Resumo M10

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Disfunção do desejo – parte 1

A definição de disfunção sexual de uma forma simples é que é um


bloqueio em uma das fases da resposta sexual humana que são desejo,
excitação, orgasmo e resolução, mas para estudar as disfunções nós usamos o
modelo trifásico – desejo, excitação e orgasmo.

Quando temos um bloqueio na fase do desejo nós temos as disfunções


sexuais do desejo ou da apetência sexual. O desejo acontece após um estímulo
que pode ser externo ou interno como, por exemplo, uma lembrança, uma
fantasia, um sonho, uma imagem, um cheiro... enfim, usando os cinco sentidos
para ativar o desejo.

A resposta sexual começa no desejo é a fase mais importante porque é


dela que surgem todas as outras.

As disfunções do desejo começam quando o indivíduo tem um estímulo


erótico apropriado porque os estímulos são diferentes para cada pessoa, até
mesmo para uma cultura, por exemplo, talvez algo que é um estímulo visual aqui
no nosso país, pode não ser no Oriente.

Bloqueio do desejo – após um estímulo erótico apropriado, tem um


bloqueio que não permite que esse desejo, essa apetência aconteça, com isso
a excitação e o orgasmo vão ficar prejudicados.

O comportamento sexual humano é composto por duas fases que


compões o ciclo da resposta sexual, tem a fase encoberta e a fase manifesta.

O desejo sexual é essa primeira fase, a encoberta, são as questões que


acontecem na mente, questões psicológicas.

Quando falamos de fatores manifestos é em relação ao que está acontecendo


no corpo, as manifestações corporais.

O ciclo da resposta sexual é um processo psicossomático, começa na


mente e se manifesta no corpo. As disfunções sexuais também são
psicossomáticas, aproximadamente apenas 30% das disfunções são causadas
por fatores orgânicos, fisiológicos, o restante são por questões psicológicas.

“A apetência sexual serve como pano de fundo para toda conduta sexual
manifesta. Ela não só determina o aparecimento dos comportamentos sexuais
reflexos, como dos desempenhos operantes, como por exemplo, a procura e
escolha da parceria, tipos de jogos sexuais, etc, os quais, em mesma cultura,
têm características comuns com as variações próprias de cada indivíduo, em
virtude da aprendizagem e do passado de cada um.”

O desejo sexual feminino é muito mais responsivo do que espontâneo,


claro que tem mulheres que sentem desejo pelo ato sexual por si só, mas a
maioria das mulheres tem como motivação para o sexo a intimidade, a ternura
que é o que vimos no ciclo circular da Rosemary Basson.

O desejo e a excitação são “sistemas operacionais” diferentes, eles estão


e vias totalmente diferentes. Em relação ao desejo sexual feminino, o espectro
é muito amplo e varia de mulheres que preferem o sexo genital àquelas cujo
único desejo é o contato não sexual, interessante que todos esses componentes
coexistem em saudável continuidade, vale assinalar que uma mulher climatérica
pode em determinado momento da vida estar movida por um grande desejo
sexual sem que os sinais de excitação em nível genitálico se manifestem, não
ocorre as manifestações fisiológicas, a lubrificação. Na menopáusica e na
mulher idosa o reflexo da lubrificação pode ser bloqueado pela distrofia vaginal,
em virtude da deficiência estrogênica. No homem um desejo sexual intenso pode
não se evidenciar na ereção do pênis se o reflexo erétil for inibido por um fator
orgânico ou psíquico.

“No indivíduo com integridade neurológica, os centros superiores controlam os


inferiores, ora inibindo, ora estimulando os comportamentos respondentes,
dentro de um processo de interação. Quando há algum problema no nível da
resposta manifesta, como por exemplo, uma ereção dolorosa, o fator aversivo
pode inibir a resposta apetitiva e o desejo sexual desaparecer. Por outro lado,
cosequência gratificante pode atuar como uma possante força que alimenta e
reforça o desejo erótico.”
Freud, na tentativa de encontrar na sua língua materna (alemão), uma
palavra que pudesse descrever o que é esse desejo sexual, encontrou a palavra
libido, mas libido não é somente o desejo sexual, ele mesmo foi ressignificando
essa palavra porque libido é a energia de vida, então, estamos falando da
sexualidade como um todo, que é essa energia que motiva o ser humano, que
faz com que permaneçamos inclusive vivos. Ele classifica a libido como a pulsão
de vida, não só como pulsão sexual, diz também que é tudo que tenha tendência
a ... a fazer algo, a buscar, a tendência, a motivação.

