Os Saberes em Desenho Raymundo RI PDF
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VOLUME 3
OS SABERES EM DESENHO
DO PROFESSOR Manuel
RAYMUNDO QUERINO
UNIVERSIDADE FEDERAL UNIVERSIDADE ESTADUAL
DA BAHIA DE FEIRA DE SANTANA
reitor reitor
João Carlos Salles Pires da Silva Evandro do Nascimento Silva
vice-reitor vice-reitora
Paulo César Miguez de Oliveira Amali de Angelis Mussi
assessor do reitor
Paulo Costa Lima
UEFS EDITORA
diretor
EDITORA DA UNIVERSIDADE Murillo Almeida Cerqueira Campos
FEDERAL DA BAHIA
assistente editorial
diretora
Zenailda Novais
Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
secretária executiva
conselho editorial
Iatiara Chaves de Oliveira Ribeiro
Alberto Brum Novaes
Angelo Szaniecki Perret Serpa conselho editorial
apoio:
COLEÇÃO AÇÃO REFERÊNCIA
VOLUME 3
OS SABERES EM DESENHO
DO PROFESSOR Manuel
Raymundo Querino
Gláucia Maria Costa Trinchão
Suely dos Santos Souza
organizadoras
S115 Os saberes em desenho do professor Manuel Raymundo Querino / Gláucia Maria Costa
Trinchão, Suely dos Santos Souza, organizadoras. - Salvador: EDUFBA; Feira de Santana:
UEFS Editora, 2021.
312 p. : il. (Ação Referêcia - FAPESB; v.3)
ISBN: 978-65-5630-208-9
978-65-89524-03-8
Editora filiada à
prefácio
Manuel Querino: O negro, cidadão, 9
desenhista, militante e educador
Carlos Augusto Lima Ferreira
referências 287
sobre os autores 307
7
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
O CIDADÃO,
O DESENHISTA E
O EDUCADOR
15
AS ORIGENS
Oriundo das camadas populares, Manuel Raymundo Querino
(1851-1923) tornou-se intelectual ilustre, político, jornalista, profes-
sor, artista, pintor, historiador, etnógrafo, advogado e deputado pelo
Partido Liberal, praticava o Espiritismo e era Doutor em Filosofia
pela Universidade de Tubinga, na Alemanha. Este homem negro
viveu intensamente os acontecimentos históricos e significativos
do Brasil e da Bahia de seu tempo, destacando-se pelas muitas con-
tribuições que proporcionou à sociedade de então. “O Dicionário de
Arte da Bahia, da UFBA, recebe seu nome e registra sua vida e obra
em detalhes, pelas biógrafas Maria das Graças de Andrade Leal e
Helen Sabrina Glendhill”. (GUIA..., 2015, grifo do autor)
Imagem 1 –
Manuel Raymundo Querino
O MILITAR
Querino havia frequentado apenas o curso primário1 e, “[...] aos
17 anos (1868), alistou-se em solo baiano como recruta, viajando
pelos sertões de Pernambuco e Piauí, e aí unindo-se a um con-
tingente que se destinava ao Paraguai”. (PALMARES; BRAND,
O ARTISTA...
Com seu retorno à Bahia, Querino começa “a trabalhar nas fainas
modestas de pintor e decorador. Sobrava-lhe tempo, porém, para
estudar francês e português, no Colégio 25 de Março e no Liceu
de Artes e Ofícios, de que foi um dos fundadores”. (PALMARES;
BRIAND, 2014)
Entretanto, são suas inclinações para o desenho que o levaram
a se matricular nos cursos “[...] de Desenho e Arquitetura na Aca-
demia de Belas-Artes, tendo obtido destaque como exímio dese-
nhista geométrico”. (MUSEU AFRO-BRASIL, 2014) Querino se
distinguia entre os alunos dos dois cursos, e recorrentemente obti-
nha reconhecimento através de premiações. “Obteve o diploma de
desenhista em 1882. Seguiu depois o curso de arquiteto, com apro-
vações distintas. Obteve várias medalhas em concursos e exposi-
ções promovidos pela Escola de Belas Artes e o Liceu de Artes e
Ofícios”. (PALMARES; BRIAND, 2014)
Como artista plástico, Querino não foi conhecido, pois todas as
suas obras e principais trabalhos foram realizados em locais aber-
tos, como pinturas em paredes de residências, edifícios públicos,
anúncios em bondes e pano de boca de teatros, além de pintura de
cavalete. Auxiliou a realização da pintura do pano de boca do Teatro
São João de Salvador, em 1880. (NUNES, 2007) Como decorador,
“[...] executou algumas obras em relevo, tais como nas paredes da
Santa Casa de Misericórdia e na Igreja da Nossa Senhora da Graça,
18 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
O POLÍTICO
Tornando-se político, engajou-se nas causas do Partido Liberal e
assinou o Manifesto Republicano relacionado às causas da liber-
dade, da democracia e da cidadania do povo, sendo assim aboli-
cionista e republicano. Aliado dos movimentos sociais foi um dos
fundadores do Partido Operário (1876). “Com outros do grupo
da Sociedade Libertadora Sete de Setembro, assinou o manifesto
republicano de 1870. Fundou os periódicos ‘A Provincia’ e ‘O Tra-
balho’, onde defendeu os seus ideais republicanos e abolicionistas.
