Perspectivas Da Matriz Elétrica de Fontes Térmicas No Mundo e No Brasil
Perspectivas Da Matriz Elétrica de Fontes Térmicas No Mundo e No Brasil
Perspectivas Da Matriz Elétrica de Fontes Térmicas No Mundo e No Brasil
Relatório Técnico
Campinas
Setembro de 2013
1
Sumário
Introdução............................................................................................................... 3
I- Mundo ................................................................................................................. 5
Conclusões ........................................................................................................... 90
Bibliografia ............................................................................................................ 93
2
Perspectivas da Matriz Elétrica de Fontes Térmicas no Mundo e no Brasil1
Introdução
Ao nível mundial, segundo estudo do World Energy Outlook (IEA 2012), cerca de
dois terços da geração de energia elétrica tem origem em centrais termoelétricas de
combustíveis fósseis, com predominância do carvão. Esta característica deve-se à
abundância deste recurso natural não renovável, sobretudo nos dois principais
países consumidores: EUA e China. O resultado ambiental adverso do uso mais
intensivo deste insumo é a emissão massiva de gases de efeito estufa, contribuindo
para o aquecimento global, além de material particulado, SO 2 e NOx, causadores de
chuvas ácidas e de outros efeitos na saúde das populações próximas às usinas.
1 Este documento apresenta os principais condicionantes analíticos sobre este tema, dentro da
metodologia definida para o Projeto P&D Aneel-CPFL: A Energia na Cidade do Futuro. A análise
deste tema, é continuidade de outras atividades do projeto, como o Café Filosófico do dia 25 de julho
de 2013 e o Workshop realizado dia 26 de julho de 2013. Todo este conjunto de documentos e
conhecimentos estará disponível no site: http://www.nuca.ie.ufrj.br/visao2030/
3
o período de maturação dos projetos térmicos que são significativamente inferiores,
entre 1 a 3 anos, do que grandes projetos hídricos. Essa característica é
fundamental para países que apresentam altas taxas de crescimento da demanda.
O Brasil é, e continuará sendo, uma exceção a nível global, “um ponto fora da curva”
no que se refere à matriz de geração elétrica. Esta diferenciação deve-se ao fato do
Brasil possuir uma matriz elétrica com expressiva maioria das fontes renováveis e,
além disso, deter um grande potencial de fontes renováveis capaz de sustentar o
aumento da oferta de eletricidade de fontes não fósseis em bases competitivas:
somente os potenciais hídrico, eólico on-shore, biomassa da cana e solar (ainda
sem medições precisas) excedem largamente a necessidade projetada de energia
elétrica até 2030. Mesmo assim, a geração termoelétrica deverá experimentar
substancial avanço até 2030 para garantir a segurança do suprimento e fazer
contraponto ao crescimento da participação de fontes não controláveis na matriz de
geração, notadamente das hidroelétricas de fio d´água, parques eólicos, biomassa e
geração solar.
4
I- Mundo
Há pelo menos três aspectos relevantes no cenário mundial que devem ser
considerados e estudados: as restrições à geração térmica ligadas à mitigação da
emissão de gases de efeito estufa; as tendências para o desenvolvimento
tecnológico e; a dinâmica dos preços de combustíveis.
2As tecnologias de captura e estocagem de carbono para geração termoelétrica podem, caso se tornem
economicamente viáveis, mudar radicalmente o cenário para a evolução da geração térmica baseada
em combustíveis fósseis, pois removeriam a restrição ambiental hoje existente. Entretanto, ainda
existem grandes desafios a serem vencidos, sobretudo no que diz respeito às formas de estocar o
carbono capturado e ao elevado montante de energia necessária para todo o processo.
5
desenvolvidas em outros países. E como todos os fornecedores de equipamentos
são estrangeiros, mesmo que o índice de nacionalização dos equipamentos
aumente as tecnologias a serem empregadas serão aquelas desenvolvidas para
atender ao mercado global3.
Esta seção do texto está dividida em quatro partes, a primeira delas dedicada à
questão do aquecimento global e às medidas para evitá-lo particularmente no setor
elétrico. A segunda parte é dedicada ao cenário para a evolução da geração no
horizonte de 2030 a nível mundial. A terceira parte trata das tendências tecnológicas
da geração térmica e, finalmente, a quarta parte discorre sobre as perspectivas de
longo prazo para os preços internacionais dos combustíveis para geração
termoelétrica.
3 O único nicho da geração térmica em que há e pode continuar a haver desenvolvimento tecnológico
local é o da bioeletricidade. Isto se deve à grande disponibilidade de biomassa residual, sobretudo na
indústria sucroalcooleira. Para um maior aprofundamento ler o Relatório 2 do projeto, dedicado a
fontes alternativas.
6
O aquecimento global e as medidas de redução de emissões
7
Figura 2: Emissões de CO2 relacionadas a energia
9
Apresentamos a seguir uma série de dados sobre os principais países emissores. A
maior parte dos gráficos foi apresentada pelo estudo The Policy Climate (CPI 2013)
a partir da compilação de dados provenientes de grande número de fontes dos cinco
principais emissores: EUA, União Europeia, China, Índia e Brasil. Eles permitem
avaliar tanto a evolução das emissões em cada país ou grupo de países (no caso da
União Europeia) como o desempenho em termos de emissões do setor elétrico e as
políticas adotadas em período recente.
