tem no núcleo do tipo o verbo “exi- irresponsável e pague os dez mil reais que você deve
gir” — há um caráter intimidativo na de tributo à prefeitura”.
CONCUSSÃO
conduta No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo
O ato de exigir é algo impositivo uso de meio vexatório, não autorizado por lei, confi-
Tem os verbos “solicitar ou receber, gurando-se, assim, o excesso de exação.
ou aceitar” Sobre o excesso de exação, é importante mencionar:
Solicitar é pedir, o que, portanto, não
CORRUPÇÃO pressupõe intimidação z Não admite a modalidade culposa, pois a expres-
PASSIVA Receber e aceitar pressupõem uma são “que sabe” é dolo direto, e a expressão “devia
conduta ativa do particular, ou seja, saber” é dolo eventual;
além de não ocorrer intimidação, há z Admite a tentativa quando for possível fracionar o
uma conduta inicial do terceiro iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati-
cado mediante carta endereçada à vítima.
Excesso de Exação Art. 316 […]
§ 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou
O excesso de exação, previsto no § 1º, art. 316, do de outrem, o que recebeu indevidamente para reco-
CP, é uma forma de concussão. Configura-se quando lher aos cofres públicos:
o funcionário público exige tributo ou contribuição Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
social, que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan-
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou
gravoso, que a lei não autoriza. de outrem, o que recebeu indevidamente para reco-
lher aos cofres públicos, responderá por excesso de
Art. 316 [...] exação na modalidade qualificada.
§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribui-
Quando observamos a forma qualificada do exces-
ção social que sabe ou deveria saber indevido,
ou, quando devido, emprega na cobrança meio
so de exação, é possível compreender que o tipo penal
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: não exige que o funcionário público tenha a intenção
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. de ficar para si ou para outro aquilo que recebeu. Caso
o faça, responderá pelo crime na forma qualificada.
Exação significa correção, exatidão. Na concussão propriamente dita, exige-se que o fun-
cionário público pratique a conduta visando obter a
vantagem indevida para si ou para outrem, constituin-
Importante! do-se, assim, elemento de distinção entre os tipos penais.
Condescendência Criminosa
Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exer-
cício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
z Quando o funcionário público, por indulgência, deixa de responsabilizar o subordinado que cometeu infração
no exercício do cargo;
z Quando o funcionário público, que não é competente para responsabilizar aquele que cometeu infração no
exercício do cargo, por indulgência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente.
A doutrina majoritária entende que o crime de condescendência criminosa só pode ser praticado por superior
hierárquico, que dolosamente, se omite. O funcionário que foi beneficiado não responde pelo delito em tela.
Você pode entender indulgência como compaixão, pena, piedade, clemência.
Há um requisito que deve ser cumprido para a prática da condescendência criminosa: uma infração funcional
(que pode ser uma violação administrativa ou penal) praticada por subordinado no exercício das atribuições do
seu cargo.
A consumação dá-se quando o superior toma conhecimento da infração e não providencia imediatamente a
responsabilização do infrator ou não comunica o fato à autoridade competente.
Sobre a condescendência criminosa, fique atento:
Como é possível observar, os crimes de corrupção passiva privilegiada, prevaricação e condescendência crimi-
nosa possuem características similares. Vejamos as diferenças:
CORRUPÇÃO PASSIVA
PREVARICAÇÃO CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA
PRIVILEGIADA
O agente deixa de praticar ato de ofí- O agente deixa de praticar ato de O agente deixa de praticar ato de ofí-
cio cedendo a pedido ou influência ofício para satisfazer sentimento ou cio (responsabilizar o subalterno) por
de outrem interesse pessoal indulgência
Advocacia Administrativa
O crime de advocacia administrativa, previsto no art. 321, do Código Penal, pode ser praticado na modalidade
simples ou qualificada.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da
qualidade de funcionário
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
Modalidade simples: configura-se quando o funcionário público patrocinar, direta ou indiretamente, interes-
se privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade de funcionário.
É necessário que a condição de funcionário público proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que patro-
cina interesse de terceiro, pessoa privada; caso não haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo, o fato será
atípico.
O agente pode praticar este crime de diversas maneiras, como, por exemplo, fazendo uma petição, solicitando
um benefício.
Modalidade qualificada: o crime de advocacia administrativa será qualificado caso o interesse privado seja
ilegítimo. 115
z Forma simples: interesse privado legítimo; Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo.
A conduta típica é: abandonar cargo público, fora
Sobre a advocacia administrativa, fique atento em dos casos permitidos em lei.
sua prova: O nome do crime é abandono de função, porém,
o tipo penal fala em abandono de cargo público. É
z Não admite a modalidade culposa; importante que você saiba que o conceito de função
z É crime formal, que se consuma com a conduta, pública é mais amplo que o de cargo público (não há
não se exigindo que se atinja o interesse privado cargo sem função, mas há função sem cargo).
pleiteado; Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero
z Segundo doutrina majoritária, admite tentativa abandono de função pública (apesar do nome) ou de
quando for possível se fracionar o iter criminis; emprego público, mas tão somente no caso de aban-
z É desnecessário que o fato ocorra na própria repar- dono de cargo público (não se admite a analogia in
tição em que trabalha o agente. Este pode usar da malam partem).
sua qualidade de funcionário para pleitear favores Trata-se de um crime de mão própria, ou seja, só
em qualquer esfera da Administração. pode ser praticado pelo funcionário público ocupante
do cargo que foi abandonado. Este abandono deve ser
Violência Arbitrária por tempo juridicamente relevante.
De acordo com posicionamento doutrinário majoritá-
Art. 322 Praticar violência, no exercício de função rio, as hipóteses de greve não configuram este tipo penal.
ou a pretexto de exercê-la. As hipóteses em que o agente abandona o cargo
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da público, admitidas em lei, não configuram o crime de
pena correspondente à violência. abandono de função.
O crime de abandono de função tem circunstân-
Este delito encontrava divergência quanto a sua cias que o qualificam:
aplicação, tendo em vista as edições realizadas pela
Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869, de 2019). z Se o fato resulta prejuízo público;
Esta discussão não mais possui fundamento, sendo z Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
que esta lei não tipificou o crime de violência arbi- de fronteira.
trária. Sendo assim, o delito ainda esse encontra em
vigor. Cabe destacar qualificadora do § 2º no que diz res-
A prática da violência deve dar-se em razão da peito à faixa de fronteira. Essa qualificadora é uma
função pública, não havendo a exigência de que seja norma penal em branco, visto que a definição da fai-
praticado no efetivo desempenho das funções do car- xa de fronteira é fornecida pela Lei nº 6.634, de 1979,
go, podendo, portanto, ser praticada, por exemplo, compreendendo um raio de 150 (cento e cinquenta)
por um funcionário público que se encontre de folga. quilômetros ao longo das fronteiras nacionais.
Sobre esse crime, leve em consideração os seguin- O fundamento desta qualificadora é a proteção à
tes pontos: soberania nacional que, nas fronteiras, torna-se mais
vulnerável.
z A violência arbitrária não admite a forma culposa, Exige-se que o abandono se dê por um prazo rele-
devendo ser praticada dolosamente; vante, apesar de o Código Penal não fixar prazo deter-
z Admite tentativa; minado. Entende a doutrina que o prazo será fixado
z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o pelo estatuto a que estiver submetido o funcionário
administrado contra o qual é praticada a violência público.
arbitrária; Em regra: o prazo será de 30 (trinta) dias — pra-
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente, zo previsto na maioria dos estatutos de servidores
não se enquadrando neste tipo penal as hipóteses públicos.
de uso necessário e progressivo da força, admiti-
das em lei; Dica
z O crime aperfeiçoa-se ainda que as vítimas da
agressão não sofram lesões; Sobre o crime de abandono de função, leve para
z Caso alguma das vítimas sofra lesão ou morra, o a sua prova:
agente responderá por este crime e pelo crime cor- � É crime omissivo;
respondente à violência praticada (lesões corpo- � Não admite tentativa;
rais ou homicídio). � Só pode ser praticado dolosamente — não
admite a culpa.
Abandono de Função
Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou
O crime de abandono de função está tipificado no Prolongado
art. 323, do CP.
Este crime está previsto no art. 324, do CP.
Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos
permitidos em lei: Art. 324 Entrar no exercício de função pública
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. antes de satisfeitas as exigências legais, ou conti-
§ 1º Se do fato resulta prejuízo público: nuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. oficialmente que foi exonerado, removido, substi-
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na fai- tuído ou suspenso:
116 xa de fronteira: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
seu normal funcionamento, pois o exercício ilegal de e que deva permanecer em segredo;
função pública afeta a prestação de serviços públicos. z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência em
Conduta típica: entrar no exercício de função razão do cargo e que deva permanecer em segredo.
pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou
continuar a exercê-la, sem autorização, depois de É importante mencionar que o agente toma conhe-
saber oficialmente que foi exonerado, removido, cimento do fato em relação ao qual deve permanecer
substituído ou suspenso: em segredo em razão do cargo que ocupa, não se exi-
Este crime pode ser praticado de duas formas: gindo que tenha sido no efetivo desempenho das atri-
buições do cargo.
z Entrar no exercício de função pública antes de Logo, o crime pode ser praticado no caso de o
satisfeitas as exigências legais; agente tomar conhecimento do fato durante período
z Continuar a exercer a função pública, sem autori- de licença, mas em razão do cargo.
zação, depois de saber oficialmente que foi exone- O Código Penal apresenta duas formas equipara-
rado, removido, substituído ou suspenso. É exigido das do crime de violação de sigilo funcional. Observe:
Incorrerá nas mesmas penas o funcionário público
que o funcionário público tenha sido oficialmente
que:
comunicado sobre sua exoneração, remoção, subs-
tituição ou suspensão. Neste aspecto, ressalta-se
z Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
que o crime é instantâneo e prescinde de habitua-
mento e empréstimo de senha ou qualquer outra
lidade da conduta para sua consumação.