Manuel Querino foi um dos mais ativos trabalhadores do grupo”.
(PALMARES; BRIAND, 2014) Nesse período, escreveu para a Gaze-
ta da Tarde uma série de artigos sobre a extinção do elemento servil:
manuel raymundo querino: a vida de um intelectual negro | 19
O PESQUISADOR E ESCRITOR
Após desistir da vida política, desiludido, Manuel Querino dedi-
cou-se a pesquisas “das manifestações populares e da cultura afro-
-brasileira, tendo escrito inúmeros livros sobre o tema, com ênfase
na história da Bahia, em artes e costumes” (MUSEU A FRO-BRASIL,
2014), pelas quais é lembrado por sua fundamental importância
para a história das Artes Plásticas no Brasil. “Esses estudos tinham
dois objetivos. Por um lado, ele queria mostrar a seus irmãos de
cor a contribuição vital que deram ao Brasil; e por outro desejava
lembrar aos Brasileiros da raça branca a dívida que tinham com a
manuel raymundo querino: a vida de um intelectual negro | 21
A CULINÁRIA BAIANA
Buscou aspectos na culinária que enobreciam a cultura da popula-
ção baiana em A arte culinária na Bahia, o primeiro e um dos mais
24 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
1 A expressão “homem de cor” é usada aqui, tal como Mattoso (1996), para
diferenciar os mestiços dos brancos estrangeiros e dos “brancos da terra”,
“[...] mestiços de pele clara ou mais ou menos clara que, graças à sua dili-
gência ou ao patrocínio de pessoas influentes, conseguiam transpor a linha
da demarcação racial e, por conseguinte, também a social”. Araújo (1999,
p. 101) também usa a expressão e a contextualiza para se referir àqueles
indivíduos que desempenharam “[...] todo trabalho de negro, ou seja, todo
trabalho manual que os possa desqualificar como superiores”. Nos docu-
mentos do século XIX, a cor do indivíduo geralmente é destacada, o que
possibilita hoje um entendimento mais detalhado da relação de cor com
posição social. O branco podia ser brasileiro ou europeu, o crioulo era
a denominação atribuída ao negro, filho de africanos, nascido no Brasil.
Fruto da miscigenação, o cabra era um indivíduo com características físi-
cas entre o crioulo e o mulato e a cor da pele entre parda e preta, fruto da
28 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
que Querino viveu grande parte dos seus dias e, neste contexto,
desenhar “um” Manuel Querino, sua posição enquanto homem
das artes e ofícios, papel que ele representou entre os seus e a so-
ciedade de então.
mistura do branco com o negro que, por vezes, era também definido como
pardo. Já o negro podia ser definido como negro crioulo ou negro africano,
mas também era comum ser chamado apenas de preto que, no final do
século XIX, passa a ser a descrição para o negro brasileiro ou africano.
Consultar Andrade (1988, p. 28) e Reis (2000, 2003, 1987). Já o caboclo
tinha características do indígena brasileiro, mestiço de índio com negro ou
com branco, que apresentava cabelos de variados tipos. Além disso, entre
os africanos havia uma diferenciação que ia além das cores, pautada numa
divisão étnica de cada grupo em uma “nação”. Essa segregação sociorra-
cial e étnica da sociedade se reflete no estatuto legal e nas relações sociais
nas quais se inserem os africanos e seus descendentes. Sobre estas defini-
ções, consultar Andrade (1988) e Reis (2000, 2003).
2 Sobre estas denominações consultar Reis (2006).
de mãos e mente atadas às artes | 29
É Graça Leal (2004) que nos conta que o Jornal de Notícias não lhe
poupou elogios, lhe atribuiu o status de “artista de merecimento”,
elogiou a astúcia do então estudante de arquitetura, que demons-
trava sua grande aptidão nessa arte:
9 Rui Barbosa também evocou este discurso que, ademais, era influenciado
pelos avanços obtidos na Europa e nos Estados Unidos com os inventos
que emergiam das mentes criadores e do conhecimento da matéria Dese-
nho, contribuindo na formação de mão de obra artística e técnica. Sobre-
tudo era esta a opção de emancipação para aqueles que saiam da escravi-
dão e que tinham, neste tipo de instrução uma forma de emancipação.