10
Figura 3: Emissões de CO2 associadas à energia
MM Tonelada
métrica
9.00
China
8.000
7.000
6.000
EUA
5.000
4.000 EU27
3.000
2.000 Índia
1.000
0 Brasil
0
1990 1995 2000 2005
Fonte: CPI, 2013.
Observe-se que o Brasil consta na comparação acima apesar das emissões do setor
de energia do Brasil serem pequenas comparadas às dos demais países. A inclusão
do país no estudo do Climate Policy Initiative deveu-se apenas às emissões
relacionadas ao uso da terra, onde o país figura como grande emissor global, em
que pese a diminuição considerável do desmatamento na segunda metade da
década de 2000.
A evolução das emissões no setor elétrico nos EUA, União Européia, China e Índia
nos últimos anos, bem como o papel das políticas até agora implantadas para
reduzir o aumento das emissões de gases do efeito estufa oriundas da queima de
combustíveis fósseis para geração termoelétrica é elucidativa dos desafios do setor
até 2030.
11
Estados Unidos
O rápido recuo das emissões do setor elétrico americano a partir da crise de 2008 foi
vinculado à queda abrupta do preço do gás no mercado interno americano
decorrente da diminuição da demanda ocasionada pela crise econômica em um
momento em que ocorria um aumento da oferta de gás pela exploração de gás não
convencional. A queda do preço de gás incentivou a geração a partir desse
combustível e encareceu a geração a carvão, resultando em menor fator total de
12
emissões. Porém, olhando a década de 2000 como um todo, observa-se que o
ganho de eficiência da geração de eletricidade americana resultou de um conjunto
de fatores e não de um fator isolado, como pode ser visto no gráfico abaixo. A soma
do efeito do aumento de participação das energias renováveis na matriz, fruto de
políticas de incentivo às renováveis, com o aumento da eficiência técnica das
centrais movidas a gás permitiu a redução relativa das emissões associadas à
queima de óleo, gás e carvão ao longo da década de 2000.
Os dados preliminares sobre emissões totais (e não apenas do setor elétrico) dos
EUA são também animadores, mostrando em 2012 uma redução da intensidade de
carbono da economia americana de 11,7% entre 2005 e 2012 (ROHDIUM GROUP
2013a).4
4A diminuição da intensidade de cabono da economia significa que as emissões crescem menos que o
PIB e não que as emissões diminuem. Também é possível falar da intensidade de carbono da geração
de energia elétrica, se referindo à razão entre emissões de CO2 por MWh. Outra variante consiste em
calcular a intensidade de carbono do setor de energia, caso em que é computado o volume de
emissões associado à produção de energia primária.
13
A recente redução das emissões americanas no setor elétrico e a diminuição da
intensidade de carbono da economia americana ocorreram a despeito de os EUA
nunca terem adotado uma política climática estruturada. Não obstante isso, há
várias iniciativas não coordenadas a nível federal e estadual, que têm convergido
para uma redução da intensidade de carbono da economia americana. A nível
federal as principais medidas são regulações estabelecendo níveis máximos de
emissões de vários equipamentos e a concessão de créditos fiscais para geração
eólica e solar. Ao nível estadual há diversas iniciativas, incluindo metas para a
participação de renováveis na matriz de geração elétrica. O gráfico abaixo reune os
dados com o volume de créditos fiscais e média ponderada das metas para
participação de renováveis na matriz a nível estadual através do mecanismo de
Renewable Portfolio Standard (RPS)5. São inciativas relativamente recentes, mas
que se aceleraram grandemente no final da década de 2000, apontando para a
continuidade do movimento de avanço das renováveis na matriz de geração
americana.
14
Figura 6: EUA – Incentivos federais e estaduais a fontes renováveis
União Européia
15
Figura 7: União Européia – Geração e emissões
16
Figura 8: União Europeia – Decomposição do fator de emissões de CO2 do
setor elétrico
As emissões totais nas economias americana e europeia cairam após 2000, como
pode ser visto no gráfico abaixo. Entretanto, cabe frisar que parte da forte queda no
volume de emissões a partir de 2008 se deve ao efeito da crise econômica global
sobre o nível de produção e de crescimento dessas regiões: a recessão na
economia dos países centrais reduziu a demanda por energia e, portanto as
emissões.
17
Figura 9: Emissões totais de gases do efeito estudo: EUA e União Européia
18
Figura 10: Intensidade de Carbono das Economias Americana e Européia
China
A China é a principal responsável pelo aumento das emissões globais nos últimos
vinte anos, devido tanto ao setor industrial, onde houve rápido crescimento de
indústrias energo intensivas, como do setor elétrico, essencialmente pelo aumento
de emissões derivadas da geração termoelérica a cavão. O gráfico abaixo permite
visualizar a evolução da geração e das emissões no setor elétrico.