Cavalcanti e Cavalcanti ao invés de usar a palavra desejo, eles usam a


palavra apetência, que segundo eles traz uma abrangência ainda maior no
desejo sexual, não é apenas uma motivação simplesmente voltada para o desejo
mais também o apetite fisiologicamente essencial para o ser humano, assim
como a fome, a sede... o sexo passa a ser um apetite.

Na teoria da motivação essa palavra apetite está intimamente ligada à


palavra motivo/motivação, aquilo que motiva alguém a fazer algo. Segundo a
teoria da motivação, os determinantes da conduta (impulsos, motivos,
necessidades ou reforçadores) eles podem ser de dois tipos principais:
apetências e aversões.

Entre as apetências temos: as apetências primárias que são a fome, a


sede, o sono... que são originados de processos orgânico, de uma necessidade
fisiológica do indivíduo.

Apetências secundárias são aquelas aprendidas pelo indivíduo no meio


social em que ele vive, por isso que os autores trazem essa palavra apetite,
apetência, porque engloba esses significados tanto de questões psicológicas e
aprendidas no meio social em que vive quanto também necessidades fisiológicas
que o ser humano possui.

Então, a apetência é uma potencialidade biológica, todo indivíduo da


espécie humana nasce com a capacidade de ter apetência sexual diante de um
estímulo erótico eficaz. O grau de eficácia e a própria caracterização do que é
estímulo sexual das muitas variáveis culturais.
Aversão sexual é uma reação neurótica do tipo fóbico. Qualquer atividade
sexual, mesmo em pensamento, pode desencadear uma violenta ansiedade,
com respostas autonômicas intensas (sudorese profunda, náuseas, diarreias,
palpitações etc). É o componente fóbico que caracteriza e permite o diagnóstico
do quadro, o qual poderá estar ou não associado com um processo disfuncional.

A aversão sexual é mais comum em mulheres e normalmente é


secundária, com quadros voltados para a violência física, psicológica, sexual..

Cada pessoa tem uma potencialidade diferenciada, tem pessoas que tem
mais apetite sexual, menos apetite, mais desejo, menos desejo, só que
independente da “quantidade” de desejo, de apetite sexual que cada pessoa
tenha, esse desejo pode ser mais ou menos estimulado de acordo com a cultura,
a época em que a pessoa vive, o estilo de vida que cada um tem... o estímulo
entra como fator determinante no desejo sexual.

O desejo sexual humano é muito difícil de ser quantificado, então, na


maioria das vezes o desejo sexual está vinculado à quantidade de relações
sexuais ou a quantidade de vezes que essa pessoa busca ou se engaja em uma
atividade sexual ou de auto estímulo.

É bem complexo também avaliar quando uma disfunção passa para um


quadro psicopatológico, como por exemplo, as pessoas que tem um desejo mais
aumentado e as pessoas que tem a satiríase e a ninfomania, que trazem
prejuízos para a pessoa em qualquer área da vida seja na rotina, na relação com
a parceria, seja distanciamento social, ferimentos, machucados quando a
pessoa se masturba excessivamente, então, quando falamos do desejo
precisamos avaliar as questões de satisfação, de desconforto pscioemocional e
social que essa situação pode estar trazendo para o indivíduo.

Satiríase é um distúrbio psicossexual do homem, caracterizado por desejo


obsessivo e insaciável de prazer sexual. O indivíduo pode apresentar inúmeros
atos sexuais, com ejaculações repetidas, ereções contínuas, permanecendo
com a apetência erótica insatisfeita.

Ninfomania é o corresponde feminino da satiríase.


Existe também a variação para menos, desejo sexual hipoativo até chegar
ao psicopatológico também que é a aversão sexual. Quando se fala em
psicopatologia já entra a área da psiquiatria com medicação, tratamentos
específicos com psicoterapia e também com a terapia sexual para ajudar a
pessoa no seu comportamento sexual.

Disfunção do desejo – parte 2

• Segundo o CID 10 – Ausência ou perda do desejo sexual.