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
mas de informações ou banco de dados da Admi-
Observe que o exercício funcional ilegalmente
nistração Pública;
antecipado ou prolongado somente pode ser prati- z Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito.
cado por funcionário público já nomeado, mas ainda
sem ter cumprido todas as exigências legais (1ª parte), Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta
ou então pelo indivíduo que era funcionário público, dano à Administração Pública ou a outrem.
porém deixou de sê-lo em razão de ter sido oficial- Sobre este crime, fique atento:
mente exonerado, removido, substituído ou suspenso
(parte final). z Só será praticado dolosamente — não admite for-
Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria, ma culposa;
de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois z Em regra, não admite tentativa, salvo casos excep-
somente pode ser cometido pela pessoa expressamen- cionais, a exemplo de ser praticado na forma
te indicada no tipo penal. escrita.
Se um particular entrar no exercício da função
pública, a ele deverá ser imputado o crime de usurpa- Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência
ção de função pública (art. 328 do CP).
Sobre o tipo penal em comento, é importante saber: Este tipo penal era previsto no art. 326, e foi revo-
gado pelo art. 337-J também do Código Penal.
z Não admite a forma culposa;
z Admite tentativa. Art. 326 Devassar o sigilo de proposta de concor-
rência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo
Violação de Sigilo Funcional de devassá-lo:
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.
O crime de violação de sigilo funcional encontra-se
previsto no art. 325, do Código Penal: CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Art. 325 Revelar fato de que tem ciência em razão
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou Os crimes praticados por particular contra a Admi-
facilitar-lhe a revelação: nistração Pública estão previstos entre os arts. 328 e
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul- 337-A, do Código Penal.
ta, se o fato não constitui crime mais grave. Tratam-se de crimes comuns, que não exigem
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: nenhuma condição ou qualidade especial do sujeito
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
I - permite ou facilita, mediante atribuição, forne- ativo, podendo ser praticados por qualquer pessoa.
cimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste- Usurpação de Função Pública
mas de informações ou banco de dados da Adminis-
tração Pública; O crime de usurpação de função pública configu-
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. rar-se-á quando o agente usurpar o exercício de fun-
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis- ção pública.
tração Pública ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Art. 328 Usurpar o exercício de função pública:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Este delito irá se configurar quando o agente públi-
co revelar fato de que tem ciência em razão do cargo Usurpar significa apoderar-se, tomar algo pela for-
e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a ça ou sem direito.
revelação. Inicialmente, é importante que você não confunda
Este crime pode ser praticado de duas formas: o usurpador de função com o funcionário ou agente 117
público de fato (assunto bastante cobrado, tanto na z Não admite a modalidade culposa;
disciplina Direito Penal, quanto na disciplina Direito z Admite tentativa;
Administrativo): z Pode ser praticado por funcionário público, segun-
do posicionamento que prevalece, mas a função
z Usurpação de função pública: o agente exerce a usurpada deve ser totalmente alheia à função dele
função sem nenhum tipo de investidura, apode- (sendo ele considerado particular);
rando-se dela. É crime; z É crime formal, não se exigindo para a sua configu-
z Funcionário ou agente de fato: o agente exerce a ração prejuízo ou dano à Administração Pública;
função pública, por ter ocorrido alguma irregula- z Ação penal pública incondicionada.
ridade. Não é crime.
Resistência
Desacatar = ofender, faltar com respeito. Art. 332 Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
Não se exige que o funcionário público esteja no para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
efetivo desempenho das atribuições do seu cargo para a pretexto de influir em ato praticado por funcioná-
caracterização do crime de desacato, mas sim que a rio público no exercício da função:
ofensa se dê em razão da função pública. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 119
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada
ao funcionário.
Conduta típica: solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função.
Trata-se de crime plurinuclear, que pode ser praticado com o exercício de qualquer um dos verbos previstos
no tipo penal:
z Solicitar;
z Exigir;
z Cobrar;
z Obter.
O agente não tem influência sobre o funcionário público, mas passa a impressão de que a tem, com a finalida-
de de obter vantagem ou promessa de vantagem.
Caso o agente realmente tenha poder de influência sobre o funcionário público que praticará o ato, não há que
se falar em tráfico de influência, podendo, no entanto, configurar-se outro crime.
Sobre o tráfico de influência, é importante que você tome cuidado com as seguintes informações:
z A pessoa que paga a vantagem pratica indiferente penal, por falta de previsão legal desta conduta;
z Em regra, é crime formal, consumando-se com a solicitação, exigência ou cobrança.
z No caso do verbo obter, o crime é material;
z Só pode ser praticado dolosamente;
z Exige um especial fim de agir: obter vantagem ou promessa de vantagem para si ou para outrem.
A pena do crime de tráfico de influência será aumentada de metade se o agente alega ou insinua que a vanta-
gem é também destinada ao funcionário.
Corrupção Ativa
O crime de corrupção ativa, previsto no art. 333, do Código Penal, é um dos tipos penais mais cobrados em
relação aos crimes contra a administração pública.
Art. 333 Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou
omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
Conduta típica: oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício.
Solicitar
Oferecer
Receber
Aceitar Prometer
z Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal prevê mais de um verbo para sua prática: oferecer e prome-
ter. Por exemplo, João oferece uma quantia em dinheiro ao policial rodoviário federal para não ser multado
pela prática de infração de trânsito. Pedro promete entregar uma quantia em dinheiro ao guarda municipal
quando retornar ao seu veículo que está estacionado em local proibido;
z É crime formal, que se consuma com a prática da conduta delituosa, não se exigindo que o funcionário público
aceite a vantagem ou promessa de vantagem;
z Não admite a forma culposa;
z Exige-se dolo específico: a intenção de determinar o funcionário público a praticar, omitir ou retardar ato de
ofício;
z Caso o particular ceda à solicitação (corrupção passiva) ou à exigência (concussão), e entregue vantagem inde-
vida, seja em pagamento ou dando algo, a sua conduta será atípica, conforme posicionamento jurisprudencial
majoritário;
z A pena da corrupção ativa será aumentada de 1/3 (um terço) se em razão da vantagem ou promessa, o funcio-
nário público retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional
Descaminho e Contrabando
Os crimes de descaminho e contrabando, previstos nos arts. 334 e 334-A, respectivamente, do Código Penal,
constituem práticas distintas, que devem ser observadas. Vamos simplificar estes crimes:
z Descaminho: consiste em não pagar direito ou imposto devido pela entrada, saída ou consumo de mercadoria.
z Contrabando: consiste na importação ou exportação de mercadoria proibida.
z Descaminho
Art. 334 Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou
pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandes-
tinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território
nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mer-
cadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que
sabe serem falsos.
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;
Trata-se de crime tributário formal, ou seja, não é necessária a prévia constituição definitiva do crédito
tributário;
Admite a forma tentada, quando, no caso de exportação, o crime é tentado se a mercadoria não chega a
sair do país;
A fraude utilizada pelo agente para iludir o pagamento de imposto pode se dar tanto em relação à quanti-
dade quanto em relação à qualidade do produto;
Não admite a modalidade culposa;
O crime consuma-se com a simples conduta de iludir o Estado quanto ao pagamento dos tributos devidos;
Admite a aplicação do princípio da insignificância, nos casos em que o valor seja inferior àquele considera-
do irrelevante para fins de execução fiscal;
121
Importante! Impedimento, Perturbação ou Fraude de
Concorrência
Tanto para o STF quanto para o STJ, atualmente,
poderá ser aplicado o princípio da insignificância O crime previsto no art. 335 foi revogado pelos art.
337-I e 337-K, do Código Penal.
ao crime de descaminho que não exceda o valor
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Art. 335 Impedir, perturbar ou fraudar concorrên-
cia pública ou venda em hasta pública, promovida
pela administração federal, estadual ou municipal,
O pagamento integral da dívida tributá- ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar
ria não extingue a punibilidade do crime de afastar concorrente ou licitante, por meio de vio-
descaminho.22 lência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
vantagem:
z Contrabando Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul-
ta, além da pena correspondente à violência.
Art. 334-A Importar ou exportar mercadoria Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se
proibida: abstém de concorrer ou licitar, em razão da vanta-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. gem oferecida.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
Inutilização de Edital ou de Sinal
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a
contrabando;
Art. 336 Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou
II - importa ou exporta clandestinamente merca-
conspurcar edital afixado por ordem de funcionário
doria que dependa de registro, análise ou auto- público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado,
rização de órgão público competente; por determinação legal ou por ordem de funcionário
III - reinsere no território nacional mercadoria público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:
brasileira destinada à exportação; Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou Conduta típica: rasgar ou, de qualquer forma,
alheio, no exercício de atividade comercial ou inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio empregado, por determinação legal ou por ordem de
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou funcionário público, para identificar ou cerrar qual-
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. quer objeto.
