Grandes Pandemias Da Histria PDF
Grandes Pandemias Da Histria PDF
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As grandes
Pandemias da
CITAÇÃO
Ricon-Ferraz, A.(2020)
História
As grandes Pandemias da História,
Rev. Ciência Elem., V8(02):025. Amélia Ricon Ferraz
Universidade do Porto
doi.org/10.24927/rce2020.025
EDITOR
O Homem, ao longo do tempo, abraçou diferentes conceções explicativas das doenças
José Ferreira Gomes,
segundo o médico e historiador da Medicina Lain Entralgo (1908-2001): a conceção pu-
Universidade do Porto
nitiva da doença indicava uma causa teológica do mal; a materialista, considerava uma
EDITOR CONVIDADO espécie de aderência material externa e sua ulterior mobilização interna; a dinamista,
Pedro A. Fernandes, uma força divina transmitida por contacto; a demoníaca, a intervenção de um ser espiri-
Universidade do Porto tual ou pneumático; e, a astral, em que as leis do macrocosmos se aplicavam à realida-
de humana. Face à etiologia considerada antevia-se o tratamento correspondente. Esta
RECEBIDO EM aparente tranquilidade era inúmeras vezes interrompida pelo terror coletivo, despertado
20 de maio de 2020 pelo aparecimento de entidades mórbidas, mais mortíferas, as epidemias, quantas vezes
designadas genericamente de “Peste” ou “Praga”. Sob o ponto de vista etimológico o
ACEITE EM termo “epidemia” designa uma doença que se abate sobre o povo. Caracteriza-se por ser
20 de maio de 2020
imprevisível, incontrolável, evidenciar a fragilidade e inoperância do ser humano. Durante
séculos prevaleceram os conceitos de saúde e de doença preconizados na Antiguidade
PUBLICADO EM
Clássica. A situação de saúde dependia do equilíbrio dos humores, líquidos corporais
30 de junho de 2020
nomeadamente o sangue, e a doença do seu desequilíbrio.
COPYRIGHT
© Casa das Ciências 2020. Uma das primeiras epidemias descritas num texto histórico foi a Peste de Atenas, de au-
Este artigo é de acesso livre, toria de Tucídides, em 430 a.C.. Segundo este historiador grego, os atenienses atribuíam o
distribuído sob licença Creative mal ao envenenamento da água pelo inimigo. A descrição do quadro clínico não é evidência
Commons com a designação clara da entidade nosológica envolvida. Assinala a desorganização social observada, onde
CC-BY-NC-SA 4.0, que permite imperava a desertificação, o egoísmo e as infrações oportunistas da lei. Paralelemente
a utilização e a partilha para fins enaltece as atitudes humanitárias dos sobreviventes, classificadas no tempo de heroicas.
não comerciais, desde que citado Hipócrates de Cós (séc. V-IV a.C.), considerado o Pai da Medicina pela prática baseada na
o autor e a fonte original do artigo.
evidência e na afirmação da causa natural de todas as doenças, autor de um juramento que
serviu de inspiração a outros ao longo dos séculos, considerava que a epidemia advinha da
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contaminação do ar que produzia os miasmas, emanações nefastas, e cita a existência de
fogueiras nos espaços públicos com o intuito de purificar o ar.
No tempo dos imperadores romanos Lucius Verus (F. 169 d.C.) e Marcus Aurelius Anto-
ninus (F. 180 d.C.) surge uma primeira epidemia (165-180 d.C.), com propagação a todo o
império. Conhecida por Peste Antonina, pode bem ter sido a primeira pandemia. Esta pa-
lavra deriva do grego pandemos que significa “de todos as pessoas”, sinónimo de um surto
da doença de extensa distribuição geográfica. Com início no cerco das tropas romanas
à cidade de Selêucia na Mesopotâmia, rapidamente se difundiu, fruto das movimentadas
rotas comerciais e militares existentes. Galeno de Pérgamo (séc. II d.C.), médico deste
segundo imperador, expoente máximo da Medicina Romana - idolatrado nos centros de
ensino e assistência no Ocidente durante séculos – tratou doentes com esta patologia em
Roma e, da sua experiência, deu notícia de forma dispersa nos seus escritos.
O primeiro aparecimento da Peste Bubónica no Ocidente ocorre no Império Bizantino
com o Imperador Justiniano (Constantinopla, 542 d.C.). A designação refere a presença de
bubões, tumefações dos gânglios linfáticos. O historiador Procopius descreve as guerras, a
expansão do império e a epidemia quando se encontrava em Constantinopla. Justiniano não
sucumbiu à Peste mas o império não resistiu. A instabilidade política, económica e social
gerada tem sido apontada como um fator determinante do declínio do Império Romano.
