TEXTO 03 - Modernidade e Pós-Modernidade PDF
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MÓDULO 2
MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE
AUTORIA
Professores:
Claudia Murta e Fernando Pessoa
Alunos:
Alcinei Rocha; Anancir Burkhardt; Erick Morgan; Lino Pedroni Jr.; Olímpio Gavi;
Osmar Schultz; Ricardo Miranda; Vitor Cei Santos
A partir da ciência moderna, o homem se torna máquina, tanto em sua ação social,
quanto em sua ação particular. A ciência nos levou ao conhecimento da técnica e
assim – ainda que, para com esta, tenhamos nos submetido aos seus ditames – tivemos
condições para nos lançarmos em aventuras no macro e no microcosmo.
Há a prevalência da técnica concebida pelo homem sobre o próprio homem. A
crítica contemporânea tem como enfoque a matematização do conhecimento como
afastamento do homem da sua essência humana, a ponto de o homem se deixar dominar
pela sua própria invenção.
Desde o período pós-guerra (segunda guerra mundial), há o domínio do mercado
sobre toda a humanidade. Pode-se levar em conta que o capitalismo faz parte também
do advento científico e que o mercado é o principal meio de circulação do comércio.
O homem mantendo a fé em uma ciência imediatista, que lhe traz comodidades e
soluções dinâmicas para problemas antes insolúveis, tem dificuldade de abrir mão de
tais conquistas.
Segundo o filósofo Martin Heidegger (1889-1976), o utilitarismo exacerbado da
modernidade converte em destino o acontecimento de que o mundo supra-sensível,
as idéias, Deus, a lei moral e a civilização, perdem sua força construtiva e se anulam.
O homem assume a postura de detentor dos conhecimentos para a produção de
tecnologias. Esse fato é acompanhado por um esquecimento do sagrado, tendo, como
conseqüência, a implantação do divino no próprio homem. O homem passa a ocupar o
lugar de Deus. Não existe mais ética, nem moral. Não existe mais o ser nas produções e
nas concepções do homem.
A pós-modernidade, como período que sofre as conseqüências dos construtos teóricos
e práticos da modernidade, não consegue diferir muito desta, se apresentando somente
como uma modernidade de cara nova, mantendo o sujeito no esquecimento. Detêm-
se o saber e o poder, mas não o porquê da aplicação dos saberes. É possível se fazer um
homem novo, mas para quê? É esse o referido utilitarismo exacerbado: as coisas são
feitas puramente pela sua utilidade, sem que haja uma reflexão a respeito do sujeito
nesse contexto. Os objetos são criados e o sujeito não tem mais importância – daí todas
as catástrofes e guerras às quais estamos tão acostumados na contemporaneidade.
“Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos!” 1 – essa frase de Nietzsche
é comumente apontada como a causa da morte de Deus, enquanto que, na verdade, ela
1
NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. Trad. P. C. de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Aforismo 125.
O século XX
O século XX tem a marca do triunfo do capitalismo e do mercado mundial. É a
vitória da economia em todos os sentidos do termo: o capital, como economia das
paixões sem razão do pensamento. É o século liberal.
Para pensar...
3
SHELLEY, M. Frankenstein. Porto Alegre: L&PM, 1997. p.50-56.
4
Id. Frankenstein. Porto Alegre:L&PM,1997.
5
ALEMAN LAVIGNE, J. & LARRIERA SANCHES, S. El inconsciente : existencia y diferencia
sexual. Síntesis : Madrid, s/d., p. 70.
6
Ibid. p . 72.
7
CONSEIL PONTIFICAL DE LA CULTURE e CONSEIL PONTIFICAL POUR LE DIALOGUE
INTERRELIGIEUX - JÉSUS-CHRIST LE PORTEUR D’EAU VIVE: Une réflexion chrétienne sur le
«Nouvel Âge». Texto capturado na Internet.
8
BADIOU, A. L’éthique: essai sur la conscience du mal. Paris : Hatier, 1993. p. 24 e25.
9
Aeon é uma palavra de origem grega, também traduzida como Aion ou Eon, que apresenta o
sentido de “era, duração indefinida”. Cf. As Aventuras de Raul Seixas na Nova Era Pós-Moderna.
Disponível em:<http://pensadores.blig.ig.com.br.htm>. Acesso em 20 de out.2003.
Novo Aeon
(Raul Seixas/Cláudio Roberto/Marcelo Motta)
O sol da noite agora está nascendo Já que é assim, baseado em que você pune
Alguma coisa está acontecendo Quem não é você?
Não dá no rádio nem está Ao som da flauta da mãe serpente
Nas bancas de jornais No para-inferno de Adão na gente
Em cada dia ou em qualquer lugar Dança o bebê
Um larga a fábrica, outro sai do lar Uma dança bem diferente
E até as mulheres dita escravas Querer o meu não é roubar o seu
Já não querem servir mais Pois o que eu quero é só função de eu
Ao som da flauta da mãe serpente Sociedade Alternativa
No para-inferno de Adão na gente Sociedade Novo Aeon
Dança o bebê É um sapato em cada pé
Uma dança bem diferente Direito de ser ateu ou de ter fé
O vento voa e varre as velhas ruas Ter prato entupido de comida que ce mais gosta
Capim silvestre racha as pedras nuas É ser carregado ou carregar gente nas costas
Encobre asfaltos que guardavam Direito de ter riso, de prazer
Histórias terríveis E até direito de deixar, Jesus sofrer
Já não há mais culpado nem inocente
Cada pessoa ou coisa é diferente
Figura: Nossa
Senhora da Penha
- Attilio Colnago
- 1999.