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os O crime de inutilização de edital ou de sinal, pre-
efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio visto no art. 336, do Código Penal, é de ação múltipla,
irregular ou clandestino de mercadorias estrangei- podendo ser praticado da seguinte forma:
ras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de con- z Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou cons-
trabando é praticado em transporte aéreo, marí- purcar (manchar ou tornar sujo, de forma que não
timo ou fluvial. possa ser utilizado) edital afixado por ordem de
funcionário público;
Sobre o crime de contrabando, é importante que z Violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por
você leve o seguinte para a sua prova: determinação legal ou por ordem de funcionário
público, para identificar ou cerrar (encobrir) qual-
Trata-se de crime comum, que pode ser pratica- quer objeto.
do por qualquer pessoa;
Não admite a modalidade culposa; Sobre o crime de inutilização de edital ou de sinal,
Admite tentativa; leve em consideração:
Não admite a aplicação do princípio da
insignificância. z É crime comum;
z Admite tentativa;
É importante mencionar que, no caso de produ- z Segundo posicionamento doutrinário dominante,
caso a conduta seja praticada quando não mais
tos específicos, a exemplo de armas de fogo ou subs-
produz efeito o edital (fora do seu prazo de vali-
tâncias entorpecentes, prevalecerá a aplicação da
dade, por exemplo), não se configurará este tipo
legislação especial, aplicando-se, respectivamente, o
penal.
Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826, de 2003) e a
Lei de Drogas (Lei nº 11.343, de 2006). Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento
De acordo com a Súmula 151, do STJ:
O crime de subtração ou inutilização de livro ou
Súmula 151 (STJ) A competência para o processo documento está previsto no art. 337, do CP.
e julgamento por crime de contrabando ou desca-
minho define-se pela prevenção do Juízo Federal do Art. 337 Subtrair, ou inutilizar, total ou parcial-
lugar da apreensão dos bens. mente, livro oficial, processo ou documento confia-
do à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou
de particular em serviço público:
22 STJ. 5ª Turma. RHC 43558-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015 (Info 555). STJ. 6ª Turma. HC 271650/PE, Rel. Min. Reynaldo Soa-
122 res da Fonseca, julgado em 03/03/2016.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não II - deixar de lançar mensalmente nos títulos pró-
constitui crime mais grave. prios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo
Tutela-se a Administração Pública, relativamente empregador ou pelo tomador de serviços;
ao normal funcionamento da atividade administrativa. III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros
Cabe destacar que o livro oficial, processo ou docu- auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
mento (público ou particular) é confiado à custódia de demais fatos geradores de contribuições sociais
funcionário, em razão de ofício, ou de particular em previdenciárias:
serviço público. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º É extinta a punibilidade se o agente, espon-
Por isso, é dever que seja confiada a custódia a
taneamente, declara e confessa as contribuições,
funcionário, em razão de ofício, não se verificando
importâncias ou valores e presta as informações
este crime quando alguém subtrai ou inutiliza, total
devidas à previdência social, na forma definida em
ou parcialmente, um livro oficial, processo ou docu- lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
mento de quem não o guarda por conta da sua função. § 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
É importante analisar que, na parte final do precei- aplicar somente a de multa se o agente for primário
to primário do dispositivo em estudo, há a expressão e de bons antecedentes, desde que:
“ou de particular em serviço público”, pois existem, I - (vetado)
em certas hipóteses excepcionais, particulares que II - o valor das contribuições devidas, inclusive
desempenham funções públicas (por exemplo, mesá- acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
rio nas eleições). Observe que se alguém subtrair ou cido pela previdência social, administrativamente,
inutilizar, total ou parcialmente, algum documento como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
confiado a essas pessoas, a ele será imputado o crime execuções fiscais.
de subtração ou inutilização de livro ou documento. § 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua
Sobre o núcleo do tipo: folha de pagamento mensal não ultrapassa R$
1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz
z Subtrair: retirar o livro oficial, processo ou docu- poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou
mento do local em que se encontra, dele se apode- aplicar apenas a de multa.
§ 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior será
rando o agente;
reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices
z Inutilizar: tornar imprestável o livro oficial, pro-
do reajuste dos benefícios da previdência social.
cesso ou documento, total ou parcialmente. Não se
reclama sua efetiva destruição.
Extinção da punibilidade: caso o agente, de for-
ma espontânea, declare ou confesse as contribuições,
Consuma-se o crime em estudo no instante em que
importâncias ou valores e preste as informações devi-
o livro oficial, processo ou documento é subtraído,
das à previdência social, na forma definida em lei ou
mediante seu apoderamento pelo agente, seguido da
regulamento, antes do início da ação fiscal (não se exi-
inversão da sua posse e sua consequente retirada da
ge o pagamento do tributo sonegado).
esfera de vigilância da vítima, ou então inutilizado,
A declaração ou confissão e a prestação das infor-
total ou parcialmente.
mações deverão ocorrer antes do início da ação fiscal.
Observe que se o documento se destina a fazer
Sobre o crime de sonegação de contribuição previ-
prova de relação jurídica, e o agente visa beneficiar a
denciária, é importante ficar atento ao seguinte:
si próprio ou a terceiro, o fato constituirá crime mais
grave.
z Não admite a modalidade culposa;
Sobre o este tipo penal, é importante ficar atento
z De acordo com o art. 34, da Lei nº 9.249, de 1995,
ao seguinte:
confirmado pela doutrina majoritária, o pagamen-
to integral do tributo ou contribuição social, após a
z É crime comum;
ação fiscal, mas antes do recebimento da denúncia,
z Admite tentativa;
também acarretará a extinção da punibilidade:
z É crime subsidiário, respondendo o agente por ele
apenas caso não se configure um crime mais grave;
Art. 34 (Lei n° 9.249, de 1995) Extingue-se a puni-
z Na hipótese de o documento destinar-se a fazer
bilidade dos crimes definidos na Lei 8.137, de 27 de
prova de relação jurídica, e o agente visar bene-
dezembro de 1990, e na Lei n° 4.729, de 14 de julho
ficiar a si próprio ou a terceiro, o fato constituirá
de 1965, quando o agente promover o pagamento
mais grave;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Corrupção Ativa em Transação Comercial Crime consumado é quando nele se reúnem todos os elementos
CONSUMAÇÃO de sua definição legal.
Internacional Fim do iter criminis
O crime de tráfico de influência em transação comercial internacional terá sua pena aumentada da metade se
o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário público estrangeiro.
Em relação a este tipo penal, é importante ficar atento ao seguinte:
Em 1º de abril de 2021, foi publicada a Lei nº 14.133, de 2021, Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos.
Além de inovar na disposição sobre licitações e contratos, a nova lei trouxe algumas alterações legislativas em outros
diplomas, dentre os quais o Código Penal.
A grande novidade é que agora os crimes licitatórios estão dentro do Código Penal, inseridos dentro do
título “Dos Crimes Contra a Administração Pública” (arts. 337-E ao art. 337-P).
Importante!
Com a entrada em vigência da Lei nº 14.133, de 2021, os crimes licitatórios passaram a ser crimes contra a
Administração Pública.
Vale destacar que não houve grande mudança em relação aos crimes que eram previstos na lei de licitações
anterior (Lei nº 8.666, de 1993), sendo as condutas praticamente as mesmas, com idêntica ou muito parecida
tipificação.
Resumidamente, foram as seguintes as alterações:
z Os crimes licitatórios ganharam “nomes legais” (contratação direta ilegal; frustração do caráter competitivo
de licitação etc.);
z A punição ficou mais rigorosa, uma vez que a maioria dos crimes que eram punidos com detenção agora são
punidos com reclusão;
z A punição ficou mais rigorosa, também, em relação à quantidade de pena, e foi inserido um novo tipo penal, o
crime de omissão grave de dado ou de informação por projetista, no art. 337-O, do CP.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Veja, a seguir, de forma esquematizada, com ficaram os crimes licitatórios após a mudança e sua inclusão no
CP.
Art. 89 Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses Contratação direta ilegal
previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades per- Art. 337-E Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação
tinentes à dispensa ou à inexigibilidade: direta fora das hipóteses previstas em lei:
Pena – detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, ten-
do comprovadamente concorrido para a consumação da
ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade
ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público
125
Veja que, apesar da redação diferente, o tipo é basicamente o mesmo, punindo a contratação direta ilegal. O
que houve foi o aumento substancial no tipo e na quantidade de pena. Trata-se de uma lex gravior, não retroativa.
A exclusão do parágrafo único, que dispunha sobre o beneficiário, não exclui a possibilidade de que ele seja
punido, uma vez que o crime se aplica a qualquer pessoa que incorra na conduta de admitir, possibilitar ou dar
causa à contratação direta fora das hipóteses previstas em lei (o que inclui o beneficiário).
Observe, também, que todos os crimes passaram a ter um nomen criminis (nome do crime).
Trata-se de crime formal, e se consuma com a mera dispensa ou inexigibilidade de licitação fora das hipóteses
legais. Para a prática deste crime, é necessária a comprovação do dolo específico do agente.
Art. 90 Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou Frustração do caráter competitivo de licitação
qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedi- Art. 337-F Frustrar ou fraudar, com o intuito de obter para si ou
mento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, para outrem vantagem decorrente da adjudicação do objeto
vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação: da licitação, o caráter competitivo do processo licitatório:
Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa
126
Modificação ou Pagamento Irregular em Contrato Administrativo
A nova redação é idêntica à da lei anterior; houve apenas a inclusão do nome do crime e o aumento na quan-
tidade de pena (o legislador manteve o crime apenado com detenção).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
A conduta do agente deve ser apta a lesionar o bem jurídico, quais sejam: os atos que compõem o processo
licitatório.
