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Desde quando começou sua carreira acadêmica, Norman Fairclough fez significativas e várias
contribuições para o que se pode chamar de Critical Discourse Analysis (CDA), em português
traduzido por Análise de Discurso Crítica (ADC) 2. Três de suas obras são consideradas chaves para
entender o processo de evolução de sua proposta de ADC (RAMALHO; RESENDE, 2011;
RESENDE; RAMALHO, 2011): Discourse and social change, publicado em 1992, Discourse in late
modernity, publicado em 1999, e Analysing Discourse, publicado em 2003. Sua obra, entretanto, não
para em 2003, tendo o inglês publicado diversos artigos e livros, além de ter publicado reedições. A
obra Political discourse analysis: a method for advanced students, que não tem tradução ao português
ainda, é um desses livros, com um estudo de aprofundamento, na qual o coautor e a coautora buscam
aprofundar e propor uma metodologia de ADC aplicada ao estudo da argumentação. Sugiro, para o
seu título em português, “Análise de discurso político: um método para estudantes avançados”3.
A coautora desse livro, por sua vez, atua na University of Central Lancashire (UCLAN), após
ter atuado na Universidade de Bucareste e na Universidade de Lancaster. Isabela Fairclough tem
diversos estudos ligados à argumentação, tendo publicado, em 2006, os livros Argumentation,
Dialogue and Ethical Perspective in the Essays of H.-R. Patapievici e Discourse Analysis and
Argumentation Theory: Analytical Frameworks and Applications além de vários artigos, capítulos
de livros e apresentação de conferências em eventos acadêmicos com os temas de ADC e
argumentação.
Passando ao livro, um dos pontos cruciais do “Análise de discurso político” é a noção do que
é político e da posição que a autora e o autor tomam. De fato, apontam que
1
Graduado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru – FAFICA, especialista em Linguística
Aplicada a Práticas Discursivas pela Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE, mestre em Linguística pelo Programa
de Pós-Graduação em Linguística – PPGL da Universidade de Brasília – UnB e doutorando em Linguística pelo mesmo
programa e universidade. Atua em pesquisas balizadas pela Análise de Discurso Crítica e pela Linguística Sistêmico-
Funcional junto ao Núcleo de Estudos em Linguagem e Sociedade (NEliS/CEAM/UnB).
2
Há outra forma de tradução corrente na academia brasileira para Critical Discourse Analisys: esta seria Análise Crítica
de Discurso (ACD). Opto por ADC valendo-me das colocações de Magalhães (2005), nas quais propõe que a
denominação Análise de Discurso Crítica serviria para diferenciá-la da área denominada Análise de Discurso
(Francesa), que está instaurada no Brasil há mais tempo. Acrescentar um “Crítica” ao final serviria para diferenciar uma
tradição da outra.
3
Tanto esta quanto as demais traduções apresentadas nesta resenha de títulos ou de trechos da obra são traduções livres
feitas por mim.
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o livro se ancora numa visão de política na qual a deliberação, decisão e ação são
conceitos cruciais: política é sobre chegar cooperativamente em decisões sobre o que
fazer nos contextos de desacordo, conflito de interesses e valores, desigualdades de
poder, incertezas e risco (FAIRCLOUGH; FAIRCLOUGH, 2012, p. 1).
Os objetivos do livro colocados pela autora e pelo autor são: fazer uma observação e análise
do discurso político como primariamente argumentativo; observar o caráter e a estrutura da
argumentação prática e desenvolver o arcabouço de análise e avaliação, levando em conta a natureza
da política de acordo com o colocado pela teoria política; integrar a análise argumentativa prática
baseada em uma versão de análise de discurso crítica redefinida e expandida para a argumentação;
aplicar essa proposta na análise e avaliação do discursos político voltado às respostas políticas à crise
financeira e econômica para, por fim, conseguir “prover um modelo de análise que seja
suficientemente compreensivo, sistemático e claro a ser adquirido e aplicado por estudantes e
analistas de discurso político” (FAIRCLOUGH; FAIRCLOUGH, 2012, p. 11).