A preferência atualmente pelo misticismo e pelo esoterismo orientais ocorre por serem
religiões e tradições estrangeiras ao Ocidente e distanciadas de nossa cultura. Assim
exercem menos coerções e exigem muito menos compromissos pessoais e comunitários.
Aparentemente, há uma enorme liberdade, cada indivíduo se sente completamente à
vontade para agir do modo como bem entender.
O pós-moderno se manifesta no plano das atitudes vitais, das experiências de vida
caracterizadas como resistências de distanciamento do projeto de desenvolvimento
tecnocientífico, cultural-artístico, e político-econômico proposto pela modernidade
racionalizadora, burocratizante, administradora, produtivista e consumista.
Ou será que não lhes fornecem apenas algumas “receitas” ou “macetes” meio
científico, meio filosófico para que possam “viver” melhor, se “sentir” bem consigo
mesmos, se suportarem um pouco melhor, chegarem ao tal “autoconhecimento”,
num mundo ou numa sociedade mais ou menos insuportáveis, mas nos quais se vêem
obrigados ou condenados a se inserirem e a viver?
A filosofia individualista do “cada um” tem levado cada indivíduo, no mundo “pós-
moderno” a “dar-se uma religião” ou a “fabricar sua própria religiosidade”. O estudo
é substituído pelos testemunhos ou depoimentos de experiências. Em sociedades
tecnologicamente atrasadas, esse culturalismo suscita o “fundamentalismo” religioso.
Nas sociedades pós-modernas, ele se dissolve no “consumismo”. Constata-se que o
progresso do individualismo é proporcional ao crescimento do conformismo.
Para pensar...
Por que a reação pós-moderna aos efeitos nefastos da técnica se mostra crivada
de ilusões que só encobrem os avanços ainda mais nefastos da própria técnica em
comunhão com o capital?
Materialismo Humanismo
Luc Ferry explora a idéia de transcendência a partir do termo “Sagrado”. Partindo dessa
idéia, ele a define “como aquilo pelo qual, se necessário, poderíamos sacrificar as nossas
vidas”. Assim, no seu entender, é na hipótese do risco de morte que experimentamos
valores que nos parecem, superiores à nossa existência – transcendentes.
O humanista propõe que:
A indignação nos leva a sacralizar;
É sagrado, o que se pode profanar;
Sagrado é o limite que não se pode ultrapassar sem entrar na esfera do mal.
Alain Badiou, em seu livro sobre “A Ética”, aponta que, em nossa contemporaneidade,
depois da decadência do marxismo revolucionário e das figuras de engajamento
progressista, há um retorno à velha doutrina dos direitos humanos. Para Badiou, quando
os defensores da ideologia ética contemporânea proclamam o retorno ao homem e aos
seus direitos, eles estão debochando do mundo. A ética dos direitos humanos subordina
a identificação do sujeito ao reconhecimento universal do mal que lhe é feito, definindo
o homem como vítima. A barbárie sendo refletida apenas em termos de “direitos
humanos” denega que:
Trata-se sempre de uma situação política, apelando para um pensamento
prático-político, e da qual existe na situação, sempre, atores autênticos −,
ela é percebida, do alto de nossa paz civil aparente, como o incivilizado que
exige do civilizado um intervenção civilizadora. Ora, toda intervenção em
nome da civilização exige um desprezo primeiro da situação inteira, vítimas
compreendidas.11
10
COMTE-SPONVILLE, A & FERRY, L. Sabedoria dos Modernos. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
11
BADIOU, A. L’éthique: essai sur la conscience du mal. Paris : Hatier, 1993. p. 14-15.
Humanismo Materialismo
• Os avanços do humanismo impõem • O materialista questiona a
a tarefa filosófica de reapropriação da divinização do humano;
verdade do discurso religioso; • O que a religião disse de mais forte é
• A transcendência é uma realidade que o homem não é Deus;
cuja origem nos escapa, o que • Esse humanismo tem todos os
legitima a falar em “mistério”; defeitos da religião sem ter sua
• O sagrado aparece no homem riqueza.
independente da sua vontade.
13
Ibid. p . 67.
*
Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo.
Concebendo a vida como sofrimento e terror diante da morte, Kirílov diz que o novo
homem é aquele que, tendo vencido o sofrimento e o terror e alcançado a indiferença de
viver ou não, torna-se ele mesmo Deus por fazer de sua própria vontade o princípio da
sua ação: “Se Deus existe, tudo é Sua vontade e fora de Sua vontade nada posso. Se ele
14
Ver artigo do Prof. Gilvan Fogel, Dostoievski: voluntarismo = niilismo, publicado na Revista Sofia n.
0, do Departamento de Filosofia da UFES.
15
DE LIMA VAZ, H. C. Ética e Civilização. In: Síntese Nova Fase n. 49, abril-junho de 1990, p. 13.