A Palavra de Deus (WG2)
A Palavra de Deus (WG2)
A Palavra de Deus (WG2)
A Palavra de Deus
Quais as diferentes formas da Palavra de Deus?
E x p l ic a ç ã o e b a s e b íb l ic a
Ç ^ue significa a frase “a Palavra de Deus”? Na verdade, há vários significados que
essa frase assume na Bíblia. Vale a pena distinguir claramente esses diferentes sentidos
no começo deste estudo.
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(2) A Doutrina da Palavra de Deus
Por isso, o salmista pode dizer: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua
boca, o exército deles” (SI 33.6).
Essas palavras poderosas e criadoras de Deus são freqüentemente chamadas decretos
de Deus. Decreto de Deus é uma palavra divina que faz algo acontecer. Esses decretos de
Deus incluem não só os eventos da criação original como também a existência contínua
de todas as coisas, pois Hebreus 1.3 nos diz que Cristo está o tempo todo “sustentando
todas as coisas pela palavra do seu poder”.
2. Palavras de Deus de aplicação pessoal. Deus às vezes se comunica com pessoas
sobre a terra falando diretamente a elas. Esses casos são exemplos de Palavra de Deus de
aplicação pessoal e encontram-se através das Escrituras. Bem no início da criação, Deus diz
a Adão: “E o S e n h o r Deus lhe deu essa ordem: De toda árvore do jardim comerás
livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no
dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16-17). Após o pecado de Adão e
Eva, Deus ainda vem e fala direta e pessoalmente a eles nas palavras de maldição (Gn
3.16-19). Outro exemplo proeminente de fala pessoal direta de Deus às pessoas sobre a
terra encontra-se na concessão dos Dez Mandamentos: “Então, falou Deus todas estas
palavras: Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
Não terás outros deuses diante de mim...” (Êx 20.1-3). No Novo Testamento, por ocasião
do batismo de Jesus, o Deus Pai falou com uma voz que veio dos céus, dizendo: “Este é
o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17).
Nesses e em vários outros casos em que Deus proferiu palavras de aplicação pessoal
especificamente a indivíduos, estava claro para os ouvintes que aquelas eram realmente
palavras de Deus: eles estavam ouvindo a voz do próprio Deus e, portanto, ouvindo
palavras que tinham autoridade divina absoluta e eram absolutamente fidedignas. Não
crer em qualquer uma dessas palavras ou desobedecer a elas significava não crer em Deus
ou desobedecer a ele e, portanto, cometer pecado.
Embora as palavras de Deus de aplicação pessoal sejam sempre vistas nas Escrituras
como palavras reais de Deus, são também palavras “humanas” no sentido de serem
proferidas em linguagem humana comum que pode ser compreendida imediatamente.
O fato de essas palavras serem expressas em linguagem humana não limita de modo
nenhum seu caráter divino nem sua autoridade: são inteiramente palavras de Deus,
proferidas pela voz do próprio Deus.
Alguns teólogos têm argumentado que uma vez que a linguagem humana é sempre
“imperfeita”, qualquer mensagem que Deus nos dirige por meio dela deve ser também
limitada em sua autoridade e veracidade. Mas essas passagens e muitas outras que
registram exemplos de palavras de Deus de aplicação pessoal para indivíduos não
apresentam nenhum indício de limitação de autoridade ou veracidade das palavras de
Deus proferidas em linguagem humana. E exatamente o oposto que é verdade, pois as
palavras sempre impõem aos ouvintes uma obrigação absoluta de crer nelas e de
obedecer plenamente a elas. Não dar crédito ou desobedecer a alguma parte delas
significa não dar crédito ou desobedecer ao próprio Deus.
3. Palavras de Deus comunicadas por lábios humanos. Com freqüência nas
Escrituras Deus levanta profetas para falar por meio deles. De novo, é evidente que
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(2) A Palavra de Deus
embora sejam palavras humanas, faladas em linguagem humana comum por seres
humanos comuns, sua autoridade e veracidade não sofrem nenhuma redução; ainda são
inteiramente palavras de Deus.
Em Deuteronômio 18, Deus diz a Moisés:
Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca
porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. De todo aquele
que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei
contas. Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que
eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será
morto (Dt 18.18-20).
Deus fez uma declaração semelhante ajeremias: “Depois, estendeu o S enho r a mão,
tocou-me na boca e o S enho r me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas palavrai' (Jr
1.9). Deus diz ajeremias: "... tudo quanto eu te mandar falarás” (Jr 1.7; veja também Êx
4.12; Nm 22.38; ISm 15.3, 18,23; lRs 20.36; 2Cr 20.20; 25.15-16; Is 30.12-14;Jr 6.10-12;
36.29-31; et al.). Qualquer pessoa que alegasse estar falando pelo Senhor, mas que não
tivesse recebido uma mensagem da parte dele era severamente punida (Ez 13.1-7; Dt
18.20-22).
Assim, as palavras de Deus comunicadas por lábios humanos eram consideradas tão
autorizadas e verdadeiras como as palavras de Deus de aplicação pessoal. Não havia
nenhuma redução de autoridade dessas palavras quando expressas por lábios humanos.