No período histórico que se sucedeu, a Idade Média, assistimos à preservação do saber
médico greco-romano no seio da Medicina Bizantina, da Medicina Conventual e da Medici-
na de Língua Árabe. As guerras, as fomes, a insalubridade dos povoados - a densidade e
a natureza inflamável das habitações, a sujidade das casas e ruas, as águas estagnadas,
a situação dos cemitérios no seio das cidades e as atividades de recreio e comerciais aí
desenvolvidas – eram palco favorável à eclosão e desenvolvimento de epidemias.
No tempo da dinastia Song na China (c. 1000 d.C.) surge uma lenda que fala da prática da
inoculação contra a Varíola com o pó triturado das crostas de doentes com formas mode-
radas da doença, introduzido no nariz. Não se sabe quando ou onde se iniciou esta prática.
O mais antigo documento que refere a lenda data de 1695, citada pelo médico Zhang Lu.
Esta inoculação era ainda tradição na Índia, no Médico Oriente e em África. Esta forma
precoce de imunização em prática em diferentes partes do Mundo constitui um importante
legado epidémico. Mais tarde, em 1796, Edward Jenner (1749-1823) inoculou pus de le-
sões de Varíola bovina, que induzia uma forma mais suave da doença, e impedia o contágio
pela Varíola, pela criação de imunidade a uma das doenças mais mortais da humanidade.
A Lepra era uma doença comum no Médio Oriente. É possível que as cruzadas – movi-
mentos militares de inspiração cristã que visavam manter a Terra Santa em posse cristã -
possam ter sido responsáveis pela sua propagação no Ocidente. Em 1098, num hospital de
leprosos fundado pelos cruzados do Reino Latino de Jerusalém, foi criada a Ordem Militar
e Hospitalar de São Lázaro para tratar doentes leprosos. A um cavaleiro leproso de outra
Ordem Militar era-lhe permitido escolher o isolamento ou passar a pertencer a esta Ordem
e lutar com os seus cavaleiros. Após a leprosaria de Jerusalém, este modelo no Ocidente
multiplicou-se aos milhares, centros democráticos geridos por leprosos com poder econó-
mico e territorial, facto que explicou o massacre de que foram vítimas em 1321, instigado
pelo Rei Filipe V de França. Em 1873, Gerhard Hansen (1841-1912) identificou o agente
causal, o Mycobacterium leprae e Albert Neisser (1855-1912) foi o autor da primeira pu-
blicação sobre o agente (FIGURA 1).
FIGURA 1. VASSEUR. Lepra lepromatosa - Rosto. Cera, início do séc. XX. Museu de História da Medicina “Maximiano
Lemos” da FMUP.
Umas das epidemias mais mortíferas foi a Peste Negra (1348-1351), responsável pela
morte de cerca de um terço da população do Ocidente, com repercussões sérias na vida
social dos tempos subsequentes. Há a hipótese de navegadores genoveses terem transmi-
tido a doença desde a sua colónia de Caffa na Crimeia ou de ter origem no Extremo Oriente,
começando por afetar no Ocidente Chipre, os países da costa mediterrânea, prosseguindo
do litoral para o interior e para norte e oeste. O flagelo era maior nas cidades, nas sedes
de vida comunitária, nos locais de trocas comerciais. Dizimava independentemente da ida-
de, género ou estatuto social. Os cronistas descreveram bubões, tumefações gangliona-
res nas virilhas e axilas. Considerando tratar-se de um castigo divino, em determinados
locais, organizavam-se cortejos de flagelantes em que os participantes se chicoteavam.