Este foi o único crime licitatório que não foi alterado, havendo apenas a inclusão do nomen criminis.
Afastamento de Licitante
IV – alterando substância, qualidade ou quantidade da mer- falsificada, deteriorada, inservível para consumo ou com pra-
cadoria fornecida; zo de validade vencido;
V – tornando, por qualquer modo, injustamente, mais onero- III - entrega de uma mercadoria por outra;
sa a proposta ou a execução do contrato: IV - alteração da substância, qualidade ou quantidade da
Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa mercadoria ou do serviço fornecido;
V - qualquer meio fraudulento que torne injustamente mais
onerosa para a Administração Pública a proposta ou a exe-
cução do contrato:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa
No crime de fraude em licitação ou contrato, o destaque é para a inclusão do inciso I e a punição mais grave.
O crime consuma-se com a ocorrência do prejuízo à Administração Pública.
127
Contratação Inidônea
O novo tipo apresenta o mesmo teor do tipo revogado, apenas disposto de forma diferente e com pena maior.
Impedimento Indevido
Novamente, o novo tipo apresenta a mesma redação do tipo revogado, aumentando-se a pena.
Sem correspondente na Lei anterior Omissão grave de dado ou de informação por projetista
Art. 337-O. Omitir, modificar ou entregar à Administração
Pública levantamento cadastral ou condição de contorno
em relevante dissonância com a realidade, em frustração
ao caráter competitivo da licitação ou em detrimento da se-
leção da proposta mais vantajosa para a Administração Pú-
blica, em contratação para a elaboração de projeto básico,
projeto executivo ou anteprojeto, em diálogo competitivo
ou em procedimento de manifestação de interesse:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
§ 1º Consideram-se condição de contorno as informa-
ções e os levantamentos suficientes e necessários para a
definição da solução de projeto e dos respectivos preços
pelo licitante, incluídos sondagens, topografia, estudos de
demanda, condições ambientais e demais elementos am-
bientais impactantes, considerados requisitos mínimos ou
obrigatórios em normas técnicas que orientam a elabora-
ção de projetos.
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de obter benefício,
direto ou indireto, próprio ou de outrem, aplica-se em do-
bro a pena prevista no caput deste artigo
O art. 337-O, do CP, que dispõe sobre o crime de omissão grave de dado ou informação por projetista, é o único
que não encontra correspondente na Lei nº 8.666, de 1993.
O tipo pune com pena de reclusão 6 meses a 3 anos e multa o contratado pela Administração Pública com a
finalidade de elaborar anteprojeto, projeto básico ou projeto executivo de obras e serviços de engenharia, que
omita, modifique ou entregue algum dado ou informação errado.
O dispositivo visa coibir que o contratado omita, modifique ou entregue informações relevantes para o pro-
cesso licitatório que não reflitam a realidade no que diz respeito ao levantamento cadastral ou à condição de
contorno.
Observe que a pena se aplica em dobro se o crime for praticado com o fim de obter benefício, direto ou indi-
reto, próprio ou de outrem.
128
Da Pena de Multa Cominada aos Crimes em Licitações e Contratos Administrativos
Art. 99 A pena de multa cominada nos arts. 89 a 98 desta Art. 337-P A pena de multa cominada aos crimes previs-
Lei consiste no pagamento de quantia fixada na sentença e tos neste Capítulo seguirá a metodologia de cálculo pre-
calculada em índices percentuais, cuja base corresponde- vista neste Código e não poderá ser inferior a 2% (dois
rá ao valor da vantagem efetivamente obtida ou potencial- por cento) do valor do contrato licitado ou celebrado com
mente auferível pelo agente. contratação direta
§ 1º Os índices a que se refere este artigo não poderão ser
inferiores a 2% (dois por cento), nem superiores a 5% (cin-
co por cento) do valor do contrato licitado ou celebrado
com dispensa ou inexigibilidade de licitação.
§ 2º O produto da arrecadação da multa reverterá, con-
forme o caso, à Fazenda Federal, Distrital, Estadual ou
Municipal
Outra modificação trazida foi a exclusão do teto previsto para a multa cominada aos crimes licitatórios, que
antes era limitada a 5% do valor do contrato licitado ou celebrado com dispensa ou inexigibilidade de licitação.
Além disso, o art. 99, da Lei nº 8.666, de 1993, trazia forma especial de cálculo de multa, que era aplicada em
porcentagem sobre o valor da vantagem efetivamente obtida ou potencialmente auferível pelo agente. Agora,
segue-se a regra geral do CP, com a estipulação de dias-multa.
O único ponto mantido de acordo com a Lei anterior foi que o valor da pena não pode ser inferior a 2% do
valor do contrato licitado ou celebrado com contratação direta.
A forma do cálculo da pena de multa dos crimes licitatórios seguia forma especial na Lei nº 8.666, de 1993;
agora, o cálculo segue a sistemática prevista no CP .
Os crimes contra a administração da justiça têm como finalidade proteger uma regular fruição da atividade
judicial brasileira, incluindo atividades de natureza policial.
A atividade judicial é de fundamental importância para a sociedade, necessitando, assim, de proteção por
parte do Direito Penal.
Art. 338 Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.
Este crime, previsto no art. 338, do Código Penal, irá se configurar quando o estrangeiro que foi expulso do
Brasil reingressar ao território nacional.
Nos termos do art. 54, da Lei de Migração (Lei nº 13.445, de 2017), a expulsão consiste em medida administrativa
de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso
por prazo determinado.
Importante!
O agente será responsabilizado penalmente, podendo, ainda, sofrer nova expulsão do território brasileiro.
z É crime de mão própria, praticado pelo estrangeiro expulso, não podendo a figura típica ser praticada por
intermédio de terceira pessoa. O fato de o crime ser de mão própria não exclui a possibilidade de concurso de
pessoas na modalidade participação;
z É necessário, para configuração do crime, que o estrangeiro tenha ciência de que foi expulso do território bra-
sileiro (prévia e oficial expulsão do estrangeiro, por meio de decisão administrativa);
z Admite tentativa;
z É crime material, que se consuma com o devido reingresso ao território nacional, após ter deixado o país em
razão da expulsão. Não é necessário que o agente realize alguma conduta típica criminosa específica. Trata-se
de crime instantâneo;
z Trata-se de crime de competência da justiça federal;
z Não se tipifica o crime quanto o estrangeiro, após decretada sua expulsão, permanece indevidamente no país.
129
Denunciação Caluniosa Observe as principais diferenças entre a denuncia-
ção caluniosa e o crime de calúnia:
A denunciação caluniosa está prevista no art. 339,
do Código Penal: DENUNCIAÇÃO
CALÚNIA
CALUNIOSA
Art. 339 Dar causa à instauração de investigação
policial, de processo judicial, instauração de inves- É crime contra a adminis- É crime contra a honra
tigação administrativa, inquérito civil ou ação de tração da justiça A ação penal é privada
improbidade administrativa contra alguém, impu- A ação penal é pública in- Punida pelo fato de o agen-
tando-lhe crime de que o sabe inocente: condicionada; discute-se te ofender a honra objetiva
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. na doutrina e jurisprudên- da vítima
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente cia se o processo por de- É admitida a imputação
se serve de anonimato ou de nome suposto. nunciação caluniosa pode falsa apenas de crime
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação ser iniciado antes do des-
é de prática de contravenção. fecho do procedimento ou
ação originários
Tem como figura típica a seguinte conduta: dar Punida pelo fato de o agen-
causa direta ou indireta à instauração de investigação te movimentar falsamente
policial, de processo judicial, instauração de investiga- o aparato estatal, tentando
ção administrativa, inquérito civil ou ação de impro- prejudicar a vítima perante
bidade administrativa contra alguém, imputando-lhe o Estado
crime de que o sabe inocente. É admitida a imputação
falsa de crime ou contra-
Como é possível se extrair pela leitura da figura
venção penal
típica, o crime pode ser praticado mesmo que o agen-
te dê causa a outro procedimento, ainda que não seja
processo judicial, a exemplo de investigação policial Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção
ou administrativa. É importante compreender isso,
pois muitas questões abordam esta situação. Art. 340 Provocar a ação de autoridade, comuni-
Sobre o crime de denunciação caluniosa, é impor- cando-lhe a ocorrência de crime ou de contraven-
tante ficar atento ao seguinte: ção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
z Só pode ser praticado dolosamente. Parte da dou-
trina não admite o dolo eventual neste crime, já
que o tipo penal exige que o agente saiba que o
Importante!
fato é imputado contra pessoa inocente.
Ao contrário do que ocorre no crime de denun-
A denunciação caluniosa poderá se configurar ciação caluniosa, no crime de falsa comuni-
quando o agente imputa crime que realmente acon-
cação de crime ou contravenção o agente não
teceu contra pessoa que sabe ser inocente ou quando
imputa a alguém a prática de crime que não existiu individualiza o autor do fato que não existiu, mas
(neste caso, não há dúvidas sobre a inocência da pes- apenas comunica à autoridade crime ou contra-
soa, já que o fato sequer aconteceu); venção penal que sabe não ter ocorrido.
z Crime não existente (a conduta criminosa sequer z O falso testemunho não admite coautoria, mas é
foi praticada, sequer existiu); possível a participação;
z Crime existente, mas praticado por outra pessoa z A falsa perícia admite coautoria e participação.
