A EJA Como Farsa As Novas Diretrizes Ope
A EJA Como Farsa As Novas Diretrizes Ope
A EJA Como Farsa As Novas Diretrizes Ope
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de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
do MEC (SECADI/MEC), que se dedicava a alavancar várias
modalidades da educação longamente desprezadas: indígenas,
quilombolas, educação especial e EJA.
No caso da EJA, o fechamento da SECADI não se traduziu na
formação de uma nova equipe ou diretoria que ficasse
encarregada da modalidade. Foi criada apenas a Secretaria de
Alfabetização, que deveria formular políticas no campo da
alfabetização incluindo-se aí também os adultos.
O governo federal não retomou as políticas de livros didáticos
para EJA (PNLD-EJA) e tratou de anular o Programa Brasileiro de
Alfabetização (PBA). Na história da República, pelo menos
desde a década de 1930, o Brasil teve várias campanhas de
alfabetização promovidas pelo governo federal. Neste governo,
entretanto, o programa, que chegou a ter 1,5 milhões de
pessoas em processo de alfabetização, desapareceu. Não há
dados, investimento e nem mesmo qualquer discurso que faça
referência a isso.
A única política para educação de jovens que ganhou fôlego
nesse período foi o Exame Nacional de Certificação de
Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA). Na edição de
2014, o Encceja teve 1,1 milhões de inscritos. Em 2018 tivemos
2,9 milhões de inscrições. Esta enorme ampliação talvez possa
ser explicada pela própria dificuldade de muitos jovens e
adultos frequentarem a escola em um país cada vez mais
desigual e excludente, optando por realizar um exame para
tentar alavancar sua formação e construir novas oportunidades
pessoais e profissionais. Pode ser também um reflexo do
processo crescente de precarização da EJA, com a inexistência
de políticas indutivas por parte do governo federal e a redução
da oferta em estados e municípios que se veem cada vez mais
desobrigados de ofertar a modalidade, ainda que seja garantida
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como direito pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB).
Chama atenção ainda a ampliação do percentual de aprovados
no exame. Em 2019, 75% dos candidatos foram aprovados no
Encceja. Em Ciências da Natureza 97% dos candidatos foram
aprovados e 93% dos candidatos em Ciências Humanas. Em
2010, daqueles que solicitaram a certificação para o ensino
médio, apenas 34% obtiveram sucesso. Em 2013, apenas 13,4%,
sendo que neste período a certificação para o ensino médio
ocorria por meio do ENEM. Em 2010, no Encceja para o Ensino
Fundamental, 51% dos candidatos conseguiram a certificação.
Isto sugere que vem ocorrendo também um processo de
facilitação para a certificação que precisaria ser investigado com
base em uma análise pedagógica das provas.
A situação se agravaria ainda mais com o início da pandemia do
coronavírus em março de 2020, com a suspensão das aulas
presenciais. Sem acesso às tecnologias necessárias para
frequentar aulas online e tendo de enfrentar condições de vida
ainda mais adversas no contexto da pandemia, muitos
educandos da EJA ficaram exilados da escola e impossibilitados
de ter acesso às propostas de trabalho.
Sabe-se que inevitavelmente a redução das matrículas será
ainda maior em 2021, embora, até este momento, não se tenha
dados oficiais divulgados. Esta perspectiva se fortalece com a
inação do governo federal, que deliberadamente não buscou
criar iniciativas que reduzissem os efeitos danosos da pandemia.
No que se refere aos governos estaduais, não se criaram
medidas para que os estudantes da EJA pudessem pelo menos
ter acesso à internet para manter maior proximidade com a
escola e os educadores.
Diante desse contexto desastroso para a educação de jovens e
adultos, em um país em que mais da metade dos brasileiros não
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concluíram a educação básica e que apresenta o maior número
de analfabetos absolutos da América Latina e mantém,
conforme o INAF 2018, um terço de sua população como
analfabeta funcional, assistimos em 2021 a mais uma medida
que só pode ser compreendia como farsa que supostamente
redimiria a EJA da sua marginalidade nas políticas públicas.