• DSM 5 – Transtorno do desejo sexual hipoativo masculino;

Transtorno do interesse/excitação sexual feminino.

Os quatro critérios que devem ser avaliados para diagnosticar uma


disfunção sexual:

• Critério A – devem ocorrer em 75% a 100% das vezes;


• Critério B – devem ocorrer há pelo menos 6 meses;
• Critério C – devem provocar sofrimento psíquico importante;
• Critério D – os sintomas não se devem principalmente a um transtorno
mental não sexual ou problema de relacionamento conjugal, uso de
substâncias, medicamentos ou outra condição médica.

O desejo sexual hipoativo no DSM 5 é conhecido como transtorno do


interesse é mais voltado para quanto uma pessoa se interessa pela atividade
sexual ou não.
Transtorno do interesse/excitação sexual feminino – deve haver pelo menos
três dos seguintes critérios, sintomas nos últimos 6 meses:

1. Redução ou ausência de interesse sexual;


2. Redução ou ausência de excitação/prazer sexual;
3. Redução ou ausência de iniciativa ou de receptividade sexual;
4. Redução ou ausência de fantasias ou pensamentos sexuais/eróticos;
5. Redução ou ausência das sensações genitais e não genitais.

O contexto interpessoal deve ser levado em conta nas avaliações do


transtorno do interesse/excitação sexual feminino, uma discrepância de
desejo em que a mulher sente menos desejo para a atividade sexual do que
o seu parceiro não é suficiente para o diagnóstico do transtorno de
interesse/excitação sexual feminino, é na verdade muito mais uma
inadequação do que uma disfunção ou transtorno. As disfunções estão mais
ligadas às questões fisiológicas e os transtornos ás questões psíquicas.

O DSM traz que o transtorno sexual hipoativo é definido como –


deficiência ou ausência de fantasias sexuais e do desejo de ter atividade
sexual, a perturbação deve causar acentuado sofrimento ou dificuldade
interpessoal.

Alosexual é uma pessoa que tem atração, que tem interesse, desejo,
apetite sexual.

Assexual é o oposto, a pessoa que não apresenta atração sexual ou se


apresenta é pouquíssima atração sexual e em circunstâncias muito
específicas.

A pessoa assexual pode se enquadrar em um espectro muito amplo de


orientação sexual temos, por exemplo, pessoas que são:

Estritas – não se relacionam nem afetivamente ou de forma romântica e nem


sexualmente, elas não incluem a relação interpessoal, nem romântica, nem
sexual com outra pessoa na sua rotina.
Demissexuais – só sentem algum nível de atração sexual por outra pessoa se
houver alguma ligação profunda, emocional primeiro, ligação afetiva, íntima,
intelectual muitas vezes, para que leve a pessoa a ter algum nível de atração
sexual, ou seja, a atração está ligada à atração afetiva.

Graysexual – raramente ou em pouquíssimas circunstâncias sentem atração e


desejo sexual.

Litosexual – é uma pessoa que te uma atração sexual “platônica”, ela não quer
ser correspondida, ela tem interesse, um desejo sexual por uma determinada
pessoa mais ela não quer ser correspondida e se ela for correspondida ela perde
o desejo sexual.

O desejo sexual hipoativo não pode ser confundido com a assexualidade


porque a pessoa assexual não inclui na sua rotina ou inclui pouquíssimo a
atividade sexual, principalmente o desejo, o apetite, o interesse sexual é
inexistente, quase inexistente ou só acontece em situações, contextos
específicos, por pessoas específicas, mas a pessoa está bem, não faz falta, está
levando a vida normal, não gera sofrimento psicoemocional, que é diferente do
desejo sexual hipoativo que dentro da classificação ocorre a perturbação, o
sofrimento ou a dificuldade relacional e intrapessoal que a pessoa apresenta.

Em relação à inadequação entre os pares, normalmente a pessoa que


tem uma disfunção do desejo sexual hipoativo ela apresenta sofrimento psíquico,
mas para a pessoa assexual o sofrimento dela vem por conta da parceria, a
parceria que quer que ela sinta prazer, que ela tenha orgasmo, é a parceria que
está preocupada com a situação, porque se ninguém reclamasse, procurasse
sexualmente, a pessoa que é assexual nunca traria isso a tona, porque ela relata
que desde o início da descoberta do corpo não teve interesse, então, ela vive
bem é uma pressão social de que tem que fazer sexo.

