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PROCESSO: 01806/21-TCE-RO.
SUBCATEGORIA: Direito de Petição
ASSUNTO: Petição com pedidos de afastamento de responsabilidade e de débito
imputados nos itens I, “a”, e II do Acórdão AC1-TC 01277/17, proferido
nos autos nº 3557/2012/TCE-RO, que trata da Tomada de Contas Especial
instaurada no âmbito da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Ambiental - SEDAM, pertinente ao Processo Administrativo n°
1801/00087/2004, que tem por objeto a prestação de serviços pela empresa
Rondonorte Vigilância e Segurança Ltda., em decorrência da suposta
violação ao devido processo legal e da prescrição quinquenal dos fatos.
JURISDICIONADO: Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental - SEDAM
INTERESSADO: Damião Rodrigues Constâncio, ex-membro da Comissão de
Acompanhamento e Fiscalização da Secretaria de Estado do
Desenvolvimento Ambiental – SEDAM
CPF nº 421.284.632-20
ADVOGADOS: Valdelise Martins dos Santos Ferreira
OAB/RO 6151 e OAB/DF 16984
Carol Gonçalves Ferreira
OAB/DF 67716
RELATOR: Conselheiro FRANCISCO CARVALHO DA SILVA
GRUPO: I
SESSÃO: Sessão Virtual da 2ª Câmara de 14.3.2022.
DIREITO DE PETIÇÃO.
DESCONSTITUIÇÃO DE DECISÃO
TRANSITADA EM JULGADO. VIA
INADEQUADA. INADMISSIBILIDADE
COMO SUCEDÂNEO DE RECURSO. NÃO
CONHECIMENTO COMO DIREITO DE
PETIÇÃO. ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL NÃO COMPROVADA.
QUESTÃO DE ORDEM REJEITADA.
1. O direito de petição, previsto no artigo 5º,
inciso XXXIV, da Constituição Federal, não é
admissível como sucedâneo de recurso,
mormente tratando-se de decisão transitada em
julgado, por não se constituir meio adequado
para reabrir discussão fático-processual, não
sendo cabível na hipótese dos autos.
2. Matéria de ordem pública passível de ser
apreciada ex officio pelo julgador. Questão de
ordem rejeitada ante a não comprovação da
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE RONDÔNIA
GABINETE DO CONSELHEIRO FRANCISCO CARVALHO DA SILVA
RELATÓRIO
Tratam os autos de petição autônoma1 dirigida a esta Corte de Contas por
Damião Rodrigues Constâncio (CPF 421.284.632-20), ex-membro da Comissão de
Acompanhamento e Fiscalização da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental –
SEDAM. Com base no artigo 5º, inciso XXXIV, alínea “a” da Constituição Federal (direito de
petição), formula os seguintes pedidos:
Considerados os fatos narrados, em conjunto com o que dispõe o direito
invocado, pretende o Requerente ver reconhecidas e adotadas as seguintes
providências:
1. Para que seja conhecido o direito de petição, por tratar de matéria de
ordem pública, afastando a responsabilidade do peticionante;
2. Seja proferida nova decisão em substituição ao Acórdão AC1-TC
01527/18, para julgar prejudicada a presente Tomada de Contas Especial
– TCE, em face do recorrente;
3. Seja oficiado à Procuradoria-Geral do Estado de Rondônia junto ao
Tribunal de Contas para o fim de desconstituir as Certidões de Dívida
Ativa emitidas em face da recorrente com fundamento no processo n°
3557/2012/TCER;
2. Distribuído a este Relator2, o documento foi autuado como “Direito de Petição”
nos termos da Despacho contido no ID 1084884.
3. A pretensão do Peticionante é de afastar sua responsabilização pelo Acórdão
AC1-TC 01277/173, em que esta Corte julgou irregular a Tomada de Contas Especial objeto do
Processo nº 03557/12)por liquidação indevida e pagamento de serviços não realizados, em ofensa
ao artigo 37, caput, da Constituição Federal c/c aos artigos 62 e 63 da Lei Federal nº 4.320/64 e
artigo 66 da Lei Federal n° 8.666/93.