10 Sobre outros temas Querino publicou: Os artistas da Bahia: indicações bio-
gráficas (1905); Contribuição para a história das artes na Bahia: José Joaquim
da Rocha (1908) e Teatro na Bahia (1909).
de mãos e mente atadas às artes | 41
[...] a rudeza com que foi executado entre nós o estilo D. João
V, se justifica pelas condições gerais em que foi executada a
obra de marcenaria a cargo de artistas mestiços excelentes,
sob o ponto de vista do ‘metier’, mas sem a necessária cultu-
ra para respeitar os dogmas fundamentais do estilo [...] se o
estilo D. João V foi barbarizado entre nós pela mão de obra
ingênua dos marceneiros incultos, a responsabilidade desse
fato não pode ser lançada aos jesuítas.
Mas quando fala, move sua crítica em outras direções: opina con-
tra a memória forjada e aclamada pelo ideário de civilização de
então, o que pode ser observado na sua indignação com o pro-
gresso e com a tradição escrita, que destinava ao mestre Chagas o
lugar do esquecimento.
Querino não foi um crítico/historiador da arte que não fez arte,
ao contrário, faz-se presente ao classificar-se em sua obra. Em tom
laudatório, tão comum na época, fornece diversas informações
relevantes para o presente trabalho. Fala do seu nascimento em
Santo Amaro, da sua trajetória como aluno do Liceu de Artes e Ofí-
cios da Bahia, do seguimento que deu aos estudos, matriculando-
-se na primeira Escola de Belas Artes da Bahia, da qual, em 1882,
recebeu diploma de desenhista de arquitetura. Isso o motivou, no
ano seguinte, a se matricular no curso de arquitetura, para o qual
prestou exames de trigonometria, perspectiva, teoria de sombra e
luz, mecânica elementar etc. Passou pelo primeiro e segundo ano
e, no terceiro, frequentou aulas de máquinas de vapor e hidráu-
licas, empregadas em construção civil. Estudou composição de
edifícios, história da arquitetura, anatomia das formas do corpo
humano, estética, cópia de gesso e pintura a óleo. Não pôde pres-
tar os exames desse ano porque não havia quem lecionasse a dis-
ciplina de “Resistência dos Materiais e Estabilidade das Constru-
ções”, o que fez com que nem ele, nem tampouco qualquer um de
seus colegas, pudesse ter o diploma de arquiteto, oriundo da única
escola baiana que existia até então. Querino descreve as medalhas
que ganhou, tanto no liceu quanto na Escola de Belas Artes, além
do seu projeto “Modelos de casas escolares adaptadas ao clima do
Brasil”, apresentado no Congresso Pedagógico. Por ele, recebeu
elogios do Jornal de Notícias, em 1883, por estar “[...] nas melho-
res condicoes de hygiene, de fiscalisação interna, de commodidade
material nos parece que está elle levantado, devendo custar pouco
dinheiro a sua realização, tendo tambem a vantagem de apresentar
simples mas graciosa perspectiva”. (QUERINO, 1911, p. 140) Pelo
visto, o diploma de arquiteto não lhe fez falta, tampouco lhe colo-
cou limites, pois chegou, inclusive, a escrever livros sobre dese-
nho e outros, de temáticas variadas. Os de desenho foram mate-
rial didático nas diversas escolas profissionalizantes que formaram
artífices no século XIX, nas quais também lecionava.
50 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
Até o atual estágio da pesquisa que faço sobre o tema, não tive
conhecimento de pesquisas documentais que comprovem que
os artesãos brancos do século XIX eram a maioria, nem mesmo
que era entre eles que se recrutavam contramestres e administra-
dores de grandes obras. Mesmo quando a Câmara Municipal ofi-
cialmente restringia a aprendizagem e o exercício de muitos ofí-
cios aos homens “de cor”, os mestres brancos, que recebiam as
licenças, os tinham como oficiais e aprendizes. Pela bibliografia
consultada e pelos relatos dos viajantes, acho pouco provável que,
ainda no século XIX, permanecesse a dicotomia ofícios nobres
(realizados por brancos) X ofícios rudes (realizados por homens
“de cor”), embora alguns autores insistam nesta afirmação, mesmo
sem apresentar dados estatísticos baseados em análises documen-
tais. Há exceções, como Freyre (1936 apud VERGER, 1981, p. 221),
segundo o qual os escravos não só carregavam as ferramentas,
como também preparavam as tintas e “os senhores quase não suja-
vam os dedos”. Por outro lado, entre os estudos pesquisados, mui-
tos afirmam que não era por considerar socialmente degradante o
trabalho manual que o branco não queria realizá-lo, e sim por sua
predileção pelo ócio, tendo, inclusive, essa observação se tornado
uma máxima. A citação de Ferdinand Denis (1955 apud VERGER,
1981, p. 122), que, no século XIX, trabalhou três anos como empre-
gado do consulado da França na Bahia, é interessante. Dando notí-
cias à sua terra natal, ele relatou:
52 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, pretendemos argumentar que a vida e obra de Ma-
nuel Querino, e especificamente, o exame de sua trajetória de in-
serção no meio intelectual baiano na transição do século XIX para o
XX, podem constituir um tema adequado a propostas pedagógicas
que busquem atender às Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana. (BRASIL, 2004)
Como apontado em outros capítulos desta coletânea, Manuel
Querino nasce e se torna adulto durante a vigência da escravidão.