Cavalcanti e Cavalcanti quando falam de um desejo sexual hipoativo, eles


relacionam muito à vivências castrativas, principalmente no processo da primeira
infância quando existe a formação psicosexual do indivíduo, a pessoa foi
submetida a uma repressão sexual muito intensa ou a punição, foi configurada
a ter o que os autores chamam de castração psíquica, então, essa manifestação
primária deve ser olhada com muita cautela para diferenciar a pessoa que tem
um sofrimento psicoemocional e quer “resolver esse problema, essa dificuldade”,
daquela pessoa que tem isso primariamente, ao longo da vida mais que não
sofre, está tudo bem.

As causas do desejo sexual hipoativo podem ser por fatores orgânicos e


principalmente psicossociais.

Causas orgânicas – segundo Vitiello Rodrigues par o desejo sexual


aparecer é necessário várias combinações de fatores, por exemplo, integridade
anatômica e fisiológica, equilíbrio psicossocial e situações com potencial erótico,
estímulo apropriado, em geral descritas como um clima adequado.

De acordo com Ellen Kaplan o desejo sexual tem um substrato fisiológico,


fundamentalmente nos circuitos e núcleos cerebrais na parte mais primitiva do
cérebro, o sistema límbico. Se estes “permanecem inativos”, o indivíduo não
experimenta interesse sexual. Para o funcionamento adequado desses circuitos
sexuais do cérebro, necessita-se de um nível adequado de testosterona e de um
equilíbrio idôneo dos neurotransmissores serotonina, dopamina e das
catecolaminas.

Ainda em relação às causas orgânicas pode ser por:

• Distrofia miotônica;
• Anorquia congênita;
• Síndrome de Klinefelter;
• Síndrome de Prader Willi;
• Síndrome de Kallmann;
• Doenças agudas e crônicas;
• Hipogonadismo adquirido;
• Parkinsonismo;
• Hiper ou hipotireoidismo;
• Medicamentos como depressores, tranquilizantes, uso de álcool porque
ele é depressor do Sistema Nervoso Central.
Causas psicossociais – ocorre principalmente por ansiedade, estresse,
depressão e as questões diádicas, ou seja, da relação a dois.

Não só a relação do casal interfere muito na sexualidade mais também o


próprio ato sexual é reforço, então, essa inibição do desejo sexual pode estar
ligada ao ato sexual em si, seja por estímulos inadequados, seja pela não
recompensa, ou seja, se tem a gratificação pela qual a pessoa iniciou o ato
sexual faz com que vá perdendo o interesse, diminuindo o desejo. Às vezes nos
casos de inadequação, quando a pessoa não gosta como o ato em si acontece,
ela pode começar a preferir a masturbação do que o ato sexual e pode parecer
para um ou para outro que seja um desejo sexual hipoativo, mas como a maioria
dos casais não conversam sobre as questões, fica parecendo que a pessoa não
tem muito interesse sexual, mas na verdade ela está é tendo uma gratificação
por meio da masturbação.

A disfunção sexual da parceria também pode ser um processo inibidor de


desejo, como por exemplo, ejaculação precoce ou dor/desconforto durante o ato
sexual pode fazer com que haja um desinteresse pela atividade sexual.

Lo Picollo afirma, por exemplo, que os homens sentem pouco desejo


sexual porque:

1. Não aprenderam a perceber de forma adequada seus próprios níveis de


excitação sexual fisiológica, a percepção como sensação genital está
neles diminuída ou mal classificada;
2. Não aprenderam a facilitar a excitação em si mesmos;
3. Manejam um conjunto limitado de indícios para definir uma situação como
sexual;
4. Tem expectativas limitadas quanto a própria capacidade de excitação;
5. Não percebem a si mesmos como muito sexuais.

Masters e Johnson traz que vários fatores podem levar a inibição de


desejo sexual e principalmente os condicionamentos negativos, as alterações
dos aspectos físicos da parceria, as lutas de poder, os transtornos de
comunicação.