(a conduta criminosa foi realmente realizada, mas
foi outro indivíduo que a praticou). Causas de Aumento de Pena
a autoridade policial, mas pode ser na presença O tipo penal apresenta hipóteses que aumentarão
de qualquer autoridade competente (delegado de a pena do agente. As penas aumentam-se de 1/6 (um
polícia, membro do Ministério Público, autoridade sexto) a um terço, se o crime é:
judicial etc.);
z Não se exige a prática de qualquer ato por parte da z Praticado mediante suborno;
autoridade para a consumação do crime, bastando z Cometido com o fim de obter prova destinada a
a autoacusação falsa; produzir efeito em processo penal;
z O direito da autodefesa não permite que se impute z Cometido com o fim de obter prova destinada a pro-
falsamente crime a si mesmo. duzir efeito em processo civil em que for parte enti-
dade da Administração Pública direta ou indireta.
Falso Testemunho ou Falsa Perícia
Não responderá pelo crime de falso testemu- Art. 344 Usar de violência ou grave ameaça,
nho a pessoa que praticar as condutas descritas no com o fim de favorecer interesse próprio ou
tipo penal incriminador com a finalidade de não se alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer
outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir
autoincriminar.
em processo judicial, policial ou administrativo, ou
Lembre-se de que ninguém será prejudicado por
em juízo arbitral:
não produzir provas contra si mesmo. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além
Quando a testemunha mente por estar sendo da pena correspondente à violência.
ameaçada de morte ou algum outro mal grave, não
responde pelo crime de falso testemunho. O crime de coação no curso do processo é aquele
em que, para beneficiar a si ou a terceiro, o agente
Corrupção Ativa de Testemunha ou Perito emprega violência ou grave ameaça contra pessoas
que participam do processo ou juízo arbitral.
Art. 343 Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou Observe as duas hipóteses:
qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirma- z Suponha que André tenha praticado um crime de
ção falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, roubo a um supermercado, estando ele sendo pro-
perícia, cálculos, tradução ou interpretação: cessado por isso. Thais, funcionária do supermer-
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. cado, é testemunha, tendo sido marcado um dia
para que ela comparecesse em juízo para dar seu
O art. 343, do Código Penal, apresenta um outro depoimento. André, com a finalidade de favorecer
tipo penal, chamado por parte da doutrina de corrup- seus próprios interesses, vai à casa de Thais e, uti-
ção ativa de testemunha contador, perito, intérprete lizando-se de uma arma de fogo para ameaçá-la,
ou tradutor. exige que ela diga que não foi ele quem praticou o
fato, mas outra pessoa. André praticou o crime de
z Verbos: dar, oferecer ou prometer; coação no curso do processo, já que empregou gra-
z Destinatário: testemunha, perito, contador, tra- ve ameaça contra pessoa chamada a intervir em
dutor ou intérprete; processo judicial;
z Finalidade: fazer com que as pessoas façam z Aproveitando a mesma hipótese anterior, porém,
afirmação falsa, neguem ou calem a verdade agora André, sabendo sobre o que Thais disse na
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou inquirição, vai à casa dela e, utilizando-se de uma
interpretação. arma de fogo para ameaçá-la, diz que irá matá-la
por não dizer que foi outra pessoa que praticou o
Art. 342 [...] crime, por tê-lo incriminado. André, nesta hipó-
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sex- tese, praticou o crime de ameaça, uma vez que
to a um terço, se o crime é cometido com o fim de empregou grave ameaça contra a pessoa após o
obter prova destinada a produzir efeito em proces- depoimento, exaurindo-se a participação daquela
so penal ou em processo civil em que for parte enti- na ação.
dade da administração pública direta ou indireta.
Caso o agente se utilize de violência para praticar o
As penas irão aumentar de 1/6 a 1/3 (um sexto a crime de coação no curso do processo, responderá por
um terço), se o crime é: este, além da pena correspondente à violência.
Sobre a coação no curso do processo, fique atento
z Cometido com o fim de obter prova destinada a às seguintes informações:
produzir efeito em processo penal;
z Cometido com o fim de obter prova destinada a z Pode ser praticado contra as autoridades respon-
produzir efeito em processo civil em que for par- sáveis pela condução do processo, como juízes,
te entidade da Administração Pública direta ou promotores, delegados de polícia, entre outros;
132 indireta. z Só pode ser praticado dolosamente;
z Exige-se o dolo específico por parte do agente de z Trata-se de crime próprio. Exige-se que a coisa seja
favorecer interesse próprio ou alheio; própria do agente que praticou a conduta deli-
z É crime formal, que se consuma com o uso de vio- tuosa. Pode haver coautoria ou participação de
lência ou grave ameaça, independentemente de o terceiros;
coagido ceder; z O objeto deve estar em poder de terceiro por deter-
z Admite a forma tentada na hipótese de o crime ser minação judicial ou convenção. Se for por outro
praticado por escrito e haver extravio. motivo, não se configurará este crime;
z Admite tentativa.
Exercício Arbitrário das Próprias Razões
Para consumação deste crime, existem duas
correntes:
Art. 345 Fazer justiça pelas próprias mãos, para
satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quan- z O crime é formal e consuma-se quando o agente
do a lei o permite: emprega o meio executório;
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, z O crime é material e só se consuma com a satisfa-
além da pena correspondente à violência. ção da pretensão visada.
Parágrafo único. Se não há emprego de violência,
somente se procede mediante queixa. Fraude Processual
Observe a parte final da figura típica: salvo quan- Art. 347 Inovar artificiosamente, na pendência de
do a lei o permite. processo civil ou administrativo, o estado de lugar,
Pode-se concluir que, quando houver permissão de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o
legal, o agente que fizer justiça com as próprias mãos juiz ou o perito:
não será responsabilizado criminalmente. Assim, caso Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
o agente mate alguém em legítima defesa, não será ele Parágrafo único. Se a inovação se destina a produ-
responsabilizado criminalmente. zir efeito em processo penal, ainda que não inicia-
Observe o exemplo a seguir: Tício é proprietário do, as penas aplicam-se em dobro.
de uma casa que se encontra alugada para Mévio. O
inquilino está devendo 6 (seis) meses de aluguel. Tício, Com previsão legal no art. 347, do Código Penal, o
indignado com a situação, vai até o local, troca todas crime de fraude processual configurar-se-á quando o
as fechaduras e coloca os objetos pessoais de Mévio agente inovar artificiosamente, na pendência de proces-
do lado de fora. Neste caso, Tício praticou o crime de so civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou
exercício arbitrário das próprias razões, já que fez jus- de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.
tiça com as próprias mãos, para satisfazer pretensão Aplica-se a pena em dobro se a inovação se destina
legítima (ele tinha o direito de receber os valores cor- a produzir efeito em processo penal, ainda que não
respondentes ao aluguel de seu imóvel). indiciado o agente.
A pretensão do agente deveria ter sido soluciona- Exemplo: Carlos praticou o crime de homicídio, ao
da pelos meios legais pertinentes. matar Cláudio, que lhe devia uma quantia em dinhei-
Sobre o exercício arbitrário das próprias razões, ro. Com a finalidade de simular uma hipótese de legíti-
deve-se ficar atento ao seguinte: ma defesa, para induzir o perito a erro, Carlos coloca,
fraudulentamente, nas mãos da vítima, uma arma de
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- fogo, modificando o estado de pessoa.
quer pessoa; Carlos praticou o crime de fraude processual, res-
z Só poderá ser praticado dolosamente; pondendo pelo crime com a pena dobrada, já que ino-
z É crime formal, consumando-se com o emprego ou vou artificiosamente, na pendência de processo penal.
uso do meio arbitrário, independentemente de o Sobre o crime de fraude processual, fique atento
agente alcançar ou não a pretensão; ao seguinte:
z Admite tentativa;
z Caso o agente pratique o crime com emprego de z É crime comum;
violência, responderá também por ela. z Não admite a modalidade culposa;
z Exige dolo específico: fim de induzir a erro juiz ou
Subtração ou Dano de Coisa Própria Legalmente em perito;
Poder de Terceiro z É crime formal, que se consuma com a prática da
conduta prevista no tipo penal, ainda que não seja
Art. 346 Tirar, suprimir, destruir ou danificar coi- efetivamente induzido a erro o juiz ou o perito;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
crime.
Se o crime é praticado por pessoa sob cuja cus-
tódia ou guarda está o preso ou internado, será z Exemplo 1: Michele, presa em uma penitenciá-
crime próprio. Obs: Se a prisão for ilegal, não ria feminina, para fugir, emprega violência con-
haverá a incidência deste crime, uma vez que tra uma agente prisional, conseguindo, assim,
estará presente a legítima defesa de terceiro; evadir-se.