19
Figura 11: China – Emissões de CO2 e geração de energia elétrica
20
Figura 12: China – Composição da matriz elétrica por energia produzida
Na verdade, mesmo sem ser signatária do Tratato de Kyoto, a China ao longo dos
últimos anos tomou uma série de medidas para reduzir a intensidade de carbono de
sua economia, seja pela pressão da opinião internacional como pela busca de maior
eficiência energética. A China tem estabelecido metas nos últimos planos
quinquenais compatíveis com uma diminuição do ritmo de crescimento das
emissões. O 12º Plano quinquenal (2011-15) estabeleceu como metas:
22
Figura 14: Intensidade de Carbono no PIB Chinês
23
Índia
24
Figura 16: Índia – Emissões de CO2 e geração de energia elétrica
De todo modo, a Índia é, dentre os países analisados aquele que tem políticas
climáticas menos efetivas, praticamente limitadas ao estabelecimento de metas para
a participação de energias renováveis na matriz de geração.
Como foi visto na seção anterior, as iniciativas atuais dos principais países
emissores são no sentido de reduzir a intensidade de carbono de suas economias e
do setor elétrico, mas do ponto de visto global as tendências atuais parecem
convergir para um aumento do nível de emissões, mesmo que em um ritmo mais
lento, e não para uma estabilização ou redução das emissões. Entretanto, para
conter o aquecimento global no longo prazo seria preciso reduzir as emissões e não
simplesmente reduzir seu ritmo de aumento.
25
setor de energia, é nele que a redução da intensidade de carbono deve estar
centrada. E o setor elétrico estará necessariamente no centro deste esforço de
redução da intensidade de carbono, pois já existem tecnologias comerciais para
geração de eletricidade com baixíssimo nível de emissões (renováveis e nuclear) e é
tecnicamente viável reduzir substancialmente as emissões mesmo da geração
térmica baseada em combustíveis fósseis. Portanto, deve-se esperar que o setor
elétrico permaneça no longo prazo no centro de todas as políticas climáticas.
A tarefa de conter o aquecimento global não é trivial. Estima-se que para limitar o
aquecimento global no longo prazo a dois graus celcius seria preciso reduzir as
emissões de CO2 globais à metade do nível de hoje até 2050 (IEA 2012b). Embora
tal cenário seja tecnicamente possível, ele exigiria um esforço concentrado de
políticas públicas a nível global aliado a um desenvolvimento tecnológico expressivo
e rápido de um grande conjunto de tecnologias de baixo carbono.
27
Figura 18: Oferta global de energia primária
28
Figura 19: Emissões Globais de CO2 por cenário
Nota: emissões de CO2 no gráfico contabilizadas para cada setorem que o gás é
fisicamente emitido
29
Figura 20: Mundo – Aumento da capacidade instalada e geração adicional por
tipo de planta (2035-2010)
No que diz respeito à distribuição geográfica da geração com base em carvão, ela
decresce nos países ricos, com a substituição do carvão pelo gás e fontes
alternativas e aumenta nos países em desenvolvimento, sobretudo aqueles com
grandes reservas como a China e Índia.
30
Figura 21: Geração a carvão entre 2010 e 2035
31
Figura 22: Geração a gás entre 2010 e 2035
32
Figura 23: Capacidade instalada de geração nuclear entre 2011 e 2035
Nesse contexto, as emissões do setor elétrico por região podem ser conferidas no
gráfico abaixo com crescimento nos países em desenvolvimento e retração nos
países desenvolvidos. A intensidade de carbono da geração elétrica diminui em todo
o mundo, mas permanece mais alta nos países em desenvolvimento.
33
Figura 24: Emissões de CO2 e intensidade de carbono da geração elétrica em
2010 e 2035
Com base na Figura 24, convém ressaltar que a intensidade de carbono do setor
elétrico dos países desenvolvidos atinge em 2035 um nível bem menor que os
países em desenvolvimento. Esta diferença parece ser reflexo do princípio de que
todos os países devem ser responsáveis pelo combate ao aquecimento global, mas
que as obrigações devem ser diferenciadas, com os países desenvolvidos arcando
com maiores custos em função não apenas de sua maior capacidade de mobilização
de recursos, mas também do histórico de emissões no passado.
34
Figura 25: Reservas de carvão mineral (antracito) por país (2010)
35
A troca do carvão pelo gás ocorreu na Europa a partir dos anos 90 e está ocorrendo
hoje nos EUA. Mas China e Índia não tem gás disponível em volume compatível com
as necessidades do setor elétrico e, por isso, há pressão para a adoção de
teconologias mais eficientes. De imediato, o uso de caldeiras de maior pressão,
também conhecidas como supercríticas e ultra-supercríticas, pode resultar em um
ganho de eficiência expressivo. O gráfico abaixo mostra a distribuição das
temoelétricas a carvão existentes em vários países distribuídas por tecnologia. As
menos eficientes são as plantas subcríticas, que trabalham a menor pressão. As
plantas ultra-supercríticas são de última geração e implicam em custo mais elevado
de geração.
36
de uma tecnologia disruptiva, pois pode permitir a queima de combustíveis fósseis
sem emissões de gases do efeito estufa ou ao menos com uma redução dramática
das mesmas.
As plantas hoje existentes que utilizam captura e estocagem de carbono ainda são
experimentais e alguns dos problemas tecnológicos e logísticos, sobretudo os
relacionados à estocagem do carbono capturado,
37
um reflexo do custo de exploração de novas fontes descobertas, assumindo que
elas serão necessárias para atender ao aumento da demanda.