Outras causas psicossociais:


• Abuso, assédio sexual;
• Transtornos na relação como a rotinização da vida íntima;
• Conflitos de poder;
• Hostilidade manifesta ou encoberta;
• Casamentos mantidos por razões sociais;
• Estresse;
• Preocupações econômicas;
• Instabilidade no trabalho ou perda do emprego;
• Infidelidade;
• Ciúmes;
• Sentimento de culpa;
• Moral religiosa;
• Interesse por outras atividades como filhos, trabalho, estudos;
• Diminuição da atração física pela parceria
• Rejeição;
• Falta de parceria estável;
• Vínculos afetivos fracos, etc.

É muito comum quando o homem está com desejo sexual hipoativo a


mulher achar que está sendo traída, porque os homens sofrem com o mito de
homem está sempre pronto para o sexo , que sempre quer sexo, como se fosse
uma máquina, mas não é bem assim, e quando a parceria não tem problema no
desejo que continua ativo é comum a pessoa se sentir rejeitada e isso pode gerar
mais problemas na relação, podendo agravar o problema que já existe e levar a
outras disfunções sexuais e inclusive pode gerar algum bloqueio na parceria que
não apresentava nenhuma disfunção.

Disfunção do desejo – parte 3


Dentro dos critérios que usamos para o diagnóstico, é importantíssimo que esse
problema, essa situação gere desconforto, sofrimento psicoemocional, a pessoa
precisa entender que ela precisa de ajuda e ela precisa querer essa ajuda. É
importante que o indivíduo ou o casal que passa pelo problema, queira passar
pelo processo de terapia, então, o foco da terapia sexual é a vontade, o querer
do paciente.

Não é uma pessoa com uma disfunção é o casal disfuncional, trazer 50% de
responsabilidade para cada um, se aquela pessoa que chamamos de paciente
identificado, a pessoa que manifesta o sintoma, se ela não quer passar pelo
processo de terapia fica complicado trabalhar. Uma das estratégias é conversar
com a pessoa que tem menos resistência porque dentro da visão sistêmica a
mudança de um começa a gerar a mudança no outro.

Anamnese é uma entrevista, um exame subjetivo inicial que fazemos com os


nossos pacientes/clientes é importante que essa anamnese seja direcionada
para o problema que a pessoa está apresentando. Precisamos identificar a
pessoa, precisamos ter uma história da vida dela, da sua sexualidade, dos seus
relacionamentos, dos padrões do sistema familiar, para isso usamos o
genograma para ajudar a entender qual é o caminho terapêutico que vamos
seguir.

Normalmente a queixa principal que a pessoa vem trazendo não é o real


problema, por isso tem que diferenciar queixa de demanda. A queixa é a história
que o paciente vem contando e aí vamos investigando até chegar na causa ou
nas causas, então uma boa anamnese inicial é imprescindível para o tratamento
terapêutico.

“Se realizada uma boa anamnese, segundo o planejamento terapêutico


proposto, são raros os casos de total assexualidade. Mais cedo ou tarde,
encontramos o escape ou o despertar sexual, sexo que está dando certo, muitas
vezes, o ponto de partida da terapia específica. Mesmo que seja raro a
frequência, bastando haver a ocorrência. Não ter desejo sexual sempre é, antes
de tudo encarado como uma dívida quanto à masculinidade ou feminilidade. É
com grande frequência que encontramos como fator etiológico o sociocultural,
quando pressões destruidoras transformam o sexo em dever ou dívida. O medo
da dívida que não se possa pagar é enfrentado como um fracasso antecipado,
sendo a evitação a única saída. Na prática traduz-se como falta de desejo”.

Uma anamnese bem feita pode nos levar a entender que aquela pessoa não é
assexual, a diferença que nós precisamos fazer entre assexual e a pessoa
passar a evitar, se afastar do sexo devido a uma cobrança vai ser muitas vezes
a resposta.

As causas são variadas, cada pessoa traz um contexto e é isso que nós vamos
investigar, o autor traz que normalmente existe uma solução para a pessoa que
vem com a queixa de desejo sexual hipoativo ou de inapetência sexual, mas
também não podemos descartar a assexualidade.

É mais fácil investigar a insatisfação da pessoa, a adequação do casal para


entender se a pessoa realmente quer, ir diferenciando junto com a pessoa se ela
não tem interesse, se ela não quer ou se ela gostaria de ter. O desconforto e o
sofrimento psicoemocional é fundamental para junto com a pessoa entender se
ela tem uma disfunção ou se ela tem uma condição de assexualidade.