4. Destacam-se do acórdão, no que é pertinente, os trechos que seguem:
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. PODER EXECUTIVO
ESTADUAL. SECRETARIA DE ESTADO DO
DESENVOLVIMENTO AMBIENTAL – SEDAM. EXECUÇÃO
PARCIAL REFERENTE AO PROCESSO Nº 1801/0087/2004.
PAGAMENTO SOBRE SERVIÇOS NÃO EXECUTADOS.
DANO AO ERÁRIO. CARACTERIZADO. JULGAMENTO
IRREGULAR. ARTIGO 16, III, ALÍNEA “C”, DA LC Nº 154/96.
IMPUTAÇÃO DE DÉBITO. A existência comprovada de práticas
danosas ao erário pertinente à prestação de serviços impõe a
restituição do débito devidamente atualizado.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, que tratam de Tomada de
Contas Especial instaurada no âmbito da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
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ID 1082421.
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ID 1085117.
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ID 479872 do Processo nº 03557/12.
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ID 515570 do Processo nº 04155/17.
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ID 491291 do Processo nº 03557/12.
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VOTO
CONSELHEIRO FRANCISCO CARVALHO DA SILVA
13. Tratam os autos de petição9 apresentada por Damião Rodrigues Constâncio, ex-membro da
Comissão de Acompanhamento e Fiscalização da Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Ambiental – SEDAM, com base no direito de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV, alínea
“a” da Constituição Federal, visando afastar sua responsabilização com imputação de débito no
6
ID 17243 do Processo nº 01179/07 – sessão de julgamento realizada no dia 7.12.2010.
7
DM nº 0157/2021/GCFCS/TCE-RO – ID 1088889.
8
ID 1114865.
9
ID 1082421.
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acórdão transitado em julgado AC1-TC 01277/17 (itens I e II)10, conforme pedido transcrito no
preâmbulo do Relatório.
14. Aduz, nesse sentido, (a) que a Prestação de Contas da SEDAM (exercício de
2006) foi autuada em abril de 2007 (Processo nº 01179/07) e julgada irregular nos termos do
Acórdão nº 160/2010-1ª Câmara11, proferido em sessão do dia 7.12.2010, com determinação ao
gestor (item IV) de instauração de Tomada Contas Especial em relação ao Processo Administrativo
nº 1801/0087/2004, exercício de 2006, que teve por objeto prestação de serviços pela Empresa
Rondonorte Vigilância e Segurança Ltda.; (b) que em nenhum momento foi “citado” no processo
de Prestação de Contas; (c) que em 23.7.2012 foi autuada nesta Corte a Tomada de Contas Especial
encaminhada pela SEDAM (Processo nº 3557/2012); (d) que “apenas no ano de 2015 foi que
houve a primeira apuração de responsabilidade contra o peticionante”; (e) que somente em 2017,
nos termos do Acórdão AC1-TC 01277/17 (transcrição constante do item 5, retro), a TCE foi
julgada irregular “e deu outras providências, dentre elas, imputou débito ao peticionante”, por fatos
ocorrido entre 2004 e 2006. E conclui:
Dessa forma, conclui-se que, indubitavelmente, se está diante, pois, de uma
prescrição quinquenal, uma vez que o processo nº 1179/2007 foi instaurado no ano
de 2007 a fim de averiguar possíveis irregularidades que cessaram no ano de 2006,
sendo que a primeira menção de responsabilidade ao peticionante deu-se apenas
no ano de 2015, ou seja, passaram-se 9 anos desde a data do fato, fazendo com que
a pretensão punitiva do Estado esteja, portanto, prescrita.
15. Alega cerceamento do direito de defesa “uma vez que não foi observado o
instituto da prescrição quinquenal. Pretende, assim, seja reconhecida a incidência da prescrição
(quinquenal) da pretensão punitiva do Estado, como prevista na Decisão Normativa nº
01/2018/TCE-RO e na Lei nº 9.873/1999, considerando terem decorrido “mais de nove (9) anos
entre a data do fato e a citação válida”, observados os princípios da “segurança jurídica, da razoável
duração do processo e da estabilidade das relações sociais e administrativas”.