Era imperativo culpabilizar alguém e as suspeitas recaiam habitualmente sobre estran-
geiros, marginais sociais como os leprosos ou os Judeus. Boccacio no Decamerón afirma
que o contacto pessoal favorecia o contágio. Impunham-se medidas de isolamento das
cidades a viajantes infetados. O confinamento das urbes levantava sérios problemas de
sustentabilidade económica e de segurança social, motivos de constantes contestações. A
primeira quarentena oficial surge com esta epidemia em Ragusa (27-7-1377), num tempo
em que não havia um espaço específico para o confinamento. O nome “quarentena” deriva
da palavra italiana quaranta, quarenta, o número de dias recomendado de isolamento. O
primeiro lazareto - edificação para o controlo sanitário - surge em 1403, em Veneza, e
de Itália a iniciativa generalizou-se pela Europa. A falta de mão-de-obra, a apologia da
igualdade de direitos humanos, as revoltas violentas dos camponeses que pilhavam os
bens dos conventos e dos nobres, a ascensão de uma nova classe - a burguesia - prepa-
ram o desmoronamento do sistema senhorial e do feudalismo além-fronteiras e a chegada
do Renascimento. A Peste voltaria a fazer novas investidas, mas de menor gravidade. Na
Europa, os poderes públicos, conscientes da contagiosidade da doença, impuseram medi-
das de isolamento, as quarentenas dos barcos, as terrestres e os cordões sanitários para
proteção das populações e limite da propagação da epidemia. Nas urbes fortificadas as
muralhas funcionavam como cordões sanitários com normas definidas para a mobilidade
FIGURA 2. VASSEUR. Tuberculose nodular disseminada - Região lombossagrada. Cera, início do séc. XX. Museu de Histó-
ria da Medicina “Maximiano Lemos” da FMUP.
O contacto do Velho com o Novo Mundo teve, sob o ponto de vista da saúde, consequên-
cias imediatas nefastas em particular para os nativos americanos. Neste século surgem as
primeiras contestações à teoria humoral na interpretação das doenças. O historiador Fran-
cisco Guerra (1916-2011) dedicou-se ao estudo de uma epidemia que grassou no primeiro
ano após a chegada de Cristóvão Colombo (1451-1506) à América, suspeitando tratar-se
da Gripe (1493). Outro exemplo de uma doença infeciosa que derrubou os nativos america-
nos foi a Varíola, no tempo do Imperador Moctezuma em Tenochtitlán (1520). O Sarampo
e a Febre Amarela foram outras doenças que ao eliminar brutalmente os nativos, fragili-
zou as comunidades autóctones e facilitou o trabalho aos conquistadores.
Por ocasião da conquista do Império Inca na região do Peru, os espanhóis ouviram falar
das propriedades antipiréticas de uma árvore utilizada pelos índios. Existem várias lendas
sobre as qualidades medicinais desta árvore que era utilizada, com êxito, nas febres ter-
çãs e quartãs - periodicidade de 3 ou 4 dias. Um quadro clínico com febre era inespecífico
mas a recorrência com periodicidade certa identifica a forma de apresentação da Malá-
ria, doença no tempo com possível difusão desde África mas conhecida anteriormente em
zonas pantanosas da Europa e da Ásia. Em 1633, o jesuíta Calancha descreve as suas
propriedades na Crónica de Santo Agostinho. De facto, os jesuítas foram os primeiros euro-
peus a reconhecer o seu valor. A árvore foi designada de “chinchona” em memória de uma
condessa espanhola de Chinchón curada em Lima. Os índios preferiam o nome “quinqui-
na”, de onde derivou o nome do princípio ativo, a quinina. Durante o século XVII, no meio
médico europeu é reconhecido o valioso contributo terapêutico da quinina. Bernardino Ra-
mazzini (1633-1714) chega a afirmar que a sua importância para a Medicina se equipara à
descoberta da pólvora na arte da guerra. A saúde dos invasores era de crucial importância
para manter e expandir a potência militar, facto que tornou a quinina num instrumento
determinante de poder político e económico.
Uma outra doença infeciosa que cursava com febre, icterícia e hemorragias várias, a Fe-
bre Amarela, é regista pela primeira vez em 1648 em Yucatan e Havana. Era uma doença
desconhecida na América Pré-Colombiana. Os americanos nativos e os colonos eviden-
ciavam uma suscetibilidade semelhante enquanto nos africanos a doença apresentava-se
com formas mais brandas. A epidemia mais memorável foi a de Filadélfia, em 1793, então
capital de uma nação nova, que obrigou à mobilização e isolamento de mais de metade da
população como George Washington (1732-1799) em Mount Vernon. Em 1802, uma epi-
demia atinge S. Domingos com a chegada das tropas francesas de Charles Leclerc (1772-
1802), cunhado de Napoleão Bonaparte (1764-1821). Desconhecia-se ainda que o mosqui-
to Aedes Aegypti era um vetor do vírus que migrou com sucesso da África Ocidental para
as Caraíbas nas viagens náuticas transatlânticas.