Se o crime é praticado à mão armada, ou por z Exemplo 2: Michele, presa em uma penitenciária
mais de uma pessoa, ou mediante arromba- feminina, aproveitando de um momento de des-
mento, a pena é de reclusão, de dois a seis anos; cuido dos agentes prisionais, quebra uma janela
Se há emprego de violência contra a pessoa, o com um soco e foge do estabelecimento prisional.
agente responderá também pelo crime corres- z Exemplo 3: Michele, presa em uma penitenciária
pondente à violência. feminina, ao verificar que os agentes prisionais
estão distraídos, foge, pulando o muro do estabe-
lecimento prisional. 135
Apenas no exemplo 1 haverá a configuração do z O Código Penal não faz referência ao número de
crime de evasão mediante violência contra pessoa, já presos que é necessário para a configuração do
que no exemplo 2 a violência foi empregada contra tipo penal, mas deixa claro se tratar de um crime
coisa e no exemplo 3 não houve emprego de violência. coletivo;
z Não é relevante, para fins de caracterização des-
te crime, se o interesse dos presos é legítimo ou
Importante! ilegítimo;
z Caso seja praticado com emprego de violência, res-
Se da violência resultarem lesões, ainda que
ponderão os agentes, também, por ela;
leves, ou morte, o agente responderá pelos dois z Caso os agentes consigam evadir-se em decorrên-
crimes, e as penas serão somadas. cia da violência empregada para o motim, respon-
derão também pelo crime do art. 352, do CP;
z Admite a forma tentada.
Arrebatamento de Preso
Art. 356 Inutilizar, total ou parcialmente, ou A pena do crime de exploração de prestígio será
deixar de restituir autos, documento ou objeto aumentada de 1/3 (um terço) se o agente alega ou insi-
de valor probatório, que recebeu na qualidade de nua que o dinheiro ou utilidade também se destina
advogado ou procurador: ao juiz, ao jurado, ao órgão do ministério público, ao
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. funcionário de justiça, ao perito, ao tradutor, ao intér-
prete ou à testemunha.
Previsto no art. 356, do CP, este crime se configu- Sobre o crime de exploração de prestígio, leve para
ra quando o agente inutilizar, total ou parcialmente, a sua prova:
ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de
z É crime comum, que poderá ser praticado por
valor probatório, que recebeu na qualidade de advo-
qualquer pessoa;
gado ou procurador.
z Só poderá ser praticado dolosamente;
Este crime pode ser praticado de duas formas:
z No verbo solicitar, é crime formal;
z No verbo receber, é crime material;
z Inutilizar, total ou parcialmente, autos, documento z Admite tentativa.
ou objeto de valor probatório (forma comissiva);
z Deixar de restituir autos, documento ou objeto de Violência ou Fraude em Arrematação Judicial
valor probatório (forma omissiva).
Art. 358 Impedir, perturbar ou fraudar arrema-
Sobre este tipo penal, é importante ficar atento ao tação judicial; afastar ou procurar afastar con-
seguinte: corrente ou licitante, por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
z É crime próprio, que só pode ser praticado pelo Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa,
advogado ou procurador que recebeu os autos, além da pena correspondente à violência.
documento ou objeto de valor probatório;
z Não é punido na modalidade culposa; Arrematação judicial, também conhecida como
leilão ou praça, é o ato de transferência dos bens
z A doutrina dominante admite a tentativa na moda-
penhorados do devedor, em que um funcionário da
lidade comissiva — “inutilizar”, mas não admite
justiça apregoa e um interessado os adquire, em hasta
na modalidade omissiva — “deixar de restituir”.
pública, pelo maior lance.
Trata-se de atividade inerente ao Poder Judiciário,
Exploração de Prestígio
consistente em verdadeira expropriação destinada à
satisfação de crédito não cumprido voluntariamente.
Está previsto no art. 357, do CP: Sobre este crime, é importante ficar atento ao
seguinte:
Art. 357 Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jura- z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
do, órgão do Ministério Público, funcionário de jus- quer pessoa;
tiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha: z Não admite a forma culpada;
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. z Admite tentativa quando o agente não consegue,
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um por circunstâncias alheias a sua vontade, impedir,
terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro perturbar ou fraudar a arrematação judicial.
ou utilidade também se destina a qualquer das pes- z No caso de emprego de violência, responderá o
soas referidas neste artigo. agente, também, por ela.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Não se deve confundir este tipo penal com o cri- Desobediência a Decisão Judicial Sobre Perda ou
me de tráfico de influência, previsto no art. 332, do CP. Suspensão de Direito
Vejamos a diferença na tabela a seguir:
Art. 359 Exercer função, atividade, direito, autori-
EXPLORAÇÃO DE TRÁFICO DE INFLUÊNCIA dade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por
PRESTÍGIO (ART. 357) (ART. 332) decisão judicial:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou
Crime contra a administra- Crime contra a administra-
multa.
ção da justiça ção em geral
Solicitar ou receber dinheiro Solicitar, exigir, cobrar ou Este crime está previsto no art. 359, do CP, e confi-
ou qualquer outra utilidade, obter, para si ou para ou- gurar-se-á quando o agente exercer função, atividade,
a pretexto de influir em trem, vantagem ou promes- direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou
sa de vantagem, a pretexto privado por decisão judicial.
de influir em 137
O crime de desobediência a decisão judicial sobre Contratação de Operação de Crédito
perda ou suspensão de direito, inserido no Código
Penal entre os crimes contra a administração da justi- Este crime se encontra previsto no art. 359-A, do
ça, representa uma modalidade especial do delito de CP:
desobediência, capitulado no art. 329, do CP, entre os
crimes praticados por particular contra a administra- Art. 359-A Ordenar, autorizar ou realizar operação
ção em geral. de crédito, interno ou externo, sem prévia autoriza-
Há, nos dois delitos, o descumprimento de ordem ção legislativa:
legal emanada de funcionário público. No entanto, o Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
crime definido no art. 359, do CP, possui elementos Parágrafo único. Incide na mesma pena quem orde-
especializantes, pois o agente não desobedece a uma na, autoriza ou realiza operação de crédito, interno
simples ordem legal emitida por qualquer funcioná- ou externo:
rio público. I - com inobservância de limite, condição ou mon-
tante estabelecido em lei ou em resolução do Sena-
Neste crime, o agente vai além, exercendo função,
do Federal;
atividade, direito, autoridade ou múnus de que estava
II - quando o montante da dívida consolidada ultra-
suspenso ou privado por decisão judicial.
passa o limite máximo autorizado por lei.
Tutela-se a administração da justiça.
Quanto ao sujeito ativo, verifica-se que se trata
Conduta típica: ordenar, autorizar ou realizar ope-
de crime próprio ou especial, pois somente pode ser
ração de crédito, interno ou externo, sem prévia auto-
praticado pela pessoa que, por decisão judicial, foi
rização legislativa.
suspensa ou privada relativamente ao exercício de
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser
determinada função, atividade, direito, autoridade ou
praticado mediante a execução de qualquer um dos
múnus.
verbos previstos no tipo penal. Responde por este cri-
O sujeito passivo é o Estado.
me aquele que praticar a conduta típica.
Consuma-se com o simples exercício da função,
Há formas equiparadas do crime de contratação
atividade, direito, autoridade ou múnus do qual o
de operação de crédito, incorrendo nas mesmas penas
agente foi suspenso ou privado por decisão judicial,
aquele que ordena, autoriza ou realiza, operação de
ainda que desta conduta não seja produzido nenhum
crédito, interno ou externo:
resultado naturalístico.
Basta a prática de um único ato capaz de afrontar a
z Com inobservância de limite, condição ou montan-
determinação emanada do Poder Judiciário.
te estabelecido em lei ou em resolução do Senado
Sobre este crime, é importante que você leve em
Federal;
consideração as seguintes informações:
z Quando o montante da dívida consolidada ultra-
passa o limite máximo autorizado por lei.
z Só poderá ser praticado dolosamente;
z Admite a modalidade tentada;
Sobre este crime, é importante levar em conside-
z Exige-se que a suspensão ou privação se dê por
ração que:
decisão judicial. Caso se trate de decisão adminis-
trativa, não se configurará este tipo penal.
z Não admite a modalidade culposa;
z Caso o agente pratique as condutas com autoriza-
CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
ção legislativa prévia, o fato será atípico, mas, se
ultrapassar os limites da lei, o fato será típico;
Os crimes contra as finanças públicas foram acres-
z Nos verbos ordenar e autorizar, o crime é formal;
cidos ao Código Penal, em capítulo próprio dos crimes
z No verbo realizar, o crime é material.
contra a Administração Pública, no ano 2000.
Estão previstos do art. 359-A ao art. 359-H.
Inscrição de Despesas Não Empenhadas em Restos
a Pagar
Dica
Os crimes contra as finanças públicas são pró- Este crime está previsto no art. 359-B, do CP.
prios, praticados por funcionário público (crimes
funcionais), exigindo-se que este funcionário Art. 359-B Ordenar ou autorizar a inscrição em
restos a pagar, de despesa que não tenha sido pre-
possa dispor sobre as finanças públicas.
viamente empenhada ou que exceda limite estabe-
lecido em lei:
Parte considerável da doutrina entende ser possí- Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
vel que o particular seja sujeito ativo dos crimes con-
tra as finanças públicas, desde que, por força de lei, Configurar-se-á quando o agente ordenar ou auto-
tenha disponibilidade sobre elas. Entretanto, tal pos- rizar a inscrição em restos a pagar de despesa que não
sibilidade é caso extremamente excepcional. tenha sido previamente empenhada ou que exceda
Todos os crimes contra as finanças públi- limite estabelecido em lei.
cas são processados mediante ação penal pública Pode ser praticado de duas formas:
incondicionada.
z Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a
pagar de despesa que não tenha sido previamente
empenhada;
z Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar
de despesa que exceda limite estabelecido em lei.