Figura 27: Preço médio do óleo para cenários IEA, US$/barril, 1980 - 2035
Para os preços de gás natural, a IEA (2012a) assume tendências diferentes por
região, de acordo com características e mecanismos de precificação específicos de
cada região/país (indexação a preços do óleo, subsídios ou preços do transporte,
por exemplo). No mercado estadunidense os preços são os mais baixos, devido à
vasta oferta do gás não convencional, a um custo relativamente baixo. Nesse
sentido, os preços em 2035 devem se situar entre US$ 7,6/Mbtu, no cenário 450, e
6O cenário 450 assume que serão levadas a cabo políticas para manter o preço final para transporte
em nível similar ao atual.
38
US$ 8,0/Mbtu, nos cenários de Políticas atuais e Novas Políticas. Na Europa, o
maior impacto no preço do gás deverá decorrer do transporte, assumindo que o
continente dependerá cada vez mais do gás importado de fontes mais distantes.
Com isso, os preços em 2030 devem ficar entres US$ 9,6/Mbtu no cenário 450 e
US$ 13,7/Mbtu, no cenário de Políticas atuais.
Figura 28: Proporção entre preço do gás natural e carvão em relação ao preço
do óleo, cenário Novas Políticas
39
II- Brasil
O Brasil é e continuará sendo por muito tempo uma exceção a nível global, “um
ponto fora da curva” no que se refere à matriz de geração elétrica. O Brasil é a única
entre as grandes economias que pode manter uma baixa intensidade em carbono no
setor elétrico no longo prazo sem depender de tecnologias novas ou ainda não
consolidadas e sem que seja necessário conceder pesados incentivos econômicos
para tanto.
O Brasil já possui uma matriz elétrica dominada por fontes renováveis e detém
potencial para aumentar a oferta de energia renovável em bases economicamente
competitivas: somente os potenciais hídrico, eólico on-shore, biomassa de cana e
solar (ainda sem medições precisas) excedem largamente a necessidade projetada
de energia elétrica até 2030. Apenas para citar as principais fontes o potencial
hidroelétrico brasileiro total é estimado em 251 GW (EPE 2007) enquanto o potencial
eólico é da ordem de 300 GW (TOLMASQUIM, 2011), que se comparam com uma
capacidade instalada total em 2011 de 115GW (EPE 2012).
40
Termoelétricas e o esgotamento da capacidade de regularização com
reservatórios
41
Como a queda total na Região Norte sempre será relativamente modesta, será
preciso construir um reservatório com um volume útil muito grande para estocar uma
quantidade expressiva de energia. E levando em conta que o relevo da região é
suavemente ondulado, é bem provável que para conseguir construir um reservatório
com grande volume útil seja preciso alagar uma área muito grande, o que é difícil de
justificar.
42
Por outro lado, a geração de energia hídrica vai se tornar crescentemente sazonal
devido à concentração no primeiro semestre da geração das novas usinas a fio
d’água da região norte, principalmente nas bacias dos rios Madeira, Tapajós, Xingu
e Tocantins. Isto pode ser visto no gráfico abaixo, construído com base em EPE
2012.
43
A expansão projetada no plano decenal
Antes, porém, a expansão projetada para a geração segundo o PDE 2021 será
apresentada. O gráfico abaixo mostra a expansão da geração planejada, incluindo
usinas já contratadas e uma expansão planejada (indicativa), da qual cerca da
metade vem de fontes alternativas.
Os dados do PDE 2021 não devem ser considerados como um cenário provável
para a expansão das termoelétricas. Uma análise cuidadosa dos resultados da
modelagem utilizada indica que foram utilizadas duas suposições muito fortes e que
levam a uma superestimava da capacidade do sistema proposto em atender à carga
projetada sem a contratação de novas termoelétricas (CASTRO et al., 2010;
CASTRO et al., 2012). Os problemas diagnosticados pelos autores são a suposição
de um uso não realista dos reservatórios existentes e a modelagem da geração de
pequenas centrais como sendo energia firme. A consequência da imperfeita
representação do sistema real é que não se consegue captar adequadamente a
principal consequência da perda da capacidade de regularização dos reservatórios
das hidroelétricas que é a necessidade de fazer uma transição para um sistema em
que as termoelétricas terão necessariamente um papel crescente.
45
para representar todo o sistema hídrico de um subsistema. Isso é feito para
simplificar os cálculos, uma vez que a modelagem de usinas individualizadas é
computacionalmente muito demandante. A usina equivalente é construída de forma
rigorosa para ter as mesmas características do conjunto de hidroelétricas que ela
visa representar. Trata-se, porém de uma simplificação e, como tal, possui limitações
que podem em alguns casos levar a resultados pouco realistas.
A usina equivalente é um pouco como uma grande usina, que recebe em seu grande
reservatório todas as afluências das usinas modeladas. O reservatório equivalente
armazena a soma da energia que de fato está pulverizada em diversos
reservatórios. E a água do reservatório equivalente é turbinada em uma grande casa
de força com capacidade instalada equivalente a todo o sistema. Por exemplo, as
afluências reais das várias bacias hidrográficas e o nível real dos vários
reservatórios são traduzidas pelo software em uma afluência única e em um nível
único de reservatório. E esta energia única está disponível para toda a capacidade
instalada de todas as usinas.