Negro, órfão, artista, professor, sindicalista e funcionário público de
carreira modesta, Querino teve que confrontar as barreiras coloca-
das pelo racismo e pela lógica oligárquica da sociedade brasileira da
Primeira República para conquistar um nicho em espaços frequen-
tados pela elite culta e branca. O exame das estratégias de inserção
social que ele desenvolveu em seu percurso pela academia, pela
política, pelo funcionalismo público e, principalmente, pelos espa-
ços de interação da intelectualidade baiana do período, nos per-
mite dar conta dos principais princípios e objetivos da educação
das relações étnico-raciais: promover compreensão dos meandros
das relações raciais no Brasil, propor caminhos de enfrentamento
do racismo, e inspirar pertença étnico-racial positiva.
58 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
das por ele em seu percurso; e aspectos de sua trajetória que são
comuns e peculiares a trajetória de intelectuais negros atuantes
nas primeiras décadas do século XX. A proposta é gerar reflexões
sobre possíveis estratégias de enfrentamento do racismo, a partir
deste exemplo histórico.
O acesso à cultura letrada e às artes foram proporcionados a
Manuel Querino por meio de um revés, que lhe marcou toda a
infância, e o conduziu por caminhos que destoam do destino típico
dos garotos negros e pobres de então. Tornou-se órfão por volta dos
quatro anos de idade, quando seus pais faleceram em consequên-
cia da epidemia de cólera que assolou a região do recôncavo baiano.
Foi entregue a uma família de classe média branca, tendo por tutor
o Bacharel Manuel Correia Garcia, professor da Escola Normal da
Bahia, que o inicia nas primeiras letras e o encaminha para o ofício
de pintor.
Um dos primeiros privilégios proporcionado a Querino pelo
domínio da leitura e da escrita foi ter sido poupado do campo de
batalha, quando de sua convocação para a Guerra do Paraguai, per-
manecendo como escriturário no batalhão no Rio de Janeiro.
Em 1870, Querino consegue baixa do serviço militar e no seu
retorno à Bahia se dedicou ao trabalho, aos estudos e à política.
Entre os anos 1871 e 1882, aprendeu línguas no Colégio 25 de
Março, cursou Humanidades no Liceu de Artes e Ofícios, depois
Desenho e Arquitetura, na Academia de Belas Artes. Após comple-
tar a sua formação, Manuel Querino trabalhou como professor de
desenho geométrico no Colégio dos Órfãos de São Joaquim e no
Liceu de Artes e Ofícios.
Ingressou na política como integrante do Partido Liberal, como
abolicionista e militante do movimento Republicano. Tornou-se
ativista da causa operária, participando da fundação da cooperativa
Liga Operária em 1875 e do Partido Operário em 1890. Ocupou
uma cadeira no Conselho Municipal por duas legislaturas – 1891 a
1893 e 1897 a 1899. Como funcionário público, exerceu várias fun-
ções na Diretoria de Obras Públicas e na Secretaria da Agricultura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procuramos argumentar que a vida e a obra de Manuel Querino
têm grande potencial para promover educação das relações étni-
co-raciais, ao entendê-la, assim como propõem Verrangia e Silva
(2010), como processos educativos que promovem a superação de
preconceitos raciais, o engajamento em lutas por equidade social
entre os distintos grupos étnico-raciais, e construção de uma iden-
tidade étnico-racial positiva.
