Universidade Federal Rural de Pernambuco Departamento de Tecnologia Rural Curso de Bacharelado em Gastronomia
Universidade Federal Rural de Pernambuco Departamento de Tecnologia Rural Curso de Bacharelado em Gastronomia
Universidade Federal Rural de Pernambuco Departamento de Tecnologia Rural Curso de Bacharelado em Gastronomia
Recife/PE
Janeiro 2019
Isabelle da Silva Correia
Recife/PE
Janeiro 2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE
Biblioteca Central, Recife-PE, Brasil
CDD 641.013
ISABELLE DA SILVA CORREIA
Data: _____/_____/_____
Resultado: __________
Banca Examinadora
________________________________________________________
Profº. MsC. Caio Monteiro Veríssimo
(Orientador)
________________________________________________________
Profª. MsC. Ana Carolina dos Santos Costa
(Examinadora)
________________________________________________________
Prof°. Dr. Leonardo Pereira de Siqueira
(Examinador)
Recife-PE
Janeiro/2019
À minha família.
AGRADECIMENTOS
Antes de tudo, agradeço a Deus e Nossa Senhora pela força e pelas pessoas
iluminadas que colocaram no meu caminho durante toda essa jornada.
Aos meus pais e toda minha família, pelo amor, pelo suporte diário e por serem
minhas cobaias em tantos testes de preparações. Mas principalmente à minha avó,
que sem saber foi minha primeira professora de gastronomia.
Ao meu orientador e amigo, o Profº MsC Caio Veríssimo, que vem me guiando
desde a monitoria, extensão e agora no estágio supervisionado, meu muito obrigado
pelos ensinamentos, pela confiança e pela inspiração.
A gastronomia evidencia-se como algo que vai muito além da fome biológica,
abrangendo também porquês culturais, sociais e ideológicos. Reconhecer isso é
essencial no estudo de ressurgimento de hábitos e tendências de consumo e de
produção de alimentos. Movimentos políticos como o Slow Food, surgido na Itália,
contrário à cadeia massificada de produção e de consumo de alimentos, notabilizam a
importância da produção artesanal. A revalorização de produtos artesanais e o
crescimento do público vegano tem levado estabelecimentos a apostar nesse nicho
mercadológico e nessa filosofia de consumo, e por vezes, uni-los em um só conceito.
O presente trabalho objetiva relatar a vivência no Estágio Supervisionado Obrigatório
realizado no Motche, um bistrô e padaria artesanal, focado no uso de orgânicos, na
panificação e confeitaria artesanais, e na fermentação natural. A coletânea de
preparos e de insumos presentes refletiu a riqueza técnica do estágio vivenciado.
1. APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 8
2. TERMO DE COMPROMISSO ..................................................................................... 10
3. CARACTERIZAÇÃO DO ESTÁGIO .......................................................................... 11
4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................................................................... 15
4.1 Panificação........................................................................................................... 15
4.2 Viennoiserie ......................................................................................................... 23
4.3 Confeitaria ............................................................................................................ 25
4.4 Outras atividades ................................................................................................ 29
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 30
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 31
APÊNDICES ......................................................................................................................... 33
1. APRESENTAÇÃO
Logo, o ato de comer tem cada vez mais se firmado como ato político, criando
novos mercados, onde é valorizada a origem e o processo de produção dos alimentos.
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espontânea e/ou pela inserção de pré-fermentos, e costumam resultar em pães de
aromas diferenciados, crostas crocantes, alvéolos bem desenvolvidos, além de um
envelhecimento retardado (APLEVICZ, 2014). Também são utilizados utensílios e
equipamentos específicos, como panos de linho, bannetons, fornos de superfície de
pedra, além de longas horas de fermentação e ingredientes orgânicos (GLEZER,
2000).
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2. TERMO DE COMPROMISSO
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3. CARACTERIZAÇÃO DO ESTÁGIO
a) Descrição do local
O salão é separado da cozinha por uma parede de vidro (Figuras 1 C e D), que
permite uma interação entre a equipe e os comensais, que em sua maioria têm uma
relação afetuosa principalmente com o chef e a cozinheira, e sentem-se “em casa”.
Essa relação tão próxima resulta em verdadeiras aulas de culinária quando o chef fala
um pouco de suas criações, completando a experiência gastronômica.
(A) (B)
(C) (D)
Figura 1 - Salão.
Fonte: Divulgação Motche.