46
Entretanto, esse comportamento do operador não foi modelado do PDE 2021. Por
exemplo: em alguns anos da simulação, mais de 20% dos cenários mostram um
nível de 2% ou menos do armazenamento total ao fim de pelo menos um mês para o
subsistema SE-CO. E a maior parte destes cenários não é de déficit: o software
entende esta situação como uma operação normal compatível com a segurança
energética. Porém na operação real do sistema o Operador tentaria a todo custo
evitar este tipo de situação, lançando mão de todas as térmicas disponíveis para
evitar que o nível de armazenamento se aproxime de tais níveis. Consultando o
histórico da operação do ONS (www.ons.org.br) se pode ver que o nível mais baixo
de armazenamento do subsistema SE-CO já registrado foi de 22%, em novembro de
2001, em pleno racionamento.
Em suma, a análise dos resultados da simulação do PDE 2021 leva a crer que o
sistema projetado dificilmente poderia ser operado de forma econômica. A
modelagem aponta custos razoáveis e risco de déficit controlado, mas a custa da
suposição de que a capacidade de armazenamento poderia ser usada de forma
plenamente flexível, o que, conhecendo as limitações hidráulicas do sistema real,
não parece razoável. No mundo real, sem um aumento substancial na capacidade
47
de regularização dos reservatórios, será preciso recorrer à geração térmica para
garantir a segurança energética.
7Em termos mais técnicos, em cada subsistema a geração média esperada para pequenas centrais para
cada mês é abatida da carga projetada. Isto equivale a dizer que a geração de pequenas centrais
acompanha exatamente a curva de carga: há mais geração durante o horário de ponta e menos geração
durante a noite.
48
A análise por subsistema revela que o sistema proposto no PDE é provavelmente
difícil de operar. Na Região Nordeste, as pequenas centrais (eólicas, sobretudo)
serão responsáveis pelo atendimento de 32% da carga em 2021. Nos meses de
ventos mais intensos (setembro e outubro) esta proporção chega a 43% da carga.
Atender uma proporção tão grande da carga com geração intermitente é um grande
desafio técnico. Mas o PDE 2021 não chega a abordar os problemas associados à
tamanha penetração de geração intermitente uma vez que representa a energia
eólica geração constante.
O problema da representação das pequenas centrais é ainda mais crítico por estas
terem geração concentrada no período do ano em que as novas hidroelétricas a fio
d’água da região norte tem geração baixa. A maior contratação de geração eólica e
de biomassa é altamente desejável devido a sua sazonalidade complementar, como
pode ser visto no gráfico abaixo. Nele estão representados: a energia afluente do
parque hídrico de 2012; o acréscimo de energia afluente das novas hidroelétricas
com entrada em operação prevista entre 2013 e 2021 e a geração de pequenas
centrais já em 2021. Percebe-se claramente que a geração de novas centrais de
fontes alternativas é mais significativa no período de baixas afluências. Isto é
excelente do ponto de vista energético, pois permite poupar durante o período seco
parte da energia armazenada nos reservatórios. Mas pode haver um problema sério
no atendimento de ponta: está se desenhando um sistema em que há muita energia
não controlável justamente no período em que as novas hidroelétricas a fio d’água
da região norte terão pouquíssima potência disponível.
49
Figura 33: SIN – Energias Afluentes Médias em 2012 e 2021 e geração de
pequenas centrais (fontes alternativas)
50
A primeira delas é que, como a perda de capacidade de regularização das
hidroelétricas, as termoelétricas tenderão a ser acionadas com maior frequência,
mesmo em anos de hidrologia normal. Para que isso seja feito de forma econômica,
será preciso dispor de termoelétricas com características técnicas e econômicas
adequadas para gerar com frequência, o que implica em custos variáveis baixos ou
moderados. A configuração atual do parque gerador térmico brasileiro não parece
adequada, como pode ser constatado através da figura abaixo. A maior parte das
usinas com geração flexível tem custo variável unitário de geração (CVU) maior que
R$150/MWh.8
Figura 34: Distribuição do parque térmico por faixa de CVU e por subsistema
(MW)
8 No gráfico consta um bloco de 4 GW de usinas com CVU de até R$ 50 /MWh. Trata-se, porém, das
três plantas nucleares, que tem geração pouco flexível. Angra I e II, as únicas já em atividade,
funcionam com 90% da geração inflexível, despachada a despeito das condições hidrológicas.
51
Haverá espaço, portanto para contratação de geração com características de base,
sobretudo para projetos a gás em ciclo combinado ou para térmicas a carvão. O
sistema também precisará crescentemente de geração de reserva, com baixa
frequência esperada de uso. O balanço de ponta, que no PDE 2021 é considerado
como equilibrado, em uma análise mais aprofundada pode parecer pouco confiável
se não houver um reforço na geração de ponta. O problema com o balanço de ponta
do PDE é que, como já foi assinalado mais acima, ele é feito partindo da suposição
que a geração de fontes alternativas é firme, acompanhando sempre a curva de
carga. Como PCHs, eólicas e solares têm geração intermitente, na verdade a
necessidade de geração de ponta não está corretamente dimensionada: na hora de
ponta de um dia de pouco vento, por exemplo, será necessário contar com geração
controlável adicional que não está sendo levada em conta no balanço de ponta do
PDE.