Ao longo das seções anteriores, tivemos a intenção de mostrar
que toda a obra de Manuel Querino foi construída como estratégia
de enfrentamento do racismo, por uma dupla via: a de produzir
modelos teóricos e evidências empíricas que se contrapunham às
teorias racialistas de interpretação do papel do negro e do mestiço
74 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
CONTEXTO
SOCIOEDUCACIONAL,
POLÍTICAS DE DISTRIBUIÇÃO
E ADOÇÃO DE LIVROS
DIDÁTICOS
81
INTRODUÇÃO
Enquanto militante pelos segmentos sociais populares menos fa-
vorecidos, Manuel Querino teve papel significativo no cenário po-
lítico oitocentista, porém sua maior contribuição veio pela luta no
setor educacional para a formação de mão de obra profissional de
segmentos sociais como o operário e o artista, valorizando o saber
em desenho nos espaços escolares.
A força de sua atuação sociopolítica e cultural se destaca no ce-
nário baiano por ele ser negro, ou afro-descendente, que lutou pela
educação destes segmentos, como meio de capacitação da mão de
obra operária, ou técnica, no país, em meio ao contexto social dos
momentos finais do Brasil Império, lócus de luta pelo fim da escra-
vização da população negra no país. Importantes transformações
que culminaram na República estavam ocorrendo, época essa, de
grandes lutas e embates sociais abolicionistas.
Com a crise instaurada em torno da política imperial, na luta
pelo fim do trabalho forçado e escravizado, na economia, dentre
outros, as diferenças sociais se acentuavam. Com vistas a inserir o
país no processo de desenvolvimento houve, então, uma motivação
para medidas liberais a partir de novos ideais. Ideias liberais, cien-
tificistas, defendidas pelas elites letradas, de visão mais progres-
sista, passaram a influenciar a busca de alternativas para inserir o
país, e a Bahia, no projeto de modernização.
82 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
Como parte dessa construção temos dois fatores que foram de-
terminantes à reconstituição da sociedade e que contribuíram de
forma decisiva para acentuar a desigualdade na sociedade brasi-
leira. Fatores esses pautados no preconceito que difundia a menor
capacidade do negro, falta total de qualificação e inferioridade ra-
cial e que defendia que a dificuldade de inserção dos mesmos no
mercado de trabalho era devido à sua inferioridade, e, por outro
lado, pautados na visão do europeu como trabalhador por exce-
lência, como primor do homem racional. (THEODORO, 2008)
A contar, primeiramente, da imigração europeia, que recebeu
total apoio por meio de políticas públicas, foram empreendidos
esforços da parte do governo brasileiro como forma de incentivo,
86 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
O CONTEXTO EDUCACIONAL
Nesse contexto, dentre as questões que envolviam a transição para
a República estavam não somente a abolição, mas também a da
transformação da educação como forma de resgatar a ordem social.
Uma política de criação de Liceus de Arte e Ofícios foi assim inicia-
da, com a intenção de acompanhar o progresso que se configurava
internacionalmente, nesse contexto, o desenho, entendido como
saber necessário à formação de mão de obra industrial era integra-
do a essa instituição com o intuito de formar profissionais que se
adequassem a esse ambiente progressista. A intenção era profissio-
nalizar artistas e técnicos. (TRINCHÃO, 2008)
O ensino passou a ser pensado, assim, como forma de instru-
mentalizar esses trabalhadores para que eles, fazendo parte desse
país em desenvolvimento, pudessem contribuir, ou não atrapa-
lhar o progresso pretendido e a maneira como a nação brasileira
era vista pelas demais nações desenvolvimentistas, era pensado de
uma forma totalmente assistencialista.
Leal (2004, p. 228) diz que a aplicação do ensino industrial diri-
gido à classe trabalhadora tinha o objetivo de,
foi determinante para uma atuação que se expressava para além das
simples reflexões acadêmicas, do simples registro, mas esse papel
lhe conferiu a autoridade não ficando somente nas letras, mas na
ação concreta do trabalho real pelos sujeitos por quem tanto lutava.
Ao que se tem notícia ainda, Querino encerrou suas atividades
nessa vida, reivindicando para o povo um lugar real e efetivo no
novo regime republicano, no seio de uma sociedade que fosse ver-
dadeiramente justa, inclusiva e igualitária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi visto, o que marcou a atuação de Manuel
Querino, principalmente enquanto educador, foi não somente sua
capacidade de identificação e empatia com a população menos des-
favorecida e com os trabalhadores, visto que, ele mesmo era pro-
veniente de tal classe, pois, embora tivesse tido mais oportunidade
de instrução, não se colocou de fora dessa classe. Mas, sobretudo,
sua capacidade de questionar e colocar em evidência o processo
de exclusão e esquecimento pelo qual essa população era relegada
e empenhar suas ações educativas na busca por mudanças para o
povo negro trabalhador.
