Cheikh Anta Diop - Existe Uma Filosofia Africana
Cheikh Anta Diop - Existe Uma Filosofia Africana
Cheikh Anta Diop - Existe Uma Filosofia Africana
Cap. 17:
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Existe uma filosofia africana?1
Cosmogonia Egípcia
1
[Tradução Parte 1- Adeodé Geru Rekheru]
2
Cheikh Anta Diop, Nações negras e Cultura (Paris: Présence Africaine, 1954/1979).
1
civilização ou barbárie - uma autêntica antropologia (Cheikh Anta Diop)
3
N.d.T.: De Hermópolis, "Cidade de Hermes", ou seja, Local onde se cultuava Tehwty, chamado
originalmente de Khnm [Khanum], que é o termo usado para se referir ao número 8, o qual está
relacionado diretamente ao acrônimo dos 8 nTrw [entidades-forças da natureza] dos quais Diop
tratará adiante e ao qual os gregos renomearam de ogdóade.
4
N.d.T.: De Heliópolis, "Cidade de Hélio [Sol]", ou seja, Local onde se cultuava Atom-Rá, onde era
chamado originalmente de An [também nomeado como On, Anun, Iunu (o Pilar), Iunet Mehet (o Pilar
do Norte)].
5
N.d.T.: Local chamado originalmente de Hiku-Ptah | Hwt-Ka-Ptah ("Casa da 'alma' de Ptah" |
"Casa em que Ptah habita") , termo ao qual, provavelmente deu origem ao termo grego "Egipto". Em
algumas épocas Mênfis foi chamado de "Ankh-Tawy" ("a Vida das duas Terras"). Mênfis, segundo
alguns estudiosos, é um termo derivado de Men-nefer-Mará que se tornou, Men-nefer > Menti,
depois os gregos renomearam para Mênfis.
6
N.d.T.: De Tebas, também conhecido como Luxor, era o Local chamado originalmente de Waset |
Wast.
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civilização ou barbárie - uma autêntica antropologia (Cheikh Anta Diop)
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civilização ou barbárie - uma autêntica antropologia (Cheikh Anta Diop)
homens, não por mulheres; não há pessimismo, nem misoginia, típicos das
sociedades nômades arianas-semitas13.
Em conclusão, um componente idealista (ou espiritualista) é introduzido
na cosmogonia egípcia com o aparecimento do demiurgo Rá, e é a base para
os conceitos da escola idealista grega (Platão, Aristóteles).
Finalmente, um terceiro componente da cosmogonia egípcia está,
historicamente falando, na origem das religiões reveladas (a judaico-cristã em
particular).
De fato, Rá é, na história do pensamento religioso, o primeiro Deus,
autógeno (que não foi criado, que não tem pai nem mãe).
Por outro lado, Set, com ciúmes por ser estéril, mata seu irmão Osíris
(que simboliza a vegetação, desde a descoberta da agricultura até o período
neolítico). Este último ressuscita dos mortos para salvar a humanidade (da
fome!). Osíris é o deus da redenção.
Em todo caso, Osíris é o deus que, três mil anos antes de Cristo, morre
e ressuscita dos mortos para salvar os homens. Ele é o deus da redenção da
humanidade; ele sobe ao céu para sentar-se à direita de seu pai, o grande
deus, Rá. Ele é o filho de Deus. No Livro dos Mortos, diz-se mil e
quinhentos anos antes de Cristo: "Esta é a própria carne de Osíris". Dionísio,
a réplica de Osíris no norte do Mediterrâneo, dirá quinhentos anos antes de
Cristo: "Beba, este é o meu sangue; coma, esta é a minha carne". E pode-se
ver como a degradação desses tipos de crenças pode levar à noção do
feiticeiro que come14 gente na África Preta.
A cosmogonia egípcia também afirma: "Eu era um; tornei-me três";
essa noção de trindade permeia todo o pensamento religioso egípcio e é
encontrada novamente nas múltiplas tríades divinas como Osíris-Ísis-Hórus,
ou Rá, de manhã, ao meio-dia, à noite.
O termo "Cristo" não é uma raiz indo-européia. Veio da expressão
egípcia faraônica Kher sesheta: "aquele que vigia os mistérios", e foi
aplicada às divindades, Osíris, Anúbis15, etc. Foi aplicada a Jesus apenas no
século IV, por contaminação16 religiosa.
Um raio do céu desce sobre a novilha (símbolo de Hathor), que então
"gera" o deus Ápis17: sem qualquer dúvida possível, esta é a prefiguração da
imaculada concepção da Santíssima Virgem18.
13
Émile Amélineau, Prolêgomènes à l'étude de la religion égyptienne, op.cit.
14
Veja A sentença dos canibais, pp.183-184 [no original] neste texto.
15
N.d.T.: no mDw nTr original é Anpw | Inpw [Anpu, Inpu].
16
Wörterbuch der Aegyptischen Sprache, IV, (Berlim: Akademie Verlag, 1971), p.298.
17
N.d.T.: no mDw nTr original é Hipw | Hapw, Hapi [em cópta: Hape].
18
Veja Jacques Pirenne, op.cit.
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civilização ou barbárie - uma autêntica antropologia (Cheikh Anta Diop)
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N.d.T.: se o autor estiver se referenciando em Immanuel Kant, então o termo fenômeno,
a grosso modo, faz referência à aparência das coisas. Ou seja, da "coisa-em-si" ( o
ser-em-si, a essência, a identidade daquilo que é, o númeno) nada podemos saber, e
portanto dizer de modo indubitável, apodítico, nos restando apenas o fenômeno [a(s)
aparência(s)] das "coisas|seres" que percebemos no mundo.