Por último, quanto aos combustíveis utilizados nessas térmicas, as alternativas são
o gás natural, o carvão e a energia nuclear, analisados em seguida.
52
Perspectivas de Suprimento para as Térmicas no Brasil
Os dados acima deixam claro, por um lado o aumento de quase três vezes na
geração térmica que ocorreu em simultâneo a um aumento da importância do gás
natural no segmento de geração térmica assim como a redução da relevância das
fontes tradicionalmente utilizadas no Brasil, como por exemplo, o carvão, o óleo
combustível e o diesel. Nesse contexto, a análise das condições de expansão do
parque térmico brasileiro exige que se faça uma reflexão sobre as perspectivas de
suprimento para o setor termoelétrico merecendo destaque o papel do gás natural.
53
Figura 35 – Reservas de Carvão no Brasil
35.000
30.000
106 Toneladas 25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
ENERGÉTICO METALÚRGICO
Este cenário poderia vir a ser revisto caso ocorra um aumento do custo de aquisição
do gás paralelamente ao desenvolvimento e a redução dos custos das tecnologias
conhecidas como “clean coal”, que uma vez tornando-se comerciais podem abrir um
importante espaço para o aumento da participação do carvão na matriz elétrica
mundial e também brasileira. Este não é, porém, o cenário básico, pois as
tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS) e de gaseificação de
54
biomassa ainda encontram-se embrionárias e os poucos projetos pilotos em maior
escala ainda estão longe da maturidade técnica e da viabilidade econômica a preços
comerciais.
55
Figura 36 – Reservas de Urânio no Brasil
350.000
300.000
Toneladas 250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
0
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
Fonte: EPE 2012b
56
despacho das usinas termelétricas que dificulta o gerenciamento do suprimento para
todos os segmentos de consumo.
A produção de gás natural no Brasil tem início em 1954 na Bahia sendo seu
consumo localizado na região do Recôncavo Baiano. Até a década de 80, a
produção concentrou-se basicamente na Região Nordeste, com destaque para os
estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte. A partir da década de
80, há uma mudança do eixo de produção do Nordeste para a Região Sudeste, mais
precisamente para o estado do Rio de Janeiro.
57
As figuras abaixo mostram a evolução da produção e do grau de aproveitamento do
gás de origem nacional.
58
Figura 38 - Brasil: Perfil da Produção de Figura 39 - Brasil: Perfil da Produção de
Gás Natural, 2012 Gás Natural, 2012
59
Entre os campos com maiores produções de gás natural destacam-se Rio Urucu,
com 6 MMm3/d, Leste do Urucu, com 5,4 MMm3/d e Roncador, com 4,9 MMm3/d. A
figura abaixo mostra os principais campos produtores de gás natural no Brasil.
60
Figura 42 – Brasil: Queima de Gás Natural
61
Figura 43 – Brasil: Exportadores de GNL, 2010
O início das importações de GNL está associado à crise política boliviana iniciada
em 2004. Até aquele momento, a questão sobre o risco de abastecimento de gás
natural para o mercado brasileiro era pouco discutida. Contudo, com as incertezas
associadas à capacidade da estatal boliviana em expandir a produção de gás natural
9Em Fevereiro e Março de 2013, a Sulgas importou através da Argentina o equivalente a 1 MMm 3/d
proveniente de uma carga de GNL regaseificada na Argentina e entregue pelo TSB a termoelétrica de
Uruguaiana.
62
paralelamente ao aumento do preço do gás boliviano, buscaram-se alternativas de
abastecimento, principalmente para o segmento de geração térmica.
Infraestrutura de Transporte
63
A partir de 1964, inicia-se a produção de gás natural em Sergipe. Em 1966, é a vez
do estado de Alagoas entrar na produção de gás. Como no caso da Bahia, a maior
parte da produção desses estados esteve voltada ao abastecimento das indústrias
químicas e petroquímicas da Região Nordeste, principalmente das localizadas no
polo de Camaçari (Bahia). Nesse sentido, de 1956 a 1969, apenas 181 quilômetros
de gasodutos haviam sido construídos no país, sendo esse total referente a
gasodutos de transferência10 (CECCHI, 2001).
11A produção do estado do Sergipe passou de mil metros cúbicos por dia em 1956 para 33 mil metros
cúbicos por dia em 1974.
64
Figura 44 – Brasil: Evolução dos Gasodutos de Transporte e Transferência até
1982
65
malha de transporte de gás natural no Brasil passou de 884 quilômetros em 1980
para 2.840 quilômetros em 1990.
66
Figura 45 - Brasil: Evolução dos Gasodutos de Transporte e Transferência até
1998
67
Para o Brasil, a construção do Gasbol representou uma mudança na estratégia de
diversificação de sua matriz energética em direção à expansão do uso do gás
natural. Até 1999, a participação do gás natural no consumo final de energia era de
3,3% (BEN [2010]), concentrando-se principalmente no setor industrial. Com o início
das operações do GASBOL, mudou-se não só a participação do gás na matriz
energética, que representou em 2010 10,3% do consumo final de energia (MME
[2010]), como também a estrutura de consumo.