I – Juízo de admissibilidade definitivo. Direito de Petição. Impossibilidade de manejo como
sucedâneo de recurso.
16. O Peticionante, como demonstrado, não interpôs no prazo legal nenhum dos
recursos ordinários previstos na Lei Complementar nº 154/96 para eventual desconstituição do
Acórdão AC1-TC 01277/17, que julgou irregular a Tomada de Contas Especial.12 O fez
intempestivamente (Recurso de Reconsideração – Processo nº 04155/17), razão pela qual não foi
conhecido13, observando-se não ter havido referência alguma a cerceamento do direito de defesa
e/ou prescrição nas razões recursais14, como também na defesa que apresentou na própria TCE.15
10
ID 479872 do Processo nº 03557/12.
11
ID 17243 do Processo nº 01179/07 – sessão de julgamento realizada no dia 7.12.2010.
12
Art. 31. Da decisão proferida em processo de tomada ou prestação de contas cabem recursos de:
I - reconsideração;
II - embargos de declaração; (...)
13
Nos termos da DM-GCVCS-TC 0311/2017 - ID 515570 do Processo nº 04155/17.
14
ID 504443 do Processo nº 04155/17.
15
ID 215348 do Processo nº 03557/12.
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ID 491291 do Processo nº 03557/12.
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2. Direito de Petição não conhecido, uma vez que não é um meio adequado
para reabrir discussão fático-processual, não sendo cabível no caso em tela.
3. No entanto, por ser matéria de ordem pública, é passível de ser avaliada
ex officio pelo julgador, por tratar-se de nulidade absoluta,
4. A omissão do nome do peticionante no cabeçalho do Relatório e Voto e
do Acórdão 206/00, bem como da Pauta de julgamento, afronta os princípios da
ampla defesa, do contraditório, e da informação insculpidos no artigo 5º, XXXIII
e LV, da Constituição da República.
5. Precedentes desta Corte:
5.1. Processo n. 4315/2012-Pleno. Relator: Conselheiro-Substituto Omar
Pires Dias (Relator em substituição regimental). Julgado em 09.11.2017
5.2. P Processo n. 1602/2014-Pleno. Relator: Conselheiro Wilber Carlos dos
Santos Coimbra. Julgado em 1º.09.2016.
5.3. Processo n. 3260/2008-Pleno. Relator: Conselheiro Edílson Sousa Silva.
Julgado em 26.7.2014.
5.4. Processo n. 0732/2015 - 2ª Câmara. Relator: Conselheiro Valdivino
Crispim de Souza. Julgado em 14.7.2015.
5.5. Processo n. 4134/2018 - Pleno. Relator: Conselheiro Benedito Antônio
Alves. Julgado em 13.6.2019. (...)
(Acórdão APL-TC 00098/20 – Processo nº 02329/19 – Relator Conselheiro
Benedito Antônio Alves).
EMENTA. DIREITO DE PETIÇÃO. PRETENSÃO DE
DESCONSTITUIÇÃO DE DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO.
ADMISSIBILIDADE INVIÁVEL. ARGUIÇÃO DE QUESTÃO DE
ORDEM. INEXISTÊNCIA DE NULIDADES. HIGIDEZ PROCESSUAL.
NÃO-CONHECIMENTO DO REQUERIMENTO COMO DIREITO DE
PETIÇÃO. IMPROCEDÊNCIA DA QUESTÃO DE ORDEM SUSCITADA.
1. O Direito de Petição, fundado no art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a” da
CF/88, não pode ser invocado, genericamente, para exonerar qualquer dos sujeitos
processuais do dever de observar as exigências que condicionam o exercício do
direito de provocação da jurisdição, pois em se tratando de decisão transitada em
julgado, cuja preclusão processual, inclusive, tenha se operado, cumpre respeitar
os pressupostos e os requisitos fixados pela legislação processual pertinente.
2. A mera invocação do Direito de Petição, por si só, não basta para
assegurar à parte interessada o acolhimento da pretensão que não deduziu em fase
recursal, porquanto tal mecanismo não se presta a reabrir discussão tomada em
acórdão já transitado em julgado, no intuito, tão somente, de relativizar a preclusão
processual, decorrente do exaurimento dos recursos ordinários previstos na LC n.