138
Faz-se necessário compreender o que significa exercício seguinte, que não tenha contrapartida
empenho, liquidação e ordem de pagamento: suficiente de disponibilidade de caixa.
z Empenho: ato emanado de autoridade competen- A prática do crime não está apenas relacionada ao
te que cria para o Estado obrigação de pagamento mantado eletivo, mas também ao mandato decorrente
pendente ou não de implemento de condição; de indicação.
z Liquidação: consiste na verificação do direito Trata-se de crime próprio ou especial, por isso,
adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e somente agentes públicos titulares de mandato ou
documentos comprobatórios do respectivo crédito; legislatura, representantes dos órgãos e entidades
z Ordem de pagamento: despacho exarado por indicados no art. 20 da Lei Complementar nº 101, de
autoridade competente, determinando que a des- 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, podem ser o
pesa seja paga. sujeito ativo, pois apenas tais pessoas têm atribuição
para assunção de obrigações.
Sobre os restos a pagar, trata-se das despesas O sujeito passivo é a União, os estados, os municí-
empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezem- pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
bro. Dessa forma, o tipo penal pune o administrador tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
que: a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo
nas finanças públicas.
z Inscreve em restos a pagar despesas que não foram Consuma-se quando o sujeito ativo ordena ou auto-
previamente empenhadas; riza a assunção de obrigação, nos últimos oito meses
z Inscreve em restos a pagar despesas previamente do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa
empenhadas, mas com excesso aos limites legais. ser paga naquele exercício financeiro ou reste parte
a ser paga no exercício seguinte, sem contrapartida
Quanto ao sujeito ativo, somente pode ser pra- suficiente para tanto, independentemente da compro-
ticado pelo agente público dotado da atribuição de vação de prejuízo aos cofres públicos.
ordenar ou autorizar a inscrição da despesa. Se o fun- Sobre este crime, é importante ficar atento às
cionário público praticar o ato sem atribuição legal seguintes disposições:
para tanto, este será passível de anulação pelo próprio
Poder Público, tornando atípica a conduta. z Só pode ser praticado dolosamente;
O sujeito passivo é a União, os estados, os municí- z Este crime só se configura se as condutas típicas
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- forem praticadas nos dois últimos quadrimestres
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, (oito meses anteriores ao término do mandato) do
a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo último ano do mandato ou legislatura;
nas finanças públicas. z É crime de ação múltipla;
Consuma-se no momento da prática da conduta z Admite a modalidade tentada, apesar de ser de
legalmente descrita (ordenar ou autorizar a inscrição difícil comprovação, segundo posicionamento
em restos a pagar), independentemente da lesão ao doutrinário majoritário.
erário.
Sobre este crime, é importante levar em Ordenação de Despesa não Autorizada
consideração:
O crime de ordenação de despesa não autorizada
z Não admite a modalidade culposa; está previsto no art. 359-D, do CP:
z Trata-se de crime de ação múltipla.
Art. 359-D Ordenar despesa não autorizada por lei:
Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
ou Legislatura
Ordenar tem o sentido de mandar, determinar que
Art. 359-C Ordenar ou autorizar a assunção de se realize a despesa pública, a qual compreende os
obrigação, nos dois últimos quadrimestres do últi- desembolsos efetuados pelo Estado para fazer frente
mo ano do mandato ou legislatura, cuja despesa às suas diversas responsabilidades junto à sociedade.
não possa ser paga no mesmo exercício financei- Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime próprio ou
ro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício especial, pois somente pode ser cometido pelo funcio-
seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de nário público com atribuição para ordenar despesas,
disponibilidade de caixa: conhecido como “ordenador de despesas”.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. O tipo penal não alcança o “realizador de despesas”,
compreendido como a pessoa que se limita a cumprir
O objeto material do crime é a obrigação assumi- ou executar a ordem expedida pelo ordenador.
da nos dois últimos quadrimestres do último ano do O sujeito passivo é a União, os estados, os muni-
mandato ou legislatura. cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente
Pode ser praticado de duas formas: federativo prejudicado pela conduta criminosa, e,
secundariamente, a coletividade, em decorrência dos
z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, prejuízos causados pela ordenação de despesas públi-
nos dois últimos quadrimestres do último ano do cas não autorizadas em lei.
mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser Consuma-se o crime quando o funcionário público
paga no mesmo exercício financeiro; ordena a realização da despesa sem autorização legal,
z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos independentemente da comprovação de efetiva lesão
dois últimos quadrimestres do último ano do man- ao erário.
dato ou legislatura, se restar parcela a ser paga no
139
Sobre este tipo penal, é importante mencionar que: o funcionário público que assume o cargo deverá ser
responsabilizado por não ter determinado o “cance-
z Não admite a forma culposa; lamento do montante de restos a pagar” (art. 359-F),
z É crime de ação simples; inscrito em valor superior ao legalmente permitido.
z Caso a despesa seja ordenada com autorização Os dois agentes contribuem para o mesmo resul-
legislativa, o fato será atípico; tado, mas a eles serão imputados crimes diversos, em
z É crime formal, segundo Nucci. face do especial tratamento conferido pela lei penal.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municí-
Prestação de Garantia Graciosa pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
Está prevista no art. 359-E, do CP: a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo
não cancelamento de restos a pagar.
Art. 359-E Prestar garantia em operação de crédito O crime consuma-se quando o sujeito ativo deixa
sem que tenha sido constituída contragarantia em de ordenar, de autorizar ou de promover o cancela-
valor igual ou superior ao valor da garantia pres- mento do montante de restos a pagar inscrito inde-
tada, na forma da lei: vidamente, independentemente de comprovação de
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. lesão patrimonial ao erário.
A omissão que não ultrapassa os limites de restos a
O tipo penal pune a conduta do funcionário públi- pagar não configura este crime.
co que presta garantia sem a observância do requisito Sobre este crime, fique atento ao seguinte:
legal.
Quanto aos requisitos legais, devemos entender z Só pode ser praticado dolosamente;
que “prestar” tem o sentido de conceder ou autorizar z É crime omissivo;
garantia, e isso está em conformidade com o inciso IV, z Não admite tentativa.
art. 29, da Lei Complementar nº 101, de 2000, Lei de
Responsabilidade Fiscal, que afirma que concessão de Aumento de Despesa Total com Pessoal no Último
garantia é o compromisso de adimplência de obrigação Ano do Mandato ou Legislatura
financeira ou contratual assumida por algum ente da
Federação ou entidade a ele vinculada. Art. 359-G Ordenar, autorizar ou executar ato que
As condições para a concessão de garantia encon- acarrete aumento de despesa total com pessoal,
tram-se no art. 40, da citada lei. Destaca-se entre elas nos cento e oitenta dias anteriores ao final do man-
o oferecimento de contragarantia, em valor igual ou dato ou da legislatura:
superior ao da garantia a ser concedida, visando ao Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
equilíbrio das finanças públicas.
Sobre este crime, fique atento: Ordenar é determinar alguma coisa.
Autorizar significa permitir que algo seja feito.
z Este crime não admite a modalidade culposa; Executar traz a ideia de realizar ou concretizar
z Não basta que seja constituída a contragarantia, algo.
exige-se que ela seja igual ou superior ao valor da Este crime tem como finalidade evitar que se
garantia prestada; aumente as despesas totais com pessoal, concedendo
z Caso a contragarantia seja inferior ou não seja aumentos, contratando, fazendo alterações na carrei-
prestada, este crime estará configurado. ra, entre outras formas, nos últimos dias do mandato
ou legislatura, deixando para outro funcionário públi-
Não Cancelamento de Restos a Pagar co a responsabilidade de arcar com os compromissos.
A diferença entre o art. 359-G e o art. 359-C, do
Art. 359-F Deixar de ordenar, de autorizar ou de pro- CP, é que o crime em estudo não se relaciona com a
mover o cancelamento do montante de restos a pagar infração penal tipificada no art. 359-C, do CP, porque
inscrito em valor superior ao permitido em lei: na assunção de obrigação no último ano do manda-
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. to ou legislatura levam-se em conta despesas que não
podem ser pagas no mesmo exercício, ficando a obri-
Deixar de ordenar é não determinar a terceiro que gação de pagamento ao sucessor, sem ter disponibili-
algo seja feito. dade orçamentária para tanto.
Deixar de autorizar é não permitir que terceira No art. 359-G, do CP, o aumento de despesa com pes-
pessoa faça algo. soal é permanente, ou seja, ultrapassará o exercício
Deixar de promover equivale a não realizar direta- financeiro, atingindo anos futuros. Consequentemen-
mente alguma coisa. te, o orçamento do ente federativo ou órgão público
O administrador público que se depara com restos ficará inevitavelmente comprometido, deixando de
a pagar inscritos em valor superior ao limite permiti- propiciar ao administrador público futuro condições
do em lei tem o dever legal de autorizar, ordenar ou para gerir adequadamente a máquina estatal.
promover o seu cancelamento, sob pena de incorrer Destaca-se que o elemento temporal do art. 359-G,
no crime de não cancelamento de restos a pagar. do CP, está consubstanciado na expressão “nos cento
O sujeito ativo é o funcionário público com atribui- e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da
ção para ordenar, autorizar ou promover o cancela- legislatura”.
mento do montante de restos a pagar indevidamente Assim, fora do período legalmente indicado, não
inscritos. Trata-se de crime próprio ou especial. Com há que se falar na prática do delito, ainda que exista
isso, o funcionário público que deixa o cargo será res- ilegal aumento da despesa total com pessoal.
ponsabilizado pela “inscrição de despesas não empe-
nhadas em restos a pagar” (art. 359-B), ao passo que
140
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo Sobre este crime, é importante mencionar:
funcionário público com atribuição para ordenar,
autorizar ou executar ato que acarrete aumento de z Só pode ser praticado dolosamente;
despesa total com pessoal, nos últimos 180 dias do z É crime de ação múltipla;
mandato ou legislatura. z Caso os títulos da dívida pública tenham sido cria-
O sujeito passivo é a União, os estados, os municí- dos por lei ou estejam registrados no sistema cen-
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- tralizado de liquidação e de custódia, a prática da
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, conduta prevista no tipo penal será atípica.
a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo
aumento de despesa total com pessoal no último ano
do mandato ou legislatura.