68
gás natural a ser concluído dentro do novo modelo de parceria proposto pelo
governo ao capital privado (CECCHI, 2001). O gasoduto Lateral Cuiabá 12 alterou
drasticamente a estrutura de consumo do estado do Mato Grosso. Servindo as
usinas termelétricas de Cuiabá I e Cuiabá II, o gasoduto foi responsável pela
transformação da matriz energética mato-grossense.
12 A quebra de contrato da YPFB fez com que, desde 2009, se interrompesse a importação de gás
natural pelo gasoduto Lateral Cuiabá. Em 2010, apenas a Petrobras importou gás natural no Brasil
através do Gasbol.
69
2007. O investimento custou para o consórcio liderado pela TNS14 (Transportadora
do Nordeste e Sudeste S.A.) cerca de R$ 900 milhões.
14 Subsidiária da Gaspetro
70
os novos projetos. A incorporação15 das empresas transportadoras tem sido feita de
forma gradual em função da complexidade, principalmente, nas situações onde a
Petrobras não é o único acionista e o centro de operação é independente da
Transpetro, como é o caso da TBG.
Entre 2009 e 2011, uma série de novos investimentos em gasodutos foi executada
pela Petrobras: gasoduto Paulínia-Jacutinga (93 km), GASDUC III (178 km),
gasoduto Cacimbas-Catu (946 km), GASBEL II (266 km), Pilar-Ipojuca (181 km),
Caraguatatuba-Taubaté (96 km), entre outros.
15Até março de 2010 apenas a transportadora Capixaba de Gás S.A. (TCG) e a Transportadora
Nordeste Sudeste S.A. (TNS) haviam sido incorporadas pela TAG.
71
Perspectivas de Suprimento de Gás Natural para o Setor Elétrico
A análise das condições de oferta de gás natural no Brasil mostra que atualmente o
suprimento doméstico depende tanto dos níveis de produção nacional quanto das
importações de gás natural boliviano e de GNL. No primeiro trimestre de 2013, cerca
de 50% da oferta doméstica de gás natural dependeram das importações o que
coloca uma importante questão: é possível expandir o parque de geração
termoelétrica a gás natural com base nesse perfil de suprimento?
72
Em 2001, a crise econômica na Argentina descortinou um novo cenário para
indústria de gás naquele país. Uma das consequências desta crise econômica foi a
revisão do processo de abertura do mercado de gás. Sendo assim, a partir de 2001,
o preço do gás foi congelado em patamares extremamente baixos enquanto os
preços do petróleo e do gás disparavam no mercado internacional.
73
Figura 49 – Argentina: Relação Reserva e Produção
O caráter estratégico do gás natural para a Argentina leva a crer que, em longo
prazo, o governo Argentino poderá viabilizar economicamente o aproveitamento do
potencial de produção de gás no país. Ou seja, as atuais políticas restritivas tendem
a ser revistas, caso fique claro que existe possibilidade de aumentar as reservas e a
produção doméstica.
Vale ressaltar que até recentemente uma parcela importante dos analistas
argentinos argumentavam que mesmo que o país mude sua política de preços, as
reservas de gás da Argentina não subiriam significativamente, considerando o
estágio atual de maturidade das principais províncias gasíferas do país. Contudo,
deve-se destacar que o cenário geológico para o gás natural argentino mudou
radicalmente nos últimos dois anos. Isto ocorreu em função da constatação de que a
Argentina é um dos países com maior potencial de produção de gás não
convencional no mundo, em particular de shale gas.
74
Em segundo lugar, as reservas não convencionais argentinas estão localizadas em
bacias que atualmente já são produtoras de gás e que já possuem infraestrutura de
tratamento, escoamento e transporte de gás natural. Este é o caso da bacia de
Neuquén, onde se localiza atualmente os maiores campos de gás convencionais.
Em relação ao preço doméstico, vale ressaltar que o governo criou o programa “Gas
Plus” em 2006. Este programa prevê a remuneração do gás produzido em novos
campos com preços muito acima daqueles praticados em campos antigos. A
Secretaria da Energia Argentina já aprovou cerca de 40 projetos no programa Gas
Plus. Os preços pagos aos produtores nestes projetos, negociados caso a caso,
situaram-se entre US$4 e US$5 por MBtu. Portanto, o “gás novo” na Argentina já
está sendo remunerado ao nível do Henry Hub, que se encontra em torno de US$4
atualmente.
75
Figura 50 – Preço do Gás Natural
A figura abaixo mostra as projeções feitas por BRANDT (2013) sobre o mercado de
gás natural na Argentina. Como se pode perceber, o aumento da produção não-
convencional é mais do que compensada pela redução da produção convencional o
que, dado o crescimento da demanda, exige um aumento das importações de gás
natural.
76
Oferta de Gás Boliviana
77
Entre 1996 e 2004 muitas empresas internacionais decidiram investir na área de
exploração de gás na Bolívia com a perspectiva de exportação de gás para o Brasil.
Nesse contexto, os investimentos em E&P saltaram de cerca de US$ 100 milhões
em 1996 para cerca de US$ 600 milhões em 1998 viabilizando novas descobertas e
permitindo um aumento considerável nas reservas provadas do país que saltaram
de cerca de 140 bmc em 1996 para cerca de 850 bmc em 2001.