154, de 1996, mormente porque o Direito de Petição não é sucedâneo de recurso.
3. In casu, ausência do Instituto da prescrição, questão de ordem
improcedente – Precedentes: Processos ns. 2.999/2014, 1.360/2016 e 0.262/2017-
TCE-RO, que originaram, respectivamente, os Acórdãos APL-TC 00647/2017,
00170/2016 e AC2-TC n. 00437/2017 e processo n. 02333/2018.
6. Arquivamento. (Acórdão APL-TC 00377/20 – Processo nº 01272/20 –
Relator Conselheiro Wilber Carlos dos Santos Coimbra).
25. Em relação ao último precedente citado (Processo nº 01272/20) é relevante
observar que em sede de Direito de Petição foi igualmente alegada a incidência de prescrição,
tendo o egrégio Plenário deste Tribunal decidido à unanimidade (APL-TC 00377/20), em
consonância com o voto proferido pelo Conselheiro Relator Wilber Carlos dos Santos Coimbra,
por não conhecer da “petição nominada como Direito de Petição” “ante o não preenchimento dos
requisitos legais de admissibilidade (ilegalidade ou abuso de poder), não se agasalhando, destarte,
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a moldura constitucional prevista no art. 5ª, inciso XXXIV, alínea “a”, da CF/88, mormente porque
o Direito de Petição não é sucedâneo de recurso”, enfrentando a alegação de prescrição por se
tratar de matéria de ordem pública, que igualmente não foi acolhida.
26. Do voto condutor do acórdão destaco os seguintes excertos:
12. Considerando os conceitos exarados, temos que no presente caso, como
já demostrado, houve uma análise exaustiva da matéria, por vários órgãos, fato
que, se houvesse uma ilegalidade e/ou abuso de poder, estes seriam constados e
reconhecidos, não havendo que ser reconhecido no presente procedimento, tanto
é, que foi reconhecida na ocasião confecção do Acórdão AC2-TC nº 00074/2017
o reconhecimento da prescrição relativa a aplicação de sanção.
(...)
14. Assim sendo, no presente caso não se conhece o Direito de Petição,
porquanto esse procedimento excepcionalíssimo não se afigura como sendo
sucedâneo de recursos, bem como pela circunstância fática de que se está diante
de um pleito que tem como finalidade a rediscussão de Acórdão, que já se encontra
com trânsito em julgado formado e avançado estágio de execução.
27. Considerando o sistema processual vigente, que permite a regular utilização da
via recursal, a não interposição pela Peticionante do recurso cabível no prazo legal evidencia o
exercício do Direito de Petição como sucedâneo de recurso, como uma espécie de recurso
subsidiário, o que não é admissível.
28. Não obstante, a questão de ordem, por tratar de matéria de ordem pública, é
passível de ser avaliada ex officio pelo julgador.
29. A inadmissibilidade, neste caso, foi destacada Ministério Público de Contas no
Parecer nº 0207/2021-GPGMPC, que opina pelo não conhecimento da petição. Destaco:
Ab initio, insta tecer algumas considerações acerca da garantia constitucional
ao direito de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV da CF/88, a fim de
demonstrar a impossibilidade da utilização desse instrumento no presente caso,
visto que o direito de petição, embora se trate de prerrogativa democrática de
caráter essencialmente informal, não é sucedâneo de recurso.
Verifica-se que o direito de petição, dadas as suas características
constitucionais, tem sido frequentemente utilizado, de maneira equivocada, como
espécie de recurso administrativo subsidiário, quando a decisão administrativa,
atingida por uma das hipóteses de preclusão, já se tornou irrecorrível.
Nesse ponto, é mister destacar que não se está a dizer que o direito de petição
jamais poderia ser utilizado para provocar o exercício do poder-dever de autotutela
da Administração, visto que, inexistindo previsão de recurso administrativo para
determinada decisão, seria plenamente possível e legítimo o exercício da
faculdade prevista pela Constituição da República no art. 5º, XXXIV, alínea a, a
qual assegura claramente a qualquer pessoa “o direito de petição aos Poderes
Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder".