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A área de produção é composta por uma cozinha, um preparo fechado e uma
câmara refrigerada, todos revestidos com azulejos brancos, visando facilitar a
higienização, conforme recomenda a RCD nº 216 de 2004 da ANVISA (BRASIL,
2004). A cozinha é equipada com um fogão industrial de oito bocas, uma grelha, três
fornos de lastro com superfície de pedra, um forno elétrico de convecção, uma
fermentadora, uma bancada refrigerada, duas bancadas em aço inox, um refrigerador,
um freezer, uma pia para higienização de utensílios e uma pia de mãos. O preparo
fechado é direcionado à panificação e à viennoiserie, possuindo uma laminadora de
massa (Imagem 2 A), uma masseira (Imagem 2 B), uma bancada, um refrigerador e
um armário fermentador (Imagem 2 C). Nesta mesma sala está também a despensa
diária.
(B) (C)
(A)
1: Higienização de
utensílios da cozinha e dos
comensais
2: Câmara refrigerada
3: Preparo fechado
(panificação / viennoiserie)
4: Cozinha
5: Balcão
6: Salão
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b) Período do estágio
c) Estrutura organizacional
Figura 4 - Funcionograma.
Fonte: Autoria própria.
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d) Histórico da Instituição
e) Atividades do Estabelecimento
f) Objetivos do estágio
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4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
4.1 Panificação
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As misturas dos pães eram preparadas na masseira, batendo-se no tempo e
na velocidade adequada à cada massa, a fim de obter a extensibilidade e a resistência
desejada, respeitando as variáveis como teor de glúten e percentual de hidratação. A
técnica mais utilizada para saber se as massas estavam bem desenvolvidas era o
“ponto de véu”: pegando-se uma pequena quantidade de massa entre as mãos e
esticando-a, caso forme-se uma fina e resistente camada semelhante a um véu, a
rede de glúten está bem desenvolvida (Figura 5 A). Logo a massa era transferida para
caixas de polietileno e realizavam-se quatro dobraduras (Figura 5 B). As dobras
objetivam conferir estrutura à massa e consistem em pegar uma porção da massa e
dobrá-la em direção ao outro lado, e repetindo isso quatro vezes, finalizando-a como
se fosse um envelope (GLEZER, 2000).
Figura 5 - (A) Ponto de véu (B) Execução de dobraduras (C) Bannetons e couches.
Fonte: Autoria própria.
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Antes de assar eles eram dispostos em uma esteira enfarinhada, e recebiam
ao menos um corte feito com uma lâmina bastante afiada, permitindo que o vapor saia
e o pão não tenha sua superfície rachada.
a) Pré-fermentos
17
(A) (B)
(D)
(C)
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grande quantidade de fermento, de modo que o sal objetiva retardar a fermentação.
Utilizava-se o scrapdough em parecia com o poolish no preparo do filão.
b) Pães
00 Superior, Biorgânica
Sourdough branco Levain branca, Biorgânica 75%
integral, T150
00 Superior, Biorgânica
Tortano Levain, poolish 62%
integral
Este é um pão leve e branco, cujo preparo requer farinhas que resistam ao alto
índice de hidratação. Aqui, pôde-se trabalhar com duas farinhas: a farinha italiana do
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tipo 00, indicada para preparo de pizzas e massas em geral, e com a sêmola italiana,
moída em moinho de pedra, que com o auxílio de pré-fermentos, suporta até 105% de
hidratação. Ambas conferiram uma resistência muito interessante à massa, mas a
semolina permitiu maiores índices de hidratação, além de conferir uma coloração
levemente amarelada ao pão, alvéolos mais desenvolvidos e um sabor diferenciado,
com notas sutis de oleaginosas. Robertson (2010) afirma que isso ocorre porque o alto
teor de proteína da semolina de trigo durum, permite que a massa receba maiores
quantidades de água. Depois de preparada, a massa fermentava a 6ºC por pelo
menos 24h, recebia o formato desejado, que podia ser da própria ciabatta ou da
focaccia (Figura 7 A e B). E era coccionada a 230°C em forno de superfície de pedra
por cerca de 25 minutos.
(A) (B)
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maior número de sais minerais e textura mais grossa. A combinação destas farinhas
com um levain forte, o tempo de fermentação e de descanso adequados resulta em
pães integrais cheios de textura, focados no cereal e com a presença levemente ácida
do levain. Sourdoughs com um tempo de fermentação superior a 48h apresentavam-
se mais ácidos e tinham os sabores do cereal mais pronunciados. Percebeu-se que
estas farinhas eram mais fracas em glúten, demandando percentuais menores de
hidratação, além de serem batidas por menos tempo. Resultando em um ponto de véu
menos evidente, e demandando mais observação e atenção no preparo da massa.
(A) (B)
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(A) (B)
(A) (B)
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primo impasto, como chamam os italianos, composta de levain, farinha branca forte e
açúcar, e no dia seguinte, o secondo impasto, que além do primo impasto recebia
ovos, açúcar, farinha, manteiga e ao fim, gotas de chocolate belga. A versão vegana
iniciava-se com uma esponja - fermento, farinha branca forte e água- que compunha à
massa junto à farinha branca forte, lecitina de soja, óleo vegetal, açúcar e água.