Embora perseguisse um ideal de sociedade republicana, sua
percepção aguçada permitiu que percebesse a distância existente
entre a república sonhada e aquela que estava sendo realizada,
o que se traduziu em inconformismo, levando-o a denunciar todo
o sofrimento imposto ao povo pobre e negro, e elevando a edu-
cação enquanto importante instrumento de equidade social e para
a construção de uma sociedade justa e igualitária, em que todos
tivessem condições de participar e desfrutar dos direitos sociais.
Isso ressalta sua importância, não somente enquanto escritor,
ou militante, mas especialmente enquanto educador, consciente de
seu papel, comprometido com a realidade e principalmente com
a população para quem empenhou suas forças em grandes lutas
e embates todos os dias de sua vida, e, ainda que tenha sucum-
bido sem conseguir ver os frutos efetivos de sua luta, seu compro-
misso e amor pela pátria e pelo povo o elevam à categoria de grande
homem da história brasileira e, sobretudo, da história baiana.
99
INTRODUÇÃO
O Liceu de Artes e Ofícios da Bahia e o Colégio dos Órfãos de São
Joaquim foram espaços escolares de atuação para Manuel Ray-
mundo Querino enquanto professor de desenho industrial. Sua
história profissional encontra-se imbricada a esses dois espaços
históricos que refletem a relação da Bahia e do Brasil com o fazer
manual no século XIX. Um século preenchido de transformações
políticas, sociais que afetaram a indústria brasileira.
Os anos que culminaram com a independência do país, a abo-
lição da escravatura, a proclamação da República e a construção do
sistema educacional formal brasileiro a partir de 1836, são resulta-
dos da reorganização política no país. Política essa, iniciada com a
fuga da família real portuguesa para o Brasil em 1808, a abertura
dos portos brasileiros às nações amigas e a assinatura do Tratado
de Aliança e Amizade, de Comércio e Navegação com a Inglaterra.
Manobras que contribuíram para novas posturas socioeconômicas
e industriais na conjuntura da nação. O país erguido a partir da
mão de obra escrava e dedicado durante séculos à produção agrí-
cola, inicia uma abertura para a instalação de manufaturas, permi-
tida com o alvará de 1808, proporcionando o surgimento de áreas
de trabalho que exigiam uma formação técnica, situação reforçada
a partir da segunda metade do século XIX.
100 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
Esta foi fundada em 1877 por Miguel Navarro y Cañizares que foi anterior-
mente professor do Liceu. Hoje a chamada Escola de Belas Artes faz parte
da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
espaços escolares para despertar vocações artísticas... | 111
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contexto político, econômico e, principalmente, socioeducacio-
nal, que envolveu o estado da Bahia e sua capital, Salvador, teve a
112 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
INTRODUÇÃO
Discorrer sobre as políticas do livro didático do final do século XIX
às décadas iniciais do século XX remete ao período histórico da
Primeira República (1889-1930), cunhado politicamente em um
ideal nacional republicano, também nomeado de República Velha.
Esse período foi marcado pelas efervescências dos processos de inte-
gração do sistema capitalista, bem como dos seus reordenamentos
sociais e das consequências do período de pós-abolição da escrava-
tura brasileira. Nessa compreensão, situamos as produções de livros
didáticos de desenho, para uso nas escolas baianas para o ensino
primário e secundário, publicadas e utilizadas em escolas brasilei-
ras, principalmente no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, de Manuel
Raymundo Querino (1851-1923), escritor, desenhista e professor
negro de vasta importância no cenário educativo local e nacional e
nas artes, no estado da Bahia, por defender a educação e os interes-
ses das classes artística, técnica e dos trabalhadores livres e escravos.
No campo educacional brasileiro, a escola primária e a secun-
dária passavam por diversas reformas que influenciaram direta-
mente nos contextos de produção e distribuição dos livros esco-
lares, principalmente no que se refere ao método (intuitivo) que
designou novas elaborações de conteúdos e orientações pedagó-
gicas. A maioria dos regulamentos previa a utilização do método
intuitivo, a exemplo do Regulamento para o Serviço de Instrucção
114 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas análises que se seguiram, consideramos a complexidade que
envolve a política e o próprio livro didático, pois traz consigo aspec-
tos políticos, pedagógicos, sociais e culturais próprios da época em
que foi produzido, sendo, desse modo, um produto do seu tempo
que, por sua vez, constitui-se como resultado de processos de dis-
puta que envolve diversos campos. Nessa perspectiva, a expansão
e a produção crescente da indústria do livro didático no início do
século XX, se serviram das inúmeras reformas republicanas do
período e da popularização do acesso ao ensino primário e, pos-
teriormente, do secundário, como podemos observar em diversos
regulamentos de instrução dos estados.