Os processos terapêuticos para os casos de inibição do desejo são mais


complicados quando é resultado de uma longa habituação, principalmente por
questões relacionais, quando já vem de longa data, os desafios são muito
maiores e nem sempre é possível encontrar a etiologia precisa do problema.

Em caso de inapetência sexual o primeiro grande passo é descartar as causas


orgânicas ou mesmo que haja causa orgânica é preciso a intervenção da terapia
porque as questões são psicogênicas ou que influenciaram de alguma forma na
relação.

Em pacientes do sexo masculino quando não tem nenhuma causa orgânica


evidente é muito interessante a dosagem de testosterona e caso o nível de
testosterona seja muito baixo ou próximo do nível mínimo é recomendado que
se faça o uso moderado de testosterona.
Quanto à dosagem de testosterona para as mulheres ainda está em estudo e
existe um consenso geral de que os métodos e a confiabilidade de quanto a
testosterona realmente afeta a sexualidade feminina ainda é um pouco duvidosa.
Na mulher é muito mais o relato que ela traz de sintomatologia clínica do que as
dosagens de testosterona.

Quando existe ansiedade é preciso entender quais são os níveis de ansiedade,


se com algumas técnicas de relaxamento, de respiração, meditação, pode ajudar
a pessoa ou se ela vai ter que fazer uso de alguma medicação para controlar a
ansiedade.

Descartadas as questões orgânicas, o segundo passo é entender se a disfunção


que está se apresentando é por conta de conflitos conjugais, porque se vem de
uma dinâmica disfuncional do casal é muito importante que o terapeuta sexual
ajude o casal. As tarefas da terapia sexual só podem ser implementadas depois
que os processos conflituosos entre o casal já tenham cessado ou pelo menos
diminuído a ponto de que seja possível o casal se abrir para as tarefas da terapia
sexual.

Muitas pessoas procuram a terapia sexual para salvar o casamento, colocando


no sexo a parte mais importante da convivência quando na verdade o que
precisa ser trabalhado são outras questões e depois se trabalha as técnica da
terapia sexual.

Outra coisa importante para o terapeuta sexual levar em consideração são as


diferenças de personalidade da parceria, questões de infidelidade se o contrato
emocional deles é a fidelidade e os ganhos secundários, porque tudo que nós
mantemos nos traz ganhos secundários é muito importante reconhecer o que
você ganha permanecendo nesse lugar, o que a disfunção sexual significa para
aquela pessoa. Então, é importante investigar isso também porque de repente
essa disfunção tem uma função de afastar o casal, de colocar a pessoa sempre
em um lugar de vítima naquela relação. A disfunção muitas vezes é só um
sintoma daquilo que a pessoa está recebendo de ganho secundário, ela sempre
vai manter a disfunção que ela tem ganhos secundários.
Disfunção do desejo – parte 4

Lo Picollo traz alguns elementos da terapia principalmente no que diz


repeito a disfunção sexual do desejo hipoativo masculino, é preciso entender
primeiro se o desejo sexual começa a baixar, permanece, persiste e traz
sofrimento vindo após uma outra disfunção, seja disfunção do orgasmo
(ejaculação precoce) ou o que vem antes da disfunção erétil, porque o homem
que tem a dificuldade de ereção ou tem a ejaculação precoce ou rápida, pode
também ter a queda do desejo sexual como resultado de algo que começou
primeiro, porque uma disfunção pode levar a outra, então, tem que entender se
há necessidade de tratar primeiro a outra disfunção e não exatamente começar
pela disfunção do desejo em si.

