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projeto
Quando Lina Bo Bardi e seu marido chegaram ao Brasil, a arquiteta ainda não havia
executado nenhum projeto. A Casa do Morumbi, como Lina chamava, foi sua
primeira obra concretizada, iniciada entre 1950 e 1951, foi moradia do casal por
mais de 40 anos. A casa é fruto de um sonho que virou realidade, um projeto que
marcou época e que, hoje, faz parte da história da arquitetura.
Foi considerada também um grande ponto de encontro entre artistas, arquitetos e
intelectuais amigos e colegas do casal. O lote foi um resultado da fazenda de Chá
Muller Carioba. A casa foi a oportunidade para materializar ideias que ela vinha
acumulando sobre arquitetura.
Condicionante legais
● Legislação Urbanística: As obras da casa iniciaram-se no meio de 1951, após a
obtenção da permissão da prefeitura para construção do projeto. Para ser
aprovado, ele foi submetido com a assinatura de Warchavchik no papel de
autor. Como estrangeira, Lina Bo Brandi só poderia, pelas leis de então,
assinar seus projetos no país, após passar por um longo processo
burocrático para revalidação do seu título ou pela naturalização, o que
aconteceria em 1953.
● Código de obras e edificações: Vidro e aço são as marcas da “Casa De Vidro”,
que assim ganhou uma leveza impressionante, parecendo estar flutuando
sobre o terreno, quando na verdade, é sustentada por estacas de aço
estrategicamente dispostas em uma modulação de quatro módulos de largura
por cinco de profundidade. Além disso, as amplas áreas envidraçadas e sem
paredes da “Casa De Vidro” promovem um duplo efeito: ao mesmo tempo
que permitem apreciar a beleza natural do entorno, por parte de quem se
encontra em seu interior, também ressaltam ainda mais o aspecto de uma
construção criada para não se sobrepor a paisagem, mas completá-la, sem
roubar características naturais.
Paredes inteiras de caixilhos de vidro em três das suas faces, apoiadas sobre
uma laje de concreto armado sustentada, por finos tubos de aço, como um
posto de observação. Sob este volume estão o jardim coberto, a escada de
acesso suspensa no ar e o caule de uma árvore que percorria os dois
pavimentos do edifício e aflorava em meio a sala, contornada por paredes de
vidro conformando um pátio interno de iluminação.
Condicionantes Projetuais
● Programa de necessidades:
A residência se divide em dois espaços, sendo um
deles área comum com bastante transparência no salão principal com o uso
de dois vidros e o outro espaço é destinado a áreas privadas, que são os
quartos, cozinha e área de serviço, onde o uso do vidro é reduzido.
Com a forma de U, ela subdivide-se em dois blocos paralelos, interligados
pelo volume de um trecho da longa cozinha, que Lina Bo Bardi equipou com
os mais modernos aparelhos pensando em seu marido, o qual sempre
adorou cozinhar. Estes blocos são, por sua vez, separados entre si por um
pátio aberto e acessível apenas por fora da casa. O primeiro bloco,
diretamente ligado à sala de estar, abriga os quartos de hóspedes e do casal,
os banheiros e o outro trecho da cozinha. O segundo bloco é aquele dos
quartos, banheiros, sala dos empregados e da lavanderia, cujas janelas não
se abrem para o pátio comum aos patrões. com exceção de duas fachadas
simétricas, aquela do quarto do casal, fechada por um painel de vidro, as
demais aberturas dessa parte da casa são tradicionais recortes na parede de
tijolos, aqueles que caracterizam os edifícios antes dos novos sistemas
construtivos utilizados pela arquitetura moderna.
Condicionantes Vegetais
● Área e forma do terreno: Foi a primeira casa do bairro do Morumbi, o que dava
a Lian uma abundante área de mais de 7000m para erguer a casas e plantar
um jardim, tombado na década de 1980, em seu entorno.
Uma das primeiras intenções de Lina foi conservar o perfil natural do terreno, muito
inclinado, o que influiu para que a frente da casa fosse construída sobre pilotis. A
partir de trás da residência ficou, por conseguinte, apoiada em muros de concreto
diretamente sobre o terreno. Esse aspecto maciço da porção posterior se contrapõe
com a leveza da porção sul e sua fachada principal, criando um rico diálogo entre
transparência e opacidade, natureza e construção, interior e exterior, que traz
novamente à mente os exemplos das primeiras casas corbusinerianas.
Uma parte da vegetação foi mantida, porém a maior parte do jardim foi revitalizada
pelo casal, que ao longo dos anos criou um projeto de paisagismo com trilhas e
recantos.
● Orientação solar: O salão principal tem uma marca muito forte da iluminação
natural e da integração com a vegetação do lado exterior da casa, trazendo
alguns conceitos da arquitetura biofílica. A iluminação durante o dia é
inteiramente natural e, durante a noite, vem de luzes no piso azul e de
luminárias nas paredes desenhadas pela própria Lina. Para completar, ela
coloca em sua sala de vidro móveis com pés azuis, para transmitir a ideia de
suspensão e leveza.
A luz entra arrebatadora pelas enormes janelas de vidro, se encontra o salão
principal da casa de vidro que ocupa toda extensão frontal do pavimento, que
era onde os Bardi recebiam os artistas e intelectuais.
● Ventilação: Lina preferiu não cobrir os extensos panos de vidro com brises,
seguindo os princípios corbusianos incorporados na arquitetura moderna
brasileira pela “escola caricoca”. A sala de estar envidraçada é logo após ao
final da construção protegida por cortinas que davam privacidade ao casal e
proteção do sol.
Com o tempo, este papel coube também às árvores que cresceram,
resfriaram o ambiente das casas e transformaram a sua relação com a
paisagem: não mais se via a cidade no horizonte e a cidade não mais via a
construção.