Ocorre que, de outro vértice, a admissibilidade irrestrita (e incondicional) do
exercício do direito de petição levaria à eternização das demandas, uma vez que,
assentir com a possibilidade de revisão das decisões administrativas a todo e
qualquer tempo é algo frontalmente incompatível com a segurança jurídica
necessária à manutenção de um Estado Democrático de Direito.
Consabido que o direito de petição é instrumento jurídico-constitucional
destituído de formalidades, garantido a todos, frente às possíveis ilegalidades e
abusos cometidos pelo Poder Público, o que não implica dispensar o cumprimento
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“1 CARVALHO, Arthur Porto. Em que medida o abuso do direito de petição atinge a coisa julgada. Disponível em
https://jus.com.br/artigos/18387/em-que-medida-o-abuso-do-direito-de-peticao-atinge-a-coisa-julgada-
administrativa”.
“ Aqui se alude, em específico, ao recurso de revisão, o qual tem, no âmbito das Cortes de Contas, natureza símile
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à ação rescisória”.
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(...)
Destarte, inviável se mostra o conhecimento do direito de petição manejado,
como se modalidade recursal fosse.
Nada obstante, tendo em tendo em vista a alegação de questões de ordem
pública relativas à validade jurídico-processual do feito principal, as quais podem
e devem ser enfrentadas até mesmo de ofício, passar-se-á ao exame de tais
alegações.
30. Nesses termos, à vista do sistema processual que regula a via recursal no âmbito
desta Corte de Contas é imperativo reconhecer esgotada a jurisdição deste Tribunal de Contas na
hipótese dos autos uma vez que o Peticionante se valeu dos meios de insurgência legalmente
previstos, e o fez intempestivamente, pelo que não foi conhecida sua insurgência, incidindo os
efeitos da coisa julgada administrativa sobre o acórdão, que se encontra em fase de cumprimento
(PACED 00483/18).
31. Assim, nos termos do parecer ministerial mostra-se inviável o conhecimento do
direito de petição manejado como se modalidade recursal fosse, ou seja, como sucedâneo de
recurso.
32. Não obstante, passo a analisar a aventada incidência da prescrição no feito
principal por se tratar de questão de ordem que pode ensejar seja reconhecida de ofício.
II – QUESTÃO DE ORDEM. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. CERCEAMENTO DO
DIREITO DE DEFESA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.
33. A pretensão de afastar a responsabilização do Peticionante e o débito que lhe foi
imputado está lastreada no argumento de “não ter sido observado o instituto da prescrição,
prejudicando diretamente sua defesa material e, consequentemente, o devido processo legal”. É a
única questão suscitada.
34. Alega terem decorrido “mais de nove (9) anos entre a data do fato e a citação
válida”, devendo ser reconhecida a prescrição observados os princípios da “segurança jurídica, da
razoável duração do processo e da estabilidade das relações sociais e administrativas”.
35. Sustenta “fulminação da pretensão sancionatória em face do jurisdicionado, ante
a incidência da prescrição quinquenal” e que a “imputação de penalidades administrativas ao autor
encontra-se totalmente irregular e inválida, uma vez que feriu o devido processo legal, afetando
diretamente o peticionante, já que não foi observado o instituto da prescrição quinquenal ocorrida,
dificultando a defesa material”.
36. Segundo o Peticionante a incidência da prescrição se dá em conformidade com
os artigos 1º e 2º da Decisão Normativa nº 01/2018/TCE-RO, aplicando-se por analogia a Lei nº
9.873/1999 “no que diz respeito à prescrição da pretensão punitiva em face dos atos ilícitos sujeitos
à fiscalização por parte do Tribunal de Contas do Estado de Rondônia”.