4.2 Viennoiserie
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(A) (B) (C)
Figura 12: (A) Croissants (B) Enrolado de canela (C) Pain au chocolate.
Fonte: Divulgação Motche.
O brioche de azeite (Figura 13), por sua vez, é composto por farinha de trigo
branca do tipo 00, fermento industrial e natural, açúcar, ovo, leite e quantidades
consideráveis de azeite. Segundo Robertson (2010), o brioche de fermentação natural
combina além dos ingredientes tradicionais, fermento natural e poolish. Apesar de ter
sido preparado o brioche tradicional, a versão com azeite é muito mais apreciada e
teve uma produção mais corriqueira. O brioche de azeite é originário do Sul da França,
onde encontra-se azeite em abundância muito maior que a manteiga (ROBERTSON,
2010).
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Figura 13 - Brioche de azeite.
Fonte: Divulgação Motche.
4.3 Confeitaria
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canela, sua confecção era feita em uma mistura única de ingredientes molhados e
secos. O bolo de maçã, inclusive era preparado com o levain da casa.
O bolo de morango com iogurte (Figura 14 B), também elaborado pelo método
anterior, tem o iogurte como diferencial, que confere mais umidade à massa, além de
um leve sabor ácido, ressaltando os morangos, que ao serem coccionados junto à
massa, adquirem uma textura semelhante a uma compota, porém ligeiramente doce.
(A) (B)
Figura 14: (A) Bolo de maçã (B) Bolo de morango com iogurte.
Fonte: Divulgação Motche.
Outro destaque é o brownie (Figura 15 A), classificado por Sebess (2010) como
uma massa batida de estrutura cremosa. Logo, seu preparo iniciava-se batendo-se
ovos com o açúcar, especificamente o açúcar mascavo, que devido à sua alta
higroscopicidade, característica definida por Araújo et. al (2016) como a capacidade de
um açúcar em absorver água, resultava em brownie de aspecto úmido, inclusive por
muito mais tempo. A esta mistura volumosa e cremosa, acrescentava-se o chocolate
derretido com a manteiga. Por fim, farinha de trigo e nibs de cacau, que conferiam
crocância e um sabor mais intenso. Coccionado, apresentava-se com a típica
casquinha crocante e o interior excessivamente cremoso.
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O bouchon (Figura 15 B), criação do chef americano Thomas Keller, é um
pequeno e denso bolo de chocolate, em formato semelhante a uma rolha de cortiça,
daí o seu nome (KELLER & ROUXEL, 2012). É uma sobremesa rica em cacau e gotas
de chocolate, resultando em um sabor intenso e marcante de chocolate.
(A) (B)
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(A) (B)
Figura 16 - (A) Bolo vegano de cacau (B) Bolo vegano de laranja e chocolate.
Fonte: Divulgação Motche.
Figura 17: (A) Waffle Vegano (B) Cookie tradicional (C) Cookie vegano de especiarias.
Fonte: Divulgação Motche.
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Os cookies tradicionais (Figura 17 B), de avelã, aveia e chocolate eram
preparados pelo método cremoso. Caracterizado pelo batimento de manteiga e
açúcar, com uma posterior adição de ovos e uma pequena quantidade de líquido e
finalizado com os secos e oleaginosas ou chocolate (GISSLEN, 2012). Já os veganos
(Figura 17 C) envolviam o método direto, designados como cookies indianos de
especiarias, tinham como elementos farinha de trigo, bicarbonato, açúcar, melaço,
leite de amêndoas e óleo vegetal. Ambos eram porcionados em unidades de 60g e
forneados a 170º por 14 minutos.
Além disso, no mínimo uma vez por semana era feita a higienização e
manutenção do preparo fechado, já os equipamentos e utensílios eram higienizados
diariamente, conforme estabelece a RDC 216 de 2004:
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO W.M.C. et. al. Alquimia dos alimentos. Brasília: Editora Senac - DF: 2016.
ANDREWS, G. The slow food story: Politics and pleasure. Pluto Press, 2008.
GLEZER, M. Artisan baking across America: The breads, the bakers, the best
recipes. 2000.
31
REINHART, P. Peter Reinhart's Artisan Breads Every Day: Fast and Easy Recipes
for World-class Breads. Random House Digital, Inc., 2009.
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APÊNDICES
APÊNDICE A – Classificação Francesa de Farinhas
33
APÊNDICE C – Fluxograma do Processo de Produção de Pães
Mistura de pré-
Fermentação Descanso Corte
fermento(s)
Mistura e sova
Pesagem Descanso Forneamento
da massa
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