O que vai ser trabalhado na terapia sexual:

• Redução da ansiedade;
• Técnicas de dessensibilização sistemática;
• Educação sexual;
• Psicoeducação;
• Desconstrução de mitos para reconstrução de novas percepções mais
saudáveis da sexualidade;
• Trabalhar a resposta sexual o que é normal e o que não é, o que é real e
o que não é;
• Redução das exigências com relação à performance e realização;
• Desenvolvimento de habilidades relacionais principalmente o treino da
assertividade que é exatamente você ajudar a pessoa a se expressar de
forma efetiva e não violenta, ou seja, é preciso aprender a comunicar o
que quer sem agressividade mais também não se calar;
• Ajudar a manejar a raiva, o ressentimento, a culpa;
• Técnicas para ajudar o casal a resolver problemas, a colocar as coisas
com mais organização para que um ouça o outro, para que consigam
resolver seus conflitos;
• Trabalhar o medo à intimidade, a se abrir, a se entregar;
• Trabalhar o medo ao sexo oposto, medo da perda, da traição;
• Trabalhar a relação de dependência e codependência, o ciúme.

Técnicas corporais e técnicas focadas nas questões sexuais

• É preciso trabalhar técnicas de focalização sensorial, ou seja, o foco vai


ser nas sensações corporais e não na penetração em si, trabalhar os
cinco sentidos;
• Ajudar o casal a desenvolver um contexto erótico, um contexto apropriado
para a intimidade do casal;
• Aumento das experiências sexuais e sensuais, uso da fantasia sexual;
• Aumento do repertório de comportamento sexual;
• Criação de um ambiente sensual;
• Melhoria da afetividade e técnicas sexuais;
• Facilitação das respostas eróticas, comunicação verbal e não verbal
durante a atividade sexual;
• Ajudar o casal a investir na melhoria da auto imagem, da higiene, do
cuidado pessoal;
• Incentivar a autoestimulação, a masturbação seja o casal junto ou
separadamente para que eles consigam ir no movimento do
autoconhecimento, de autopercepção para descobrirem o que gosta, o
que não gosta, para depois falarem um para o outro.
• Indicação de vídeo, livro de conteúdo sensual, erótico.

O trabalho da terapia sexual visa minimizar os esteriótipos, então, é preciso


ter muita cautela para indicar conteúdo pornográfico, por mais que ele faça parte
do arsenal da terapia sexual é preciso ter cuidado, a pornografia da forma como
se apresenta vai ser mais prejudicial ao invés de trazer benefícios.
Masters e Johnson e kolodini, sugerem oito coisas imprescindíveis quanto à
questão do desejo sexual, é necessário:

1. Comunicar-se com clareza sobre sexualidade, o diálogo é uma das coisas


para aumentar o apetite sexual, falar, ouvir, ser exposto a um conteúdo
sexual;
2. Aprender a diferenciar entre um convite e uma exigência sexual, ajudar o
casal a procurar, a tomar iniciativa do contato, da intimidade, do carinho,
fora do interesse sexual, isso ajuda principalmente a mulher a ir
desvinculando à sensação de objetificação;
3. Viver as situações sexuais sem nenhum motivo pré-determinado, por
exemplo, algumas atividades que o casal começa na interação sexual
mais não precisa ter penetração;
4. Compreender a diferença entre rejeitar uma atividade sexual e rejeitar a
pessoa;
5. Transmitir com clareza que embora o sexo não lhe interesse naquele
momento, pode ser que interesse mais tarde;
6. Ampliar o repertório de comportamento sexual;
7. Utilizar fantasias sexuais;
8. Identificar os obstáculos que interferem na oportunidade sexual e propor
formas de tornar esses obstáculos conhecidos.

Então, tudo isso vem para reforçar a ideia que o desejo sexual vem após um
estímulo.

Uma técnica simples que já pode orientar na primeira sessão ou nas


primeiras sessões de acordo com o que for sentindo, a reação, a dificuldade, a
resistência do indivíduo ou casal, é a banhoterapia, o momento do banho vai
ser dedicado a um autoconhecimento, a um autocuidado, a um carinho que a
pessoa vai fazer nela mesma para aguçar as sensações, as emoções
relacionadas ao sexo, pode ser sozinha ou pode ser um momento do casal, para
se tocar, se acariciar... mais sem conotação sexual, é importante ir tirando o foco
da penetração, da relação sexual, porque o objetivo é ir pouco a pouco aguçando
o desejo, é importante que a pessoa relaxe.
Orientar a pessoa a sair do banho e ir para a cama, coloque uma toalha na
cama e com o corpo ainda molhado deitar em posição fetal, quando vai para a
posição fetal ela pode entrar em contato com muitas questões interiores e
quando é o casal melhor ainda, porque vai deitar segurando, abraçando o outro
na posição fetal, mudando de lado para que os dois participem, isso é bom para
conectar o casal, respirar o cheiro um do outro, sentir a pele, o toque, tudo isso
vai acendendo o desejo sexual. Tem casais que já vão para o sexo, mas é
importante dizer que o objetivo deles não é o sexo, a questão é a reconexão e ir
pouco a pouco reacendendo essa chama.