Outra doença vírica, com elevada contagiosidade responsável por dizimar populações
suscetíveis, nomeadamente os nativos americanos, foi o Sarampo. Identificada nas cultu-
ras que se desenvolveram na antiga Mesopotâmia, junto dos vales dos rios Tigre e Eufrates,
foi diferenciada da Varíola no século X pelo médico Rasis (854-925/35) e identificada como
entidade clínica pelo médico inglês Thomas Syndenham (1624-1689). Um médico escocês
Francis Home (1719-1813), em 1758, efetuou a primeira tentativa de vacinar contra o Sa-
rampo pela injeção de sangue de um doente na pele de uma pessoa não afetada, num tem-
po anterior à identificação dos micróbios como agentes etiopatogénicos. Voltar-se-á a falar
largamente destes seus efeitos nefastos durante a Revolução Industrial associada a um
FIGURA 3. Estetoscópio de René Laënnec. Museu de História da Medicina “Maximiano Lemos” da FMUP.
FIGURA 4. Aparelho de pneumotorax artificial da 1.ª Geração. Museu de História da Medicina “Maximiano Lemos” da
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
A Cólera existia de forma endémica na Índia, junto ao rio Ganges, e através das rotas
comerciais e militares chegou à Rússia, à Europa e, ulteriormente às Américas. A pri-
meira vaga surge em 1832, a segunda em 1849 e a terceira entre 1852 e 1860. Nesta
última destacou-se Sir John Snow (1814-1858) com a teoria da transmissão da doença
pela água, rompendo com a velha teoria miasmática e afirmando as bases teórico-me-
todológicas do “método epidemiológico”. Apesar dos avanços científicos, o pânico e a
ignorância das populações despertaram ondas de terror e de perseguição dos supostos
culpados, de que foram exemplos o assassinato de religiosos em Madrid, de Judeus
em Varsóvia e de profissionais de saúde em Paris, como nos tempos da Peste Negra
com os Judeus. Sucederam-lhe mais seis pandemias, a última em 1960. Relembre-se
que Garcia de Orta (1501-1568), médico português introdutor dos estudos de Medicina
Tropical, na sua obra Colóquios dos simples e das Drogas he cousas medicinais da India
(Goa, 1563) faz a descrição e apresenta o tratamento do Cólera Asiática, a primeira de
autoria de um escritor médico, e que, como clínico, assistiu em Goa no ano de 1543. Com
extraordinária exatidão apresenta a sintomatologia da doença: “(…) o pulso tem muyto
sumerso, que poucas vezes se sente; muyto frio, com algum suor também frio; queixa-se
de grande incendio e calmosa sede; os olhos sam muyto sumidos; nom podem dormir;
arrevesam, e saem muyto, até que a vertude he tam fraca que nam póde expelir cousa
alguma; tem caimbra nas pernas (…)”.
A 4 de julho de 1899, o Diretor dos Serviços Municipais de Saúde e Higiene da cidade
do Porto e do Laboratório de Bacteriologia camarário, lente Proprietário de Higiene e
Medicina Legal na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, Ricardo Jorge (1858-1939) tem
conhecimento de um surto de doença na Ribeira. A 28 desse mês os resultados bacte-
riológicos e experimentais, das amostras por si recolhidas, confirmam a sua suspeita
clínica. As informações foram validadas, a seu pedido, pelo Diretor do Instituto Bac-
teriológico de Lisboa, Câmara Pestana (1863-1899). Identificara o bacilo de Kitasato -
Yersin isolado por estes cientistas em 1895, o agente etiopatogénico da Peste Bubónica.
A validação foi ainda efetuada por algumas missões estrangeiras, das quais fazia parte
Albert Calmette (1863-1933). Ricardo Jorge foi clínico, epidemiologista, bacteriologista
e higienista. A todos os bacteriologistas estrangeiros foi permitida a recolha do agente e
facultada a amostra que serviu para o seu diagnóstico bacteriológico. Excelente exem-
plo de integridade científica, uma lição para todos os tempos. O diagnóstico precoce, a
informação imediata das instâncias superiores, a institucionalização pronta de cordões
sanitários, terrestre e marítimo, e as medidas higiénicas sanitárias explicam o confi-
namento da epidemia que afetou 320 pessoas, tendo perecido 132. No tempo, Ricardo
Jorge publica as Instruções profilácticas sobre a Peste Bubónica, inovador para época.
Nos finais do século XIX e início do século XX assiste-se à democratização dos produ-
tos de higiene pessoal, corporal e das habitações, como parte do movimento higienista
nascente. Mais tarde, Ricardo Jorge na situação de Diretor Geral da Saúde vai enfrentar
um desafio não menor, a deflagração da “Gripe Espanhola” dando mostras do seu valor
(FIGURAS 5 e 6).
FIGURA 5. O Professor Ricardo Jorge no Laboratório de Bacteriologia da Câmara do Porto (1892). Museu de História da
Medicina “Maximiano Lemos” da FMUP.