Esses objetivos são alcançados em seis capítulos, que podem ser divididos em duas partes
diferentes: a primeira metade do livro, composta pelos capítulos de 1 a 3, introduz a nova abordagem
para a análise e avaliação de argumentos práticos; a segunda metade, com os capítulos de 4 a 6, por
sua vez, explora como essa abordagem pode ser aplicada, apresentando uma série de exemplos como
relatórios governamentais, debates parlamentares, discursos políticos e fóruns de discussões em
questões políticas no espaço virtual, tendo como tema a resposta política à crise financeira.
Explorando agora essa primeira metade, o primeiro capítulo, “Análise de discurso político e
a natureza da política”, apresenta conceitos de política e os integra à análise de discurso. Esta obra
toma contribuições de Van Dijk do que é Political Discourse Analysis (PDA), ou Análise do Discurso
Político (ADP), e também adotam sua
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democracia. O capítulo termina dizendo que seu principal objetivo é estabelecer a base de
desenvolvimento de uma nova abordagem para a ADP.
O segundo capítulo segue nesse construir de uma abordagem. Ele é intitulado “Raciocínio
prático: uma estrutura para análise e avaliação” e apresenta um “conceito original da estrutura e
avaliação do raciocínio prático, a partir de pontos existentes na teoria da argumentação e da filosofia”
(FAIRCLOUGH; FAIRCLOUGH, 2012, p. 15). O capítulo anuncia em seu início que apresentará o
arcabouço analítico usado no livro: o entrelaçar entre a teoria da argumentação e a ADC. A partir daí
o capítulo apresenta o raciocínio prático (relacionado ao que fazer) e o teórico (relacionado ao que se
é), bem como os tipos de argumentação, com conceitos advindos da tradição dos estudos
argumentativos. A partir da página 39 é apresentada a “proposta de análise da estrutura do raciocínio
prático”. Essa apresentação é materializada de maneira gráfica na página 45, quando é apresentada,
em forma de diagrama, a proposta em si resumida; na página 48, no diagrama “estrutura de raciocínio
prático: uma representação mais detalhada”; na página 51, no diagrama “deliberação: argumento e
contra-argumento”. A partir da página 62, por sua vez, apresenta a “proposta de avaliação do
raciocínio prático” a partir da discussão de abordagens filosóficas ao que conceituaram como
raciocínio prático.
Vale ressaltar, a partir de uma observação mais atenta e guiado pela tradição que gerou a ADC
faircloughiana, um diálogo constante com categorias inspiradas na Linguística Sistêmico-Funcional,
além de claras inspirações em outras obras de Norman Fairclough. Este capítulo segundo, de fato, é
o coração da obra. O pulsar dele, entretanto, segue para o terceiro capítulo, que é intitulado “Análise
de discursos crítica e análise da argumentação”, no qual é apresentada
uma abordagem para a ADC e discutida sua relação com a ciência social crítica e as
formas de crítica associadas com ela, discutindo, então, como a análise e a avaliação
dos argumentos como foram apresentados no capítulo 2 podem aumentar a
capacidade da ADC perseguir seu objetivo de estender a crítica discursiva
(FAIRCLOUGH; FAIRCLOUGH, 2012, p. 16)
A autora e o autor apresentam, de fato, o conceito de ciência social crítica para, na sequência,
apresentar a ADC e seu arcabouço, passando desde o conceito de discurso até a trama da abordagem
crítico discursiva. Fairclough e Fairlclough (2012) resgatam conceitos já apresentados em obras como
Chouliaraki e Fairclough (1999), aqui sendo clara a influência de autores como Bhaskar, em seu
realismo crítico, Bourdieu e outros pensadores que ajudam a tecer a ADC faircloughiana.
Para esse capítulo são utilizados os discursos do primeiro ministro britânico Tony Blair, que
já foram analisados em outra obra de Norman Fairclough (2000). Neste capítulo a autora e o autor
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REFERÊNCIAS
CHOULIARAKI, L.; FAIRCLOUGH, N. Discourse in Late Modernity. 1. ed. Edinburg: Edinburg
University Press, 1999.
FAIRCLOUGH, N. Analysing discourse: textual analysis for social research. London and New
York: Routledge, 2003.
MAGALHÃES, I. Introdução: a análise de discurso crítica. DELTA, v. 21, spe, p. 1–9, 2005.
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P. 243– 243 Emmanuel Henrique Souza Rodrigues
RESENDE, V. DE M.; RAMALHO, V. Análise do discurso crítica. 2. ed. São Paulo: Contexto,
2011.
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