Não dar crédito ou desobedecer a qualquer uma delas significava não dar crédito ou
desobedecer ao próprio Deus.
4. Palavras de Deus em forma escrita (a Bíblia). Além das palavras de Deus em
forma de decreto, das palavras de Deus de aplicação pessoal e das palavras de Deus
comunicadas por lábios humanos, também encontramos nas Escrituras várias situações
em que as palavras de Deus são colocadas em forma escrita. O primeiro exemplo se
encontra no relato sobre a dádiva das duas tábuas de pedra em que foram escritos os Dez
Mandamentos: “E, tendo acabado de falar com ele no monte Sinai, deu a Moisés as duas
tábuas do Testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deuf (Êx 31.18). “As tábuas
eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas”
(Êx 32.16; 34.1, 28).
Além disso, Moisés também escreveu:
Esta lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca
da Aliança do S e n h o r, e a todos os anciãos de Israel. Ordenou-lhes Moisés,
dizendo: Ao fim de cada sete anos, [...] lerás esta lei diante de todo o Israel [...] para
que ouçam, e aprendam, e temam o S en h o r, v o ss o Deus, e cuidem de cumprir
todas as palavras desta lei; para que seus filhos que não a souberam ouçam e
aprendam a temer o S en h o r, vosso Deus... (Dt 31.9-13).
Esse livro que Moisés escreveu foi então depositado ao lado da arca da aliança:
“Tendo Moisés acabado de escrever, integralmente, as palavras desta lei num livro, deu ordem
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(2) A Doutrina da Palavra de Deus
aos levitas que levavam a arca da Aliança do S e n h o r, dizendo: Tomai este livro da lei e
ponde-o ao lado da arca da Aliança do S e n h o r, v o s s o Deus, para que ali esteja por
testemunha contra ti” (Dt 31.24-26).
Mais tarde, foram feitos acréscimos a esse livro das palavras de Deus: Josué escreveu estas
palavras no livro da lei de Deus (Js 24.26). Deus ordenou a Isaías: “Vai, pois, escreve isso
numa tabuinha perante eles, escreve-o num livro, para que fique registado para os dias
vindouros, para sempre, perpetuamente” (Is 30.8). Deus disse também a Jeremias: Escreve
num livro todas as palavras que eu disse” (Jr 30.2; cf. Jr 36.2-4, 27-31; 51.60). No Novo
Testamento, Jesus promete a seus discípulos que o Espírito Santo os faria lembrar das
palavras que ele, Jesus, havia-lhes falado (Jo 14.26; cf. 16.12-13). Paulo ousa dizer que as
palavras que estava escrevendo aos coríntios eram “mandamento do Senhor” (ICo 14.37;
cf. 2Pe 3.2).
Mais uma vez deve-se observar que essas palavras ainda são consideradas palavras
do próprio Deus, mesmo que sejam escritas em maior parte por seres humanos e sempre
em linguagem humana. Além disso, são absolutamente autorizadas e absolutamente
verdadeiras; desobedecer a elas ou não crer nelas é um sério pecado e atrai julgamento
de Deus (ICo 14.37; Jr 36.29-31).
Várias vantagens advêm das palavras de Deus em forma escrita. Em primeiro lugar,
há a preservação muito mais precisa das palavras de Deus para gerações seguintes. Depender
da memória e repetir tradição oral é um método muito menos confiável de preservação
dessas palavras através da história do que o seu registro por escrito (cf. Dt 31.12-13). Em
segundo lugar, a oportunidade para exame repetido das palavras escritas permite estudo
cuidadoso e discussão, que levam a melhor entendimento e obediência mais completa.
Em terceiro lugar, as palavras de Deus em forma escrita são acessíveis a muito mais pessoas
do que quando preservadas meramente por meio da memória e da repetição oral. Podem
ser examinadas a qualquer momento por qualquer pessoa, e o acesso a elas não se limita
àqueles que as memorizaram ou que podem estar presentes quando são recitadas. Dessa
forma, a confiabilidade, a eficácia e a acessibilidade da forma em que as palavras de Deus
são preservadas acentuam-se grandemente quando elas são escritas. Apesar disso, não há
nenhum indício de redução de sua autoridade ou veracidade.
N otas
1. Além das formas da Palavra de Deus acima, Deus se comunica com as pessoas mediante
diferentes tipos de “revelação geral” - isto é, revelação dada não apenas para algumas pessoas,
mas para todas as pessoas em geral. A revelação geral inclui tanto a revelação de Deus por meio
da natureza (veja Sl 19.1-6; At 14.17) como a revelação de Deus mediante a consciência interna
do certo e do errado no coração de todas as pessoas (Rm 2.15). Esses tipos de revelação divina
são não-verbais quanto à forma, e por isso não os incluí na lista das várias formas de Palavra
de Deus discutidas neste capítulo (veja no capítulo 7 uma discussão mais extensa sobre a
revelação geral).
2. Veja o capítulo 3, sobre o cânon das Escrituras, e a discussão sobre a natureza da
profecia cristã contemporânea na primeira parte do capítulo 53.
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