FIGURA 6. Enfermaria especificamente organizada para o isolamento e o tratamento dos doentes de Peste Bubónica.
Museu de História da Medicina “Maximiano Lemos” da FMUP.
FIGURA 7. F. J. RESENDE. Louis Pasteur. Retrato, 1887. Óleo s/ tela. Museu de História da Medicina “Maximiano Lemos”
da FMUP.
FIGURA 8. VASSEUR. Varíola - Cotovelo esquerdo. Cera, início do séc. XX. Museu de História da Medicina “Maximiano
Lemos” da FMUP.
um quadro de infeção respiratória grave, veio a falecer ao 11º dia. O surto epidémico
afetou vários países, primeiro no Médio Oriente, motivo da designação. Desde então,
casos esporádicos ou surtos de maior escala têm sido identificados.
É possível que o nome Dengue derive de uma frase da língua suaíli Ka-dinga pepo,
sinónimo de “caimbra como convulsão causada por um espírito maligno”. “Dinga” pode
ter origem na palavra espanhola Dengue que descrevia a forma de andar de uma pa-
ciente com dor osteoarticular pela febre dengue ou o uso da palavra espanhola decor-
rente da semelhança verbal do termo Suaíli. Sobre os escravos que haviam contraído
a doença diziam ter uma postura e andar de um “dandy”. A doença foi ainda conhecida
por “febre dandy”. Uma enciclopédia chinesa da Dinastia Jin (265-420 a.C.) parece
conter o primeiro registo de um caso da febre Dengue. A identificação e designação
da doença data de 1779 e, a primeira pandemia de 1780, atingindo a Ásia, África e
América do Norte. Coube ao Dr. Benjamin Rush (1746-1813), médico, político, pedago-
go e escritor americano o relatório do primeiro caso confirmado em 1789. A etiologia
viral e a transmissão pelo mosquito foi estudado no século XX. O vírus era comum no
sudeste asiático, zona mitigada pela 2.ª Guerra Mundial, facto que favoreceu a sua
propagação. Numa mesma população podem existir diferentes serotipos. A reinfeção
com o mesmo serotipo é clinicamente benigna. A reinfeção com um novo serotipo as-
socia-se ao aparecimento da febre hemorrágica. A segunda guerra mundial favoreceu
a sua transmissão. O Dengue existe em mais 100 países na África, Américas, Pacífico,
Caraíbas e Ásia.
Uma outra doença humana com transmissão pelo mosquito é identificada no Uganda
e na República da Tanzânia em 1952. Em 1947, isolar-se o vírus Zika de um macaco
Rhesus na floresta Zika de Uganda, facto que justifica o nome atribuído ao vírus e à
doença. Paralelamente, no ano seguinte, foi identificado o mosquito Aedes africanus
nessa floresta, portador do vírus. Em 1964, há evidência do vírus Zika causar doença
no homem. A primeira grande epidemia de Zika ocorreu na ilha de Yap do Pacífico
em 2007. O vírus Zika humano sofreu uma transformação paralela à expansão da sua
área de influência. De características endémicas, associado a quadros clínicos mo-
derados, na África equatorial e Ásia, passou, desde 2007, a uma aparição por surtos
e, após 2013, a surtos associados a distúrbios neurológicos ao atingir o Pacífico e as
Américas. A transmissão coincide maioritariamente com a distribuição geográfica do
mosquito.
A doença pelo vírus Ébola foi identificado em 1976 em dois diferentes surtos de
febre hemorrágica fatal na África Central: o primeiro, numa vila próxima do Rio Ébola
na República Democrática do Congo (RDC); e, o segundo, no atual Sul do Sudão. O
nome da doença derivou da localização do primeiro surto. Os dois surtos foram cau-
sados por dois vírus distintos geneticamente (Zaire ebolavirus e Sudan ebolavirus).
Estudos virais e epidemiológicos indicam que o vírus Ébola existiu muito antes destes
surtos. Identificado o vírus, as investigações têm-se dirigido ao estudo de milhares de
animais e plantas no sentido de identificar o reservatório hospedeiro do vírus. A forma
mais recente do vírus Ébola foi encontrada nos morcegos existentes na Serra Leoa.
Em 1989, o vírus Ébola Reston foi identificado em macacos importados das Filipinas,
revelando que o vírus não estava confinado à África. A epidemia de Cote D’Ivoire, em
1994, proporcionou um melhor conhecimento sobre a doença e formas de minimizar
REFERÊNCIAS
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