Refiro-me à aprovação Resolução nº 01/2021, que institui novas
Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos
(EJA). O documento tem por objetivo central produzir um
alinhamento da EJA em relação à BNCC. Para Mauro Rabelo,
secretario da educação básica do MEC: “as Diretrizes
representam um marco para a Educação de Jovens e Adultos e
a partir delas vamos avançar com iniciativas que reforcem sua
implementação" e para Suely Menezes, presidente da Câmara
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, a
Resolução contribuiria para “uma sociedade mais justa,
democrática e plural, já que mesmo com a homologação da
Resolução, as diretrizes nacionais da modalidade continuam
assegurando os direitos já consagrados ao alunado que não
conseguiu usufruir dos direitos de aprendizagem propostos
pela educação básica na idade certa”.
Tal empolgação do secretário e da conselheira não se justificam
quando examinamos o conteúdo da Resolução. Logo no artigo
1º define-se que:
Esta Resolução institui Diretrizes Operacionais para a
Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos
relativos:
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serão nosso objeto de análise aqui:
II – à Política Nacional de Alfabetização (PNA);
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como das competências gerais e as competências/
habilidades relacionadas à Língua Portuguesa,
Matemática e Inclusão Digital. (Art. 13.)
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modalidade, podendo ficar encostados em um canto da
escola.
Outros aspectos da Resolução merecem ainda ser
problematizados, como o artigo 30 que estabelece a
inclusão da EJA no Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica para avaliar a qualidade do processo
educativo. De um lado, parece positivo a política pública
incluir a EJA em políticas de investimento em formação,
valorização da carreira e infraestrutura. Por outro lado, cria
parâmetros de avaliação que apenas vão colocar a EJA em
patamares inferiores em termos de resultados, pois não se
pode avaliar programas específicos com as mesmas lentes
de um outro destinado a outro público.
Há ainda a regulamentação da EJA no formato EAD, sendo
permitida 80% de sua carga horária à distância. A pandemia
mostrou que para alguns dos sujeitos da EJA, um curso
parcialmente EAD pode fazer sentido, uma vez que tem
pouca disponibilidade em grandes centros urbanos para
estar presencialmente na escola 20 horas por semana
considerando as dificuldades de transporte, a longa jornada
de trabalho e os cuidados com a família. Mas também seria
necessário indicar a necessidade de criar documento
orientador específico que estabelecesse regras e limites para
este formato para a EJA, evitando que a oferta presencial
possa ser drasticamente reduzida por redes públicas como
forma de barateamento da modalidade com a
implementação do formato EAD.
Por último, causa alguma estranheza o esforço declaratório
do artigo 33 que, de forma gratuita, enaltece o papel
relevante da iniciativa privada da modalidade sem nada
propor efetivamente.
As instituições escolares do ensino privado poderão
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ser importantes ofertantes da EJA em todo o país, no
exercício de autonomia de seu PPP, como
modalidade que promove o resgate do tempo e das
oportunidades educacionais não assegurados na
idade certa.
Referências
BRASIL. Conselho Nacional de Educação (CNE). Resolução n.
01/2021 DE 25 de maio de 2021. Diretrizes Operacionais para
a Educação de Jovens e Adultos. Disponível em: <
https://www.gov.br/mec/pt-
br/media/acesso_informacacao/pdf/DiretrizesEJA.pdf>.
Acesso em 25 mai. 2021.
CATELLI Jr. Roberto. O não-lugar da Educação de Jovens e
Adultos na BNCC. In: CATELLI jr.; CÁSSIO, Fernando. A
educação é a base? 23 autores discutem a BNCC. São Paulo:
Ação Educativa, 2019.
Ministério da Educação. MEC homologa Resolução que
institui diretrizes operacionais para a EJA, 28 mai. 2021.
Disponível em: < https://www.gov.br/mec/pt-
br/assuntos/noticias/mec-homologa-resolucao-que-
institui-diretrizes-operacionais-para-a-eja>. . Acesso em 25
mai. 2021.
OLIVEIRA, Marta KHOL de. Ciclos de vida: algumas questões
sobre a psicologia do adulto. Educação e Pesquisa, São
Paulo, v.30, n.2, p. 211-229, maio/ago.2004.