Essa expansão também significou um maior interesse do Estado
em controlar as produções didáticas, e, por sua vez, o que seria
ensinado nas escolas. Pois, todas as obras deveriam ser aprovadas
pela comissão de instrução pública para serem utilizadas nas esco-
las públicas dos estados, para isso deveriam seguir as indicações
para serem classificadas e passíveis de análise como livro escolar.
No âmbito de distribuição observamos o financiamento do
Estado para distribuir nas obras já aprovadas, uma vez que as
novas ideias educacionais defendiam a necessidade do material
individual de cada estudante, inclusive do livro escolar. Justifi-
cando o pagamento de obras específicas. Dentro dessa lógica, inse-
rimos Manuel Querino, na produção dos seus dois livros escola-
res, diante da necessidade da aprovação do Conselho de Instrução
Pública e das indicações necessárias para produzir o livro. Pode-
mos inferir que obteve êxito em suas adequações aos critérios de
controle dos regulamentos, devido aos prêmios que ganhou e à
exposição que participou no Rio de Janeiro, esse prestígio na pro-
dução também pode ser possível devido à sua formação e à sua
condição de professor no Liceu das Artes da Bahia, uma vez que
diversos livros aprovados pelo conselho eram de professores.
PARTE 3
PRODUÇÃO DIDÁTICA E
OS LIVROS DE DESENHO
DE Manuel QUERINO
129
Manuel QUERINO:
OUTROS SABERES ALÉM DO DE DESENHO
Amanda Freire da Costa Rios
Gláucia Maria Costa Trinchão
INTRODUÇÃO
A exposição da produção intelectual de Manuel Raymundo Que-
rino (1851-1923), tratada aqui como fonte de pesquisa, tem como
propósito socializar um conjunto de nove livros lançados entre
1903 e 1928, dentre eles dois livros didáticos de desenho que
detêm um capítulo especial mais adiante. Sua produção literária
e didática completa mais de 100 anos, pois sua primeira obra foi
lançada em 1903.
Segundo Maria das Graças Leal (2004), a produção acadêmica
de Querino dissemina-se em duas etapas que se complementam:
a primeira, ocorrida entre 1903 e 1916, caracterizou-se pela pro-
dução de ensaios, artigos e crônicas, publicados em periódicos e
livros, retratando criticamente a situação das artes, dos artistas,
dos trabalhadores e do povo em geral. Surgindo livros sobre
desenho, e mais: As artes na Bahia, Artistas baianos e bailes pastoris.
E os artigos: Os artistas, contribuição para a história das artes na
Bahia – José Joaquim da Rocha, 1908; Teatros da Bahia, 1909;
Contribuição para a História das Artes na Bahia – os quadros da
Catedral, 1910; Contribuição para a História das Artes na Bahia –
Notícia biográfica de Manuel Pessoa da Silva, 1910; Episódio da Inde-
pendência, 1913; A litografia e a gravura, 1914; e Primórdios da
Independência, 1916.
Ainda conforme Graça Leal (2004), na segunda fase, entre
1916 e 1922, estudou e narrou a vida do povo e seus costumes
130 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Manuel Querino dedicou sua vida a seus propósitos políticos e
educacionais, circulou em diversas áreas do conhecimento, da culi-
nária ao ensino do desenho, foi atuante social e político, na luta
pela abolição, deixou um legado frutífero no campo da história
da cultura afro-brasileira. Na época, trouxe à história do Brasil a
perspectiva do afro-brasileiro, morando na comunidade de descen-
148 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
INTRODUÇÃO
O ensino do desenho a serviço do desenvolvimento da indústria
nos países ocidentais foi o mote das discussões acadêmicas desde
o final do século XVIII, durante todo o século XIX e se fortaleceu
no século XX, inclusive aqui no Brasil. O professor, militante pela
abolição escravagista e pela educação e formação profissional dos
menos abastados do período da primeira república, Manuel Ray-
mundo Querino, produziu dois livros didáticos que tratam do con-
teúdo e ensino para a formação e capacitação de técnicos e artistas
para atuarem no campo do desenho industrial, hoje denominado
também de design de produto e design gráfico. Os conteúdos foram
selecionados para serem ministrados no Liceu de Artes e Ofícios da
Bahia, no Colégio dos Órfãos e na Escola Bahyana, todos situados
em Salvador, na Bahia. “Com o aumento da produção manufatu-
reira, na segunda metade do século XIX, sociedades civis também
se imbuíram do amparo aos menores carentes e fundaram Liceus
de Artes e Ofícios”. (OLIVEIRA; TRINCHÃO, 2012, p. 11) Assim,
conferir um ofício a esses menores fez parte de um projeto educa-
cional nacional, do qual o professor Manuel Raymundo Querino
fez parte.