Terminado o exercício do banho, da conexão, pode passar para um segundo


exercício que é a técnica do espelho, essa técnica consiste na pessoa se despir
e olhar para o seu corpo de frente, de perfil, de costas, as pessoas não param
para se olhar, par dar atenção par si mesmas e para o próprio corpo. Orientar a
olhar para cada parte do seu corpo, veja o que gosta, o que não gosta, o que
gostaria de mudar, o que não pode ser mudado, se consegue se aceitar do jeito
que é, se atentar aos pensamentos, as sensações corporais, ao que vai sentir.
Pedir a pessoa para fechar os olhos e imaginar quem são as pessoas que estão
olhando para ela e julgando, e aí já entra com a atividade das vozes familiares,
se tivesse alguém aí de frente pra você, te julgando, te condenando, quem seria
essa pessoa (pai, mãe, abusador, pastor, padre...) e aí pergunta qual é a voz, o
que ela te fala (você é feia, isso desagrada à Deus, é pecado, você é inadequada,
você é um fracassado...), essa atividade muitas vezes vem com um turbilhão de
emoções para a pessoa ou para o casal.

Para as pessoas que tem dificuldade com a própria imagem, deve-se fazer
uma dessensibilização sistemática, começa olhando para os pés, as mãos, as
pernas, depois os braços, os seios... depois para o corpo todo.

Junto com a técnica do espelho pode unir o relaxamento, o relaxamento geral


de Jacobson, processos de respiração, propor uma meditação guiada, é muito
importante a pessoa relaxar, acalmar, para que ela consiga entrar em contato
com ela mesma.

Em um outro momento fazer a técnica do espelho focada na genitália,


nesse momento entrar em contato com a vulva, com o pênis, olhar, conversar,
perguntar como se sente, porque está tão quietinha(o), o que acontece durante
a relação sexual, se sente medo, porque se desanima,... vá dando toquinhos
suaves e conversando. Através do processo de dessensibilização, de acordo
com a abertura do paciente vai introduzindo o toque, a autoestimulação, a
autopercepção, conforme o interesse da pessoa vai crescendo, pode pedir para
introduzir fantasias, imaginar situações agradáveis, estímulos apropriados, o
orgasmo não é o objetivo final e sim o desenvolvimento do autoconhecimento e
da autopercepção. Se for feito em casal podem trocar fantasias, fazerem juntos
a estimulação, trazendo para o diálogo contextos, personagens, fantasias
sexuais, etc.

Quando estamos tratando com alguém que em algum momento nós vamos
questionar, levantar a possibilidade da assexualidade é preciso ter em mente
que uma pessoa que é assexual nunca vai passar a ser alosexual, no sentido de
querer sexo, mas pequenos interesses é possível surgir.

Resumindo, disfunção do desejo precisa de estímulo, então, é preciso


começar a estimular através dos cinco sentidos, começar a introduzir técnicas
de estimulação da visão (p. ex. decorar o ambiente onde vai acontecer a
atividade sexual, investir em uma lingerie bacana, tanto a mulher quanto o
homem, podem ver um filme erótico,...), do olfato (pode colocar velas ou um
difusor aromático, negociar o tipo de cheiro de forma que agrade os dois,...), da
audição ( criar uma play list que agrade aos dois, podem fazer isso juntos, falar
coisas que agradem um ao outro durante a relação sexual, podem ouvir um conto
erótico, ...), do paladar ( podem tomar um champanhe, um vinho, podem
escolher petiscos que agradem ao paladar dos dois, ...) e do tato (a pele é o
maior órgão erógeno do nosso corpo pode ser explorado com massagens ,
podendo brincar com o quente, o frio, texturas diferentes, ...).

Tudo isso são formas de fazer a pessoa ou o casal se despertarem para o


sexo, começarem a pensar em sexo e com isso despertar o apetite, o desejo
sexual.

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