Consuma-se quando o agente público ordena, HORA DE PRATICAR!
autoriza ou executa o ato de aumento de despesa com
pessoal, nos últimos 180 dias de mandato ou legislatu- 1. (CEBRASPE-CESPE — 2022) O princípio da legalidade
ra, independentemente da comprovação de prejuízo desdobra-se em alguns subprincípios, entre os quais
econômico ao erário. se incluem
Sobre este crime, leve em consideração o seguinte:
a) reserva legal, culpabilidade e anterioridade.
z Só pode ser praticado dolosamente; b) reserva legal, culpabilidade e retributividade.
z É crime de ação múltipla; c) reserva legal, retributividade e anterioridade.
z Para sua configuração, deve ser praticado nos 180 d) culpabilidade, retributividade e taxatividade.
dias que antecedem o fim do mandato ou legisla- e) reserva legal, anterioridade e taxatividade.
tura. Caso realizado em outro período, não irá se
configurar; 2. (CEBRASPE-CESPE — 2022) João foi condenado, em
z Admite tentativa. sentença penal transitada em julgado, pela prática
de crime, (1) à pena privativa de liberdade; (2) à pena
Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado restritiva de direitos, consistente na prestação de ser-
viços em um abrigo de idosos; (3) a reparar o dano
Este crime se encontra previsto no art. 359-H, do causado à vítima; e (4) a perder os bens adquiridos
CP: ilicitamente. Poucos dias depois, João faleceu.
Art. 359-H Ordenar, autorizar ou promover a ofer- Nesse caso, à luz da ordem constitucional, uma vez
ta pública ou a colocação no mercado financeiro preenchidos os requisitos legais e observados os limi-
de títulos da dívida pública sem que tenham sido tes estabelecidos, podem ser transmitidas aos herdei-
criados por lei ou sem que estejam registrados em ros de João as consequências descritas:
sistema centralizado de liquidação e de custódia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
a) somente em 1 e 2;
b) somente em 1 e 3;
Ordenar é determinar.
c) somente em 3 e 4;
Autorizar equivale a permitir que algo seja feito.
d) somente em 2, 3 e 4;
Promover traz a ideia de realizar, concretizar a
e) em 1, 2, 3 e 4.
oferta pública ou colocação de títulos no mercado.
O objeto material do crime são os títulos da dívida
3. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A incompletude da
pública. Nos termos do inciso II, art. 29, da Lei Com-
ordem jurídica torna indispensável a aplicação ana-
plementar nº 101, de 2000, Lei de Responsabilidade
lógica, pela qual o sistema jurídico estende toda sua
Fiscal, considera-se dívida pública mobiliária aquela
força reguladora a situações não previstas, buscando
representada por títulos emitidos pela União, inclusive
uma solução que lhe seja imanente. Sobre o tema, é
os do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios.
correto afirmar que:
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo
funcionário público dotado da atribuição para orde-
a) normas penais não incriminadoras gerais podem ser
nar, autorizar ou promover oferta pública ou colo-
alvo do emprego do argumento analógico
cação no mercado financeiro de títulos da dívida
b) normas penais não incriminadoras podem ser inter-
pública.
pretadas em prejuízo do réu;
O sujeito passivo é a União, os estados, os muni-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
12. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Ao avistar uma patrulha 15. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Em relação ao crime de
da Polícia Militar, Marcelo resolve arremessar uma casa de prostituição (Art. 229 do CP), é correto afirmar
pedra na direção do veículo de propriedade do Estado, que impede a configuração do delito:
com a intenção de danificá-lo. A pedra efetivamente
atinge o retrovisor do carro, quebrando o vidro. a) a ausência de intuito de lucro na exploração sexual;
b) a ausência de mediação direta do proprietário na
Percebendo a situação, os policiais militares pren- exploração sexual ;
deram Marcelo e o conduziram à delegacia, onde foi c) por si só, a adequação social da mercancia carnal;
constatado que ele possuiria uma única condenação d) por si só, a manutenção de menores para realização
com trânsito em julgado pela prática de crime militar de mercancia sexual;
próprio, cuja extinção da punibilidade ocorreu dois e) por si só, a manutenção de casa para fins libidinosos.
anos antes do novo flagrante.
16. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Durante as comemora-
Com base nos fatos acimas, é correto afirmar que ções do carnaval, na cidade do Rio de Janeiro, Asclé-
Marcelo responderá pio se desloca ao Centro, para acompanhar famoso
bloco de foliões. Mergulhado na festividade e sob o
a) por dano simples, devendo ser considerando sol impiedoso, passa a ingerir diversas bebidas. Desa-
reincidente. tento às filas formadas nos mictórios químicos, é
b) por dano qualificado, devendo ser considerado reinci- acometido por intensa vontade de urinar. Procurando
dente, mas não portador de maus antecedentes. rua lateral, ao pé de uma árvore, passa a urinar, opor-
c) por dano qualificado, devendo ser considerado tecni- tunidade em que é abordado pela Guarda Municipal e
camente primário. encaminhado para a unidade de Polícia Judiciária.
d) por dano simples, devendo ser considerado tecnica-
mente primário. Quanto à conduta desenvolvida por Asclépio, é correto
e) por dano qualificado, devendo ser considerado reinci- afirmar que:
dente e portador de maus antecedentes.
a) é atípica;
13. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Quanto ao delito de apro- b) constitui ato obsceno;
priação indébita, em caso de bem de valor inferior a c) constitui importunação sexual;
um salário mínimo e sendo primário o agente, é corre- d) constitui objeto obsceno;
to afirmar que e) constitui assédio sexual.
a) não há qualquer afetação da configuração do crime. 17. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação ao crime de
b) há expectativa ao reconhecimento da forma privilegiada. moeda falsa, assinale a opção correta.
c) há direito subjetivo à aplicação de atenuante obrigatória.
d) há direito subjetivo ao reconhecimento da forma a) A conduta do agente pode recair sobre moeda estrangei-
privilegiada. ra, ainda que não tenha curso legal no país de origem.
e) há incidência do princípio da insignificância. b) O crime é compatível com o instituto do arrependi-
mento posterior, desde que o agente repare moneta-
14. (CEBRASPE-CESPE — 2019) De acordo com o ordena- riamente o dano causado.
mento jurídico e o posicionamento dos tribunais supe- c) O tipo penal não admite a modalidade culposa, mas é
riores sobre os crimes contra a dignidade sexual, punível a modalidade tentada.
d) O crime, em qualquer de suas hipóteses, consuma-se
a) a prática de passar as mãos nas coxas e seios da víti- no momento em que a moeda é colocada em circula-
ma menor de 14 anos, por dentro de sua roupa, não ção, desde que a falsificação seja convincente.
pode ser tipificado como crime de estupro de vulne- e) Caracteriza o crime, em sua forma tentada, a guarda
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
rável (art. 217-A do Código Penal), haja vista que não ou a aquisição de maquinário destinado à falsificação
houve a conjunção carnal. de moeda.
b) o estupro (art. 213 do Código Penal), com redação dada
pela Lei no 12.015/2009, é tipo penal misto alternativo. 18. (CEBRASPE-CESPE — 2019) De acordo com o Código
Logo, se o agente, no mesmo contexto fático, pratica con- Penal, o agente que altera selo destinado a controle
junção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima, tributário comete crime
pratica um só crime do art. 213 do Código Penal.
c) a conduta consistente em manter casa para fins libidino- a) de reprodução ou adulteração de selo ou peça
sos é suficiente para a caracterização do crime tipificado filatélica.
no art. 229 do Código Penal, sendo desnecessário, para a b) de falsificação de selo ou sinal público.
configuração do delito, que haja exploração sexual, assim c) de falsidade ideológica.
entendidacomo a violação à liberdade das pessoas que d) de falsificação de papéis públicos.
ali exercem a mercancia carnal. e) contra a ordem tributária.
143
19. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com base no Código
18 D
Penal e na jurisprudência atualizada dos Tribunais
Superiores acerca do crime de desacato, analise as 19 C
afirmativas a seguir e assinale (V) para a verdadeira e
(F) para a falsa. 20 C
a) V – F – F – V.
b) F – V – V – F.
c) F – V – F – V.
d) V – F – V – V.
a) material;
b) de mera conduta;
c) formal;
d) de atentado;
e) a prazo.
9 GABARITO
1 E
2 C
3 A
4 C
5 E
6 D
7 B
8 C
9 A
10 A
11 A
12 C
13 D
14 B
15 E
16 A
17 C
144