O material escolar produzido por Querino capacitou mão de
obra, profissionalizando artífices e técnicos para atender à indús-
tria que emergia ainda de forma incipiente na virada do século XIX
para o XX, período em que a abolição estava ainda em fase turbu-
lenta de aceitação das classes operárias. Nesse período o processo
de industrialização brasileira ainda caminhava a passos lentos e
150 | os saberes em desenho do professor manuel raymundo querino
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenho geométrico entra no currículo das escolas elementares
como conhecimento, método e instrumento importante para a
capacitação da mão de obra técnica e fabril que deveria alimentar a
proposta de avanços na indústria nacional preterida pelo governo
brasileiro. O professor de desenho industrial, Manuel Raymundo
Querino, foi um dos responsáveis pela capacitação de crianças e
adolescentes desvalidos do Colégio dos Órfãos e do Liceu de Artes
e Ofícios da Bahia.
CADERNO DE IMAGENS 1
O LIVRO DESENHO LINEAR DAS
CLASSES ELEMENTARES (1903)
Manuel Raymundo Querino
caderno de imagens 1 | 157
CONSIDERAÇÕES FINAIS
César Borges, assim como Manuel Querino, também traz à tona a
compreensão do desenho como meio de estimular a indústria de
bens de consumo e o comércio. Isso ao destacar que, pelo estímulo
ao desenvolvimento do gosto pelo belo e da habilidade artística
pela prática do desenho, está se incrementando também o setor
econômico, pelo sistema de mercado de procura e oferta. Com o
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O saber em desenho que Manuel Querino defendeu para o sis-
tema educacional brasileiro era o mesmo dos ideais iluministas
que já vinham sendo defendidos por vários países da Europa,
pelos Estados Unidos, e inclusive pelo Brasil, representado pelas
figuras de Abílio César Borges e Ruy Barbosa. O saber no desenho
linear, ou geométrico, como base da instrução pública era consi-
derado fundamento do progresso e civilidade. Manuel Querino,
entretanto, além de lutar por esses ideais, lutava pela valorização
de classes – artística e técnica – e tinha como bandeira de luta a
inserção social dos negros saídos da escravidão.
Manuel Querino foi buscar na raiz da história da humanidade
o suporte prático para justificar suas ideias de utilidade e “vulga-
rização” do desenho nos espaços escolares de formação técnica e
artística para tratar sobre a importância do saber em desenho para
o setor industrial do país.
No desenrolar de suas ideias, o desenho assume conceitos que
vão da concepção de base fundamental de todas as artes; como
materializador da forma, logo como atividade de síntese de todas
o ensino de desenho: útil para a mão de obra artística e técnica | 285
REFERÊNCIAS
AMADO, Jorge. Tenda dos milagres. 28. ed. Rio de Janeiro: Record,
1982.
LEITE, José Roberto Teixeira. Pintores negros dos oitocentos. São Paulo:
Emanoel Araújo Editor, 1988.
MATTA, Alfredo Eurico Rodrigues. Casa Pia Colégio dos Órfãos de São
Joaquim: de recolhido a assalariado. Salvador: Secretaria da cultura e
Turismo: Empresa Gráfica da Bahia, 1999.
REIS, Carlos Antonio do. “Do convívio e colaboração das raças”: elogio
da mestiçagem e reabilitação do negro em Manuel Querino. 2009.
Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de História, Direito e
Serviço Social, Universidade Estadual de Paulista “Júlio De Mesquita
Filho”, Franca, 2009.
REIS, Lysie. A liberdade que vem do ofício: práticas sociais e cultura dos
artífices na Bahia do século XIX. 2006. Tese (Doutorado em História)
– Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal
da Bahia, Salvador, 2006.
SÉRIE TESOURARIA
Carta encaminhada ao Governo em 09 de julho de 1880, Sociedade
Liga Operária Baiana (1876).
Sobre os autores
CLÁUDIA SEPÚLVEDA
Professora titular do Departamento de Educação da Universidade
Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde ministra as disciplinas
de formação pedagógica do curso de Licenciatura em Ciências Bio-
lógicas. É doutora em Ensino, Filosofia e História das Ciências
pelo programa interinstitucional da Universidade Federal da Bahia
(UFBA) e da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS),
no qual atualmente integra o corpo docente. É membro do Grupo
de Pesquisa Caburé - Ciência, Sociedade e Educação, no qual, tem
desenvolvido os seguintes linhas de pesquisa: Gênero e Raça no
Ensino de Ciências; Pesquisa em Design Educacional e Desenvol-
vimento de Inovações Educacionais; História e Filosofia da Ciência
no Ensino de Ciências.
Formato 16 x 22 cm
Impressão EGBA