78
produção atingiria 70 Mm³/dia até 2016, quando começaria a decair. Isto significa
que, para manter o nível das suas exportações de gás para além de 2019, quando
encerra o contrato com o Brasil, a Bolívia deve necessariamente reativar o esforço
exploratório.
79
Figura 52 – Bolívia: Balanço entre Demanda Prevista e Cenários de Oferta
GNL
No que se refere ao GNL, percebe-se a partir da análise dos preços nos principais
mercados internacionais que o preço do gás natural, com exceção do mercado
norte-americano, tem se situado entre 16 e 10 dólares o milhão de BTU. Nesse
sentido, pode-se afirmar que, com exceção dos EUA, o preço do gás natural no
mundo mantem-se em níveis elevados o que se reflete nos preços do GNL. No
primeiro semestre de 2013, por exemplo, o preço médio do GNL contratado no Brasil
foi de US$ 14/MBTu o que nos leva a questionar a viabilidade econômica de
expandir o parque termoelétrico brasileiro sustentado na importação de GNL.
80
Figura 53 – Preços Internacionais do Gás Natural
81
Figura 54 – Estimativas de Preço do GNL Internalizado no Brasil
82
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EPE
Fonte: Petrobras
83
Produção Onshore
84
Figura 57 – Áreas de Concessão em Terra
85
Figura 58 – Recursos Estimados em Solo (TMC)
86
A expansão da produção de gás natural em terra pode contribuir significantemente
para a expansão do parque termoelétrico brasileiro a gás natural. Isso porque, na
maioria dos casos, os custos de produção e de escoamento da produção em terra
mostram-se inferiores aos custos em mar. Ademais, considerando a distância de
algumas regiões produtoras da malha de transporte e as dificuldades enfrentadas
para a expansão dos investimentos em novos gasodutos o consumo no segmento
termoelétrico passa a ser a melhor – se não a única alternativa – de monetização do
gás natural.
1600
1400
1200
1000
MW
800
600
400
200
0
Parnaíba I Parnaíba II Parnaíba III Parnaíba IV Total
88
Figura 61 – Produção Média de Gás Natural na Bacia do Parnaíba
4,6
4,5
4,4
4,3
4,2
MMm3/d
4,1
4
3,9
3,8
3,7
3,6
Abri Maio Junho
89
Conclusões
A geração nuclear, única fonte não renovável que não emite gases do efeito estufa,
poderá desempenhar um papel relevante em alguns países, sobretudo aqueles
onde, como China e Índia, se prevê grande crescimento no consumo de eletricidade
e que dependem hoje essencialmente do carvão para a geração. Porém trata-se de
uma tecnologia com longuíssimo ciclo de implantação o que leva a crer que os
países que não têm hoje programas em curso para desenvolver novas centrais
nucleares dificilmente conseguirão desenvolve-la em grande escala. Com grande
parte do parque gerador nuclear mundial se aproximando do fim da vida útil até
2030, não se vê como a participação da geração nuclear na matriz elétrica mundial
poderá crescer de forma substancial.
90
fontes renováveis, muito além do consumo total de eletricidade estimado, o país
dificilmente poderá prescindir de novas termoelétricas baseadas em combustíveis
fósseis. Isto porque será necessário dispor de novas geradoras com energia
controlável e este papel, com o fim da construção de hidroelétricas com grandes
reservatórios, poderá ser desempenhado por geração térmica utilizando
combustíveis fósseis.
A geração a gás tende a ser uma alternativa interessante e sua expansão depende
essencialmente da disponibilidade de gás a preços acessíveis no mercado interno
brasileiro. Hoje o Brasil importa gás, tanto da Bolívia quanto de outros países por
meio dos terminais de regaseificação de GNL. Para expandir a oferta de gás para
geração térmica, o mais promissor potencial são as concessões, ainda em fase de
exploração, de campos com alto potencial de gás natural on-shore. Por se tratarem
de potenciais reservas concedidas na maior parte das vezes a grupos menores (a
Petrobras tem várias concessões, mas boa parte dos campos foi arrematada por
empresas pequenas) em regiões distantes da malha de gasodutos existentes, a
viabilidade da exploração comercial do gás pode estar ligada a seu uso no local para
geração térmica, utilizando o Sistema Interligado Nacional, e não uma rede de
gasodutos, para escoar o gás. Neste desenho, em que o produtor de gás não tem,
pelo menos em um primeiro momento, acesso a um mercado de gás, provavelmente
será possível obter custos vantajosos para a geração térmica. Por isso, do ponto de
vista da estratégia empresarial em geração térmica a melhor oportunidade no
horizonto de 2030 parece estar no aproveitamento de campos de gás natural on-
shore.
No que diz respeito à geração nuclear, o Brasil tem domínio da maior parte da
cadeia de produção nuclear, o que leva a crer que o setor continuará a se
desenvolver embora a um ritmo que, pelo menos pelo prisma de hoje, se crê lento.
O principal problema aqui é o custo da geração nuclear, que tende a ser
91
relativamente alto, desencorajando um desenvolvimento maciço por parte de um
país que, como o Brasil, tem alternativas mais baratas de expandir a geração
elétrica.
92
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96