37. Importa recordar que pelo acórdão questionando foi julgada irregular a Tomada
de Contas única e exclusivamente por liquidação indevida e pagamento de serviços não realizados
no âmbito do Processo Administrativo nº 1801/0087/2004 – SEDAM (transcrição no item 4 do
Relatório acima), em afronta ao artigo 37, caput, da Constituição Federal c/c aos artigos 62 e 63
da Lei Federal nº 4.320/64 e 66 da Lei Federal n° 8.666/93, sendo que especificamente quanto ao
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ID 491291 do Processo nº 03557/12.
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Com efeito, para além de não haver sido alegado qualquer prejuízo ao pleno
exercício do contraditório e da ampla defesa, não se pode perder de vista que desde
a fase interna da TCE o peticionante foi cientificado dos fatos, tendo inclusive a
oportunidade de se manifestar durante o procedimento, conforme bem registrado
no item 5 do seu relatório conclusivo (ID 1087523), exarado em 25.06.2012. 20
Como cediço, a Tomada de Contas Especial constitui procedimento uno,
ainda que composto de duas fases, uma perante a própria Administração (fase
interna) e outra perante o Tribunal de Contas (fase externa), não se podendo
considerar inexistentes ou ineficazes os atos praticados na primeira etapa.
Dito isso, vê-se que o peticionante não foi surpreendido sobre a existência da
referida TCE por ocasião de sua citação na fase externa do procedimento,
demonstrado que dele já tinha conhecimento e teve mesmo a oportunidade de se
manifestar, ainda que não fosse obrigatório, sobre a questão posta já em sua fase
interna, de caráter investigativo, quando o referido lapso, entre os fatos
investigados e a manifestação do responsável se encontrava dentro dos parâmetros
adotados por essa Corte de Contas.
Nessa toada, não há falar, in casu, quer em prescrição da pretensão
ressarcitória da fazenda pública prejudicada, quer em prejuízo à defesa do
peticionante, dada a oportunidade de contraditar as acusações que recaíram sobre
si desde a fase interna da TCE, tanto que não alegada qualquer dificuldade
defensiva em momento processual oportuno.
52. Acolho os fundamentos expostos no parecer ministerial, acrescentando-os às
razões de decidir, restando evidenciado o não cabimento do Direito de Petição na hipótese dos
autos.
53. E, quanto à questão de ordem suscitada, que nenhuma sanção foi aplicada ao
Peticionante no Acórdão AC1-TC 01277/17, inexistindo, portanto, pretensão punitiva do Estado
em relação à qual poder-se-ia cogitar eventual incidência de prescrição quinquenal; que tampouco
se pode falar em prescrição da pretensão ressarcitória, mormente por ainda não ter decorrido sequer
o prazo de 5 (cinco) anos do trânsito em julgado da decisão; que é infundada a alegação de prejuízo
à defesa pelo não reconhecimento de ofício da incidência de prescrição, em violação ao devido
processo legal, especialmente porque não havia, nem há prescrição a ser reconhecida em qualquer
de suas modalidades, também porque foram garantidos ao Peticionante o contraditório e a ampla
defesa, direito que exerceu plenamente, tendo sido ouvido inclusiva na fase interna da TCE21, com
apresentação de defesa e interposição de recurso na fase externa da TCE.
54. Não há que se falar, portanto, em prejuízo ao direito de defesa sob qualquer
aspecto, tanto que não alegada em momento processual oportuno como ressaltou a Ministério
Público de Contas, especialmente por não ter sido reconhecida a incidência de prescrição da
pretensão estatal no julgamento da TCE, como alega o Peticionante, prescrição inexistente seja
punitiva, seja ressarcitória, como demonstrado.
55. Impõe-se, nesse contexto, o não conhecimento da peça apresentada como Direito
de Petição, bem como a plena rejeição da questão de ordem suscitada, mantendo-se inalterados os
termos do Acórdão.
PARTE DISPOSITIVA
20
“DAS OITIVAS REALIZADAS COM OS CITADOS”.
2121
Oitiva do Peticionante relatada às páginas 265/266 do ID 1087523 do Processo nº 03557/12 (TCE).
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE RONDÔNIA
GABINETE DO CONSELHEIRO FRANCISCO CARVALHO DA SILVA
(assinado eletronicamente)
FRANCISCO CARVALHO DA SILVA
Conselheiro Relator
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